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Universidade de Lisboa

Faculdade de Direito
Direito Constitucional I
Ano Lectivo 2012-2013

Prof. Doutor Kafft Kosta


(guião da ultima aula sobre os sistemas de Governo

3. Sistemas de Governo

3.1. Enfoque Jurídico-Constitucional

São três as principais referências jurídicas, em matéria de sistemas de governo:

1.º A separação de poderes (no que tange à especialização orgânico-


funcional);

2.º A dependência, interdependência ou independência dos órgãos (ex.: a


escolha e cessação das funções dos titulares de um órgão por outro órgão);

3.º A responsabilidade política de um órgão ou dos seus titulares perante


outro órgão (faz parte da 2ª referência, mas tem-se autonomizado).

Este grupo de referências determina a arrumação jurídica do sistema de governo


em dois conjuntos:

3.1.1. Sistemas de Governo com Concentração de Poderes:

a) Sistema de Concentração de Poderes Correspondente à Forma de


Governo Monarquia Limitada

- Concentração no Chefe de Estado;


- Poderes limitados constitucionalmente pelo parlamento;
- Sistema de governo monárquico de Chanceler.

Ex.: Reinos alemães, no séc. XIX.

b) Sistema de Governo Representativo Simples

- Concentração no Chefe de Estado;


- Na monarquia, não há Chanceler;
- Na República, o Chefe de Estado pode governar sem ou com Chanceler (esta
última hipótese teve expressão no Estado Novo português).

Ex.: França de NAPOLEÃO; para alguns, Estado Novo da Constituição portuguesa de


1933.

c) Sistema de Governo Convencional

- Concentração na Assembleia – que exerceria as funções do Estado ou delegá-las-


ia, temporariamente, noutros órgãos.
Estes órgãos seriam emanados pela Assembleia ou estariam dependentes da
Assembleia; mas subsiste a faculdade de avocação;

3.1.2. Sistemas de Governo com Desconcentração de Poderes

a) Sistema Parlamentar

- Há 3 órgãos:
Chefe de Estado (Rei ou Presidente);
Parlamento;
Governo.

O Chefe de Estado,
Ou é simbólico (tão só) – simboliza a continuidade do Estado,
Ou tem competências diminutas,
Ou necessita de referenda ministerial para exercer as suas competências (por causa
da irresponsabilidade política do Chefe de Estado).

Características básicas do sistema parlamentar:

O Governo nasce da maioria parlamentar;


O Governo baseia-se na confiança política do parlamento;
O Governo é responsável politicamente perante o parlamento;
O Chefe de Estado não pode dissolver o parlamento [ele pode nomear ou exonerar
Ministros, mas fá-lo seguindo as orientações do parlamento].

Essas 4 Características básicas são os traços fortes, que sofrem, porém, variações –
como, por exemplo:

• Parlamentarismo clássico (puro ou de assembleia) = prevalência absoluta do


parlamento sobre o governo;
Reportando-se ao séc. XIX a XX, apresenta 3 manifestações, a saber:

1.ª O Parlamento tem clara dominância sobre o Chefe de Estado;


2.ª O Chefe de Estado não pode dissolver o parlamento ou, quando pode, fá-lo no
quadro de apertados requisitos constitucionais e, muitas vezes, depois do
assentimento de um órgão consultivo onde participam representantes do
parlamento;
3.ª O Governo não tem poderes de intervenção no funcionamento do parlamento
ou, quando os tem, são poderes insignificantes.

• Parlamentarismo racionalizado (ou mitigado, ou de Gabinete) = a influência


do Governo contrabalança os poderes do parlamento;
Apresenta as seguintes 3 características básicas:

1.ª O Parlamento tem uma dominância mitigada sobre o Chefe de Estado;


2.ª O Chefe de Estado pode dissolver o parlamento;
3.ª O Governo tem alguns poderes de intervenção no funcionamento do
parlamento.

b) Sistema Presidencial

Fala-se usualmente de sistema presidencial perfeito ou imediato e de sistema


presidencial imperfeito ou mediato1.
Perfeito, quando o Presidente é o único órgão constitucional do poder executivo. É
coadjuvado por colaboradores. O exemplo de eleição são os EUA.
Sistema presidencial imperfeito, quando a Constituição estabelece a existência de
Ministros com poderes específicos, conquanto dependam totalmente do Presidente.

* 5 características básicas do sistema:

- O Chefe de Estado é eleito por sufrágio universal e directo (neste caso, salvo os
EUA – conquanto constitua prática consuetudinária que os “grandes eleitores”

1
Distinção, segundo MARCELO REBELO DE SOUSA, não muito relevante («carecida de particular
relevância jurídico-constitucional») – já que em qualquer dos casos não existe um outro
chefe de Governo.
estejam vinculados à orientação pré-ditada pelo povo, aquando do sufrágio inicial e
geral);
- O Chefe de Estado forma livremente o seu Governo, que o próprio pode chefiar;
- O Chefe de Estado e o Governo não respondem perante o parlamento;
- O Chefe de Estado dispõe de veto suspensivo relativamente a leis do parlamento;
- O Chefe de Estado não pode dissolver o parlamento.

* Mecanismos de checks and balances (freios e contrapesos):

- O parlamento condiciona o executivo, votando o orçamento;


- O parlamento condiciona o executivo, criando comissões de inquérito à
Administração pública;
- O parlamento condiciona o executivo, ratificando tratados celebrados pelo Chefe
de Estado;
- O parlamento condiciona o executivo, destituindo o Chefe de Estado através do
impeachment (na sequência da condenação do PR pela prática de certos crimes
contra o Estado).

c) Sistema Directorial

Há 2 órgãos básicos: Parlamento; Colégio Directorial.

O Parlamento denomina-se Assembleia Federal que é composta por duas câmaras,


a saber: Conselho Nacional e Conselho dos Estados (art. 148 Constituição da Suíça
- CS).

Cabe à Assembleia Federal eleger, nomeadamente, os membros do Conselho


Federal, o Chanceler da Confederação, os Juízes do Tribunal Federal e o General.
Compete também à Assembleia Federal exercer fiscalização («haute surveillance»)
sobre o Conselho Federal, a Administração federal, os tribunais federais e os
restantes entes com funções confiadas pela Confederação (art. 168, 169 CS).

O Conselho Federal apresenta-se como a «autoridade directorial e executiva


suprema da Confederação» (a quem cabe a determinação dos «fins e meios da sua
política governamental» e a planificação e coordenação das actividades do Estado),
sendo composto por 7 membros, eleitos (de entre cidadãos elegíveis ao Conselho
Nacional) pela Assembleia Federal após cada renovação integral do Conselho
Nacional.
Assegura a presidência do Conselho Federal o Presidente da Confederação.
A Assembleia Federal elege um dos membros do Conselho Federal à presidência da
Confederação e um outro à vice-presidência do Conselho Federal. Esses mandatos
são de um ano e não podem ser renovados no ano seguinte nem pode o Presidente
cessante ser eleito à vice-presidência.
d) Sistema Semiparlamentar

- Há 3 órgãos: Chefe do Estado; Parlamento; Governo.

- Pode-se dar o caso de:


O Governo responder politicamente perante o Chefe de Estado e perante o
Parlamento;
O papel do Chefe de Estado corresponder a um «poder moderador».

- O sistema semiparlamentar pode apresentar-se como:

aa) Orleanista
Que se traduz numa monarquia constitucional do equilíbrio entre o Rei e o
Parlamento. Vigorou em França, no séc. XIX. A expressão deriva do nome de LUÍS
FILIPE I, de Orléans.

bb) Semipresidencial
Portugal da Constituição de 1976, Áustria, Islândia e Cabo Verde são sistemas
semipresidenciais).

Exemplos de semipresidencialismo com prevalência do PR:


Guiné-Bissau, formalmente (Constituição de 1984).

Exemplos de semipresidencialismo com prevalência do parlamento:


República de Weimar (1919).

Notas básicas caracterizadoras do sistema:

1.ª A formação do Governo é em função dos resultados eleitorais parlamentares e


da composição do parlamento;

2.ª A constituição e manutenção do Governo dependem do parlamento:


- Da aprovação ou não rejeição do programa do Governo;
- Da rejeição de moções de censura;
- Da aprovação de votos de confiança.

3.ª O Chefe de Estado é eleito por sufrágio universal e directo;

4.ª O Parlamento é eleito por sufrágio universal e directo;

5.ª O Governo responde politicamente também perante o Chefe de Estado;

6.ª O Chefe de Estado tem grandes poderes, como, por exemplo, o direito de
dissolver o parlamento; o direito de veto suspensivo a leis do parlamento; o direito
de veto definitivo a diplomas do Governo.

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