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Programa de Capacitação

ANALISTA – SFN
Analista do Banco Central do Brasil

2014
APOSTILA PROCAP CONCURSO 2013
ANALISTA – SFN
Sumário

INTRODUÇÃO AO MÓDULO I ..... 5


MÓDULO I – SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL ..... 6
UNIDADE 1 – EVOLUÇÃO DO SFN. ÓRGÃOS NORMATIVOS E
ENTIDADES SUPERVISORAS ..... 6
INTRODUÇÃO ..... 6
1 EVOLUÇÃO DO SFN A PARTIR DE 1944 ..... 6
1.1 Do pós-guerra às reformas de 1964-1965 ..... 6
1.2 Das Reformas de 1964-1965 até 1988 ..... 7
1.3 De 1988 a 1994 ..... 8
1.4 De 1994 aos dias atuais ..... 8
2 ÓRGÃOS NORMATIVOS DO SFN ..... 9
3 ENTIDADES SUPERVISORAS DO SFN ..... 9

UNIDADE 2 – ENTIDADES OPERADORAS ..... 11


INTRODUÇÃO ..... 11
1 INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS CAPTADORAS DE DEPÓSITO À VISTA ..... 11
2 BOLSAS DE MERCADORIAS E FUTUROS ..... 12
3 RESSEGURADORES ..... 12
4 DEMAIS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS ..... 13
5 OUTROS INTERMEDIÁRIOS FINANCEIROS ..... 17

UNIDADE 3 – OUTROS PARTICIPANTES E TEMAS RELEVANTES NO SFN ..... 20


INTRODUÇÃO ..... 20
1 CONSELHO DE RECURSOS DO SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL (CFSFN) ..... 20
2 FUNDO GARANTIDOR DE CRÉDITOS (FGC) ..... 21
3 FUNDO GARANTIDOR DE COOPERATIVISMO DE CRÉDITO (FGCOOP) ..... 23
4 SISTEMA DE INFORMAÇÕES DE CRÉDITO (SCR) ..... 24
5 SISTEMA FINANCEIRO DA HABITAÇÃO (SFH) ..... 25
6 INCLUSÃO FINANCEIRA E EDUCAÇÃO FINANCEIRA ..... 26
6.1 Parceria Nacional para Inclusão Financeira ..... 28
7 FINANÇAS SUSTENTÁVEIS ..... 29
8 COOPERATIVISMO DE CRÉDITO ..... 29
REFERÊNCIAS ..... 32

MÓDULO II – BANCOS CENTRAIS E BANCO CENTRAL DO BRASIL ..... 41


UNIDADE 1 – ORIGENS DOS BANCOS CENTRAIS; HISTÓRIA DO BANCO CENTRAL DO
BRASIL; FUNÇÕES DE MONOPOLISTA DE EMISSÃO E BANQUEIRO DO GOVERNO ..... 41
INTRODUÇÃO ..... 41
1 ORIGENS DOS BANCOS CENTRAIS E HISTÓRIA DO BANCO CENTRAL DO BRASIL ..... 41
1.1 Origens dos Bancos Centrais ..... 41
1.2 História do Banco Central do Brasil ..... 42
2 FUNÇÕES DO BANCO CENTRAL DO BRASIL ..... 44
2.1 Monopolista de Emissão ..... 44
2.2 Banqueiro do Governo ..... 45
REFERÊNCIAS ..... 48

UNIDADE 2 – FUNÇÃO DO BANCO CENTRAL DO BRASIL COMO BANCO


DOS BANCOS ..... 50
INTRODUÇÃO ..... 50
1 SISTEMA DE PAGAMENTOS ..... 50
1.1 Características do sistema de pagamentos vigente até 2002 ..... 51
1.2 Reestruturação do SPB ..... 52
1.3 Características do atual SPB ..... 52
1.4 Atendimento a demandas de liquidez ..... 57
1.5 Prestamista de última instância ..... 58
REFERÊNCIAS ..... 59

UNIDADE 3 – FUNÇÃO DO BANCO CENTRAL COMO SUPERVISOR E


FISCALIZADOR DO SFN ..... 61
INTRODUÇÃO ..... 61
1 CAMPO DE ATUAÇÃO DO BANCO CENTRAL E AMPARO NORMATIVO ..... 61
2 CONCESSÃO DE AUTORIZAÇÕES PELO BCB ..... 63
3 CONTEXTO INTERNACIONAL DE SUPERVISÃO: OS ACORDOS DE BASILEIA ..... 64
4 REGULAÇÃO PRUDENCIAL E ESTABILIDADE FINANCEIRA NO BRASIL ..... 65
5 COMITÊ DE ESTABILIDADE FINANCEIRA (COMEF) ..... 66
6 ORGANIZAÇÃO DAS AÇÕES DE SUPERVISÃO E FISCALIZAÇÃO ..... 67
7 ATIVIDADES DE SUPERVISÃO E FISCALIZAÇÃO NO ÂMBITO DA DIFIS ..... 67
7.1 Supervisão focada em riscos ..... 68
8 SUPERVISÃO E CONTROLE DAS OPERAÇÕES DO CRÉDITO RURAL E DO PROAGRO ..... 73
9 INSTRUMENTOS DISCIPLINARES E PUNITIVOS ..... 74
9.1 Processos administrativos punitivos ..... 75
9.2 Medidas cautelares ..... 76
9.3 Termo de comparecimento ..... 76
9.4 Classificação de instituições supervisionadas na situação “em evidência” ..... 77
10 REGIMES ESPECIAIS: INTERVENÇÃO, LIQUIDAÇÃO EXTRAJUDICIAL E
ADMINISTRAÇÃO ESPECIAL TEMPORÁRIA ..... 77
REFERÊNCIAS ..... 78

UNIDADE 4 – EXECUTOR DAS POLÍTICAS MONETÁRIA E CAMBIAL E AUTONOMIA


DOS BANCOS CENTRAIS E DO BANCO CENTRAL DO BRASIL ..... 79
1 FUNÇÃO DO BANCO CENTRAL - EXECUTOR DA POLÍTICA MONETÁRIA ..... 79
1.1 Instrumentos de política monetária ..... 79
2 FUNÇÃO DO BANCO CENTRAL - EXECUTOR DA POLÍTICA CAMBIAL ..... 86
2.1 Mercado de câmbio no Brasil ..... 88
REFERÊNCIAS ..... 96
UNIDADE 5 – MODELOS DE BANCOS CENTRAIS EM OUTROS PAÍSES E
ORGANISMOS E INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS INTERNACIONAIS ..... 99
INTRODUÇÃO ..... 99
1 MODELOS DE BANCOS CENTRAIS ..... 99
1.1 Federal Reserve System (FED) ..... 99
2 BANCO CENTRAL DA CHINA ..... 103
2.1 Aspectos históricos ..... 103
2.2 Organização ..... 104
2.3 Funções ..... 104
3 BANCO CENTRAL EUROPEU (BCE) ..... 105
3.1 Antecedentes ..... 105
3.2 Organização ..... 106
3.3 Funções ..... 107
3.4 Composição do capital ..... 107
3.5 Independência ..... 108
3.6 Accountability ..... 109
3.7 O BCE e a crise do euro ..... 109
4 INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS INTERNACIONAIS ..... 109
4.1 Fundo Monetário Internacional (FMI) ..... 109
4.2 Funções e objetivos ..... 109
4.3 Organização ..... 110
4.4 Governança ..... 111
4.5 Direitos especiais de saque (DES) ..... 112
4.6 Surveillance ..... 113
4.7 Padrão Especial de Disseminação de Dados (SDDS) ..... 114
4.8 Linhas de financiamento ..... 114
4.9 O Brasil e o FMI ..... 115
5 GRUPO BANCO MUNDIAL ..... 115
5.1 Finalidades ..... 115
5.2 Governança ..... 116
5.3 Composição ..... 116
6 BANCO INTERAMERICANO DE DESENVOLVIMENTO (BID) ..... 117
6.1 Organização ..... 117
6.2 Atuação ..... 118
6.3 Composição ..... 118
7 BANCO DE COMPENSAÇÕES INTERNACIONAIS (BIS) ..... 118
7.1 Missão e organização ..... 119
7.2 Atuação ..... 119
8 CEMLA ..... 120
9 MERCOSUL ..... 120
9.1 Antecedentes ..... 120
9.2 Evolução institucional ..... 121
9.3 Estrutura orgânica ..... 121
10 TÓPICOS RELEVANTES PARA BANCOS CENTRAIS ..... 122
10.1 Fundos Soberanos ..... 122
10.2 Fundo Soberano do Brasil ..... 123
REFERÊNCIAS ..... 126
INTRODUÇÃO AO MÓDULO I

O objetivo deste módulo é fornecer uma visão geral do Sistema Financeiro Nacional (SFN). Para tanto,
é apresentada breve visão histórica da sua evolução, a partir do pós-guerra (1944), chegando à sua atual
estrutura, contemplando os principais órgãos normativos, as entidades supervisoras e os operadores do
SFN, dos quais fazem parte as instituições financeiras propriamente ditas. Além destes, foram agregados ao
texto outros elementos relevantes na caracterização do SFN (órgãos, sistemas e temas atuais).
Também foi destacada a evolução do SFN pós 1994, uma vez que a redução acentuada dos índices
de inflação levou a uma nova realidade no funcionamento do sistema econômico brasileiro e, portanto, das
instituições financeiras que atuam no país.
Os assuntos que têm sido objeto de atenção recente, por parte do Banco Central do Brasil (BCB),
mereceram um texto mais abrangente, com informações quantitativas sobre instituições financeiras, rede de
atendimento bancário no país, cooperativismo de crédito e principais instituições de determinado segmento.
Uma vez que a atuação do BCB e a estrutura e funcionamento do SFN decorrem basicamente do
arcabouço legal e regulamentar existente, foi inevitável a citação de diversas leis e resoluções. Em última
instância, tais remissões facilitam a busca por informações e podem auxiliar aos mais interessados em ampliar
seu conhecimento nos diversos assuntos mencionados.
No que se refere à composição e aos principais órgãos operadores do Sistema Financeiro Nacional,
a principal fonte de consulta foi o sítio do Banco Central (BCB, disponível em: <http://www.bcb.gov.
br/?SFNCOMP>, múltiplos acessos entre 11 e 26/11/2013). Quanto à evolução histórica do SFN, a principal
fonte de referência foi a obra de Lopes E Rossetti, Economia Monetária (7. ed. São Paulo: Atlas, 1998, p.
426-436). Em ambos os casos, o texto original foi editado por questões de espaço e, sempre que necessário,
atualizado para incorporar as últimas alterações normativas disponíveis até a conclusão do presente trabalho,
em dezembro de 2013*.

Quadro 1: Composição do Sistema Financeiro Nacional

Fonte: BCB, disponível em: <http://www.bcb.gov.br/?SFNCOMP> e atualizações.

* As Referências utilizadas neste módulo estão apresentadas ao final da Unidade 3.

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Analista: Área I

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MÓDULO I – SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL

UNIDADE 1 – EVOLUÇÃO DO SFN. ÓRGÃOS NORMATIVOS E ENTIDADES SUPERVISORAS

INTRODUÇÃO

O objetivo desta unidade é oferecer uma visão sobre a evolução do SFN do final da Segunda Guerra
Mundial aos dias atuais, destacando os órgãos normativos e as suas respectivas entidades supervisoras, nos
três segmentos que o compõem. O Banco Central do Brasil foi abordado de maneira sumária neste tópico,
uma vez que suas funções, estrutura e funcionamento serão objeto do módulo 2.

1 EVOLUÇÃO DO SFN A PARTIR DE 1944

A evolução do Sistema Financeiro Nacional (SFN) brasileiro pode ser mais facilmente compreendida
a partir da divisão do tempo em diferentes períodos. Aqui serão considerados quatro períodos históricos:

i. A fase pós-guerra até as reformas de 1964-1965.


ii. Das reformas de 1964-1965 até 1988.
iii. De 1988 a 1994.
iv. De 1994 aos dias atuais.

1.1 Do pós-guerra às reformas de 1964-19651

Habitualmente o período compreendido entre 1945 e 1964 é considerado de transição entre a


estrutura simples de intermediação financeira existente na primeira metade do século XX e a complexa
estrutura montada a partir das reformas institucionais de 1964 e 1965. Durante estas duas décadas, o SFN
sofreu marcantes transformações, acompanhando a evolução econômica do país, que registrou crescimento
médio anual de 6,6% no período, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
As principais mudanças foram:

i. Expansão da rede bancária a taxas elevadas nas diferentes regiões do país.


ii. Implantação de um órgão normativo, de assessoria, controle e fiscalização do SFN que seria
o primeiro passo para a criação de um banco central no país – a Superintendência da Moeda
e do Crédito (Sumoc).
iii. Criação de uma instituição financeira central para fomento de longo prazo, o Banco Nacional
de Desenvolvimento Econômico (BNDE), criado em 1952, transformado em Banco Nacional
de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), em 1982, destinado a apoiar a implantação
de setores de infraestrutura no Brasil.
iv. Criação de instituições financeiras de apoio a regiões carentes, como o Banco de Crédito
da Amazônia S.A. (BASA, 1950), o Banco do Nordeste do Brasil (BNB, 1952) e, ao final do
período, o Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo-Sul (BRDE, 1961), integrados à
política de redução dos desníveis regionais de desenvolvimento econômico.
v. Desenvolvimento espontâneo de companhias de crédito, financiamento e investimento (CFI
ou financeiras), para captação e aplicação de recursos em prazos compatíveis com a crescente
demanda de crédito de médio e longo prazo, em decorrência da implantação de novos setores
industriais no país, produtores de bens de capital e de consumo duráveis.

Nesse contexto, a Sumoc foi criada em 1945, para servir de interlocutor junto ao Fundo Monetário
Internacional (FMI) e exercer algumas funções de um banco central como órgão normativo, de assessoria,

1 Conforme Lopes e Rossetti (1998, p. 426-436).


controle e fiscalização da política monetária e do sistema de intermediação financeira. Contudo, até mesmo por
falta de amparo legal, a Sumoc era incapaz de impor disciplina às operações bancárias e maiores penalidades
às instituições faltosas.
As funções executivas de um banco central eram então exercidas pelo Banco do Brasil, que, por meio
de suas carteiras especializadas, agia como:

i. Banco dos bancos – recebia depósitos voluntários e compulsórios de bancos privados e


administrava os serviços de compensação.
ii. Agente financeiro do governo – atuava como caixa do Tesouro Nacional (TN) e financiador
de déficits orçamentários.
iii. Depositário e administrador de reservas internacionais.
iv. Emprestador de última instância – concedia assistência financeira ao sistema bancário por
meio de redescontos.

É interessante notar que este período foi marcado por significativo número de processos de fusão e de
incorporação de instituições financeiras, a partir de um número elevado de casas bancárias de pequeno porte,
remanescentes do período anterior à guerra de 1939-1945. De fato, o número de matrizes de instituições
bancárias caiu de 404, em 1951, para 336, em 1964. Não obstante, houve crescimento significativo da rede de
agências no mesmo período, passando de 4.038 em 1951 para 6.826 em 1964. Tal expansão contemplou não
apenas as áreas urbanas em expansão, mas também regiões mais distantes, que foram sendo incorporadas à
dinâmica do desenvolvimento econômico do país.

1.2 Das Reformas de 1964-1965 até 1988

Para melhor compreensão das profundas alterações do SFN ocorridas a partir de 1964-1965, é
fundamental ter em mente o arcabouço legal criado neste período, a saber:

i. Lei nº 4.380, de 21 de agosto de 1964, também chamada Lei do Plano Nacional de Habitação,
instituiu a correção monetária nos contratos imobiliários de interesse social, criou o Banco
Nacional de Habitação (BNH) e institucionalizou o Sistema Financeiro da Habitação (SFH).
ii. Lei nº 4.595, de 31 de dezembro de 1964, também conhecida como Lei da Reforma Bancária
– reestruturou o Sistema Financeiro Nacional, definiu as características e áreas específicas de
atuação das instituições financeiras e transformou a Sumoc e seu conselho, respectivamente,
no Banco Central do Brasil e no Conselho Monetário Nacional.
iii. Lei nº 4.728, de 14 de julho de 1965, conhecida como Lei do Mercado de Capitais – disciplinou
esse mercado e estabeleceu medidas para seu desenvolvimento.

A partir desta base legal, o SFN passou a contar com maior e mais diversificado número de intermediários
financeiros não bancários (isto é, não captadores de depósitos), com áreas específicas de atuação. Paralelamente
foi significativamente ampliada a pauta de ativos financeiros disponíveis, abrindo-se novo leque de opções para
aplicação de poupanças e criando-se, dessa forma, condições mais efetivas ao desenvolvimento do processo
de intermediação financeira no país.
As três leis continuam em vigor e, apesar das modificações e aperfeiçoamentos posteriores, fruto da
evolução do SFN, elas mantêm os fundamentos lançados à época.
Também é importante destacar a edição da Lei nº 6.385, de 7 de dezembro de 1976, que dispôs sobre
o mercado de valores mobiliários e criou a Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Em decorrência, o
controle do mercado de capitais passou do âmbito do Banco Central para a CVM, ressalvadas as exceções
listadas pela referida lei, que permanecem na competência do BCB, tais como: autorizar as câmaras ou
prestadores de serviço de compensação, de liquidação e de registro; e a fiscalizar o mercado financeiro e de
capitais. A autorização para funcionamento das corretoras e distribuidoras de títulos e valores mobiliários
é da competência do BCB. A referida lei, conquanto tenha sofrido modificações mais profundas que as leis
anteriormente mencionadas, permanece em vigor.
Do ponto de vista da rede de agências no país, em 1970, apenas cinco anos após a implantação dessas
reformas, havia 9.643 estabelecimentos com 517 sedes, incluindo instituições bancárias e não bancárias.

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Contudo, no segmento bancário, observou-se, de forma mais acentuada, um movimento de concentração e
o número de matrizes reduziu-se de 178 (1970) para 107 (1985).

1.3 De 1988 a 1994

A partir de 1988 o modelo do sistema de intermediação financeira no Brasil mudou novamente. A


tipologia das operações e das instituições se manteve. Contudo o critério de especialização por instituições
foi substituído por especialização por operações. A partir daquele ano, foi permitida a criação de bancos
múltiplos, seja por processo de fusão, incorporação, cisão e transformação, seja por meio de constituição
direta. Assim, os bancos múltiplos passaram a operar em todos os segmentos do sistema de intermediação
financeira. O sistema passou a estruturar-se por instituições com uma única carteira ou com mais de uma
carteira de operações, passando a prevalecer as instituições com carteiras múltiplas.

Tabela 1: Carteiras de banco múltiplo (BM)


Fonte: Unicad. Disponível em: <http://www.bcb.gov.br/?REVSFN>.

Nota: * Ifs – Instituições Financeiras

No final da década de 1980, o SFN também foi marcado pela promulgação da Constituição Federal
de 1988 que, entre outras medidas, estabeleceu mudança significativa quanto à quantidade de instituições
financeiras existentes no sistema. Até então, no denominado sistema de cartas patentes, o CMN fixava um
quantitativo máximo de instituições (inclusive agências e pontos de atendimento) para o mercado, e o ingresso
no sistema dependia da aquisição dos pontos existentes para o tipo de instituição em questão, ao lado dos
demais critérios de capacitação moral, técnica e financeira dos interessados.

1.4 De 1994 aos dias atuais2

Até 1994, a economia brasileira possuía algumas características específicas, decorrentes de um crônico
e acentuado processo inflacionário, realimentado pela generalizada indexação de preços. Esse quadro, de
certa forma, favoreceu o SFN, os bancos em particular, que se adaptaram ao ambiente de alta inflação que
contribuiu para alavancar a participação do setor financeiro na renda nacional. Durante o período inflacionário,
a atividade financeira sustentava-se dos recursos em trânsito (floating) e do financiamento ao desequilíbrio
das contas públicas, concentrando-se em operações de curto prazo.
A partir do segundo semestre de 1994, com a implantação do Plano Real, acentuou-se o processo de
reordenamento da economia brasileira, o que alterou o cenário em que atuavam as instituições financeiras. A
redução dos níveis inflacionários e a maior abertura da economia revelaram o grau de ineficiência de alguns
setores domésticos que passaram a refletir-se na incapacidade de honrar os empréstimos concedidos pelos

2 Do texto O Sistema Financeiro Nacional e o Plano Real. Disponível em <http://www.bcb.gov.br/htms/deorf/r199812/texto.asp?idpai=revsfn199812>.


Acesso em: 21 nov. 2013.

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bancos, fato acentuado pelo corte de subsídios e pela política monetária restritiva. Esses fatores, conjugados
com o desaparecimento dos ganhos inerentes ao processo inflacionário, até então apropriados pelo segmento
financeiro, evidenciaram a fragilidade de algumas de suas instituições, que se mostraram incapazes de promover
os ajustes necessários para sua sobrevivência no novo ambiente econômico.
Dada a eminente situação de insolvência de instituições financeiras, o Conselho Monetário Nacional
e o Banco Central passaram a tomar medidas no sentido de reestruturar e fortalecer o sistema financeiro,
como o Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento do Sistema Financeiro (Proer), o
Programa de Incentivo à Redução do Setor Público Estadual na Atividade Bancária (Proes) e a criação do
Fundo Garantidor de Crédito (FGC). Pela Lei 9.447, de 14.03.97, foram dados mais poderes ao Banco Central
no tratamento de assuntos relacionados com a responsabilidade civil dos acionistas controladores, na adoção
de medidas saneadoras de natureza preventiva e passíveis de adoção pelo mercado e na flexibilização de
regras para privatizações. Pelo mesmo diploma legal, a apuração de responsabilidades de serviços de auditoria
independente objetivaram reforçar, ainda mais, a ação preventiva do Banco Central.

2 ÓRGÃOS NORMATIVOS DO SFN

i. Conselho Monetário Nacional (CMN)


O Conselho Monetário Nacional (CMN), instituído pela Lei 4.595, de 31 de dezembro de 1964, é o órgão
responsável por expedir diretrizes gerais ao bom funcionamento do Sistema Financeiro Nacional (SFN). Integram
o CMN o ministro da Fazenda (presidente), o ministro do Planejamento, Orçamento e Gestão e o ministro
presidente do Banco Central do Brasil. Entre suas funções, estão: adaptar o volume dos meios de pagamento
às reais necessidades da economia; regular o valor interno e externo da moeda e o equilíbrio do balanço de
pagamentos; orientar a aplicação dos recursos das instituições financeiras; propiciar o aperfeiçoamento das
instituições e dos instrumentos financeiros; zelar pela liquidez e pela solvência das instituições financeiras;
coordenar as políticas monetária, creditícia, orçamentária e da dívida pública interna e externa.

ii. Conselho Nacional de Seguros Privados (CNSP)


O Conselho Nacional de Seguros Privados (CNSP) ¬– órgão responsável por fixar as diretrizes e
normas da política de seguros privados – é composto pelo ministro da Fazenda (presidente), representante do
Ministério da Justiça, representante do Ministério da Previdência Social, superintendente da Superintendência
de Seguros Privados, representante do Banco Central do Brasil e representante da Comissão de Valores
Mobiliários. Entre as funções do CNSP, estão: regular a constituição, a organização, o funcionamento e a
fiscalização dos que exercem atividades subordinadas ao Sistema Nacional de Seguros Privados (SNSP),
bem como a aplicação das penalidades previstas; fixar as características gerais dos contratos de seguro,
previdência privada aberta, capitalização e resseguro; estabelecer as diretrizes gerais das operações de
resseguro; prescrever os critérios de constituição das sociedades seguradoras, de capitalização, entidades
de previdência privada aberta e resseguradores, com fixação dos limites legais e técnicos das respectivas
operações e disciplinar a corretagem de seguros e a profissão de corretor.

iii. Conselho Nacional de Previdência Complementar (CNPC)


O Conselho Nacional de Previdência Complementar (CNPC) é um órgão colegiado que integra a
estrutura do Ministério da Previdência Social cuja competência é regular o regime de previdência complementar
operado pelas entidades fechadas de previdência complementar (fundos de pensão).

3 ENTIDADES SUPERVISORAS DO SFN

i. Banco Central do Brasil (BCB)


O Banco Central do Brasil (BCB) foi criado pela Lei 4.595, de 31 de dezembro de 1964. É uma autarquia
federal vinculada ao Ministério da Fazenda e o principal executor das decisões do Conselho Monetário
Nacional. Tem como missão assegurar o poder aquisitivo da moeda e um sistema financeiro sólido e eficiente
e como principais responsabilidades:

• zelar pela adequada liquidez da economia;


• manter as reservas internacionais em nível adequado;

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• estimular a formação de poupança;
• zelar pela estabilidade e promover o permanente aperfeiçoamento do sistema financeiro.

Sua sede fica em Brasília e tem nove representações regionais nas capitais dos Estados do Rio Grande
do Sul, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, Ceará e Pará.

ii. Comissão de Valores Mobiliários (CVM)


A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) é uma autarquia federal vinculada ao Ministério da Fazenda,
instituída pela Lei 6.385, de 7 de dezembro de 1976. É responsável por regulamentar, desenvolver, controlar
e fiscalizar o mercado de valores mobiliários. Para este fim, exerce as funções de: assegurar o funcionamento
eficiente e regular dos mercados de bolsa e de balcão; proteger os titulares de valores mobiliários; evitar ou
coibir modalidades de fraude ou manipulação no mercado; assegurar o acesso do público a informações sobre
valores mobiliários negociados e sobre as companhias que os tenham emitido; assegurar a observância de
práticas comerciais equitativas no mercado de valores mobiliários; estimular a formação de poupança e sua
aplicação em valores mobiliários; promover a expansão e o funcionamento eficiente e regular do mercado
de ações e estimular as aplicações permanentes em ações do capital social das companhias abertas.

iii. Superintendência de Seguros Privados (Susep)


A Superintendência de Seguros Privados (Susep) – autarquia vinculada ao Ministério da Fazenda – é
responsável pelo controle e pela fiscalização do mercado de seguro, previdência privada aberta e capitalização.
Entre suas atribuições, estão: fiscalizar a constituição, a organização, o funcionamento e a operação das
sociedades seguradoras, de capitalização, entidades de previdência privada aberta e resseguradores, na
qualidade de executora da política traçada pelo CNSP; atuar no sentido de proteger a captação de poupança
popular que se efetua por meio das operações de seguro, previdência privada aberta, de capitalização e
resseguro; zelar pela defesa dos interesses dos consumidores dos mercados supervisionados; promover o
aperfeiçoamento das instituições e dos instrumentos operacionais a eles vinculados; promover a estabilidade
dos mercados sob sua jurisdição; zelar pela liquidez e solvência das sociedades que integram o mercado;
disciplinar e acompanhar os investimentos daquelas entidades, em especial os efetuados em bens garantidores
de provisões técnicas; cumprir e fazer cumprir as deliberações do CNSP e exercer as atividades que por
este forem delegadas; prover os serviços de Secretaria Executiva do CNSP.

iv. Superintendência Nacional de Previdência Complementar (Previc)


A Superintendência Nacional de Previdência Complementar (Previc) é uma autarquia vinculada ao
Ministério da Previdência Social, responsável por fiscalizar as atividades das entidades fechadas de previdência
complementar (fundos de pensão). Atua como entidade de fiscalização e de supervisão das atividades das
entidades fechadas de previdência complementar e de execução das políticas para o regime de previdência
complementar operado pelas entidades fechadas de previdência complementar, observando, inclusive, as
diretrizes estabelecidas pelo Conselho Monetário Nacional e pelo Conselho Nacional de Previdência
Complementar.

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UNIDADE 2 – ENTIDADES OPERADORAS

INTRODUÇÃO

Esta unidade apresenta resumo das diversas entidades operadoras do Sistema Financeiro Nacional, que
efetivamente viabilizam as operações de mercado, operam com o público (clientes) e, portanto, cumprem as
funções de intermediação financeira. A fim de ilustrar os mercados mencionados, são apresentados quadros
complementares, contendo os grandes números e os principais agentes que operam nos principais segmentos.

1 INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS CAPTADORAS DE DEPÓSITO À VISTA

• Bancos múltiplos com carteira comercial.


• Banco comercial (inclusive banco cooperativo comercial).
• Caixa Econômica Federal.
• Cooperativas de crédito.

i. Bancos múltiplos
Os bancos múltiplos são instituições financeiras privadas ou públicas que realizam operações ativas,
passivas e acessórias de diversas instituições financeiras. Devem constituir-se com, no mínimo, duas das
seguintes carteiras, sendo uma delas obrigatoriamente comercial ou de investimento:

I - comercial;
II - de investimento e/ou de desenvolvimento, a última exclusiva para bancos públicos;
III - de crédito imobiliário;
IV - de crédito, financiamento e investimento; e
V - de arrendamento mercantil.

É importante destacar que as instituições financeiras múltiplas oficiais, federais ou estaduais podem
operar simultaneamente as carteiras de investimento e de desenvolvimento (ex.: Banco do Nordeste do
Brasil S.A. e Banco do Estado do Rio Grande do Sul S.A.), enquanto os bancos múltiplos privados não podem
operar a carteira de desenvolvimento.
Os bancos múltiplos devem ser organizados sob a forma de sociedade anônima e suas operações estão
sujeitas às mesmas normas legais e regulamentares aplicáveis às instituições singulares correspondentes às
suas carteiras. Na sua denominação social deve constar a expressão “Banco” (Resolução CMN nº 2.099, de
1994 e atualizações).

ii. Bancos comerciais


Os bancos comerciais são instituições financeiras privadas ou públicas que têm como objetivo principal
proporcionar suprimento de recursos necessários para financiar, a curto e a médio prazos, o comércio, a
indústria, as empresas prestadoras de serviços, as pessoas físicas e os terceiros em geral. A captação de
depósitos à vista, livremente movimentáveis, é atividade típica do banco comercial, o qual pode também
captar depósitos a prazo. Deve ser constituído sob a forma de sociedade anônima e, na sua denominação
social, deve constar a expressão “Banco” (Resolução CMN nº 2.099, de 1994).

iii. Caixa Econômica Federal


A Caixa Econômica Federal (Caixa), criada em 1861, está regulada pelo Decreto-Lei 759, de 12 de
agosto de 1969, como empresa pública vinculada ao Ministério da Fazenda, com 100% do capital social detido
pela União. Trata-se de instituição assemelhada aos bancos comerciais, podendo captar depósitos à vista,
realizar operações ativas e efetuar prestação de serviços. Uma característica que distingue a Caixa é que ela
prioriza a concessão de empréstimos e financiamentos a programas e projetos nas áreas de assistência social,
saúde, educação, trabalho, transportes urbanos e esporte. Pode operar com crédito direto ao consumidor,
financiando bens de consumo duráveis, emprestar sob garantia de penhor industrial e caução de títulos, bem
como tem o monopólio do empréstimo sob penhor de bens pessoais. Também tem o monopólio da venda

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de bilhetes de loteria3 federal e dos concursos de prognósticos e da compra de ouro extraído em garimpos
e minas. Além de centralizar o recolhimento e posterior aplicação de todos os recursos oriundos do Fundo
de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), é o banco pagador do Programa de Integração Social (PIS), integra
o Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE) e o Sistema Financeiro da Habitação (SFH). Ao final
de 2012, a Caixa detinha 71% das operações de crédito imobiliário do país4.

iv. Cooperativas de crédito


As cooperativas de crédito são sociedades de pessoas (cada associado tem direito a um voto,
independente da quantidade de cotas partes detida na sociedade). Dividem-se em: singulares, que prestam
serviços financeiros de captação e de crédito apenas aos respectivos associados, podendo receber repasses
de outras instituições financeiras e realizar aplicações no mercado financeiro; centrais (constituídas por, no
mínimo, três cooperativas singulares), que prestam serviços às singulares filiadas, e são também responsáveis
auxiliares por sua supervisão; e confederações de cooperativas centrais (constituídas por, no mínimo, três
centrais), que prestam serviços a centrais e suas filiadas. As regras prudenciais são mais estritas para as
cooperativas cujo quadro social é mais heterogêneo, como as cooperativas de livre admissão (Resolução
CMN nº 3.859, de 2010).

2 BOLSAS DE MERCADORIAS E FUTUROS

As bolsas de mercadorias e futuros podem assumir a forma jurídica de associação civil ou sociedade
anônima, com objetivo de efetuar o registro, a compensação e a liquidação, física e financeira, das operações
realizadas em pregão ou em sistema eletrônico. Para tanto, devem desenvolver, organizar e operacionalizar
um mercado de derivativos livre e transparente, que proporcione aos agentes econômicos a oportunidade de
efetuarem operações de hedging (proteção) ante flutuações de preço de commodities agropecuárias, índices,
taxas de juro, moedas e metais, bem como de todo e qualquer instrumento ou variável macroeconômica
cuja incerteza de preço no futuro possa influenciar negativamente suas atividades. Possuem autonomia
financeira, patrimonial e administrativa e são fiscalizadas pela CVM, ressaltando-se que a autorização para
funcionamento é da competência do BCB.

3 RESSEGURADORES

Os resseguradores são entidades constituídas sob a forma de sociedades anônimas que têm por objeto
exclusivo a realização de operações de resseguro e retrocessão. O Instituto de Resseguros do Brasil (IRB)
foi fundado, em 1939, como empresa de economia mista, vinculada ao Ministério da Fazenda, com sede no
Rio de Janeiro. Desde 1º/10/2013, transformou-se em empresa privada (IRB Brasil Resseguros S.A.)
e detém cerca de 47% do mercado total de resseguros no Brasil5.

Tabela 2: Cinco maiores resseguradoras do Brasil – (dez./2012)

Fonte: disponível em: <http://www.valor.com.br/valor1000/2013/rankingmaioresresseguros>.

3 Biblioteca Digital da Câmara dos Deputados. Disponível em: <http://bd.camara.leg.br/bd/bitstream/handle/bdcamara/1518/exploracao_loterias_


andrade.pdf?sequence=1>. Acesso em: 12 nov.2013.
4 Relatório de Administração da Caixa 2012. Disponível em: <http://downloads.caixa.gov.br/_arquivos/caixa/caixa_demfinanc/Relatorio_Administracao_2012.
pdf>. Acesso em: 27 nov. 2013.
5 Disponível em: <http://www.irbbrasilre.com/conheca-o-irb/sobre-o-irb-brasil-re/>. Acesso em: 21 nov. 2013.

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4 DEMAIS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS

• Agências de fomento.
• Associações de poupança e empréstimo.
• Bancos de câmbio.
• Bancos de desenvolvimento.
• Bancos de investimento.
• Bolsa de valores.
• Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
• Companhias hipotecárias.
• Cooperativas de centrais de crédito.
• Entidades fechadas de previdência complementar.
• Sociedades de crédito, financiamento e investimento.
• Sociedades de crédito imobiliário.
• Sociedades de crédito ao microempreendedor.
• Sociedades seguradoras.

i. Agências de fomento (AF)


As agências de fomento (AF) têm como objeto social a concessão de financiamento de capital fixo e
de giro associado a projetos na Unidade da Federação (UF) onde tenham sede. Devem ser constituídas sob
a forma de sociedade anônima de capital fechado e estar sob o controle de UF, sendo que cada Unidade
só pode constituir uma agência. Tais entidades têm status de instituição financeira, mas não podem captar
recursos junto ao público, recorrer ao redesconto, ter conta de reserva no Banco Central, contratar depósitos
interfinanceiros na qualidade de depositante ou de depositária e nem ter participação societária em outras
instituições financeiras. De sua denominação social, deve constar a expressão “agência de fomento” acrescida
da indicação da UF controladora. É vedada sua transformação em qualquer outro tipo de instituição integrante
do Sistema Financeiro Nacional. As agências de fomento devem constituir e manter, permanentemente, fundo
de liquidez equivalente, no mínimo, a 10% do valor de suas obrigações, a ser integralmente aplicado em títulos
públicos federais (Resolução CMN nº 2.828, de 2001).

ii. Associações de poupança e empréstimo (APE)


As associações de poupança e empréstimo (APE) são constituídas sob a forma de sociedade civil,
sendo de propriedade comum de seus associados. Suas operações ativas são, basicamente, direcionadas ao
mercado imobiliário e ao Sistema Financeiro da Habitação (SFH). As operações passivas são constituídas de
emissão de letras e cédulas hipotecárias, depósitos de cadernetas de poupança, depósitos interfinanceiros e
empréstimos externos. Os depositantes dessas entidades são considerados acionistas da associação e, por
isso, não recebem rendimentos, mas dividendos. Os recursos dos depositantes são, assim, classificados no
patrimônio líquido da associação e não no passivo exigível (Resolução CMN nº 52, de 1967).

iii. Bancos de Câmbio (BCamb)


Os bancos de câmbio (BCamb) são instituições financeiras autorizadas a realizar, sem restrições,
operações de câmbio e operações de crédito vinculadas às de câmbio, como financiamentos à exportação
e à importação e adiantamentos sobre contratos de câmbio, e ainda a receber depósitos em contas sem
remuneração, não movimentáveis por cheque ou por meio eletrônico pelo titular, cujos recursos sejam
destinados à realização das operações acima citadas. Na denominação dessas instituições, deve constar a
expressão “banco de câmbio” (Resolução. CMN nº 3.426, de 2006).

iv. Bancos de desenvolvimento (BD)


Os bancos de desenvolvimento são instituições financeiras controladas pelos governos estaduais, e
têm como objetivo precípuo proporcionar o suprimento oportuno e adequado dos recursos necessários ao
financiamento, a médio e longo prazos, de programas e projetos que visem a promover o desenvolvimento
econômico e social do respectivo estado. As operações passivas são depósitos a prazo, empréstimos
externos, emissão ou endosso de cédulas hipotecárias, emissão de cédulas pignoratícias de debêntures e
de títulos de desenvolvimento econômico. As operações ativas são empréstimos e financiamentos, dirigidos

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prioritariamente ao setor privado. Devem ser constituídos sob a forma de sociedade anônima, com sede na
capital do estado que detiver seu controle acionário, devendo adotar, obrigatória e privativamente, em sua
denominação social, a expressão “banco de desenvolvimento”, seguida do nome do estado em que tenha
sede (Resolução CMN nº 394, de 1976).

v. Bancos de investimento (BI)


Os bancos de investimento (BI) são instituições financeiras públicas ou privadas especializadas em
operações de participação societária de caráter temporário, de financiamento da atividade produtiva para
suprimento de capital fixo e de giro e de administração de recursos de terceiros. Devem ser constituídos sob
a forma de sociedade anônima e adotar, obrigatoriamente, em sua denominação social, a expressão “banco de
investimento”. Não possuem contas-correntes e captam recursos via depósitos a prazo, repasses de recursos
externos, internos e venda de cotas de fundos de investimento por eles administrados. As principais operações
ativas são financiamento de capital de giro e capital fixo, subscrição ou aquisição de títulos e valores mobiliários,
depósitos interfinanceiros e repasses de empréstimos externos (Resolução CMN nº 2.624, de 1999).

vi. Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES)


O BNDE, criado em 1952 (e transformado em BNDES em 1982) como autarquia federal, foi enquadrado
como uma empresa pública federal, com personalidade jurídica de direito privado e patrimônio próprio,
pela Lei 5.662, de 21 de junho de 1971. O BNDES é um órgão vinculado ao Ministério do Desenvolvimento,
Indústria e Comércio Exterior (Mdic) e tem como objetivo apoiar empreendimentos que contribuam
ao desenvolvimento do país. Suas linhas de apoio contemplam financiamentos de longo prazo e custos
competitivos, para desenvolvimento de projetos de investimentos e para comercialização de máquinas e
equipamentos novos, fabricados no país, bem como para incremento das exportações brasileiras. Contribui,
também, ao fortalecimento da estrutura de capital das empresas privadas e ao desenvolvimento do mercado
de capitais. A BNDESPAR, subsidiária integral, investe em empresas nacionais por meio da subscrição de ações
e debêntures conversíveis. As linhas de apoio financeiro e os programas do BNDES atendem às necessidades
de investimentos das empresas de qualquer porte e setor, estabelecidas no país. A parceria com instituições
financeiras, com agências estabelecidas em todo o país permite a disseminação do crédito, possibilitando
maior acesso aos recursos do BNDES.
A taxa de juros de longo prazo (TJLP), instituída em 1994, é definida como o custo básico dos
financiamentos concedidos pelo BNDES6. É fixada trimestralmente pelo CMN e ao longo de 2013 foi de 5%
ao ano, a mais baixa desde sua criação.
Entre os diversos produtos oferecidos, destaca-se o cartão BNDES, destinado a micro, pequenas, médias
empresas e também a empreendedores individuais.

vii. Companhias hipotecárias (CH)


As companhias hipotecárias são instituições financeiras constituídas sob a forma de sociedade anônima,
que têm por objeto social conceder financiamentos destinados à produção, à reforma ou à comercialização
de imóveis residenciais ou comerciais aos quais não se aplicam as normas do Sistema Financeiro da Habitação
(SFH). Suas principais operações passivas são: letras hipotecárias, debêntures, empréstimos e financiamentos
no país e no exterior. Suas principais operações ativas são: financiamentos imobiliários residenciais ou
comerciais, aquisição de créditos hipotecários, refinanciamentos de créditos hipotecários e repasses de
recursos para financiamentos imobiliários. Tais entidades têm como operações especiais a administração de
créditos hipotecários de terceiros e de fundos de investimento imobiliário (Resolução CMN nº 2.122, de 1994).

viii. Cooperativas centrais de crédito (CCC)


As cooperativas centrais de crédito, formadas por cooperativas singulares, organizam, em maior escala,
as estruturas de administração e suporte de interesse comum das cooperativas singulares filiadas, exercendo
sobre elas, entre outras funções, supervisão de funcionamento, capacitação de administradores, gerentes e
associados e auditoria de demonstrações financeiras (Resolução CMN nº 3.859, de 2010).

6 Disponível em: <http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/bndes/bndes_pt/Ferramentas_e_Normas/Custos_Financeiros/Taxa_de_Juros_de_Longo_


Prazo_TJLP/>. Acesso em: 21 nov. 2013.

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ix. Sociedades de Crédito, Financiamento e Investimento (SCFI ou Financeiras)
As sociedades de crédito, financiamento e investimento, também conhecidas por financeiras, foram
instituídas pela Portaria do Ministério da Fazenda nº 309, de 30 de novembro de 1959. São instituições
financeiras privadas que têm como objetivo básico a realização de financiamento para aquisição de bens,
serviços e capital de giro. Devem ser constituídas sob a forma de sociedade anônima e na sua denominação
social deve constar a expressão “crédito, financiamento e investimento”. Tais entidades captam recursos por
meio de aceite e colocação de letras de câmbio (Resolução CMN nº 45, de 1966) e recibos de depósitos
bancários (Resolução CMN nº 3.454, de 2007).

x. Sociedades de crédito imobiliário (SCI)


As SCI são instituições financeiras criadas pela Lei nº 4.380, de 21 de agosto de 1964, para atuar no
financiamento habitacional. Constituem operações passivas dessas instituições os depósitos de poupança, a
emissão de letras e as cédulas hipotecárias e depósitos interfinanceiros. Suas operações ativas são: financiamento
para construção de habitações, abertura de crédito para compra ou construção de casa própria, financiamento
de capital de giro a empresas incorporadoras, produtoras e distribuidoras de material de construção. Devem
ser constituídas sob a forma de sociedade anônima, adotando obrigatoriamente, em sua denominação social,
a expressão “crédito imobiliário” (Resolução CMN nº 2.735, de 2000).

xi. Sociedades de crédito ao microempreendedor (SCM)


As sociedades de crédito ao microempreendedor (SCM), criadas pela Lei 10.194, de 14 de fevereiro
de 2001, são entidades que têm por objeto social exclusivo a concessão de financiamentos e a prestação
de garantias a pessoas físicas, bem como a pessoas jurídicas classificadas como microempresas, com vista a
viabilizar empreendimentos de natureza profissional, comercial ou industrial de pequeno porte. São impedidas
de captar, sob qualquer forma, recursos junto ao público, bem como emitir títulos e valores mobiliários
destinados à colocação e à oferta públicas. Devem ser constituídas sob a forma de companhia fechada ou de
sociedade por quotas de responsabilidade limitada, adotando obrigatoriamente em sua denominação social a
expressão “sociedade de crédito ao microempreendedor”, vedada a utilização da palavra “banco” (Resolução
CMN nº 2.874, de 2001, com texto atualizado pela Resolução CMN 3.567, de 2008).

xii. Bolsas de valores (BV)


As bolsas de valores (BV) são sociedades anônimas ou associações civis, com o objetivo de manter
local ou sistema adequado ao encontro de seus membros e à realização entre eles de transações de compra
e venda de títulos e valores mobiliários, em mercado livre e aberto, especialmente organizado e fiscalizado
por seus membros e pela Comissão de Valores Mobiliários. Possuem autonomia financeira, patrimonial e
administrativa (Resolução CMN nº 2.690, de 2000).

xiii. Sociedades seguradoras


Sociedades seguradoras são entidades, constituídas sob a forma de sociedades anônimas, especializadas
em pactuar contrato, por meio do qual assumem a obrigação de pagar ao contratante (segurado), ou a quem
este designar, uma indenização, no caso em que advenha o risco indicado e temido, recebendo, para isso, o
prêmio estabelecido.

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Tabela 3: 20 Maiores seguradoras no Brasil (dez./2012)

Fonte: disponível em: <http://www.valor.com.br/valor1000/2013/ranking50maioresseguradoras>.


Nota: * balanço consolidado.

xiii. Entidades fechadas de previdência complementar


As entidades fechadas de previdência complementar (fundos de pensão) são organizadas sob a forma
de fundação ou sociedade civil, sem fins lucrativos e são acessíveis, exclusivamente, aos empregados de
uma empresa ou grupo de empresas ou aos servidores da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios, entes denominados patrocinadores ou aos associados ou membros de pessoas jurídicas de caráter
profissional, classista ou setorial, denominadas instituidores. As entidades de previdência fechada devem seguir
as diretrizes estabelecidas pelo Conselho Monetário Nacional, por meio da Resolução CMN nº 3.792, de 24
de setembro de 2009, no que tange à aplicação dos recursos dos planos de benefícios. Também são regidas
pela Lei Complementar nº 109, de 29 de maio de 2001.

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Tabela 4: 20 Maiores fundos de pensão do Brasil (jun./2013)

Fonte: Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência Privada (Abrapp).


Disponível em: <http://www.abrapp.org.br/Documentos%20Pblicos/
ConsolidadoEstatistico_06_2013.pdf/>.

5 OUTROS INTERMEDIÁRIOS FINANCEIROS

• Administradoras de consórcio.
• Entidades abertas de previdência complementar.
• Sociedades de arrendamento mercantil.
• Sociedades corretoras de câmbio.
• Sociedades corretoras de títulos e valores mobiliários.
• Sociedades distribuidoras de títulos e valores mobiliários.
• Sociedades de capitalização.

i. Administradoras de consórcio
As administradoras de consórcio são empresas responsáveis pela formação e pela administração de
grupos de consórcio, atuando como mandatárias de seus interesses e direitos. O grupo de consórcio é uma
sociedade não personificada, com prazo de duração e número de cotas previamente determinados, e que
visa à coleta de poupança para permitir aos consorciados a aquisição de bens ou serviços. As atividades do
sistema de consórcio são reguladas pela Lei nº 11.795, de 8 de outubro de 2008, bem como pela Circular
nº 3.432, de 3 de fevereiro de 2009, e supervisionadas pelo Banco Central.

ii. Sociedades de arrendamento mercantil (SAM ou leasing)


As sociedades de arrendamento mercantil (SAM) são constituídas sob a forma de sociedade anônima,
devendo constar obrigatoriamente na sua denominação social a expressão “arrendamento mercantil”. As
operações passivas dessas sociedades são emissão de debêntures, dívida externa, empréstimos e financiamentos
de instituições financeiras. Suas operações ativas são constituídas por títulos da dívida pública, cessão de
direitos creditórios e, principalmente, por operações de arrendamento mercantil de bens móveis, de produção
nacional ou estrangeira, e bens imóveis adquiridos pela entidade arrendadora para fins de uso próprio do
arrendatário. São supervisionadas pelo Banco Central do Brasil (Resolução CMN nº 2.309, de 1996).
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iii. Sociedades Corretoras de Câmbio (SCC)
As sociedades corretoras de câmbio (SCC) são constituídas sob a forma de sociedade anônima ou por
quotas de responsabilidade limitada, devendo constar na sua denominação social a expressão “corretora de
câmbio”. Têm por objeto social exclusivo a intermediação em operações de câmbio e a prática de operações
no mercado de câmbio de taxas flutuantes. São supervisionadas pelo Banco Central do Brasil (Resolução
CMN nº 1.770, de 1990).

iv. Sociedades corretoras de títulos e valores mobiliários (SCTVM)


As sociedades corretoras de títulos e valores mobiliários são constituídas sob a forma de sociedade
anônima ou por quotas de responsabilidade limitada. Entre seus objetivos, estão: operar em bolsas de
valores, subscrever as emissões de títulos e valores mobiliários no mercado; comprar e vender os títulos
e os valores mobiliários por conta própria e de terceiros; encarregar-se da administração de carteiras e
da custódia de títulos e valores mobiliários; exercer as funções de agente fiduciário; instituir, organizar e
administrar os fundos e os clubes de investimento; emitir os certificados de depósito de ações e cédulas
pignoratícias de debêntures; intermediar as operações de câmbio; praticar as operações no mercado de
câmbio de taxas flutuantes; praticar as operações de conta margem; realizar as operações compromissadas;
praticar as operações de compra e venda de metais preciosos, no mercado físico, por conta própria e de
terceiros; operar em bolsas de mercadorias e de futuros por conta própria e de terceiros. São supervisionadas
pelo Banco Central do Brasil (Resolução CMN nº 1.655, de 1989), ressalvada a competência da CVM para
fiscalizar as operações com valores mobiliários e fiscalizar a administração de carteiras e a custódia de valores
mobiliários. A autorização para funcionamento das SCTVM é da competência do BCB.

v. Sociedades distribuidoras de títulos e valores mobiliários (SDTVM)


As sociedades distribuidoras de títulos e valores mobiliários (SDTVM) são constituídas sob a forma
de sociedade anônima ou por quotas de responsabilidade limitada, devendo constar na sua denominação
social a expressão “distribuidora de títulos e valores mobiliários”. Algumas de suas atividades: intermedeiam
a oferta pública e distribuição de títulos e valores mobiliários no mercado; administram e custodiam as
carteiras de títulos e valores mobiliários; instituem, organizam e administram fundos e clubes de investimento;
operam no mercado acionário, comprando, vendendo e distribuindo títulos e valores mobiliários, inclusive
ouro financeiro, por conta de terceiros; fazem a intermediação com as bolsas de valores e de mercadorias;
efetuam lançamentos públicos de ações; operam no mercado aberto e intermedeiam operações de câmbio. São
supervisionadas pelo Banco Central do Brasil (Resolução CMN nº 1.655, de 1989), ressalvada a competência
da CVM para fiscalizar as operações com valores mobiliários e fiscalizar a administração de carteiras e a
custódia de valores mobiliários. A autorização para funcionamento das SDTVM é da competência do BCB.
Os fundos de investimento, administrados por corretoras, distribuidoras e outros intermediários
financeiros são constituídos sob a forma de condomínio (pessoa jurídica distinta da instituição que o
administra) e representam a reunião de recursos para aplicação em carteira diversificada de títulos e valores
mobiliários, com o objetivo de propiciar aos condôminos valorização de quotas, a um custo global mais
baixo. A normatização, a concessão de autorização, o registro e a supervisão dos fundos de investimento
são de competência da Comissão de Valores Mobiliários. Embora a administração de fundos de investimento
seja atividade típica de corretoras e distribuidoras de valores, atualmente os bancos comerciais e múltiplos
administram a maior parte dos fundos de investimento no país. Em dezembro de 2013, havia mais de 8.500
fundos de investimento em atividade.

vi. Sociedades de capitalização


As sociedades de capitalização são entidades, constituídas sob a forma de sociedades anônimas, que
negociam contratos (títulos de capitalização), que têm por objeto o depósito periódico de prestações
pecuniárias pelo contratante, o qual terá, depois de cumprido o prazo contratado, o direito de resgatar parte
dos valores depositados corrigidos por uma taxa de juros estabelecida contratualmente, conferindo, ainda,
quando previsto, o direito de concorrer a sorteios de prêmios em dinheiro.

vii. Entidades abertas de previdência complementar


As entidades abertas de previdência complementar são entidades constituídas unicamente sob a forma
de sociedades anônimas e têm por objetivo instituir e operar planos de benefícios de caráter previdenciário

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concedidos em forma de renda continuada ou pagamento único, acessíveis a quaisquer pessoas físicas. São regidas
pelo Decreto-Lei nº 73, de 21 de novembro de 1966, e pela Lei Complementar nº 109, de 29 de maio de 2001.
As funções do órgão regulador e do órgão fiscalizador são exercidas pelo Ministério da Fazenda, por intermédio
do Conselho Nacional de Seguros Privados (CNSP) e da Superintendência de Seguros Privados (Susep).

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UNIDADE 3 – OUTROS PARTICIPANTES E TEMAS RELEVANTES NO SFN

INTRODUÇÃO

Além dos órgãos normativos, entidades supervisoras e operadores do SFN, existem outras instituições
e sistemas que exercem funções relevantes no âmbito do SFN, discriminadas a seguir.

1 CONSELHO DE RECURSOS DO SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL (CFSFN)

O Conselho de Recursos do Sistema Financeiro Nacional (CRSFN) é um órgão colegiado, de segundo


grau, integrante da estrutura do Ministério da Fazenda, com sede em Brasília (DF), criado pelo Decreto
nº 91.152, de 15 de março de 1985. É constituído, paritariamente, por oito conselheiros, possuidores de
conhecimentos especializados em assuntos relativos aos mercados financeiro, de câmbio, de capitais, de
consórcios e de crédito rural e industrial, observada a seguinte composição:

• dois representantes do Ministério da Fazenda (Minifaz);


• um representante do Banco Central do Brasil (BCB);
• um representante da Comissão de Valores Mobiliários (CVM); e
• quatro representantes das entidades de classe dos mercados afins, por essas indicados em
lista tríplice.

As entidades de classe que integram o CRSFN são as seguintes:

Titulares:
Abrasca – Associação Brasileira das Companhias Abertas.
Anbima – Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais.
Ancord – Associação Nacional das Corretoras e Distribuidoras de Títulos e Valores Mobiliários,
Câmbio e Mercadorias.
Febraban – Federação Brasileira das Associações de Bancos.

Suplentes:
Abac – Associação Brasileira de Administradoras de Consórcios.
Amec – Associação de Investidores no Mercado de Capitais.
CECO/OCB – Conselho Consultivo do Ramo Crédito da Organização das Cooperativas Brasileiras.
Ibracon – Instituto dos Auditores Independentes do Brasil.

Fazem ainda parte do Conselho de Recursos três procuradores da Fazenda Nacional, designados pelo
procurador-geral da Fazenda Nacional, com atribuição de zelar pela fiel observância da legislação aplicável
(manifestação indispensável em todos os recursos), e um secretário-executivo, nomeado pelo ministro de
Estado da Fazenda, responsável pela execução e pela coordenação dos trabalhos administrativos. Para tanto,
o Banco Central do Brasil e, subsidiariamente, a Comissão de Valores Mobiliários proporcionam o respectivo
apoio técnico e administrativo.
Um dos representantes do Ministério da Fazenda é o presidente do Conselho e o vice- presidente
é o representante designado pelo Ministério da Fazenda entre os quatro representantes das entidades de
classe que integram o Conselho.
Entre suas diversas atribuições, compete ao CRSFN julgar, em segunda e última instância, os recursos
de decisões do Banco Central do Brasil:

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i. relativas a penalidades por infrações à legislação cambial, de capitais estrangeiros e de crédito
rural e industrial (esta competência originalmente pertencia ao CMN e foi transferida pela
Lei nº 9.069, de 1995);
ii. proferidas com base no art. 33 da Lei nº 8.177, de 1º de março de 1991, relativas a penalidades
por infração à legislação de consórcios;
iii. proferidas com base no art. 9o da Lei no 9.447, de 14 de março de 1997, referentes à
adoção de medidas cautelares (a lei trata da responsabilidade solidária de administradores
de instituições financeiras submetidas a regime especial, entre outras matérias);
iv. referentes à desclassificação e à descaracterização de operações de crédito rural e industrial
e a impedimentos referentes ao Programa de Garantia da Atividade Agropecuária (Proagro);
e
v. relacionadas à retificação de informações, aplicação de multas e custos financeiros associados
a recolhimento compulsório, encaixe obrigatório e direcionamento obrigatório de recursos.

Permanece com o CMN a competência residual para julgar os demais casos ali previstos (contra
instituições financeiras, seus diretores, membros de conselhos administrativos, fiscais e semelhantes), por
força do disposto no artigo 44, § 5º, da Lei 4.595/1964, a saber:

- Multa pecuniária variável.


- Suspensão do exercício de cargos.
- Inabilitação temporária ou permanente ao exercício de cargos de direção na administração ou
gerência em instituições financeiras.

De acordo com o Relatório de Atividades de 2012, de um total de 638 decisões tomadas pelo CRSFN,
cerca de 82% foram confirmadas pelo colegiado. Não sofreram alteração 77% das decisões do BCB e 87% das
decisões da CVM. No caso do BCB, em 358 processos julgados pelo CRSFN (inclusive 118 arquivamentos),
276 decisões foram mantidas integralmente e 82 sofreram alteração7.

Tabela 5: Decisões do CRSFN (recursos julgados) 2012


Fonte: CRSFN.

Em 2012, o prazo médio de tramitação de um processo no CRSFN foi de 1.296 dias (3 anos, 6 meses e 21 dias).

2 FUNDO GARANTIDOR DE CRÉDITOS (FGC)

O Fundo Garantidor de Créditos (FGC) é uma associação civil sem fins lucrativos, com personalidade
jurídica de direito privado, com a missão institucional de proteger depositantes e investidores no âmbito
do sistema financeiro, até os limites estabelecidos pela regulamentação, contribuir para manutenção da
estabilidade do SFN e prevenir crise bancária sistêmica.
Foi autorizado a constituir-se pelo CMN por meio da Resolução nº 2.197, de 31.08.1995. Em novembro
do mesmo ano, foram aprovados o estatuto e o regulamento da nova entidade (Resolução CMN nº 2.211,
de 16 de novembro de 1995). Atualmente as normas e o regulamento do FGC são regidos pela Resolução
CMN nº 4.222, de 23 de maio de 2013).

O FGC tem por objetivos prestar garantia de créditos contra instituições dele associadas, nas situações de:

• decretação da intervenção ou da liquidação extrajudicial de instituição associada; e


• reconhecimento, pelo Banco Central do Brasil, do estado de insolvência de instituição
associada que, nos termos da legislação em vigor, não estiver sujeita aos regimes referidos
no item anterior (bancos públicos federais).

7 Os recursos no CRSFN são decompostos em número de indiciados. Assim, em 2012, nos 215 recursos julgados verificaram-se 513 indiciados(as),
com aplicação de 638 decisões/penalidades, das quais 358 oriundas do BCB e 280 da CVM.

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Também é atribuição do FGC, consideradas as finalidades de contribuir para a manutenção da estabilidade
do Sistema Financeiro Nacional e prevenção de crise sistêmica bancária, a contratação de operações de
assistência ou de suporte financeiro, incluindo operações de liquidez com as instituições associadas, diretamente
ou por intermédio de empresas por estas indicadas, inclusive com seus acionistas controladores.
São instituições associadas ao FGC a Caixa Econômica Federal e as instituições constituídas sob a
forma de banco múltiplo, banco comercial, banco de investimento, banco de desenvolvimento, sociedade de
crédito, financiamento e investimento, sociedade de crédito imobiliário, companhia hipotecária e associação
de poupança e empréstimo, em funcionamento no país, que:

i. Recebam depósitos à vista, em contas de poupança ou depósitos a prazo.


ii. Realizem aceite em letras de câmbio.
iii. Captem recursos mediante a emissão e a colocação de letras imobiliárias, de letras hipotecárias
ou de letras de crédito imobiliário.
iv. Captem recursos por meio de operações compromissadas, tendo por objeto títulos de
emissão de empresa ligada.

Os pagamentos do fundo são realizados por instituição financeira ou conglomerado até o limite de
R$ 250 mil por CPF/CNPJ, limitado ao saldo existente em conta. No caso de contas conjuntas, o valor da
garantia também está limitado a R$ 250 mil, ou ao saldo da conta quando inferior a esse limite, dividido pelo
número de titulares, sendo o crédito do valor garantido feito de forma individual. A adesão das instituições
financeiras e associações de poupança e empréstimo ao FGC é compulsória e a contribuição é de 0,0125%
sobre as rubricas contábeis especificadas no regulamento. As autorizações do BCB para funcionamento de
novas instituições financeiras estão condicionadas à adesão ao FGC.
O caráter privado da estrutura do FGC, estabelecido pela resolução do Conselho Monetário Nacional,
foi importante na sua consolidação como entidade independente.
O saldo do FGC é formado por:

• contribuições ordinárias e especiais mensais das instituições associadas;


• taxas de serviços decorrentes da emissão de cheques sem provisão de fundos;
• recuperações de direitos creditórios nas quais o FGC houver se sub-rogado, em virtude de
pagamento de dívidas de instituições associadas relativas a créditos garantidos;
• resultado líquido dos serviços prestados pelo FGC e rendimentos de aplicação de seus recursos;
• remuneração e encargos correspondentes ao recebimento dos valores devidos em função da
realização das operações de assistência ou de suporte financeiro e aplicações de recursos; e
• receitas de outras origens.

Em 2012 o FGC recebeu aproximadamente R$ 194,5 milhões em recursos isentos de imposto de


renda e contribuição para seguridade social, sendo R$ 168 milhões mensais em contribuições ordinárias,
R$ 21,1 milhões em depósito a prazo com garantia especial (DPGE) e R$ 5,5 milhões do recheque (tarifas
sobre cheques sem fundos). Também, em 2012, as despesas operacionais apresentaram gasto médio de R$
1,5 milhão, cerca de 0,8% da arrecadação.
São garantidos pelo FGC:

• Depósitos à vista ou sacáveis mediante aviso prévio.


• Depósitos de poupança.
• Depósitos a prazo, com ou sem emissão de certificado.
• Depósitos mantidos em contas não movimentáveis por cheques destinadas ao registro e ao
controle do fluxo de recursos referentes à prestação de serviços de pagamento de salários,
vencimentos, aposentadorias, pensões e similares.
• Letras de câmbio.
• Letras imobiliárias.
• Letras hipotecárias.
• Letras de crédito imobiliário.
• Letras de crédito do agronegócio.

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• Operações compromissadas que têm como objetivo títulos emitidos após 8 de março de
2012 por empresa ligada.

Até maio de 2013, o FGC limitava-se a garantir R$ 70 mil por depositante ou investidor. Considerando-
se os saldos até R$ 70 mil, a cobertura do fundo chegava a 98,7% dos depositantes, contemplando 30,95%
do total de créditos existentes no sistema financeiro. A partir da edição da Resolução CMN nº 4.222, de 23
de maio de 2013, o FGC passou a garantir até R$ 250 mil, cobrindo 99,7% dos depositantes e 46,5% dos
créditos existentes em junho de 2013.
Quanto aos produtos bancários cobertos pelo FGC, em junho de 2013 os depósitos a prazo
representavam 42,2%, os depósitos de poupança, 36,5%, e os depósitos à vista, 12,5%, totalizando 91,2% do
saldo dos produtos garantidos pelo fundo.

3 FUNDO GARANTIDOR DE COOPERATIVISMO DE CRÉDITO (FGCOOP)8

O Fundo Garantidor de Cooperativismo de Crédito (FGCoop) foi criado nos mesmos moldes do
FGC, mas com a função de proteger os depositantes das suas associadas (cooperativas singulares de crédito
e bancos cooperativos). As cooperativas centrais e as confederações são “associadas representantes,” isto
é, participam do FGCoop com o propósito exclusivo de representar as cooperativas singulares, não tendo
direito a qualquer tipo de garantia ou suporte financeiro prestado pelo FGCoop. A exemplo do FGC, também
é uma associação civil sem fins lucrativos, com personalidade jurídica de direito privado, com abrangência
nacional e sede em Brasília (DF).
Foi autorizado a constituir-se pelo CMN pela Resolução nº 4.150, de 30 de outubro de 2012, e, em
novembro do ano seguinte, foram aprovados o estatuto e o regulamento da nova entidade (Resolução CMN
nº 4.284, de 5 de novembro de 2013). Também é isento do pagamento de imposto de renda (IR). A afiliação ao
FGCoop pelas cooperativas singulares de crédito e pelos bancos cooperativos que vierem a ser constituídos
deve ser comprovada ao BCB previamente ao início de suas operações.
O FGCoop tem por finalidades conforme o art. 2º do seu estatuto:

• Proteger depositantes e investidores das instituições associadas, nos limites e nas condições
previstas no seu regulamento.
• Contribuir para manutenção da estabilidade do Sistema Nacional de Crédito Cooperativo
(SNCC).
• Contribuir para prevenção de crise sistêmica no segmento cooperativista.

É vedado ao FGCoop ressarcir crédito de cooperados e clientes de instituições que não sejam suas associadas.
Os pagamentos do fundo são realizados por associada até o limite de R$ 250 mil por CPF/CNPJ, limitado
ao saldo existente em conta. A adesão das associadas ao FGCoop é compulsória e a contribuição é de 0,0125%
sobre as rubricas contábeis especificadas no regulamento, com limite mensal mínimo de contribuição de R$ 100,00.
O saldo do FGCoop é formado por:

• contribuições ordinárias e extraordinárias das instituições associadas;


• taxas de serviços decorrentes da emissão de cheques sem provisão de fundos recolhidos
direta ou indiretamente pelas instituições associadas;
• recuperações de direitos creditórios nas quais o FGCoop houver se sub-rogado, em virtude
de pagamento de dívidas de instituições associadas relativas a créditos garantidos;
• resultado líquido dos serviços prestados pelo FGCoop e rendimentos de aplicação de seus
recursos;
• remuneração e encargos correspondentes ao recebimento dos valores devidos em função
da realização das operações de assistência ou de suporte financeiro; e
• receitas de outras origens, inclusive recursos recebidos do FGC.

Inicialmente foram repassados cerca de R$ 129 milhões do FGC ao FGCoop, decorrentes das taxas
de cheques sem fundo de clientes de cooperativas de crédito e bancos cooperativos, recolhidos pelo FGC
desde o início de seu funcionamento em 1995.
8 Conforme Resolução CMN nº 4.284, de 5.11.2013.

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4 SISTEMA DE INFORMAÇÕES DE CRÉDITO (SCR)

O Sistema de Informações de Crédito do Banco Central (SCR) é instrumento de registro e consulta


de informações sobre operações de crédito, avais e fianças prestados e limites de crédito concedidos por
instituições financeiras a pessoas físicas e jurídicas no país. Foi criado pelo CMN e é administrado pelo BCB,
a quem cumpre armazenar as informações encaminhadas e também disciplinar o processo de correção e
atualização da base de dados pelas instituições financeiras participantes.
O SCR é o principal instrumento utilizado pela supervisão bancária para acompanhar as carteiras de
crédito das instituições financeiras. Nesse sentido, desempenha papel importante na garantia da estabilidade
do SFN e na prevenção de crises. O SCR é alimentado mensalmente pelas instituições financeiras, mediante
coleta de informações sobre as operações concedidas. Cumpre a elas também corrigir ou excluir as
informações imprecisas. Eventuais questionamentos judiciais devem ser encaminhados diretamente à instituição
financeira que informou os dados sobre a operação. Inicialmente se determinou que as instituições enviassem
informações sobre o total das operações dos clientes com responsabilidade total igual ou superior a R$
50.000,00 (cinquenta mil reais). Paulatinamente, esse valor foi sendo diminuído, inicialmente para o patamar
de R$ 20.000,00 (vinte mil reais), depois para R$ 5.000,00 (cinco mil reais) e, atualmente, são armazenadas no
banco de dados do SCR as operações dos clientes com responsabilidade total igual ou superior a R$ 1.000,00
(mil reais) a vencer e vencidas, e os valores referentes às fianças e aos avais prestados pelas instituições
financeiras a seus clientes, além de créditos a liberar contabilizados nos balancetes mensais.
A base legal para o sistema coletar e compartilhar informações entre as instituições participantes do SFN
e o respeito à privacidade do cliente quanto ao sigilo e à divulgação de informações obedecem às condições
previstas na Lei Complementar nº 105/2001 e na Resolução CMN nº 3.658, de 17 de dezembro de 2008.
A qualidade das informações coletadas é essencial para garantir que sejam atingidos os objetivos que
nortearam a implantação do SCR. Para assegurar a confiabilidade do sistema, os arquivos recebidos são
submetidos a um rigoroso processo de verificação, mediante a realização de diversos testes de consistência.
A Lei Complementar nº 105, de 10 de janeiro de 2001, em seu art. 1º, parágrafo 3º, determina que não
constitui violação do dever de sigilo a troca de informações entre instituições financeiras, para fins cadastrais,
inclusive por intermédio de centrais de risco, observadas as normas baixadas pelo CMN e pelo BCB.
O CMN, por meio da Resolução nº 3.658, de 17 de dezembro de 2008, dispõe que as instituições
financeiras poderão consultar as informações consolidadas por cliente constantes do sistema, desde que obtida
autorização específica do cliente para essa finalidade. Portanto, depende do tomador de crédito permitir
ou não o compartilhamento de dados – sem a autorização do cliente, nenhuma instituição financeira pode
acessar seus dados no sistema.
Observe-se que as pessoas físicas e jurídicas com registro no Sistema de Informações de Crédito não
ficam impedidas de contrair novos empréstimos e financiamentos. Prevalecerá sempre o entendimento entre
o cliente e a instituição financeira.
Devem prestar informações ao SCR:

• Agências de fomento ou de desenvolvimento.


• Associações de poupança e empréstimo.
• Bancos comerciais.
• Bancos de câmbio.
• Bancos de desenvolvimento;
• Bancos de investimento.
• Bancos múltiplos.
• Caixas econômicas.
• Companhias hipotecárias.
• Cooperativas de Crédito.
• Sociedades de arrendamento mercantil.
• Sociedades corretoras de títulos e valores mobiliários.
• Sociedades distribuidoras de títulos e valores mobiliários.
• Sociedades de crédito ao microempreendedor e à empresa de pequeno porte.
• Sociedades de crédito, financiamento e investimento.
• Sociedades de crédito imobiliário.
• Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
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O benefício imediato do SCR para a sociedade é o aumento de informações que facilitam a tomada
da decisão de crédito, diminuindo os riscos de concessão e aumentando a competição entre as instituições
participantes do SFN. As informações permitem que as instituições conheçam melhor os tomadores de
crédito no SFN e, com base na exposição que apresentar, elas oferecerem melhores condições de taxa ou
prazo, para aqueles clientes com hábitos de pagamento regular.
A taxa de juros incidente nas operações de crédito concedidas pelos intermediários financeiros reflete
a taxa de captação, os custos operacionais da instituição, os tributos e as taxas pagos, acrescidos de uma
margem de lucro. A inadimplência é um custo implícito no preço do crédito e, quanto menor a certeza de
pagamento, maior a taxa cobrada ao tomador final. Ao conhecer melhor o risco do potencial contratante
do crédito, as instituições financeiras podem oferecer taxas menores àqueles tomadores com bom histórico
de pagamento. Nesse sentido, o SCR funciona como um bureau de crédito e registra informações úteis para
distinção entre bons e maus pagadores, contribuindo para redução do spread bancário.
Entre os principais aspectos que distinguem o SCR em relação aos cadastros restritivos de crédito
(Serasa-Experian, Boa Vista, CCF e congêneres), destacam-se:

• A existência do SCR veio atender à necessidade de supervisor do Banco Central, ao prover


a supervisão bancária com informações para realização de suas atividades com a escala e a
precisão adequadas.As informações recebidas pelo sistema são maiores do que as disponibilizadas
para consulta pelas instituições financeiras. Optou-se por compartilhar informações com o
SFN em função dos benefícios, proporcionados pela divulgação de informações que permitem
a decisão de crédito com menores riscos.
• O conteúdo do SCR também distingue esse sistema dos cadastros restritivos de crédito. O
registro de dados de determinada pessoa física ou jurídica no SCR não a desqualifica, haja
vista que o registro no SCR não revela necessariamente informação que permita construir
juízo de valor negativo de um devedor. A avaliação, a partir da consulta de dados de um
devedor no SCR, pode ser tanto positiva, nos casos em que se constata que o cliente é um
pagador contumaz e pontual, como negativa, caso se percebam dificuldades no pagamento
dos créditos em aberto.
• O SCR apresenta o saldo devedor de clientes e sua adimplência ou inadimplência, cabendo a cada
instituição avaliar as informações. Deve-se ressaltar que a grande maioria dos clientes cadastrados
no sistema é adimplente (cerca de 70% não têm registro desabonador) e que a inadimplência,
que pode ser temporária, não impede a contratação de novas operações de crédito.

Cada cliente pode consultar seus dados diretamente na internet na página do BCB ou das instituições
financeiras. As consultas realizadas diretamente no Banco Central também apresentam os dados detalhados
por instituição financeira. As consultas realizadas na instituição financeira apresentam o detalhamento apenas
das operações realizadas com aquela instituição. Para operações com outras instituições, os dados são
apresentados de forma agregada para todo o SFN.
O SCR submete-se à disciplina do Código de Defesa do Consumidor (CDC), razão pela qual apenas
os dados dos últimos 60 meses ficam disponíveis para consulta.

5 SISTEMA FINANCEIRO DA HABITAÇÃO (SFH)

O Sistema Financeiro da Habitação (SFH) foi criado pela Lei nº 4.380, de 1964, no âmbito de uma
reformulação geral do Sistema Financeiro Nacional. A mesma lei instituiu a correção monetária, com o
objetivo de abrir o mercado para colocação de títulos do governo e viabilizar financiamentos de longo prazo.
A correção monetária foi fundamental ao financiamento habitacional, então limitado a pouquíssimas
operações realizadas pelas Caixas Econômicas e pelos institutos de previdência existentes na época. De um
lado, possibilitou a criação de instrumentos de captação de recursos de prazos mais longos e os depósitos
em caderneta de poupança e do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS). Por outro lado, viabilizou
o crédito imobiliário.
A primeira fase do SFH, que vai de sua criação até a segunda metade dos anos 70, foi o período áureo
do Sistema. Os depósitos em caderneta de poupança cresceram, chegando a ocupar o primeiro lugar entre os
haveres financeiros não monetários. Os recursos do FGTS também expandiram como resultado do aumento

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do nível de emprego e da massa salarial. Surgiram as Sociedades de Crédito Imobiliário e as Associações de
Poupança e Empréstimo, formando o Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE), integrado por
instituições financeiras especializadas na concessão de financiamentos habitacionais, tendo como fontes de
recursos os depósitos em caderneta de poupança e repasses dos recursos do FGTS pelo Banco Nacional
da Habitação (BNH).
Além de administrar o FGTS, o BNH também era o órgão regulador e fiscalizador do SFH, incluindo
as instituições do subsistema SBPE.
Do lado dos financiamentos habitacionais, foram introduzidos mecanismos como o Fundo de Compensação
de Variações Salariais (FCVS), mediante o qual a obrigação do mutuário, que tivesse pagado todas as suas
prestações, cessava depois de decorrido o prazo contratual do financiamento e o fundo absorveria eventuais
saldos devedores residuais, provocados pelo descompasso entre a periodicidade de aplicação dos índices
de correção monetária aplicados aos saldos devedores e os índices de reajustes aplicados às prestações.
Com elevação da inflação, ações judiciais promovidas pelos mutuários se multiplicaram, visando
compatibilizar as prestações de casa própria com a evolução do salário. O resultado foi o descasamento entre
os índices de correção dos saldos devedores já concedidos (que seguiam indiretamente os índices de inflação)
e o das prestações desses financiamentos (muitos dos quais atrelados à evolução dos salários). As Associações
de Poupança e Empréstimo e as Sociedades de Crédito Imobiliário foram gradativamente substituídas, na
segunda metade da década de 1980, pelos bancos múltiplos na concessão de novos financiamentos. O Banco
Nacional de Habitação foi extinto em 1986 e suas atribuições passaram a ser desenvolvidas pelo Banco
Central do Brasil, pela Caixa Econômica Federal e pelo Ministério da Fazenda.
Esse período coincidiu com o vencimento de boa parte dos contratos de financiamento habitacional,
concedidos com prazos de 15 a 20 anos, causando problemas relacionados ao FCVS.
A década de 1990 teve início com a retenção pelo governo da época de boa parte dos recursos da
poupança (e de outros ativos financeiros), afetando o setor de construção civil e de crédito imobiliário. Por
outro lado, os depósitos de poupança sofriam forte concorrência por parte dos fundos de investimento.
O volume dos financiamentos imobiliários diminuiu significativamente. Os financiamentos realizados com
recursos dos depósitos do FGTS também registraram queda nesse período.
Paralelamente, a Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip) e
as instituições financeiras analisaram vários modelos de financiamento imobiliário praticados no exterior
e apresentaram uma proposta para o governo, para o Congresso e para o setor da construção civil, para
revigorar o crédito imobiliário no Brasil. Surgiu assim o Sistema de Financiamento Imobiliário, instituído pela
Lei nº 9.514, de 20 de novembro de 1997. Por outro lado, a estabilização da economia brasileira registrada
ao longo da década de 2000 deu novo ânimo ao SFH. As taxas de juros aplicadas aos financiamentos foram
caindo e as menores taxas de inflação permitiram às empresas e às famílias fazer um planejamento de médio
e longo prazo e a assumir compromissos de mais longo prazo.
Em dezembro de 2013, era possível financiar um imóvel em até 420 meses (35 anos) via SBPE.

6 INCLUSÃO FINANCEIRA E EDUCAÇÃO FINANCEIRA

O Banco Central do Brasil atua para ampliar e melhorar o acesso da população a serviços financeiros
desde a década de 1990, por meio de três frentes principais: (i) expansão e fortalecimento dos canais de
acesso a serviços financeiros, (ii) criação de instrumentos para melhor adequação dos serviços aos segmentos
de menor renda, e (iii) garantia da qualidade na provisão de serviços financeiros.
Quanto à expansão dos canais de acesso, cabe destacar a importância dos correspondentes que, além
de levarem serviços financeiros a municípios desassistidos, oferecem mais conveniência em áreas já atendidas.
O desenvolvimento do modelo atual iniciou-se no final da década de 1990 e a garantia de sua estabilidade e
aprimoramento é parte da agenda permanente do BCB. Entre 2000 e 2010, o número de correspondentes
no país aumentou de 19.000 para 150.000. Hoje, eles estão presentes em todos os municípios brasileiros e
representam mais da metade do número de pontos de acesso a serviços financeiros.
Em 2010, todos os 5.565 municípios brasileiros já contavam com pelo menos um ponto de acesso a
serviços financeiros e, de forma geral, o sistema financeiro está fisicamente mais próximo do cidadão. Em
2000, apenas 18% dos municípios possuíam mais de cinco pontos de acesso para cada grupo de 10.000
adultos. Em 2010, o número de municípios com este nível de atendimento já representava 94% do total. Nos
últimos cinco anos, o número de indivíduos com relacionamento ativo com instituição financeira aumentou
31%, chegando a 121 milhões de pessoas, que correspondem a 84% da população adulta brasileira.

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Além de incentivar a expansão e o fortalecimento dos canais de acesso a serviços financeiros, o
BCB buscou promover iniciativas e criar as condições necessárias à promoção da inclusão financeira da
população de menor renda. Em 2004, foram criadas as contas especiais de depósitos à vista e de poupança,
popularmente conhecidas como contas simplificadas. Referidas contas são isentas da cobrança de tarifas e
possuem processo de abertura simplificado, com menor grau de exigência em termos de documentação.
Iniciativas dessa natureza estão em consonância com as demais ações do Governo Federal, particularmente
programas voltados a aumentar o acesso a crédito por parte da população de menor renda, como o Programa
Nacional de Microcrédito Produtivo Orientado (PNMPO) e o Programa Nacional de Fortalecimento da
Agricultura Familiar (Pronaf).
Adicionalmente, para garantir ao consumidor o direito de escolha, a regulação determinou a portabilidade
gratuita do salário, dos dados cadastrais e do crédito e vedou a cobrança de tarifa decorrente de liquidação
antecipada de contratos de crédito.
Para facilitar a comunicação entre cliente e instituição financeira, a regulamentação tornou obrigatória
a existência de ouvidoria nas instituições reguladas. Outro progresso foi o aumento da transparência na
prestação de serviços financeiros, permitindo à população acesso a informações mais objetivas e oportunas
quanto aos custos dos serviços financeiros, oferecendo condições para comparação entre um provedor
e outro. Destacam-se a padronização e uniformização da terminologia das tarifas bancárias, cambiais e de
cartões de crédito e a obrigatoriedade de divulgação do custo efetivo total do crédito, que consolida em
um único número todos os custos envolvidos na contratação de empréstimos e financiamentos. Ademais,
a fim de garantir melhor atendimento à população, tornou-se obrigatório o treinamento e a certificação
dos funcionários, inclusive em correspondentes. Muitos desses avanços resultam da relação entre o BCB
e as diversas instituições públicas e privadas engajadas em ações voltadas à adequada inclusão financeira da
população, entre os quais estão (i) o Ministério da Fazenda (MF); (ii) o Ministério Público Federal (MPF);
(iii) o Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor (DPDC) do Ministério da Justiça (MJ); (iv) a
Comissão de Defesa do Consumidor da Câmara do Deputados; (v) o Ministério do Desenvolvimento Social
e Combate à Fome (MDS); (vi) o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA); (vii) o Ministério do
Trabalho e Emprego (MTE); (viii) as associações de classe, como a Organização das Cooperativas Brasileiras
(OCB), a Federação Brasileira de Bancos (Febraban), a Associação Brasileira de Bancos (ABBC), a Associação
Brasileira das Sociedades de Crédito ao Microempreendedor e à Empresa de Pequeno Porte (ABSCM), a
Associação Brasileira dos Dirigentes de Entidades Gestoras e Operadoras de Microcrédito (ABCRED) e a
Associação Brasileira de Instituições Financeiras de Desenvolvimento (ABDE); (ix) o Serviço Brasileiro de
Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae); e (x) o Fórum Permanente das Micro e Pequenas Empresas
(Fórum Permanente das MPEs); além do apoio da comunidade acadêmica e de outras entidades, nacionais,
como a Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República (SAE-PR) e o Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE), e internacionais, como a Aliança para Inclusão Financeira (AFI), o Grupo
Consultivo de Assistência aos Pobres (CGAP) e a Fundação Bill & Melinda Gates.
O debate iniciou, em 2002, com seminários sobre microcrédito, ampliados posteriormente para
microfinanças e, a partir de 2009, sobre o tema da inclusão financeira, em suas diversas dimensões.
A preocupação em promover a inclusão financeira tem levado o Banco Central a participar também do
debate internacional sobre o assunto. No âmbito do G-20, foi constituído, em 2009, o Grupo de Especialistas
em Inclusão Financeira (Financial Inclusion Experts Group – FIEG), no bojo do qual foram criados o Subgrupo
de Acesso por meio da Inovação (Access Through Innovation Subgroup – ATISG) e o Subgrupo de Finanças
para Pequenas e Médias Empresas (Small and Medium Enterprise Finance – SME). Em 2010, o Brasil exerceu
com a Austrália a coliderança do subgrupo ATISG. Os trabalhos resultaram na definição dos Princípios para
Inclusão Financeira Inovadora do G-20, a saber:

1. Liderança – cultivar amplo compromisso governamental pela inclusão financeira para ajudar
no combate à pobreza.
2. Diversidade – desenvolver políticas que promovam a competição e o fornecimento pelo
mercado de ampla gama de serviços financeiros.
3. Inovação – promover a inovação tecnológica e institucional como meio de expandir o acesso
e o uso a serviços financeiros inclusive, melhorando a infraestrutura disponível.
4. Proteção – praticar a proteção ao consumidor sob perspectiva ampla, levando em conta as
responsabilidades do governo, dos prestadores de serviços financeiros e dos consumidores.

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5. Capacitação – desenvolver educação e capacitação financeira.
6. Cooperação – desenvolver um ambiente institucional com claras definições de
responsabilidade e de coordenação dentro do governo e também encorajar parcerias e
consultas diretas entre governo, setor privado e outros interessados.
7. Conhecimento – melhorar a coleta e o trabalho de dados para embasar a formulação de
política, medir o progresso e desenvolver o aprendizado sobre o assunto.
8. Proporcionalidade – praticar política e estrutura regulatória proporcional aos riscos envolvidos
nesses novos serviços.
9. Estrutura – considerar as seguintes sugestões para o sistema regulatório, levando em conta
as especificidades de cada país: (i) adoção de um regime apropriado de combate à lavagem
de dinheiro e ao financiamento do terrorismo, que leve em consideração o risco real e que
equilibre os benefícios da inclusão financeira com os riscos relacionados aos produtos e aos
canais de acesso; (ii) estabelecimento de condições para o uso de agentes como intermediários
entre instituições financeiras e o público; (iii) criação de um claro regime regulatório para o
dinheiro eletrônico; (iv) desenvolvimento de incentivos baseados no mercado para promover
amplas interoperabilidade e interconexões nas movimentações por meio eletrônico.

Na busca por promover melhor alinhamento a esses princípios, o G-20 lançou o Plano de Ação para
Inclusão Financeira Inovadora, em dezembro de 2010, cujo principal instrumento de execução é a Parceria
Global para Inclusão Financeira, da qual o Brasil faz parte.
Entre os atuais desafios, destacam-se: (i) aumentar a adequação da oferta de serviços financeiros às
necessidades da economia e da população; (ii) elevar o nível de educação financeira da população, combatendo
o sobre-endividamento; (iii) fomentar a poupança popular; (iv) fortalecer os mecanismos de proteção aos
usuários de serviços financeiros; (v) fomentar o desenvolvimento sustentável do microcrédito produtivo;
(vi) garantir a estabilidade e promover o aperfeiçoamento do modelo de correspondentes no país; e (vii)
aprofundar o conhecimento sobre a realidade brasileira em relação à inclusão financeira.
Identificou-se, ademais, a necessidade de um esforço coordenado para enfrentar esses novos desafios, o
que motivou o lançamento da Parceria Nacional para Inclusão Financeira (PNIF), em novembro de 2011, que
visa catalisar os esforços para promoção da adequada inclusão financeira no país, diante dos novos desafios
e em sintonia com os Princípios para Inclusão Financeira Inovadora do G-20, anteriormente elencados. A
seguir, são apresentados a definição e os objetivos da Pnif.

6.1 Parceria Nacional para Inclusão Financeira

Rede de atores públicos e privados engajados em ações coordenadas para promoção da adequada
inclusão financeira da população brasileira.

Objetivo
Promover a adequada inclusão financeira da população brasileira.

Objetivos específicos

1. Expandir e melhorar o acesso da população a serviços financeiros.


2. Favorecer a responsabilidade financeira e o acesso a informações sobre serviços financeiros,
por meio da educação financeira e do aumento da transparência.
3. Atuar para que a oferta de serviços financeiros seja mais adequada às necessidades da
economia e da população.

Além da inclusão financeira, outro tópico relevante é a educação financeira da população de um país.
Pela educação financeira, as pessoas obtêm melhor entendimento dos conceitos relacionados aos
aspectos financeiros, tais como consumo, poupança e crédito, além do que são os produtos financeiros
disponíveis, uma vez que eles têm crescido e se sofisticado. Assim, elas podem estar mais conscientes das
oportunidades e dos riscos associados aos produtos, tomando melhores escolhas ou identificando quando
e como procurar ajuda.

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Nesse sentido, de melhoria da educação financeira da população, foi instituída a Estratégia Nacional de
Educação Financeira (Enef), visando promover a educação financeira e contribuir para o fortalecimento da
cidadania, colaborando para alcançar a eficiência e a solidez do Sistema Financeiro Nacional (SFN). O Banco
Central participou deste esforço para elaborar essa estratégia e integra o Comitê Nacional de Educação
Financeira (Conef), responsável por definir planos, programas e ações e por coordenar a execução da Enef.
Ao Banco Central cabe:

1. Exercer periodicamente a presidência do Conef, rodiziado entre Banco Central do Brasil,


Comissão de Valores Mobiliários (CVM), Superintendência Nacional de Previdência
Complementar (Previc), Superintendência de Seguros Privados (Susep) e Ministério da Fazenda.
2. Coordenar o desenvolvimento da Educação Financeira de adultos, no âmbito da Enef.
3. Exercer a Secretaria-Executiva do Comitê.

7 FINANÇAS SUSTENTÁVEIS

Padrões internacionais de sustentabilidade para instituições financeiras, que estão sendo desenvolvidos
nos últimos 20 anos, estabelecem compromissos com a sustentabilidade, definem padrões para análises de
riscos socioambientais, para relatórios de sustentabilidade, para controle de riscos de corrupção, bem como
padrões de investimento, de divulgação de emissões de carbono e de políticas para o clima.
O Brasil foi um dos primeiros países a desenvolver um conjunto de princípios de sustentabilidade
que busca reunir os principais padrões internacionais para as instituições que operam no país, o Protocolo
Verde. Além disso, é um dos países com maior número de instituições signatárias de padrões internacionais
de sustentabilidade. Grandes bancos brasileiros são também referências reconhecidas internacionalmente
em sustentabilidade.
Apesar desses importantes avanços, a sustentabilidade no sistema financeiro está ainda limitada a
um pequeno número de instituições. Na maioria dos grandes bancos e dos bancos de desenvolvimento,
a sustentabilidade vem sendo incorporada em suas políticas e processos, porém apenas 12% dos bancos
médios e pequenos e 35% dos bancos de investimento possuem políticas de sustentabilidade (nov./2011).
Nas cooperativas de crédito e nas agências de fomento, o tema está em processo de desenvolvimento e
essas instituições ainda não possuem políticas formais de sustentabilidade. A divulgação de informações
sobre políticas de sustentabilidade também é, ainda, restrita a pequeno número de instituições – apenas 22
das 210 possuem relatórios de sustentabilidade.
Em uma análise mais detalhada das políticas de sustentabilidade dos bancos, foram pesquisadas as ações
específicas, como gestão de riscos socioambientais, produtos financeiros para sustentabilidade, governança,
programas de educação, relacionamento com clientes e políticas relacionadas ao clima. A conclusão dessa análise
é que apenas 8% das instituições financeiras no Brasil possuem políticas bem estruturadas de sustentabilidade.
Uma das formas de disseminar e consolidar a sustentabilidade no sistema financeiro é via uma atuação
mais ativa do BCB. Em vários países, os bancos centrais estão assumindo papel ativo em regulamentar ou
incentivar a incorporação da sustentabilidade nos sistemas financeiros dos seus países. No Brasil, o CMN
editou regulações a respeito, e o BCB começou um trabalho de orientação das instituições financeiras para
iniciar o debate, promover o aprendizado e a sustentabilidade para todo o SFN.
No SFN, as instituições podem ser classificadas em três grandes grupos. Um pequeno grupo de bancos
líderes adota a sustentabilidade com uma abordagem estratégica que fortalece a capacidade competitiva.
Um grupo de instituições está em uma fase intermediária de incorporação da sustentabilidade, adota uma
abordagem gerencial e tem um foco prioritário na gestão do risco. A maioria das instituições está, ainda, em
uma fase inicial, na qual existe a consciência da importância da sustentabilidade para as instituições financeiras,
mas é preciso formular e implementar políticas e processos de gestão sustentáveis. Tanto o BCB como os
bancos líderes têm papel importante em colaborar para a disseminação e consolidação da sustentabilidade
em todo o sistema financeiro brasileiro.

8 COOPERATIVISMO DE CRÉDITO

As sociedades cooperativas são sociedades de pessoas, com forma e natureza jurídica próprias, constituídas
para prestar serviços aos associados, cujo regime jurídico, atualmente, é o instituído pela Lei nº 5.764, de

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16 de dezembro de 1971, e pela Lei Complementar nº 130, de 17 de abril de 2009. No caso das cooperativas
de crédito, também estão sujeitas à Resolução CMN nº 3.859, de 27 de maio de 2010, que disciplina sua
constituição e funcionamento.
As sociedades cooperativas são classificadas como: cooperativas singulares, ou de 1º grau, quando
destinadas a prestar serviços diretamente aos associados; cooperativas centrais e federações de cooperativas,
ou de 2º grau, aquelas constituídas por cooperativas singulares e que objetivam organizar, em comum e em
maior escala, os serviços econômicos e assistenciais de interesse das filiadas, integrando e orientando suas
atividades, bem como facilitando a utilização recíproca dos serviços; e confederações de cooperativas, ou
de 3º grau, as constituídas por centrais e federações de cooperativas e que têm por objetivo orientar e
coordenar as atividades das filiadas, nos casos em que o vulto dos empreendimentos transcender o âmbito
de capacidade ou conveniência de atuação das centrais ou das federações.

Tabela 6: Quantitativo de cooperativas de crédito por tipo

Fonte: Unicad, disponível em: < http://www.bcb.gov.br/htms/deorf/d201311/Quadro%2003%20-%20


Quantitativo%20de%20cooperativas%20de%20crédito%20por%20tipo%20e%20ramo%20de%20ªtividade.pdf f>.

Tabela 7: Sistemas cooperativos do Brasil – principais números (dez./2012)


(Valores em R$)

Fonte: Portal do Cooperativismo de Crédito, disponível em: <http://cooperativismodecredito.com.br/news/cenario-brasileiro/


dados-consolidados-dos-sistemas-cooperativos/>.

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Cooperativas de crédito são instituições financeiras constituídas sob a forma de sociedade cooperativa,
tendo por objeto a prestação de serviços financeiros aos associados, como concessão de crédito, captação
de depósitos à vista e a prazo, fornecimento de cheques, prestação de serviços de cobrança, de custódia,
de recebimentos e pagamentos por conta de terceiros sob convênio com instituições financeiras públicas e
privadas e de correspondente no país, além de outras operações específicas e atribuições estabelecidas na
legislação em vigor. Além disso, por força do artigo 92 da citada Lei nº 5.764/1971, a fiscalização e o controle
das sociedades cooperativas de crédito são atribuições do Banco Central do Brasil.
As cooperativas de crédito são importante instrumento de desenvolvimento em muitos países. Na
Alemanha, essas cooperativas possuem cerca de 15 milhões de associados e respondem por cerca de 20%
de todo o movimento financeiro bancário do país. Na Holanda, o banco cooperativo Rabobank atende a mais
de 90% das demandas financeiras rurais. Nos EUA, há mais de 12 mil unidades de atendimento cooperativo
apenas no sistema Cuna (Credit Union National Association), que reúne cooperativas de crédito mútuo do
tipo Desjardins9. Além dessas, os bancos cooperativos agrícolas respondem por mais de um terço dos
financiamentos agropecuários norte-americanos. Estima-se que 25% dos norte-americanos sejam associados
a uma cooperativa de crédito. Na literatura, há registros de que em 2000, 46% do total das instituições de
crédito da Europa eram cooperativas, participando com cerca de 15% da intermediação financeira.
Já, no Brasil, o cooperativismo de crédito respondia, em dezembro de 2012, por 2,60% das operações
de crédito realizadas no âmbito da área bancária do SFN e possuía 3,85% do patrimônio líquido total da
área bancária do SFN.
A partir da edição da Resolução CMN nº 3.106, em 25 de junho de 2003, o CMN autorizou a constituição
de cooperativas de crédito de livre admissão de associados dentro de sua área de atuação, respeitados
certos limites populacionais e de capital mínimo, o que possibilitou acentuada expansão do cooperativismo
de crédito no Brasil. De fato, em outubro de 2013, das 1.210 cooperativas de crédito em funcionamento
no país, 288 (23,8%) atuavam sob a forma de livre admissão de associados e agregavam 54% do total de 6
milhões de associados ligados a cooperativas de crédito no país. Daquelas cooperativas de livre admissão,
200 delas tiveram origem em cooperativas de crédito rural e o principal benefício da mudança foi a redução
ou a eliminação dos riscos da sazonalidade, típica dos ciclos de produção das atividades agrícola e pecuária.

9 Alphonse Desjardins foi o precursor do cooperativismo de crédito nas Américas, ao fundar em 6 de dezembro de 1900, em Quebec, Canadá,
a primeira cooperativa, hoje conhecidas como crédito mútuo, que pressupõe alguma espécie de vínculos entre os sócios. Até 1915, 90% dos
empréstimos concedidos tinham valores inferiores a US$ 100.00.

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REFERÊNCIAS

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interesse social, o sistema financeiro para aquisição da casa própria, cria o Banco Nacional da Habitação (BNH),
e Sociedades de Crédito Imobiliário, as Letras Imobiliárias, o Serviço Federal de Habitação e Urbanismo e dá
outras providências. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, 30 set. 1964.

______. Lei nº 4.595, de 31 de dezembro de 1964. Dispõe sobre a Política e as Instituições Monetárias,
Bancárias e Creditícias, Cria o Conselho Monetário Nacional e dá outras providências. Diário Oficial da
República Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, 31 jan. 1965.

______. Lei nº 4.728, de 14 de julho de 1965. Disciplina o mercado de capitais e estabelece medidas para o
seu desenvolvimento. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, 21 jun. 1971.

______. Lei nº 5.662, de 21 de junho de 1971. Enquadra o Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico
(BNDE) na categoria de empresa pública, e dá outras providências. Diário Oficial da República Federativa do
Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, 16 jul. 1965.

______. Lei nº 5.764, de 16 de dezembro de 1971. Define a Política Nacional de Cooperativismo, institui o
regime jurídico das sociedades cooperativas, e dá outras providências. Diário Oficial da República Federativa
do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, 16 dez. 1971.

______. Lei nº 6.385, de 7 de dezembro de 1976. Dispõe sobre o mercado de valores mobiliários e cria a
Comissão de Valores Mobiliários. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF,
9 dez. 1976.

______. Lei nº 8.177 de 1º de março de 1971. Estabelece regras para a desindexação da economia e dá outras
providências. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, 4.3.1991 – Suplemento.

______. Lei nº 9.447, de 14 de março de 1997. Dispõe sobre a responsabilidade solidária de controladores
de instituições submetidas aos regimes de que tratam a Lei nº 6.024, de 13 de março de 1974, e o Decreto-lei
nº 2.321, de 25 de fevereiro de 1987; sobre a indisponibilidade de seus bens; sobre a responsabilização das
empresas de auditoria contábil ou dos auditores contábeis independentes; sobre privatização de instituições
cujas ações sejam desapropriadas, na forma do Decreto-lei nº 2.321, de 1987, e dá outras providências. Diário
Oficial da República Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, 15 mar. 1997.

______. Lei nº 9.514, de 20 de novembro de 1997. Dispõe sobre o Sistema de Financiamento Imobiliário,
institui a alienação fiduciária de coisa imóvel e dá outras providências. Diário Oficial da República Federativa
do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, 21 nov. 1997.

______. Lei nº 10.194, de 14 de fevereiro de 2001. Dispõe sobre a instituição de sociedades de crédito ao
microempreendedor, altera dispositivos das Leis nºs 6.404, de 15 de dezembro de 1976. 8.029, de 12 de abril
de 1990, e 8.934, de 18 de novembro de 1994, e dá outras providências. Diário Oficial da República Federativa
do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, 16 fev. 2001.

______. Lei nº 11.795, de 8 de outubro de 2008. Dispõe sobre o Sistema de Consórcio. Diário Oficial da
República Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, 9 out. 2008.

______. Decreto-Lei nº 73, de 21 de novembro de 1966. Dispõe sobre o Sistema Nacional de Seguros
Privados, regula as operações de seguros e resseguros e dá outras providências. Diário Oficial da República
Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, 22 nov. 1966.

______. Decreto-Lei nº 759, de 12 de agosto de 1969. Autoriza o Poder Executivo a constituir a emprêsa
pública Caixa Econômica Federal e dá outras providências. Diário Oficial da República Federativa do Brasil,
Poder Executivo, Brasília, DF, 26 ago. 1969.

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______. Lei Complementar nº 105, de 10 de janeiro de 2001. Dispõe sobre o sigilo das operações de
instituições financeiras e dá outras providências. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Poder Executivo,
Brasília, DF, 11 jan. 2001.

______. Lei Complementar nº 109, de 29 de maio de 2001. Dispõe sobre o Regime de Previdência
Complementar e dá outras providências. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Poder Executivo,
Brasília, DF, 30 maio 2001.

______. Lei Complementar nº 130, de 17 de abril de 2009. Dispõe sobre o Sistema Nacional de Crédito
Cooperativo e revoga dispositivos das Leis nos 4.595, de 31 de dezembro de 1964, e 5.764, de 16 de dezembro
de 1971. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, 17 abr. 2009, edição extra.

______. Conselho Monetário Nacional. Resolução nº 45, de 30 de dezembro de 1966. Regulamentação de


aceite de letras de câmbio, incluído o crédito direto ao consumidor.

______. Conselho Monetário Nacional. Resolução nº 52, de 4 de maio de 1967. Associações de Poupança e
Empréstimos – Autorização para a Constituição e Funcionamento. Anteprojeto de Regulamento elaborado
pelo Banco Nacional da Habitação (BNH).

______. Conselho Monetário Nacional. Resolução nº 394, de 3 de novembro de 1976. Bancos de desenvolvimento
e carteiras de desenvolvimento em bancos comerciais – Regulamentação.

______. Conselho Monetário Nacional. Resolução nº 1.120, de 4 de abril de 1986. Disciplina a constituição, a
organização e o funcionamento das sociedades distribuidoras de títulos e valores mobiliários.

______. Conselho Monetário Nacional. Resolução nº 1.655, de 26 de outubro de 1989. Disciplina a constituição,
a organização e o funcionamento das sociedades corretoras de títulos e valores mobiliários.

______. Conselho Monetário Nacional. Resolução nº 1.770, de 28 de novembro de 1990. Estabelece condições
para a constituição, a organização e o funcionamento das sociedades corretoras de câmbio.

______. Conselho Monetário Nacional. Resolução nº 2.099, de 17 de agosto de 1994. Aprova regulamentos que
dispõem sobre as condições relativamente ao acesso ao Sistema Financeiro Nacional, aos valores mínimos
de capital e patrimônio líquido ajustado, à instalação de dependências e à obrigatoriedade da manutenção de
patrimônio líquido ajustado em valor compatível com o grau de risco das operações ativas das instituições
financeiras e demais instituições autorizadas a funcionar pelo Banco Central.

______. Conselho Monetário Nacional. Resolução nº 2.122, de 30 de novembro de 1994. Aprova a constituição,
a organização e o funcionamento de companhias hipotecárias.

______. Conselho Monetário Nacional. Resolução nº 2.197, de 31 de agosto de 1995. Autoriza a constituição de
entidade privada, sem fins lucrativos, destinada a administrar mecanismo de proteção a titulares de créditos
contra instituições financeiras.

______. Conselho Monetário Nacional. Resolução nº 2.211, de 16 de novembro de 1995. Aprova o estatuto e
o regulamento do Fundo Garantidor de Créditos – FGC. (Revogado)

______. Conselho Monetário Nacional. Resolução nº 2.309, de 28 de agosto de 1996. Disciplina e consolida
as normas relativas às operações de arrendamento mercantil.

______. Conselho Monetário Nacional. Resolução nº 2.624, de 29 de julho de 1999. Consolida as normas
sobre a constituição e o funcionamento de bancos de investimento.

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______. Conselho Monetário Nacional. Resolução nº 2.690, de 28 de janeiro de 2000. Altera e consolida as
normas que disciplinam a constituição, a organização e o funcionamento das bolsas de valores.

______. Conselho Monetário Nacional. Resolução nº 2.735, de 28 de junho de 2000. Programa Nacional de
Desburocratização. Disciplina a constituição e o funcionamento das sociedades de crédito imobiliário.

______. Conselho Monetário Nacional. Resolução nº 2.828, de 30 de março de 2001. Dispõe sobre a constituição
e o funcionamento de agências de fomento.

______. Conselho Monetário Nacional. Resolução nº 2.874, de 26 de julho de 2001. Dispõe sobre a constituição
e o funcionamento de sociedades de crédito ao microempreendedor. (Revogado)

______. Conselho Monetário Nacional. Resolução nº 3.106, de 25 de junho de 2003. Dispõe sobre os requisitos
e procedimentos para a constituição, a autorização para funcionamento e alterações estatutárias, bem como
para o cancelamento da autorização para funcionamento de cooperativas de crédito. (Revogado)

______. Conselho Monetário Nacional. Resolução nº 3.121, de 25 de setembro de 2003. Altera e consolida
as normas que estabelecem as diretrizes pertinentes à aplicação dos recursos dos planos de benefícios das
entidades fechadas de previdência complementar. (Revogado)

______. Conselho Monetário Nacional. Resolução nº 3.454, de 30 de maio de 2007. Dispõe sobre as condições
de captação de depósitos a prazo.

______. Conselho Monetário Nacional. Resolução nº 3.658, de 17 de dezembro de 2008. Altera e consolida
a regulamentação relativa ao fornecimento, ao Banco Central do Brasil, de informações sobre operações
de crédito.

______. Conselho Monetário Nacional. Resolução nº 3.859, de 27 de maio de 2010. Altera e consolida as
normas relativas à constituição e ao funcionamento de cooperativas de crédito.

______. Conselho Monetário Nacional. Resolução nº 4.150, de 30 de outubro de 2012. Estabelece os requisitos
e as características mínimas do fundo garantidor de crédito das cooperativas singulares de crédito e dos
bancos cooperativos integrantes do Sistema Nacional de Crédito Cooperativo (SNCC).

______. Conselho Monetário Nacional. Resolução nº 4.284, de 5 de novembro de 2013. Aprova o Estatuto
e o Regulamento do Fundo Garantidor do Cooperativismo de Crédito (FGCoop) e estabelece a forma de
contribuição.

HOUAISS, Dicionário Eletrônico da Língua Portuguesa, Versão 1.0 Intranet, março de 2004, Instituto Antônio
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Tabela 1: Quantitativo de instituições autorizadas por segmento

Fonte: Unicad, disponível em: <http://www.bcb.gov.br/?QEVSFN201311>.

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Tabela 2: Quantitativo de instituições autorizadas por tipo, com sede nas Unidades da Federação (UF)

38
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Fonte: Unicad, disponível em: <http://www.bcb.gov.br/?QEVSFN201311>.

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Tabela 3: Atendimento bancário no país – distribuição do quantitativo de municípios por região e UF

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Fonte: Cadmu e Unicad, disponível em: <http://www.bcb.gov.br/?QEVSFN201310>.

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Tabela 4: Quantitativo de dependências

Fonte: Unicad, disponível em: <http://www.bcb.gov.br/?QEVSFN201310>.10

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10 A Resolução CMN nº 4.072, de 26.4.2012, adotou nova classificação de dependências de instituições financeiras, definindo apenas: agência, Posto de Atendimento
(PA), Posto de Atendimento Eletrônico (PAE) e Unidade Administrativa Desmembrada (UAD). A menção ao Posto de Atendimento Cooperativo (PAC) na tabela
é apenas para segregar o atendimento prestado por postos de cooperativas de crédito.
Tabela 5: Bancos com maiores redes de agências

Fonte: Unicad, disponível em: <http://www.bcb.gov.br/?QEVSFN201310>.

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MÓDULO II – BANCOS CENTRAIS E BANCO CENTRAL DO BRASIL

UNIDADE 1 – ORIGENS DOS BANCOS CENTRAIS; HISTÓRIA DO BANCO CENTRAL DO


BRASIL; FUNÇÕES DE MONOPOLISTA DE EMISSÃO E BANQUEIRO DO GOVERNO

INTRODUÇÃO

Esta unidade tem como objetivo apresentar: as razões que motivaram o surgimento dos bancos centrais,
incluindo nesta trajetória o exemplo do Banco Central da Inglaterra, o primeiro a agrupar mais claramente
funções que passaram a definir uma instituição financeira com atribuições especiais; como foram agregadas
mais funções aos bancos centrais ao longo do desenvolvimento do sistema bancário; as circunstâncias
que condicionaram o surgimento do Banco Central do Brasil (BCB); e, por fim, os principais aspectos que
regem duas de suas funções, quais sejam: monopolista de emissão e banqueiro do governo. Outras funções
importantes serão abordadas nas próximas unidades: a) banco dos bancos; b) executor da política monetária
e cambial; e c) fiscalizador e supervisor do sistema financeiro.

1 ORIGENS DOS BANCOS CENTRAIS E HISTÓRIA DO BANCO CENTRAL DO BRASIL

1.1 Origens dos bancos centrais

O surgimento dos bancos centrais se deu como consequência da ampliação das atividades bancárias.
Na maioria das vezes, a história mostra que eles descenderam de bancos privados que tinham entre suas
atribuições financiarem o estado (CARVALHO, 2007, p. 14), ou como uma imposição do setor público ao
sistema financeiro, após crises bancárias nacionais.
A atividade bancária originou-se dos antigos ourives, que desenvolveram a prática de guardar ouro e
objetos de valor pertencentes a terceiros. Esses estabelecimentos funcionavam como depósitos de guarda
de volumes. O depositante deixava seu ouro e recebia um recibo. Quando da retirada, apresentava o recibo,
pagava uma taxa pela guarda e recebia o ouro de volta.
O dinheiro é desejado por aquilo que pode comprar, e não por si mesmo. Possui uma qualidade anônima,
de modo que uma unidade de valor é tão boa quanto outra. Com o ouro acontece o mesmo, uma peça com
quantidade de ouro é tão boa quanto outra com igual quantidade (SAMUELSON, 1975, p. 313).
Enfim, as casas de ourives transformaram-se em bancos ao perceberem essa qualidade e ao se darem
conta de que precisavam devolver a mesma quantidade de ouro, mas não necessariamente a peça depositada.
Descobriram também que, apesar de seus depósitos serem pagáveis à vista, não eram todos retirados ao
mesmo tempo. Dessa forma, podiam emprestar pelo menos uma parte dos depósitos a terceiros, cobrando
uma taxa de juros, pois os novos depósitos tendiam a cobrir as retiradas.
Assim se iniciava a prática bancária de tomador e emprestador. A partir do século XVII, em alguns
países europeus, determinados bancos comerciais privados começaram a se destacar entre os demais. Além
disto, em virtude de suas relações com o Tesouro, esses bancos recebiam o direito de emissão de moeda
conversível em ouro. Com o passar do tempo, essas instituições concentraram algumas funções que, mais
tarde, definiriam o papel de um banco central:

i. Emissão de moeda.
ii. Atuação como banco de governo.
iii. Recebimento de depósito de reservas dos outros bancos.
iv. Concessor de empréstimo de última instância.

Sobretudo, em decorrência de crises bancárias, a necessidade de segurança dos depósitos e de regulação


financeira e a busca por financiamento por parte dos governos fizeram que o modelo se expandisse pelo mundo.
Embora a maioria dos bancos centrais tenha surgido do desenvolvimento de um banco comercial, este
não foi o caso do primeiro banco a assumir características de um banco central, o Bank of England (BOE) –
Banco da Inglaterra, que foi criado para ser o banqueiro de governo inglês em 1694. Segundo Goodhart, o BOE
não foi transformado em banco central por sua atuação comercial, mas principalmente por uma imposição
legal, para que o governo, que se encontrava em dificuldades financeiras, obtivesse recursos financeiros de

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maneira mais fácil (GOODHART, 1988, p. 15). Observe-se que o BOE surgiu como uma instituição privada,
tendo se tornado público somente em 1946, após a Segunda Guerra Mundial.
Com o passar do tempo, paralelamente ao desenvolvimento dos sistemas bancários nacionais, os
bancos centrais foram assumindo novas atribuições, como gestor de meios de pagamentos, regulador e
supervisor do sistema financeiro (SOBREIRA, 2005, p. 29) e, basicamente a partir da crise de 1930, executor
das políticas monetária e cambial. Para conter as ameaças inflacionárias, difundiu-se, a partir dos anos 80, a
tese de independência do Banco Central, que se apoia, em grande medida, na crença de que há uma verdadeira
função original das autoridades monetárias, que é perseguir a estabilidade de preços. Independência do
banco central representa ter liberdade para decidir sobre a condução das suas atribuições de forma a atingir
seus objetivos, sendo que suas decisões muito dificilmente serão anuladas por outros órgãos de governo
(BLINDER, 1999, p. 72). Mais sobre autonomia do banco central será visto na unidade 4. Observe-se que a
independência de seus bancos centrais foi pré-condição para a entrada dos países na União Europeia (EU).
Nesse sentido, o BOE, apesar de já possuir autonomia operacional na prática, se tornou independente por
lei, em 1997 (NÓBREGA, 2012).
Mais recentemente, na trajetória dos bancos centrais, vale destacar o caso do Banco Central Europeu
(BCE), responsável pela moeda única europeia, o euro, e é o primeiro caso de um banco central de um
grande conjunto de países. O BCE entrou em funcionamento em 1998, o que lhe proporcionou sete meses
de preparação para realizar a tarefa, sem precedentes, de substituir as moedas de um grupo de Estados
soberanos pela “moeda única”, e definir uma política monetária para zona do euro (disponível em: <https://
www.ecb.europa.eu/ecb/html/index.pt.html>. Acesso em: 13 nov. 2013).
É interessante destacar que dadas as suas atribuições, um banco central transforma-se, automaticamente,
em assessor econômico do governo, pois é responsável pela execução das políticas monetária e cambial, atua na
definição da política de crédito e participa em algumas instâncias da execução da política fiscal. Nesse sentido,
há de considerar que o grau de influência de um banco central na tomada de decisões macroeconômicas
depende do contexto político e administrativo em que se situa sua ação e também do prestígio e da atitude
de seu governador ou presidente.

1.2 História do Banco Central do Brasil

A busca por uma instituição que organizasse o sistema monetário e financeiro do Brasil iniciou em 1694,
com a criação da Casa da Moeda. Posteriormente, com a chegada da família Real portuguesa e a criação do Banco
do Brasil (BB), em 1808, já havia a consciência da necessidade de criar um “banco dos bancos” com poderes de
emitir papel-moeda com exclusividade, além de exercer o papel de banqueiro do Estado (BCB, 2013b).
O BB foi criado com algumas funções de banco central, pois cumpria o papel de banco de depósitos, desconto
e emissão. Além do mais, era investido do poder de venda de produtos privativos da Administração Pública e
contratos reais, funções típicas de banqueiro do governo. Um dos fatores que explica o grande retardamento
até a criação de um banco central propriamente dito no Brasil foi esse duplo papel exercido pelo BB.
Mesmo com o BB cumprindo algumas funções, até 1945 não existia uma organização institucional que
realizasse o controle da oferta de moeda. Naquele ano, entre outros motivos, em função da necessidade de
criar interlocutor para atuar com o Fundo Monetário Internacional (FMI), o governo criou a Superintendência
da Moeda e do Crédito (Sumoc), com as funções de exercer o controle sobre o mercado financeiro e de
combater a inflação, assim como de preparar o país para a implantação de um banco central (BCB, 2013b).
Vale registrar que, nesse período, foi criado também o Conselho Superior da Sumoc, órgão normativo com
responsabilidade pela coordenação das políticas monetária, creditícia, cambial e bancária. Este conselho era
composto pelo ministro da Fazenda (presidente), pelo presidente do BB (vice-presidente), pelos diretores
das Carteiras de Câmbio e de Redesconto e da Caixa de Mobilização e Fiscalização Bancária, do BB e pelo
diretor executivo da Sumoc.
Segundo Lago, a partir de então, a Sumoc passou a dividir as funções de banco central com o BB e o
Tesouro Nacional. A Sumoc tinha a atribuição de fixar os percentuais de depósitos compulsórios dos bancos,
as taxas do redesconto e da assistência financeira de liquidez e também os juros sobre depósitos bancários
(LAGO, 1982, p. 30). Além do mais, supervisionava a atuação dos bancos comerciais, orientava a política
cambial e representava o Brasil em organismos financeiros internacionais.
O BB continuou desempenhando as funções de banco do governo, pois era depositário dos recursos
do governo e de banco dos bancos, mediante o recebimento dos depósitos compulsórios e voluntários dos
demais bancos. Ao Tesouro Nacional cabia definir as condições para emitir papel-moeda.
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Pela Lei nº 4.595, de 31 de dezembro 1964, foi criado um banco central no Brasil. O Banco Central
do Brasil (BCB), autarquia federal integrante do Sistema Financeiro Nacional (SFN), iniciou suas atividades
em março de 1965.
Entretanto, até 1986, o BCB repartiu as funções de autoridade monetária com o BB, que continuou
recebendo os depósitos voluntários das instituições financeiras. Adicionalmente, em 1965, passou a funcionar
a conta-movimento, que unia o BCB ao BB, permitindo o suprimento automático de recursos ao BB,
viabilizando, assim, a realização da política de crédito oficial e outras operações do governo federal, sem o
prévio aprovisionamento de recursos.
Também merecem destaque no período, de 1965 a 1986, a criação da Reserva Monetária, que tinha
por finalidade assegurar a normalidade dos mercados financeiros e de capitais, tendo por fonte de recursos a
receita líquida do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) e a incorporação de contas de natureza fiscal
no orçamento monetário, que foi a ferramenta usada para projetar as variações nas contas consolidadas das
autoridades monetárias e dos bancos comerciais para determinado período de tempo. Essas projeções mostram
a maneira como se “pretende conduzir a política monetária, em termos de aumento de empréstimos ao governo
e ao setor privado, de acumulação de reservas cambiais, e de expansão dos meios de pagamento” (disponível
em http://www2.camara.leg.br/glossario/o.html. Acesso em: 22 nov. 2013). Segundo Amorim Netto (1968, p. 1):

o objetivo final do orçamento monetário era a previsão da expansão dos meios de pagamento na
economia, tornando-o coerente com a previsão de crescimento do produto físico e uma certa
elevação no nível geral de preços, mantida a velocidade-renda da moeda constante.

Na segunda metade da década de 1980, foi iniciado um grande processo de reordenamento financeiro,
que incluiu a transferência das contas de caráter fiscal, embutidas no orçamento monetário, para o orçamento
fiscal. Com isso, o orçamento fiscal começou a apresentar déficits que antes não apareciam. O passo seguinte
foi o fim da conta movimento que ligava o BB e o Banco Central. Houve, ainda, a unificação orçamentária e a
criação do Orçamento-Geral da União (OGU). O BCB perdeu também a faculdade de administrar a política
de endividamento do governo.
Foram também redefinidas as funções do BB, do BCB e do Tesouro. Criou-se a Secretaria do Tesouro
Nacional (STN), como caixa único de todas as despesas do governo federal.
Em 1988, foi criado o Orçamento das Operações de Crédito, o qual, como parte integrante do OGU,
passou a reunir todos os créditos antes embutidos no orçamento monetário. Com a criação do orçamento
de crédito, o BCB perdeu sua função de fomento, embora continuasse como agente financeiro do Tesouro,
mas sem o poder de adiantar, por conta do mesmo, recursos oficiais de crédito.
Naquele ano, com a edição do Decreto-Lei nº 2.471, de 1° de setembro de 1988, foi também transferida
a receita do IOF para a Secretaria da Receita Federal (SRF), incorporando o tributo ao orçamento da União.
Dessa maneira, a Reserva Monetária deixou de receber novos recursos originários da arrecadação desse
imposto. A Reserva Monetária era um fundo utilizado para estabilização do Sistema Financeiro Nacional,
podendo ser utilizado para evitar a quebra de instituições e eventuais riscos sistêmicos. Atualmente, esse
fundo está em extinção, pois perdeu sua motivação em função da edição da Lei Complementar nº101, de 20
de maio de 2000, também conhecida como Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), que, em seu art. 28, veda a
utilização de recursos públicos para socorrer instituições financeiras.
Na mesma época, segundo o BCB, a Constituição Federal “estabeleceu dispositivos importantes para
a atuação do BCB, dentre os quais se destacam o exercício exclusivo da competência da União para emitir
moeda e a exigência de aprovação prévia pelo Senado Federal dos nomes indicados pelo Presidente da
República para os cargos de presidente e diretores da instituição” (BCB, 2013l).
Durante a década de 90 inicia-se o processo de transferência da administração da dívida pública externa
do BCB para a Secretaria do Tesouro Nacional (STN). O processo completo de transferência se encerra
em 2005, com a passagem da administração da dívida externa pública securitizada e negociada no mercado
internacional para a STN.

A STN assumiu o controle e a movimentação das contas especiais em moeda estrangeira,


decorrentes de acordos externos firmados junto a organismos multilaterais e agências de crédito
internacional (dívida externa), passando a gerir a dívida pública federal mobiliária ou contratual,
interna ou externa. Ao centralizar em uma única unidade governamental a responsabilidade pelo
gerenciamento de todos os compromissos do Governo Federal obteve-se maior transparência
orçamentária e financeira nas contas do Governo (STN, 2013).

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Com estas mudanças, o BCB se aproximou do modelo de um banco central clássico.
Mais recentemente, destacaram-se como marcos da atuação do BCB a operacionalização do Plano Real
(1994), primeira tentativa de estabilização do poder aquisitivo da moeda bem-sucedida a partir de 1986, a
adoção do Regime de Metas para a Inflação (1999), a implantação do novo Sistema de Pagamentos Brasileiro
– SPB (2002) e a implementação de medidas, visando à inclusão financeira (2009 em diante).
O Plano Real foi a primeira experiência de um plano econômico no Brasil em que a política monetária
foi pensada de forma independente pelo Banco Central. Com esse plano, houve substancial redução da inflação
e sua consolidação em níveis administráveis. Em março de 1994, os preços em Cruzeiro Real foram indexados
à Unidade Real de Valor (URV). A URV foi igualada à taxa de câmbio oficial do dólar norte-americano. Na
prática, foi instalado um padrão bimonetário no país, que permitia, porém, apenas uma moeda como forma de
pagamento, o Cruzeiro Real – CR$ (FERNANDES, 2006, p. 3). A partir de 1º de julho de 1994, foram extintos
a URV e o Cruzeiro Real e criado o Real (R$), com os preços equiparados à taxa da URV de 30/6/1994, em
CR$ 2.750,00. O Plano Real valeu-se de política monetária robusta, emissões controladas de moeda, melhoria
da política fiscal e do aumento de reservas internacionais, que permitiram, nos seus primeiros anos até 1999,
a administração do câmbio na chamada âncora cambial. Outra condição importante para o sucesso do Real
foi a prévia renegociação da dívida externa, com a adequação ao Plano Brady. Este plano, coordenado pelo
ex-secretário do Tesouro Norte-Americano Nicholas Brady, permitiu a permuta parcial da dívida externa
de países da América Latina por bônus globais, sendo reestruturadas as dívidas não pagas provenientes das
moratórias do México, Argentina e Brasil na década de 1980 (FERNANDES, 2006, p. 3).
Com o fim da âncora cambial, a partir de junho de 1999, a política monetária no BCB passou a ser
conduzida sob o regime de metas para a inflação. Esse regime é qualificado pelo comprometimento do
banco central em atuar de maneira a garantir que a inflação se situe dentro do intervalo estabelecido pelo
governo a partir de determinada meta. Esta meta e seu intervalo de tolerância são anunciados previamente.
O regime de metas caracteriza-se usualmente por quatro elementos: comprometimento institucional com
a estabilidade de preços como objetivo da política monetária; conhecimento público de metas de médio-
prazo para a inflação; estratégia de ação pautada pela transparência sobre os planos, objetivos e razões que
justificaram as deliberações de política monetária; e mecanismos para tornar as autoridades monetárias
responsáveis pelo atingimento das metas. O regime de metas para a inflação envolve mais do que o simples
anúncio de metas numéricas para a inflação. A transparência e a prestação de contas regulares à sociedade
e a seus representantes são elementos essenciais desse regime (BCB, 2013l).
Um sistema de pagamentos abarca procedimentos e sistemas pelos quais são efetuadas as transferências
para a liquidação de fundos entre instituições financeiras e, em última instância, permite que a economia
do país funcione. O atual Sistema de Pagamentos Brasileiro (SPB) foi implantando em 22/4/2002 e trouxe
grandes inovações ao mercado financeiro, destacando-se a possibilidade de liquidação de pagamentos no
próprio dia, pela transferência eletrônica disponível (TED), a impossibilidade de saldos negativos em contas
mantidas no BCB pelas instituições financeiras e a redução do risco sistêmico e do risco de crédito incorrida
pela autoridade monetária.
Mais recentemente, o BCB atua para ampliar e melhorar o acesso da população a serviços financeiros.
Em virtude dessa preocupação, desde 2009, o BCB realiza fóruns anuais para tratar do assunto. O objetivo
da atuação do BCB é a expansão e o fortalecimento dos canais de acesso a serviços financeiros, a criação de
instrumentos para melhor adequação dos serviços aos segmentos de menor renda e a garantia da qualidade
na provisão de serviços financeiros. Nesse sentido, cabe destacar a edição da Medida Provisória nº 615,
convertida na Lei nº 12.865/2013, que cria as instituições de pagamentos e a conta de pagamentos, que deve
impulsionar os pagamentos por dispositivos móveis e facilitar a entrada no sistema financeiro a pessoas
de menor poder aquisitivo. Destaca-se também a importância dos correspondentes no país, que, além de
levarem serviços financeiros a municípios desassistidos, ampliam as conveniências em áreas já atendidas.
Ainda, sobressai o fortalecimento das cooperativas de crédito, que são peça fundamental para o atendimento
a setores específicos, especialmente no que tange ao crédito rural e às associações produtivas.

2 FUNÇÕES DO BANCO CENTRAL DO BRASIL

2.1 Monopolista de Emissão

O BCB detém o monopólio no Brasil de emissão de papel-moeda e de cunhagem de moedas metálicas


(CARVALHO et al., 2007, p. 13). A função “monopólio de emissão” engloba a gestão das atividades referentes

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ao meio circulante e destina-se a satisfazer a demanda de dinheiro indispensável à atividade econômico-
financeira do país. Do ponto de vista operacional, o BCB atende às necessidades de numerário do sistema
bancário e, consequentemente, do público, por meio dos mecanismos de emissão e recolhimento.
No Brasil, a produção física de dinheiro compete, de forma exclusiva, a uma empresa pública, a Casa
da Moeda do Brasil (CMB), conforme definido em lei. É importante registrar que a CMB, sediada no Rio de
Janeiro, faz o desenvolvimento de projetos, arte gráfica e impressão de cédulas e moedas, mas somente o
BCB emite moeda. O BCB é, dessa maneira, um cliente da CMB, com quem se relaciona por meio de contrato
de fornecimento de cédulas e moedas.
Segundo o BCB,

no caso de lançamento de novas cédulas e moedas, o projeto é desenvolvido em conjunto com a


CMB, levando em conta aspectos decorrentes das exigências de circulação, custos, segurança contra
a ação de falsificadores e valores semânticos, isto é, a carga de informação de natureza cultural que
o dinheiro possa veicular. Assim, são adotadas linhas temáticas que confiram identidade nacional
às cédulas e moedas (BCB, 2013l).

De outra visão, os conceitos econômicos de emissão e recolhimento monetário referem-se,


respectivamente, a colocar e retirar dinheiro em circulação, aumentando ou diminuindo os meios de pagamento.
Assim, a emissão ocorre quando o BCB entrega papel-moeda para os bancos por meio de débito em sua
conta reservas bancárias, para atender às necessidades de saques dos seus clientes. Desse modo, a emissão
de papel-moeda pelo BCB reflete a demanda do público por papel-moeda.
Por outro lado, há também momentos em que os clientes depositam os excedentes de papel-moeda em
suas contas-correntes, trazendo para o sistema bancário excesso de numerário, relativamente às necessidades
de saques. Então, os bancos depositam o numerário excedente no BCB, que credita o valor correspondente
na conta reservas bancárias da instituição, operação que se denomina “recolhimento de reservas em espécie”.
Em suma, a execução dos serviços do meio circulante contempla o atendimento à demanda de
dinheiro, a substituição e a destruição do numerário desgastado, inservível para circulação, conhecida como
“saneamento do meio circulante”; e o estudo, a pesquisa, a elaboração e a aprovação de projetos de novas
cédulas e moedas, visando aperfeiçoá-las para minimizar os riscos de falsificação.
Na estrutura organizacional do BCB, essas atribuições são exercidas pelo Departamento do Meio
Circulante (Mecir), sediado na cidade do Rio de Janeiro. As funções do Mecir são tratadas na unidade “Estrutura
e organização do Banco Central”.
A partir de 2006, outrossim, a custódia de numerário do BCB passou a poder ser executada por
instituições financeiras bancárias ou por associações de instituições financeiras constituídas para essa
finalidade. Como resultado, nos dias atuais, a prestação dos serviços de custódia é realizada em dependências
das instituições custodiantes, sob controle administrativo e operacional do BCB. Cabe ao BCB exercer a
fiscalização das instituições custodiantes em relação ao cumprimento das normas e dos procedimentos e
à qualidade dos serviços prestados. O BCB também estabelece a remuneração máxima a ser paga pelas
instituições financeiras aos custodiantes, tomando em consideração, inclusive, a escala de custos incorridos
na prestação dos serviços. Atualmente, o BB é a única instituição custodiante de numerário contratada,
compartilhando com o BCB atividades nas funções de provimento e saneamento do meio circulante.

2.2 Banqueiro do Governo

Esta função guarda em suas origens grande relação com o direito de emissão dos bancos centrais, pois
os governos, muitas vezes, o concediam a bancos que assumiam o compromisso de financiá-los. Atualmente,
na maior parte dos países, a instituição é proibida de financiar o governo. Mesmo assim, o banco central é o
principal banqueiro do governo, pois detém suas contas mais importantes, participa ativamente do manejo
do seu fluxo de fundos e é o depositário e administrador das reservas internacionais do país.
Certamente, a centralização de boa parte das operações bancárias governamentais no banco central é
fundamental, haja vista a estreita relação entre os orçamentos públicos, o seu fluxo de fundos e o mercado
financeiro. O governo é o agente econômico com maiores receitas e despesas; consequentemente suas
operações financeiras dão lugar a movimentos sazonais que podem alterar significativamente o volume das
disponibilidades bancárias e do crédito. Nessas condições, a participação do banco central no manejo das
contas do tesouro é fundamental para regular o crédito e os agregados monetários.

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No Brasil, antes do desenvolvimento do mercado de títulos da dívida pública, o ajuste da disponibilidade
de recursos do governo aos seus compromissos de pagamento se dava mediante a concessão de créditos
de curto prazo pelo BCB, a título de antecipação de receitas futuras de impostos. Esse ajustamento, na
atualidade, é efetuado via colocação de títulos emitidos pelo tesouro (BCB, 2013l).
Ainda, outra melhoria institucional foi a vedação do financiamento de déficits fiscais dos erários públicos
pelos bancos centrais, em função de suas decorrências insalubres sobre o controle da inflação e o equilíbrio
do balanço de pagamentos (BCB, 2013l).
Como depositário e executante da administração dos recursos internacionais do país, o Banco
Central precisa atentar para que a estrutura dos ativos, principalmente moedas e títulos de outros países,
e seus prazos, seja compatível com o equilíbrio entre rendimento, risco e incerteza dessas aplicações. A
concentração das divisas em um banco central permite-lhe atuar comprando e vendendo, com o intuito de
reduzir a volatilidade e a especulação no mercado de câmbio. Segundo o BCB,

isso é importante principalmente nos países altamente endividados, em que as transações vinculadas
aos serviços de amortização da dívida externa podem desequilibrar o mercado cambial. Além disso,
em vários países, os bancos centrais administram por conta do governo acordos de comércio por
compensação e fundos de estabilização cambial (BCB, 2013l).

No Brasil, em 1986, foi iniciado o processo de reordenamento das contas que atrelavam as operações
do BCB, do BB e do Tesouro Nacional, tendo sido encerrada a “conta movimento” que ligava o BCB ao BB.
Naquele momento, ocorreu também a unificação orçamentária das contas fiscais, com a criação da STN,
e transferência para o TN da dívida externa depositada no BCB. O apartamento das contas do BCB e do
Tesouro teve como objetivo principal estabelecer claramente as diferenças institucionais entre a condução
das políticas monetária e cambial e a execução da política fiscal.
A Constituição Federal, de 1988, deu robustez às transformações iniciadas dois anos antes, impedindo
empréstimos do BCB ao governo, mesmo que indiretamente, dessa maneira, não é mais facultada ao BCB a
possibilidade do financiamento inflacionário de déficits públicos, nem mesmo para funções de fomento da
economia, contudo, para fins de política monetária, o BCB detém títulos públicos em sua carteira que, em
outubro de 2013, representavam 32,7% dos títulos públicos federais emitidos.
A partir da entrada em vigor da Lei de Responsabilidade Fiscal – LRF (Lei Complementar nº 101,
de 4 de maio de 2000), o BCB somente pode adquirir diretamente títulos de emissão da União para o
refinanciamento da dívida mobiliária federal que estiver vencendo em sua carteira. Esta lei proibiu ao Tesouro
Nacional comprar títulos da dívida pública federal da carteira do BCB, mesmo com cláusula de reversão,
a não ser para diminuir a sua dívida, e vedou o BCB de adquirir esses títulos no mercado secundário no
mesmo dia da emissão.
Além disto, o BCB não pode mais emitir títulos. Exclusivamente títulos do Tesouro Nacional podem
ser usados para fins de política monetária, por meio de operações de mercado aberto.
Também a execução orçamentária é acompanhada pelo BCB, incluindo, além das contas da União, as
finanças dos estados e dos municípios, bem como da administração indireta das três esferas de governo.
Este acompanhamento é realizado devido à enorme relevância para o país das relações entre BCB e Tesouro
Nacional e ao grande impacto dos gastos do governo sobre a política monetária.
Ainda, como banqueiro do governo, o BCB atua, em nome do Tesouro Nacional, nos leilões de títulos
públicos federais, administra as reservas internacionais, representa o país junto a organismos internacionais
e recebe as disponibilidades de caixa da União, na chamada “Conta Única”, mantida pelo Tesouro Nacional
(BCB, 2013l).
O Decreto-Lei nº 200, de 25 de fevereiro de 1967, que gerou a reorganização da Administração
Federal e formulou as diretrizes para a reforma administrativa, definiu que o governo federal deveria
implementar a unificação dos recursos movimentados pelo Tesouro Nacional, por meio de seu caixa em
agente financeiro da União, para obter economia operacional e racionalização dos processos atinentes à
execução de desembolsos financeiros. Essa determinação legal só foi totalmente cumprida quando todas as
disponibilidades do Tesouro Nacional, existentes nos diversos agentes financeiros, foram transferidas para o
BCB, em conta única centralizada. As regras sobre a unificação dos recursos do Tesouro Nacional em conta
única foram estabelecidas pelo Decreto nº. 93.872, de 23 de dezembro de 1986.
Em síntese, na conta única da União são lançados todos os débitos e créditos advindos de transações
do governo federal com a sociedade em geral. Segundo o Tesouro Nacional, nesta conta, estão todas as
disponibilidades financeiras da União, sendo, por isso, importantíssima ferramenta de controle das finanças
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públicas, pois comporta a racionalização da administração dos recursos financeiros, diminuindo a pressão
sobre o caixa do Tesouro, além de tornar mais rápidos os processos de transferências e descentralizações
financeiras e também os pagamentos a terceiros (BCB, 2013h).

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Editora 34, 1999.

BRASIL. Circular Bacen nº 3.298, de 19 de janeiro de 2006. Divulga o Regulamento da Custódia de Numerário
do Banco Central do Brasil e dá outras providências.

______. Decreto nº. 93.872, de 23 de dezembro de 1986. Dispõe sobre a unificação dos recursos de caixa
do Tesouro Nacional, atualiza e consolida a legislação pertinente e dá outras providências.

______. Decreto-Lei nº 7.293, de 2 de fevereiro de 1945. Cria a Superintendência da Moeda e do Crédito, e


dá outras providências.

______. Decreto-Lei nº 200, de 25 de fevereiro de 1967. Dispõe sobre a organização da Administração Federal,
estabelece diretrizes para a Reforma Administrativa e dá outras providências.

______. Decreto-Lei 2.471/88, de 1° de setembro de 1988. Modifica a legislação à contribuição de que tratam
os Decretos-Leis n°s 308, de 28 de fevereiro de1967, e 1.712, de 14 de novembro de 1979, e do adicional
de que trata o Decreto-Lei n° 1.952, de15 de julho de 1982, e dá outras providências.

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49
______. Lei nº 4.595, de 31 de dezembro de 1964. Dispõe sobre a Política e as Instituições Monetárias,
Bancárias e Creditícias, Cria o Conselho Monetário Nacional e dá outras providências.

______. Lei nº Lei 5.143/66, de 20 de outubro de 1966. Institui o Imposto sobre Operações Financeiras,
regula a respectiva cobrança, dispõe sobre a aplicação das reservas monetárias oriundas de sua receita, e
dá outras providências.

______. Lei nº 12.865, de 9 de outubro de 2013. Dispõe sobre os arranjos de pagamento e as instituições
de pagamento integrantes do Sistema de Pagamentos Brasileiro (SPB).

______. Lei Complementar nº 101, de 4 de maio de 2000 (Lei de Responsabilidade Fiscal). Estabelece normas
de finanças públicas voltadas para a responsabilidade na gestão fiscal e dá outras providências.

______. Resolução do CMN nº 3.322, de 27 de outubro de 2005. Dispõe sobre a Custódia de Numerário do
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UNIDADE 2 – FUNÇÃO DO BANCO CENTRAL DO BRASIL COMO BANCO DOS BANCOS

INTRODUÇÃO

Ao exercer a função de banco dos bancos, os bancos centrais:

• disponibilizam contas (no Brasil, conta reservas bancárias e conta de liquidação) às instituições
financeiras, para que elas possam proceder à liquidação financeira das suas operações;
• regulam, monitoram e fornecem sistemas de transferência de fundos e de liquidações de
obrigações interbancárias;
• fornecem liquidez para fluidez dos pagamentos; e
• são prestamistas de última instância.

No Brasil, o Banco Central do Brasil (BCB) executa essas tarefas por meio do Sistema de Pagamentos
Brasileiro (SPB). A implantação do atual SPB, em 2002, é considerada um marco no Sistema Financeiro Nacional
(SFN), pois trouxe várias inovações, mas, como será visto nesta unidade, o BCB, antes mesmo desse advento,
já atuava como provedor da liquidação interbancária.
Para melhor entendimento sobre essa atuação, serão vistos a seguir como atuava o BCB até 2002,
as razões para a mudança institucional implementada em 22 de abril daquele ano, como funciona o SPB
atualmente e como é concedida liquidez ao sistema.

1 SISTEMA DE PAGAMENTOS

Os sistemas de pagamentos são dispositivos por meio dos quais são realizadas transferências de fundos
entre instituições financeiras distintas. A execução das transferências de fundos abarca dois elementos básicos.
O primeiro deles é a troca de informações entre as instituições pagadoras e recebedoras – ou debitadas
e creditadas. A transferência de fundos é iniciada pela transmissão de uma mensagem, requisitando-a para
o recebedor. As mensagens de pagamento podem ser a crédito ou a débito, ainda que, na prática, todos os
sistemas modernos de transferência de fundos sejam de transferências a crédito, nos quais as mensagens de
pagamento e os valores se movimentam do pagador (instituição financeira – IF remetente) para o recebedor
(IF destinatária).
O segundo é a liquidação, ou seja, a transferência real de fundos entre o remetente e o destinatário. A
liquidação de fundos se baseia na transferência de créditos em um banco central ou em um banco comercial.
Na prática, na grande maioria dos sistemas, a liquidação se dá por transferências de créditos no banco central.
A finality, um conceito muito usado em sistema de pagamentos, ocorre quando as transferências entre contas
no banco central se tornam definitivas, irrevogáveis e incondicionais.
Os sistemas de transferência interbancária de fundos podem ser classificados de diversas maneiras.
A primeira grande distinção em sistemas de pagamentos são os sistemas de transferências de fundos de
grandes valores, que normalmente executam poucas transações de valores médios expressivos, com prazos de
natureza mais crítica, que se diferenciam dos sistemas de transferência de fundos a varejo, que movimentam
grande volume de pagamentos de valores relativamente baixos, podendo, nesse caso, ter prazos um pouco
mais elásticos de pagamentos, como, por exemplo, no caso dos cheques.
Outra forma comum de distinguir os sistemas consiste em dividi-los em de liquidação pelo valor
líquido e pelo valor bruto. Em um sistema de liquidação pelo valor líquido, o término da obrigação ocorre
em bases compensadas. A posição líquida de um participante é calculada em bases bilaterais ou multilaterais.
Essa posição, que pode ser de crédito ou de débito, é chamada de posição líquida de compensação. Em um
sistema de liquidação pelo valor bruto, por outro lado, a liquidação de fundos ocorre a cada transação, ou
seja, sem a apuração dos saldos líquidos dos débitos contra os créditos.
Os sistemas também podem ser classificados de acordo com o momento da liquidação. Eles podem ser
agrupados em dois tipos: sistema de liquidação em horário específico futuro ou em tempo real, dependendo
se o processamento ocorre de forma diferida ou em bases contínuas.
A partir disso, surgem duas figuras importantes: a liquidação líquida diferida (LDL), em que a liquidação
ocorre de forma compensada em horários futuros, e a liquidação bruta em tempo Real (LBTR), em que a
liquidação é feita transação a transação no momento em que estas ocorrem.

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O quadro a seguir resume as principais possibilidades:

Quadro 1: Classificações quanto ao tempo de execução x forma de liquidação


Liquidação Bruta Líquida
Diferida Transação a transação, mas em tempo futuro LDL
Tempo real LBTR –
Fonte: BCB.

A utilização de sistemas LBTR traz alguns benefícios, tais como finality, dentro do mesmo dia, e redução
do risco de crédito para os participantes. No entanto gera custos maiores, pois há maior necessidade de
capacidade de processamento do sistema e requer maior liquidez dos participantes.
Por outro lado, a utilização de sistemas LDL pode trazer economia de liquidez, porém traz aumento
de risco de crédito.
A sistemática de entrega contra pagamento (ECP), usada em sistemas que liquidam transações com
ativos (títulos, ações etc.), consiste na ocorrência de dois eventos ao mesmo tempo: a transferência definitiva
de títulos do vendedor ao comprador (entrega) e a transferência definitiva de fundos do comprador ao
vendedor (pagamento).
Outro conceito importante é o de contraparte central. Esta figura ocorre quando uma instituição
interpõe-se entre as partes contratantes de um negócio em um ou mais mercados financeiros, tornando-se
a compradora de todos os vendedores e a vendedora de todos os compradores.

1.1 Características do sistema de pagamentos vigente até 2002

Até o advento do Plano Real, em 1994, as elevadas taxas de inflação pressionavam o mercado nacional,
e os ganhos financeiros superavam muitas vezes a lucratividade operacional dos empreendimentos. Assim, a
tecnologia existente era focada em aspectos que possibilitassem agilidade no processamento das transações.
A organização do sistema financeiro previa que apenas bancos comerciais, bancos múltiplos com carteira
comercial e caixas econômicas possuíssem conta no BCB. As outras instituições liquidavam suas operações
por meio de convênios firmados com os titulares de conta no BCB.
O sistema anterior estava alicerçado em quatro importantes sistemas, que tinham seus resultados
líquidos diários lançados diretamente na conta de cada participante no BCB:

• Sistema de Câmbio.
• Sistema Especial de Liquidação e Custódia (Selic).
• Central de Custódia e de Liquidação Financeira de Títulos (Cetip).
• Serviço de Compensação de Cheques e Outros Papéis (Compe).

Tais lançamentos efetuados pelos sistemas não passavam por nenhuma verificação de existência de
saldo em conta da instituição financeira, considerando sempre a expectativa de que os lançamentos dos
próximos sistemas cobrissem ocasional saldo devedor, ou seja, havia possibilidade de saques a descoberto ao
longo do dia, que teoricamente seriam cobertos por créditos oriundos de outros sistemas que liquidassem
sua posição em horário posterior.
O sistema não estava estruturado para que o BCB pudesse acompanhar as operações realizadas pelas
instituições financeiras em tempo real. Como consequência, o saldo das contas no BCB era observado com
base nas movimentações do dia anterior, permitindo inclusive o estorno de operações e de lançamentos
valorizados, comandados pelo BCB com datas anteriores.
Considerando a inexistência de mecanismos de controle, o BCB era praticamente obrigado a arcar
com o risco de crédito, em eventual inadimplência de alguma instituição. Habitualmente, o BCB não devolvia
os lançamentos sem cobertura e cobria a posição da instituição devedora, a fim de evitar problemas maiores
ao mercado decorrentes de uma crise sistêmica, em que a eventual inadimplência de um participante acabava
gerando a inadimplência de outro, podendo se alastrar por todo o mercado. Essa armadilha institucional em que
o BCB se encontrava permitia aos participantes serem menos exigentes e menos críticos em suas avaliações
de riscos, tanto envolvendo os sistemas quanto em relação às contrapartes com quem operavam (risco moral).

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1.2 Reestruturação do SPB

Em 1999, foi aprovado pela diretoria do BCB o projeto de reestruturação do sistema de pagamentos
brasileiro, com as seguintes diretrizes:

• Clara definição do papel do BCB, regulamentação e monitoramento do sistema de pagamentos.


Nesse sentido, qualquer sistema de liquidação no Brasil, para funcionar, deveria estar sujeito
à autorização e à supervisão do BCB, inclusive aqueles que liquidassem ativos. O BCB atuaria
também como provedor de serviços de liquidação em LBTR, chamado STR – Sistema de
Liquidação e Reservas, observando os requisitos de segurança e o contínuo funcionamento
do sistema, com índice de disponibilidade mínimo de 99,8%.
• Impossibilidade de saldo devedor nas contas das instituições financeiras junto ao BCB, com
monitoramento em tempo real, tendo por consequência a redução do risco de crédito a que
o BCB estava exposto.
• Irrevogabilidade e incondicionalidade dos pagamentos: finality.
• Instituição de novas câmaras de compensação e liquidação, com adoção de medidas de
redução de riscos e de mecanismos adequados de contingência.
• Total conhecimento pelos participantes dos riscos envolvidos nos sistemas em que operassem.
• Redução da defasagem entre a contratação de operações e a sua liquidação financeira (o
risco em sistemas de pagamentos advém, principalmente, da defasagem entre a realização das
transações e a respectiva liquidação financeira, então quanto maior fosse este tempo, maior
seria o risco).
• Adoção de base legal apropriada.

Ainda em 1999, foi editada uma Medida Provisória, posteriormente convertida na Lei 10.214, de 27
de março de 2001. Esta lei pode ser considerada um marco em termos de inovação e modernização das
relações entre as instituições financeiras nacionais, visto que:

• conceituou o SPB, autorizando o BCB a continuar desenvolvendo e, posteriormente,


implantar o STR;
• assegurou que os bens dados em garantia pelos participantes às câmaras fossem impenhoráveis;
e
• regulou a criação e a atuação de câmaras e prestadores de serviços de compensação e
de liquidação.

Com base na legislação, o Conselho Monetário Nacional (CMN) estabeleceu os princípios básicos de
funcionamento do novo SPB, que seguiram recomendações do Bank for International Setlements (BIS), no seu
relatório chamado Princípios Fundamentais para Sistemas de Pagamento Sistemicamente Importantes, editado
em janeiro de 2001. O CMN também deu poderes ao BCB para regulamentar, autorizar o funcionamento e
supervisionar os sistemas de compensação e de liquidação, sendo que, em se tratando de operações com
valores mobiliários, as atribuições foram compartilhadas com a Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
Posteriormente, o BCB regulamentou e instrumentalizou o SPB por meio de diversos documentos normativos.

1.3 Características do atual SPB

As transferências de fundos interbancários passaram a poder ser liquidadas em tempo real, em caráter
irrevogável, por meio do STR, a partir da reestruturação do SPB, em 22 de abril de 2002.
Uma transação entre dois agentes econômicos é realizada da seguinte maneira: a IF que será debitada
elabora a mensagem necessária e a encaminha ao BCB, acontecendo, então, seu processamento no STR. Se a
IF apresentar saldo suficiente, a transação é liquidada e a instituição credora é notificada sobre o lançamento
efetuado, terminando assim o ciclo financeiro. Caso a instituição a ser debitada não tenha saldo suficiente
naquele momento, a mensagem não é liquidada e fica, na maioria dos casos, pendente de pagamento em uma
fila de espera. As ordens de pagamento pendentes são liquidadas, na ordem de entrada no STR, assim que a
instituição tenha obtido recursos, e o seu saldo seja suficiente.

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A principal plataforma tecnológica para acesso ao STR é a Rede do Sistema Financeiro Nacional (RSFN),
um arcabouço de comunicação de dados em rede, cuja finalidade é suportar o tráfego de mensagens entre os
participantes do sistema. Operacionalmente, ela é formada por duas redes de telecomunicação independentes,
titular e reserva, a ser usada em caso de falha da primeira. Cada participante é obrigatoriamente usuário das
duas vias, por onde trafegam as mensagens no padrão XML (extensible markup language), de acordo com a
regulamentação estabelecida em manuais e normativos específicos, divulgados pelo BCB.
Como demonstrado na figura 1, além do BCB, são integrantes do SPB:
• As instituições financeiras, titulares de conta reservas bancárias (RB) ou de conta de
liquidação (CL), e a Secretaria do Tesouro Nacional (STN), detentora da conta única, descritas
genericamente como detentores de “conta de liquidação” no STR.
• A Centralizadora da Compensação de Cheques (Compe).
• O Selic.
• As oito câmaras de compensação e de liquidação.

Figura 1: Visão geral do SPB

Fonte: BCB. Disponível em: <http://www.bcb.gov.br/?SPBLIQVISAO>. Acesso em: 4 nov. 2013.

A seguir, é feita uma distinção entre “sistemas de transferências de fundos”, que simplesmente liquidam
valores e efetuam transferências (sem necessariamente haver entrega de ativo dentro do seu sistema), e
“sistemas de liquidação de ativos”, que liquidam a operação financeira e também providenciam a entrega,
normalmente eletrônica, de ativos, sempre considerando a sistemática de entrega contra pagamento.

1.3.1 Sistemas de transferências de fundos

São sistemas de transferências de fundos pertencentes ao SPB: o STR, a Compe, o Sistema de


Transferência de Fundos (Sitraf) e o Sistema de Liquidação Diferida das Transferências Interbancárias de
Ordens de Crédito (Siloc).

1.3.1.1 Sistema de Transferência de Reservas (STR)

O STR é a base principal do SPB, desaguadouro de todos os demais sistemas que necessitem efetuar
qualquer lançamento nas contas dos participantes. Seu funcionamento e manutenção são de responsabilidade

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exclusiva do BCB, utilizando o mecanismo LBTR com base em ordem de crédito. Além disso, toda movimentação
de fundos é considerada final (ou irrevogável e incondicional), ou seja, depois de efetuados os lançamentos
a débito e a crédito dos participantes envolvidos, ela não poderá ser revertida, a não ser por um novo
lançamento a ser iniciado pela instituição que, no lançamento original, tenha sido creditada, pois somente
ela poderá autorizar um débito em sua conta.
As contas reservas bancárias e as contas de liquidação funcionam como uma “conta-corrente” de
seus titulares no STR, junto ao BCB, em que ocorre a liquidação financeira das operações realizadas com
a autoridade monetária ou com outras instituições do SFN. Essas contas mantidas no BCB não podem
apresentar saldo negativo.
A conta RB mantém as disponibilidades, em moeda nacional, dos bancos comerciais, bancos de
investimento, caixas econômicas, bancos de câmbio, bancos de desenvolvimento e bancos múltiplos.
A conta de liquidação destina-se ao registro, em moeda nacional, das disponibilidades e das operações
das demais instituições financeiras e das câmaras de liquidação.
A conta RB é de titularidade:

• Obrigatória, para os bancos comerciais, bancos múltiplos com carteira comercial e para as
caixas econômicas.
• Facultativa, para os bancos de investimento, bancos de câmbio, bancos múltiplos sem carteira
comercial e bancos de desenvolvimento.
A conta de liquidação é de titularidade:
• Obrigatória, para câmaras consideradas sistemicamente importantes. São consideradas
sistemicamente importantes as câmaras de liquidação de ativos e as de transferências de
fundos que tenham possibilidade de que os efeitos da inadimplência de um participante sobre
outros participantes (efeito-contágio) coloquem em risco a fluidez dos pagamentos no SPB.
• Facultativa, para as demais câmaras e, a partir de 2009, para as demais instituições não
bancárias autorizadas a funcionar pelo BCB.

A conta de liquidação titulada por câmaras deve ter saldo zero ao final do dia, sendo eventuais recursos
remanescentes transferidos para conta corrente bancária previamente indicada para esse fim pelo titular.

Quadro 2: Tipos de conta


Conta RB Conta de Liquidação
- Banco comercial - Prestadores de serviços de compensação
Obrigatórias - Banco múltiplo com carteira comercial e liquidação considerados sistematicamente
- Caixas econômicas importantes
- Prestadores de serviços de compensação e
- Banco de desenvolvimento
liquidação não considerados sistematicamente
- Banco de investimento
Facultativas importantes
- Banco de câmbio
- Instituições não bancárias autorizadas a
- Banco múltiplo sem carteira comercial
funcionar pelo BCB
Fonte: BCB. Disponível em: <http://www.bcb.gov.br/?STRGERAL>. Acesso em: 4 nov. 2013.

1.3.1.2 Centralizadora da Compensação de Cheques (Compe)

Na Compe, são liquidados os cheques de valor inferior ao VLB-Cheque (R$ 250 mil). O Banco do
Brasil S.A., executante da Compe por concessão do BCB, fornece o apoio necessário ao seu funcionamento.
Cheques acima desse valor devem ser liquidados bilateralmente no STR.
Esta câmara usa mecanismo de liquidação diferida líquida, ou seja, as transações são acumuladas e
liquidadas por compensação multilateral em sessões de liquidação específicas.
A cada dia útil, realizam-se duas sessões de compensação (noturna e diurna), apurando-se, em cada
sessão, um resultado multilateral único, de âmbito nacional, para cada participante.
O resultado da sessão noturna é informado diretamente a cada participante no início da manhã do
dia seguinte, e o da sessão diurna, no meio da tarde do próprio dia da realização da sessão. A liquidação
ocorre às 9h e às 17h15, respectivamente. As duas sessões são liquidadas, portanto, sempre em D+1 da data
do acolhimento dos documentos.

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No caso de inadimplemento de alguma IF, esta é excluída e a Compe reprocessa o movimento, gerando
novos resultados que são então encaminhados aos demais participantes. Complementarmente, a IF inadimplente
deverá resolver diretamente com as demais a forma de regularização tanto de seus saldos devedores como
de seus saldos credores, independentemente de eventuais sanções que poderão ser adotadas por parte do
BCB em virtude do motivo alegado para a ocorrência de tal situação.
A Compe adota em seus processos a truncagem de cheques, tecnologia que consiste na troca da imagem
digitalizada dos documentos, tornando dispensável o envio físico do cheque, da instituição acolhedora para
a instituição sacada (instituição do emissor do cheque).

1.3.1.3 CIP-Sitraf – Sistema de Transferência de Fundos

O Sitraf é um sistema operado pela Câmara Interbancária de Pagamentos (CIP), uma sociedade civil
sem fins lucrativos que tem os bancos como associados. O CIP-Sitraf opera de modo similar ao STR: uma
transferência de fundos só pode ocorrer se o titular da conta a ser debitada encaminhar mensagem específica
ao sistema, autorizando o débito do valor em questão, e dispuser, para tanto, de saldo suficiente em uma
conta mantida na câmara. Havendo saldo disponível, a câmara comunica imediatamente ao outro participante
da existência de crédito à sua disposição.
Os saldos credores de um participante da câmara podem ser originados do depósito inicial, de
créditos oriundos de outros participantes, ou de depósitos complementares. Para operar, o participante
deve, diariamente, até às 7h30, efetuar o pré-depósito estabelecido, mediante transferência de sua conta no
STR para a conta da câmara. Este depósito inicial não é obrigatório, isto é, se alguma IF, em determinado
dia, não tiver interesse em participar do sistema, basta não efetuar o depósito no horário estabelecido. A
câmara, então, comunicará aos demais participantes que aquela IF, naquele dia, não poderá receber nenhum
crédito pelo sistema. Além disso, o participante pode, a qualquer momento, encaminhar uma mensagem ao
STR transferindo valores complementares para sua conta na câmara.
Considerando que muitos tipos de transferências que podem ser cursadas nesse sistema são similares
àquelas do STR, o participante pode optar pelo sistema – STR ou pelo Sitraf – pelo qual transitará a
transferência desejada, normalmente optando por aquele que lhe trouxer menor custo ou maior benefício.

1.3.1.4 CIP-Siloc – Sistema de Liquidação Diferida das Transferências Interbancárias de Ordens de Crédito

O Siloc é também operado pela CIP e liquida obrigações interbancárias relacionadas a Documentos
de Crédito (DOCs) e boletos de pagamento de valor inferior ao VLB-Cobrança (R$ 250 mil), entre outros.
Boletos de pagamento acima desse valor devem ser liquidados bilateralmente no STR.
Da mesma forma que a Compe possui dois ciclos de liquidação multilateral (em D+1): um de manhã,
envolvendo os documentos que foram emitidos (DOCs) ou transitaram (boletos de pagamento) no sistema
bancário no dia anterior (D-1); e outro à tarde, contemplando os acertos e as devoluções do ciclo anterior.

1.3.2 Sistemas de Liquidação de Ativos

São sistemas de liquidação de ativos pertencentes ao SPB: o Selic, a Cetip S.A. – Mercados Organizados,
a Central de Cessões de Créditos – C3 e a BM&FBovespa.

1.3.2.1 Sistema Especial de Liquidação e de Custódia (Selic)

Nesse sistema, cuja operacionalização é realizada por meio de parceria entre o BCB e a Associação
Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), estão depositados os títulos públicos
federais considerados de total liquidez. Os títulos públicos sem total liquidez estão depositados na Cetip.
Funcionando em tempo real, as operações nele cursadas passam por duas etapas principais. Na primeira,
ao receber uma mensagem envolvendo negociação de título, o sistema verifica a disponibilidade daquele título
na conta de custódia do vendedor. Na segunda, que ocorre somente após o bloqueio de títulos realizado
na primeira etapa, o sistema encaminha mensagem ao STR para verificar a existência de saldo na conta do
comprador. Se o saldo for insuficiente, a mensagem é então rejeitada definitivamente nos dois sistemas (STR
e Selic), liberando-se os títulos previamente bloqueados conforme procedimento estabelecido na primeira
etapa. Se o saldo for suficiente, ocorre então a liquidação da operação, mediante transferência dos recursos

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para a instituição financeira vendedora (no STR) e a transferência definitiva dos títulos para a instituição
financeira compradora (no Selic).

1.3.2.2 Cetip – Mercados Organizados

As transações realizadas na Cetip envolvem basicamente títulos de renda fixa privados – CDBs, RDBs,
CDIs, LCs – e títulos públicos não registrados no Selic – estaduais, municipais e títulos de responsabilidade
do Tesouro Nacional, mas praticamente sem liquidez, como Títulos da Dívida Agrária (TDAs), e Certificados
de Dívida Pública/INSS (CDP), entre outros.
A liquidação final ocorre por meio do STR, que poderá ocorrer no próprio dia (D+0) ou no dia seguinte
(D+1), dependendo do tipo de operação e do horário em que se concretizar.
As negociações no âmbito dessa câmara podem ser liquidadas de três formas: por meio de compensação
multilateral de obrigações, de compensação bilateral, e de compensação bruta em tempo real. No primeiro
caso, encontram-se as operações geralmente realizadas no mercado primário; no segundo, as com derivativos;
e no terceiro, as operações realizadas no mercado secundário. No caso de inadimplemento de uma das partes,
na compensação multilateral, deverá ocorrer o reprocessamento de todo o movimento, com sua exclusão
e a reabertura da janela de liquidação para os devidos acertos que se fizerem necessários.
A efetiva transferência de propriedade dos títulos é feita por meio do mecanismo de entrega contra
pagamento (EcP).

1.3.2.3 Central de Cessões de Créditos (C3)

É um sistema centralizado de informações de cessões de crédito efetuadas pelos participantes no âmbito


do SFN, de forma a permitir aos participantes a verificação de que os créditos em processo de cessão não
tenham sido cedidos a outro cessionário, evitando a duplicidade de cessão do crédito. É disponibilizado pela CIP.
A participação na C3 é aberta a todos os bancos, caixas econômicas e outras instituições financeiras
ou não, que operem no mercado de cessões de créditos originados dentro do SFN.

1.3.2.4 BM&FBOVESPA

A BM&FBOVESPA congrega, atualmente, quatro câmaras distintas: de ativos, de câmbio, de derivativos


e de ações.

i. Câmara de ativos
Os participantes desta câmara têm a possibilidade de efetuar negociações, envolvendo títulos públicos
federais e títulos privados emitidos por IFs, sempre tendo a câmara como contraparte central, inclusive no
caso de operações do mercado de balcão, que é um mercado em que as transações são realizadas fora do
ambiente de bolsa de valores, ou seja, diretamente entre as partes, sem local físico definido, e com termos
que podem ser adequados às necessidades de cada parte.
Em termos de modo e prazo, as operações cursadas podem ser definitivas ou compromissadas, que
são transações em que uma parte compra títulos com compromisso de revendê-los em momento futuro
preestabelecido, enquanto a outra parte se obriga a recomprá-los por valor normalmente superior. Observa-
se que, ao fazer uma operação compromissada, uma das partes está em última instância concedendo um
empréstimo para a outra, com a “garantia” de um título.
A liquidação multilateral das operações pode ocorrer no mesmo dia (para aquelas à vista, negociadas
até as 13h) ou em data futura pactuada. A transferência dos títulos negociados utiliza o mecanismo EcP.

ii. Câmara de câmbio


Na BM&F-Câmbio, são transacionadas operações envolvendo exclusivamente o dólar norte-americano,
por meio de bancos habilitados. Os mecanismos utilizados preveem a liquidação pelo valor líquido compensado
multilateralmente, sendo a entrega da moeda nacional condicionada à entrega da moeda estrangeira a bancos
correspondentes em Nova Iorque – princípio este conhecido como pagamento contra pagamento (PcP). Para
tanto, a câmara monitora e coordena todo o processo, atuando como contraparte central.

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Vale lembrar que operações de câmbio (principalmente as envolvendo outras moedas diferentes do
dólar norte-americano) também podem ser realizadas fora dessa câmara, com liquidação pelo valor bruto
no STR (em moeda nacional), enquanto a moeda estrangeira é transferida diretamente entre os bancos
correspondentes no estrangeiro.

iii. Câmara de derivativos


A BM&F-Derivativos é um sistema de compensação e liquidação de contratos – incluindo opções e
swaps – referenciados nos mais diversos índices e taxas, negociados tanto no mercado à vista como no
mercado a termo e no de futuros.
As posições de cada participante, no final do dia, são obtidas pela compensação multilateral de obrigações,
e sua liquidação deve ocorrer no dia seguinte ao da apuração, mediante transferência no STR.
A Câmara atua como contraparte central, responde pelos riscos de liquidação dos membros, mediante
a utilização de mecanismos de salvaguardas de que dispõe: garantias dos participantes, fundos garantidores,
ou, ainda, garantias próprias da câmara.
Nessa câmara, também são realizadas operações com derivativos no mercado de balcão. Nesse caso,
os participantes podem escolher o tipo de liquidação que será adotado: garantida ou não. Se optarem por
liquidação garantida, a Câmara atua normalmente como contraparte central, mediante regras preestabelecidas.
Se a opção for por liquidação não garantida, as partes deverão transferir os recursos diretamente entre si
nas épocas aprazadas.

iv. Câmara de ações


As operações de renda variável são liquidadas na câmara de ações, normalmente por compensação
multilateral das obrigações. Nessa situação, a câmara de ações atua como contraparte central e, portanto,
assegura a liquidação das operações. Em situações muito específicas, estabelecidas em regulamento, a câmara
pode não atuar como contraparte central; nesse caso, as operações devem ser liquidadas entre as partes em
sistema LBTR. A transferência da custódia dos títulos negociados é feita diretamente na câmara de ações,
utilizando o mecanismo EcP.

1.4 Atendimento a demandas de liquidez

Para atender às necessidades de liquidez das instituições financeiras são fornecidas pelo BCB as
seguintes possibilidades:

• Otimização das operações pendentes no STR: por um algoritmo calculado pelo sistema, é
possível que operações que estejam trancando a liquidez sejam liquidadas.
• Liberação de recursos de depósitos compulsórios para uso durante o dia, e a instituição
financeira precisa repor os recursos nas devidas contas no final do dia.
• Operações compromissadas intradia, em que o BCB compra da instituição financeira títulos
públicos federais com compromisso de revenda no mesmo dia a custo zero. Essa modalidade
de crédito intradia não tem relação com o empréstimo de última instância, sendo uma
funcionalidade concebida para garantir a fluidez dos pagamentos, sendo por isso disponível
para todas as IFs que possuem conta no STR, diferentemente das operações de Redesconto
de 15 e 45 dias, que estão restritas a bancos. É permitido que as operações intradia pendentes
de liquidação, ao término dia, sejam convertidas automaticamente em operações de um dia
útil, mas com custo.
• Operações compromissadas de títulos públicos federais com prazo de um dia útil e, para
satisfazer necessidades de liquidez decorrentes de descasamento de curtíssimo prazo no
fluxo de caixa da IF, normalmente realizadas automaticamente, por conversão e operações
intradia. Para ter acesso a essas operações, as instituições financeiras têm como custo a
variação da taxa Selic de um dia acrescida de 1% ao ano.

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1.5 Prestamista de última instância

O acesso a empréstimos de última instância é restrito às instituições financeiras titulares de conta


reservas bancárias, ou seja, aos bancos. As operações, concedidas a exclusivo critério do BCB, por solicitação
da instituição bancária interessada, são operadas nas modalidades de operações compromissadas e redesconto
de títulos e valores mobiliários e direitos creditórios integrantes do ativo da instituição financeira interessada.
O BCB concede recursos, em geral, mediante venda, pela instituição tomadora do crédito, de títulos públicos
federais no valor correspondente à operação (BCB, p. 14. Disponível em: <http://www4.bcb.gov.br/pec/gci/
port/focus/FAQ%2011-fun%C3%A7%C3%B5es%20do%20 Banco%20Central%20do%20Brasil.pdf>. Acesso
em: 29 out. 2013). De acordo com a finalidade e os prazos, as operações podem ser:

• De até 15 dias úteis: essa operação pode ocorrer na hipótese de alguma instituição bancária
apresentar problema de fluxo de caixa de curto prazo, não sendo, nesse caso, a dificuldade
qualificada como estrutural. Essas operações podem ser renovadas até 45 dias úteis. As
intervenções são discricionárias, no sentido de que dependem da exposição, pela instituição
interessada, de detalhamento de seu fluxo de caixa diário projetado, comprovando as reais
necessidades de recursos previstas para o período e de prévia concordância por parte do
BCB.
• De até 90 dias corridos: essa transação pode ocorrer para viabilizar ajuste patrimonial de
banco com desequilíbrio estrutural. Podem ser recontratadas desde que o prazo total não
supere 180 dias corridos. As operações dependem da aceitação pela Diretoria Colegiada do
BCB, tanto da contratação, quanto da recontratação. Para que o assunto seja encaminhado
pelo BCB, a instituição bancária precisa apresentar pleito fundamentado, demonstrando as
necessidades de caixa projetadas para o período da operação e um programa de reestruturação,
visando à sua capitalização ou venda do controle acionário.

Essas operações, com prazo superior a um dia, apesar de serem disponibilizadas às instituições financeiras,
não têm sido utilizadas por elas, e não há registro de nenhuma operação realizada desde a implantação do
novo SPB, em 2002.

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REFERÊNCIAS

BRASIL. BCB. Funções do Banco Central do Brasil, disponível em: <http://www4.bcb.gov.br/pec/gci/port/focus/


FAQ%2011Fun%C3%A7%C3%B5es%20do%20Banco%20Central%20do%20Brasil.pdf>. Acesso em: 29 out.2013.

______. Circular Bacen nº 3.057, de 31 de agosto de 2001. Aprova regulamento que disciplina o funcionamento
dos sistemas operados pelas câmaras e pelos prestadores de serviços de compensação e de liquidação que
integram o sistema de pagamentos.

______. Circular Bacen nº 3.100, de 28 de março de 2002. Institui o Sistema de Transferência de Reservas –
STR e aprova seu regulamento.

______. Circular Bacen nº 3.101, de 28 de março de 2002. Regulamenta a conta Reservas Bancárias e institui
e regulamenta a Conta de Liquidação no Banco Central do Brasil.

______. Circular Bacen nº 3.104, de 28 de março de 2002. Regulamenta a troca eletrônica de mensagens e
institucionaliza grupos técnicos no âmbito do Sistema de Pagamentos Brasileiro.

______. Circular Bacen nº 3.105, de 5 de abril de 2002. Institui o Redesconto do Banco Central, aprova seu
regulamento e consolida suas normas.

______. Circular Bacen nº 3.254, de 31 de agosto de 2004. Estabelece procedimentos para liquidação interbancária
de cheques de valor igual ou superior ao VLB-Cheque, define esse valor, fixa o prazo máximo de bloqueio
do depósito desses cheques e dá outras providências.

______. Circular Bacen nº 3.438, de 2 de março de 2009. Regulamenta a conta Reservas Bancárias e a Conta
de Liquidação no Banco Central do Brasil.

______. Circular Bacen nº 3.629 de 19 de fevereiro de 2013. Aprova o regulamento de comunicação eletrônica
de dados no âmbito do Sistema Financeiro Nacional (SFN).

______. Circular Bacen 3.631, de 21 de fevereiro de 2013. Dispõe sobre os acréscimos à Taxa Selic para as
operações de Redesconto do Banco Central.

______. Circular Bacen nº 3.663, de 11 de julho de 2013. Altera o Regulamento anexo à Circular nº 3.105, de
5 de abril de 2002, que dispõe sobre o Redesconto do Banco Central.

______. Lei 10.214, de 27 de março de 2001. Dispõe sobre a atuação das câmaras e dos prestadores de serviços
de compensação e de liquidação, no âmbito do sistema de pagamentos brasileiro, e dá outras providências.

______. Resolução CMN nº 2.882, de 30 de agosto de 2001. Dispõe sobre o sistema de pagamentos e as
câmaras e os prestadores de serviços de compensação e de liquidação que o integram.

<http://www.bcb.gov.br/?SPBLIQVISAO>. Acesso em: 4 nov. 2013.

<http://www.bcb.gov.br/?STRGERAL>. Acesso em: 4 nov. 2013.

<http://www.bmfbovespa.com.br/home.aspx?idioma=pt-br>. Acesso em: 5 nov. 2013.

<http://www.cetip.com.br/>. Acesso em: 5 nov. 2013.

<https://www.cip-bancos.org.br/pt_BR/cip.html>. Acesso em: 5 nov. 2013.

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Orientação geral para desenvolvimento de sistemas nacionais de pagamentos Banco de Compensações
Internacionais, Basileia, 2006, tradução de Luciano Andrade Frois. Disponível em: <http://www.bcb.gov.br/htms/
spb/Orienta%E7%E3oDesenvolvimentoDeSistemasNacionaisDePagamentos.pdf>. Acesso em: 11 nov. 2013.

Princípios Fundamentais para Sistemas de Pagamento Sistemicamente Importantes, Banco de Compensações


Internacionais, Basileia, 2001, tradução de Jorge R. Carvalheira para Core Principles for Systemically Important
Payment Systems (CPSIPS). Disponível em: <http://www.bcb.gov.br/htms/spb/Principios_Fundamentais_
Sistemas_Pagamentos_Sistemicamente_Importantes.pdf>. Acesso em: 12 nov. 2013.

Sistemas de Liquidação pelo Valor Bruto em Tempo Real, Banco de Compensações Internacionais, Relatório
produzido pelo Comitê de Sistemas de Pagamentos e Liquidação dos Bancos Centrais dos Países do Grupo
dos Dez, Basileia, 1997,Título original: Real-Time Gross Settlement Systems, tradução e editoração eletrônica:
Jorge R. Carvalheira. Disponível em: <http://www.bcb.gov.br/htms/spb/LBTR.pdf>. Acesso em: 11 nov. 2013.

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UNIDADE 3 – FUNÇÃO DO BANCO CENTRAL COMO SUPERVISOR E
FISCALIZADOR DO SFN

INTRODUÇÃO

A função do Banco Central do Brasil (BCB) de supervisão e fiscalização do Sistema Financeiro Nacional
(SFN) é um dos reflexos da sua “missão de assegurar a estabilidade do poder de compra da moeda e um
sistema financeiro sólido e eficiente”11.Tal função decorre, primordialmente, da Lei no 4.595, de 31 de
dezembro de 1964, que criou o Conselho Monetário Nacional (CMN) como órgão regulador do SFN, com
a competência para regular a constituição, o funcionamento e a fiscalização das entidades e das pessoas
participantes do SFN. Essa lei, que também deu origem ao BCB, atribuiu a essa Autarquia o dever de cumprir
e fazer cumprir as disposições do CMN.
O SFN compreende um conjunto de órgãos normativos, entidades supervisoras e operadores do
sistema (bancos, corretoras, seguradoras, entre outros agentes). Por conta disso, para abordar a função do
BCB como supervisor e fiscalizador do SFN, é preciso discutir seu campo de atuação e a normatização
correspondente. Portanto, a exposição inicia-se com essa discussão, que permite visualizar a hierarquia
dentro da qual se situa o BCB e os agentes e atividades que lhe cabe supervisionar e fiscalizar, bem como
autorizar o seu funcionamento.
Em seguida, considera-se o contexto internacional de supervisão no qual está inserido o BCB, uma vez
que parte das suas ações como supervisor do SFN origina-se de orientações de organismos internacionais,
contexto em que se insere o Comitê de Supervisão Bancária de Basileia, que emite acordos dos quais o Brasil
é signatário. Adicionalmente são abordados os assuntos relacionados à regulação prudencial e à estabilidade
financeira, assim como o Comitê de Estabilidade Financeira do BCB (Comef), criado para avaliar a estabilidade
financeira e definir as diretrizes e as estratégias para mitigação do risco sistêmico no SFN.
Posteriormente, avalia-se a forma pela qual o BCB organiza internamente as ações de supervisão.
O ponto de partida é a estrutura organizacional do banco, destacando as diretorias e os departamentos
diretamente envolvidos com as ações de supervisão e fiscalização. Em seguida, são abordadas as atividades
no âmbito do diretor de Fiscalização (Difis), apresentando o princípio de supervisão focada em riscos e a
divisão das atividades em ações de supervisão direta e supervisão indireta. Além disso, são abordadas as
atividades desempenhadas pelos departamentos da diretoria ligados a cada uma dessas formas de supervisão.
Além da Difis, também são considerados os trabalhos de supervisão do Departamento de Regulação,
Supervisão e Controle das Operações do Crédito Rural e do Proagro (Derop), vinculado ao Diretor de
Organização do Sistema Financeiro e Controle de Operações de Crédito Rural (Diorf).
Finalmente, este capítulo trata dos instrumentos administrativos punitivos que resultam das irregularidades
encontradas nas ações de supervisão e fiscalização desempenhadas pelo BCB. Ademais, também são discutidos
os regimes especiais de funcionamento impostos pelo BCB às instituições que apresentem a iminência ou
a inevitabilidade de insolvência.

1 CAMPO DE ATUAÇÃO DO BANCO CENTRAL E AMPARO NORMATIVO

Como é natural na esfera da Administração Pública, as ações do BCB são resultado, exclusivamente, das
competências que lhe são dadas pela legislação em vigor. Nesse sentido, o principal dispositivo legal que trata da
função do BCB como supervisor e fiscalizador do SFN é a Lei nº 4.595, de 31 de dezembro de 1964, que criou o
Conselho Monetário Nacional e o Banco Central do Brasil. Este dispositivo legal atribui ao BCB a competência de
fiscalizar as instituições financeiras, englobando bancos comerciais, bancos múltiplos, bancos de desenvolvimento,
bancos de investimento, caixas econômicas e as sociedades de crédito, financiamento e investimento.
Além da Lei nº 4.595/64, existem outros dispositivos legais que também colocam no campo de supervisão
e fiscalização do BCB diversas atividades financeiras, tal como a Lei nº 6.099, de 12 de setembro de 1974,
que determina que o BCB fiscalize todas as operações de arrendamento mercantil.
Uma descrição completa da legislação que define o campo de atuação do BCB está contida no Manual
da Supervisão (MSU) dessa autarquia. Por ora, o ponto relevante a destacar é que o universo de supervisão
e fiscalização do BCB engloba as seguintes instituições:

11 Citação retirada da página principal do Bacen. Disponível em: <www.bcb.gov.br>. Acesso em: 26 nov. 2013.

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a. bancos comerciais;
b. bancos múltiplos;
c. bancos de desenvolvimento;
d. bancos de investimentos;
e. bancos de câmbio
f. Caixa Econômica Federal (CEF);
g. sociedades de crédito, financiamento e investimento;
h. sociedades de crédito imobiliário;
i. sociedades corretoras de câmbio e de títulos e valores mobiliários;
j. sociedades distribuidoras de títulos e valores mobiliários;
k. associações de poupança e empréstimos;
l. cooperativas de crédito;
m. sociedades de arrendamento mercantil;
n. administradoras de consórcio;
o. escritórios de representação de instituições financeiras sediadas no exterior (nos aspectos
relacionados à prevenção da lavagem de dinheiro);
p. sociedades de crédito ao microempreendedor;
q. agências de fomento;
r. companhias hipotecárias;
s. agências de turismo e meios de hospedagem autorizados pelo Bacen a operar no mercado
de cambio;
t. empresas brasileiras que administram cartões de crédito de uso internacional; e
u. Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT), nas transferências internacionais de
recursos vinculadas a vales postais internacionais (BRASIL, 2013b, p. 5).

Cabe observar que, com relação às instituições mencionadas nos itens s, t e u, elas não fazem parte
do SFN. No entanto são incluídas dentro do universo fiscalizável do Bacen por conta das atividades que
elas executam que são regulamentadas pelo CMN e pelo Bacen, sendo as ações de supervisão e fiscalização
desta autarquia voltadas exclusivamente para essas atividades.
Tomando por base os dados mensais divulgados pelo BCB em fevereiro de 201412, o universo de
supervisão e fiscalização possui a seguinte composição:

12 Disponível em: <www.bcb.gov.br/?QEVSFN201402>. Acesso em: 22 ago. 2014.

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Tabela 1: Composição
Tabela do do
1: Composição universo
universode
desupervisão
supervisão eefiscalização
fiscalização do BCB
do BCB (fev./2014)
(fev./2014)

Segmento Número de
instituições
Banco múltiplo 132

Banco comercial 22

Banco de desenvolvimento 4

Caixa Econômica Federal 1

Banco de investimento 14

Banco de câmbio 3

Segmento Número de
instituições
Sociedade de crédito, financiamento e investimento 58

Sociedade corretora de títulos e valores mobiliários 91

Sociedade corretora de câmbio 64

Sociedade distribuidora de títulos e valores mobiliários 115

Sociedade de arrendamento mercantil 28

Sociedade de crédito imobiliário e associação de poupança e empréstimo 10

Sociedade de crédito ao microempreendedor e à empresa de pequeno porte 40

Agência de fomento 16

Companhia hipotecária 8

Cooperativa de crédito 1.187

Sociedade administradora de consórcio 196

Fonte: BCB.
Fonte: BCB.

A despeito da existência
A despeitodedaleis, dando de
existência amparo legalamparo
leis, dando ao BCB nasaosuas
legal BCBações de supervisão
nas suas ações de e fiscalização,
geralmente, essessupervisão
dispositivos legais necessitam de detalhamento para sua aplicação
e fiscalização, geralmente, esses dispositivos legais necessitam de detalhamento junto às entidades
supervisionadas epara
preveem uma regulamentação posterior por parte de um órgão
sua aplicação junto às entidades supervisionadas e preveem uma regulamentação competente. No caso das
matérias relacionadas ao SFN, a Lei nº 4.595/1964 estabeleceu o CMN como órgão deliberativo máximo,
posterior por parte de um órgão competente. No caso das matérias relacionadas ao SFN, a Lei
incumbindo ao BCB a tarefa de cumprir e fazer cumprir as deliberações desse Conselho.
nº a4.595/1964
Dessa forma, prática de estabeleceu o CMN
supervisão e como órgão deliberativo
fiscalização, além demáximo,
ter comoincumbindo ao BCB
referência a
a legislação em vigor,
pauta-se, em grande medida,
tarefa pelas
de cumprir deliberações
e fazer do CMN,desse
cumprir as deliberações tornadas públicas por meio de resoluções divulgadas
Conselho.
pelo BCB. Além disso, o BCB também edita os próprios normativos com o objetivo de implementar as
resoluções do CMN,
126 podendo tais documentos ser de três tipos:
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a) Circular: ato normativo que tem por finalidade divulgar deliberação da Diretoria Colegiada do
Banco Central.
b) Carta-circular: ato normativo que tem a finalidade de divulgar instrução, procedimento ou
esclarecimento a respeito de conteúdo de documentos normativos.
c) Comunicado: documento administrativo de âmbito externo, que tem por finalidade divulgar
deliberação ou informação relacionada à área de atuação do Bacen (BRASIL, 2013b, p. 7).

2 CONCESSÃO DE AUTORIZAÇÕES PELO BCB

Um primeiro aspecto que destaca a função do BCB como supervisor e fiscalizador do SFN é sua
competência para autorizar o funcionamento das instituições financeiras e outras instituições interessadas
em participar do SFN. Tal competência vem da Lei no 4.595/64, sendo o Diretor de Organização do Sistema
Financeiro e Controle de Operações do Crédito Rural (Diorf) e o Departamento de Organização do Sistema
Financeiro (Deorf) responsáveis por operacionalizar a concessão de autorizações.
Os procedimentos empregados pelo Deorf relacionados à concessão de autorização para que determinada
instituição possa operar no SFN são dados pelo Manual de Organização do Sistema Financeiro (Sisorf) (BRASIL,
2013d). Neste manual, também são encontradas instruções sobre outros atos societários das instituições

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financeiras e das demais instituições autorizadas a funcionar pelo BCB que precisam de autorização desta
autarquia, entre os quais se pode citar os seguintes (para a lista completa de atos, vide o Sisorf):

• alteração de controle societário;


• fusões, cisões e incorporações;
• mudança de objeto social;
• criação de carteira operacional de banco múltiplo;
• autorização para realizar operações de câmbio; e
• outros.

Em linhas gerais, a instituição interessada em algum tipo de autorização a ser concedida pelo BCB deve
promover a instrução de processo junto ao Deorf, encaminhando um requerimento a esse departamento com
a exposição do pedido de autorização em questão. Tal requerimento deve se basear nos modelos específicos
de requerimento trazidos no Sisorf e deve ser assinado pelos administradores cuja representatividade seja
reconhecida pelo estatuto, pelo contrato social ou por documento equivalente da instituição. Ademais, a
solicitação deve vir acompanhada da documentação exigida pela regulação vigente para a instrução do processo.
Além da apresentação do requerimento e da documentação e dependendo do assunto tratado na
instrução de processo, a instituição solicitante deve registrar as informações pertinentes ao seu pleito no
Sistema de Informações sobre Entidades de Interesse do Banco Central do Brasil (Unicad).
Com relação ao exame do processo pelo Deorf, os principais elementos observados são:

i. o atendimento do pleito aos requisitos legais e regulamentares;


ii. a compatibilidade da deliberação com as disposições do estatuto, do contrato social ou do
instrumento equivalente da instituição;
iii. a inexistência de restrição cadastral em nome das pessoas físicas ou jurídicas envolvidas;
iv. a regularidade das obrigações da instituição perante o Banco Central do Brasil;
v. a regularidade de aspectos formais dos atos societários; e
vi. o mérito do pleito.

Após exame do processo, a decisão sobre o pleito é proferida pela autoridade competente que,
dependendo do assunto, pode ser a Diretoria Colegiada do BCB, o Diorf, o chefe ou o chefe-adjunto do Deorf
e as chefias de subunidade. Caso ocorra o indeferimento do pleito, os interessados podem interpor recurso
ao Deorf. Caso a autoridade que proferiu a decisão não a reconsidere em função do recurso, a decisão é
encaminha à autoridade superior, destacando que cabe à Diretoria Colegiada ou ao Diorf, dependendo do
assunto, decidir sobre os recursos, em última instância.

3 CONTEXTO INTERNACIONAL DE SUPERVISÃO: OS ACORDOS DE BASILEIA

Os Acordos de Basileia referem-se às deliberações do Comitê de Supervisão Bancária de Basileia, ou


Basel Committee on Banking Supervision (BCBS), ligado ao Banco de Compensações Internacionais, ou Bank
for International Settlements (BIS), sediado na cidade suíça de Basileia.
O BCBS é a principal referência internacional na definição de padrões de regulação bancária prudencial e
tem como objetivo fortalecer a regulação e a supervisão de bancos com o intuito de promover a estabilidade
financeira. Trata-se de um comitê formado por reguladores e supervisores bancários de 27 países, no qual
o Brasil é representado pelo BCB.
As deliberações do BCBS não possuem força legal. No entanto, na medida em que o comitê e seus
membros têm a preocupação (i) de que os bancos internacionalmente ativos não escapem da regulação
e supervisão em nenhum país onde operem e (ii) de que essa regulação e supervisão sejam consistentes
entre os países, na prática, os países-membros tendem a recepcionar em suas jurisdições as disposições dos
Acordos de Basileia.
O primeiro Acordo do BCBS foi publicado em 1988 e recebeu o nome de International Convergence
of Capital Measurement and Capital Standards. Esse acordo estabeleceu a exigência de um nível mínimo de
capital que as instituições financeiras deveriam ter para fazer frente às eventuais perdas associadas ao risco
de crédito. No Brasil, esse acordo foi adotado pela Resolução nº 2.099, de 17 de agosto de 1994.

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Em 2004, o BCBS publicou uma revisão do Acordo de 1988, que ficou conhecida como “Basileia II”.
O objetivo dessa revisão foi aprimorar o arcabouço regulatório de capital mínimo exigido, que passou a se
sustentar em três pilares:

• Pilar I – requerimento mínimo de capital expandido para absorver perdas associadas a outros
riscos além do risco de crédito, tais como os riscos de mercado e operacional.
• Pilar II – revisão pela supervisão do processo de avaliação da adequação de capital das
instituições financeiras.
• Pilar III – transparência das instituições com relação à gestão de riscos e adequação de capital
para fortalecer a disciplina de mercado à qual elas estão expostas.

No Brasil, a adoção dessa revisão segue um processo gradual definido em 2004 com um cronograma de
implementação das principais fases estabelecido no Comunicado do BCB nº 12.746, de 9 de dezembro de 2004.
Mais recentemente, em função da crise financeira internacional de 2007/2008, o BCBS entendeu que
era necessário reforçar “Basileia II”, especialmente no que se refere à composição do capital mínimo exigido
e também com relação à mensuração, à gestão e à supervisão do risco de liquidez. Tal reforço do Acordo de
Basileia recebeu o nome de “Basileia III” que, no Brasil, também está sendo adotado a partir de um processo
gradual, com cronograma estabelecido no Comunicado do BCB nº 20.615, 17 de fevereiro de 2011.

4 REGULAÇÃO PRUDENCIAL E ESTABILIDADE FINANCEIRA NO BRASIL

A regulação prudencial diz respeito a um conjunto de regras de funcionamento e gestão que procura
assegurar a manutenção das atividades regulares das instituições financeiras diante dos riscos aos quais
elas estão expostas. Também compreende as normas que buscam que a descontinuidade de determinadas
instituições não comprometa a estabilidade financeira do sistema como um todo.
No Brasil, no âmbito do SFN e no contexto das instituições autorizadas a funcionar pelo BCB, pode-se
destacar como principais componentes da regulação prudencial os normativos emanados a partir da adoção
dos Acordos de Basileia, dos quais vale mencionar as principais resoluções relacionadas.
A primeira delas é a Resolução no 4.193, de 1o de março de 2013, que estabelece níveis mínimos de
patrimônio que as instituições devem ter para fazer frente aos riscos assumidos (originalmente, os níveis
mínimos de capital foram estabelecidos na Resolução no 2.099, de 17 de agosto de 1994). A partir dessa
resolução, as instituições financeiras e as demais instituições autorizadas a funcionar pelo BCB devem
apurar o montante de ativos que possuem, ponderados pelo risco (risk weighted assets – RWA), levando em
consideração suas exposições aos riscos de crédito, de mercado e operacional. A partir dessa apuração, a
resolução limita a alavancagem ao estabelecer níveis mínimos de patrimônio que as instituições devem manter
como percentual do RWA, com o objetivo de que os riscos assumidos não sejam exclusivamente financiados
com capitais de terceiros, mas tenham, também, a participação do capital próprio das instituições.
Em segundo lugar, cabe destacar a Resolução no 4.019, de 29 de setembro de 2011, que define as
medidas prudenciais preventivas aplicáveis às instituições financeiras e demais instituições autorizadas a
operar pelo BCB, quando identificadas determinadas situações críticas relacionadas à situação econômico-
financeira ou à exposição a riscos de determinada instituição. Conforme o art. 3º daquela resolução, as
medidas aplicáveis são as seguintes:

I – adoção de controles e procedimentos operacionais adicionais;


II – redução do grau de risco das exposições;
III – observância de valores adicionais ao Patrimônio de Referência Exigido;
IV – observância de limites operacionais mais restritivos;
V – recomposição de níveis de liquidez;
VI – adoção de administração em regime de cogestão, segundo o disposto no art. 16 da Lei
Complementar nº 130, de 17 de abril de 2009, no caso de cooperativa de crédito que tenha
celebrado o correspondente convênio;
VII – limitação ou suspensão de:
a) aumento da remuneração dos administradores;
b) pagamentos de parcelas de remuneração variável dos administradores;

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c) distribuição de resultados ou, no caso de cooperativas de crédito, de sobras, em montante
superior aos limites mínimos legais;
VIII – limitação ou suspensão de:
a) prática de modalidades operacionais ou de determinadas espécies de operações ativas
ou passivas;
b) exploração de novas linhas de negócios;
c) aquisição de participação, de forma direta ou indireta, no capital de outras sociedades,
financeiras ou não financeiras;
d) abertura de novas dependências;
IX – alienação de ativos (CMN, 2011).

Há, ainda, as Resoluções que dispõem sobre as estruturas de gerenciamento dos riscos operacional (no
3.380, de 29 de junho de 2006), de mercado (no 3.464, de 26 de junho de 2007), de crédito (no 3.721, de 30
de abril de 2009) e de liquidez (no 4.090, de 25 de maio de 2012). Essas normas exigem que a mensuração
e o controle de riscos sejam compatíveis e adequados em relação à natureza, ao porte e à complexidade
das operações realizadas pelas instituições e atribui poder discricionário ao BCB para atuar de maneira
prudencial no sentido de exigir controles de risco adicionais quando o gerenciamento de risco realizado
pelas instituições não for considerado satisfatório.
Além da regulação ligada aos Acordos de Basileia, existem diversos normativos de caráter prudencial
que atuam no sentido de limitar os riscos assumidos pelas instituições por meio da imposição de limites
operacionais. Tais limites serão apresentados mais à frente quando forem discutidas as atividades de
monitoramento do SFN.
Finalmente, cabe mencionar que, na sua regulação prudencial, o BCB acompanha as atividades das
instituições de maneira consolidada dentro de conglomerados financeiros, de modo a capturar as operações
e os riscos dos conglomerados com o resto do SFN. Esses conglomerados são compostos por “entidades
financeiras [que] estão vinculadas [...] por participação acionária ou por controle operacional efetivo [...]
ou pela atuação no mercado sob a mesma marca ou nome comercial” (BRASIL, 2013b, p. 34).
Mais recentemente, em decorrência das recomendações de Basileia III, a Resolução no 4.280, de 31
de outubro de 2013, revogando a Resolução nº 4.195, de 1º de março de 2013, reelaborou o critério de
consolidação de operações e riscos para melhor refletir a situação financeira e patrimonial das instituições.
Confirmou-se o conceito de conglomerado prudencial em que também são consolidadas empresas assemelhadas
a instituições financeiras que sejam controladas por instituições autorizadas a funcionar pelo BCB, tais como
administradoras de consórcios e sociedades seguradoras, entre outras. O conglomerado prudencial servirá
de base para apuração dos requerimentos de capital, além de outros limites operacionais.

5 COMITÊ DE ESTABILIDADE FINANCEIRA (COMEF)

Em maio de 2011, a Diretoria Colegiada do BCB instituiu o Comitê de Estabilidade Financeira (Comef),
formado por presidente e diretores do BCB, todos com direito a voto. O comitê – cujo regulamento é
apresentado no anexo à Portaria nº 78.276, de 16 de setembro de 2013 (o regulamento original, revogado,
data de 18 de maio de 2011) – tem como objetivo avaliar a estabilidade financeira e definir as diretrizes e
as estratégias desta autarquia para a mitigação do risco sistêmico no SFN, inclusive o decorrente de sua
interação com os sistemas financeiros de outras jurisdições.
O Comef reúne-se trimestralmente de maneira ordinária em duas sessões, sendo a primeira destinada
à apresentação e à discussão dos temas selecionados, e a segunda sessão destinada à definição de estratégias
e diretrizes para preservar a estabilidade financeira e mitigar o risco sistêmico.
Da segunda sessão, participam apenas o presidente e os diretores do BCB, além do secretário do
Comitê. Já da primeira sessão, além dos participantes mencionados, integram também o Comef os titulares
dos departamentos do BCB ligados ao assunto da estabilidade financeira (a lista dos departamentos pode
ser encontrada no regulamento do Comef) e da Procuradoria-Geral do Banco Central.
De acordo com seu regulamento, o Comef possui as seguintes competências:

I – Definir as estratégias e as diretrizes do Banco Central do Brasil para a condução dos processos
relacionados à estabilidade financeira;
II – Emitir recomendações para a condução dos processos relacionados à estabilidade financeira,

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incluindo os mecanismos de prevenção e os planos de contingência para situações de risco, para
a solução de crises financeiras e para a tomada de providências cabíveis pela Diretoria Colegiada
do Banco Central do Brasil;
III – Determinar a realização de estudos, pesquisas e trabalhos relativos à estabilidade financeira
e à prevenção do risco sistêmico;
IV – Alocar responsabilidades para as Unidades envolvidas com vistas à atuação integrada e coordenada,
conforme as respectivas atribuições definidas no Regimento Interno do Banco Central do Brasil; e
V – Orientar a atuação do Banco Central do Brasil no Comitê de Regulação e Fiscalização dos
Mercados Financeiro, de Capitais, de Seguros, de Previdência e Capitalização (Coremec) e em fóruns
similares, assim como no relacionamento com outras entidades detentoras de informações úteis
à manutenção da estabilidade financeira (BRASIL, 2013e, anexo, art. 9º)

O Coremec, instituído no âmbito do Ministério da Fazenda (MF), em 25 de janeiro de 2006, tem como
finalidade promover a coordenação e o aprimoramento da atuação das entidades da Administração Pública
Federal que regulam e fiscalizam as atividades relacionadas à captação pública da poupança popular.
Com a criação do Comef, o BCB buscou um aprimoramento institucional para dar suporte à sua
missão de assegurar a estabilidade do poder de compra da moeda e um sistema financeiro sólido e eficiente.

6 ORGANIZAÇÃO DAS AÇÕES DE SUPERVISÃO E FISCALIZAÇÃO

Para desempenhar suas atribuições legais, o BCB organiza-se internamente de modo a melhor executar
as atividades de sua competência. No que se refere às ações de supervisão e fiscalização, elas se concentram,
em grande medida, nos departamentos vinculados ao Diretor de Fiscalização (Difis), muito embora existam
departamentos de outras áreas que também desempenham ações desse tipo.
No que se refere aos departamentos vinculados ao Difis, as ações de supervisão e fiscalização são
realizadas pelas seguintes unidades:

i. Departamento de Supervisão de Bancos e Conglomerados Bancários (Desup).


ii. Departamento de Supervisão de Cooperativas e de Instituições não Bancárias (Desuc).
iii. Departamento de Monitoramento do Sistema Financeiro (Desig).
iv. Departamento de Gestão Estratégica, Integração e Suporte da Fiscalização (Degef).
v. Departamento de Supervisão de Conduta (Decon).

Cabe destacar a supervisão desempenhada pelo Diretor de Organização do Sistema Financeiro e


Controle de Operações do Crédito Rural (Diorf) sobre as operações de crédito rural e do Programa de
Garantia da Atividade Agropecuária (Proagro). Para essa atividade, o Diorf conta com o Departamento de
Regulação, Supervisão e Controle das Operações do Crédito Rural e do Proagro (Derop).
A seguir, detalham-se os procedimentos de supervisão e fiscalização no âmbito do Difis e também se
destacam alguns aspectos relacionados às atividades desempenhadas pelo Derop.

7 ATIVIDADES DE SUPERVISÃO E FISCALIZAÇÃO NO ÂMBITO DA DIFIS

Este texto segue a prática adotada dentro do Manual da Supervisão do Bacen (BRASIL, 2013b), que
trata as atividades de competência da Difis pelo termo supervisão, muito embora englobe também atividades
de fiscalização.
As atividades de supervisão são realizadas com os seguintes objetivos:

a. Avaliar as instituições supervisionadas, no tocante aos riscos assumidos e à capacidade de


gerenciamento dentro de limites regulamentares e prudenciais;
b. Verificar o cumprimento das normas específicas de sua competência, para que as instituições
supervisionadas atuem em conformidade às leis e à regulamentação;
c. Fomentar a divulgação de informações pelas instituições supervisionadas, com vistas às melhores
práticas de governança corporativa nos aspectos de transparência e eqüidade no relacionamento
com os participantes do mercado;
d. Prevenir a utilização do sistema financeiro para o trânsito de recursos oriundos da prática de
ilícitos financeiros, da lavagem de dinheiro e do financiamento do terrorismo; e
e. Atender denúncias, reclamações e pedidos de informações (BRASIL, 2013b, p. 11).

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No que se refere ao item (a), esse objetivo reflete o modelo de supervisão adotado pelo BCB que
tem como foco a avaliação de riscos e controles, originado das recomendações do BCBS e preconiza que a
supervisão precisa ir além de uma atividade prescritiva baseada na verificação de demonstrações contábeis
e do atendimento às normas regulamentares e legais. De acordo com o BCBS, a supervisão deve priorizar a
avaliação dos riscos assumidos pelas entidades supervisionadas, assim como a capacidade destas de gerenciar
e controlar tais riscos e mantê-los em níveis suportáveis diante do capital alocado. Dessa forma, o item (a)
reflete uma ação de supervisão focada em riscos, discutida em mais detalhes abaixo.
A verificação das conformidades com leis e regulamentações, de que trata o item (b) acima, é o que
pode ser chamado de atividades essencialmente de fiscalização do BCB.
O objetivo de fomentar a divulgação de informações a que se refere o item (c) visa estimular a disciplina
de mercado imposta aos bancos por acionistas, investidores, depositantes, entre outros agentes. Ademais,
esse objetivo também implica, para a supervisão do BCB, um processo de disponibilização de informações
para o público em geral por meio dos seus canais de comunicação, tais como internet e correio eletrônico.
Com relação ao item (d), a origem desse objetivo da supervisão vem da Lei nº 9.613, de 3 de março de
1998, que dispõe sobre os crimes de “lavagem” ou ocultação de bens, direitos e valores e sobre a prevenção
da utilização do sistema financeiro para os ilícitos previstos nessa lei, e dá outras providências. Essa lei atribuiu
a um conjunto de pessoas físicas e jurídicas, entre as quais se incluem as instituições supervisionadas pelo
BCB, a responsabilidade pela identificação e pelo registro de seus clientes e a comunicação de operações
financeiras com indícios dos crimes previstos na lei ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras
(COAF). Em função disso e levando em conta o disposto na Convenção Internacional para Supressão do
Financiamento do Terrorismo, o BCB editou a Circular nº 3.461, de 24 de julho de 2009, que estabelece que
as instituições financeiras e as demais instituições autorizadas a funcionar pelo BCB devem implementar
políticas, procedimentos e controles internos para prevenir a utilização dessas instituições nas práticas dos
crimes previstos na Lei nº 9.613. Nesse contexto, o foco da supervisão está em avaliar a adequação e a
qualidade dessas políticas, procedimentos e controles internos.
O item (e), referente ao atendimento a denúncias, reclamações e pedidos de informações, envolve a
avaliação das denúncias e das reclamações para o encaminhamento dentro do BCB. Ademais, o atendimento
aos pedidos de informações, no âmbito das atividades de supervisão, envolve o compartilhamento de dados
e informações com órgãos externos vinculados aos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, nas esferas
federal, estadual e municipal, além do Ministério Público (MP) e da Advocacia-Geral da União (AGU).

7.1 Supervisão focada em riscos

Conforme visto, um dos objetivos da supervisão é ter uma postura prudencial junto às entidades
supervisionadas no que se refere aos riscos por elas incorridos e com relação aos controles aplicados sobre
esses riscos, sendo que o foco primordial das ações de supervisão está sobre os seguintes fatores: (i) risco
de crédito, (ii) risco de liquidez, (iii) risco de mercado, e (iv) risco operacional.
Essa postura prudencial significa exigir das instituições estruturas de gerenciamento de riscos compatíveis
com a natureza das operações realizadas, com a complexidade dos produtos operados e com a dimensão
das exposições a risco. Pressupõe, também, a competência do BCB para atuar preventivamente sobre as
entidades supervisionadas, determinando a adoção de medidas corretivas, quando for o caso.
O embasamento normativo para a supervisão focada em riscos são as resoluções do CMN que definem
os riscos descritos acima e tratam dos controles necessários para gerenciar esses riscos. Mais especificamente,
os normativos em questão são os seguintes:

Resolução CMN nº 3.380, de 29 de junho de 2006: dispõe sobre a implementação de estrutura


de gerenciamento do risco operacional, definido como “a possibilidade de ocorrência de perdas resultantes
de falha, deficiência ou inadequação de processos internos, pessoas e sistemas, ou de eventos externos” (art.
2º). Cabe destacar, nessa definição, que o normativo também inclui o “risco legal associado à inadequação
ou deficiência em contratos firmados pela instituição, bem como as sanções em razão de descumprimento
de dispositivos legais e as indenizações por danos a terceiros decorrentes das atividades desenvolvidas pela
instituição” (art. 2º, §1º).
Resolução CMN nº 3.464, de 26 de junho de 2007: dispõe sobre a implementação de estrutura
de gerenciamento do risco de mercado, definido como “a possibilidade de ocorrência de perdas resultantes
da flutuação nos valores de mercado de posições detidas por uma instituição financeira” (art. 2º).

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Resolução CMN nº 3.721, de 30 de abril de 2009: dispõe sobre a implementação de estrutura
de gerenciamento do risco de crédito, definido como
a possibilidade de ocorrência de perdas associadas ao não cumprimento pelo tomador ou contraparte
de suas respectivas obrigações financeiras nos termos pactuados, à desvalorização de contrato
de crédito decorrente da deterioração na classificação de risco do tomador, à redução de ganhos
ou remunerações, às vantagens concedidas na renegociação e aos custos de recuperação (art. 2º).

Resolução CMN nº 4.090, de 24 de maio de 2012: dispõe sobre a estrutura de gerenciamento


do risco de liquidez definido como (art. 2º):

• a possibilidade de a instituição não ser capaz de honrar eficientemente suas obrigações


esperadas e inesperadas, correntes e futuras, inclusive as decorrentes de vinculação de
garantias, sem afetar suas operações diárias e sem incorrer em perdas significativas; e
• a possibilidade de a instituição não conseguir negociar a preço de mercado uma posição,
devido ao seu tamanho elevado em relação ao volume normalmente transacionado ou em
razão de alguma descontinuidade no mercado.

Além dos riscos mencionados acima, que devem possuir uma estrutura de gerenciamento própria,
também faz parte das atividades de supervisão a verificação das exposições das instituições aos riscos de
reputação (ou imagem) e de estratégia. No entanto não existem normativos específicos que estabeleçam
uma estrutura de gerenciamento para esses riscos.
Nestes casos, a supervisão atua na avaliação da necessidade de capital das instituições diante de
todos os seus riscos relevantes, incluindo os riscos de reputação e estratégia se eles forem particularmente
importantes para as instituições. O normativo que dispõe sobre esse assunto é a Resolução CMN nº
3.988, de 30 de junho de 2011, que trata da implementação de estrutura de gerenciamento de capital,
sendo que as definições dos riscos de reputação e de estratégia podem ser encontradas na Circular BCB
nº 3.547, de 7 de julho de 2011:

• risco de estratégia: decorrente de mudanças adversas no ambiente de negócios ou de utilização


de premissas inadequadas na tomada de decisão; e
• risco de reputação: decorrente de percepção negativa sobre a instituição por parte de clientes,
contrapartes, acionistas, investidores ou supervisores;

Ainda com relação aos normativos descritos acima, cabe destacar que todos preveem a competência
do BCB para atuar preventivamente quando considerar que as estruturas de gerenciamento de riscos não
são adequadas diante das exposições a risco, ou quando este entender que o nível dessas exposições não é
compatível com o capital disponível para fazer frente às eventuais perdas.

7.1.1 Supervisão direta e indireta: inspeções e monitoramento

Como destaca Porter (1999), a maior parte dos países apresenta um padrão de supervisão bancária dividido
em duas funções-chave: acompanhamento indireto (off-site supervision ou supervisão indireta) e inspeções
diretas (on-site supervision ou supervisão direta). Conforme explica o autor, cabe à supervisão indireta:
Coletar e aferir a exatidão de todos os relatórios que as instituições financeiras autorizadas devem
submeter à autoridade supervisora;
Conduzir uma análise financeira dos relatórios submetidos periodicamente, aplicando análise
por nível (conformidade com requerimentos ou padrões), tendência (comparação com períodos
anteriores) e por grupo (comparação com bancos de características semelhantes);
Redigir sumários financeiros periódicos (normalmente, mensais ou trimestrais) sobre os achados
principais da supervisão indireta;
Prestar informações completas (verbalmente e por escrito) ao pessoal da supervisão direta
sobre o que se conhece dos bancos pela supervisão indireta – principalmente às vésperas de uma
inspeção direta;
Alertar todas as autoridades supervisoras graduadas para os “sinais de advertência de problemas
futuros” (early warning system) descobertos na análise indireta; e
Participar de decisões de supervisão no que tange a medidas a serem adotadas com relação a
bancos problemáticos (PORTER, 1999, p. 4).

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Por sua vez, a supervisão direta tem as seguintes funções e responsabilidades:
Aferir a exatidão dos relatórios submetidos à autoridade supervisora;
Avaliar a conformidade com todos os regulamentos, normas e com outros aspectos relacionados
com o arcabouço legal;
Avaliar a adequada condição financeira dos bancos como um todo – incluindo adequação de capital,
qualidade dos ativos, rendimentos, liquidez e qualidade da administração;
Avaliar como o risco está sendo administrado nos bancos, incluindo: riscos de crédito, de mercado,
de liquidez, de câmbio, de taxa de juros e operacional;
Recomendar a todas as autoridades supervisoras graduadas medidas a serem tomadas com relação
a bancos problemáticos; e
Comunicar aos funcionários da supervisão indireta os resultados das inspeções e as áreas em
relação às quais os funcionários da supervisão indireta devem ficar alerta (PORTER, 1999, p. 4).

No Brasil, a supervisão executada pelo BCB também segue o modelo de supervisão direta e indireta.
Essa divisão é organizada pelo Difis nas atribuições dos seus departamentos. A supervisão indireta é executada
pelo Desig, enquanto a supervisão direta é de responsabilidade do Desup, Desuc e Decon.

7.1.2 Supervisão indireta no BCB

A atribuição da supervisão indireta representada pelo Desig é realizar o monitoramento das instituições
financeiras e das demais instituições autorizadas a operar pelo BCB. O escopo desse monitoramento são
as demonstrações contábeis e as exposições de risco de mercado, liquidez, crédito e de imagem dessas
instituições, assim como o risco sistêmico e a estabilidade financeira. Nesse escopo, o monitoramento
desdobra-se nas seguintes atividades, conforme explica o Manual da Supervisão (BRASIL, 2013b):
a) Monitoramento – consiste em informar tempestivamente à área de supervisão situações ou eventos
que fujam aos padrões de comportamento esperado, em relação a questões regulamentares (limites
operacionais, normas contábeis, etc.), ou à avaliação de riscos (liquidez, mercado, crédito, situação
econômico-financeiro, etc.), possibilitando a ação tempestiva dos departamentos responsáveis;
b) Análise da estabilidade financeira – consiste em manter a alta administração informada sobre o
comportamento, a evolução dos riscos sistêmicos (crédito, liquidez, mercado, contágio, etc.) e sobre
situações, tendências e alterações no sistema ou subsistema que afetem a estabilidade financeira,
eficiência ou a solvência do SFN, incluindo aqui, entender como eventos externos podem afetar a
estabilidade do SFN; e
c) Divulgação de informações de interesse da supervisão – por meio da produção de informações
para o público interno e externo, com vistas a contribuir para a compreensão da estabilidade
financeira, eficiência e solvência do sistema financeiro nacional e de suas instituições (BRASIL,
2013b, p. 15).

Conforme é apresentado no Manual de Supervisão, a atividade de monitoramento se desdobra em:

i. monitoramento da situação econômico-financeira;


ii. monitoramento de limites operacionais;
iii. monitoramento de riscos;
iv. monitoramento de mercados;
v. monitoramento da estabilidade financeira.

A seguir, são apresentadas as principais características de cada um desses desdobramentos da atividade


de monitoramento, conforme Manual da Supervisão (BRASIL, 2013b).

Monitoramento da situação econômico-financeira

Esta atividade trabalha com informações contábeis e extracontábeis para detectar situações de alteração
relevante na estrutura patrimonial de instituições individuais, de conglomerados financeiros, de grupos de
instituições por segmento de atividade, assim como do sistema financeiro como um todo. A análise dessas
informações é realizada a partir de três dimensões:

i. Temporal: para determinada unidade de análise (instituição, conglomerado, segmento), são


analisadas variações ao longo do tempo.

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ii. Pariforme: baseia-se na comparação de determinada unidade de análise com seus pares.
iii. Intrínseca: avalia determinada unidade de análise com características inerentes à própria
unidade de análise.

A partir dessas análises, o Desig pode produzir sinalizações que são direcionadas à Difis para a
condução de processos relacionados à estabilidade financeira, ou à supervisão direta, para servir de apoio
nas atividades de inspeção. Tais sinalizações, encaminhadas aos devidos destinatários pelo Sistema Integrado
de Monitoramento (SIM) do BCB, podem ser de três tipos: variações significativas de grupos (VSG), de
indicadores (VSI) e de escores (VSE).

Monitoramento de limites operacionais

O BCB estabelece por meio de diversos normativos um conjunto de limites operacionais que devem
ser seguidos pelas instituições financeiras e pelas demais instituições autorizadas a funcionar por essa
autarquia. O objetivo do monitoramento desses limites é assegurar a higidez do SFN, sendo esses limites
das seguintes naturezas:

i. limite de imobilização;
ii. limite de compatibilização do PR com o PRE (Basileia);
iii. limite de patrimônio líquido (PL) mínimo;
iv. limite de capital realizado mínimo;
v. limite de endividamento de sociedade de crédito ao microempreendedor;
vi. limite de financiamento de títulos e valores mobiliários (TVM) operações;
vii. limite de financiamento de TVM garantias;
viii. limite de fundo de liquidez de Agência de Fomento;
ix. limite de exposição cambial;
x. limite de operações compromissadas;
xi. limite de crédito ao setor público;
xii. limite de exposição ao risco de crédito;
xiii. limite de patrimônio líquido ajustado (PLA) mínimo para administradoras de consórcios;
xiv. limite de alavancagem para administradoras de consórcios.

Da mesma forma que acontece com o monitoramento econômico-financeiro, o acompanhamento dos
limites operacionais também produz sinalizações para trabalhos de supervisão direta.

Monitoramento de riscos

O monitoramento de riscos tem como foco os riscos de crédito, liquidez, mercado e o risco sistêmico.
No que se refere ao monitoramento dos três primeiros tipos de riscos, seu objetivo é alertar a área de
supervisão sobre a ocorrência, ou possibilidade de ocorrência, de eventos de crédito, liquidez ou mercado
que possam comprometer a continuidade dos negócios da instituição monitorada ou que representem
fatores de instabilidade para o SFN. Já no caso do monitoramento do risco sistêmico, o foco está em produzir
informações sobre a solidez do SFN e a capacidade deste de absorver choques.
Para execução desse monitoramento de riscos, o Desig faz uso de um conjunto amplo de bancos de
dados e fontes de informações. No caso específico do risco de crédito, as principais informações utilizadas são
oriundas do Sistema de Informações de Crédito do Banco Central (SCR), que traz dados sobre empréstimos e
financiamentos, operações de adiantamentos e de arrendamento mercantil, coobrigações e garantias prestadas,
compromissos de crédito não canceláveis, entre outras operações que impliquem em risco de crédito.
Para o monitoramento do risco de liquidez, as principais informações consideradas são as movimentações
de reservas bancárias, os documentos contábeis e as informações solicitadas pelo BCB por meio do
demonstrativo de risco de liquidez (DRL), disciplinado pela Carta-Circular nº 3.374, de 30 de janeiro de
2009, assim como as posições das entidades supervisionadas em ativos e derivativos registrados no Brasil
nas seguintes centrais de custódia:

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• Sistema Especial de Liquidação e de Custódia (Selic).
• Câmara de Custódia e Liquidação (Cetip).
• BM&FBovespa.

Por sua vez, o monitoramento do risco de mercado também conta com os registros das centrais de
custódia e faz uso das informações prestadas ao BCB pelas entidades supervisionadas por meio de documentos
exigidos por essa autarquia, cabendo destacar o Demonstrativo de Risco de Mercado (DRM), disciplinado
pela Carta-Circular nº 3.628, de 27 de dezembro de 2013.
Quanto às informações utilizadas ao acompanhamento do risco sistêmico, elas dizem respeito à evolução
de agregados do sistema financeiro, tais como montante de operações de crédito e nível de inadimplência no
sistema, por exemplo. Ademais, para avaliar a capacidade do SFN em absorver choques, o Desig executa testes
de estresse de cenários macroeconômicos, avalia o risco de contágio e monitora indicadores de estabilidade
financeira, tais como a rentabilidade do sistema e a interdependência entre instituições.

Monitoramento de mercados

Esta atividade de monitoramento divide-se no acompanhamento dos mercados de títulos públicos e


privados e no acompanhamento do mercado de câmbio.
No mercado de títulos, o Desig extrai informações das centrais de custódia (Selic, Cetip e BM&FBOVESPA)
para monitorar estoques e operações. O acompanhamento de estoque procura identificar inconsistências
na contabilização e na prestação de informações ao BCB por parte das entidades supervisionadas. Por sua
vez, o monitoramento de operações com títulos públicos e privados busca capturar negócios praticados em
condições não usuais em relação aos padrões de mercado. A partir desses dois acompanhamentos, o Desig
produz as seguintes informações de supervisão:

i. Relatório de Monitoramento de Operações com Títulos Públicos Federais.


ii. Sinalizações do monitoramento de estoques.
iii. Consistência de ativos, passivos e derivativos.
iv. Relatório de Consistência de Títulos Públicos Federais para o Conjunto Básico de
Informações (CBI).

Quanto ao monitoramento do mercado de câmbio, o objetivo é acompanhar as operações em moeda


estrangeira e as transferências internacionais com o intuito de compreender o funcionamento do mercado
pela supervisão e permitir eventuais estudos para tomada de decisão. As fontes de informação desse
monitoramento são as operações de câmbio registradas no Sistema de Informações do BCB (Sisbacen) ou
que são enviadas a esta autarquia com base nos normativos vigentes.

Monitoramento da estabilidade financeira

Trata-se de uma atividade baseada no acompanhamento dos seguintes indicadores de estabilidade do


sistema financeiro:

i. rentabilidade do sistema;
ii. risco de crédito;
iii. risco de liquidez;
iv. risco de solvência; e
v. interdependência entre instituições.

A partir desse acompanhamento, a supervisão dá suporte às deliberações do Comitê de Estabilidade


Financeira do BCB (Comef).
As informações empregadas nesse monitoramento da estabilidade financeira são os demonstrativos
contábeis, dados macroeconômicos, dados de mercado, informações oriundas dos trabalhos de supervisão,
entre outros dados.

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7.1.3 Supervisão direta no BCB

Os trabalhos desempenhados por Desup, Desuc e Decon estão divididos em atividades de inspeção
e acompanhamento.
As inspeções, conforme destaca o Manual da Supervisão do Bacen, consistem “em elemento essencial
do processo de supervisão para a avaliação da situação econômico-financeira, da gestão, da observância da
legislação e da regulamentação aplicáveis, e de assuntos ou de áreas de relevância da Entidade Supervisionada”
(BRASIL, 2013b, p. 22).
Além disso, ainda conforme o Manual da Supervisão, as inspeções podem ser de diferentes modalidades:

1. Aplicação do Sistema de Avaliação de Riscos e Controles (SRC): consiste em um procedimento


abrangente de avaliação de fatores financeiros e operacionais que resume, em uma nota, a
opinião da supervisão com relação aos riscos das entidades supervisionadas e aos controles
por elas estabelecidos para gerenciar aqueles riscos. As notas variam de 1 (melhor) a 4 (pior).
2. Verificação especial (VE): tem o escopo limitado a determinado assunto ou área relevante
na entidade supervisionada.
3. Inspeção modular (IM): abrange os escopos das VEs relacionadas a uma mesma área ou temas
comuns.
4. Inspeção geral (IG): aborda áreas relevantes de uma entidade supervisionada (inclusive
conglomerado) de menor complexidade.
5. Inspeção geral remota (IGR): aborda, de forma remota, áreas relevantes de uma entidade
supervisionada de menor complexidade.
6. Inspeção global consolidada (IGC): aborda as áreas relevantes de uma entidade supervisionada
de grande porte e complexa.
7. Inspeção geral integrada (IGI): compreende IGs quando realizadas concomitantemente em
diversas entidades supervisionadas de um mesmo segmento ou, no caso de cooperativas de
crédito, de um mesmo sistema cooperativo.

Ao contrário das inspeções, que são programadas para ocorrer em determinados períodos ao longo
do ano, o acompanhamento às entidades supervisionadas é feito durante todo o ano, tornando a supervisão
direta uma atividade contínua. O objetivo desse acompanhamento é verificar, de maneira complementar
aos trabalhos de inspeção, tópicos relacionados à solidez, ao perfil de riscos e à qualidade de gestão das
entidades supervisionadas, entre outros fatores. Ademais, esse acompanhamento permite ao responsável
pela supervisão direta de uma determinada instituição atuar proativamente, propondo ações de inspeção e
levando informações para as hierarquias superiores.

8 SUPERVISÃO E CONTROLE DAS OPERAÇÕES DO CRÉDITO RURAL E DO PROAGRO

O papel do BCB de supervisão e controle do crédito rural deriva da Lei nº 4.829, de 5 de novembro
de 1965, que institucionalizou o crédito rural e criou o Sistema Nacional de Crédito Rural (SNCR), que
conduz os financiamentos sob as diretrizes da política creditícia formulada pelo CMN e direcionados aos
produtores rurais (pessoa física ou jurídica) e às cooperativas de produtores rurais. Atualmente, o SNCR é
formado pelos seguintes agentes:

i. Banco Central do Brasil.


ii. Banco do Brasil S.A.
iii. Banco da Amazônia S.A.
iv. Banco do Nordeste do Brasil S.A.
v. Órgãos vinculados ao SNCR:

i. Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).


ii. Caixa Econômica Federal.
iii. Bancos privados.
iv. Bancos estaduais.
v. Cooperativas autorizadas a operar em crédito rural.

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vi. Sociedades de crédito, financiamento e investimento.
vii. Instituições integrantes do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo.

Como pode ser observado pelas instituições listadas acima, todas estão sob a supervisão do BCB,
pelo que é natural esperar que as atividades relacionadas ao crédito rural exercidas por essas instituições
sejam supervisionadas por aquela autarquia. De fato, a lei determina, em seu artigo 5o, que o “cumprimento
das deliberações do Conselho Monetário Nacional, aplicáveis ao crédito rural, será dirigido, coordenado
e fiscalizado pelo Banco Central da República do Brasil”. Ademais, o artigo 6o da mesma lei define as
competências do Banco Central como órgão de controle do SNCR:

i. Sistematizar a ação dos órgãos financiadores e promover a sua coordenação com os que
prestam assistência técnica e econômica ao produtor rural.
ii. Elaborar planos globais de aplicação do crédito rural e conhecer de sua execução, tendo em
vista a avaliação dos resultados para introdução de correções cabíveis.
iii. Determinar os meios adequados de seleção e prioridade na distribuição do crédito rural
e estabelecer medidas para o zoneamento dentro do qual devem atuar os diversos órgãos
financiadores em função dos planos elaborados.
iv. Incentivar a expansão da rede distribuidora do crédito rural, especialmente por meio de
cooperativas.
v. Estimular a ampliação dos programas de crédito rural, mediante financiamento aos órgãos
participantes da rede distribuidora do crédito rural, especialmente aos bancos com sede nas
áreas de produção e que destinem ao crédito rural mais de 50% (cinquenta por cento) de
suas aplicações.

No âmbito do BCB, a principal referência que pauta as atividades de supervisão e controle das
operações de crédito rural e do Proagro é o Manual de Crédito Rural, MCR (BRASIL, 2013c), que incorpora
as deliberações do CMN e as normas do BCB relacionadas ao crédito rural, que devem ser seguidas por
todos que operem no SNCR. Nesse sentido, o MCR pode ser utilizado pelos participantes do SNCR como
um documento de normas básicas para concessão de crédito rural, sempre atentando, no entanto, para a
legislação pertinente.
O controle e a supervisão do crédito rural são baseados na verificação dos diversos dispositivos
regulamentares trazidos no MCR que, de maneira sumária, tratam dos seguintes aspectos do crédito rural:

i. Condições básicas.
ii. Operações de crédito.
iii. Finalidades específicas.
iv. Créditos a cooperativas.
v. Cooperativas de crédito.
vi. Recursos para concessão dos créditos.
vii. Instrumentos especiais de política agrícola.
viii. Programa Nacional de Apoio ao Médio Produtor Rural (Pronamp).
ix. Fundo de Defesa da Economia Cafeeira (Funcafé).
x. Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf).
xi. Programas especiais.
xii. Programas com recursos do BNDES.
xiii. Programa de Garantia da Atividade Agropecuária (Proagro).
xiv. Renegociação de Dívidas Originárias de Operações de Crédito Rural.

9 INSTRUMENTOS DISCIPLINARES E PUNITIVOS

Quando as atividades de supervisão e fiscalização detectam, nas entidades supervisionadas, a infração


de alguma norma regulamentar (e.g. resoluções, circulares etc.) ou legal, o BCB possui poder discricionário
para adotar medidas administrativas de caráter corretivo, restritivo ou impeditivo, conforme a natureza ou
a gravidade do que foi apurado. Tais medidas podem ser de quatro tipos (BRASIL, 2013b, p. 25):

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i. Processo administrativo punitivo.
ii. Medidas cautelares.
iii. Termo de comparecimento.
iv. Classificação de instituições supervisionadas na situação “em evidência”.

9.1 Processos administrativos punitivos

Os processos administrativos punitivos podem ter origem nas diversas unidades do BCB envolvidas
com algum tipo de atividade de supervisão e fiscalização. Conforme consta na página do BCB na internet13,
abaixo são apresentadas algumas dessas unidades:

Subordinadas ao Diretor de Fiscalização – Difis:


Desup: práticas irregulares no âmbito das instituições financeiras bancárias (exceto bancos cooperativos
e cooperativas de crédito) e demais instituições vinculadas aos respectivos conglomerados,
excetuando-se as administradoras de consórcio vinculadas a instituições bancárias, e incluídas
aquelas apuradas nos trabalhos vinculados ao mercado de câmbio de responsabilidade de pessoas
físicas e jurídicas não-financeiras;
Desuc: irregularidades no âmbito das cooperativas de crédito, bancos cooperativos, sociedades
de crédito ao microempreendedor, administradoras de consórcio, agências de fomento e demais
entidades financeiras independentes (corretoras, distribuidoras, financeiras, associações de poupança
e empréstimo, sociedades de crédito imobiliário, de arrendamento mercantil e companhias
hipotecárias), bem como dos conglomerados financeiros que não possuam entre suas empresas
bancos de qualquer espécie, incluídas aquelas apuradas nos trabalhos vinculados ao mercado de
câmbio de responsabilidade de pessoas físicas e jurídicas não-financeiras;
Decon: descumprimento de normas relativas a: Prevenção à Lavagem de Dinheiro e Combate ao
Financiamento do Terrorismo (PLD/CFT); aderência às normas cambiais, mercado interbancário
e correspondentes cambiais; correspondentes no país; contratação de operações e serviços no
SFN; tarifas; ouvidoria; Programa de Subsídio à Habitação de Interesse Social (PSH); Fundo de
Compensação de Variações Salariais (FCVS); Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV); microcrédito;
exigibilidades sobre depósitos de poupança; recolhimento compulsório; conduta anticoncorrencial;
deficiência no fornecimento de informações ao Banco Central do Brasil.
Derop, subordinada à Diorf, por práticas irregulares no âmbito de instituições financeiras e demais
instituições autorizadas a funcionar pelo Banco Central do Brasil, relativas às operações de crédito
rural (BRASIL, 2013a).

Conforme estabelece o Regimento Interno do BCB (BRASIL, 2005), compete ao Departamento de


Controle e Análise de Processos Administrativos Punitivos (DECAP), ligado ao Diorf, controlar, conduzir e
analisar os processos administrativos punitivos.
As decisões com relação ao processo administrativo punitivo podem ser comunicadas ao interessado
após a conclusão da análise do processo e elaboração do parecer técnico. No entanto ainda pode haver uma
fase anterior de encaminhamento do parecer ao Comitê de Análise de Proposta de Decisão de Processos
Administrativos Punitivos (Codep) para aprovação da proposta de decisão contida no processo. Esse comitê é
formado pelo chefe-adjunto do Decap, o chefe da Divisão de Controle e Estudos de Processos Administrativos
– Dipro, o chefe da Divisão de Processos Administrativos – Dipad e os Gerentes-Técnicos do Decap em
Belo Horizonte, Curitiba, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro e São Paulo. Seu objetivo é permitir o debate
e a troca de experiências entre seus participantes, buscando uniformizar a tomada de decisões.
As penalidades decorrentes das decisões dos processos administrativos punitivos podem ser dos
seguintes tipos:

• advertência;
• multa;
• suspensão do exercício de cargos;
• inabilitação para o exercício de cargos de direção na administração ou na gerência de
instituições supervisionadas;
• cassação da autorização de funcionamento e de administração de grupos de consórcio;
• suspensão de realizar novas operações, no caso de administradoras de consórcio, se configurados
riscos ao público consumidor;
• regime especial de fiscalização, no caso de administradoras de consórcio;
• proibição temporária de praticar atividade de auditoria em instituições supervisionadas.

13 Disponível em: <www4.bcb.gov.br/fis/PAD/port/Menu/ProcessoAdministrativo.asp>. Acesso em: 7 nov. 2013.

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A severidade das penalidades, como, por exemplo, os valores das multas ou os
períodos de inabilitação variam conforme o tipo de infração e o dispositivo legal que trata do
A severidade
assunto. Conformedasapresenta
penalidades,
o como,
BCB por
em exemplo, os valores
sua página das multas
na internet, o ou os períodos das
detalhamento de inabilitação
variam conforme o tipo de infração e o dispositivo legal que trata do assunto. Conforme apresenta o BCB
penalidades
em sua páginaaplicadas nosoprocessos
na internet, administrativos
detalhamento punitivos
das penalidades é o seguinte:
aplicadas nos processos administrativos punitivos
é o seguinte:

Tabela 2:Tabela
Penalidades aplicadas
2: Penalidades – por
aplicadas dispositivo
– por legal
dispositivo legal

Lei nº 4.131/62; Decreto nº


Lei nº 6.385/76 - Lei nº 11.795/08 -
Lei nº 9.613/98 - Crimes de 23.258/33; Medida
Lei nº 4.595/64 Empresas de auditoria Administradoras de
"lavagem" de dinheiro Provisória nº 2.224/01 -
e auditores consórcios
Pessoas físicas e jurídicas

Não superior: - Até R$500 mil; ou


- Até R$250 mil; ou
- Ao dobro do valor da operação; - Até 100% das receitas
- Até 300% do valor da
Multa Até R$250 mil - Ao dobro do lucro real obtido ou Até R$500 mil recebidas ou a receber a
operação irregular - ilícito
que seria obtido na operação; título de taxa de
cambial
- Ao valor de R$20 milhões. administração;

Suspensão do
Por até 3 anos Não se aplica Não se aplica Por até 3 anos. Não se aplica
exercício de cargos
Inabilitação para o
Por até 20 anos Por até 10 anos Não se aplica Por até 20 anos Não se aplica
exercício de cargos
Suspensão de novas
Não se aplica Não se aplica Não se aplica Por até 2 anos. Não se aplica
operações
Proibição para
praticar atividade de Não se aplica Não se aplica Até 20 anos Não se aplica Não se aplica
auditoria
Fonte: BCB. Disponível em: <www4.bcb.gov.br/fis/PAD/port/Menu/ProcessoAdministrativo.asp>. Acesso em:
8 nov. 2013.Fonte: BCB. Disponível em: <www4.bcb.gov.br/fis/PAD/port/Menu/ProcessoAdministrativo.asp>. Acesso em: 8 nov. 2013.

Finalmente, uma vez comunicada a decisão do processo ao acusado, este tem a possibilidade de apresentar
recursoFinalmente,
junto ao Conselho
uma vezde comunicada
Recursos do aSistema
decisãoFinanceiro Nacional
do processo – CRSFN14
ao acusado, , órgão
este tem integrante
a da
estrutura do Ministério da Fazenda com a atribuição de julgar em segunda e última instância recursos contra
possibilidade de apresentar
decisões de processos recurso junto ao Conselho de Recursos do Sistema Financeiro Nacional
administrativos.
149
9.2 Medidas cautelares

Conforme o Manual da Supervisão do Bacen (BRASIL, 2013b) e o anexo à Resolução CMN no 1.065,
de 5 de dezembro de 1985, identificadas infrações regulamentares ou legais, ou diante da existência de fortes
indícios da existência dessas infrações, as medidas cautelares são empregadas para limitar as atividades
desempenhadas na entidade supervisionada pelos indiciados enquanto se apuram as responsabilidades.
As medidas cautelares que podem ser empregadas procuram:

i. afastar os indiciados da administração da entidade supervisionada;


ii. impedir que os indiciados assumam cargos de direção ou administração em entidades
supervisionadas;
iii. restringir os negócios realizados pela entidade supervisionada; ou
iv. determinar a troca da empresa de auditoria ou auditor responsável pelo parecer das
demonstrações financeiras da entidade supervisionada.

9.3 Termo de comparecimento

De acordo com o Manual da Supervisão do Bacen (BRASIL, 2013b), o termo de comparecimento


é empregado para convocar os representantes legais e, se for necessário, os controladores da entidade
supervisionada, para que estes apresentem as medidas que serão tomadas para regularizar as possíveis situações:

14 Detalhes deste órgão são analisados durante a apresentação da estrutura do SFN.

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i. Descumprimento de limites operacionais ou da exigência de níveis mínimos de capital.
ii. Falhas ou ausência de controles internos que comprometam ou possam comprometer o
funcionamento regular da entidade supervisionada.
iii. Deficiências ou procedimentos que comprometam ou possam comprometer o funcionamento
regular da entidade supervisionada.
iv. Fornecimento inadequado ou incompleto ao BCB de informações que comprometam os
trabalhos de supervisão e monitoramento desta autarquia.

9.4 Classificação de instituições supervisionadas na situação “em evidência”

Conforme explica o Manual da Supervisão do Bacen, são classificadas como “em evidência” as entidades
supervisionadas que apresentem deficiências ou procedimentos que comprometam ou possam comprometer
o funcionamento regular da entidade, tais como o descumprimento de limites operacionais ou de exigência
de capital, controles internos inadequados ou crise de liquidez. Como consequência, as entidades classificadas
como “em evidência” passam por um acompanhamento específico por parte da Supervisão.

10 REGIMES ESPECIAIS: INTERVENÇÃO, LIQUIDAÇÃO EXTRAJUDICIAL E ADMINISTRAÇÃO


ESPECIAL TEMPORÁRIA

Dentro da sua missão de assegurar a solidez e eficiência do SFN, um dos objetivos da supervisão é ter
uma postura prudencial, ou preventiva, no sentido de monitorar e avaliar riscos e controles das instituições.
Além disso, o BCB também dispõe de instrumentos para lidar com situações em que os riscos incorridos
pelas instituições resultaram em importantes desequilíbrios patrimoniais. Nestes casos, impõem-se regimes
especiais a determinada instituição quando se constata a iminência ou a inevitabilidade de sua insolvência.
Existem três modalidades de regimes especiais: a intervenção, a liquidação extrajudicial, ambas
disciplinadas pela Lei no 6.024, de 13 de março de 1974, e a administração especial temporária (Raet),
definida no Decreto-Lei no 2.321, de 25 de fevereiro de 1987. Conforme explica o BCB (BRASIL, 2013f), o
funcionamento de cada uma dessas modalidades ocorre da seguinte forma:

• Intervenção: nesta modalidade, os dirigentes da instituição são destituídos e a gestão direta


é assumida por um interventor nomeado pelo BCB. Trata-se de uma medida cautelar que
suspende as atividades normais da instituição, procurando evitar o agravamento da situação
que levou ao regime especial. A intervenção ocorre por um período limitado, ao fim do qual
a instituição pode retomar suas atividades normais ou pode ter decretada a sua liquidação
extrajudicial ou falência.
• Administração especial temporária (Raet): assim como na intervenção, os dirigentes da instituição
são destituídos, mas a instituição continua com suas atividades normais. O que muda é que
a gestão passa a ser realizada por um conselho diretor nomeado pelo BCB. A aplicação do
Raet, que possui prazo definido, pode devolver a instituição ao seu funcionamento normal,
ou resultar em um processo de intervenção ou na decretação de liquidação extrajudicial.
• Liquidação extrajudicial: trata-se de uma medida definitiva que tem como objetivo vender
os ativos da instituição para pagamento dos credores, com eventual restituição da sobra de
valores aos acionistas ou responsabilização dos controladores pelo passivo a descoberto.

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REFERÊNCIAS

BRASIL. Banco Central do Brasil. Portaria no 29.971, de 4 de março de 2005. Traz como anexo o Regimento
Interno do Banco Central do Brasil. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, 10 mar. 2005.

______. BCB. Relatório de Gestão do Exercício de 2012. Brasília, março de 2012. Disponível em: <www.bcb.
gov.br/Pre/audit/relgest/Relatorio_de_Gestao_BC_2012.pdf>. Acesso em: 10 nov. 2013.

______. BCB. Processos Administrativos Punitivos. Disponível em: <http://www.bcb.gov.br/?PROCADM>. Acesso


em: 7 nov. 2013a.

______. BCB. Manual da supervisão (MSU). Disponível em <www.bcb.gov.br/?PUBSUPERVISAO>. Acesso em:


7 nov. 2013b.

______. BCB. Manual de Crédito Rural (MCR). Disponível em <www.bcb.gov.br/?OUTROSMAN>. Acesso em:
7 nov. 2013c.

______. BCB. Manual de Organização do Sistema Financeiro (Sisorf). Disponível em <www.bcb.gov.br/?sfnorg>.


Acesso em: 7 nov. 2013d.

______. O Banco Central e as novas técnicas de saneamento do Sistema Financeiro Nacional após a estabilização
monetária. Disponível em: <www.bcb.gov.br/htms/livrosfn.asp?idpai=ARTREGESP>. Acesso em: 27 nov. 2013f.

______. BCB. Portaria no 78.276, de 16 de setembro de 2013e, Diário Oficial. Altera o Regulamento do
Comitê de Estabilidade Financeira (Comef). Diário Oficial da República Federativa do Brasil. Acesso em: 17 set.
2013.

CONSELHO MONETÁRIO NACIONAL (CMN). Resolução no 4.019, de 29 de setembro de 2011. Disponível


em: <www.bcb.gov.br/?BUSCANORMA>. Acesso em: 26 nov. 2013.

PORTER, Robert S. Coordenação de supervisão direta e indireta: aspectos e abordagens recomendadas. In:
SEMINÁRIO PARA SUPERVISORES BANCÁRIOS DE ECONOMIAS EMERGENTES. Banco Mundial, 1999.
Disponível em <http://www.bcb.gov.br/?PUBSUPERV>. Acesso em: 12 nov. 2013.

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UNIDADE 4 – EXECUTOR DAS POLÍTICAS MONETÁRIA E CAMBIAL E AUTONOMIA DOS
BANCOS CENTRAIS E DO BANCO CENTRAL DO BRASIL

1 FUNÇÃO DO BANCO CENTRAL COMO EXECUTOR DA POLÍTICA MONETÁRIA

O autor deste texto se propõe a apresentar, em linhas gerais, quais foram os principais critérios
relacionados à política monetária adotada pelo Banco Central do Brasil (BCB), após 1964, ano da promulgação
da Lei nº 4.595, de 31 de dezembro. Partiu-se do exame dos principais instrumentos disponíveis e da descrição
da sua operacionalização. Ênfase maior foi centrada na análise do Sistema de Metas para a Inflação e suas
características, sistema que foi adotado em 1999, ano a partir do qual passou a balizar a execução da política
monetária no país.
A abordagem da política monetária em sua definição mais básica corresponde à atuação dos Bancos
Centrais, por meio de instrumentos de efeito direto ou induzido, com o propósito de controlar a liquidez
de um sistema econômico, visando à manutenção do poder de compra da moeda. Essa atuação tem por
objetivo manter a quantidade de moeda em circulação compatível com: 1) a estabilidade do nível geral de
preços, 2) as necessidades da economia nacional e seu processo de desenvolvimento, e 3) a manutenção da
estabilidade cambial.
De acordo com Passos e Nogami (2003), a política monetária pode ser entendida como o conjunto
de medidas adotadas pelo governo com o objetivo de controlar a oferta de moeda e as taxas de juros, de
forma a assegurar a liquidez geral da economia do país.
Alguns fatores externos, entretanto, como crises financeiras globais ou choques de preços de commodities,
dificultam o alcance daqueles objetivos citados. A experiência recente evidenciou, por exemplo, um excesso
de liquidez no sistema financeiro internacional criado pelas políticas de afrouxamento monetário (quantitative
easing) adotadas nos países desenvolvidos diretamente afetados pela crise financeira de 2008. Tais políticas
de afrouxamento monetário demonstraram a dificuldade na execução da política monetária convencional e
no controle da excessiva liquidez nos países emergentes via taxa básica de juros. Nesses países, o controle
do excesso de liquidez se deu também com a adoção das chamadas medidas macroprudenciais (decisões
administrativas dos Bancos Centrais que afetam a liquidez para crédito no sistema bancário e visam controlar
o risco sistêmico do setor bancário).
Marco importante na história econômica brasileira foi a promulgação da Lei nº 4.595, de 31 de dezembro
de 1964, que definiu como competência privativa do Banco Central a execução das políticas monetária e
cambial. Essa mesma lei não definiu, entretanto, limites claros de separação na relação entre o Banco Central,
o Banco do Brasil e o Tesouro Nacional.Tal fato dificultava a atuação do Banco Central na condução da política
monetária, cabendo-lhe inclusive a responsabilidade por contas do orçamento fiscal, como as relativas à dívida
pública, existindo no período o orçamento monetário, que estabelecia metas de expansão ou contração dos
meios de pagamentos, para determinar níveis desejados de créditos e de oferta de moeda. Além disso, desde
1965, a chamada conta-movimento ligava o Banco do Brasil (BB) e o Banco Central.
Essa conta era utilizada como fonte de suprimento monetário automático ao Banco do Brasil sem
o prévio aprovisionamento de recursos, o que permitia financiar os gastos do governo, contribuindo para
expandir a liquidez no sistema financeiro. Dada situação só foi corrigida em fevereiro de 1986 com a extinção
da conta movimento. Atualmente e de acordo com o desejo do legislador em 1964, as prerrogativas de
executor da política monetária são de competência prática, formal e exclusiva do Banco Central do Brasil.

1.1 Instrumentos de política monetária

Passando à questão de natureza operacional, verifica-se que os Bancos Centrais dispõem de três
instrumentos clássicos para influenciar os meios de pagamento no sistema econômico e implementar suas
políticas monetárias:

i) recolhimentos compulsórios;
ii) operações de redesconto bancário, na prática não são mais utilizadas como instrumento de
política monetária; e
iii) operações de mercado aberto.

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ANALISTA – SFN: Módulo II – Unidade 4 – Executor das Políticas Monetária e Cambial e Autonomia do Bancos Centrais e do Banco Central do Brasil

80
1.1.1 Recolhimentos compulsórios

Os recolhimentos compulsórios são depósitos obrigatórios realizados pelos bancos comerciais no


Banco Central, ou seja, é a exigência de que as instituições bancárias mantenham compulsoriamente uma
fração de seus depósitos (passivos) na conta de reservas bancárias junto à autoridade monetária.
A conta reservas bancárias é uma “conta-corrente” de seus titulares no Banco Central, em que ocorre
a liquidação financeira das operações realizadas com a autoridade monetária ou com outras instituições do
Sistema Financeiro Nacional. Os bancos comerciais, os bancos múltiplos com carteira comercial e as caixas
econômicas são obrigados a manter uma conta de reservas bancárias, já os bancos de desenvolvimento, de
investimento e os bancos múltiplos sem carteira comercial podem ou não manter essa conta.
As alíquotas estabelecidas nos recolhimentos compulsórios guardam relação inversa com a capacidade
do sistema bancário para expandir o crédito e a oferta monetária na economia. Quanto maiores às alíquotas
dos compulsórios, por exemplo, menor é a capacidade dos bancos comerciais para multiplicar o volume
de crédito, ou seja, o compulsório esteriliza ou congela parte dos recursos que, de outra maneira, seriam
destinados pelas instituições bancárias a operações ativas de empréstimos, financiamentos ou investimentos.
Dessa forma, ao aumentar o compulsório o Banco Central, reduz-se a capacidade potencial dos bancos para
expandir o volume de crédito e os seus depósitos.
O Banco Central está autorizado pela Lei nº 4.595, de 31 de dezembro de 1964, com a redação dada
pela Lei n° 7.730, de 31 de janeiro de 1989, a instituir recolhimento compulsório de até 100% sobre os
depósitos à vista, e até 60% sobre demais operações passivas das instituições financeiras. As alíquotas podem
ser diferenciadas em função das regiões geoeconômicas (atualmente em desuso no Brasil), das prioridades
que forem atribuídas às aplicações dos compulsórios e da respectiva natureza das instituições financeiras.
Observe-se que o recolhimento compulsório pode ser apenas em espécie.
Atualmente, no Brasil, existem as seguintes modalidades de recolhimentos compulsórios:

• recolhimento compulsório sobre recursos à vista;


• recolhimento compulsório sobre recursos de depósitos e de garantias realizadas;
• encaixe obrigatório sobre recursos de depósitos de poupança;
• recolhimento compulsório sobre recursos a prazo; e
• exigibilidade adicional sobre depósitos.

Tabela 1: Modalidades de compulsórios


Tabela 1: Modalidades de compulsórios
Compulsório Alíquota Remuneração
Recursos à vista 44% Não há.
Recursos a prazo 20% (11% de exigibilidade Taxa Selic.
adicional)
Depósitos de poupança 18% rural Se a meta da taxa Selic for maior
ou igual a 8,5% a.a., a TR é
20% (demais modalidades) acrescida de 6,17% a.a.

(10% de exigibilidade adicional) Se a meta da taxa Selic for menor


que 8,5% a.a., a TR é acrescida de
70% da meta Selic a.a.

Taxa Selic sobre a exigibilidade


adicional de 10%.
Garantias realizadas 45% Não há.
Fonte: BCB, novembro de 2013.
Fonte: BCB, novembro de 2013.

Obedecidos aos limites máximos estabelecidos na legislação, a Diretoria Colegiada do


Obedecidos aos limites máximos estabelecidos na legislação, a Diretoria Colegiada do Banco Central
pode Banco
alterar Central podedealterar
as alíquotas as alíquotas
recolhimento de recolhimento
compulsório a qualquercompulsório a qualquer
tempo. Desde tempo.
janeiro de 2011, por
exemplo, os bancos eram obrigados a recolherem parte da posição vendida no mercado cambial e
Desde janeiro de 2011, por exemplo, os bancos eram obrigados a recolherem parte da posição a alíquota
deste compulsório era de 60% sobre a posição vendida superior a US$ 3 bilhões. Essa medida visava conter,
vendida no mercado cambial e a alíquota deste compulsório era de 60% sobre a posição
vendida superior a US$ 3 bilhões. Essa medida
Cespe/UnBvisava conter, de certa forma, a excessiva
Programa de Capacitação – Banco Central do Brasil (BCB)/2014
entrada
ANALISTA – SFN:de dólares
Módulo no 4país,
II – Unidade fruto
– Executor das políticas
das Políticas de quantitative
Monetária e Cambial e Autonomia doeasing adotadas
Bancos Centrais nosCentral
e do Banco paísesdo Brasil

desenvolvidos. Esta modalidade de compulsório


81 foi, entretanto, retirada em julho de 2013,

como forma de aliviar a pressão de alta na taxa de câmbio quando o fluxo cambial positivo
de certa forma, a excessiva entrada de dólares no país, fruto das políticas de quantitative easing adotadas
nos países desenvolvidos. Esta modalidade de compulsório foi, entretanto, retirada em julho de 2013, como
forma de aliviar a pressão de alta na taxa de câmbio quando o fluxo cambial positivo destinado ao Brasil
começou a diminuir e reverter.
Durante a crise de 2008, houve fuga de depósitos de instituições bancárias de menor porte para
instituições de grande porte. Nesse contexto, o Banco Central procurou promover o alívio da constrição
de liquidez. Entre as medidas adotadas na época, destacam-se os abatimentos do recolhimento compulsório
e as deduções de depósitos compulsórios direcionados a: i) aquisição de dólares, de forma a compensar os
efeitos contracionistas das vendas de reservas internacionais sobre a liquidez doméstica; e ii) aquisição de
ativos de bancos de pequeno e médio porte.
Resumidamente, o gerenciamento do sistema de recolhimentos compulsórios visa basicamente a
três objetivos: 1) controle dos agregados monetários e creditícios, por meio dos efeitos do recolhimento
compulsório sobre o multiplicador monetário e sobre os spreads bancários; 2) controle da liquidez de
curto prazo do setor bancário, pela geração de uma demanda relativamente estável e previsível por reservas
bancárias ou liberação de reservas excedentes para o sistema financeiro; e 3)proteção do sistema bancário
contra riscos de liquidez e solvência (associado a medidas macroprudenciais).
A definição da operacionalização dos recolhimentos compulsórios está a cargo do Departamento de
Operações Bancárias e de Sistema de Pagamentos (Deban).

1.1.2 Operações de redesconto bancário

As operações de redesconto bancário, ou assistência financeira de liquidez, são financiamentos, na


forma de crédito em reservas bancárias, oferecidos pelo Banco Central a instituições financeiras com contas
de reservas bancárias ou conta de liquidação15. Basicamente, a função das operações de redesconto é prover
liquidez para as instituições financeiras que se encontram com problemas de liquidez momentânea ou
enfrentam choques de liquidez inesperados, tendo assumido, portanto, mais claramente, a função de banco
dos bancos, assunto já examinado no item específico.

1.1.3 Operações de mercado aberto (open market)

O art. 10 da Lei nº 4.595, de 31 de dezembro de 1964, outorgou ao Banco Central a atribuição de


efetuar, como instrumento de política monetária, operações de compra e venda de títulos públicos federais,
chamadas no mercado financeiro de operações de mercado aberto.
Nos primeiros anos de atividade do Banco Central, a execução da política monetária ancorava-se na
exigência de recolhimentos compulsórios e no controle dos empréstimos bancários por intermédio do
sistema de redesconto. Atualmente, com a consolidação e a sofisticação do mercado de títulos públicos
federais, o principal instrumento de política monetária disponível ao Banco Central passou a ser, de fato, as
operações de mercado aberto.
A flexibilidade, a agilidade e o alcance operacional das operações de mercado aberto permitem uma
eficiente regulação da liquidez do sistema bancário e administração da oferta monetária e da taxa básica
de juros. As operações de mercado aberto podem, por exemplo, ser utilizadas diariamente para controlar a
liquidez e tem, portanto, efeito direto e imediato sobre os agregados monetários e a taxa de juros.
No Brasil, o Banco Central utiliza as operações de mercado aberto para manter a taxa básica de juros
(Selic)16 próxima da meta estabelecida pelo Comitê de Política Monetária(Copom), injetando ou retirando
liquidez no sistema bancário, com o objetivo de levar a Selic efetiva a se aproximar da Selic meta. Mudanças
na taxa de juros se propagam por toda a economia, influindo dessa forma também sobre as variações nos
índices de preços.
As operações de mercado aberto são transações de compra (venda) de títulos públicos federais com
compromisso de revenda (recompra) realizadas pelo Banco Central com instituições financeiras previamente
credenciadas chamadas de dealers. Essas operações também são conhecidas no mercado financeiro como
“operações compromissadas”.

15 Conta de liquidação junto ao Banco Central é obrigatória para prestadores de serviços de compensação e liquidação considerados sistemicamente
importantes. Ela é facultativa, entretanto, para instituições não bancárias autorizadas a funcionar pelo Banco Central.
16 Define-se a taxa Selic como a taxa média ajustada dos financiamentos diários apurados no Sistema Especial de Liquidação e de Custódia (Selic)
para títulos públicos federais.

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Operacionalmente, o ajuste diário da liquidez é precedido por estimativa para avaliar se haverá excesso
ou falta de reservas no sistema, com base em informações sobre operações que afetam as reservas bancárias
que incluem, entre outras, as operações de câmbio e as ações do Tesouro Nacional (recolhimento de tributos
ou realização de gastos, resgate ou emissão de títulos públicos).
O importante é destacar que, ao comprar títulos públicos federais, o Banco Central entrega em
contrapartida liquidez (depósitos) às instituições financeiras. Tal operação leva, consequentemente, a um
aumento nos preços desses títulos e diminuição de suas taxas de rendimentos (queda na taxa básica de
juros). Em sentido oposto, quando o Banco Central vende títulos governamentais, recolhe, em contrapartida,
moeda do sistema bancário, diminuindo a liquidez na economia, provocando queda dos preços dos títulos e
aumento dos seus rendimentos (alta na taxa básica de juros).
Cabe-se destacar que o artigo 34 da Lei de Responsabilidade Fiscal (Lei Complementar nº 101, de 4
de maio de 2000) impediu a emissão de títulos da dívida pública pelo Banco Central para fins de política
monetária17. Por essa lei, o Banco Central só pode comprar diretamente títulos emitidos pela União para
refinanciar a dívida mobiliária federal que estiver vencendo em sua carteira. E, no mercado secundário, somente
a partir do dia seguinte ao da realização do leilão de títulos do Tesouro Nacional (TN). Portanto, o Tesouro
Nacional emite os títulos para fins de política fiscal no mercado primário e o Banco Central utiliza esses
títulos emitidos para fins de política monetária via operações de mercado secundário no mercado aberto18.
A operacionalização das operações de mercado aberto está a cargo do Departamento de Operações
do Mercado Aberto (Demab).

1.1.4 Sistema de Metas para a Inflação e o Comitê de Política Monetária (Copom)

O processo de estabilização da economia brasileira, após o período inflacionário da década de 1980 e


dos primeiros anos da década de 1990, inicia-se com a adoção do Plano Real. Nos três primeiros meses do
plano, utilizou-se o regime de câmbio flutuante. A partir de outubro de 1994, é adotado o regime de câmbio
fixo, que, em março de 1995, é trocado pelo regime de bandas cambiais. O Banco Central passa a adotar
então a “âncora cambial” para estabilização de preços, isso possibilitou queda acentuada da inflação e sua
manutenção em patamares reduzidos.
A manutenção da baixa inflação via “âncora cambial” foi, entretanto, inviabilizada no início de 1999. Ao
lado do aumento da dívida pública, dada a alta taxa de juros que facilitava a manutenção da âncora cambial via
atração de capital externo, o país passou a apresentar déficits na balança comercial, bem como aumento do
passivo externo líquido, já que era mais conveniente economicamente obter recursos no mercado externo
a juros mais favoráveis e com o câmbio controlado. Esse cenário, conjugado com os efeitos-contágio das
crises ocorridas na Ásia e na Rússia, em 1997 e 1998, e com um nível baixo de reservas internacionais na
época, levou a um ataque especulativo ao Real em janeiro de 1999, tornando impossível a manutenção do
regime de bandas cambiais. Foi então que o Brasil adotou um regime cambial flutuante e, em junho daquele
ano, a âncora nominal para inflação passou a se basear no sistema de metas para a inflação.

1.1.4.1 Sistema de Metas para a Inflação

A partir da experiência inovadora do Banco Central da Nova Zelândia em 1990, várias economias
adotaram o sistema de metas para a inflação como âncora nominal de preços. Foi o caso, por exemplo, de
países como Chile e Israel em 1991, México em 1999 e África do Sul em 2000.
Em um regime no qual a âncora nominal da política monetária é a própria meta, a credibilidade do
Banco Central é fundamental na formação das expectativas de inflação. Nesta circunstância, a autoridade
monetária deve atuar de forma sistemática e transparente, tornando a política monetária, dessa forma, o
mais previsível possível e, consequentemente, mais influente sobre as expectativas dos agentes econômicos.
De fato, desde a introdução no Brasil do sistema de metas para a inflação, a condução da política monetária
pelo Banco Central tem se tornado cada vez mais transparente.

17 Não existem mais títulos emitidos pelo Banco Central no mercado. O último lote – de NBC-E – venceu em 16/11/2006.
18 O mercado primário compreende o lançamento de novos títulos no mercado. É uma forma de captação de recursos para o emissor desses
títulos. Uma vez ocorrido o lançamento inicial no mercado primário, os títulos passam a ser negociados no mercado secundário, onde ocorre
apenas a troca de propriedade desses títulos.

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A transparência e a prestação de contas regulares à sociedade e a seus representantes são elementos
essenciais de um regime de metas para a inflação. Isto ocorre por meio da divulgação, até o último dia de
cada trimestre civil, do Relatório de Inflação, que avalia o nível de atividade do país, o cenário internacional,
as políticas creditícia, monetária e fiscal implementadas, bem como a evolução dos preços e as perspectivas
para a inflação. Adicionalmente, é expedido comunicado informando sobre a decisão a respeito da taxa
Selic logo após o fim da reunião Copom e, até seis dias úteis após a data de sua realização, é publicada ata,
contendo o cenário macroeconômico e os principais riscos a ele associados, com base nos quais foram
tomadas as decisões de política monetária.
A autonomia operacional do Banco Central, de maneira que ele possa gerir a política monetária no
sentido do cumprimento das metas de inflação, também é fator importante para o sucesso de um sistema
de metas para a inflação.
De maneira geral, um sistema de metas para a inflação caracteriza-se por quatro elementos básicos:

i) conhecimento público das metas de médio-prazo para a inflação;


ii) comprometimento institucional com a estabilidade de preços como objetivo principal da
política monetária;
iii) estratégia de atuação pautada pela transparência para comunicar claramente ao público sobre
planos, objetivos e razões que justificam as decisões de política monetária; e
iv) mecanismos para tornar as autoridades monetárias responsáveis pelo cumprimento das metas
para a inflação.

Foi o art. 1° do Decreto nº 3.088, de 21 de junho de 1999, que estabeleceu como diretriz para o regime
de política monetária a sistemática de “metas para a inflação”. Ainda no que dispôs esse decreto, compete
ao Banco Central executar as políticas necessárias para o cumprimento das metas fixadas pelo CMN.
Como forma de regulamentar os dispositivos do Decreto nº 3.088, de 21 de junho de 1999, o Banco
Central publicou a Resolução nº 2.615, de 30 de junho de 1999, que resolveu:

Art. 1º –Determinar que o índice de preços relacionado às metas para a inflação, referido no art.
1º, parágrafo 1º, do Decreto nº 3.088, de 21 de junho de 1999, é o Índice Nacional de Preços ao
Consumidor Amplo (IPCA), calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Parágrafo único. O Conselho Monetário Nacional, mediante proposta do Ministro de Estado da
Fazenda, determinará índice substituto eventual, na impossibilidade de se aferir o índice de que
trata o “caput” deste artigo.

O sistema brasileiro de metas para a inflação foi, portanto, implementado em julho de 1999, seis meses
após a adoção por parte do Banco Central do regime de câmbio flexível, funcionando como âncora nominal
que garantisse a estabilidade de preços na economia, na impossibilidade de continuar utilizando uma âncora
cambial ou optar pelo controle dos agregados monetários.

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Tabela 2: Histórico de metas para a inflação no Brasil

Fonte: BCB, novembro de 2013.

Observe-se que, caso a meta não seja cumprida, o presidente do Banco Central do Brasil divulgará
publicamente as razões do descumprimento, por meio de carta aberta ao ministro de Estado da Fazenda,
que deverá conter:

i. descrição detalhada das causas do descumprimento;


ii. providências para assegurar o retorno da inflação aos limites estabelecidos; e
iii. o prazo no qual se espera que as providências produzam efeito.

Inegavelmente, o sistema de metas para a inflação brasileiro foi bem-sucedido no controle da inflação
nos últimos anos. Conforme se pode observar no gráfico a seguir, desde a implementação do sistema de
metas para a inflação em 1999, a taxa de inflação medida pelo IPCA se situou fora do intervalo de tolerância
apenas nos anos de 2001, 2002 e 200319.

19 Conforme o boletim Focus do dia 29 de novembro de 2013, as expectativas de inflação (IPCA) eram de 5,81% a.a. para 2013 e 5,92% a.a. para
2014.

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Gráfico 1: Metas para a inflação e expectativas de mercado

Fonte: BCB, novembro de 2013.

A “Pesquisa de Expectativas de Mercado”, coordenada pelo Departamento de Relação com Investidores


e Estudos Especiais (Gerin), foi iniciada em maio de 1999 como parte do processo de transição para o regime
de metas inflacionárias. Seu objetivo é monitorar a evolução do consenso de mercado para as principais
variáveis macroeconômicas, de forma a gerar subsídios ao processo decisório da política monetária. Atualmente,
a pesquisa acompanha as expectativas de mercado para diferentes índices de preços, crescimento do PIB e
da produção industrial, taxa de câmbio, taxa Selic, variáveis fiscais e indicadores do setor externo.
Em novembro de 2001, o Departamento de Relação com Investidores e Estudos Especiais (Gerin)
criou página específica na internet para realização da pesquisa, com acesso restrito a instituições previamente
autorizadas. Em consequência, o Banco Central pode acompanhar o estado das expectativas em tempo real.
As estatísticas da amostra são calculadas diariamente, permitindo a geração de relatórios para os membros
do Copom. O resultado (Focus – Relatório de Mercado) é publicado às segundas-feiras na página do Banco
Central na internet.

1.1.4.2 Comitê de Política Monetária (Copom)

O Comitê de Política Monetária (Copom) foi criado pela Circular nº 2.698, de 20 de junho de 1996, e
inicialmente tinha como objetivo estabelecer diretrizes da política monetária e definir a taxa básica do Banco
Central (TBC). Já a Circular nº 2.966, de 8 de fevereiro de 2000, modificou a questão referente à definição
da taxa básica que passou a ser a taxa Selic e seu eventual viés, a partir da adoção do Sistema de Metas para
a inflação. Essa última circular acrescentou ainda como atribuições do Copom a de análise do Relatório de
Inflação, a que se refere o Decreto nº 3.088, de 21 de junho de 1999.
A atual estrutura e funcionamento do Copom está definida na Circular nº 3.593, de 16 de maio de
2012, que traz como membros do Copom o presidente e os diretores do Banco Central do Brasil.
O Copom reúne-se ordinariamente oito vezes por ano e o calendário anual dessas reuniões ordinárias
deve ser divulgado até o fim do mês de junho do ano anterior.
As reuniões ordinárias são realizadas em duas sessões, a primeira sessão às terças-feiras, reservada às
apresentações técnicas de conjuntura econômica, e a segunda sessão às quartas-feiras, destinada às decisões acerca
das diretrizes de política monetária que devem ser publicadas no mesmo dia após o fechamento dos mercados,
por meio de Comunicado do Diretor de Política Monetária, indicando o voto de cada membro do Copom.
O Copom pode ainda se reunir extraordinariamente por convocação de seu presidente, presentes, no
mínimo, o presidente, ou seu substituto, e metade do número de diretores.
Além dos membros do Copom, participam da primeira sessão das reuniões ordinárias às terças-feiras
os chefes das seguintes unidades, que informam sobre os seguintes assuntos:

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vi) Departamento de Assuntos Internacionais (Derin): conjuntura econômica
internacional.
i) Departamento de Operações Bancárias e de Sistema de Pagamentos (Deban): condições de
vii)liquidez
Departamento de Relacionamento
e de funcionamento do sistemacom Investidores e Estudos Especiais (Gerin):
bancário.
ii) Departamento
expectativasdedeOperações do Mercado
mercado para Aberto
variáveis (Demab): mercado monetário e operações
macroeconômicas.
de mercado aberto.
iii) Departamento Econômico (Depec): conjuntura econômica doméstica.
iv) Departamento
Cabe aos membros dedoEstudos
Copomedefinir,
Pesquisas
por (Depep): avaliação
meio de voto prospectiva
(maioria simples),das tendências
a meta para da
inflação.
a taxa v)
Selic e seu eventual
Departamento das viés. O presidente
Reservas do Banco
Internacionais Central
(Depin): tem voto
mercados de qualidade
financeiros e pode
internacionais e
de câmbio.
ainda vi)
alterar a meta para a taxa Selic, no mesmo sentido do viés, sem necessidade de
Departamento de Assuntos Internacionais (Derin): conjuntura econômica internacional.
vii) Departamento
convocação de Relacionamento
de reunião extraordinária com Investidores
do Copom. De acordo ecom
Estudos Especiais
a Circular (Gerin):deexpectativas
nº 3.593, 16 de
de mercado para variáveis macroeconômicas.
maio de 2012, os votos do Copom passaram a ser abertos ao público.
Cabe aosAsmembros do Copom
atas das reuniões dodefinir,
Copompor sãomeio de voto no
divulgadas (maioria
prazo simples), a meta
de até seis para aapós
dias úteis taxaa Selic
e seu eventual viés. O presidente do Banco Central tem voto de qualidade e pode ainda alterar a meta
para adata
taxade sua no
Selic, realização, trazendo
mesmo sentido doainda o registro
viés, sem nominal
necessidade de dos votos proferidos
convocação de reuniãopelos membros do
extraordinária
Copom. De acordo com a Circular nº 3.593, de 16 de maio de 2012, os votos do Copom passaram a ser
do Copom, contendo a avaliação sobre o cenário macroeconômico e os principais riscos a ele
abertos ao público.
associados,
As atas das com base do
reuniões nosCopom
quais foram tomadas asnodecisões
são divulgadas prazo dede até
política monetárias.
seis dias úteis após a data de sua
realização, trazendo ainda o registro nominal dos votos proferidos pelos membros do Copom, contendo a
avaliação sobreUma vez definida
o cenário a meta para
macroeconômico a taxa
e os Selic,riscos
principais no segundo dia de reunião
a ele associados, do nos
com base Copom,
quais oforam
tomadas as decisões
Banco Central de atuapolítica monetárias.
no mercado aberto para fazer que a taxa efetiva Selic convirja para aquela
Uma vez definida a meta para a taxa Selic, no segundo dia de reunião do Copom, o Banco Central atua
meta estipulada.
no mercado aberto para fazer que a taxa efetiva Selic convirja para aquela meta estipulada.

Tabela 3: Comparação Selic meta x Selic efetiva


Tabela 3: Comparação Selic meta x Selic efetiva
Data da
Selic meta Selic efetiva
reunião do
(%aa) (%aa)
Copom
27/11/2013 10.00
10/10/2013 9.50 9.25
28/08/2013 9.00 8.90
10/07/2013 8.50 8.23
29/05/2013 8.00 7.42
17/04/2013 7.50 7.26
06/03/2013 7.25 7.16
16/01/2013 7.25 7.11
28/11/2012 7.25 7.14
10/10/2012 7.25 7.14
28/08/2012 7.50 7.39
11/07/2012 8.00 7.89
30/05/2012 8.50 8.39
18/04/2012 9.00 8.90
07/03/2012 9.75 9.65
18/01/2012 10.50 10.40
30/11/2011 11.00 10.90
19/10/2011 11.50 11.40
31/08/2011 12.00 11.90
20/07/2011 12.50 12.42
08/06/2011 12.15 12.17
20/04/2011 12.00 11.92
02/03/2011 11.75 11.67
Fonte: BCB, novembro de 2013.
Fonte: BCB, novembro de 2013.
169
2 FUNÇÃO DO BANCO CENTRAL COMO EXECUTOR DA POLÍTICA CAMBIAL

O presente texto tem por finalidade descrever os principais aspectos relativos ao funcionamento do
mercado de câmbio e apresentar a função de executor da política cambial e de administrador das reservas
internacionais desempenhadas pelos Bancos Centrais.
O economista David Ricardo, com sua teoria das vantagens comparativas, já descrevia, no século XIX,
os benefícios do comércio internacional. As trocas de bens e serviços entre as nações elevam os níveis de

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bem-estar acima do que seria possível sem o comércio e impulsionam o crescimento e o desenvolvimento
econômico, mas, para que o comércio internacional floresça, é necessário o desenvolvimento de um mercado
de câmbio, que permita converter as moedas dos países entre si.
Mercado de câmbio é, portanto, onde se converte a moeda de determinado país na moeda de outro de
forma a viabilizar as transações internacionais. É no mercado de câmbio que se forma a taxa de câmbio fruto
das condições de oferta e demanda por moedas estrangeiras. Importadores de bens e serviços e viajantes
ao exterior, por exemplo, demandam moeda estrangeira para realizar pagamentos fora do país ao passo
que exportadores, investidores não residentes e turistas em visita ao país demandam a moeda nacional. É
da interação desses agentes econômicos que se determina o preço em moeda nacional de uma unidade de
moeda estrangeira, ou seja, a taxa de câmbio.
Como argumenta Friedman (1953), a taxa de câmbio não deve ser alvo de política econômica, mas,
sim, flutuar livremente de acordo com a lei de oferta e demanda do mercado de câmbio, porém, de modo
geral, a política cambial visa manter a estabilidade, ou reduzir as flutuações do preço da moeda nacional
em relação às moedas estrangeiras, de forma a garantir um crescimento econômico sustentável, evitando
volatilidade excessiva na taxa de câmbio que comprometa a balança comercial, o balanço de pagamentos e
a competitividade das empresas domésticas.
A taxa de câmbio é uma variável importante, pois afeta, entre outras, questões como:

• valor das importações e das exportações e, dessa forma, a balança comercial;


• serviço da dívida externa de empresas e governos; e
• inflação doméstica via preços de insumos e produtos importados.

A função de executor da política cambial dos Bancos Centrais varia de acordo com as orientações de
política econômica adotadas em cada país. Essa função requer, via de regra, a aquisição e a manutenção de
ativos em moeda estrangeira e/ou ouro (divisas) para que a autoridade monetária possa atuar nos mercados de
câmbio, garantindo o poder de compra de suas moedas e assegurando o desempenho adequado das transações
de comércio exterior. Como ocorreu no Brasil na década de 80, a falta de divisas pode comprometer o
desempenho da economia pelos desequilíbrios relacionados às transações internacionais.
Os Bancos Centrais podem adotar diferentes regimes para executar suas políticas cambiais. Dornbusch
(1991) distingue dois sistemas cambiais básicos:

i. sistemas de taxas fixas (câmbio fixo), em que os Bancos Centrais compram e vendem suas
moedas a um preço fixo em termos da moeda de referência ou cesta de moedas; e
ii. sistemas de taxas flexíveis (câmbio flutuante), em que os Bancos Centrais permitem que a taxa
de câmbio se ajuste livremente para equilibrar a oferta e a demanda por moeda estrangeira.

Nas operações com câmbio fixo, o Banco Central troca moeda nacional por moeda estrangeira (ou
vice-versa) de forma a estabilizar a taxa de câmbio. Comprando ou vendendo reservas internacionais, o Banco
Central altera a base monetária. Neste regime cambial com mobilidade internacional de capital, limita-se a
capacidade da autoridade monetária de influir na quantidade de moeda. O estoque monetário passa a ser
determinado endogenamente, ajustando-se, portanto, à oferta cambial. Uma vez que o Banco Central não
controla o estoque monetário, a política monetária passa a ser passiva.
Para sustentar um regime de câmbio fixo, o Banco Central deve manter um volume adequado de
reservas para atender aos eventuais aumentos da demanda por divisas. Além disso, a manutenção de taxas
de câmbio fixas depende que: i) as taxas de inflação dos diferentes países sejam próximas; e ii) os agentes
econômicos acreditem na sustentabilidade do câmbio fixo. O Brasil, por exemplo, não conseguiu sustentar
o regime de câmbio fixo e bandas cambiais que vigorou de outubro de 1994 a janeiro de 1999. As taxas
de inflação mais elevadas que o resto do mundo e a desconfiança dos agentes econômicos no câmbio fixo
levaram o país a adotar, em janeiro de 1999, o sistema atual de câmbio flutuante.
Como visto na parte de Política Monetária e de Sistema de Metas para Inflação, o câmbio fixo pode
funcionar como âncora para conter um processo inflacionário, mas sua sustentação é complexa, dado que
as reservas cambiais são finitas sob fluxo de capitais ou ataques especulativos.
Já em um sistema de taxas de câmbio flexíveis com mobilidade internacional de capital, é a taxa de
câmbio que se ajusta às variações na quantidade de moeda. Assim, o estoque monetário é controlável pela

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autoridade monetária, o que determina que a política monetária é considerada ativa. A taxa de juros básica,
nesse regime, pode ser fixada de acordo com o objetivo principal de estabilidade de preços.
Em um regime de câmbio flutuante, o Banco Central não tem compromisso em sustentar a taxa de
câmbio. Qualquer mudança na demanda e na oferta de moeda estrangeira acomoda-se, portanto, por meio
da taxa de câmbio. O Banco Central define a política monetária sem se preocupar com determinada taxa
cambial, permitindo que ela flutue em resposta às condições econômicas vigentes.
Segundo Simonsen e Cysne (1995), teoricamente o câmbio flutuante tem três grandes atrativos:

i) assegura o equilíbrio automático do balanço de pagamentos, tornando irrelevante o volume


de reservas internacionais;
ii) transfere a determinação da taxa de câmbio para o mercado, evitando qualquer manipulação
cambial por parte do governo; e
iii) isola a política monetária das transações com o exterior, não havendo superávits nem déficits
externos que pressionem a base monetária.

Os críticos do regime de taxas flutuantes argumentam que ele não assegura qualquer estabilidade
cambial, introduzindo um significante componente de risco nas atividades empresariais e nos projetos
industriais. A competitividade da indústria doméstica pode, em última instância, depender da taxa de câmbio
determinada pelo mercado.
Na prática, os países adotam um sistema híbrido entre câmbio fixo e flutuante, que é conhecido
no mercado e nos meios acadêmicos como flutuação suja (dirty floating). Neste regime, o Banco Central
intervém, quando julgar conveniente, para amenizar a excessiva volatilidade e os movimentos especulativos
da taxa de câmbio.

2.1 Mercado de câmbio no Brasil

O Brasil experimentou diversos regimes cambiais ao longo de sua história econômica. Na década de
50 até 1968, foi adotado um sistema de taxas de câmbio múltiplas e leilões de câmbio. Entre 1968 e 1990, foi
adotado um sistema de câmbio fixo, com minidesvalorizações frequentes, seguidas por maxidesvalorizações.
Essas minidesvalorizações consistiam basicamente em ajustar a taxa de câmbio pela diferença entre as taxas
de inflação doméstica e externa da moeda de referência, no caso, o dólar norte-americano, em intervalos
de tempo. Os ajustes eram menores ou maiores em função do desempenho do saldo total do balanço de
pagamentos. No início, os ajustes eram mensais, mas já, no final da década de 80, a taxa de câmbio passou a
ser reajustada diariamente pelo Banco Central.
Com o advento do Plano Collor em 1990, as minidesvalorizações foram substituídas por um regime
de taxas flutuantes, administradas com restrições cambiais (sem livre conversibilidade). Com a implantação
do Plano Real, nos três primeiros meses, utilizou-se o regime de câmbio flutuante. A partir de outubro de
1994, é adotado o regime de câmbio fixo, que, em março de 1995, é trocado pelo regime de bandas cambiais,
abandonado em janeiro de 1999 e substituído pelo sistema atual de câmbio flutuante.
De acordo com o art. 4º, inciso V, da Lei nº 4.595/1964, compete ao Conselho Monetário Nacional,
segundo diretrizes estabelecidas pelo presidente da República, fixar as diretrizes e as normas da política
cambial, inclusive quanto à compra e à venda de ouro e quaisquer operações em Direitos Especiais de Saque
(moeda do Fundo Monetário Internacional – FMI) e em moeda estrangeira. Já o art. 11 dessa mesma Lei diz
que compete ao Banco Central do Brasil atuar para assegurar o funcionamento regular do mercado cambial,
a estabilidade relativa das taxas de câmbio e o equilíbrio no balanço de pagamentos, podendo para esse fim
comprar e vender ouro e moeda estrangeira, bem como realizar operações de crédito no exterior, inclusive as
referentes aos direitos especiais de saque, e separar os mercados de câmbio financeiro e comercial (redação
dada pelo Decreto-Lei nº 581, de 14 de maio de 1969).
A responsabilidade, portanto, pela normatização das operações de política cambial é do Conselho
Monetário Nacional, ao passo que sua execução cabe ao Banco Central com o intuito, de acordo com o
arcabouço normativo, de garantir o funcionamento regular do mercado cambial, a estabilidade relativa das
taxas de câmbio e o equilíbrio no balanço de pagamentos.
A Resolução nº 3.568, de 29 de maio de 2008, define melhor em seus art. 1°, 2° e 19 o que se entende
por mercado de câmbio no Brasil:

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[...] Art. 1º O mercado de câmbio brasileiro compreende as operações de compra e de venda
de moeda estrangeira e as operações com ouro-instrumento cambial, realizadas com instituições
autorizadas pelo Banco Central do Brasil a operar no mercado de câmbio, bem como as operações
em moeda nacional entre residentes, domiciliados ou com sede no País e residentes, domiciliados
ou com sede no exterior.
Art. 2º As autorizações para a prática de operações no mercado de câmbio podem ser concedidas
pelo Banco Central do Brasil a bancos múltiplos, bancos comerciais, caixas econômicas, bancos de
investimento, bancos de desenvolvimento, bancos de câmbio, sociedades de crédito, financiamento
e investimento, sociedades corretoras de títulos e valores mobiliários, sociedades distribuidoras
de títulos e valores mobiliários e sociedades corretoras de câmbio.
Art. 19. A taxa de câmbio é livremente pactuada entre os agentes autorizados a operar no mercado
de câmbio ou entre estes e seus clientes [...].

Como visto, não há um nível considerado ótimo/ideal para a taxa de câmbio em um regime de câmbio
flutuante, como adotado pelo país em janeiro de 1999. No contexto deste regime cambial, portanto, a taxa
de câmbio será determinada pelas condições de oferta e demanda por moeda doméstica e estrangeira no
mercado de câmbio, e a atuação do Banco Central, usando suas reservas internacionais, visa principalmente
diminuir o excesso de volatilidade na taxa de câmbio e evitar situações extremas de falta ou excesso de
liquidez de divisas no mercado interbancário.
O Banco Central também atua no mercado de câmbio a partir de 2004 com o intuito de aumentar
as reservas internacionais do país via aquisição, principalmente, do superávit do balanço de pagamentos. Tal
atuação é parte do esforço para redução da vulnerabilidade externa do país, com a consequente diminuição
da possibilidade de contágio do mercado doméstico por choques externos.
A atuação do Banco Central como executor da política cambial compreende monitoramento do
mercado de câmbio e intervenção via operações de compra e de venda de moeda estrangeira, mediante
entrega ou recebimento de moeda nacional, no mercado interbancário com instituições credenciadas para
essa finalidade, chamadas de “dealers de câmbio”. Essas operações são realizadas pelo Departamento das
Reservas Internacionais (Depin). O Banco Central pode, ainda, lançar mão das operações de compra e venda
de divisas com compromisso de recompra e dos swaps cambiais.
As operações de swap referenciadas em taxas de juros e variação cambial são instrumentos que têm
sido frequentemente usados pelo Banco Central para execução da política cambial, conforme autorização da
Resolução nº 2.939, de 26 de março de 2002. Com base nesse instrumento, a autoridade monetária oferece
à contraparte remuneração em dólar (variação cambial), em troca da remuneração em juro (taxa Selic). No
swap cambial reverso, o Banco Central oferece à contraparte remuneração em juro (taxa Selic) em troca de
remuneração em dólar (variação cambial).
O swap cambial tem como objetivo prover os agentes econômicos com hedge (proteção) cambial via
liquidação financeira em reais. Dessa forma, o Banco Central não precisa vender dólar no mercado spot
(mercado à vista com liquidação em D+2), o que reduziria suas reservas internacionais, para fornecer hedge
(proteção) cambial ao mercado. De acordo com o disposto na Circular nº 3.009, de 26 de março de 2002,
as operações de swap são conduzidas pelo Departamento de Operações do Mercado Aberto (Demab).
Com a recente alta do dólar e acentuada volatilidade na taxa de câmbio, o Banco Central anunciou
pelo Comunicado nº 24.370, de 22 de agosto de 2013, um programa de leilões de swap cambial e de venda
de dólares com compromisso de recompra. O objetivo deste programa é de prover hedge (proteção) cambial
aos agentes econômicos e liquidez ao mercado de câmbio. A vigência do programa, inicialmente prevista até
31 de dezembro de 2013, passou a ter duração, pelo menos, até 30 de junho de 2014.
Conforme o art. 1º da Carta Circular nº 3.601, de 31 de maio de 2013,

[...] As operações de compra e de venda de moeda estrangeira pelo Banco Central do Brasil, no
mercado interbancário, serão realizadas pelo Departamento das Reservas Internacionais (DEPIN)
exclusivamente com instituições credenciadas para esta finalidade (‘dealers’), nas seguintes modalidades:
I – diretamente com instituições credenciadas;
II – sistema informatizado – leilão eletrônico;
III – sistema de leilão telefônico;
IV – negociação via plataforma eletrônica [...].

O Banco Central não tem realizado recentemente operações diretas com as instituições credenciadas
(dealers). A atuação de compra e venda de moeda estrangeira tem se dado na modalidade de “sistema
informatizado – leilão eletrônico”. A “negociação via plataforma eletrônica” e “sistema de leilão telefônico”
são usadas como contingência no caso em que o “sistema de leilão eletrônico” não estiver funcionando.

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Programa de Capacitação – Banco Central do Brasil (BCB)/2014
ANALISTA – SFN: Módulo II – Unidade 4 – Executor das Políticas Monetária e Cambial e Autonomia do Bancos Centrais e do Banco Central do Brasil

90
Como as políticas cambial e monetária são correlacionadas, quando o Banco Central intervém no
mercado de câmbio, comprando ou vendendo moeda estrangeira contra a moeda nacional, ele o faz por
meio de crédito ou débito na conta de reservas bancárias das instituições financeiras. Dessa forma, no caso
da compra, ocorre expansão da base monetária e, no caso da venda, contração.
Conforme disposto no art. 2º da Carta Circular nº 3.601, de 31 de maio de 2013, os dealers de câmbio
são selecionados entre as instituições autorizadas a operar no mercado de câmbio. O credenciamento é
limitado a uma instituição por conglomerado financeiro, mediante avaliação de desempenho realizada com
base na apuração de média ponderada dos seguintes itens:

i) relacionamento com a mesa de câmbio do Banco Central do Brasil – é atribuída nota, com
peso 3,0, para avaliar a qualidade das informações prestadas à mesa de câmbio e o pronto
atendimento às demandas operacionais ou tecnológicas;
ii) participação nos leilões de câmbio e swaps cambiais – atribuída nota, com peso 2,0, com base
no volume e qualidade das propostas apresentadas;
iii) participação nas consultas para formação da PTAX – atribuída nota, com peso 2,0, de acordo
com o desvio das cotações fornecidas em relação à taxa final de cada consulta;
iv) mercado interbancário – atribuída nota, com peso 0,5, para medir o desempenho relativo
do “dealer” de acordo com o volume negociado no mercado interbancário de câmbio; e
v) importação, exportação e câmbio financeiro – atribuída nota, com peso 2,5, para medir o
desempenho relativo do “dealer” de acordo com o volume de operações negociadas no
mercado primário de câmbio.

A Circular nº 3.506, de 23 de setembro de 2010, definiu que as taxas de câmbio de compra e de venda
de dólares dos Estados Unidos, divulgadas pelo Banco Central do Brasil, denominadas taxas PTAX, são
calculadas com base em dados obtidos mediante consultas às instituições credenciadas pelo Banco Central
Unidade 4 – Executor das políticas monetária e cambial e autonomia dos bancos centrais e do
(dealers), realizadas quatro vezes ao dia de forma automática e eletrônica. AsBanco taxasCentral
PTAXdode compra e de
Brasil
venda do dia corresponderão, respectivamente, às médias aritméticas das taxas de compra e das taxas de
venda obtidas nas consultas.
Apesar de não haver normatização, na prática a PTAX, publicada pelo Banco Central diariamente
contrato,
desde 1988,que é usada
é usada comono benchmark
cálculo dasem obrigações financeirasfinanceiras
diversas transações contratuaise,de títulos
para privados eem valores
fins contábeis
denominados
governamentais em moedas estrangeiras,
e instrumentos devido à credibilidade pelo fato de ser calculada por um ente oficial,
derivativos.
o Banco Central. Outro aspecto é o uso da PTAX como uma taxa referencial, ou seja, é uma taxa fora do
controle Adas
tabela abaixo relaciona
contrapartes em umos atuais dealers
contrato, que é de câmbio.
usada no cálculo das obrigações financeiras contratuais
de títulos privados e governamentais e instrumentos derivativos.
A tabela abaixo relaciona os atuais dealers de câmbio.
Tabela 4: Relação das Instituições Dealers de câmbio do Banco Central
Tabela 4: Relação das Instituições Dealers de câmbio do Banco Central

Fonte: BCB, novembro de 2013.


Fonte: BCB, novembro de 2013.
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Programa de Capacitação – Banco Central do Brasil (BCB)/2014
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2.1.1 Administração das reservas internacionais
91
2.1.1 Administração das reservas internacionais

Basicamente, a alteração nas reservas internacionais do Banco Central ocorre por suas transações de
compra e venda de divisas no mercado de câmbio, fruto do resultado positivo do balanço de pagamentos.
O volume das reservas vem aumentando consideravelmente na última década, passando de cerca de US$
50 bilhões, em 2004, para cerca de US$ 376 bilhões, em 2013 (dados do Banco Central, de 16/12/2013).
Dentro desse contexto, o Banco Central vem atuando de forma a comprar o fluxo cambial resultado do
saldo positivo do balanço de pagamentos, conforme mostra o gráfico abaixo acerca da evolução das atuações
acumuladas desde janeiro de 2002 do Banco Central no mercado spot (mercado à vista com liquidação em
D+2) de câmbio.

Gráfico 2: Atuações
Gráfico acumuladas
2: Atuações acumuladas desde jan./2002
desde jan./2002 nono spotspot
mercado
mercado de câmbio
de câmbio

Fonte: BCB, novembro deFonte:


2013.BCB, novembro de 2013.

As reservas internacionais brutas compreendem ativos externos disponíveis, sob controle do Banco
Central, cujasAsprincipais
reservasfunções
internacionais brutas compreendem
são: i) financiar ativos externos
eventuais desequilíbrios disponíveis,
no balanço sob ii)
de pagamentos,
servircontrole
como um doseguro,
Banco proteção, um colchão
Central, cujas de liquidez,
principais funções com
são: oi) objetivo
financiardeeventuais
reduzir adesequilíbrios
vulnerabilidade da
economia nacional às flutuações externas; iii) servir como base para intervenções no mercado de câmbio,
no balanço
evitando excessivadevolatilidade
pagamentos, ii) servir
na taxa como eum
de câmbio; iv)seguro, proteção,
assegurar um colchão
o pagamento de liquidez,
de obrigações comcomo
externas
importações e serviço
o objetivo da dívida
de reduzir externa.
a vulnerabilidade da economia nacional às flutuações externas; iii) servir
A administração das reservas internacionais é de competência privativa do Banco Central do Brasil,
comocom
de acordo baseopara
art. intervenções
10, inciso VIII,no
da mercado de câmbio,
Lei nº 4.595/1964. O evitando excessiva
Senado Federal, volatilidade naestabeleceu
posteriormente, taxa
no art. 3° de sua Resolução nº 82, de 18 de dezembro de 1990, piso mínimo de reservas internacionais,
de câmbio; e iv) assegurar o pagamento de obrigações externas como importações e serviço
correspondente a quatro vezes a média de importações dos últimos doze meses.
da dívida externa.
[...] Art. 3º. Respeitados os limites do art. 2º, o desembolso de divisas destinado à satisfação de
A administração das reservas
compromissos internacionais é comprometer
externos não deverá de competência privativa
a manutenção do nível dedo Banco
reservas compatível
com as necessidades mínimas de importação.
Central do Brasil, de acordo Parágrafo
com o único. art. Para
10, osinciso
efeitos VIII, da Lei entende-se
desta Resolução, nº 4.595/1964.
por nível deOreservas
Senado de divisas
compatível com as necessidades mínima de importação, aquele que assegura recursos suficientes
Federal, posteriormente, estabeleceu no art. 3° de sua Resolução nº 82, de 18 de dezembro de
para manter a média das importações dos últimos doze meses, contados a partir da publicação
desta Resolução, durante o período mínimo de quatro meses [...].
1990, piso mínimo de reservas internacionais, correspondente a quatro vezes a média de
A gestão das reservas internacionais por parte do Banco Central do Brasil atende aos princípios
importações
de liquidez, dos últimos
segurança doze meses.
e rentabilidade, ancora-se em uma governança bem definida e os resultados são
acompanhados diariamente por sistema informatizado. O arcabouço de gestão é baseado em três pilares:
i) carteira de referência (benchmark);
[...] Art. 3º.ii) limites operacionais;
Respeitados e iii)
os limites do art. 2º, avaliação de de
o desembolso resultados. Também
divisas destinado à são
monitorados, diariamente, os satisfação
riscos dede mercado, de crédito,
compromissos de não
externos liquidez
deveráe comprometer
operacional.a manutenção do
nível de reservas compatível com as necessidades mínimas de importação.

Parágrafo único. Para os efeitos desta Resolução, entende-se por nível de reservas de
divisas compatível com as necessidades mínima de importação, aquele que assegura
recursos suficientes para manter a média das importações dos últimos doze meses,
contados a partir da publicação
Cespe/UnB desta Resolução, durante o período mínimo de
quatro meses
Programa [...].
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ANALISTA – SFN: Módulo II – Unidade 4 – Executor das Políticas Monetária e Cambial e Autonomia do Bancos Centrais e do Banco Central do Brasil

A gestão das reservas internacionais por


92 parte do Banco Central do Brasil atende aos
princípios de liquidez, segurança e rentabilidade, ancora-se em uma governança bem definida
No âmbito do Banco Central, compete à Diretoria Colegiada estabelecer os objetivos
estratégicos e os perfis de risco e retorno das reservas por meio de uma carteira de referência
apropriadade(benchmark).
2.1.2 Estrutura A reservas
governança das Diretoriainternacionais
Colegiada decide ainda os limites operacionais para os
desvios autorizados em relação a essa carteira de referência a que estão sujeitos os executores
No âmbito do Banco Central, compete à Diretoria Colegiada estabelecer os objetivos estratégicos e
da política
os perfis de riscode
e investimento, e os critérios
retorno das reservas de avaliações
por meio de resultados.
de uma carteira de referência apropriada (benchmark).
A Diretoria Colegiada decide ainda os limites operacionais para os desvios autorizados em relação a essa
carteira de referência a que estão sujeitos os executores da política de investimento, e os critérios de
avaliações de resultados.
Figura 1: Estrutura de governança das reservas internacionais
Figura 1: Estrutura de governança das reservas internacionais

Diretoria Colegiada

Diretor de Assuntos
Diretor de Política
Internacionais e de Gestão
Monetária
de Riscos Corporativos

Comitê de Estratégias

Departamento das Departamento de Riscos


Reservas Internacionais Corporativos e Referências
(Depin) Operacionais (Deris)

Fonte: BCB, novembro de 2013.


Fonte: BCB, novembro de 2013.

Pode-se dividir a gerência efetiva das reservas internacionais em dois níveis: o de longo prazo e o de
curto prazo. NoPode-se dividir
nível de longo aprazo
gerência efetiva
(gerência das reservas
passiva), internacionais
está o Deris (Departamento em dedois níveis:
Riscos o de
Corporativos
e Referências Operacionais),
longo prazo responsável
e o de curto prazo. por:
No i)nível
desenvolver
de longoos prazo
modelos de alocação
(gerência estratégica
passiva), está dos recursos;
o Deris
ii) propor ao diretor de Assuntos Internacionais e de Gestão de Riscos Corporativos e ao diretor de Política
(Departamento
Monetária a carteira de de referência
Riscos Corporativos
(benchmark), eos Referências Operacionais),
limites operacionais responsável
e os critérios por: i) de
de mensuração
resultados; iii) definir e desenvolver os modelos de risco; e iv) elaborar relatórios trimestrais de risco e de
desenvolver os modelos de alocação estratégica dos recursos; ii) propor ao diretor de
performance.
No nível de
Assuntos curto prazo (gerência
Internacionais ativa),
e de Gestão de está o comitê
Riscos de estratégias,
Corporativos presidido
e ao diretor pelo diretor
de Política de Política
Monetária
Monetária, que se reúne trimestralmente com o Departamento das Reservas Internacionais (Depin) para
propora carteira de referência
as estratégias (benchmark),
de desvios ao benchmarkos limites operacionais
com o objetivo e osde
principal critérios
melhoriade do
mensuração de das
retorno total
reservas.
179
O processo de administração das reservas está submetido a cinco tipos diferentes de controles:
dois tipos de controles internos: i) Divisão de Monitoramento (Dimon) do Departamento das Reservas
Internacionais (Depin); ii) Auditoria interna do Banco Central do Brasil (Audit); e três controles externos:
iii) Controladoria-Geral da União (CGU); iv) Tribunal de Contas da União (TCU); e v) Auditoria Externa
Independente (Price Waterhouse Coopers, no momento).

2.1.3 Política de investimentos das reservas internacionais

Desde julho de 2001, a política de investimentos das reservas internacionais visa ao hedge (proteção)
cambial do passivo externo soberano. A preocupação, considerando objetivos estratégicos de longo prazo,
é atender aos compromissos externos soberanos e reduzir a exposição do país a oscilações cambiais. A
partir de 2004, com a redução desse passivo externo e o aumento no volume das reservas internacionais,
esse hedge passou a incorporar o total da dívida externa soberana. Em setembro de 2008, com a elevação
adicional do volume das reservas, estendeu-se o conceito de hedge para o total do passivo externo registrado,
incluindo a dívida externa privada.

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93
Investimento (aplicar a parcela das reservas não comprometida com os pagamentos de curto
A tendência na política de investimentos é de elevar a diversificação em moedas e ativos. O montante
prazo).
das No internacionais
reservas passado, o Departamento
que atualmentede Reservas Internacionais
supera a dívida (Depin)
externa total contava
registrada com uma
(exceto empréstimos
intercompanhias) é da ordem de USD 70 bilhões, o que reforça a possibilidade de uma estratégia de
carteira de FX (moeda estrangeira), mas tais exposições atualmente estão englobadas e fazem
investimento de longo prazo, buscando a diversificação de investimento em termos de moedas e ativos.
parteAs
tanto da Carteira
reservas de Curto
internacionais Prazo
são quanto
divididas em da Carteira
três deque
carteiras Investimento.
cumprem papéis distintos no processo de
investimento: Carteira de Ouro, Carteira de Curto Prazo (que atende às necessidades de liquidez, inclusive

para intervençãoDistribuição
no mercado pordemoedas
câmbio)eme dez./2012:
Carteira de77,4% em dólar
Investimento norte-americano,
(aplicar a parcela das6,4%
reservas não
comprometida em comdólar
os pagamentos de curto prazo). No passado, o Departamento de Reservas
canadense; 5,2% em euro; 3,0% em dólar australiano; 3,0% em libra Internacionais
(Depin) contava com uma carteira de FX (moeda estrangeira), mas tais exposições atualmente estão englobadas
esterlina;
e fazem parte tanto 2,3% em
da Carteira de iene;
Curto1,0%
Prazoem ourodae Carteira
quanto 2,1% emdeoutras moedas, tais como
Investimento.
coroa sueca e coroa dinamarquesa. O Banco Central começou a diminuir sua
• Distribuição por moedas em dez./2012: 77,4% em dólar norte-americano, 6,4% em dólar
exposição
canadense; em
5,2%euro e aumentar
em euro; 3,0% emodólar
investimento
australiano;em ativos
3,0% denominados
em libra em em iene;
esterlina; 2,3%
1,0% em ouro e 2,1% em outras moedas, tais como coroa sueca e coroa dinamarquesa. O
dólares norte-americanos antes mesmo da eclosão da crise europeia. Observa-se
Banco Central começou a diminuir sua exposição em euro e aumentar o investimento em
uma
ativosconcentração
denominados em dólaresnorte-americanos
em dólares norte-americanosantesdevido
mesmotanto à condição
da eclosão de europeia.
da crise
Observa-se uma concentração em dólares norte-americanos devido tanto à condição de
hedge
hedge (proteção)
(proteção) cambial
cambial do
do total
total da
da dívida
dívida externa
externa quanto
quanto aa uma
uma preferência
preferência de
de risco da
Diretoria
risco Colegiada.
da Diretoria Colegiada.
Gráfico 3: Distribuição das reservas por moedas
Gráfico 3: Distribuição das reservas por moedas

Fonte: BCB, novembro


Fonte:de 2013.
BCB, novembro de 2013.

• Distribuição por ativos em dez./2012: 89,9% em títulos governamentais; 1,2% em títulos de


• Distribuição por ativos em 3,2%
organismos supranacionais; dez./2012: 89,9%
em títulos em títulos
de agências governamentais;
governamentais; 4,1%1,2%
em depósitos
em outros Bancos Centrais e organismos supranacionais; 0,4% em depósitos em bancos
em títulos de organismos supranacionais; 3,2% em títulos de agências
comerciais e 1,2% em outras classes de ativo, como ouro. Ao longo dos últimos anos, aumentou
governamentais;
a concentração em 4,1% em governamentais
títulos depósitos em outros Bancos
de menor riscoCentrais e organismos
em contrapartida à redução de
ativos mais arriscados, como os depósitos em bancos comerciais.
supranacionais; 0,4% em depósitos em bancos comerciais e 1,2% em outras
classes de ativo, como ouro. Ao longo dos últimos anos, aumentou a
concentração em títulos governamentais de menor risco em contrapartida à
redução de ativos mais arriscados, como os depósitos em bancos comerciais.

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Gráfico 4: Distribuição
Gráfico 4: Distribuiçãodas
dasreservas porativos
reservas por ativos

Fonte: BCB, novembro de 2013.

• Prazo médio de investimento em dez./2012: 2,79 anos de prazo médio de fim de


período. Observou-se uma significativa diminuição do prazo médio dos
Fonte: BCB, novembro de 2013.
investimentos em 2009 e 2010
Fonte: de 2013.da redução da duration (risco à taxa
como fruto
BCB, novembro

de médio
juros) dedas carteiras em resposta
dez./2012:ao recrudescimento da crise financeira
• • Prazo
Prazo médio de investimento
investimento em dez./2012:
em 2,79
2,79 anos de
anos de prazo
prazo médio
médio de fim
de fim de período.
de
Observou-se uma significativa diminuição
internacional nos países desenvolvidos. do prazo médio dos investimentos em 2009 e
período.
2010 como Observou-se
fruto da reduçãouma dasignificativa
duration (riscodiminuição do prazo
à taxa de juros) médioemdos
das carteiras resposta ao
recrudescimento da crise financeira internacional nos países desenvolvidos.
investimentos em 2009 e 2010 como fruto da redução da duration (risco à taxa
Gráfico 5: Distribuição das reservas por prazo médio fim de período
de juros) das5: carteiras
Gráfico emdasresposta
Distribuição ao prazo
reservas por recrudescimento
médio fim deda crise financeira
período

internacional nos países desenvolvidos.

Gráfico 5: Distribuição das reservas por prazo médio fim de período

Fonte: BCB, novembro de 2013.


Fonte: BCB, novembro de 2013.

Em fevereiro
Em fevereiro de 2012,de 2012, diversificar
visando visando diversificar
investimentosinvestimentos
e conferiremais conferir mais flexibilidade
flexibilidade ao processo de
gerenciamento
ao processo de gerenciamento das reservas, além de promover um intercâmbio mais de
das reservas, além de promover um intercâmbio mais efetivo de conhecimentos mercados
efetivo
financeiros internacionais, o Banco
Fonte: Central retomou
BCB, novembro de 2013. o Programa de Gerenciamento Externo das Reservas
(PGER),de instituído
conhecimentos de mercados
em outubro de 2000, que financeiros internacionais,
conta atualmente com cinco o Banco
gerentesCentral retomou o
externos.
Os mandatos dos gerentes externos foram implementados após um processo seletivo que levou mais
Programa de Gerenciamento Externo das Reservas (PGER), instituído em outubro de 2000,
de um ano, Emnofevereiro de 2012, visando
qual as instituições candidatasdiversificar investimentos
foram avaliadas quanto àeexpertise
conferirnamais flexibilidade
gestão de títulos de renda
que conta
fixa, ações, atualmente
commodities com cinco
e moedas, gerentes
inclusive externos.
para clientes como Bancos Centrais, fundos soberanos ou outras
ao processogovernamentais.
organizações de gerenciamento As das reservas,
instituições além de promover
contratadas um intercâmbio
são periodicamente mais
avaliadas efetivo
quanto à capacidade
182
nadetransferência
conhecimentos de mercados financeiros internacionais, o Banco Central retomou o no PGER
de tecnologia e ao desempenho apresentado.
Cespe/UnB No final de 2012, o volume alocado
era de USD 6,14 bilhões (1,63%Programado totalde Capacitação – Banco
das reservas emCentral do Brasil (BCB)/2014
dezembro de 2012).
Analista: Área I: Módulo II – Unidade 4 – Executor das políticas monetária e cambial e autonomia dos bancos centrais e do Banco Central
Programa de Gerenciamento Externo das Reservas (PGER), instituído em outubro de 2000,
do Brasil
2.1.4 Administração de riscos
que conta atualmente com cinco gerentes externos.
182 A tendência na administração das reservas é o monitoramento diário dos riscos de mercado, de
Cespe/UnB
crédito, de liquidez e operacional.
Programa de Capacitação – Banco Central do Brasil (BCB)/2014
Analista: Área I: Módulo II – Unidade 4 – Executor das políticas monetária e cambial e autonomia dos bancos centrais e do Banco Central
do Brasil

Cespe/UnB
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95
• Risco de mercado: medido pelo valor em risco (VAR), tendo por moeda-base o USD. Além
disso, utiliza-se também o teste de estresse para medir a sensibilidade das reservas a fatores
de risco. O VAR total em 2012 foi de 2,18% a.a., menor percentual para o período de 2004
a 2012. O resultado
transação, consolidado
e o outro das reservas
para a carteira como internacionais,
um todo. Cadaconsiderando-se as gerências
transação está sujeita a
interna e externa, foi de 1,85% a.a., em 2012. Existe um limite máximo de VAR diferencial
limites
entre que de
a carteira definem qualidade
referência mínima
e a carteira realdedecrédito
2% aa. (rating), volume máximo de
exposição por contraparte e prazo máximo dessa exposição. Os limites agregados para
• Risco de liquidez: além dos limites máximos de aquisição e participação de cada emissão
a carteira
de títulos na têm comodeobjetivo
carteira restringir
investimento, o aBanco
exposição de crédito
Central total.ainda o risco de liquidez,
monitora
utilizando índices de custo de liquidez que levam em consideração a diferença entre as ofertas
de compra e venda (spread bid-offer) dos títulos pertencentes às carteiras de investimento.
• Risco operacional: é mensurado não apenas qualitativamente como
• Risco de crédito: o risco de crédito do Banco Central é baixo. Os títulos que compõem as
quantitativamente.
carteiras A partir
de investimentos de 2002, criou-se
e as contrapartes um apresentam
financeiras módulo de qualidade
risco operacional
de crédito no
mínimo Aa conforme a Moody’s, uma das agências de risco que atua no mercado, qualificando
com o objetivo de alimentar um banco de dados sobre as falhas operacionais
produtos financeiros ou ativos (de empresas, governos ou países), atribuindo notas e
classificações
verificadassegundo o grau de
nas operações de risco de que
aplicação dasnão paguem
reservas suas dívidas e obrigações. Para o
internacionais.
controle do risco de crédito das instituições financeiras, foram estabelecidos dois tipos de
limites: um deles por transação, e o outro para a carteira como um todo. Cada transação
estáResultados
2.1.5 sujeita a limites que definem
da aplicação qualidade mínima de crédito (rating), volume máximo de
das reservas
exposição por contraparte e prazo máximo dessa exposição. Os limites agregados para a
carteira têm como objetivo restringir a exposição de crédito total.
A tendência registrada nos últimos cinco anos tem sido de diminuição da rentabilidade
• Risco operacional: é mensurado não apenas qualitativamente como quantitativamente. A partir
gerencial,de
em2002,
reflexo ao ambiente
criou-se de baixas
um módulo taxasoperacional
de risco de juros nocom
mercado internacional.
o objetivo de alimentar um banco
de dados sobre as falhas operacionais verificadas nas operações de aplicação das reservas
O internacionais.
Banco Central calcula a rentabilidade das reservas, utilizando sistema gerencial
desenvolvido internamente, o qual permite a avaliação das carteiras em base diária, seguindo padrão
2.1.5 Resultados da aplicação das reservas
internacional, possibilitando também o acompanhamento das estratégias de investimento em
A tendência registrada nos últimos cinco anos tem sido de diminuição da rentabilidade gerencial, em
mercados distintos. O dólar norte-americano é a moeda base para apuração dos resultados.
reflexo ao ambiente de baixas taxas de juros no mercado internacional.
O Banco A rentabilidade gerencial
Central calcula em 2012 foi
a rentabilidade dasde 1,84%. O
reservas, resultadosistema
utilizando consolidado das reservas,
gerencial desenvolvido
internamente, o qual permite a avaliação das carteiras em base diária, seguindo padrão internacional,
considerando-se
possibilitando também oasacompanhamento
gerências internadas
e externa, foide
estratégias deinvestimento
1,85% (sendo emque a rentabilidade
mercados dodólar
distintos. O
norte-americano
PGER foi de é a2,40%).
moeda base para apuração dos resultados.
A rentabilidade gerencial em 2012 foi de 1,84%. O resultado consolidado das reservas, considerando-se
as gerências interna e externa, foi de 1,85% (sendo que a rentabilidade do PGER foi de 2,40%).
Gráfico 6: Rentabilidade gerencial das reservas
Gráfico 6: Rentabilidade gerencial das reservas

Fonte: BCB, novembro de 2013.


Fonte: BCB, novembro de 2013.

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Analista: Área I: Módulo II – Unidade 4 – Executor das políticas monetária e cambial e autonomia dos bancos centrais e do Banco Central
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do Brasil
ANALISTA – SFN: Módulo II – Unidade 4 – Executor das Políticas Monetária e Cambial e Autonomia do Bancos Centrais e do Banco Central do Brasil

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de Política Monetária (COPOM), divulga seu novo Regulamento e fixa taxas de acréscimo à Taxa SELIC, para as
operações de Redesconto do Banco Central. Banco Central do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, 8 fev. 2000.

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Banco Central do Brasil. Banco Central do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, 26 mar. 2002.

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UNIDADE 5 – MODELOS DE BANCOS CENTRAIS EM OUTROS PAÍSES E ORGANISMOS E
INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS INTERNACIONAIS

INTRODUÇÃO

Esta unidade aborda, inicialmente, modelos de três bancos centrais, selecionados basicamente em
função da sua representatividade no cenário econômico internacional, pois representam as três maiores
economias do mundo. Nesse sentido, o Federal Reserve System (FED) é o banco central da maior economia
mundial, o Banco Central da China (Banco Popular da China) também foi considerado, tendo em vista suas
características que decorrem da organização econômica chinesa, e o Banco Central Europeu, também por
ser a primeira instituição supranacional do gênero. Em relação às instituições financeiras consideradas, todas
têm relacionamento próximo com o Banco Central do Brasil (BCB).

1 MODELOS DE BANCOS CENTRAIS

De acordo com De Grauwe (2000), os bancos centrais podem ser classificados, quanto aos seus
objetivos e desenho institucional, em dois tipos: o alemão e o anglo-francês.
No modelo anglo-francês, o banco central persegue vários objetivos: estabilidade de preços, estabilização
dos ciclos econômicos, pleno emprego e estabilidade do sistema financeiro. A estabilidade de preços é apenas
um dos objetivos, sem necessariamente ter prioridade em relação aos outros. Institucionalmente, este
modelo está associado a uma menor autonomia do banco central em relação ao governo e ao parlamento.
Por exemplo, decisões sobre política monetária podem precisar de autorização formal do governo, tornando
o banco central um mero executor.
No tipo alemão, o banco central persegue a estabilidade de preços, geralmente com prioridade em
relação aos demais objetivos, se houverem. Este modelo está associado a bancos centrais com maior autonomia.
Decisões sobre taxas de juros, por exemplo, podem ser tomadas sem necessidade de autorização do governo
ou do parlamento. Um banco central desse tipo está mais isolado de outras dimensões da política econômica
e, consequentemente, possui maior liberdade para perseguir seu principal objetivo.
Os três bancos centrais descritos neste trabalho podem ser classificados segundo estes tipos. O
Federal Reserve System pode ser considerado um banco central do tipo anglo-francês, pois a estabilidade de
preços não tem prioridade destacada em relação a outros objetivos, como pleno emprego e estabilidade do
crescimento do produto. O Banco Central da China tem muito pouca autonomia em relação ao governo.
Vários setores da economia estão representados no órgão executor de política monetária. Além disso, a
centralização política do país e a capacidade de intervenção direta nos mercados faz que o banco central seja
apenas um dos instrumentos da política econômica como um todo. Já o Banco Central Europeu é facilmente
classificado como um banco do tipo alemão, pois a estabilidade de preços tem prioridade máxima em relação
a outros objetivos, e sua organização o deixa distante de intervenções políticas, especialmente pelo seu
caráter de instituição supranacional.

1.1 Federal Reserve System (FED)20

1.1.1 Aspectos históricos

O FED foi criado em 23 de dezembro de 1913 pelo Federal Reserve Act, como um sistema de bancos
centrais, composto por 12 bancos (Federal Reserve Banks) com jurisdições específicas e com capital subscrito
por bancos privados. Os Federal Reserve Banks, comandados cada um por um President, respondem a um órgão
federal central sediado na capital, Washington, DC, o Federal Reserve Board. Ao integrar o sistema, adquiriam
o monopólio de emissão de dinheiro, além de atuar como “banco dos bancos” ao promover operações de
redesconto e empréstimos de última instância para os bancos integrantes do sistema, além de servir de
depositário de reservas para os demais bancos. Na prática, o FED constituiu-se como um sistema misto, no
qual as funções de autoridade monetária eram partilhadas entre representantes de bancos privados e uma
supervisão governamental.

20 Esta seção é baseada em Federal Reserve System (2013), Mishkin (2001), Estrela, Rosek, Orsi, Schneider, (2008) e Saddi (1997).

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100
O sistema mostrou-se pouco efetivo para enfrentar situações decorrentes principalmente da grande
depressão iniciada em 1929-1930, basicamente pelo controle exercido pelo Secretário do Tesouro. Em
consequência, o Banking Act, de 1935, concedeu maior autonomia ao Conselho, retirou os mandatos do
secretário do Tesouro e do Comptroller of the Currency e criou o Federal Open Market Committee (FOMC), que
se tornou o mais importante órgão de política monetária. O Banking Act também aumentou a autonomia do
FED ao expandir a duração dos mandatos dos diretores, de 8 para 14 anos, e transferir poder dos Federal
Reserve Banks regionais para o Federal Reserve Board. Em 1951, o Treasury Fed Accord reestabeleceu a
autonomia do FED, parcialmente suspensa durante a Segunda Guerra Mundial, ao desobrigá-lo de financiar o
Tesouro pela compra de títulos emitidos por este, limitando fortemente a capacidade do Tesouro de impactar
unilateralmente a política monetária.
O Depository Institutions Deregulation and Monetary Control Act (DIDMCA), de 1980, eliminou quaisquer
distinções regulatórias do FED sobre bancos associados e não associados. O DIDMCA também promoveu
medidas liberalizantes como a permissão de fusão entre os bancos, o fim do teto para as taxas de juros e a
permissão para que cooperativas de crédito e instituições de poupança e empréstimos oferecessem contas
correntes a seus clientes.

1.1.2 Organização

O FED está estruturado de forma descentralizada por meio dos Federal Reserve Banks regionais. Os
principais órgãos componentes do FED são: a Junta de Governadores, o Federal Open Market Committee
(FOMC), os 12 Federal Reserve Banks regionais e os bancos-membros.

1.1.3 Junta de Governadores

A Junta de Governadores é constituída por sete membros indicados pelo presidente da República,
aprovados pelo Senado Federal e detentores de um mandato de 14 anos, sem possibilidade de recondução.
O chairman do FED e o vice são indicados pelo presidente da República, entre os membros do Federal
Reserve Board, para um mandato de quatro anos, com possibilidade de recondução. Normalmente, a Junta se
reúne várias vezes por semana, sendo que, ocasionalmente, as reuniões são abertas ao público. Sua principal
responsabilidade é formular a política monetária, por meio da exigência de depósitos compulsórios dos
bancos e do estabelecimento da taxa de redesconto. Esta última função é dividida com os Federal Reserve
Banks regionais. Outra responsabilidade da Junta diz respeito à supervisão e à regulação do sistema bancário,
especialmente pelo controle da oferta de crédito.

1.1.4 FOMC

O FOMC é constituído por 12 membros, sendo sete do Federal Reserve Board e cinco entre os 12
presidentes dos Federal Reserve Banks regionais, sendo o de Nova Iorque membro permanente, enquanto os
demais têm mandatos de um ano, em base rotativa.Tradicionalmente o chairman do FOMC é eleito o chairman
da Junta de Governadores, enquanto o presidente do Federal Reserve Bank de Nova Iorque é eleito vice-
chairman. A função básica do FOMC é executar a política monetária, por meio do estabelecimento da taxa
de juros no mercado interbancário e da supervisão das operações de mercado aberto e do mercado cambial.
São realizadas oito reuniões ao ano com participação restrita pela natureza confidencial das informações
discutidas. Os assuntos tratados são inflação, emprego, produção, construção, crédito, agregados monetários,
taxas de juros, investimento, política fiscal e mercado cambial. Após as discussões, cada membro do FOMC
expressa sua visão sobre o estado da economia e as perspectivas sobre a direção apropriada para a política
monetária, fazendo, a seguir, sua recomendação de política. Finalmente, o Comitê deve chegar a um consenso
sobre a política a ser tomada. O FOMC publica anualmente oito edições do “livro bege”, que antecede as
suas reuniões, e é um documento de pesquisa produzido pelos Federal Reserve Banks, a partir de sondagens
junto às empresas e às instituições financeiras sobre o estado da economia em cada distrito.

1.1.5 Federal Reserve Banks

Os Federal Reserve Banks, constituídos com o objetivo de descentralizar as operações do FED, atuam
sob a supervisão da Junta de Governadores. Cada um tem nove diretores. Os 12 Federal Reserve Banks estão

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Unidade 5 – Modelos de bancos centrais em outros países e organismos e instituições financeiras
internacionais
localizados em Boston, Nova Iorque, Filadélfia, Cleveland, Richmond, Atlanta, Chicago, St. Louis, Minneapolis,
Kansas City, Dallas e São Francisco. Cada um é responsável por um distrito, cujo tamanho foi estabelecido
em proporção à distribuição da população americana quando o FED foi criado.
MapaMapa
1: Distribuição
1: Distribuiçãoregional doFED
regional do FED

Fonte: FED.
Fonte: FED.

Os Federal
Os Federal ReserveReserve Banks
Banks são são instituições
instituições sem finssem fins lucrativos,
lucrativos, mas gerammasreceita
geramporreceita
meiopordos juros
ganhos
meiopor
dosmeio da ganhos
juros aquisição
pordemeio
títulos
dado governo,de
aquisição notítulos
âmbitododagoverno,
execuçãonodaâmbito
políticada
monetária,
execuçãoeda por meio
da provisão de serviços financeiros às instituições bancárias. Na execução da política monetária, os Federal
política
Reserve Banksmonetária,
cumprem eo por
papelmeio da provisão
de controlar de serviços
os agregados financeiros
monetários e o às instituições
crédito, bancárias.
principalmente por meio
da fixação da taxa de redesconto bancário, que deve ser aprovada pela Junta de Governadores. Além disso,
Na execução da política monetária, os Federal Reserve Banks cumprem o papel de controlar
os Federal Reserve Banks prestam serviços como depositários de contas do Tesouro relacionadas a seguro
os agregados
desemprego, monetários
impostos e o crédito,
etc., distribuição principalmente
de numerário, por meio
compensação da fixação
de cheques, da taxadedefundos e
transferências
operações de câmaras de compensação. O Federal Reserve Bank de Nova Iorque tem papel especial no FED
em redesconto bancário,
relação aos demais, que
pois, emdeve ser aprovada
seu distrito, pela Junta
estão sediados de Governadores.
os maiores Além do
bancos comerciais disso,
país,os
além das
mesas de operações
Federal Reservede Banks
títulos eprestam
de câmbioserviços
do FED. Destaca-se ainda que ele
como depositários de é contas
o único doFederal Reserve Bank
Tesouro
membro do Bank for International Settlements (BIS).
relacionadas a seguro desemprego, impostos etc., distribuição de numerário, compensação de
1.1.6 Bancos-membros
cheques, transferências de fundos e operações de câmaras de compensação. O Federal
Reserve Bank de Nova do
Um banco-membro Iorque
FEDtem papelinstituição
é uma especial no FED em
privada querelação
detém aos demais, pois,
participação em seu do seu
no capital
respectivo Federal Reserve Bank regional. Detém ações que dão direito à parte dos lucros do FED, mas que,
distrito, estãodesediados
diferentemente os empresas,
ações de maiores bancos comerciais
não podem do país, além das
ser transacionadas mesas
e nem de operações
garantem poder de
decisório
proporcional. Aproximadamente
títulos e de câmbio do FED. 38%Destaca-se
dos 8.039 bancos comerciais
ainda que ele é oamericanos são membros
único Federal Reserve do FED.
Bank
membro do Bank for International Settlements (BIS).

1.1.6 Bancos-membros

Um banco-membro do FED é uma instituição privada que detém participação no


capital do seu respectivo Federal Reserve Bank regional. Detém ações que dão direito à parte
dos lucros do FED, mas que, diferentemente de ações de empresas, não podem ser

203
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102
8.039 bancos comerciais americanos são membros do FED.

Organograma 1:1:Organização
Organograma Organização eefuncionamento
funcionamento do FED
do FED

Senado Presidente

aprova nomeia

elege 3
diretores para
nomeia 3
cada banco
Junta de diretores para Federal Reserve Bancos
cada banco
Governadores Banks paga
Membros
dividendos

FOMC

Instrumentos
de política
Depósito Operações de Taxa de monetária
Compulsório Mercado Aberto Redesconto

Fonte: Mishkin (2001). Fonte: Mishkin (2001).

1.1.7 Objetivos e funções


1.1.7 Objetivos e funções
O FED persegue dois objetivos básicos: estabilidade de preços e pleno emprego.
O FED tem como funções:
i. O FED persegue
regular a ofertadois objetivos
de crédito na básicos:
economia; estabilidade de preços e pleno emprego.
ii. executar, em conjunto com o Tesouro Nacional, a política cambial;
O FED tem como funções:
iii. atuar como agente fiscal do governo, processando os pagamentos do Tesouro Nacional,
i. administrando
regular a oferta de créditocom
as transações na economia;
títulos públicos, inclusive pagamento dos juros da dívida
pública, e efetuar as transações internacionais;
ii.iv. manter
executar, em conjunto
a estabilidade com o Tesouro
do sistema financeiro;Nacional, a política cambial;
iii.v. proteger
atuar os direitos
como dosfiscal
agente consumidores
do governo,e promover o desenvolvimento
processando os pagamentosdado
comunidade.
Tesouro

Apesar de osNacional, administrando


Federal Reserve as transações com
Banks supervisionarem títulos públicos,
os bancos inclusive
associados, pagamento pela
a responsabilidade
supervisão do sistema financeiro
dos juros ao Officee of
cabe pública,
da dívida the Comptroller
efetuar of the
as transações Currency (OCC), órgão ligado ao
internacionais;
Tesouro, assim como o Federal Deposit Insurance Company – FDIC, responsável pelo sistema de seguro de
iv.duas instituições
depósito. As manter a estabilidade do sistema
são autônomas financeiro;
em relação ao FED.
v. proteger os direitos dos consumidores e promover o desenvolvimento da comunidade.
1.1.8 Independência
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O FED é autônomo
Analista: emII –relação
Área I: Módulo Unidade 5aos Poderes
– Modelos Legislativo
de bancos centrais emeoutros
Executivo, porém eseu
países e organismos presidente
instituições participa de
financeiras
reuniões regulares com o Secretário do Tesouro, nas quais são discutidas as políticas monetária, orçamentária
internacionais
e financeira. Cabe ao Executivo indicar o presidente do FED e os demais membros da diretoria, sujeitos a
aprovação do Senado. O presidente do FED reporta-se semestralmente ao Congresso acerca da política
monetária por ele executada, podendo o Poder Legislativo exigir resultados dessa política e alterações, se
necessário. O FED apenas pode adquirir títulos públicos no mercado aberto como instrumento de política
monetária, sendo que não lhe é permitido financiar o Tesouro.

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103
1.1.9 Accountability

A accountability é um elemento cada vez mais importante em um processo democrático, no qual


representantes de instituições públicas estão obrigados a “prestar contas” para a sociedade sobre o
desempenho de suas funções. A accountability é importante elemento de contrapartida da independência
dos bancos centrais. No caso do FED, uma medida de accountability é a frequência de comparecimento do
chairman no Congresso. Essa frequência tem aumentado nos últimos anos, também em razão da crise de
2008, tendo o FED sido convocado frequentemente para dar explicações sobre sua atuação. Segundo o
Federal Reserve Reform Act, de 1977, o FED é obrigado a apresentar anualmente um relatório ao Congresso
sobre sua atuação como autoridade monetária. Todas as medidas tomadas pelo FOMC em suas reuniões,
bem como as motivações das suas decisões, devem ser registradas e tornadas públicas. Além disso, a Junta
de Governadores, os Federal Reserve Banks e os bancos-membros do FED se submetem a auditorias externas
regulares que, em razão da autonomia do FED, não cobrem as decisões de política monetária, que incluem as
decisões sobre a taxa de redesconto, operações de mercado aberto e demais decisões tomadas pelo FOMC.

1.1.10 O FED e a crise do subprime

Durante a década de 2000, como resultado de taxas de juros muito baixas e expansão no acesso ao
crédito, os preços dos imóveis registraram acentuada elevação nos Estados Unidos até alcançar seu pico em
2006. Com a queda nos preços dos imóveis, o valor das hipotecas situava-se frequentemente acima dos valores
de mercado dos imóveis, enfraquecendo as garantias. O número de proprietários de imóveis inadimplentes
passou a crescer acentuadamente, aumentando muito o risco dos títulos lastreados em hipotecas (subprimes)
e provocando fortes perdas às instituições financeiras.
No outono de 2008, duas grandes instituições financeiras faliram: o banco de investimentos Lehman
Brothers e a instituição de poupança e empréstimo Washington Mutual. Pela extensa rede de conexões financeiras,
as falências podem provocar perdas em série, que contaminam todo o sistema financeiro, principalmente pela
crise de confiança sobre a liquidez e a solvência das instituições. Com isso, o mercado de crédito encolheu
significativamente, no mercado interbancário e no varejo, o que provocou forte queda na demanda por bens
duráveis, especialmente automóveis, imóveis e investimento. Inevitavelmente, o país entrou em recessão.
Diante desse quadro, o FED promoveu uma expansão no crédito de curto prazo às instituições financeiras,
utilizando esquemas similares ao redesconto, ao flexibilizar as condições sob as quais os bancos podiam
tomar recursos emprestados junto a ele. Outros empréstimos foram feitos ao JP Morgan Chase e para o
American International Group (AIG). Na primavera de 2009, o FED procedeu a um teste de stress sobre os 19
maiores bancos do país, criando um programa de ajuda com recursos federais para aquelas instituições que
apresentassem dificuldades: Troubled Asset Relief Program. Com o aprofundamento da crise e para tentar
estimular a atividade econômica, o FOMC reduziu as taxas de juros dos fundos federais para próximo de
zero em dezembro de 2008, a mais baixa taxa em 50 anos. Além disso, o FED adotou instrumentos de política
monetária menos convencionais, como a autorização de aquisição de títulos lastreados em hipotecas no
valor de US$ 1,25 trilhão por parte de agências de empréstimos imobiliários, como a Freddie Mac and Fannie
Mae, o que resultou na queda das taxas de juros desses empréstimos.

2 BANCO CENTRAL DA CHINA21

2.1 Aspectos históricos

A instituição que atualmente representa as funções de banco central na China atualmente é denominada
Banco Popular da China (BPC). O BPC foi fundado em 1948, a partir da fusão de três bancos: Banco Huabei,
Banco Beihai e Banco Agrícola Xibei. Entre 1950 e 1978, o BPC foi o único banco existente no país, exercendo
simultaneamente operações de banco comercial e de banco central, em um contexto de economia de
planejamento central. Até 1985, todos os bancos chineses eram estatais. Como resultado da transição parcial
de uma economia socialista para uma economia de mercado, o BPC ganhou status definitivo de banco central
somente em 1995.

21 Esta seção é baseada em Estrela, Rosek, Orsi, Schneider (2008).

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104
A China iniciou uma reforma monetária e financeira em 1998, que promoveu a unificação cambial, a
liberalização parcial do mercado de moeda estrangeira e o aumento da conversibilidade da moeda chinesa,
o Renminbi Yuan. Desde março de 2003, foram retiradas do BPC as atribuições de supervisão do sistema
financeiro do país, passando essa competência a ser da Comissão de Regulação Bancária.
Em julho de 2005, embora não fossem atendidas as pressões internacionais para promover a flexibilização
da moeda chinesa, a taxa de câmbio do Renminbi Yuan foi desatrelada do dólar americano e vinculada a uma
cesta de moedas, o que trouxe maior flexibilidade cambial, sob um regime de bandas de taxa de câmbio. Em
2013, o Renminbi Yuan tornou-se a oitava moeda mais transacionada nos mercados internacionais de câmbio.

2.2 Organização

O BPC é formalmente dependente, pois é vinculado hierarquicamente ao vice-premier. Sua sede fica
em Pequim e há 11 escritórios regionais, além de 303 sub-representações municipais. Também conta com seis
escritórios de representação fora do país. A política monetária é executada sob o comando do Conselho de
Estado, embora livre de intervenções de outras instâncias de governo. Assim, o BPC submete suas decisões
de taxa de juros, oferta de moeda e taxa de câmbio à aprovação prévia do Conselho de Estado. No entanto
o BPC está legalmente proibido de financiar o Tesouro.
O presidente do BPC é indicado pelo Premier e aprovado pelo Congresso Popular Nacional. Após a
aprovação, ele é nomeado, de ofício, para o cargo pelo presidente da República. Pode ser substituído a qualquer
momento, também de ofício, pelo presidente. A mesma regra de nomeação e substituição vale para os vice-
presidentes do BPC. A alta gerência do BPC é composta por um presidente, responsável pela administração
geral da instituição, e vice-presidentes, responsáveis pela gestão de áreas específicas.
O BPC possui um Comitê de Política Monetária, com responsabilidades, composição e procedimentos
operacionais definidos pelo Conselho de Estado. É uma instância consultiva na elaboração da política monetária
pelo BPC, exercendo sua assessoria com base em pesquisas macroeconômicas. Seus componentes são:

• presidente e dois vice-presidentes do BPC;


• secretário-geral adjunto do Conselho de Estado;
• vice-ministro da Comissão Estatal de Reforma e Desenvolvimento;
• vice-ministro da fazenda;
• gerente da Administração Estatal de Moeda Estrangeira;
• presidente da Comissão de Regulação Bancária;
• presidente da Comissão de Regulação de Seguros;
• comissário do Bureau Nacional de Estatística;
• presidente da Associação de Bancos da China; e
• um especialista acadêmico.

2.3 Funções

As principais funções do BPC são:

i. emitir e fazer as cumprir normas;


ii. formular e implementar a política monetária;
iii. prover a base monetária emitindo e administrando a circulação do Renminbi Yuan;
iv. regular o mercado de empréstimo interbancário e o mercado interbancário de bônus;
v. administrar a taxa de câmbio e regular o mercado cambial interbancário;
vi. regular o mercado de ouro;
vii. administrar as reservas internacionais, em moeda e em ouro;
viii. gerenciar os recursos do tesouro do governo;
ix. gerenciar o sistema de pagamentos e compensações;
x. organizar o combate à lavagem de dinheiro no sistema financeiro;
xi. produzir as estatísticas financeiras, os estudos, as análises e as previsões;
xii. participar de atividades financeiras internacionais na qualidade de banco central; e
xiii. realizar outras funções estabelecidas pelo Conselho de Estado.

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105
3 BANCO CENTRAL EUROPEU (BCE)22

O BCE foi instituído em junho de 1998 com sede em Frankfurt, Alemanha. É a instituição responsável
pela política monetária da zona do euro. O BCE integra o Sistema Europeu de Bancos Centrais (SEBC),
também composto pelos bancos centrais nacionais dos países da União Europeia (BCNs), inclusive aqueles que
não adotaram o euro como moeda. O BCE adota atualmente um regime de metas de inflação, no qual a taxa
de inflação deve ficar abaixo de 2% ao ano, medida por um índice resultante de uma ponderação de índices
de preços nacionais. A inflação do euro ficou acima dessa meta somente em 2008 (3,28%) e 2011 (2,72%).

Mapa 2: Mapa da zona do euro


Mapa 2: Mapa da zona do euro

Fonte: Institute for the Study of Civil Society


Fonte: Institute for the Study of Civil Society

3.1 Antecedentes
3.1 Antecedentes
O BCE é fruto de um processo de união econômica que se transformou em união monetária. O Tratado
de Maastricht (TM), assinado em 7/2/1992 e entrando em vigor em 2/11/1993, foi uma emenda ao Tratado
de Roma de O1957. BCESubstituiu
é fruto dea denominação
um processoComunidade Europeia por
de união econômica que União Europeia. Aem
se transformou ratificação
união do
TM pelos parlamentos nacionais foi difícil, pois, em razão do alto desemprego na época, os eleitores ficaram
monetária.
incertos sobre a Oefetividade
Tratado de da Maastricht (TM),resultando
União Europeia, assinado em
em aprovações
7/2/1992 e por
entrando empequenas.
margens vigor emO TM
criou a União Econômica e Monetária (UME), que culminou com a introdução da moeda comum, o euro, e a
2/11/1993, foi uma emenda ao Tratado de Roma de 1957. Substituiu a denominação
criação gradual do BCE. O artigo 121 do TM estabeleceu três estágios de implantação da nova moeda, num
Comunidade
processo denominado Europeia por União para
de convergência Europeia.
o euro.A ratificação do TM pelos parlamentos nacionais
No primeiro estágio, que já estava em andamento mesmo antes do TM, os países deveriam abolir
foi difícil,
quaisquer pois,ao
restrições emfluxo
razão
de do alto dentro
capital desemprego na época,
do bloco. os eleitores
A cooperação ficaram
monetária incertos
entre sobreCentrais
os Bancos a
Nacionais foi reforçada
efetividade e ainda
da União era permitido
Europeia, algum
resultando em realinhamento
aprovações porentre as moedas.
margens Este O
pequenas. estágio durou até
TM criou
31 de dezembro de 1993.
aNo
União Econômica
segundo estágio, euma
Monetária (UME), que
nova instituição culminou
foi criada: com a introdução
o Instituto MonetáriodaEuropeu.
moeda comum,
Operou oapenas
durante este estágio, sendo, na prática, o precursor do BCE. Suas principais atribuições eram reforçar a
euro, e a criação gradual do BCE. O artigo 121 do TM estabeleceu três estágios de
cooperação entre os bancos centrais e a coordenação das políticas monetárias e preparar o estabelecimento
implantação
do Sistema Europeu da de
nova moeda,
Bancos num processo
Centrais. denominado
Este estágio durou atéde31convergência
de dezembropara o euro.
de 1998.
No primeiro estágio, que já estava em andamento mesmo antes do TM, os países
22 Esta seção é baseada em De Grauwe (2000) e Saddi (1997).
deveriam abolir quaisquer restrições ao fluxo de capital dentro do bloco. A cooperação
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monetária entre os Bancos Centrais
Programa Nacionais
de Capacitação foi reforçada
– Banco Central e ainda era permitido algum
do Brasil (BCB)/2014
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realinhamento entre as moedas. Este estágio durou até 31 de dezembro de 1993.
106

210 Cespe/UnB
No terceiro estágio, as taxas de câmbio entre as moedas nacionais deveriam se tornar irrevogavelmente
fixas. Neste estágio, o euro passou a existir, porém somente na forma escritural, e o BCE começou a operar.
A transição para o estágio final de implantação da moeda única envolveu critérios de convergência para
países do bloco que adotassem o euro, que se baseavam em:

i. estabilidade dos preços: o país não poderia ter uma taxa de inflação que superasse em mais
de 1,5 ponto percentual (p.p.) a taxa de inflação média apurada a partir dos três melhores
resultados, no período mínimo de um ano;
ii. desempenho fiscal, especificamente dívida e déficits públicos: os critérios estabelecidos foram
de 3% para a relação entre déficit orçamentário programado ou verificado e o produto interno
bruto (PIB) a preços de mercado (PIBpm) e de 60% para a relação entre a dívida pública e
o PIBpm;
iii. taxas de juro a longo prazo: a taxa média de longo prazo de cada país não poderia ser superior
em mais de 2 p.p. à dos três países que tivessem menor inflação; e
iv. estabilidade das taxas de câmbio: deveriam ser respeitadas as margens de flutuação previstas
na UME (em torno de 2,25%) pelo período de dois anos.

O terceiro estágio foi finalizado com a entrada em circulação do euro, em primeiro de janeiro de 2002.
Até primeiro de julho do mesmo ano, houve um período de transição, no qual foi permitida a coexistência
das moedas nacionais e do euro. A partir desta data, as moedas nacionais dos países que aderiram ao euro
foram extintas.

3.2 Organização

O BCE é constituído por um Comitê Executivo, um Conselho de Governo e um Conselho Geral.


Comitê Executivo: formado por um presidente, um vice-presidente e por quatro outros conselheiros,
com mandato de oito anos não renováveis. Todos os membros são indicados em comum acordo entre os
chefes de Estado dos países da zona do euro. O Comitê é o responsável por implementar a política monetária
definida pelo Conselho de Governo e pela gestão do BCE, transmitindo as instruções aos BCNs.
Conselho de Governo: formado pelos seis membros do Comitê Executivo e pelos presidentes dos
bancos centrais dos países da área do euro. Compete-lhe formular a política monetária e fixar a meta de
inflação na zona do euro. Reúne-se duas vezes por mês: na primeira, procede à uma avaliação da conjuntura
econômica e monetária, e na segunda, discute questões relacionadas a outras tarefas e responsabilidades
dos BCNs e do Sistema Europeu de Bancos Centrais.
Conselho Geral: formado pelo presidente e pelo vice-presidente do BCE (Comitê Executivo) e
pelos presidentes dos BCNs que integram a União Europeia, inclusive aqueles que não adotaram o euro
como moeda. Os demais membros do Comitê Executivo – o presidente do Conselho da União Europeia e
um membro da Comissão Europeia – podem participar das reuniões, mas sem direito a voto. Este Conselho
atua na interligação e na coordenação das ações entre a área que adotou o euro e a que ainda não o adotou,
presta consultoria ao BCE, prepara a fixação ao euro das taxas cambiais das moedas de países que ainda não
o adotaram. É ainda responsável pela coleta de dados e elaboração de relatórios para o BCE.

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Organograma 2: Estrutura organizacional do Sistema Europeu de Bancos Centrais

Sistema Europeu de Bancos Centrais

BCE BCN 1 BCN 2 BCN 3 ..... BCN 17

Conselho de
Governo

BCE

BCN 1 BCN 2 BCN 3 ..... BCN 17

Fonte: De Grauwe (2000).

3.3 Funções

As principais funções do BCE, especificadas em seu estatuto, são:

i. autorizar a emissão de notas na zona do euro;


ii. definir e implementar a política monetária na área do euro;
iii. conduzir as operações cambiais;
iv. administrar as reservas internacionais dos países-membros;
v. operar o sistema de pagamentos da zona do euro; e
vi. emitir as cédulas de euro e aprovar o volume de emissão de moedas metálicas de euro, a
cargo dos países-membros.

3.4 Composição do capital

O capital do BCE atingiu aproximadamente 10,8 bilhões de euros em julho de 2013, provindo dos
BCNs dos Estados-Membros da União Europeia, proporcional ao PIB e à população de cada país participante.

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108
população de cada país participante.
população de cada país participante.

Tabela 1: Participação
Tabela Participação dos BCN pertencentes à zona do euro
Tabela 1: 1:
Participação dos BCN
dos BCNpertencentes
pertencentesà zona do euro
à zona do euro
Participação no
Banco central nacional Participação no
Banco central nacional capital (%)
capital (%)
Nationale Bank van België/Banque Nationale de Belgique (Bélgica) 2,41
Nationale Bank van België/Banque Nationale de Belgique (Bélgica) 2,41
Deutsche Bundesbank (Alemanha) 18,76
Deutsche Bundesbank (Alemanha) 18,76
Eesti Pank (Estônia) 0,17
Eesti Pank (Estônia) 0,17
Banc Ceannais na hÉireann/Central Bank of Ireland (Irlanda) 1,11
Banc Ceannais na hÉireann/Central Bank of Ireland (Irlanda) 1,11
Bank of Greece (Grécia) 1,94
Bank of Greece (Grécia) 1,94
Banco de España (Espanha) 8,25
Banco de España (Espanha) 8,25
Banque de France (França) 14,13
Banque de France (França) 14,13
Banca d’Italia (Itália) 12,45
Banca d’Italia (Itália) 12,45
Central Bank of Cyprus (Chipre) 0,13
Central Bank of Cyprus (Chipre) 0,13
Banque Centrale du Luxembourg (Luxemburgo) 0,17
Banque Centrale du Luxembourg (Luxemburgo) 0,17
Bank Ċentrali ta’ Malta/Central Bank of Malta (Malta) 0,06
Bank Ċentrali ta’ Malta/Central Bank of Malta (Malta) 0,06
De Nederlandsche Bank (Países Baixos) 3,96
De Nederlandsche Bank (Países Baixos) 3,96
Oesterreichische Nationalbank (Áustria) 1,93
Oesterreichische Nationalbank (Áustria) 1,93
Banco de Portugal (Portugal) 1,76
Banco de Portugal (Portugal) 1,76
Banka Slovenije (Eslovênia) 0,32
Banka Slovenije (Eslovênia) 0,32
Národná banka Slovenska (Eslováquia) 0,68
Národná banka Slovenska (Eslováquia) 0,68
Suomen Pankki – Finlands Bank (Finlândia) 1,24
Suomen Pankki – Finlands Bank (Finlândia) 1,24
Total 69,56
Total 69,56
Fonte: BCE.
Fonte: BCE.
Fonte: BCE.

Tabela 2: Participação
Tabela Participaçãodos
dos BCN nãopertencentes
pertencentes à zona do euro
Tabela 2: 2:
Participação dos BCN
BCNnão
não pertencentesà zona do euro
à zona do euro
Participação no
Banco central nacional Participação no
Banco central nacional capital (%)
capital (%)
Българска народна банка (Bulgária) 0,86
Българска народна банка (Bulgária) 0,86
Česká národní banka (República Checa) 1,45
Česká národní banka (República Checa) 1,45
Danmarks Nationalbank (Dinamarca) 1,47
Danmarks Nationalbank (Dinamarca) 1,47
Hrvatska narodna banka (Croácia) 0,59
Hrvatska narodna banka (Croácia) 0,59
Latvijas Banka (Letônia) 0,27
Latvijas Banka (Letônia) 0,27
Lietuvos bankas (Lituânia) 0,40
Lietuvos bankas (Lituânia) 0,40
Magyar Nemzeti Bank (Hungria) 1,37
Magyar Nemzeti Bank (Hungria) 1,37
Narodowy Bank Polski (Polónia) 4,85
Narodowy Bank Polski (Polónia) 4,85
Banca Naţională a României (Romênia) 2,44
Banca Naţională a României (Romênia) 2,44
Sveriges Riksbank (Suécia) 2,26
Sveriges Riksbank (Suécia) 2,26
Bank of England (Reino Unido) 14,43
Bank of England (Reino Unido) 14,43
Total 30,44
Total 30,44
Fonte: BCE.
Fonte: BCE. Fonte: BCE.

3.5 Independência
214 Cespe/UnB
214
A independência ou a autonomia do BCE no
Programa de Capacitação –Cespe/UnB
exercício
Banco Central doda política
Brasil monetária está prevista em seus
(BCB)/2014
Programa
5 – de Capacitação – Banco Central do Brasil (BCB)/2014
estatutos. Analista:
O BCE,
Analista:
Área
osI:I:Módulo
Área bancos II – Unidade
Módulo II –centrais
Modelos de bancos
Unidade 5 –nacionais ou
Modelos de bancos
centrais
qualquer em outros países
membro
centrais em outros
e organismos
países edos
e instituiçõesórgãos
respectivos
organismos
financeirasde decisão
e instituições financeiras
internacionais
estão proibidos de solicitar ou receber instruções das instituições, dos órgãos ou dos organismos da
internacionais
União Europeia e dos governos dos Estados-Membros. Os governadores dos bancos centrais nacionais e
os membros da Comissão Executiva do BCE não podem ser destituídos, exceto por incapacidade ou falta
grave. Seus mandatos têm duração mínima de cinco anos, e os membros da Comissão Executiva do BCE,
um mandato não renovável de oito anos. A gestão financeira do BCE é independente da gestão financeira da
União Europeia, pois possui orçamento próprio, financiado pelos bancos centrais nacionais. Não é permitido
ao SEBC conceder empréstimos a organismos da União Europeia ou entidades nacionais do setor público.
Esta medida visa proteger o sistema de influências políticas. Em termos de funcionamento, o SEBC é também
independente. O BCE possui todos os instrumentos e competências necessários à condução de uma política
monetária autônoma, o que lhe confere um alto nível de independência em relação aos maiores bancos
centrais do mundo.

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109
3.6 Accountability

O BCE tem compromisso com princípios de accountability previsto em seus estatutos na forma de
prestação regular e transparente de informações relevantes sobre sua atuação por meio da publicação de
boletins mensais, relatório trimestral e conferências de imprensa regulares. O relatório anual é apresentado
ao Parlamento Europeu, ao Conselho da União Europeia, à Comissão Europeia e ao Conselho Europeu. O
Presidente do BCE presta regularmente informação sobre a política monetária do BCE e as suas outras
atribuições nas audiências trimestrais ao Parlamento Europeu. Outros membros da Comissão Executiva do
BCE também comparecem perante o Parlamento Europeu para abordar questões específicas.
O BCE enfrenta auditoria externa e é fiscalizado pelo Tribunal de Contas Europeu. Um comitê de
auditoria de alto nível presta apoio ao Conselho do BCE no exercício das suas responsabilidades relativas à
integridade das informações financeiras, supervisão dos controles internos, cumprimento das leis, regulamentos
e códigos de conduta aplicáveis e desempenho de funções de auditoria.

3.7 O BCE e a crise do euro

A crise do subprime, aprofundada a partir de setembro de 2008, causou um aumento na aversão ao


risco por parte dos investidores, que resultou em um movimento maciço em direção a ativos financeiros de
baixo risco, com destaque para os títulos do governo norte-americano.
Além disso, havia forte exposição de bancos europeus e detentores de dívida de governos europeus
em ativos desvalorizados pela crise do subprime. A partir de 2010, aumentou a fuga de capital de vários
países europeus, praticamente inviabilizando seu acesso ao crédito privado para rolagem da dívida pública. A
impossibilidade de utilizar a política monetária e a política cambial para promover um ajuste macroeconômico
somou-se a uma forte deterioração das finanças públicas, levando alguns países a chegar próximos ao limite da
insolvência de dívida. Outra ameaça decorre da grande diferença nas taxas de crescimento de produtividade
entre os países da zona do euro, cujo principal efeito é estabelecer diferentes graus de competitividade
internacional entre si, bem como entre cada país do bloco e o resto do mundo. A primeira iniciativa do BCE
diante da crise foi prover maior liquidez no mercado interbancário de crédito de curto prazo, por meio de
diminuições nos depósitos compulsórios.
O objetivo foi diminuir a volatilidade das taxas de juros e evitar a propagação da crise rumo a uma
crise sistêmica no mercado financeiro europeu. Em parceria com o FED, o BCE também proveu liquidez
em dólares norte-americanos a bancos europeus expostos nesta moeda. Outra medida do BCE foi a
aquisição de títulos de governos nos mercados secundários para manter seus valores e melhorar o acesso
ao crédito, sem descumprir a proibição estatutária de financiar os governos, que seria adquirir estes títulos
nos mercados primários.

4 INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS INTERNACIONAIS

4.1 Fundo Monetário Internacional (FMI)23

O FMI foi criado em 27 de dezembro de 1945, no âmbito do Acordo de Breton Woods, quando 29
países, incluindo o Brasil, subscreveram seu Convênio Constitutivo, e iniciou suas operações financeiras em
1º de março de 1947. Em novembro de 2013, o FMI possuía 188 países-membros.

4.2 Funções e objetivos

Os objetivos do FMI estão relacionados no artigo I do seu Convênio Constitutivo:

i. promover a cooperação monetária internacional por meio de uma instituição permanente,


que proporcione um mecanismo para consultas e colaboração em questões internacionais;
ii. facilitar a expansão equilibrada do comércio internacional, contribuindo, dessa forma, para
o fomento e a manutenção de altos níveis de emprego e de renda real, bem como para o
desenvolvimento da capacidade produtiva de todos os países membros;

23 Esta seção é baseada em Martinez-Diaz (2008), Estrela (2009), Estrela, Rosek, Orsi e Schneider (2008) e Almeida (2008).

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110
iii. promover a estabilidade cambial, manter ordenadas as práticas cambiais entre os países
membros e evitar depreciações cambiais competitivas;
iv. auxiliar no estabelecimento de um sistema multilateral de pagamentos de transações correntes
entre os países membros e na eliminação das restrições cambiais que dificultem a expansão
do comércio internacional;
v. infundir confiança aos países membros, colocando os recursos gerais do Fundo temporariamente
à sua disposição, sob garantias adequadas, possibilitando a correção de desequilíbrios nos
balanços de pagamento, sem recorrer a medidas prejudiciais à prosperidade nacional ou
internacional;
vi. em harmonia com os objetivos acima, abreviar a duração e reduzir o grau de desequilíbrio
nos balanços de pagamentos internacionais dos países membros.

Na busca desses objetivos, o FMI passou a exercer funções regulatórias e de financiamento. O FMI
funciona como uma cooperativa internacional de crédito, reunindo recursos financeiros de diversos países para
serem utilizados por membros que estejam enfrentando crises de balanço de pagamentos. A principal atuação
do FMI é conceder assistência financeira para países com problemas no balanço de pagamentos, de modo a
permitir que sejam reestabelecidas as condições para o crescimento econômico sustentado. A assistência visa
tornar os países aptos a recompor suas reservas internacionais, estabilizar suas moedas e continuar pagando
suas importações, sem que seja necessário impor restrições comerciais ou controle de capitais.
Os recursos emprestados são originários de quotas de vários países, que autorizam o FMI a emprestá-
los aos membros em dificuldades e a tomar as precauções necessárias para garantir seu pagamento. As
operações financeiras do FMI com seus países-membros são realizadas na forma de swap. Nestes, os países
com problemas no balanço de pagamentos trocam com o Fundo as próprias moedas pelo equivalente em
moedas conversíveis de outros países-membros, pagando uma taxa pela disponibilização pelo período no
qual fica sacado.
Os empréstimos são fornecidos mediante acordo, que deve ser aprovado pelo Conselho Executivo
do Fundo. Os acordos, que estipulam condições ao país solicitante, baseiam-se em programas econômicos,
apresentados sob a forma de carta de intenções, memorandos de políticas econômicas e memorandos
técnicos de entendimento. A liberação das parcelas dos empréstimos é programada levando em conta a
implementação do programa econômico.
O FMI publica, duas vezes ao ano, estudos sobre as perspectivas da economia mundial e relatórios de
estabilidade financeira global.

4.3 Organização

O FMI é composto por uma Assembleia de Governadores, um Conselho Executivo e um Diretor-Gerente.


A Assembleia de Governadores é o poder máximo do Fundo e reúne-se normalmente uma vez por
ano. É constituída por autoridades de cada país-membro, geralmente ministros da Fazenda ou equivalente.
Possui um Comitê de assessoramento, o International Monetary and Financial Committee (IMFC).
O Conselho Executivo, constituído por 24 membros, representando países ou grupo de países agrupados
(de 5 a 20) na forma de constituencies, é composto por:

• 5 membros nomeados diretamente pelos seguintes países: Estados Unidos (único país cujo
poder de voto é grande o suficiente para permitir individualmente o veto para matérias mais
importantes), Japão, Alemanha, França e Reino Unido;
• 19 membros indicados por cada constituency, que devem ser aprovados pela Assembleia-Geral
para mandatos de dois anos, renováveis.
O Conselho Executivo é responsável pela administração do Fundo, incluindo política operacional,
empréstimos e atividades de supervisão. Reúne-se pelo menos três vezes por semana.
O Diretor-Gerente, que é o chairman e chief executive officer do Fundo, é escolhido pelo Conselho
Executivo, tendo um mandato de cinco anos, podendo ser reconduzido. Sob o seu comando está o corpo técnico
(staff) da instituição, que colabora com os países-membros na elaboração dos programas de ajustamento e
assistência técnica, que envolve a elaboração de políticas fiscais e monetárias, desenvolvimento institucional,
treinamento de funcionários etc.

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111
políticas fiscais e monetárias, desenvolvimento institucional, treinamento de funcionários etc.

Organograma 3: Organização e funcionamento do FMI


Organograma 3: Organização e funcionamento do FMI

Assembleia de
Governadores

assessoramento
delegação
de p oder
IMFC
assessoramento

Conselho
Executivo rep resentação

surveillance
nomeação e
sup ervisão
nomeação
ou eleição
Autoridades
dos países
Diretor-Gerente
nomeação e Surveillance,
gerenciamento assessoramento,
Informes,
p esquisa e assistência
relatórios técnica

Corpo Técnico

Fonte: Martinez-Diaz (2008).


Fonte: Martinez-Diaz (2008).

4.4 Governança

O poder de decisão no FMI é baseado em quotas e votos básicos.Votos básicos representam uma parcela
219
que é dividida igualmente entre todos os países-membros. Outra parcela é representada por quotas, que são
proporcionais ao capital que cada país possui no Fundo e expressas em Direitos Especiais de Saque (DES).
Diferentemente da maioria dos organismos multilaterais que captam seus recursos no mercado financeiro,
a subscrição de quotas é a maior fonte de recursos financeiros do FMI, além de determinar, para cada país,
seu poder de voto e ser uma referência sobre o montante que ele pode tomar emprestado. Em dezembro
de 2010, a Assembleia de Governadores aprovou novas reformas das quotas e votos, com a conclusão da
14º Revisão Geral das Quotas e uma emenda ao Convênio Constitutivo.
O cálculo da quota passou a ser feito, ponderando PIB (50%), abertura (30%), variabilidade das transações
externas (15%) e reservas internacionais (5%) segundo a seguinte metodologia:

• Y = média dos últimos três anos disponíveis do PIBpm, convertido à taxa de câmbio média
entre valor de mercado (60%) e paridade do poder de compra (40%);
• O = média de 5 anos da soma de receitas e despesas de transações correntes do balanço
de pagamentos;
• V = desvio-padrão para um período de 13 anos das receitas de transações correntes e fluxos
líquidos de capital do balanço de pagamentos;
• R = média de 12 meses dos níveis de reservas internacionais;
• k = fator de compressão para diminuir a dispersão entre economias avançadas e economias
em desenvolvimento.

Assim, a fórmula da quota é:

Quota = (0.5*Y + 0.3*O + 0.15*V + 0.05*R)k

A partir da nova fórmula de cálculo, Brasil, Rússia, Índia e China passaram a estar entre os 10 maiores
quotistas do Fundo.

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Tabela 3:3:Quota
Tabela Quota ee poder devoto
poder de votononoFMI
FMI (2010)
(2010)

País Quota (%) Voto (%)


Economias avançadas 60,40 57,90
Economias emergentes e em
39,60 42,10
desenvolvimento
EUA 17,69 16,75
Japão 6,56 6,23
Alemanha 6,12 5,81
França 4,51 4,29
Reino Unido 4,51 4,29
China 4,00 3,65
Itália 3,24 3,81
Brasil 1,79 1,72
Fonte: FMI.
Fonte: FMI.

Além disso, a revisão determinou que todos os membros da Diretoria Executiva passassem a ser eleitos.
Além disso, a revisão determinou que todos os membros da Diretoria Executiva
4.5 Direitos especiais
passassem de saque (DES)
a ser eleitos.

Até o acordo de Bretton Woods, o comércio internacional era regulado pelo padrão-ouro, cuja manutenção
não era4.5mais possível.
Direitos Para substituir
especiais de saque o padrão-ouro,
(DES) foram apresentadas duas propostas: a da Inglaterra, que
propunha a criação de uma moeda fiduciária internacional, o bancor, que serviria para liquidação dos débitos
entre bancos centrais; a dos Estados Unidos (proposta White), que indicava o dólar como moeda internacional,
mediante seu compromisso de assegurar sua conversibilidade em ouro, que foi adotada basicamente pelo apego
Até o acordo de Bretton Woods, o comércio internacional era regulado pelo padrão-
ao padrão-ouro e pela credibilidade da economia norte-americana. Dentro do sistema então estabelecido,
ouro,
cada país cuja manter
deveria manutenção
paridadenão era fixa
cambial maisem possível.
relação aoPara
dólar, substituir
com margens o de
padrão-ouro,
flutuação deforam
apenas 1%,
para mais ou para menos. Salvo os Estados Unidos, nenhum país se obrigava a converter sua moeda em ouro.
apresentadas
O sistema dasduas propostas:
paridades a da Inglaterra,
fixas procurava evitar aque propunha
repetição a criação experiência
da calamitosa de uma moeda fiduciária
das desvalorizações
competitivas da década
internacional, de 1930.
o bancor, queOs principais
serviria para ativos de reservas
liquidação definidos
dos débitos entreno Acordo
bancos de Bretton
centrais; a dosWoods
eram o ouro, ou dólares, que, a partir da década de 1960, foram acumulados em decorrência dos déficits
Estados
no balanço de Unidos (proposta
pagamentos White),Unidos,
dos Estados que indicava
principalo provedor
dólar como moeda internacional,
de liquidez mediante
ao sistema. Esses déficits, até
1971, podiam ser convertidos em ouro pelos países superavitários mediante saques sobre as reservas-ouro
seu compromisso de assegurar sua conversibilidade em ouro, que foi adotada basicamente
americanas. Problemas relativos à convertibilidade do dólar em ouro, causados por desequilíbrios fiscais e
pelo apego
do balanço ao padrão-ouro
de pagamentos dos Estadose pela credibilidade
Unidos fizeram quedapropostas
economia norte-americana.
fossem apresentadas Dentro do
para controlar a
expansão dos ativos de reserva, bem como para criar novos ativos. Em 1969, a Primeira Emenda ao Convênio
sistemado
Constitutivo então
FMI estabelecido,
criou os DES, cada país deveria
que desde manter aparidade
então passaram cambial
ser a unidade fixa em
de conta do relação
FMI e deaooutras
organizações internacionais,
dólar, com margens decomo o Banco
flutuação de Mundial
apenas 1%,e, desde
paraabril deou
mais 2003, Bank of International
parao menos. Settlements
Salvo os Estados
(BIS). A quota de participação e a capacidade de tomar empréstimos são também denominadas em DES.
Unidos,
O valor nenhum
do DES épaís se obrigavaa apartir
determinado converter
de uma suacesta
moedade em ouro.
quatro moedas, revisada a cada cinco anos,
com ponderação de acordo com o peso dos países nas transações internacionais. Os métodos de seleção das
O sistema das paridades fixas procurava evitar a repetição da calamitosa experiência
moedas e seus pesos precisaram ser revisados quando o marco alemão e o franco francês foram substituídos
das desvalorizações
pelo euro. competitivas
O critério de seleção passou ada década
incluir de 1930. Os
as exportações principais
da União ativoscomo
Europeia de umreservas
todo, não
sendo consideradas as exportações intrabloco. A taxa de juros básica do DES é determinada semanalmente,
definidos
com base no Acordo
na média ponderadade Bretton
das taxasWoods eram
de juros o ouro, ou dólares,
representativas que,de
de débitos a partir
curto da década
prazo de
no mercado
monetário
1960,dos países
foram cujas moedas
acumulados constituem odos
em decorrência DES.déficits no balanço de pagamentos dos Estados
Unidos, principal provedor de liquidez ao sistema. Esses déficits, até 1971, podiam ser
convertidos em ouro pelos países superavitários mediante saques sobre as reservas-ouro
americanas. Problemas relativos à convertibilidade do dólar em ouro, causados por
desequilíbrios fiscais e do balanço de pagamentos dos Estados Unidos fizeram que propostas
221

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dos países cujas moedas constituem o DES.

Gráfico 1: Participação
Gráfico 1: Participação das moedasque
das moedas quecompõem
compõem o DES
o DES (2011)
(2011)

LIBRA:
11,3%

IENE: 9,4%
DÓLAR: 41,9%

EURO: 37,4%

Fonte: FMI.
Fonte: FMI.

4.6 Surveillance

Surveillance é um processo promovido pelo FMI de monitoramento e consulta sobre políticas econômicas
dos países-membros. A responsabilidade do FMI por surveillance deriva do seu papel original no Acordo de
Bretton Woods como supervisor do arranjo de taxas de câmbio fixas ajustáveis entre os países. De acordo com
a Seção 1 do artigo IV do FMI, as políticas econômicas dos países-membros que estão sujeitos à surveillance
devem se empenhar para promover o crescimento econômico equilibrado com razoável estabilidade de
preços222
e evitar manipular a taxa de câmbio paraCespe/UnB obter vantagem competitiva no comércio internacional.
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Em um contexto de globalização, a política econômica de um
Analista: Área I: Módulo II – Unidade 5 – Modelos de bancos centrais país frequentemente
em outros tem impactos
países e organismos e instituições financeirasem outros
países. Assim, a surveillance contribui para melhor previsão sobre riscos para que se possa proceder aos
internacionais
ajustes necessários no momento correto.
Ao se associar ao FMI, o país concorda em sujeitar sua política econômica ao escrutínio do mesmo,
com o objetivo de identificar vulnerabilidades dos fundamentos macroeconômicos que possam contribuir
para desestabilizar o sistema financeiro internacional. Para tanto, a surveillance cobre os seguintes aspectos:

• Taxa de câmbio, política monetária e política fiscal: aconselhamento do FMI sobre


escolha do regime cambial e sua consistência com a política monetária fiscal.
• Setor financeiro: determinação da solidez do setor financeiro.
• Riscos e vulnerabilidades: avaliação dos efeitos dos fluxos internacionais de capital em
termos de magnitude e volatilidade.
• Questões institucionais e estruturais: desenvolvimento, implementação e avaliação de
padrões institucionais para o funcionamento eficiente da economia, como independência de
bancos centrais, regulação do setor financeiro e accountability.

A surveillance pode ocorrer em três níveis: país, regional e global. A surveillance por país é feita por
meio de missões do corpo técnico do Fundo para exame das políticas econômicas. A surveillance regional
envolve o exame por parte do FMI das políticas econômicas implementadas sob uniões monetárias, como a
zona do euro, por exemplo. E a surveillance global é realizada por meio de revisões do Conselho Executivo
do FMI sobre tendências econômicas globais, que baseiam as publicações: World Economic Outlook, Global
Financial Stability Report e Fiscal Monitor, todas publicadas duas vezes por ano.

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4.7 Padrão Especial de Disseminação de Dados (SDDS)

O SDDS é uma divulgação padronizada de dados dos países-membros do FMI, cuja subscrição está
aberta desde abril de 1996. Contém 18 categorias de dados, cobrindo quatro setores da economia: real,
financeiro, fiscal e externo, incluindo dívida externa, reservas internacionais, nível de atividade, inflação,
finanças públicas, transações dos bancos centrais etc. A subscrição dos países-membros é voluntária e não
tem custos; em dezembro de 2013, 71 países, incluindo o Brasil, faziam parte do SDDS. A responsabilidade
sobre a confiabilidade e o prazo de atualização das informações é inteiramente do país subscritor.

4.8 Linhas de financiamento

Ao longo dos anos, o FMI desenvolveu vários instrumentos de empréstimos (facilities), criados para
atender às circunstâncias específicas dos países-membros. O montante emprestado, as taxas de juros e os
prazos variam de acordo com as diferentes políticas adotadas e os problemas apresentados pelos balanços
de pagamentos.
Com a crise financeira mundial de 2008/2009 e o aumento da necessidade de provimento de recursos
em caráter preventivo, o processo de revisão das linhas precisou ser agilizado, como aumento da flexibilidade
e atratividade dos instrumentos de concessão de empréstimos, reduzindo a sinalização política negativa
oriunda do acesso ao Fundo.
As características das principais linhas de crédito disponíveis são (ESTRELA, 2009):

• Stand-by Arrangements (SBA): concedido para problemas de curto prazo do balanço de


pagamentos. É o tipo de financiamento mais utilizado. Em março de 2009, a Diretoria Executiva
do Fundo aumentou a flexibilidade da SBA para o acesso inicial, bem como a permissão de
compras e o critério de desempenho semestral. Essas alterações aplicam-se tanto a SBAs
precaucionárias quanto não precaucionárias, permitindo ao instrumento ajudar a prevenir e
resolver crises.
• Flexible Credit Line (FCL): é uma linha que visa atender aos países com um passado de
políticas macroeconômicas sólidas, com menos condicionalidades e mais rapidez. Em março
de 2009, a Diretoria Executiva do Fundo a criou para substituir a Short-Term Liquidity Facility,
incorporando grande parte de suas características, adicionando a vantagem de um maior
prazo de pagamento (3¼ a 5 anos), possibilidade de uso precaucionário e flexibilidade para
atender a qualquer necessidade de balanço de pagamentos.
• Extended Fund Facility (EFF): concedido a partir de 1974 para ajudar países com problemas
mais sérios no balanço de pagamentos, decorrentes de problemas econômicos estruturais.
Tem duração de até três anos e o pagamento deve ocorrer em até 10 anos. Quanto aos países
de baixa renda, o Funds Poverty Reduction and Growth Trust provê recursos aos países elegíveis
que enfrentem problemas de balanço de pagamentos. As taxas de juros são concessionais e
as linhas têm como um dos objetivos direcionar os países a um crescimento contínuo com
redução de pobreza. As principais linhas são:
• Extended Credit Facility (ECF): criada em 2009, em substituição a Poverty Reduction and
Growth Facility (PRGF). Provê suporte flexível de curto prazo. Os recursos são tornados
disponíveis por três anos, podendo ser prorrogado por mais dois. O montante pode atingir
até 300% da quota, com prazo de repagamento entre 5½ e 10 anos. A taxa de juros é de
0,25% a.a, mas foi reduzida para zero até 2011.
• Standby Credit Facility: criada em 2009 em substituição a High-Access Component of the
Exogenous Shocks Facility. É uma linha que pode ser utilizada de forma precaucional. Os recursos
tornam-se disponíveis entre 12 e 24 meses e o montante pode atingir até 300% da quota,
com prazo de repagamento entre 4 e 8 anos. A taxa de juros é de 0,25% ao ano (a.a.), mas
foi reduzida para zero até 2011.
• Rapid Credit Facility: criada em 2009 para oferecer suporte emergencial com poucas
condicionalidades e grande flexibilidade para tornar os recursos disponíveis (não existe prazo
fixo). O montante pode atingir até 75% da quota, com prazo de repagamento entre 5½ e 10
anos. A taxa de juros está reduzida para 0% até 2011. É também utilizada para fornecer rápida
assistência financeira para países-membros afligidos por desastres naturais ou conflitos.

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4.9 O Brasil e o FMI

Em 1954, o Brasil tomou um empréstimo do Eximbank americano a partir de um aval do FMI, que a
seguir recomendou a realização de uma reforma cambial. Em 1959, o presidente Juscelino Kubitschek anunciou
o rompimento do país com o FMI, depois de um ano de vigência de um empréstimo stand by, alegando
interesses imperialistas nas exigências do FMI em relação à austeridade das políticas fiscal e monetária. Em
1961, o país fechou um acordo com o FMI, mas a instabilidade política e econômica registrada a partir de
então congelou as relações do país com o FMI por vários anos.
Após o primeiro choque do petróleo, em 1973, o governo brasileiro optou pelo endividamento externo
para manter taxas de crescimento econômico elevadas e recorreu a um aval do FMI para obter empréstimos
junto a bancos internacionais. Em decorrência da crise da dívida externa, iniciada com a moratória mexicana
em agosto de 1982, o Brasil perdeu o acesso a recursos externos, e as reservas internacionais foram reduzidas
drasticamente.
O país fechou um acordo com o FMI e promoveu um ajuste macroeconômico de grandes proporções,
incluindo maxidesvalorizações cambiais e ajuste fiscal. Embora o setor externo tenha apresentado rápida
recuperação, a taxa de inflação mudou de patamar, passando de 120% para 200% ao ano, com a economia
sofrendo a maior recessão da história, causando queda do PIB em torno de 4% em 1983.
Em fevereiro de 1987, o governo declarou a moratória da dívida externa, após a tentativa fracassada
de estabilização do Plano Cruzado, época em que novamente as reservas internacionais atingiram níveis
criticamente baixos, como resultado de superaquecimento da economia e do congelamento da taxa de câmbio.
Nos anos seguintes, em razão da incapacidade do país de combater a inflação, da instabilidade política e o
do aumento do custo político de manter relações com o FMI, houve um novo afastamento.
A partir de 1982, o principal instrumento de relacionamento do governo brasileiro com o FMI foi
representado pelas cartas de intenções. Foram 13 cartas, assinadas pelo governo brasileiro desde então,
sendo que parte das metas (condicionalidades), que consistiam essencialmente de ajuste das contas públicas
e medidas de solvência externa, não foi cumprida.
Em 1998, o país voltou a fechar um acordo com o FMI, pois a crise da Ásia provocou um efeito contágio
que, combinado com uma crise de confiança por parte do mercado financeiro internacional na capacidade
do governo de manter a política cambial, traduziu-se em grande fuga de capital do país.
A pressão sobre a taxa de câmbio e a queda das reservas internacionais levaram o país a recorrer ao
FMI. Foram disponibilizados US$ 41 bilhões, mas uma amenização dos efeitos da crise fez que o país não
necessitasse sacar o total. Em agosto de 2002, o governo brasileiro fechou um acordo de US$ 30 bilhões com
o FMI após enfrentar uma fuga de capital do país diante das incertezas causadas pela transição política. Em
dezembro de 2005, a partir da melhora das contas externas, o governo brasileiro quitou antecipadamente
a dívida com o FMI (US$ 15,57 bilhões restantes de um empréstimo de US$ 30 bilhões realizado em 2002).
Em 2009, o Brasil adquiriu US$ 10 bilhões em títulos do FMI, quando do aumento da participação dos países
emergentes nas suas quotas, também para reforçar a capacidade deste em promover atuações de combate
aos efeitos da crise do subprime.

5 GRUPO BANCO MUNDIAL24

O Banco Internacional para a Reconstrução e Desenvolvimento (Bird) foi criado, a exemplo do FMI,
a partir do Acordo de Bretton Woods, em 1944. Seu objetivo inicial era promover a recuperação econômica
dos países europeus devastados pela Segunda Guerra Mundial e o desenvolvimento econômico dos países
mais pobres. Sua sede fica em Washington, DC. Atualmente 186 países são membros do Banco Mundial.

5.1 Finalidades

O Banco Mundial tem como finalidades:

(i) fomentar os investimentos privados de capitais;


(ii) promover, a longo prazo, o desenvolvimento equilibrado do comércio internacional;

24 Esta seção é baseada em: <www.bancomundial.org>. Acesso em: 19 nov. 2013.

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(iii) coordenar os seus empréstimos ou garantir financiamentos de outras fontes, de modo que
sejam atendidos, em primeiro lugar, os projetos mais úteis e mais urgentes; e
(iv) conceder empréstimos para reconstrução e desenvolvimento, cuidando para que sejam
complementares aos capitais privados, sem competir com esses ou substituí-los.

Além das quotas dos países-membros, o Banco Mundial também se capitaliza via captação de recursos
no mercado internacional de capitais.
O Banco Mundial pode realizar os seguintes tipos de operações: empréstimos diretos, com recursos
próprios; empréstimos diretos, com recursos obtidos por meio da colocação no recurso de títulos por
ele emitidos junto ao mercado de títulos; avalizar empréstimos obtidos diretamente pelos interessados
no mercado financeiro. A política de empréstimos do Banco Mundial tem sido orientada para atendimento
preferencial ao setor de prestação de serviços públicos, ou seja, transportes, energia elétrica, irrigação,
drenagem, telecomunicações, água e esgotos.
É um grande financiador de projetos de desenvolvimento para os países em desenvolvimento de
renda média e o principal catalisador de financiamentos para o mesmo fim, provenientes de outras fontes.
Entretanto, uma vez que o Banco Mundial é essencialmente um financiador de governos e não de empresas,
sua atuação começou a ser limitada pelo fato de os governos, em decorrência de problemas fiscais crônicos,
passarem a depender crescentemente do setor privado para fazer seus investimentos.
No Brasil, a partir de 2007, a política de financiamento de projetos públicos com recursos externos
passou a beneficiar mais os estados e os municípios. Isso levou à revisão da estratégia de trabalho desses
organismos internacionais no país, redirecionando recursos aos estados e aos municípios e às agências de
desenvolvimento, como o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

5.2 Governança

A administração do Banco Mundial fica a cargo de uma Junta de Governadores e de uma Diretoria
Executiva de 24 membros, cinco deles escolhidos pelos maiores acionistas, e os demais eleitos pelos outros
Unidade 5 – Modelos de bancos centrais em outros países e organismos e instituições financeiras
países-membros, estrutura semelhante à do FMI. O presidente do Banco Mundial é tradicionalmente internacionais
um
cidadão americano, enquanto o presidente do FMI é tradicionalmente um europeu. O poder de voto de
cada país-membro está vinculado às suas subscrições de capital que, por sua vez, estão baseadas no poder
econômico relativo de cada país.

Tabela 4: 4:
Tabela Poder
Poderde
devoto
voto no BancoMundial
no Banco Mundial (2010)
(2010)
País Poder de voto (%)
EUA 16,39
Japão 7,86
Alemanha 4,49
França 4,30
Reino Unido 4,30
Brasil 2,24
Fonte: Banco Mundial.
Fonte: Banco Mundial.

Em 2009, o Banco Mundial promoveu uma reforma em seu sistema de representatividade, com o objetivo
de aumentar Em 2009, oe oBanco
a participação Mundial
peso dos países empromoveu uma ereforma
desenvolvimento em dentro
em transição seu sistema de As
da instituição.
mudanças são concentradas
representatividade, em otrês
com áreas: aumento
objetivo dos votos
de aumentar básicos, alocação
a participação de quotas
e o peso extras em
dos países a alguns
membros específicos e aumento do número de Diretores Executivos eleitos (para a África).
desenvolvimento e em transição dentro da instituição. As mudanças são concentradas em três
5.3 Composição
áreas: aumento dos votos básicos, alocação de quotas extras a alguns membros específicos e
aumento
O Grupodo número
Banco de Diretores
Mundial Executivos
é uma agência eleitos
multilateral de(para a África).constituída por cinco instituições
financiamento
associadas, sendo que duas compõem o Banco Mundial propriamente dito e as outras três são a ele afiliadas:

5.3 Composição
Cespe/UnB
Programa de Capacitação – Banco Central do Brasil (BCB)/2014
O Grupo
ANALISTA – SFN: Módulo IIBanco
– UnidadeMundial
5 – Modelos édeuma
Bancosagência
Centrais emmultilateral de financiamento
Outros Países e Organismos constituída
e Instituições Financeiras por
Internacionais

cinco instituições associadas, sendo que duas 117


compõem o Banco Mundial propriamente dito e
as outras três são a ele afiliadas:
Banco Mundial:
(i) Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento (Bird): criado em 1944,
proporciona empréstimos e assistência para o desenvolvimento a países de rendas médias
com bom histórico de crédito.
(ii) Associação Internacional de Desenvolvimento (AID): criada em 1960, é a principal
fonte de recursos concessionais para os países mais pobres com renda per capita anual, em
1997, inferior a US$ 925. Não há cobrança de juros, o prazo de maturação é de até 40 anos,
e o período de carência é de dez anos.

Afiliadas:
(iii) Corporação Financeira Internacional (CFI): criada em 1956, opera em base comercial
provendo empréstimos e emitindo títulos com o objetivo de apoiar projetos do setor
privado em países em desenvolvimento, prestando, também, serviços de consultoria. Similar
à instituição privada, busca rentabilidade.
(iv) Agência Multilateral de Garantia ao Investimento (Miga): criada em 1988, tem como
objetivo prover garantias a investidores estrangeiros contra riscos não comerciais em países
em desenvolvimento e, em conjunto com os governos, atrair investimentos externos.
(v) Centro Internacional para Solução de Disputas sobre Investimento (CISDI): criado
em 1966, tem como objetivo oferecer conciliação e arbitragem na solução de controvérsias
sobre investimento estrangeiro.

6 BANCO INTERAMERICANO DE DESENVOLVIMENTO (BID)24F24F24F

O BID foi criado em 1959, a partir de uma proposta do presidente Juscelino Kubitschek, com o apoio de
países latino-americanos. Sua sede fica em Washington, DC, com representações em 26 países mutuários, além
de escritórios regionais em Tóquio e em Paris. A ideia de uma instituição para promover o desenvolvimento
da América Latina surgiu na I Conferência Pan-Americana, em 1890, uma iniciativa pioneira para a criação
de um sistema interamericano.

6.1 Organização
Unidade 5 – Modelos de bancos centrais em outros países e organismos e instituições financeiras
A autoridade máxima do BID é a Assembleia de Governadores, composta por todos osinternacionaispaíses membros,
representados por ministros das Finanças ou Economia ou presidentes dos bancos centrais. Reúne-se uma
vez por ano e delega poderes à Diretoria Executiva, composta pelo presidente do BID (mandato de cinco
anos), 14 diretores executivos, com mandatos de três anos, e Gerentes. É responsável pelas atividades
operacionais O
da poder de voto de cada país é proporcional ao capital subscrito. Os 26 países da
instituição.
O poder de voto de cada país é proporcional ao capital subscrito. Os 26 países da América Latina e
América
do Caribe que Latina e do Caribe
são membros que detêm
do Banco são membros
50,02% do
do Banco detêm
poder de voto.50,02% doacionista
O maior poder desão
voto. O
os Estados
Unidos, comacionista
maior 30,01%. são os Estados Unidos, com 30,01%.

Tabela
Tabela5:5:Poder devoto
Poder de votononoBID
BID
PAÍS VOTO (%)
EUA 30,00
Argentina 10,75
Brasil 10,75
México 6,91
Venezuela 5,76
Japão 5,00
Canadá 4,00
Chile 2,95
Colômbia 2,95
Outros 20,93
Fonte: BID.
Fonte: BID.

Os países-membros do BID classificam-se em dois tipos: membros não mutuários e


Cespe/UnB
membros mutuários. DosPrograma
48 países-membros,
de Capacitação – Banco22 sãodomembros
Central não mutuários, ou seja, não
Brasil (BCB)/2014
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recebem financiamento, mas se beneficiam das regras de aquisições do BID, pois só os
118
países-membros podem fornecer bens e serviços aos projetos financiados pelo banco. Entre os
Os países-membros do BID classificam-se em dois tipos: membros não mutuários e membros mutuários.
Dos 48 países-membros, 22 são membros não mutuários, ou seja, não recebem financiamento, mas se
beneficiam das regras de aquisições do BID, pois só os países-membros podem fornecer bens e serviços aos
projetos financiados pelo banco. Entre os não mutuários, figuram os países-membros da União Europeia, dos
Estados Unidos, do Canadá, do Japão, de Israel, da Croácia e da Suíça. Os 26 membros mutuários do BID
possuem em conjunto 50,02% do poder de voto no diretório e se dividem em quatro grupos de acordo com
a porcentagem máxima de financiamento que podem receber para cada projeto:

• Grupo A: Argentina, Brasil, México e Venezuela. Porcentagem máxima de financiamento: 60%.


• Grupo B: Chile, Colômbia e Peru. Porcentagem máxima de financiamento: 70%.
• Grupo C: Bahamas, Barbados, Costa Rica, Jamaica, Panamá, Suriname, Trinidad e Tobago e
Uruguai. Porcentagem máxima de financiamento: 80%.
• Grupo D: Belize, Bolívia, República Dominicana, Equador, El Salvador, Guatemala, Guiana,
Haiti, Honduras, Nicarágua e Paraguai. Porcentagem máxima de financiamento: 90%.

6.2 Atuação

O BID tem as seguintes áreas principais de ação:


• reduzir a pobreza e as desigualdades sociais;
• suprir as necessidades dos países pequenos e vulneráveis;
• promover o desenvolvimento por meio do setor privado;
• enfrentar a mudança climática, energia renovável e sustentabilidade ambiental; e
• promover a cooperação e a integração regionais.

Desde 1962, o BID é um emissor de títulos de dívida AAA, a mais alta classificação de crédito (rating)
que pode ser atribuída a um emissor, o que faz que seus custos de captação sejam relativamente baixos.
A dívida do BID é respaldada por países-membros com boa classificação de crédito. Sua solidez financeira
deriva também de sua situação de credor preferencial e de sua gestão financeira e de riscos conservadora.
Isso possibilita que o BID cobre taxas de juros mais baixas em suas operações.

6.3 Composição

O Grupo do BID é constituído pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento, pela Corporação


Interamericana de Investimentos (CII) e pelo Fundo Multilateral de Investimentos (Fumin).
A CII, criada em 1984, concentra-se no financiamento de médias e pequenas empresas do setor privado,
identificando projetos nos setores de agricultura, turismo, infraestrutura, saúde, educação, gerenciamento
de risco e outros. O montante dos empréstimos varia de US$ 1 milhão a US$ 20 milhões. A CII também
proporciona financiamento para intermediários financeiros que queiram expandir os empréstimos para
pequenas e médias empresas em países-membros da região.
O Fumin, criado em 1993, tem o objetivo de promover o crescimento econômico e a redução da
pobreza na América Latina e no Caribe por meio do estímulo ao aumento dos investimentos privados,
tanto domésticos quanto estrangeiros, associados ao microcrédito e ao acesso a serviços financeiros por
populações de baixa renda e pequenos negócios, além de operações de cooperação técnica. Os recursos
aplicados são geralmente não reembolsáveis.

7 BANCO DE COMPENSAÇÕES INTERNACIONAIS (BIS)25

O BIS (Bank of Internacional Settlements) é uma organização internacional que tem o objetivo de promover
a cooperação entre os bancos centrais, especialmente no que tange à supervisão bancária. É a mais antiga
instituição financeira internacional, fundada em 20 de janeiro de 1930, no contexto das reparações de guerra
impostas sobre a Alemanha, a partir do Tratado de Versalhes, após a Primeira Guerra Mundial.
O BIS tinha como propósito coordenar e facilitar a liquidação dos bônus de guerra da Alemanha, daí
a origem do nome da instituição. Seus membros fundadores foram os Bancos Centrais da Alemanha, da

25 Esta seção é baseada em: <www.bis.org>. Acesso em: 2 dez. 2013.

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Bélgica, dos Estados Unidos, da França, da Itália e do Reino Unido. Sua sede fica em Basileia, Suíça, tendo
representações em Hong Kong e na Cidade do México. Em 30 de novembro de 2013, o seu capital alcançou
US$ 26,7 bilhões e seus ativos totais US$ 319,5 bilhões. O Banco Central do Brasil é membro do BIS desde
1997, tendo participação no capital da instituição equivalente a 0,55%.

7.1 Missão e organização

O BIS exerce funções operacionais e de fórum de discussão e pesquisa. São objetivos do BIS:

(i) promover a discussão e facilitar a colaboração entre bancos centrais, por meio de encontros
periódicos;
(ii) promover o diálogo com outras autoridades responsáveis pela estabilidade do sistema
financeiro;
(iii) conduzir pesquisas sobre questões econômicas, monetárias e de finanças internacionais
que contribuam para a estabilidade financeira;
(iv) servir como contraparte para bancos centrais em suas transações financeiras; e
(v) agir como agente ou fideicomissário em operações financeiras internacionais.

O BIS tem a estrutura legal de uma companhia limitada. Em janeiro de 2001, o BIS decidiu pelo fechamento
de seu capital a agentes privados, restringindo tal participação a bancos centrais. É vedado o recebimento
de depósitos e a provisão de serviços financeiros para indivíduos ou empresas privadas.
O BIS possui três órgãos administrativos: a Assembleia-Geral, a Diretoria Executiva e a Administração.
A Assembleia-Geral é composta pelos presidentes dos bancos centrais membros que se reúnem a cada dois
meses para decidir e votar sobre questões regulatórias e de governança, incluindo plano de ação, orçamento
e estratégia da instituição. A Diretoria Executiva reúne-se pelo menos seis vezes por ano e é composta pelos
presidentes dos bancos centrais da Bélgica, da França, da Alemanha, da Itália, do Reino Unido e dos Estados
Unidos e no máximo nove presidentes dos demais bancos centrais membros. A Administração é exercida
pelo gerente-geral.

7.2 Atuação

O BIS é responsável por algumas organizações voltadas às finanças internacionais.


Em 1999, foi criado o Instituto de Estabilidade Financeira, que promove estudos e seminários com o
objetivo de assessorar as autoridades responsáveis pela supervisão de sistemas financeiros nacionais, incluindo
questões relacionadas a mercado de valores mobiliários e de seguros.
O Comitê da Basileia de Supervisão Bancária, criado em 1974 como Committee on Banking Regulations
and Supervisory Practices, representa um fórum regular de cooperação sobre temas pertinentes à supervisão
bancária. O Comitê não possui autoridade supranacional e suas decisões não têm força de lei. Em julho
de 1988, o Comitê divulgou o primeiro Acordo de Capital da Basileia, que culminou com a proposição de
exigências mínimas de capital para instituições financeiras (8% para a razão capital/ativos). Em 2004 e 2010,
foram divulgadas revisões do Acordo, conhecidas como Basileia II e III. O Banco Central do Brasil implementou
o primeiro Acordo de Capital da Basileia em 1994.
O Comitê sobre Sistemas de Pagamentos e de Recebimentos, criado em 1990, promove discussões
acerca da segurança do sistema de pagamentos e recebimentos, de modo a fortalecer a infraestrutura dos
mercados financeiros e reduzir o risco sistêmico.
O BIS também presta serviços de gerenciamento de reservas para a maior parte dos bancos centrais,
cumprindo, portanto, a função de banco central dos bancos centrais. Como parte de serviços financeiros
para os bancos centrais, o BIS transaciona moedas e ouro, oferta crédito de curto prazo, normalmente com
garantias reais, e coordena programas de empréstimos para países em crise financeira.

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8 CEMLA26

O Centro de Estudos Monetários Latino-Americanos (CEMLA) foi criado em 1952, por ocasião do
Terceiro Encontro de Técnicos dos Bancos Centrais em Havana. É uma associação civil sem fins lucrativos,
com sede na Cidade do México. Atualmente é composto por 53 instituições, entre as quais 30 membros
associados com poder de voto, compostos por bancos centrais latino-americanos, e 20 instituições sem
poder de voto, compostas por bancos centrais de alguns países não latino-americanos, como membros
colaboradores, além de Banco Mundial, Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal),
BIS, BID e outros organismos financeiros, como parceiros de colaboração técnica. A missão do CEMLA é
promover maior sensibilização diante das questões monetárias e financeiras em toda a região por meio de
formação, disseminação e pesquisa. O orçamento do CEMLA é financiado por meio de contribuições anuais
dos seus membros associados e colaboradores, tendo suas contas auditadas periodicamente pelo Banco do
México. Os principais objetivos do CEMLA são:

• promover melhor entendimento das questões monetárias e bancárias na América Latina e


no Caribe, assim como dos aspectos pertinentes às políticas fiscais e cambiais;
• assistir na melhoria das qualificações dos quadros de bancos centrais e de outras agências
financeiras na América Latina e no Caribe por meio da organização de seminários e cursos
de formação especiais e da publicação de inquéritos e estudos de pesquisa;
• empreender pesquisas e sistematizar os resultados da experiência passada nas áreas acima;
• informar sobre os desenvolvimentos em aspectos das políticas monetárias e financeiras em
nível regional e internacional.

O CEMLA edita diversas publicações, entre as quais as revistas Monetária, publicada desde 1978,
em inglês e espanhol, com periodicidade semestral, e Money Affairs, publicada desde 1988, em inglês, com
periodicidade também semestral, que analisam técnica e cientificamente os temas propostos. Além disso,
também desenvolve estudos com vista à elaboração de projetos nas áreas de: sistemas de pagamentos,
estatística e banco de dados e de convergência macroeconômica.
A organização do CEMLA compõe-se de: Assembleia de Governadores, Junta de Governo, diretor e
subdiretor. A Assembleia de Governadores é o seu órgão máximo, reunindo-se anualmente, ou sempre que
necessário. O poder de voto é proporcional à cota de contribuição.
A Junta de Governo é composta por presidentes de bancos centrais de membros associados, sendo
o do México um participante permanente, na condição de país-sede. Seus representantes são eleitos pela
Assembleia para um mandato de quatro anos. A Junta atua assessorando a Assembleia. O diretor-geral é
eleito pela Assembleia para um mandato de cinco anos para funções administrativas e técnicas.

9 MERCOSUL27

O Mercosul (Mercado Común del Sur) é uma iniciativa de integração econômica instituída pelo Tratado
de Assunção em 26/3/1991, assinado pelos presidentes de Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai. A sede
administrativa do Mercosul fica em Montevidéu, Uruguai. O principal objetivo do acordo foi formar um
Mercado Comum entre os Estados-Partes, um estágio de integração no qual há a eliminação de barreiras
tarifárias e não tarifárias, a adoção de uma tarifa externa comum (TEC), e a liberalização dos fluxos de capital
e trabalho entre os países. Além disso, o Tratado de Assunção teve como objetivo a coordenação de políticas
macroeconômicas e setoriais e de harmonização de legislações pertinentes.

9.1 Antecedentes

A América Latina iniciou o século XX perseguindo modelos de desenvolvimento baseados em substituição


de importações, mediante imposição de restrições às compras externas para favorecer a industrialização
doméstica. Este tipo de política entrava em choque com processos de integração, que pressupõem abertura
comercial e especialização produtiva.

26 Esta seção é baseada em: <www.cemla.org>. Acesso em: 26 nov. 2013.


27 Esta seção é baseada em: <www.bcb.gov.br/mercosul>. Acesso em: 13 nov. 2013.

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Já na década de 1980, processos de integração foram prejudicados pela ocorrência de desequilíbrios
macroeconômicos, na forma de inflações elevadas, crises de dívida externa e desaceleração do crescimento
econômico na maioria dos países latino-americanos. O excesso de protecionismo comercial, a sobreposição
de acordos comerciais e a falta de avanço dos acordos preexistentes também criaram obstáculos à integração
econômica da região. A primeira iniciativa de integração regional foi a Associação Latino-Americana de Livre
Comércio (ALALC), criada em 1960 pelo Tratado de Montevidéu. Era integrada por nove países: Brasil,
Argentina, Chile, Uruguai, Peru, Colômbia, Equador, México e Paraguai. Tinha como objetivo a construção de
um mercado comum regional, por meio da criação de uma zona de livre comércio no prazo de doze anos.
Evolui muito pouco em termos de aumento da corrente de comércio entre os países. Por fim, a economia
latino-americana foi fortemente atingida pela sequência dos dois choques do petróleo na década de 1970.
A ALALC foi oficialmente extinta em 1981.
A Associação Latino-Americana de Integração (Aladi) foi instituída em 1980 pelo Tratado de Montevidéu,
substituindo a Alalc. É um bloco econômico composto por 12 países-membros: Argentina, Bolívia, Brasil,
Chile, Colômbia, Cuba, Equador, México, Paraguai, Peru, Uruguai e Venezuela. Oficialmente ainda está em
vigor, mas perdeu espaço para outras iniciativas de integração econômica, como a Comunidade Andina e o
próprio Mercosul.
Em 1986, foi assinada a Ata de Integração Brasileiro-Argentina, que estabeleceu os princípios fundamentais
do Programa de Integração e Cooperação Econômica (Pice), que se tornaria o embrião do Mercado Comum
do Sul (Mercosul). Seus princípios foram: flexibilidade, para permitir ajustamentos no ritmo e nos objetivos;
gradualismo, para avançar em etapas anuais; simetria, para harmonizar as políticas específicas que interferem
na competitividade setorial, e equilíbrio dinâmico, para propiciar uma integração setorial uniforme.

9.2 Evolução institucional

Em 16 de dezembro de 1994, foi assinado o protocolo de Ouro Preto, complementando o período de


transição para implantação do Tratado de Assunção. Estabeleceu as bases institucionais do Mercosul, incluindo
sua personalidade jurídica e sua estrutura orgânica, possibilitando sua relação como bloco com outros países,
blocos econômicos e organismos internacionais. Também transformou-se de uma Zona de Livre Comércio
em uma União Aduaneira, por meio do estabelecimento da Tarifa Externa Comum (TEC).
O Protocolo de Brasília, assinado em 17 de dezembro de 1991, substituiu o mecanismo de controvérsias
ao disponibilizar a utilização de meios jurídicos para solução de eventuais conflitos comerciais, prevendo
inclusive o recurso à arbitragem, como forma de assegurar a estabilidade do comércio regional. Definiu
prazos, condições de requerer o assessoramento de especialistas e nomeação de árbitros.
Bolívia e Chile ganham o status de membros associados em 1996, o mesmo fato acontece com Peru,
Colômbia e Equador em 2004.
O Protocolo de Olivos, assinado em 18 de fevereiro de 2002, criou o Tribunal Permanente de Revisão
como um mecanismo de solução de controvérsias do Mercosul, ao assegurar maior agilidade e torna mais
orgânicas, completas e sistematizadas as disposições do Protocolo de Brasília. Possibilitou também uma
uniformização de interpretação da normativa Mercosul, estabelecendo critérios para designação dos árbitros.
Após o impeachment do presidente do Paraguai Fernando Lugo, os demais países do Mercosul decidiram
pela suspensão do país, em junho de 2012, com base no protocolo de Ushuaia, que prevê que a plena vigência
democrática é uma condição essencial para participação no Mercosul.
Em julho de 2012, a Venezuela passou a ser o quinto Estado-Parte do Mercosul, representando a primeira
ampliação formal do bloco. Em dezembro do mesmo ano, foi assinado o Protocolo de Adesão da Bolívia ao
Mercosul e criado um Grupo Ad Hoc para estabelecer os cronogramas e as tarefas relativos à essa adesão.
Em julho de 2013, a reunião de cúpula do Mercosul realizada em Montevidéu decidiu pela revogação
da suspensão do Paraguai.

9.3 Estrutura orgânica

O Mercosul conta com três órgãos com capacidade decisória: o Conselho do Mercado Comum, o
Grupo Mercado Comum (GMC) e a Comissão de Comércio, um órgão de representação parlamentar, que
é a Comissão Parlamentar Conjunta, um órgão consultivo, que é o Foro Consultivo Econômico-Social, e um
de apoio burocrático-operacional, que é a Secretaria Administrativa. Sua estrutura decisória é de natureza
intergovernamental, aproveitando-se da infraestrutura e do pessoal existente no setor público dos Estados-Partes.

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O Conselho do Mercado Comum é o órgão superior, responsável pela condução política do Mercosul
e pelo cumprimento dos objetivos do Tratado de Assunção. Manifesta-se por meio de decisões e se reúne
uma vez a cada seis meses, ou quando necessário. O GMC, órgão executivo, tomas as providências para
o cumprimento das decisões do Conselho e trabalha pelo avanço do Mercado Comum. Manifesta-se por
meio de resoluções. A Comissão de Comércio, órgão assistente do GMC, trabalha pela aplicação da política
comercial comum aos Estados-Partes. Manifesta-se por diretivas. O Parlamento do Mercosul trabalha pela
implementação dos procedimentos internos dos Estados-Partes, bem como pela harmonização de legislações
nacionais. O Foro Consultivo Econômico-Social, órgão representativo dos setores econômicos e sociais,
manifesta-se por meio de recomendações ao GMC. A Secretaria Administrativa tem sede em Montevidéu.
Toda normativa é de aplicação obrigatória pelos Estados-Partes. Para plena vigência, se a norma assim
determinar, cada país deve incorporá-las ao seu ordenamento jurídico. Nenhum dos órgãos é supranacional,
sendo todos eles intergovernamentais.
A estrutura orgânica é coordenada por uma Presidência pro tempore (temporária), exercida por sistema
de rodízio semestral entre os Estados-Partes. As decisões são tomadas por consenso, critério politicamente
viável apenas quando o grupo de países é pequeno.

10 TÓPICOS RELEVANTES PARA BANCOS CENTRAIS

10.1 Fundos Soberanos

Um fundo soberano é um fundo de propriedade de um país, frequentemente depositado no exterior, que


administra recursos em moeda estrangeira geralmente provenientes das exportações de recursos minerais
e petróleo. A principal razão para sua criação é a volatilidade das receitas derivadas de recursos naturais,
causada pela oscilação de preços internacionais, incerteza extrativa e eventual extinção do recurso natural.
Os reflexos na taxa de câmbio podem ser danosos em termos de valorização excessiva da moeda
nacional, provocando um fenômeno denominado “doença holandesa”, que consiste no encolhimento de
setores exportadores outros que não o de recursos naturais. Há uma mudança estrutural da economia que
pode significar a existência simultânea de desindustrialização com o boom de outros setores.
Um fundo soberano pode ser uma solução para minimizar a chance de ocorrência da doença holandesa,
se os recursos são depositados no exterior, portanto não pressionando a taxa de câmbio. Há basicamente
dois tipos de fundos soberanos: fundos de poupança e fundos de estabilização.
Os fundos de estabilização têm o objetivo de reduzir a volatilidade das receitas do governo e de
aumentar a capacidade deste de intervir por meio de uma política fiscal, para diminuir a amplitude dos ciclos
econômicos. Os fundos de poupança têm o objetivo de promover a poupança em favor das gerações futuras.
O crescimento do número de fundos soberanos, bem como de seus patrimônios, tem sido impulsionado pelo
aumento dos preços mundiais do petróleo e outros produtos primários desde a década de 1990.

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mundiais do petróleo e outros produtos primários desde a década de 1990.

Tabela 6: Ranking
Tabela dos
6: Ranking dosfundos
fundos soberanos emnovembro
soberanos em novembro de 2013
de 2013

Ativos (U$ Data de


Posição País Denominação
bilhões) fundação
1 Noruega Government Pension Fund – Global $ 803,9 1990
2 Arábia Saudita SAMA Foreign Holdings $ 675,9 1952
3 Abu Dhabi Abu Dhabi Investment Authority $ 627,0 1976
4 China China Investment Corporation $ 575,2 2007
5 China SAFE Investment Company $ 567,9 1997
6 Kuwait Kuwait Investment Authority $ 386,0 1953
7 China – Hong Hong Kong Monetary Authority Investment $ 326,7 1993
Kong Portfolio
8 Cingapura Government of Singapore Investment $ 285,0 1981
Corporation
9 Cingapura Temasek Holdings $ 173,3 1974
10 China National Social Security Fund $ 160,6 2000
48 Brasil Fundo Soberano do Brasil $ 5,3 2008
Total $ 6.020,0 –
Fonte: Sovereign Wealth Fund Institute.
Fonte: Sovereign Wealth Fund Institute.

10.2 Fundo Soberano do Brasil


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Diante de Área
Analista: umaI: Módulo
conjuntura caracterizada
II – Unidade 5 – Modelos de por
bancosuma melhoria
centrais dos termos
em outros países dee instituições
e organismos troca dofinanceiras
país, perspectivas
de grandes receitas cambiais advindas da exploração do Pré-Sal e do elevado e crescente nível de reservas
internacionais
internacionais, o governo brasileiro decidiu constituir um fundo soberano.
O Fundo Soberano do Brasil (FSB), criado pela Lei nº 11.887, de 24 de dezembro de 2008, é vinculado
ao Ministério da Fazenda (MF). Foi instituído como um “fundo especial de natureza contábil e financeira, com
as finalidades de promover investimentos em ativos no Brasil e no exterior, formar poupança pública, mitigar
os efeitos dos ciclos econômicos e fomentar projetos de interesse estratégico do país localizado no exterior”.
É operado por instituição financeira pública federal, podendo adquirir ativos financeiros (ações, títulos
públicos, debêntures etc.) no Brasil e no exterior, mas não está autorizado a financiar despesas correntes
do governo. Seu aporte inicial foi de R$ 14,2 bilhões a partir da emissão de 10.201.373 títulos do Tesouro
Nacional, sendo estabelecido que:

i. as aplicações em ativos financeiros no exterior deverão ter rentabilidade mínima equivalente


à taxa Libor de seis meses;
ii. as aplicações em ativos financeiros no Brasil deverão ter rentabilidade mínima equivalente à
taxa de juros de longo prazo (TJLP);
iii. as demonstrações financeiras serão divulgadas semestralmente; e
iv. as aplicações serão feitas em instrumentos financeiros emitidos por entidades que detenham
grau de investimento atribuído por, no mínimo, duas agências de risco.

A aplicação dos recursos do FSB ocorre por meio da integralização de cotas de um fundo privado,
denominado Fundo Fiscal de Investimento e Estabilização (FFIE), que é um fundo de patrimônio próprio
separado do patrimônio do cotista (a União), de natureza privada, e está sujeito a direitos e obrigações próprias.
É um fundo exclusivo multimercado registrado na Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que tem
como administradora o Banco do Brasil Gestão de Recursos Distribuidora de Títulos e Valores Mobiliários
S.A. (BB DTVM). Os recursos do FSB estão, hoje, na sua totalidade, investidos em cotas do FFIE.
As informações sobre rentabilidade do FSB, inclusive cotas do FFIE, contêm, no mínimo, o valor de
mercado dos ativos que compõem a carteira do FSB, separando os ativos externos e internos, bem como sua
variação acumulada no trimestre e nos últimos 12 meses, gastos com a taxa de administração do FSB e seus

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percentuais em relação ao patrimônio líquido médio semestral, e informações sobre as despesas relativas à
sua operacionalização. As informações são elaboradas e apuradas semestralmente, nos termos previstos pelo
órgão central de contabilidade, conforme determina o art. 9º da Lei nº 11.887, devendo ser encaminhadas
ao Congresso Nacional trimestralmente. É necessária a contratação de auditoria independente para auditar
as contas do FFIE. A remuneração do administrador do FFIE está fixada atualmente em 0,05% a.a.
As fontes de recursos do FSB são:

i. recursos do Tesouro Nacional correspondentes às dotações que lhe forem consignadas no


orçamento anual, inclusive aqueles decorrentes da emissão de títulos da dívida pública;
ii. ações de sociedade de economia mista federal excedentes ao necessário para manutenção
de seu controle pela União ou outros direitos com valor patrimonial;
iii. resultados de aplicações financeiras à sua conta; e
iv. títulos da dívida pública mobiliária federal.

O Decreto nº 7.113, de 19 de fevereiro de 2010, instituiu o Conselho Deliberativo do Fundo Soberano


do Brasil (CDFSB), composto pelo ministro de Estado da Fazenda (presidente), pelo ministro de Estado do
Planejamento, Orçamento e Gestão e pelo ministro Presidente do Banco Central do Brasil. A Secretaria-
Executiva do Conselho é exercida pela Secretaria do Tesouro Nacional, do Ministério da Fazenda. O CDFSB
reúne-se ordinariamente a cada trimestre e, extraordinariamente, por convocação do seu presidente. Sua
primeira reunião ocorreu em 17 de setembro de 2010.
O CDFSB é responsável pelas decisões estratégicas do FSB, tendo por competências:

i. orientar a aplicação e o resgate dos recursos do FSB;


ii. resguardar os recursos de que trata a Lei nº 11.887, de 24 de dezembro de 2008, buscando
sua adequação quanto ao risco e ao retorno dos investimentos;
iii. aprovar os projetos de interesse estratégico nacional, de que trata o artigo 1º da Lei nº
11.887, de 2008, atendidas as melhores práticas de governança, observado o disposto na
regulamentação do inciso III do artigo 3º da Lei nº 11.887, de 2008;
iv. autorizar a aplicação de recursos para destinação a que se refere o artigo 2º da Lei nº 11.887,
de 2008;
v. definir os limites de exposição das aplicações do FSB por classe de ativo, agente operador,
mutuário e prazo;
vi. aprovar metas de rentabilidade para cada classe de ativos do FSB;
vii. elaborar a proposta orçamentária para o FSB, observado o disposto na regulamentação do
inciso II do artigo 3º da Lei nº 11.887, de 2008; e
viii. aprovar a contratação de agentes operadores do FSB, de que trata o § 2º do artigo 6º da Lei
nº 11.887, de 2008.

O CDFSB terá a assessoria de duas câmaras em sua estrutura de governança: a Câmara Consultiva
Técnica (CCT) e a Câmara de Planejamento de Investimentos (CPLIN). A CCT tem as seguintes atribuições:
manifestar-se previamente sobre a política de investimentos e suas revisões; sobre as propostas de investimentos;
acompanhar a execução da política de investimentos; acompanhar o nível geral de exposição a riscos do Fundo,
bem como a adequação de suas políticas de mitigação e sugerir ajustes na composição de carteiras efetivas.
A CPLIN terá como atribuição assessorar, discutir e propor soluções pertinentes ao CDFSB e ao ministro
da Fazenda em aspectos táticos e operacionais relacionados à política de investimentos do FSB.
O FFIE encerrou o primeiro semestre de 2012 com rentabilidade acumulada de -10,75% e valor dos
ativos de R$ 13.876.052.170,21 em 30 de junho de 2012, ante R$ 15.546.527.700,46, em 31 dezembro de
2011, período no qual a carteira do FFIE registrou a alocação de 76,91% dos seus ativos em ações, 22,95%
em ativos de renda fixa e 0,14% em outros ativos. O desempenho do Fundo foi negativamente impactado
quando começou a alocar parte de seus ativos em renda variável, em julho de 2010. No período entre 2010
e 2012, o mercado acionário brasileiro teve um desempenho fraco.

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Gráfico 2: Evolução dos ativos do FFIE (em R$ bilhões)
Gráfico 2: Evolução dos ativos do FFIE (em R$ bilhões)

20

19

18

17

16

15

14

13

Fonte: Tesouro Nacional.


Fonte: Tesouro Nacional.

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REFERÊNCIAS

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