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UNIVERSIDADE DE LISBOA

FACULDADE DE LETRAS

Da Voz Lírica do Alentejo


(Contributo para o estudo da Literatura Oral e Tradicional de Reguengos de Monsaraz)
ANEXOS

Lina do Carmo Godinho dos Santos Mendonça

Orientador(es): Prof. Doutor João David Pinto-Correia


Doutora Ana Maria Fraústo Diogo Correia Paiva Morão

Tese especialmente elaborada para obtenção do grau de Doutor no ramo de Estudos de Literatura
e de Cultura, na especialidade de Literatura Oral Tradicional

Ano 2018
UNIVERSIDADE DE LISBOA
FACULDADE DE LETRAS

Da Voz Lírica do Alentejo


(Contributo para o estudo da Literatura Oral e Tradicional de Reguengos de Monsaraz)
ANEXOS

Lina do Carmo Godinho dos Santos Mendonça

Orientador(es): Prof. Doutor João David Pinto-Correia


Doutora Ana Maria Fraústo Diogo Correia Paiva Morão

Tese especialmente elaborada para obtenção do grau de Doutor no ramo de Estudos de Literatura
e de Cultura, na especialidade de Literatura Oral Tradicional

Júri:
Presidente: Profª Doutora Maria Cristina de Castro Maia de Sousa Pimentel, Professora Catedrática
e Membro do Conselho Científico da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.
Vogais:
- Doutor Carlos Manuel Teixeira Nogueira, Investigador Integrado da Cátedra José Saramago
da Universidade de Vigo, Espanha;
- Doutora Ana Paula Amorim de Sousa Guimarães, Professora Associada da Faculdade de
Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa;
- Doutor José Joaquim Dias Marques, Professor Auxiliar da Faculdade de Ciências Humanas
e Sociais da Universidade do Algarve;
- Doutor João David Pinto Correia, Professor Associado Aposentado da Faculdade de Letras
da Universidade de Lisboa, orientador;
- Doutora Maria de Lourdes Soeiro Cidraes, Professora Auxiliar Aposentada da Faculdade de
Letras da Universidade de Lisboa;
- Doutora Vanda Maria Coutinho Garrido Anastácio, Professora Associada da Faculdade de
Letras da Universidade de Lisboa.

Ano 2018
Índice

Anexo I - Corpus composto pelas composições recolhidas no concelho de Reguengos de


Monsaraz………….…………………………………………………………….. 3

1.Composições de carácter prático-utilitário……..…………………………………………. 3


1.1. Composições de natureza e intenção mágica e religiosa……………………….… 3
1. 1.1. Orações…………………………………………………………………... 3
1.1.2. Benzeduras ……………………………………………………………… 66
1.1.3. Esconjuros………………………………...……………………………… 88
1.1.4. Rezas……………………………………………………………………... 104
1.1.5. Cantigas de Embalar……………………………………………………… 108

1.2. Composições de sabedoria……………………………………………………… 112


1.2.1. Provérbios………………….……………………………..……………… 112
1.2.2. Expressões Populares…………….……………………………..………… 141

2.Composições de carácter lúdico …………………………………………………………… 153


2.1. Rimas Infantis…………………………………………………………………... 153
2.2. Cantigas de todos os dias……………………………………………………….. 165
2.2.1. Cantigas Amorosas………………………………………………………. 165
2.2.2. Cantigas às Cantigas…………………………………………………….. 210
2.2.3. Cantigas Conceituosas…………………………………………………… 216
2.2.4. Cantigas Toponímicas…………………………………………………… 224
2.2.5. Outras……………………………………………………………………. 233
2.2.6. Cantigas ao Despique……………………………………………………. 258
2.2.7. Cantigas de Roda………………………………………………………… 266
2.2.8. Canções e Modas………………………………………………………… 275
2.2.9. Cantigas de Entrudo……………………………………………………… 322
2.3. Cantigas religiosas……………………………………………………………… 328
2.3.1. Cantigas ao Menino Jesus………………………………………………. 328

i
2.3.2. Cantigas de Reis………………………………………………………… 334

Anexo II - Índice geográfico de informantes do concelho de Reguengos de Monsaraz


(com indicação da data das entrevistas)………………....................................... 345

Anexo III – Antologia de textos líricos da tradição oral do concelho de Reguengos de


Monsaraz recolhidos e publicados, entre 1899 e 2012………………………… 355

A - Antologia de composições publicadas, entre 1899 e 2012……..…….……………….. 355

1.Composições de carácter prático-utilitário…………………………..….……………......... 355


1.1. Composições de natureza e intenção mágica e
religiosa……………………………………………………………………………. 355
1. 1.1. Orações…………………………………………………………………... 355
1.1.2. Ensalmos …………………………………………………………………. 360
1.1.3. Esconjuros………………………………………………………………... 361

1.2. Composições de sabedoria………………………………………………………. 362


1.2.1. Provérbios………………….……………………………………………... 362

2.Composições de carácter lúdico …………………………………………………………… 365


2.1. Cantigas de todos os dias……………………………………………………….. 365
2.1.1. Cantigas Amorosas………………………………………………………. 365
2.1.2. Cantigas às Cantigas……………………………………………………... 414
2.1.3. Cantigas Conceituosas…………………………………………………… 418
2.1.4. Cantigas Toponímicas……………………………………………………. 425
2.1.5. Outras…………………………………………………………………….. 438
2.1.6. Cantigas ao Despique…………………………………………………….. 456
2.1.7. Canções e Modas………………………………………………………… 457

2.2. Cantigas religiosas……………………………………………………………… 463

ii
2.2.1.Cantigas de Reis…………………………………………………………… 463

B. Antologia de textos líricos recolhidos, em 1999 – recolha do CTPP (Centro de


Tradições Populares Portuguesas Professor Manuel Viegas Guerreiro)............... 465

1. Composições de carácter prático-utilitário………………………………………………… 465


1.1. Composições de natureza e intenção mágica e
religiosa……………………………………………………………………………. 465
1. 1.1. Orações…………………………………………………………………... 465
1.1.2. Benzeduras………………………………………………………………... 472
1.1.3. Ensalmos…………………………………………………………………. 473
1.1.4. Esconjuros………………………………………………………………... 474

1.2. Composições de sabedoria………………………………………………………. 475


1.2.1. Provérbios………………….……………………………………………... 475
1.2.2. Expressões Populares……………………………………………………... 478

2.Composições de carácter lúdico …………………………………………………………… 479


2.1. Rimas Infantis………………………………………………………………….. 479
2.2. Cantigas de todos os dias………………………………………………………. 480
2.2.1. Cantigas Amorosas………………………………………………………. 480
2.2.2. Cantigas às Cantigas……………………………………………………... 485
2.2.3. Cantigas Conceituosas…………………………………………………… 486
2.2.4. Cantigas Toponímicas……………………………………………………. 487
2.2.5. Outras…………………………………………………………………….. 489

Anexo IV – 2 Lindas Quadras dedicadas á Imponente Procissão, de Reguengos de


Monsaraz em 27 de Outubro de 1946, de João Flôres .......................................... 493

iii
Anexo V - Quatro quadras fundamentais dedicadas ao nosso falecido Doutor Domingos 495
Rosado Vogado natural de Reguengos de Monsaraz, de João Rosado Marques

Anexo VI – Descritivo do DVD de demonstração da recolha de literatura oral e


tradicional realizada no concelho de Reguengos de Monsaraz………………..
497

Bibliografia…………………………………………………………………………………..
499
Discografia…………………………………………………………………………………...
507

iv
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
_____________________________________________________________________________________

ANEXOS

1
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
_____________________________________________________________________________________

2
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
_____________________________________________________________________________________

Anexo I – Corpus composto pelas composições recolhidas no concelho de Reguengos


de Monsaraz

1. Composições de carácter prático-utilitário

1.1. Composições de natureza e intenção mágica e religiosa

1. 1.1. Orações

Para o quotidiano

De manhã

Ao levantar-se

ROr 1
Informante: Rosa Lopes Patinha Berjano, 78 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de Telheiro,
residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 21 de Setembro de 2011. Outras Informações: A
informante possui um curso de Guarda-Livros (Contabilidade) e de Dactilografia. Foi funcionária (chefe)
da Caixa de Previdência de Évora – serviço local de Reguengos de Monsaraz (Casa do Povo de Reguengos
de Monsaraz), durante 24 anos.

Com os anjos me levanto,


[…]
Subiu à cruz. Pra sempre.
Amém. Jesus.

ROr 2a1
Informante: Francisca Jorge Godinho Gato, 86 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de
Barrada, residente em Barrada. Recolha realizada em Barrada, a 11 de Setembro de 2011.

Com Deus me deito,


Com Deus me levanto,
Com a Graça de Deus
E o Divino Espírito Santo.
Recitou versão idêntica: Mariana Gato Curvinha, 80 anos, reformada (trabalhadora rural), 3º ano de
escolaridade, natural de Telheiro, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 25 de Setembro
de 2011.

1
A informante informou que, por vezes, também reza esta oração à noite.
Joaquim Roque recolheu uma oração com uma ligeira variante no último verso: E do’Sprito Santo (Joaquim
Roque [1946], Rezas e Benzeduras Populares (Etnografia Alentejana), Beja, Minerva Comercial, 1946,
pág. 57).

3
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
_____________________________________________________________________________________

ROr 2b2
Informante: Joaquina Códices Gomes Reis, 70 anos, reformada, 4.º ano de escolaridade, natural de
Capelins-Alandroal, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz,
a 16 de Setembro de 2010.

Oração ao levantar

Com Deus me deito,


Com Deus me levanto,
Em louvor de Deus
E do Divino Espírito Santo.

RO 2c3
Informante: Josefa Rodrigues Godinho, 88 anos, reformada, 3.º ano de escolaridade, natural da Luz
(Mourão), residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 5 de
outubro de 2009.

Com Deus me deito,


Com Deus me levanto,
Na Graça de Deus
E do Divino Espírito Santo.

ROr 34
Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 65 anos, reformada, 4.º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 12 de
Junho de 2009.

Oração da manhã

Deus te salve, luz do dia,


Deus te salve quem te cria,
Santo ou Santa deste dia.

ROr 4
Informante: Maria Margarida Couto Lopes, 72 anos, 4º ano de escolaridade, Reformada (trabalhadora
rural), natural de Reguengos de Monsaraz, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em
Reguengos de Monsaraz, a 6 de novembro de 2011.

Oração da manhã

2
Cf. Manuel Joaquim Delgado [1956], A Etnografia e o Folclore do Baixo Alentejo: aspectos vários,
curiosidades linguísticas, Separata da revista Ocidente, Lisboa, 1956, pág. 78.
3 A informante explica que a oração também se reza à noite, “à deitada”.
4 Cf. J. A. Pombinho Júnior [2001], Orações Populares de Portel, Lisboa, Colibri-Câmara Municipal de

Portel, 2001, pág. 55.


Uma versão muito parecida foi recolhida na Aldeia da Tôr (Loulé):
Bendita seja a luz do dia,
bendito o Deus que a cria,
bendito o santo ou santa deste dia,
Padre-Nosso, Ave-Maria. (Idália Farinho Custódio, Maria Aliete Farinho Custódio, Isabel
Cardigos [2008], Orações. Património Oral do Concelho de Loulé, vol. III, Loulé, Edição da Câmara
Municipal de Loulé, 2008, pág. 40). Joaquim Roque publicou versão quase idêntica à de Loulé, com
variante no último verso: De quein fôr hôiz’o sê’ dia (cf. Roque [1946], pág. 57). A versão de Manuel
Joaquim Delgado, em quatro versos, é quase idêntica, com a diferença do terceiro verso: Bendito seja o
Filho da Virgem Maria (Delgado [1956], pág. 81).

4
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
_____________________________________________________________________________________

Da minha cama me levanto


Pra minha vida governar,
Todos os santos me acompanhem,
Nos passos que eu vou dar,
5 Deus à frente e eu atrás.
A Virgem Santíssima me guarde
Nas fúrias do Satanás.

ROr 5
Informante: Delmira Cachopas, 93 anos, comerciante, 3º ano de escolaridade, natural de Montoito,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 26 de Novembro
de 2011.

Deus te salve, manhã clara,


Por Deus foste ordenada,
Onde está o cáles bento
Mais a hóstia consagrada.

Ao lavar as mãos
ROr 6a5
Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 65 anos, reformada, 4.º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraza, a 12
de Junho de 2009.

Minhas mãos molho,


Minha cara vou lavar,
Vou fazer a vontade à Virgem,
Para o Demónio não me atentar.

ROr 6b
Informante: Maria Margarida Couto Lopes, 72 anos, 4º ano de escolaridade, reformada (trabalhadora
rural), natural de Reguengos de Monsaraz, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em
Reguengos de Monsaraz, a 6 de novembro de 2011.

Minhas mãos vou molhar,


Pro meu rosto lavar
[…]

Antes da refeição
ROr 7
Informante: Maria Antónia Valido Lobo (Maria Cantadora), 73 anos, reformada (trabalhadora rural),
analfabeta (sabe ler e sabe assinar), natural da Caridade, residente na Caridade. Recolha realizada em
Caridade, a 7 de Novembro de 2011.

Abençoado Pai do Céu,


E ao pão nosso deste dia,
Deus lhe conserve a vida,
Pra nos amar e servir.

5
Dita de manhã, ao lavar-se. Mas benze-se primeiro.
A informante recitou a mesma versão em 5 de Março de 2011.

5
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
_____________________________________________________________________________________

ROr 8
Informante: Rosa Marques Cardoso, 76 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de Motrinos,
residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrinos, a 29 de Agosto de 2011. Outras Informações:
trabalhadora rural, lavadeira.

Meu Deus, abençoa


Esta refeição que eu vou comer,
Que me sirva de proveito,
À minha alma e ao meu corpo,
5 Em louvor de Deus e de Nossa Senhora,
Vou te rezar um Pai-Nosso e uma Ave-Maria.

Depois da refeição
ROr 9a6
Informante: Maria Antónia Valido Lobo (Maria Cantadora), 73 anos, reformada (trabalhadora rural),
analfabeta (sabe ler e sabe assinar), natural da Caridade, residente na Caridade. Recolha realizada em
Caridade, a 7 de Novembro de 2011.

Obrigado, Senhor,
Dá-me de comer,
Sem eu o merecer,
Dá-me assim o Céu,
5 Quando eu morrer.

ROr 9b
Informante: Josefa Rodrigues Godinho, 88 anos, reformada, 3.º ano de escolaridade, natural da Luz
(Mourão), residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 5 de
outubro de 2009.

Obrigado, Senhor,
Pelo pão ou almoço que me deu,
Sem eu o merecer,
Dai-me assim o Céu,
5 Quando eu morrer.

À noite

Ao fechar a porta
ROr 10
Informante: Rosa Marques Cardoso, 76 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de Motrinos,
residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrinos, a 29 de Agosto de 2011. Outras Informações:
trabalhadora rural, lavadeira.

Eu fechei a minha porta,


Não tinha por quem esperar,

6
Não difere muito a versão de Parragil (Loulé):
Graças Te dou, Senhor,
que me deste de comer,
sem eu merecer!
Assim me levai para o Céu,
5 quando eu vier a morrer. (cf. Custódio, Galhoz, Cardigos [2008], pág. 315).

6
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
_____________________________________________________________________________________

Entrou a Virgem Maria.


Que me veio a acompanhar.

ROr 11a
Informante: Iria Morais, 89 anos, reformada, analfabeta, natural de Reguengos de Monsaraz, residente
em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 8 de Fevereiro de 2012.

Jesus à porta,
Jesus ao festigo,
Jesus na cama,
Pra dormir comigo.

ROr 11b
Informante: Rosa Marques Cardoso, 76 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de Motrinos,
residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrinos, a 29 de Agosto de 2011. Outras Informações:
trabalhadora rural, lavadeira.

Jesus à porta,
Jesus ao postigo,
Jesus na cama
Deitado comigo.

ROr 12
Informante: Maria Antónia Valido Lobo (Maria Cantadora), 73 anos, reformada (trabalhadora rural),
analfabeta (sabe ler e sabe assinar), natural da Caridade, residente na Caridade. Recolha realizada em
Caridade, a 7 de Novembro de 2011.

Fecho a minha porta,


Fecho o meu festigo,
E peço a Nossa Senhora
Que venha dormir comigo.

ROr 13a
Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 65 anos, reformada, 4.º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 12 de
Junho de 2009.

Minha porta fecho,


Minha porta vou fechar,
Saia quem sair,
Entre quem entrar,
5 Nossa Senhora
Me venha acompanhar
E o Divino Espírito
Me venha salvar.

ROr 13b
Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 65 anos, reformada, 4.º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 26 de
Outubro de 2009.

Minha porta fecho,


Minha porta vou fechar,

7
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
_____________________________________________________________________________________

Saia quem sair


E entre quem entrar.
5 Entre Nossa Senhora,
Que me venha acompanhar,
E o Divino Espírito Santo,
Para a minha alma salvar.

ROr 13c7
Informante: Maria Antónia Valido Lobo (Maria Cantadora), 73 anos, reformada (trabalhador rural),
analfabeta (sabe ler e sabe assinar), natural da Caridade, residente na Caridade. Recolha realizada em
Caridade, a 7 de Novembro de 2011.

Saia quem sair,


Entre quem entrar,
Entre Nossa Senhora,
Pra me vir acompanhar.

ROr 14
Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 65 anos, reformada, 4.º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 12 de
Junho de 2009.

Minha porta fecho,


Minha porta vou fechar,
Vou fazer a vontade à Virgem,
Para o Demónio não me atentar.

Ao deitar
ROr 15
Informante: Rosa Lopes Patinha Berjano, 78 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de Telheiro,
residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 21 de Setembro de 2011. Outras Informações: A
informante possui um curso de Guarda-Livros (Contabilidade) e de Dactilografia. Foi funcionária (chefe)
da Caixa de Previdência de Évora – serviço local de Reguengos de Monsaraz (Casa do Povo de Reguengos
de Monsaraz), durante 24 anos.

Anjo da Guarda me guarde,


Anjo da Guia me guie,
Guardai-me toda a noite,
E amanhã todo o dia.,
5 Pra que o meu corpo não seja ferido,
Nem o meu sangue mortificado,
Comigo esteja o Senhor crucificado .

ROr 16a
Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 65 anos, reformada, 4.º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 12 de
Junho de 2009.

Anjo da Guarda,
Minha companhia,
Guardai a minha alma,

7
Aprendeu a oração com uma vizinha.

8
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
_____________________________________________________________________________________

De noite e de dia.
Recitou versão idêntica: Josefa Rodrigues Godinho, 88 anos, reformada, 3.º ano de escolaridade, natural da
Luz (Mourão), residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 5
de outubro de 2009.

ROr 16b
Informante: Maria Antónia Valido Lobo (Maria Cantadora), 73 anos, reformada (trabalhadora rural),
analfabeta (sabe ler e sabe assinar), natural da Caridade, residente na Caridade. Recolha realizada em
Caridade, a 7 de Novembro de 2011.

Anjo da Guarda,
Minha companhia,
Guardai a mim e aos meus filhos,
Toda a noite e todo o dia.

ROr 16c
Informante: Iria Morais, 89 anos, reformada, analfabeta, natural de Reguengos de Monsaraz, residente
em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 8 de Fevereiro de 2012 .

Anjo da Guarda,
Minha zelosa companhia,
Guardai a minh’alma
De noite e de dia.

ROr 16d8
Informante: Vitalina Rosa Godinho, 74 anos, 2º ano de escolaridade, reformada, natural de Monsaraz,
residente em Ferragudo. Recolha realizada em Ferragudo, a 24 de Setembro de 2011.

Meu Anjinho da Guarda,


Meu doce companhia,
Guardai a minha alma,
De noite e de dia.

ROr 16e9
Informante: Rosa Maria Morais Ramalho Cardoso, 73 anos, trabalhadora rural e doméstica, analfabeta,
natural de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 25 de Setembro de 2011.

Anjo da Guarda,
Minha doce companhia,
Guardai-me esta noite toda a noite
E amanhã por todo o dia.

8
Cf. Delgado [1956], pág. 78.
9 Cf. Delgado [1956], pág. 78.
Há uma versão mais extensa recolhida por Pombinho Júnior, em Portel:
Ó meu anjo da guarda,
Minha doce companhia,
Peço-te que me guardei
Esta noite, toda a noite,
5 E àmanhã todo o dia,
Assim como Jesus Cristo foi guardado
Nas entranhas da Virgem Maria! (Pombinho Júnior [2001], pág. 112).
Cf. Roque [1946], pág. 57.

9
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
_____________________________________________________________________________________

ROr 17a10
Informante: Georgina Leal, 70 anos, comerciante, 4ª classe, natural de Telheiro, residente em Telheiro.
Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011.

Com Deus me deito,


Com Deus me levanto,
Com a Graça de Deus
E Espírito Santo.

ROr 17b
Informante: Rosa Maria Morais Ramalho Cardoso, 73 anos, trabalhadora rural e doméstica, analfabeta,
natural de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 25 de Setembro de 2011.

Com Deus me deito,


Com Deus me levanto,
Com a Graça de Deus
E o Divino Espírito Santo.

ROr 17c11
Informante: Maria Margarida Couto Lopes, 72 anos, 4º ano de escolaridade, reformada (trabalhadora
rural), natural de Reguengos de Monsaraz, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em
Reguengos de Monsaraz, a 6 de novembro de 2011.

Com Deus me deito,


Com Deus me levanto,
Na Graça de Deus
Do Divino Espírito Santo.

ROr 17d
Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 65 anos, reformada, 4.º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 12 de
Junho de 2009.

Quando eu me deito,
Quando eu me levanto,
Na Graça de Deus
E do Divino Espírito Santo.

ROr 18
Informante: Vitalina Rosa Godinho, 74 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Monsaraz,
residente em Ferragudo. Recolha realizada em Ferragudo, a 24 de Setembro de 2011.

Cruz de Cristo esteja aqui,


Espíritos maus fugir de mim,
Ó meu puríssimo Jesus,
Filho de homem potente,
5 Guardai-me esta noite toda a noite,
Amanhã por todo o dia,
O meu corpo não seja frido,
Nem mal deitado,

10 Cf. Pombinho Júnior [2001], pág. 89.


11
Cf. Custódio, Galhoz, Cardigos [2008], pág. 40.

10
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
_____________________________________________________________________________________

Nem sangue derramado,


10 Cruz de Cristo esteja ao meu lado.

ROr 1912
Informante: Joana dos Reis Gato, 80 anos, reformada (em solteira, trabalhou no campo, doméstica), 4º
ano de escolaridade, natural de Outeiro, residente em Outeiro. Recolha realizada em Outeiro, a 12 de
Setembro de 2011.

Oração a Jesus

Jesus e Jesus comigo,


Jesus esteja ao pé de mim,
Se Jesus estiver comigo,
Nada venha contra mim,
5 Jesus seja o que Deus quiser,
Se Jesus comigo tiver,
Contra mim
Venha o que vier.

ROr 2013
Informante: Joana dos Reis Gato, 80 anos, reformada (em solteira, trabalhou no campo, doméstica), 4º
ano de escolaridade, natural de Outeiro, residente em Outeiro. Recolha realizada em Outeiro, a 12 de
Setembro de 2011.

Jesus esteja comigo,


E a rosa aonde nasceu,
E a hóstia consagrada,
E a cruz onde morreu.

ROr 2114
Informante: Maria Inácia Parreira Borrego, 83 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 7 de
Março de 2011.

Jesus se deite comigo,


Jesus a meu lado,
Jesus no meu peito,
Esteja o senhor crucificado.

ROr 2215
Informante: Rosa Maria Morais Ramalho Cardoso, 73 anos, trabalhadora rural e doméstica, analfabeta,
natural de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011.

Encosto-me ao cravo,
Abraço-me à Cruz,

12
A informante reza a oração à noite.
13
Encontrámos uma versão de Corga de Gilvrasino (Loulé):
Eu me entrego a Jesus
e à flor onde Ele nasceu
e à hóstia consagrada
e à Cruz onde morreu. (Custódio, Galhoz, Cardigos [2008], pág. 108).
14
Aprendeu as orações com a sua mãe e com o seu avô, que era um homem muito religioso.
15 Recitou a mesma oração no dia 25 de Setembro de 2011.

11
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
_____________________________________________________________________________________

Entrego a minha alma


Ao menino Jesus.

ROr 23a16
Informante: Catarina Freira Capucho, 68 anos, reformada (funcionária da Câmara Municipal de
Reguengos de Monsaraz – foi contínua na escola da aldeia), analfabeta (sabe assinar, sabe ler pouco e
escrever – pois aprendeu nos cinco anos em que esteve na Suiça), natural de Campinho, residente em
Campinho. Recolha realizada em Campinho, a 9 de Abril de 2011.

Eu já me vou deitari,
Eu nã tenho por quem esperari,
Mas espero por Nossa Senhora,
Que me venha acompanhari.

ROr 23b
Informante: Iria Morais, 89 anos, reformada, analfabeta, natural de Reguengos de Monsaraz, residente
em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 8 de Fevereiro de 2012.

Já me vou deitar,
Já nã tenho por quem aguardar,
Aguardo por Nossa Senhora,
Que me venha acompanhar.

ROr 23c
Informante: Francisca Jorge Godinho Gato, 86 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de
Barrada, residente em Barrada. Recolha realizada em Barrada, a 11 de Setembro de 2011.

Já me vou deitar,
Não tenho por quem esperar,
Espero por a Virgem Maria
Me venha acompanhar.

ROr 23d17
Informante: Josefa Rodrigues Godinho, 88 anos, reformada, 3.º ano de escolaridade, natural da Luz
(Mourão), residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 5 de
outubro de 2009.

Vou-me deitar,
Não tenho por quem esperar,
Espero por Nossa Senhora,
Que me venha acompanhar.

16
Oração que aprendeu com a sua avó.
Pombinho Júnior recolheu em Portel uma versão quase idêntica:
Nesta cama me deito,
Não tenho por quem esperar
Espero por Nossa Senhora
Que me venha acompanhar. (Pombinho Júnior [2001], pág. 94).
17 Aprendeu a oração com a mãe.

Cf. Delgado [1956], pág. 80.


Joaquim Roque recolheu uma versão, com algumas variantes:
Nesta cama me ‘dêtê’
Nã tenho por quem ‘sperar:
Peç’ a Dê’s Nó’ Senhor
Que me venh’ acompanhar. (Roque [1946], pág. 57)

12
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
_____________________________________________________________________________________

ROr 23e
Informante: Delmira Cachopas, 93 anos, comerciante, 3º ano de escolaridade, natural de Montoito,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 26 de Novembro
de 2011.

Vou-me deitar,
Nã tenho por quem esperar,
Espero por Nossa Senhora,
Que me venha acompanhar.

ROr 23f
Informante: Maria Margarida Couto Lopes, 72 anos, 4º ano de escolaridade, reformada (trabalhadora
rural), natural de Reguengos de Monsaraz, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em
Reguengos de Monsaraz, a 6 de novembro de 2011.

Vou-me deitar,
Não tenho por quem esperar.
Nossa Senhora
Que me venha acompanhar.

ROr 24
Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural
de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011. Outras
Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel.

Menino Jesus,
Filho da Virgem Maria,
Guardai-nos esta noite
E amanhã por todo o dia.

ROr 25a
Informante: Rosa Marques Cardoso, 76 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de Motrinos,
residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrinos, a 29 de Agosto de 2011. Outras Informações:
trabalhadora rural, lavadeira.

Na minha cama me deito,


Na sepultura da vida,
Se a morte me vier buscar,
E eu não puder falar,
5 O meu coração que diga
A Jesus para me salvar.

ROr 25b18
Informante: Maria Inácia Parreira Borrego, 83 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 7 de
Março de 2011.

Nesta cama me deito,


Na sepultura da vida,
Se a morte me vier buscari,
E eu não puder falari,
5 Meu coração peça

18
Reza a oração todas as noites ao deitar, depois de se benzer.

13
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
_____________________________________________________________________________________

A Jesus para me salvari.

ROr 2619
Informante: Raimundo Luís Godinho Caeiro, 69 anos, agricultor, frequência do 9º ano, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 4 de
Junho de 2011

Nesta cama me deitei,


Sete anjos nela achei,
Três aos pés, quatro à cabeceira,
Nossa Senhora na dianteira,
5 Nossa Senhora me disse:
- Durmo-te, poisa,
Não tenhas medo de nenhuma coisa.
Dormi e acordei,
E Nossa Senhora ao pé de mim.

ROr 2720
Informante: Delmira Cachopas, 93 anos, comerciante, 3º ano de escolaridade, natural de Montoito,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 26 de Novembro
de 2011.

19
Pombinho Júnior recolheu uma versão mais curta:
Três anjos aos pés,
Três à cabeceira
E N[ossa] Senhora na dianteira.
Durme e repoisa,
Não tenhas medo de nenhuma coisa,
Que eu dormi e acordi, Nunca tal coisa temi! (Pombinho Júnior [2001], pág. 103.
Também a versão de Mosteiro (Loulé) se aproxima daquela que recolhemos:
Nesta cama me deito,
nesta cama me deitei
e sete Anjos encontrei:
quatro aos pés
5 e três à cabeceira,
e Nossa Senhora na dianteira.
E ela me disse
que dormisse descansada,
pois estava toda a noite,
10 na minha guarda. (Custódio, Galhoz, Cardigos [2008], pp. 58-59).
A versão recolhida por Manuel Joaquim Delgado cumpre textualmente o mesmo arquétipo, com excepção
do último verso com a referência ao bendito Filho que aparece como protector ao lado de sua mãe, a Virgem:
E o meu bendito Filho para te salvar (Delgado [1956], pág. 80).
19 Cf. Pombinho Júnior [2001], pág. 95.

A composição recolhida por Manuel Joaquim Delgado é muito parecida:


Nesta cama vivo me deito,
Não sei se me levantarei,
Confesso-me a Deus em graça,
Vivo na Vossa Santa Lei. (Delgado [1956], pág. 78.)
20 Cf. Pombinho Júnior [2001], pág. 95.

A composição recolhida por Manuel Joaquim Delgado é muito parecida:


Nesta cama vivo me deito,
Não sei se me levantarei,
Confesso-me a Deus em graça,
Vivo na Vossa Santa Lei. (Delgado [1956], pág. 78.)

14
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
_____________________________________________________________________________________

Nesta cama me deito,


Nã sei se me levantarei,
Confesso-me a vós, Senhor,
Comungo na vossa lei.

ROr 28
Informante: Joana dos Reis Gato, 80 anos, reformada (em solteira, trabalhou no campo, doméstica), 4º
ano de escolaridade, natural de Outeiro, residente em Outeiro. Recolha realizada em Outeiro, a 12 de
Setembro de 2011.

No Céu está uma estrela,


Ela caia sobre mim,
Jesus Cristo esteja nela,
Que ela responda por mim.

ROr 29
Informante: Rosa Marques Cardoso, 76 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de Motrinos,
residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrinos, a 29 de Agosto de 2011. Outras Informações:
trabalhadora rural, lavadeira.

O meu corpo vai caindo,


Senhora tem-lhe mão,
Sois a minha protectora,
Senhora da Conceição.

ROr 30
Informante: Francisca Jorge Godinho Gato, 86 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de
Barrada, residente em Barrada. Recolha realizada em Barrada, a 11 de Setembro de 2011.

Ó meu Anjo da Guarda,


Semelhança do Senhor,
No céu foste criado
Pra emparo e guardador.

ROr 31
Informante: Raimundo Luís Godinho Caeiro, 69 anos, agricultor, frequência do 9º ano, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 4 de
Junho de 2011.

Ó meu Deus da minha alma,


Senhor do meu coração,
Guardai a minha alma,
De noite e de dia.

ROr 32a
Informante: Joana dos Reis Gato, 80 anos, reformada (em solteira, trabalhou no campo, doméstica), 4º
ano de escolaridade, natural de Outeiro, residente em Outeiro. Recolha realizada em Outeiro, a 12 de
Setembro de 2011.

Quatro cantos tem a casa,


Quatro velas a acender,
Quatro anjos me acompanhem,
Na hora em que eu morrer.

15
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
_____________________________________________________________________________________

Recitou versão idêntica: Rosa Lopes Patinha Berjano, 78 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural
de Telheiro, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 21 de Setembro de 2011. Outras
Informações: A informante possui um curso de Guarda-Livros (Contabilidade) e de Dactilografia. Foi
funcionária (chefe) da Caixa de Previdência de Évora – serviço local de Reguengos de Monsaraz (Casa do
Povo de Reguengos de Monsaraz), durante 24 anos.

ROr 32b21
Informante: Generosa Ramalho Pereira, 84 anos, 3º ano de escolaridade, reformada (trabalhadora rural),
natural de São Marcos do Campo, residente em São Marcos do Campo. Recolha realizada em São Marcos
do Campo, a 7 de Novembro de 2011.

Quatro cantos tem a casa,


Quatro velas a arder,
Quatro anjos me acompanhem,
Esta noite, se eu morrer.

ROr 32c
Informante: Maria Antónia Valido Lobo (Maria Cantadora), 73 anos, reformada (trabalhador rural),
analfabeta (sabe ler e sabe assinar), natural da Caridade, residente na Caridade. Recolha realizada em
Caridade, a 7 de Novembro de 2011.

Quatro cantos tem a casa,


Quatro velas a arder,
Quatro anjos me acompanhem
Esta noite ô adormecer.

ROr 33a
Informante: Francisca Jorge Godinho Gato, 86 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de
Barrada, residente em Barrada. Recolha realizada em Barrada, a 11 de Setembro de 2011.

Santo António pequenino,


Filho da Vigem Maria,
Guarda-me esta noite
E amanhã pra todo o dia.

ROr 33b22
Informante: Mariana Gato Curvinha, 80 anos, reformada (trabalhadora rural), 3º ano de escolaridade,
natural de Telheiro, residente em Telheiro. Recolha realizada em Outeiro, a 13 de Setembro de 2011.

Santo António pequenino,


Filho da Virgem Maria,
Guardai-me esta noite

21 Cf.Delgado [1956], pág. 78.


Em Almarguinho (Loulé), foi recolhida uma versão que se aproxima da versão de S. Marcos do Campo:
Quatro cantos tem a casa,
quatro velas a arder,
o Senhor me acompanhe,
quando eu chegar a morrer. (Custódio, Galhoz, Cardigos [2008], pág. 68).
Também Joaquim Roque recolheu uma versão parecida, de invocação a Nossa Senhora:
Esta casa tem quatro cantos
Quatro velas a arder.
Nossa Senhora m’acompanhe
S’ ê’esta noute morrer! (Roque [1946], pág. 58).
22 Aprendeu a oração com a avó materna.

16
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
_____________________________________________________________________________________

E amanhã todo o dia.

Recitou versão idêntica: Rosa Marques Cardoso, 76 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de
Motrinos, residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrinos, a 29 de Agosto de 2011. Outras
Informações: trabalhadora rural, lavadeira; Georgina Leal, 70 anos, comerciante, 4ª classe, natural de
Telheiro, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011.

ROr 33c
Informante: Rosa Marques Cardoso, 76 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de Motrinos,
residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrinos, a 29 de Agosto de 2011. Outras Informações:
trabalhadora rural, lavadeira.

Santo António pequenino,


Filho da Virgem Maria,
Guardai a minha alma
De noite e de dia.
Recitou versão idêntica: Joana dos Reis Gato, 80 anos, reformada (em solteira, trabalhou no campo,
doméstica), 4º ano de escolaridade, natural de Outeiro, residente em Outeiro. Recolhida em Outeiro, a 12
de Setembro de 2011.

ROr 33d
Informante: Mariana dos Santos Mendes, 76 anos, reformada (trabalhadora rural), 3º ano de escolaridade,
natural de Santo António do Baldio, residente em Santo António do Baldio. Recolha realizada em Santo
António do Baldio, a 10 de Outubro de 2011 .

Santo António pequenino,


Filho da Virgem Maria,
Guarda-me a mim e à minha gente,
Hoje e amanhãeim por todo o dia.

Para confessar
ROr 34
Informante: Maria Margarida Couto Lopes, 72 anos, 4º ano de escolaridade, reformada (trabalhadora
rural), natural de Reguengos de Monsaraz, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em
Reguengos de Monsaraz, a 6 de novembro de 2011.

Eu, pecador, me confesso,


Para bem dos meus pecados,
À hora da minha morte,
Sejam todos perdoados.
ROr 35
Informante: Joana dos Reis Gato, 80 anos, reformada (em solteira, trabalhou no campo, doméstica), 4º
ano de escolaridade, natural de Outeiro, residente em Outeiro. Recolha realizada em Outeiro, a 12 de
Setembro de 2011.

Oração da menina que não sabia rezar

Chamava-se Maria e havia igreja naquela localidade. E as pessoas iam para a


missa diziam:
- Maria, anda, vamos à missa.
- Ora, eu não sei rezar.
E soava uma voz:
- Já hoje.

17
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
_____________________________________________________________________________________

Era todos os dias a mesma coisa. E, então, ela rezava esta oração:

Meu doce Jesus da minha alma,


Pai do meu coração,
Eu confesso os meus pecados,
Para saber quantos eles são,
5 Dai-me nesta vida paz,
Em morrendo, a salvação.

ROr 36a23
Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 65 anos, reformada, 4.º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 12 de
Junho de 2009.

Ó meu Deus da minha alma,


Senhor do meu coração,
Perdoai os meus pecados,
Bem sabe quantos eles são,
5 Dai-me esta vida a graça
E na outra a eterna salvação,
Que a minha alma se não perca,
Nem morra sem confissão.

ROr 36b24
Informante: Joaquim José Rosado Leal (conhecido como Ferrador, alcunha de família), 74 anos,
reformado (trabalhador rural e funcionário da Câmara Municipal de Reguengos de Monsaraz), 3º ano de
escolaridade, natural de Campinho, residente em Campinho. Recolha realizada em Campinho, a 9 de Abril
de 2011.

Ó mê Deus da minha alma,


Senhor do meu coração,
Perdoai os meus pecados,
Bem sabe quantos eles são,
5 Dá-me nesta vida ingrata
E na outra a eterna salvação,
Que a minha alma se não perca,
Nem morra sem confissão.

ROr 36c
Informante: Josefa Rodrigues Godinho, 88 anos, reformada, 3.º ano de escolaridade, natural da Luz
(Mourão), residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 17 de
Outubro de 2009.

Ó meu Deus da minha alma,


Senhor do meu coração,
Perdoai-me os meus pecados,
Bem sabe quantos eles são,

23 A informante diz que aprendeu a oração com o avô Domingos, avô paterno e faz referência ao contexto
de aprendizagem desta oração: Quando fizeram as mudanças da horta, o seu pai ainda não dormia lá, por
isso o avô fez companhia aos netos.
24 Oração que aprendeu com o seu avô Domingos dos Caeiros (o informante é primo da informante Maria

do Carmo Amieira, a ambos o avô ensinou a mesma oração).

18
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
_____________________________________________________________________________________

5 Dai-me nesta vida a graça


E na eterna a salvação.

ROr 37a25
Informante: Iria Morais, 89 anos, reformada, analfabeta, natural de Reguengos de Monsaraz, residente
em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 8 de Fevereiro de 2012.

Senhor do Conforto,
Foste preso, foste morto,
Perdoai os nossos pecados,
São tantos e prolongados,
5 Ao pé do meu confessor,
Não os pude lá confessar.
Confesso-me a vós, Senhor,
Pa saber quantos eles são,
Que a minh’alma se não perca
10 Nem morra sem confissão.

ROr 37b
Informante: Maria Margarida Couto Lopes, 72 anos, 4º ano de escolaridade, reformada (trabalhadora
rural), natural de Reguengos de Monsaraz, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em
Reguengos de Monsaraz, a 6 de novembro de 2011.

25 A informanterezava-a, quando passava algum tempo sem se confessar junto do padre. Aprendeu-a com
a sua mãe.
Pombinho Júnior, em Portel, encontrou e recolheu uma versão próxima das nossas:
Senhor Jesus do Conforto
Foste preso, foste morto,
Perdoou a vossa morte
Que foi tão cruel e tão forte;
5 Perdoa-me os meus pecados,
Que são tantos e apelingrados;
Aos pés do meu confessor
Não os pude dar confessados,
Confesso-me a Nosso Senhor,
10 Para saber quantos eles são;
Que a minha alma se não perca
Nem morra sem confissão. (Pombinho Júnior [2001], pág. 121).

A versão de Joaquim Roque tem uma estrutura temática muito idêntica, apesar das variantes:
15 Senhor do Horto
‘Fostes’ preso e ‘fostes’ morto
Perdoai! – A minha morte
Foi tão cruel e tão forte.
Perdoai os ‘mê’s pocados’
20 ‘Forom’ todos ‘av’riguados’
‘Ôs péis’ do ‘mê’ confessor
Nã’ nos pude dar confessados,
Confess’os a Vós, Senhor,
P’ra saber ‘q’ont’eles são
25 P’ra qu’a minh’alma nã’se perca
Nẽi ê’ morra ‘sẽi confessão’. (Roque [1946], pág. 61).
Manuel Joaquim Delgado recolheu duas versões textualmente muito similares (cf. Delgado [1956], pág.
84).
Em Orações. Património Oral do Concelho de Loulé, também há várias versões que se aproximam daquela
que recolhemos e da versão de Pombinho Júnior (cf. Custódio, Galhoz, Cardigos [2008], pp. 122-126).

19
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Senhor do Conforto,
Foste preso e foste morto,
Perdoai os meus pecados,
São tantos e repincados.
5 Diante do meu confessor,
Não os pude dar confessados.
Peço a vós, Senhor,
Pra saber quantos são,
Pra que a minha alma
10 Não se perca nem morra sem confissão.

Paralelas
ROr 38a26
Informante: Joaquina Códices Gomes Reis, 70 anos, reformada, 4.º ano de escolaridade, natural de
Capelins-Alandroal, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz,
a 16 de Setembro de 2010.

Salve Rainha pequenina,


Rosa branca sem espinho,
Cravo de amor,
Mãe do Senhor,
5 Dás-nos o juízo entendimento,
Pra arreceber o Santíssimo Sacramento.

ROr 38b27
Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 83 anos, 2º ano de escolaridade, reformada, natural de Campinho,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 22 de Setembro
de 2011.

Salve Rainha pequenina,


Rosa branca sem espinha,
Cravo d’amor,
Mãe de Nosso Senhor,
5 Dá-me luz e entendimento,
Pra receber o Santíssimo Sacramento.

ROr 38c
Informante: Iria Morais, 89 anos, reformada, analfabeta, natural de Reguengos de Monsaraz, residente
em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 8 de Fevereiro de 2012.

Salve Rainha pequenina,


Rosa sem espinha,
Cravo d’amor,
Mãe de Nosso Senhor,
5 Dai-nos luz e entendimento,
Pra arreceber o Santíssimo Sacramento.

26
Uma versão quase similar foi recolhida no Baixo Alentejo; contudo, a anteceder o último verso, apresenta
o seguinte verso: Para, na hora da minha morte, (Delgado [1956], pág. 81).
27 Cf. Roque [1946], pág. 72.

20
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
_____________________________________________________________________________________

ROr 38d28
Informante: Maria Antónia Valido Lobo (Maria Cantadora), 73 anos, reformada (trabalhadora rural),
analfabeta (sabe ler e sabe assinar), natural da Caridade, residente na Caridade. Recolha realizada em
Caridade, a 7 de Novembro de 2011.

Salve Rainha pequenina,


Rosa sem espinha,
Cravo do amor,
Mãe de Deus Nosso Senhor,
5 Dá-me luz e entendimento,
Para receber o Santíssimo Sacramento.

ROr 38e
Informante: Rosa Lopes Patinha Berjano, 78 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de Telheiro,
residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 21 de Setembro de 2011. Outras Informações: A
informante possui um curso de Guarda-Livros (Contabilidade) e de Dactilografia. Foi funcionária (chefe)
da Caixa de Previdência de Évora – serviço local de Reguengos de Monsaraz (Casa do Povo de Reguengos
de Monsaraz), durante 24 anos.

Salve rainha pequenina,


Mãe de espinho.
[…]
ROr 38f
Informante: Jacinta Rosa Borrego, 67 anos, Comerciante, 3º ano de escolaridade, natural de Campo,
residente em Cumeada. Recolha realizada em Cumeada, a 21 de Novembro de 2011.

Salve Rainha pequenina,


Filha da Virgem Maria,
Guarda-me hoje por toda a noite
E amanhã por todo o dia.

Para proteger

ROr 39a
Informante: Maria Antónia Valido Lobo (Maria Cantadora), 73 anos, reformada (trabalhadora rural),
analfabeta (sabe ler e sabe assinar), natural da Caridade, residente na Caridade. Recolha realizada em
Caridade, a 7 de Novembro de 2011.

Anjo da Guarda,
Santo Anjo do Senhor,
Meu zeloso guardador,
Pois a ti te confio
5 E à Piedade Divina,
Hoje e sempre me governo,

28
Encontrámos em Orações. Património Oral do Concelho de Loulé, em Orações Populares Portel e em
A Etnografia e o Folclore no Baixo Alentejo: aspectos vários, curiosidades linguísticas, uma versão
praticamente idêntica, com uma ligeira variação, contém a variante espinho, em vez de espinha (cf.
Custódio, Galhoz, Cardigos [2008], pág. 105; Pombinho Júnior [2001], pp. 135-136; Delgado [1956], pág.
81).

21
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Rezo, guardo e ilumina.

ROr 39b29
Informante: Francisca Jorge Godinho Gato, 86 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de
Barrada, residente em Barrada. Recolha realizada em Barrada, a 11 de Setembro de 2011.

Santo Anjo do Senhor,


Meu zeloso guardador,
Pois a ti me confiou
A piedade divina,
5 Hoje sempre me governa,
Rege, guarda e ilumina.

ROr 40a30
Informante: Mariana Rosa Carvalho Ramos, 71 anos, 1º ano de escolaridade, reformada (cabeleireira),
natural de Santo António do Baldio, residente em S. Pedro do Corval. Recolha realizada em S. Pedro do
Corval, a 3 de Novembro de 2011.

Anjo da Guarda,
Semelhança do Senhor,
No céu foste criado
Pra meu amparador.
5 Só te peço por filho meu,
Que não te esqueças de mim,
Que me livres da má morte
E que me chegues a bom fim.

ROr 40b
Informante: Joana dos Reis Gato, 80 anos, reformada (em solteira, trabalhou no campo, doméstica), 4º
ano de escolaridade, natural de Outeiro, residente em Outeiro. Recolha realizada em Outeiro, a 12 de
Setembro de 2011.

Ó meu Anjo da Guarda,


Semelhança do Senhor,
No céu foste criado,
Para meu amparo, Senhor.
5 Eu peço, ó filho meu,
Que não te esqueças de mim,
Que me livres da má morte,
Que me chega no fim.

ROr 41
Informante: Joana dos Reis Gato, 80 anos, reformada (em solteira, trabalhou no campo, doméstica), 4º
ano de escolaridade, natural de Outeiro, residente em Outeiro. Recolha realizada em Outeiro, a 12 de
Setembro de 2011.

Camisinha de Virgem Maria,

29
Cf. Custódio, Galhoz, Cardigos [2008], pág. 43.
30
Manuel Joaquim Delgado recolheu uma versão mais curta, com quatro versos:
Ó Anjo da minha Guarda,
Semelhança do Senhor,
Que do Céu foste mandado,
Pra meu amparo guardador. (Delgado [1956], pág. 78)

22
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Tenho eu por paz e guia,


Quem mal me quiser fazer,
Deus lhe queira compreender,
5 Tenha pernas não ande,
Tenha braços não nos alcance,
Tenha olhos não nos veja,
Tenha boca não nos fale,
Virgem Maria nos guie,
10 Santo António nos guarde.

ROr 4231
Informante: Maria Ramalho Olivença (Ti Ramalha), 85 anos, analfabeta, reformada (trabalhadora rural),
natural de Perolivas, residente em Perolivas. Recolha realizada em Perolivas, a 7 de Novembro de 2011.

Cruz de Cristo feita aqui,


Espíritos maus fujam de mim,
Lá no Reino da Judeia,
Ta um leão vencedor.
5 Aleluia, Aleluia, Aleluia.

ROr 43a32
Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 80 anos, reformada, 2.º ano de escolaridade, natural de Campinho,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 11 de Junho de
2009.

Deus te salve, cavalheiro honrado,


Com as armas de Cristo está armado,
Com o leite da Virgem Maria estou borrifada,
Que a minha alma não seja presa,
5 Nem agarrada nem bruxada,
Nem roubada nem sangue do meu corpo tirado,
Por feros caminhos irei,
O bom e o mau encontrarei,
Os maus não virão,
10 Os bons encaminharão,
Encaminhada seja eu,
Ó meu Senhor São Francisco,
Ó minha Senhora da Conceição
E ó meu senhor Jesus Cristo.

31
Aprendeu a oração com um virtuoso.
32 Informaçãoda informante: Esta também é muito bonita. Esta também foi das primeiras que a avó Joana
[sua mãe] ensinava aos filhos todos.
Pombinho Júnior recolheu uma versão próxima daquelas que recolhemos, embora mais curta:
F… que para fora vás,
Com as armas de Cristo vás armado,
Com o leite da Virgem Maria borrifado;
Os bons te encontrarão
5 E os maus não te verão.
Acompanhado irás tu, F…
Com as armas de Cristo.
Aleluia! Aleluia! (Pombinho Júnior [2001], pág. 180).

23
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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ROr 43b33
Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 65 anos, reformada, 4.º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 12 de
Junho de 2009.

Deus nos salve, cavalheiros honrados,


Com as armas de Cristo estamos armados,
Com o leite da Virgem Maria fomos borrifados,
Que eu e os meus queridos
5 Não sejamos presos, nem agarrados,
Nem roubados, nem bruxados,
Nem sangue do nosso corpo tirado,
Preferes caminhos iremos,34
Bom e mau encontraremos.
10 Os maus não nos virão,
Os bons nos encaminharão,
Encaminhados sejamos todos nós,
Por o Senhor São Francisco,
Por a Senhora da Conceição,
15 Por o Nosso Senhor Jesus Cristo.35

ROr 43c
Informante: Josefa Rodrigues Godinho, 91 anos, reformada, 3.º ano de escolaridade, natural da Luz
(Mourão), residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 23 de
setembro de 2011.

Deus te salve, cavalheiro honrado,


Com as armas de Cristo vens armado,
Não sejamos presos nem roubados,
Nem bruxados, nem devorados,
5 Nem sangue do nosso corpo tirado,
Por feros caminhos andarei,
Bom e mau encontrarei,
Os maus não nos virão,
Os bons nos encaminharão,
10 Encaminhados sejamos nós,
Por o Senhor São Francisco,
Minha Senhora da Conceição,
Meu Senhor Jesus Cristo.

ROr 44
Informante: Josefa Rodrigues Godinho, 88 anos, reformada, 3.º ano de escolaridade, natural da Luz
(Mourão), residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 5 de
outubro de 2009.

Jesus Cristo viva,


Jesus Cristo reina,

33 Aprendeu a oração com a sua avó materna.


34
Na recitação da oração sente-se insegura e repete-a. Neste verso, “perde-se” e repete novamente a oração
e dirá iremos corrigindo andaremos, que tinha dito anteriormente.
35 Quando repete corrige meu por nosso.

24
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Jesus Cristo todo o mal nos defenda.

ROr 4536
Informante: Joana dos Reis Gato, 80 anos, reformada (em solteira, trabalhou no campo, doméstica), 4º
ano de escolaridade, natural de Outeiro, residente em Outeiro. Recolha realizada em Outeiro, a 5 de
Novembro de 2011.

Justo Juiz de Nazaré,


Filho da Virgem Maria,
Que em Belém fostes nascido,
Entre […]
5 Eu te peço, Senhor,
Pelo vosso sexto dia,
Que o meu corpo não seja
Preso nem ferido nem morto,
Nem nas mãos da Justiça envolto,
10 Paz tecum, paz tecum,
Cristo assim disse
Aos seus discípulos.
Se os meus inimigos vierem
Para me prenderem,
15 Tarão olhos, não me virão,
36
A oração do Justo Juiz Divinal (ou Justo Juiz da Nazaré) está presente também, através de várias versões
em Orações. Património Oral do Concelho de Loulé, em Rezas e Benzeduras Populares (Etnografia
Alentejana) e em A Etnografia e o Folclore no Baixo Alentejo. Há uma versão de Loulé que se aproxima
textualmente da versão que recolhemos e que pode sugerir as partes esquecidas pela nossa informante:
Justo Juiz de Nazaré,
Filho da Virgem Maria,
que em Belém foste nascido,
entre as idolatrias,
5 eu Vos peço, Senhor,
pelo Vosso sexto dia,
que o meu corpo não seja preso
nem ferido nem morto
nem nas mãos da justiça envolto.
10 ‘Pax tecum., pax tecum, pax tecum,’
Cristo assim disse aos discípulos.
Se os inimigos vierem,
para me prenderem,
terão olhos, não me verão,
15 terão ouvidos, não me ouvirão,
terão boca, não me falarão.
Com as armas de São Jorge, serei armada,
com as espadas de Abraão, serei coberta,
com o leite da Virgem, serei borrifada,
20 com o sangue de Senhor Jesus Cristo,
serei baptizada,
na arca de Noé serei arrecadada,
com as chaves de São Pedro, serei fechada,
aonde não me possam ver
25 nem ferir nem matar
nem sangue do meu corpo tirar.
Amém.
Jesus, Maria e José,
que o Senhor me aumente a minha fé. (Custódio, Galhoz, Cardigos [2008], pp. 280-281; Roque
[1946], pp. 67-69; Delgado [1956], pp. 92-93).

25
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Tarão ouvidos, não me ouvirão,


Tarão boca, não me falarão.
Com as armas de S. Jorge,
Serei armado,
20 Com espada de Abraão
Serei coberto,
Aonde não me possam ver,
Nem ferir, nem matar,
Nem sangue do meu corpo tirar,
25 Também vos peço …
[…]
Com o leite da Virgem Maria
Serei criado,
Com o sangue do meu Senhor Jesus Cristo
Serei baptizado,
30 Na arca de Noé serei arcadado,
Com as chaves do S. Pedro serei fechado,
Aonde não me possam ver, nem ferir, nem matar.

ROr 4637
Informante: Catarina Freira Capucho, 68 anos, reformada (funcionária da Câmara Municipal de
Reguengos de Monsaraz – foi contínua na escola da aldeia), analfabeta (sabe assinar, sabe ler pouco e
escrever – pois aprendeu nos cinco anos em que esteve na Suíça), natural de Campo, residente em
Campinho. Recolha realizada em Campinho, a 9 de Abril de 2011.

Os meus netos estão pra fora


Em bom dia, em boa hora,
Sejam por Nossa Senhora acompanhados,
Não sejam feridos nem roubados,
5 Nem do corpo deles sangue tirado,
Quem mal lhe quiser fazer,
Tenham pernas, não andem,
Tenham braços, não lhe mexam,
Tenham boca, não lhe falem,
10 Tenham olhos, não nos vejam,
E eles fazem guia
Tão guardados sejam os meus netos
Como Filho Nosso, o Filho da Virgem Maria.

ROr 47a38
Informante: Joana Valido Cruz, 73 anos, reformada (trabalhadora rural), 2º ano de escolaridade, natural
da Caridade, residente na Caridade. Recolha realizada em Caridade, a 5 de Novembro de 2011.

Pai Nosso pequenino,


Quando Deus era menino,
Tinha a chave do Paraíso.
Quem lhas deu, quem lhas daria?
5 Foi S. Pedro mais Santa Maria.

37
Oração que aprendeu com a sua avó. Costuma rezá-la também à noite. Julgamos que adaptou o primeiro
verso à sua intenção de rezar pelos netos.
38 Cf. Delgado [1956], pág. 81.

26
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Já os galos cantam,
Já os anjinhos se levantam,
E já Deus subiu à cruz,
Para sempre. Amém. Jesus.
ROr 47b39
Informante: Rosa Maria Morais Ramalho Cardoso, 73 anos, trabalhadora rural e doméstica, analfabeta,
natural de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 25 de Setembro de 2011.

Pai Nosso pequenino,


Tem a chave do Paraíso,
Quem la deu, quem la daria?
São Pedro, Santa Maria?
5 Cruz no monte, cruz na fonte,
Onde o Demo não me encontre,
Nem de noite, nem de dia,
Nem à hora do meio-dia,
Já os galos cantam,
10 Já os anjos se levantam,
Já Deus subiu à cruz,
Pra sempre. Amém. Jesus.

ROr 47c
Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 65 anos, reformada, 4.º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 12 de
Junho de 2009.

Santo António pequenino,


Tem a chave do menino,
Quem lha deu, quem lha daria?
São Pedro, Santa Maria?
5 Cruz em monte, cruz em fonte,
Nunca o Demónio me encontre,
Nem de noite, nem de dia,
Nem à hora do meio-dia.
Já os galos cantam,
10 Já os anjos se levantam,
Já Deus subiu à cruz,
Para sempre, Amém e Jesus.

ROr 47d40
Informante: Raimundo Luís Godinho Caeiro, 69 anos, agricultor, frequência do 9º ano, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 4 de
Junho de 2011.

Santo António pequenino


Tem a chave do menino.
Quem lha deu, quem lha daria?

39
Versão muito próxima foi recolhida em Salir (Loulé) (Cf. Custódio, Galhoz, Cardigos [2008], pág. 272).
Também Joaquim Roque publicou uma versão semelhante, com uma variante no verso 6: ‘Mê’ pocado’ nã’
encontre (Roque [1946], pág. 60).
40 Aprendeu esta oração com o seu avô.

27
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
_____________________________________________________________________________________

Foi São Pedro, foi Santa Maria.


5 Cruz em monte, cruz em fonte,
Nunca o Demónio me encontre,
Nem de noite nem de dia,
Nem à hora do meio-dia,
Já os galos cantam,
10 Já os anjos se levantam,
Já Deus subiu à cruz,
Pra sempre. Amém. Jesus.

ROr 47e
Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 80 anos, reformada, 2.º ano de escolaridade, natural de Campinho,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 11 de Junho de
2009.

Santo António pequenino,


Tem na chave do menino,
Quem lha deu, quem lha daria?
São Pedro, Santa Maria?
5 Cruz em monte, cruz em fonte,
Nunca o Demónio me encontre,
Nem noite nem de dia,
Nem às horas do meio-dia,
Já os galos contam,
10 Já os anjos se levantam,
Já Deus subiu à cruz,
Para sempre. Amém. Jesus.

ROr 47f
Informante: Maria Margarida Couto Lopes, 72 anos, 4º ano de escolaridade, reformada (trabalhadora
rural), natural de Reguengos de Monsaraz, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em
Reguengos de Monsaraz, a 6 de Novembro de 2011.

Santo António pequenino,


Quando Deus era menino,
Tinha as chaves do Paraíso
Quem lhas deu, quem lhas daria?
5 S. Pedro, Santa Maria?
Já os galos cantam,
Já os anjos se levantam,
Já Jesus subiu à cruz
Pra sempre. Amém. Jesus.

ROr 4841

41
A versão recolhida por Pombinho Júnior é mais extensa:
Santo António se levantou,
Caminho e carreira andou,
Nossa Senhora encontrou,
Ela lhe perguntou:
5 - Aonde vais [,] António?
- À vossa Santa busca vou.
- Pois tu [,] António [,] irás

28
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Informante: Maria Gomes, 86 anos, analfabeta, reformada, natural de São Marcos do Campo, residente
em São Marcos do Campo. Recolha realizada em São Marcos do Campo, a 7 de Novembro de 2011.

Santo António se levantou,


Seu pezinho direito calçou.
A Virgem le procurou:
- Aonde vás, António?
5 - Vou com Nosso Senhor.
- Comigo nã irás,
Em terra ficarás,
Os meus filhos guardarás,
No ma cão, na má cadela,
10 No ma lobo, na má loba,
No ma homem, na má mulher,
Nos possa fazer mal.

Para viajar/para sair de casa


ROr 4942
Informante: Rosa Maria Morais Ramalho Cardoso, 73 anos, trabalhadora rural e doméstica, analfabeta,
natural de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 25 de Setembro de 2011.

Anjo da Guarda,
Semelhança do Senhor,
Acompanha os meus filhos e toda a minha família
Pra onde quer que eles forem.

ROr 50a
Informante: Rosário Pinto Ramalho (Bisau), 77 anos, reformada (trabalhadora rural), 3º ano de
escolaridade, natural de Santo António do Baldio, residente em Santo António do Baldio. Recolha
realizada em Santo António do Baldio, a 3 de Novembro de 2011.

Da minha casa saio,


Governar a vida vou,
Tantos anjos me acompanhem
Como rodadas e passos ê dou.

ROr 50b43

E na terra ficarás,
O meu corpo me guardarás
10 De mau lobo e de má loba,
De mau cão e de má cadela,
De mau homem e de má mulher
E de tudo mau que houver,
Que eu nunca tenha perca
15 Nem dano nem prejuízo algum.
Em louvor da Virgem Maria
Um P[adre] N[osso] e uma A[ve] M[aria]. (Pombinho Júnior [2001], pág. 175).
42 Oração que a sua mãe dizia quando um dos filhos saía de casa.
43 Recitou a mesma versão a 21 de Outubro de 2011.

Há uma versão com diversas variantes recolhidas por Idália Farinho Custódio, em Alto do Relógio (Loulé):
Da minha casa eu vou sair,

29
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
_____________________________________________________________________________________

Informante: Maria do Rosário Neves Alfaiate (Ti Lia), 81 anos, reformada (trabalhadora rural),
analfabeta, natural de Santo António do Baldio, residente em Santo António do Baldio. Recolha realizada
em Santo António do Baldio, a 10 de Outubro de 2011.

Da minha casa vou sair,


Prá minha vida ir governar.
Tantos anjos me acompanhem,
Como passos eu vou dar,
5 Deus comigo e eu com Deus,
Ele à frente, ê atrás,
Nossa Senhora me livre
Das astrácias de Satanás.

ROr 51a
Informante: Maria Clara Bragado, 69 anos, reformada (doméstica), analfabeta, natural de S. Marcos do
Campo, residente em S. Marcos do Campo. Recolha realizada em S. Marcos do Campo, a 24 de novembro
de 2011.

Jesus, que eu [fulano] vou pra fora,


No bom dia e na boa hora,
Que o véu da Virgem Maria
Esteja na sua companhia,
5 Que não seja morto,
Nem frido, nem preso,
E nem roubado, e nem afogado,
E nem mal tratado.
Seja só dos anjos acompanhados,
10 Na arca do Padre Eterno,
Nasceu o verbo divino,
Senhor, a quem Deus […],
Guiá-lo de bons caminhos.
Quem tiver olhos maus não o veja,
15 Quem tiver boca má não le fale,
Quem tiver braços maus não o alcance,
Quem tiver pernas más não o agarre.
Deus queira que [o meu filho ou a minha pessoa]
Vá chegar ao destino dele,
20 Com tanta paz e alegria,
Conforme foi e veio o Filho da Virgem Maria.
Padre-Nosso e Ave-Maria.

ROr 51b
Informante: Iria Morais, 89 anos, reformada, analfabeta, natural de Reguengos de Monsaraz, residente
em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 8 de Fevereiro de 2012.

para a minha vida governar,


tantos Anjos me acompanhem
como passos eu vou dar.
5 Deus comigo e eu com Deus,
Deus à minha frente e eu atrás,
e a Virgem Santíssima
me livre das astúcias de Satanás.
Amém. (Custódio, Galhoz, Cardigos [2008], pág. 237).

30
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
_____________________________________________________________________________________

Senhor Jesus, eu vou pra fora,


Em bom dia e boa hora,
Tomaremos Deus por sê pai,
A Virgem por sua mãe,
5 A camisa da Virgem
Por sua espada e sua guia.
Quem nos quiser dar a companhia
Será Deus e a Virgem Maria,
Quem nos quiser fazer mal
10 Deus nos queira defender,
Se tiver pernas, não ande,
Boca, não me fale,
Olhos, não me veja.
Valha-me as pessoas
15 Da Santíssima Trindade,
Atrás e à minha frente,
É Deus Pai e é Deus Filho,
É Deus vivo,
Deus me queira livrar de todo o prigo.

Para encomendar
ROr 52a44

44 Oração que aprendeu com uma pessoa muito boa e por isso a sua mãe
consentiu que a aprendesse, quando
o filho nasceu.
Usadas com uma intenção muito específica (uma para rezar contra os cães arraivados e a outra para livrar
da raiva – dos perigos e do mal), as versões recolhidas por Pombinho Júnior são praticamente idênticas
àquela que recolhemos. Transcrevemos a primeira:
Encomendo-me à Luz
E ao Santo da Vera Cruz
E ao Reino da Virgindade
E às três pessoas da S[antíssima] Trindade
5 E ao Senhor S. Romão[,]
Está [coroado e] por c’roar[,]
Tem os pés em Roma
E a cabeça em Portugal.
Que nos livre do cão danado
10 E por danar[,]
De homem morto
E ma encontro [,]
De homem vivo
E de mau perigo[,]
15 São Romão esteja comigo
E Santo António meu amigo. Fuge[,] cadela[,]
Entremeio de mim e de ti, cadela,
Está Santa Maria Madanela. (Pombinho Júnior [2001], pág. 186).
Joaquim Roque apresenta como variante uma versão da Oração das Cinco Chagas (ou Jesus Menino quer
dizer missa), para livrar de cães danados e outros males, que é, na verdade, uma encomendação
textualmente semelhante à Encomendação à Luz recolhida em Reguengos de Monsaraz:
Ê m’encomend’ à Luz
E ô Rêno da Vera Cruz
E à Santissima Trindade
E ô glorioso Senhor S. Remão
5 Que tem nos péis em Roma
E a cabeç’a em Portugal.

31
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 80 anos, reformada, 2.º ano de escolaridade, natural de Campinho,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 11 de Junho de
2009.

Encomendo-me à Luz,
E ô Senhor da Vera Cruz,
E ô Reino da Virgindade,
E a São Romão,
5 Coroado e por coroar,
Tem a cabeça em Roma
E os pés em Portugal,
Que Deus me livre
E me queira livrar,
10 Do cão danado e por danar,
Do homem morto e do mau encontro,
Do homem vivo e do mau perigo,
Santo António é meu amigo,
São Romão esteja comigo .

ROr 52b45
Informante: Rosa Lopes Patinha Berjano, 78 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de Telheiro,
residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 21 de Setembro de 2011. Outras Informações: A
informante possui um curso de Guarda-Livros (Contabilidade) e de Dactilografia. Foi funcionária (chefe)
da Caixa de Previdência de Évora – serviço local de Reguengos de Monsaraz (Casa do Povo de Reguengos
de Monsaraz), durante 24 anos.

Eu me encomendo a Jesus,
Aos três cravos e à cruz,
E às três pessoas da Santíssima Trindade,
E a São Romão de Paloma,
5 Que está coroado e por coroar,
Tem os pés em Roma,
A cabeça em Portugal,
Para que me ilumine,

Ele me ‘quêra’ livrar


De cão danado e por danar
De bicho achado e por achar,
10 D’homem morto, mau encontro,
D’homem vivo, mau ‘prigo’
S. Remão ‘sêje’ comigo
E Sant’ Antóino, mê’ amigo,
Me livre de tod’o p’rigo. (Roque [1946], pág. 63)
A versão recolhida por Manuel Joaquim Delgado é a mais curta, sem prejuízo da presença de alguns
motivos temáticos que a aproximam das diferentes versões recolhidas:
Eu me entrego à Luz
E à bela santa Cruz,
E ao rei da virgindade,
E às três pessoas da SS. Trindade,
5 Que nos livre de lobos e lobas,
Cães danados e por danar,
D´home morto, má’encontro,
D’home vivo, de má’perigo.
S. Romão seja comigo. (Delgado [1956], pág. 87).
45 Diz, particularmente, a oração quando tem medo de um cão.

32
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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De cão danado e por danar,


10 Homem morto, mau encontro,
Homem vivo, mau perigo,
O Senhor São Romão
Acompanhe comigo.

ROr 53a
Informante: Maria do Rosário Neves Alfaiate (Ti Lia), 81 anos, reformada (trabalhadora rural),
analfabeta, natural de Santo António do Baldio, residente em Santo António do Baldio. Recolha realizada
em Baldio, a 21 de Outubro de 2011.

Encomendo-me a S. Silvestre,
Às sete camisinhas que o senhor veste,
Os seus anjinhos são trinta e sete,
Me livre de bicha, de serpa,
5 De homem temeroso,
Mulher esgadelhada,
Que anda por meio da estrada,
E do fradinho da mãe furada.

ROr 53b46
Informante: Josefina da Conceição Bragado Godinho, 58 anos, reformada, 4ª classe, natural de S. Marcos
do Campo, residente em S. Marcos do Campo. Recolha realizada em S. Marcos do Campo, a 24 de
Novembro de 2011.

Encomendo a minha filha a São Silvestre,


Às onze camisinhas que ele veste,
Aos sete anjos, trinta e sete,
Corte a cabeça à serpente,
5 Corte o coração ao leão,
Corte pés e corte mãos
A quem chegar ao pé da minha filha
Com má intenção.

46Informação da informante: Era costume os rapazes que partiam para o Ultramar levarem escrita e
também é dita quando alguém sai de casa, por exemplo.
Encontramos uma versão muito parecida em Orações Populares de Portel:
Valha-me o Senhor S. Silvestre,
E as sete camisinhas que ele veste,
E os seus anjos trinta e sete.
Conforme ele cortou
5 A cabeça à serpe e as armas ao leão,
Àqueles que me quiserem fazer mal
Que lhes corte pés e mãos. (Pombinho Júnior [2001], pág. 115).
A Encomendação a São Silvestre, igualmente, se apresenta na obra de Joaquim Roque, como os primeiros
versos quase idênticos aos da versão de S. Marcos do Campo:
Ê’ m’ encomend’ a S. Selveste
E às onze camisinhas qu’ele veste
E òs sê’s enginhos trinta e Setembro
P´ra que corte a cabeç’à serpe
5 E a língu’ ô lião
E os braços e as pernas
Àqueles e àquelas
Que contra mim são!... (Roque [1946], pág. 66)

33
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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ROr 54a47
Informante: Francisca Jorge Godinho Gato, 86 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de
Barrada, residente em Barrada. Recolha realizada em Barrada, a 11 de Setembro de 2011.

Eu entrego-me a Jesus,
À sua Santa Cruz,
Ao Santíssimo Sacramento,
Às três relíquias que ele tem dentro,
5 Às três missas do Natal,
Não me aconteça nenhum mal,
Maria Santíssima esteja sempre comigo,
Anjo da minha guarda me guarde,
Me livre das tentações do demónio.

ROr 54b48
Informante: Joana dos Reis Gato, 80 anos, reformada (em solteira, trabalhou no campo, doméstica), 4º
ano de escolaridade, natural de Outeiro, residente em Outeiro. Recolha realizada em Outeiro, a 12 de
Setembro de 2011.

Valha-me o Santíssimo Sacramento,


As relíquias que lá tem dentro,
E as três missas do Natal,
Que a mim e à minha gente,
47 Dizque reza a oração todos os dias.
Versão muito similar foi recolhida por Idália Farinho Custódio:
Eu me entrego a Jesus,
à Sua santíssima Cruz,
ao Santíssimo Sacramento,
às três relíquias que tem dentro,
5 às três missas de Natal
e às três toalhas do altar,
que não haja homem nem mulher
que me possam fazer mal.
Maria Santíssima esteja sempre comigo,
10 Anjo da minha guarda me valha
e me livre sempre de todo o mal.
Amém. (Custódio, Galhoz, Cardigos [2008], pág. 219).
A versão recolhida por Joaquim Roque é mais extensa:
Ê’ m’ encomend’ a Jasus
E à sua ‘Santissema’ Cruz
E ô ‘Santissemo’ Sacramento
E às três arrelicas que já ‘tẽi drento’
5 E às três ‘Possoas destintas’
Da ‘Santissema Trendade’
E às três Missas do Natal
P’ra que nã’ haje ‘nengẽi’
Que me possa fazer mal.
10 ‘Dê’s’ me livre de má’ lobo e de má loba
De má’ cão e de má cadela
De má’homem e de má mulher
E de todos os p’rigos ruins qu’hòver.
D’ homem morto, má encontro
15 D’homem vivo, má p’rigo…
E Jasus, e Jasus e Jasus têje comigo
Pás-tè, Pás-tè Pás-te!... (Joaquim Roque [1946], pág. 64)
48 Também é rezada à noite.

34
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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5 Ninguém possa fazer mal.

Para acompanhar o ritual da missa

Ao avistar a igreja49

ROr 55a50
Informante: Francisca Jorge Godinho Gato, 86 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de
Barrada, residente em Barrada. Recolha realizada em Barrada, a 11 de Setembro de 2011.

Deus te salve, Casa Santa,


Por Deus foste ordenada,
Nela está o cales bento
E a hóstia consagrada.

ROr 55b51
Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 80 anos, reformada, 2.º ano de escolaridade, natural de Campinho,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 11 de Junho de
2009.

Deus te salve, Casa Santa,


Por Deus foste ordenada,
Onde está o cales bento
Mais a hóstia consagrada.
Recitou versão idêntica: Iria Morais, 89 anos, reformada, analfabeta, natural de Reguengos de Monsaraz,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 8 de Fevereiro de
2012.52

ROr 55c
Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 65 anos, reformada, 4.º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 12 de
Junho de 2009.

Deus te salve, Casa Santa,


Por Deus foste ordenada,
Onde está o calis bento,
E a hóstia consagrada.
Recitou versão idêntica: Rosa Lopes Patinha Berjano, 78 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural
de Telheiro, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 21 de Setembro de 2011. Outras
Informações: A informante possui um curso de Guarda-Livros (Contabilidade) e de Dactilografia. Foi
funcionária (chefe) da Caixa de Previdência de Évora – serviço local de Reguengos de Monsaraz (Casa do
Povo de Reguengos de Monsaraz), durante 24 anos.53

49
Geralmente, diz-se também esta oração, fora da ocasião da missa. No contexto de acompanhamento da
missa, estas orações podem ser ditas quando se está a entrar na igreja.
50 Com uma pequena variação no segundo verso, Que por ‘Dê’s fostes criada, Joaquim Roque apresenta

uma versão da oração (Roque [1946], pág. 58).


51 Cf. Custódio, Galhoz, Cardigos [2008], pág. 97; Pombinho Júnior [2001], pág. 97.
52 A informante refere que costuma dizer também esta oração quando entra na igreja.
53 Oração aprendida com a sua avó.

35
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
_____________________________________________________________________________________

ROr 55d54
Informante: Joaquina Códices Gomes Reis, 70 anos, reformada, 4.º ano de escolaridade, natural de
Capelins-Alandroal, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz,
a 16 de Setembro de 2010.

Deus te salve, Casa Santa,


Por Deus foste ordenada,
Onde está o cálice branco,
E a hóstia consagrada.

ROr 55e
Informante: Deolinda Caeiro Lopes, 75 anos, analfabeta (sabe ler e escrever), pasteleira, natural de
Outeiro, residente em Outeiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011.

Deus te salve, Casa Santa,


Por Deus foste ordinada,
Onde está o cales bento
E a hóstia sagrada.
Recitou versão idêntica: Maria Margarida Couto Lopes, 72 anos, 4º ano de escolaridade, reformada
(trabalhadora rural), natural de Reguengos de Monsaraz, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha
realizada em Reguengos de Monsaraz, a 6 de novembro de 2011.

ROr 55f
Informante: Rosete Falardo Ramalho, 68 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de
Gafanhoeiras, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 24
de novembro de 2011.

Deus te salve, Casa Benta,


Por Deus foste ordenada,
Onde está o cales bento
E a hóstia consagrada.

Ao entrar na igreja

ROr 56a55
Informante: Joaquina Códices Gomes Reis, 70 anos, reformada, 4.º ano de escolaridade, natural de
Capelins-Alandroal, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz,
a 16 de Setembro de 2010.

Mês pecados
Ficam cá fora,
Que eu vou a ouvir missa
Do Reino da Glória.

ROr 56b56

Di-la à porta da igreja.


54 A informante diz que aprendeu a oração com a sua mãe.
55 A informante diz que aprendeu a oração com a sua mãe.
56 Cf. Pombinho Júnior [2001], pág. 64.

Há duas versões muito parecidas, a versão recolhida por Manuel Joaquim Delgado e a versão de Picota
(Loulé):
Pecados da vida

36
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
_____________________________________________________________________________________

Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 80 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 11 de Junho de
2009.

Pecados meus,
Fiquem cá fora,
Que eu vou ouvir missa
Ao Reino da Glória.

Ao molhar a mão na água benta

ROr 57a57
Informante: Maria Antónia Valido Lobo (Maria Cantadora), 73 anos, reformada (trabalhador rural),
analfabeta (sabe ler e sabe assinar), natural da Caridade, residente na Caridade. Recolha realizada em
Caridade, a 7 de Novembro de 2011.

Água benta tomarei,


Em louvor dos meus pecados,
Que, à hora da minha morte,
Sejam todos perdoados.

ROr 57b58
Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 65 anos, reformada, 4.º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 12 de
Junho de 2009.

Água benta tomarei,


Na remissão de meus pecados,
E, à hora da minha morte,
Sejam todos perdoados.

ROr 57c59
Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 80 anos, reformada, 2.º ano de escolaridade, natural de Campinho,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 11 de Junho de
2009.

Água benta tomarei,


Por intenção dos meus pecados,
Que, à hora da minha morte,
Sejam todos perdoados.

fiquem cá fora,
que eu vou ouvir missa,
no reino da glória. (Custódio, Galhoz, Cardigos [2008], pág. 97; Delgado [1956], pág. 78).
57 A versão recolhida por Joaquim Roque é bastante próxima das várias versões que recolhemos para o

contexto de “molhar a mão na água benta para se benzer ao entrar na igreja”:


Venho tomar água benta
Por cima dos mê’s pocados
P’ra que à hora da ‘nha morte
Sêjem todos pordoados! (Roque [1946], pág. 59).
58 Afirma que esta oração não é bem igual à da Tia Isménia. Aprendeu-a com a sua mãe.
59 Cf. Pombinho Júnior [2001], pág. 66.

37
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
_____________________________________________________________________________________

ROr 57d60
Informante: Rosa Lopes Patinha Berjano, 78 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de Telheiro,
residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 21 de Setembro de 2011. Outras Informações: A
informante possui um curso de Guarda-Livros (Contabilidade) e de Dactilografia. Foi funcionária (chefe)
da Caixa de Previdência de Évora – serviço local de Reguengos de Monsaraz (Casa do Povo de Reguengos
de Monsaraz), durante 24 anos.

Água benta tomarei,


Pra remissão dos meus pecados,
Que, à hora da minha morte,
Sejam todos perdoados.

ROr 57e
Informante: Deolinda Caeiro Lopes, 75 anos, analfabeta (sabe ler e escrever), pasteleira, natural de
Outeiro, residente em Outeiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011.

Água benta tomarei,


Surreição dos meus pecados,
À hora da minha morte,
Sejam todos perdoados.

ROr 57f61
Informante: Catarina Freira Capucho, 68 anos, reformada (funcionária da Câmara Municipal de
Reguengos de Monsaraz – foi contínua na escola da aldeia), analfabeta (sabe assinar, sabe ler pouco e
escrever – pois aprendeu nos cinco anos em que esteve na Suíça), natural de Campinho, residente em
Campinho. Recolha realizada em Campinho, a 9 de Abril de 2011.

Ao louvor dos meus pecados,


À hora da minha morte,
Seja tudo perdoado.

ROr 57g62
Informante: Francisca Jorge Godinho Gato, 86 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de
Barrada, residente em Barrada. Recolha realizada em Barrada, a 11 de Setembro de 2011.

Com água benta me benzerei,


Por remissão dos meus pecados,
À hora da minha morte,
Sejam todos perdoados.

Ao ajoelhar-se

ROr 58a63

60 Cf. Pombinho Júnior [2001], pág. 66.


61
Aprendeu a oração com a sua mãe.
62 Oração quase similar, com variante no 2º verso, para perdão dos meus pecados (cf. Custódio, Galhoz,

Cardigos [2008], pág. 100).


63 Particularmente, a informante reza esta oração junto ao altar, quando chega à igreja.

A versão de Joaquim Roque não se afasta muito:


Aqui m’enjoeljo
Aqui m’arpesento
‘Diente’ de ‘Dê’s’
E do Santissemo Sacramento. (Roque [1946], pág. 59)

38
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
_____________________________________________________________________________________

Informante: Joana dos Reis Gato, 80 anos, reformada (em solteira, trabalhou no campo, doméstica), 4º
ano de escolaridade, natural de Outeiro, residente em Outeiro. Recolha realizada em Outeiro, a 12 de
Setembro de 2011.

Aqui me ajoelho,
Aqui me apresento,
Ao pé do altar
Do Santíssimo Sacramento.

ROr 58b
Informante: Iria Morais, 89 anos, reformada, analfabeta, natural de Reguengos de Monsaraz, residente
em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 8 de Fevereiro de 2012.

Aqui me ajoelho,
Aqui me represento,
À vista do altar
Do Santíssimo Sacramento.

ROr 58c
Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 65 anos, reformada, 4.º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 12 de
Junho de 2009.

Aqui me enjoelho,
Aqui me apresento,
Em louvor do Santíssimo Sacramento.

ROr 58d64
Informante: Joaquina Códices Gomes Reis, 70 anos, reformada, 4.º ano de escolaridade, natural de
Capelins-Alandroal, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz,
a 16 de Setembro de 2010.

Aqui me enjoelho,
Aqui me apresento
A ouvir missa
Do Santíssimo Sacramento.

ROr 58e65
Informante: Maria Margarida Couto Lopes, 72 anos, 4º ano de escolaridade, reformada (trabalhadora
rural), natural de Reguengos de Monsaraz, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em
Reguengos de Monsaraz, a 6 de novembro de 2011.

Aqui me enjoelho,
Aqui me apresento,
Em frente do altar
E do Santíssimo Sacramento.
64 A informante diz que aprendeu a oração com a sua mãe.
Praticamente similar, apesar da variante no terceiro verso, é a versão recolhida por Manuel Joaquim
Delgado:
Aqui me ajoelho,
Aqui me apresento,
A fazer a oração
Ao Santíssimo Sacramento. (Delgado [1956], pág. 77)
65 Cf. Pombinho Júnior [2001], pág. 68.

39
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
_____________________________________________________________________________________

ROr 58f
Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 80 anos, reformada, 2.º ano de escolaridade, natural de Campinho,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz (em casa da sobrinha
Maria do Carmo), a 11 de Junho de 2009.

Aqui me joelho,
Aqui m’ apresento,
À vista do Santíssimo Sacramento.

ROr 58g66
Informante: Catarina Freira Capucho, 68 anos, reformada (funcionária da Câmara Municipal de
Reguengos de Monsaraz – foi contínua na escola da aldeia), analfabeta (sabe assinar, sabe ler pouco e
escrever – pois aprendeu nos cinco anos em que esteve na Suíça), natural de Campinho, residente em
Campinho. Recolha realizada em Campinho, a 9 de Abril de 2011.

Aqui me enjoelho,
Aqui me apresento,
Ao louvor do Santíssimo Sacramento.

ROr 58h
Informante: Rosete Falardo Ramalho 68 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de
Gafanhoeiras, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 24
de novembro de 2011.

Aqui me ajoelho,
Aqui me apresento,
Defronte do altar do Diviníssimo
E do Santíssimo Sacramento,
5 Graças e louvores
Dou a todo o momento,
Ao Santíssimo
E Diviníssimo Sacramento.

ROr 58i
Informante: Deolinda Caeiro Lopes, 75 anos, analfabeta (sabe ler e escrever), pasteleira, natural de
Outeiro, residente em Outeiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011.

Aqui me enjoelho,
Aqui me apresento,
Em pares do altar
Do Santíssimo Sacramento.

Ao avistar o padre no altar, após sair da sacristia

ROr 59a67
Informante: Joaquina Códices Gomes Reis, 70 anos, reformada, 4.º ano de escolaridade, natural de
Capelins-Alandroal, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz,
a 16 de Setembro de 2010.

66
Aprendeu a oração com a sua mãe.
67
A informante disse que aprendeu a oração com a sua mãe.

40
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
_____________________________________________________________________________________

Deus te salve, cavalheiro honrado,


C’as armas de Cristo vens armado.
Benzo-te a ti e eu benzo-me a mim.
Bendita a hora em que eu cá vim .

ROr 59b
Informante: Maria Inácia Parreira Borrego, 83 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 7 de
Março de 2011.

Deus te salve, cavalheiro honrado,


Com as armas de Cristo vens armado,
Com o leite da Virgem Maria borrifado,
Protege-te a ti, que eu me protejo a mim,
5 Bendita seja esta hora em que eu aqui cheguei.

ROr 59c68
Informante: Rosa Lopes Patinha Berjano, 78 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de Telheiro,
residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 21 de Setembro de 2011. Outras Informações: A
informante possui um curso de Guarda-Livros (Contabilidade) e de Dactilografia. Foi funcionária (chefe)
da Caixa de Previdência de Évora – serviço local de Reguengos de Monsaraz (Casa do Povo de Reguengos
de Monsaraz), durante 24 anos.

Deus te salve, cavalheiro honrado,


Com as armas de Cristo vens armado,
Persignai-te a ti, persignai-me a mim,
Bem dita a hora em que eu aqui vim.

Quando a missa termina


ROr 60
Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 80 anos, reformada, 2.º ano de escolaridade, natural de Campinho,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 11 de Junho de
2009.

Graças a Deus que ouvi missa,


Graças a Deus que missa ouvi,
Bendita fosse69 a hora,
Em que ê aqui chegui.

68 Relatouque tinha entre os oito e os dez anos, quando a avó lhe ensinou as orações que nos recitou. Já
não consegue lembrar-se de todas elas.
Pombinho Júnior recolheu uma versão quase idêntica, em Portel:
Vinde, vinde, sacerdote,
Com as armas de Cristo vens armado.
Persignou-te ele, persignou-me a mim
Bendita seja a hora
5 Que eu aqui chegui. (Pombinho Júnior [2001], pág. 69).
69 Quando repete a oração, a informante altera a forma verbal para seja.

41
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
_____________________________________________________________________________________

ROr 6170
Informante: Joaquina Códices Gomes Reis, 70 anos, reformada, 4.º ano de escolaridade, natural de
Capelins-Alandroal, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz,
a 16 de Setembro de 2010.

Já a missa se acabou,
Bendita missa seja,
No Céu e na Terra
Como estamos na Igreja.

Ao avistar o cemitério

ROr 62a71
Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 65 anos, reformada, 4.º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 12 de
Junho de 2009.

Deus te salve, corpos mortos,


Que já foram como nós,
Roguem lá a Deus por mim,
Que eu cá rogarei por vós.

ROr 62b
Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 80 anos, reformada, 2.º ano de escolaridade, natural de Campinho,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 11 de Junho de
2009.

Deus de te salve, irmãos mortos,


Já foram vivos como nós,
Peçam lá a Deus por mim,
Que eu cá peço a Deus por vós.

Para proteger da trovoada

ROr 63a
Informante: Rosa Maria Morais Ramalho Cardoso, 73 anos, trabalhadora rural e doméstica, analfabeta,
natural de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 25 de Setembro de 2011.

Ai que estrondo vai no Céu,


Valha-nos o Santo Sudário,
E a cruz de Cristo
E a Virgem Mãe do Rosário.

70 A informante disse que aprendeu a oração com a sua mãe.


71
Versão muito similar foi recolhida em Portel e Santana:
Deus vos guarde, mortos,
Que já foram como nós:
Rogai a Deus por mim,
Que eu rogarei a Deus por vós! (Pombinho Júnior [2001], pág. 151).

42
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
_____________________________________________________________________________________

ROr 63b72
Informante: Joana dos Reis Gato, 80 anos, reformada (em solteira, trabalhou no campo, doméstica), 4º
ano de escolaridade, natural de Outeiro, residente em Outeiro. Recolhida em Outeiro, a 12 de Setembro
de 2011.

Altas vozes há no Céu,


Valha-me o Santo Sudário,
Mais a Santa Madalena
E a Virgem Mãe do Rosário .

ROr 63c73
Informante: Francisca Jorge Godinho Gato, 86 anos, 3º ano de escolaridade, reformada, natural de
Barrada, residente em Barrada. Recolha realizada em Barrada, a 11 de Setembro de 2011.

Altas vozes há no Céu,


Valha-me o Santo Sudário,
E o Santíssimo Sacramento
E a Virgem Mãe do Rosário.
Recitou versão idêntica: Deolinda Valadas Infante Cardoso, 61 anos, doméstica, 6º ano de escolaridade,
natural de Outeiro, residente em Outeiro. Recolha realizada em Outeiro, a 21 de Novembro de 2011.

ROr 63d
Informante: Deolinda Caeiro Lopes, 75 anos, analfabeta (sabe ler e escrever), pasteleira, natural de
Outeiro, residente em Outeiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011.

Altas vozes vão no Céu,


Valha-me o Santo Sudário,
Santíssimo Sacramento,
E a Virgem Mãe do Rosário.
5 Minha alma magnífica
Engrandeço-a ao senhor,
Neste campos se alegrou,
Meu Divino Salvador.

ROr 63e
Informante: Inácia Martins Balancho, 83 anos, 2º ano de escolaridade, reformada, natural de São Marcos
do Campo, residente em São Marcos do Campo. Recolha realizada em São Marcos do Campo, a 7 de
Novembro de 2011.

Altas vozes vão no Céu,


Valha-me o Santo Sidário,
Santíssimo Sacramento,
Virgem Mãe do Rosário.

ROr 63f74
Informante: Iria Morais, 89 anos, reformada, analfabeta, natural de Reguengos de Monsaraz, residente
em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 8 de Fevereiro de 2012.

72 Di-laquando soa o trovão.


73
Conta que aprendeu as orações da trovoada com o seu avô.
74 Ensinada pelo seu pai às suas filhas quando eram pequenas.

43
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
_____________________________________________________________________________________

Valha-me o Santo Sudário,


Ó Virgem d’Aciação,
Nossa Senhora do Rosário.

ROr 6475
Informante: Maria Inácia Parreira Borrego, 83 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 7 de
Março de 2011.

Ó que vozes há no Céu,


Ouvi a vossa santa humanidade,
A cruz de Cristo nos valha
E a Santíssima Trindad e.

ROr 6576
Informante: Joaquina Códices Gomes Reis, 70 anos, reformada, 4.º ano de escolaridade, natural de
Capelins-Alandroal, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz,
a 16 de Setembro de 2010.

Ó que vozes há no Céu,


Valha-me o Santo Sedário,
E o Santíssimo Sacramento,
E a Virgem mãe do Rosário,
5 Ó reselva cruz divina,
Ó vozes, não estejam tristes,
Já Deus do céu alcançastes
O que na terra le pedistes,
Quem esta oração rezari,
10 E nela tiver devoção,
Não lhe cairá perigo nenhum,
Nem de raio nem de trovão.

ROr 66a77
Informante: Deolinda Valadas Infante Cardoso, 61 anos, doméstica, 6º ano de escolaridade, natural de
Outeiro, residente em Outeiro. Recolha realizada em Outeiro, a 21 de Novembro de 2011.

Bendito e louvado seja


O Sacramento da Eucaristia,
E o Fruto do Ventre Sagrado
Da Virgem Puríssima Santa Maria.

75 Di-laquando faz o trovão grande.


76 Diz que falta qualquer coisa, que não está completa. Mais tarde, repete-a e fá-lo de igual forma,
substituindo apenas alcançou por alcançastes, no verso 7. Indaga-se sobre o significado de reselva,
reconhece que a palavra é estranha.
77 A sua avó cantava-a quando ouvia a trovoada.

Contou que uma senhora que não tinha fé nas orações da trovoada dizia, em casa da sua avó, quando havia
trovoada (era costume algumas pessoas juntarem-se em casa da sua avó com receio da trovoada): Santa
Galgarrabita em vez de Santa Bárbara bendita.

44
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
_____________________________________________________________________________________

5 Bendito e louvado seja


O Santíssimo Sacramento
Que está no Saculário
E o Fruto do Ventre Sagrado
Da Puríssima Mãe do Rosário.

10 Bendito e louvado seja


O Sacramento da Eucaristia
E o Fruto do Ventre Sagrado
Da Virgem Puríssima Santa Maria.

ROr 66b78
Informante: Joana dos Reis Gato, 80 anos, 4º ano de escolaridade, reformada (em solteira, trabalhou no
campo, doméstica), natural de Outeiro, residente em Outeiro. Recolha realizada em Outeiro, a 12 de
Setembro de 2011.

Bendito, louvado sejas,


O Santíssimo Sacramento da Eucaristia,
Do Fruto do ventre sagrado,
Da Virgem puríssima Santa Maria.

ROr 6779
Informante: Francisca Jorge Godinho Gato, 86 anos, 3º ano de escolaridade, reformada, natural de
Barrada, residente em Barrada. Recolha realizada em Barrada, a 11 de Setembro de 2011.

Eu vejo vir uma trovoada,


Encosto-me ao travisco,
Bradei pela Santa Bárbara,
Respondeu-me Jesus Cristo .

ROr 68
Informante: Florinda Maria Fernandes, 70 anos, reformada, analfabeta (sabe ler e escrever), natural de
Monsaraz, residente em Monsaraz. Realizada em Monsaraz, a 13 de Setembro de 2011.

Grande estrondo vai no Céu,


O Santíssimo Sacramento
Esteja na companhia
De todas as alminhas cristãs.

ROr 69a80
Informante: Maria Inácia Parreira Borrego, 83 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 7 de
Março de 2011.

78 Cantavam quando faziam as trovoadas.


Cf. Idália Farinho Custódio, Maria Aliete Farinho Custódio, Isabel Cardigos, Orações. Património Oral do
Concelho de Loulé, vol. III, Loulé, Edição da Câmara Municipal de Loulé, 2008, pág. 243.
79 Versão muito próxima foi recolhida em Querença (Loulé):

Eu vi vir a trovoada
e encolhi-me a um trovisco,
gritei por Santa Bárbara,
acudi-me Jesus Cristo. (Custódio, Galhoz, Cardigos [2008], pág. 258)
80 Di-la quando faz o relâmpago.

45
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
_____________________________________________________________________________________

Jesus, que é o Santo nome de Jesus,


Onde Jesus está o Santo nome de Jesus,
Que não entre mal nenhum.

ROr 69b81
Informante: Ana Romão Correia Cunha Cartaxo, 81 anos, reformada (doméstica), 4º ano de escolaridade,
natural de Reguengos de Monsaraz, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em
Reguengos de Monsaraz, a 4 de Novembro de 2011.

Jesus, Jesus,
Que é o santo nome de Jesus,
Onde está Jesus
Que não caia perigo algum.

ROr 69c82
Informante: Joana dos Reis Gato, 80 anos, reformada (em solteira, trabalhou no campo, doméstica), 4º
ano de escolaridade, natural de Outeiro, residente em Outeiro. Recolhida em Outeiro, a 12 de Setembro
de 2011.

Jesus, Santo nome de Jesus,


Onde está o nome de Jesus
Não caia perigo nenhum
Minha alma é divina
5 Agradeço-a ao Senhor
Meu espírito se alegrou
Meu Deus, meu Salvador.

ROr 70
Informante: Vitalina Rosa Godinho, 74 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Monsaraz,
residente em Ferragudo. Recolha realizada em Ferragudo, a 24 de Setembro de 2011.

Jesus, que é santo nome de Jesus,


Valha-nos Maria, mãe de Sant’Ana
Sant’Ana, mãe de Jesus,
Valha-nos o Santo nome de Jesus.

ROr 71
Informante: Maria de Jesus Cardoso Rita, 76 anos, analfabeta (sabe assinar), reformada, natural de
Carrapatelo (foi empregada doméstica em Reguengos), residente em Carrapatelo. Recolha realizada em
Carrapatelo, a 22 de Outubro de 2011.

Jesus te encomendou
Que minha alma acompanhasses,
Com prazer e alegria,
Pai-Nosso e Ave-Maria.

81
A oração que recolhemos é semelhante à oração recolhida, em Portel, por Pombinho Júnior:
Jesus!
Santo nome de Jesus!
Onde está Jesus
Não cai perigo nenhum!
5 Jesus! Jesus! (Pombinho Júnior [2001], pág. 143).
82 Di-la quando faz o relâmpago.

46
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
_____________________________________________________________________________________

ROr 72
Informante: Rosa Maria Morais Ramalho Cardoso, 73 anos, trabalhadora rural e doméstica, analfabeta,
natural de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 25 de Setembro de 2011.

Meu Ave Menino,


Meu doce Jesus,
Livrai-nos do perigo
E salvai-nos da cruz.

ROr 73a83
Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 65 anos, reformada, 4.º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 12 de
Junho de 2009.

Santa Bárbara bendita,


No Céu está escrita,
Na terra assinalada,
Quantos anjos há no céu
5 Acompanhem a nossa alma.

ROr 73b84
Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 80 anos, reformada, 2.º ano de escolaridade, natural de Campinho,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 11 de Junho de
2009.

Santa Barbora bendita,


No Céu está escrita,
Na terra assinalada,
Quantos anjos há no céu
5 Que acompanhem as nossas almas .

ROr 73c
Informante: Josefa Rodrigues Godinho, 88 anos, reformada, 3.º ano de escolaridade, natural da Luz
(Mourão), residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 13 de
Setembro de 2009.

Santa Bárbora bendita,


No Céu está escrita,
Na terra assinalada,
Quantos anjos há no céu,
5 Que acompanhem a minha alma.
Recitou versão idêntica: Francisco Rodrigues Caeiro, 55 anos, reformado (foi GNR), 4.º ano de
escolaridade, natural de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em
Reguengos de Monsaraz, a 11 de Setembro de 2010.

ROr 73d
Informante: Francisca Piteira da Silva Neves, 62 anos, trabalhadora rural / doméstica, analfabeta, natural
de Motrinos, residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrinos, a 29 de Agosto de 2011.

83
Cf. Custódio, Galhoz, Cardigos [2008], pág. 255.
84 Quando faz trovoada, não põe os pés no chão por segurança; em alternativa, põe nos paus das cadeiras,
para não ficar queimada, caso entre uma faísca em casa. Disse: O melhor de tudo é pormo-nos no meio da
lã. Mas agora já não há lã. Antigamente, toda a gente fugia para a cama. Quando é um raio, não há
remédio. A faísca corre a casa toda e, se nos apanha, a gente fica queimada.

47
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
_____________________________________________________________________________________

Santa Bárbara bendita,


No Céu está escrita,
Na terra assinalada,
Quantos anjos há no céu
5 Nos acompanhem as nossas almas.

ROr 73e85
Informante: Joaquina Códices Gomes Reis, 70 anos, reformada, 4.º ano de escolaridade, natural de
Capelins-Alandroal, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Alcochete, a 16 de
Setembro de 2010.

Santa Bárbara bendita,


No Céu está escrita,
Na terra assinalada,
Quantos anjos há no céu,
5 Que nos acompanhem a nossa alma.
Santos novos, santos velhos,
Deus é réu.

ROr 73f
Informante: Francisca Jorge Godinho Gato, 86 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de
Barrada, residente em Barrada. Recolha realizada em Barrada, a 11 de Setembro de 2011.

Santa Bárbara bendita,


No Céu está escrita
E na terra assinalada.

ROr 73g
Informante: Inácia Ramalho Paixão Caeiro, 65 anos, agricultora, 4º ano de escolaridade, natural de
Perolivas, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 4 de
Junho de 2011.

Santa Bárbara bendita,


No Céu está escrita,
Na terra assinalada.
[…]

Recitou versão idêntica: Florinda Maria Fernandes, 70 anos, reformada, analfabeta (sabe ler e escrever),
natural de Monsaraz, residente em Monsaraz. Realizada em Monsaraz, em 13 de Setembro de 2011; Rosa
Lopes Patinha Berjano, 78 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de Telheiro, residente em
Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, em 21 de Setembro de 2011. Outras Informações: A informante
possui um curso de Guarda-Livros (Contabilidade) e de Dactilografia. Foi funcionária (chefe) da Caixa de

85 Comenta que a sua mãe dizia sempre esta oração.


Em Orações Populares de Portel, há uma versão que, no final, os versos também recuperam a repetição de
“santos”:
Santa Bárbara bendita,
Que no céu está escrita,
E na terra assinalada.
Quantos anjos estão no Céu
5 Acompanhem as nossas alamas
Santos deuses, santos fortes,
Santos imortais,
Miserére nobis, miserere nobis. (Pombinho Júnior [2001], pág. 147).

48
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Previdência de Évora – serviço local de Reguengos de Monsaraz (Casa do Povo de Reguengos de


Monsaraz), durante 24 anos.

ROr 73h86
Informante: Rosa Maria Morais Ramalho Cardoso, 73 anos, Trabalhadora Rural e Doméstica, analfabeta,
natural de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 25 de Setembro de 2011.

Santa Bárbara bendita,


Que no Céu está escrita,
Na terra assinalada,
Todos os santos e santas
5 Acompanhem as nossas almas.

ROr 73i
Informante: Deolinda Valadas Infante Cardoso, 61 anos, 6º ano de escolaridade, doméstica, natural de
Outeiro, residente em Outeiro. Recolha realizada em Outeiro, a 5 de Novembro de 2011.

Santa Bárbara bendita


Que no Céu está escrita,
Na terra assinalada,
Quantos anjos há no céu
5 Acompanhem as nossas almas.

ROr 73j
Informante: Maria Inácia Parreira Borrego, 83 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 7 de
Março de 2011.

Santa Bárbara bendita,


Que no Céu está escrita,
A terra assinalada.
[…]

ROr 73l
Informante: Vitalina Rosa Godinho, 74 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Monsaraz,
residente em Ferragudo. Recolha realizada em Ferragudo, a 24 de Setembro de 2011.

Santa Bárbara bendita,


Que no Céu está escrita,
[…]

ROr 74
Informante: Maria Antónia Valido Lobo (Maria Cantadora), 73 anos, reformada (trabalhadora rural),
analfabeta (sabe ler e sabe assinar), natural da Caridade, residente na Caridade. Recolha realizada em
Caridade, a 7 de Novembro de 2011.

Santa Bárbara bendita,


Que no Céu está escrita
E na terra assinalada.
Quantos anjos há no Céu
5 Acompanhem as nossas almas.
Bárbora santa, serva de Cristo

86
Aprendeu as orações com a mãe.

49
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Tamém Deus nos altos céus,


Alcançou o que tu pediste.
Quem esta oração rezar
10 Ou tiver por devoção
Não irá a fogo de Inferno
E nem morrerá de raio de trovão.

ROr 75a87
Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 80 anos, reformada, 2.º ano de escolaridade, natural de Campinho,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 11 de Junho de
2009.

Valha-me a Virgem Sagrada,


E a flor que dela nasceu,
E a hóstia consagrada,
E a cruz em que Deus morreu,
5 A voz do Céu ouvi-me,
Vossa Santa Majestade,
E a cruz de Cristo valei-me
E a da Santíssima Trindade.

ROr 75b
Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 65 anos, reformada, 4.º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 12 de
Junho de 2009.

Valha-me a Virgem,
E a flor que dela nasceu,
E hóstia consagrada,
E a cruz em Deus morreu,
5 Ó voz do Céu, ouvi-me,
Vossa Santa Majestade,
A cruz de Cristo valei-me
E a Mãe Santíssima Trindade.

ROr 75c
Informante: Maria Antónia Valido Lobo (Maria Cantadora), 73 anos, reformada (trabalhadora rural),
analfabeta (sabe ler e sabe assinar), natural da Caridade, residente na Caridade. Recolha realizada em
Caridade, a 7 de Novembro de 2011.

Valha-nos a Virgem Sagrada,


E a flor que dela nasceu,
Mais a hóstia consagrada,
E a cruz onde Deus morreu.
5 Ó vozes do Céu, ouvi-me
E a sua Santa Majestade,
E a cruz de Cristo valei-me
E as três pessoas da Santíssima Trindade.

87 Aprendeu a oração com a sua mãe. Afirma sobre o poder desta oração: Oração bonita e boa. Esta oração
toda a gente a devia dizer todos os dias.

50
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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ROr 75d88
Informante: Maria Inácia Parreira Borrego, 83 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 7 de
Março de 2011.

Valha-nos a Virgem Maria,


E a flor que nela nasceu,
E a hóstia consagrada,
E a cruz onde Deus morreu.

ROr 7689
Informante: Rosa Marques Cardoso, 76 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de Motrinos,
residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrinos, a 29 de Agosto de 2011. Outras Informações:
trabalhadora rural, lavadeira.

Verbo divino,
Poder da cruz,
Sangue divino,
Salvai-nos, Jesus.

ROr 7790
Informante: Joaquina Ferreira Valadas, 83 anos, reformada (foi comerciante), analfabeta, natural de
Monsaraz, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 11 de
Setembro de 2010.

Virgem Mãe da Conceição,


Seu bendito filho me prometeu,
[… ]
Está chegada a ocasião,
Virgem Mãe da Conceição, valei-me,
5 Virgem Mãe da Conceição, valei-me,
Virgem Mãe da Conceição, valei-me.

Outras Invocações
ROr 78
Informante: Joana dos Reis Gato, 80 anos, , reformada (em solteira, trabalhou no campo, doméstica), 4º
ano de escolaridade, natural de Outeiro, residente em Outeiro. Recolha realizada em Outeiro, a 12 de
Setembro de 2011.

Oração a Nossa Senhora

Além vai Nossa Senhora,


Entrando pelo Céu,
Em manguinhas de camisa,
Com o seu cabelo ao vento.

88 Di-la ao escutar trovões.


89 Conta que diz a oração que aprendeu com o Ti Palma, um velhote que tinha muito medo dos trovões.
Quando via a trovoada, corria para junto do Ti Palma. O Ti Palma dizia esta oração três vezes e acreditava
que isso espalhava a trovoada.
90 Concluída a oração, rezava-se um Padre-Nosso e uma Ave-Maria.

Di-la quando ouve os trovões. Diz que tem muita fé com esta oração, pois parece que os trovões passavam
ao dizê-la.

51
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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ROr 79a
Informante: Rosa Maria Morais Ramalho Cardoso, 73 anos, trabalhadora rural e doméstica, analfabeta,
natural de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011.

Senhora da Conceição,
Com o seu Santo Berto Divino,
Deia a bênção aos meus filhos,
Que andam por esses caminhos,
5 À busca da salvação
E do Sacramento Divino.

ROr 79b
Informante: Rosa Maria Morais Ramalho Cardoso, 73 anos, trabalhadora rural e doméstica, analfabeta,
natural de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 25 de Setembro de 2011.

Senhora da Conceição,
Mais o seu Santo Berto Divino,
Deia a bênção aos meus filhos
E a toda a minha família,
5 Que andam por esses caminhos
À busca da salvação,
E do Sacramento Divino,
Em louvor de Deus e da Virgem Maria,
Um Pai-Nosso e uma Ave-Maria.

ROr 79c91

91
Pombinho Júnior recolheu uma oração de invocação à Senhora da Encarnação, em Portel, com versos
similares aos da oração por nós recolhida de invocação à Senhora da Conceição (sublinhado nosso):
Senhora da Encarnação,
Sois mãe do Verbo Divino,
Deitai-me a vossa bênção
Que eu vou por este caminho,
5 Vou buscar a salvação
E o Sacramento divino.
Ó meu Deus Todo-Poderoso,
Filho dum Pai tão amoroso,
A alma que Vós me destes
10 Não ma deixeis morrer triste,
Já que na Cruz a remistes,
Arremi-me [,] Nosso Senhor,
Que eu sou grande pecador.
A arca do ceu
15 E a escada da eternidade,
Onde está o Cáliz bento
E a Hóstia consagrada.
Que esta oração rezar,
Um ano de dia a dia,
20 A Virgem lhe aparecerá
Antes da morte três dias,
Para lhe dar o perdão
E o caminho da salvação.
(Pombinho Júnior [2001], pág. 162).
A versão de Pombinho Júnior também se aproxima, a nível temático, das versões recolhidas por Joaquim
Roque (Roque [1946], pág. 72).

52
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Informante: Iria Morais, 89 anos, reformada, analfabeta, natural de Reguengos de Monsaraz, residente
em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 8 de Fevereiro de 2012.

Senhora da Conceição,
Senhora do Vervo Divino,
Eu aí vou por este caminho
Buscar a salvação
5 E o Sacramento divino.
Ó meu Pai Todo Poderoso,
Filho de um Deus amoroso,
Não o deixai morrer triste,
Já que na cruz remiste,
10 Quando dia a dia,
Ao Inferno não irás,
A Virgem te aparecerá,
Antes da morte três dias,
Confessa-te, pecador,
15 Cativa-te ao Senhor,
Pai-Nosso em louvor.
Pai-Nosso e uma Ave-Maria.

Para rezar na Quaresma


ROr 8092
Informante: Delmira Cachopas, 93 anos, comerciante, 3º ano de escolaridade, natural de Montoito,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 6 de Dezembro
de 2011.

Quarentena

Adoremos a Deus Padre,


Que céu e terra fizestes,
Corpo e alma nos deste,
Por vosso precioso sangue.
5 Subiste à bela cruz,
Pra salvar os pecadores.
Eles estavam dormindo,
Também tavam folgando.
Vós destes tais cuidados,
10 Dentro dos seus corações,
Que eles foram lembrados
Da sua morte paixão.
Jesus Cristo todo-poderoso,
Filho da Virgem Maria,

Em Orações. Património Oral do Concelho de Loulé e em A Etnografia e o Folclore no Baixo Alentejo, há


também várias versões de invocação à Senhora da Encarnação cujo corpo textual reúne muitas parecenças
com a oração que recolhemos e com a oração recolhida por Pombinho Júnior (cf. Custódio, Galhoz,
Cardigos [2008], pp. 126-139; Delgado [1956], pp. 88-90).
92 A informante disse que todos os dias se reza na Quaresma.

Cf. Oração Narrativa – Ciclo Julgamento da Alma – Dia do Juízo (Maria Aliete Dores Galhoz, Romanceiro
Popular Português. II- Romances Religiosos e Orações Narrativas. Romances Vulgares e Cantigas
Narrativas, Lisboa, Centro de Estudos Geográficos – Instituto Nacional de Investigação Científica, 1988,
pp. 870-876).

53
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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15 Fostes destinado em boa hora,


Fostes destinado em bom dia,
Na terra baldia, na cidade lazaria,
No céu e na terra,
Está toda a vossa valia.
20 Já levam Jesus Cristo,
Vendido por trinta dinheiros,
Já le agarram pla mão,
Levam de rastos plo chão.
Vamos a ver os varões,
25 Que sentença le mandam dar.
Sua sagrada certa parte,
Seus santos escravos mérinhos,
Le mandaram coroar.
Uma cruel lancetada
30 Lhe mandaram dar,
Que ô coração foi chegar,
Até que Jesus Cristo disse:
- Com toda a piedade,
Derrame-se o meu sangue,
35 Por cima da Cristandade,
Dele se faça o pão,
Dele se faça o vinho,
Deus nos deixa encontrar,
Com todos aqueles e aquelas
40 Que no Paraíso estão.
Olharemos para cima,
Viremos as portas do céu abertas,
Tão claras, tão floridas,
Com tão bons lugares.
45 Deus nos deixará lá entrar,
Olharemos pra baixo,
Viremos as portas do Inferno,
Co elas estão denegridas.
Uma alma que estava nelas,
50 Chorando por culpas e penas,
Chorando estava coitada,
Chorando mosquita dizendo:
- Oh que ê nunca nascera,
Oh que ê nunca fora nada,
55 Oh que ê nunca aqui se vira.
Lavaredas de fogo
Deitava pla boca,
Pareciam casas que ardiam.
Aí vem Nossa Senhora
60 Com o seu bendito Filho requerindo:
-Tirem-me daqui esta alma,
Que já se aqui está perdendo.
- Deixe-me em madre estar,
Que mesmo assim o tem merecido.

54
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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65 Deixei o sol para o dia,


Deixei a lua para a noute,
Deixei estrelas no céu,
Com grande resplandores.
Deixei vacas
70 Que não cabiam nessas coitadas,
Deixei ovelhas
Que não cabiam nessas defesas,
O lête de sábado à noute guardado,
Pra no domingo pla manhã.
75 A merecer que o Senhor fizesse,
Não é feita à terça parte.
O Paraíso fez-se pra a alma,
Com regra da verdade.
Também disse mê madre:
80 - Pensava que algumas mulheres casadas,
Que eram as mais bem casadas,
Elas são as mais mal casadas,
Deitam-se co seus maridos,
Trazem outros averiguados,
85 Trazem a alma condenada,
E a morte no outro mundo.
- Ó mal mandada, vem comigo
Até ô Dia do Juízo.
Vós, que esta oração sabeis,
90 Peço que a rezeis.
Vós, que a não sabeis,
Peço que a escuteis.
Quem esta oração escutar,
Quarenta dias na Quaresma,
95 Ganhará quarenta perdões.
Mais ganhará quem a reza,
Que tirará quatro almas
Das penas do Purgatório,
A primeira será a sua,
100 A segunda de sua mãe,
A terceira de sê pai,
A quarta a mais necessitada
Que na parenteira tiver.

ROr 81a93
Informante: Joana dos Reis Gato, 80 anos, 4º ano de escolaridade, reformada (em solteira, trabalhou no
campo, doméstica), natural de Outeiro, residente em Outeiro. Recolha realizada em Outeiro, a 12 de
Setembro de 2011.

Oração da Andorinha

93 Estaoração foi-lhe ensinada pela sua comadre, já velhota.


Cf. Oração Narrativa – Ciclo Vida de Cristo – Jesus Menino quer dizer missa (Galhoz [1988], pp. 681-
688).

55
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Andorinha gloriosa,
Mais bonita que uma rosa,
Quando Deus aqui nasceu,
Todo o mundo esclareceu,
5 Vêm em berros os judeus,
Pra matar o nosso Deus,
Já mataram ou não mataram,
Já os galos cantam,
Já os anjos se levantam,
10 Já o Senhor subiu à cruz,
Para que a minha alma se não perca,
Pra sempre. Amém. Jesus.

ROr 81b94
Informante: Generosa Ramalho Pereira, 84 anos, 3º ano de escolaridade, reformada (trabalhadora rural),
natural de São Marcos do Campo, residente em São Marcos do Campo. Recolha realizada em São Marcos
do Campo, a 7 de Novembro de 2011.

Andorinha Gloriosa,
Tão bonita como uma rosa,
Quando nasceu,
Todo o mundo parceu:
5 - Pastorinho do bom dia,
Não visto por aqui passar
A Virgem Mãe Maria?
- Ela por aqui passou,
Com o seu lindinho na mão.
10 Fazendo a sua oração,
Oração de plingrino,
Quando Deus era menino,
Pôs os pés no seu altar
E as mãos no seu lugar.
15 -Tate, tate, Madalena,
Não te tejas a limpar,
Lá detrás daquele outeiro,
Está um perro cão.
Se ele disser que não,
20 Puxa pelo teu cutelo
E arretalha-lhe o coração.
Ó cutelo tão estimado,
As arrelíquias de Pedrão,
Onde foste baptizado,

94
Cf. Oração Narrativa – Ciclo Vida de Cristo – Jesus Menino quer dizer missa; Orações Várias – Angelina
Gloriosa (Galhoz [1988], pp. 681-688, 923).
Joaquim Roque denomina a oração de Oração das Cinco Chagas e apresenta uma versão semelhante àquela
que recolhemos, com poucas variantes, das quais destacamos os dois versos finais que não se encontram na
versão de São Marcos do Campo: P’ra ficar d’arreliques / Ó Márt’e S. Sebastiã!... . (cf. Roque [1946],
pág. 62). Também Manuel Joaquim Delgado a intitula de forma quase idêntica, Oração às Cinco Chagas,
e apresenta duas versões distintas, uma das quais segue alguns dos principais motivos temáticos presentes
na nossa versão: a pergunta acerca da Virgem Maria, a referência à oração do peregrino, os apelos feitos a
Madalena (cf. Delgado [1956], pp. 85-86).

56
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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25 Nas pias de São João.

ROr 81c95
Informante: Deolinda Valadas Infante Cardoso, 61 anos, doméstica, 6º ano de escolaridade, natural de
Outeiro, residente em Outeiro. Recolha realizada em Outeiro, a 21 de Novembro de 2011.

Andorinha gloriosa,
Tão bonita como uma rosa,
Plo mundo andou,
À sombra dum loureiro se deitou,
5 Ali dormiu e sonhou
Que a cruz de Cristo era perdida
E ela a achou.
[…]

ROr 82
Informante: Joana dos Reis Gato, 80 anos, 4º ano de escolaridade, reformada (em solteira, trabalhou no
campo, doméstica), natural de Outeiro, residente em Outeiro. Recolha realizada em Outeiro, a 12 de
Setembro de 2011.

Oração do Senhor Morto

A oração de Jerusalém eu gostava de saber,


Quantas chagas o meu divino sacramento tem,
Tem mil trezentas e cinquenta e cinco,
Dou voz a quem as disser de manhã,
5 Dar-lhe-ei a salvação,
Dou voz a quem as disser ao meio-dia,
Dar-lhe-ei o meu amor,
Dou voz a quem as disser à noite,
Ficará livre dos pecados,
5 Como aqueles que estão baptizados.
Amém.

ROr 8396
Informante: Delmira Cachopas, 93 anos, comerciante, 3º ano de escolaridade, natural de Montoito,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 6 de Dezembro
de 2011.

Versos da Paixão do Senhor

Com Jasus na pena pego,


Para com ela escrever

95 Comentário da informante: Dizem que as andorinhas eram as galinhas de Nossa Senhora, não se
matavam nem se desmanchavam os seus ninhos. Faziam os ninhos na chaminé e ninguém se atrevia a
desmanchá-lo.
Cf. Oração Narrativa – Ciclo Vida de Cristo – Jesus Menino quer dizer missa (Galhoz [1988], pp. 681-
688).
96 Aprendeu a oração quando era pequena com o seu irmão.

Cf. Oração Narrativa – Ciclo Vida de Cristo – A Vida de Jesus Cristo (em amphigury) (Galhoz [1988], pp.
697-705). Há duas versões mais curtas de A Vida de Cristo recolhidas no concelho de Loulé (cf. Custódio,
Galhoz, Cardigos [2008], pp. 187-189).

57
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Uma obra capaz de se ver


Aqui e em toda a parte.
5 Eu sigo a minha arte
Como um fraco actor
Mas peço ao Senhor juízo
Todo o quanto me é preciso, mas porém
Nasceu Cristo em Belém,
10 Numa pobre alpendurada,
Viu-se a Virgem magoada, sozinha,
Chorando porque não tinha,
Sua mãe ali ô pé,
Sozinha mais Sã José se viu,
15 Logo ali le acudiu
Um preto e uma cigana
E Jesus, neto de Ana, visitar
Deu o sol em rebaixar,
Pra casa deu esplandores;
20 Vieram os três pastores a trazer
A Jesus Cristo oferecer
Suas fazendas e bens,
Vieram os Santos Reis adorá-lo,
À primeira cantiga do galo,
25 Todo o povo acudiu.
Ali é que o mundo viu
O seu Deus anaversal,
Céu e terra e mar
Tudo ali enjoelhou;
30 E a Virgem sempre ficou pura,
Tem a salvação segura
Só com este nascimento,
Augusto sacramento
Aqui é que principia;
35 É o filho de Maria,
Que hoje no mundo é nascido,
Pois ele foi concebido
Por obra e graça
Do Divino Espírito Santo.
40 O poder de Deus é tanto
Que é Senhor do mundo inteiro,
Deus e homem verdadeiro se aclama,
É a fé que se derrama
Pr’as partes da platine,
45 É a fonte da doutrina cristã,
É aquela manhã,
Que ô mundo dá claridade,
É o sol da divindade que apareceu,
E a ná choveu no deserto de Sina,
50 É a hóstia divina consagrada,
É de Jacob escada,
Por o onde o anjo desceu,

58
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Foi o mundo que ergueu o pecado


Onde foi baptizado entre o rio Jordão
55 Por seu primo João, Jesus de Nazaré,
Salvação, graça e fé
É do que o mundo está cheio,
É o que serve de recreio,
Pr’as almas puras.
60 Para cumprir as Escrituras,
Se obrigou a padecer.
Pois iremos agora a ver
Os tormentos que passou,
A gente que sustentou
65 Com cinco pães e dois peixes.
Pois é pra que nã te queixes
Que não soube repartir,
Comeram cinco mil,
Ainda sobrou comida.
70 Só o autor da vida
É que fabrica estes banquetes,
Deram-se doze ramalhetes
Ao lava-pés.
Os mandamentos são dez cruzeiros.
75 Juda por trinta dinheiros
Vendeu o seu redentor,
Por ser falso e traidor,
Usou-le traição,
Deu o seu divino mestre à prisão,
80 Deu-lhe um ódio de paz,
Onde foi reconduzido,
Entre algozes metido e preso,
Era um ódio tão aceso,
Que tarrincavam os dentes,
85 Nem amigos nem parentes consentiu.
Inda o povo nã viu outro
Como aquele padecer,
Era o sangue a correr, suando,
E o maldito povo gritando:
90 “Crucifica, Crucifica!”
O ódio é que fabrica a maldade,
O Senhor por sua bondade sofria,
Só por ter a regalia
De deixar o mundo em paz,
95 Em casa de Caim faz,
Onde o Pedro se negou,
Disse o Senhor:
- Eu sou filho do Padre Eterno,
Eu venho livrar do inferno as almas.
100 Ó ministro, bate as palmas,
Dá um grito violento,
Faz das pedras sustento, se podes.

59
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Senão, vai-te pra Rei Herodes,


Que te deiam o bode cru,
105 Lá virás o bom Jesus.
Di Herodes a Pilatos.
Este lendo lusates
Não achava criminoso
Na sinagoga, raivoso, diz:
110 - Que morra.
Esse morrer não nos convém,
Que lá dentro além há delitos,
Eram tantos os gritos que entoou .
Pilatos atenciou Cristo:
115 - Ó mundo, que não tens visto
O teu manso cordeiro
Carregando com um madeiro da cruz.
Já o sol perdeu a luz
Lá na rua da amargura,
120 E apareceu a Virgem Pura chorando,
Por quem vinha procurando,
Por seu querido esposo,
Num caso tão lastimoso o via,
Feito em arterenia,
125 Como o outro não podia haver.
E o Senhor sem poder
Caiu com a cruz no chão.
Por Deus te peço, quem me registou
Que me ajudes aqui, Simão,
130 Simão, de boa vontade,
Levou com Cristo a cruz ao monte.
Foram-se lavar à Fonte da Graça,
Por Deus, te peço que faças
Como o filho do Rosário.
135 Chegou Cristo ao Calvário cansado,
Logo ali foi crucificado,
À força da violência.
Deixou Deus com paciência
Que o cravassem de pés e mãos,
140 Para ver se estes passos vão,
Destes lassos pensamentos
Causassem muitos tormentos,
E os espinhos da cabeça
É para que o mundo conheça
145 O mar em qu’eu navego.
Até ali se achou um cego,
Logo lhe deram uma lança,
Quem é cego não alcança,
Com a sua vista o inferiu,
150 Daquele peito saiu
O sangue da divindade.
Deixou Deus à Cristandade,

60
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Para salvar o género humano,


Para maior desengano,
155 Deixou chagas abertas.
Vieram as três Perpétuas, por vezes,
Com martelos e turqueses,
Jesus Cristo pregar,
Foram-no a sepultar
160 À sipultura nova.
Foi santicicado à cova.
Só o Divino se ençarrou.
Só a mãe de Deus chorou.
Por ter dó e compaixão.
165 Chorou o seu Evangelista João,
Por não ver o seu Messias.
Vieram as três Marias,
Uma noite rigorosa e escura,
Buscar Cristo à sipultura.
170 Respondeu-lhe um Serafim:
- Cristo não está aí.
Cristo ressuscitou glorioso,
Subiu ô céu piadoso,
Trunfando na paixão,
175 Subiu ao céu de Abraão,
Onde lhe batiam as palmas.
Foi livrar as almas
Que estavam esperando
Pela vinda do seu redentor.
180 Subiu ao céu o Senhor
Em companha do Pai e do Filho
E do Divino Espírito Santo.

ROr 8497
Informante: Generosa Ramalho Pereira, 84 anos, 3º ano de escolaridade, reformada (trabalhadora rural),
natural de São Marcos do Campo, residente em São Marcos do Campo. Recolha realizada em São Marcos
do Campo, a 7 de Novembro de 2011.

Estando eu na minha sala,


Fazendo a minha oração,
Passou Santa Madalena
Mais o Senhor São João.
5 Eu à janela me assomei,
Mas nunca os conheci.
Foram de rua em rua,
Até à rua da amargura.
Vosso filho, má doçura,
10 Este homem é Jesus.
É Jesus que leva a cruz.
97 Aprendeu as orações com o seu pai.
Cf. Oração Narrativa – Ciclo da Paixão – As Novas da Crucificação Chegam a Nossa Senhora (Galhoz
[1988] pp. 628-641).

61
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Ô passar da terra […]


Caiu Jesus por terra.
Disseram-lhe os fariseus:
15 - Levanta-te daí, Galileu,
Se não daremos-te
Fel e vinagre a provar.
Seis sextas-feiras na Quaresma
[…] carnal.
20 Quem na souber que a diga,
E quem na ouvir que aprenda,
Lá no Dia do Juízo,
Terá quem se defenda.

ROr 8598
Informante: Joana dos Reis Gato, 80 anos, reformada (em solteira, trabalhou no campo, doméstica), 4º
ano de escolaridade, natural de Outeiro, residente em Outeiro. Recolhida em Outeiro, a 12 de Setembro
de 2011.

Jesus Cristo foi dizer missa


À sua santa humanidade,
Com o cálice bento na mão
E a hóstia para consagrar,
5 Seus filhos lhe pediram pão.
- O que querem, filhos meus?
Que eu não tenho que lhe dar,
Hoje vou-me confessar
E amanhã a comungar.
10 Quem esta oração disser
Três vezes ao deitar,
Por muitos pecados que tenha,
Todos se hão-de salvar.
Quem a souber que a diga,
15 Quem a ouvir que a aprenda,
Lá no Dia do Juízo
Terá com que se defenda.

ROr 86a99

98 Observação da informante: Na Quaresma, as mães não gostavam que as filhas cantassem nos trabalhos
do campo, então rezavam as orações.
Cf. Oração Narrativa – Ciclo Vida de Cristo – Jesus Cristo foi dizer missa (Galhoz [1988], pp. 688-692).
99 Aprendeu a oração com a avó materna, que era muito devota.

Cf. Oração Narrativa – Ciclo Milagres – Fonte de Nossa Senhora (Galhoz [1988], pp. 771-772).
Joaquim Roque recolheu e publicou uma oração - que não classificou, agrupando-a com outras em “Varias”
– que, na verdade, é uma “sequência narrativa” da oração Fonte de Nossa Senhora, correspondente ao
momento do milagre:
O ‘monino podiu’ água,
Logo s´abri’ uma fonte;
A font’ era de prata
A águ’ era de ´chê’ro
5 O monin´era santo
Filho de ‘Dê’s vordadêro’. (Roque [1946], pág. 74)

62
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Informante: Mariana Gato Curvinha, 80 anos, reformada (trabalhadora rural), 3º ano de escolaridade,
natural de Telheiro, residente em Telheiro. Recolha realizada em Outeiro, a 13 de Setembro de 2011.

Levantei-me uma manhã cedo,


Cedo ao cantar do galo,
Encontrei Nossa Senhora
Com um passo tão ansiado,
5 Numa banda levava a lua,
Na outra o sol pintado.
O menino pediu água,
Onde água não havia,
Logo uma fonte se abriu
10 De manjerona cercada.
- Ó que água tão preciosa,
Água com tanta alegria,
Onde bebeu o menino,
Filho da Virgem Maria.

ROr 86b100
Informante: Generosa Ramalho Pereira, 84 anos, 3º ano de escolaridade, reformada (trabalhadora rural),
natural de São Marcos do Campo, residente em São Marcos do Campo. Recolha realizada em São Marcos
do Campo, a 7 de Novembro de 2011.

Levantei-me um dia cedo,


Um dia cedo, cantar do galo,
Encontrei Nossa Senhora,
Com um passo tã ansiado,
5 Numa mão levava a cruz,
Noutra o Senhor crucificado,
E no peito levava uma cruz crucificado.
Quando o menino pediu água,
Onde água não havia,
10 Formou-se uma fonte d’água,
Água tanta alegria,
Bebeu o filho da Virgem Maria,
Padre-Nosso. Ave-Maria.

ROr 87101
Informante: Delmira Cachopas, 93 anos, comerciante, 3º ano de escolaridade, natural de Montoito,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 6 de Dezembro
de 2011.

O Terço de Nossa Senhora

O terço de Nossa Senhora


Pela rua se raza.
Muita gente fica em casa

100 Contou que a sua mãe e os seus avós sentavam os filhos à mesa antes das refeições e rezavam diversas
orações.
Cf. Oração Narrativa – Ciclo Milagres – Fonte de Nossa Senhora (Galhoz [1988], pp. 771-772).
101 Cf. Oração Narrativa – Orações Várias - Pecador Descuidado (Galhoz [1988], pp. 914-918).

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Por ser murmuradora.


5 Sempre há gente traidora,
Que a sua vida é murmurar,
Murmura memo rezando,
Até a que a morte vem chegando
E morre sem se confessar.
10 Morre sem se confessar,
Isto é regra sabida.
E apartai-nos desta vida,
É coisa que tem que ser.
Não me sube arrepender
15 Aos pés do meu confessor.
Saiba todo o pecador
Que morreu Deus por nosso bem.
É a paixão do Senhor
Esta semana que vem,
20 Esta semana que vem
É a paixão do Senhor.
Todos nós temos pena e dor,
Em chegando aquele dia,
Pois a mim bem me parecia,
25 No meu fraco entendimento,
Que o maior sentimento
Qu’era o da Virgem Maria.
Ó Virgem Maria,
Mãe do berbo divino,
30 Meus olhos inclino,
Por estar na vossa companhia.
Os anjos me sirvam de guia,
Esses que morrem por viso,
Que ê também deles preciso,
35 Quando tiver para morrer
E o Senhor te há-de dizer:
- Lá te mandei um aviso.
- Meu Senhor, descandeliza,
Cá ando nesta vida cansado,
40 Em conta sendo dada
Ao Filho do Padre Eterno.
- Pois agora vás pro Inferno,
Cá no céu não tens entrada.
Cá no céu não tens entrada,
45 Então tu não o sabias,
Eu dei-te vida folgada,
Para ver se te arrependias.
Tu nunca te arrependeste,
Nem pouco, nem munto, nem nada,
50 Nem nunca de mim lembrado,
Pecando todos os dias.
Pois, tu, agora, querias
Estares à tua vontade.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Digo-te uma verdade,


55 Vai penar criatura,
Que a tua alma nã tem cura,
Pra toda a eternidade.
Amém.

ROr 88102
Informante: Mariana Rosa Carvalho Ramos, 71 anos, reformada (cabeleireira), 1º ano de escolaridade,
natural de Santo António do Baldio, residente em S. Pedro do Corval. Recolha realizada em S. Pedro do
Corval, a 3 de Novembro de 2011.

Vão os anjinhos pro Céu,


Vão todos em procissão,
S. José leva a cruz
E S. João o pendão.
5 Lá debaixo desse pendão,
Vai um armamento armado,
Vai Jesus crucificado,
Aberto por pés e mãos.
O sangue do seu corpo corria,
10 Corria p’lo caixão sagrado.
Todo o homem que o beber
Será bem-aventurado.
Neste mundo será rei,
No outro será coroado.
15 Quem na souber que a diga,
Quem na ouvir que àprenda.
Pois no Dia do Juízo
Terá sua alma com que se defenda.

102 A informanteouviu a oração ao seu avô.


Cf. Oração Narrativa – Ciclo da Paixão – Monumento de Cristo (Galhoz [1988] pp. 656-658).

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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1.1.2. Benzeduras

Benzedura da Água

RBenz 1a103
Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 80 anos, reformada, 2.º ano de escolaridade, natural de Campinho,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 11 de Junho de
2009.

Oração para beber água das ribeiras

Aqui passou a Nossa Senhora,


Com um cacheirinho na mão,
Para espantar todos os bichinhos
Que nesta água estão.

RBenz 1b
Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 69 anos, reformada, 4.º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 12 de
Junho de 2009.

Por aqui passou Nosso Senhor,


Com um cacheirinho na mão.
[…]

Benzedura do Pão

Quando se deixa a massa a fintar

RBenz 2a104
Informante: Joaquina Ferreira Valadas, 83 anos, reformada (foi comerciante), analfabeta, natural de
Monsaraz, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 11 de
Setembro de 2010.

Deus te acrescente,
E as almas do Céu para sempre.
Deus te deia virtude

103 A informante esclarece que dizia a oração, ajoelhada para beber no rego, fazendo o sinal da cruz sobre
a dos ribeiros. Exclama, depois de a dizer: O que é certo é que eu bebia tanta vez nos regos! [Entenda-se
com esta exclamação que a água dos regos nunca lhe fez mal à saúde porque a benzia antes de beber.]
Em Orações. Património Oral do Concelho de Loulé, há duas versões de “orações” para rezar “quando se
bebe, nos campos água que desconhecemos”, mas apenas o primeiro verso é quase idêntico ao das nossas
versões (cf. Custódio, Galhoz, Cardigos [2008], pp. 317-318).
104 A informante explica: Dizia-se depois de o pão já estar amassado e fazia-se o sinal da cruz sobre a

massa que ficava a fintar tapada com uma toalha.


Pombinho Júnior recolheu, em Portel, uma versão de invocação a S. Vicente:
Em louvor de S. Vicente,
Deus te acrescente;
Eu fiz o que pude,
Nosso Senhor lhe ponha a virtude.
5 Em nome do Padre †[,] do Filho † e do Espírito Santo †
Amen. (Pombinho Júnior [2001], pág. 138).

66
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Que eu já fiz o que pude.

RBenz 2b105
Informante: Joaquina Códices Gomes Reis, 70 anos, reformada, 4.º ano de escolaridade, natural de
Capelins-Alandroal, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz,
a 16 de Setembro de 2010.

Deus te acrescente,
As almas do Céu para sempre.

RBenz 2c106
Informante: Rosa Marques Cardoso, 76 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de Motrinos,
residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrinos, a 29 de Agosto de 2011. Outras Informações:
trabalhadora rural, lavadeira.

Deus te acrescente,
E as almas do Céu pra sempre.

Recitou versão idêntica: Rosa Lopes Patinha Berjano, 78 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural
de Telheiro, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 21 de Setembro de 2011. Outras
Informações: A informante possui um curso de Guarda-Livros (Contabilidade) e de Dactilografia. Foi
funcionária (chefe) da Caixa de Previdência de Évora – serviço local de Reguengos de Monsaraz (Casa do
Povo de Reguengos de Monsaraz), durante 24 anos. 107 Gertrudes Lameira Rita, 82 anos, analfabeta,
reformada (trabalhadora rural), natural de Carrapatelo, residente em Carrapatelo. Recolha realizada em
Carrapatelo, a 9 de Outubro de 2011.108

RBenz 2d109
Informante: Francisca Jorge Godinho Gato, 86 anos, 3º ano de escolaridade, reformada, natural de
Barrada, residente em Barrada. Recolha realizada em Barrada, a 11 de Setembro de 2011.

Deus te acrescente,
E as almas do Céu para sempre.
Deus te ponha a virtude,
Que eu por mim fiz o que pude.

Recitou versão idêntica: Joana dos Reis Gato, 80 anos, 4º ano de escolaridade, reformada (em solteira,
trabalhou no campo, doméstica), natural de Outeiro, residente em Outeiro. Recolha realizada em Outeiro,
a 12 de Setembro de 2011.110

105 A informante referiu: Depois de amassar o pão, faziam o gesto da cruz sobre a massa, [enquanto diziam
as palavras].
106 Quando amassavam o pão, benziam-se. Depois de amassado, fazia-se a cruz na massa e dizia-se estas

palavras. Também diziam isto ao colocar o pão no forno.


107 Explicou que se punha a mão dentro do alguidar entre a massa e o barro e percorria-se todo o alguidar

para desligar a massa do barro, para que a massa fintasse. Punha-se um sinal de massa colado no interior
do alguidar, alguns dedos acima da massa, para se saber quando a massa estava finta. Quando a massa
atingisse o sinal, estava finta. E dizia-se estes versos.
108 Rezava um Pai Nosso e uma Ave-Maria, antes de amassar.
109 Dizia isto antigamente, quando punha o pão no forno, fazendo o sinal da cruz três vezes.
110 Quando começava a amassar, benzia-se e, quando deitava a última água na massa, dizia sempre: Esta

é em louvor das almas. Quando acabava de amassar, fazia a cruz, dizendo: Em nome do Pai, do Filho e do
Espírito Santo, e de seguida dizia a “oração”.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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RBenz 2e111
Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 82 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 13 de Novembro
de 2010.

Deus te acrescente,
E as almas do Céu pra sempre.
Tu a cresceres
E nós a comer
5 É coisa que Deus pode fazer.

RBenz 2f112
Informante: Josefa Rodrigues Godinho, 88 anos, reformada, 3.º ano de escolaridade, natural da Luz
(Mourão), residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 13 de
Setembro de 2009.

Deus te finte,
Deus te acrescente,
As almas do Céu para sempre.

111 A informante dizia estas palavras ao fazer a cruz no pão. Segundo a informante, deixava-se a massa do
pão a fintar cerca de uma hora e meia e colocavam um sinal no alguidar com um bocadinho de massa a
indicar até onde a massa devia crescer. Quando o pão demorava a fintar, punha-se umas calças de homem
com a “portinhola” para baixo e as pernas em cruz. E o pão crescia rapidamente; no máximo, em dez
minutos, estava finto.
112 A informante repete versão idêntica em 5 de Outubro de 2011. Na recolha de 13 de Setembro de 2009,

recitou uma benzedura que era costume dizer-se, depois do pão ser amassado, quando se punha a massa a
fintar. No início [no dia 5 de Outubro], insiste em dizer que não tinha por hábito em dizer tais palavras.
Verificamos, assim, que está, na verdade, muito esquecida. Pouco depois, lembra-se da oração e recita a
mesma que já tinha recitado no dia 13 de Setembro. Refere que faziam o gesto da cruz sobre a massa e que
antes de a amassar se benziam. Era o seu marido que amassava. Explica: Punha-se a fintar [a massa],
tapava-se, punha-se um punhado de farinha em cruz em cima do pão e tapava-se com o panal [designação
própria para o pano usado para tapar o pão] branco, depois uma manta ou um cobertor. Refere que, à
medida que as palavras eram ditas, faziam uma cruz por cima do pão. A informante repete o gesto, enquanto
diz a composição. No final, rezava-se o Pai Nosso.
O tempo durante o qual a massa ficava a fintar era conforme o fermento que se punha, se punha mais
fermento durava menos tempo, se punha menos, durava mais tempo: [Ficava] uma hora, talvez mais ou
menos, uma hora, uma hora e meia talvez.
Disse que tinha forno próprio no quintal, mandado fazer pelo marido.
Pombinho Júnior recolheu, em Portel, uma versão mais extensa:
Deus te finte,
Deus te acrescente,
E as almas do Céu para sempre.
A Virgem te ponha a mão
5 Que cresça mais um pão. (Pombinho Júnior [2001], pág. 139).
Uma versão da Aldeia de Tôr (Loulé) aproxima-se mais da versão recolhida por Pombinho Júnior:
Deus te finte
e Deus te acrescente.
Nossa Senhora te deite a Sua bênção
e que cresça o pão
5 como o Senhor cresceu em graça.
Em nome de Jesus,
Pai-Nosso e Ave-Maria. (Custódio, Galhoz, Cardigos [2008], pág. 316).

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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RBenz 2g113
Informante: Maria Vitória de Sousa Serrano, 72 anos, reformada (doméstica), analfabeta, natural de
Moura (cresceu em S. Marcos do Campo, aldeia dos seus pais), residente em Reguengos de Monsaraz.
Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 23 de Setembro de 2011.

Deus te acrescente
E as almas do Céu pra sempre.
Deus […]
[…] eu fiz o que pude.

RBenz 2h114
Informante: Maria Ramalho Olivença (Ti Ramalha), 85 anos, analfabeta, reformada (trabalhadora rural),
natural de Perolivas, residente em Perolivas. Recolha realizada em Perolivas, a 7 de Novembro de 2011.

Deus te acrescente
E o Céu pra sempre.
RBenz 2i
Informante: Mariana Rosa Carvalho Ramos, 71 anos, 1º ano de escolaridade, reformada (cabeleireira),
natural de Santo António do Baldio, residente em S. Pedro do Corval. Recolha realizada em S. Pedro do
Corval, a 3 de Novembro de 2011.

Deus te acrescente,
E o Céu pra sempre.
Deus te ajude,
Que eu já fiz o que pude.

RBenz 2j115
Informante: Florinda Maria Fernandes, 70 anos, reformada, analfabeta (sabe ler e escrever), natural de
Monsaraz, residente em Monsaraz. Recolha realizada em Monsaraz, a 13 de Setembro de 2011.

Deus te acrescente,
Por a alma de sempre.

RBenz 2l116
Informante: Vitalina Rosa Godinho, 74 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Monsaraz,
residente em Ferragudo. Recolha realizada em Ferragudo, a 24 de Setembro de 2011.

Deus te acrescente
Pr’as almas do Céu pra sempre.

RBenz 2m
Informante: Prazeres Carvalho Ramos, 74 anos, reformada (trabalhadora rural), analfabeta, natural de
Santo António do Baldio, residente em Santo António do Baldio. Recolha realizada em Santo António do
Baldio, a 3 de Novembro de 2011.

113 Depois de amassar, fazia uma cruz sobre o pão. Benzia-se e depois dizia estas palavras.
Explica: Depois de amassar, tapavam o alguidar da massa com o panal e depois com o cobertor até fintar.
Punham um sinal, cerca de três dedos acima da massa, para saber quando a massa estava finta. E depois
estendiam a massa. Depois punham no tabuleiro e por fim levava ao forno.
114 Quanto se punha o pão a fintar, dizia-se três vezes, fazendo o sinal da cruz.
115 Quando acabava de amassar, fazia o sinal da Santa Cruz e tornavam-no a fazer sobre a massa com

farinha. E depois diziam as palavras recitadas pela informante.


116 Benzia-se antes de começar a amassar e, quando terminava, fazia a cruz sobre o pão, dizendo isto.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Deus te dá a virtude,
Que eu já fiz o que pude.

RBenz 2n117
Informante: Rosa Maria Morais Ramalho Cardoso, 73 anos, trabalhadora rural e doméstica, analfabeta,
natural de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 20 de Outubro de 2010.

Deus te deia a virtude,


Que eu já fiz o que pude.
Deus te acrescente,
E as almas do Ceú pra sempre.

RBenz 2o118
Informante: Francisca Piteira da Silva Neves, 62 anos, analfabeta, trabalhadora rural / doméstica, natural
de Motrinos, residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrinos, a 29 de Agosto de 2011.

Deus te ponha a virtude


Que eu já fiz o que pude.
Recitou versão idêntica: Rosa Lopes Patinha Berjano, 78 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural
de Telheiro, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 21 de Setembro de 2011. Outras
Informações: A informante possui um curso de Guarda-Livros (Contabilidade) e de Dactilografia. Foi
funcionária (chefe) da Caixa de Previdência de Évora – serviço local de Reguengos de Monsaraz (Casa do
Povo de Reguengos de Monsaraz), durante 24 anos.119

RBenz 2p120
Informante: Rosário Pinto Ramalho (Bisau), 77 anos, reformada (trabalhadora rural), 3º ano de
escolaridade, natural de Santo António do Baldio, residente em Santo António do Baldio. Recolha
realizada em Santo António do Baldio, a 3 de Novembro de 2011.

Nosso Senhor te acrescente,

117 Quando começava a amassar, benzia-se. Peneirava a farinha para o alguidar. Depois punha-se o
fermento, o sal (depois de coado) e depois amassava-se. Quando se acabava de amassar, benzia-se a massa
e dizia-se as palavras recitadas. Por fim, benziam-se e faziam uma cruz na massa. Diz que antigamente este
costume servia para afastar as feiticeiras (diziam antigamente que era porque as feiticeiras quando queriam
entrar com as pessoas que entravam plo pão. Uma pessoa que queria mal à gente podia fazer mal pla
massa.).
Acabado de amassar, tapava-se o pão com o panal, com um cobertor ou dois e punha-se um chapéu em
cima do alguidar do pão, para ajudar a fintar. Já a sua avó e a sua mãe faziam isto. Por fim, empinava-se o
tabuleiro, em que se tendia, ao alguidar. Tiravam um pouco de massa para fazer um sinal no alguidar para
indicar que a massa estava finta. Faziam o sinal da cruz com a pá na pedra da entrada no forno.
A informante acrescenta: Também nas matanças, quando punham a carne no alguidar, também diziam as
mesmas palavras. E faziam uma cruz com umas pedrinhas de sal, enquanto se diz as palavras. Durante
três dias se dá volta à carne e se repete este ritual. Diz que a sua mãe e a sua avó já faziam assim e também
muita gente.
118 Depois de amassado, fazia-se a cruz na massa e dizia-se estas palavras.

Manuel Joaquim Delgado recolheu uma versão similar (cf. Delgado [1956], pág. 124).
119 Contou que começou a amassar, com 13 anos, 15 quilos de farinha. O pão era cozido em fornos de poia.

Por cada 15 quilos de farinha amassados, o pagamento da cozedura era um pão. Quando eram 25 quilos,
era um pão e uma merendeira. Amassava, peneirava, tendia, e, aos catorze anos, começou a deitar pão no
forno – diz que era difícil, que requeria técnica.
Quando começava a amassar o pão, benzia-se. E quando se acabava de amassar, deitava-se farinha por
cima, fazia-se o sinal da cruz em cima da massa (faz o gesto) e dizia-se estas palavras.
120 Depois de amassar o pão, faziam o sinal da cruz, dizendo isto. À porta do forno, faziam três cruzes.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Com as almas do Céu pra sempre.


Nosso senhor te ponha a virtude,
Que eu já fiz o que pude.

Quando se põe o pão no forno


RBenz 3121
Informante: Prazeres Carvalho Ramos, 74 anos, reformada (trabalhadora rural), analfabeta, natural de
Santo António do Baldio, residente em Santo António do Baldio. Recolha realizada em Santo António do
Baldio, a 3 de Novembro de 2011.

Credo, Credo é Deus,


Se for cobranto,
Benza-te Deus.
RBenz 4a122
Informante: Maria Ramalho Olivença (Ti Ramalha), 85 anos, analfabeta, Reformada (trabalhadora rural),
natural de Perolivas, residente em Perolivas. Recolha realizada em Perolivas, a 7 de Novembro de 2011.

Deus te acrescente.

RBenz 4b123
Informante: Deolinda Valadas Infante Cardoso, 61 anos, doméstica, 6º ano de escolaridade, natural de
Outeiro, residente em Outeiro. Recolha realizada em Outeiro, a 21 de Novembro de 2011.

Nossa Senhora te acrescente,


E as almas do Céu pra sempre.
Pai, Filho, Espírito Santo.

Benzeduras para curar/tratar

Benzeduras da Dor de Cabeça

RBenz 5a124
Informante: Rosa Maria Morais Ramalho Cardoso, 73 anos, Trabalhadora Rural e Doméstica, analfabeta,
natural de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 25 de Setembro de 2011.

Benzedura da Dor de Cabeça

Eu te benzo fulano(a)
Da dor de cabeça.

121
Ao colocar o pão no forno, diziam isto, fazendo o sinal da cruz.
122
Faziam uma cruz à porta do forno, enquanto diziam isto.
123 Ao fechar o forno, depois de colocar o pão, faziam três cruzes e diziam esta composição.
124 Mostra como se faz a Benzedura da Dor de Cabeça, exemplificando junto da vizinha Mariana Gato

Curvinha. É feita com um rosário de contas na mão.


Primeiro, a pessoa que faz a benzedura benze-se e, depois, fazendo o sinal da cruz sobre a cabeça da pessoa,
diz: Pai, Filho Espírito Santo.
De seguida, coloca uma mão na testa da pessoa que vai ser benzida e outra mão na nuca. E começa a proferir
as seguintes palavras da reza.
No final, colocavam-se os dedos nas fontes e dizia-se outra vez a mesma oração.
A benzedura era feita ou cinco, sete ou nove vezes.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Quando Deus por o mundo andava,


Pedro Paulo encontrava:
5 - O que tens, Pedro Paulo?
- Senhor, dor de cabeça, dor de miolo.
- Aperta, Pedro, aperta em cruz.
Diz três vezes Jesus, Jesus, Jesus.
Em louvor de Deus e da Virgem Maria,
10 Um Pai-Nosso e uma Ave-Maria.

RBenz 5b
Informante: José Colaço, 70 anos, 4º ano de escolaridade, comerciante, natural de Cumeada, residente em
Cumeada. Recolha realizada em Cumeada, a 21 de Novembro de 2011.

Benzedura da Dor de Cabeça

Eu te benzo, Jacinta,125
Da dor de cabeça.
Pedro e Paulo vinham de Roma,
O Senhor encontrou.
5 O Senhor lhe perguntou:
- Donde vens, Pedro, Paulo?
- De Roma, meu Senhor.
- Que há por lá?
- Dor de miolo, que é […]
10 - Volta atrás e curarás.
- Com quê, meu Senhor?
- Aperta, Pedro, a cabeça em cruz. 126
Diz três vezes Jesus, Jesus, Jesus127
Em louvor da Virgem Maria,
15 Padre-Nosso e Ave-Maria. 128

Benzeduras do ‘Torcido’129

125 Nome da esposa.


126 Numa benzedura diferente para o mesmo efeito, a sugestão de apertar a cabeça em cruz também aparece.
(cf. Roque [1946], pág. 23).
127 À medida que o informante diz três vezes a palavra Jesus, aperta a cabeça da sua mulher, fazendo o sinal

da cruz, para nos exemplificar.


128 Acrescenta o informante: depois era um Padre-Nosso e uma Ave-Maria.
129 As benzeduras vocacionadas para o tratamento de desmanchos e entorses recolhidas por Joaquim Roque

não são textualmente idênticas às que recolhemos, contudo apresentam expressões típicas da especificidade
da função da benzedura (destacadas a negrito) e que ocorrem nas versões do concelho de Reguengos de
Monsaraz. Destacamos duas versões:
«Ê’ côso: - carne ‘cobrada’ nervo tôrto!
« - Isso mesm’ é qu’ ê’ côso!
«Ê’ côso por novêlo e a ‘Virja por a’ carne,
«E S. Domingos ‘por o nervo-tutano’ e ‘por o’ ôsso.
5 «S’ é carne ‘cobrada’, vá ó sê’ lugar,
«S’ é nervo tôrto vá ò sê pôsto,
«S’ é ‘linha desmentida’ vá ò sê’ lomite.
«É glória… é Padre… é de sempre…
«É de nunc’ … glória… Amén.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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RBenz 6a
Informante: Joaquina Códices Gomes Reis, 70 anos, reformada, 4.º ano de escolaridade, natural de
Capelins-Alandroal, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz,
a 16 de Setembro de 2010.

Benzedura do Torcido

- Coso. [diz quem benze]


- Carne quebrada e linha torcida, nervo torto. [responde quem é
benzido]
- Mesmo isso é que eu coso.
Se é carne quebrada, torne a soldari;
5 Se é linha torcida, vá ao seu lugari;
Se é nervo torto, torne a endireitari.
Em louvor de Deus e da Virgem Maria,
Padre-nosso e Ave-Maria.130

RBenz 6b131
Informante: Maria Antónia Valido Lobo (Maria Cantadora), 73 anos, reformada (trabalhadora rural),
analfabeta (sabe ler e sabe assinar), natural da Caridade, residente na Caridade. Recolha realizada em
Caridade, a 7 de Novembro de 2011.

Benzedura do Destorcido

- Coso [diz o benzedor].


- Carne quebrada, nervo torto [diz o doente].
- Mesmo isso é qu’eu coso [diz o benzedor].
Virgem Maria cose pela pele,
5 S. José cose pelo osso,132
Jesus Cristo pelo nervo torto.
Se é linha desmentida,

10 «Em ‘lavor’ de Deus e da ‘Virja’ Maria», etc.


e
Jasus, qu’ é santo nome de ‘Jasus’!
curandeira: Ê te côso
paciente: Carne ‘cobrada’, nervo tôrto
curabdeira: Isso mesm’ é qu’ ê, côso!
5 Ê’ côso pela pele,
A ‘Virja’ pela carne e Deus pelo ôsso!
Melhor cos’ a ‘Virja’ qu’ ê’ côso!
Carne ‘cobrada’ será soldada
Nervos ‘destorcidos’ e linhas ‘desmetidas’
10 Tornarão ò sê’lugar.
Em ‘lavor’ de Deus e da ‘Virja Maria’
Padre-Nosso… Avém-Maria. (Roque [1946], pág. 6).
Esta últma versão assemelha-se a uma versão de Almodôvar recolhida por Manuel Joaquim Delgado (cf.
Delgado [1956], pp. 45-46).
130 Comentário da informante: Benzia-se pelo menos durante três dias. Se não houvesse melhoras, rezava-

-se durante nove dias. Tinha de ser sempre rezada em número ímpar.
131 “Já não há novelos. Era um novelo de meia, enfiava-se uma agulha, com linha, com as duas pontas

certas, não levava nó. E opôs fazia assim, cosia [simula os gestos].
Sejam, três, sejam cinco, é as que for”, tudo isto é em nunes.
132 Explicação da informante: “[aqui] já ponho a agulha mais fundo.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Vá à tua medida.
Se é linha desmandada,
10 Vá tu morada.
Se é nervo torto,
Vai ao teu lugar,
Linha desmentida torna a toldar.
Em louvor de Deus, da Virgem Maria,
15 Pai-Nosso, Ave-Maria.

RBenz 6c133
Informante: Rosa Maria Morais Ramalho Cardoso, 73 anos, trabalhadora rural e doméstica, analfabeta,
natural de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 25 de Setembro de 2011.

Benzedura do Destorcido

Eu te benzo, fulano(a),
De linha destorcida,
Carne quebrada, nervo torto,
Isso mesmo é qu’eu coso,
5 A Virgem cose pela carne,
Eu coso plo osso.
Em louvor de Deus e da Virgem Maria,
Sem estas palavras nada se fazia.
Em louvor de Deus e da Virgem Maria,
10 Pai-Nosso e uma Ave-Maria.

RBenz 6d134
Informante: Maria da Conceição Reis (Maria dos Três Queijos), 58 anos, 4º ano de escolaridade,
comerciante, natural de Santo António do Baldio, residente em S. Pedro do Corval. Recolha realizada em
S. Pedro do Corval, a 2 de Novembro de 2011.

Benzedura do Nervo Torcido

- Coso. [diz quem benze]


- Mesmo isso é qu’eu coso. [responde quem está a ser benzido]
133 Explicação da informante: Primeiro, a pessoa que faz a benzedura benze-se e, depois, passando com
uma agulha e linha por um novelo, diz as palavras.
No fim: Depois, rezava-se o Pai-Nosso, sempre fazendo o sinal da cruz, repetidamente, sob a zona do
corpo ‘torcida’, seguido da Ave-Maria.
134 Explicação da informante: Quando as pessoas dão um mau jeito, torcem um pé, torcem um braço, dão

qualquer coisa, diz-se que têm o nervo torcido. E é tradição, crença, a pessoa toda a vida acreditou, com
uma benzedura que eu vou dizer que a pessoa fica bem.
Então, pega-se num novelo, pega-se numa agulha e a pessoa diz [a informante à medida que diz a benzedura
demonstra como se faz com uma agulha e um carrinho de linhas porque não tinha um novelo à mão].
No fim, reza-se um Pai-Nosso. Reza-se uma Ave-Maria. Depois, agradece-se e reza-se mais, de hora a
hora, mais, por exemplo, umas cinco vezes que é pra começar a fazer efeito. E as pessoas não acreditam,
muitas não acreditam, mas que dá resultado, dá resultado, porque eu já sou, eu tenho experiência própria
que a mim já deu resultado. E a muitas pessoas a que já fiz esta oração a pessoa ficou bem.
A benzedura é feita durante três ou cinco dias, “umas três vezes por dia rezada”, “cinco vezes”. Tem de
ser em número ímpar.
Na primeira vez, a pessoa deve estar presente, nas outras vezes pode estar ausente.
Há quem peça a outras pessoas para rezarem a oração, sem saberem umas das outras e sem a doente
saber, pois acredita-se que a oração rezada assim ainda faz mais efeito, que a pessoa melhora mais
rapidamente.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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San Vicente cose melhor do que eu.


Eu coso pela linha e ele cose pela carne.
5 Em louvor de San Vicente,
Para que este nervo torne a toldar,
Para que esta linha torcida volte ao seu lugar,
Para que o pé direito da menina Sandra135
Se possa governar.
10 Em louvor de Deus e da Virgem Maria,
Pai-Nosso, Ave-Maria.

RBenz 6e
Informante: Jacinta Rosa Borrego, 67 anos, comerciante, 3º ano de escolaridade, natural de Campinho,
residente em Cumeada. Recolha realizada em Cumeada, a 21 de Novembro de 2011.

Benzedura do Distorcido

Eu te benzo, Maria [fulano(a)].


Eu a coso,
Carne quebrada, nervo torto,
Mesmo isso é que eu coso.
5 Se for carne quebrada,
Torne a soldar.
Se for nervo torto,
Torne a endireitar.
Se for linha desmentida,
10 Volte ao seu lugar.
Ó nervo, que torceste,
Hades ir ao lugar aonde nasceste.
Em louvor de Deus e da Virgem Maria,
Pai-Nosso e Ave-Maria. 136

RBenz 6f137
Informante: Joana Valido Cruz, 73 anos, reformada (trabalhador rural), 2º ano de escolaridade, natural
da Caridade, residente na Caridade. Recolha realizada em Caridade, a 5 de Novembro de 2011.

Benzedura do Destorcido

Coso carne quebrada, nervo torto,


Mesmo isto é que eu coso.
Santa Maria cose pela pele
E São Jacob pelo osso.
5 Linha desmentida,
Vais à tua medida,
Linha desbandada,
Vais a tua morada,
Nervo torto,

135
A filha da informante chama-se Sandra.
136 Explicação da informante: Depois reza-se um Pai-Nosso e uma Ave-Maria. Torna-se a repetir cinco
vezes (…) na mesma hora. Pode-se benzer três vezes ô dia.
137 No início, benze-se em cruz. A benzedura é rezada com o novelo e com a agulha.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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10 Torne a toldar,
Linha desmentida,
Vai ao seu lugar.
Em louvor de Deus e da Virgem Maria,
Padre-Nosso e uma Ave-Maria. 138

Benzedura da Erisipela
RBenz 7
Informante: Delmira Cachopas, 93 anos, comerciante, 3º ano de escolaridade, natural de Montoito,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 26 de Novembro
de 2011.

Benzedura da ‘erzipla’

Tu, rosa maldita,


Tu, rosa malvada,
Aqui foste nascida
E aqui foste criada.
5 Com uma faca de Flandres
Serás cortada139
Elas se cortarão,
Pró mar se aventarão.
Elas se derreterão
10 Como o sal derrete-se na água.
Peço à Senhora Santa Guiomar
E ô Senhor São João
Que venha curar
Esta erzipla ou erzipela ou erziplão.140

138 Explicação da informante: é rezada com um novelo e uma agulha com linha sem nó que passava pelo
novelo. Reza-se cinco vezes, três vezes que se faz, mas são cinco vezes que temos que dizer esta oração.
139 Neste momento, explica que cortava-se uma lasquinha de um pazinho de figueira.
140 Explicou: porque havia erzipla, erzipela e erziplão que ainda era pior.

‘Odepois’ [no final] diz-se um Padre Nosso, uma Ave Maria e ‘odepois’ diz-se outra vez a oração a benzer
três vezes.
Após perguntarmos durante quantos dias se reza a benzedura, responde: pode ser cinco vezes, pode ser sete
vezes, pode ser nove vezes, conforme a pessoa estiver.
A informante contou que em “gaiata” benzeu uma senhora grávida, mas fê-lo contrariada, porque achava
que não tinha idade para o fazer. Fui benzer a mulher com uma vontade de rir que até estourava. Era a fé
com que ê estava. Porque era, estava a fazer a figura de velha. Contou que a senhora ficou boa.
Disse que talvez tenha aprendido a benzedura com a sua mãe.
Explicou: A erzipla é inchaço e vermelho. Põe-se a pessoa inchada e muito vermelha.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Benzedura dos Olhos


RBenz 8141
Informante: Jacinta Rosa Borrego, 67 anos, comerciante, 3º ano de escolaridade, natural de Campinho,
residente em Cumeada. Recolha realizada em Cumeada, a 21 de Novembro de 2011.

Benzedura dos olhos

Eu te benzo, Maria,
Dos olhos, de névoa e inflamação,
D’ar, recha, blida e cobranto,
À mão de Deus Padre, Filho e Espírito Santo.
5 Recha maldita,
Que vieste a este lugar,
Aqui te hades secar,
Aqui te hades mirrar,
Daqui não hades passar.
10 Pra que estes raios
E estes nervos sirvam
De cuidado e de alívio
Às pessoas da Santíssima Trindade,
À Senhora da Luz,
15 Que de deia luz e claridade
Nos olhos da Maria como antigamente.
Credo.

Benzeduras da Lua
RBenz 9a142
Informante: Mariana dos Santos Mendes, 76 anos, reformada (trabalhadora rural), 3º ano de escolaridade,
natural de Santo António do Baldio, residente em Santo António do Baldio. Recolha realizada em Santo
António do Baldio, a 10 de Outubro de 2011

Benzedura da Lua

A mão de Deus e a da Virgem Maria


Vaia adiante da minha
Para que sirva de mezinha.
Eu te benzo, fulano(a),
5 De ar, de afito, de cobranto e de lua.
Santa Ana é mãe de Maria,
Santa Isabel e São João,

141 A informante explica: esta benzedura diz-se as cincos vezes, mas não é o Pai-Nosso e Ave-Maria, é o
Credo.
Diz que todas as benzeduras são rezadas cinco vezes seguidas.
Em caso de aflição, a informante já tem benzido pessoas.
A sua avó benzia as pessoas na aldeia de Campinho.
As benzeduras para as doenças dos olhos recolhidas por Joaquim Roque e Manuel Joaquim Delgado,
embora diferentes, têm algumas expressões idênticas à da composição que recolhemos: por exemplo, Aqui
te há-des secar, aqui te há-des mirrar, / Daqui nã’ há-des poder passar. (cf. Roque [1946], pp.128-39;
Delgado [1956], pp. 63-64).
142 Diz que era rezada todos os dias enquanto o queixoso andasse doente, uma vez ou duas.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Em que estas palavras


São verdades
10 E em que este corpo fique são.
Em louvor de Deus e da Virgem Maria
E do Divino Espírito Santo,
Tire este mal deste corpo e desta carne,
Em modos que se possa governar.
15 Pai-Nosso e Ave-Maria.

RBenz 9b143
Informante: Maria Antónia Valido Lobo (Maria Cantadora), 73 anos, reformada (trabalhadora rural),
analfabeta (sabe ler e sabe assinar), natural da Caridade, residente na Caridade. Recolha realizada em
Caridade, a 7 de Novembro de 2011.

Oração da Lua

Eu te benzo, Maria do Rosário,


D’ar e de afito e da lua e de cobranto.
Em louvor de Deus, do Divino Espírito Santo,
Que a mão de Deus vá adiante da minha,
5 Que é a verdadeira mezinha.
Em louvor de Deus, da Virgem Maria,
Pai-Nosso, Ave-Maria.

RBenz 10a144
Informante: Maria Vitória de Sousa Serrano, 72 anos, reformada (doméstica), analfabeta, natural de
Moura (cresceu em S. Marcos do Campo, aldeia dos seus pais), residente em Reguengos de Monsaraz.
Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 23 de Setembro de 2011.

Benzedura da Lua

Deus é Verbo, Verbo é Deus,


Tens cobranto, benza-te Deus.
Tu, Lua, que por aqui passaste,
A saúde do meu menino levaste,
5 Se tornares a passar,
Levarás o mal e deixarás o bem.
Em louvor de Deus, da Virgem Maria,
Com um Pai-Nosso e Ave-Maria.

RBenz 10b145

143 Dizque a filha era muito doente da lua.


Explica o procedimento: amornava uma pinga de azeite num púcaro, num pucarozinho de alumínio. E era
assim: [faz os gestos junto à barriga de como se faz, passando sempre com as mãos pela barriga]. Recita a
composição. Benzia-se em cruz no início. Era rezada cinco ou sete vezes. Depois descansava e voltava a
rezar ou cinco ou sete vezes.
144 Comentário da informante: depois, no fim, rezava-se o Pai-Nosso e a Ave-Maria. A benzedura era feita

sete ou nove vezes, por exemplo. O número de vezes não podia ser par.
145 Conta que foi uma senhora dos Montes Juntos que lha ensinou, quando o filho esteve muito doente, em

bebé.
Diz que fito é uma espécie de Luar.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Informante: Joana dos Reis Gato, 80 anos, reformada (em solteira, trabalhou no campo, doméstica), 4º
ano de escolaridade, natural de Outeiro, residente em Outeiro. Recolhida em Outeiro, a 12 de Setembro
de 2011.

Oração do da Lua e Cobranto

Eu te benzo da Lua, fito e cobranto,


Em nome de fulano,
Pai, Filho e Espírito Santo.
Lua formosa que por aqui passaste,
5 E a saúde de fulano levaste,
Se por aqui tornares a passar,
A tua hás-de levar
E a de fulano hás-de deixar.
Santa Ana pariu Maria,
10 Maria pariu Jesus,
Doce é o cravo, doce é a cruz,
Doce é a palavra do menino Jesus.
Santa Isabel e São João,
Conforme estas palavras santas são
15 Seja nosso Senhor servido,
Tirar esta lua, este fito e este cobranto,
Em nome de Maria,
Pai, Filho e Espírito Santo.
E em louvor da Virgem Maria,
20 Pai-Nosso e Ave-Maria.

RBenz 10c146
Informante: Joaquina Códices Gomes Reis, 70 anos, reformada, 4.º ano de escolaridade, natural de
Capelins-Alandroal, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz,
a 16 de Setembro de 2010.

Benzedura do Cobranto/ da Lua

Lua benta por’qui passou,


A cor do meu menino/minha menina levou,
E a sua deixou.
Lua benta torne a passari,
5 A cor de filho/filha torne a deixari
E a sua levará.
Em louvor de Deus e da Virgem Maria,
Padre-Nosso e Ave-Maria.

RBenz 10d147

Rezava-se três vezes.


146 De acordo com a informante, enquanto se reza, benze-se em cruz.
147 Durante a reza da benzedura, faz-se repetidamente o sinal da cruz. Enquanto a informante vai dizendo

a benzedura, vai fazendo o sinal da cruz em frente ao seu rosto como se estivesse a benzer-se a si própria.
Rezava-se três, cinco ou nove vezes no mesmo dia.
Quando a pessoa está muito doente, pode ser rezada de hora a hora.
Relata a situação de uma senhora que estava muito doente e que melhorou com a benzedura. A informante
e outra senhora estiveram um dia inteiro na casa da doente a rezar a benzedura de hora a hora. Quando lá
chegaram, nem se levantava da cama; quando de lá saíram, já ficou levantada.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Informante: Rosário Pinto Ramalho (Bisau), 77 anos, reformada (trabalhadora rural), 3º ano de
escolaridade, natural de Santo António do Baldio, residente em Santo António do Baldio. Recolha
realizada em Santo António do Baldio, a 3 de Novembro de 2011.

Benzedura da Lua e do Mau-olhado

Eu te benzo, Rosária,
De afito, de cobranto e de Lua,
Doutro mal qualquer
Que no teu corpo estiver.
5 Sant’Ana pariu Maria,
Isabel São João.
Estas palavras são verdade,
Este corpo fique são.
Lua bendita,
10 Que por aqui passaste,
A saúde de Rosária levaste,
Hás-de tornar a passar,
A tua hás-de levar
E a dela hás-de deixar.
15 Em louvor de Deus, da Virgem Maria,
Que ela vai dianta minha,
Pra que sirva de mezinha.
Pai-Nosso e Ave-Maria.

RBenz 10e148
Informante: Mariana dos Santos Mendes, 76 anos, reformada (trabalhadora rural), 3º ano de escolaridade,
natural de Santo António do Baldio, residente em Santo António do Baldio. Recolha realizada em Santo
António do Baldio, a 10 de Outubro de 2011

Benzedura da Lua

Lua, Luar,
Por aqui passastes,
A cor de fulano(a)
Levastes e tua deixastes.
5 Lua, luar,
Por aqui torna a passar,
A cor de fulano(a)
Torna a deixar
E a tua torna a levar.
10 Em louvor de Deus
E do Divino Espírito Santo,
Pai-Nosso e Ave-Maria.

148
Em simultâneo, com esta frase, faz o gesto de se benzer.
Esta versão e as próximas versões que recolhemos têm os primeiros versos quase idênticos, os quais
desenvolvem a ideia de que a Lua afectou o paciente, levando-lhe a cor quando passou e que há-de passar
novamente para devolver a cor ao paciente – Joaquim Roque recolheu uma benzedura que apresenta o
mesmo início temático: A lua por ‘qui passou/ E a cor de Fulano lovou/ A lua por’qui há-de passar/ E a
cor de Fulan’há-de dêxar!... (…) (Roque [1946], pág. 36). Esta “sequência temática” aparece num
espécime diferente recolhido por Manuel Joaquim Delgado, tornado-se assim visivelmente frequente nas
benzeduras específicas para o mal da Lua (Delgado [1956], pág. 62).

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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RBenz 10f149
Informante: Rosa Maria Morais Ramalho Cardoso, 73 anos, trabalhadora rural e doméstica, analfabeta,
natural de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 25 de Setembro de 2011.

Benzedura da Lua

Lua, que por aqui passaste,


O bem de fulano(a) levaste,
O teu mal deixaste.
Lua, que por aqui virás,
5 O bem de fulano(a)
Deixarás e o teu mal levarás.
[…]

RBenz 10g150
Informante: Francisca Jorge Godinho Gato, 86 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de
Barrada, residente em Barrada. Recolha realizada em Barrada, a 11 de Setembro de 2011.

Lua, se por aqui passastes,


A minha cor levastes,
Se por aqui tornares a passar,
A minha deixarás
5 E a tua levarás.

RBenz 10h151
Informante: Iria Morais, 89 anos, reformada, analfabeta, natural de Reguengos de Monsaraz, residente
em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 8 de Fevereiro de 2012.

Benzedura da Lua

Lua, tu que por aqui passaste,


A cor de fulano levaste,
Se tornares a passar,
A dele deixarás
5 E a tua levarás.
A minha mão que vá adiante
Da da Virgem Maria
Pra que sirva de mezinha.
Padre-Nosso e Ave-Maria.

149
No início, benze-se em cruz.
150 Reza-se, fazendo o gesto de benzer em cruz no início, quando os bebés estão com a lua.
A informante afirmou que quando as pessoas estão com a lua ficam com a cara desfigurada. Diz que de vez
em quando se benze da lua.
Explicou que se dizia, normalmente, o nome do bebé e exemplifica:
Lua, se por aqui passastes,
A cor de fulano levastes,
Se por aqui tornares a passar,
A minha deixarás
5 E a tua levarás.
151
Benzedura aprendida com a sua mãe. Ao início, benze-se em cruz. A informante, no final, reza o Pai-
-Nosso e a Ave-Maria três vezes.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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RBenz 10i
Informante: Maria Clara Bragado, 69 anos, reformada (doméstica), analfabeta, natural de S. Marcos do
Campo, residente em S. Marcos do Campo. Recolha realizada em S. Marcos do Campo, a 24 de novembro
de 2011.

Lua, que por aqui passastes,


O bem do meu menino levastes.
Se por aqui tornares a passar,
Deixarás o bem, levarás o mal.
5 Em louvor de Deus e da Virgem Maria,
Padre-Nosso e Ave-Maria.

RBenz 11152
Informante: Jacinta Rosa Borrego, 67 anos, Comerciante, 3º ano de escolaridade, natural de Campinho,
residente em Cumeada. Recolha realizada em Cumeada, a 21 de Novembro de 2011.

Eu te benzo, Maria, da Lua,


Em nome de Deus,
Pai, do Filho e do Espírito Santo,
D’ar, de Lua, tropesia e cobranto.
5 Maria, Deus te fez, Deus te gérou,
Deus te tire o mal que no teu corpo entrou,
Deus perdoe a quem mal te olhou.
A mão de Nossa Senhora
Vá adiante desta minha,
10 Onde eu ponho a minha mão,
Ponha a Senhora a sua mezinha.
Em louvor de Deus e da Virgem Maria,
Pai-Nosso e Ave-Maria.

Depois, corta-se o afito:

Eu te corto, afito,
15 Com a cruz de Cristo,
Com o unto sem sal,
Com a cinza do lar,
Que o inimigo se faça desumbigo,
Saia pelo umbigo,
20 Vá pra trás do mar,
Não oiça galinha nem galo a cantar.
Em louvor de Deus e da Virgem Maria,
Pai-Nosso e Ave-Maria.

RBenz 12153
Informante: Joana Valido Cruz, 73 anos, reformada (trabalhador rural), 2º ano de escolaridade, natural
da Caridade, residente na Caridade. Recolha realizada em Caridade, a 5 de Novembro de 2011.

Benzedura da Lua
152
Explicou: Benze-se com as contas. Quando estão muito atacados, a gente unta-lhe a barriga [aos bebés],
com azeite.
153 Rezava-se durante cinco dias. Era rezada três vezes ao dia (de manhã, ao meio-dia e à noite). No início,

benze-se sempre.

82
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Lua, que pelo mundo andava,


Com seu bendito filho encalmejava.
Com que o curou?
Com que o curaria?
5 Com o panal
Com que a sua mãe tendia.
Padre-Nosso e Ave-Maria.

Benzeduras do Quebranto

RBenz 13a154
Informante: Francisca Jorge Godinho Gato, 86 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de
Barrada, residente em Barrada. Recolha realizada em Barrada, a 11 de Setembro de 2011.

Credo, credo é Deus,


Se é cobranto, benza-me Deus,
Deus me crie, Deus me criou,
Deus me tira o mal que no meu corpo entrou.

RBenz 13b155
Informante: Maria Clara Bragado, 69 anos, reformada (doméstica), analfabeta, natural de S. Marcos do
Campo, residente em S. Marcos do Campo. Recolha realizada em S. Marcos do Campo, a 24 de novembro
de 2011.

Benzedura de Olhado

Deus é bebi.156
Bebi é Deus.
Se tens cobranto,
Benza-te Deus.
5 Deus te fez,
Deus te criou [vai fazendo o sinal da cruz com a mão],
Deus deia o pago
A quem mal te olhou.

154 A pessoa ao benzer-se diz estas palavras.


Explica que, para se saber se a pessoa a benzer tinha quebranto, punha uma tigela com água. Depois,
molhava-se o dedo em azeite e dizia: Em louvor de Nossa Senhora e do Divino Espírito Santo se este azeite
se espalha fulana tem cobranto [quebranto].
Explicou ainda que a benzedura é rezada nove vezes, durante pelo menos três dias. No fim de cada
benzedura, reza-se o Pai-Nosso e a Ave-Maria.
155 A informante foi fazendo o sinal da cruz com a mão, enquanto recitou a composição.

É dita cinco vezes.


Disse que benze a neta quando lhe dói muito a cabeça.
Explicou: (…) a gente põe uma tigelinha com água e molha a cabeça do nosso dedo num cadinho de azeite
e odepois diz a oraçanita e cai uma pinguinha de azeite. Isto era a fé das pessoas antigas. Se a pinguinha
de azeite se desmancha toda, a pessoa tem olhado. Se as cinco pinguinhas de azeite ficam juntinhas, está
tudo bem.
156 Corruptela de verbo.

83
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Benzeduras do Sol157
RBenz 14a158
Informante: Joana Valido Cruz, 73 anos, reformada (trabalhadora rural), 2º ano de escolaridade, natural
da Caridade, residente na Caridade. Recolha realizada em Caridade, a 5 de Novembro de 2011.

Benzedura do Sol

Nossa Senhora pelo mundo andava,


Com seu bendito filho encalmejava.
Com que é que o curou?
Com que é que o curaria?
5 Com o panal,
Com que a sua mãe tendia.
Padre-Nosso e uma Ave-Maria.

RBenz 14b159
Informante: Maria Antónia Valido Lobo (Maria Cantadora), 73 anos, reformada (trabalhadora rural),
analfabeta (sabe ler e sabe assinar), natural da Caridade, residente na Caridade. Recolha realizada em
Caridade, a 7 de Novembro de 2011.

Benzedura do Sol

Quando Nossa Senhora


Por o mundo andou,
Seu bendito filho encalmejou.
Com que o curou?
5 Com que o curaria?
Com um copo de água fria
E o panal onde Nossa Senhora tendia.
Em louvor de Deus, da Virgem Maria,
157 Em Rezas e Benzeduras Populares (Etnografia Alentejana), Joaquim Roque publicou algumas versões
da Benzedura do Sol e que denomina de benzedura da calma ou dias calmarias, também assentes num
esquema narrativo-dramático, em que o diálogo entre os intervenientes tem motivos temáticos comuns às
versões que recolhemos, os quais surgem na indicação do método de tratamento / o remédio: o panal e o
copo de água fria (cf. Roque [1946], pp.19-20). As benzeduras recolhidas por Manuel Joaquim Delgado
insistem numa arquitectura textual parecida, mas, em vez do copo de água fria, aparecem as (os) pingas(os)
de água fria (Delgado [1956], pp. 55-56).
158
A informante explicou que põe uma toalha na cabeça e benze com as suas mãos. Mas havia outras
pessoas que punham um copo com água na cabeça para benzer.
159 Explicação da informante: havia quem colocasse um copo de água fria em cima da cabeça da pessoa a

benzer. Mas a informante sempre preferiu rezá-la, com uma bacia de água fria ao pé e com uma toalhinha
de bidé dobrada em quatro partes, passada além na água fria, dobra-se em quatro partes, põe-se em cima
da cabeça da pessoa [a informante vai fazendo os gestos que exemplificam o que explica].
À medida que diz a benzedura, faz o sinal da cruz com as mãos na cabeça.
Esclarece que, à medida que dizia e fazia a benzedura, ia sempre molhando a toalha na água e colocando
em cruz na cabeça da pessoa.
Diz que em a pessoa tendo sol, sol, até a toalha vai aquecendo, até salta o calor aqui [toca na cabeça] por
as mãos.
Conclui, no final, a explicação: depois, nunca se deve deitar a água da bacia para onde haja sol, tem de se
deitar para a sombra. Diz-se os Pai-Nossos e Ave-Marias sempre em nunes [sempre em número ímpar].
Por exemplo, três Pai Nossos e três Ave Marias.
Para a informante, o que “tira o sol” não é só a oração, mas sobretudo a toalha molhada em cima da cabeça.
A benzedura tem de ser feita em número ímpar de dias. A informante, em cada momento [“performance”],
repete-a cinco vezes.

84
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Pai-Nosso, Ave-Maria.

RBenz 14c160
Informante: Maria Vitória de Sousa Serrano, 72 anos, reformada (doméstica), analfabeta, natural de
Moura (cresceu em S. Marcos do Campo, aldeia dos seus pais), residente em Reguengos de Monsaraz.
Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 23 de Setembro de 2011.

Benzedura do Sol

Santa Inclemência,
Que no mundo andou,
Sol suão apanhou.
Com que o curou?
5 Com que o curaria?
Com um pano de linho e água fria.
Em louvor de Deus e da Virgem Maria,
Com um Pai-Nosso e Ave-Maria.

RBenz 14d161
Informante: Sertório Orti Barona, 73 anos, 4º ano de escolaridade, reformado, natural de S. Pedro do
Corval, residente em S. Pedro do Corval. Recolha realizada em S. Pedro do Corval, a 22 de Outubro de
2011.

Benzedura do Sol

São Solomão
Por o mundo andou,
Sol e lua tirou,
Com que tirou?
5 Com que tiraria?
Com um pano de linho
E um copo de água fria.
Em louvor de S. Silvestre e da Virgem Maria.
Padre-Nosso e Ave-Maria.

RBenz 15162
Informante: Jacinta Rosa Borrego, 67 anos, Comerciante, 3º ano de escolaridade, natural de Campinho,
residente em Cumeada. Recolha realizada em Cumeada, a 21 de Novembro de 2011.

160 Era feita com uma toalha húmida nas costas e na cabeça. Depois começava na cabeça com as mãos em
cruz. Primeiro benzia a pessoa, depois molhava as mãos e punha as mãos em cruz na cabeça e dizia as
palavras.
[No final] depois dizia-se um Pai-Nosso e uma Ave-Maria. De seguida, molhavam as mãos outra vez e
punham nas costas. Punham na cabeça duas vezes e depois punham nas costas até fazer cinco vezes.
Explica novamente: punham as mãos nas costas em cruz [faz o gesto], depois molhavam as mãos outra vez
na água fria, com uma toalha de linho. Era assim.
Fazia-se cinco, sete ou nove vezes.
161 O informante explicou: Quando a pessoa se constipa de sol, é com uma toalha, molham as mãos, é com

as mãos assim na cabeça, nas costas e com água fria e depois dizem a benzedura.
Rezava-se três vezes o Pai-Nosso e Ave-Maria e a benzedura era feita cinco dias seguidos. Convinha que
a água não apanhasse sol.
162 Explicação da informante: é com um copo com água e uma toalha dobrada em quatro partes.

Exemplifica as dobras num pano.

85
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Benzedura do Sol

Santa Isabel estava de parto,


Nossa Senhora visitá-la-ia,
Nossa Senhora lhe dizia:
- Isabel, o que faz por’qui,
5 Com tanto fogo e tanto calor?
Com que te hades curar?
Com a toalha do altar,
Cinco dobras num pano
E um copo de água fria.
10 Em louvor de Deus e da Virgem Maria,
Pai-Nosso e Ave-Maria.

Benzeduras do Ventre Caído


RBenz 16163
Informante: Rosário Pinto Ramalho (Bisau), 77 anos, reformada (trabalhadora rural), 3º ano de
escolaridade, natural de Santo António do Baldio, residente em Santo António do Baldio. Recolha
realizada em Santo António do Baldio, a 3 de Novembro de 2011.

Benzedura do Ventre Caído

Desceu Deus do Céu à Terra


E subiu ao seu altar,
Que o ventre dessa pessoa [o mesmo que fulano (a)]
Vai ao seu lugar.

RBenz 17164
Informante: Jacinta Rosa Borrego, 67 anos, Comerciante, 3º ano de escolaridade, natural de Campinho,
residente em Cumeada. Recolha realizada em Cumeada, a 21 de Novembro de 2011.

Benzedura de Ventre Caído

Eu te benzo, Maria [fulano(a)],


De ventre caído.
Quando Cristo subiu ao Céu,
Do Céu ao seu altar,
5 Assim pedi eu a Cristo
Que pusesse o ventre de Maria
Em seu lugar.

163 A informante explicou que se usa vinagre e cinco folhas de hortelã. Massaja-se a perna em sentido
oposto, o braço ou na zona da clavícula com esse preparado.
No fim, reza-se cinco Pai-Nossos e cinco Ave-Marias.
Reza-se durante cinco dias.
Nesta benzedura, também se faz o sinal da cruz na testa.
164 Explicação da informante: Essa é a de ventre caído, mas essa é benzida com cinco ramos de hortelã

molhado no vinagre e é nos braços assim [faz os gestos], e é nas pernas, e aqui [toca na testa com o
indicador]. Começa-se aqui na testa aqui [faz o sinal da cruz na testa com o indicador], e aqui [faz o sinal
da cruz na face esquerda] e depois aqui de lado [faz o sinal da cruz na face direita], e depois é nos braços
e depois é nas pernas.
Depois oferece-se ao santinho, à imagem que a gente mais devoção tem.

86
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Em louvor de Deus e da Virgem Maria,


Pai-Nosso e Ave-Maria.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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1.1.3. Esconjuros

Para afastar as feiticeiras


REsc 1165
Informante: Rosa Lopes Patinha Berjano, 78 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de Telheiro,
residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 21 de Setembro de 2011. Outras Informações: A
informante possui um curso de Guarda-Livros (Contabilidade) e de Dactilografia. Foi funcionária (chefe)
da Caixa de Previdência de Évora – serviço local de Reguengos de Monsaraz (Casa do Povo de Reguengos
de Monsaraz), durante 24 anos.

Oração para afastar as feiticeiras

Orca, bernorca,
Três vezes orca,
Deus te desterre
Desta monarca.
[…]

Para encomendar à morte


REsc 2
Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 80 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de Campinho,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 11 de Junho de
2009.
Fulano166 comeu carne de grou.
Estava 167 para acabar
E ainda não acabou.

Para encontrar objectos perdidos e/ou para proteger da trovoada, para viajar

REsc 3a168
Informante: Rosário Pinto Ramalho (Bisau), 77 anos, reformada (trabalhadora rural), 3º ano de
escolaridade, natural de Santo António do Baldio, residente em Santo António do Baldio. Recolha
realizada em Santo António do Baldio, a 3 de Novembro de 2011.

165 A informante explica que antigamente se dizia que existiam feiticeiras e que estas batiam à porta das
pessoas. A composição era dita para que as feiticeiras não batessem à porta.
Conta a história de uma senhora da aldeia que dizia que as feiticeiras batiam à sua porta todas as noites e
diziam:
- Senhora Perpétua, posso entrar?
Esta história era contada pela sua avó.
166 Nomeava-se o moribundo.
167 Alterna a forma verbal “estava” com “era”.
168 Depois diz-se um Pai-Nosso e uma Ave-Maria.

Depois faz-se a encomendação:


Ofereço este Pai-Nosso, esta Ave-Maria, esta Santa Oração que eu aqui estou a rezar para aparecerem as
coisas ou seja um anel d’ouro, ou seja…, coisas de valor, ou seja as pessoas que estão doentes, também
pode ser, quando a gente, quando roubam as coisas à gente, pra gente, esta oração é da encomendação de
Santo António, tanto que diz “Meu beato…”, não é o Santo António é o beato. Quando os rapazes iam
para o Ultramar, todos levavam a oração escrita por mim, porque se não for por mim as pessoas não têm
fé. Não vale de nada. Só vale eu!
Joaquim Roque faz o registo de sete versões da Encomendação de Santo António, nenhuma coincidente
com as duas versões que recolhemos (cf. Roque [1946], pp. 69-70). Também as versões recolhidas por
Manuel Joaquim Delgado se afastam daquelas que recolhemos e encontram-se transcritas em prosa. (cf.
Delgado [1956], pág. 103).

88
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Meu beato Santo António,


Conselheiro de Jesus Cristo,
Confessor de São Francisco,
Pelo hábito que vestiste,
5 O cordão que exististe,
O leite que mamaste,
As hostes que amparaste,
O marinheiro que guiaste.
Meu Santo Bendito te peço,
10 Que me guardes a mim
E à minha gente toda,
A tudo que tiver a meu cuidado,
Seja tudo tão bem guardado,
Como foi o Filho de Deus,
15 No ventre da Virgem Maria.
Pai-Nosso e Ave-Maria.

REsc 3b
Informante: Maria Margarida Couto Lopes, 72 anos, 4º ano de escolaridade, reformada (trabalhadora
rural), natural de Reguengos de Monsaraz, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em
Reguengos de Monsaraz, a 6 de novembro de 2011.

Santo António se levantou,


Caminhos e carreiras andou,
Jesus Cristo encontrou.
- António, para onde vás?
5 - Eu, Senhor, convosco vou.
- Não, António, tu comigo não virás,
Nesta terra ficarás.
As missas que cá disserem,
António, tu as ouvirás.
10 A mim, ao meu marido
E à minha filha, aos meus netos,
António guardarás.
Foste livrar tê pai da forca,
Também peço
15 Ao meu Divino Santo António
Que nos livres
Do mau lobo, da má loba,
Do mau zorro, da má zorra,
Do mau homem, da má mulher,
20 Do mau rapaz, da má rapariga,
Do mau cão, da má cadela,
Da má língua, do mau ódio,
Da má vingança,
De todas as doenças ruins que houver,
25 Dando tiros e espingardas,
Dos maiores perigos que houver.
Eu cada vez rezo com mais devoção
E ofereço ao meu Divino Santo António,
Meu beato Santo António,

89
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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30 Conselheiro de Jesus Cristo,


Confessor de São Francisco,
Pelo hábito que vestiste,
Pelo cordão que existe,
Pelo marinheiro que guiaste,
35 Pelos órfãos que amparaste,
Peço-te pelo amor de Deus
E do beato Santo António
Que nos guardes a todos,
Tão bem guardados todos sejamos
40 Como foi guardado o Filho,
Dentro do ventre da Virgem Maria.
Padre-Nosso e Ave-Maria.

Para prender de amor


REsc 4
Informante: Georgina Leal, 70 anos, comerciante, 4ª classe, natural de Telheiro, residente em Telheiro.
Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011.

Da minha casa te vais,


Mal de mim te dirão,
Mas tu nunca consentirás,
Pra mim te voltarás,
5 Com muito prazer e alegria,
Como Jesus Cristo se voltou
No ventre da Virgem Maria.

Para os cães não morderem

REsc 5a169
Informante: Joaquina Ferreira Valadas, 83 anos, analfabeta, reformada (foi comerciante), natural de
Monsaraz, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 11 de
Setembro de 2009.

Cala-te, cão,
Ao pé de ti está São João,
Com um punhal na mão,
Que te corta o coração.
5 Se és cadela,
Santa Madanela,
Com uma faca na mão
Que te corta a goela.

REsc 5b170
Informante: Vitalina Rosa Godinho, 74 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Monsaraz,
residente em Ferragudo. Recolha realizada em Ferragudo, a 24 de Setembro de 2011.

169 Aprendeu esta oração com a sua avó. A avó dizia que, ao dizer a oração, o cão já não mordia.
170
Para afastar os cães, em Portel também apelavam à ajuda de São Romão:
Fuge[,] cão[,]
Entremeio de mim e de ti, cão,
Está S. Romão. (Pombinho Júnior [2001], pág. 185).

90
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Entre mim e o cão,


Ponha São Romão a mão.

REsc 5c171
Informante: Iria Morais, 89 anos, reformada, analfabeta, natural de Reguengos de Monsaraz, residente
em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 8 de Fevereiro de 2012.

Entre mim e ti, cadela,


Esteja Santa Maria Madalena,
Pra te cortar as goelas.

REsc 5d
Informante: Iria Morais, 89 anos, reformada, analfabeta, natural de Reguengos de Monsaraz, residente
em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 8 de Fevereiro de 2012.

Entre mim e ti, cão,


Esteja São Romão,
Com uma faca na mão,
Pra te cortar o coração.

REsc 5e
Informante: Rosa Marques Cardoso, 76 anos, 3º ano de escolaridade, reformada, natural de Motrinos,
residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrinos, a 29 de Agosto de 2011. Outras Informações:
trabalhadora rural, lavadeira.

Entremeio de mim e ti, cadela,


Está San Madalena,
Com uma faca na mão,
Que te corta o coração.

REsc 5f
Informante: Rosa Marques Cardoso, 76 anos, 3º ano de escolaridade, reformada, natural de Motrinos,
residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrinos, a 29 de Agosto de 2011. Outras Informações:
trabalhadora rural, lavadeira.

Entremeio de mim e ti, cão,


Está São Romão,
Com uma faca na mão,
Que te corta o coração.
Recitou versão idêntica: Mariana dos Santos Mendes, 76 anos, reformada (trabalhadora rural), 3º ano de
escolaridade, natural de Santo António do Baldio, residente em Santo António do Baldio Recolha realizada
em Santo António do Baldio, a 10 de Outubro de 2011

REsc 5g
Informante: Maria de Jesus Cardoso Rita, 76 anos, analfabeta (sabe assinar), reformada, natural de
Carrapatelo (foi empregada doméstica em Reguengos), residente em Carrapatelo Recolha realizada em
Carrapatelo, a 22 de Outubro de 2011.

171 Afirmou a informante: A gente via o cão, tinha medo. Foi uma velhota que ma ensinou já aos anos.
Em Portel, também circulava uma versão para afastar as cadelas:
Fuge[,] cadela[,]
Entremeio de mim e de ti, cadela,
Está Santa Maria Madanela. (Pombinho Júnior [2001], pág. 185).

91
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Entre meio de ti, cadela,


Está Santa Madanela.172
[…]

REsc 5h173
Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 80 anos, 2º ano de escolaridade, reformada, natural de Campo,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 11 de Junho de
2009.

Tó cão, tó cadela,
Entre mim e de ti,
Está Santa Madanela,
Com uma espada na mão,
5 Que atravessa o coração.

REsc 5i174
Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 65 anos, reformada, 4.º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 12 de
Junho de 2009.

Tó cão, tó cadela,
Entre mim e mais dela,
Está a Santa Madalena,
Com uma espada na mão,
5 Para lhe matar o coração.

Para proteger da Trovoada


REsc 6a
Informante: Delmira Cachopas, 93 anos, comerciante, 3º ano de escolaridade, natural de Montoito,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 6 de Dezembro
de 2011.

Alto muve gavião,


Senhora da Conceição,
Nosso Senhor se levantou,
O seu sapatinho calçou,
5 Plas estradas andou,
Encontrou Santo António,
E o Senhor lhe perguntou:
- Aonde vás, Santo António?
Vou espalhar esta trovoada.
10 - Sim. Espalha-a lá pra bem longe
Pra onde não haja eira nem beira
Nem raminho de oliveira
Nem gadelhinho de lã
Nem alminha cristã.

172
Corruptela de Madalena.
173 Comentário da informante: o que é certo é que o cão não se aproxima da gente, e o bicho desvia-se.
As coisas fazem bem quando agente tem fé nelas.
174 Recitou uma versão idêntica em 9 de Dezembro de 2000.

92
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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REsc 6b
Informante: Joana Valido Cruz, 73 anos, reformada (trabalhadora rural), 2º ano de escolaridade, natural
da Caridade, residente na Caridade. Recolha realizada em Caridade, a 5 de Novembro de 2011.

A Nossa Senhora se levantou,


Seu sapatinho calçou,
Nossa Senhora perguntou:
- Aonde é que tu vais, Gregório?
5 - Vou acima àquele outeiro
Espalhar esta trovoada,
Que por cima de nós anda armada.
- Deus a espalhe lá pra bem longe,
Onde não há eira nem beira,
10 Nem raminho de oliveira,
Nem gente cristã. Amém.

REsc 6c175
Informante: Joaquina Códices Gomes Reis, 70 anos, reformada, 4.º ano de escolaridade, natural de
Capelins-Alandroal, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz,
a 16 de Setembro de 2010.

San Gregório se levantou


O seu bordanito apanhou.
Deus lhe perguntou:
- Onde vás, San Gregório?
5 - Vou espalhar esta trovoada,
Pra onde não haja
Beira nem geira,
Nem raminho de oliveira,
Nem gadelhinho de lã,
10 Nem bafo de gente crestã.

REsc 6d
Informante: Francisca Antónia Godinho Pinto, 79 anos, reformada (trabalhadora rural), analfabeta,
natural de Caridade, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de
Monsaraz, a 6 de Novembro de 2011.

San Gregório se levantou,


Seu sapatinho calçou,
Nossa senhora lhe perguntou:
- Aonde vás, San José?
5 - Vou espalhar esta trovoada.
- Espalha-a lá pra bem longe,
Onde não haja eira nem beira,
Nem raminho de oliveira,
Nem gente cristã.

175
Em Orações. Património Oral do Concelho de Loulé, podemos encontrar várias versões do esconjuro
da trovoada que não aludem apenas a Santa Bárbara, mas também a São Jerónimo, São Gregório, São
Gloirinho, Santo António e São Bartolomeu. Apesar de haver várias variantes, obedecem todas ao mesmo
esquema narrativo-dramático, em que o santo manifesta o seu desejo de “espalhar” a trovoada. (cf.
Custódio, Galhoz, Cardigos [2008], pp. 260-263).

93
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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REsc 6e
Informante: Inácia Bragado Adriano, 80 anos, reformada (trabalhadora rural), analfabeta, natural de S.
Marcos do Campo, residente em S. Marcos do Campo. Recolha realizada em S. Marcos do Campo, a 24
de Novembro de 2011.

San Gregório se levantou,


Seu sapatinho d’ouro calçou.
Nossa Senhora lhe procurou:
- Onde vais, San Gregório?
5 - Vou espalhar esta trovoada
Lá pra bem longe,
Onde não haja eira nem beira,
Nem gadelhinho de lã,
Nem raminho de figueira,
10 Nem alminha cristã,
Nem galinha a cantar,
Nem mulher por filho a bradar.

REsc 6f
Informante: Inácia Martins Balancho, 83 anos, 2º ano de escolaridade, reformada, natural de São Marcos
do Campo, residente em São Marcos do Campo. Recolha realizada em São Marcos do Campo, a 7 de
Novembro de 2011.

San Gregório se levantou,


Seu sapatinho d’ouro calçou.
- Onde vas, San Gregório?
- Vou espalhar esta trovoada.
5 - Espalha-a lá pra bem longe,
Onde não há eira nem beira,
Nem raminho de oliveira,
Nem gadelhinho de lã,
Nem alminha cristã.

REsc 6g
Informante: Maria Ramalho Olivença (Ti Ramalha), 85 anos, analfabeta, reformada (trabalhadora rural),
natural de Perolivas, residente em Perolivas. Recolha realizada em Perolivas, a 7 de Novembro de 2011.

San Jerolme se levantou,


Seu sapatinho d’ouro calçou,
Sua estradinha tomou.
- Aonde vais San Jerolme?
5 - Espalhar esta trovoada,
Pra onde não haja eira nem beira,
Nem raminho de oliveira,
Nem gadelhinho de lã,
Nem sangue de alma cristã.
10 Em louvor da Virgem Maria.
Pai-Nosso. Ave-Maria.

94
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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REsc 6h
Informante: Catarina Freira Capucho, 68 anos, reformada (funcionária da Câmara Municipal de
Reguengos de Monsaraz – foi contínua na escola da aldeia), analfabeta (sabe assinar, sabe ler pouco e
escrever – pois aprendeu nos cinco anos em que esteve na Suíça), natural de Campinho, residente em
Campinho. Recolha realizada em Campinho, a 9 de Abril de 2011.

San Jerolnomo se alevantou,


Seu cacheirinho d’ouro agarrou.
- Onde vás, San Jerolnomo?
- Vou espalhar esta trovoada.
5 - Então, espalha-a lá pra bem longe,
Não haja raminho d’oliveira,
Nem gadelhinho de lã,
Nem alminha cristã.

REsc 6i176
Informante: Rosa Maria Morais Ramalho Cardoso, 73 anos, trabalhadora rural e doméstica, analfabeta,
natural de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 25 de Setembro de 2011.

San Jerónimo se levantou,


Seu sapatinho e meia calçou,
Seu caminhito andou,
A Nossa Senhora encontrou:
5 - Aonde vás, Jirónimo?
- Eu, Senhora, convosco vou
Espalhar esta trovoada.
- Então, espalha-a pra bem longe,
Pra onde não haja eira nem beira,
10 Nem raminho de figueira
Nem gadelhinho de lã,
176
Encontrámos a referência a S. Jerónimo e a Nossa Senhora, bem como o motivo do raminho de figueira
numa versão de Portel:
S. Jerolmo se levantou,
Seu pezinho direito calçou,
Nossa Senhora o encontrou.
- Aonde vás [,] Jerolmo?
5 Vou espalhar esta trovoada,
M,uito bem espalhada,
Para onde não haja eira nem beira,
Nem raminho de figueira,
Nem gadelhinha de lã,
10 Nem alminha cristã. (Pombinho Júnior [2001], pág. 149).
A versão recolhida por Joaquim Roque tem poucas variantes, em relação à versão de Portel:
‘S. Girólmo s’ al’vantou’
Sê’ péi d’rêto calçou
E Nossa Senhor’ ô encontrou
E a senhora le prèguntou:
5 Onde vás Jirólmo?
- Vou ‘strambalhar (espalhar) as travoadas!
- S’ as vás ‘trambalhar,
‘Strambalh’às lá p´ra bẽi lõis
Onde nã’ haja péi de figuêra
10 Nẽi ramo d’ólivêra
Nẽi gente cristã,
Nẽi gadelha de lã. (Roque [1946], pág. 77).

95
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Nem alminha cristã.

REsc 6j
Informante: Iria Morais, 89 anos, reformada, analfabeta, natural de Reguengos de Monsaraz, residente
em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 8 de Fevereiro de 2012.

San Jirolmo se levantou,


Seus sapatinhos calçou.
- Onde vás, Jirolnmo?
- Vou espalhar esta trovoada.
5 - Espalha-a lá pra bem longe,
Pa onde nã faça eira nem beira,
Nem raminhos de figueira,
Nem gadelhinho de lã,
Nem alma de gente cristã.

REsc 6l177
Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 65 anos, reformada, 4.º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 12 de
Junho de 2009.

San Jironmo se levantou,


Seu sapatinho de ouro calçou.
Com o seu cacheirinho na mão,
Nossa Senhora encontrou.
5 Nossa Senhora lhe perguntou:
- Onde vais, San Jironmo?
- Vou espalhar esta trovoada
Lá para bem longe,
Onde não haja eira nem beira,
10 Nem raminho de oliveira,
Nem gadelinho de lã,
Nem alma cristã,
Nem pedrinha de sal,
Que a mim e à minha gente
15 Nada possa fazer mal.

REsc 6m178
Informante: Rosete Falardo Ramalho, 68 anos, 4º ano de escolaridade, reformada (doméstica), natural de
Gafanhoeiras, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 24
de Novembro de 2011.

177
Aprendeu a oração com a sua avó.
178
Joaquim Roque recolheu uma versão dedicada à trovoada com uma estrutura arquétipa muito parecida:
Santa ‘Barba’ bendita
No Céu ‘stá ‘scrita (inscrita)
Em papel e água e água benta
‘Spalhai esta ‘tromenta’
5 Lá p’ràs ‘bandas’ dos moiros
Aonde nã haje pã’nẽi vinho
‘‘Nẽi’ ramo de rasmaninho
‘‘Nẽi’ gente cristã,
‘Nẽi’ gadelha de lã… (Roque [1946], pág. 77).

96
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Santa Bárbara bendita,


No céu está escrita,
E na terra assinalada,
Espalha esta trovoada,
5 Lá pra bem longe,
Pra onde não haja eira nem beira,
Nem raminho de oliveira,
Nem gadelhinho de lã,
Nem nada que faça mali.

REsc 6n
Informante: Maria Margarida Couto Lopes, 72 anos, 4º ano de escolaridade, reformada (trabalhadora
rural), natural de Reguengos de Monsaraz, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em
Reguengos de Monsaraz, a 6 de Novembro de 2011.

Santa Bárbara bendita,


No céu está escrita,
Na terra assinalada,
Vai espalhar esta trovoada,
5 Espalha-a lá pra bem longe,
Onde não haja eira nem beira,
Nem raminho de oliveira,
Nem gadelhinho de lã,
Nem uma alminha cristã.

REsc 6o
Informante: Antónia Barradas Dias Rato da Silva, 64 anos, empregada de balcão (há 19 anos), 4º ano de
escolaridade, natural de Monsaraz, residente em Monsaraz. Recolha realizada em Monsaraz, a 21 de
Outubro de 2011.

Santa Bárbara bendita,


Que no céu está escrita,
Com água benta,
Desviai esta tormenta,
5 Leva-a lá pra bem longe,
Pra não haja eira nem beira,
Nem gadelhinho de lã,
Nem alminha cristã.

REsc 6p179
Informante: Maria de Jesus Cardoso Rita, 76 anos, reformada, analfabeta (sabe assinar), natural de
Carrapatelo (foi empregada doméstica em Reguengos), residente em Carrapatelo. Recolha realizada em
Carrapatelo, a 22 de Outubro de 2011.

Santa Bárbara se levantou


E seu sapatinho calçou
San Jerolnmo perguntou:
- Aonde vás, Santa Bárbara?
5 - Vou espalhar esta trovoada

179 Disseque aprendeu a oração com a sua avó.


Encontramos várias versões com a referência a Santa Bárbara em Orações. Património Oral do Concelho
de Loulé (Custódio, Galhoz, Cardigos [2008], pp. 246-255).

97
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Pra onde não haja eira nem beira,


Nem raminhos de oliveira,
Nem gadelhinhos de lã.

REsc 6q
Informante: Mariana dos Santos Mendes, 76 anos, reformada (trabalhadora rural), 3º ano de escolaridade,
natural de Santo António do Baldio, residente em Santo António do Baldio. Recolha realizada em Santo
António do Baldio, a 10 de Outubro de 2011.

Santa Bárbara se levantou,


Seu sapatinho calçou
E o Senhor encontrou:
- Aonde vás, Santa Bárbara?
5 - Vou espalhar esta travoada.
- Espalha-a lá pra bem longe,
Pra onde nã haja eira nem beira,
Nem raminho de oliveira,
Nem gente cristã. Amém.

REsc 6r180
Informante: Mariana Rosa Carvalho Ramos, 71 anos, reformada (cabeleireira), 1º ano de escolaridade,
natural de Santo António do Baldio, residente em S. Pedro do Corval. Recolha realizada em S. Pedro do
Corval, a 3 de Novembro de 2011.

Santa Bárbara se levantou,


Seu sapatinho calçou,
Nossa Senhora encontrou
E ela lhe perguntou:
5 - Onde vais, António?
- Vou espalhar esta trovoada,
Pra onde não haja eira nem beira,
Nem raminho de oliveira,
Nem gadelhinho de lã,
10 Nem alma de gente cristã.

REsc 6s181
Informante: Rosário Pinto Ramalho (Bisau), 77 anos, reformada (trabalhadora rural), 3º ano de
escolaridade, natural de Santo António do Baldio, residente em Santo António do Baldio. Recolha
realizada em Santo António do Baldio, a 3 de Novembro de 2011.

Santa Bárbara se levantou,


Seu sapatinho calçou,
Sua mão direita levou.
- Aonde vás, Santa Bárbara?
5 - Vou espalhar a travoada,
Que anda plo mundo armada.
- Espalha-a lá pra bem longe,
Pra onde não haja beira nem eira,
Nem raminho de oliveira,

180 Deinício, a informante não se lembra dos versos iniciais da oração, mas, assim que nós dizemos que há
pessoas que rezam a Santa Bárbara, rapidamente se lembra de toda a oração.
181 Contou que aprendeu as suas orações com uma senhora do Baldio, que já faleceu há muitos anos.

98
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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10 Nem gente cristã.


Amém.

REsc 6t
Informante: Joaquina Códices Gomes Reis, 70 anos, reformada, 4.º ano de escolaridade, natural de
Capelins-Alandroal, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz,
a 16 de Setembro de 2010.

Santo António se levantou,


O seu sapatinho calçou
E Deus lhe perguntou:
- Onde vás, Santo António?
5 - Vou espalhar esta trovoada
Pra onde não haja
Beira nem geira,
Nem raminho de oliveira,
Nem gadelhinho de lã,
10 Nem bafo de gente crestã.

REsc 6u182
Informante: Rosa Lopes Patinha Berjano, 78 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de Telheiro,
residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 21 de Setembro de 2011. Outras Informações: A
informante possui um curso de Guarda-Livros (Contabilidade) e de Dactilografia. Foi funcionária (chefe)
da Caixa de Previdência de Évora – serviço local de Reguengos de Monsaraz (Casa do Povo de Reguengos
de Monsaraz), durante 24 anos.

Santo António se levantou,


O seu sapatinho calçou,
Sua mãe lhe perguntou:
- Onde vais, Santo António?
5 - Vou espalhar esta trovoada.
- Espalha-a lá pra bem longe,
Onde não haja eira nem beira,
Nem raminho de oliveira,
Nem alminha cristã,
10 E nem gadelhinho de lã.

REsc 6v183
Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 80 anos, reformada, 2.º ano de escolaridade, natural de Campinho,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 11 de Junho de
2009.

Santo António se levantou,


Seu sapatinho de ouro calçou,
Nossa Senhora encontrou:
- Onde vais, Santo António?
5 - Vou espalhar esta trovoada.
- Espalha lá para bem longe,
182Relatou que reza o esconjuro assim que começa a ouvir os trovões.
183
A informante declarou: O que sei aprendi com a avó Joana e o que sei é tudo bom. Não de seve aprender
orações com qualquer pessoa, porque nem todas as orações são boas. “Eu gostava de aprender orações
com quem eu sabia que tinha um coração bom.

99
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Onde não haja eira nem beira,


Nem raminho de oliveira,
Nem pedrinha de sal,
10 Nem gadelhinho de lã,
Nem alminha cristã,
Nem a nada a que possas fazer mal.

REsc 6x
Informante: Maria Margarida Couto Lopes, 72 anos, 4º ano de escolaridade, reformada (trabalhadora
rural), natural de Reguengos de Monsaraz, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em
Reguengos de Monsaraz, a 6 de Novembro de 2011.

Santo António se levantou,


Seu sapatinho d’ouro calçou.
Nossa Senhora lhe perguntou:
- Onde vais, San Gregório?
5 - Vou espalhar esta trovoada
Pra bem longe,
Pra onde não haja eira nem beira,
Nem raminho de oliveira,
Nem gadelhinho de lã,
10 Nem uma alminha cristã.

REsc 6z
Informante: Joaquina Ferreira Valadas, 83 anos, reformada (foi comerciante), analfabeta, natural de
Monsaraz, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 11 de
Setembro de 2010.

Santo António se levantou,


Seu sapatinho calçou,
Santa Maria encontrou,
Santa Maria lhe perguntou:
5 - Onde vais, San Jirolnemo?
- Vou espalhar esta trovoada
Que no céu está armada.
- Espalha-a lá pra bem longe,
Onde não haja eira nem beira,
10 Nem raminho de oliveira,
Nem alminha cristã,
Nem gadelhinho de lã,
Nem igreja com sino,
Nem mulher com menino.

REsc 6A
Informante: Francisca Jorge Godinho Gato, 86 anos, 3º ano de escolaridade, reformada, natural de
Barrada, residente em Barrada. Recolha realizada em Barrada, a 11 de Setembro de 2011.

Santo António se levantou,


Seus sapatinhos calçou,
Seu bordanito agarrou,
E Nosso Senhor encontrou,
5 E Ele lhe perguntou:

100
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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- Onde vais, António?


- Vou espalhar estas trovoadas
Que andam no céu armadas.
- Espalha-as lá para bem longe,
10 Onde não haja eira nem beira,
Nem gadelhinho de lã,
Nem raminho de oliveira,
Nem gente cristã. Amém.

REsc 6B184
Informante: Joana dos Reis Gato, 80 anos, reformada (em solteira, trabalhou no campo, doméstica), 4º
ano de escolaridade, natural de Outeiro, residente em Outeiro. Recolhida em Outeiro, a 12 de Setembro
de 2011.

Santo António se levantou,


Seu sapatinho calçou,
Seu cacheirinho apanhou
Sua mãe lhe perguntou:
5 - Onde vais, António?
- Vou espalhar esta trovoada.
- Espalha-a lá pra bem longe
Pra onde não haja
Nem eira nem beira,
10 Nem raminho de oliveira,
Nem gadelhinho de lã,
Nem alminha cristã.

REsc 6C
Informante: Prazeres Carvalho Ramos, 74 anos, reformada (trabalhadora rural), analfabeta, natural de
Santo António do Baldio, residente em Santo António do Baldio. Recolha realizada em Santo António do
Baldio, a 3 de Novembro de 2011.

Santo Cristo se levantou,


Seu sapatinho calçou.
- Aonde vás, Santo Cristo?
- Vou espalhar esta travoada,
5 Pra onde não haja eira nem beira,
Nem gadelhinho de oliveira,
Nem alma cristã,
Nem folhinha de lã.

REsc 6D
Informante: Maria Antónia Valido Lobo (Maria Cantadora), 73 anos, reformada (trabalhadora rural),
analfabeta (sabe ler e sabe assinar), natural da Caridade, residente na Caridade. Recolha realizada em
Caridade, a 7 de Novembro de 2011.

São Gregório se levantou,


Seu sapatinho calçou,
Foi por uma estrada adiente

184 A informante costuma dizer a composição quando os trovões são muito fortes e a trovoada custa a
passar.
A 5 de Novembro de 2011, a informante recitou esta composição, com omissão do verso 3.

101
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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E Nossa Senhora o encontrou:


5 - Aonde vás, San Gregório?
- Vou espalhar esta trovoada
Que sobre nós anda armada.
- Tão vai. Espalha-a lá pra bem longe
Aonde não haja eira nem beira,
10 Nem raminho de oliveira,
Nem gente cristã,
Nem pedra de sal,
Nem coisa que faça mal.

REsc 6E
Informante: Generosa Ramalho Pereira, 84 anos, 3º ano de escolaridade, reformada (trabalhadora rural),
natural de São Marcos do Campo, residente em São Marcos do Campo. Recolha realizada em São Marcos
do Campo, a 7 de Novembro de 2011.

São Gregório se levantou,


Seu sapatinho calçou.
- Onde vás, São Gregório?
- Vou levar esta trovoada,
5 Lá pra bem longe,
Onde haja eira nem beira,
Nem raminho de oliveira,
Nem gadelhinho de lã,
Nem alminha cristã.

REsc 6F
Informante: Inácia Ramalho Paixão Caeiro, 65 anos, agricultora, 4º ano de escolaridade, natural de
Perolivas, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 4 de
Junho de 2011.

São Jerónimo se levantou,


Seu sapatinho calçou,
Nossa Senhora o encontrou.
- Onde vai, São Jerónimo?
5 - Vou espalhar esta trovoada.
- Espalha-a lá pra bem longe,
Pra onde não faça eira nem beira,
Nem raminho de oliveira,
Nem gadelhinho de lã,
10 Nem corpo de mulher cristã.

REsc 6G185
Informante: Josefa Rodrigues Godinho, 88 anos, reformada, 3.º ano de escolaridade, natural da Luz
(Mourão), residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 13 de
Setembro de 2009.

São Jirónimo se levantou,


Seu sapatinho de ouro calçou,
Nossa Senhora encontrou,
Nossa Senhora lhe perguntou:

185
A 5 de Outubro de 2009, a informante recitou uma versão idêntica.

102
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
_____________________________________________________________________________________

5 - Onde vais, São Jirónimo?


- Vou espalhar está trovoada
Lá para bem longe,
Onde não haja nem eira nem beira,
Nem raminho de oliveira,
10 Nem alma cristã,
Nem pedrinha de sal,
A mim e à minha gente
Nada possa fazer mal.

REsc 6H186
Informante: Florinda Maria Fernandes, 70 anos, reformada, analfabeta (sabe ler e escrever), natural de
Monsaraz, residente em Monsaraz. Realizada em Monsaraz, a 13 de Setembro de 2011.

São José se levantou,


Seu sapatinho calçou,
Seu cachadinho apanhou,
Seu caminho tomou.
5 No caminho encontrou Nossa Senhora
E Nossa Senhora lhe perguntou:
- Onde vais, São José?
- Vou espalhar esta trovoada,
Pra onde não haja eira nem beira,
10 Nem raminho de oliveira,
Nem gadelhinho de lã,
Nem alminha cristã.

186 Aprendeu a composição com a sua mãe: tenho muita fé com elas, afirmou. Contou que, quando há
trovoadas, põe um bocadinho de alecrim (que foi benzido no Domingo de Ramos) a arder, faz “um
defumador” e parece que as trovoadas que abalam logo.

103
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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1.1.4. Rezas

Para oferecer/encomendar o bebé à Lua

RRez 1a187
Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 65 anos, reformada, 4.º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 4 de
julho de 2009.

Lua, Luar,
Aqui tens o meu filho,
Acaba de mo criar.
Eu sou mãe
5 E tu és ama.
Cria-o tu,
Que eu lhe dou mama.

RRez 1b188
Informante: Rosa Marques Cardoso, 76 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de Motrinos,
residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrinos, a 29 de Agosto de 2011. Outras Informações:
trabalhadora rural, lavadeira.

Lua, Luar,
Aqui tens o meu/minha filho(a),
Ajuda-me a criar,
Eu sou mãe,
5 Tu és ama,
Cria-a, tu,
Que eu dou-lhe mama.

RRez 1c189

187 De acordo com a informante, a primeira vez que as mães vão com os bebés à rua dizem estas palavras,
para os bebés não ficarem doentes com a lua. A informante afirma que as mães faziam o gesto de oferta do
bebé em direcção/dirigindo-se à lua.
As duas versões recolhidas por Joaquim Roque aproximam-se na forma e no conteúdo das diversas versões
que recolhemos. Contudo, o início é diferente e não aparece em nenhuma das várias versões que
recolhemos: Dês te salve, Lua-Nova / Boas noites te venho dar, na primeira versão, e Adê’s Lua ‘nha
comadre, na segunda versão (Roque [1946], pág. 38). O mesmo comentário se aplica à versão recolhida
por Manuel Joaquim Delgado, cujo início consiste, identicamente, a uma saudação à Lua: Boas noites, Lua-
Nova, / Venho aqui para te falar (Delgado [1956], pág. 48).
188
A informante contou que encomendou as filhas e os netos à lua. Saiu à rua com o bebé e direcionou-o
para a lua, quando vem alta, e depois disse a composição que nos recitou. A informante disse ainda que
também é costume levar o recém-nascido à igreja. Colocam-no em cima do altar. Se o bebé chorar, cria-se.
Se não chorar, dá azar. Diz que há pessoas que dão ‘açoutes’ no bebé para chorar.
189
A informante relatou que saiu à rua com os filhos nos braços, nos primeiros dias de vida, e encomendou-
os à Lua.
Versão quase idêntica foi recolhida em Vale Judeu (Loulé):
Lua, luar,
eu tenho uma filha, (ou filho)
ajuda-me a criar!
Tu és mãe,
5 e eu sou ama,

104
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Informante: Maria Vitória de Sousa Serrano, 72 anos, reformada (doméstica), analfabeta, natural de
Moura (cresceu em S. Marcos do Campo, aldeia dos seus pais), residente em Reguengos de Monsaraz.
Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 23 de Setembro de 2011.

Lua, Luar,
Aqui tens o meu filho,
Ajuda-mo a criar.
Tu és mãe
5 E eu sou ama,
Cria-o, tu,
Que eu dou-lhe mama.
Recitou versão idêntica: Vitalina Rosa Godinho, 74 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de
Monsaraz, residente em Ferragudo. Recolha realizada em Ferragudo, a 24 de Setembro de 2011; Gertrudes
Maria Pacheco Borges, 63 anos, desempregada (cozinheira), 4º ano de escolaridade, natural de Outeiro,
residente em Outeiro. Recolha realizada em Outeiro, a 5 de Novembro de 2011 .190

RRez 1d191
Informante: Maria Antónia Valido Lobo (Maria Cantadora), 73 anos, reformada (trabalhadora rural),
analfabeta (sabe ler e sabe assinar), natural da Caridade, residente na Caridade. Recolha realizada em
Caridade, a 7 de Novembro de 2011.

Lua, Luar,
Aqui tens a minha menina (o),
Ajuda-mo a criar.
Tu és mãe
5 E eu sou ama,
Cria-a, tu,
Que eu le dou mama.

RRez 1e192
Informante: Delmira Cachopas, 93 anos, comerciante, 3º ano de escolaridade, natural de Montoito,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 6 de Dezembro
de 2011.

Lua, Luar,
Aqui tens o meu menino(a).
Ajuda-mo a criar.
Tu como mãe
5 E eu como ama,
Cria-o, tu,
Que le dou mama.

RRez 1f193

cria-a, tu,
que eu dou mama. (Custódio, Galhoz, Cardigos [2008], pág. 319).
190
Numa noite de lua cheia, punham os bebés nos braços e dirigiam-se à lua, dizendo a composição. A
informante disse estas palavras com os braços levantados como se neles tivesse um bebé.
191
Afirmou que a mãe, com o bebé nos braços, se colocava de joelhos, em direcção à lua, a oferecer o bebé
à lua, pouco depois do nascimento.
192 Comentário da informante: Faziam isto porque havia crianças que tinham ‘afitos da lua’. Diz que

chegavam a morrer.
193 A informante ofereceu os seus filhos à Lua.

105
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Informante: Inácia Bragado Adriano, 80 anos, reformada (trabalhadora rural), analfabeta, natural de S.
Marcos do Campo, residente em S. Marcos do Campo. Recolha realizada em S. Marcos do Campo, a 24
de Novembro de 2011.

Lua, Luar,
Aqui tens o meu filho,
Ajuda-mo a criar.
Tu és mãe
5 E eu sou ama,
Tu pra mo criares
E eu para lhe dar mama.

RRez 1g194
Informante: Maria Margarida Couto Lopes, 72 anos, 4º ano de escolaridade, reformada (trabalhadora
rural), natural de Reguengos de Monsaraz, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em
Reguengos de Monsaraz, a 6 de novembro de 2011.

Lua, Luar,
Aqui tens o meu filho,
Ajuda-mo a criar.

RRez 1h
Informante: Mariana Rosa Carvalho Ramos, 71 anos, 1º ano de escolaridade, reformada (cabeleireira),
natural de Santo António do Baldio, residente em S. Pedro do Corval. Recolha realizada em S. Pedro do
Corval, a 3 de Novembro de 2011.

Lua, Luar,
Ajuda-mo a criar.
Eu sou mãe,
Tu és ama.
5 Ajuda-mo a criar,
Que eu dou-le a mama.

RRez 1i195
Informante: Iria Morais, 89 anos, reformada, analfabeta, natural de Reguengos de Monsaraz, residente
em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 8 de Fevereiro de 2012.

Oração da Lua

Lua, Luar,
Ofreço-te a minha menina,
Ajudai-ma a criar.
Tu és ama
5 E eu sou mãe,
Cria-a, tu,
Que lhe darei mama.

194
Para oferecer o bebé à lua, à noite ao luar, levanta as mãos em direcção ao céu e diz as palavras recitadas.
195
Comentário da informante: A outra é quando nascem as crianças, começam a rir, começam a abrir os
olhos, começam os antigos a dizer que é a lua, que é isto, que é aquilo. E a minha mãe dizia assim: - Pega
na menina - eu só tive raparigas - e leva-a aí à lua e ‘ofrece-a’.

106
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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RRez 1j196
Informante: Rosa Lopes Patinha Berjano, 78 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de Telheiro,
residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 21 de Setembro de 2011. Outras Informações: A
informante possui um curso de Guarda-Livros (Contabilidade) e de Dactilografia. Foi funcionária (chefe)
da Caixa de Previdência de Évora – serviço local de Reguengos de Monsaraz (Casa do Povo de Reguengos
de Monsaraz), durante 24 anos.

Ó Lua, Luar,
Eu te entrego o meu
Para o acabares de criar.
Tu és mãe
5 E eu sou ama,
Dá-lhe, tu, a vida,
Que eu lhe dou a mama.

RRez 1l
Informante: Rosário Pinto Ramalho (Bisau), 77 anos, reformada (trabalhadora rural), 3º ano de
escolaridade, natural de Santo António do Baldio, residente em Santo António do Baldio. Recolha
realizada em Santo António do Baldio, a 3 de Novembro de 2011.

Ó Lua, ó Luar,
[…]
Ajuda-mo a criar.

196
A informante referiu que antigamente morriam muitos bebés, por isso se oferecia o bebé à lua, para não
ter “afitos de lua”. Acreditava-se que oferecer o bebé à lua lhe dava a protecção contra a morte. Relata que
quase todos os dias se via passar um esquife com um bebé.

107
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
_____________________________________________________________________________________

1.1.5. Cantigas de Embalar

RCE 1
Informante: Florinda Maria Fernandes, 70 anos, reformada, analfabeta (sabe ler e escrever), natural de
Monsaraz, residente em Monsaraz. Recolha realizada em Monsaraz, a 13 de Setembro de 2011.

A menina está no berço,


Embala a si também,
Com esta canção em verso
Que lhe ensinou a minha mãe.

RCE 2
Informante: Deolinda Valadas Infante Cardoso, 61 anos, doméstica, 6º ano de escolaridade, natural de
Outeiro, residente em Outeiro. Recolha realizada em Outeiro, a 21 de Novembro de 2011.

Dorme, dorme, meu menino,


Põe-se o sol, nasce a lua.
Qual será o teu destino?
Que sorte será a tua?

RCE 3
Informante: Rosa Marques Cardoso, 76 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de Motrinos,
residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrinos, a 29 de Agosto de 2011. Outras Informações:
trabalhadora rural, lavadeira.

Dorme, dorme, meu menino,


Um soninho descansado.197
(…)

RCE 4a198
Informante: Rosa Maria Morais Ramalho Cardoso, 73 anos, trabalhadora rural e doméstica, analfabeta,
natural de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 20 de Outubro de 2011.

Dorme, dorme, meu menino,


Que a mãezinha já vem,
Foi lavar os cueirinhos
À fontinha de Belém.

RCE 4b199
Informante: Maria Catarina Jesus, 76 anos, reformada (trabalhadora rural), analfabeta, natural de
Perolivas, residente em Perolivas. Recolha realizada em Perolivas, a 8 de Novembro de 2011.

Dorme, dorme, meu menino,


Que a mãezinha logo vem.
Foi lavar os cueirinhos
À fontinha de Belém.
197
Cf. Leite Vasconcelos [1907], “Canções de Berço segundo a Tradição Popular Portuguesa” in Revista
Lusitana, X, nºs 1-2, Lisboa, Imprensa Nacional, 1907, pp. 1-86; [1938e] Opúsculos, vol. VII, Lisboa,
Imprensa Nacional, 1938, pág. 28.
198 Recitou a composição.

Cf. Leite Vasconcelos [1907], pp. 1-86; [1938e], pp. 32-33.


199 Cf. Leite Vasconcelos [1907], pp. 1-86; [1938e],pp. 32-33

108
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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RCE 4c 200
Informante: Deolinda Valadas Infante Cardoso, 61 anos, doméstica, 6º ano de escolaridade, natural de
Outeiro, residente em Outeiro. Recolha realizada em Outeiro, a 21 de Novembro de 2011.

Dorme, dorme, meu menino,


Que a senhora logo vem,
Foi lavar os cueirinhos
À fontinha de Belém.

RCE 4d201
Informante: Joaquina Ferreira Valadas, 83 anos, reformada (foi comerciante), analfabeta, natural de
Monsaraz, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 11 de
Setembro de 2010.

Não chore, meu menino,


Que a mãe já aí vem,
Foi lavar os cueirinhos
À fontinha de Belém.

RCE 4e 202
Informante: Maria Antónia Valido Lobo (Maria Cantadora), 73 anos, reformada (trabalhadora rural),
analfabeta (sabe ler e sabe assinar), natural da Caridade, residente na Caridade. Recolha realizada em
Caridade, a 7 de Novembro de 2011.

Ó meu Menino Jesus,


A tua mãe logo vem.
Foi lavar os cueirinhos
À fontinha de Belém.

RCE 4f
Informante: Maria Antónia Valido Lobo (Maria Cantadora), 73 anos, reformada (trabalhadora rural),
analfabeta (sabe ler e sabe assinar), natural da Caridade, residente na Caridade. Recolha realizada em
Caridade,a 7 de Novembro de 2011.

Ó meu menino,
Que a mãezinha já vem.
Foi lavar os cueirinhos
À fontinha de Belém.

RCE 5a203
Informante: Joaquina Ferreira Valadas, 83 anos, reformada (foi comerciante), analfabeta, natural de
Monsaraz, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz , a 11 de
Setembro de 2010.

Não chore, meu menino, não chore,


Nada vale o seu chorar.
Muitas vezes uma mãe canta
200
A informante aprendeu a cantiga com a sua avó.
Cf. Leite Vasconcelos [1907], pp. 1-86; [1938e], pp. 32-33.
201 Cf. Leite Vasconcelos [1907], pp. 1-86; [1938e], pp. 32-33.
202 Canta e faz o gesto como se estivesse a embalar um bebé.

Cf. Leite Vasconcelos [1907], pp. 1-86; [1938e], pp. 32-33.


203 Cf. Leite Vasconcelos [1907], pp. 1-86; [1938 e], pp. 26-27.

109
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
_____________________________________________________________________________________

Com vontade de chorar.

RCE 5b204
Informante: Joaquina Ferreira Valadas, 83 anos, reformada (foi comerciante), analfabeta, natural de
Monsaraz, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 11 de
Setembro de 2010.

Drome, drome, meu menino,


Nada vale o seu chorar.
Muitas vezes uma mãe canta
Com vontade de chorar.

RCE 6 205
Informante: Rosa Maria Morais Ramalho Cardoso, 73 anos, trabalhadora rural e doméstica, analfabeta,
natural de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 20 de Outubro de 2011.

O meu menino tem sono


E o sono não le quer vir.
Venham os anjos do céu
Ajudá-lo a dormir.

RCE 7a
Informante: Florinda Maria Fernandes, 70 anos, reformada, analfabeta (sabe ler e escrever), natural de
Monsaraz, residente em Monsaraz. Recolha realizada em Monsaraz, a 13 de Setembro de 2011.

Passarinhos vindo em bando


A ver anjinho tão lindo,
Que a avó a está embalando,
Contente de a ver dormindo.

RCE 7b
Informante: Rosa Marques Cardoso, 76 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de Motrinos,
residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrinos, a 29 de Agosto de 2011. Outras Informações:
trabalhadora rural, lavadeira.

(…)
Mamã o está embalando
Contente de o ver dormir.

RCE 8
Informante: Florinda Maria Fernandes, 70 anos, reformada, analfabeta (sabe ler e escrever), natural de
Monsaraz, residente em Monsaraz. Recolha realizada em Monsaraz, a 13 de Setembro de 2011.

Tendo a mãe que se ausentar,


Diz à filha mais velhinha:
- Fica tu em meu lugar,
Guardai a nossa casinha.

204 Esta versão surge porque solicitámos à informante que repetisse a versão cantada anteriormente, devido
ao ruído, e, ao repetir, introduz uma variante no primeiro verso.
A informante contou que sabia muitas cantigas de embalar, mas já está muito esquecida.
Cf. Leite Vasconcelos [1907], pp. 1-86; [1938 e] pp. 26-27.
205 Cf. Adolfo Coelho [1994], Jogos e Rimas Infantis, Lisboa, Edições Asa, 1994, pág. 14.

Cf. Leite Vasconcelos [1907], pp. 1-86; [1938e] pág. 30.

110
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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RCE 9 206
Informante: Florinda Maria Fernandes, 70 anos, reformada, analfabeta (sabe ler e escrever), natural de
Monsaraz, residente em Monsaraz. Recolha realizada em Monsaraz, a 13 de Setembro de 2011.

Vai-te embora passarinho,


Deixa a baga do loureiro,
Deixa dormir o menino
Que está no sono primeiro.

206
A informante disse que canta as cantigas de embalar à sua bisneta, de quem toma conta.
Cf. Adolfo Coelho [1994], Jogos e Rimas Infantis, Lisboa, Edições Asa, 1994, pág. 13; José Leite
Vasconcelos [1907], “Canções de Berço segundo a Tradição Popular Portuguesa” in Revista Lusitana, X,
nºs 1-2, Lisboa, Imprensa Nacional, 1907, pp. 1-86; [1938] Opúsculos, vol. VII, Lisboa, Imprensa Nacional,
1938, pág. 37, 38 e 47.

111
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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1.2. Composições de sabedoria


1.2.1. Provérbios

RP 1
Informante: Georgina Leal, 70 anos, comerciante, 4º ano de escolaridade, natural de Telheiro, residente
em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011.

A água lava tudo, só a má língua é que não lava.

RP 2
Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 72 anos, reformado, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 11 de
Maio de 2012.

A água o que quer é os medrosos, os foitos tem ela certos.

RP 3a207
Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 65 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 12 de
Junho de 2009.

Abril, encher o covil. 208


Março, Margação209
Janeiro e Fevereiro, afogar a mão no ribeiro.210
Maio, leva-os a água.

RP 3b211

207
Em Abril, vae adonde has-de ir, e torna a teu covil (António Delicado [1923], Adagios Portugueses
reduzidos a lugares comuns (edição revista e prefaciada por Luís Chaves), Lisboa, Livraria Universal, 1923,
pág. 108).
Fevereiro couveiro (ou «ricoqueiro», faz a perdiz ao poleiro; março, três ou quatro; abril, cheio está o
covil; maio, piopio pelo mato; junho, como um punho; em agosto, as tomarás a côso (diz-se das perdizes)
(Pedro Chaves [s.d], Rifoneiro Português, Porto, Domingos Barreira, s.d., pág.25, nº15).
Março, marcegão, manhã de inverno, tarde de verão (Pedro Chaves [s. d.], pág.27, nº23).
Lá vem Abril, que o tira do covil (Ana Eleonora Borges [2005], Provérbios sobre Plantas, Lisboa, Apenas,
2005, pág. 26). Este é um provérbio recolhido no Alentejo (Reguengos de Monsaraz, Mourão e Moura),
segundo a recolectora.
208 A informante afirma que a perdiz punha ovos.
209 A informante explica: porque as plantas começam a crescer; o margaço era uma erva daninha, grande

e dura.
210 A informante explicita: chove muito. Depois, diz que sabe que o provérbio por si enunciado está

incompleto e acrescenta que o seu pai também sabia versos sobre os meses e também os ouvia ao pai da
D. Inácia [sua vizinha].
211
Abril, aguas mil, coadas por um mandil, e em Maio três ou quatro (Delicado [1923], pág. 264).
Fevereiro recoveiro faz a perdiz ao poleiro; Março três ou quatro (Delicado [1923], pág. 262).
Fevereiro couveiro afaz a perdiz ao poleiro; Março, tres ou quatro; em Abril, cheio está o covil; em Maio…
pio, pio, pelo matto (s.a. [1882], Philosophia Popular em Proverbios, Lisboa, David Corazzi, Editor, 1882,
pág. 60).
Em Janeiro / busca parceiro.
Em Fevereiro /recòcaneiro.
Em Março / a três e a quatro.
Em Abril / enchem o covil.
Em Maio / chocai-o (ou passarinho em raio).
Em Junho / do tamanho de um punho (ou pelo S. João, apanham-se à mão).

112
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 69 anos, reformado, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 13 de
Junho de 2009.

História da Perdiz212
[…]
Março, três ou quatro.213
Abril, enche o covil.
[…]
S. João, leva-nos o pão.
Santiago, leva-nos a água.
E, Agosto, tira-nos o rosto.214

RP 3c215
Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 80 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 5 de Julho de
2009.

Sobre a perdiz216
Janeiro, faz recouqueiro.217
Fevereiro, dois e três.
Março, três e quatro.
Maio, chocai-o.
S. João, leva-os ao pão.
Santiago, leva-os à água.
E, Agosto, atira-lhe o rosto.
RP 4218

Em Julho (mês de S. Tiago) / esperam-se à água.


Em Agosto / espingarda ao rosto.
Janeiro /desapartadeiro. (Isto é, as perdizes que andam em bandos ‘desapartam-se’, termo popular que
quer dizer ‘apartam-se, e procura cada qual seu casal).
Fevereiro / busca a perdiz o seu parceiro.
Março / três e quatro (ovos).
Abril / cheio está o covil.
Maio passarinho em raio. (Isto é, o ovo tem raios de sangue).
Junho /tamanho dum punho (ou pelo S. João já o perdigoto come pão).
Julho (mês de Sant’iago) esperam-se à água.
Agosto / espingarda ao rosto (Delgado [1956], pág. 25).
212 O título é dado pelo informante.

O informante diz que não se lembra do início, nem do “verso” relativo ao mês de Maio.
Os provérbios não são transcritos separadamente, por meses, por respeito à forma como são ditos pelo
informante, como se de uma história em verso se tratasse, como um só texto, isto é, por respeito à forma
como circulam na tradição oral, ilustrando assim o modo como a memória os preservou ao longo do tempo.
213 Ovos, explica o informante.
214 A informante explicita que começava a caça da perdiz.
215
Fevereiro couveiro (ou «ricoqueiro», faz a perdiz ao poleiro; março, três ou quatro; abril, cheio está o
covil; maio, piopio pelo mato; junho, como um punho; em agosto, as tomarás a côso (diz-se das perdizes)
(Chaves [s.d.], pág. 25, nº15).
Abril, aguas mil, coadas por um mandil, e em Maio três ou quatro (Delicado [1923], pág. 264).
Fevereiro recoveiro faz a perdiz ao poleiro; Março três ou quatro (Delicado [1923], pág. 262).
Fevereiro couveiro / afaz a perdiz ao poleiro; / Março, três ou quatro; em Abril, /cheio está o covil; e em
Maio… pio, pio pelo mato (Delgado [1956], pág. 27).
216 Título atribuído pela informante.
217 A informante explica que a perdiz “faz o recouco, ou seja, buraco no chão/ninho”.
218
Cabra vae pela vinha, tal é a mãe e tal a filha (Delicado [1923], pág. 159).

113
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 74 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, 9 de Maio de 2003.

A cabra que pula a vinha pula mãe e pula filha.

RP 5a219
Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 69 anos, reformado, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em 8 de
Novembro de 2009.

A cavalo dado não se olha o dente.

RP 5b
Informante: Inácia Ramalho Paixão Caeiro, agricultora, 65 anos, 4º ano de escolaridade, natural de
Perolivas, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 4 de
Junho de 2011.

A cavalo dado não se olha o dente.

RP 6a220
Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 70 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em Abril de 1999.

A chover e a fazer sol e as bruxas do Campinho a fazer pão mole.

RP 6b
Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 65 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em a 6
de Novembro de 2009.

A chover e a fazer sol e as bruxas da Cumeada a fazer pão mole.


RP 7221
Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 79 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 20 de Janeiro de
2008.

A Festa em Março, muita fome e muito mortaço.

A cabra que vai à vinha. Onde pula a mãe pula a filha (Chaves [s.d.], pág.102, nº67).
A cabra vai à vinha, onde pula a mãe pula a filha (Borges [2005], pág. 9). Este é um provérbio recolhido
no Alentejo (Reguengos de Monsaraz, Mourão e Moura), segundo a recolectora.
Saltou a cabra para a vinha, também saltará a filha (Borges [2005], pág. 40). Este é um provérbio recolhido
no Alentejo (Reguengos de Monsaraz, Mourão e Moura), segundo a recolectora.
Cabra que vae pela vinha, por vae a mãe vae a filha (António Tomás Pires [1884], “Subsídios para o
Folclore Portuguez”, “Florilegio de proverbios, adagios, rifões, anexins, etc”, in O Elvense, nº 357, 3 de
Julho de 1884, pág.1).
219
Cf. Delicado [1923], pág. 113; Chaves [s.d.], pág. 49, nº66; Tomás Pires [1884], pág.1).
Cavalo dado, não se olha o dente (Delgado [1956], pág. 23).
220
Quando chove e faz sol, alegre está o pastor (s.a. [1882], pág. 26).
A chover e a fazer sol e a raposa a encher o fole (Chaves [s.d.], pág.170, nº367).
A chover e a fazer sol, estão as bruxas a comer pão mole (Borges [2005], pág. 9). Este é um provérbio
recolhido no Alentejo (Reguengos de Monsaraz, Mourão e Moura), segundo a recolectora.
Quando chove e faz sol bailam as manas em Campo Maior (Tomás Pires [1884], pág.1).
221
Páscoa em março, fome ou mortaço (Chaves [s.d.], pág.28, nº33).
Páscoa em Março / ou fome ou mortaço (Delgado [1956], pág. 20, 27 e 113).
Quando a fome vem em Março / ou muita fome ou mortaço (Delgado [1956], pág. 27).

114
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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RP 8222
Informante: Inácia Ramalho Paixão Caeiro, 65 anos, agricultora, 4º ano de escolaridade, natural de
Perolivas, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 4 de
Junho de 2011.

Água mole em pedra dura, tanto bate até que fura.223


RP 9
Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 71 anos, reformado, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 6 de
Novembro de 2011.

Ai, ai, quem escorrega também cai.


RP 10
Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 66 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 13 de
Setembro de 2010.

Amarelo é linda cor. Quem não gosta de amarelo não gosta do seu amor.
RP 11
Informante: Rosa Maria Morais Ramalho Cardoso, 73 anos, trabalhadora rural e doméstica, analfabeta,
natural de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 20 de Outubro de 2011.

A mulher mais velha que o marido faz o casal bem unido.

RP 12
Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 83 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 2 de Novembro
de 2011.

Anda por alma de quem mais não pode.

RP 13a224
Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 65 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 10 de
Novembro de 2009.

Ande lá por onde andar, aparece no mês de Natal. 225

RP 13b
Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 71 anos, reformado, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 8 de
Dezembro de 2012.

Ande lá por onde andar, há-de vir no mês de Natal.

RP 14

222
Agua molle em pedra dura, tanto dá até que fura (Delicado [1923], pág. 235; s.a. [1882], pág. 48;
Chaves [s.d.], pág.62, nº453).
223 A informante explica que o provérbio equivale a “ter muita paciência”.
224
Ande o frio por onde ande, no Natal cá vem parar (Chaves [d.s.], pág.44, nº1).
Ande o frio por onde andar procura-o pelo Natal (Tomás Pires [1884], pág.1).
225A informante diz que o provérbio se refere ao frio.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 65 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 9 de
Novembro de 2009.

A necessidade é mestra de engenho.

RP 15
Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 55 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em
Agosto de 1999.

A pouco e pouco, vai a galinha ao choco.

RP 16
Informante: Inácia Ramalho Paixão Caeiro, 65 anos, agricultora, 4º ano de escolaridade, natural de
Perolivas, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 4 de
Junho de 2011.

A prática vale mais que a gramática.

RP 17226
Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 81 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 14 de Junho de
2010.

A quem Deus promete, não falta.

RP 18227
Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 82 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 10 de Abril de
2011.

As cunhadas são unhadas.

RP 19
Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 70 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em Setembro de
1999.

Ateimar em quem não quer é bater em ferro frio .

RP 20
Informante: Inácia Ramalho Paixão Caeiro, 65 anos, agricultora, 4º ano de escolaridade, natural de
Perolivas, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 4 de
Junho de 2011.

A terra sabe pagar a quem a sabe lavrar.

RP 21228
Informante: Inácia Ramalho Paixão Caeiro, 65 anos, agricultora, 4º ano de escolaridade, natural de
Perolivas, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 4 de
Junho de 2011.

226
Cf. Tomás Pires [1884], pág.1; Delgado [1956], pág. 34.
227
Cunhadas são unhadas (Chaves [s.d.], pág.128, nº737).
As cunhadas são unhadas, e irmões encontrões (Tomás Pires [1884], pág.1).
228
Atrás de tempo, tempo vem (Chaves [s.d.], pág.86, nº1104).

116
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Atrás do tempo, tempo vem.


RP 22229
Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 70 anos, reformado, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 9 de
Abril de 2011.

Baba de cão come-se com pão. Baba de gato nem chegar ao fato. 230
RP 23a231
Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 69 anos, reformado, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 16 de
Junho de 2009.

Cada terra com seu uso, cada roca com seu fuso.
RP 23 b
Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 65 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 16 de
Junho de 2009.

Cada terra com seu uso.


RP 23c
Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural
de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011.Outras
Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel.

Cada terra com seu uso, cada roca com seu fuso.
RP 24
Informante: Inácia Ramalho Paixão Caeiro, 65 anos, agricultora, 4º ano de escolaridade, natural de
Perolivas, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 4 de
Junho de 2011.

Cantas bem mas não me divertes.


RP 25a232
Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 78 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 27 de Dezembro
de 2007.

229
Bafo de cão, até com pão (Borges [2005], pág. 16). Este é um provérbio recolhido no Alentejo
(Reguengos de Monsaraz, Mourão e Moura), segundo a recolectora.
Bafo de Gato, nem ao fato.
Bafo de cão, até com cão (Tomás Pires [1884], pág.1).
Bafo de cão
Até com pão;
Bafo de gato
Nem chega ao fato (Delgado [1956], pág. 34 e 127).
230
Segundo o informante, “a baba de cão não é prejudicial ao ser humano e a baba de gato é ruim – pode-
-se conviver com o cão, mas com o gato não.”
231
Cf. s.a. [1882], pág. 52; Delgado [1956], pág. 35.
Em cada terra, seu uso (Delicado [1923], pág. 252).
Cf. Chaves [s.d.], pág. 104, nº67.
232 Cf. Chaves [s.d], pág. 112, nº312.

Cautela e caldo de galinha não fazem mal ao doente (s.a. [1882], pág. 26).

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Cautela e caldo de galinha nunca fez mal a doentes .


RP 25b
Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 65 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 8 de
Novembro de 2009.

Cautela e caldo de galinha nunca fizeram mal a ninguém.


RP 26
Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 69 anos, reformado, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 16 de
Janeiro de 2010.

Com ajudas morreu o meu avô e ele nunca mais voltou.


RP 27
Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 69 anos, reformado, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 5 de
Outubro de 2009.

Comer e calar que é para aproveitar.


RP 28233
Informante: Georgina Leal, 70 anos, comerciante, 4ª ano de escolaridade, natural de Telheiro, residente
em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011.

Com quem te vi com quem te comparei.


RP 29234
Informante: Inácia Ramalho Paixão Caeiro, 65 anos, agricultora, 4º ano de escolaridade, natural de
Perolivas, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 4 de
Junho de 2011.

Com vinagre não se apanham moscas.


RP 30235
Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 56 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 25 de
Junho de 2000.

Conforme é a gente, assim é o presente.


RP 31236
Informante: Mariana Rosa Carvalho Ramos, 71 anos, reformada (cabeleireira), 1º ano de escolaridade,
natural de Santo António do Baldio, residente em S. Pedro do Corval. Recolha realizada em S. Pedro do
Corval, a 3 de Novembro de 2011.

233
Cf. Chaves [s.d.], pág. 483, nº25.
234
Cf. Delgado [1956], pág. 35.
Não é com vinagre que se apanham moscas (Borges [2005], pág. 29). Este é um provérbio recolhido no
Alentejo (Reguengos de Monsaraz, Mourão e Moura), segundo a recolectora.
Cf. Tomás Pires [1884], pág.1.
235
Conforme é o santo, assim é a oferta (Chaves [s.d.], pág. 123, nº602).
236
Dá-me gordura, dar-te-ei formusura (Chaves [s.d], pág. 130, nº36).
A gordura / dá formosura (Delgado [1956], pág. 33).

118
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Dá-me gordura, dá-me formosura.


RP 32237
Informante: Raimundo Luís Godinho Caeiro, 57 anos, agricultor, 9º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em 7 de
Março de 2011.

Dar dói, chorar faz ranho.


RP 33
Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 82 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 31 de Agosto de
2011.

Deitar cedo e cedo erguer dá saúde e faz crescer. 238


RP 34239
Informante: Inácia Ramalho Paixão Caeiro, 65 anos, agricultora, 4º ano de escolaridade, natural de
Perolivas, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 4 de
Junho de 2011.

De noite todos os gatos são pardos.


RP 35
Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 55 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em
Setembro de 1999.

Dentro de uma vida, há umas poucas de vidas.


RP 36240
Informante: Inácia Ramalho Paixão Caeiro, 65 anos, agricultora, 4º ano de escolaridade, natural de
Perolivas, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 4 de
Junho de 2011.

De pequenino é que se torce o pepino.


RP 37241
Informante: Inácia Ramalho Paixão Caeiro, 65 anos, agricultora, 4º ano de escolaridade, natural de
Perolivas, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 4 de
Junho de 2011.

Depressa e bem não o faz ninguém.


RP 38
Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 74 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 26 de Dezembro
de 2012.

237
Cf. Delgado [1956], pág. 35.
O dar dói e o chorar faz ranho (Chaves [s.d.], pág. 132, nº83).
Cf. Delgado [1956], pág. 35.
238
Diz o povo e tem razão, acrescentou a informante, rematando o dito proferido.
239
Cf. Delicado [1923], pág. 93; Chaves [s.d.], pág. 137, nº226; Tomás Pires [1884], pág.1).
240
De pequenino se torce o pepino (Delicado [1923], pág. 252; s.a. [1882] pág. 48; Delgado [1956], pág.
35).
De pequenino se torce o pé ao pepino (Chaves [s.d.], pág. 137, nº237).
241
Cf. Chaves [s.d], pág. 142, nº373.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Desde que meu filho pari, nunca mais barriga enchi.


RP 39
Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 69 anos, reformado, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 16 de
Junho de 2009.

De um atraso nasce um cento.


RP 40242
Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 80 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de Campinho,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada Reguengos de Monsaraz, a 26 de Novembro de
2009.

Deus escreve direito por linhas tortas.


RP 41243
Informante: Inácia Ramalho Paixão Caeiro, 65 anos, agricultora, 4º ano de escolaridade, natural de
Perolivas, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 4 de
Junho de 2011.

Devagar se vai ao longe.


RP 42a244
Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 66 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 30 de
Maio de 2010.

Dias de Maio, dias de amargura, mas amanhece, já é noite escura.


RP 42b
Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 69 anos, reformado, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 4 de
Julho de 2009.

Dias de Maio, dias de amargura, mal amanhece, logo é noite escura.


RP43
Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 71 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em Abril de 2000.

Dores paridas são dores esquecidas.

242
Cf. Chaves [s.d.], pág. 144, nº432.
243 Cf. Chaves [s.d.], pág. 146, nº474.
244
Dia de Maio, dia de má ventura, que, ainda não amanhece, já anoitece. (Delicado [1923], pág. 265.)
José Leite de Vasconcelos encontrou uma quadra semelhante, traduzida em latim, num Códice de Roma,
na Biblioteca Nacional em Roma, em 1905:
Dia de Mayo,
Dia de má ventura
O’ainda bem não amanhece,
Já anoitece. [Fl. 511 v.]
Trata-se um códice anónimo que contém provérbios portugueses, escrito entre 1769 e 1774, intitulado
Adágios, raccolta di detti e proverbi portoguesi, colla traduzione latina (cf. Leite de Vasconcelos [1938 e],
pág. 708).
Dias de Dezembro, má ventura, / ainda bem não amanhece, já é noite escura. (Delgado [1956], pág. 35).

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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RP 44
Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 70 anos, reformado, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 7 de
Março de 2011.

É como os capachos, conforme parvos os acho.245


RP 45
Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 67 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 2 de
Novembro de 2011.

É melhor cair em graça do que ser engraçado.


RP 46a246
Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 56 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz, em Reguengos de Monsaraz, a 9 de Dezembro de 2000.

Em más horas, não ladram cães.


RP 46b
Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 83 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 10 de Setembro
de 2011.

À má hora não ladram cães.

RP 47
Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 71 anos, reformado, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 6 de
Novembro de 2011.

Empreitadas a cavalo só as perde quem quer.

RP 48
Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 60 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 20 de
Abril de 2004.

Em terra boa está-se mais um dia.

RP 49247
Informante: Inácia Ramalho Paixão Caeiro, 65 anos, agricultora, 4º ano de escolaridade, natural de
Perolivas, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 4 de
Junho de 2011.

Em terra de cegos, quem tem um olho é rei.

245
O informante faz a afirmação a propósito do preço do quilo das silarcas (espécie de cogumelos) e explica
que “conforme é o cliente assim se pode vender o quilo 15 euros ou a 8 euros”, por exemplo.
Explicou ainda que era a resposta à pergunta A como vendes o capacho?. Mas a pergunta perdeu-se com o
passar dos anos e aquilo que era uma resposta pronta evoluiu para uma expressão proverbial.
A palavra capacho significa esteirão de buinho, explicou ainda o informante.
246
A hora má não ladram cães (Delicado [1923], pág. 256).
247
Em terra de pretos quem tem olho é rei (Delgado [1936], pág. 36).

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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RP 50248
Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 69 anos, reformado, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 9 de
Novembro de 2009.

Encomendas sem dinheiro esquecem à passagem do ribeiro.


RP 51a
Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 82 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 7 de Março de
2011.

É o velho da carapinhola, tanto ri como chora.


RP 51b
Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 71 anos, reformado, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 24 de
Novembro de 2011.

És como o velho da galinhola, tão depressa ri como chora.


RP 52249
Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 69 anos, reformado, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 16 de
Janeiro de 2010.

Erva ruim não a queima a geada.


RP 53
Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 80 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 11 de Junho de
2009.

Eu sou como o Jacinto, tanto gosto do branco como do tinto.

RP 54250
Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 69 anos, reformado, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 11 de
Junho de 2009.

Faz mais quem quer do que quem pode.

RP 55
Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 68 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 28 de
Junho de 2012.

Fezes com pão passadoras são.

248
Encomendas sem dinheiro, esquecem ao primeiro ribeiro (ou «ficam no tinteiro» ou «ficam na toca dum
sobreiro») (Chaves [s.d.], pág. 166, nº269).
249
Erva má não a cresta (ou «empeça») a geada (Chaves [s.d.], pág. 168, nº168).
250
Mais faz quem quer que quem pode (Delicado [1923], pág. 136; s.a. [1882] pág. 48).
Mais faz quem quer do que quem pode (Chaves [s.d.], pág. 207, nº72; Delgado [1956], pág. 37).
Muito faz quem pode, mais faz quem quer (Tomás Pires [1884], pág.1).

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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RP 56251
Informante: Inácia Ramalho Paixão Caeiro, 65 anos, agricultora, 4º ano de escolaridade, natural de
Perolivas, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 4 de
Junho de 2011.

Filho de peixe sabe nadar.


RP 57252
Informante: Inácia Ramalho Paixão Caeiro, 65 anos, agricultora, 4º ano de escolaridade, natural de
Perolivas, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 4 de
Junho de 2011.

Filho és, pais serás, conforme fizeres, assim encontrarás.


RP 58253
Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 83 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 10 de Setembro
de 2011.

Filhos e púcaros não são de mais.


RP 59a254
Informante: Maria de Lurdes Veladas, 54 anos, desempregada, 4º ano de escolaridade, natural de
Monsaraz, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 11 de
Setembro de 2010.

Grão a grão, enche a galinha o paparrão.


RP 59b
Informante: Inácia Ramalho Paixão Caeiro, 65 anos, agricultora, 4º ano de escolaridade, natural de
Perolivas, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 4 de
Junho de 2011.

Bago a bago enche a galinha o papo.

RP 60255
Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 67 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 9 de
Junho de 2011.

251
Cf. Chaves [s.d], pág. 178, nº190.
252
Filho és, pae serás; assim como fizeres, assim acharás (Delicado [1923], pág. 155; Chaves [s.d], pág.
178, nº198).
Filho és, e pai serás; assim como fizeres, assim acharás (s.a. [1882] pág. 48).
Filho és, pai serás; / como fizerdes, assim acharás (Delgado [1956], pág. 36).
253
Filhos e dinheiro nunca sobejam (Chaves [s.d.], pág. 179, nº179).
254
Grão a grão enche a galinha o papo (Delicado [1923], pág. 162; Chaves [s.d.], pág. 188, nº118).
A grão e grão enche a gallinha o papo (s.a. [1882], pág. 49).
Bago a bago enche a galinha o papo.
Grão a grão enche a galinha o paparão (Tomás Pires [1884], pág.1).
Grão a grão enche a galinha o papo (Borges [2005], pág. 9) Este é um provérbio recolhido no Alentejo
(Reguengos de Monsaraz, Mourão e Moura), segundo a recolectora.
255
Guarda pão para Maio e lenha para Abril, o que não veio há-de vir, mas guarda o melhor trancão para
o mês de São João (Borges [20005], pág. 25). Este é um provérbio recolhido no Alentejo (Reguengos de
Monsaraz, Mourão e Moura), segundo a recolectora.
Guarda pão para maio, lenha para Abril e o melhor tição para o mez de S. João (Tomás Pires [1884],
pág.1).
Guarda o melhor tição para a noite de S. João (Delgado [1956], pág. 28).

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Guarda o melhor tição para o mês de São João.


RP 61256
Informante: Inácia Ramalho Paixão Caeiro, 65 anos, agricultora, 4º ano de escolaridade, natural de
Perolivas, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 4 de
Junho de 2011.

Guarda que comer, não guardes que fazer.


RP 62
Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 62 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 27 de
Setembro de 2006.

Há-de faltar primeiro a sopa do que a boca.


RP 63257
Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 83 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 10 de Setembro
de 2011.

Há mais marés que marinheiros.


RP 64
Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 70 anos, reformado, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 30 de
Maio de 2010.

Hoje vamos ter festa na Bugalhêra, ladram os cães em Mantenêros.


RP 65258
Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 71 anos, reformada, 2º ano de escolaridade,natural de Campinho,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em Abril de 2000.

Honra e proveito não cabe no saco estreito.


RP 66a259
Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 55 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em Abril
de 1999.

Março igual o dia com o sargaço. 260


Abril enche a perdiz o covil.

256
Cf. Delgado [1956], pág. 36.
Guardar que comer, e não guardar que comer (Delicado [1923], pág. 142).
Guarda que comer, não guardes que fazer (Chaves [s.d.], pág. 188, nº130; s.a. [1882], pág. 42).
257 Cf. Chaves [s.d.], pág. 190, nº11.
258
Honra e proveito não cabem n’um saco (s.a. [1882], pág. 41; Tomás Pires [1884], pág.1).
Honra e proveito não cabem em saco estreito (Chaves [s.d.], pág. 194, nº142).
259
Em Março, ouga a noite com o dia, e o pão com o sargaço (Borges [2005], pág. 23) Este é um provérbio
recolhido no Alentejo (Reguengos de Monsaraz, Mourão e Moura), segundo a recolectora.
260 Segundo o informante Serafim Amieira, este verso em particular siginifica o seguinte: iguala o dia com

a noite.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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RP 66b261
Informante: Joaquina Códices Gomes Reis, 70 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de
Capelins-Alandroal, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz,
a 16 de Setembro de 2010.

Meses do ano262
Janeiro, uma hora por inteiro,
Luar de Janeiro não tem parceiro.
Fevereiro, afoga a mãe no ribeiro.
Março, Marçagão, manhã Inverno, tarde Verão.
Abril, águas mil, vai aonde tens de ir e voltas ao covil.
Maio, chocai-o.
Junho, S. João.
Julho, S. Tiago.
Agosto, espingarda ao rosto.
Setembro, S. Mateus.
Outubro, S. Francisco.
Novembro, mês dos Santos.
Dezembro, mês do Natal.

RP 66c
Informante: Rosa Lopes Patinha Berjano, 78 anos (faz 79 anos a 23 de Outubro), reformada, 4º ano de
escolaridade, natural de Telheiro, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 21 de Setembro
de 2011.Outras Informações: A informante possui um curso de Guarda-Livros (Contabilidade) e de
Dactilografia. Foi funcionária (chefe) da Caixa de Previdência de Évora – serviço local de Reguengos de
Monsaraz (Casa do Povo de Reguengos de Monsaraz), durante 24 anos.

Natal, passadinha de pardal


Janeiro, passadinha de carneiro
Fevereiro, quem bem souber contar, hora e meia lhe há-de achar.

RP 66d
Informante: Gertrudes Lameira Rita, 82 anos, reformada (trabalhadora rural), analfabeta, natural de
Carrapatelo, residente em Carrapatelo. Recolha realizada em Carrapatelo, a 9 de Outubro de 2011.

Janeiro, passadinha de carneiro.


Abril, vás aonde tens de ir e voltas ao teu covil.

261
Janeiro fora, mais uma hora e quem bem contar, hora e meia há-de achar (Chaves [s.d.], pág. 22, nº34).
Janeiro tem uma hora por inteiro (Chaves [s.d.], pág. 23, nº43).
Março marcegão, - pela manhan rosto de chão, e a tarde de bom verão. / Março marcegão – de manhan
cara de cão, á tarde cara de rainha, e á noite cavar com a foicinha. / Abril: aguas mil, coadas por um
mandil. / Em Abril vae onde has-de ir, e torna ao teu covil (s.a. [1882], pág. 59).
Abril aguas mil, e em Maio tres e quatro (s.a. [1923], pág. 60).
Janeiro tem uma hora por inteiro.
Fevereiro, afoga a mão no ribeiro.
Março, marcegão, pela manhã focinho de cão, e á tarde sol de verão.
Em Abril vae aonde tens has de ir, e volta ao teu cubiculo dormir (Tomás Pires [1884], pág.1).
Em Janeiro sobe ao outeiro: se vires verdejar, põe-te a chorar; se vires terrear, põe-te a cantar (Manuel
Joaquim Delgado [1956], pág. 26).
Luar de Janeiro / não tem parceiro, mas vem o de Agosto que lhe dá no rosto (Delgado [1956], pág. 26).
Março, marçagão / de manhã, Inverno; de tarde, Verão (Delgado [1956], pág. 27).
Abril, águas mil; e em Maio três ou quatro (Delgado [1956], pág. 27).
Em Abril / águas mil coadas por um funil (ou candil) (Delgado [1956], pág. 27).
Em Abril / vai onde hás-de ir / e torna ao teu covil (Delgado [1956], pág. 27).
262 Título atribuído pela informante.

125
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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RP 66e
Informante: Rosa Maria Morais Ramalho Cardoso, 73 anos, trabalhadora rural e doméstica, analfabeta,
natural de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolhida em Telheiro, a 10 de Outubro de 2011.

Natal, passadinha de pardal.


Janeiro, passadinha de carneiro.
Quem bem contar hora e mais l´há-de achar
De Janeiro em fora uma hora.

RP 66f
Informante: Mariana Rosa Carvalho Ramos, 71 anos, reformada (cabeleireira), 1º ano de escolaridade,
natural de Santo António do Baldio, residente em S. Pedro do Corval. Recolha realizada em S. Pedro do
Corval, a 3 de Novembro de 2011.

Crescendo dos dias263


Natal, passadinha de pardal.
Janeiro, passadinha de carneiro.
Fevereiro, uma hora por enteiro.
Março, já põem três e quatro.264
Abril, já enche o covil,
Maio, chocai-o,
S. João, vão ô pão,
Santiágua, vão à água,
Agosto, espingarda no rosto .265

RP 66g
Informante: Rosário Pinto Ramalho (Bisau), 77 anos, reformada (trabalhadora rural), 3º ano de
escolaridade, natural de Santo António do Baldio, residente em Santo António do Baldio. Recolha
realizada em Santo António do Baldio, a 3 de Novembro de 2011.

Natal, passadinha de pardal.


Janeiro, passadinha de carneiro.
[…]

RP 67a
Informante: Raimundo Luís Godinho Caeiro, 57 anos, agricultor, 9º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em
Setembro de 1999.

Já estive menos tempo à de um patrão.


RP 67b
Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 72 anos, reformado, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 9 de
Junho de 2012.

Já estive menos tempo à de um patrão e pagou-me o ordenado por inteiro. 266

263 Título atribuído pelo informante.


264
A informante explica: isto era já as perdizes a porem três e quatro ovos.
265 A informante torna a explicar: era quando começava a caça.
266
O informante explicita: estar à espera de alguém que faça determinada coisa e não faz e nós não
podemos continuar sem aquilo estar feito.

126
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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RP 68
Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 74 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 26 de Dezembro
de 2012.

Jesus, não venha algum da Luz ou de Badajoz, não coma mais do que nós.267
RP 69268
Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 59 anos, , reformado, 4º ano de escolaridade natural
de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em
Setembro de 1999.

Laranja de manhã é ouro, à tarde é prata e à noite mata.


RP 70
Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 70 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em Abril de 1999.

Minha casa, minha casinha, por mais pobre que ela seja, é mais rica do que a da rainha.
RP 71269
Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 70 anos, reformado, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 31 de
Maio de 2010.

Morra o gato, morra farto.

RP 72
Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 69 anos, reformado, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 13 de
Setembro de 2009.

Muito me ajuda quem não me entretém.

RP 73270
Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 65 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 23 de
Dezembro de 2009.

Muito rico era o ferrão, cresceu-lhe a vida, faltou-lhe o pão.

RP 74271
Informante: Georgina Leal, 70 anos, comerciante, 4º ano de escolaridade, natural de Telheiro, residente
em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011.

267
Sobre este provérbio, o informante dá um exemplo que pode contextualizar o seu momento da
enunciação: Estava uma família que estava sentada à mesa e ao começar [a refeição], um lembrava-se de
dizer [a expressão], para iniciar a comida, ainda assim não viesse alguém e comesse.
268
A laranja de manhã é ouro, ao meio dia prata, à noite mata (Chaves [s.d.], pág. 200, nº37; Tomás Pires
[1884], pág.1; Delgado [1956], pág. 23).
269
Cf. Delgado [1956], pág. 37.
Morra Martha, morra farta (Delicado [1923], pág. 210; Tomás Pires [1884], pág. 1; Delgado [1956], pág.
37).
Morra Marta (ou «o gato») morra farta (Chaves [s.d.], pág. 210, nº687).
270
Muito rico era o Ferrão, e a ele cresceu-lhe a vida e faltou-lhe o pão (Borges [2005], pág. 28). Este é
um provérbio recolhido no Alentejo (Reguengos de Monsaraz, Mourão e Moura), segundo a recolectora.
271 Tanto tens tanto vales, nada tens nada vales (Tomás Pires [1884], pág.1).

127
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Muito tens, muitos vales. Nada tens, nada vales.


RP 75
Informante: Josefa Rodrigues Godinho, 80 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural da Luz
(Mourão), residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 9 de
Dezembro de 2000.

Não há festa, nem dança, onde não vá com a pança.


RP 76
Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 72 anos, reformado, 4º ano de escolaridade,natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 12 de
Maio de 2012.

Não há nenhuma geração que não tenha uma puta e um cabrão.

RP 77
Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 80 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 5 de Julho de
2009.

Não julgues o bom por bom, nem o mau por mau.


RP 78272
Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 55 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em
Agosto de 1999.

Nas costas das minhas vizinhas, é que ouço ler as minhas.


RP 79273
Informante: Inácia Ramalho Paixão Caeiro, 65 anos, agricultora, 4º ano de escolaridade, natural de
Perolivas, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 4 de
Junho de 2011.

Não se morde a mão que nos dá de comer.


RP 80 a274
Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 67 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 5 de
Junho de 2011.

Não sirvas quem serviu.


RP 80 b
Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 71 anos, reformado, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 5 de
Junho de 2009.

Não sirvas quem serviu e não peças a quem pediu.

272
Pelas costas dos mais vê a gente as nossas (Tomás Pires [1884], pág.1).
273 A informante acrescenta: não se é mal agradecido, ingrato.
274
Não peças a quem pediu, nem sirvas a quem serviu (Tomás Pires [1884], pág.1).

128
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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RP 81
Informante: Inácia Ramalho Paixão Caeiro, 65 anos, agricultora, 4º ano de escolaridade, natural de
Perolivas, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 4 de
Junho de 2011.

O barato sai caro.275


RP 82276
Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 71 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em Abril de 2000.

O cesteiro que faz um cesto faz um cento, assim não lhe falte a verga nem o tempo.
RP 83
Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 80 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de Campinho,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada Reguengos de Monsaraz, a 26 de Novembro de
2009.

O destino não é mais forte do que tudo.


RP 84
Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 71 anos, reformado, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 3 de
Novembro de 2011.

Oferecer é cortesia, aceitar é pouca vergonha.

RP 85277
Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 71 anos, reformado, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 7 de
Dezembro de 2011.

O homem pequenino, velhaco ó dançarino.

RP 86 a278
Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 56 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 25 de
Junho de 2000.

Olhamos para o regueiro do outro e não olhamos para a nossa trave.


RP 86 b
Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 66 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 10 de
Julho de 2010.

275 A informante acrescenta: se o produto é ruim.


276
Quem faz um cesto, fará cento (Delicado, Adagios Portugueses reduzidos a lugares comuns (edição
revista e prefaciada por Luís Chaves), Lisboa, Livraria Universal, 1923, pág. 226).
cesteiro que faz um cesto, faz um cento, dando-lhe verga e tempo (Pedro Chaves, Rifoneiro Português,
Porto, Domingos Barreira, s.d., pág. 114, nº349).
Quem faz um cesto, faz um cento / tendo verga e tempo (Delgado [1956], pág. 40).
Cesteiro que faz um cesto, faz um cento (s.a. [1882], pág. 41).
277
Homem pequenino /ou velhaco / ou dançarino (Delgado [1956], pág. 37).
Homem pequenino, embusteiro ou bailarino (Chaves [1956], pág. 193, nº91).
278
A palha no olho alheio, e não a trave no nosso (Delicado [1923], pág. 192).
Todos vêem o argueiro no olho do visinho, e ninguém vê a tranca no seu (Tomás Pires [1884], pág.1).

129
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Vê-se o arguêro no outro e não se vê a nossa trave.


RP 87279
Informante: Inácia Ramalho Paixão Caeiro, 65 anos, agricultora, 4º ano de escolaridade, natural de
Perolivas, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 4 de
Junho de 2011.

Olho por olho, dente por dente.


RP 88
Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 71 anos, , reformado, 4º ano de escolaridade natural
de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 1
de Agosto de 2011.

Ó Marquês, vem cá abaixo que eles já cá estão outra vez.

RP 89280
Informante: Inácia Ramalho Paixão Caeiro, 65 anos, agricultora, 4º ano de escolaridade, natural de
Perolivas, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 4 de
Junho de 2011.

O medo é que guarda a vinha.


RP 90
Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 82 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 13 de Novembro
de 2010.

Onde quer que ponhas tira Deus a mezinha.


RP 91281
Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 68 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 5 Abril
de 2012.

O pouco com Deus é muito e o muito sem Deus é nada.


RP 92282
Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 80 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de Campinho,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada Reguengos de Monsaraz, a 26 de Novembro de
2009.

O que não tem remédio remediado está.


RP 93283
Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 80 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de Campinho,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada Reguengos de Monsaraz, a 26 de Novembro de
2009.

279
Cf. Chaves [s.d.], pág. 281, nº51.
280
O medo guarda a vinha, que não o vinhateiro (s.a. [1882], pág. 55).
O medo é que guarda a vinha, que não o cão (Chaves [s.d.], pág. 222, nº465).
Mais guarda a vinha, o medo do vinhateiro (Borges [2005], pág.28). Este é um provérbio recolhido no
Alentejo (Reguengos de Monsaraz, Mourão e Moura), segundo a recolectora.
281
O pouco com Deus é muito e o muito com Deus é nada (Chaves [s.d.], pág. 307, nº557).
282
Cf. Chaves [s.d.], pág. 322, nº295.
283
O que o berço dá, a tumba leva (Chaves [s.d.], pág. 322, nº301).

130
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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O que o berço dá a tumba tira. 284


RP 94285
Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 70 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em Setembro de
1999.

O que vai ganhar à pica, perde-se na sacha. 286


RP 95287
Informante: Inácia Ramalho Paixão Caeiro, 65 anos, agricultora, 4º ano de escolaridade, natural de
Perolivas, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 4 de
Junho de 2011.

Os amores são como os alguidares. Parte-se um, põe-se outro no mesmo lugar.
RP 96288
Informante: Inácia Ramalho Paixão Caeiro, 65 anos, agricultora, 4º ano de escolaridade, natural de
Perolivas, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 4 de
Junho de 2011.

O seguro morreu de velho, e o desconfiado ainda está vivo.


RP 97
Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 65 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 30 de
Agosto de 2009.

Os homens todos lhe amargam o cu como o pepino.


RP 98289
Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 55 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em
Agosto de 1999.

O trabalho do menino é pouco, mas quem o perde é louco.


RP 99290
Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 68 anos, reformado, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 16 de
Novembro de 2008.

Para lá do Marão, mandam os que lá estão.

284A informante comenta: nada é eterno, nem o dinheiro.


O que o berço dá, a tumba o leva (s.a. [1882], pág. 41; Tomás Pires [1884], pág.1).
285 O que ganhaste à monda, perdeste à sacha (Delgado [1956], pág. 23).
286
A informante explicita: “é um trabalho agrícola, faz-se o trabalho duas vezes”.
287
Perda de marido, perda de alguidar, um quebrado outro no poial (Delicado [1923], pág. 119; s.a. [1882]
pág. 57).
288
O seguro morreu de velho (s.a. [1882], pág. 42).
O seguro morreu de velho e a D. Prudência foi-lhe ao enterro (Chaves [s.d.], pág. 395, nº282).
289 O trabalho do menino é pouco, e quem o perde é louco (Tomás Pires [1884], pág.1).

O trabalho do menino é pouco / mas, quem quem não o aproveita, é louco (Delgado [1956], pág. 39).
290
Para cá do Marão, mandam os que cá estão (Chaves [s.d.], pág. 67, nº291).

131
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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RP 100291
Informante: Mariana Rosa Carvalho Ramos, 71 anos, reformada (cabeleireira), 1º ano de escolaridade,
natural de Santo António do Baldio, residente em S. Pedro do Corval. Recolha realizada em S. Pedro do
Corval, a 3 de Novembro de 2011.

Pobrêtes, mas alegrêtes.


RP 101292
Informante: Josefa Rodrigues Godinho, 82 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural da Luz,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 26 de Abril de
2003.

Porco gordo, unta-se-lhe o rabo.


RP 102293
Informante: Joaquina Códices Gomes Reis, 70 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de
Capelins-Alandroal, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz,
a 16 de Setembro de 2010.

Por fora corda e viola, por dentro pão bolarento.


RP 103294
Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 65 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 16 de
Junho de 2009.

Por novas não cansei, velhas as saberei.


RP 104295
Informante: Inácia Ramalho Paixão Caeiro, 65 anos, agricultora, 4º ano de escolaridade, natural de
Perolivas, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 4 de
Junho de 2011.

Quando a esmola é grande, o santo desconfia.

RP 105
Informante: Joana dos Reis Gato, 80 anos reformada (em solteira, trabalhou no campo, doméstica), 4º
ano de escolaridade, natural de Outeiro, residente em Outeiro. Recolha realizada em Outeiro, a 18 de
Março de 2012.

Quando a gente quer bem sempre se encontra.

RP 106a296
Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 70 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em Setembro de
1999.

291
Cf. Tomás Pires [1884], pág.1.
Pobrête e alegrête (Delicado [1923], pág. 230).
292
A informante explica: Quanto mais tem, mais se lhe dá.
A porco gordo unta-se-lhe o rabo (Tomás Pires [1884], pág.1).
293
Por fora cordas de viola, por dentro pão bolorento (Chaves [s.d.], pág. 804, nº480).
294
Por novas não penareis; far-se-hão velhas, sabê-las-eis (Delicado [1923], pág. 242.)
Por novas não penareis, far-se-ão velhas, sabê-las-eis (Chaves [s.d.], pág. 305, nº67).
295
Cf. Chaves [s.d.], pág. 311, nº31.
296
Quando te derem o porquinho, acode logo com o baracinho (Chaves [s.d.], pág. 317, nº151).
Quando te derem o porquinho, acode com o baracinho (s.a. [1882], pág. 47).

132
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Quando nos oferecem o bacorinho, acode-se logo com o baracinho.


RP 106b
Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 63 anos, reformado, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 24 de
Abril de 2003.

Quando lhe oferecem o porquinho, vai logo com o baracinho.


RP 107
Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 70 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em Setembro de
1999.

Quando o pau dá, é que se lhe tira a casca.


RP 108297
Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 80 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 5 de Julho de
2009.

Quando o preto descansa, carrega pedra.


RP 109
Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 56 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 25 de
Junho de 2000.

Quanto maior é o dia, maior é a romaria.


RP 110298
Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 55 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em
Outubro de 1999.

Quanto mais prima, mais se lhe arrima.


RP 111
Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 71 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em Abril de 2000.

Queira Deus não aconteça ao marido o que à mulher lhe vem no sentido.

RP 112299
Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 69 anos, reformado, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 8 de
Novembro de 2009.

Quem aceita não escolhe.

RP 113
Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 81 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 10 de Julho de
2010.

297
O preto, quando descança, acarreta pedra (Tomás Pires [1884], pág.1).
298
Cf. Delgado [1956], pág. 40; Chaves [s.d.], pág. 318, nº191.
299
Cf. Chaves [s.d.], pág. 326, nº395.

133
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Quem a mim me enjêta em boa cama me deita. 300


RP 114
Informante: Inácia Ramalho Paixão Caeiro, 65 anos, agricultora, 4º ano de escolaridade, natural de
Perolivas, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 4 de
Junho de 2011.

Quem a paz quiser gozar, tem que ver, ouvir e calar.


RP 115301
Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 82 anos, reformada, 2º de escolaridade, natural de Campinho,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 14 de Setembro
de 2010.

Quem aos vinte não é, aos trinta não tem, aos quarenta não é ninguém.
RP 116302
Informante: Georgina Leal, 70 anos, comerciante, 4º ano de escolaridade, natural de Telheiro, residente
em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011.

Quem cala consente.


RP 117303
Informante: Inácia Ramalho Paixão Caeiro, 65 anos, agricultora, 4º ano de escolaridade, natural de
Perolivas, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 4 de
Junho de 2011.

Quem compra ruim pano, compra duas vezes por ano.


RP 118304
Informante: Inácia Ramalho Paixão Caeiro, 65 anos, agricultora, 4º ano de escolaridade, natural de
Perolivas, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 4 de
Junho de 2011.

Quem corre por gosto não cansa.


RP 119305
Informante: Inácia Ramalho Paixão Caeiro, 65 anos, agricultora, 4º ano de escolaridade, natural de
Perolivas, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 4 de
Junho de 2011.

Quem dá aos pobres empresta a Deus.

300 A informante, ao reparar que estávamos a registar por escrito o provérbio por si enunciado, exclama
alegremente: O que elas gostam das minhas poesias.
301 Quem aos 20 não é e aos 30 não tem, não é ninguém (Tomás Pires [1884], pág.1).
302
Cf. Delicado [1923], pág. 251.
Quem cala consente (ou «vence») (Chaves [s.d.], pág. 330, nº511).
Quem cala / consente (e, quem calar / vencerá) (Delgado [1956], pág. 40).
303
Quem se veste de ruim panno, veste-se duas vezes no anno (António Delicado [1923], Adagios
Portugueses reduzidos a lugares comuns (edição revista e prefaciada por Luís Chaves), Lisboa, Livraria
Universal, 1923, pág. 150; (s.a. [1882], pág. 48).
304
Quem corre de gosto não cansa (Delgado [1956], pág. 40; Chaves [s.d.], pág. 334, nº 600).
305 Cf. Delgado [1956], pág. 40; Chaves [s.d.], pág. 343, nº 609.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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RP 120
Informante: Inácia Ramalho Paixão Caeiro, 65 anos, agricultora, 4º ano de escolaridade, natural de
Perolivas, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 4 de
Junho de 2011.

Quem dá o pão dá a educação.


RP 121
Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 70 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em Setembro de
1999.

Quem dá o seu ser a quem o entende não o dá que bem o vende.

RP 122306
Informante: Maria do Carmo Godinho Valadas Amieira, 67 anos, 4º ano de escolaridade, reformada,
natural de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de
Monsaraz, a 23 de Novembro de 2011.

Quem filhos não tem cada dia mata cem.


RP 123
Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 69 anos, reformado, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 7 de
Novembro de 2009.

Quem manda também pode.


RP 124
Informante: Joaquina Códices Gomes Reis, 70 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de
Capelins-Alandroal, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz,
a 16 de Setembro de 2010.

Quem mas diz é quem mas põe no nariz.


RP 125307
Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 55 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em
Setembro de 1999.

Quem meu filho beija minha boca adoça.


RP 126
Informante: Georgina Leal, 70 anos, comerciante, 4º ano de escolaridade, natural de Telheiro, residente
em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011.

Quem não é pra aceitar não é pra dar. 308

306
Quem filhos não tem, mais duro é que as pedras (Chaves [s.d.], pág. 343, nº 308).
307
Quem meus filhos beija, minha boca adoça (Chaves [s.d], pág. 349, nº960).
308
Esta expressão foi dita quando a informante nos oferece um sumo e um bolo, na sua mercearia, no
momento da despedida, dizendo que era para a viagem e nós, envergonhados e surpresos, recusámos,
inicialmente.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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RP 127309
Informante: Raimundo Luís Godinho Caeiro, 57 anos, agricultor, 9º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em 24
de Julho de 2010.

Quem não é pra comer não é pra trabalhar.


RP 128310
Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 56 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em Abril
de 2000.

Quem não pede não ouve Deus.


RP 129311
Informante: Georgina Leal, 70 anos, comerciante, 4º ano de escolaridade, natural de Telheiro, residente
em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011.

Quem não sente não é filho de boa gente.


RP 130312
Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 72 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 27 de Setembro
de 2001.

Quem nasce para dez réis não chega a ter vintém.

RP 131313
Informante: Rosa Maria Morais Ramalho Cardoso, 73 anos, trabalhadora rural e doméstica, analfabeta,
natural de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro a 22 de Setembro de 2011.

Quem por Deus anda Deus encaminha.

RP 132
Informante: Inácia Ramalho Paixão Caeiro, 65 anos, agricultora, 4º ano de escolaridade, natural de
Perolivas, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 4 de
Junho de 2011.

Quem quer pintos bonitos deite galinhas feias. 314

RP 133a315
Informante: Josefa Rodrigues Godinho, 88 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural da Luz),
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 20 de Março de
2009.

Querem ver o lobo falem-lhe na pele.

309
Quem não é para comer, não é para trabalhar (Chaves [s.d.], pág. 351, nº1046).
310
Quem não fala, não o ouve Deus (Delicado [1923], pág. 135).
311
Quem não se sente, não é de boa gente (Tomás Pires [1884], pág.1; Delgado [1956], pág. 41).
312
Quem nasceu para dez réis, não chega a vintém. (Chaves [1884], pág.1).
313 Quem com Deus anda, Deus o ajuda (Tomás Pires [1884], pág.1).
314
A informante esclarece: deitar galinhas significa pôr galinhas a chocar os ovos.
315
Quem não quer ser lobo não lhe vista a pele (Tomás Pires [1884], pág.1).
Se queres ver o lobo, fala-lhe na pele (Delgado [1956], pág. 24).

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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RP 133b
Informante: Inácia Ramalho Paixão Caeiro, 65 anos, agricultora, 4º ano de escolaridade, natural de
Perolivas, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 4 de
Junho de 2011.

Quem quer ver o lobo fale-lhe na pele.


RP 134
Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 65 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 22 de
Março de 2009.

Quem sabe da tenda é o tendeiro.


RP 135316
Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 62 anos, reformado, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 6 de
Dezembro de 2002.

Quem tem boca não manda assobiar.


RP 136317
Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 65 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 5 de
Outubro de 2009.

Quem tem filhos tem cadilhos.


RP 137318
Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 69 anos, reformado, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 1 de
Fevereiro de 2010.

Quem tem frio neste tempo tem raça de cão pelado.

RP 138
Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 68 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 9
Junho de 2012.

Quem tem padrinho baptiza-se.

RP 139
Informante: Raimundo Luís Godinho Caeiro, 57 anos, agricultor, 9º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em
Setembro de 1999.

Quem tem sorte até os cães lhe põem ovos.

316
Quem tem boca não diz a outro que sopre (ou «manda assoprar») (Chaves [s.d.], pág. 371, nº 1534).
317
Cf. Delgado [1956], pág. 41.
Quem tem filhos tem cadilhos, quem os não tem, cadilhos tem (Chaves [s.d.], pág. 372, nº 1568).
Quem tem filhos tem cadilhos; e quem os não tem, cadilhos tem (Tomás Pires [1884], pág.1).
318 É uma maneira de a gente reinar com as pessoas que dizem que têm frio, explicou-nos o informante.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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RP 140319
Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 72 anos, reformado, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 12 de
Maio de 2012.

Quem torto nasce tarde ou nunca se endireita.


RP 141
Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 80 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 5 de Julho de
2009.

Queres bom cão de caça, busca-lhe a raça.


RP 142320
Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 67 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 24 de
Agosto de 2011.

Queres ver o teu marido morto, dá-lhe pepino em Agosto.


RP 143321
Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 80 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 11 de Junho de
2009.

Se não fosse o pé cortava a bota.


RP 144
Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 69 anos, reformado, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 14 de
Junho de 2009.

Se queres ser bom, morre ou vai-te.

RP 145322
Informante: Inácia Ramalho Paixão Caeiro, 65 anos, agricultora, 4º ano de escolaridade, natural de
Perolivas, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 4 de
Junho de 2011.

Setembro molhado, figo estragado.

RP 146323
Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 60 anos, reformado, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a Julho
de 2000.

319
Quem torto nasce, tarde ou nunca se endireita (Delicado [1923], pág. 195, s.a. [1882], pág. 47).
Quem torto nasce, tarde ou nunca se endireita (Chaves [s.d.], pág. 375, nº 1637).
320
Queres ver teu marido morto? dá lhe couves em Agosto (s.a. [1882], pág. 61).
Se queres ver teu marido morto, dá-lhe couves em Agosto (Delgado [1956], pág. 29).
321
Se não fosse a bota, cortava-lhe a perna (Chaves [s.d.], pág. 390, nº 159).
322
Cf. Delgado [1956], pág. 20 e 29; Chaves [s.d.], pág. 41, nº 34.
323
Cantaro que vai muitas vezes á fonte, - ou deixa a aza, ou a fronte / Tantas vezes vai o canatrinho á
fonte, até que quebra. / Tantas vezes vai o pucaro á fonte, até que lá fica (s.a. [1882], pág. 57).
Tantas vezes vai o cântaro ao poço / até que lhe fica o pescoço (Delgado [1956], pág. 42).
Tantas vezes vai a caldeirinha ao poço, até que lá fica o pescoço (Chaves [s.d.], pág. 403, nº 50).

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Tantas vezes vai o caldeirão ao poço, até que fica lá o pescoço.


RP 147324
Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 59 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 9 de
Maio de 2003.

Tanto bate a água na pedra até que a faz abrandecer.


RP 148
Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 67 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 20 de
Agosto de 2011.

Tanto é o que passa como o que não chega.


RP 149325
Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 56 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em Abril
de 2000.

Tudo no seu tempo lembra.


RP 150
Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 56 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 25 de
Junho de 2000.

Tudo pergunta o seu semelhante.


RP 151
Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 56 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 25 de
Junho de 2000.

Tudo vai com a mão ao cuzinho e vem cagadinho.

RP 152
Informante: Georgina Leal, 70 anos, comerciante, 4º ano de escolaridade, natural de Telheiro, residente
em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011.

Tu és bom até que eu queira.


RP 153326
Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 60 anos, reformado, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em Abril
de 2000.

Um amor, para ser querido, primeiro tem de ser batido.

324
Água mole em pedra dura, tanto dá até que a fura (Chaves [s.d.], pág. 62, nº 453).
325
Tudo vem a seu tempo, e os nabos no Advento (Delicado [1923], pág. 87).
326 O amor tem que ser sofrido, acrescenta o informante.

O Amor, para ser batido, há de ser batido (Tomás Pires [1884], pág.1).

139
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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RP 154327
Informante: Inácia Ramalho Paixão Caeiro, 65 anos, agricultora, 4º ano de escolaridade, natural de
Perolivas, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 4 de
Junho de 2011.

Uma desgraça nunca vem só.


RP 155
Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 71 anos, reformado, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 21 de
Março de 2012.

Uma vez se engana o cão, a segunda ou se engana ou não.


RP 156
Informante: Inácia Ramalho Paixão Caeiro, 65 anos, agricultora, 4º ano de escolaridade, natural de
Perolivas, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 4 de
Junho de 2011.

Um olho no burro, outro no cigano. 328


RP 157
Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 67 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 20 de
Agosto de 2011.

Uns de mais e outros de menos.

RP 158
Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 82 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 10 de Abril de
2011.

Zanga de irmãos, lavaduras de mãos.

327
Uma desgraça nunca vem só (Chaves [s.d.], pág. 78, nº 417).
328 Para evitar o engano, segundo a informante.

140
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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1.2.2. Expressões Populares

REP 1329
Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 56 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em Abril
de 2000.

Acabou-se a papa doce.

REP 2
Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 55 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em
Agosto de 1999.

Adivinhar água.

REP 3a
Informante: Rosa Lopes Patinha Berjano, 78 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de Telheiro,
residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 21 de Setembro de 2011. Outras Informações: A
informante possui um curso de Guarda-Livros (Contabilidade) e de Dactilografia. Foi funcionária (chefe)
da Caixa de Previdência de Évora – serviço local de Reguengos de Monsaraz (Casa do Povo de Reguengos
de Monsaraz), durante 24 anos.

Ai Senhora da Orada, c’abrand’ o meu marido.

REP 3b
Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 71 anos, reformado, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 24 de
Setembro de 2011.

“Senhor dos Passos, c’abrand’o meu marido.”

REP 4330
Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 72 anos, reformado, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 12 de
Maio de 2012.

Albarda-se o burro à vontade do dono.

REP 5331
Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 67 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 5 de
Março de 2011.

Anda a comer miolo de enxergão.

329
Cf. António Nogueira Santos [1990], Novos Dicionários de Expressões Idiomáticas, Lisboa, Edições
Sá da Costa, 1990, pág. 290.
330
Cf. Delgado [1956], pág. 33.
Albarde-se o burro á vontade do dono (Tomás Pires [1884], pág.1).
331
Diz-se quando o namorado ou a namorada é infiel e o outro não sabe; refere-se, assim, àquele que é
traído e não sabe. Este é um exemplo específico que a informante nos apresenta. No geral, a expressão é
usada quando alguém é enganado e não sabe.

141
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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REP 6
Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 70 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em Setembro de
1999.

Andar de cu torcido.
REP7332
Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 83 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 20 de Maio de
2012.

Andar de mãos dadas.

REP 8333
Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 71 anos, reformado, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 9 de
Outubro de 2011.

Arde como a isca.

REP 9
Informante: Maria Antónia Valido Lobo (Maria Cantadora), 73 anos, reformada (trabalhadora rural),
analfabeta (sabe ler e sabe assinar), natural da Caridade, residente na Caridade. Recolha realizada em
Caridade, a 7 de Novembro de 2011.

As conversas são como as cerejas.

REP 10334
Informante: Florinda Maria Fernandes, 70 anos, reformada, analfabeta (sabe ler e escrever), natural de
Monsaraz, residente em Monsaraz. Recolha realizada em Monsaraz, a 13 de Setembro de 2011.

As sopas estão a dormir.


REP 11
Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 80 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 11 de Junho de
2009.

Batendo no sentido.
REP 12335
Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 66 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 28 de
Fevereiro de 2010.

Caem-me as campainhas do cu.

332 Diz-se de duas pessoas muito amigas ou de duas pessoas que parecem conspirar.
333 Quando algo arde depressa. A isca é uma planta que antigamente era usada para acender o cigarro,
juntamente com uma pedra e um ferro.
334
Quando a sopa não está a ferver.
335 A informante usou a expressão no seguinte contexto: Tenho tanto que fazer que me caem as

campainhas do cu.

142
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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REP 13336
Informante: José Jaleca Dourado, 74 anos, barbeiro, 4º ano de escolaridade, natural de S. Pedro do
Corval, residente em S. Pedro do Corval. Recolha realizada em S. Pedro do Corval, a 3 de Novembro de
2011.

Cai-se lá com ele.


REP 14337
Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 80 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de Campinho,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada Reguengos de Monsaraz, a 26 de Novembro de
2009.

Cama e mesa e roupa lavada.


REP 15338
Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 71 anos, reformado, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 24 de
Setembro de 2011.

Conversas de alpendre.
REP 16
Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 55 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em
Agosto de 1999.

Dá o chá.
REP 17
Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 55 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em
Outubro de 1999.

Dar fé.

REP 18
Informante: Maria do Rosário Neves Alfaiate (Ti Lia), 81 anos, reformada (trabalhadora rural),
analfabeta, natural de Santo António do Baldio, residente em Santo António do Baldio. Recolhida em Santo
António do Baldio, a 21 de Outubro de 2010.

Dito feito o faço.

REP 19
Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 68 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 9
Junho de 2012.

É bruto que nem um cerro.

REP 20339
Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 69 anos, reformado, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 5 de
Novembro de 2009.

336 O mesmo que briga.


337
Santos [1990], pág. 81.
338 São assim designadas as conversas quando se consideram enganadoras, “boato”.
339 Diz-se a alguém que reclama muito.

143
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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E não mordes a língua!


REP 21340
Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 83 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 20 de Maio de
2012.

É um pêdo fechado.
REP 22
Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 83 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 20 de Maio de
2012.

Eu é que não tenho uma boca emprestada.


REP 23a
Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 80 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 11 de Junho de
2009.

Era um pego sem fundo.


REP 23b
Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural
de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011. Outras
Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel.

Pego sem fundo.


REP 24
Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 66 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 13 de
Setembro de 2010.

Está a dormir e a apanhar ratos.


REP 25341
Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 70 anos, doméstica, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em Abril de 1999.

Está com um olho no burro e outro no cigano.


REP 26
Informante: Raimundo Luís Godinho Caeiro, 67 anos, agricultor, 9º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em 24
de Julho de 2010.

Está na massa do sangue.


REP 27

340
Diz-se quando há uma relação muito próxima entre duas pessoas.
341
Cf. Um olho no prato, outro no gato (Delicado [1923], pág. 243).

144
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Informante: Inácia Ramalho Paixão Caeiro, 65 anos, agricultora, 4º ano de escolaridade, natural de
Perolivas, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 4 de
Junho de 2011.

Estar em pulgas.

REP 28
Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 80 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de Campinho,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada Reguengos de Monsaraz, a 26 de Novembro de
2009.

Fazendo o gosto ao dedo.


REP 29342
Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 70 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em Setembro de
1999.

Fazer em fel e vinagre.


REP 30343
Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 71 anos, reformado, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 4 de
Novembro de 2011.

Fazer o acero.
REP 31
Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 70 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em Setembro de
1999.

Fazer ouvidos de mercador.


REP 32
Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 71 anos, reformado, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 30 de
Agosto de 2011.

Fez uns pães que nem umas hóstias.


REP 33344
Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 80 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de Campinho,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada Reguengos de Monsaraz, a 26 de Novembro de
2009.

Ficar debaixo de uma pedra.


REP 34
Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 83 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 20 de Maio de
2012.

342
Cf. Santos [1990], pág. 173.
343
Significa fazer a aproximação àquilo que se quer.
344 Significa ficar em segredo.

145
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Fiz-lhe um risco à porta.


REP 35
Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 83 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 10 de Setembro
de 2011.

Houve parra e pasto.


REP 36345
Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 82 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 13 de Novembro
de 2010.

Isso pra preta que tem bom dente.


REP 37
Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 80 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 11 de Junho de
2009.

Isto é manteiga de mais por dez tostões .


REP 38a
Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 60 anos, reformado, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em Abril
de 2000.

Já apareceu o rabo ao canivete.


REP 38b
Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 72 anos, reformado, 4º ano de escolaridade,natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 9 de
Junho de 2012.

Já encontrámos o cabo ao canivete.


REP 39346
Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 69 anos, reformado, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 7 de
Maio de 2009.

Já comem pão com côdea?


REP 40347
Informante: Josefa Rodrigues Godinho, 88 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural da Luz
(Mourão), residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 3 de
Outubro de 2009.

Já escapa.

345Quando alguém não consegue partir alguma coisa.


346É o mesmo que perguntar a alguém se está melhor.
347O mesmo que dizer que está melhor.

146
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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REP 41a
Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 58 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 29 de
Outubro de 2002.

Levar com um gato morto até que ele miasse.


REP 41b
Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 65 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 13 de
Setembro de 2009.

Levando com um gato morto até que ele miasse.


REP 42348
Informante: Maria Antónia Valido Lobo (Maria Cantadora), 73 anos, reformada (trabalhadora rural),
analfabeta (sabe ler e sabe assinar), natural da Caridade, residente na Caridade. Recolha realizada em
Caridade, a 7 de Novembro de 2011.

Levar tudo à ponta da espada.


REP 43
Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 70 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em Setembro de
1999.

Mais feia que a noite dos trovões.


REP 44349
Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 80 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de Campinho,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada Reguengos de Monsaraz, a 26 de Novembro de
2009.

Mais tarde se colhem as peras.

REP 45350
Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 67 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 22 de
Outubro de 2011.

Maria, o teu gato já mia?

REP 46
Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 67 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 22 de
Outubro de 2011.

348 Significa levar tudo muito a sério.


Cf. Santos [1990], pág. 159.
349
A seu tempo, se recolhem as pêras.
Alguma hora, a minha pereira terá pêras (Borges [2005], pág. 11). Estes são duas expressões recolhidas
no Alentejo (Reguengos de Monsaraz, Mourão e Moura), segundo a recolectora.
A seu tempo se colhem as peras (Tomás Pires [1884], pág.1).
350
Esta expressão usa-se quando as crianças se intrometem na conversa de um adulto, por exemplo, ou
quando querem ter uma atitude que não é própria da sua idade, mas de um adulto.
Pela variante que se apresenta no REP46b, julgamos que a composição REP46a provém de uma resposta
pronta que se simplificou, tornando-se numa simples expressão de uso quotidiano.

147
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Meter o nariz em cu de gente.


REP 47
Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 67 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 31 de
Dezembro de 2011.

Não está ali com nabos em saco.


REP 48
Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 71 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em Abril de 2000.

Não é tarde nem é cedo.


REP 49
Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 71 anos, reformado, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 7 de
Novembro de 2011.

Não lhe cabe uma palhinha no rabo.


REP 50351
Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 71 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em Abril de 2000.

Não passa da cepa torta.


REP 51
Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 71 anos, reformado, 4º ano de escolaridade,natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 11 de
Setembro de 2011.

Não pode com um gato pelo rabo.


REP 52
Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 80 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de Campinho,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada Reguengos de Monsaraz, a 26 de Novembro de
2009.
Não sai às ervas.
REP 53
Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 82 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 13 de Novembro
de 2010.

Não se sabe o que está detrás da porta.


REP 54
Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 55 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em
Agosto de 1999.

Não vê mais terra do que a que pisa.

351
Santos [1990], pág. 101.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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REP 55352
Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 65 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 1 de
Dezembro de 2009.

Não vejo açougue.


REP 56
Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 60 anos, reformado, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em Abril
de 2000.

Não tem dois dedos de testa.


REP 57
Informante: Rosa Lopes Patinha Berjano, 78 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de Telheiro,
residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 21 de Setembro de 2011. Outras Informações: A
informante possui um curso de Guarda-Livros (Contabilidade) e de Dactilografia. Foi funcionária (chefe)
da Caixa de Previdência de Évora – serviço local de Reguengos de Monsaraz (Casa do Povo de Reguengos
de Monsaraz), durante 24 anos.

Nem à lei da bala.


REP 58
Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 65 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 12 de
Abril de 2009.

Outra vez, senhora Inês!


REP 59353
Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 56 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em Abril
de 2000.

Parece que tem bichos carpinteiros no rabo.


REP 60
Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 56 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em Abril
de 2000.

Parece um poço sem fundo.


REP 61354
Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 65 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 4 de
Julho de 2009.

Pica-lhe a cevada na barriga.

352 Diz-se de um namoro pouco intenso.


353
Santos [1990], pág. 51.
354
Diz-se da pessoa que se encontra bem materialmente e/ou de saúde. Também se usava em relação às
crianças, quando brincavam e pulavam, cheias de saúde.

149
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
_____________________________________________________________________________________

REP 62
Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 80 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de Campinho,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada Reguengos de Monsaraz, a 26 de Novembro de
2009.

Pulou-lhe no cachaço.
REP 63355
Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 80 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de Campinho,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada Reguengos de Monsaraz, a 26 de Novembro de
2009.

Puxar a conversa.
REP 64a
Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 55 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em
Agosto de 1999.

Regar o pé.
REP 64b
Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 55 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em
Agosto de 1999.

Ter o pé regado.
REP 65
Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 70 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em Setembro de
1999.

Ser cuspida e escarrada.

REP 66356
Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural
de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011.Outras
Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel.

Tas calado, rachas lenha.


REP 67
Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 80 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de Campinho,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada Reguengos de Monsaraz, a 26 de Novembro de
2009.

Tem pau para toda a colher.


REP 68
Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 69 anos, reformado, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 7 de
Maio de 2009.

Tens os correios bem pagos.

355
Santos [1990], pág. 120.
356
Equivale a dizer a alguém para não se intrometer meter na conversa dos outros.

150
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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REP 69357
Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 65 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 5 de
Novembro de 2009.

Tinham pano para tanta manga?


REP 70
Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 58 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 29 de
Outubro de 2002.

Trabalha que já cá o metes.

REP 71a358
Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 55 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em
Outubro de 1999.

Untar os lábios com toucinho.


REP 71b
Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 80 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 11 de Junho de
2009.

Unta-lhe os bêços com toucinho (ao nosso Senhor) e vai dizer ao teu pai que já comeste.
REP 71c
Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 68 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 5 Abril
de 2012.

Untas a boca com toucinho.


REP 72359
Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 55 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em
Outubro de 1999.

Verão dos Marmelos.


REP 73
Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 80 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 11 de Junho de
2009.

Vim fora da tabela. 360

357
Santos [1990], pág. 351.
358 Significa contentar.
359 É uma referência aos dias quentes de Outono.
360O mesmo que vir fora de tempo. A informante disse a expressão a propósito do facto de ser a filha mais

nova com muita diferença de idade relativamente aos irmãos.

151
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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REP 74
Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 66 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 1 de
Setembro de 2010.

Vinha no passinho de Santa Cruz.


REP 75361
Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 80 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 11 de Junho de
2009.

“Viúva, queres casar?”


REP 76
Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 55 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em
Outubro de 1999.

Voltar as barrigas das pernas.


REP 77362
Informante: José Jaleca Dourado, 74 anos, barbeiro, 4º ano de escolaridade, natural de S. Pedro do
Corval, residente em S. Pedro do Corval. Recolha realizada em S. Pedro do Corval, a 3 de Novembro de
2011.

Vou à cata dele.

361
Contexto conversacional: Não me convidem para almoçar, não me digam viúva, queres casar?
362 O mesmo que ir à procura.

152
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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2.Composições de carácter lúdico

2.1. Rimas Infantis

Rimas em Jogos: fórmulas de selecção

RFS 1
Informante: Delmira Cachopas, 93 anos, 3º ano de escolaridade, comerciante, natural de Montoito,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 26 de Novembro
de 2011.

Argolinha pimpolinha, 363


O rapaz que bem que faz
Faz o jogo do papão.
E o papão Manel João
5 Diz à velha do cordão
Que arrecolha o seu pezinho
Ta coxinho dum dedinho. 364

Rimas em Jogos para a primeira infância

RJPI 1365
Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 67 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 19 de
Novembro de 2011.

Ada burriquito,
Vamos a Belém,
A ver o Chiquito
Que a Senhora tem.

5 Que a Senhora tem,


Que a Senhora adora,
Anda burriquito,
Vamo-nos embora.

RJPI 2a366

363 A informante explica: era nos pés (…) depois estendiam os pés. Era o jogo da Argolinha Pimpolinha.
364 A informante explica: E depois eles ‘arrecolhiam’ - afirma pondo o dedo no bolso do casaco para
exemplificar.
365 Rima infantil de conteúdo natalício, cantada com o neto ao colo, fazendo cavalinho. É dita quando o

bebé já se senta com alguma facilidade, sentando-o na perna ou no joelho e faz-se um movimento brando,
segurando o bebé.
Teófilo Braga publicou uma versão desta rima infantil (cf. Teófilo Braga [1995], O Povo Português nos
seus Costumes, Crenças e Tradições, vol. I, Lisboa, Publicações Dom Quixote, 1995, pág. 244).
Cf. Coelho [1994], pág. 16.
366
Cf. Idália Farinho Custódio, Maria Aliete Farinho Galhoz [2011], Cancioneiro. Património Oral do
Concelho de Loulé, vol. IV, Loulé, Edição da Câmara Municipal de Loulé, 2011, pág. 33.

153
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Informante: Mariana Rosa Carvalho Ramos, 71 anos, 1º ano de escolaridade, reformada (cabeleireira),
natural de Santo António do Baldio, residente em S. Pedro do Corval. Recolha realizada em S. Pedro do
Corval, a 4 de Novembro de 2011.

Lagarto pintado
Quem te pintou?
Foi uma velha
Que por aqui passou.
5 No tempo da eira
Fazia poeira.
Agarra lagarto
Por esta orelha.

RJPI 2b
Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 71 anos, 4º ano de escolaridade, reformado, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 4 de
Novembro de 2011.

Lagarto pintado
Quem te pintou?
Foi uma velha
Que por aqui passou.
5 No tempo da eira
Fazia poeira.
Dentro de uma caixa.

RJPI 2c
Informante: Deolinda Valadas Infante Cardoso, 61 anos, 6º ano de escolaridade, doméstica, natural de
Outeiro, residente em Outeiro. Recolha realizada em Outeiro, a 21 de Novembro de 2011.

Lagarto pintado,
Quem te pintou?
Foi uma velha
Que aqui passou.
5 No tempo da eira,
Fazia poeira.
Puxa lagarto
Por esta orelha. 367

RJPI 2d
Informante: Delmira Cachopas, 93 anos, 3º ano de escolaridade, comerciante, natural de Montoito,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 26 de Novembro
de 2011.
Lagarto pintado,

António Tomaz Pires recolheu a seguinte versão:


Arre burriquito,
Vamos a Belém
A ver o chiquito
O’a senhora tem. (António Tomaz Pires [1936], Rimas e Jogos Colligidos no Concelho d’Elvas,
Elvas, Tipografia Progresso, 1936, pág. 4)
367 A informante faz o gesto de puxar a orelha.

154
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
_____________________________________________________________________________________

Quem te pintou?
Foi uma velha
Que aqui passou.
5 Plo tempo da eira
Fazia poeira.
Puxa lagarto
Por esta orelha.

RJPI 3368
Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 66 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 24 de
Julho de 2010.
Palminhas, palminhas,
Pra mamã dar maminha,
Pró pai dar coisinhas.369

Cantou versão idêntica: Isménia Moleiro Ramalho, 81 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 25 de
Julho de 2010.

RJPI 4a
Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 81 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 25 de Julho de
2010.
Pino moça,
Pino e moça,
Trigo no saco,
Dinheiro na bolsa. (bis)370

Cantou versão idêntica: Isménia Moleiro Ramalho, 81 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 7 de
Março de 2011.

RJPI 4b
Informante: Rosa Maria Morais Ramalho Cardoso, 73 anos, trabalhadora rural e doméstica, analfabeta,
natural de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 20 de Outubro de 2011.

Pino, pino, moça,


Trigo no saco,
Dinheiro numa bolsa.

RJPI 5a
368
Cf. Coelho [1994], pág. 22; Leite Vasconcelos [1907], pp. 1-86, [1938e] pág. 42.
369 A informante canta a rima ao seu neto de poucos meses, para o ensinar e incentivar a bater palminhas.
Enquanto canta, bate palmas.
No concelho de Elvas, António Tomás Pires recolheu uma versão diferente:
Palminha, palminhas,
P’r’a mãe dar as maminhas,
E o pae cando vier,
Dará sopinhas de mel. (Tomaz Pires [1936], pág. 4)
370 A informante canta e faz os gestos que acompanham a cantiga – o gesto consiste em tocar com a ponta

do dedo indicador na palma da outra mão, repetidamente.

155
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
_____________________________________________________________________________________

Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 82 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 13 de Novembro
de 2010.

Pum, pum,
Vai lavar a loiça.
Pum, pum,
Deixa-a bem lavada. (bis) 371

Cantou versão idêntica: Isménia Moleiro Ramalho, 81 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 7 de
Março de 2011.

RJPI 5b
Informante: Rosa Maria Morais Ramalho Cardoso, 73 anos, trabalhadora rural e doméstica, analfabeta,
natural de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, em 20 de Outubro de 2011.

- Pum, pum,
Vai lavar a loiça,
- Pum, pum,
Já está lavada,
5 - Pum, pum,
Não sejas porca,
- Pum, pum,
Sou asseada.

Rimas de zombaria

Rimas para zombar da religião


RRZR 1a
Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 69 anos, reformado, 4.º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 11 de
Junho de 2009.

Com Deus me deito,


Com Deus me agasalho,
Com a mão no peito,
E a outra no caralho.

RRZR 1b
Informante: João Veva Rocha, 71 anos, reformado (antigo sargento-chefe GNR), 9.º ano de escolaridade,
natural de Capelins - Alandroal, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos
de Monsaraz, a 16 de Setembro de 2010.

Com Deus me deito,


Com Deus me agasalho,
Com uma mão no peito,

371
A informante faz os gestos que acompanham a cantiga, enquanto a canta, dirigindo-se ao seu sobrinho,
um bebé de 10 meses, entretendo-o, divertindo-o e ensinando-o a repetir o gesto – o gesto consiste em tocar
com a ponta do dedo indicador na palma da outra mão, repetidamente.

156
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
_____________________________________________________________________________________

E outra no pescoço.372

Rimas para zombar das Pessoas


RRZP 1a
Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 64 anos, reformada, 4.º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 26 de
Maio de 2008.

- Maria Cachucha,
Com quem dormes tu?
- Com o gato bravo
Que te arranha o cu. 373

RRZP 1b374
Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 80 anos, reformada, 2.º ano de escolaridade, natural de Campinho,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 5 de julho de
2009.

- Ó Maria Cachucha,
Com quem dormes tu?
- Durmo com o gato
Que te arranha o cu.

RRZP 2
Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 64 anos, reformada, 4.º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 4 de
Julho de 2009.

O tio Zé da Horta
Foi aos agriões.
No meio do caminho
Perdeu os safões.

372 O informante diz que não é bem assim. Tenta recordar mas não consegue. Julgamos que se envergonhou
de usar o termo obsceno.
Recita a composição para retratar um pouco o ambiente que se fazia sentir nas ceifas, ou melhor, entre os
ceifeiros e ceifeiras, à noite, após o dia de trabalho. Antigamente, dormiam todos no campo, junto ao local
de trabalho, pois as distâncias das suas casas eram muito grandes e os transportes eram escassos. Assim,
recita-a a propósito de um indivíduo que à noite, após a ceifa, dizia isto para divertir os colegas que
esperavam que ele rimasse o último verso com a esperada palavra obscena. E ele tinha um cascavel na foice
e dizia a oração, levantando a foice e logo a cascavel tilintava.
É mais uma versão de rima de zombaria à religião, mas não usada num ambiente infantil, segundo o próprio
informante. Porém, num ambiente de lazer, de descontracção, está presente um saber adquirido talvez na
infância e, depois, transportado para a vida adulta.
373 A informante afirma: Ouvia cantar esta cantiga ao primo Domingos dos Caeiros, o “Solheiras”, no

campo, nos trabalhos da monda; como era mais lento o trabalho, os patrões gostavam de vigiar as
mulheres.
Cantou novamente a mesma composição, sem qualquer alteração, em 4 de Julho de 2009.
374 Cf. José Leite Vasconcelos [1975], Cancioneiro Popular Português, vol. I, Coimbra, Por Ordem da

Universidade, 1975, pág. 52.

157
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Cantigas Infantis
RCInf 1a375
Informante: Rosa Maria Morais Ramalho Cardoso, 73 anos, trabalhadora rural e doméstica, analfabeta,
natural de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 20 de Outubro de 2011.

As pombinhas da Catrina
Andaram de mão em mão.
Foram ter à Quinta Nova
Ao pombal de S. João.

5 Ao pombal de S. João,
À quinta da Ribeirinha,
O mau patrão mandou-me à água
E eu parti a cantarinha.376

RCInf 1b
Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, 2º ano de escolaridade, trabalhador rural, natural
de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 20 de Outubro de 2011. Outras
Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel.

As pombinhas da Catrina
Andaram de mão em mão.
Foram ter à Quinta Nova
Ao pombal de S. João.

5 Ao pombal de S. João,
À quinta da Roseirinha,
Meu patrão mandou-me à fonte
E eu parti a cantarinha.377

RCInf 1c
Informante: Maria do Rosário Neves Alfaiate (Ti Lia), 81 anos, analfabeta, reformada (trabalhadora
rural), natural de Santo António do Baldio, residente em Santo António do Baldio. Recolha realizada em
Santo António do Baldio, a 21 de Outubro de 2011.

As pombinhas da Catrina
Andaram de mão em mão.
Foram ter à Quinta Nova
E ao Pombal de S. João.

5 Ao pombal de S. João,

375
Cf. Carlos Nogueira [2002], “Cancioneiro Popular de Baião”, vol. II, in Bayam, nº 7-10, Janeiro 2002,
pág. 285; Custódio, Galhoz [2011], Cancioneiro. Património Oral do Concelho de Loulé, vol. IV, Loulé,
Edição da Câmara Municipal de Loulé, 2011, pp. 85-87.
376 A informante recitou a composição.

Os dois versos finais foram recitados pelo marido da informante, pois também se encontrava presente
durante a entrevista. Trata-se do informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, 2º ano de
escolaridade, Trabalhador Rural, natural de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em
Telheiro, a 20 de Outubro de 2011. Outras Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel.
377 O informante canta. Introduz uma variante no penúltimo verso.

158
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
_____________________________________________________________________________________

À quinta da Roseirinha,
- Minha mãe, não bata mais
Que eu ainda sou pequenina.378

RCInf 2
Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, 2º ano de escolaridade, trabalhador rural, natural
de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 20 de Outubro de 2011. Outras
Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel.

Naquela linda manhã,


Estava a brincar no jardim,
A certa altura, a mamã
Chamou-me e disse-me assim:

5 - Não andes só a correr,


Tropeças sem querer,
Se cais, ficas mal.

Eu respondi:- Está bem.


Depressa, porém,
Esqueci-me de tal.

E depois eu não sei como foi,


10 Escorreguei, caí no chão,
No joelho ficou um dói-dói,
No nariz um arranhão.

RCInf 3a
Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, 2º ano de escolaridade, trabalhador rural, natural
de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 20 de Outubro de 2011. Outras
Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel.

Olha a machadinha,
Minha machadinha. (bis)
Quem te disse a ti
Que tu hás-de ser minha.

RCInf 3b 379
Informante: Maria Antónia Valido Lobo (Maria Cantadora), 73 anos, analfabeta (sabe ler e sabe assinar),
reformada (trabalhadora rural), natural da Caridade, residente na Caridade. Recolha realizada em
Caridade, a 7 de Novembro de 2011.

Ah, ah, minha machadinha,


Ah, ah, minha machadinha,
Quem te pôs a mão,
Sabendo qu’és minha.

5 Sabendo qu’és minha,


378 Os dois últimos versos oferecem uma nova variante temática.
379
Cf. Custódio, Galhoz [2011], pp.81-82.

159
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Ê também sou tua.


Salta, machadinha,
Lá pró meio da rua.

Lá pró meio da rua,


10 Não hei-de saltari,
Salta, machadinha,
Vai buscar tê pari.380

RCInf 4 381
Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 69 anos, reformado, 4.º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 4 de
julho de 2009.

Tenho um canito
Que se chama Bebéu.
Hei-de cortar o rabo
Para a fita do meu chapéu.

Fórmulas encantatórias
RFE 1
Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 67 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 2 de
Novembro de 2011.

Acha borracha
Dentro de uma caixa.382

RFE 2

Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 56 anos, reformada, 4.º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a abril
de 2000.

Escampa, escampa,
Tenho o burrinho debaixo da manta.
Não sei o que lhe hei-de dar,
Dou-lhe caganitas com sal. 383

RFE 3a
Informante: Rosa Lopes Patinha Berjano, 78 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de Telheiro,
residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 21 de Setembro de 2011. Outras Informações: A

380 A informante finaliza, dizendo: Pronto. Parece que era só assim.


381 Eu tenho um cãozinho
Chamado Totó;
Desanda-lhe o rabo,
Quebra-se-lhe o nó. (cf. Nogueira [2002], pág. 268; Leite de Vasconcelos [1975], pág. 100).
382 A informante explica que as crianças diziam esta fórmula encantatória quando perdiam alguma coisa.
383 A informante explicou que era costume as crianças dizerem isto quando chovia muito, era para fazer

parar de chover, isto é, “escampar”.

160
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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informante possui um curso de Guarda-Livros (Contabilidade) e de Dactilografia. Foi funcionária (chefe)


da Caixa de Previdência de Évora – serviço local de Reguengos de Monsaraz (Casa do Povo de Reguengos
de Monsaraz), durante 24 anos.

S. Romão, S. Romão,
Toma lá o meu dente podre,
Dá-me outro são.

RFE 3b
Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 65 anos, reformada, 4.º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Alcochete (em casa), a 16 de
Junho de 2009.
S. Romão, S. Romão,
Toma lá o meu dente podre.
Dá cá um são.

RFE 3c
Informante: Rosa Maria Morais Ramalho Cardoso, 73 anos, trabalhadora rural e doméstica, analfabeta,
natural de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 20 de Outubro de 2011.

S. Romão, S. Romão,
Toma lá o meu dente podre,
Dá-me cá um são.

RFE 3d
Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 80 anos, reformada, 2.º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 5 de
julho de 2009.
S. Romão, S. Romão,
Tomá lá o meu dente podre
Manda para cá o teu são.384

RFE 3e
Informante: Mariana dos Santos Mendes, 76 anos, reformada (trabalhadora rural), natural de Santo
António do Baldio, 3º ano de escolaridade, residente em Santo António do Baldio. Recolha realizada em
Santo António do Baldio, a 10 de Outubro de 2011.

S. Romão, S. Romão,
Toma lá o meu dente
E dá-me cá o teu são.

RFE 3f
Informante: Maria Vitória de Sousa Serrano, 72 anos, reformada (doméstica), natural de Moura (cresceu
em S. Marcos do Campo, aldeia dos seus pais), analfabeta, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha
realizada em Reguengos de Monsaraz, a 23 de Setembro de 2011.

S. Romão, S. Romão,
Toma lá o meu dentinho podre

384 Ainformante refere o contexto de enunciação: Aventava-o para cima do telhado e embrulhava-o num
miolinho de pão e dizia [os versos].

161
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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E dá o teu são.385

RFE 3g
Informante: Joaquina Códices Gomes Reis, 70 anos, reformada, 4.º ano de escolaridade, natural de
Capelins-Alandroal, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz,
a 16 de Setembro de 2010.

S. Romão,
Toma lá o meu dente podre
E dá cá o são.

RFE 3h
Informante: Josefa Rodrigues Godinho, 88 anos, reformada, 3.º ano de escolaridade, natural da Luz
(Mourão), residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 17 de
outubro de 2009.

S. Romão, S. Romão,
Toma lá um dente podre.
Deita cá um são.

RFE 3i386
Informante: Joana dos Reis Gato, 80 anos, reformada (em solteira, trabalhou no campo, doméstica), 4º
ano de escolaridade, natural de Outeiro, residente em Outeiro. Recolha realizada em Outeiro, a 12 de
Setembro de 2011.

Moura, Mourão,
Toma lá o meu dente podre,
Dá-me cá um são.

RFE 3j
Informante: Rosa Marques Cardoso, 76 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de Motrinos,
residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrinos, a 29 de Agosto de 2011. Outras Informações:
trabalhadora rural, lavadeira.

Moura, Mourão,
Toma lá o meu dente podre,
Dá cá ver o teu são
Que me sirva de proveito.387

385 A informante compara o gesto do passado de atirar o dente para cima do telhado com o que algumas
pessoas fazem, o de colocar nos primeiros dentinhos de leite um pé de ouro para os puderem usar como
uma espécie de enfeite nos brincos, fios, pulseiras, como se de uma medalha/amuleto se tratasse.
386 Segundo Fernando de Castro Pires de Lima, no Alentejo, circulava uma composição praticamente

idêntica à que recolhemos:


Moira, moirão
Toma lá o meu dente podre
E dá-me um são. (Fernando de Castro Pires de Lima [1964], “A Prática Mágica do Arremesso do
Dente”, in Revista de Etnografia, Junta Distrital do Porto, vol. III, Tomo I, Julho de 1964, pág. 7).
387
Este verso é uma variante única no nosso corpus. Vem sinalizar o objectivo da fórmula proferida, obter
um dente saudável na segunda dentição.

162
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Lengalengas
RL1388
Informante: Mariana Rosa Carvalho Ramos, 71 anos, 1º ano de escolaridade, reformada (cabeleireira),
natural de Santo António do Baldio, residente em S. Pedro do Corval. Recolha realizada em S. Pedro do
Corval, a 3 de Novembro de 2011.

Josezinho tem um burrinho389

Josezinho tem um burrinho


E o burrinho é fraco,
A cavalo num macaco;
O macaco é valente,
5 A cavalo numa trempe;
A trempe é de ferro,
A cavalo num martelo;
O martelo bate sola,
A cavalo numa bola;
10 A bola é redonda,
A cavalo numa pomba;
A pomba é minha,
A cavalo numa pinha;
A pinha deita pinhões,
15 Lá vêm os ladrões,
Comendo pão com melões.

RL2390
Informante: Deolinda Valadas Infante Cardoso, 61 anos, 6º ano de escolaridade, doméstica, natural de
Outeiro, residente em Outeiro. Recolha realizada em Outeiro, a 21 de Novembro de 2011.

Galo francês
Pica na rês;
A rês é d’ouro,
Pica no touro;
15 O touro é bravo,
Dá-lhe um beijinho
Debaixo do rabo.

Trava-línguas

RTl 1
Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 69 anos, reformado, 4.º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 11 de
Junho de 2009.

Pedro Paulo Pinto Pereira,


Pobre pintor português,

388 Cf. Custódio, Galhoz [2011], pp.35-37; Maria José Costa [1992], Um Continente Poético Esquecido.
Rimas Infantis, Porto, Porto Editora, 1992, pág.127.
389 Aprendeu com o avô.
390 Cf. Leite de Vasconcelos [1975], pp. 65-67.

163
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Pinta portas, pedras, paredes (…). 391

RTl 2
Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 70 anos, reformado, 4.º ano de escolaridade, natural
de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 13
de Setembro de 2010.

Uma porta bem intrinquilhada,


Quem seria que a intrinquilhou?
(…)
Foi um carapinteiro
Que por aqui passou.

391
O informante comenta ao início: Havia uma lengalenga com as palavras em p, vinte e tal palavras
começadas por ‘p’. No final, diz que a composição era mais extensa, mas não se lembra do resto.

164
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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2.2. Cantigas de todos os dias

2.2.1. Cantigas Amorosas

RCA 1a392
Informante: Florinda Maria Fernandes, 70 anos, reformada, analfabeta (sabe ler e escrever), natural de
Monsaraz, residente em Monsaraz. Recolha realizada em Monsaraz, a 13 de Setembro de 2011.

A candeia por estar alta


Não deixa de alumiar.
Meu amor, que está lá longe
Não me deixas de lembrar.

Recitou versão idêntica: Mariana Rosa Carvalho Ramos, 71 anos, reformada (cabeleireira), 1º ano de
escolaridade, natural de Santo António do Baldio, residente em S. Pedro do Corval. Recolha realizada em
S. Pedro do Corval, a 3 de Novembro de 2011.393

RCA 1b 394
Informante: José Jaleca Dourado, 74 anos, barbeiro, 4º ano de escolaridade, natural de S. Pedro do
Corval, residente em S. Pedro do Corval. Recolha realizada em S. Pedro do Corval, a 3 de Novembro de
2011.

Candeia por estar alta,


Não deixes de alumiar.
Meu amor, por estar lá longe,
Não me deixas de lembrar.

RCA 2
Informante: Francisca Piteira da Silva Neves, 62 anos, trabalhadora rural / doméstica, analfabeta, natural
de Motrinos, residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrinos, a 29 de Agosto de 2011.

A azeitona miudinha
Já se pode armar aos tordos.
- Diz-me lá, ó cara linda,

392 A quadra foi cantada quando o marido estava em Setúbal (na altura, namorado) e havia um rapaz que
estava interessado nela. E a informante Florinda, para o afastar, cantou-a. A informante afirmou: E então o
outro sacudiu-se. Foi-se logo embora. […] Antes os namoros eram só com cantigas.
393 A informante escreveu a quadra numa carta ao marido, quando namoravam.
394 A mulher do informante dedicou-lhe a quadra, por estarem longe um do outro, numa carta.

José Leite de Vasconcelos recolheu uma versão em Vila do Rei:


A candeia, por estar alta,
Não deixa de alumiar;
Meu amor, por estar longe,
Não deixa de me lembrar. (Leite de Vasconcelos [1975], pág. 400).
Também Manuel Joaquim Delgado recolheu uma versão:
A candeia por estar alta,
Nã´dêxa d´’alemiar;
Meu amor, por ´star lá lõis,
Nã’ dêxa de m’alembrar. (Manuel Joaquim Delgado [1955], Subsídio para o Cancioneiro Popular
do Baixo Alentejo, vol. I, Lisboa, Edição de Álvaro Pinto (“Revista de Portugal”), 1955, pág. 149)

165
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Como andas de amores novos?

RCA 3a395
Informante: Deolinda Caeiro Lopes, 75 anos, pasteleira, analfabeta (sabe ler e escrever), natural do
Outeiro, residente em Outeiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011.

A azeitona miudinha
Que também vai para o lagar,
Também eu sou pequenina,
Mas sou forte no amar.

RCA 3b
Informante: Iria Morais, 89 anos, reformada, analfabeta, natural de Reguengos de Monsaraz, residente
em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 8 de Fevereiro de 2012.

Azeitona miudinha
Também vai ao lagar.
Também eu sou miudinha,
Mas sou firme no amar.

RCA 4 396
Informante: António da Silva Fialho (Taranta), 81 anos, reformado (trabalhador rural), 1º ano de
escolaridade, natural da Caridade, residente na Caridade. Recolha realizada em Caridade, a 5 de
Novembro de 2011.

Adeus, amor, passa bem,


Já não ouves minha fala.
Vou-te a fazer uma ausência
Como o fumo quando abala.

RCA 5
Informante: Catarina Freira Capucho, 68 anos, reformada (funcionária da Câmara Municipal de
Reguengos de Monsaraz – foi contínua na escola da aldeia), analfabeta (sabe assinar, sabe ler pouco),
natural de Campinho, residente em Campinho. Recolha realizada em Campinho, a 9 de Abril de 2011.

Adeus que me vou embora


E adeus que me quero ir.
Dá-me os teus braços, amor,
Que eu me quero despedir.

395
José Leite de Vasconcelos recolheu uma versão em Durrães (c. de Barcelos):
A oliveira pequenina
Dá azeitona p´rò lagar;
Menina também sou pequenina,
Mas sou firme no amar. (Leite de Vasconcelos [1975], pág. 458).
A seguinte versão foi recolhida por Manuel Joaquim Delgado:
Azeitona pequenina
Também vai ò alagar;
Também eu sou pequenina,
Mas sou firme no amar. (Beja; Quintos; Vila Nova da Baronia; Salvada; Mina de S. Domingos;
Vila verde de Ficalho) (Delgado [1955], pág. 84)
396 O informante cantou a composição.

166
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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RCA 6
Informante: Maria Vitória de Sousa Serrano, 72 anos, reformada (doméstica), analfabeta, natural de
Moura, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 23 de
Setembro de 2011.

Adivinhar pensamentos
É que ninguém adivinha.
Se eu adivinhasse o teu
Que dita não era a minha.

RCA 7
Informante: Manuel Fernando, 78 anos, reformado, analfabeto, natural do Outeiro, residente em Outeiro.
Recolha realizada em Outeiro, a 22 de Setembro de 2011.

A flor do carapeto
É bonita e cheira bem.
Foste meu amor primeiro,
Não te deixo por ninguém.

RCA 8a
Informante: Rosa Marques Cardoso, 76 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de Motrinos,
residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrinos, a 29 de Agosto de 2011. Outras Informações:
trabalhadora rural, lavadeira.

A flor da oliveira,
Quando cai no lume, estrala.
Assim faz o meu coração
Quando ouve a tua fala.

RCA 8b 397
Informante: Manuel Fernando, 78 anos, reformado, analfabeto, natural do Outeiro, residente em Outeiro.
Recolha realizada em Outeiro, a 22 de Setembro de 2011.

A folha da oliveira,
Quando cai no lume, estala.
Assim faz o meu coração

397
Foi recolhida uma versão em Amarante:
A folha da oliveira,
Quando chega ao lume, estala:
Assim é meu coração
Quando contigo não fala. (Leite de Vasconcelos [1975], pág. 401).
Manuel Joaquim Delgado recolheu as seguintes versões:
A folha da ôlevêra
Dêtada no lume, ´strala;
Assim é mê’coração,
Condo contigo não fala. (Vale de Santiago; Pêro Guarda; Fornalhas e Vale de Santiago-
Odemira)

A folha da oliveira,
Quando cai no lume, estrala;
Assim é o meu amor,
Quando contigo não fala. (Barrancos) (Delgado [1955], pág. 71)
Outras versões foram registadas por Manuel Joaquim Delgado, em que a principal variante surge no
primeiro verso, A rama da oliveira (cf. Delgado [1955], pág. 78).

167
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Quando ouve a tua fala.

RCA 9
Informante: Mariana Rosa Carvalho Ramos, 71 anos, reformada (cabeleireira), 1º ano de escolaridade,
natural de Santo António do Baldio, residente em S. Pedro do Corval. Recolha realizada em S. Pedro do
Corval, a 3 de Novembro de 2011.

A folha do eucalitro
Tão alta que foi nascer.
Esse teu modo bonito
É que me fez convencer.

RCA 10a398
Informante: Gertrudes Lameira Rita, 82 anos, reformada (trabalhadora rural), analfabeta, natural de
Carrapatelo, residente em Carrapatelo. Recolha realizada em Carrapatelo, a 9 de Outubro de 2011.

A laranja, quando nasce,


Nasce logo redondinha.
Também tu quando nasceste
Nasceste para ser minha.

RCA 10b
Informante: Domingos Falardo Amieira, 71 anos, reformado, analfabeto, natural de S. Pedro do Corval,
residente em S. Pedro do Corval. Recolha realizada em S. Pedro do Corval, a 23 de Outubro de 2011.

E a laranja quando narce


Nasce logo redondinha.
Também tu quando narceste
Narceste para ser minha.

RCA 11
Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 69 anos, reformado, 4.º ano de escolaridade, natural
de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 11
de Junho de 2009.

Algum dia em te não vendo,


Já me encontravam chorando.

398
José Leite de Vasconcelos recolheu uma versão:
A laranja, quando ansce,
Logo nasce redondinha;
Também tu, minha menina,
Nasceste para ser minha. (Baião; Cabaços, c. de Moimenta da Beira; Marco de Canaveses;
Mosteiró, c. de Baião; Rebordainhos, c. de Bragança) (Leite de Vasconcelos [1975], pág. 350).
Recolheu também a seguinte versão em Avis:
A azeitona, quando nasce,
Nasce logo redondinha;
Também tu, quando nasceste,
Foi logo para ser minha. (Leite de Vasconcelos [1975], pág. 305).
Em Barrancos foi recolhida a seguinte versão por Manuel Joaquim Delgado:
A laranja, quando nasce,
Nasce logo redondinha;
Tu também, quando nasceste,
Nasceste para ser minha. (Delgado [1955], pág. 72).

168
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Agora estou mal contigo,


Chora tu que eu estou rentando399.

RCA 12400
Informante: Maria Inácia Parreira Borrego, 83 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 7 de
Março de 2011.

Algum dia era eu


Do teu prato a melhor sopa.
Agora sou um veneno
Que entro nessa tua boca.

RCA 13
Informante: Rosa Marques Cardoso, 76 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de Motrinos,
residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrinos, a 29 de Agosto de 2011. Outras Informações:
trabalhadora rural, lavadeira.

A menina Maria Antónia


Quando põe o seu chapéu,
Lá no meio da sua sala,
Parece um anjo do céu.

RCA 14
Informante: Deolinda Caeiro Lopes, 75 anos, pasteleira, analfabeta (sabe ler e escrever), natural do
Outeiro, residente em Outeiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011.

A minha interesseira julga


Que me rouba o meu rapaz.
Namora, amiga, namora,
Que um favor quem quer o faz.

RCA 15
Informante: Florinda Maria Fernandes, 70 anos, reformada, analfabeta (sabe ler e escrever), natural de
Monsaraz, residente em Monsaraz. Recolha realizada em Monsaraz, a 13 de Setembro de 2011.

A minha intressora julga,


Por usar saia cinzenta,
Que me rouba o meu amor.
Se quiseres saber, experimenta.

399
Rentando significa não querer saber, não se importar.
400
Uma versão muito próxima foi recolhida em Alandroal:
Algum dia era eu
No teu prato a melhor sopa;
Agora sou eu veneno
Que entra nessa tua boca. (Leite de Vasconcelos [1975], pág. 470).
Manuel Joaquim Delgado recolheu uma versão:
Algum dia era eu
Do teu prato a melhor sopa.
Agora, som um veneno,
Que entro na tua boca. (Mina de S. Domingos e Aldeia do Futuro) (Delgado [1955], pág. 267)

169
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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RCA 16401
Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 83 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz a 22 de Outubro de
2011.

Amor com amor se paga,


Pra que não pagas, amor?
Olha que Deus não perdoa
A quem é mau pagador.

RCA 17
Informante: Joaquina Códices Gomes Reis, 70 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de
Capelins - Alandroal, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de
Monsaraz, a 16 de Setembro de 2010.

Amor cá e amor lá,


Não sabem dizer mai nada.
Parece que têm já
Essa palavra entranhada.

RCA 18
Informante: Florinda Maria Fernandes, 70 anos, reformada, analfabeta (sabe ler e escrever), natural de
Monsaraz, residente em Monsaraz. Recolha realizada em Monsaraz, a 13 de Setembro de 2011.

Amor vai e amor vem,


À volta vem por aqui.
Eu baixarei os meus olhos
Chorei em que os teu não vi.

RCA 19402
Informante: Gertrudes Lameira Rita, 82 anos, reformada (trabalhadora rural), analfabeta, natural de
Carrapatelo, residente em Carrapatelo. Recolha realizada em Carrapatelo, a 9 de Outubro de 2011.

Anda cá, meu goivo roxo,


Colhido da goivaria.
Quem quer bem trata por tu,
Amor, não tens senhoria.

RCA 20a
Informante: Gertrudes Lameira Rita, 82 anos, reformada (trabalhadora rural), analfabeta, natural de
Carrapatelo, residente em Carrapatelo. Recolha realizada em Carrapatelo, a 9 de Outubro de 2011.

401
Foi recolhida uma versão idêntica em Faro (cf. Leite de Vasconcelos [1975], pág. 305).
Manuel Joaquim Delgado recolheu a seguinte versão:
«Amor com amor se paga»,
Por que não pagas, amor?
Olha que Deus não perdoa
A quem é mau pagador. (Beja, Aldeia do Futuro, Panóias e Pêro Guarda) (Delgado [1955], pág.
162)
402 Foi recolhida uma versão em Envendos (c. de Mação):

Anda cá, meu goivo roxo,


Criado na goivaria:
Quem quer bem por tu se trata:
Amor não tem senhoria. (Leite de Vasconcelos [1975], pág. 306).

170
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Anda cá, meu lírio roxo,


Colhido na Primavera,
Queres saber o meu sentido,
Tas a tempo, considera.

RCA 20b
Informante: Gertrudes Lameira Rita, 82 anos, reformada (trabalhadora rural), analfabeta, natural de
Carrapatelo, residente em Carrapatelo. Recolha realizada em Carrapatelo, a 9 de Outubro de 2011.

Ó laranja de Janeiro,
Ó limão da Primavera,
Queres saber o meu sentido,
Estás a tempo, considera.

RCA 21
Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 69 anos, reformado, 4.º ano de escolaridade, natural
de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 4
de Julho de 2009.

Andas morta por saber


Onde eu passo os meus serões,
Na casa da vendedeira,
Encostado aos balcões.

RCA 22403
Informante: José Godinho, 78 anos, reformado, analfabeto, natural da Caridade, residente em S. Pedro do
Corval. Recolha realizada em S. Pedro do Corval, a 22 de Outubro de 2011.

Andas pra baixo e pra cima


Como o ouro na balança.
Enquanto tu não fores minha,
Minha alma não descansa.

RCA 23404
Informante: Domingos Falardo Amieira, 71 anos, reformado, analfabeto, natural de S. Pedro do Corval,
residente em S. Pedro do Corval. Recolha realizada em S. Pedro do Corval, a 23 de Outubro de 2011.

Ao fichar desta carta


Fichou-se o mê coração.
Tenho-te tantas saudades
Como letras que aí vão.

403
A seguinte versão foi recolhida por Manuel Joaquin Delgado:
Andas p´ra baixo e p´ra cima
Como o oiro na balança.
Enquanto não fores minha,
Meu coração não descansa. (Delgado [1955], pág. 270).
404 O informante cantou a composição.

Manuel Joaquim Delgado recolheu uma versão em Mina da Juliana (Aljustrel):


Ao fechar da minha carta,
Çarrou-se o mê’ coração.
As saudades são tantas
Como letras que aí vão. (Delgado [1955], pág. 271)

171
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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RCA 24
Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 65 anos, reformada, 4.º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 11 de
Junho de 2009.

A oliveira no alto
Tem as folhas aos anéis.
Quem namora com gaiatos
Toda a vida faz papéis.
Recitou versão idêntica: Maria do Carmo Valadas Amieira, 65 anos, reformada, 4.º ano de escolaridade,
natural de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada ao telefone, em Reguengos
de Monsaraz, a 1 de Outubro de 2009.

RCA 25
Informante: Florinda Maria Fernandes, 70 anos, reformada, analfabeta (sabe ler e escrever), natural de
Monsaraz, residente em Monsaraz. Recolha realizada em Monsaraz, a 13 de Setembro de 2011.

Aqui pró meu lado direito


É um gosto a gente olhar.
É o cravo mais bonito
Que se põe neste lugar.

RCA 26
Informante: Rosa Marques Cardoso, 76 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de Motrinos,
residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrinos, a 29 de Agosto de 2011. Outras Informações:
trabalhadora rural, lavadeira.

As estrelas no céu dizem,


Elas dizem, dizem bem.
Elas dizem que eu não tenho
Amizade a mais ninguém.

RCA 27
Informante: Catarina Freira Capucho, 68 anos, reformada (funcionária da Câmara Municipal de
Reguengos de Monsaraz – foi contínua na escola da aldeia), analfabeta (sabe assinar, sabe ler pouco e
escrever), natural de Campinho, residente em Campinho. Recolha realizada em Campinho, a 9 de Abril de
2011.

As janelas do meu quarto


Elas são bem inferiores.
Pra que falas tu comigo
Se tu não me tens amor.

RCA 28
Informante: Manuel Fernando, 78 anos, reformado, analfabeto, natural do Outeiro, residente em Outeiro.
Recolha realizada em Outeiro, a 22 de Setembro de 2011.

As rosas do cemitério
São bonitas, cheiram bem.
Foste meu amor primeiro,
Não te deixo por ninguém.

172
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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RCA 29405
Informante: Rosa Marques Cardoso, 76 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de Motrinos,
residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrinos, a 29 de Agosto de 2011. Outras Informações:
trabalhadora rural, lavadeira.

A tua boca é uma rosa,


Os dentes são as folhinhas,
As tuas faces mimosas
São duas lembranças minhas.

RCA 30
Informante: Raimundo Luís Godinho Caeiro, 68 anos, agricultor, 9º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 4 de
Junho de 2011.
Baldoregas406 são sadiças,
Eu por mim não gosto delas.
Em vendo as moças bonitas
Não me sustenho nas canelas.

RCA 31
Informante: Maria Margarida Couto Lopes, 72 anos, reformada (trabalhadora rural), 4º ano de
escolaridade, natural de Reguengos de Monsaraz, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha
realizada em Reguengos de Monsaraz, a 6 de Novembro de 2011.

Chamaste ao meu bigode


Poleiro dos passarinhos.
E eu chamei à tua boca
Caixinha dos teus beijinhos.

RCA 32407

405 Uma versão idêntica foi recolhida em Avis (cf. Leite de Vasconcelos [1975], pág. 619).
Também Manuel Joaquim Delgado recolheu uma versão:
A tua boca é ‘ma rosa,
Teus dentes são ‘nas’ folhinhas,
As tuas faces mimosas
São duas lembranças minhas. (Beja; Mina da Juliana; Aljustrel Colos; Castro Verde; Cuba e
Alvalade) (Delgado [1955], pág. 83)
406
O mesmo que beldroega, planta usada na gastronomia alentejana.
407
José Leite de Vasconcelos recolheu uma versão em Meixilhoeira Grande (c. de Portimão):
Chamaste-me pé de ginja,
Não serei tão delicada;
Não sou bonita nem feia,
Nem em ti mal empregada. (Leite de Vasconcelos [1975], pág. 565).
Também Manuel Joaquim Delgado recolheu duas versões:
Chamastes-me pé de ginja,
Ê’ nã’ som tã’ delicada
Ê’ nã’ som bonita nem feia,
Mas em ti mal empregada. (Ervidel e Fornalhas – Vale de Santiago- Odemira)

Chamastes-me pé de ginja,
Eu não sou tão delicada,
Não sou bonita nem feia,
Mas em ti mal empregada. (Beja, Quintos Colos e Amareleja)

Chamaste-me pé de ginja,

173
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
_____________________________________________________________________________________

Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural
de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011.Outras
Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel.

Chamaste-me pé de ginja,
Eu não sou tão delicado.
Não sou bonito nem feio,
Sou em ti mal empregado.

RCA 33a
Informante: Deolinda Caeiro Lopes, 75 anos, pasteleira, analfabeta (sabe ler e escrever), natural do
Outeiro, residente em Outeiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011.

Chapéu preto redondinho,


Que o meu amor traz na cabeça.
Não há neste mundo
Que o meu amor não mereça.

RCA 33b
Informante: Rosa Marques Cardoso, 76 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de Motrinos,
residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrinos, a 29 de Agosto de 2011. Outras Informações:
trabalhadora rural, lavadeira.

Chapéu preto, redondinho,


Traz o meu bem na cabeça.
Não há nada neste mundo
Que o meu amor não mereça.

RCA 34408
Informante: Rosa Marques Cardoso, 76 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de Motrinos,
residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrinos, a 29 de Agosto de 2011. Outras Informações:
trabalhadora rural, lavadeira.

Com pena, peguei na pena,


Com pena, pus-me a escrever.
Com pena, deixei a pena,
Com pena de te não ver.

RCA 35409

Eu não sou tão delicada,


Não sou bonita nem feia,
Sou em ti mal empregada. (Beja, Quintos, Vila Nova da Baronia e Barrancos) (Delgado [1955],
pp. 85-86)
408 Manuel Joaquim Delgado recolheu uma versão:

Com pena ‘peguí’ na pena,


Com pena pus-me a escrever;
Caiu-me a pena da mão
Com pena de te não ver. (Mina da Juliana, Aljustrel e Beja) (Delgado [1955], pág. 478).
409 Foi recolhida a seguinte versão por Manuel Joaquim Delgado:

Coração por coração,


Amor, não deixes o meu,
Qu’este meu sempre tem sido
Leal para esse teu. (Delgado [1955], pág. 277).

174
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Informante: Rosa Maria Morais Ramalho Cardoso, 73 anos, analfabeta, trabalhadora rural e doméstica,
natural de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 25 de Setembro de 2011.

Coração por coração


Não deixes de amar o meu.
Podes encontrar um falso
E o meu é leal ao teu.

RCA 36410
Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 70 anos, reformado, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 9 de
Abril de 2011.

Da minha janela à tua


É um salto de uma cobra.
Quem me dera já chamar
À tua mãe minha sogra.

Recitou composição idêntica: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 70 anos, reformado, 4.º ano de
escolaridade, natural do Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em
Reguengos de Monsaraz, a 13 de Setembro de 2010.

RCA 37a
Informante: Deolinda Caeiro Lopes, 75 anos, pasteleira, analfabeta (sabe ler e escrever), natural do
Outeiro, residente em Outeiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011.

Deitei o limão correndo,


À tua porta parou.
Se o limão fez paragem,
Fará quem o deitou!

RCA 37b411
Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 83 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 10 de Setembro
de 2011.

Deitei um limão correndo,


À tua porta parou.
Quando o limão faz parada,

410
Foi recolhida a seguinte versão por José Leite de Vasconcelos:
Da minha janela à tua
É o salto duma cobra.
Inda espero de chamar
À tua mãe minha sogra. (Leite de Vasconcelos [1975], pág. 376).
Manuel Joaquim Delgado recolheu a seguinte versão:
Da minha janela à tua
É o salto duma cobra.
Quem me dera já chamar
À tua mãe minha sogra! (Beja, Montes Velhos, Aljustrel) (Delgado [1955], pág. 479).
411 José Leite de Vasconcelos recolheu a seguinte versão no Alentejo:

Atirei co’o limão verde,


À tua porta parou:
Quando o limão te quer bem,
Que fará quem o deitou! (Leite de Vasconcelos [1975], pág. 380).

175
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Fará quem o deitou!

RCA 38
Informante: Deolinda Caeiro Lopes, 75 anos, pasteleira, analfabeta (sabe ler e escrever), natural de
Outeiro, residente em Outeiro. Recolha realizada em Outeiro, a 23 de Setembro de 2011.

Deolinda encantadora,
Encantaste-me em sentido.
Valha-me Nossa Senhora,
Pra eu casar contigo.

RCA 39
Informante: Deolinda Caeiro Lopes, 75 anos, pasteleira, analfabeta (sabe ler e escrever), natural do
Outeiro, residente em Outeiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011.

Desfolhando o malmequer,
Me lembrei de ti um dia,
Se me querias bem ou mal,
Mesmo a flor me dizia.

RCA 40
Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 69 anos, reformado, 4.º ano de escolaridade, natural
de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 12
de Junho de 2009.

Dizem que a folha do trigo


É maior que a da cevada.
Também a minha amizade
Ao pé da tua é dobrada.

RCA 41412
Informante: João Veva Rocha, 71 anos, reformado (antigo sargento-chefe GNR), 9.º ano de escolaridade,
natural de Capelins - Alandroal, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Alcochete,
a 16 de Setembro de 2010.

Diz lá a Antónia Belém,


Que lhe manda dizer o Loreto,
Que venha cá amanhã,
Que ele agora não está feito.

RCA 42
Informante: Rosa Marques Cardoso, 76 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de Motrinos,
residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrinos, a 29 de Agosto de 2011. Outras Informações:
trabalhadora rural, lavadeira.

É de noite, o sol é posto,


O meu amor já cá não vem.
Ou a conversa é de gosto
Ou alguém o entretém.

412 Oinformante explicou que, durante uma ceifa, a Antónia Belém queria namorar com o Loreto, mas ele
não estava interessado nela.

176
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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RCA 43
Informante: Rosa Marques Cardoso, 76 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de Motrinos,
residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrinos, a 29 de Agosto de 2011. Outras Informações:
trabalhadora rural, lavadeira.

És amor e desamor,
Não tens amor a ninguém.
Tu amas quem te quer mal
E desprezas quem te quer bem.

RCA 44
Informante: Francisca Antónia Godinho Pinto, 79 anos, reformada (trabalhadora rural), analfabeta,
natural de Caridade, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de
Monsaraz, a 6 de Novembro de 2011.

Escrevi-te com tinta verde,


Minha letra não degenera.
Bebi água sem ter sede,
Meu amor, à tua espera.

RCA 45
Informante: Rosa Marques Cardoso, 76 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de Motrinos,
residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrinos, a 29 de Agosto de 2011. Outras Informações:
trabalhadora rural, lavadeira.

Estada nova, correnteza


Encalitre compassado.
Em casa da minha sogra
É que eu tenho os meus cuidados.

RCA 46
Informante: Rosa Marques Cardoso, 76 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de Motrinos,
residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrinos, a 29 de Agosto de 2011. Outras Informações:
trabalhadora rural, lavadeira.

Está o céu enevoado,


Amanhã temos bom dia.
Está o meu amor zangado,
Ai Jesus, o que seria?

RCA 47
Informante: Maria do Rosário Neves Alfaiate (Ti Lia), 81 anos, reformada (trabalhadora rural),
analfabeta, natural de Santo António do Baldio, residente em Santo António do Baldio. Recolha realizada
em Santo António do Baldio, a 21 de Outubro de 2011.

Eu algum dia pensava


Que o amar era só rir.
Mas agora estou a pensar
Que o amar tira o dormir.

177
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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RCA 48
Informante: Joaquina Códices Gomes Reis, 70 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de
Capelins - Alandroal, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de
Monsaraz, a 16 de Setembro de 2010.

Eu estou desejando ligari


O meu coração ó teu,
Prá minha alma descansar,
Também descanso eu.

RCA 49413
Informante: Rosa Marques Cardoso, 76 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de Motrinos,
residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrinos, a 29 de Agosto de 2011. Outras Informações:
trabalhadora rural, lavadeira.

Eu fui ao jardim colher


Um raminho de alecrim,
Para dar ao meu amor
Que se chama Joaquim.

RCA 50
Informante: Rosa Marques Cardoso, 76 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de Motrinos,
residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrinos, a 29 de Agosto de 2011. Outras Informações:
trabalhadora rural, lavadeira.

Eu fui ao mato buscar


Um feixinho de lenha.
Estou à espera da resposta
Que da tua boca me venha.

RCA 51
Informante: Gertrudes Lameira Rita, 82 anos, reformada (trabalhadora rural), analfabeta, natural de
Carrapatelo, residente em Carrapatelo. Recolha realizada em Carrapatelo, a 9 de Outubro de 2011.

Eu fui à serra aos medronhos,


Achei a árvore mexida.
Meu amor, eu só por sonhos
É que sei da tua vida.

RCA 52414
Informante: Rosa Marques Cardoso, 76 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de Motrinos,
residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrinos, a 29 de Agosto de 2011. Outras Informações:
trabalhadora rural, lavadeira.

Eu gostava que tu ouvisses


A minha lamentação.
De noite, acordo bradando

413
A informante referiu que gostava muito de cantar esta cantiga (o seu marido chama-se Joaquim).
414 A informante contou que aprendeu a cantiga com uma rapariga que engravidou do namorado
(posteriormente, foi deixada pelo namorado) e que depois o filho morreu. A cantiga foi cantada na apanha
da azeitona.

178
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Pelo teu falso coração.

RCA 53415
Informante: Rosário Pinto Ramalho (Bisau), 77 anos, reformada (trabalhadora rural), 3º ano de
escolaridade, natural de Santo António do Baldio, residente em Santo António do Baldio. Recolha
realizada em Santo António do Baldio, a 3 de Novembro de 2011.

Eu hei-de amar uma pedra,


Deixar o teu coração.
Uma pedra sempre é firme,
Tu és falso sem razão.

RCA 54
Informante: Maria Vitória de Sousa Serrano, 72 anos, reformada (doméstica), analfabeta, natural de
Moura, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 23 de
Setembro de 2011.

Eu já vi (...)
Laranjas brancas em flor.
Mas não n’as pude alcançar
Pra trazer ao meu amor.

RCA 55a
Informante: Maria do Rosário Neves Alfaiate (Ti Lia), 81 anos, reformada (trabalhadora rural),
analfabeta, natural de Santo António do Baldio, residente em Santo António do Baldio. Recolha realizada
em Santo António do Baldio, a 21 de Outubro de 2011.

Eu já vi nascer da rocha
Um nascente d´água fresca.
Um amor que a gente gosta
Nunca mais na vida o deixa.

RCA 55b
Informante: Mariana dos Santos Mendes, 76 anos, reformada (trabalhadora rural), 3º ano de escolaridade,
natural de Santo António do Baldio, residente em Santo António do Baldio. Recolha realizada em Santo
António do Baldio, a 10 de Outubro de 2011.

Eu já vi nascer da rocha
Um nascente d’ água fresca.
Dum namoro que agente gosta
Nunca mais na vida o deixa.

RCA 55c
Informante: Rosa Maria Morais Ramalho Cardoso, 73 anos, analfabeta, Trabalhadora Rural e Doméstica,
natural de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 25 de Setembro de 2011.

Já vi nascer da rocha

415
Quase idêntica é a versão recolhida em Castro Verde:
Eu hei-de amar uma pedra,
Deixar o teu coração:
Uma pedra é sempre firme,
Tu és falso sem razão! (Leite de Vasconcelos [1975], pág. 473).

179
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Regatinho de água fresca.


Um amor que doutro gosta
Nunca mais na vida o deixa.

RCA 56
Informante: Joaquim José Rosado Leal (conhecido como Ferrador, alcunha de família), 74 anos,
reformado (trabalhador rural e funcionário da Câmara Municipal de Reguengos de Monsaraz), 3º ano de
escolaridade natural de Campo, residente em Campinho. Recolha realizada em Campinho, a 9 de Abril de
2011.

Eu julgava, amor,
Que já tinhas morrido.
Mas graças a Deus
Ainda aí estás vivo.

RCA 57a416
Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 83 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz a 11 de Outubro de
2011.

Eu não quero mais amar,


Que eu do amar tenho medo.
Eu não me quero arriscar
A pagar o que eu não devo.

RCA 57b
Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 69 anos, reformado, 4.º ano de escolaridade, natural
de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 12
de Junho de 2009.

Já não quero mais amar,


Que eu do amar tenho medo.
Eu não quero arriscar
A pagar aquilo que eu não devo.

RCA 58417

416
Foi publicada a seguinte versão:
Eu não quero mais amar,
Que do amar tenho medo;
Não me quero arriscar
A pagar o que não devo. (Leite de Vasconcelos [1975], pág. 372).
Manuel Joaquim Delagado recolheu duas versões:
Já não quero mais amar,
Que do amor tenho medo.
Não me quero comprometer
A pagar o que não devo. (Ervidel)

Já não quero mais amr,


Qu’eu do amar tenho medo.
Eu não quero arriscar
A pagar o que não devo. (Colos, Odemira) (Delgado [1955], pág. 201)
417 O informante cantou a composição.

180
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Informante: António Joaquim Lopes Rodrigues, 74 anos, reformado, analfabeto, natural de Monsaraz,
residente em Monsaraz. Recolha realizada em Monsaraz, a 29 de Agosto de 2011. Outras Informações:
Foi agricultor e trabalhou durante 20 anos na Portucel.

Eu ouvi, mil vezes ouvi,


Lá nos campos, rufar o tambori.
Da janela me bradam nas damas:
- Já lá vem, já lá vem, meu amor.

RCA 59
Informante: Rosa Maria Morais Ramalho Cardoso, 73 anos, trabalhadora rural e doméstica, analfabeta,
natural de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, 25 de Setembro de 2011.

Eu prendi o sol à lua


E as campainhas ao sino.
Eu prendi minha alma à tua
Com corrente de ouro fino.

RCA 60
Informante: Maria Margarida Couto Lopes, 72 anos, reformada (trabalhadora rural), 4º ano de
escolaridade, natural de Reguengos de Monsaraz, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha
realizada em Reguengos de Monsaraz, a 6 de Novembro de 2011.

Fita azul da cor do astro


E a branca da cor da lua,
Dizes que não tenho esperança
Eu algumas tenho tuas.

RCA 61
Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 83 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 24 de Setembro
de 2011.

Formiguinha ligeirinha,
Que andas sempre a caminhar,
Quem me dera ser pombinha
Que ao meu papo vinhas parar.

RCA 62
Informante: Rosa Marques Cardoso, 76 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de Motrinos,
residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrinos, a 29 de Agosto de 2011. Outras Informações:
trabalhadora rural, lavadeira.

Foste dizer mal de mim


Ao meu amor, por desprezo.
Deitastes água no lume.
Inda ficou mais aceso.

RCA 63
Informante: Sabina Costa Bentinho, 75 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de Santo António
do Baldio, residente em Santo António do Baldio. Recolha realizada em Santo António do Baldio, a 10 de
Outubro de 2011.

181
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Fui acima a um chaparro


A colher trinta fueiros.
Cala-te daí, gaiato,
Ainda cheiras a cueiros.

RCA 64
Informante: Mariana Rosa Carvalho Ramos, 71 anos, reformada (cabeleireira), 1º ano de escolaridade,
natural de Santo António do Baldio, residente em S. Pedro do Corval. Recolha realizada em S. Pedro do
Corval, a 3 de Novembro de 2011.

Fui ao céu por uma linha,


Desci à fita lilás.
Ê já fui ao céu por ti,
Tu por mim não és capaz.

RCA 65
Informante: Florinda Maria Fernandes, 70 anos, reformada, analfabeta (sabe ler e escrever), natural de
Monsaraz, residente em Monsaraz. Recolha realizada em Monsaraz, a 13 de Setembro de 2011.

Fui soldado de Guevala,


Sirvo um rei com muito gosto,
Faço guardas ao teu peito
Sentinelas ao teu rosto.

RCA 66a
Informante: Maria Inácia Parreira Borrego, 83 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 7 de
Março de 2011.

Fui-te ver, estavas lavando


No rio sem sabão.
Lava-te em águas de rosa
Que te fica o cheiro na mão.

RCA 66b
Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 70 anos, reformado, natural de Campinho, 4º ano de
escolaridade, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 7
de Março de 2011.

Fui-te ver, estavas lavando


No rio sem asabão
Era com águas de rosa
Fica-te o cheiro nas mãos.

RCA 67
Informante: Deolinda Caeiro Lopes, 75 anos, pasteleira, analfabeta (sabe ler e escrever), natural do
Outeiro, residente em Outeiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011.

Há muito que não vinha,


Já o caminho tem erva.
A amizade que eu te tinha,
Ainda hoje se conserva.

182
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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RCA 68
Informante: Domingos Falardo Amieira, 71 anos, reformado, analfabeto, natural de S. Pedro do Corval,
residente em S. Pedro do Corval. Recolha realizada em S. Pedro do Corval, a 23 de Outubro de 2011.

Já corri o mar à roda,


Nas asas de uma formiga.
Já perdi o norte à terra
E a amizade à rapariga.

RCA 69a
Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 83 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 11 de Outubro de
2011.

Já fui mar, já fui navio,


Da ribeira fui enchente.
Eu daqui não desvio
De ser o gosto da tua gente.

RCA 69b
Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 83 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 10 de Setembro
de 2011.

Já fui mar, já fui navio,


Da ribeira fui enchente,
Já fui, agora já não,
O gosto da tua gente.

RCA 70
Informante: Deolinda Caeiro Lopes, 75 anos, pasteleira, analfabeta (sabe ler e escrever), natural do
Outeiro, residente em Outeiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011.

Já fui ribeira abaixo,


Cortando as linhas à lua,
Tenho buscado e não acho
Cara linda como a tua.

RCA 71
Informante: Rosa Marques Cardoso, 76 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de Motrinos,
residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrinos, a 29 de Agosto de 2011. Outras Informações:
trabalhadora rural, lavadeira.

Já o sol lá vai baixo,


Deixá-lo ir que eu não choro.
Ainda cá fica na terra
O sol que eu mais adoro.

RCA 72418

418
Uma versão foi recolhida por José Leite de Vasconcelos:
José amo, José quero,
José trago no sentido;

183
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 65 anos, reformada, 4.º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 12 de
Junho de 2009.

José amo, José quero,


José trago no sentido.
Por causa de ti, José,
Trago o sono perdido.

RCA 73a419
Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 65 anos, reformada, 4.º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 21 de
Março de 2009.

Josezinho, cravo roxo,


Craveiro da minha varanda,
Caixinhas do meu segredo
Onde o meu sentido anda.

Recitou versão idêntica: Maria do Carmo Valadas Amieira, 65 anos, reformada, 4.º ano de escolaridade,
natural de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de
Monsaraz, a 11 de Junho de 2009; Josefa Rodrigues Godinho, 88 anos, reformada, 3.º ano de escolaridade,
natural da Luz, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 17
de Outubro de 2009.

RCA 73b
Informante: Rosa Marques Cardoso, 76 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de Motrinos,
residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrinos, a 29 de Agosto de 2011. Outras Informações:
trabalhadora rural, lavadeira.

Ó José, ó Josezinho,
Cravo da minha varanda,
Caixinha dos meus segredos,
Onde o meu sentido anda.

Por amor de ti, José,


Trago o meu sono perdido. (Leite de Vasconcelos [1975], pág. 596).
Manuel Joaquim Delgado recolheu duas versões:
José amo, José quero,
José trago em meu «sentido».
Por causa de ti, José,
Trago o meu sono perdido. (Colos, Odemira)

José amo, José quero,


José trago em emu «sentido»
Por causa de ti, José,
Trago os meus sonos perdidos. (Amareleja, Moura) (Delgado [1955], pág. 202)
419 Foi recolhida a seguinte versão em Monchique:

Antoninho cravo roxo,


Flores da minha varanda,
Caixinha dos meus segredos
‘Adond’o meu sentido anda. (Leite de Vasconcelos [1975], pág. 387).

184
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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RCA 74
Informante: Rosa Marques Cardoso, 76 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de Motrinos,
residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrinos, a 29 de Agosto de 2011. Outras Informações:
trabalhadora rural, lavadeira.

Jura, amor, que eu também juro,


Faz uma jura bem feita.
Jura que me hás-de dar,
Na igreja, a mão direita.

RCA 75
Informante: Mariana Rosa Carvalho Ramos, 71 anos, reformada (cabeleireira), 1º ano de escolaridade,
natural de Santo António do Baldio, residente em S. Pedro do Corval. Recolha realizada em S. Pedro do
Corval, a 3 de Novembro de 2011.

Limoeiro das cinco folhas,


Das quatro faz um quadrado.
Tu já para mim não ôlhas
Que eu te bem tenho reparado.

RCA 76
Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 65 anos, reformada, 4.º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 12 de
Junho de 2009.

Limoeiro detrás da porta


Todo o ano dá limões.
Olha, o meu amor, agora,
Quer amar dois corações.
Recitou versão idêntica: Josefa Rodrigues Godinho, 88 anos, reformada, 3.º ano de escolaridade, natural da
Luz, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 17 de Outubro
de 2009; Raimundo Luís Godinho Caeiro, 68 anos, agricultor, 9º ano de escolaridade, natural de Campinho,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 4 de Junho de
2011; Isménia Moleiro Ramalho, 83 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 10 de Setembro
de 2011.

RCA 77a
Informante: Deolinda Caeiro Lopes, 75 anos, pasteleira, analfabeta (sabe ler e escrever), natural do
Outeiro, residente em Outeiro. Recolha realizada em Telheiro (local de trabalho – Padaria e Pastelaria),
a 22 de Setembro de 2011.

Linda estrela da manhã,


Que se avista do festigo.
Ó amor, eu quero-te bem,
Mesmo sem falar contigo.

RCA 77b
Informante: Maria Vitória de Sousa Serrano, 72 anos, reformada (doméstica), analfabeta, natural de
Moura, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 23 de
Setembro de 2011.

Linda estrela da manhã,


Que se avista do festigo.
185
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Meu amor, eu quero-te,


Mesmo sem falar contigo.

RCA 78a
Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 67 anos, reformada, 4.º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Campinho, a 26 de Março de
2011.

Linda letra é um S
Com um C acompanhando
Com esta letra se escreve
O nome do rapaz que ando amando.

RCA 78b420
Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 65 anos, reformada, 4.º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 12 de
Junho de 2009.

Linda letra é um S
Com um C acompanhando.
Com estas letras se escreve
O nome do rapaz que vou amando.

RCA 79c
Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 65 anos, reformada, 4.º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 11 de
Junho de 2009.

Linda letra é um S,
Com um C acompanhando.
É o primeiro e último
Do rapaz que eu ando amando.

RCA 80a
Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 65 anos, reformada, 4.º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 4 de
Julho de 2009.

Lindo círculo leva a lua


E uma letra cor-de-rosa.
Se minha alma não for tua,
Outro dela se não goza.

Recitou versão idêntica: Maria do Carmo Valadas Amieira, 65 anos, reformada, 4.º ano de escolaridade,
natural de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada Reguengos de Monsaraz,
em Reguengos de Monsaraz, a 1 de Outubro de 2009; Raimundo Luís Godinho Caeiro, 68 anos, agricultor,
9º ano de escolaridade, natural de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em
Reguengos de Monsaraz, a 4 de Junho de 2011.

RCA 80b
Informante: Gertrudes Lameira Rita, 82 anos, reformada (trabalhadora rural), analfabeta, natural de
Carrapatelo, residente em Carrapatelo. Recolha realizada em Carrapatelo, a 9 de Outubro de 2011.

420
A informante explicou que cantava esta quadra a pensar no marido (na altura, seu namorado).

186
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Lindo círculo leva a lua,


Uma estrela cor-de-rosa.
Se a minha alma não for tua,
Outro dela se não goza.

RCA 81
Informante: Maria Inácia Parreira Borrego, 83 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 7 de
Março de 2011.

Manuele, és pedra terra,


Pedra com tanta valia
Quem me dera, Manuele,
Estar na tua companhia.

RCA 82
Informante: Manuel Ramalho Furão, 75 anos, reformado (trabalhador rural/tractorista), 4º ano de
escolaridade, natural de S. Marcos do Campo, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada
em Reguengos de Monsaraz, a 23 de Setembro de 2011.

Maria, se tu quisesses,
Éramos os dois felizes.
Uma planta não cresce,
Se lhe cortares as raízes.

RCA 83421
Informante: Maria Joaquina Rosado Tendeiro, 67 anos, reformada (trabalhadora rural), 3º ano de
escolaridade, natural de Campo, residente em Campinho. Recolha realizada em Campinho, a 26 de Março
de 2011.

Meu amor é António,


António da Conceição,
Quero-lhe mudar o nome
De António para João.

RCA 84
Informante: Deolinda Caeiro Lopes, 75 anos, pasteleira, analfabeta (sabe ler e escrever), natural do
Outeiro, residente em Outeiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011.

Meu coração traja luto,


Por dentro, às escondidas,
Considerar que o meu amor
Faz ausências tão compridas.

421
Foi recolhida a seguinte versão por Manuel Joaquim Delgado:
O meu amor é António,
António da Conceição.
Hei-de lhe mudar o nome
De António para João. (Vidigueira; Barrancos; Ervidel; Mina da Juliana, Aljustrel) (Delgado
[1955], pág. 222)

187
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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RCA 85
Informante: Joaquim José Rosado Leal (conhecido como Ferrador, alcunha de família), 74 anos,
reformado (trabalhador rural e funcionário da Câmara Municipal de Reguengos de Monsaraz), 3º ano de
escolaridade natural de Campinho, residente em Campinho. Recolha realizada em Campinho, a 9 de Abril
de 2011.

Meus olhos com chorar


Fizeram covas no chão.
Foi o que os teus não fizeram
Não fizeram nem farão.

RCA 86
Informante: Rosa Marques Cardoso, 76 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de Motrinos,
residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrinos, a 29 de Agosto de 2011. Outras Informações:
trabalhadora rural, lavadeira.

Minha fala não entoa,


É uma cana rachada.
Como é que ela há-de entoar,
Se ela de amor está roubada.

RCA 87
Informante: Manuel Ramalho Furão, 75 anos, reformada (trabalhador rural/tractorista), natural de S.
Marcos do Campo, 4º ano de escolaridade, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em
Reguengos de Monsaraz, a 23 de Setembro de 2011.

Não chores, amor,


Que eu amanhã venho.
Se tu tens paixões,
Eu também as tenho.

RCA 88422
Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 69 anos, reformado, 4.º ano de escolaridade, natural
de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 4
de julho de 2009.

Não me atires com pedrinhas,


Que eu estou lavando a loiça.
Atira-me com beijinhos
Em acção que ninguém oiça.

RCA 89
Informante: Joaquim José Rosado Leal (conhecido como Ferrador, alcunha de família), 74 anos,
reformado (trabalhador rural e funcionário da Câmara Municipal de Reguengos de Monsaraz), 3º ano de
escolaridade natural de Campinho, residente em Campinho. Recolha realizada em Campinho, a 9 de Abril
de 2011.

Não me dava morrere

422
Manuel Joaquim Delgado recolheu a seguinte versão:
Não me atires com pedrinhas,
Quando estou lavando a louça;
Atira-me com beijinhos
Em modos que ninguém ouça. (Delgado [1955], pág. 335).

188
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Depois de morto ter vida,


Pra ver quem te lograva,
Prenda d’alma tam querida.

RCA 90
Informante: Gertrudes Lameira Rita, 82 anos, reformada (trabalhadora rural), analfabeta, natural de
Carrapatelo, residente em Carrapatelo. Recolha realizada em Carrapatelo, a 9 de Outubro de 2011.

Não me enleva quem tem


Carros, parelhas e montes.
Só me enleva quem bebe
A água de todas as fontes.

RCA 91
Informante: Maria Inácia Parreira Borrego, 83 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 7 de
Março de 2011.

Não o negues que eu já fui


No tê peito amor escolhido.
Indas que agora o não seja
Tenho a dita de o ter sido.

RCA 92a
Informante: Manuel Fernando, 78 anos, reformado, analfabeto, natural do Outeiro, residente em Outeiro.
Recolha realizada em Outeiro, a 22 de Setembro de 2011.

Não olhes para mim, não olhes,


Que eu não sou o teu amor.
Eu não sou como a figueira
Que dá fruto sem flor.

RCA 92b
Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 69 anos, reformado, 4.º ano de escolaridade, natural
de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 4
de Julho de 2009.

Não olhes para mim, não olhes,


Que eu não sou o teu amor.
Eu não sou como a figueira,
Dá fruto sem flor.

RCA 93
Informante: Maria Inácia Parreira Borrego, 83 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 7 de
Março de 2011.

Não penses por me deixaris


Me causas um desgosto.
Os pratos da cantareira
Uns tirados, outros postos.

189
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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RCA 94
Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 71 anos, reformado, 4.º ano de escolaridade, natural
de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 6
de Fevereiro de 2012.

Não quero pazes contigo,


Nem hoje nem amanhã.
Eu não sou como as comadres,
Garreiam, logo estão bem.

RCA 95
Informante: Deolinda Caeiro Lopes, 75 anos, pasteleira, analfabeta (sabe ler e escrever), natural do
Outeiro, residente em Outeiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011.

Na via da água corrente,


Apareceu um rochedo.
Achei-te contente,
Descobri-te o meu segredo.

RCA 96
Informante: Rosa Maria Morais Ramalho Cardoso, 73 anos, analfabeta, trabalhadora rural e doméstica,
natural de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 25 de Setembro de 2011.

No tronco da verde faia,


O teu nome escrevi eu.
O nome era tão lindo
Que a faia reverdeceu.

RCA 97
Informante: Rosa Marques Cardoso, 76 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de Motrinos,
residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrinos, a 29 de Agosto de 2011. Outras Informações:
trabalhadora rural, lavadeira.

No tronco da verde faia,


O teu nome fui gravar.
Até a faia chorou
Só de me ouvir suspirar.

RCA 98
Informante: Manuel Fernando, 78 anos, reformado, analfabeto, natural do Outeiro, residente em Outeiro.
Recolha realizada em Outeiro, a 22 de Setembro de 2011.

Ó água, que vás correndo,


Por baixo da sacristia.
Ó terra, que vais comendo
O meu amor de algum dia.

RCA 99423
Informante: Gertrudes Lameira Rita, 82 anos, reformada (trabalhadora rural), analfabeta, natural de
Carrapatelo, residente em Carrapatelo. Recolha realizada em Carrapatelo, a 9 de Outubro de 2011.

423
A informante relatou que esta composição era cantada quando um rapaz queria namorar com
determinada rapariga.

190
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
_____________________________________________________________________________________

Ó alta faia sombria,


Chegas com a rama ao tanque.
Ainda eu te não conhecia,
Já te tinha amor bastante.

RCA 100
Informante: Deolinda Caeiro Lopes, 75 anos, pasteleira, analfabeta (sabe ler e escrever), natural do
Outeiro, residente em Outeiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011.

Ó alto clarão, pendente,


Caiu-te a rama para o lado.
Ó amor, a tua gente
De rastos me tem deitado.

RCA 101
Informante: Iria Morais, 89 anos, reformada, analfabeta, natural de Reguengos de Monsaraz, residente
em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 8 de Fevereiro de 2012.

Ó amor da confirmação,
Confirma-te bem da verdade,
Pra saberes se eu te quero bem ou não,
Só Deus do céu é que o sabe.

RCA 102
Informante: Rosário Pinto Ramalho (Bisau), 77 anos, reformada (trabalhadora rural), 3º ano de
escolaridade, natural de Santo António do Baldio, residente em Santo António do Baldio. Recolha
realizada em Santo António do Baldio, a 3 de Novembro de 2011.

Ó amor, da tua vista


Me quiseram separar.
Já não querem que eu exista
Aonde te possa avistar.

RCA 103
Informante: Maria Joaquina Rosado Tendeiro, 67 anos, reformada (trabalhadora rural), 3º ano de
escolaridade, natural de Campinho, residente em Campinho. Recolha realizada em Campinho, a 26 de
Março de 2011.

Ó amori, ó amori,
Ó amori, ó meu bem,
O que eu por ti não fizer
Não faço por ninguém.

RCA 104
Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 83 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 11 de Outubro de
2011.

O amor que eu pus em ti


Mais valia pô-lo na água.
A água corre e lava tudo

191
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
_____________________________________________________________________________________

E o amor nunca se acaba.

RCA 105
Informante: Rosa Marques Cardoso, 76 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de Motrinos,
residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrinos, a 29 de Agosto de 2011. Outras Informações:
trabalhadora rural, lavadeira.

O amor que me juraste


Bem cedo o vi abalar.
Foi fumo de labaredas
Que se desfizeram no ar.

RCA 106
Informante: Rosário Pinto Ramalho (Bisau), 77 anos, reformada (trabalhadora rural), 3º ano de
escolaridade, natural de Santo António do Baldio, residente em Santo António do Baldio. Recolha
realizada em Santo António do Baldio, a 3 de Novembro de 2011.

Ó amor, se houver alguém


Que te queira aconselhar,
Volta-lhe tu por resposta:
- Conselhos tem eu para dar.

RCA 107
Informante: Florinda Maria Fernandes, 70 anos, reformada, analfabeta (sabe ler e escrever), natural de
Monsaraz, residente em Monsaraz. Recolha realizada em Monsaraz, a 13 de Setembro de 2011.

Ó Ana, de Deus és santa,


Deus te faça uma santinha,
Os anjos do céu te levem
Da tua casa pra minha.

RCA 108424
Informante: Rosa Marques Cardoso, 76 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de Motrinos,
residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrinos, a 29 de Agosto de 2011. Outras Informações:
trabalhadora rural, lavadeira.

O anel que tu me deste


Era de vidro e quebrou-se.
A amizade que eu te tinha
Era pouca e acabou-se.

424
Versão muito similar foi recolhida por José Leite de Vasconcelos:
O anel que tu me deste
Era de vidro, quebrou-se,
A amizade que te tinha
Era pouca e acabou-se. (Leite de Vasconcelos [1975], pág. 476).
Manuel Joaquim Delgado recolheu também uma versão muito semelhante:
O anel, que tu me deste,
Era de ‘vrido’, ‘quibrou-se’;
O amor, que eu te tinha,
Era pouco e acabou-se. (Delgado [1955], pág. 336).

192
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
_____________________________________________________________________________________

RCA 109425
Informante: Rosa Marques Cardoso, 76 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de Motrinos,
residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrinos, a 29 de Agosto de 2011. Outras Informações:
trabalhadora rural, lavadeira.

O anel que tu me deste,


No domingo da Trindade,
Era-me largo no dedo,
Apertado na amizade.

RCA 110
Informante: Maria Margarida Couto Lopes, 72 anos, reformada (trabalhadora rural), 4º ano de
escolaridade, natural de Reguengos de Monsaraz, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha
realizada em Reguengos de Monsaraz, a 6 de Novembro de 2011.

O carvão que já foi lume


Com qualquer faúpa acende.
Um amor que já foi meu
Com qualquer razão se prende.

RCA 111
Informante: Rosa Lopes Patinha Berjano, 78 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de Telheiro,
residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 21 de Setembro de 2011. Outras Informações: A
informante possui um curso de Guarda-Livros (Contabilidade) e de Dactilografia. Foi funcionária (chefe)
da Caixa de Previdência de Évora – serviço local de Reguengos de Monsaraz (Casa do Povo de Reguengos
de Monsaraz), durante 24 anos

O ciúme é um calor
Que o coração nos aquece.
Não quer bem ao seu amor
Quem o ciúme não conhece.

RCA 112426
Informante: Rosário Pinto Ramalho (Bisau), 77 anos, reformada (trabalhadora rural), 3º ano de
escolaridade, natural de Santo António do Baldio, residente em Santo António do Baldio. Recolha
realizada em Santo António do Baldio, a 3 de Novembro de 2011.

Ó coração duma pomba,


Ó asas da primavera,
Eu só queria adivinhar
O teu sentido qual era.

RCA 113

425
Em Arganil, foi recolhida uma versão:
O anel que tu me deste,
Francisquinho da Trindade,
Era-me largo no dedo,
E apertado na vontade. ( Leite de Vasconcelos [1975], pág. 612).
426 Foi recolhida a seguinte versão em Vidigueira:

Ó coração de uma pomba


Ó asas da Primavera,
Desejava adivinhar
O teu «sentido» qual era. (Delgado [1955], pág. 297).

193
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Informante: Deolinda Caeiro Lopes, 75 anos, pasteleira, analfabetan (sabe ler e escrever), natural do
Outeiro, residente em Outeiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011.

Ó coração, que tens pena,


Dá-me uma que eu quero voar.
Não me deias das pequenas,
Que não me sustêm no ar.

RCA 114427
Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 83 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz a 11 de Outubro de
2011.

Ó coração retraído,
Ó cara cheia de enganos,
É a paga que me deste
De eu te amar há tantos anos.

RCA 115
Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 83 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 12 de Setembro
de 2011.

Ó donzela, dá-me um beijo


Dessa boca encantadora.
Mata lá esse desejo,
Não te tornes pecadora.

RCA 116428
Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 65 anos, reformada, 4.º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 12 de
Junho de 2009.

Olhos azuis são falsos,


E os pretos enganadores.
Estes meus encastanhados
São leais ao meu amor.

RCA 117
Informante: Josefa Rodrigues Godinho, 88 anos, reformada, 3.º ano de escolaridade, natural da Luz
(Mourão), residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 17 de
Outubro de 2009.

427
Manuel Joaquim Delgado recolheu uma versão:
Ó coração retraído,
Ó cara, cheia de enganos,
É a paga que me dás
D’eu te amar há tantos anos. (Beja; Barrancos; Ervidel; Vale de Santiago; Vila Verde de Ficalho
e Vila Nova de Mil Fontes) (Delgado [1955], pág. 297).
428 Foi recolhida a seguinte versão em Beja:

Os olhos pretos são falsos,


Os azuis, enganadores,
Esses teus acastanhados
São leais aos seus amores. (Delgado [1955], pág. 305).

194
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Olhos pretos e ramudos


É que me hadem cativar.
Olhem para os do meu amor,
Que essa feição lhe hão-de achar.

RCA 118a429
Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 65 anos, reformada, 4.º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 4 de
Julho de 2009.

Olhos requerem olhos,


Ó corações, corações.
Os meus requerem os teus
Em certas ocasiões.

RCA 118b
Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 83 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 11 de Setembro
de 2011.

Ó olhos, requerem olhos,


Ó corações, corações.
Os meus requerem os teus
Em certas ocasiões.

RCA 119
Informante: Rosário Pinto Ramalho (Bisau), 77 anos, reformada (trabalhadora rural), 3º ano de
escolaridade, natural de Santo António do Baldio, residente em Santo António do Baldio. Recolha
realizada em Santo António do Baldio, a 3 de Novembro de 2011.

Ó meu amor d’algum dia,


Eu ainda te quero bem.
Ainda me está parcendo
Como tu não há ninguém.

RCA 120
Informante: Rosa Marques Cardoso, 76 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de Motrinos,
residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrinos, a 29 de Agosto de 2011. Outras Informações:
trabalhadora rural, lavadeira.

O meu amor é baixinho,


Não é da marca maior.
É um rapaz trigueirinho
Cara mais linda que o soli.

429
José Leite de Vasconcelos recolheu a seguinte versão:
Os olhos requerem olhos,
Os corações corações;
Uma fala requer outra
Em certas ‘oscasiões’. (Leite de Vasconcelos [1975], pág. 326).
Manuel Joaquim Delgado recolheu uma versão idêntica (Delgado [1955], pág. 306).

195
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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RCA 121
Informante: Rosa Marques Cardoso, 76 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de Motrinos,
residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrinos, a 29 de Agosto de 2011. Outras Informações:
trabalhadora rural, lavadeira.

O meu amor é pequenino


Nem sombra fazes no chão.
Andas fazendo flores
Dentro do meu coração.

RCA 122
Informante: Deolinda Caeiro Lopes, 75 anos, pasteleira, analfabeta (sabe ler e escrever), natural do
Outeiro, residente em Outeiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011.

O meu amor é só de ouro


E eu de prata ramiada.
Se eu o chegar a lograr,
Do mundo não quero mais nada.

RCA 123
Informante: Rosário Pinto Ramalho (Bisau), 77 anos, reformada (trabalhadora rural), 3º ano de
escolaridade, natural de Santo António do Baldio, residente em Santo António do Baldio. Recolha
realizada em Santo António do Baldio, a 3 de Novembro de 2011.

O meu amor não é este,


Não é este, não o quero.
O meu usa o chapéu preto,
Este usa um amarelo.

RCA 124
Informante: Manuel Fernando, 78 anos, reformado, analfabeto, natural do Outeiro, residente em Outeiro.
Recolha realizada em Outeiro, a 22 de Setembro de 2011.

O meu coração de vidro


Quebrou-se e não tem amanho.
Tenho mágoas para comigo,
Ninguém lhe sabe o tamanho.

RCA 125a
Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural
de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011.Outras
Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel.

O meu coração é morada.


Vem pra cá morar, amor.
De renda não pagas nada
Ainda te fico em favor.

RCA 125b
Informante: Rosa Maria Morais Ramalho Cardoso, 73 anos, analfabeta, Trabalhadora Rural e Doméstica,
natural de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 25 de Setembro de 2011.

Meu coração é morada,

196
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Vem pra cá morar, amor.


De renda não pagas nada,
Ainda te fico em favor.

RCA 126430
Informante: Rosa Lopes Patinha Berjano, 78 anos, reformada, 4º ano de escolaridade,natural de Telheiro,
residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 21 de Setembro de 2011. Outras Informações: A
informante possui um curso de Guarda-Livros (Contabilidade) e de Dactilografia. Foi funcionária (chefe)
da Caixa de Previdência de Évora – serviço local de Reguengos de Monsaraz (Casa do Povo de Reguengos
de Monsaraz), durante 24 anos

O meu coração fechou-se.


Fechou-se, já se não abre.
Quem o fechou ausentou-se
E consigo levou a chave.

RCA 127
Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 83 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz a 11 de Outubro de
2011.

O meu coração pra dois


Partilha nenhumas tem.
Vem comigo, amor primeiro,
Que é só a quem eu quero bem.

RCA 128
Informante: Rosa Lopes Patinha Berjano, 78 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de Telheiro,
residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 21 de Setembro de 2011. Outras Informações: A
informante possui um curso de Guarda-Livros (Contabilidade) e de Dactilografia. Foi funcionária (chefe)
da Caixa de Previdência de Évora – serviço local de Reguengos de Monsaraz (Casa do Povo de Reguengos
de Monsaraz), durante 24 anos

O meu peito é mesa d’ouro


Fechada com dois cadeados.
Numa parte, fecha amor,
Noutra, penas e cuidados.

RCA 129
Informante: Florinda Maria Fernandes, 70 anos, reformada, analfabeta (sabe ler e escrever), natural de
Monsaraz, residente em Monsaraz. Recolha realizada em Monsaraz, a 13 de Setembro de 2011.

Ó minha intressora,431
Rala, vestidinha de amarelo,
À tua porta só vão os amores
Que eu já não quero.

430
Em Castelo de Vide, José Leite de Vasconcelos recolheu uma versão:
O meu coração fechou-se,
Fechou-se, já se não abre:
Quem o fechou, era seu,
Ausentou-se, leva a chave. (Leite de Vasconcelos [1975], pág. 647).
431
A informante explicou que a intressora era a rapariga que se interessava amorosamente pelo namorado
de outra.

197
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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RCA 130432
Informante: Manuel Fernando, 78 anos, reformado, analfabeto, natural do Outeiro, residente em Outeiro.
Recolha realizada em Outeiro, a 22 de Setembro de 2011.

Ó minha pombinha branca,


Que já não vais beber à vala.
Por causa de ti, pombinha,
Já o meu amor me não fala.

RCA 131
Informante: Deolinda Caeiro Lopes, 75 anos, pasteleira, analfabeta (sabe ler e escrever), natural do
Outeiro, residente em Outeiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011.

Ó minha rosa camponeisa,


Criada no ramo alto,
Podes viver na certeza,
Ao que eu prometo não falto.

RCA 132
Informante: Domingos Falardo Amieira, 71 anos, reformado, analfabeto, natural de S. Pedro do Corval,
residente em S. Pedro do Corval. Recolha realizada em S. Pedro do Corval, a 23 de Outubro de 2011.

Ó minha rosa encarnada,


Em cima duma rochinha,
A minha amizade é tanta
E a tua é tã poucachinha.

RCA 133
Informante: Raimundo Luís Godinho Caeiro, 68 anos, agricultor, 9º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 4 de
Junho de 2011.
Ó minha rosa encarnada,
És um espelho tão luzente.
Desculpa se estás zangada
Eu também não estou contente.

RCA 134433
Informante: José Jaleca Dourado, 74 anos, barbeiro, 4º ano de escolaridade, natural de S. Pedro do
Corval, residente em S. Pedro do Corval. Recolha realizada em S. Pedro do Corval, a 2 de Novembro de
2011.

Onde quer que tu andares,


Eu a tudo me assujeito.
Nunca me deixas de lembrar,
Cacholinha do mê peito.

432
Em Almeirim, Montargil (c. de Ponte de Sor), foi recolhida a seguinte versão:
Ó minha pombinha branca,
Já não vais beber à vala;
Por causa de ti, pombinha,
Já o meu amor me não fala. (Leite de Vasconcelos [1975], pág. 548).
433 O informante contou que o rapaz que cantou esta quadra ganhou, posteriormente, em virtude dela, a

alcunha de Cacholinha.

198
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
_____________________________________________________________________________________

RCA 135
Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 65 anos, reformada, 4.º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz (em
casa), a 12 de Junho de 2009.

O nome do meu amor,


Com cinco letras se escreve,
A primeira é um S
E as outras ficam em breve.

RCA 136
Informante: Francisca Piteira da Silva Neves, 62 anos, trabalhadora rural / doméstica, analfabeta, natural
de Motrinos, residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrinos, a 29 de Agosto de 2011.

Ó que lindo chapéu preto,


Naquela cabeça vai.
Ó que lindo rapazinho,
Para genrlo do meu pai.

Recitou versão idêntica: Inácia Martins dos Santos, 83 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de
São Marcos do Campo, residente em São Marcos do Campo. Recolha realizada em São Marcos do Campo,
a 7 de Dezembro de 2011.

RCA 137
Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 69 anos, reformado, 4.º ano de escolaridade, natural
de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 11
de Junho de 2009.

Ó rapaz, enrola a esteira,


Mete a espada na bainha.
Não venhas fazer poeira,
Em casa de gente minha.

RCA 138
Informante: Rosa Lopes Patinha Berjano, 78 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de Telheiro,
residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 21 de Setembro de 2011. Outras Informações: A
informante possui um curso de Guarda-Livros (Contabilidade) e de Dactilografia. Foi funcionária (chefe)
da Caixa de Previdência de Évora – serviço local de Reguengos de Monsaraz (Casa do Povo de Reguengos
de Monsaraz), durante 24 anos.

Ó rapaz, vai-te deitar,


Que os teus olhos têm sono.
Vai dormir, vai descansar
Que o meu coração tem dono.

RCA 139
Informante: Mariana Rosa Carvalho Ramos, 71 anos, reformada (cabeleireira), 1º ano de
escolaridade,natural de Santo António do Baldio, residente em S. Pedro do Corval. Recolha realizada em
S. Pedro do Corval, a 3 de Novembro de 2011.

Ó Rosa, não morras hoje


Que amanhã também é dia.
199
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Amanhã também eu morro


E vou pra tua companhia.

RCA 140
Informante: Deolinda Caeiro Lopes, 75 anos, pasteleira, analfabeta (sabe ler e escrever), natural do
Outeiro, residente em Outeiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011.

Ó rosa que estás no adro,


Anda cá para o meu jardim.
Do mundo não faças caso,
Amor, se gostas de mim.

RCA 141
Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 69 anos, reformado, 4.º ano de escolaridade, natural
de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 4
de julho de 2009.

Os dias que eu canto mais


São os de maior paixão.
Cada vez me lembras mais,
Amor do meu coração.

RCA 142434
Informante: Rosa Marques Cardoso, 76 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de Motrinos,
residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrinos, a 29 de Agosto de 2011. Outras Informações:
trabalhadora rural, lavadeira.

Os meus olhos, com chorar,


Fizeram covas no chão.
Coisa que os teus não fizeram,
Não fizeram, nem farão.

RCA 143a
Informante: Gertrudes Lameira Rita, 82 anos, reformada (trabalhadora rural), analfabeta, natural de
Carrapatelo, residente em Carrapatelo. Recolha realizada em Carrapatelo, a 9 de Outubro de 2011.

O sol anda atrás da lua


E a lua atrás do luar,
E a minha alma atrás da tua
Sem a poder alcançar.

RCA 143b
Informante: Maria Vitória de Sousa Serrano, 72 anos, reformada (doméstica), analfabeta, natural de
Moura, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 23 de
Setembro de 2011.

O sol anda atrás da lua,

434
Foi recolhida a seguinte versão em Colos (Odemira):
Os meus olhos, com chorar,
Fizeram covas no chão.
Fizeram o que os teus não fazem,
Não fazem, nem farão. (Delgado [1955], pág. 303).

200
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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A lua atrás do luar.


Minha alma anda atrás da tua
Sem a poder alcançar.

RCA 144a435
Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 69 anos, reformado, 4.º ano de escolaridade, natural
de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 4
de julho de 2009.

Os olhos daquele àquela,


Os olhos daquele além,
Os olhos daquela moça
São iguais aos do meu bem.

RCA 144b
Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 70 anos, reformado, 4.º ano de escolaridade, natural
de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 13
de Setembro de 2010.

Os olhos daquele àquela,


Os olhos daquela além,
Os olhos daquela donzela
Parecem os do meu bem.

RCA 145436
Informante: Maria Inácia Parreira Borrego, 83 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 7 de
Março de 2011.

O sol quando nasce


Inclina às pedras do meu anele
Também eu me inclinei
Nos teus olhos, Manuele.

RCA 146
Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 80 anos, reformada, 2.º ano de escolaridade, natural de Campinho,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 5 de Julho de
2009.

O sol quando nasce


Queima todas as flores mortais.
Só a ti ninguém te queima,
Cada vez me lembras mais.

435
Manuel Joaquim Delgado recolheu uma versão em Mina da Juliana (Aljustrel):
Os olhos daquela, aquela,
Os olhos daquela além,
Os daquela rosa
‘Som’ iguais òs do mê’ bem. (Delgado [1955], pág. 123).
436 Manuel Joaquim Delgado recolheu uma versão:

Quando o sol nasce, inclina


Nas pedras do meu anel.
Também eu inclinei
Para o nome de Manuel. (Beja e Vale de Santiago, Odemira) . (Delgado [1955], pág. 355).

201
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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RCA 147
Informante: José Cardoso Pereira, 56 anos, reformado, 4º ano de escolaridade, natural de Monsaraz,
residente em Monsaraz. Recolha realizada em Monsaraz, a 30 de Agosto de 2011. Outras Informações:
Trabalhou durante 25 anos na Portucel.

Ó vizinha, dê cá lume,
Pra acender o meu candeeiro.
Tenho o meu amor à porta,
Quero-lhe falar primeiro.

RCA 148437
Informante: Joaquina Códices Gomes Reis, 70 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de
Capelins - Alandroal, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de
Monsaraz, a 16 de Setembro de 2010.

Por causa de um saramago,


Arranquei um pé de trigo.
Anda cá, amor zangado,
Fazer as pazes comigo.

RCA 149438
Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 70 anos, reformado, 4.º ano de escolaridade, natural
do Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 13
de Setembro de 2010.

Pus-me a contar as estrelas,


Encontrei dois mil e doze,
Com duas dos teus olhos
São duas mil e catorze.

RCA 150
Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 65 anos, reformada, 4.º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz (em
casa), a 11 de Junho de 2009.

Quando eu nasci,
Chorava com pena de ter nascido.
Parece que adivinhava
Que vinha a casar contigo.

RCA 151a
Informante: Maria Vitória de Sousa Serrano, 72 anos, reformada (doméstica), analfabeta, natural de
Moura (cresceu em S. Marcos do Campo, aldeia dos seus pais), residente em Reguengos de Monsaraz.
Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 23 de Setembro de 2011.

Quando eu tinha amores,

437 A informante afirmou que esta cantiga se cantava nas mondas.


438
Manuel Joaquim Delgado recolheu uma versão:
Pus-me a contar as estrelas,
Contei duzentas e doze;
Com duas nesse teu rosto,
São duzentas e catorze. (Beja; Amareleja; Ervidel e Mina da Juliana, Aljustrel) (Delgado [1955],
pág. 355).

202
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
_____________________________________________________________________________________

Deixei um por não ter jeito.


Agora, nem um nem outro,
Que calote tão bem feito.

RCA 151b
Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 65 anos, reformada, 4.º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz (em
casa), a 11 de Junho de 2009.

Quando eu tinha dois amores,


Deixei um por não ter jeito.
Agora nem um nem outro,
Que calote tão bem feito.

RCA 152
Informante: Catarina Freira Capucho, 68 anos, reformada (funcionária da Câmara Municipal de
Reguengos de Monsaraz – foi contínua na escola da aldeia), analfabeta (sabe assinar, sabe ler pouco e
escrever – pois aprendeu nos cinco anos em que esteve na Suíça), natural de Campinho, residente em
Campinho. Recolha realizada em Campinho, a 9 de Abril de 2011.

Quando me pertas a mão


E os dedos porque mos apertas?
S’ ele tu não me tens amore
Quando me apertas a mão.

RCA 153439
Informante: Luís Mestre Dias, 70 anos, reformado (trabalhador rural e motorista), 4º ano de escolaridade,
natural de Alqueva, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Capinho, a 9 de Abril de
2011.

Que julgava, amor,


Que já te não via,
Parecia-me um ano
Sendo só um dia.

RCA 154440
Informante: Joaquina Códices Gomes Reis, 70 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de
Capelins - Alandroal, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de
Monsaraz, a 16 de Setembro de 2010.

Quem da porta está vendo


O seu adorado bem
Está no mundo vivendo
Com mais gostos que ninguém.

439 O informante cantou a composição.


440
A informante contou que, quando começou a namorar, não morava perto do seu marido. Mais tarde,
depois da morte do seu avô, o seu pai comprou uma casa na rua em que morava o seu marido, na altura,
seu namorado. Não moravam no mesmo lado da rua, nem mesmo em frente, ainda havia algumas casas a
marcar a distância. Mas, quando se assomavam à porta, viam-se. Um dia, um senhor que passava na rua
dirigiu-se a ela, cantando esta cantiga.

203
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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RCA 155
Informante: Rosa Lopes Patinha Berjano, 78 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de Telheiro,
residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 21 de Setembro de 2011. Outras Informações: A
informante possui um curso de Guarda-Livros (Contabilidade) e de Dactilografia. Foi funcionária (chefe)
da Caixa de Previdência de Évora – serviço local de Reguengos de Monsaraz (Casa do Povo de Reguengos
de Monsaraz), durante 24 anos

Quem está bem deixa-se estar,


Quem não pode estar melhor.
Estou ao pé do meu amor,
Não há regalo melhor.

RCA 156441
Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 83 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolhida em Reguengos de Monsaraz, a 10 de Setembro de 2011.

Quem me dera amar um dia,


Ter amor, ter afeição,
Ser escrava, dar a vida
Por um eterno coração.

RCA 157a
Informante: Florinda Maria Fernandes, 70 anos, reformada, analfabeta (sabe ler e escrever), natural de
Monsaraz, residente em Monsaraz. Recolha realizada em Monsaraz, a 13 de Setembro de 2011.

Rama verde, lírio escuro,


No teu peito faz encosto.
Se não querias qu’eu te amasse,
Não nascesses ao meu gosto.

RCA 157b
Informante: Florinda Maria Fernandes, 70 anos, reformada, analfabeta (sabe ler e escrever), natural de
Monsaraz, residente em Monsaraz. Recolha realizada em Monsaraz, a 13 de Setembro de 2011.

Salsa verde, ramo escuro,


No teu peito faz encosto,
Se não querias qu’eu te amasse,
Não nascesses ao meu gosto.

RCA 158
Informante: Deolinda Caeiro Lopes, 75 anos, pasteleira, analfabeta (sabe ler e escrever), natural do
Outeiro, residente em Outeiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011.

Rosa branca, toma cor


Que a encarnada morreu.
Tu já não tens outro amor
Que te queira mais do que eu.

441
Manuel Joaquim Delgado recolheu uma versão idêntica (cf. Delgado [1955], pág. 313).

204
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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RCA 159442
Informante: Maria Inácia Parreira Borrego, 83 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 7 de
Março de 2011.

Rosa, que estás em botão,


Nesse campo desprezada
Vem para o jardim do mê peito
Se queres ser rosa estimada.

RCA 160a
Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 70 anos, reformado, 4.º ano de escolaridade, natural
do Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 13
de Setembro de 2010.

Ribeiro abaixo,
Sempre com o chapéu na mão,
Falando bem às casadas,
Que as solteiras minhas são.

RCA 160b443
Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 69 anos, reformado, 4.º ano de escolaridade, natural
de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 17
de Outubro de 2009.

Rio abaixo, rio acima,


Sempre com chapéu na mão,
Falando bem às casadas,
Que as solteiras minhas são.

RCA 161
Informante: João Veva Rocha, 71 anos, reformado (antigo sargento-chefe GNR), 9.º ano de escolaridade,
natural de Capelins - Alandroal, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos
de Monsaraz, a 16 de Setembro de 2010.

Se amasses como devias


Meu leal coração,
Nessa altura então sabias,

442
Em Querença (c. de Loulé), José Leite de Vasconcelos recolheu uma versão:
Rosa, que estás em botão
Nesse campo desprezada,
Vem p´rò jardim do meu peito
Se quer’s ser rosa estimada. (Leite de Vasconcelos [1975], pág. 361).
443 Manuel Joaquim Delgado recolheu as seguintes versões:

Rua abaixo, rua acima,


Com o meu chapéu na mão,
A namorar as solteiras,
Que as casadas certas estão. (Beja e Ervidel)

Rua abaixo, rua acima,


Com o meu chapéu na mão,
Namorando as casadas,
Que as solteiras certas estão. (Mértola e Vila Verde de Ficalho) (Delgado [1955], pág. 338 -
339).

205
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Se eu te queria bem ou não.

RCA 162
Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 69 anos, reformado, 4.º ano de escolaridade, natural
de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 11
de Junho de 2009.

Saudades tenho eu
De um amor que está lá longe.
Não o dou a demostrar,
O meu coração é de bronze.

RCA 163
Informante: Deolinda Caeiro Lopes, 75 anos, pasteleira, analfabeta (sabe ler e escrever), natural do
Outeiro, residente em Outeiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011.

Se esta rua fosse minha,


Eu mandava-a ladrilhar,
Com pedrinhas de cristal,
Só para o meu amor passar.

RCA 164
Informante: Manuel Fernando, 78 anos, reformado, analfabeto, natural do Outeiro, residente em Outeiro.
Recolha realizada em Outeiro, a 22 de Setembro de 2011.

Semeei para não nascer


Areia no areal.
Não tenho pena de ser
Pró meu amor tão leal.

RCA 165444
Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 70 anos, reformado, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 9 de
Abril de 2011.

Se eu soubera que, voando,


Alcançava o teu desejo,
Mandava formar as asas
Nas penas em que eu me vejo.

RCA 166
Informante: Maria Vitória de Sousa Serrano, 72 anos, reformada (doméstica), analfabeta, natural de
Moura, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 23 de
Setembro de 2011.

Se eu tivesse a liberdade

444
Em Lisboa, foi recolhida a seguinte versão:
Se eu soubesse que, voando,
Alcançava o que desejo,
Mandava fazer as asas
Que as penas são de sobejo. (Leite de Vasconcelos [1975], pág. 439).

206
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Que o sol e a lua tem,


Entrava na tua casa
Sem licença de ninguém.

RCA 167a
Informante: Manuel Fernando, 78 anos, reformado, analfabeto, natural do Outeiro, residente em Outeiro.
Recolha realizada em, Outeiro, a 22 de Setembro de 2011.

Se eu tivesse, não pedia


Nada do mundo a ninguém.
Mas assim como não tenho
Peço uma filha a quem a tem.

RCA 167b
Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 69 anos, reformado, 4.º ano de escolaridade, natural
de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 11
de Junho de 2009.

Se eu tivesse, não pedia


Nada no mundo a ninguém.
Como não tenho peço
Uma filha a quem as tem.

RCA 168
Informante: Maria Margarida Couto Lopes, 72 anos, reformada (trabalhadora rural), 4º ano de
escolaridade, natural de Reguengos de Monsaraz, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha
realizada em Reguengos de Monsaraz, a 6 de Novembro de 2011.

Semeei salsa a um lado,


Hortelã a outra banda.
Para namorar contigo,
Tive que andar em demanda.

RCA 169
Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 83 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolhida em Reguengos de Monsaraz, a 10 de Setembro de 2011.

Tanta parra, tanta uva,


Tanta silva, tanta amora,
Tanta mocinha bonita
E eu sem ter nenhuma agora.

RCA 170445
Informante: Rosa Maria Morais Ramalho Cardoso, 73 anos, trabalhadora Rural e doméstica, analfabeta,
natural de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 25 de Setembro de 2011.

Tenho dentro do meu peito,


Ao lado do coração,
Duas letrinhas que dizem:

445
Manuel Joaquim Delgado recolheu uma versão igual em Beja, Barrancos, Ervidel, Mina da Juliana
(Aljustrel), Mértola, Monte da Vinha (Almodôvar), Fornalhas, Vale de santiago, Odemira (cf. Delgado
[1955], pág. 319).

207
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Morrer sim, deixar não.

RCA 171
Informante: Rosa Maria Morais Ramalho Cardoso, 73 anos, analfabeta, trabalhadora rural e doméstica,
natural de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 25 de Setembro de 2011.

Tenho uma pena no meu peito


Que me leva à sepultura,
Do meu amor ser mais alto,
Não sermos da mesma altura.

RCA 172446
Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 65 anos, reformada, 4.º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 12 de
Junho de 2009.

Tenho um lencinho amarelo,


Com raminhos cor-de-chá.
Já te quis, já te não quero,
São voltas que o mundo dá.

RCA 173
Informante: Catarina Freira Capucho, 68 anos, reformada (funcionária da Câmara Municipal de
Reguengos de Monsaraz – foi contínua na escola da aldeia), analfabeta (sabe assinar, sabe ler pouco e
escrever), natural de Campinho, residente em Campinho. Recolha realizada em Campinho, a 9 de Abril de
2011.

Toda a noite tenho andado


À precura da madrugada.
Fui achá-la em tê peito
Ma sol nascido de manhã nada.

RCA 174
Informante: Rosa Marques Cardoso, 76 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de Motrinos,
residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrinos, a 29 de Agosto de 2011. Outras Informações:
trabalhadora rural, lavadeira.

Trocaste-me a mim por outra,


Eu bem sei que me trocaste.
Ainda te hei-de procurar
Quanto na troca ganhaste.

RCA 175
Informante: Manuel Fernando, 78 anos, reformado, analfabeto, natural do Outeiro, residente em Outeiro.
Recolha realizada em Outeiro, a 22 de Setembro de 2011.

Tu dizes que me queres bem

446
A informante afirmou: Esta é bonita.
Foi recolhida uma versão em Amareleja (Moura):
Tenho um lencinho encarnado
Às rosinhas cor de chá.
Já te quis, já te não quero,
São voltas que o mundo dá. (Delgado [1955], pág. 339).

208
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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E eu querer-te mais não posso.


Se assim for, não há ninguém
Com um querer igual ao nosso.

RCA 176
Informante: João Veva Rocha, 71 anos, reformado (antigo sargento-chefe GNR), 9.º ano de escolaridade,
natural de Capelins - Alandroal, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada Reguengos de
Monsaraz, a 16 de Setembro de 2010.

Tu é que és a rosa branca


Que eu trago no meu chapéu.
Amada, para seres santa,
Só te falta entrar no céu.

RCA 177
Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 80 anos, reformada, 2.º ano de escolaridade, natural de Campinho,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 11 de Junho de
2009.

Um copinho, dois copinhos,


Três copinhos de aguardente
E um beijinho de uma donzela
Faz andar um homem quente.

RCA 178
Informante: Maria do Rosário Neves Alfaiate (Ti Lia), 81 anos, reformada (trabalhadora rural),
analfabeta, natural de Santo António do Baldio, residente em Santo António do Baldio. Recolha realizada
em Santo António do Baldio, a 10 de Outubro de 2011.

Vai-te embora, vai passar


Às correntes de água fria.
Ainda te vais alembrar
Do teu amor de algum dia.

Recitou versão idêntica: Maria do Rosário Neves Alfaiate (Ti Lia), 81 anos, reformada (trabalhadora rural),
analfabeta, natural de Santo António do Baldio, residente em Santo António do Baldio. Recolha realizada
em Baldio, em 21 de Outubro de 2011.

209
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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2.2.2. Cantigas às Cantigas

RCC 1 447
Informante: Catarina Freira Capucho, 68 anos, reformada (funcionária da Câmara Municipal de
Reguengos de Monsaraz – foi contínua na escola da aldeia), analfabeta (sabe assinar, sabe ler pouco),
natural de Campinho, residente em Campinho. Recolha realizada em Campinho, a 9 de Abril de 2011.

Além naquela janela


Dois olhos me estã matando.
Matem-me devagarinho
Que eu quero morrer cantando.

RCC 2a
Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 70 anos, reformado, 4.º ano de escolaridade, natural
do Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 14
de Setembro de 2010.

Cantando muito calado,


Muito sério estou-me rindo,
Dormindo estou acordado,
Falo verdade mintindo.

RCC 2b
Informante: Joaquim José Rosado Leal (conhecido como Ferrador, alcunha de família), 74 anos,
reformado (trabalhador rural e funcionário da Câmara Municipal de Reguengos de Monsaraz), 3º ano de
escolaridade, natural de Campinho, residente em Campinho. Recolha realizada em Campinho, a 9 de Abril
de 2011.

Cantando muito calado,


Muito sério pra me rire.
Sonhando estou acordado,
Falo verdade a mentire.

RCC 3a
Informante: Raimundo Luís Godinho Caeiro, 68 anos, agricultor, 9º ano, natural de Campinho, residente
em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 4 de Junho de 2011.

Cantando se leva a vida,


Eu levo a vida a cantar.
Dizem que a vida cantando
Custa menos a passar.

RCC 3b
Informante: Joaquim José Rosado Leal (conhecido como Ferrador, alcunha de família), 74 anos,
reformado (trabalhador rural e funcionário da Câmara Municipal de Reguengos de Monsaraz), 3º ano de
escolaridade, natural de Campinho, residente em Campinho. Recolha realizada em Campinho, a 9 de Abril
de 2011.

Leva a vida

447 A informante contou que cantavam quando andavam mondando, colhendo a erva no meio do trigo.

210
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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E leva a cantar.
Dizem que a vida cantando
Custa menos a passar.

RCC 4
Informante: Manuel Ramalho Furão, 75 anos, reformado (trabalhador rural/tractorista), 4º ano de
escolaridade, natural de S. Marcos do Campo, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada
em Reguengos de Monsaraz, a 23 de Setembro de 2011.

Cantando se leva a vida,


Eu levo a vida a cantar.
Quantas vezes canto eu
Com vontade de chorar.

RCC 5 448
Informante: Francisca Piteira da Silva Neves, 62 anos, trabalhadora rural / doméstica, analfabeta, natural
de Motrinos, residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrinos, a 29 de Agosto de 2011.

Cantar bem cantava eu


Na mais nova mocidade.
Agora quero e não posso,
Tudo requer a idade.

RCC 6a
Informante: Joaquim José Rosado Leal (conhecido como Ferrador, alcunha de família), 74 anos,
reformado (trabalhador rural e funcionário da Câmara Municipal de Reguengos de Monsaraz), 3º ano de
escolaridade, natural de Campo, residente em Campinho. Recolha realizada em Campinho, a 9 de Abril
de 2011.

Cantar pra mim é


Um grande divertimento.
Enquanto não estou cantando,
Não tenho divertimento.

RCC 6b
Informante: Manuel Fernando, 78 anos, reformado, analfabeto, natural do Outeiro, residente em Outeiro.
Recolha realizada em Outeiro, a 22 de Setembro de 2011.

O cantar para mim é


Um grande divertimento.
Enquanto não estou cantando,
Não tenho destraimento.

RCC 7
Informante: José Jaleca Dourado, 74 anos, barbeiro, 4º ano de escolaridade, natural de S. Pedro do
Corval, residente em S. Pedro do Corval. Recolha realizada em S. Pedro do Corval, a 2 de Novembro de
2011.

448
Em Penajóia (c. de Lamego), recolheu-se a seguinte versão:
Algum dia cantei bem,
Foi na minha mocidade:
Agora quero, num posso,
Tudo requer a idade. (Leite de Vasconcelos [1975], pág.193).

211
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Dizem que o chá dos poejos


Faz bem às constipações.
É a primeira vez que vejo
Cantar cabras em funções.

RCC 8
Informante: José Godinho, 78 anos, reformado, analfabeto, natural da Caridade, residente em S. Pedro do
Corval. Recolha realizada em 22 de Outubro de 2011.

Eu gosto do meu copinho


E não o posso despensare.
Em bebendo mais um copinho
O meu destino é cantar.

RCC 9 449
Informante: Francisca Piteira da Silva Neves, 62 anos, trabalhadora rural / doméstica, analfabeta, natural
de Motrinos, residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrinos, a 29 de Agosto de 2011.

Eu gostava de ouvir
Cantar a quem aprendeu.
Se houvera quem ensinar
Quem aprendia era eu.

RCC 10
Informante: Maria Margarida Couto Lopes, 72 anos, reformada (trabalhadora rural), 4º ano de
escolaridade, natural de Reguengos de Monsaraz, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha
realizada em Reguengos de Monsaraz, a 6 de Novembro de 2011.

Eu já fui ao São Francisco,


Não fui vender nem comprar.
Só lá fui pra dar o risco450
A respeito do cantar.

RCC 11
Informante: Luís Mestre Dias, 70 anos, reformado (trabalhador rural e motorista), 4º ano de escolaridade,
natural de Alqueva, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Campinho, a 9 de Abril
de 2011.

Eu nasci cantarolando,
Pobrezinho, mas contente.
Eu hei-de morrer cantando
Pra alegrar toda a gente.

449
José Leite de Vasconcelos recolheu em Vila Verde de Ficalho (c. de Serpa) uma versão:
Muito gosto eu de ouvir
Cantar a quem aprendeu:
Se houvesse quem me ensinasse,
Quem aprendia era eu. (Leite de Vasconcelos [1975], pág.198).
450 A expressão dar o risco significa iniciar ou dar ordem para se iniciar uma actividade.

212
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
_____________________________________________________________________________________

RCC 12
Informante: António Ramalho, 95 anos, reformado, analfabeto, natural de São Marcos do Campo,
residente em São Marcos do Campo. Recolha realizada em São Marcos do Campo, a 7 de Dezembro de
2011.

Já foi tempo que canti bem,


Hoje nã canto nada.
A idade tudo me tira,
Abalou-me a mocidade.

RCC 13
Informante: Deolinda Caeiro Lopes, 75 anos, pasteleira, analfabeta (sabe ler e escrever), natural de
Outeiro, residente em Outeiro. Recolha realizada em Telheiro, a 23 de Setembro de 2011.

Já que me pedem que eu cante,


Eu vou fazer-lhe a vontade.
Não sei que gosto têm
De ouvir cantar quem não sabe.

RCC 14
Informante: Deolinda Caeiro Lopes, 75 anos, pasteleira, analfabeta (sabe ler e escrever), natural de
Outeiro, residente em Outeiro. Recolha realizada em Telheiro, a 23 de Setembro de 2011.

Minha concertina bela,


Composta de cercaduras,
Dormindo sonho com ela,
Mesmo de noite às escuras.

RCC 15
Informante: Maria do Rosário Neves Alfaiate (Ti Lia), 81 anos, reformada (trabalhadora rural),
analfabeta, natural de Santo António do Baldio, residente em Santo António do Baldio. Recolha realizada
em Santo António do Baldio, a 10 de Outubro de 2011.

Minha concertina bela,


Por dinheiro nenhum a vendo.
Estou cantando pra ela
E ela está-me respondendo.

RCC 16
Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 67 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente de Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 25 de
Maio de 2011.

Não posso cantar, estou rouca,


Falta-me a respiração.
Falta-me a luz dos teus olhos
E o amor no coração.

RCC 17451

451 A informante
disse que esta composição era cantada quando as raparigas casavam novas.
No Cancioneiro Popular Português, estão publicadas as seguintes versões:

213
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Informante: Francisca Piteira da Silva Neves, 62 anos, trabalhadora rural / doméstica, analfabeta, natural
de Motrinos, residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrios, a 29 de Agosto de 2011.

Ontem à noite, à meia-noite,


Eu ouvi cantar e chorei.
Lembrei-me da mocidade,
Tão novinha a deixei.

RCC 18
Informante: Francisca Antónia Godinho Pinto, 79 anos, reformada (trabalhadora rural), analfabeta,
natural de Caridade, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de
Monsaraz, a 6 de Novembro de 2011.

Quando de casa abalei,


Ao meu pai pedi licença.
Agora, para cantar
Aos senhores peço licença.

RCC 19
Informante: Maria Joaquina Rosado Tendeiro, 67 anos, reformada (trabalhadora rural até aos 62 anos),
3º ano de escolaridade, natural de Campinho, residente em Campinho. Recolha realizada em Campinho,
a 26 de Março de 2011.

Quando eu cantava bem,


É que devias cá vir.
Agora que eu canto mal,
Vai-te a deitari a dormir.

RCC 20
Informante: Raimundo Luís Godinho Caeiro, 68 anos, agricultor, 9º ano, natural de Campinho, residente
em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 4 de Junho de 2011.

Quando eu não canto,


Canta o meu amor.
Canta lá, agora,
Faz-me esse favor.

RCC 21a452

Esta noite, à meia-noite,


Ouvi cantar e chorei
Pela minha mocidade,
Que tão mal a empreguei. (Castro Verde)

No alto daquela serra


Ouvi cantar e chorei
Pela minha mocidade
Que tão depressa a deixei. (Coura, c. de Paredes de Coura) (Leite de Vasconcelos [1979], pág.
421).
452 José Leite Vasconcelos recolheu uma versão quase idêntica, com uma variante no terceiro verso:

Quero cantar, ser alegre,


Que a tristeza nada tem.
Eu nunca vi a tristeza,
Dar de comer a ninguém. (Leite de Vasconcelos [1975], pág. 201).
Em Beja, Mina da Juliana, Aljustrel e Mértola, Manuel Joaquim Delgado recolheu uma versão:

214
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
_____________________________________________________________________________________

Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 69 anos, reformado, 4.º ano de escolaridade, natural
de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 11
de Junho de 2009.

Quero cantar, ser alegre


E a tristeza nada tem.
Eu ainda não vi tristeza
Dar de comer a ninguém.

RCC 21b
Informante: Josefa Rodrigues Godinho, 88 anos, reformada, 3.º ano de escolaridade, natural da Luz
(Mourão), residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 17 de
outubro de 2009.

Quero cantar, ser alegre,


Que a tristeza nada tem.
Ainda não vi a tristeza
Dar de comer a ninguém.

RCC 22
Informante: Manuel Ramalho Furão, 75 anos, 4º ano de escolaridade, reformado (trabalhador
rural/tractorista), natural de S. Marcos do Campo, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha
realizada em Reguengos de Monsaraz, a 23 de Setembro de 2011.

Uns cantando, outros chorando,


É mundo, vamos vivendo.
O mundo vai-se acabando
Pr’aqueles que vão morrendo.

Quero cantar, ser alegre,


Que a tristeza não faz bem.
‘Inda não vi a tristeza
Dar de comer a ninguém. (Delgado [1955], pág. 239).

215
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
_____________________________________________________________________________________

2.2.3. Cantigas Conceituosas

RCCon 1
Informante: Rosa Marques Cardoso, 76 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de Motrinos,
residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrinos, a 29 de Agosto de 2011. Outras Informações:
trabalhadora rural, lavadeira.

Água clara não turva,


Vindo ela do rochedo.
Amor firme não se muda
Sem haver algum enredo.

RCCon 2
Informante: Joaquim José Rosado Leal (conhecido como Ferrador, alcunha de família), 74 anos,
reformado (trabalhador rural e funcionário da Câmara Municipal de Reguengos de Monsaraz), 3º ano de
escolaridade, natural de Campo, residente em Campinho. Recolha realizada em Campinho, a 9 de Abril
de 2011.

A mocidade não é
Paga por nenhum dinheiro.
Olha a diferença que faz
O casado do solteiro.

RCCon 3
Informante: Manuel Fernando, 78 anos, reformado, analfabeto, natural do Outeiro, residente em Outeiro.
Recolha realizada em Outeiro, a 22 de Setembro de 2011 .

Anica, rosa encarnada,


Manda ler a tua sina.
Pró ano, se fores casada,
Trazes a tua concertina.

RCCon 4
Informante: Delmira Cachopas, 93 anos, comerciante, 3º ano de escolaridade, natural de Montoito,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 26 de Novembro
de 2011.

Chove água miudinha,


Pra regar a terra é.
Deixa a pobre vai-te à rica,
Busca forma no teu pé.

RCCon 5453
Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 67 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 26 de
Março de 2011.

453Manuel
Joaquim Delgado recolheu uma versão muito próxima, em Beja:
Coitado do mentiroso,
Mente uma vez, mente sempre.
‘Inda que fale verdade,
Todos lhe dizem que mente. (Delgado [1955], pág. 391).

216
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
_____________________________________________________________________________________

Coitado do mentiroso,
Mente uma vez, mente sempre.
Antes que454 fale a verdade,
Todos lhe dizem que mente.

RCCon 6455
Informante: Rosa Marques Cardoso, 76 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de Motrinos,
residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrinos, a 29 de Agosto de 2011. Outras Informações:
trabalhadora rural, lavadeira.

Coração que dois adora


Que firmeza pode ter?
Só se for coração de homem
De mulher não pode ser.
Recitou versão idêntica: Florinda Maria Fernandes, 70 anos, reformada, analfabeta (sabe ler e escrever),
natural de Monsaraz, residente em Monsaraz. Recolha realizada em Monsaraz, a 13 de Setembro de 2011.

RCCon 7
Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 60 anos, reformado, 4.º ano de escolaridade, natural
de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 23
de junho de 2000.

Da onde vem a ciência,


Aonde nasce o juízo,
Calculo que ninguém tenha
Aquilo que é preciso.

RCCon 8
Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 82 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em Maio de 2011.

Deixa lá falar quem fala,


Deixa lá dizer quem diz,
Até as águas correr
Do rio para o chafariz.

RCCon 9456
Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 80 anos, reformada, 2.º ano de escolaridade, natural de Campinho,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada ao telefone em Reguengos de Monsaraz, a 26 de
Novembro de 2009.

454
Neste contexto frásico, a expressão significa “mesmo que”.
455
José Leite de Vasconcelos recolheu uma versão igual em Alcáçovas (c. de Viana do Alentejo) e em
Sambade (C. de Alfândega da Fé) (cf. Leite de Vasconcelos [1975], pág. 309 e 637). Em Beja, Ervidel,
Vila Nova da Baronia e Vila Verde de Ficalho, foi também recolhida uma versão idêntica por Manuel
Joaquim Delgado (cf. Delgado [1955], pág. 277).
456 Em Fornalhas (Vale de santiago, Odemira), foi recolhida a seguinte versão:

Desde o princípio do mundo


Muita gente tem morrido.
Nem na terra fazem falta,
Nem o céu se tem enchido. (Delgado [1955], pág. 395).

217
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Desde que o mundo é mundo


Muita gente tem morrido.
Nem na terra fazem falta
E nem o céu se tem enchido.

RCCon 10457
Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 81 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 7 de Março de
2011.

Eu fui ao jardim das noras


Colher o pé à açucena.
Olha o que fazes agora,
Mais tarde não tenhas pena.

Recitou versão idêntica: Isménia Moleiro Ramalho, 83 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 10 de
Setembro de 2011.

RCCon 11458
Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 65 anos, reformada, 4.º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 5 de
Outubro de 2009.

É um regalo na vida
E à beira da água morar,
Quem tem sede vai beber,
Quem tem calma vai nadar.

RCCon 12
Informante: Catarina Freira Capucho, 68 anos, reformada (funcionária da Câmara Municipal de
Reguengos de Monsaraz – foi contínua na escola da aldeia), analfabeta (sabe assinar, sabe ler pouco e
escrever – pois aprendeu nos cinco anos em que esteve na Suíça), natural de Campinho, residente em
Campinho. Recolha realizada em Campinho, em 9 de Abril de 2011.

Fui ao cemitério veri


O campo da igualdade,
Tanta ilusão no mundo
Em tão pouca terra cabe.

RCCon 13
Informante: Deolinda Caeiro Lopes, 75 anos, pasteleira, analfabeta (sabe ler e escrever), natural do
Outeiro, residente em Outeiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011.

Laranjeira de pé de ouro,
Tanta laranja que tem,

457 A informante recordou que lhe foi cantada por rapaz que queria casar com ela e que ela rejeitou.
458 A informante recita esta composição, a propósito da lavagem de roupa à mão, tarefa que executou
durante parte da manhã e, por isso, já estava a ficar cansada. Mas como tem a água “à mão” e a roupa suja,
não resiste e vai levando, manualmente, peça após peça, apesar de ter máquina de lavar. Diz que são hábitos
da infância, pois desde pequena que ia lavar a roupa no tino de barro (o tino é uma espécie de tanque, visto
que não havia tanques de cimento, era comprado em S. Pedro do Corval), no quintal.

218
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Por baixo não se lhe chega


E lá acima não vai ninguém.

RCCon 14459
Informante: Rosa Marques Cardoso, 76 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de Motrinos,
residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrinos, a 29 de Agosto de 2011. Outras Informações:
trabalhadora rural, lavadeira.

Minha cabeça é um livro


Tudo nela fica assente.
Onde eu ponho o meu sentido
Fica-se firme para sempre.

RCCon 15
Informante: Gertrudes Lameira Rita, 82 anos, reformada (trabalhadora rural), analfabeta, natural de
Carrapatelo, residente em Carrapatelo. Recolha realizada em Carrapatelo, a 9 de Outubro de 2011.

Minha mãe bem dizia,


Minha mãe dizia bem:
Ó filha, não te metas
Com quem vergonha não tem.

RCCon 16460
Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 63 anos, reformado, 4.º ano de escolaridade, natural
de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 2
de Agosto de 2003.

Não faças de mim mangação,


Que eu não se me dá.
Como tu és já eu fui
E como eu sou tu serás.

RCCon 17461
Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 81 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 26 de Novembro
de 2009.

Ninguém diga:” - Eu não hei-de


Desta fonte água beber”,
Pode a sede apertar
E outro remédio não ter.
459
Manuel Joaquim Delgado recolheu uma versão (em Beja e Junqueiros, Aljustrel):
Minha mãe bem me dizia,
Minha mãe dizia bem;
Ó filho, nunca te ajuntes
Com quem juízo não tem. (Delgado [1955], pág. 421).
460 O informante recitou a quadra, em resposta a alguém que lhe chamou velho.
461 Foi recolhida a seguinte versão por Manuel Joaquim Delgado, em Beja e Fornalhas (Vale de Santiago,

Odemira):
Ninguém diga eu não hei-de
Desta fonte água beber.
Pode a sede apertar muito
E outro remédio não ter. (Delgado [1955], pág. 431).

219
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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RCCon 18a462
Informante: Joaquina Códices Gomes Reis, 70 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de
Capelins - Alandroal, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de
Monsaraz, a 16 de Setembro de 2010.

Ó amiga, nunca contes


A tua vida a ninguém.
Uma amiga tem amigas
E a outra amiga amigas tem.

RCCon 18b
Informante: Deolinda Caeiro Lopes, 75 anos, pasteleira, analfabeta (sabe ler e escrever), natural do
Outeiro, residente em Outeiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011.

Ó amiga, não descubras


O teu segredo a ninguém.
Que uma amiga tem amigas,
Outra amiga amigas tem.

RCCon 18c
Informante: Georgina Leal, 70 anos, 4ª ano de escolaridade, comerciante, natural de Telheiro, residente
em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011.

Ó amiga, não descubras


O teu segredo a ninguém.
Uma amiga tem amigas
E outra amiga amigas tem.

RCCon 19463
Informante: Rosa Maria Morais Ramalho Cardoso, 73 anos, trabalhadora rural e doméstica, analfabeta,
natural de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 25 de Setembro de 2011.

O coração mais os olhos


São dois amigos leais.
Quando o coração está triste,
Logo os olhos dão sinais.

Recitou versão idêntica: Rosário Pinto Ramalho (Bisau), 77 anos, reformada (trabalhadora rural), 3º ano
de escolaridade, natural de Santo António do Baldio, residente em Santo António do Baldio. Recolha
realizada em Santo António do Baldio, a 3 de Novembro de 2011.

RCCon 20464

462
Uma versão, aludindo ao masculino, foi recolhida em Ervidel:
Amigo, nunca descubras
Teus segredos a niguém.
Um amigo tem amigos,
E outro amigo amigos tem. (Delgado [1955], pág. 369).
463 Versão idêntica foi recolhida em Vila Verde de Ficalho (cf. Leite de Vasconcelos [1979], pág. 254).

Manuel Joaquim Delgado recolheu esta versão em Beja, Amareleja e Cuba (Delgado [1955], pág. 297).
464 O informante explica o contexto de enunciação: Aqui há anos, quando eu era gaiato, nesta festa da Boa

Nova, as pessoas iam em carroças, nos carros das bestas. E a mocidade iam seis, sete, oito numa carroça,
iam à festa e iam assim. E então era a romaria, iam cantando. E foi na altura em que as mulheres
começaram a rebicar os lábios, que chamavam rebique, não era batom, nessa altura chamavam rebique.
E há um indivíduo da minha terra que a namorada dele vinha nessa carroça, uma carroça atrás dele e

220
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Informante: João Veva Rocha, 71 anos, reformado (antigo sargento-chefe GNR), 9.º ano de escolaridade,
natural de Capelins - Alandroal, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos
de Monsaraz, a 16 de Setembro de 2010.

Ó meninas do rebique,
Venham bem acauteladas,
Ainda assim eu não fique
Com as faces rebicadas.

RCCon 21
Informante: Joaquina Códices Gomes Reis, 70 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de
Capelins - Alandroal, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de
Monsaraz, a 16 de Setembro de 2010.

Ó moças, tenham cuidado,


Com a própria natureza,
Que o namoro é delicado
Pra quem tem delicadeza.
RCCon 22465
Informante: Deolinda Caeiro Lopes, 75 anos, pasteleira, analfabeta (sabe ler e escrever), natural do
Outeiro, residente em Outeiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011.

Ó rosa, deixa-te estar


Fechadinha em botão.
Aberta, caem-te as folhas
E assim fechadinha não.

RCCon 23466
Informante: Deolinda Caeiro Lopes, 75 anos, pasteleira, analfabeta (sabe ler e escrever), natural do
Outeiro, residente em Outeiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011.

Ó rosa, não consintas


Que o cravo te ponha a mão,
Que a rosa enxovalhada
Já não tem aceitação.

RCCon 24467

vinha rebicada, chamavam-lhe rebique. E elas lá vinham cantando pr’aqui, pr’ali e ele às tantas vira-se
para trás, pró lado da carroça delas e diz assim: [recita a quadra]
465 Manuel Joaquim Delgado recolheu a seguinte versão, em Beja:

Ó rosa, deixa te estar


Fechadinha em teu botão.
Aberta, caem-te as folhas,
Fechada, não caem, não. (Delgado [1955], pág. 122).
466 No Algarve, foi recolhida uma versão:

Rosa branca, não consintas


Que o cravo te ponha a mão!
Deixa-te estar na roseira,
Recatada em teu botão. (Leite de Vasconcelos [1979], pág. 281).
467 Em Fornalhas (Vale de Santiago, Odemira), foi recolhida uma versão:

221
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Informante: Manuel Fernando, 78 anos, reformado, analfabeto, natural do Outeiro, residente em Outeiro.
Recolha realizada em Outeiro, a 22 de Setembro de 2011.

O tempo da mocidade
Nunca devia acabar.
Em chegando a certa idade,
Todos a queremos deixar.

RCCon 25
Informante: Joaquim José Rosado Leal (conhecido como Ferrador, alcunha de família), 74 anos,
reformado (trabalhador rural e funcionário da Câmara Municipal de Reguengos de Monsaraz), 3º ano de
escolaridade, natural de Campinho, residente em Campinho. Recolha realizada em Campinho, a 9 de Abril
de 2011.

O tempo atrasado esquece


E a mim o pensar me vem.
Todo o erro se conhece
Quando remédio não tem.

RCCon 26468
Informante: Rosa Marques Cardoso, 76 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de Motrinos,
residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrinos, a 29 de Agosto de 2011. Outras Informações:
trabalhadora rural, lavadeira.

Pelo céu vai uma nuvem,


Todos dizem: - “Bem a vi”.
Todos falam e murmuram,
Ninguém olha para si.

RCCon 27469
Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 69 anos, reformado, 4.º ano de escolaridade, natural
de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 11
de Junho de 2009.

Procurei a paz no mundo,


Só no cemitério a vi.
Por cima da porta escrito:
"Não há paz senão aqui".

O tempo da mocidade
Nunca devia acabar.
É um tempo tão bonito,
Todos o querem deixar. (Delgado [1955], pág. 395).
468 Segundo o Cancioneiro Popular Português, esta quadra é corrente por todo o país (cf. Leite de

Vasconcelos [1979], pág. 258).


Foi recolhida uma versão por Manuel Joaquim Delgado (em Beja, Ervidel, Cuba e Mina de S. Domingos):
Pelo céu vai uma nuvem,
Todos dizem: - bem na vi.
Todos falam e murmuram,
Ninguém olha para si. (Delgado [1955], pág. 444).
469 A seguinte versão foi recolhida em Beja e Colos, Odemira:

Procurei a paz no mundo,


Fui ao cemitério e vi,
Por cima da porta, escrito:
Não há paz senão aqui. (Delgado [1955], pág. 446).

222
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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RCCon 28a
Informante: Maria Joaquina Rosado Tendeiro, 67 anos, reformada (trabalhadora rural até aos 62 anos),
3º ano de escolaridade, natural de Campinho, residente em Campinho. Recolha realizada em Campinho,
a 26 de Março de 2011.

Quando eu não tinha dava,


Agora tenho e não dou,
Vai pedir a quem o tenha
Que eu em não o tendo to dou.

RCCon 28b
Informante: Joaquim José Rosado Leal (conhecido como Ferrador, alcunha de família), 74 anos,
reformado (trabalhador rural e funcionário da Câmara Municipal de Reguengos de Monsaraz), 3º ano de
escolaridade, natural de Campinho, residente em Campinho. Recolha realizada em Campinho, a 26 de
Abril de 2011.

Quando eu não tinha dava,


Agora tenho nã dou,
Vai pedir a quem não tenha
Que eu em nã tendo te dou.

RCCon 29
Informante: Josefa Rodrigues Godinho, 78 anos, reformada, 3.º ano de escolaridade, natural da Luz,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em Setembro de
1999.

Quem tem janelas de vidro


Não lhe pode atirar pedradas.
Eu fui atirar às vossas,
Achei as minhas quebradas.

RCCon 30470
Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 78 anos, reformada, 2.º ano de escolaridade, natural de Campinho,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 27 de Dezembro
de 2007.

Se a morte fosse interesseira,


Ai de nós, o que seria!
O rico comprava a vida,
Só o pobre é que morria.

470
Uma versão da quadra que recolhemos foi recolhida em Faro:
Se a morte fosse interesseira,
Ai de nós, o que seria!
O rico pagava a vida,
Quem fosse pobre, morria. (cf. Leite de Vasconcelos [1979], pág. 262).
Uma versão idêntica foi recolhida em Vale de Santiago (Odemira) (cf. Delgado [1955], pág. 455).

223
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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2.2.4. Cantigas Toponímicas

RCT 1a
Informante: Mariana Rosa Carvalho Ramos, 71 anos, reformada (cabeleireira), 1º ano de escolaridade,
natural de Santo António do Baldio, residente em S. Pedro do Corval. Recolha realizada em S. Pedro do
Corval, a 3 de Novembro de 2011.

A chapada do tê monte
É custosa de subir.
Se não fossem os teus olhos,
Quem me faria lá ir.

RCT 1b
Informante: Florinda Maria Fernandes, 70 anos, reformada, analfabeta (sabe ler e escrever), natural de
Monsaraz, residente em Monsaraz. Recolha realizada em Monsaraz, a 19 de Setembro de 2011.

Chapadas471 de Monsaraz
São custosas de subir.
Arranjem outro rapaz
Que eu já cá não posso vir.

RCT 2
Informante: Deolinda Caeiro Lopes, 75 anos, pasteleira, analfabeta (sabe ler e escrever), natural de
Outeiro, residente em Outeiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011.

Aldeia do Outeiro,
No meio tens uma palmeira,
Onde os meus olhos combatem
Cada vez com mais cegueira.

RCT 3a472
Informante: Florinda Maria Fernandes, 70 anos, reformada, analfabeta (sabe ler e escrever), natural de
Monsaraz, residente em Monsaraz. Recolhida em Monsaraz, a 19 de Setembro de 2011.

Andas morta por saber


Onde eu faço a minha cama.
É no Monte do Xerez473,
Na tarimba da cabana.

RCT 3b
Informante: António Joaquim Lopes Rodrigues, 74 anos, reformado, analfabeto, natural de Monsaraz,
residente em Monsaraz. Recolha realizada em Monsaraz, a 30 de Agosto de 2011.

Andas morta por saber


Onde eu faço a minha cama,

471
Chapadas são subidas muito íngremes.
472 A informante contou que um rapaz de Monsaraz estava enamorado de uma rapariga dos Sacaios (são
designados de Sacaios a Aldeia da Venda, a Aldeia dos Marmelos, Cabeça de Carneiros, Santiago Maior e
Aldeia de Pias no concelho do e os habitantes destas aldeias pertencentes ao concelho do Alandroal), mas
esta não lhe correspondia e uma vez nas festas de São Bento cantou-lhe esta cantiga.
473 Monte perto de Monsaraz, que ficou submerso com as águas da barragem do Alqueva.

224
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Na Monte do Xerez,
Na tarimba da cabana.

RCT 4
Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 69 anos, reformado, 4.º ano de escolaridade, natural
de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em
Abril de 2000.

As moças desta aldeia,


Algumas, não são todas,
Usam dois pares de meias,
Para fazer as pernas gordas.

RCT 5 474
Informante: João Veva Rocha, 71 anos, reformado (antigo sargento-chefe GNR), 9.º ano de escolaridade,
natural de Capelins - Alandroal, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos
de Monsaraz, a 16 de Setembro de 2010.

Camioneta da carreira,
Já te não posso avistari.
Só cá vens p’rás de Ferreira
Cá virem a cabrejar.

RCT 6 475
Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 69 anos, reformado, 4.º ano de escolaridade, natural
de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 12
de Junho de 2009.

Campinho, terra das bruxas,


S. Marcos, das feiticeiras,
Cumeada, das manhosas,
Reguengos, das borrachêras.
Recitou versão idêntica: Maria do Carmo Valadas Amieira, 66 anos, reformada, 4º ano de escolaridade,
natural de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de
Monsaraz, a 24 de Julho de 2010.

RCT 7
Informante: José Cardoso Pereira, 56 anos, reformado, 4º ano de escolaridade, natural de Monsaraz,
residente em Monsaraz. Recolha realizada em Monsaraz, a 30 de Agosto de 2011. Outras Informações:
Trabalhou durante 25 anos na Portucel.

Esta moda aprendi eu

474 De acordo com o testemunho do informante, havia muita rivalidade entre as aldeias de Montes Juntos e
Ferreira de Capelins. Esta quadra era cantada pelos habitantes de Montes Juntos para os de Ferreira de
Capelins, quando a camioneta da carreira começou a ir a Montes Juntos e a Ferreira de Capelins. As aldeias
são próximas, apenas com dois quilómetros de distância. Os habitantes de Ferreira de Capelins apanhavam
a camioneta para irem até Montes Juntos e depois voltavam a pé para Ferreira.
475 Quadra idêntica foi recolhida por Manuel Joaquim Delgado no Baixo Alentejo, na freguesia da

Amareleja:
Campinho, terra de bruxas,
S. Marcos, das feiticeiras,
Cumiada, das manhosas,
Reguengos, das bonacheiras. (Delgado [1955], pág. 24.)

225
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Com os moços do Campinho,


Quando ia pró trabalho,
De manhã pelo caminho.

RCT 8 476
Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural
de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011. Outras
Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel.

Eu agora vou morar


Prá cadeia do Redondo.
Não precisam de cá chorar,
Choro eu lá e tenho abondo.477

RCT 9
Informante: Isménia Moleiro Ramalho. 83 anos. Reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 24 de Setembro
de 2011.

Eu fui ao Palácio da Pena


E cantei com alegria.
Vê lá não te arrependas
Do nosso passado um dia.

RCT 10
Informante: Rosário Pinto Ramalho (Bisau), 77 anos, reformada (trabalhadora rural), 3º ano de
escolaridade, natural de Santo António do Baldio, residente em Santo António do Baldio. Recolha
realizada em Santo António do Baldio, a 3 de Novembro de 2011.

Eu já fui a Olivença,
Quando andei o caminho a pé.
Amor, faz a diligência,
Que a falta por mim não é.

RCT 11a478
Informante: Gertrudes Lameira Rita, 82 anos, reformada (trabalhadora rural), analfabeta, natural de
Carrapatelo, residente em Carrapatelo. Recolha realizada em Carrapatelo, a 9 de Outubro de 2011.

Já Reguengos não é vila,


Já lhe querem pôr cidade,
Por ter uma igreja nova,
Na Praça da Liberdade.

476
O informante conta que um sacaio da Aldeia da Venda, a quem chamavam Rouquidõ, não tinha licença
de cadela e foi preso por isso. Foi levado para o Redondo e cantou esta quadra, porque os locais pediram
com insistência aos guardas para não o prenderem.
477 Abondo – significa quantidade suficiente.
478 José Leite de Vasconcelos recolheu uma versão semelhante (sem indicação do local em que foi

recolhida):
Já Reguengos não é vila,
Já lhe querem pôr cidade,
Por ter a igreja nova
Na Praça da Liberdade. (José Leite de Vasconcelos [1983], Cancioneiro Popular Português,
vol. III, Coimbra, Por Ordem da Universidade, 1983, pág. 98).

226
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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RCT 11b479
Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 69 anos, reformado, 4.º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 12 de
Junho de 2009.
Já Reguengos não é vila,
Querem-lhe pôr cidade,
Por ter uma igreja nova,
Na Praça da Liberdade.

RCT 12480
Informante: Gertrudes Lameira Rita, 82 anos, reformada (trabalhadora rural), analfabeta, natural de
Carrapatelo, residente em Carrapatelo. Recolha realizada em Carrapatelo, a 9 de Outubro de 2011.

Mandei fazer um navio,


Ideias que Deus me deu.
Digam lá às do Baldio
Trago um cavalo mas é meu.

RCT 13
Informante: Rosa Marques Cardoso, 76 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de Motrinos,
residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrinos, a 29 de de Agosto de 2011. Outras Informações:
trabalhadora rural, lavadeira.

Minha aldeia é Motrinos,


Minha terra muito amada.
Foi aqui que eu nasci,
Foi aqui que fui criada.

RCT 14481
Informante: Rosa Marques Cardoso, 76 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de Motrinos,
residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrinos, a 29 de de Agosto de 2011. Outras Informações:
trabalhadora rural, lavadeira.

Minha terra é Leiria,


Onde se faz o papel.
Minha sogra é Maria,
O meu amor é Manuel.

RCT 15
Informante: Rosa Marques Cardoso, 76 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de Motrinos,
residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrinos, a 29 de de Agosto de 2011. Outras Informações:
trabalhadora rural, lavadeira.

Minha terra é Motrinos,


É a terra onde eu nasci.

Se calha ainda era ‘galhavanas’. Quando eu a comecei


479 O informante disse ser uma cantiga muito antiga:

a ouvir.
480 O informante ouviu a quadra a um senhor do Baldio que vinha cá [ao Carrapatelo] aos balhos.
481Em Monte Real (c. de Leiria), José Leite de Vasconcelos recolheu a seguinte versão:

Minha terra é Leiria,


Onde se faz o papel;
O meu nome é Maria
O meu amor é Manuel. (Leite de Vasconcelos [1983], pág. 57)

227
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Esteja longe ou esteja perto


Nunca me esqueço de ti.

RCT 16a
Informante: Rosa Marques Cardoso, 76 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de Motrinos,
residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrinos, a 29 de de Agosto de 2011. Outras Informações:
trabalhadora rural, lavadeira.

Monsaraz é boa terra,


Boa terra, melhor gente.
Dá de comer a quem passa
E leva dinheiro corrente.

RCT 16b
Informante: Maria do Rosário Neves Alfaiate (Ti Lia), 81 anos, reformada (trabalhadora rural),
analfabeta, natural de Santo António do Baldio, residente em Santo António do Baldio. Recolha realizada
em Santo António do Baldio, a 10 de Outubro de 2011.

Monsaraz é boa terra,


Boa terra, melhor gente,
Dão de comer a quem passa
E a quem leva dinheiro corrente.

RCT 17
Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 69 anos, reformado, 4.º ano de escolaridade, natural
de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 12
de Junho de 2009.

Monsaraz está num outeiro,


Reguengos numa chapada,
S. Marcos está num ribeiro,
Campinho numa assentada.

RCT 18
Informante: Rosa Maria Morais Ramalho Cardoso, 73 anos, trabalhadora rural e doméstica, analfabeta,
natural de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 25 de Setembro de 2011.

Monsaraz é um jardim,
No meio tem uma baixura.
Tudo são cravos e rosas
Que me dão pela cintura.

RCT 19
Informante: Rosa Marques Cardoso, 76 anos, reformada, natural de Motrinos, 3º ano de escolaridade,
residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrinos, a 29 de de Agosto de 2011. Outras Informações:
trabalhadora rural, lavadeira.

Monsaraz é uma vila,


Uma vila medieval.
É a vila mais antiga
Que existe em Portugal.

228
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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RCT 20482
Informante: Rosa Lopes Patinha Berjano, 78 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de Telheiro,
residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 21 de Setembro de 2011. Outras Informações: A
informante possui um curso de Guarda-Livros (Contabilidade) e de Dactilografia. Foi funcionária (chefe)
da Caixa de Previdência de Évora – serviço local de Reguengos de Monsaraz (Casa do Povo de Reguengos
de Monsaraz), durante 24 anos.

Na tapada de São Brás,


Está uma pereira florida.
Podes arranjar rapaz,
Que eu já arranjei rapariga.

RCT 21483
Informante: António Ramalho, 95 anos, reformado, analfabeto, natural de São Marcos do Campo,
residente em São Marcos do Campo. Recolha realizada em São Marcos do Campo, a 7 de Dezembro de
2011.

Nã sei o que tenho em Moura,


De Moura me vou lembrando.
Em chegando à Guadiana,
As penas me vão levando.

RCT 22484
Informante: Maria do Rosário Neves Alfaiate (Ti Lia), 81 anos, reformada (trabalhadora rural),
analfabeta, natural de Santo António do Baldio, residente em Santo António do Baldio. Recolha realizada
em Santo António do Baldio, a 21 de Outubro de 2011.

Ó aldeia do Baldio 485,


As costas te vou voltando.
A minha boca vai rindo
E os meus olhos vão chorando.

RCT 23a
Informante: Manuel Fernando, 78 anos, reformado, analfabeto, natural de Outeiro, residente em Outeiro.
Recolha realizada em Outeiro, a 22 de Setembro de 2011.

O Alentejo não tem sombra,


É só a que vem do céu.
Senta-te aqui, meu amor,
À sombra do meu chapéu.

482 A informante explicou o contexto em que ouviu a cantiga: Um casal de namorados, que já namorava
há muitos anos, desentendeu-se. A única diversão do povo era a taberna e os bailes. O rapaz cantou a
cantiga à namorada.
483 O informante referiu que ouviu o cantor Luís Piçarra cantar a quadra, em Moura.

Uma versão semelhante foi recolhida em Moura:


Eu não sei que tenho em Moura,
Que Moura me está lembrando!
Em chegando à Guadiana,
As ondas me vão levando. (Leite de Vasconcelos [1983], pág. 57)
484 A informante explicou que, quando os rapazes iam à tropa, as pessoas iam acompanhá-los no momento

da partida. Um rapaz recitou a cantiga


485 Refere-se à aldeia de Santo António do Baldio.

229
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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RCT 23b
Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 71 anos, 4º ano de escolaridade, reformado, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 10 de
Outubro de 2011.

O Alentejo não tem sombra,


Se não a que vem do céu.
Deixa-te estar, meu amor,
À sombra do meu chapéu.

RCT 24a486
Informante: Mariana dos Santos Mendes, 76 anos, 3º ano de escolaridade, reformada (trabalhadora rural),
natural de Santo António do Baldio, residente em Santo António do Baldio. Recolha realizada em Santo
António do Baldio, a 10 de Outubro de 2011.

O meu monte fica, fica


Lá prós lados da Defesa487
Namora-a por ser rica
Não é pla boniteza.

RCT 24b
Informante: Rosário Pinto Ramalho (Bisau), 77 anos, 3º ano de escolaridade, reformada (trabalhadora
rural), natural de Santo António do Baldio, residente em Santo António do Baldio. Recolha realizada em
Santo António do Baldio, a 3 de Novembro de 2011.

O meu monte fica, fica


Lá para os lados da Defesa.
Namorasa porque ela é rica
Não é pela boniteza.

RCT 25
Informante: Gertrudes Lameira Rita, 82 anos, analfabeta, reformada (trabalhadora rural), natural de
Carrapatelo, residente em Carrapatelo. Recolha realizada em Carrapatelo, a 9 de Outubro de 2011.

Ó Monte Vale da Remeira,


Que pegas com o Baldio 488,
O que fizeram ao Pêra 489,
Para andar tão arredio?

RCT 26
Informante: Deolinda Caeiro Lopes, 75 anos, pasteleira, analfabeta (sabe ler e escrever), natural de
Outeiro, residente em Outeiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011.

Ó vila de Monsaraz,
Estás formada em ladeira,
Onde mora o meu rapaz,
Onde eu trago a parvoeira.

486 A informante disse que ouviu à Tia Lia, quando eram novas.
487 Defesa é o nome de uma herdade.
488 Refere-se à aldeia de Santo António do Baldio.
489 A informante relatou que a cantiga foi cantada a um rapaz, o Pêra, que tinha duas namoradas.

230
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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RCT 27
Informante: Florinda Maria Fernandes, 70 anos, reformada, analfabeta (sabe ler e escrever), natural de
Monsaraz, residente em Monsaraz. Recolha realizada em Monsaraz, a 19 de Setembro de 2011.

Ó vila de Monsaraz,
Não tens mas devias ter
Um espelho a cada canto
Para o meu amor se ver.

RCT 28a490
Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 83 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 24 de Setembro
de 2011.

Ó Vila Real alegre,


Província de Trás-os-Montes,
Os meus olhos em te não vendo
Parecem duas fontes.

RCT 28b
Informante: Deolinda Caeiro Lopes, 75 anos, pasteleira, analfabeta (sabe ler e escrever), natural de
Outeiro, residente em Outeiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011.

Ó Vila Real alegre,


Província de Trás-os-Montes,
Ó meu amor, em te não vendo
Os meus olhos parecem duas fontes.

RCT 29491
Informante: Rosa Marques Cardoso, 76 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de Motrinos,
residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrinos, a 29 de de Agosto de 2011. Outras Informações:
trabalhadora rural, lavadeira.

Vento norte, vento norte,


Lá prós lados de Reguengos.
Eu nasci com pouca sorte,

490
Em Alcoutim, Mértola e Mexilhoeira Grande (c. de Portimão), foi recolhida foi recolhida uma versão
muiti próxima da que recolhemos:
Ó Vila Real alegre,
Província de Trás-os-Montes,
No dia em que te não vejo,
Meus olhos são duas fontes. (Leite de Vasconcelos [1983], pág. 122).
491 José Leite de Vasconcelos recolheu uma versão quase idêntica (não tem indicação da localidade em que

foi recolhida):
Vento norte, vento norte,
Lá do lado de Reguengos,
Quem nasce p´rà pouca sorte
Toda a vida anda aos morengos. (Leite de Vasconcelos [1983], pág. 98)
Também a versão recolhida por Manuel Joaquim Delgado se aproxima daquela que recolhemos:
Vento norte, vento norte,
Lá do lado de Reguengos,
Quem nasce com pouca sorte,
Toda a vida ‘anda aos morengos’. (Delgado [1955], pág. 46.)

231
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Toda a vida ando aos morengos.492

RCT 30
Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 83 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolhida em Reguengos de Monsaraz, a 24 de Setembro de 2011.

Vila Real alegre,


Província de Trás-os-Montes,
É assim que se persegue,
Bebendo de fonte em fonte.

RCT 31493
Informante: Gertrudes Lameira Rita, 82 anos, analfabeta, reformada (trabalhadora rural), natural de
Carrapatelo, residente em Carrapatelo. Recolha realizada em Carrapatelo, a 9 de Outubro de 2011.

Viva a Póvoa! Viva a Granja!


E vivam os mais povoados!
E vivam os moços solteiros,
Em companha dos casados!

492
A explicação da expressão “andar aos morengos” é dada por Manuel Joaquim Delgado: Andar aos
trambolhões da sorte, andar aos «baldões». (Delgado [1955], pág. 46.) e também por José Leite de
Vasconcelos (cf. Leite de Vasconcelos [1983], pág. 98).
493 Em Moura, foi recolhida uma composição muito similar:

«Viva a Póvoa! Viva a Granja!


‘Vivom nos’ dois povoados!
‘Vivom nos’ moços solteiros
Em companha dos casados!»
(Delgado [1955], pág. 46.)

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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2.2.5. Outras

RO1
Informante: Rosa Marques Cardoso, 76 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de Motrinos,
residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrinos, a 29 de Agosto de 2011. Outras Informações:
trabalhadora rural, lavadeira.

A ausência tem uma filha


Que se chama saudade.
Eu vivo de ti ausente,
Não é de minha vontade.

RO 2
Informante: Joana Valido Cruz, 73 anos, reformada (trabalhador rural), 2º ano de escolaridade, natural
da Caridade, residente na Caridade. Recolha realizada em Caridade, a 5 de Novembro de 2011.

A cepa dá-nos a uva


E a uva dá-nos o vinho.
Comer castanhas assadas
No dia de S. Martinho.

RO 3494
Informante: José Jaleca Dourado, 74 anos, barbeiro, 4º ano de escolaridade, natural de S. Pedro do
Corval, residente em S. Pedro do Corval. Recolha realizada em S. Pedro do Corval, a 3 de Novembro de
2011.

A flor da laranjeira
É parecida com a do tojo.
A noiva é alta de mais
E o noivo o rabo à rojo.

RO 4a
Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 83 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, reformada, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 12 de
Setembro de 2011.

Ai Jesus, valha-me Deus,


Eu não sei aonde estou,
Ou os astros baixaram,
Ou a terra levantou.

RO 3b495

494 De acordo com o informante, a cantiga seguinte foi-lhe cantada por uma rapariga, muito alta, em jeito
de resposta negativa a um pedido de namoro do informante, homem de baixa estatura.
495 O informante conta uma história que ouvia contar a propósito do contexto desta quadra.

Era um senhor, todos os dias de manhã, subia acima duma pedra. E havia muita gente que admirava
porque é que o senhor ia todos os dias fazer ali em cima da pedra. E ele por jeito adivinhava muitas coisas.
E os colegas um dia pensaram:
- Amanhã vamos tramá-lo.

233
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 70 anos, reformado, 4.º ano de escolaridade, natural
do Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 14
de Setembro de 2010.

Ai Jesus, valha-me Deus,


Que eu já não sei aonde estou.
Ou os astros baixaram,
Ou a terra levantou.

RO 4c
Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 60 anos, reformado, 4.º ano de escolaridade, natural
de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em
julho de 2000.

Não sei de onde venho,


Não sei para onde vou,
Ou os astros se baixaram,
Ou a terra se levantou.

RO 5
Informante: Rosa Marques Cardoso, 76 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de Motrinos,
residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrinos, a 29 de Agosto de 2011. Outras Informações:
trabalhadora rural, lavadeira.

Ainda ontem foi domingo,


Já hoje é segunda-feira.
Falta sábado e domingo
Pra ser a semana inteira.

RO 6496
Informante: Manuel Fernando, 78 anos, reformado, analfabeto, natural do Outeiro, residente em Outeiro.
Recolha realizada em, Outeiro, a 22 de Setembro de 2011.

Alegria dos meus olhos,


Eu não sei quem me a tirou.
Alegre que eu era dantes,
Tão triste que agora sou.

Então foram pôr uma folha de papel (espera já está mal), era uma mortalha de papel entre a pedra e o
chão que era para eles verem se realmente ele encontrava a diferença. E ele assim que subiu acima da
pedra, no outro dia, disse: [recita a quadra].
496 Uma versão recolhida em Moura está publicada no Cancioneiro Popular Português:

A alegria dos meus olhos


Eu não sei quem ma tirou.
Tão alegre como eu era,
Tão triste que agora sou… (Vasconcelos [1979], pág. 35)
Em Barrancos, foi recolhida a seguinte composição:
Alegria dos meus olhos
Eu não sei quem ma tirou.
Tão alegre como eu era,
Tão triste que agora sou. (Delgado [1955], pág. 155).

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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RO 7a497
Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 67 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 25 de
Maio de 2011.

A minha mãe é pobrezinha,


Não tem nada pra me dar.
Dá-me beijinhos, coitadinha,
Depois fica a chorar.

RO 7b
Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 82 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 28 de Maio de
2011.

Minha mãe é pobrezinha,


Não tem nada para me dar.
Dá-me um beijo fica a rir
Dá-me dois fica a chorar.

RO 8498
Informante: Rosa Maria Morais Ramalho Cardoso, 73 anos, rural e doméstica, analfabeta, trabalhadora
natural de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 25 de Setembro de 2011.

Aqui está o Pouca Roupa,


Ao pé de quem traja bem.
Eu bem sei que ela é pouca
Mas não deve nada a ninguém.

RO 9499

497 Foi recolhida a seguinte versão, considerada de uso generalizado:


Minha mãe é pobrezinha,
Não tem nada p´ra me dar;
Dá-me beijos, coitadinha,
E, depois, põe-se a chorar. (Delgado [1955], pág. 422).
498 O informante contou que esta composição era sempre cantada em todos os bailes por um senhor que se

achava superior aos outros, a nível social, dirigindo-se àqueles que se vestiam melhor do que ele.
499 No Cancioneiro Popular Português, está registada a seguinte versão recolhida em Lisboa e Mesão Frio:

A rosa para ser rosa,


Deve ser de Alexandria;
A mulher, p’ra ser mulher,
Deve-se chamar Maria. (Leite de Vasconcelos [1975], pág. 592)
Manuel Joaquim Delgado recolheu as seguintes versões:
A rosa para cheirar
Deve ser de Alexandria;
A mulher, p´ra ser ‘fermosa’,
Deve chamar-se Maria. (Sta Bárbara de Padrões – Castro Verde)

A rosa, para ser rosa,


Deve ser d’Alexandria;
A mulher, p’ra ser ‘fermosa’,
Deve se chamar Maria. (Mértola e Santiago do Cacém)

A rosa, para ser rosa,


Deve ser d’Alexandria;

235
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 69 anos, reformado, 4.º ano de escolaridade, natural
de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 12
de Junho de 2009.

A rosa para ser rosa


Tem de ser Alexandria.
O nome para ser bonito
Tem de se chamar Maria.

RO 10a
Informante: Maria do Rosário Neves Alfaiate (Ti Lia), 81 anos, analfabeta, reformada (trabalhadora
rural), natural de Santo António do Baldio, residente em Santo António do Baldio. Recolha realizada em
Santo António do Baldio, a 21 de Outubro de 2011.

A Senhora do Rosário
Tem umas contas de vidro,
Que lhas deu o maranheiro
Que se viu no mar perdido.

RO 10b
Informante: Maria Antónia Valido Lobo (Maria Cantadora), 73 anos, reformada (trabalhadora rural),
analfabeta (sabe ler e sabe assinar), natural da Caridade, residente na Caridade. Recolha realizada em
Caridade, em 7 de Novembro de 2011.

Senhora da Caridade,
Tens umas contas de vidro,
Que lhe deu o marinheiro,
Quando andou no mar perdido.

RO 11
Informante: Deolinda Caeiro Lopes, 75 anos, pasteleira, analfabeta (sabe ler e escrever), natural do
Outeiro, residente em Outeiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011.

As pedras da minha rua


Quem as arrencará?
Se for para ou sério,
A mangar não venhas cá.

RO 12
Informante: Sertório Orti Barona, 73 anos, reformado, 4º ano de escolaridade, natural de S. Pedro do
Corval, residente em S. Pedro do Corval. Recolha realizada em S. Pedro do Corval, a 22 de Outubro de
2011.

Base500 lá, Ti Mari Zuca501,


O meu copo já não tem
Esta cabeça maluca
Só bebendo é que está bem.

A mulher, p´ra ser fermosa,


Deve se chamar Maria. (Delgado [1955], pág. 79).
500
O mesmo que “Vaze”.
501 O informante disse que era o nome da dona de uma taberna.

236
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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RO 13
Informante: Josefa Rodrigues Godinho, 90 anos, 3º ano de escolaridade, reformada, natural da Luz,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 3 de Novembro
de 2011.

Bem me diziam a mim,


Eu não queria acreditar.
Bebia tão poucachinho
Que agora havia de pagar.

RO 14a502
Informante: Iria Morais, 89 anos, reformada, analfabeta, natural de Reguengos de Monsaraz, residente
em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 8 de Fevereiro de 2012.

Ceifeira, qu’andas à calma,


Ceifando o doiro trigo,
Ceifa as penas da minh’alma
E leva-as depois contigo.

RO 14b
Informante: Joaquina Ferreira Valadas, 83 anos, reformada (foi comerciante), analfabeta, natural de
Monsaraz, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 11 de
Setembro de 2010.

Ceifeira, que andas à calma


A ceifar o louro trigo,
Ceifa as penas da minh’alma
E leva-as contigo.

RO 15a503
Informante: Francisca Piteira da Silva Neves, 62 anos, trabalhadora rural / doméstica, analfabeta, natural
de Motrinos, residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrinos, a 29 de Agosto de 2011.

502
A informante cantou a composição.
No concelho de Serpa, em Vila Verde de Ficalho, foi recolhida uma versão:
Ceifeira que andas à calma,
No campo, a ceifar o trigo,
Ceifa as penas que eu padeço;
Ceifa-as… e leva-as contigo. (Leite de Vasconcelos [1975], pág. 221).
Em Salvada e Beja, foi recolhida a seguinte composição:
Ceifeira, que andas à calma
No campo ceifando o trigo,
Ceifa as penas que eu padeço,
Ceifa-as bem, leva-as contigo. (Delgado [1955], pág. 477).
503 Em Castro Verde, foi recolhida uma versão:

Dá-me uma gotinha de água,


Dessa que eu ouço correr;
Entre silvas e mentrastos
Alguma pinga há-de haver! (Leite de Vasconcelos [1979], pág. 103).
Manuel Joaquim Delgado recolheu a seguinte versão, em Barrancos:
Dá-me uma gotinha d’água
Dessa qu’eu oiço correr.
Entre pedras e pedrinhas,
Alguma gota há-de haver. (Delgado [1955], pág. 393).

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Dá-me uma pinguinha d’água,


Dessa que eu ouço correr.
Entre silvas e mentrastes,
Alguma pinga há-de haver.

RO 15b
Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 83 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,
residente em Reguengos de Monsaraz, Recolha em Reguengos de Monsaraz, a 11 de Outubro de 2011.

Dá-me uma pinguinha d’água,


Dessa que eu ouço correr.
Entre silvas e mentrastes,
Alguma pinga há-de ver.

RO 16
Informante: Inês Maria Godinho Quintas, 80 anos, reformada (trabalhadora rural), analfabeta, natural
de Caridade, residente em Perolivas. Recolha realizada em Perolivas, a 8 de Novembro de 2011.

Deiam vivas, deiam vivas


A quem agora chegou.
Estava pra me ir embora,
Agora já não vou.

RO 17
Informante: Mariana Rosa Carvalho Ramos, 71 anos, reformada (cabeleireira), 1º ano de escolaridade,
natural de Santo António do Baldio, residente em S. Pedro do Corval. Recolha realizada em S. Pedro do
Corval, a 3 de Novembro de 2011.

De lenço branco ao pescoço,


É sinal de pouco riso.
Mandaste cá vir um moço
Sem agora ser preciso.

RO 18
Informante: Rosa Maria Morais Ramalho Cardoso, 73 anos, rural e doméstica, analfabeta, trabalhadora
rural e doméstica, natural de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 25 de
Setembro de 2011.

Dentro da casca da noz,


Está uma grande morada.
Levanta mais essa voz
Que eu já te não oiço nada.

RO 19504

504
A quadra foi cantada pelo informante. Este recordou que, quando foi assentar praça, esta foi a cantiga
que cantaram toda a noite.
Em Tolosa (c. de Nisa), foi recolhida uma versão:
Lá vem o comboio à ponta,
Lá vem ele a assobiar;
Lá vem o ‘mê’ amorzinho:
Vem da vida militar. (Leite de Vasconcelos [1975], pág. 277).

238
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Informante: António da Silva Fialho (Taranta), 81 anos, reformado (trabalhador rural), 1º ano de
escolaridade, natural de Caridade, residente em Caridade. Recolha realizada em Caridade, a 5 de
Novembro de 2011.

E lá vai o camboio, lá vai,


E lá vai o camboio a assobiar.
Leva a força na subida,
O meu amor pra vida militar.

RO 20
Informante: José Godinho, 78 anos, reformado, analfabeto, natural da Caridade, residente em S. Pedro
do Corval. Recolha realizada em 22 de Outubro de 2011.

Em companha dos amigos,


É que ê gosto de estar.
Eles sempre devem ter
Um bom conselho pra dar.

RO21
Informante: Domingos Falardo Amieira, 71 anos, reformado, analfabeto, natural de S. Pedro do Corval,
residente em S. Pedro do Corval. Recolha realizada em S. Pedro do Corval, a 23 de Outubro de 2011.

E o eucalitro é bem alto


E co’as folhas no are.
Esses mocinhos bonitos
Já dão em faltare.

RO 22505
Informante: Maria do Rosário Neves Alfaiate (Ti Lia), 81 anos, reformada (trabalhadora rural),
analfabeta, natural de Santo António do Baldio, residente em Santo António do Baldio. Recolha realizada
em Santo António do Baldio, a 10 de Outubro de 2011.

É quase de admirar
Combinar-se tanta gente,
Ir à ilha do altar
Uma nação tão valente.

RO 23506
Informante: João Veva Rocha, 71 anos, reformado (antigo sargento-chefe GNR), 9.º ano de escolaridade,
natural de Capelins - Alandroal, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos
de Monsaraz, a 16 de Setembro de 2010.

És clara como o leite,


E o leite também se bebe,
Mal empregada sujeita
505
A informante explicou que a cantiga é relativa ao Carrapatelo, aldeia pequena.
506 O informante contou que a cantiga foi dedicada a uma que era assim um bocadinho alvarenga que
estava presente num baile.
Em Vila Nova da Baronia, foi recolhida a seguinte versão:
És clara como o leite,
Corada como o tijolo;
Mal empregada menina
Ser ‘furada do miolo’. (Delgado [1955], pág. 399).

239
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Teres a cabeça tão leve.

RO 24
Informante: Gertrudes Lameira Rita, 82 anos, reformada (trabalhadora rural), analfabeta, natural de
Carrapatelo, residente em Carrapatelo. Recolha realizada em Carraatelo, a 9 de Outubro de 2011.

Esse teu cabelo às ondas,


Penteado em viés.
Enganas qualquer sujeito,
Não sabendo quem tu és.

RO 25507
Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 59 anos, doméstica, 4.º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em 2003.

Está a chegar a Primavera,


É tempo de rosinhas.
Tenho estado à tua espera
Já dizia que não vinhas.

RO 26508
Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 65 anos, reformada, 4.º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 13 de
Junho de 2009.

Esta rua cheira a sangue,


Quem seria que sangrou?
Foi a mãe do meu amor,
Com pancadas que levou.

RO 27509
Informante: José Jaleca Dourado, 74 anos, barbeiro, 4º ano de escolaridade, natural de S. Pedro do
Corval, residente em S. Pedro do Corval. Recolha realizada em S. Pedro do Corval, a 3 de Novembro de
2011.

Eu andava à tu cata,
Ainda bem que te encontri.
507 A informante relatou que a cantiga foi cantada à porta de casa da sua sogra, dedicada ao seu marido,
quando regressou da Guerra do Ultramar (nessa altura, ainda não namoravam). Algumas pessoas da aldeia,
vizinhos, familiares e amigos, juntaram-se e fizeram uma espécie de arraial, para dar as boas-vindas a
Serafim Amieira.
508
No Cancioneiro Popular Português, encontra-se uma versão recolhida em Rapa (c. de Celorico da
Beira):
Esta rua cheira a sangue,
Alguém nela se sangrou.
Foi uma moça solteira
Duma sova que levou. (Leite de Vasconcelos [1979pág. 348).
Manuel Joaquim Delgado recolheu uma versão em Barrancos:
Esta rua cheira a sangue,
Eu não sei quem se matou.
Foi a mãe do meu amor,
Da janela se atirou. (Delgado [1955], pág. 191).
509 Segundo o informante, a cantiga foi cantada por um rapaz dos Sacaios, que não tinha muito jeito para

cantigas. Ri-se da cantiga que recitará, dizendo que está mal feita.

240
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Ainda bem que cá te acho,


Ainda bem que cá te achi.

RO 28
Informante: Deolinda Caeiro Lopes, 75 anos, pasteleira, analfabeta (sabe ler e escrever), natural de
Outeiro, residente em Outeiro. Recolha é realizada em Telheiro a 23 de Setembro de 2011.

Eu daqui pró futuros


Já não posso abrir a boca.
O ramo onde eu estou seguro
Está preso por coisa pouca.

RO 29
Informante: Mariana dos Santos Mendes, 76 anos, reformada, (trabalhadora rural), 3º ano de
escolaridade, natural de Santo António do Baldio, residente em Santo António do Baldio. Recolha
realizada em Santo António do Baldio, a 10 de Outubro de 2011.

Eu gostava de ir à tropa
E ser lá rancheiro-mor.
Toque mais uma peçota,
Ó amigo Belchior.

RO 30
Informante: António Jacinto Fialho Guerra (Ti Guerra), 81 anos, reformado (trabalhador da Câmara
Municipal de Reguengos de Monsaraz), 3º ano de escolaridade, natural da Caridade, residente na
Caridade. Recolha realizada em Caridade, a 5 de Novembro de 2011.

Eu sou o pirata
Da perna de pau,
Olho de vidro,
De cara de mau.

RO 31
Informante: Deolinda Caeiro Lopes, 75 anos, pasteleira, analfabeta (sabe ler e escrever), natural do
Outeiro, residente em Outeiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011.

Eu tenho à minha porta


O que tu não tens à tua,
Um vaso de violetas
Que dá cheiro a toda a rua.

RO 32a510
Informante: Raimundo Luís Godinho Caeiro, 68 anos, agricultor, 9º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 4 de
Junho de 2011.

Já chove, já está chovendo,

510
Em Cancioneiro Popular Português, está publicada uma versão recolhida na Sertã:
Já chove, já quer chover,
Já correm os regatinhos,
Já se alegram os campos verdes,
Já cantam os passarinhos. (Leite de Vasconcelos [1975], pág. 16)

241
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Já correm os barquinhos,
Já os campos estão alegres,
Já cantam os passarinhos.

RO 32b511
Informante: Inácia da Conceição Janeiro, 68 anos, doméstica, 9º ano de escolaridade, natural de
Perolivas, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 25 de
Novembro de 2011.

Já chove, já ‘stá chovendo,


Já correm os barranquinhos,
Já os campos estão alegres,
Já cantam os passarinhos.

RO 33
Informante: Manuel Ramalho Furão, 75 anos, reformado (trabalhador rural / tractorista), 4º ano de
escolaridade, natural de S. Marcos do Campo, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada
em Reguengos de Monsaraz, a 23 de Setembro de 2011.

Já corri o mar à roda,


Nas asas de uma sardinha.
Ó moças, não acreditem,
Que isto é mentira minha.

RO 34
Informante: Rosa Maria Morais Ramalho Cardoso, 73 anos, trabalhadora rural e doméstica, analfabeta,
natural de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011.

Já vi minha mãe zangada,


Aos pés da Virgem Maria.
Estava uma santa escutando
O que outra santa dizia.

RO 35512
Informante: Luís Lopes dos Santos (Branquinho), 84 anos, reformado (sapateiro), 4º ano de escolaridade,
natural de Perolivas, residente em Gafanhoeiras. Recolha realizada em Perolivas, a 7 de Novembro de
2011.

Já um dos meus avôs bobia


Mais que o outro meu avô.
O meu pai até se lembia
Vejam como é que eu sou.

RO 36513
Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 83 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 10 de Setembro
de 2011.

511
A informante referiu que cantavam esta composição quando começava a chover, durante o trabalho do
campo.
512
O informante contou que a cantiga foi cantada por um homem que andava sempre embriagado.
513 A informante disse que a composição é uma “patranha”.

242
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Lá vai uma, lá vão duas,


Lá vão três penas ao ar,
Uma é minha, outra é tua,
E outra é de quem a apanhar.

RO 37514
Informante: Rosa Marques Cardoso, 76 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de Motrinos,
residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrinos, a 29 de Agosto de 2011. Outras Informações:
trabalhadora rural, lavadeira.

Liberdade, liberdade,
Quem a tem chama-lhe sua.
Eu não tenho a liberdade
De prantar um pé na rua.

RO 38a
Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 65 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 12 de
Junho de 2009.

Maria, tu és a lima
E o teu pai é um limão.
A tua mãe é a laranja,
Ó que linda geração.

RO 38b
Informante: Joaquina Ferreira Valadas, 83 anos, reformada (foi comerciante), analfabeta, natural de
Monsaraz, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 11 de
Setembro de 2010.

Maria, tu é a lima,
O teu pai é o limão,
A tua mãe é tingirina,
Ó que linda geração.

RO 39a515
Informante: Inácia Martins dos Santos, 86 anos, reformada, 3 º ano de escolaridade, natural de São
Marcos do Campo, residente em São Marcos do Campo. Recolha realizada em São Marcos do Campo, a
7 de Dezembro de 2011.

- Menina, que sabe ler,


Faça-me esta conta bem:
Um moio de trigo limpo
Quantas meias quartas tem?

(…)

514 Segundo a informante, a cantiga era cantada, nos trabalhos do campo, por uma rapariga cujo pai a proibia
de namorar com um rapaz de quem não gostava e não a deixava sair, para se divertir.
515
Há uma versão idêntica à quadra inicial, recolhida em Beja, tendo em conta que a composição tem uma
resposta, como se pode verificar nas duas outras versões que recolhemos (Delgado [1955], pág. 419).

243
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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RO 39b516
Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 60 anos, reformado, 4.º ano de escolaridade, natural
de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 23
de junho de 2000.

- Menina, que sabe ler,


Faça-me estas contas bem:
Um moio de trigo limpo
Quantas meias quartas tem?

- Um moio de trigo limpo


Vê lá bem não tenha joio,
Quatrocentas e oitenta
Meias partes tem um moio.

RO 39c
Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 71 anos, reformado, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 23 de
Novembro de 2011.

- Menina, que sabes tanto,


Faça-me estas contas bem:
Um moio de trigo limpo
Quantas meias quartas tem?

- Falas-me em trigo limpo,


Vê lá bem não tenha joio.
Quatrocentas e oitenta meias
Quartas tem o moio.

RO 40517

516 No Cancioneiro Popular Português, existe uma versão recolhida:


- Menina, que sabe ler,
Faça-m’esta conta bem:
Um moio de trigo limpo
Quantas meias quartas tem?

- Tu falas-me em trigo,
Quem sabe se ele tem joio?
Quatrocentos e oitenta
Meias quartas tem um moio. (Leite de Vasconcelos [1975], pág. 182).
517 Foi recolhida uma versão no Porto:

- Menina, que tanto sabe,


Responda-me a esta pergunta.
Que ciência tem o mar.
Que tanta água em si ajunta?

- A ciência que tem o mar tem


Não é coisa de pasmar:
Não rio, nem regato
Que não vá ao mar parar. (Leite de Vasconcelos [1975], pág. 182).
Em Cuba, Beja e Vale de santiago, Odemira, foi recolhida uma versão da quadra inicial:
Menina, que tanto sabe,

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Informante: Mariana Rosa Carvalho Ramos, 71 anos, reformada (cabeleireira), 1º ano de escolaridade,
natural de Santo António do Baldio, residente em S. Pedro do Corval. Recolha realizada em S. Pedro do
Corval, a 3 de Novembro de 2011.

- Menina, que tanto sabes,


Responde-me a esta pergunta:
Que ciência tem o mar
Que tanta água no meio ajunta?

- A ciência que o mar tem


Não é coisa de pasmar.
Não há regato nem rio
Que ô mar não vaia parar.

RO 41
Informante: Manuel Fernando, 78 anos, reformado, analfabeto, natural do Outeiro, residente em Outeiro.
Recolha realizada em, Outeiro, a 22 de Setembro de 2011.

Minha bela mocidade,


Minha mocidade bela,
Às vezes, dá-me vontade
De deitar luto por ela.

RO 42518
Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 65 anos, reformada, 4.º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz,, a 11 de
Junho de 2009.

Minha mãe da minha alma,


Meu pai do coração,
Duzentos anos que eu viva,
Não lhe pago a criação.

RO 43519

Responda a esta pergunta:


Que ciência tem o mar
Que tantíssima água ajunta? (Delgado [1955], pág. 420).
A quadra de reposta foi recolhida em Beja:
A ciência que o mar tem
‘Ê’ le vou desplicar’:
Que não há rio nem regatinho
Que ao mar não vá parar. (Delgado [1955], pág. 361).
518 José Leite de Vasconcelos recolheu uma versão:

Ó minha mãe da minha alma,


Ó pai do coração,
Por muitos anos que viva
Não vos pago a criação. (Leite de Vasconcelos [1979], pág. 124).
519 Foi recolhida uma versão em Durães (c. de Barcelos):

Minha mãe, p’ra me casar,


Prometeu-me três ovelhas:
Uma manca, outra cega,
Uma mona, sem orelhas. (Leite de Vasconcelos [1979], pág. 379).
Em Junjeiros (Aljustrel), Manuel Joaquim Delgado recolheu a seguinte versão:
Minha mãe, para méu casar,

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Informante: Rosa Marques Cardoso, 76 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de Motrinos,
residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrinos, a 29 de Agosto de 2011. Outras Informações:
trabalhadora rural, lavadeira.

Minha mãe, pra m’eu casar


Prometeu-me três ovelhas:
Uma cega, outra coxa,
Outra não tinha orelhas.

RO 44
Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 65 anos, reformada, 4.º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 11 de
Junho de 2009.

Minha mãe da minha alma,


Meu pai do coração,
Duzentos anos que eu viva,
Não lhe pago a criação.

RO 45a
Informante: Joaquim José Rosado Leal (conhecido como Ferrador, alcunha de família), 74 anos,
reformado (trabalhador rural e funcionário da Câmara Municipal de Reguengos de Monsaraz), 3º ano de
escolaridade, natural de Campinho, residente em Campinho. Recolha realizada em Campinho, a 9 de Abril
de 2011.

Não é a aceifa que custa


E a aceifa não é não.
É a erva unha-gata
E o cardo beija-mão.

RO 45b
Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 71 anos, reformado, 4.º ano de escolaridade, natural
de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 3
de Junho de 2011.

Não é a aceifa que custa,


Nem a calminha do Verão.
É a erva unha-gata
É o cardo beija-mão.

RO 45c
Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 70 anos, reformado, 4.º ano de escolaridade, natural
de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Campinho, a 9 de Abril de
2011.

Não é a aceifa que custa,


Nem o calor do Verão.
É a erva unha-gata 520

Prometeu-me três ovelhas:


Uma cega, outra coxa
E outra trouxa das orelhas. (Delgado [1955], pág. 492).
520 Erva daninha com muitos picos que parecem agulhas, segundo as palavras do informante. As mulheres

punham cana nos dedos para os proteger, durante a ceifa.

246
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Mais o cardo beija-mão.

RO 45d521
Informante: Iria Morais, 89 anos, reformada, analfabeta, natural de Reguengos de Monsaraz, residente
em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 8 de Fevereiro de 2012.

Não é a aceifa que mata,


Nem os calores do Verão,
É a erva unha-gata
Mais o cardo beija-mão.

RO 46
Informante: José Godinho, 78 anos, reformado, analfabeto, natural da Caridade, residente em S. Pedro do
Corval. Recolha realizada em 22 de Outubro de 2011.

No dia q’me casei,


Ia todo preparado,
Com um fato mê calçê
Todo sujo e esfarrapado.

RO 47
Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 69 anos, reformado, 4.º ano de escolaridade, natural
de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 17
de outubro de 2009.

Ó águia, que vais tão alta,


Voando de pólo em pólo,
Fazia-me tanta falta,
Minha mãe me trouxe ao colo.

RO 48
Informante: Rosário Pinto Ramalho (Bisau), 77 anos, reformada (trabalhadora rural), 3º ano de
escolaridade, natural de Santo António do Baldio, residente em Santo António do Baldio. Recolha
realizada em Santo António do Baldio, a 3 de Novembro de 2011.

Ó alegria do mundo,
Diz aonde tens andado.
Eu tenho corrido tudo
E não te tenho encontrado.

RO 49522

521
A informante cantou a composição.
José Leite de Vasconcelos recolheu a seguinte versão:
Não é a ‘acêfa’ que mata,
Nem os calores do Verão:
É a erva-unha gata
E o cardo beija-mão. (Leite de Vasconcelos [1975], pág. 222).
522 Versão idêntica foi recolhida em Beja, Salvada, Barrancos, Cuba, Mina de S. Domingos e Vila Verde

de Ficalho (cf. Delgado [1955], pág. 433).


Em Avis, foi recolhida a seguinte versão:
Ó Ana, três vezes Ana,
Maria só uma vez,
Vale mais uma vez Maria

247
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Informante: Rosa Maria Morais Ramalho Cardoso, 73 anos, trabalhadora rural e doméstica, analfabeta,
natural de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011.

Ó Ana, três vezes Ana,


Maria só uma vez,
Vale mais uma Maria
Do que as Anas todas três.

RO 50
Informante: Rosa Maria Morais Ramalho Cardoso, 73 anos, trabalhadora rural e doméstica, analfabeta,
natural de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011.

Ó António, maçã verde,


Caído da macieira.
(…)

RO 51523
Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 83 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz , a 10 de Setembro
de 2011.

Oh, que ranchinho de moços!


Oh, que velha mocidade!
São criados numa aldeia,
Parecem duma cidade.

RO 52
Informante: Rosa Marques Cardoso, 76 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de Motrinos,
residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrinos, a 29 de Agosto de 2011. Outras Informações:
trabalhadora rural, lavadeira.

O meu peito é sala escura,


Onde mora a solidão.
Seja noite ou seja dia,
Estou sempre na escuridão.

RO 53a
Informante: Raimundo Luís Godinho Caeiro, 68 anos, agricultor, 9º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 4 de
Junho de 2011.

(...)
Ó minha mãe, minha amada,

Do que as Anas todas três. (Leite de Vasconcelos [1975], pág. 601)


523 A informante explica as circunstâncias de enunciação da cantiga: nesse dia, à tarde, na rua: encontrou
um grupo de rapazes com cerca de 15 anos. Encantada, achando-os muito bonitos e bem arranjados, não
resistiu e cantou-lhes a cantiga ao passar por eles. Eles reagiram, positivamente, e pediram-lhe que ela a
repetisse.
Foi recolhida a seguinte versão em Beja e Vila Nova da Baronia:
Oh, que ranchinho de moças!
Oh, que bela mocidade!
São criadas numa aldeia,
Parecem duma cidade. (Delgado [1955], pág. 441)

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Quem tem uma mãe tem tudo.


Quem não tem mãe não tem nada.

RO 53b
Informante: Rosa Marques Cardoso, 76 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de Motrinos,
residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrinos, a 29 de Agosto de 2011. Outras Informações:
trabalhadora rural, lavadeira.

Ó minha mãe, minha mãe,


Ó minha mãe, minha adorada,
Quem tem uma mãe tem tudo,
Quem não tem mãe não tem nada.

RO 53c524
Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 65 anos, reformada, 4.º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 11 de
Junho de 2009.

Ó minha mãe, minha mãe,


Ó minha mãe, minha amada,
Quem tem uma mãe tem tudo,
Quem não tem mãe não tem nada.

Recitou versão idêntica: Maria Vitória de Sousa Serrano, 72 anos, reformada (doméstica), analfabeta,
natural de Moura, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a
23 de Setembro de 2011.

RO 54
Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 71 anos, reformado, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 9 de
Outubro de 2011.

Ó minha mãe, minha mãe,


Ó minha mãe, minha santa.
Uma mãe é sempre emparo
Dum filho que chora ou canta.

RO 55
Informante: Maria do Rosário Neves Alfaiate (Ti Lia), 81 anos, reformada (trabalhadora rural),
analfabeta, natural de Santo António do Baldio, residente em Santo António do Baldio. Recolha realizada
em Santo António do Baldio, a 21 de Outubro de 2011.

O meu pai já morreu,


A minha mãe é viuvinha,
Agora vou ser soldado
Que triste sorte esta minha.

524
Versão igual foi recolhida em Beja, Ferreira do Alentejo e Alvalade (cf. Delgado [1955], pág. 438).
José Leite de Vasconcelos recolheu uma versão em Tolosa (c. de Nisa):
Ó minha mãe, minha mãe,
Ó minha mãe, minha amada,
Quem tem uma mãe tem tudo,
Quem a não tem, não tem nada. (Leite de Vasconcelos [1979], pág. 124).

249
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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RO 56
Informante: Catarina Freira Capucho, 68 anos, reformada (funcionária da Câmara Municipal de
Reguengos de Monsaraz – foi contínua na escola da aldeia), analfabeta (sabe assinar, sabe ler pouco e
escrever), natural de Campinho, residente em Campinho. Recolha realizada em Campinho, a 9 de Abril de
2011.

Ó prima, ó rica prima,


Ó prima do coração,
És a prima mais estimada
Que eu tenho na geração.

RO 57525
Informante: Deolinda Valadas Infante Cardoso, 61 anos, doméstica, 6º ano de escolaridade, natural de
Outeiro, residente em Outeiro. Recolha realizada em Outeiro, a 21 de Novembro de 2011.

Os cinco sentidos

O primeiro sentido é ver.


Ver-te é qu’é o meu desejo.
Prá onde quer qu’eu ôlho,
Sempre parece que te vejo.

O segundo, ouvir.
Ê de ti não oiço nada.
Mas, se mal de ti me dizem,
Fica-ma a cor mudada.

O terceiro, cheirar
Um raminho de alecrim.

525
Uma versão de “Os Cinco Sentidos do Amor” foi recolhida em Penafiel:
O primeiro é ‘ver’
Aquilo que mais desejo:
Quando olho para a porta,
Sempre cuido que te vejo.

O segundo é ‘ouvir’
As vozes da prenda amada:
Quando ouço falas tuas,
Fico muito descansada.

O terceiro é ‘cheirar’;
Meu raminho de alecrim,
Só peço que não me deixes,
Nem que te apartes de mim.

E o quarto é ‘gostar’,
Mas que gostos posso ter?
Ausente do meu amor,
Melhor me fora morrer.

O quinto é ‘apalpar’,
Nem apalpo, nem padeço:
Também quero que me digas
Se eu acaso te mereço. (Leite de Vasconcelos [1975], pág. 339).

250
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Em vivendo de ti ausente,
São desgostos para mim.

Quarto, gostar.
Que gostos posso eu ter?
Em vivendo de ti ausente,
Mais me valia morrer.

Quinto, apalpar,
Só em ti apalparei.
Se lograr os teus carinhos,
Uma coisa qu’eu cá sei.

RO 58526
Informante: Inês Maria Godinho Quintas, 80 anos, reformada (trabalhadora rural), analfabeta, natural
de Caridade, residente em Perolivas. Recolha realizada em Perolivas, a 8 de Novembro de 2011.

Ó Rosa, tu és a rosa,
Ó Rosa, tu és assim.
Tu és a flor mais bonita
Que há neste jardim.

RO 59a
Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 83 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,
residente em Reguengos de Monsaraz, Recolha em Reguengos de Monsaraz, a 11 de Outubro de 2011.

O sol é que alegra o dia,


Pela manhã quando nasce.
Ai de mim o que seria,
Se o sol um dia faltasse!

RO 59b527
Informante: José Godinho, 78 anos, reformado, analfabeto, natural da Caridade, residente em S. Pedro
do Corval. Recolha realizada em 22 de Outubro de 2011.

O sol é que alegra o dia,


Pela manhã quando nasce.
Ai de nós o que seria,
Se o sol um dia faltasse!

RO 60528
Informante: Florinda Maria Fernandes, 70 anos, reformada, analfabeta (sabe ler e escrever), natural de
Monsaraz, residente em Monsaraz. Recolha realizada em Monsaraz, a 13 de Setembro de 2011.

Pus-me a chorar saudades,

526 A informante explicou que cantou a composição à irmã.


527
Versão idêntica foi recolhida em Quintos (cf. Delgado [1955], pág. 502).
528 José Leite de Vasconcelos recolheu a seguinte versão:

Pus-me a chorar ‘soidades’


Ao pé duma fonte fria;
Mais choravam os meus olhos
Que água da fonte corria. (Évora; Moura) (Leite de Vasconcelos [1979], pág. 30).

251
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Ao pé de uma fonte, um dia.


Choravam mais os meus olhos
Que a água da fonte corria.

Recitou versão idêntica: Manuel Fernando, 78 anos, reformado, analfabeto, natural do Outeiro, residente
em Outeiro. Recolha realizada em, Outeiro, a 22 de Setembro de 2011.

RO 61a
Informante: Rosa Marques Cardoso, 76 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de Motrinos,
residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrinos, a 29 de Agosto de 2011. Outras Informações:
trabalhadora rural, lavadeira.

Pus-me a contar às avessas,


Numa pedra ao inviés:
Dezasseis, quinze e catorze,
Treze, doze, onze e dez.

RO 61b529
Informante: Maria Margarida Couto Lopes, 72 anos, reformada (trabalhadora rural), 4º ano de
escolaridade, natural de Reguengos de Monsaraz, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha
realizada em Reguengos de Monsaraz, a 6 de Novembro de 2011.

Pus-me a contar às avessas,


Na pedra duma coluna:
Nove, oito, sete, seis,
Cinco, quatro , três, dois, uma.

RO 62a
Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 65 anos, reformada, 4.º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 11 de
Junho de 2009.

Quando eu era pequenina,


Ainda não comia pão,
Davam-me as moças beijinhos
E agora já não mos dão.

RO 62b
Informante: Rosário Pinto Ramalho (Bisau), 77 anos, reformada (trabalhadora rural), 3º ano de
escolaridade, natural de Santo António do Baldio, residente em Santo António do Baldio. Recolha
realizada em Santo António do Baldio, a 3 de Novembro de 2011.

Quando eu era pequenina,


Era rentinha do chão.
Davam as moças beijinhos,
Agora já não os dão.

529
Encontra-se publicada uma versão recolhida Mesão Frio, em Cancioneiro Popular Português:
Pus-me as contar às avessas,
As pedras dessa coluna:
Nove e oito, sete e seis,
Cinco, quatro, três, dois, uma. (Leite de Vasconcelos [1975], pág. 201).

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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RO 63
Informante: Rosa Marques Cardoso, 76 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de Motrinos,
residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrinos, a 29 de Agosto de 2011. Outras Informações:
trabalhadora rural, lavadeira.

Quando prás mais é sol posto,


Já pra mim é o escurecer.
Todas fazem o seu gosto,
Só o meu não pode ser.

RO 64a
Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 83 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 11 de Outubro de
2011.

Quinta-feira da Ascensão,
Toda a erva tem virtude.
Queres amar meu coração
(...)

RO 64b530
Informante: Maria Margarida Couto Lopes, 72 anos, reformada (trabalhadora rural), 4º ano de
escolaridade, vatural de Reguengos de Monsaraz, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha
realizada em Reguengos de Monsaraz, a 6 de Novembro de 2011.

Quinta-feira da Ascensão,
Toda a erva tem virtude.
Quis amar teu coração,
Fiz diligências, não pude.

RO 64c531
Informante: Maria Antónia Valido Lobo (Maria Cantadora), 73 anos, reformada (trabalhadora rural),
analfabeta (sabe ler e sabe assinar), natural da Caridade, residente na Caridade. Recolha realizada em
Caridade, a 7 de Novembro de 2011.

Quinta-feira da Ascensão,
Toda a erva tem virtude.
Quis lograr tê coração,
Fiz diligências, nã pude.

RO 65
Informante: Maria Antónia Valido Lobo (Maria Cantadora), 73 anos, reformada (trabalhadora rural),
analfabeta (sabe ler e sabe assinar), natural da Caridade, residente na Caridade. Recolha realizada em
Caridade, a 7 de Novembro de 2011.

530
Em Évora, foi recolhida uma versão:
Quinta-feira da Ascensão
As flores têm virtudes;
Quis amar teu coração,
Fiz empenho mas não pude. (Leite de Vasconcelos [1983], pág. 312).
531 Manuel Joaquim Delgado recolheu uma versão em Beja:

Quinta-feira dÁscensão
Toda a flor tem virtude.
Quis lograr teu coração,
Fiz diligências, não pude. (Delgado [1955], pág. 129)

253
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Quinta-feira da Ascensão,
Vão as moças à marcela,
Umas de blusa encarnada
E outras de saia amarela.

RO 66
Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 71 anos, reformado, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 19 de
Novembro de 2011.

Quinta-feira da Ascensão,
Vão as moças à marcela.
Ainda torna a rebentar,
Se a colheres com cautela.

RO 67532
Informante: Catarina Freira Capucho, 68 anos, reformada (funcionária da Câmara Municipal de
Reguengos de Monsaraz – foi contínua na escola da aldeia), analfabeta (sabe assinar, sabe ler pouco e
escrever) natural de Campinho, residente em Campinho. Recolha realizada em Campinho, a 9 de Abril de
2011.

Se eu soubera quem tu eras


Ou quem tu vinhas a sere,
Nunca te teria dado
O meu génio a conhecere.

RO68533
Informante: Iria Morais, 89 anos, reformada, analfabeta, natural de Reguengos de Monsaraz, residente
em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 8 de Fevereiro de 2012.

Se eu soubesse ler,
Escrevia papel de prata.
Escrevia-te em gratidão,
Como a tua mão me trata.

RO 69534

532
Manuel Joaquim Delgado recolheu as seguintes versões:
S’eu soubesse quem tu eras,
Ou quem haveras de ser,
Nunca t’eu teria dado
Meus segredos a saber. (Colos; Odemira; Mina da Juliana, Aljustrel; Mértola; Vale de Santiago,
Odemira, etc.)

S’eu soubesse quem tu eras,


Ou quem havias de ser,
Nunca t’eu teria dado
O meu rosto a conhecer. (Ferreira do Alentejo) (Delgado [1955], pág. 456).
533 A informante canta a composição.
534 Em Cancioneiro Popular Português, está publicada uma versão:

Se eu soubera que, voando,


Alcançava o que eu desejo,
Mandava fazer as asas,
Que as penas são de sobejo. (Leite de Vasconcelos [1979], pág. 63)

254
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 69 anos, reformado, 4.º ano de escolaridade, natural
de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 11
de Junho de 2009.

Se eu soubesse que, voando,


Alcançava o que eu desejo,
Mandava formar as asas
Nas penas em que me vejo.

RO 70535
Informante: Maria do Rosário Neves Alfaiate (Ti Lia), 81 anos, reformada (trabalhadora rural),
analfabeta, natural de Santo António do Baldio, residente em Santo António do Baldio. Recolha realizada
em Santo António do Baldio, a 10 de Outubro de 2011.

Sou um gajo cavalheiro,


Minha ideia é que me insina.
Tu herdaste o mineiro
E a tua filha a concertina.

RO 71536
Informante: João Veva Rocha, 71 anos, reformado (antigo sargento-chefe GNR), 9.º ano de escolaridade,
natural de Capelins - Alandroal, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos
de Monsaraz, a 16 de Setembro de 2010.

Tanta areia na cabeça


Nunca julguei que tivesses.
Elas não te ligam meia
E tu parvo não no conheces.

RO 72a
Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 69 anos, reformado, 4.º ano de escolaridade, natural
de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 4
de julho de 2009.

Tenho pena de quem pena,


Pena de quem penas tem.
Tenho penas de mim mesmo
Que peno mais que ninguém.

RO 72b
Informante: Deolinda Caeiro Lopes, 75 anos, pasteleira, analfabeta (sabe ler e escrever), natural do
Outeiro, residente em Outeiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011.

Tenho pena que quem pena,


Pena de quem penas tem.
Tenho pena de mim mesma
Que pena mais que ninguém.

535 Deacordo com o informante, um rapaz dos Montes Juntos cantou a cantiga a uma rapariga da aldeia.
536 Oinformante explicitou que havia um indivíduo na sua terra que dizia que namorava com umas poucas
de raparigas mas era mentira, ele não namorava com ninguém e um dia ele estava dizendo isso junto de
alguns rapazes e então há um que lhe diz: [a cantiga].

255
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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RO 73
Informante: Deolinda Caeiro Lopes, 75 anos, pasteleira, analfabeta (sabe ler e escrever), natural do
Outeiro, residente em Outeiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011.

Tenho pena, vivo triste,


Não posso viver alegre.
Tenho o coração mais negro
Que a tinta com que se escreve.

RO 74537
Informante: João Veva Rocha, 71 anos, reformado (antigo sargento-chefe GNR), 9.º ano de escolaridade,
natural de Capelins - Alandroal, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos
de Monsaraz, a 16 de Setembro de 2010.

Tens em casa uma amiga,


Não há meio de desovar.
Pranta-lhe um pé na barriga,
Se queres ver enquanto ela pare.

RO 75538
Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 82 anos, reformada, 2.º ano de escolaridade, natural de Campinho,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 14 de Setembro
de 2010.

Toda a vida fui pastor,


Toda a vida guardei gado.
Tenho uma cova no peito
De me encostar ao cajado.

RO 76539
Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 69 anos, reformado, 4.º ano de escolaridade, natural
de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 11
de Junho de 2009.

Trinta dias tem Novembro,


Abril, Junho e Setembro;

537 O informante explicou o contexto de enunciação da composição: O Sr. José Carmona tinha a mulher
grávida e um dia, na taberna, estava reclamando e dizia que a mulher nunca mais pare e há outro indivíduo
que lhe diz assim: [a composição].
538 Uma versão muito próxima foi recolhida no Algarve:

Toda a vida fui pastor


Toda a vida guardei gado,
Tenho uma chaga no peito
De me encostar ao cajado. (Leite de Vasconcelos [1975], pág. 248).
Manuel Joaquim Delgado recolheu uma versão, que afirma ser de uso generalizado:
Toda a vida fui pastor,
Toda a vida guardei gado.
Tenho uma nódoa no peito
De m’encostar ao cajado. (Delgado [1955], pág. 324).
539 José Leite de Vasconcelos recolheu uma versão:

Trinta dias têm Novembro,


Abril, Junho e Setembro;
Vinte e oito terá um
E os mais a trinta e um. (Leite de Vasconcelos [1983], pág. 247).

256
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Vinte e oito só há um
E o resto são trinta e um.

RO 77540
Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 69 anos, reformado, 4.º ano de escolaridade, natural
de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 12
de Junho de 2009.

Triste só, triste me vejo,


Triste sem ter alegria.
Triste sou em considerar
Que alegre fui algum dia.

RO 78
Informante: Maria Margarida Couto Lopes, 72 anos, reformada (trabalhadora rural), 4º ano de
escolaridade, natural de Reguengos de Monsaraz, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha
realizada em Reguengos de Monsaraz, a 6 de Novembro de 2011.

Uma silva, duas silvas,


É uma mancha sarrada.
Uma pica, outra arranha,
Eu com silvas não quero nada.

540
Encontramos uma versão no Cancioneiro Popular Português:
Triste, sou, triste me vejo
Sem a tua companhia;
Tão triste que nem me lembro
Se alegre fui algum dia! (Lisboa, Penafiel) (Leite de Vasconcelos [1979], pág. 33).
Manuel Joaquim Delgado recolheu uma versão em Fornalhas (Vale de Santiago, Odemira):
Triste sou e triste vivo,
Triste é minha alegria,
De triste já me não ‘lembra’
Se fui alegre algum dia. (Delgado [1955], pág. 257).

257
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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2.2.6. Cantigas ao Despique

RCD 1 541
Informante: Maria do Rosário Neves Alfaiate (Ti Lia), 81 anos, reformada (trabalhadora rural),
analfabeta, natural de Santo António do Baldio, residente em Santo António do Baldio. Recolha realizada
em Santo António do Baldio, a 10 de Outubro de 2011.

Abali das Casas Novas


Contigo no pensar.
Corri outeiros e covas,
Pra contigo vir falar.

Resposta:
[…]

Eu bem sei que tu és boa


Lá em casa dos teus pais.
Eu procuro pela pessoa,
Não procuro os cabedais.
Resposta:
[…]

Estou de abalo, vou-me imbora


Não demora um palito.
Agora cantou o galo,
Logo canta o galarito.

RCD 2 542
Informante: Maria do Rosário Neves Alfaiate (Ti Lia), 81 anos, reformada (trabalhadora rural),
analfabeta, natural de Santo António do Baldio, residente em Santo António do Baldio. Recolha realizada
em Santo António do Baldio, a 10 de Outubro de 2011.

Agora tudo namora,


Qualquer gaiato é casado.
Governar mulheres e filhos
É que a porca torce o rabo.

Resposta:

De Lisboa me mandaram
541 A informante referiu que o Mestre Miguel, na altura em que estava interessado na Ramalha, quando
chegou ao baile e a viu a dançar com outro rapaz, cantou de imediato as duas primeiras quadras. Depois,
ela não sabia responder, meteu-se a minha Ti Inácia a cantar por ela e odepois ele disse assim, via que ela
que já andava com outro, cantando a terceira quadra.
A informante já não se recorda das respostas da Ti Inácia.
Por fim, a informante afirmou: Faziam-se e desfaziam-se namoros em cantigas. Era tudo em cantigas.
542 A informante lembrou-se de um senhor do Baldio (o Nã Se Queria) cantar a primeira quadra ao desafio.

A resposta foi dada por outro senhor. Disse que a composição foi cantada numa pausa da apanha da
azeitona.
O primeiro verso da cantiga de resposta, De Lisboa me mandaram, é corrente nas cantigas do Cancioneiro
(cf. Leite de Vasconcelos [1983], pp. 58-59).

258
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Uma carta escrita a lápis,


Eu sou caçador de zorras,
Alserá que tu me escapes.

RCD 3
Informante: Luís Lopes dos Santos (Branquinho), 84 anos, reformado (sapateiro), 4º ano de escolaridade,
natural de Perolivas, residente em Gafanhoeiras. Recolha realizada em Perolivas, a 7 de Novembro de
2011.

Assim que te vi entrar,


Logo disse: és cantador.
Armas cantigas no ar,
Tens cabeça de doutor.

Resposta:

De cabelo arrepiado,
Pareço mesmo um ouriço.
Como posso ser doutor,
Se não tenho estudos para isso.

RCD 4 543
Informante: Rosa Lopes Patinha Berjano, 78 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de Telheiro,
residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, em Telheiro, a 21 de Setembro de 2011. Outras
Informações: A informante possui um curso de Guarda-Livros (Contabilidade) e de Dactilografia. Foi
funcionária (chefe) da Caixa de Previdência de Évora – serviço local de Reguengos de Monsaraz (Casa
do Povo de Reguengos de Monsaraz), durante 24 anos.

Estrada nova, correnteza


Que atravessa Portugal,
Nã queria maior riqueza
Que ter um amor leal.

Resposta:

Valha-te Deus, criatura,


Que eu não sei o que receias.
Eu faço-te uma escritura
Com sangue das minhas veias.

RCD 5 544
Informante: Rosa Lopes Patinha Berjano, 78 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de Telheiro,
residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 21 de Setembro de 2011. Outras Informações: A
informante possui um curso de Guarda-Livros (Contabilidade) e de Dactilografia. Foi funcionária (chefe)
da Caixa de Previdência de Évora – serviço local de Reguengos de Monsaraz (Casa do Povo de Reguengos
de Monsaraz), durante 24 anos

543 A cantiga foi cantada por uma amiga da informante, que era da sua mocidade. Cantou-a a um rapaz
com quem “namoriscou” – no princípio do namoro. A resposta foi cantada pelo próprio rapaz.
544 A informante recordou a propósito do contexto da composição: uma rapariga gostava de um rapaz, cuja

mãe era viúva. Quando o rapaz chegou ao baile, cantou-lhe a primeira quadra. A rapariga ficou muito
admirada com a cantiga e de repente fez outra, em resposta. Depois foram os dois dançar e ajustaram-se.

259
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Eu gosto de ver chover,


Eu gosto de andar à chuva,
Eu gosto de amar e querer
O filho de uma viúva.

Resposta:

A tua cantiga finda,


Ó amor, fica ciente,
Cara linda, cara linda,
És o meu amor pra sempre.
RCD 6 545
Informante: Rosa Marques Cardoso, 76 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de Motrinos,
residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrinos, a 29 de Agosto de 2011. Outras Informações:
trabalhadora rural, lavadeira.

Fui acima ao loureiro


Corri-o de nó em nó.
Mesmo que tu te vistas de verde,
Pra mim já estás de mais.

Resposta:

Os olhos do meu amor


São duas rodas dum carro.
Põe-se no meio da estrada
Não deixam passar ninguém.

RCD 7
Informante: António Ramalho, 95 anos, reformado, analfabeto, natural de São Marcos do Campo,
residente em São Marcos do Campo. Recolha realizada em São Marcos do Campo, a 7 de Dezembro de
2011.

Já Zé Galego nã canta
Porque sente a coisa torta.
Apareceu-lhe hoje uma alma
Há um ano qu’era morta.

Resposta:

Rapazes de Monsaraz,
Levam esta pra contari:
Em nos546 anos são muitos,

545 A informante faz referência a umas cantigas que não eram versadas e parodia-as, pois a senhora a quem
se refere não sabia cantar. A lembrança disto fá-la rir muito. Era uma senhora que estava apartada do
marido. Conta que as pessoas da aldeia apanhavam barrigadas de rir ao ouvir o casal separado a cantar,
porque o que cantava não quadrejava.
A resposta da cantiga foi cantada pelo marido.
546 Expressão equivalente a "quando".

260
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Dão nas forças em faltari.

RCD 8
Informante: Gertrudes Lameira Rita, 82 anos, reformada (trabalhadora rural), analfabeta, natural de
Carrapatelo, residente em Carrapatelo. Recolha realizada em Carrapatelo, a 9 de Outubro de 2011.

Lenço de quartinho e meio


Ninguém usa se não eu.
Aqui anda na função
O alarve que mo deu.

Resposta:

Lenço de quartinho e meio


Aqui está quem to comprou.
Com beijinhos e abraços,
O teu corpo é que o pagou.

RCD 9
Informante: António Caeiro Paias, 87 anos, reformado (trabalhador rural), 3º ano de escolaridade, natural
de S. Marcos do Campo, residente em S. Marcos do Campo. Recolha realizada em S. Marcos do Campo,
a 24 de Novembro de 2011.

Meu coração é de sal,


E água fria o não derrete.
E todo o amor que é leal
Nunca falta ao que promete.

Resposta:

Aindas que atirem comigo


Ao mar por cima das ondas,
Não te deixarei de amar.
Assim tu me correspondas.

RCD 10
Informante: Maria Margarida Couto Lopes, 72 anos, reformada (trabalhadora rural), 4º ano de
escolaridade, natural de Reguengos de Monsaraz, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha
realizada em Reguengos de Monsaraz, a 6 de Novembro de 2011.

Não me dão pr'aí notícia


De uma flor que cantou.
Em que vaso foi gerada
E em que jardim se criou?

Resposta:

Em que jardim se criou


Que importa você saber?
No vaso que foi gérada
Ninguém tem que lhe dizer.

261
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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RCD 11547
Informante: Virgílio de Carvalho Paias, 89 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de São
Marcos do Campo, residente em São Marcos do Campo. Recolha realizada em São Marcos do Campo, a
7 de Dezembro de 2011.

Nas ondas do teu cabelo,


Hei-de eu deitar-me a afogar,
Para que saibas, meu lindo amor,
Que há ondas sem ser no mar.

Resposta:

Nas ondas do meu cabelo,


Não te deixarei afogar.
Sei nadar como um peixe,
Depressa te irei salvar.

RCD 12548
Informante: Rosa Lopes Patinha Berjano, 78 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de Telheiro,
residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, em Telheiro, a 21 de Setembro de 2011. Outras
Informações: A informante possui um curso de Guarda-Livros (Contabilidade) e de Dactilografia. Foi
funcionária (chefe) da Caixa de Previdência de Évora – serviço local de Reguengos de Monsaraz (Casa
do Povo de Reguengos de Monsaraz), durante 24 anos.

Ó branca estrela de aurora,


Lavada no ouro em espuma,549
Aqui tens quem te adora,
Sem falsidade nenhuma.

Resposta:

Ó branca estrela de aurora,


Que se avista do postigo,
Meu amor, eu quer-te bem,
Mesmo sem falar contigo.

RCD 13
Informante: António Caeiro Paias, 87 anos, reformado (trabalhador rural), 3º ano de escolaridade, natural
de S. Marcos do Campo, residente em S. Marcos do Campo. Recolha realizada em S. Marcos do Campo,
a 24 de Novembro de 2011.

547
A primeira quadra foi também recolhida por Manuel Joaquim Delgado, com variantes, em Beja,
Amareleja e Mina de S. Domingos e Alvalade:
Nas ondas do teu cabelo
Hei-de-me ir afogar.
É p’ra que saibas, amor,
Que há ondas sem ser no mar. (Delgado [1955], 295).
O motivo temático das ondas do cabelo aparece em algumas quadras recolhidas no Cancioneiro Popular
Português, de José Leite de Vasconcelos (cf. Leite de Vasconcelos [1975], pág. 628).
548 A informante relatou que um namorado cantou a primeira quadra, que foi respondida pela namorada.

Lembrou que os namorados antigamente se comunicavam através das cantigas e que esta composição ilustra
isso mesmo.
549 A informante explicou que é o sol.

262
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Ó fonte dos alendroinhos,


E tas de barreira a barreira.
Pra dançar os Sacainhos,
E pra cantar os de Ferreira.

RCD 14
Informante: Maria do Rosário Neves Alfaiate (Ti Lia), 81 anos, reformada (trabalhadora rural),
analfabeta, natural de Santo António do Baldio, residente em Santo António do Baldio. Recolha realizada
em Santo António do Baldio, a 10 de Outubro de 2011.

Os cantadores desta terra


Onde estarão metidos?
Ouviram falar na guerra,
Andarão pr’aí fugidos?

Resposta:

Eu vinha pr’aqui passando


Mas não vinha atencionado.
Eu ouvi estar bradando,
Vim acudir aos teus brados.

Tas assentada, não balhas,


Nesta cadeira sem fundo.
Levanta-te, vem balhar,
És o enlevo de todo o mundo.

RCD 15
Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural
de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011. Outras
Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel.

Quando eu me juntei,
Houve muitos que se admiraram.
Mas nunca me apartei
Como alguns se apartaram.

Resposta:

Chamaram-me mal casado,


Eu bem casado não estou.
Dei um nó tão apertado,
Nunca mais se desatou.

RCD 16
Informante: Iria Morais, 89 anos, reformada, analfabeta, natural de Reguengos de Monsaraz, residente
em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 8 de Fevereiro de 2012.

Se o despique é comigo,
Já me ponho de joelhos.
Ponho-te um pé na barriga,
Deitam-te unhas aos chavelhos.
263
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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RCD 17550
Informante: António Caeiro Paias, 87 anos, reformado (trabalhador rural), 3º ano de escolaridade, natural
de S. Marcos do Campo, residente em S. Marcos do Campo. Recolha realizada em S. Marcos do Campo,
a 24 de Novembro de 2011.

Se quiseres que eu seja teu,


Manda ladrilhar o mar.
E depois do mar ladrilhado,
Eu serei teu se calhar.

Resposta:

Eu das ondas fiz paredes,


Das estrelas o telhado,
Dos peixes ladrilhos verdes,
Aí tens o mar ladrilhado.

RCD 18
Informante: António Ramalho, 95 anos, reformado, analfabeto, natural de São Marcos do Campo,
residente em São Marcos do Campo. Recolha realizada em São Marcos do Campo, a 7 de Dezembro de
2011.

Sou pobre, nã tenho nada,


Senão o meu coração.
A minha riqueza é
A boa consideração.

Resposta:

Ó tempo, mê belo tempo,


Ó tempo que já lá vai,
Ó tempo quem te pudera
Fazer voltar atrás.

RCD 19a551
Informante: Maria do Rosário Neves Alfaiate (Ti Lia), 81 anos, reformada (trabalhadora rural),
analfabeta, natural de Santo António do Baldio, residente em Santo António do Baldio. Recolha realizada
em Santo António do Baldio, a 10 de Outubro de 2011.

Tas assentada, não balhas,


Numa cadeira sem fundo.

550
No Cancioneiro Popular Português, de José Leite de Vasconcelos, encontrámos uma versão da primeira
quadra, no feminino, que apresenta uma promessa no verso 4, em vez do desdém da quadra que recolhemos:
Se queres que eu seja tua
Manda ladrilhar o mar;
Depois de o mar ladrilhado
Serei tua sem faltar… (Leite de Vasconcelos [1975], pág. 539).
551 A resposta à primeira cantiga também foi recolhida como quadra solta e classificada como “cantiga

toponímica” (RCT 25 a e RCT 25b).


A Ti Lia cantava ao despique na sua mocidade, principalmente com o Ti Tenente. Chegaram a estar uma
noite inteira a despique. A informante contou: O nosso namoro foi sempre a despique. Ele arranjou namoro
com a Mari Rosa. O Ti Tenente cantou-lhe a primeira quadra da composição, à qual Ti Lia respondeu,
acusando-o de ser interesseiro.

264
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Levanta-te, vem balhar,


Enlevo de todo o mundo.

Resposta:

O meu monte fica, fica,


Lá pró lado da Defesa.
Namorasa por ser rica,
Não é pela boniteza.

RCD 19b552
Informante: Maria Vitória de Sousa Serrano, 72 anos, reformada (doméstica), analfabeta, natural de
Moura (cresceu em S. Marcos do Campo, aldeia dos seus pais), residente em Reguengos de Monsaraz.
Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 23 de Setembro de 2011.

Estás assentado, não balhas


Numa cadeira sem fundo.
Levanta-te e vem bailar,
Enlevo de todo o mundo.

552
Numa situação de despique, a informante relatou que cantou esta composição, dirigindo-se ao seu
marido (na época, namorado), porque estavam zangados.

265
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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2.2.7. Cantigas de Roda

RCRo 1
Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural
de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 20 de Outubro de 2011. Outras
Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel.

Ao passar da ribeirinha,
Água sobe e água desce.
Deia a mão ao seu amor
Antes que ninguém soubesse.

Antes que ninguém soubesse,


Dá-me cá abraços teus.
Se não és o meu amor,
Vai-te embora, adeus.

À frente do amor,
Brincas tu, brincar eu.
Anda cá para o meu braço,
Ninguém te quer mais do qu’eu.

RCRo 2a
Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 66 anos, reformada, 4.º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 13 de
Setembro de 2010.

Cachopa do Minho,
Que Deus te abençoie,
Deixa o teu cantinho,
Vem até Lisboa.
(...)

RCRo 2b
Informante: João Veva Rocha, 71 anos, reformado (antigo sargento-chefe GNR), 9.º ano de escolaridade,
natural de Capelins - Alandroal, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos
de Monsaraz, a 16 de Setembro de 2010.

Cachopa do Minho,
Que Deus te abençoa,
Deixa o teu cantinho,
Vem até Lisboa.

Mostrar como dançam


As tuas chinelas.
Ver os lisboetas
Andar atrás delas.

266
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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RCRo 3
Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural
de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 20 de Outubro de 2011. Outras
Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel.

Em Castelo Branco,
Toda a gente chora(bis)
Pela padeirinha
Que se vai embora.(bis)

Que se vai embora,


Que está d’abalada, (bis)
Bate, padeirinha,
Acerta a pancada. (bis)

Acerta a pancada,
Acertá no chão. (bis)
Bate, padeirinha,
Amor do meu coração.

RCRo 4a553
Informante: Florinda Maria Fernandes, 70 anos, reformada, analfabeta (sabe ler e escrever), natural de
Monsaraz, residente em Monsaraz. Recolha realizada em Monsaraz, a 13 de Setembro de 2011.

Erva cidreira,
Que estais na varanda,
Quanto mais te rego
Mais a folha abranda.

553
Manuel Joaquim Delgado recolheu duas versões:
Ó ERVA CIDREIRA
(«Moda» de dança de roda)

Ó erva cidreira,
Que estás no alpendre,
Quanto mais te regam,
Mais a silva prende.

Mais a silva prende,


Mais a rosa cheira;
Que ‘stás no alpendre,
Ó erva cidreira. (Beja)

Ó ERVA CIDREIRA

Ó erva cidreira,
Que ‘stás no alpendre,
Quanto mais te regam,
Mais a folha pende.

Mais a folha pende,


Mais a rosa cheira;
Que ‘stás no alpendre,
Ó erva cidreira. (Colos; Odemira; Ervidel; Cuba; Mina da Juliana, Aljustrel; Ferreira do Alentejo
e Alvalade) (Delgado [1955], pp. 59-60).

267
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Mais a folha abranda,


Mais a rosa cheira,
Que estais na varanda,
Ó erva cidreira.

Uma moça bem garota,


Na maior força de amar,
Nega, amor, qu’eu também nego,
Não me andes a falsear.

RCRo 4b
Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural
de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011. Outras
Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel .

Olhos azuis
Que já foram meus,
Agora são doutro,
Paciência, adeus.

Ó erva cidreira,
Que estás na varanda,
Quanto mais se rega,
Mais a folha abranda.

Mais a folha abranda,


Mais a flor cheira,
Que estás na varanda,
Ó erva cidreira.

Quando eu não tinha


Com quem namorar,
Eu dava-te conversa
Pró tempo passar.

Erva cidreira,
Que estás na varanda,
Quanto mais se rega,
Mais a folha abranda.

Mais a folha abranda,


Mais a flor cheira,
Que estás na varanda,
Ó erva na cidreira.

RCRo 5
Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural
de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011. Outras
Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel .

Ó Rosa das trinta folhas,

268
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Só tua mãe é que as tem.


Tu já pra mim não ôlhas
Com olhos de me qrer bem.

Ó Rosa, arredonda a saia,


Ó Rosa, arredonda-a bem.
Uma saia bem rodada,
Em qualquer mulher está bem.

Em qualquer mulher está bem,


Seja alta ou baixinha,
Ó Rosa, arredonda a saia,
Redondinha, redondinha.

Redondinha, redondinha,
Redondinha, os caracóis,
Esta é qu’era a moda nova
Que trouxeram os espanhóis.

Que trouxeram os espanhóis


Trouxeram os japoneses
Esta é qu’era a moda nova
Dos soldados portugueses.

RCRo 6554
Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 65 anos, reformada, 4.º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 12 de
Junho de 2009.

Indo eu, indo eu,


A caminho de Viseu,
Encontrei uma marreca
E a marreca era eu.
Ora ju, ju, ora já, já.

554
José Leite de Vasconcelos recolheu uma versão:
Indo eu…
Indo eu, indo eu
P´rà cidade de Viseu,
Indo eu, indo eu
P´rà cidade de Viseu,
Encontrei o meu amor,
Ai Jesus, que lá vou eu!
Encontrei o meu amor,
Ai Jesus, que lá vou eu!
Ora zus-truz-truz,
Ora, zás-trás, trás;
Ora zus-truz-truz,
Ora, zás-trás, trás!
Ora chega, chega, chega,
Ora arreda lá p’ra trás!
Ora chega, chega, chega,
Ora arreda lá p’ra trás! (Estremadura e Ribatejo) (Leite de Vasconcelos [1975], pp. 133-134).

269
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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RCRo 7
Informante: Florinda Maria Fernandes, 70 anos, reformada, analfabeta (sabe ler e escrever), natural de
Monsaraz, residente em Monsaraz. Recolha realizada em Monsaraz, a 13 de Setembro de 2011.

Lá detrás daquela serra,


Está um canito bebéu. (bis)
Hei-de lhe cortar o rabo
Pra fita do meu chapéu. (bis)

- Ejoelha-te aos meus pés


E reza, reza a tua oração. (bis)
Levanta-te e vem dançar,
Mas dança com devoção. (bis)

RCRo 8
Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural
de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 20 de Outubro de 2011. Outras
Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel.

Lá em cima está o tiro liro liro,


Cá em baixo está o tiro liro ló.
Juntaram-se os dois à esquina,
Tocando concertina,
Dançando o sol e dó.

Comadre, minha comadre,


Eu gosto da sua afilhada.
É bonita, apresenta-se bem,
Parece que tem as faces rosadas.

Lá em cima está o tiro liro liro,


Cá em baixo está o tiro liro ló.
Juntaram-se os dois à esquina,
Tocando concertina,
Dançando o sol e dó.

Comadre, minha comadre,


Deixe ir o compadre à festa.
É bonito, apresenta-se bem,
Parece que tem dois cornos na testa.

RCRo 9a
Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 65 anos, reformada, 4.º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 12 de
Junho de 2009.

Manelzinho você chora,


Você chora, quem lhe deu?
Vá lá mais meia volta,
Ai Jesus, lá vou eu. (dança de roda e trocavam uns com os

270
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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RCRo 9b555
Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural
de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 20 de Outubro de 2011. Outras
Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel.

Manelzinho, você chora,


Você chora, rio eu.
Quem seria a lavadeira
Que o Manelzinho ofendeu?

Abre essas portas do peito,


Que o meu coração é teu.
Manelzinho, você chora,
Você chora, rio eu.

RCRo 9c 556
Informante: Maria Antónia Valido Lobo (Maria Cantadora), 73 anos, reformada (trabalhadora rural),
analfabeta (sabe ler e sabe assinar), natural da Caridade, residente na Caridade. Recolha realizada em
Caridade, a 7 de Novembro de 2011.

Manelzinho, você chora,


Você chora, quem lhe deu?
Quem seria a vaidosa
Qu’o Manelzinho ofendeu?

RCRo 10557

555 O informante cantou a composição.


556
A informante cantou a composição.
557 José Leite de Vasconcelos recolheu uma versão em Lisboa:

A Triste Viùvinha
Olha a triste,
Olha a triste viùvinha,
Que anda,
Que anda na roda a chorar!

Anda a ver
Anda ver se encontra noivo,
Para com
Para com ela casar,
Que ela não
Que ela não tem que vestir
E ela não
E ela não tem que calçar. (Leite de Vasconcelos [1975], pág. 108).

Manuel Joaquim Delgado também recolheu uma versão:


Olha a triste viùvinha,
Ela aí vem a chorar…
Eu juro que não há-de achar!
Que não há-de achar!...
Com quem casar!

- Quer casar comigo?


- Não.

271
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural
de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 20 de Outubro de 2011. Outras
Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel.

Olha a triste viuvinha,


Que anda na roda a chorar. (bis)
Anda a ver se encontra noivo
Para com ela casar. (bis)

- Queres casar?
- Sim.

Ainda bem que já achou


A noiva para casar. (bis)
Vai a dar a volta ao meio
Para o noivo lá ficar.

RCRo 11
Informante: Florinda Maria Fernandes, 70 anos, reformada, analfabeta (sabe ler e escrever), natural de
Monsaraz, residente em Monsaraz. Recolha realizada em Monsaraz, a 13 de Setembro de 2011.

Olha os noivos,
Olha os noivos,

Já lá ‘levas um cabaço’,
Dois ou três hás-de levar;
Eu juro-te que não hás-de achar!...
Que não hás-de achar!...
Com quem casar!

- Quer casar comigo?


- Não.

Já lá levas dois cabaços,


Três ou quatro hás-de levar;
Eu juro-te que não hás-de achar!...
Que não hás-de achar!...
Com quem casar!

-Queres casar comigo?


- Não.

Já lá levas três cabaços,


Quatro ou cinco hás-de levar;
Eu juro-te que não hás-de achar!...
Que não hás-de achar!...
Com quem casar!

-Queres casar comigo?


- Não.

Inda bem que já calhou


Noivo para se casar;
Dê a meia a volta ao centro,
Para o noivo lá ficar. (Beja e Fornalhas, Vale de Santiago, Odemira) (Delgado, [1955], pág. 62).

272
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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O que estão fazendo lá dentro? (bis os 3 vv.)


Estão-se a preparar,
Estão-se a preparar,
Pró dia do casamento.

- Não te quero, não te quero,


Não te quero a ti, não. (bis)

- Só te quero a ti, só te quero a ti,


Amor do meu coração.

RCRo 12
Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural
de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 20 de Novembro de 2011. Outras
Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel.

O meu amor é padeiro,


Ó, ai, tem a cara enfarinhada,
Ai, tem a cara enfarinhada.

Os beijos sabem-me a pão,


Ó, ai, eu nã quero comer mais nada.
Ai, eu nã quero comer mais nada.

São laranjas, sim, sim,


São laranjas, sim, são,
São laranjas, sim, sim,
É laranja, limão.

RCRo 13558
Informante: Maria Antónia Valido Lobo (Maria Cantadora), 73 anos, reformada (trabalhadora rural),
analfabeta (sabe ler e sabe assinar), natural da Caridade, residente na Caridade. Recolha realizada em
Caridade, a 7 de Novembro de 2011.

A Bela Menina

Ó minha bela menina,


Ó você que bem que cheira
Cheira a cravo, cheira a rosa
Cheira a flor da laranjeira.

Cheira a flor da laranjeira,


Cheira a flor do alecrim.
Ó minha bela menina,

558 A informante cantou a composição. Contou que, no campo, quando havia pessoas em número suficiente
(Quando havia família que chegasse) e quando a pausa de descanso era mais prolongada, dançava-se A
Bela Menina. Esta cantiga também era cantada e dançada no Baile da Pinha, realizado durante a Quaresma.
A informante afirmou ainda: Isto era bonito. Chamavamos-lhe A Bela Menina. Era muito bonito. Podia
não haver fartura de certas coisas (…), dantes éramos todas amigas umas das outras, tomara a gente
cantar todo o dia e aprender as cantigas. E agora sabe o que é isto [faz o gesto com os dedos de uma
tesoura], tesourinha de amolar (…), é cortar na pele umas das outras.

273
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Meu amor é Joaquim.

Meu amor é Joaquim,


O meu amor é Manuel.
Ó minha bela menina,
Venha lá donde eu vier.

Batem as caixas no porto,


E o meu coração é teu.
Manelzinho, ora você chora,
Você chora quem lhe deu?

RCRo 14a
Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 65 anos, reformada, 4.º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 12 de
Junho de 2009.

Ó raspa, ó raspa,
E o raspa é coisa boa.
Aprendi a dançar o raspa
Com as meninas de Lisboa.

RCRo 14b
Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 69 anos, reformado, 4.º ano de escolaridade, natural
de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 4
de julho de 2009.

Ó raspa, ó raspa,
O raspa é coisa boa.
Eu já vi dançar o raspa
Às meninas de Lisboa.

274
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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2.2.8. Canções e Modas


RCM 1
Informante: Inácia Martins dos Santos, 86 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de São Marcos
do Campo, residente em S. Marcos do Campo. Recolha realizada em São Marcos do Campo, a 7 de
Dezembro de 2011.

Abalaste, abalaste,
Não foi mais abalada.
Quando cá tornas a vir
Já pra outro estou voltada.

Abalaste, não disseste:


“Saúde, amor, passa bem”.
Essa é a primeira prova
De não me quereres bem.

RCM 2559
Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural
de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011. Outras
Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel .

A cegonha traz
No bico um raminho.
De meia encarnada,
Vem dando chegada
Ao seu velho ninho.

Ao seu velho ninho,


Ponha ovos, ponha,
Que seja bem vinda
Branquinha, tão linda,
Lá vem a cegonha.

Senhora cegonha,
Como tem passado?
Não há quem a veja,
Já vai pra igreja
Pousar no telhado.

Quando chega Agosto,


O bando levanta,
Anunciando a hora
Que se vai embora,
Leva a meia branca.

RCM 3
Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural
de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011. Outras
Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel .

559
O informante referiu que conhece a composição há várias décadas.

275
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Adeus, vila de Ferreira,


Tens uma fonte à entrada.
Para não morrer à sede,
Deram-me água enxovalhada.

Deram-me água enxovalhada,


Cheia de sol e poeira.
Tens uma fonte à entrada,
Adeus, vila de Ferreira.

RCM 4560
Informante: António Caeiro Paias, 87 anos, reformado (trabalhador rural), 3º ano de escolaridade, natural
de S. Marcos do Campo, residente em S. Marcos do Campo. Recolha realizada em S. Marcos do Campo,
a 24 de Novembro de 2011.

Afonso Henriques um dia


Ao Alentejo passou,
Em S. Pedro das Cabeças
Suas tropas acampou.

Castro Verde nesse tempo


E coisa que não existia,
E veio aqui pra combater
Afonso Henriques um dia.

RCM 5
Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 70 anos, reformado, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 9 de
Abrill de 2011.

Ai romana, ai romana,
Ai santinha, ai santinha,
Já te não tiram as nódoas
Que te pôs Pimentinha.

Que te pôs o Pimentinha,


Ao domingo e à semana,
Ai santinha, ai santinha,
Ai romana, ai romana.

560
O informante referiu que a composição é antiga.
Manuel Joaquim Delgado recolheu uma versão em Beja:
Afonso Henriques um dia
Além do Tejo passou;
Em S. Pedro das Cabeças
Suas tropas acampou.

Castro Verde nesse tempo


Quase que não existia;
Em S. Pedro batalhou
Afonso Henriques um dia. (Delgado [1955], pp. 36-37).

276
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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RCM 6a
Informante: António da Silva Fialho (Taranta), 81 anos, reformado (trabalhador rural), 1º ano de
escolaridade, natural da Caridade, residente na Caridade. Recolha realzada em Caridade, a 5 de
Novembro de 2011.

Ai, ai, trigueirinha,


Linda moça trigueira,
(...)

Nesta rua, vou entrando,


Alegram-se os moradores.
Vou dar vistas aos mês olhos
E alegria aos mês amores.

Ai, ai, trigueirinha,


Linda moça trigueira,
Sendo assim trigueirinha, ai, ai
Já não há quem te queira.

Já não há quem te queira


Quero eu que és minha.
Linda moça trigueira,
Das trigueiras a rainha.

RCM 6b561
Informante: Domingos Gaspar dos Santos Ramalho, 68 anos, reformado (moiral de gado bravo),
analfabeto, natural do Outeiro, residente em Associação de Reformados, Pensionistas e Idosos de Santo
António do Baldio. Recolha realizada em Santo António do Baldio, a 10 de Outubro de 2011.

Ai, ai, trigueirinha,


Lindas moças trigueiras.
Sendo assim trigueirinha, ai, ai,
Já não há quem te queira.

RCM 7562

561
O informante cantou a composição e referiu que esta composição era uma das que se cantava mais no
campo.
562 A informante cantou a composição, que classifica de cantiga.

José Leite de Vasconcelos recolheu uma versão:


Alecrim,
Alecrim aos molhos,
Por causa de ti
Choram os meus olhos.

Meu amor,
Quem te disse a ti
Que a ‘felor’ do monte
Que é o alecrim?

Alecrim,
Alecrim dourado,
Que nasce no monte
Sem ser semeado! (Leite de Vasconcelos [1975], pág. 121).

277
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Informante: Iria Morais, 89 anos, reformada, analfabeta, natural de Reguengos de Monsaraz, residente
em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 8 de Fevereiro de 2012.

Alecrim,
Alecrim doirado,
Que nasceste no campo,
Sem seres semeado.

Quem te disse a ti,


Ó meu lindo amor,
Que a flor do campo
Qu’era o alecrim?

Manuel Joaquim Delgado recolheu duas versões:


O ALECRIM

Alecrim,
Alecrim aos molhos,
Por causa de ti
Choram os meus olhos

Coro
Lindo amor,
Quem te disse a ti
Que a flor do mato
Qu’era o alecrim?

Alecrim,
Alecrim dourado,
Que nasce no campo
Sem ser semeado.

Coro
Lindo amor,
Quem te disse a ti
Etc. (Fornalhas – Vale de Santiago)

O ALECRIM

Alecrim,
Alecrim doirado
Que nasceu no campo
Sem ser semeado.
Coro
Ai! Amor,
Quem te disse a ti
Que a flor do campo
Que era o alecrim?

Alecrim,
Alecrim aos molhos,
Por causa de ti
Chorom nos meus olhos.

Ai! Ó amor amor,


Quem te disse a ti
Que a flor do campo
Que era o alecrim? (Beja; Ervidel; Colos; Odemira e Alvalade) (Delgado [1955], pág. 56).

278
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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E alecrim,
Alecrim aos molhos,
Por causa de ti,
Choram nos meus olhos.

RCM 8563
Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural
de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011. Outras
Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel .

Alentejo canta
Modas imortais.
Os campos florescem
E as papoilas crescem
Por entre os trigais.

Por entre os trigais,


Ouvem-se as gargantas.
O povo cantando,
Lá vai saudando,
Alentejo canta.

Alentejo dia,
Quem pra ti olhares
Virás com certeza
Que a nossa riqueza
Nos irá salvar.

Nos irá salvar,


É nosso desejo
Águas nos teus campos,
Alqueva e Galé,
Um dia Alentejo.

RCM 9
Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural
de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011. Outras
Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel .

Algum dia cantando,


Ria-se o céu, ria a terra,
Agora ficou chorando,
Já eu não serei quem era.

Ó minha amora madura,


Diz-me quem te amadurou.
Foi o sol, foi a geada,
O calor que ela apanhou.

563
O informante referiu que conhece esta moda desde a sua mocidade.

279
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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O calor que ela apanhou,


Lá no meio da silveirinha.
Ó minha amora madura,
Minha amora madurinha.

RCM 10
Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural
de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Set embro de 2011. Outras
Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel .

Algum dia era eu


No teu prato a melhor sopa.
Agora sou veneno
Qu’entrou nessa tua boca.

Quem tem pai tem suprior,


Quem tem mãe supremo tem.
Franciquinha, meu amor,
Tu é que hades ser meu bem.

Tu é que hades ser meu bem,


Tu é que és a minha amada.
Francisquinha, meu amor,
Ó minha rosa encarnada.

RCM 11a
Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural
de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011. Outras
Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel .

Algum dia me dizia


Eras minha saudade.
Agora em tão pouco tempo
Me perdeste a amizade.

Lindo ramo verde escuro,


A casa dos passarinhos.
Eles cantam docemente
Pousados nesse raminho

Pousados nesse raminho,


Cantam sempre ao ar puro,
A casa dos passarinhos,
Lindo ramo verde escuro.

RCM 11b
Informante: António Caeiro Paias, 87 anos, reformado (trabalhador rural), 3º ano de escolaridade, natural
de S. Marcos do Campo, residente em S. Marcos do Campo. Recolha realizada em S. Marcos do Campo,
a 24 de Novembro de 2011.

280
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Alto ramo verde escuro,


A sala dos passarinhos.
Eles vivem ao ar puro
Cantando nesses raminhos.

Cantando nesses raminhos,


Onde corre o ar tão puro,
E lindo ramo verde escuro,
A sala dos passarinhos.

RCM 11c
Informante: Luís Mestre Dias, 70 anos, reformado (trabalhador rural e motorista), 4º ano de escolaridade,
natural de Alqueva, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Campinho, a 9 de Abril
de 2011.

Lindo ramo verde escuro,


E ó casa dos passarinhos,
Onde cantam docemente,
Pousados nesse raminho.

Pousados nesse raminho


E andam vivendo ao ar puro,
E ó casa dos passarinhos,
Lindo ramo verde escuro.

RCM 12
Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural
de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011. Outras
Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel .

Algum dia me dizias


Que eras minha saudade.
Agora em tão pouco tempo
Me perdeste a amizade.

- Ó morena, porque não dança,


É porque cansa ou não tens par?
- Meus senhores, venho da França,
Lá não se dança, não sei dançar.

RCM 13
Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural
de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011. Outras
Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel .

Algum dia eu era


Reis dos bons cantores.
Agora já sou
Dos mais enfreores.

Estava d’abalada,

281
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Lá pró meu montinho,


Saiu-me uma rosinha,
Dançando ô caminho.

Como é? Ela é linda,


É bela e formosa,
Dançando ô caminho,
Saiu-me uma rosa.

RCM 14a
Informante: Luís Mestre Dias, 70 anos, reformado (trabalhador rural e motorista), 4º ano de escolaridade,
natural de Alqueva, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Campinho, a 9 de Abril
de 2011.

À luz daquela candeia,


Foi feito o teu casamento.
Ó candeia não te apagues,
Que hás-de ir ao juramento.

Olha a noiva se vai linda,


No dia do seu noivado,
Deixa o pai e deixa a mãe,
Vai viver com o seu amado.

Vai viver com o seu amado,


Vai viver com seu marido,
Olha a noiva se vai linda,
Olhando pró seu vestido.

RCM 14b564
Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural
de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011. Outras
Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel.

Hoje, na igreja,
Entrou um ramo de laranjeira.
Ai trata-a bem com lealdade,
Ai que é ela a tua companheira.

Ó Rosa, já te casaste,
O António te apanhou.
Ai, Deus queira que sempre digas:
- Ai se bem estava, melhor estou.

Olha a noiva, se está linda,


Olhando pró seu vestido,
Ai deixa pai e deixa mãe,
Ai vai viver com seu marido.

564
O informante cantou a composição.

282
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Vai viver com seu marido,


Vai viver com seu amado.
Ai, olha a noiva, se está linda,
Ai, no dia do seu noivado.

RCM 15
Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural
de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011. Outras
Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel .

Anda aqui uma menina,


Traz bastante cegueira.
Ela deu ao seu rapaz
Uma linda fuzileira. 565

Uma linda fuzileira,


Ó que prenda tão bonita,
É bordada, está bem feita,
Mal empregada ser de chita.

RCM 16a566
Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 70 anos, reformado, 4º ano de escolaridade, natural
de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 9
de Abrill de 2011.

Ao romper da bela aurora,


Vai o pastor da choupana,
Gritando em altas vozes:
- Muito padece quem ama.

Muito padece quem ama,


Mais padece quem namora.
Sai o pastor da choupana,
Ao romper da bela aurora.

RCM 16b
Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural
de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011. Outras
Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel .

565 Segundo testemunho do informante, a fuzileira era uma bolsa feita para guardar a isca (planta que depois
de seca era batida), o fuzil e a pederneira (pedra usada para acender o cigarro). As raparigas costumavam
fazê-las, decorando-as com bordados ou missangas, por exemplo, e ofereciam-nas aos namorados. Os
homens mais velhos costumavam mandar fazê-las em pele.
566 Manuel Joaquim Delgado recolheu uma versão em Colos (Odemira):

Ao romper da bela aurora,


Sai o pastor da choupana;
Vem gritando em altas vozes:
Muito padece quem ama.

Muito padece quem ama,


Mais padece quem adora;
Sai o pastor da choupana,
Ao romper da bela aurora. (Delgado [1955], pág. 27).

283
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Nem da esquerda ou da direita,


Na margem do Guadiana,
Melhor canta quem respeita
A cadência alentejana.

Ao romper da bela aurora,


Sai o pastor da choupana.
Vai gritando em altas vozes:
- Muito padece quem ama.

Muito padece quem ama,


Mais padece quem adora.
Sai o pastor da choupana
Ao romper da bela aurora.

RCM 16c
Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural
de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011. Outras
Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel .

Soa a voz do Alentejo,


No país está vibrando.
Nas ondas fortes do Tejo,
Saudades vai deixando.

Ao romper da bela aurora,


Sai o pastor da choupana.
Gritando em altas vozes:
- Muito padece quem ama.

Muito padece quem ama,


Mais padece quem adora.
Sai o pastor da choupana
Ao romper da bela aurora.

RCM 17
Informante: José Cardoso Pereira, 56 anos, reformado, 4º ano de escolaridade, natural de Monsaraz,
residente em Monsaraz. Recolha realizada em Monsaraz, a 30 de Agosto de 2011. Outras Informações:
Trabalhou durante 25 anos na Portucel

A ribeira, quando enche,


Vai de pedrinha em pedrinha.
O homem que leva a barca
Leva o seu bem na barquinha.

Leva o seu bem na barquinha,


Leva tudo o que pertence.
Vai de pedrinha em pedrinha,
A ribeira quando enche.

284
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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RCM 18a
Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 70 anos, reformado, 4.º ano de escolaridade, natural
do Campinhoo, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a
11 de Setembro de 2010.

A ribeira vai cheia


E o barco não anda.
(...)

RCM 18b
Informante: António Joaquim Lopes Rodrigues, 74 anos, reformado, analfabeto, natural de Monsaraz,
residente em Monsaraz. Recolha realizada em Monsaraz, a 29 de Agosto de 2011. Outras Informações:
Foi agricultor e trabalhou durante 20 anos na Portucel.

Ribeira vai cheia


E o barco não anda.
Tenho o meu amor
Lá naquela banda.

Lá naquela banda
E eu cá deste lado.
Ribeira vai cheia
E o barco parado.

RCM 18c
Informante: Francisco Rodrigues Caeiro, 55 anos, reformado (foi GNR), 4.º ano de escolaridade, natural
de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 11
de Setembro de 2010.

Ribeira vai cheia


E o barco não anda.
Tenho o meu amor
Lá naquela banda.

Lá naquela banda
E eu cá deste lado.
Ribeira vai cheia
E o barco parado.

E esta noite à meia-noite


Eu ouvi cantar e chorei.
Lembro-me da mocidade,
Tão novo a deixei.

Ribeira vai cheia


E o barco não anda.
Tenho o meu amor
Lá naquela banda.

Lá naquela banda
E eu cá deste lado.
Ribeira vai cheia

285
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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E o barco parado.

RCM 19567
Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 69 anos, reformado, 4.º ano de escolaridade, natural
de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Alcochete, a 1 de dezembro de
2009.

Às vezes, lá no monte
Faço vazas de ganhão.
Trabalho com dois bois valentes
Que fazem tremer o chão.

Que fazem tremer o chão,


Quando vão beber à fonte.
Faço vazas de ganhão
Às vezes lá no meu monte.

RCM 20
Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural
de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011. Outras
Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel .

Atirei o tiro à pomba,


A pomba no ar voou.
Foi pousar naquela roseira,
A maldita pomba nunca mais voltou.

Quando vem o dono dela,


Ao por ela procurar,
Digam-le que volte atrás
A buscar a pomba ao seu pombal.

RCM 21a
Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural
de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011. Outras
Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel .

A Virgem Senhora d’Aires,


Onde ela foi apracida,
Entre Viana e Guiar,
No meio de uma lameda metida.

Numa lameda metida,


Essa ditosa santinha.
Foi solteiro, veio casado,
Foi milagre da santinha.

Foi milagre da santinha,


Foi milagre do senhor.
A Virgem Senhora d’Aires
567 O informante afirmou: Eu era rapaz já ouvia essa moda. Era muito cantada nos arraiais.

286
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Tão linda está no seu andor.

RCM 21b568
Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural
de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011. Outras
Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel.

Eu vi minha mãe rezando


Aos pés da Virgem Maria.
Era uma santa escutando
O que outra santa dezia.

Ó Nossa Senhora d’Aires,


Está metida num deserto.
Quando chega a mocidade
Me parece um céu aberto.

Me parece um céu aberto


Com toda a sua gentinha.
Foi solteira, veio casada,
Foi milagre da santinha.

RCM 22569
Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural
de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011. Outras
Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel .

Cala-se aí, ó meus netos,


Deixem cantar o avô,
Para ver se ainda canta,
Como algum dia cantou.

A mocidade voltasse
Como volta a primavera,

568
O informante cantou a composição.
Manuel Joaquim Delgado recolheu uma versão em Beja:
A Nossa Senhora d’Aires

A Nossa Senhora d’Aires


Está metida num deserto;
Em chegando a mocidade,
Ai!
Me parece um céu aberto!

Me parece um céu aberto,


Com toda a sua gentinha;
Fui solteira, sou casada,
Ai!
Com milagres da Santinha! (Delgado [1955], pág. 26).
569 O informante disse que ouviu esta moda ao seu pai, quando andava atrás das ovelhas. Nunca a ouviu a

mais ninguém. Diz que o seu pai a pode ter aprendido quando andou a trabalhar em algumas propriedades
agrícolas mais distantes.

287
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Ouviam cantar os homens


Como cantava a Severa.

Como cantava a Severa,


Como a Severa cantou,
Essa mulher já morreu
Alguns alunos deixou.

Alguns alunos deixou


Pra cantar à alentejana.
Ó quem me dera, Severa,
Cantar em tua companha.

RCM 23570
Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural
de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011. Outras
Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel .

Cantando ganhei dinheiro,


Cantando se ma acabou.
O dinheiro que é mal ganho
Algo o deu, algo o levou.

Ó meio tostão, meio tostão,


Deixa lá passar a gente.
Cada vez tenho mais notas,
Cada vez estou mais contente.

Cada vez estou mais contente,


Cada vez tenho mais massa.
Ó meio tostão, meio tostão,
Deixa lá passar quem passa.

RCM 24571
Informante: António da Silva Fialho (Taranta), 81 anos, reformado (trabalhador rural), 1º ano de
escolaridade, natural da Caridade, residente na Caridade. Recolha realizada em Caridade a 5 de
Novembro de 2011.

Canta o melro no silvado,


O rouxinol na ribeira.
Ó minha pombinha branca,
Quero ir à tua beira.

Quero ir à tua beira,


Quero viver ao teu lado.
Rola pomba na azinheira
Canta o pardal no telhado.

570 O informante referiu que o seu pai cantava muio esta composição, quando andava atrás do gado.
571 O informante cantou a composição.

288
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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RCM 25
Informante: Francisco Rodrigues Caeiro, 55 anos, reformado (foi GNR), 4.º ano de escolaridade, natural
de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz (em
casa), a 11 de Setembro de 2010.

Ceifeira, ceifeira, linda ceifeira,


E eu hei-de, e hei-de cantar contigo,
Lá nos campos, secos campos, (bis)
À calma ceifando o trigo.

E à calma, e à calma, ceifando o trigo,


Pela força do calor,
Ceifeira, ceifeira, linda ceifeira,
E hás-de ser o meu amor.

RCM 26
Informante: António Caeiro Paias, 87 anos, reformado (trabalhador rural), 3º ano de escolaridade, natural
de S. Marcos do Campo, residente em S. Marcos do Campo. Recolha realizada em S. Marcos do Campo,
a 24 de Novembro de 2011.

Chamaste-me extravagante
Por eu ter uma noitada.
Eu sou um rapaz brilhante,
Recolho de madrugada.

Recolho de madrugada,
Mesmo agora neste instante.
Por eu ter uma noitada,
Chamaste-me extravagante.

RCM 27a572
Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural
de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011. Outras
Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel .

Chapéu preto, carapuço


Isso é bom pra mô do frio.
Anda agora muito em moda
A moda do assobio.

Pela rua, ia passando,


Eu ouvi: pst, pst,
Eu logo repondi: [assobia]

Passou-se uma, duas, três,


Quatro, cinco, seis, sete,
Oito, nove, dez semanas,
Um barquinho a navegar.

572 O informante referiu que ouvia esta cantiga quando era rapaz.

289
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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RCM 27b
Informante: José Cardoso Pereira, 56 anos, reformado, 4º ano de escolaridade, natural de Monsaraz,
residente em Monsaraz. Recolha realizada em Monsaraz, a 30 de Agosto de 2011. Outras Informações:
Trabalhou durante 25 anos na Portucel

Quem quer bem dorme na rua


À porta do seu amor. (bis)
Faz das pedras cabeceira,
Faz das estrelas cobertor. (bis)

Pela rua, ia passando,


Quando ouvi: pst, pst, (bis)
E eu logo respondi: [assobia] (bis)

Chapéu preto e carapuça


É bom por causa do frio. (bis)
Anda agora muito em moda
A moda do assobio. (bis)

Pela rua, ia passando,


Quando ouvi: pst, pst,(bis)
E eu logo respondi: [assobia] (bis)

Passaram-se uma, duas, três


Quatro, cinco, seis, sete,
Oito, nove, dez semanas.
E o barquinho?
O barquinho navegar.

RCM 28573
Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural
de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011. Outras
Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel.

Das povoações que eu conheço


Fiz uma comparação.
Comparei Moura com Serpa,
As Pias com Baleizão.

Granja com Amareleja


E Safara com a Póvoa.
Santo Aleixo com Barrancos,
Brinches com Aldeia Nova.

Portel, Alqueva, Amieira,


Serpa, Brinches e Baleizão.
Évora, Beja, Vidigueira,
Moura, Monsaraz, Mourão.

573
O informante disse que aprendeu a composição com o seu pai.

290
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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RCM 29
Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural
de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011. Outras
Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel .

É bonito ver o lavrador


Deitar a mão à semente,
Seja alta ou baixinha,
Passa a vida alegremente.

É bonito ver nos campos


Pachorrentos bois lavrando,
Atrás vem o almocreve,
Alegremente, cantando.

RCM 30574
Informante: António Caeiro Paias, 87 anos, reformado (trabalhador rural), 3º ano de escolaridade, natural
de S. Marcos do Campo, residente em S. Marcos do Campo. Recolha realizada em S. Marcos do Campo,
a 24 de Novembro de 2011.

E já lá vem o Serpa Pinto,


Cortando as águas do Tejo.
E vem buscar homens pá guerra
Ao vosso Baixo Alentejo.

Ó nosso Baixo Alentejo,


E são homens de Portugal,
E cortando as águas do Tejo,
E cortando as águas do mar.

RCM 31
Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural
de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011. Outras
Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel .

É pra que saibas, Mariquita,


Que eu sou o rendeiro do ranho.
Eu tenho um frio tamanho
Que não me pára a monquita.

Eu sou como o burro do Safara,


Quando perdeu a peia.
Se Deus não me remedeia
Perco a cucharra.

RCM 32
Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural
de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011. Outras
Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel.

574
O informante referiu que se cantava muito esta composição antigamente.

291
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Eu cuidava que o amor


Era só mangar e rir.
Agora fui exprementar
Até me tira o dormir.

Linda jovem era pastora,


Andava a guardar seu gado.
Em vindo à tarde, à tardinha,
Chorava a jovem sozinha,
Pensando em seu bem amado.

Pensando em seu bem amado,


Não pensando em mais ninguém,
Em vindo à tarde, à tardinha,
Chorava a jovem sozinha,
Pensando em seu lindo bem.

RCM 33
Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural
de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011. Outras
Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel .

Eu fui a uma caçada,


Ó Maria Rita, eras tão bonita,
No meio da cevada, aveia.

Estava uma lebre deitada


Ó Maria Rita, eras tão bonita
Não era minha, deixei-a.

A lebre estava chumbada,


Ó Maria Rita, eras tão bonita,
Dei ao gatilho, matei-a.

RCM 34575
Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural
de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011. Outras
Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel .

Eu hei-de ir, hei-de ir


À tu casa um dia,
Pra ver se me mostras
A mesma alegria.

Que lindas donzelas,


Que há na freguesia,
575 O informante disse que aprendeu a composição com um homem da Amareleja, quando era pequeno. O
senhor andava a fazer o alavão com o seu pai. A pessoa que fazia o alavão era a pessoa que transportava o
leite do local onde as ovelhas eram ordenhadas para o local onde se faziam os queijos. Também ajudava na
ordenha. Assim, o alavão é todo o processo de fabrico dos queijos, desde a ordenha até ao próprio fabrico.

292
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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São lindas e belas,


Têm simpatia.

Têm simpatia
E sinceridade.
Há na freguesia
Linda mocidade.

Eu queria-te bem
A valer, deveras.
Tu é que és a tola
Que não consideras.

Que lindas donzelas,


Que há na freguesia.
São lindas e belas,
Têm simpatia.

Têm simpatia
E sinceridade.
Há na freguesia
Linda mocidade.

RCM 35
Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural
de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011. Outras
Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel .

Eu já vi nascer das rochas


Regatinhos de água fresca.
Um amor que a gente gosta
Só por morto é que se deixa.

Abre-te, ó campa sagrada,


A minha mãe quero ver.
Quero-lhe beijar o rosto,
Antes de a terra o comer.

Antes de a terra o comer,


Antes de a terra o estragar,
Abre-te, ó campa sagrada,
A minha mãe quero beijar.

RCM 36576
Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural
de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011. Outras
Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel .

576 O informante contou que ouviu esta composição, pela primeira vez, quando tinha aproximadamente 11
anos.

293
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Eu não sei, amor,


Como te hei-de amar,
Que o mundo não tenha
De nós que falar.

Estando eu à porta sentado,


Gozando do fresco,
Sem ter namorado,
Passam certas mulatinhas,
Cabelo à janota,
Todas catitinhas.
Pego no meu capote,
Vou-me atrás delas,
Com certas meiguices,
Chamando por elas:
- Pois venha cá.
- Eu não vou lá,
Já fui à Baía,
Meu bem, ao Pará.

RCM 37a577
Informante: Maria Antónia Valido Lobo (Maria Cantadora), 73 anos, reformada (trabalhadora rural),
analfabeta (sabe ler e sabe assinar), natural da Caridade, residente na Caridade. Recolha realizada em 7
de Novembro de 2011.

Eu queria ter uma amiga


Que igualasse ô mê prazêre.
As amigas de hoje em dia
São de levar e trazer.

Não quero que vás à monda


Nem à ribeira lavari.
Só quero que m’acompanhes
No dia em que m’ê casari.

No dia em que me eu casari,


Hades ser minha madrinha.
Não quero que vás à monda
Nem à ribeira sozinha.

577A informante cantou a composição.


Foi recolhida uma versão em Beja:
Não quero que vás à monda
Nem à ribeira lavar;
Só quero que tu me acompanhes
Ó meu lindo amor!
No dia em que m’eu casar.

No dia em que m’eu casar


Hás-de ser minha madrinha;
Só quero que me acompanhes,
Ó meu lindo amor!
Eu não quero ir sozinha. (Delgado [1955], pág. 54).

294
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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RCM 37b578
Informante: António Joaquim Lopes Rodrigues, 74 anos, reformado, analfabeto, natural de Monsaraz,
residente em Monsaraz. Recolha realizada em Monsaraz, a 29 de Agosto de 2011. Outras Informações:
Foi agricultor e trabalhou durante 20 anos na Portucel.

Não quero que vás à monda,


Não quero que vás mondar,
Só quero que me acompanhes,
Ó meu lindo amor,
No dia em que m’eu casar.

No dia em que m’eu casar, (bis)


Há-de ser minha madrinha.
Não quero que vás à monda,
E ó meu lindo amor,
Nem à ribeira sozinha.

RCM 38579
Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural
de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011. Outras
Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel .

Eu sou dividor à terra,


A terra me está devendo.
A terra paga-me em vida,
Eu pago à terra em morrendo.

Nós semos trabalhadores,


Que no campo trabalhemos,
Trabalhemos com ardor
Qremos o nosso valor.
Para ver se nos mantemos.

Quando trabalho não temos,


À Cambra nos dirigimos,
A pedir o presidente
Que tenha dó desta gente,
Que nos dê algum arrimo.

Que nos dê algum arrimo,


Que nos dê algum gasalho,
À Cambra nos dirigimos,
Falando no que sentimos,
Quando não temos trabalho.

578
O informante cantou a composição.
579 O informante contou que aprendeu a composição com os barraquenhos quando tinha 16/17 anos, numa
altura em que vieram trabalhar na Estrada da Abaneja, numa altura de grande miséria, em que havia pouco
trabalho. Os trabalhadores eram distribuídos pela Casa do Povo nos locais onde havia trabalho, indicados
também pelas Câmaras.

295
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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RCM39580
Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural
de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011. Outras
Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel .

Eu sou dividor à terra,


A terra me está devendo.
A terra paga-me em vida,
Eu pago à terra em morrendo.

Senta-te aqui, ó António,


Senta-te aqui ou meu lado,
Nesta cadeirinha nova
Feita da raiz do cravo.

Feita da raiz do cravo,


Feita da folha da rosa,
Senta-te aqui ao meu lado,
Nesta cadeirinha nova.

RCM 40
Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural
de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011. Outras
Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel .

Eu sou o rei dos cabreiros,


Muitos pensam que não.
Minhas cabras pr’aí vão
Espalhadas por esses outeiros.

Tenho trinta reboleiros


Pra meter na chibarria.
É pra que saiba, senhora Maria,
Que eu sou o rei dos cabreiros.

RCM 41a581
Informante: António Joaquim Lopes Rodrigues, 74 anos, reformado, analfabeto, natural de Monsaraz,
residente em Monsaraz. Recolha realizada em Monsaraz, a 29 de Agosto de 2011. Outras Informações:
Foi agricultor e trabalhou durante 20 anos na Portucel.

580 José Leite de Vasconcelos recolheu uma versão em Arcos de Valdevez:


Assenta-te aqui, António,
Menino, que vens cansado;
Nesta cedeirinha nova.
Feita da raiz do cravo.

Assenta-te aqui, António,


No banco do meu tear;
Faz-me aqui duas canelas
E ò mundo deixa-o falar. (Leite de Vasconcelos [1975], pág. 123).
Manuel Joaquim Delgado recolheu uma versão semelhante à nossa em Beja, Ervidel e Mina da Juliana
(Aljustrel) (cf. Delgado [1955], pág. 76).
581 O informante cantou a composição.

296
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Fui colher uma romã,


Estava madura no ramo.
Fui encontrar o jardim (bis)
Aquela mulher que eu amo.

Aquela mulher que eu amo


Di-lhe um aperto de mão
Tava madura no ramo
E o ramo chegava ao chão.

RCM 41b
Informante: Luís Mestre Dias, 70 anos, reformado (trabalhador rural e motorista), 4º ano de escolaridade,
natural de Alqueva, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Campinho, a 9 de Abril
de 2011.

Fui colher uma romã,


Tava madura no ramo.
Fui encontrar no jardim
Aquela mulher que eu amo.

E aquela mulher que eu amo


Dei-lhe um aperto de mão.
Estava madura no ramo
E o ramo chega ao chão.

RCM 41c
Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural
de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011. Outras
Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel .

Os olhos requerem olhos,


O corações corações,
Os meus requerem os teus
Em certas ocasiões.

Fui colher uma romã,


Estava madura no ramo.
Fui encontrar no jardim
Aquela moça que eu amo.

Aquela moça que eu amo


Dei-lhe um aperto de mão.
Estava madura no ramo
E a romã chegava ao chão.

A romã chegava ao chão,


O ramo estava pendido.
Aquela moça que eu amo

297
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Trago eu no meu sentido.

RCM 42
Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural
de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011. Outras
Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel .

Hei-de-te chamar
A estrela do Norte,
Maria, já que Deus me deu
Tão bonita sorte.

Sem ires à pinguela,


Sem ires à canada,
Maria, eu sou teu amor,
Tu és minha amada.

Tu és minha amada,
És amada minha.
Maria, olha o papagaio
De pena riscadinha.

Pena riscadinha, de pena amarela,


Maria, não vais ao monte,
Sem beber na fonte,
Sem ires à pinguela.

RCM 43582
Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural
de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011. Outras
Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel .

Já não tenho pai nem mãe,


Nem nesta terra parente.
Sou filho das tristes ervas,
Neto das águas correntes.

Marianita, meu amor,


Marianita, minha amada,
Dá-me um beijo, ó linda flor,
Olha que eu estou de abalada.

Olha que eu estou de abalada,


Mas que recorro os laços.
Dá-me um beijo, ó linda flor,
Que eu te darei um abraço.

582
O informante explicou que a cantiga (a primeira quadra) tem de ser cantada duas vezes, antes de se
cantar a moda.

298
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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RCM 44
Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural
de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011. Outras
Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel .

Já que me pedes que eu cante,


Eu vou te fazer a vontade.
Não sei que gosto é o teu
De ouvir cantar quem não sabe.

Avoa, pombinha, avoa,


Vai pousar o teu pombal.
Assim faz quem tem amores,
Assim faz quem é leal.

Assim faz quem é leal,


Assim faz qualquer pessoa.
Vai pousar no teu pombal,
Avoa, pombinha, avoa.

RCM 45583
Informante: António Caeiro Paias, 87 anos, reformado (trabalhador rural), 3º ano de escolaridade, natural
de S. Marcos do Campo, residente em S. Marcos do Campo. Recolha realizada em S. Marcos do Campo,
a 24 de Novembro de 2011.

Já morreu o boi Capote,


Camarada do Pombinho.
E já por’qui não há quem bote
Regos à rés do caminho.

Regos à rés do caminho,


Regos à rés da estrada.
Já morreu o boi Capote,
Só ficou o camarada.

RCM 46584

583 O informante contou que esta composição era cantada quando andavam no campo com os bois a lavrar
e exclama: A vida era tão alegre que a gente fazia a vida a cantar.
584 Em Beja, foi recolhida a seguinte versão:

Moreninha alentejana,
Quem te fez morena assim?
- Foi o sol da primavera
Que caía sobre mim.

Que caía sobre mim,


Que andava a ceifar o trigo;
- Moreninha alentejana,
Por que não casas comigo?

Por que não casas comigo?


- Por que não casas com ela’
Quem te fez morena assim’
- Foi o sol da primavera. (Delgado [1955], pág. 53).

299
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural
de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011. Outras
Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel.

Lavro a terra, ceifa o trigo,


Tiro a cortiça ao sobreiro,
Também apanho azeitona,
Trabalhando o ano inteiro.

-Moreninha alentejana,
Quem te fez morena assim?
- Foi o sol da primavera
Que caía sobre mim.

- Que caía sobre mim,


Quando ceifava o trigo.
- Moreninha alentejana,
Por que não casas comigo?

Por que não casas comigo?


Eu queria casar com ela.
Quem te fez morena assim?
- Foi o sol da primavera.

RCM 47a585
Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural
de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011. Outras
Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel .

Levantei-me um dia cedo,


Fui passear ao campo.
Encontrei o teu retrato, ai, ai,
Na folha do lírio branco.

585
O informante cantou a composição.
Foi recolhida a seguinte versão, em Beja:
Meu lírio roxo do campo,
Criado na Primavera,
Desejava, amor, saber
Ai! Ai!
A tua intenção qual era.

A tua intenção qual era,


Desejava, amor, saber;
Meu lírio roxo do campo,
Ai! Ai!
Oh! quem te fora acolher!

Oh! quem te fora acolher!


Oh! meu amor, quem me dera!
Desejava, amor, saber
Ai! Ai!
A tua intenção qual era. (Delgado [1955], pág. 52).

300
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Meu lírio roxo do campo,


Criado na primavera,
Desejava, amor, saber ai, ai,
A tua intenção qual era.

A tua intenção qual era,


Qual era o teu preceder
Criado na primavera,
Quem te pudesse colher.

RCM 47b
Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 69 anos, reformado, 4.º ano de escolaridade, natural
de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 11
de Junho de 2009.

Lírio roxo do campo,


Criado na Primavera,
Eu queria, amor, saber
a tua intenção qual era

Um amor que eu queria tanto,


Criado na Primavera,
Meu lírio roxo do campo.

RCM 47c
Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 80 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 11 de Junho de
2009.

Meu lírio roxo dourado,


Criado na Primavera.
Desejava, amor, saber, ai, ai
A minha intenção qual era.

A minha intenção qual era


Desejava saber, amor,
Lírio roxo do campo,
Criado na Primavera, ai, ai.

RCM 47d586
Informante: Domingos Gaspar dos Santos Ramalho, 68 anos, reformado (moiral de gado bravo),
analfabeto, natural do Outeiro, Santo António do Baldio. Recolha realizada em Santo António do Baldio,
a 10 de Outubro de 2011.

Meu lírio roxo do campo,


Criado na Primavera.
Eu desejava saber, ai, ai,
Tua intenção qual era.

Tua intenção qual era,

586
O informante cantou a composição.

301
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
_____________________________________________________________________________________

Um amor que eu queria tanto,


Criado na Primavera, ai, ai,
Meu lírio roxo do campo.

RCM 47e587
Informante: Joaquim José Rosado Leal (conhecido como Ferrador, alcunha de família), 74 anos,
reformado (trabalhador rural e funcionário da Câmara Municipal de Reguengos de Monsaraz), 3º ano de
escolaridade, natural de Campinho, residente em Campinho. Recolha realizada em Campinho, a 9 de Abril
de 2011.

Meu lírio roxo do campo,


Criado na Primavera,
Desejava, amor, saber, ai, ai
A tua tenção qual era.

A tua tenção qual era,


Um amor que eu queria tanto,
Criado na Primavera, ai, ai,
Meu lírio roxo do campo.

RCM 47f
Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 70 anos, reformado, 4.º ano de escolaridade, natural
do Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 11
de Setembro de 2010.

Meu lírio roxo do campo,


Criado na Primavera,
Desejava, amor, saber
A tua intenção qual era.

A tua intenção qual era,


Um amor que eu cria tanto,
Criado na Primavera,
Meu lírio roxo do campo.

RCM 47g
Informante: António Joaquim Lopes Rodrigues, 74 anos, reformado, analfabeto, natural de Monsaraz,
residente em Monsaraz. Recolha realizada em Monsaraz, a 29 de Agosto de 2011. Outras Informações:
Foi agricultor e trabalhou durante 20 anos na Portucel.

Meu lírio roxo de o campo,


Criado na Primavera,
Desejava, amor, saber, ai, ai
A tua intenção qual era.

A tua intenção qual era


Desejava, amor, saber, ai, ai
Criado na Primavera, ai, ai
Quem te pudera colheri.

587
O informante cantou a composição.

302
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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RCM 47h
Informante: Francisco Rodrigues Caeiro, 55 anos, reformado (foi GNR), 4.º ano de escolaridade, natural
de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 11
de Setembro de 2010.

Meu lírio roxo do campo,


Criado na Primavera,
Desejava, amor, saber, ai, ai,
A tua intenção qual era.

A tua intenção qual era,


O amor que eu cria tanto,
Criado na Primavera, ai, ai,
Meu lírio roxo do campo.

Toda a vida fui pastor,


Toda a vida guardei gado.
Tenho uma cova no peito, ai, ai,
De me encostar ao cajado.

De me encostar ao cajado,
Lá nos campos a rigor,
Meu lírio roxo do campo, ai, ai,
Criado na Primavera.

RCM 48a588
Informante: António Joaquim Lopes Rodrigues, 74 anos, reformado, analfabeto, natural de Monsaraz,
residente em Monsaraz. Recolha realizada em Monsaraz, a 29 de Agosto de 2011. Outras Informações:
Foi agricultor e trabalhou durante 20 anos na Portucel.

Manjerico de a janela,
Dá-me a mão, quero subir.
Eu queria falar com ela
Mas à porta não posso ir.

Mas à porta não posso ir


E eu queria falar com ela.
Dá-me a mão, quero subir,
Manjerico de a janela.

588
A informante cantou a composição.
Manuel Joaquim Delgado recolheu a seguinte versão:
Manjerico da janela,
Dá-me a mão, quero subir;
Eu quero ir falar com ela,
Pela porta não posso ir.

Pela porta não posso ir,


Eu quero ir falar com ela;
Dá-me a mão, quero subir,
Manjerico da janela. (Serpa; Beja; Moura e Vale de Santiago) (Delgado [1955], pág. 48).

303
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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RCM 48b589
Informante: Maria Antónia Valido Lobo (Maria Cantadora), 73 anos, reformada (trabalhadora rural),
analfabeta (sabe ler e sabe assinar), natural da Caridade, residente na Caridade. Recolha realizada em
Caridade, a 7 de Novembro de 2011.

Venho daqui tantas léguas,


Só ô fim deste barulho,
Pensava qu’eram bolêtas
Saíram-me cascabulho.

Manjerico da janela,
Dá-me as mãos, qu’eu quero subir.
Eu queria falar com ela
Mas à porta nã posso ir.

Mas à porta nã posso ir,


Eu queria falar com ela.
Dá-me as mãos, qu’eu quero subir,
Manjerico da janela.

RCM 49
Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural
de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011. Outras
Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel .

Meu amor foi para o mar


E à pesca da sardinha,
Se por lá o encontrares,
Dá-le saudades minhas.

Se fores ao mar pescar,


Pesca-me uma margarida.
Margarida é minha amada,
Andava no mar perdida.

Andavas no mar perdida,


No meio de água salgada.
Pesca-me uma margarida,
Margarida é minha amada.

RCM 50
Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural
de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011. Outras
Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel .

Minha linda pastorinha,


Estás na serra degredada.
Vem pró jardim do meu peito,
Se tu queres ser bem estimada.

589O
informante cantou a composição.

304
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Se tu queres ser bem estimada,


Deixarás de andar sozinha.
Regressa para a cidade,
Minha linda pastorinha.

RCM 51590
Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural
de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011. Outras
Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel .

Mondadeiras, lindo rancho,


Lenço de todas as cores,
Vão mondando e vão cantando
Cantigas aos seus amores.

Um dia mais tarde quando


Chega à ceifa, que alegria!
Vão ceifando e vão cantando,
Passa mais depressa o dia.

É bonito ver no campo


Tão lindas, ceifando,
Ceifeirinha alentejana,

Numa das mãos leva a foice,


Tão linda, ceifando.
Noutra os canudos de cana.

Com seu traje à camponesa


Tão linda, ceifando,
Sempre de chapéu ao lado.

Numa das mãos leva a foice


Tão linda, ceifando
As espigas do pão sagrado.

RCM 52a
Informante: António Joaquim Lopes Rodrigues, 74 anos, reformado, analfabeto, natural de Monsaraz,
residente em Monsaraz. Recolha realizada em Monsaraz, a 29 de Agosto de 2011. Outras Informações:
Foi agricultor e trabalhou durante 20 anos na Portucel.

Moreninha alentejana,
Quem te fez morena assim?
- Foi o sol da Primavera
Que caía sobre mim.

Que caía sobre mim


Quando passava no campo,
Moreninha (...)

590
O informante cantou a composição.

305
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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RCM 52b
Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 71 anos, reformado, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 9 de
Outubro de 2011.

-Moreninha alentejana,
Quem te fez morena assim?
- Foi o sol da Primavera
Que caiu sobre mim.

- Que caiu sobre mim,


Que caiu sobre ela.
- Quem te fez morena assim?
- Foi o sol da Primavera.

RCM 53
Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural
de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011. Outras
Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel .

Na campina alentejana,
Cantam à sua maneira
Cantigas aos seus amores,
Lindas moças mondadeiras.

Lindas moças mondadeiras,


O seu lenço tapa o rosto,
Apanhando chuva e lama
É do nascer ao sol-posto.

De manhã vão pró trabalho,


A trabalhar ganham fama.
O seu lenço tapa o rosto,
Mondadeira alentejana.

RCM 54
Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural
de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011. Outras
Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel .

Não julguem por eu cantar


A vida alegre me corre.
Eu sou como o passarinho,
Tanto canta até que morre.

Santo Antoninho da serra,


Onde foi fazer morada,
Lá no mais alto rochedo,
Atira, não mata nada.

Atira, não mata nada,

306
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
_____________________________________________________________________________________

Quem atira também erra,


Onde foi fazer morada,
Santo Antoninho da serra.

RCM 55591
Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 71 anos, reformado, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 24 de
Setembro de 2011.

Não julgues por eu cantar


Que a vida alegre me corre.
Eu sou como o passarinho,
Tanto canta até que morre.

Ó erva cidreira,
Que estás no alpendre,
Quanto mais se rega
Mais a folha prende.

Mais a folha prende,


Mais a erva cheira
Que está no alpendre,
Ó erva cidreira.

Além naquela janela,


Dois olhos me estão matando.
Matem-me devagarinho
Que eu quero morrer cantando.

591
Manuel Joaquim Delgado recolheu duas versões:
Ó ERVA CIDREIRA
(«Moda» de dança de roda)

Ó erva cidreira,
Que estás no alpendre,
Quanto mais te regam,
Mais a silva prende.

Mais a silva prende,


Mais a rosa cheira;
Que ‘stás no alpendre,
Ó erva cidreira. (Beja)

Ó ERVA CIDREIRA

Ó erva cidreira,
Que ‘stás no alpendre,
Quanto mais te regam,
Mais a folha pende.

Mais a folha pende,


Mais a rosa cheira;
Que ‘stás no alpendre,
Ó erva cidreira. (Colos; Odemira; Ervidel; Cuba; Mina da Juliana, Aljustrel; Ferreira do Alentejo
e Alvalade) (Delgado [1955], pp. 59-60).

307
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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RCM 56a592
Informante: José Cardoso Pereira, 56 anos, reformado, 4º ano de escolaridade, natural de Monsaraz,
residente em Monsaraz. Recolha realizada em Monsaraz, a 30 de Agosto de 2011. Outras Informações:
Trabalhou durante 25 anos na Portucel.

Ó águia que vais tão alta,


Voando de pólo de pólo,
Leva-me ao céu onde eu tenho
A mãe que me trouxe ao colo.

A mãe que me trouxe ao colo


Que me está fazendo falta,
Voando de pólo em pólo,
Ó águia que vais tão alta.

RCM 56b
Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural
de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011. Outras
Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel .

Ó minha mãe, minha mãe,


Ó minha mãe, minha amada,
Quem tem uma mãe tem tudo,
Quem não tem mãe não tem nada.

Ó águia que vais tão alta,


Voando de pólo em pólo.
Leva-me ao céu aonde eu tenho
A mãe que me trouxe ao colo.

A mãe que me trouxe ao colo,


Que me está fazendo falta,
Voando de pólo em pólo
Águia que vais tão alta.

RCM 57
Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural
de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011. Outras
Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel .

Ó Elvas, Ó Elvas,
Badajoz à vista,
Já não faz milagres
S. João Baptista.

S. João Baptista,
S. Pedro, S. Paulo,
Ó Elvas à vista,
Badajoz ao lado.

592
O informante cantou a composição.

308
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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RCM 58a593
Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural
de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 20 de Novembro de 2011. Outras
Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel.

Olha o cabreiro s’ele é fino,


De velho passa a menino,
É um pouco inteligente.

Inda ontem veio das cabras,


Com um chapéu sem ter abas,
Já conhece a promanente.

Como o cabreiro casou?


Com uma moça tão bonita,
Chamada Maria Rita.
Todo o povo a enlevou.

RCM 58b
Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural
de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 20 de Novembro de 2011. Outras
Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel.

Toda a gente se ademira


Dos couces que a besta atira.
Como o cabreiro casou?
Vou tomá-la de empreitada

RCM 59594
Informante: Josefa Rodrigues Godinho, 88 anos, reformada, 3.º ano de escolaridade, natural da Luz
(Mourão), residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 5 de
outubro de 2009.

Oliveirinha da serra,
Dá-lhe o vento, leva a flore,
Ó-i-ó-ai, só a mim ninguém me leva
Ó-i-ó-ai, lá pró pé do meu amor. (bis)

593 O informante cantou que se cantava no campo uma cantiga sobre os cabreiros (afirma que diziam que
os cabreiros eram assim ‘esparveirados’, mas não eram).
594 A informante cantou a composição e afirmou: Esta sei bem, dizendo satisfeita e a rir.

Manuel Joaquim Delgado recolheu uma variante em Montes Velhos (Aljustrel)


Oliveirinha da serra,
O vento leva a flor;
Enquanto leva e não leva,
Vou falar ao meu amor.

Vou falar ao meu amor,


Vou falar ao meu benzinho;
Oliveirinha da serra,
Dá-lhe o vento no altinho. (Delgado [1955], pág. 64).

309
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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RCM 60595
Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural
de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011. Outras
Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel .

Ó lampião, lampião,
Alemeia a rua acima.
Namoro uma rapariga
Por acaso é minha prima.

Ó lampião, lampião,
Alemeia a rua abaixo
Eu perdi o meu anel
Às escuras não o acho.

Às escuras não o acho


Deixei-o cair da mão
Alemeia a rua abaixo,
Ó lampião, lampião.

O comboio que vai na calha


Não saia da calha pra fora,
Estou a ver se cai da calha
Se não calha vou me embora.

Ó lampião, lampião,
Alemeia a rua abaixo
Eu perdi o meu anel
Às escuras não o acho.

Às escuras não o acho


Deixei-o cair da mão
Alemeia a rua abaixo,
Ó lampião, lampião.

RCM 61596
Informante: Iria Morais, 89 anos, reformada, analfabeta, natural de Reguengos de Monsaraz, residente
em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 8 de Fevereiro de 2012.

Ó loureiro, ó loureiro,
Ó loureiro, linda rama,
Por causa do loureiro
Anda o meu amor em fama.

Anda o meu amor em fama,


Deixá-lo andar,
Que à mais linda rosa
Me hei-de abraçar.

595
O informante cantou a composição.
596
A informante cantou a composição.

310
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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RCM 62
Informante: Joaquim José Rosado Leal (conhecido como Ferrador, alcunha de família), 74 anos,
reformado (trabalhador rural e funcionário da Câmara Municipal de Reguengos de Monsaraz), 3º ano de
escolaridade, natural de Campinho, residente em Campinho. Recolha realizada em Campinho, a 9 de Abril
de 2011.

Ó meu amor,
Quem me dera trazer-te no coração
(…)

Se eu tiver a liberdade
Que o sol e a lua tem,
Entrava na tua casa
Sem licença de ninguém.

RCM 63
Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural
de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011. Outras
Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel.

Ó minha mãe, ó minha mãe,


Ó minha mãe, minha santa,
Uma mãe é sempre mãe,
Quando um filho chora ou canta.

Voa, voa, pombo-correio,


Voa, voa, sem parar,
Leva notícias ao meu lindo amor,
Que anda na guerra a lutar.

Que anda na guerra a lutar,


Lá por esse mundo fora
Ausentou-se do meu lado
Naquela maldita hora.

RCM 64597
Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural
de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011. Outras
Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel .

- Onde vás, ó Luizinha,

597O informante apreendeu a composição com o seu pai.


Foi recolhida a seguinte versão:
Onde vás, ó Luisinha,
Com o teu cabelo à faia?
- Vou falar ao meu amor
Que anda nas ondas da praia.

Que anda nas ondas da praia,


Anda no mar à sardinha;
Com o teu cabelo à faia,
Onde vás, ó Luisinha? (Beja, Cuba, Mértola, Aljustrel, Barrancos e Ervidel) (Delgado [1955], pág.
66).

311
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Com o teu cabelo à faia?


- Vou a ver o meu amor,
Que anda nas ondas da praia.

- Anda nas ondas da praia,


Anda no mar à sardinha.
- Com o teu cabelo à faia,
Onde vás, ó Luisinha?

RCM 65598
Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural
de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011. Outras
Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel .

Ó negra morte cruel,


Ó domadora da vida,
Onde é que tens o esquelete
Da minha mãezinha tão querida.

Os ossos de minha mãe


Ouvi um dia dizer
Que estavam no cemitério,
Não me lembro dela morrer.

Não me lembro dela morrer,


Era ainda criancinha,
Abre-te, campa, quero ver
Os ossos de minha mãezinha.

RCM 66
Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural
de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011. Outras
Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel .

Ó rosa maravilhosa,
Onde é que é o teu bem estar
Se não tens amor, ó rosa,
Vamos nós a combinar.

Rosa Branca, tu não vás


Ao meu jardim sem eu ir.
Tu por mim não és capaz
Fazer o que um homem faz,
Leva a noite sem dormir.

Leva a noite sem dormir,


Pensando em ti, meu amor,
598 O informanteexplicou que só ouviu cantar esta moda a um rapaz de Oriola chamado Anastácio há cerca
de 50 anos – quando foi com outro senhor trabalhar para uma herdade perto de Oriola, chamada “As
Torres”. Mas, só passados um ano ou dois, é que aprendeu a moda na totalidade, quando se cruzaram
também em contexto de trabalho noutra herdade.

312
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Eu não posso resistir.


Rosa branca, deixa-me ir
Ao teu peito encantador.

RCM 67a599
Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural
de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011. Outras
Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel .

Ó Rosa, nunca consintas


Que um cravo te ponha a mão.
Uma rosa enxovalhada
Já não tem aceitação.

- Rosa branca desmaiada,


Onde deixaste o cheiro?
- Deixei-o no teu jardim
À sombra do limoeiro.

- À sombra do limoeiro,
Onde não seja regada,
- Onde deixaste o cheiro,
Rosa branca desmaiada.

Cantas bem, não cantas nada,


Podias cantar melhor.
Pela fama que te dão
Tenho ouvisto obra melhor.

- Rosa branca desmaiada,


Onde deixaste o cheiro?
- Deixei-o no teu jardim
À sombra do limoeiro.

- À sombra do limoeiro,
Onde não seja regada,
- Onde deixaste o cheiro,
Rosa branca desmaiada.

599
Foi recolhida uma versão em Cuba:
Rosa branca, desmaiada,
Onde deixaste o cheiro?
- Deixei-o na tua horta,
À sombra do limoreiro.

À sombra do limoeiro,
Para ver s’inda é regada;
Onde deixaste o cheiro,
Rosa branca, desmaiada? (Delgado [1955], pág. 75).

313
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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RCM 67b
Informante: Manuel Ramalho Furão, 75 anos, reformado (trabalhador rural/tractorista), 4º ano de
escolaridade, natural de S. Marcos do Campo, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada
em Reguengos de Monsaraz, a 23 de Setembro de 2011.

-Rosa branca desmaiada,


Onde deixaste o cheiro?
-Deixei-o nas tuas mãos,
À sombra do limoeiro.

- À sombra do limoeiro,
Onde não seja regado.
- Onde deixaste o cheiro,
Rosa branca desmaiada?

RCM 68
Informante: José Cardoso Pereira, 56 anos, reformado, 4º ano de escolaridade, natural de Monsaraz,
residente em Monsaraz. Recolha realizada em Monsaraz, a 30 de Agosto de 2011. Outras Informações:
Trabalhou durante 25 anos na Portucel

Pedimos a uma voz,


Nossa Senhora, rogai por nós.
Nossa Senhora do Carmo,
Que estás lá no seu altar,
Todos lá vamos ajoelhar,
A cantar, vamos rezar.

Senhora que és padroeira


Da nossa terra hospitaleira,
Nossa senhora do Carmo,
Que estás lá no seu altar,
Todos lá vamos ajoelhar,
A cantar, vamos rezar.

RCM 69
Informante: Joaquim José Rosado Leal (conhecido como Ferrador, alcunha de família), 74 anos,
reformado (trabalhador rural e funcionário da Câmara Municipal de Reguengos de Monsaraz), 3º ano de
escolaridade, natural de Campinho, residente em Campinho. Recolha realizada em Campinho, a 9 de Abril
de 2011.

Quando eu não tinha dava.


Agora tenho não dou.
Vai pedir a quem não tem,
Em eu não tendo te dou.

Ó minha pombinha branca,


Onde queres tu que eu vá.
É de noite, faz-se escuro,
Tenho medo não vou lá.

Tenho medo não vou lá,


Tenho medo lá não vou.

314
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Ó minha pombinha branca,


Pra te amar aqui estou.

RCM 70
Informante: António Joaquim Lopes Rodrigues, 74 anos, reformado, analfabeto, natural de Monsaraz,
residente em Monsaraz. Recolha realizada em Monsaraz, a 29 de Agosto de 2011. Outras Informações:
Foi agricultor e trabalhou durante 20 anos na Portucel.

Quando eu era ganhão


Lá prós lados de Porteli,
De samarra e gabão,
Na alcofa, pão e meli.

Na alcofa, pão e mele,


São tempos que já lá vão,
Lá prós lados de Porteli,
Quando eu era ganhão.

Esta noite à meia-noite


Ouvi cantar e chorei.
Lembrei-me de a mocidade,
Queridos tempos que eu passei.

RCM 71600
Informante: Francisco Rodrigues Caeiro, 55 anos, reformado (foi GNR), 4.º ano de escolaridade, natural
de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 11
de Setembro de 2010.

Se fores ao Alentejo,
Não bebas em Castro Verde.
As fontes cheiram a rosa (bis)
E a água não mata a sede.

E a água não mata a sede.


Se fores ao Alentejo, (bis)
Província que eu mais invejo,
Não bebas em Castro Verde.

600
O informante cantou a composição.
Foi recolhida uma versão em Beja e em Alvito:
Se fores ao Alentejo,
Não bebas em castro Verde,
Que as fontes só têm rosas,
E a água não mata a sede.

E a água não mata a sede,


Cantar bem é qu’eu invejo;
Não bebas em Castro Verde,
Se fores ao Alentejo. (Delgado [1955], pág. 76).

315
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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RCM 72
Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural
de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011. Outras
Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel .

Se fores um dia a Serpa,


Procura pela Mariana.
É uma moça baixinha,
Até no cantar tem fama.

Ó menina Florentina,
É a flor que meu peito domina.
Seu amante delirante
De viagem chegou nesse instante.

Já cá está o tiro liro liro, tiro liro ló,


Já cá está o tiro liro liro, meu amor,
Já cá está o tiro liro liro, tiro liro lé,
Tiro liro liro, abre a porta, ó branca flor.

RCM 73
Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural
de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011. Outras
Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel .

Se as saudades matassem,
Ó linda morena,
Já eu taria morrido,
Ó linda morena e ó linda morena.

Se algum dia era eu,


Ó linda morena,
Algum dia eras tu,
Ó linda morena e ó morena linda.

RCM 74
Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural
de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011. Outras
Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel.

Se fores a Beja,
Está uma roseira,
Tem o pé tombado
Pirolito olé,
Para a Vidigueira.

Para a Vidigueira,
Para a Vila de Frades,
Tem o pé virado,
Pirolito olé,
Não sei se já sabes.

316
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Não sei se já sabes,


Ou se já sabias
Tem o pé tombado,
Pirolito olé,
Para São Matias.

Para S. Matias,
Para S. Mateus,
Já te vás embora,
Pirolito olé,
Olha, Adeus, Adeus.

RCM 75601
Informante: António Caeiro Paias, 87 anos, reformado (trabalhador rural), 3º ano de escolaridade, natural
de S. Marcos do Campo, residente em S. Marcos do Campo. Recolha realizada em S. Marcos do Campo,
a 24 de Novembro de 2011.

Se fores ao mar à pesca,


E pesca-me uma margarida.
Margarida da minh’alma,
Que andavas no mar perdida.

E andavas no mar perdida,


Banhando em água salgada.
E pesca-me uma margarida,
Margarida, és minha amada.

RCM 76602
Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural
de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011. Outras
Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel .

Se fores ao mar pescar,


Pesca-me uma margarida.
Margarida é minha amada,
Andava no mar perdida.

Andava no mar perdida,


No meio de água salgada.
Pesca-me uma margarida,
Margarida é minha amada.

RCM 77
Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 71 anos, reformado, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha em Reguengos de Monsaraz, a 24 de Setembro
de 2011.

Semeei salsa aos reguinhos,

601
O informante afirma: Também se cantava muito esta e era bonita.
602
O informante afirmou que aprendeu a composição quando tinha oito ou nove anos.

317
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Hortelã naquela banda.


Para lograr os teus carinhos,
Tive que andar em demanda.

Tive que andar em demanda,


Pra lograr os teus carinhos,
Hortelã naquela banda,
Semeei salsa aos reguinhos.

RCM 78
Informante: António Joaquim Lopes Rodrigues, 74 anos, reformado, analfabeto, natural de Monsaraz,
residente em Monsaraz. Recolha realizada em Monsaraz, a 29 de Agosto de 2011. Outras Informações:
Foi agricultor e trabalhou durante 20 anos na Portucel.

Tenho lá no meu quintali


Uma roseira enxertada,
Que dá rosas tantas
E tamém dá rosas brancas
E dá outras enxertadas.

Que dá rosas enxertadas


E rosas de várias cores.
(…)

RCM 79603
Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural
de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011. Outras
Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel .

Tenho na minha janela


O que tu não tens tua,
Um vaso de manjerico
Que dá cheiro a toda a rua.

Que dá cheiro a toda a rua,


Tu és a moça mais bela,
O que tu não tens na tua
Tenho eu à minha janela.

RCM 80604
Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural
de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011. Outras
Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel .

Tu é qu’és o meu rapaz,


Quando é que lá vás?
Vai o jardim das flores,
Ó meu lindo amor.

603 O informante disse que aprendeu a moda quando era pequeno.


604
O informante cantou a composição.

318
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Lá me encontrarás,
Se não me encontrares,
Pergunta quem tenha amores
A quem namorar, ó linda flor.

Anda cá, meu boi Capote,


Camarada do Pombinho,
Quem não for capaz
Não volte regos ao pé do caminho. (bis)

RCM 81605
Informante: António Caeiro Paias, 87 anos, reformado (trabalhador rural), 3º ano de escolaridade, natural
de S. Marcos do Campo, residente em S. Marcos do Campo. Recolha realizada em S. Marcos do Campo,
a 24 de Novembro de 2011.

Venho da Ribeira Nova


E passear ao laranjal.
Trago sempre uma folhinha
No laço do avental.

No laço do avental,
Pá barra do teu vestido.
Ai de mim que eu vou prá tropa,
Deixa-me ir dormir contigo.

605
Foi recolhida a seguinte versão, com muitas variantes, em Baião:
Venho da beira do rio
De regar o meu nabal:
Já cã trago ữa folhinha
No laço do avental.

No laço do avental,
Vai o meu amor p’ra guerra
Se ele for e não voltar
Fechai-me aquela janela!

Fechai-me aquela janela,


Fechai-me aquele postigo,
Já lá vai o meu amor,
Já lá vai o meu abrigo! (Leite de Vasconcelos [1975], pág. 163).
Manuel Joaquim Delgado recolheu uma versão em Mina de São Domingos:
Venho da Ribeira Nova,
Fui regar o laranjal;
Inda trago uma folhinha
No laço do avental.

Desejo falar contigo,


E uma hora não é nada;
O ladrão do meu amor
Já tem outra namorada.

Já tem outra namorada,


Já tem outra rapariga;
O ladrão do meu amor
Já tem outra nova vida. (Delgado [1955], pág. 83).

319
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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E deixa-me ir dormir contigo,


Que uma vez só não faz mal.
Venho da ribeira nova,
E passear ao laranjal.

RCM 82606
Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural
de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011. Outras
Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel .

Vou ensinar os rapazes


Como é que se namora,
Com o lenço na algibeira,
Com a pontinha de fora.

Vou ensinar os rapazes


A arte de namorar.
Se ainda não aprenderam,
Venham comigo estudar.

Venham comigo estudar,


Comigo estudar agora.
Vou ensinar os rapazes
Como é que se namora.

RCM 83607
Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural
de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011. Outras
Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel .

606O informante cantou a composição.


607O informante conhece a composição desde criança.
Foi recolhida a seguinte versão por Manuel Joaquim Delgado:
Vou-me embora pra Lisboa,
Porque a vida cá é má,
À busca de coisa boa,
Procuro, não acho cá.

Procuro, não acho cá,


Já o comboio sopra na linha;
Às vezes penso comigo e digo
Não sei que sorte é a minha.

Quando cheguei ao Barreiro,


No barco passei o Tejo;
Chora por mim, que eu choro por ti,
Já deixei o Alentejo. (Cuba)

Variante na primeira quadra

Vou-me embora pra Lisboa,


Que a vida por cá está má,
Em busca de moças boas,
Que se não encontram cá. (Mina da Juliana – Aljustrel) (Delgado [1955], pág. 86).

320
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Vou-me embora pra Lisboa,


Porque a vida cá é má,
Em busca de coisa boa
Procuro, não encontro cá.

Quando eu cheguei ao Barreiro,


Montei no vapor que passa o Tejo.
Tu chora por mim, que eu choro por ti
Já deixei o Alentejo.

321
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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2.2.9. Cantigas de Entrudo

RCE 1a608
Informante: Mariana Rosa Carvalho Ramos, 71 anos, reformada (cabeleireira), 1º ano de escolaridade,
natural de Santo António do Baldio, residente em S. Pedro do Corval. Recolha realizada em S. Pedro do
Corval, a 3 de Novembro de 2011.

Algum dia era,


E agora já não,
Da tua roseira
O melhor botão.

RCE 1b
Informante: Raimundo Luís Godinho Caeiro, 68 anos, agricultor, 9º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 4 de
Junho de 2011.

Algum dia eu era,


Agora já não,
Na tua roseira,
O melhor botão.

RCE 2
Informante: Iria Morais, 89 anos, reformada, analfabeta, natural de Reguengos de Monsaraz, residente
em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 8 de Fevereiro de 2012.

Chora a Videirinha,
Chora, chora,
Chora a videirinha,
Qu’eu me vou embora.

RCE 3
Informante: João Veva Rocha, 71 anos, reformado (antigo sargento-chefe GNR), 9.º ano de escolaridade,
natural de Capelins - Alandroal, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos
de Monsaraz, a 16 de Setembro de 2010.

Está de resto o Carnaval,


É hoje o último dia.
Eu nã fiquei bem nem mal
Fiquei mesmo como eu queria.

608
A informante cantou a composição.
José Leite de Vasconcelos e Manuel Joaquim Delgado recolheram uma quadra semelhante no Baixo
Alentejo:
Algum dia era eu,
Agora já não,
Da tua roseira
O melhor botão. (Leite de Vasconcelos [1979], pág. 37; Delgado [1955], pág. 74).

322
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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RCE 4a609
Informante: Mariana Gato Curvinha, 80 anos, reformada (trabalhadora rural), 3º ano de escolaridade,
natural de Telheiro (nasceu e cresceu no Convento da Orada, propriedade da família na altura), residente
em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 13 de Setembro de 2011.

Já lá vai o nosso Entrudo


De galinhas com capões.
Vem a Santa Quaresma
De alabaças com feijões.

RCE 4b
Informante: Rosete Falardo Ramalho, 68 anos, reformada (doméstica), 4º ano de escolaridade, natural de
Gafanhoeiras, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 24
de Novembro de 2011.

Lá vem o Santo Entrudo


De galinhas e capões.
Depois vem a Santa Quaresma
De alabaças com feijões.

RCE 5a610

609 A informante contou que ouvia uma cantiga à sua mãe. Essa cantiga era cantada no fim do Carnaval, no
último baile, na terça-feira de Carnaval, à meia-noite, davam um tiro e matavam o Carnaval, o Entrudo, e
depois em toda a Quaresma não se ouvia qualquer cante, nem sequer aos homens nas Tabernas.
No Alandroal, localidade perto de Reguengos de Monsaraz, foi recolhida a seguinte versão por José Leite
de Vasconcelos:
Já se acabou o Entrudo,
Já não se fazem funções;
Agora vem a Quaresma:
Calabaças com feijões. (Leite de Vasconcelos [1983], pág.253).
José Leite Vasconcelos recolheu uma quadra em Vila Nova de Ficalho (c. de Serpa), com um
último verso bem diferente que apela à prática de se acentuar a reza de orações, no período quaresmal:
Já lá vai o Entrudo
Com galinhas e capões;
Agora vem a Quaresma,
Rezemos as orações. (José Leite de Vasconcelos [1979], Cancioneiro Popular Português, vol. II,
Coimbra, Por Ordem da Universidade de Coimbra, 1979, pág. 188).

Por sua vez, Idália Farinho Custódio recolheu em Borno (f.de Querença, Município de Loulé) as
seguintes quadras que fazem parte de um total de seis quadras que dão corpo a uma “Cantiga de Entrudo”:
Já se lá vai o Entrudo,
com galinhas e capões,
já lá vem santa Quaresma,
com as suas orações.

Já lá vem santa Quaresma,


com as suas orações,
já se lá vai o Entrudo,
com galinhas e capões. (Custódio, Galhoz [2011], pág. 73)
610 A informante cantou a composição.

Na Vidigueira, foi recolhida a seguinte cantiga, cuja quadra inicial é quase idêntica à da composição que
recolhemos (tem uma variante no 3º verso):
Olha o Entrudo,
Que inda agora veio!
Faz andar as moscas
Todas num enleio!

323
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Informante: Mariana Rosa Carvalho Ramos, 71 anos, 1º ano de escolaridade, reformada (cabeleireira),
natural de Santo António do Baldio, residente em S. Pedro do Corval. Recolha realizada em S. Pedro do
Corval, a 3 de Novembro de 2011.

Olha o Entrudo,
Que agora veio.
Faz andar as moças
Todas num enleio.

5 Todas num enleio,


Todas enleadas,
Ai que belo Entrudo
Prá rapaziada.

RCE 5b
Informante: Maria Antónia Valido Lobo (Maria Cantadora), 73 anos, reformada (trabalhadora rural),
analfabeta (sabe ler e sabe assinar), natural da Caridade, residente na Caridade. Recolha realizada em
Caridade, a 7 de novembro de 2011.

Dança de Carnaval

Viva o Entrudo,
Qu’inda agora veio.
Faz andar as moças
Todas num enleio.

5 Todas num enleio,


Todas enleadas.
Olhem o Entrudo,
Que vai d’abalada.611

RCE 6 612

5 Todas num enleio


Pelo que seria:
Faz agora o que quiseres
Agora em três dias!

Agora em três dias,


10 Deviam ser quatro;
Faz andar as moças,
De cabelo ao alto!

De cabelo ao alto,
De laço caído.
15 Olha o Entrudo,
Já ‘stava esquecido! (Leite de Vasconcelos [1983], pág. 252).
611 Estar de abalada significa estar prestes a ir embora.

A informante canta e faz os gestos com os braços de quem dança em roda, reproduzindo os gestos
coreográficos.
612 Sobre a composição que cantou, a informante disse: Foi na altura do Carnaval. Tinha eu aí uns 16 ou

17 anos. Ouvi-a cantar a um moço que já morreu. Era o avô da Inácia Serrana. Sobre a performance que
envolvia a cantiga, diz: Na rua, é com uma cana toda composta. Uma cana toda grave, cheia de fitas.
José Leite de Vascocelos recolheu uma versão no Algarve:

324
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Informante: Josefa Rodrigues Godinho, 88 anos, reformada, 3.º ano de escolaridade, natural da Luz
(Mourão), residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 17 de
outubro de 2009.

Ó minha verde caninha,


Ó minha caninha verde,
Salpiscadinda de amores,
Bem há pouco casadinha.

Ó i ó ai, bem há pouco casadinha,


Ó i ó ai, bem há pouco casadinha.

RCE 7
Informante: Maria Margarida Couto Lopes, 72 anos, reformada (trabalhadora rural), 4º ano de
escolaridade, natural de Reguengos de Monsaraz, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha
realizada em Reguengos de Monsaraz, a 6 de Novembro de 2011.

Os dias que eu canto mais


São os de maior paixão.
(…)
Em casa não tenho pão.613

RCE 8 614
Informante: Maria Antónia Valido Lobo (Maria Cantadora), 73 anos, reformada (trabalhadora rural),
analfabeta (sabe ler e sabe assinar), natural da Caridade, residente na Caridade. Recolha realizada em
Caridade, a 7 de novembro de 2011.

Pois agora desanda a roda,


Desanda a roda assim, assim.
Já pode ir buscar à roda
Um raminho de alecrim.

5 Um raminho de alecrim,
Outra mimosa flor.
Pois agora desanda a roda,
Não é este o meu amori.

Não é este o meu amori.

Ó minha caninha verde,


Ó minha verde caninha,
Salpicadinha d’amores,
D’amores salpicadinha… (Leite de Vasconcelos [1975], pág. 114).
613 A informante lembrou que o Carnaval era muito divertido, dançando-se os dias inteiros, na aldeia de

Cima (Reguengos de Cima), até ao nascer do sol. Contou ainda que se cantava bastante ao despique.
614 A cantiga era cantada em baile de roda, formada por rapazes e raparigas encadeados uns com os outros.

Cantada a composição uma primeira vez, segundo a informante, os participantes voltavam para trás,
continuando a cantar esta mesma composição.
Segundo o informante Serafim Amieira, esta cantiga de roda também era cantada noutras ocasiões, por
exemplo, no intervalos dos bailes.
A informante faz os gestos da dança, enquanto canta.
Segundo o informante Serafim Amieira, esta cantiga de roda também era cantada noutras ocasiões, por
exemplo, no intervalos dos bailes.
A informante faz os gestos da dança, enquanto canta.

325
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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10 Não é este, eu não o quero.


O meu tem o chapéu preto,
Esse tem o amarelo.

RCE 9 615
Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural
de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 20 de Outubro de 2011. Outras
Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel.

Pró ano que vem,


Já não há Entrudo.
Morreu o Galhorda,
Acabou-se tudo.

5 Isto do Entrudo
É um tempo louco.
Faz sair as velhas
Fora dos atoucos. 616

Fora dos atoucos,


10 Fora do convento
Isto do Entrudo
É um lindo tempo.

RCE 10617
615 De acordo com o informante, a cantiga era cantada no Entrudo. Aprendeu-a na Amareleja, quando
trabalhou num monte a duas horas de distância a pé.
616 O informante explicou que os atoucos são as casas.
617 Esta quadra é similar a uma quadra que faz parte de uma composição denominada “O Cigano” (quarta

estrofe), recolhida em Colos (Odemira), por Manuel Joaquim Delgado:


Cigano, lindo cigano,
Cigano, meu lindo bem;
Já lá vai cigano preso
Sem roubar nada a ninguém.

Sem roubar nada a ninguém,


Sem roubar coisa nenhuma;
Foi só por achar uma corda
Que, na ponta, tinha a mula.

Que, na ponta, tinha a mula,


Noutra ponta tinha o trem;
Cigano, lindo cigano,
Cigano meu lindo bem.

Sou cigano, sou cigano,


Sou cigano, mas não nego;
Eu sou o maior cigano,
Que anda no altar do pego.

Que anda no altar do pego,


Que anda no altar do chão;
Sou cigano, não o nego,
Não o nego à geração. (Delgado [1955], pág. 58).

326
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Informante: Rosete Falardo Ramalho, 68 anos, reformada (doméstica), 4º ano de escolaridade, natural de
Gafanhoeiras, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 24
de Novembro de 2011.

Sou cigana, sou cigana,


Sou cigana, não o nego.
Eu sou a maior cigana
Que apareceu no Alentejo.

RCE 11618
Informante: Joaquim José Rosado Leal (conhecido como Ferrador, alcunha de família), 74 anos,
reformado (trabalhador rural e funcionário da Câmara Municipal de Reguengos de Monsaraz), 3º ano de
escolaridade, natural de Campinho, residente em Campinho. Recolha realizada em Campinho, a 9 de Abril
de 2011.

Tenho pena, lindo amor, tenho pena,


Tenho pena, lindo amor, tenho dó,
Tenho pena de não ir à fonte
De um carro de uma roda só.

De um carro de uma roda só,


Se um carro de uma roda pequenina,
Tenho pena, lindo amor, tenho pena,
Tenho pena mas não é só minha.

618
O informante cantou a composição. Afirmou que ouvia o seu avô cantar a composição no Carnaval.

327
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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2.3. Cantigas religiosas

2.3.1. Cantigas ao Menino Jesus

RCMJ 1a
Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural
de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 20 de Outubro de 2011. Outras
Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel.

Arre burriquito,
Vamos a Belém
Ver o Deus Menino
Que a Senhora tem.

Que a Senhora tem,


Que a Senhora adora,
Anda burriquito,
Vamo-nos embora.

RCMJ 1b
Informante: Delmira Cachopas, 93 anos, comerciante, 3º ano de escolaridade, natural de Montoito,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 26 de Novembro
de 2011.

Vamos todos juntos


Cantar a Belém
Ver o Deus Menino
Que a Senhora tem.

RCMJ 2a619
Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural
de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 20 de Outubro de 2011. Outras
Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel.

Entrai, pastores, entrai,


Por esse portal sagrado,
Vinde ver o Deus Menino,
Numas palhinhas deitado.

RCMJ 2b620

619
Em Cancioneiro de Idália Farinho Custódio e de Maria Aliete Galhoz, há duas versões similares da
quadra que recolhemos (cf. Custódio, Galhoz [2011], pp. 206-207).
José Leite Vasconcelos recolheu duas composições semelhantes (cf. Leite de Vasconcelos [1983], pág. 266
e 404). Por sua vez, Luís Chaves publicou várias versões idênticas, em Folclore Religioso (Cf. Luís Chaves
[1945], pág. 38, 41 e 66).
620 A informante cantou a composição.

Esta versão que recolhemos aproxima-se de uma versão recolhida em Vale de Judeu (Loulé) (cf. Custódio,
Galhoz [2011], pág. 212). José Leite de Vasconcelos recolheu estas duas quadras também (cf. Leite de
Vasconcelos [1983], pág. 402).

328
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Informante: Iria Morais, 89 anos, reformada, analfabeta, natural de Reguengos de Monsaraz, residente
em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 8 de Fevereiro de 2012.

Entrai, pastoras, entrai,


Por estes portais sagrados,
Adorar o Deus Menino
Em palhinhas deitado.

Entrai, pastoras, entrai,


Por estes portais adentro,
Adorar o Deus Menino
No seu santo nascimento.

RCMJ 3621
Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural
de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 20 de Outubro de 2011. Outras
Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel.

Eu hei-de dar ao Menino,


Uma fitinha pró chapéu.
Ele também me há-de dar
Um lugarzinho no Céu.

RCMJ 4
Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural
de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 20 de Outubro de 2011. Outras
Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel.

Menino Jesus,
Teus pais e até Magos
E pastores
E outros senhores
Rezavam com fé.

Junto ao teu bercinho,


Tão cheio de luz,
Tu és o caminho,
Meu rico Menino,
Meu doce Jesus.

RCMJ 5
Informante: Delmira Cachopas, 93 anos, comerciante, 3º ano de escolaridade, natural de Montoito,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 26 de Novembro
de 2011.

A segunda quadra também foi publicada por Luís Chaves, em Folclore Religioso, e por M. Inácio Pestana,
em Etnologia do Natal Alentejano (cf. Chaves [1945], pág. 63; M. Inácio Pestana [1978], Etnologia do
Natal Alentejano, Portalegre, Edição da Junta Distrital, 1978, pág. 32).
621 Em Cancioneiro Popular Português, é introduzida uma variante na oferenda, fitinha é substituída por

galão:
Eu hei-de dar ao Menino
Um galão para o chapéu;
Também Ele me há-de dar
Um lugarzinho no Céu. (cf. Leite de Vasconcelos [1983], pág. 405).

329
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Nasceu o Deus Menino


Para nos salvar.
Vamos todos juntos
Ao Menino pra cantar.

RCMJ 6622
Informante: Rosa Marques Cardoso, 76 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de Motrinos,
residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrinos, a 29 de Agosto de 2011. Outras Informações:
trabalhadora rural, lavadeira.

Nossa Senhora faz meia


Com linha feita de luz.
O novelo é lua cheia
E as meias são Jesus.

RCMJ 7
Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural
de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 20 de Outubro de 2011. Outras
Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel.

Olhei para o céu,


Estava estrelado.
Vi o Deus Menino
Em palhas deitado.

Em palha deitado,

622
Esta quadra da autoria de António Nobre entrou na tradição oral, o povo canta-a como sendo sua (trata-
se de um fenómeno corrente na literatura oral tradicional, a apropriação e adaptação de literatura erudita ao
gosto popular):
Nossa Senhora faz meia
Com linha branca de luz:
O novelo é a lua-cheia,
As meias são p’ra Jesus. (António Nobre [1892], Só, Paris, Léon Vanier-Editeur, 1892, pág. 72.)
Rodney Gallop recolheu esta quadra, com variação, em Elvas:
- Nossa Senhora faz meia
Com linha feita de luz
- Ó linda Rosa! –
Com linha feita de luz.

5 - O novêlo é lua cheia


As meias são p’ra Jesus,
- Ó linda Rosa! –
As meias são p’ra Jesus. (Rodney Gallop [1978], Cantares do Povo Português, Lisboa, Instituto
de Alta Cultura, 1960, pág. 62.)
Também M. Inácio Pestana publicou esta quadra em Etnologia do Natal Alentejano (cf. Pestana [1978],
pág. 38).
Manuel Joaquim Delgado recolheu a seguinte versão:
Nossa Senhora faz meia
Com linha feita de luz.
O novelo é lua cheia,
E as meias são pra Jesus. (Beja; Ervidel; Ferreira do Alentejo; Cuba; Vila Nova da Baronia;
Mértola, etc) (Delgado [1955], pág. 432).

330
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Em palha aquecido 623


Filho d’uma rosa,
D’um cravo nascido.

RCMJ 8
Informante: João Veva Rocha, 71 anos, reformado (antigo sargento-chefe GNR), 9.º ano de escolaridade,
natural de Capelins - Alandroal, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos
de Monsaraz, a 16 de Setembro de 2010.

Ó meu Menino Jesus,


Em palhas deitado,
E os filhos dos ricos,
Em berços dourados.

RCMJ 9a624
Informante: Vitalina Rosa Godinho, 74 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Monsaraz,
residente em Ferragudo. Recolha realizada em Ferragudo, a 24 de Setembro de 2011.

Ó meu Menino Jesus,


Ó meu Menino tão belo,
Logo vieste nascer
Na noite do caramelo.

RCMJ 9b
Informante: Florinda Maria Fernandes, 70 anos, reformada, analfabeta (sabe ler e escrever), natural de
Monsaraz, residente em Monsaraz. Recolha realizada em Monsaraz, a 13 de Setembro de 2011.

Ó meu Menino tão querido,


Ó meu Menino tão belo,
Logo vieste nascer,
Na noite do caramelo.

RCMJ 9c
Informante: Joaquina Códices Gomes Reis, 70 anos, reformada, 4.º ano de escolaridade, natural de
Capelins-Alandroal, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz,
a 16 de Setembro de 2010.

Ó meu Menino Jesus,


Ó meu Menino tão belo,
Nascido e baptizado,
Na noite do caramelo.

623 O informante referiu que aqui existem duas variantes: “uns dizem em palha deitado / em palha
estendido; a gente cantava em palha deitado / em palha aquecido”.
624 Foram recolhidas por José Leite Vasconcelos, no Alentejo, as seguintes versões:

Ó meu amado Menino,


Ó meu Menino tão belo,
Logo havíeis de nascer
No rigor do caramelo.

Ó meu Menino Jesus,


Ó meu Menino tão belo,
Logo Vós fostes nascer
Na noite do caramelo! (cf. Leite de Vasconcelos [1983], pág. 411 e 414).

331
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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RCMJ 9d625
Informante: Maria Antónia Valido Lobo (Maria Cantadora), 73 anos, reformada (trabalhadora rural),
analfabeta (sabe ler e sabe assinar), natural da Caridade, residente na Caridade. Recolha realizada em
Caridade, a 7 de Novembro de 2011.

Ó meu Menino Jesus,


Ó meu Menino tão belo,
Que logo foste nascer
Na noite do caramelo.

RCMJ 9e
Informante: Josefa Rodrigues Godinho, 88 anos, reformada, 3.º ano de escolaridade, natural da Luz
(Mourão), residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 13 de
Setembro de 2009.

Ó meu Menino Jesus,


Ó meu Menino tão belo,
Só tu quiseste nascer,
Na noite do caramelo. 626

RCMJ 9f
Informante: Rosa Marques Cardoso, 76 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de Motrinos,
residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrinos, a 29 de Agosto de 2011. Outras Informações:
trabalhadora rural, lavadeira.

Ó meu Menino Jesus,


Ó meu Menino tão belo,
Só tu vieste a nascer
Na noite do caramelo.

RCMJ 9g627
Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural
de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 20 de Outubro de 2011. Outras
Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel.

Ó meu Menino Jesus,


Ó meu Menino tão belo,
Só tu vieste nascer
Na noite do caramelo.

RCMJ 10628
Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural
de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 20 de Outubro de 2011. Outras
Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel.

625
A informante explicou que noite do caramelo significa noite fria.
626
Recitou cantiga idêntica em 5 de Outubro de 2009.
627 A informante cantou a composição.
628 O informante comentou que se trata de uma cantiga de Natal muito antiga.

M. Inácio Pestana publicou uma versão muito parecida:


Qualquer filho de homem nobre
Nasce num céu de cortinas.
Só tu, Menino Jesus,
Nasceste numas palhinhas. (Pestana [1978], pág. 35).

332
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Qualquer filho d’homem nobre


Nasce num berço doirado.
Só tu, Menino Jesus,
Numas palhinhas deitado.
Trailari, trailari, larilolé,
Menino nascido é.

333
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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2.3.2. Cantigas de Reis

RCR 1a629
Informante: Rosa Maria Morais Ramalho Cardoso, 73 anos, trabalhadora rural e doméstica, analfabeta,
natural de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 20 de Outubro de 2011.

Arreigota,
Arreigota,
Se não me dá nada,
Cago-lhe à porta.

RCR 1b 630
Informante: Iria Morais, 89 anos, reformada, analfabeta, natural de Reguengos de Monsaraz, residente
em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 8 de Fevereiro de 2012.

Arrengota,
Arrengota,
Se não me dás esmola,
Cago-te aqui à porta.

RCR 2
Informante: Rosa Marques Cardoso, 76 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de Motrinos,
residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrinos, a 29 de Agosto de 2011. Outras Informações:
trabalhadora rural, lavadeira.

Despedida, despedida,
Assim faz quem se despede.
Quem se despede cantando
Tem uma despedida alegre.

RCR 3a
Informante: Rosa Marques Cardoso, 76 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de Motrinos,
residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrinos, a 29 de Agosto de 2011. Outras Informações:
trabalhadora rural, lavadeira.

Despedida, despedida,
Por cima de uma fita,
Venha-me dar a esmola
Pela sua filha mais bonita.

629 A informante explicou que, normalmente, se cantava os Reis às pessoas que tivessem algumas posses,
que tivessem condições para dar aos “reiseiros”, lavradores que faziam matança, por exemplo. Afirmou
que quando não davam, cantavam coisas sem jeito. Por isto, a informante disse que tinha vergonha de dizer
essas coisas sem jeito, mas acabou por recitar uma cantiga.
630 Conta que cantavam as Janeiras, pedindo de porta em porta. Mas já não se lembra das cantigas. Também

cantavam os Reis. Quando não davam esmola aos pedintes, diz: a gente dizia uma estupidez. Recita a
composição, rindo.

334
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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RCR 3b 631
Informante: Rosa Marques Cardoso, 76 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de Motrinos,
residente em Motrinos. Recolha ralizada em Motrinos, a 29 de Agosto de 2011. Outras Informações:
trabalhadora rural, lavadeira.

Despedida, despedida,
Por cima de um regador,
Venha-me dar a esmola
Por alma do tio Salvador. 632

RCR 4a
Informante: Joana Valido Cruz, 73 anos, reformada (trabalhadora rural), 2º ano de escolaridade, natural
da Caridade, residente na Caridade. Recolha realizada em Caridade, a 5 de Novembro de 2011.

Estas casas são bem altas,


Caiadas de papelão.
Esta gente que aqui mora
Deus lhe deia a salvação.

RCR 4b 633
Informante: António Joaquim Lopes Rodrigues, 74 anos, reformado, analfabeto, natural de Monsaraz,
residente em Monsaraz. Recolha realizada em Monsaraz, a 30 de Agosto de 2011.

Estas casas são bem altas,


Forradas de papelão.
Esta gente que aqui mora
Deus lhe dê a salvação.

RCR 4c 634

631 Contou que ia sempre cantar os Reis à porta de uma senhora viúva que tinha três filhas. As cantigas que
recolhemos junto de si foram ensinadas pela sua mãe.
632 Nome do falecido marido.
633 Cantou a composição.

Relatou que havia um homem que respondia à medida que lhe cantavam a Cantiga de Reis (registamos a
resposta a negrito):
- Estas casas são bem altas.
- Derrubem-no!
- Forradas de papelão.
- Rasguem-no!
- Esta gente que aqui mora
Deus lhe dê a salvação.
- Matem-nas!
José Leite de Vasconcelos recolheu:
Esta casa é bem alta,
Forrada de papelão,
Os senhores que moram nela
Deitem p’ra cá um tostão.

Esta casa está bem feita,


Talhadinha ao picão:
Ò senhor que mora nela,
Deus lhe dê a salvação! (Leite de Vasconcelos [1983], pág. 261 e 262).
634Por vezes, pedimos para repetir para evitar possíveis lapsos ou fragmentos imperceptíveis, até porque a

informante fala baixo e, por vezes, põe a mão à frente da boca enquanto fala.

335
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Informante: Maria Joaquina Rosado Tendeiro, 67 anos, reformada (trabalhadora rural até aos 62 anos),
3º ano de escolaridade, natural de Campo, residente em Campinho. Recolha realizada em Campinho, a 26
de Março de 2011.
Estas casas são bem altas,
Forradas de papelão.
Esta gente que aqui mora
Deus lhe deia a salvação.

Recitou versão idêntica: Francisca Jorge Godinho Gato, 86 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural
de Barrada, residente em Barrada. Recolha realizada em Barrada, a 11 de Setembro de 2011; Florinda Maria
Fernandes, 70 anos, reformada, analfabeta (sabe ler e escrever), natural de Monsaraz, residente em
Monsaraz. Recolha realizada em Monsaraz, a 13 de Setembro de 2011;635 Isménia Moleiro Ramalho, 83
anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz.
Recolha em Reguengos de Monsaraz, a 11de Outubro de 2011; Vitalina Rosa Godinho, 74 anos, reformada,
2º ano de escolaridade, natural de Monsaraz, residente em Ferragudo. Recolha realizada em Ferragudo, a
24 de Setembro de 2011;636 Rosa Maria Morais Ramalho Cardoso, 73 anos, trabalhadora rural e doméstica,
analfabeta, natural de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 20 de Outubro de
2011637; José Jaleca Dourado, 74 anos, barbeiro, 4º ano de escolaridade, natural de S. Pedro do Corval,

635 A informante relatou que, se as pessoas abrissem a porta para escutar as cantigas de reias e dessem
qualquer coisa de comer aos festeiros, a reacção destes era positiva. Se não abrissem a porta nem
oferecessem alguma coisa, era cantada uma cantiga própria para a situação, da qual já não se lembra.
636 Conta que havia um homem que respondia à medida que lhe cantavam a Cantiga de Reis (registamos a

resposta a negrito):
- Estas casas são bem altas.
- Derrubem-nas!
- Forradas de papelão.
- Desforrem-nas.
- Esta gente que aqui mora
Deus lhe deia a salvação.
- Vamos a ver!
637 Cantou para nos mostrar “o estilo” das cantigas de reis. Referiu que havia os Reis que se cantavam, uma

coisa bonita que ainda ouviu cantar, mas não a aprendeu - eram “Os Reis do Oriente”, que correspondem
à composição que a seguir transcrevemos e que foi lida pelo informante António Cardoso, que a registou
por escrito, devido ao receio de dela se esquecer:

Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural
de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, em 20 de Novembro de 2011. Outras
Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel.

Os Três do Oriente

Quais são os três cavalheiros


Que fazem sombra no mar?
São os três do Oriente
Que Jesus vêm buscar.

5 Não perguntam por pousada,


Nem aonde pernoitari.
Só perguntam o Deus-Menino,
Aonde o irão achar.

Foram-no achar a Roma,


10 Revestido no altari,
Com três mil almas de roda,
Todas para comungari.

Missa nova quer dizeri,


Missa nova quer cantari,

336
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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residente em S. Pedro do Corval. Recolhida em S. pedro do Corval, em 3 de Novembro de 2011638; Mariana


Rosa Carvalho Ramos, 71 anos, reformada (cabeleireira), 1º ano de escolaridade, natural de Santo António
do Baldio, residente em S. Pedro do Corval. Recolha realizada em S. Pedro do Corval, a 3 de Novembro
de 2011; Rosário Pinto Ramalho (Bisau), 77 anos, reformada (trabalhadora rural), 3º ano de escolaridade,
natural de Santo António do Baldio, residente em Santo António do Baldio. Recolha realizada em Santo
António do Baldio, a 3 de Novembro de 2011;639 Maria José Bento, 76 anos, Reformada (trabalhadora rural
e auxiliar de cozinha), 4º ano de escolaridade, natural de Reguengos de Monsaraz, residente em Reguengos
de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 6 de Novembro de 2011640; Maria Antónia
Valido Lobo (Maria Cantadora), 73 anos, reformada (trabalhadora rural), analfabeta (sabe ler e sabe
assinar), natural da Caridade, residente na Caridade. Recolha realizada em Caridade, a 7 de Novembro de
2011641; Inácia Bragado Adriano, 80 anos, reformada (trabalhadora rural), analfabeta, natural de S. Marcos
do Campo, residente em S. Marcos do Campo. Recolha realizada em S. Marcos do Campo, a 24 de
Novembro de 2011; Iria Morais, 89 anos, reformada, analfabeta, natural de Reguengos de Monsaraz,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 8 de Fevereiro de
2012.

RCR 4d
Informante: Rosa Marques Cardoso, 76 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de Motrinos,
residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrinos, a 29 de Agosto de 2011. Outras Informações:
trabalhadora rural, lavadeira.

Estas casas são mui altas,


Forradas de papelão.
Esta gente que aqui mora
Deus lhe deia a salvação.

RCR 4e
Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 83 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a de Outubro de
2011.

Estas casas são bem altas,


Forradas de ouro e marafim.
Esta gente que aqui mora

15 São João ajuda a missa,


São Pedro mudou missale.

O informante contou que ouviu estes versos a um senhor chamado Manuel Dias Nunes, quando
tinha 17 ou 18 anos. A sua esposa, Rosa Cardoso, também os ouviu quando era nova a uma senhora
chamada Chica Brites, que cantava muito bem.
Esta composição é muito semelhante à versão de Beja recolhida por Manuel Joaquim Delgado (cf.
Delgado [1955], pág. 125). A decisão de não a incluir no nosso corpus tem simplesmente a ver com o facto
de o informante já não a saber de cor e transmiti-la através da sua leitura.
638 Também contou que um senhor, o senhor Francisco Paulo, em São Pedro do Corval, a quem iam cantar

os reis, respondia à medida que lhe cantavam esta quadra (registamos a resposta a negrito):
- Estas casas são bem altas.
- Derrubem-nas!
- Forradas de papelão.
Esta gente que aqui mora
Deus lhe deia a salvação.
- Matem tudo!
639 Contou que ia cantar os Reis ao monte dos Perdigões, perto de Reguengos, quando tinha 17 anos.
640 Comentou, para justificar o peditório: Era o tempo da fome. Chovia muito e não havia trabalho nesses

dias.
641 Cantou.

337
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
_____________________________________________________________________________________

Deus lhe deia um bom fim.

RCR 4f
Informante: Rosa Lopes Patinha Berjano, 78 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de Telheiro,
residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 21 de Setembro de 2011. Outras Informações: A
informante possui um curso de Guarda-Livros (Contabilidade) e de Dactilografia. Foi funcionária (chefe)
da Caixa de Previdência de Évora – serviço local de Reguengos de Monsaraz (Casa do Povo de Reguengos
de Monsaraz), durante 24 anos.

Estas casas são bem altas,


Forradas de papelão.
Esta gente que cá mora
Deus lhe deia a salvação.

RCR 4g642
Informante: Rosa Maria Morais Ramalho Cardoso, 73 anos, trabalhadora rural e doméstica, analfabeta,
natural de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 20 de Outubro de 2011.

Estas casas são bem altas,


São forradas de papelão.
Viva quem aqui mora
Deus lhe deia a salvação.

RCR 4h
Informante: Rosário Pinto Ramalho (Bisau), 77 anos, reformada (trabalhadora rural), 3º ano de
escolaridade, natural de Santo António do Baldio, residente em Santo António do Baldio. Recolha
realizada em Santo António do Baldio, a 3 de Novembro de 2011.

Estas casas são bem altas,


Forradas de papel fino.
Esta gente que aqui mora
Deus lhe deia o Céu Divino.

Recitou versão idêntica: Josefina da Conceição Bragado Godinho, 58 anos, reformada, 4ª ano de
escolaridade, natural de S. Marcos do Campo, residente em S. Marcos do Campo. Recolhida em S. Marcos
do Campo, em 24 de Novembro de 2011.

RCR 4i
Informante: Maria Joaquina Rosado Tendeiro, 67 anos, reformada (trabalhadora rural até aos 62 anos),
3º ano de escolaridade, natural de Campinho, residente em Campinho. Recolha realizada em Campinho,
a 26 de Março de 2011.

Estas casas são bem altas,


Forradas de papel fino.
Esta gente que aqui mora
Deus lhe deia bom destino.

RCR 5 643
Informante: Maria Antónia Valido Lobo (Maria Cantadora), 73 anos, reformada (trabalhadora rural),
analfabeta (sabe ler e sabe assinar), natural da Caridade, residente na Caridade. Recolha realizada em
Caridade, a 7 de Novembro de 2011.

642 Versões similares foram publicadas por Luís Chaves (cf. Chaves [1945], pág. 45).
643
Cantou a composição.

338
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Estas casas são bem altas,


Nela mora uma princesa.
Meta a mão ô seu tesouro,
E reparta com a pobreza.

RCR 6a
Informante: Rosário Pinto Ramalho (Bisau), 77 anos, reformada (trabalhadora rural), 3º ano de
escolaridade, natural de Santo António do Baldio, residente em Santo António do Baldio. Recolha
realizada em Santo António do Baldio, a 3 de Novembro de 2011.

Estas casas são caiadas,


Quem seria a caiadeira?
Foi o noivo mais a noiva
Com ramos de laranjeiras.

RCR 6b
Informante: Antónia Lopes Lourinho, 69 anos, reformada (trabalhadora rural), 4º ano de escolaridade,
natural de Perolivas, residente em Perolivas. Recolhida em Perolivas, 8 de Novembro de 2011.

Esta casa está caiada,


Quem seria a caiadeira?
Foi a mãe do meu amor
Com junquilhos da ribeira.

RCR 7 644
Informante: António Caeiro Paias, 87 anos, reformado (trabalhador rural), 3ª classe, natural de S. Marcos
do Campo, residente em S. Marcos do Campo. Recolha realizada em S. Marcos do Campo, a 24 de
Novembro de 2011.

Esta gente que aqui mora


Deus lhe deia a salvação.
Se não derem, hadem ir morrer
À Salvada, mais negra que o carvão.

RCR 8
Informante: Delmira Cachopas, 93 anos, comerciante, 3º ano de escolaridade, natural de Montoito,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 26 de Novembro
de 2011.

Esta gente que aqui mora


Deus lhe deia a salvação.
Mande-me dar a esmolinha
Por seu primo João. 645

RCR 9
Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 83 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em 11 de Outubro
de 2011.

644 Cantiga de Reis cantada quando não davam esmola aos festeiros.
O informante contou que iam cantar aos Motrinos, quando estavam no Monte do Barrocal.
645
A informante apresenta outra alternativa para o último verso, seu marido João, mostrando que importava
o efeito rimático da escolha dos nomes. Por fim, comentou: Assim, faziam aqueles versos assim.

339
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Esta gente que aqui mora


Tem duas filhas rainhas.
Venha-me dar a esmola
A estas meninas pobrezinhas.

RCR 10a
Informante: Gertrudes Lameira Rita, 82 anos, reformada (trabalhadora rural), analfabeta, natural de
Carrapatelo, residente em Carrapatelo. Recolha realizada em Carrapatelo, a 9 de Outubro de 2011.

Esta noite choveu neve,


No gargalinho do poço.
A minha avó é uma rosa
E o meu avô um cravo roxo.

RCR 10b
Informante: Francisca Piteira da Silva Neves, 62 anos, trabalhadora rural / doméstica, analfabeta, natural
de Motrinos, residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrinos, a 29 de Agosto de 2011.

Esta noite choveu neve


No gargalinho do poço.
Minha madrinha é uma rosa,
Meu padrinho é um cravo roxo. 646

RCR 10c 647


Informante: Francisca Jorge Godinho Gato, 86 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de
Barrada, residente em Barrada. Recolha realizada em Barrada, a 11 de Setembro de 2011.

Esta noite choveu neve


No gargalinho do poço.
A minha madrinha é uma rosa
E o padrinho um cravo roxo.

RCR 10d
Informante: Rosário Pinto Ramalho (Bisau), 77 anos, reformada (trabalhadora rural), 3º ano de
escolaridade, natural de Santo António do Baldio, residente em Santo António do Baldio. Recolha
realizada em Santo António do Baldio, a 3 de Novembro de 2011.

Esta noite chove neve


No gargalinho do poço.
Venha-me dar a esmola,
Boquinha de cravo roxo.

RCR 10e 648


Informante: Florinda Maria Fernandes, 70 anos, reformada, analfabeta (sabe ler e escrever), natural de
Monsaraz, residente em Monsaraz. Recolha realizada em Monsaraz, a 13 de Setembro de 2011.

646 A informante explicou que a informante Francisca explica que as expressões “Minha madrinha” e “Meu
padrinho” podem ser substituídas pelo nome das pessoas a quem se dirige a cantiga.
647 A informante referiu que esta cantiga era cantada à porta dos padrinhos.
648 A informante disse que costumavam cantar os Reis na rua à porta das vizinhas.

340
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Esta noite choveu neve


No gargalinho do poço.
Viva a menina Maria 649,
Tem boquinha de cravo roxo.

RCR 10f650
Informante: Rosa Maria Morais Ramalho Cardoso, 73 anos, trabalhadora rural e doméstica, analfabeta,
natural de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 20 de Outubro de 2011.

Esta noite choveu neve


No gargalinho do poço.
Viva a menina Maria,651
Boquinha de cravo roxo.

RCR 10g652
Informante: Rosa Lopes Patinha Berjano, 78 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de Telheiro,
residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 21 de Setembro de 2011. Outras Informações: A
informante possui um curso de Guarda-Livros (Contabilidade) e de Dactilografia. Foi funcionária (chefe)
da Caixa de Previdência de Évora – serviço local de Reguengos de Monsaraz (Casa do Povo de Reguengos
de Monsaraz), durante 24 anos.

Esta noite choveu neve


No gargalinho do poço.
Viva a menina Antónia,
Boquinha de cravo roxo.

RCR 10h
Informante: Delmira Cachopas, 93 anos, comerciante, 3º ano de escolaridade, natural de Montoito,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 26 de Novembro
de 2011.

Esta noite choveu neve


No gargalinho do poço.
Todas as flores abriram
Menos o meu cravo roxo.

RCR 10i
Informante: Inácia Bragado Adriano, 80 anos, reformada (trabalhadora rural), analfabeta, natural de S.
Marcos do Campo, residente em S. Marcos do Campo. Recolha realizada em S. Marcos do Campo, a 24
de Novembro de 2011.

Esta noite choveu neve


No gargalo do meu poço.
Todas as flores abriram
Menos o meu cravo roxo.

649 Segundo a informante, o nome era alterado em função do nome da pessoa a quem se dirigiam.
650 A informante cantou a quadra.
651 Segundo a informante, o nome era alterado em função do nome da pessoa a quem se dirigiam.
652 A informante recordou que cantaram a quadra à sua tia a seguinte, à porta de casa de sua avó, quando

era pequena.

341
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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RCR 10j653
Informante: Maria Antónia Valido Lobo (Maria Cantadora), 73 anos, reformada (trabalhadora rural),
analfabeta (sabe ler e sabe assinar), natural da Caridade, residente na Caridade. Recolha realizada em
Caridade, a 7 de Novembro de 2011.

Esta noite choveu neve


No gragalinho do poço.
A minha neta é uma rosa
E o mê neto é um cravo roxo.

RCR 11654
Informante: Rosa Maria Morais Ramalho Cardoso, 73 anos, trabalhadora rural e doméstica, analfabeta,
natural de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolhida em Telheiro, em 20 de Outubro de 2011.

Mesmo agora aqui cheguei,


Dei um toque na calçada.
O meu coração me disse
Que aqui mora gente honrada.655

RCR 12a656
Informante: Francisca Piteira da Silva Neves, 62 anos, trabalhadora rural / doméstica, analfabeta, natural
de Motrinos, residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrinos, a 29 de Agosto de 2011.

Ó pretinho da Guiné,
Mascarrado com cortiça,
Venha dessa chaminé
Uma vara de chouriço.

RCR 12b657
Informante: Rosa Maria Morais Ramalho Cardoso, 73 anos, trabalhadora rural e doméstica, analfabeta,
natural de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 20 de Outubro de 2011.

Os sapatinhos da Guiné,
Mascarrados com cortiça.
Venha dessa chamné
Meia vara de chouriças.

653 A informante cantou a composição.


654 Versão quase idêntica foi recolhida por José Leite de Vasconcelos:
Ainda agora aqui cheguei,
Dei um tope na caçada,
Logo o meu coração disse
Que aqui mora gente honrada. (Leite de Vasconcelos [1983], pág. 259).
655 O informante relatou que se contava que, no final da cantiga, um senhor de Monsaraz costumava

responder:Desonrem-na!
656 A informante contou que cantava os reis junto das vizinhas e que se pedia carne, por exemplo.

José Leite de Vasconcelos recolheu:


Eu sou preto da Guiné,
Mascarrado com cortiça;
Venha dessa chaminé
Uma bela linguariça (Leite de Vasconcelos [1983], pág. 267).
657 A informante relatou que, quando os festeiros queriam que as pessoas a quem cantavam dessem alguma

coisa, cantavam esta composição.

342
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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RCR 13658
Informante: Rosa Maria Morais Ramalho Cardoso, 73 anos, trabalhadora rural e doméstica, analfabeta,
natural de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 20 de Outubro de 2011.

Ou o toucinho é rançoso,
Ou a faca não quer cortar,
Ou a criada é preguiçosa
Que não se quer levantar.

RCR 14659
Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural
de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 20 de Outubro de 2011. Outras
Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel.

Quais são os três cavaleiros


Que fazem sombra no mar?
São os três do Oriente,
Que Jesus vêm buscar.

RCR 15660
Informante: Rosa Lopes Patinha Berjano, 78 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, reformada, natural
de Telheiro, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 21 de Setembro de 2011. Outras
Informações: A informante possui um curso de Guarda-Livros (Contabilidade) e de Dactilografia. Foi
funcionária (chefe) da Caixa de Previdência de Évora – serviço local de Reguengos de Monsaraz (Casa
do Povo de Reguengos de Monsaraz), durante 24 anos.

Venho aqui cantar os Reis,


À porta desta donzela,
Se não me derem a esmola,
Vou-me embora sem ela.

RCR 16a661
Informante: Florinda Maria Fernandes, 70 anos, reformada, analfabeta (sabe ler e escrever), natural de
Monsaraz, residente em Monsaraz. Recolha realizada em Monsaraz, a 13 de Setembro de 2011.

Venho aqui cantar os Reis,


À porta do lavrador,
Não tem nada que me dar
(…).

658
Cantiga cantada quando a pessoa a quem pediam se demorava a abrir a porta ou a dar algo de comer
e/ou beber aos festeiros.
659
A informante cantou a composição.
José Leite de Vasconcelos recolheu duas quadras semelhantes (cf. Leite de Vasconcelos [1983], pág. 278
e 279).
Em Quadros Alentejanos, Brito Camacho cita os versos de “Os Três do Oriente” (cf. Brito Camacho [2009],
Quadros Alentejanos, Lisboa, Bonecos Rebeldes, 2009, pp. 107-108). Também António Tomás Pires
publica algumas versões de “Os Três do Oriente” (cf. António Tomás Pires [1923], Estudos e Notas
Elvenses, VI, A Noite de Natal, o Anno Bom e os Santos Reis, Elvas, Editor – António José Torres de
Carvalho, 1923, pp. 33-25). Por sua vez, Luís Chaves publica uma versão de Loulé e Manuel Joaquim
Delgado publica uma versão de Beja (cf. Chaves [1945], pág. 48; Delgado [1955], pág. 125).
660 A informante recordou que costumavam cantar à porta de sua avó, referindo que foi o Tio Garrana que

cantou a composição agora por si recordada.


661 A informante afirmou que, na noite de Reis, cantavam nas ruas e que as cantigas eram praticamente as

mesmas do Natal.

343
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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RCR 16b
Informante: Vitalina Rosa Godinho, 74 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Monsaraz,
residente em Ferragudo. Recolha realizada em Ferragudo, a 24 de Setembro de 2011.

Venho aqui cantar os Reis,


À porta dum lavrador,
Sua filha é uma rosa,
Sua mulher uma flor.

RCR 17a662
Informante: Josefa Rodrigues Godinho, 88 anos, reformada, 3.º ano de escolaridade, natural da Luz
(Mourão), residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 5 de
outubro de 2009.

Venho aqui cantar os Reis,


Colhendo um malvarisco.
Venha-me dar a esmola
O senhor D. Francisco.

RCR 17b663
Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 65 anos, reformada, 4.º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 21 de
Junho de 2009.

Venho aqui cantar os Reis,


Estamos no mês de Janeiro.
Venha-me dar os Reis,
Ó senhor Joaquim Caeiro.

RCR 17c 664


Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 58 anos, doméstica, 4.º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 5 de
Janeiro de 2002.

Vim aqui cantar os Reis,


Por cima de uma tarefa.
Venha-me dar a esmola,
Ó senhora Josefa.

662
A informante contou que uma vez foi cantar os Reis a casa do seu filho Francisco e que cantou a cantiga
que recordou. Explicou ainda que um “malvarisco” é uma flor assim alta (…), tem assim umas florinhas
pegada ao pé”. (…) “Há em cor-de-rosa, há em encarnado, (…) não sei se há lilás. Cor-de-rosa e vermelho
é que eu tenho visto.
663 A informante ouviu a cantiga à porta de casa de seus pais, sendo, por isso, dirigida ao seu pai, Joaquim

Caeiro.
664 A informante ouviu a cantiga à porta de casa de seus pais, sendo, por isso, dirigida à sua mãe, Josefa.

344
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Anexo II - Índice geográfico de informantes do concelho de Reguengos de Monsaraz


(com indicação da data das entrevistas)
Nota: A idade dos informantes corresponde à idade na última entrevista.
As localidades estão ordenadas por ordem alfabética.

Local de
BARRADA
Recolha
Identificação Data das
dos Informantes Entrevistas
Francisca Jorge Godinho Gato (86 anos, 3º ano de escolaridade, 30/09/2011
1 reformada, natural de Barrada, residente em Barrada) 11/09/2011
25/09/2011
Teodosa de Jesus Ganhão Valada (70 anos, analfabeta, reformada, 30/09/2011
2 natural de Barrada, residente em Barrada)

Local de
CAMPINHO
Recolha
Identificação Data das
dos Informantes Entrevistas
Catarina Freira Capucho (68 anos, analfabeta (sabe assinar, sabe ler 09/04/2011
pouco e escrever), reformada (funcionária da Câmara Municipal de
1 Reguengos de Monsaraz), natural de Campinho, residente em
Campinho)
Joaquim José Rosado Leal (74 anos, 3º ano de escolaridade, 09/04/2011
reformado (trabalhador rural e funcionário da Câmara Municipal de
2 Reguengos de Monsaraz), natural de Campinho, residente em
Campinho)
Luís Mestre Dias (70 anos, 4º ano de escolaridade, reformado 09/04/2011
3 (trabalhador rural e motorista), natural de Alqueva, residente em
Reguengos de Monsaraz). Foi entrevistado no Campinho.
Maria Joaquina Rosado Tendeiro (67 anos, 3º ano de escolaridade, 26/03/2011
4 reformada (trabalhadora rural), natural de Campinho, residente em
Campinho)

Local de
CARIDADE
Recolha
Identificação Data das
dos Informantes Entrevistas
António da Silva Fialho (Taranta) (81 anos, 1º ano de escolaridade, 04/11/2011
1 reformado (trabalhador rural), natural da Caridade, residente na 05/11/2011
Caridade)
António Jacinto Fialho Guerra (Ti Guerra) (81 anos, 3º ano de 05/11/2011
escolaridade, reformado (trabalhador da Câmara Municipal de
2 Reguengos de Monsaraz), natural da Caridade, residente na
Caridade)
Joana Valido Cruz (73 anos, 2º ano de escolaridade, reformada 05/11/2011
3 (trabalhador rural), natural da Caridade, residente na Caridade)
Maria Antónia Valido Lobo (Maria Cantadora) (73 anos, 07/11/2011
4 analfabeta (sabe ler e sabe assinar), reformada (trabalhadora rural),
natural da Caridade, residente na Caridade)

345
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Local de
CARRAPATELO
Recolha
Identificação Data das
dos Informantes Entrevistas
Gertrudes Lameira Rita (82 anos, analfabeta, reformada 09/10/2011
1 (trabalhadora rural), natural de Carrapatelo, residente em
Carrapatelo)
Maria de Jesus Cardoso Rita (76 anos, analfabeta (sabe assinar), 22/10/2011
2 reformada, natural de Carrapatelo, residente em Carrapatelo)

Local de
CUMEADA
Recolha
Identificação Data das
dos Informantes Entrevistas
Jacinta Rosa Borrego (67 anos, 3º ano de escolaridade, 21/11/2011
1 Comerciante, natural de Campinho, residente em Cumeada)
José Colaço (70 anos, 4º ano de escolaridade, Comerciante, natural 21/11/2011
2 de Cumeada, residente em Cumeada)

Local de
FERRAGUDO
Recolha
Identificação Data das
dos Informantes Entrevistas
Vitalina Rosa Godinho (74 anos, 2º ano de escolaridade, reformada, 24/09/2011
1
natural de Monsaraz, residente em Ferragudo)

Local de
MONSARAZ
Recolha
Identificação Data das
dos Informantes Entrevistas
Antónia Barradas Dias Rato da Silva (64 anos, 4º ano de 21/10/2011
1 escolaridade, empregada de balcão, natural de Monsaraz, residente 22/11/2011
em Monsaraz)
António Joaquim Lopes Rodrigues (74 anos, analfabeto, reformado, 29/09/2011
2 natural de Monsaraz, residente em Monsaraz) 30/09/2011
José Cardoso Pereira (56 anos, 4º ano de escolaridade, reformado, 30/09/2011
3 natural de Monsaraz, residente em Monsaraz)
Florinda Maria Fernandes (70 anos, analfabeta (sabe ler e escrever), 13/09/2011
4 reformada, natural de Monsaraz, residente em Monsaraz)

Local de
MOTRINOS
Recolha
Identificação Data das
dos Informantes Entrevistas
Francisca Piteira da Silva Neves (62 anos, analfabeta, trabalhadora 29/09/2011
1 rural / doméstica, natural de Motrinos, residente em Motrinos)
Rosa Marques Cardoso (76 anos, 3º ano de escolaridade, reformada, 29/09/2011
2 natural de Motrinos, residente em Motrinos) 22/11/2011

346
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Local de
OUTEIRO
Recolha
Identificação Data das
dos Informantes Entrevistas
Albertina Rosa Ferro Leal (67 anos, 3º ano de escolaridade, 05/11/2011
1 doméstica, natural de Outeiro, residente em Outeiro)
Deolinda Valadas Infante Cardoso (61 anos, 6º ano de escolaridade, 05/11/2011
2 doméstica, natural de Outeiro, residente em Outeiro) 21/11/2011
22/11/2011
Etelvina Raminhos Nunes Pinto (52 anos, 4º ano de escolaridade, 05/09/2011
3 doméstica, natural de Outeiro, residente em Outeiro)
Gertrudes Maria Pacheco Borges (63 anos, 4º ano de escolaridade, 05/11/2011
4 desempregada (cozinheira), natural de Outeiro, residente em
Outeiro)
Joana dos Reis Gato (80 anos, 4º ano de escolaridade, reformada 12/09/2011
5 (em solteira, trabalhou no campo, doméstica), natural de Outeiro, 05/11/2011
residente em Outeiro) 18/03/2012
Julieta de Fátima dos Ramos Janeiro Martins (64 anos, 4º ano de 05/11/2011
6 escolaridade, reformada (trabalhadora rural), natural de Outeiro,
residente em Outeiro)
Manuel Fernando (78 anos, analfabeto, reformado, natural do 22/09/2011
7 Outeiro, residente em Outeiro)
Mirandolina Carnaças Leal Aranha (65 anos, 3º ano de 05/11/2011
8 escolaridade, reformada, natural de Outeiro, residente em Outeiro)

Local de
PEROLIVAS
Recolha
Identificação Data das
dos Informantes Entrevistas
Antónia Lopes Lourinho (69 anos, 4º ano de escolaridade, 08/11/2011
1 reformada (trabalhadora rural), natural de Perolivas, residente em
Perolivas)
Inês Maria Godinho Quintas (80 anos, analfabeta, reformada 08/11/2011
2 (trabalhadora rural), natural de Caridade, residente em Perolivas)
Luís Lopes dos Santos (84 anos, 4º ano de escolaridade, reformado 07/11/2011
3 (sapateiro), natural de Perolivas, residente em Gafanhoeiras
(Perolivas))
Maria Catarina Jesus (76 anos, analfabeta, reformada (trabalhadora 08/11/2011
4 rural), natural de Perolivas, residente em Perolivas)
Maria Ramalho Olivença (85 anos, analfabeta, reformada 07/11/2011
5 (trabalhadora rural), natural de Perolivas, residente em Perolivas)

Local de
REGUENGOS DE MONSARAZ
Recolha
Identificação Datas das

dos Informantes Entrevistas
Ana Romão Correia Cunha Cartaxo (81 anos, 4º ano de 04/11/2011
1 escolaridade, reformada (doméstica), natural de Reguengos de
Monsaraz, residente em Reguengos de Monsaraz)
Delmira Cachopas (93 anos, 3º ano de escolaridade, comerciante, 26/11/2011
2 natural de Montoito, residente em Reguengos de Monsaraz) 06/11/2011

347
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Francisca Antónia Godinho Pinto (79 anos, analfabeta, reformada 06/11/2011


3 (trabalhadora rural), natural de Caridade, residente em Reguengos
de Monsaraz)
Francisco Rodrigues Caeiro (55 anos, 4º ano de escolaridade, 11/09/2010
4 reformado (foi GNR), natural de Campinho, residente em
Reguengos de Monsaraz)
Inácia da Conceição Janeiro (68 anos, 9º ano de escolaridade, 25/11/2011
5 doméstica, natural de Perolivas, residente em Reguengos de
Monsaraz)
Inácia Ramalho Paixão Caeiro (65 anos, agricultora, 4º ano de 04/06/2011
6 escolaridade, natural de Perolivas, residente em Reguengos de
Monsaraz)
Iria Morais (89 anos, analfabeta, reformada, natural de Reguengos 08/02/2012
7 de Monsaraz, residente em Reguengos de Monsaraz)
Isménia Moleiro Ramalho (83 anos, 2º ano de escolaridade, Setembro/199
reformada, natural de Campinho, residente em Reguengos de 9
Monsaraz) Abril/2000
27/09/2002
Abril/2009
11/06/2009
26/11/2009
05/07/2009
13/09/2009
28/10/2009
26/11/2009
14/06/2010
10/07/2010
23/07/2010
8 25/07/2010
14/09/2010
07/03/2011
10/04/2011
Maio/2011
28/05/2011
31/08/2011
10/09/2011
11/09/2011
12/09/2011
24/09/2011
11/10/2011
22/10/2011
02/11/2011
20/05/2012
João Veva Rocha (71 anos, 9º ano de escolaridade, reformado 16/09/2010
9 (antigo sargento-chefe GNR), natural de Capelins - Alandroal,
residente em Reguengos de Monsaraz)
Joaquina Códices Gomes Reis (70 anos, 4º ano de escolaridade, 16/09/2010
10 reformada, natural de Capelins-Alandroal, residente em
Reguengos de Monsaraz)
Joaquina Ferreira Valadas (83 anos, analfabeta, reformada (foi 04/06/2011
11 comerciante), natural de Monsaraz, residente em Reguengos de 11/09/2011
Monsaraz)
Josefa Rodrigues Godinho (90 anos, 3º ano de escolaridade, 09/12/2000
reformada, natural da Luz (Mourão), residente em Reguengos de 13/09/2009
12 Monsaraz) 05/10/2009
17/10/2009
03/11/2011

348
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Manuel Ramalho Furão (75 anos, 4º ano de escolaridade, reformado 23/09/2011


13 (trabalhador rural/tractorista), natural de S. Marcos do Campo,
residente em Reguengos de Monsaraz)
Maria de Lurdes Veladas (56 anos, desempregada (foi 11/09/2010
14 comerciante), 4º ano de escolaridade, natural de Monsaraz,
residente em Reguengos de Monsaraz)
Maria do Carmo Valadas Amieira (67 anos, reformada, 4º ano de Abril/ 1999
escolaridade, natural de Campinho, residente em Reguengos de Agosto/ 1999
Monsaraz) Setembro/199
9
Outubro/1999
Abril/2000
23/06/2000
25/06/2000
09/12/2000
29/10/2002
11/06/2009
12/06/2009
13/06/2009
04/07/2009
30/08/2009
25/09/2009
05/10/2009
26/10/2009
05/11/2009
06/11/2009
08/11/2009
09/11/2009
10/11/2009
15 01/12/2009
23/12/2009
28/02/2010
30/05/2010
10/07/2010
01/09/2010
24/07/2010
13/09/2010
05/03/2011
25/05/2011
05/06/2011
09/06/2011
20/08/2012
24/08/2012
22/10/2011
02/11/2011
19/11/2011
23/11/2011
31/12/2011
05/04/2012
09/05/2012
09/06/2012
28/06/2012
Maria Inácia Parreira Borrego (83 anos, 3º ano de escolaridade, 07/03/2011
16 reformada, natural de Campinho, residente em Reguengos de
Monsaraz)

349
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Maria José Bento (76 anos, 4º ano de escolaridade, reformada 06/11/2011


17 (trabalhadora rural e auxiliar de cozinha), natural de Reguengos de
Monsaraz, residente em Reguengos de Monsaraz)
Maria Margarida Couto Lopes (72 anos, 4º ano de escolaridade, 06/11/2011
18 reformada (trabalhadora rural), natural de Reguengos de Monsaraz,
residente em Reguengos de Monsaraz)
Maria Vitória de Sousa Serrano (72 anos, analfabeta, reformada 23/09/2011
19 (doméstica), natural de Moura (cresceu em S. Marcos do Campo,
aldeia dos seus pais), residente em Reguengos de Monsaraz)
Raimundo Luís Godinho Caeiro (68 anos, 9º ano de escolaridade,
Setembro/199
agricultor, natural de Campinho, residente em Reguengos de 9
20 Monsaraz) 24/07/2010
07/03/2011
Rosete Falardo Ramalho (68 anos, 4º ano de escolaridade, 24/11/2011
21 reformada (doméstica), natural de Gafanhoeiras, residente em
Reguengos de Monsaraz)
Serafim Capucho dos Santos Amieira (71 anos, 4º ano de Agosto /1999
escolaridade, reformado, natural de Campinho, residente em Setembro/
Reguengos de Monsaraz) 1999
Abril/2000
23/06/2000
Julho/2000
05/06/2009
07/05/2009
11/06/2009
12/06/2009
13/06/2009
16/06/2009
04/07/2009
24/07/2010
13/09/2009
05/10/2009
17/10/2009
05/11/2009
07/11/2009
08/11/2009
22 09/11/2009
08/12/2009
16/01/2010
31/01/2010
01/02/2010
02/02/2010
03/02/2010
30/05/2010
31/05/2010
11/09/2010
13/09/2010
14/09/2010
07/03/2011
09/04/2011
30/08/2011
11/09/2011
12/09/2011
24/09/2011
09/10/2011
10/10/2011
11/10/2011

350
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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03/11/2011
04/11/2011
06/11/2011
07/11/2011
19/11/2011
23/11/2011
24/11/2011
06/12/2011
07/12/2011
08/12/2011
06/02/2012
21/03/2012
11/05/2012
12/05/2012
09/06/2012

Local de
SANTO ANTÓNIO DO BALDIO
Recolha
Identificação Data das
dos Informantes Entrevistas
Domingos Gaspar dos Santos Ramalho (68 anos, analfabeto, 10/10/2011
1 reformado (moiral de gado bravo), natural do Outeiro, residente em
Santo António do Baldio)
Guiomar Rodrigues (44 anos, 4º ano de escolaridade, doméstica, 03/11/2011
2 natural de Santo António do Baldio, residente em Santo António do
Baldio)
Maria do Rosário Neves Alfaiate (Ti Lia) (81 anos, analfabeta, 10/10/2011
3 reformada (trabalhadora rural), natural de Santo António do Baldio, 21/10/2011
residente em Santo António do Baldio)
Mariana dos Santos Mendes (76 anos, 3º ano de escolaridade, 10/10/2011
4 reformada (trabalhadora rural), natural de Santo António do Baldio,
residente em Santo António do Baldio)
Prazeres Carvalho Ramos (74 anos, analfabeta, reformada 03/11/2011
5 (trabalhadora rural), natural de Santo António do Baldio, residente
em Santo António do Baldio)
Rosário Pinto Ramalho (Bisau) (77 anos, 3º ano de escolaridade, 03/11/2011
6 reformada (trabalhadora rural), natural de Santo António do Baldio,
residente em Santo António do Baldio)
Sabina Costa Bentinho (75 anos, 3º ano de escolaridade, reformada, 10/10/2011
7 natural de Santo António do Baldio, residente em Santo António do
Baldio)

Local de
S. MARCOS DO CAMPO
Recolha
Identificação Data das
dos Informantes Entrevistas
Antónia Garcia (85 anos, 3º ano de escolaridade, reformada 07/12/2011
1 (trabalhadora rural), natural de São Marcos do Campo, residente em
São Marcos do Campo)
António Caeiro Paias (87 anos, 3ª classe, reformado (trabalhador 24/11/2011
2 rural), natural de S. Marcos do Campo, residente em S. Marcos do
Campo)

351
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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António Ramalho (95 anos, analfabeto (sabe ler e escrever), 07/12/2011


3 reformado, natural de São Marcos do Campo, residente em São
Marcos do Campo)
Generosa Ramalho Pereira (84 anos, 3º ano de escolaridade, 07/12/2011
4 reformada (trabalhadora rural), natural de São Marcos do Campo,
residente em São Marcos do Campo)
Inácia Bragado Adriano (80 anos, analfabeta, reformada 24/11/2011
5 (trabalhadora rural), natural de S. Marcos do Campo, residente em
S. Marcos do Campo)
Inácia Martins Balancho (83 anos, 2º ano de escolaridade, 07/12/2011
6 reformada, natural de São Marcos do Campo, residente em São
Marcos do Campo)
Inácia Martins dos Santos (86 anos, 3º ano de escolaridade, 07/12/2011
7 reformada, natural de São Marcos do Campo, residente em São
Marcos do Campo)
Josefina da Conceição Bragado Godinho (58 anos, 4ª classe, 24/11/2011
8 reformada, natural de S. Marcos do Campo, residente em S. Marcos
do Campo)
Maria Clara Bragado (69 anos, analfabeta, reformada (doméstica), 24/11/2011
9 natural de S. Marcos do Campo, residente em S. Marcos do Campo)
Maria Gomes (86 anos, analfabeta reformada, natural de São 07/12/2009
10 Marcos do Campo, residente em São Marcos do Campo)
Virgílio de Carvalho Paias (89 anos, 4º ano de escolaridade, 07/12/2011
11 reformado, natural de São Marcos do Campo, residente em São
Marcos do Campo)

Local de S. PEDRO DO CORVAL


Recolha
Identificação Data das

dos Informantes entrevistas
Domingos Falardo Amieira (71 anos, analfabeto, reformado, 23/10/2011
1 natural de S. Pedro do Corval, residente em S. Pedro do Corval)
José Godinho (78 anos, analfabeto, reformado, natural da Caridade, 22/10/2011
2 residente em S. Pedro do Corval)
José Jaleca Dourado (74 anos, 4º ano de escolaridade, barbeiro, 02/11/2011
3 natural de S. Pedro do Corval, residente em S. Pedro do Corval)
Maria da Conceição Reis (Maria dos Três Queijos) (58 anos, 4º ano 02/11/2011
4 de escolaridade, comerciante, natural de Santo António do Baldio,
residente em S. Pedro do Corval)
Maria de Aires Valadas (61 anos, 2º ano de escolaridade, doméstica, 02/11/2011
5 natural de S. Pedro do Corval, residente em S. Pedro do Corval) 03/11/2011
Mariana Rosa Carvalho Ramos (71 anos, 1º ano de escolaridade, 03/11/2011
6 reformada (cabeleireira), natural de Santo António do Baldio, 04/11/2011
residente em S. Pedro do Corval)
Sertório Orti Barona (73 anos, 4º ano de escolaridade, reformado, 22/10/2011
7 natural de S. Pedro do Corval, residente em S. Pedro do Corval)

352
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Local de
TELHEIRO
Recolha
Identificação Data das
dos Informantes Entrevistas
António Joaquim Morais Cardoso (74 anos, 2º ano de escolaridade, 22/09/2011
1 trabalhador rural, natural de Monsaraz, residente em Telheiro) 20/10/2011
Deolinda Caeiro Lopes (75 anos, analfabeta, mas sabe ler e 22/09/2011
2 escrever, pasteleira, natural de Outeiro, residente em Outeiro) 23/09/2011
Georgina Leal (70 anos, 4ª classe, comerciante, natural de Telheiro, 22/09/2011
3 residente em Telheiro)
Mariana Gato Curvinha (80 anos, 3º ano de escolaridade, reformada 13/09/2011
(trabalhadora rural), natural de Telheiro (nasceu e cresceu no 22/09/2011
4 Convento da Orada, propriedade da família na altura), residente em
Telheiro)
Rosa Maria Morais Ramalho Cardoso (73 anos, analfabeta, 22/09/2011
trabalhadora rural e doméstica, natural de Monsaraz, residente em
25/09/2011
5 Telheiro) 10/10/2011
20/10/2011
Rosa Lopes Patinha Berjano (78 anos, 4º ano de escolaridade, 21/09/2011
6 reformada, natural de Telheiro, residente em Telheiro)

Concelho de Mourão

Local de
MOURÃO
Recolha
Identificação Data das
dos Informantes Entrevistas
Elexina Pereira Marcão Real (87 anos, 2º ano de escolaridade, 22/11/2011
reformada, natural de Monsaraz (nasceu no monte da Belhoa),
1 residente em Mourão)

353
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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354
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Anexo III – Antologias de textos líricos da tradição oral do concelho de Reguengos


de Monsaraz, recolhidos e publicados, entre 1899 e 2012.

A. Antologia de composições publicadas, entre 1899 e 2012

1.Composições de carácter prático-utilitário


1.1. Composições de natureza e intenção mágica e religiosa
1. 1.1. Orações
Para o quotidiano

De manhã

Ao nascer do sol

OrP 1665
Versão de São Marcos do Campo, munic. de Reguengos, dist. de Évora, ouvida a Antónia Casado.
Recolhida por J. A. Pombinho Júnior.

Já lá vem o sol nascendo,


Com a sua capinha amarela,
Quem lha deu? quem lha daria?
Foi a Santa Badanela.666

5 A Santa Badanela escreveu


Uma carta a Jesus Cristo
O portador que a levou
Foi o padre S. Francisco.

O padre S. Francisco,
10 Meu divino amparador,
Amparai a minha alma,
Quando deste mundo for.

665 Aparato crítico do editor:


Ao Nascer do Sol (segundo o colector, é muito parecida (…) mas mais desenvolvida, há, segundo T. Braga,
op. Cit., p.242 [BRAGA 1913: 242], em Vila Boim a “oração pelas almas”.
Oração? (…) O colector tem pertinência na interrogação: trata-se de um pequeno romance estrófico, ora
usado como oração, ora tomado como canto de trabalho. (…)
Este pequeno romance estrófico era cantado em Trás-os-Montes como “romance de segada”, ao pôr-do-
sol, no regresso do trabalho, neste caso ceifa manual; começa, na maior parte das versões, Agora baixou
o sol/ lá por trás daquela serra; conhecemos, referindo o nascer do sol, a partir da Beira Alta, munic. de
Nelas, dist. de Viseu, para o Sul; recolhido, mais abundantemente, no Alentejo; não temos conhecimento
de nenhuma versão recolhida no Algarve. (Pombinho Júnior [2001], pp. 61-62).
666 Corruptela de “Madalena”.

355
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Ao levantar-se

Ao lavar as mãos

OrP 2667
Versão de São Marcos do Campo, munic. de Reguengos, dist. de Évora, ouvida a Maria da Horta.
Recolhida por J. A. Pombinho Júnior.

Pelo sinal † da Santa Cruz…


Minhas mãos molho,
Meu rosto lavo,
Dou glórias à Senhora
E penas ao pecado.

À noite

Ao deitar

OrP 3668
Versão de São Marcos do Campo, munic. de Reguengos, dist. de Évora, ouvida a Antónia Casado.
Recolhida por J. A. Pombinho Júnior.

Jesus que eu vou para o Céu,


Os anjos me vão levando;
Tudo me vai esquecendo,
Só Jesus me vai lembrando.

OrP 4669
Versão de São Marcos do Campo, munic. de Reguengos, dist. de Évora, ouvida a Antónia Casado.
Recolhida por J. A. Pombinho Júnior.

Senhor morto,
Guardai a minha alma
E o meu corpo;
Senhor vivo;
5 Guardai a minha porta,
O telhado e o meu postigo;
Senhor crucificado,
Comigo deitado.

667 Aparato Crítico do Editor:


(…) no mesmo suporte, rosto, a citação:
“Para o lavar as mãos
Minhas mãos molho,
Meu rosto lavo,
Para dar gosto à Virgem
5 Penas ao diabo.”
T. Braga, Canc. Pop. Port., 2º vol. – p. 228 [BRAGA 1913:228]. O confronto da versão de S. Marcos com
a referida de T. Braga explica a anotação de pecado! = diabo, perfeitamente corrente no léxico das orações
populares. (Pombinho Júnior [2001], pág. 51).
668 Pombinho Júnior [2001], pág. 89.
669 Aparato Crítico do Editor: (…) A oração está escrita em três versículos que não correspondem à ritmia

e assonâncias reais e que são perfeitamente detectáveis (…). (Pombinho Júnior [2001], pp.89-90).

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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OrP 5670
Versão de São Marcos do Campo, munic. de Reguengos, dist. de Évora, ouvida a Maria da Horta.
Recolhida por J. A. Pombinho Júnior.

Senhor[,] morto foste


E vivo estais,
Daí-me bom viver
E graças para Vos servir;
5 Deitai-me a Vossa bênção
Que me quero deixar dormir.

OrP 6671
Versão de São Marcos do Campo, munic. de Reguengos, dist. de Évora, ouvida a Antónia Casado.
Recolhida por J. A. Pombinho Júnior.

Quatro cantos tem a casa,


Quatro luzes estão a arder
Quatro anjos me acompanhem
Esta noite, se eu morrer.

OrP 7672
Versão de São Marcos do Campo, munic. de Reguengos, dist. de Évora, ouvida a Antónia Casado.
Recolhida por J. A. Pombinho Júnior.

Nesta cama me deito,


Com esta tampa me cubram;
Se eu morrer esta noite,
Os anjos do Céu me acudam!

OrP 8673
Versão de Aldeia do Mato, munic. de Reguengos, dist. de Évora, ouvida a Maria Rosado (Maria das
Minas). Recolhida por J. A. Pombinho Júnior.

Senhor, que na cruz estais,


Morto foi, e vivo estais,
Para não tornar a morrer[,]
Senhor, daí-me bom viver
5 E graça para O servir;
Daí-me a vossa abênção
Que me quero deixar dormir.

670
Pombinho Júnior [2001], pág. 90.
671 Aparato Crítico do Editor: (…) Cf. 2º vol. Do Canc. Pop. Port., p. 219 [BRAGA 1913:219] que tem uma
versão desta oração (e do Alentejo) com o v. 2 Quatro velas estão a arder. (Pombinho Júnior [2001], pp.
91-92).
Há uma versão parecida em Orações. Património Oral do Concelho de Loulé (cf. Custódio, Galhoz,
Cardigos [2008], pág. 68).
672 Aparato Crítico do Editor:

(…) Consta, ao fundo, uma nota a lápis T. Braga, II, p. 219 [BRAGA 1913:219] e que não foi aproveitada
no dactiloscrito por não justificar o confronto (…). (Pombinho Júnior [2001], pág. 93).
673 Pombinho Júnior [2001], pág. 93.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Depois da refeição

OrP 9674
Versão de Aldeia do Mato, munic. de Reguengos, dist. de Évora, ouvida a Maria das Minas. Recolhida por
J. A. Pombinho Júnior.

Deus que aqui nos juntou


E que nos ajunta
E nos acobre
No seu santo terreno,
5 No seu santo serviço[,]
Deus que nos deu para agora
Nos dê<a> sempre
E para toda a hora
Ámen Jesus[,] M[ária][,]José.

Ao acender a luz

OrP 10675
Versão de Aldeia do Mato, munic. de Reguengos, dist. de Évora, ouvida a Maria das Minas. Recolhida por
J. A. Pombinho Júnior.

Seja louvado N[osso] S[enhor] Jesus Cristo!


Deus nos dê a luz na alma e no corpo,
Deus nos veja,
E o demónio cego seja!

Para acompanhar o ritual da missa

Ao entrar na igreja

OrP 11676
Versão de Aldeia do Mato, munic. de Reguengos, dist. de Évora, ouvida a Maria Rosado (Maria das
Minas). Recolhida por J. A. Pombinho Júnior.

Fiquem aí, pecados meus[,]


Debaixo desse pinheiro,
Que eu vou à casa santa
Visitar Deus verdadeiro.

Quando o padre diz: ‘Padre, Filho, Espírito Santo’

OrP 12677
Versão de A[ldeia] do Mato, munic. de Reguengos, dist. de Évora, ouvida a Maria Rosado (Maria das
Minas). Recolhida por J. A. Pombinho Júnior.

Senhor, que estais em primeiro lugar,

674 Pombinho Júnior [2001], pág. 82.


675 Pombinho Júnior [2001], pág. 8.
676 Pombinho Júnior [2001], pág. 64.
677 Pombinho Júnior [2001], pág. 70.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Por seres um Deus Amparador,


E eu, como grande pecador,
Mil graças vos venho dar!

Quando a missa termina, ao sair da igreja

OrP 13678
Versão de Aldeia do Mato, munic. de Reguengos, dist. de Évora. Recolhida por J. A. Pombinho Júnior.

Graças a Deus que ouvi missa,


Graças a Deus, que Deus a disse
No céu e na terra
Meu pai e minha mãe tenham quinhão nela.
5 Adora, adora Cristo, adora;
Deitai-me a vossa bênção,
Que me quero ir embora.
Oferecimento:
Já me vou embora,
10 Minha alma cá fica
Se eu não puder voltar,
Os anjos me vão buscar.
Amén.

Ao passar pelo cruzeiro

OrP 14679
Versão de Aldeia do Mato, munic. de Reguengos, dist. de Évora, ouvida a Maria Rosado (Maria das
Minas). Recolhida por J. A. Pombinho Júnior.

Deus te salve, Cruz bendita,


Ramalhete de flores,
Onde morreu Jesus Cristo,
Para salvar os pecadores!

Para proteger da trovoada

OrP 15680
Versão de São Marcos do Campo, munic. de Reguengos, dist. de Évora, ouvida a Maria da Horta.
Recolhida por J. A. Pombinho Júnior.

Valha-me o Santíssimo Sacramento,


E as três missas do Natal:
Não haja nada no mundo
Que nos possa fazer mal.

678 Pombinho Júnior [2001], pág. 76.


679 Pombinho Júnior [2001], pág. 151.
680 Pombinho Júnior [2001], pág. 114 e 151.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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1.1.2. Ensalmos

EnsP 1681
Recolha junto dos formandos (2º ciclo) do Ensino Recorrente do Alentejo Central, efectuada pela
Coordenação Concelhia do Ensino Recorrente, em Reguengos de Monsaraz, em 1997.

Benzedura do ventre caído

Encomendamo-nos a S. Silvestre
E às onze camisinhas que ele veste.
Os seus anjinhos são trinta e sete,
Que nos livre de bicha, de serpa,
5 De cão raivoso, de homem temeroso,
De mulher desguedelhada e que anda
De noite no meio da estrada.

Em louvor da virgem Maria


Reze-se um Padre-Nosso e uma Ave-Maria

681
Nota do recolector sobre o contexto de enunciação: Esta benzedura faz-se às pessoas que, por qualquer
motivo, apanharam um grande susto, ficando com esse trauma, ficando assim assustadiças.
AA. VV., (Com)Viver a Tradição (Recolha de Cultura Popular), Alentejo Central, Ministério da Educação
– DREA – CAE Alentejo Central / Educação Recorrente e Extra-Escolar, 2000, pág. 49.
No corpus secundário, a composição XXXXX (recolhida pela Coordenação Concelhia) foi publicada como
“Benzedura do ventre caído” mas classificamo-la como ensalmo porque, apesar de ser usada com fins
curativos (na referência à situação de enunciação, diz-se: “Esta benzedura faz-se às pessoas que, por
qualquer motivo, apanharam um grande susto, ficando com esse trauma, ficando assim assustadiças”), não
há qualquer referência ao gesto de benzer. Contudo, a referida composição pode ter dupla classificação,
uma vez que, na verdade, corresponde textualmente a uma oração, a Encomendação a S. Silvestre.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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1.1.3. Esconjuros
EscP 1682
Recolha realizada na aldeia de Motrinos, concelho de Reguengos de Monsaraz.

S. Jerónimo se levantou,
Seu sapatinho d’ouro calçou,
Seu cacheirinho agarrou,
Seu caminho caminhou.
5 Deus Nosso Senhor o encontrou.
- Onde vais, S. Jerónimo?
- Vou espalhar esta trovoada
Que por cima de nós anda armada.
- Espalha-a lá para bem longe,
10 Para onde não haja pão nem vinho,
Nem flor de rosmaninho,
Nem eira nem beira,
Nem raminho de oliveira,
Nem gadelhinho de lã,
15 Nem alminha cristã.

682
Delgado [1956], pág. 107.

361
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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1.2. Composições de sabedoria

1.2.1. Provérbios

PP1683
Agua branda em pedra dura tanto bate até que fura.

PP2684
A festa do Natal atras do lar: a da Paschoa na praça; a do Espirito Santo no Campo.

PP3685
A lavrador descuidado, os ratos lhe comem o semeado.

PP4686
Ande o frio por onde andar ha-de vir pelo Natal.

PP5687
Dia de S. Luzia, mingua a noite e cresce o dia.

PP6688
Dia de S. Silvestre, quem tem carne que lhe preste.

PP7689
Do Natal a Santa Luzia, cresce um palmo o dia.

PP8690
Em Dezembro a uma lebre galgos cento.

PP9691
Em Dezembro descansa, em Janeiro trabalho.

PP10692
Entre o Menino e Thomé três dias é.

PP11693
Mais do que o dado, vale a maneira de o dar.

683 s.a. [1914], “O Carnaval”, in O Ecco de Reguengos, Reguengos, 28 de Fevereiro de 1914, nº 245 pág.1.
684 s.a [1899]., “Preverbios de Dezembro”, in Jornal de Reguengos,10 de Dezembro de 1899, pág. 2.
685 s.a. [1947] “Provérbios”, in O Éco de Reguengos (II Série), 16 de Março de 1947, nº 710, pág. 4.
686 s.a. [1899], pág. 2.

687 s.a. [1899], pág. 2.

688 s.a. [1899], pág. 2.

689 s.a. [1899], pág. 2.

690 s.a. [1899], pág. 2.

691 s.a. [1899], pág. 2.

692 s.a. [1899], pág. 2.

693 s.a. [1947], pág. 4.

362
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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PP12694
Mais vale pouco e acertado, do que o muito e errado.

PP13695
Moço desprevenido, serà velho arrependido.

PP14696
Nunca digas o que sabes, sem saber o que dizes.

PP15697
Olha para ti, e fica-te por aí.

PP16698
O que arma a esparrela, muitas vezes cai nela.

PP17699
O que convém, antes de tudo, é o modo mais simples de aprender.

PP18700
O Dezembro quer lenha no lar e richel no andar.

PP19701
Outubro, Novembro e Dezembro não busque o pão no mar.

PP20702
Pelo Natal bico de pardal.

PP21703
Pelo S. Thomé o porco pelo pé.

PP22704
Por S. Nicolau a neve no chão.

PP23705
Quem é bom de contentar, menos tem de chorar.

PP24706
Quem não pode dormir, acha a cama mal feita.

694 s.a. [1947], pág. 4.


695
s.a. [1947], pág. 4.
696
s.a. [1947], pág. 4.
697
s.a. [1947], pág. 4.
698
s.a. [1947], pág. 4.
699
s.a. [1947], pág. 4.
700
s.a. [1899], pág. 2.
701
s.a. [1899], pág. 2.
702
s.a. [1899], pág. 2.
703
s.a. [1899], pág. 2.
704
s.a. [1899], pág. 2.
705
s.a. [1947], pág. 4.
706
s.a. [1947], pág. 4.

363
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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PP25707
Quem quizer bom alhal, semea-lo pelo Natal.

PP26708
Quem vae ao S. Silvestre, vae n’um ano e vem no outro e nunca se despe.

PP27709
Riquesa a valer é: saude e saber.

PP28710
Se queres a desgraça em Portugal, dá-lhe três cheias antes do Natal.

707
s.a. [1899], pág. 2.
708
s.a. [1899], pág. 2.
709
s.a. [1947], pág. 4.
710
s.a. [1899], pág. 2.

364
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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2.Composições de carácter lúdico


2.1. Cantigas de todos os dias

2.1.1. Cantigas Amorosas

CAP 1711
A alcachofra ontem queimada,
Meu bem, por tua intenção,
Achei-a, de madrugada,
Màs negra que um tição.
(Reguengos)

CAP 2712
Abre, morena, a janela;
Mas basta abri-la só meia,
P’ra brilhar a meia lua
Onde brilha a lua cheia.

CAP 3713
Abre o meu peito, verás
Um enterro bem formado,
Verás meu coração morto
Tu, amor, mo tens matado.
(Reguengos)

CAP 4714
Adeus, amor d’algum dia,
Ainda te quero béim;
Ainda hoje pra mim,
Coma ti nã há ninguéim.
(Aldeia do Mato)

CAP 5715
Informante: Gertrudes Medinas Caeiro, nascida a 29 de Agosto de 1924, natural de Reguengos de
Monsaraz. Foi doméstica. Utente do Lar de Idosos D. Josefa Valadas (Santa Casa da Misericórdia).
Recolha realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão
Silva, de Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por
Luísa Róis.

Adeus amor passa bem

711 J. A. Pombinho Júnior [1938h], “Retalhos de um Vocabulário”, in Brados do Alentejo, Estremoz, 25 de


Setembro de 1938, nº 401, pág. 7.
712 s.a. [1928g], “Cancioneiros - Trovas Populares”, in O Guadiana, Ano I, nº 41, Reguengos, 19 de

Outubro de 1928, pág. 1.


713 J. A. Pombinho Júnior [1940c], “Retalhos de um Vocabulário”, in Brados do Alentejo, Estremoz, 11 de

Agosto de 1940, nº 499, pág. 5.


714 J. A. Pombinho Júnior [1936], Cantigas Populares Alentejanas e seu subsídio para o léxico português,

Porto, Edições Maranus, 1936, pág. 45.


715
Luísa Róis [2004], Conversa com versos. Colectânea de Poesia Popular. Projecto para a Inclusão e
Cidadania do Concelho de Reguengos de Monsaraz, 2004, pág. 137.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Já não ouves a minha fala


Vais-me fazer uma ausência
Como o fumo que abala

CAP 6716
Adês, amor, passa béim,
Que algum dia nos v’remos;
As pedras no ar s’encontrom,
Taméim nós assim sarêmos.717
(Aldeia do Mato)

CAP 7718
Informante: Florinda Rosado da Silva, nascida a 19 de Novembro de 1938. Residente na Cumeada (c. de
Reguengos de Monsaraz). Foi trabalhadora rural. Utente do Centro de Dia da Santa Casa da Misericórdia.
Recolha realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão
Silva, de Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por
Luísa Róis.

Adeus que me vou embora


Não me vou embora, não
Antes que me vá embora
Fica cá meu coração

CAP 8719
A fita do tê chapéu,
Ó redor dá quatro voltas.
Quéim namora às ‘condidas
Vai pró céu às cambalhotas.
(Aldeia do Mato)

CAP 9720
A felor do carapêto,
Ao longe fachada faz.
Se nã me amas com jêto,
À força nã és capaz.
(Reguengos)

CAP 10721
Informante: Mariana Mendes Conceição, nascida a 22 de Agosto de 1920, em Reguengos de Monsaraz.
Foi trabalhadora rural. Utente do Lar de Idosos D. Josefa Valadas (Santa Casa da Misericórdia). Recolha
realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva, de
Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por Luísa Róis.

A flor do cemitério
Quando abre dá paixão
716Pombinho Júnior [1936], pág. 92.
717 J. A. Pombinho Júnior [1925a], “Cantigas Populares Alentejanas (e seu subsídio para o léxico
português)”, in Terra Alentejana, Évora, 24 de Junho de 1925, Ano II, nº 89, pág. 8.
718 Róis [2004], pág. 84.
719
Pombinho Júnior [1936], pág. 21; J. A. Pombinho Júnior [1934b], “Retalhos de um Vocabulário”, in
Brados do Alentejo, Estremoz, 5 de Agosto de 1934, nº 184, pág. 6.
720
Pombinho Júnior [1936], pág. 37.
721 Róis [2004], pág. 121.

366
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Eu falo contigo ao sério


Tu comigo à mangação

CAP 11a722
A folha da vinha branca
Era amarela, encarnou,
Estavas para mim tão firme!
Meu amor, quem te virou?...
(Reguengos de Monsaraz)

CAP 11b723
A folhinha do salguêro
De amarela encarnou.
Tavas para mim tã firme,
Ó amor, quéim te voltou?
(Reguengos)

CAP 12724
A folha da vinha branca
O sol claro a passa.
Hê-de empregar tod’ ô jêto,
Para te cair em graça.
(Reguengos de Monsaraz)

CAP 13725
Aguardente bem temperada
É que faz a fala fina;
Eu gosto da minha amada
Por ser a mais pequenina.
(Reguengos de Monsaraz)

CAP 14726
Ai de mim, que vou p’ràs malvas,
Caminhando p’ràs ortigas.
Já perdi o norte à terra,
A amizade às raparigas.
(Reguengos)

CAP 15727
Informante: Filomena Maria Lopes, nascida a 5 de Junho de 1916, em Perolivas (c. de Reguengos de
Monsaraz). Foi costureira. Utente do Centro de Dia da Santa Casa da Misericórdia. Recolha realizada em
2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva, de Reguengos
de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por Luísa Róis.

722 Leitede Vasconcelos [1975], pág. 541.


723 Pombinho Júnior [1936], pág. 47.
724 J. A. Pombinho Júnior [1925 b], “Cantigas Populares Alentejanas (e seu subsídio para o léxico

português)”, in Terra Alentejana, Évora, 19 de Julho de 1925, Ano II, nº 92, pág. 4; Leite de Vasconcelos
[1975], pág. 350.
725 José Leite de Vasconcelos [1975a], Etnografia Portuguesa, vol. VI , Lisboa, IN-CM, 1975, pág. 396;

Leite de Vasconcelos [1975], pág. 663.


726 Pombinho Júnior [1936], pág. 75.
727 Róis [2004], pág. 149.

367
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Algum dia eu era


No teu prato a melhor sopa
Agora sou um veneno
Que entra na tua boca

CAP 16728
Informante: Filomena Maria Lopes, nascida a 5 de Junho de 1916, em Perolivas (c. de Reguengos de
Monsaraz). Foi costureira. Utente do Centro de Dia da Santa Casa da Misericórdia. Recolha realizada em
2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva, de Reguengos
de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por Luísa Róis.

Algum dia nessa rua


Tinha duas cadeiras
Onde assentavas meus olhos
E agora vão de carreira

CAP 17729
Á luz daquela candeia,
Jurou meu coração,
Jurou e não te falseia,
É mais firme que o chão.
(Reguengos)

CAP 18730
À luz daquela candeia
Se fez mê casamento.
Ó candeia nã t’apagues
Que hás-de vir a juramento.
(Reguengos)

CAP 19731
À luz daquela candeia
Se fêz o mê casamôlho.
Ó candeia nã t’apagues
Que o noivo é torto dum olho.732
(Reguengos)

CAP 20733
Amâr é um sentimento
Oculto no coração!...
Quem ama tem que sofrer
Com muita resignação.
728
Róis [2004], pág. 150.
729 J. A. Pombinho Júnior [1938j], “Retalhos de um Vocabulário”, in Brados do Alentejo, Estremoz, 16 de
Outubro de 1938, nº 404, pág. 5.
730 Pombinho Júnior [1936], pág. 38.
731 Pombinho Júnior [1936], pág. 38.
732 J. A. Pombinho Júnior [1925], “Cantigas Populares Alentejanas”, in Ilustração Alentejana, Évora, Maio

de 1925, pág.19.
733 s.a. [1928a], “Cancioneiros - Trovas Populares”, in O Guadiana, Ano I, nº 35, Reguengos, 5 de Agosto

de 1928, Ano I, pág. 2.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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CAP 21734
Amas a Deus, nosso Senhor
Que morreu por toda a gente;
Só a mim não tens amôr
Que morro por ti, somente.

CAP 22735
A minha intressôra rala,
Qu’ê nã tenho ralador;
Onde quere qu’ê chigar,
Nã hás-de fazer felor.736
(São Marcos)

CAP 23737
A madronheira de vrido
De rija que não se quebra:
Assim andas tu comigo
Cudas que o vento me leva.
(Reguengos)

CAP 24738
Informante: Mariana Mendes Conceição, nascida a 22 de Agosto de 1920, em Reguengos de Monsaraz.
Foi trabalhadora rural. Utente do Lar de Idosos D. Josefa Valadas (Santa Casa da Misericórdia). Recolha
realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva, de
Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por Luísa Róis.

A minha sogra diz que tem


Uma prenda p'ra me dar
Mas se ela não me der o filho
A prenda pode arrecadar

CAP 25739
Amôri, aperta-me a mão,
Faz-me ‘stralar estas unhas.
Se eu te quero béim ò não,
Aqui tão as destemunhas.
(Reguengos)

CAP 26740
Amôri, já lá vão balas,

734s.a. [1928e], “Cancioneiros - Trovas Populares”, in O Guadiana, Ano I, nº 39, Reguengos, 23 de


Setembro de 1928, pág. 2.
735 Pombinho Júnior [1936], pág. 65.
736 Pombinho Júnior [1925], pág. 19; [1933c] “Retalhos de um Vocabulário”, in Brados do Alentejo,

Estremoz, 17 de Dezembro de 1933, nº 151, pág. 6.


737 J. A. Pombinho Júnior [1948a], “Retalhos de um Vocabulário” (2ª Série), in Brados do Alentejo,

Estremoz, 25 de Janeiro de 1948, nº 865, pág. 3.


738 Róis [2004], pág. 120.
739 J. A. Pombinho Júnior [1939a], “Retalhos de um Vocabulário”, in Brados do Alentejo, Estremoz, 15 de

Janeiro de 1939, nº 417, pág. 17.


740 J. A. Pombinho Júnior [1938f], “Retalhos de um Vocabulário”, in Brados do Alentejo, Estremoz, 14 de

Agosto de 1938, nº 395, pág. 7.

369
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Que o chumbo vareia:


Nã posso q’rer bem
A quem me falseia.
(Aldeia do Mato)

CAP 27741
A oliveira ao alto
Tem na folha aos anéis,
Quem namora às escondidas,
Sempre anda a fazer papéis…
(Reguengos de Monsaraz)

CAP 28a742
A oliveira pequenina
Dá azeitona p’rò lagar;
Eu também sou pequenina,
Mas sou firme no amar.
(Reguengos de Monsaraz)

CAP 28b743
Azêtona pequenina
Taméim vai ò alagar;
Taméim ê sou pequenina
Mas sou firme no amar.
(Reguengos)

CAP 29744
Informante: Mariana Mendes Conceição, nascida a 22 de Agosto de 1920, em Reguengos de Monsaraz.
Foi trabalhadora rural. Utente do Lar de Idosos D. Josefa Valadas (Santa Casa da Misericórdia). Recolha
realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva, de
Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por Luísa Róis.745

Amor da tua mãe


Nem à porta me quer ver
Ainda espero que ele vingue
Entre a filha vem comer

CAP 30746
Informante: Ricardina Bárbara Gerónimo, nascida a 8 de Fevereiro de 1939, em Cabeça Gorda (c. de
Beja). Foi Trabalhadora Rural e Doméstica. Utente do Polo de Apoio à Família da Santa Casa da
Misericórdia. Recolha realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia
Vogado Perdigão Silva, de Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz,
coordenada por Luísa Róis.

Amor diz à tua mãe


Que não diga mal de mim

741Leite de Vasconcelos [1975], pág. 386.


742 Leitede Vasconcelos [1975], pág. 458.
743 Pombinho Júnior [1936], pág. 18.
744 Róis [2004], pág. 121.
745
Róis [2004], pág. 121.
746 Róis [2004], pág. 32.

370
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Pode ser que ainda sejamos


Rosas do mesmo jardim

CAP 31747
Amores vários, amores loucos,
Amores das ervas do campo,
Já me tinha admirado
Do nosso amor durar tanto.
(São Marcos)

CAP 32748
Informante: Maria Alves Santos Falé, nascida a 21 de Abril de 1923, em São Marcos do Campo (c. de
Reguengos de Monsaraz). Foi doméstica. Utente do Lar de Idosos D. Josefa Valada (Santa Casa da
Misericórdia). Recolha realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia
Vogado Perdigão Silva, de Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz,
coordenada por Luísa Róis.

Amor, fala se podes,


Que eu de acenos não entendo
Custa-me os olhos da cara
Não te falar em te vendo

CAP 33749
Informante: Maria Alves Santos Falé, nascida a 21 de Abril de 1923, em São Marcos do Campo (c. de
Reguengos de Monsaraz). Foi doméstica. Utente do Lar de Idosos D. Josefa Valada (Santa Casa da
Misericórdia). Recolha realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia
Vogado Perdigão Silva, de Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz,
coordenada por Luísa Róis.

Amor já não posso


À porta falar contigo
Já tenho guarda à porta
E sentinela ao postigo

CAP 34750
Informante: Maria Joana Bugalho, nascida a 29 de Janeiro de 1923, em Reguengos de Monsaraz. Foi
trabalhadora rural. Utente do Lar de Idosos D. Josefa Valadas (Santa Casa da Misericórdia). Recolha
realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva, de
Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por Luísa Róis.

Amor vai à minha casa


Cada vez que tu quiseres
Eu não posso ir à tua
Que não está dado às mulheres

CAP 35751
Informante: Mariana Mendes Conceição, nascida a 22 de Agosto de 1920, em Reguengos de Monsaraz.
Foi trabalhadora rural. Utente do Lar de Idosos D. Josefa Valadas (Santa Casa da Misericórdia). Recolha

747 Pombinho Júnior [1936], pág. 97.


748
Róis [2004], pág. 17.
749 Róis [2004], pág. 16.
750
Róis [2004], pág. 123.
751 Róis [2004], pág. 117.

371
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva, de
Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por Luísa Róis.

Anda cá amor não “vaias”


Ao rés da porta fugindo
Não vás fugindo à “desgracia”
Que ela te irá perseguindo

CAP 36752
Informante: Maria Alves Santos Falé, nascida a 21 de Abril de 1923, em São Marcos do Campo (c. de
Reguengos de Monsaraz). Foi doméstica. Utente do Lar de Idosos D. Josefa Valada (Santa Casa da
Misericórdia). Recolha realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia
Vogado Perdigão Silva, de Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz,
coordenada por Luísa Róis.

António me deu um lenço


Manuel um anel de ouro
Vale mais um lenço de António
Que o anel daquele touro

CAP 37753
Informante: Florinda Rosado da Silva, nascida a 19 de Novembro de 1938. Residente na Cumeada (c. de
Reguengos de Monsaraz). Foi trabalhadora rural. Utente do Centro de Dia da Santa Casa da Misericórdia.
Recolha realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão
Silva, de Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por
Luísa Róis.

À porta da minha sogra


Está uma roseira amarela
Todos passaram
Só eu é que fiquei preso nela

CAP 38754
Aqui ó mê la drêto
Éi um gosto a gente olhári;
Éi um cravo tã prefêto
Que acupa êste lugári.
(Reguengos)

CAP 39755
Informante: Maria Alves Santos Falé, nascida a 21 de Abril de 1923, em São Marcos do Campo (c. de
Reguengos de Monsaraz). Foi doméstica. Utente do Lar de Idosos D. Josefa Valada (Santa Casa da
Misericórdia). Recolha realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia
Vogado Perdigão Silva, de Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz,
coordenada por Luísa Róis.

Aqui tens meu coração


Se o queres matar, podes

752
Róis [2004], pág. 16.
753
Róis [2004], pág. 83.
754 J. A. Pombinho Júnior [1938c], “Retalhos de um Vocabulário”, in Brados do Alentejo, Estremoz, 20 de

Março de 1938, nº 374, pág. 6.


755 Róis [2004], pág. 18.

372
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Olha que estás dentro dele


Se o matares também morres

CAP 40756
Arranjaste amor’s novos,
‘Stimo da minha banda;
Queira Deus que durem tanto,
Comà àgua na ciranda.
(Aldeia do Mato)

CAP 41757
Informante: Maria Alves Santos Falé, nascida a 21 de Abril de 1923, em São Marcos do Campo (c. de
Reguengos de Monsaraz). Foi doméstica. Utente do Lar de Idosos D. Josefa Valada (Santa Casa da
Misericórdia). Recolha realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia
Vogado Perdigão Silva, de Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz,
coordenada por Luísa Róis.

A rosa depois de seca


Foi-se queixar ao jardim
O cravo lhe respondeu
Mal de amor já não tem fim

CAP 42758
A roseira cardinal
Dá rosa a oito e oito;
Eu ainda hei-de ser tua.
Mas por ora não me afoito.
(Reguengos de Monsaraz)

CAP 43759
Informante: Florinda Rosado da Silva, nascida a 19 de Novembro de 1938. Residente na Cumeada (c. de
Reguengos de Monsaraz). Foi trabalhadora rural. Utente do Centro de Dia da Santa Casa da Misericórdia.
Recolha realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão
Silva, de Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por
Luísa Róis.

A roseira cardinal
Dá rosas até à linha
O meu coração não fala
Não fala mas adivinha

CAP 44760
“A roseira cardinal
Dá rosas a três e três.
Todo o amor que é leal,

756 J.A. Pombinho Júnior [1938j], “Retalhos de um Vocabulário”, in Brados do Alentejo, Estremoz, 16 de
Outubro de 1938, nº 404, pág. 5.
757 Róis [2004], pág. 17.
758 Leite de Vasconcelos [1979], pág. 113.
759 Róis [2004], pág. 85.
760 J. A. Pombinho Júnior [1925f], “Cantigas Populares Alentejanas (e seu subsídio para o léxico

português)”, in Terra Alentejana, Évora, 13 de Setembro de 1925, Ano III, nº 100, pág. 4.

373
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
_____________________________________________________________________________________

Vai e volta outra vêz.


(Aldeia do Mato)

CAP 45761
Informante: Maria Catarina Medinas, nascida a 4 de Maio de 1922, em Reguengos de Monsaraz. Foi
Trabalhadora Rural. Utente do Centro de Dia da Santa Casa da Misericórdia. Recolha realizada em 2003,
por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva, de Reguengos de
Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por Luísa Róis.

A roseira dá botões
Dos botões rosas abertas
Tenho visto mangações
E às vezes sem darem certas

CAP 46762
A salsa verde na serra
Verdeja com’ò travisco;
O meu amor foi-me falso,
Como Judas foi a Cristo.
(Reguengos de Monsaraz)

CAP 47763
A salsa verde na serra
Verdeja com o travisco.
O meu amor foi-me falso
Como Judas foi a Cristo.
(Reguengos de Monsaraz)

CAP 48764
A semana amorosa

Na «segunda-feira» eu te amo,
Na «terça» te quero béim,
Na «quarta» por ti ‘spero,
Na «quinta» por mais nenguéim;
Na «sexta» dou um suspiro,
No «sábado» digo por quéim,
No «domingo» vou à missa
Pra ver quéim me quere béim.

CAP 49a765
Informante: Mariana Mendes Conceição, nascida a 22 de Agosto de 1920, em Reguengos de Monsaraz.
Foi trabalhadora rural. Utente do Lar de Idosos D. Josefa Valadas (Santa Casa da Misericórdia). Recolha
realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva, de
Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por Luísa Róis.

761
Róis [2004], pág. 35.
762
Leite de Vasconcelos [1975], pág. 469.
763 Leite de Vasconcelos [1979], pág. 35; Pombinho Júnior [1936], pág. 96.
764 J.A. Pombinho Júnior [1934], “Canções e modas alentejanas”, Arquivo Transtagano, ano II, Elvas,

1934, pp. 209-210.


765 Róis [2004], pág. 116.

374
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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As telhas do teu telhado


Deitam água sem chover
Deixaste a mim por outra
Ainda te hás de arrepender

CAP 49b766
- “As telhas do meu telhado
Deitam agua sem chover.
Trocaste-me a mim por outra
Inda t’há-des arrepender.
(Reguengos)

CAP 50767
As tuas olheiras negras
Dão mais brilho ao teu olhar…
Se não fosse a noite escura
Não brilharia o luar.

CAP 51768
As telhas do meu telhado
Deitam água sem chover.
Trocaste-me a mim por outra
Inda te hás-de arrepender.
(Reguengos de Monsaraz)

CAP 52 769
Informante: Florinda Rosado da Silva, nascida a 19 de Novembro de 1938. Residente na Cumeada (c. de
Reguengos de Monsaraz). Foi trabalhadora rural. Utente do Centro de Dia da Santa Casa da Misericórdia.
Recolha realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão
Silva, de Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por
Luísa Róis.

Aventei o limão correndo


À tua porta parou
Quando o limão te quer bem
Farei eu quando lá vou

CAP 53770
Beldorégas sã sàdiças,
Cá pur mim nã gosto delas.
Em vendo as moças bonitas,
Nã me sustenho nas canelas.
766 J. A. Pombinho Júnior [1926a], “Cantigas Populares Alentejanas (e seu subsídio para o léxico
português)”, in Terra Alentejana, Évora, 16 de Maio de 1926, Ano III, nº 110, pág. 4.
767 s.a. [1928f], “Cancioneiros - Trovas Populares”, in O Guadiana, Ano I, nº 40, Reguengos, 7 de Outubro

de 1928, pág. 2.
768 Leite de Vasconcelos [1975], pág. 495.
769 Róis [2004], pág. 83.
770 Em Terra Alentejana, Pombinho Júnior refere como local de recolha a aldeia de Campinho (Pombinho

Júnior [1925e], “Cantigas Populares Alentejanas (e seu subsídio para o léxico português)”, in Terra
Alentejana, Évora, 30 de Agosto de 1925, Ano III, nº 98, pág. 3;[1936], pág. 28).

375
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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(Reguengos)

CAP 54771
Cando ê era solteirinha
Usava fitas òs molhos;
Agora, que sou casada,
Trago lágrimas nos olhos.
(Reguengos)

CAP 55a772
Cando eu tinha quinze anos,
Tinha mais desambaraço;
Namorava por açanos
Coisa que agora nã faço. 773
(Reguengos)

CAP 55b774
Cando eu tinha quinze anos,
Tinha um outro saber;
Namorava por açanos
Séim nenguéim o perceber.
(Reguengos)

CAP 56 775
Chamaste-me corriol
Embaraçado no trigo;
Ê nã me embaraço
Se nã agora contigo.
(Reguengos)

CAP 57776
Informante: Mariana Mendes Conceição, nascida a 22 de Agosto de 1920, em Reguengos de Monsaraz.
Foi trabalhadora rural. Utente do Lar de Idosos D. Josefa Valadas (Santa Casa da Misericórdia). Recolha
realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva, de
Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por Luísa Róis.

Comprei o chapéu branco


Para a noite namorar
O chapéu branco rompeu-se
E o namoro está-se a acabar

771 Pombinho Júnior [1936], pág. 55.


772
Em Ilustração Alentejana, Pombinho Júnior afirma que a composição foi recolhida em Aldeia de Mato
(Pombinho Júnior [1925], pág. 19; [1936], pág. 16).
773 O recolector afirma que recolheu a composição em Aldeia do Mato (Pombinho Júnior [1925], pág. 19).
774 Pombinho Júnior [1936], pág. 16.
775 Pombinho Júnior [1925g], “Cantigas Populares Alentejanas (e seu subsídio para o léxico português)”,

in Terra Alentejana, Évora, 27 de Setembro de 1925, Ano III, nº 101, pág. 4; [1936], pág. 41.
776 Róis [2004], pág. 116.

376
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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CAP 58777
Informante: Filomena Maria Lopes, nascida a 5 de Junho de 1916, em Perolivas (c. de Reguengos de
Monsaraz). Foi costureira. Utente do Centro de Dia da Santa Casa da Misericórdia. Recolha realizada em
2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva, de Reguengos
de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por Luísa Róis.

Com quatro letras se escreve


O nome que eu mais adoro
Quem saberá ler que leia
Saberá por quem eu choro

CAP 59778
Da faveira nace a fava,
Da fava nace o piolho.
Quéim namora sempre alcança
A sua piscadela de ôlho.
(Reguengos)

CAP 60779
Informante: Maria Alves Santos Falé, nascida a 21 de Abril de 1923, em São Marcos do Campo (c. de
Reguengos de Monsaraz). Foi doméstica. Utente do Lar de Idosos D. Josefa Valada (Santa Casa da
Misericórdia). Recolha realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia
Vogado Perdigão Silva, de Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz,
coordenada por Luísa Róis.

Deam-me cravos aos molhos


Para a mesa da minha sala
Alegria dos meus olhos
É ouvir a tua fala

CAP 61780
De encarnado veste a rosa,
De verde o manjericão
De branco veste a açucena
De negro o meu coração.

CAP 62781
Desejava que as ‘strelas
Fossem minas destemunhas,
Para ver, na minha ausência,
As faltas que tu me punhas.
(Aldeia do Mato)

CAP 63782
Dêti um limão ò poço
777
Róis [2004], pág. 154.
778 Pombinho Júnior [1936], pág. 74.
779 Róis [2004], pág. 18.
780 s.a. [1910a], “Tribuna Feminina”, in Folha Nova, I Anno, nº 2, 16 de Janeiro de 1910, pág. 3.
781 J. A. Pombinho Júnior [1939], “Retalhos de um Vocabulário”, in Brados do Alentejo, Estremoz, 15 de

Janeiro de 1939, nº 417, pág. 17.


782 Pombinho Júnior [1936], pág. 43.

377
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Apodrecê-m’àmétade.
Toma amor’s do tê gosto,
Dêxa os descontravontade.
(Reguengos)

CAP 64783
Dizem que amar é ter vida.
Ai, não – Amar é viver:
É ter a alma perdida
Por causa duma mulher.

CAP 65784
Dizem que as mãis querem mais
Ao filho que mais mal faz.
Por isso te quero tanto
Que tantas máguas me dás.

CAP 66785
Informante: Florinda Rosado da Silva, nascida a 19 de Novembro de 1938. Residente na Cumeada (c. de
Reguengos de Monsaraz). Foi trabalhadora rural. Utente do Centro de Dia da Santa Casa da Misericórdia.
Recolha realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão
Silva, de Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por
Luísa Róis.

Dizem que a folha do trigo


É mais alta que a da cevada
Amor, a minha amizade
Ao pé da tua é dobrada

CAP 67786
Informante: Florinda Rosado da Silva, nascida a 19 de Novembro de 1938. Residente na Cumeada (c. de
Reguengos de Monsaraz). Foi trabalhadora rural. Utente do Centro de Dia da Santa Casa da Misericórdia.
Recolha realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão
Silva, de Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por
Luísa Róis.

Dizem que o meu amor é feio


É falso, não acredito
Se o vissem com os meus olhos
Logo o achariam bonito

CAP 68787
Informante: Florinda Rosado da Silva, nascida a 19 de Novembro de 1938. Residente na Cumeada (c. de
Reguengos de Monsaraz). Foi trabalhadora rural. Utente do Centro de Dia da Santa Casa da Misericórdia.
Recolha realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão
Silva, de Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por
Luísa Róis.

783 s.a. [1928d], “Cancioneiros - Trovas Populares”, in O Guadiana, Ano I, nº 38, Reguengos, 9 de
Setembro de 1928, pág. 2.
784 s.a. [1928a], pág. 2.
785 Róis [2004], pág. 84.
786
Róis [2004], pág. 83.
787 Róis [2004], pág. 84.

378
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Dizem que o preto é luto


E acho na verdade
Deixa-te andar, meu amor
Que andas à tua vontade

CAP 69788
Diz-me amor se tás doente
Que ê sou tê boticário;
Tenho na minha tenda
Remédios pra quéim é vário.
(Aldeia do Mato)

CAP 70789
Do céu caiu um sinal,
No chão se fez encarnado.
A amizade qu’eu te tinha,
Fica em ódio refinado.
(Reguengos de Monsaraz)

CAP 71a790
Do céu caíu um sinal
No chão se fez encarnado.
A amizade que eu te tinha
Ficou em ódio-refinado.791
(Aldeia do Mato)

CAP 71b792
Do céu caiu um sinal
No chão se desfarinhou.
Quéim neste mundo nã ama
No outro nã se salvou.
(Reguengos)

CAP 72793
Ê já vi narcer o sol,
Numa manhéim de nuvrina.
Deixaste-me por ser pobre,
Outras faltas nã nas tinha.
(Aldeia do Mato)

CAP 73794
Ê hê-de amar ‘ma pedra,

788 Pombinho Júnior [1936], pág. 97.


789 Leite de Vasconcelos [1975], pág. 524.
790 Pombinho Júnior [1936], pág. 44.
791 Pombinho Júnior [1925b], pág. 4.
792 J. A. Pombinho Júnior [1935d], “Vocabulário Alentejano (subsídios para o léxico português)”, vol.

XXXIII, Lisboa, Livraria Clássica Editora, 1935, pág. 167; [1936], pág. 44.
793 Pombinho Júnior [1936], pág. 76.
794 Pombinho Júnior [1936], pág. 85.

379
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Dêxá-lo tê coração;
Uma pedra nã se muda,
Tu mudas-te séim rezão!
(Reguengos)

CAP 74795
És amada do meu bem,
És a minha inimiga;
Nada tu falas com ele
Que ele a mim me não diga.
(Reguengos de Monsaraz)

CAP 75796
És amada do mê béim,
És a minha intersôra;
Nada tu falas co’ele,
Que ê nã seje sabedora.
(São Marcos)

CAP 76797
És clara cõmô pez,
Corada cõmà cebola;
Namorar contigo, sim,
Casar contigo… xó-rôla!798
(Reguengos)

CAP 77799
És clara cômá neve,
Corada cômô medronho,
Tu é que és a feiticeira
Com que eu de noite sonho.
(Reguengos)

CAP 80800
«És’ma ‘alcôfa’ de enredos!
‘Alcôfa’ t’hê-de chamári.
Foste enredári mê béim;
Com q’olhos t’hê-de olhári!»
(Aldeia do Mato)

795
J. A. Pombinho Júnior [1925c], “Cantigas Populares Alentejanas (e seu subsídio para o léxico
português)”, in Terra Alentejana, Évora, 26 de Julho de 1925, Ano II, nº 93, pág. 4; [1936], pág. 64;
[1933c], pág. 6. Leite de Vasconcelos [1975], pág. 499.
796 Pombinho Júnior [1925], pág. 19; [1933b] “Retalhos de um Vocabulário”, in Brados do Alentejo,

Estremoz, 17 de Dezembro de 1933, nº 151, pág. 6; [1936], pág. 64.


797 Pombinho Júnior [1936], pág. 98.
798 J. A. Pombinho Júnior [1933a], “Retalhos de um Vocabulário”, in Brados do Alentejo, Estremoz, 25 de

Junho de 1933, nº 126, pág. 5.


799 Pombinho Júnior [1938h], pág. 7; [1948a], pág. 3.
800 Pombinho Júnior [1936b], pág.5.

380
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
_____________________________________________________________________________________

CAP 81801
Informante: Ricardina Bárbara Gerónimo, nascida a 8 de Fevereiro de 1939, em Cabeça Gorda (c. de
Beja). Foi Trabalhadora Rural e Doméstica. Utente do Polo de Apoio à Família da Santa Casa da
Misericórdia. Recolha realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia
Vogado Perdigão Silva, de Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz,
coordenada por Luísa Róis.

Esse teu cabelo loiro


Penteado ao deserto
Sobrancelhas de ouro fino
Olhos de quem eu me perco

CAP 82802
Informante: Maria Catarina Medinas, nascida a 4 de Maio de 1922, em Reguengos de Monsaraz. Foi
Trabalhadora Rural. Utente do Centro de Dia da Santa Casa da Misericórdia. Recolha realizada em 2003,
por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva, de Reguengos de
Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por Luísa Róis.

Esta noite sonhei eu


A outra sonhado tinha
Que estava na tua cama
Acordei estava na minha

CAP 83803
Informante: Mariana Mendes Conceição, nascida a 22 de Agosto de 1920, em Reguengos de Monsaraz.
Foi trabalhadora rural. Utente do Lar de Idosos D. Josefa Valadas (Santa Casa da Misericórdia). Recolha
realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva, de
Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por Luísa Róis.

Esta rua tem pedrinhas


Esta rua pedras tem
Eu das pedrinhas não quero nada
Mas da rua quero alguém

CAP 84804
Êste meu doairo alegre
Já m’o quiseram porïbir;
Indas que eu queira, não posso,
Olhar para ti sem me rir. 805
(Reguengos)

CAP 85806
Ê tenho o mê coração
Na mais delicada veia.
A tua composição

801
Róis [2004], pág. 33.
802
Róis [2004], pág. 120
803 Róis [2004], pág. 120.
804 Pombinho Júnior [1936], pág. 46.
805 Pombinho Júnior [1925a], pág. 8; [1935a] Pombinho Júnior em “Vocabulário Alentejano (subsídios para

o léxico português)”, vol. XXXIII, Lisboa, Livraria Clássica Editora, 1935, pág. 174.
806 Pombinho Júnior [1936], pág. 40.

381
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
_____________________________________________________________________________________

No mê sentido vareia.
(Reguengos)

CAP 86807
«Eu bem sei onde tu vás
Certa noite dar os serões:
Meu coração é sério
Não consinte mangações.»
(Reguengos de Monsaraz)

CAP 87808
Eu já vi ‘ma açucena
Duma certa qualidade.
Agora já tenho pena
Em te prantar amizade.
(Reguengos)

CAP 88809
«Eu quero-te tanto bêim
Comá cinza da barrela,
Que se dêta prá rua,
Nenguêim mais faz caso dela.»
(Reguengos)

CAP 89810
- “Eu numa pedra, tu noutra,
Nosso coração no meio.
Indas qu’eu namore com outra,
Tu nunca tenhas receio.”
(S. Marcos)

CAP 90811
Fiz ‘ma exp’rimentação
Na corrente d’água fria.
Reverdece um coração
Em vendo amor’s d’algum dia.
(Reguengos)

CAP 91812
- «Fui acima ao castanheiro,
Fui colher uma castanha.
Tu dizes que me namoras:
Oh! que mentira tamanha!”
807 J. A. Pombinho Júnior [1939d], “Retalhos de um Vocabulário (subsídio para o léxico português)”,
Separata do volume XXXVII da Revista Lusitana, Porto, Imprensa Lusitana, 1939, pág. 268.
808 J. A. Pombinho Júnior [1940e], “Retalhos de um Vocabulário”, in Brados do Alentejo, Estremoz, 1 de

Setembro de 1940, nº 502, pág. 4.


809 Pombinho Júnior [1939d], pág. 157.
810
J. A. Pombinho Júnior [1926a], “Cantigas Populares Alentejanas (e seu subsídio para o léxico
português)”, in Terra Alentejana, Évora, 16 de Maio de 1926, Ano III, nº 110, pág. 4.
811
Pombinho Júnior [1935a], pág. 172; [1936], pág. 45.
812
Pombinho Júnior [1925c], pág. 4.

382
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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(Aldeia do Mato)

CAP 92813
Fui acima ao marmeleiro,
Fui colher uma gamboa;
S’eu deixava o meu amor,
Essa sim que estava boa!
(Reguengos de Monsaraz)

CAP 93814
«Fui chamado á do ‘scrivão
Para fazer ‘ma ‘scritura:
Morrer, sim; deixar-te, não;
Foi a minha assinatura.»
(Reguengos de Monsaraz)

CAP 94815
- “Fui ó jardim das felôres,
Numa rosa dei um laço.
Nan faças pouco de mim,
Qu’eu de ti pouco nan faço.”
(S. Marcos do Campo)

CAP 96816
«Há cinco dias com hoje,
Contados pelos mês dedos,
Que nã falo ó mê amori!
Tudo por casa de enredos!»
(Aldeia do Mato)

CAP 97817
Há nos teus olhos, trigueira,
Tanto brilho e tanta luz,
Que entontece, que seduz
Quem os fita a vez primeira.

CAP 98a818
Hê-de amar, hê-de amar,
Hê-de amar, béim sê a quéim;
Hê-de amar a mê gosto,
Nanja ò gosto de nenguéim.
(Aldeia do Mato)

813 Pombinho Júnior [1925c], pág. 4; [1935c] “Retalhos de um Vocabulário”, in Brados do Alentejo,
Estremoz, 20 de Outubro de 1935, nº 247, pág. 6; [1936], pág. 59; Leite de Vasconcelos [1975], pág. 133.
814
Pombinho Júnior [1939d], pág. 195.
815 J. A. Pombinho Júnior [1926], “Cantigas Populares Alentejanas (e seu subsídio para o léxico

português)”, in Terra Alentejana, Évora, 11 de Abril de 1926, Ano III, nº 106, pág. 4.
816 Pombinho Júnior [1936b], pág. 5.
817 s.a. [1928c], “Cancioneiros - Trovas Populares”, in O Guadiana, Ano I, nº 37, Reguengos, 25 de Agosto

de 1928, pág. 2.
818 Pombinho Júnior [1936], pág. 73.

383
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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CAP 98b819
Hê-de amar, hê-de amar,
Hê-de amar, béim sê a quéim;
Hê-de amar esses tês olhos,
Nã amar a más nenguéim.
(Reguengos)

CAP 110820
Hê-de me ir, hê-de levar,
Dos tês dedos os anéis.
Em me vendos abalar,
Cai-te o coração ós péis.
(Reguengos)

CAP 111821
Informante: Filomena Maria Lopes, nascida a 5 de Junho de 1916, em Perolivas (c. de Reguengos de
Monsaraz). Foi costureira. Utente do Centro de Dia da Santa Casa da Misericórdia. Recolha realizada em
2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva, de Reguengos
de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por Luísa Róis.

Hei de me vestir de branco


Ou de roxo cor de ameixa
Há por aí falas que me dizem
Que o meu amor me deixa

CAP 112822
Inda hão-de nascer os sábios
Que digam porque razão,
Um beijo dado nos lábios
Se sente no coração.

CAP 113823
Indas q’atirem comigo
Ao mar por cima das ondas,
Deixar de t’amar não hê-de:
Assim tu me correspondas.
(S. Marcos)

CAP 114824
- “Indas que sejas casada,
Não t’esqueço o bem q’rer;
Qu’inda podes viuvar
E vires p’ró meu poder.”

819 Pombinho Júnior [1936], pág. 73.


820 Pombinho Júnior [1936], pág. 108.
J. A. Pombinho Júnior [1934a], “Retalhos de um Vocabulário”, in Brados do Alentejo, Estremoz, 17 de
Junho de 1934, nº 177, pág. 6.
821 Róis [2004], pág. 149.
822 s.a. [1928f], pág. 2.
823 Pombinho Júnior [1926a], pág. 4.
824 Pombinho Júnior [1926a], pág. 4.

384
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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(Reguengos)

CAP 115825
Isto só pelo diabo,
Que tal mulher não queria;
Se o quero comer de noite,
Tenho de o ganhar de dia.
(Reguengos de Monsaraz)

CAP 116826
Já lá tens amores novos,
Parabéns da minha banda:
Deus queira que durem tanto
Como a água na cirando.
(Reguengos de Monsaraz)

CAP 117827
Informante: Mariana Mendes Conceição, nascida a 22 de Agosto de 1920, em Reguengos de Monsaraz.
Foi trabalhadora rural. Utente do Lar de Idosos D. Josefa Valadas (Santa Casa da Misericórdia). Recolha
realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva, de
Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por Luísa Róis.

Já me doem os olhos
Com olhar p'ra estrada nova
Para ver se vejo vir
O filho da minha sogra

CAP 118828
Já me querem retirar,
Meu amor, da tua vista;
Aonde t’eu possa avistar
Já não querem qu’enzista.
(Reguengos)

CAP 119829
Já o mê béim me dêxou,
Olha o ferro, olha agora!
Se ê tenho na minha rua,
Quéim de joelhos me adora.
(Reguengos)

CAP 120830
Já o mê béim me deixou,
Subiu paredes más altas.
Paciência, mê amor,
825 Leite de Vasconcelos [1979], pág. 163.
826 Leite de Vasconcelos [1975], pág. 513.
827 Róis [2004], pág. 120.
828 J. A. Pombinho Júnior [1938a], “Retalhos de um Vocabulário”, in Brados do Alentejo, Estremoz, 9 de

Janeiro de 1938, nº 364, pág. 5.


829
Pombinho Júnior [1936], pág. 54.
830 Pombinho Júnior [1936], pág. 92.

385
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Ê só sirvo par’às faltas.


(Aldeia do Mato)

CAP 121831
Já te podes ir embora,
Já te podes ir zunindo.
Se tu nã gostas de mim,
Pra que me andas perseguindo.
(Reguengos)

CAP 122832
Já vi num dia nuvrado,
Quatro rosas num botão.
Tou pra ver o resultado
Qu’ê tiro da tua mão.
(Reguengos)

CAP 123833
- “Leve o diabo aos homens todos,
Tirando três p’ra fóra:
É meu pai e meu padrinho.
E o meu amôr que me namora.”
(S. Marcos)

CAP 124834
Manjarico quando nasce
Deita cheiro de rigor;
É como o rapaz solteiro
Enquanto não tem amor.
(Aldeia do Mato)

CAP 125835
Manuel me deu um lenço
À saída da função,
Meti o lenço no bolso,
Manuel no coração.
(Reguengos de Monsaraz)

CAP 126836
Manuel, folha de cravo,
Rosto na minha almofada,
Os dias que te não vejo,
Não coso, não faço nada.

831 Pombinho Júnior [1936], pág. 65.


832 Pombinho Júnior [1936], pág. 76.
833 J. A. Pombinho Júnior [1925], “Cantigas Populares Alentejanas (e seu subsídio para o léxico

português)”, in Terra Alentejana, Évora, 23 de Agosto de 1925, Ano II, nº 97, pág. 4.
834 J. A. Pombinho Júnior [1936d], Cantigas Populares Alentejanas e seu subsídio para o léxico português,

Porto, Edições Maranus, 1936, pág. 70.


835 Leite de Vasconcelos [1975], pág. 610.
836 Leite de Vasconcelos [1979], pág. 18.

386
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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(Reguengos de Monsaraz)

CAP 127837
Informante: Mariana Mendes Conceição, nascida a 22 de Agosto de 1920, em Reguengos de Monsaraz.
Foi trabalhadora rural. Utente do Lar de Idosos D. Josefa Valadas (Santa Casa da Misericórdia). Recolha
realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva, de
Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por Luísa Róis.

Manuel pedra me dera


Pedra de muita valia
Quem me dera Manuel
Estar na tua companhia

CAP 128838
Maria Amélia,
Lá do Val’ Melhorado,
Tens a cama feita,
Falta-to namorado.
(Reguengos)

CAP 129839
Maria Antónha,
Lá de Monsaraz,
Tens a cama feita,
Falta-lo rapaz.
(Reguengos)

CAP 130840
Maria Estrudes,
Lá de Montrigo,
Tens a cama feita,
Falta-to marido.
(Reguengos)

CAP 131841
Informante: Maria Catarina Medinas, nascida a 4 de Maio de 1922, em Reguengos de Monsaraz. Foi
Trabalhadora Rural. Utente do Centro de Dia da Santa Casa da Misericórdia. Recolha realizada em 2003,
por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva, de Reguengos de
Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por Luísa Róis.

Maria tudo tem de bom


Só o género é que é traidor
Quem me dera Maria
Que sejas o meu amor

837
Róis [2004], pág. 120.
838 J.A. Pombinho Júnior [1938i], “Retalhos de um Vocabulário”, in Brados do Alentejo, Estremoz, 2 de
Outubro de 1938, nº 402, pág. 5.
839 Pombinho Júnior [1938i], pág. 5.
840 Pombinho Júnior [1938i], pág. 5.
841 Róis [2004], pág. 38.

387
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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CAP 132842
Mariana tecedeira
Tem o tear, mas não tece;
Em não vendo o seu derriço
‘Té o tear lhe aborrece!
(Reguengos de Monsaraz)

CAP 133843
Informante: Maria Alves Santos Falé, nascida a 21 de Abril de 1923, em São Marcos do Campo (c. de
Reguengos de Monsaraz). Foi doméstica. Utente do Lar de Idosos D. Josefa Valada (Santa Casa da
Misericórdia). Recolha realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia
Vogado Perdigão Silva, de Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz,
coordenada por Luísa Róis.

Mentes quanto tu queres


Não sei se te vá acreditar
Olha que não estou resolvida
A por ti esperar

CAP 134844
Informante: Filomena Maria Lopes, nascida a 5 de Junho de 1916, em Perolivas (c. de Reguengos de
Monsaraz). Foi costureira. Utente do Centro de Dia da Santa Casa da Misericórdia. Recolha realizada em
2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva, de Reguengos
de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por Luísa Róis.

Minha rosa de veludo


És a minha simpatia
Se me deixas perco tudo
Nunca mais tenho alegria

CAP 135845
Mê coração é candeia,
Azête o tê coração,
Os tês olhos sã torcidas
Que nunca criom morrão.846
(Reguengos)

CAP 136847
Informante: Maria Alves Santos Falé, nascida a 21 de Abril de 1923, em São Marcos do Campo (c. de
Reguengos de Monsaraz). Foi doméstica. Utente do Lar de Idosos D. Josefa Valada (Santa Casa da
Misericórdia). Recolha realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia
Vogado Perdigão Silva, de Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz,
coordenada por Luísa Róis.

Meu pai, minha mãe


Não chorem, tenham paciência

842 Leite de Vasconcelos [1975], pág. 253.


843 Róis [2004], pág. 18.
844 Róis [2004], pág. 153.
845
Pombinho Júnior [1936], pág. 103.
846
J. A. Pombinho Júnior [1933], “Retalhos de um Vocabulário”, in Brados do Alentejo, Estremoz, 26 de
Novembro de 1933, nº 148, pág. 7.
847 Róis [2004], pág. 17.

388
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Primeiro está o meu gosto


Que a sua conveniência

CAP 137848
Minha mãi fechou-me à chave,
Lá no quarto do bostigo,
P’ra comigo nã falares,
P’ra eu nã falar contigo.
(Reguengos)

CAP 138849
Minha mãi fechou-me à chave,
Lá no quarto de jentari,
Minha mãi fechou-me à chave,
P’ra contigo nã falári.
(Reguengos)

CAP 139850
Minha mãi fechou-me à chave,
Lá no quarto da janela:
Tanto namorava eu
Como namorava ela.
(Reguengos)

CAP 140851
Informante: Maria Alves Santos Falé, nascida a 21 de Abril de 1923, em São Marcos do Campo (c. de
Reguengos de Monsaraz). Foi doméstica. Utente do Lar de Idosos D. Josefa Valada (Santa Casa da
Misericórdia). Recolha realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia
Vogado Perdigão Silva, de Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz,
coordenada por Luísa Róis.

Minha rua está calçada


Com cascalhinhos do amor
Foi calçada de propósito
Para o meu amor passar

CAP 141852
Informante: Florinda Rosado da Silva, nascida a 19 de Novembro de 1938. Residente na Cumeada (c. de
Reguengos de Monsaraz). Foi trabalhadora rural. Utente do Centro de Dia da Santa Casa da Misericórdia.
Recolha realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão
Silva, de Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por
Luísa Róis.

Minha rua não tem nome


Agora lho ponho eu
É a rua das flores

848
J. A. Pombinho Júnior [1940h], “Retalhos de um Vocabulário”, in Brados do Alentejo, Estremoz, 17 de
Novembro de 1940, nº 513, pág. 5.
849 Pombinho Júnior [1940h], pág. 5.
850 Pombinho Júnior [1940h], pág. 5.
851
Róis [2004], pág. 16.
852 Róis [2004], pág. 83.

389
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Onde o meu amor nasceu

CAP 142853
- “Munto brilh’ô branco, branco,
Ó pé do branco lavado;
Inda mais brilha ‘ma menina,
Ó pé do seu namorado.”
(Reguengos)

CAP 143854
Nã consentes qu’ê me meta
Nesse tê peto adorado?
E nã há bicho-careta,
Que pur lá nã tenha andado!
(Aldeia do Mato)

CAP 144855
Informante: Ricardina Bárbara Gerónimo, nascida a 8 de Fevereiro de 1939, em Cabeça Gorda (c. de
Beja). Foi Trabalhadora Rural e Doméstica. Utente do Polo de Apoio à Família da Santa Casa da
Misericórdia. Recolha realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia
Vogado Perdigão Silva, de Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz,
coordenada por Luísa Róis.

Não finjas o que não és


Não mostres ser senhor
Tu serás para mim
Uma arca, enganador

CAP 145856
Nã ôlhes parà noguêra,
Que téim as nozes no chão;
Ólha aquíi parò mê peto,
Que tá cheio de pàxão.
(Aldeia do Mato)

CAP 146857
Informante: Mariana Mendes Conceição, nascida a 22 de Agosto de 1920, em Reguengos de Monsaraz.
Foi trabalhadora rural. Utente do Lar de Idosos D. Josefa Valadas (Santa Casa da Misericórdia). Recolha
realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva, de
Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por Luísa Róis.

Não queiras amor pedreiro


Cheirar a cal amassada
Quero mais bem um sapateiro
Que é obra mais delicada

853 Pombinho Júnior [1926], pág. 4.


854
Pombinho Júnior [1925f], pág. 4; [1936], pág. 32.
855 Róis [2004], pág. 32.
856 Pombinho Júnior [1936], pág. 50.
857 Róis [2004], pág. 121.

390
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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CAP 147858
Não quero, porque não quero,
Ser a tua rapariga.
Não quero, porque não quero,
Falo muito decidida.
(Reguengos de Monsaraz)

CAP 148859
Informante: Maria Alves Santos Falé, nascida a 21 de Abril de 1923, em São Marcos do Campo (c. de
Reguengos de Monsaraz). Foi doméstica. Utente do Lar de Idosos D. Josefa Valada (Santa Casa da
Misericórdia). Recolha realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia
Vogado Perdigão Silva, de Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz,
coordenada por Luísa Róis.

Não me atires com pedrinhas


Quando estou lavando a louça
Atira-me com beijinhos
Em acção que ninguém ouça

CAP 149860
Nas ondas do mar honesto,
Numa «lezíria» escapi:
Não me lembrava da morte,
Só me lembrava de ti.
(Reguengos)

C150861
Informante: Mariana Mendes Conceição, nascida a 22 de Agosto de 1920, em Reguengos de Monsaraz.
Foi trabalhadora rural. Utente do Lar de Idosos D. Josefa Valadas (Santa Casa da Misericórdia). Recolha
realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva, de
Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por Luísa Róis.

Não passes à minha rua


Que me estragas a calçada
Os passos que por mim deres
Já não te servem de nada

CAP 151862
Informante: Filomena Maria Lopes, nascida a 5 de Junho de 1916, em Perolivas (c. de Reguengos de
Monsaraz). Foi costureira. Utente do Centro de Dia da Santa Casa da Misericórdia. Recolha realizada em
2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva, de Reguengos
de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por Luísa Róis.

Não sei o que fiz eu a Deus


Para ser tão castigada
Para agora me trazerem

858 Leite de Vasconcelos [1975], pág. 531.


859
Róis [2004], pág. 16.
860 J. A. Pombinho Júnior [1940f], “Retalhos de um Vocabulário”, in Brados do Alentejo, Estremoz, 22 de

Setembro de 1940, nº 505, pág. 4.


861
Róis [2004], pág. 117.
862 Róis [2004], pág. 152.

391
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Do meu amor separada

CAP 152863
Não sei o que me fizeste,
P’ra assim tanto te querer:
Só sei que tu me prendeste
Para não mais t’esquecer.

CAP 153864
Não sei por quais me decida,
Quais olhos queira por meus,
Se os negros, cópia da noite
Se os azuis cópia dos ceus.

CAP 154865
Informante: Filomena Maria Lopes, nascida a 5 de Junho de 1916, em Perolivas (c. de Reguengos de
Monsaraz). Foi costureira. Utente do Centro de Dia da Santa Casa da Misericórdia. Recolha realizada em
2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva, de Reguengos
de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por Luísa Róis.

Não tenho amor a ninguém


Ninguém mo tem a mim
Vou vivendo alegremente
Como a rosa no jardim

CAP 155866
Nã quero, porque nã quero,
Ser a tua rapariga.
Nã quero, porque nã quero,
Falo munto decidida.
(Reguengos)

CAP 156 867


Nã sé que mal fiz
Ó ladrão do mê amor;
Passa por mim, nã me fala,
É de má raça o ‘stupôr.868
(Reguengos)

863 s.a.
[1929a], pág. 2.
864 s.a.
[1928c], pág. 2.
865 Róis [2004], pág. 154.
866 J. A. Pombinho Júnior [1925], “Cantigas Populares Alentejanas (e seu subsídio para o léxico

português)”, in Terra Alentejana, Évora, 4 de Outubro de 1925, Ano III, nº 102, pág. 4; [1935a], “Retalhos
de um Vocabulário”, in Brados do Alentejo, Estremoz, 3 de Março de 1935, nº 214, pág. 7; [1936], pág. 52.
[1935], “Retalhos de um Vocabulário”, in Brados do Alentejo, Estremoz, 3 de Março de 1935, nº 214, pág.
7.
867
Pombinho Júnior [1936], pág. 51.
868 J. A. Pombinho Júnior [1950], “Retalhos de um Vocabulário” (2ª Série), in Brados do Alentejo,

Estremoz, 19 de Março de 1950, nº 977, pág. 3.

392
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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CAP 158869
Informante: Mariana Mendes Conceição, nascida a 22 de Agosto de 1920, em Reguengos de Monsaraz.
Foi trabalhadora rural. Utente do Lar de Idosos D. Josefa Valadas (Santa Casa da Misericórdia). Recolha
realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva, de
Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por Luísa Róis.

Nesta rua vou entrando


Alegram-se os moradores
Vou dar vista aos meus olhos
Alegria aos meus amores

CAP 159870
No tempo éim que t’amei
Más valia amar um burro:
Vendia-o numa fêra,
Prantava o dinhêro a juro.
(Reguengos)

CAP 160871
O alecrim na valeta
Ao cair da fôlha chora
Sempre há-de haver quéim se mêta
Na vida de quéim namora.
(Reguengos)

CAP 161872
O amor é uma nascente
Que nasce do coração
Não há nenhuma «corrente»
Que faça maior prisão.
(Reguengos de Monsaraz)

CAP 162873
Informante: Maria Joaquina Garcias, nascida a 7 de Junho de 1925, em S. Marcos do Campo (c. de
Reguengos de Monsaraz). Foi Trabalhadora Rural. Utente do Polo de Apoio à Família da Santa Casa da
Misericórdia. Recolha realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia
Vogado Perdigão Silva, de Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz,
coordenada por Luísa Róis.

O amor que é moderado


Tem mais duração
Quando o amor cresce muito
Ou dá cinza ou dá murrão

869
Róis [2004], pág. 120.
870 Pombinho Júnior [1936], pág. 82.
871 Pombinho Júnior [1936], pág. 82.
872 J. A. Pombinho Júnior [1942], “Cantigas Dobradas”, in Ethnos, Revista do Instituto Português de

Arqueologia, História e Etnografia, vol. I, Lisboa, 1942, pág. 396.


873 Róis [2004], pág. 75.

393
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
_____________________________________________________________________________________

CAP 163874
Informante: Maria Alves Santos Falé, nascida a 21 de Abril de 1923, em São Marcos do Campo (c. de
Reguengos de Monsaraz). Foi doméstica. Utente do Lar de Idosos D. Josefa Valada (Santa Casa da
Misericórdia). Recolha realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia
Vogado Perdigão Silva, de Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz,
coordenada por Luísa Róis.

O beijo que tu me deste


Sem a tua mãe saber
Toma-o lá, eu não o quero
Que já lhe foram dizer

CAP 165875
O cezirão é um enleio
Que se enleia no inverno.
O namoro é um paleio,
Ê com paleio nã me governo.
(Reguengos)

CAP 166876
O cezirão é um enleio
Que se enleia no trigo:
Quéim me dera ser cezirão,
Para me enlear contigo!
(Reguengos)

CAP 167877
O cizirão é enleio
Que s’enleia pelo trigo:
Eu queria ser cizirão
Que enlevava o teu sentido!
(Reguengos de Monsaraz)

CAP 168878
O cizirão é enleio
Que se enleia pelo chão,
De ti não quero saber,
Nem da tua geração.
(Reguengos de Monsaraz)

CAP 169 879


Ó coração de baeta
Daquela mais denegrida!
Há três anos que te amo,

874
Róis [2004], pág. 17.
875 J.A. Pombinho Júnior [1936], “Retalhos de um Vocabulário”, in Brados do Alentejo, Estremoz, 8 de
Novembro de 1936, nº 303, pág.4; [1936], pág. 78.
876 Pombinho Júnior [1936], pág. 48.
877 Leite de Vasconcelos [1975], pág. 431.
878Leite de Vasconcelos [1975], pág. 533.
879 Pombinho Júnior [1936], pág. 63.

394
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Inda nã tás resolvida?


(Reguengos)

CAP 170880
«Ó José tu nã ames,
Duas na mêma rua:
Cando vás à duma,
A outra toda se amua!»
(Reguengos de Monsaraz)

CAP 171881
Informante: Filomena Maria Lopes, nascida a 5 de Junho de 1916, em Perolivas (c. de Reguengos de
Monsaraz). Foi costureira. Utente do Centro de Dia da Santa Casa da Misericórdia. Recolha realizada em
2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva, de Reguengos
de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por Luísa Róis.

Oh meu amor de algum dia


Eu ainda te quero bem
Ainda me está parecendo
Como tu não há ninguém

CAP 172882
Informante: Maria Alves Santos Falé, nascida a 21 de Abril de 1923, em São Marcos do Campo (c. de
Reguengos de Monsaraz). Foi doméstica. Utente do Lar de Idosos D. Josefa Valada (Santa Casa da
Misericórdia). Recolha realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia
Vogado Perdigão Silva, de Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz,
coordenada por Luísa Róis.

Oh prima, oh rica prima


O que se passou em mim
Não posso casar contigo
Que eu não gosto de ti

CAP 173883
Informante: Florinda Rosado da Silva, nascida a 19 de Novembro de 1938. Residente na Cumeada (c. de
Reguengos de Monsaraz). Foi trabalhadora rural. Utente do Centro de Dia da Santa Casa da Misericórdia.
Recolha realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão
Silva, de Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por
Luísa Róis.

Oh rosa, oh linda rosa


Está fechadinha em botão
Cada vez te quero mais
Amor do meu coração

CAP 174884
Informante: Florinda Rosado da Silva, nascida a 19 de Novembro de 1938. Residente na Cumeada (c. de
Reguengos de Monsaraz). Foi trabalhadora rural. Utente do Centro de Dia da Santa Casa da Misericórdia.

880 Pombinho Júnior [1939d], pág. 195.


881
Róis [2004], pág. 149.
882 Róis [2004], pág. 18.
883
Róis [2004], pág. 83.
884 Róis [2004], pág. 84.

395
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Recolha realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão
Silva, de Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por
Luísa Róis.

Olhos verdes são falsos


Os pretos enganadores
Estes meus acastanhados
São leais ao meu amor

CAP 175885
O lourêro é enleio,
A baga enleação.
Béim enleada ê ando,
Mê amor, na tua mão.
(Reguengos)

CAP 176886
O mê amor é brioso,
Ele traz chapéu de palha;
Ele diz que me quer’ munto
Mas ê cudo qu’é framalha!887
(Reguengos)

CAP 177888
O mê coração
De lial se perde,
Nam éi comó teu,
Só de enganos veve.
(Reguengos)

CAP 178889
O mê lindo amor
É alto demais;
Por isso te chamom
O escalda-favais. 890

CAP 179891
Informante: Filomena Maria Lopes, nascida a 5 de Junho de 1916, em Perolivas (c. de Reguengos de
Monsaraz). Foi costureira. Utente do Centro de Dia da Santa Casa da Misericórdia. Recolha realizada em
2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva, de Reguengos
de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por Luísa Róis.

885
Pombinho Júnior [1925a], “pág. 8; [1936], pág. 47; [1936a], “Vocabulário Alentejano (subsídios para o
léxico português)”, vol. XXXIV, Lisboa, Livraria Clássica Editora, 1936, pág. 285.
886 Pombinho Júnior [1936], pág. 57.
887 Pombinho Júnior [1925], pág. 19.
888
J. A. Pombinho Júnior [1937], “Retalhos de um Vocabulário”, in Brados do Alentejo, Estremoz,
28 de Março de 1937, nº 363, pág. 6.
889 Pombinho Júnior [1936], pág. 49.
890 J. A. Pombinho Júnior [1938e], “Vocabulário Alentejano (subsídios para o léxico português)”, vol.

XXXVI, Lisboa, Livraria Clássica Editora, 1938, pág. 199.


891 Róis [2004], pág. 154.

396
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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O meu amor é de bronze


A minha alma dá badaladas
Nos dias que não te vejo
Trago as horas contadas

CAP 180892
Informante: Maria Jacinta Falardo Cachaço, nascida a 12 de Junho de 1932, natural de Reguengos de
Monsaraz. Foi Doméstica. Utente do Lar de Idosos D. Josefa Valadas (Santa Casa da Misericórdia).
Recolha realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão
Silva, de Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por
Luísa Róis.

O meu amor é padeiro


Tem a cara enfarinhada
Os beijos sabem a pão
E eu já não quero mais nada

CAP 181893
O meu amor está longe,
‘Stá lá longe, não o vejo.
Hei-de mandar-lhe uma carta
Na folhinha dum poejo.
(Reguengos de Monsaraz)

CAP 181 894


O meu amor é um cravo,
Os dentes são as folhinhas;
Meu amor, as tuas vozes
Para mim são poucachinhas.
(Reguengos de Monsaraz)

CAP 182895
Informante: Maria Alves Santos Falé, nascida a 21 de Abril de 1923, em São Marcos do Campo (c. de
Reguengos de Monsaraz). Foi doméstica. Utente do Lar de Idosos D. Josefa Valada (Santa Casa da
Misericórdia). Recolha realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia
Vogado Perdigão Silva, de Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz,
coordenada por Luísa Róis.

O meu amor me deixou


Por eu ter a saia rota
Anda cá grande parvo
Que a minha mãe dá-me outra

CAP 183896
Informante: Mariana Mendes Conceição, nascida a 22 de Agosto de 1920, em Reguengos de Monsaraz.
Foi trabalhadora rural. Utente do Lar de Idosos D. Josefa Valadas (Santa Casa da Misericórdia). Recolha
realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva, de
Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por Luísa Róis.

892 Róis [2004], pág. 134.


893 Leite de Vasconcelos [1979], pág. 93.
894 Leite de Vasconcelos [1975], pág. 664.
895
Róis [2004], pág. 16.
896 Róis [2004], pág. 121.

397
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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O meu amor não é este


Não é este que eu quero
Ele tem os olhos pretos
E este tem amarelos

CAP 184897
O meu amor por ama-lo,
Poz-me o peito numa chaga.
Da-me pancadas… Deixa-lo,
Mas ao menos não me paga.

CAP 185898
Informante: Ricardina Bárbara Gerónimo, nascida a 8 de Fevereiro de 1939, em Cabeça Gorda (c. de
Beja). Foi Trabalhadora Rural e Doméstica. Utente do Polo de Apoio à Família da Santa Casa da
Misericórdia. Recolha realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia
Vogado Perdigão Silva, de Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz,
coordenada por Luísa Róis.

O meu coração é de vidro


Já o pus na tua mão
Se te queres vingar de mim
Deixa-o já cair no chão

CAP 186899
Informante: Maria da Luz Gomes Rosado, nascida a 1 de Janeiro de 1919, em Perolivas (c. de Reguengos
de Monsaraz). Foi trabalhadora rural. Utente do Lar de Idosos D. Josefa Valadas (Santa Casa da
Misericórdia). Recolha realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia
Vogado Perdigão Silva, de Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz,
coordenada por Luísa Róis.

O meu é que é
O rei da rapaziada
Em chegando a lograr
De namoro não quero mais nada

CAP 187900
Informante: Maria Alves Santos Falé, nascida a 21 de Abril de 1923, em São Marcos do Campo (c. de
Reguengos de Monsaraz). Foi doméstica. Utente do Lar de Idosos D. Josefa Valada (Santa Casa da
Misericórdia). Recolha realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia
Vogado Perdigão Silva, de Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz,
coordenada por Luísa Róis.

O meu par é o mais bonito


Que existe neste lugar
E a moça mais bonita
É a que aqui se vem encontrar

897 s.a. [1928e], “Cancioneiros - Trovas Populares”, in O Guadiana, Ano I, nº 39, Reguengos, 23 de
Setembro de 1928, pág. 2.
898 Róis [2004], pág. 32.
899
Róis [2004], pág. 125.
900 Róis [2004], pág. 18.

398
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
_____________________________________________________________________________________

CAP 188901
O meu sonho foi quimera
foi um sonho que se desfez…
Oh! Meu amôr quem me dera,
poder sonha-lo outra vez.

CAP 189902
Ó moças, não há tempo
Como é o de vindimar:
De dia escolhe-se a uva
E à noite é namorar.
(Reguengos de Monsaraz)

CAP 190903
Os dedos sã prós anéis,
Os passarinhos prós laços.
Tou preso de mãos e péis
Na cadeia dos tês braços.904
(Reguengos)

CAP 191905
Ó olhos amaguados
Nã percom sua alegria.
Dêxem ver os resultados
Dos mês amor’s d’algum dia.906
(Reguengos)

CAP 192907
«Os olhos do mê amôr
Mais que todos lindos são.
São bonitos e formosos
Mas têm má condição.»
(Reguengos)

CAP 193a908
Os olhos azuis são falsos,
Os pretos são lisonjeiros;
Estes meus acastanhados
São liais e verdadeiros.
(Reguengos)

901 s.a.[1928], “Cancioneiros - Trovas Populares”, in O Guadiana, Ano I, nº 34, Reguengos, 23 de Julho
de 1928, nº 34, pág. 2.
902 Leite de Vasconcelos [1975], pág. 259; José Viale Moutinho [2008], Terra e Canto de Todos. Vida

e Trabalho no Cancioneiro Popular Português, Vila Nova de Gaia, Editora 7 Dias 6 Noites, 2008,
pág. 212.
903 Pombinho Júnior [1936], pág. 108.
904 Pombinho Júnior [1934a], pág. 6.
905 Pombinho Júnior [1936], pág. 45.
906 Pombinho Júnior [1925g], pág. 4; [1935a], pág. 173.
907 Pombinho Júnior [1935a], pág. 7; [1936], 94.
908 Pombinho Júnior [1925h], pág. 4.

399
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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CAP 193b909
Olhos pretos sã falsários,
Os azuis lisonjêros;
Antes quero olhos castanhos
Sã os liais, verdadêros.
(Aldeia do Mato)

CAP 193c910
Olhos pretos sã falsérios,
Os azuis lisonjêros;
Estes mês acastanhados
Sã liais e verdadêros.
(Reguengos)

CAP 194 a911


Ó pai, ó mãe, não m’estrove
No amor qu’eu tanto quero;
É melhor mandar fazer
A cova no cemitero.
(Reguengos de Monsaraz)

CAP 195b912
Ó pai, ó mãi nã méstrove
No amor qu´ê tanto quero.
É melhor mandar fazer
A cova no cemitério. 913
(Reguengos)

CAP 196914
Informante: Florinda Rosado da Silva, nascida a 19 de Novembro de 1938. Residente na Cumeada (c. de
Reguengos de Monsaraz). Foi trabalhadora rural. Utente do Centro de Dia da Santa Casa da Misericórdia.
Recolha realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão
Silva, de Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por
Luísa Róis.

O Sol quando nasce


Queima todas as flores mortais
Amar-te é minha teima
Cada vez te quero mais

CAP 197915
Os teus olhos de veludo
Hão-de fazer-me doutor
São os meus livros de estudo

909 Pombinho Júnior refere como local de recolha da composição a Aldeia do Mato.
Pombinho Júnior [1925h], pág. 4; [1936], pág. 52.
910
Pombinho Júnior [1936], pág. 52
911
Pombinho Júnior [1936], pág. 51; Leite de Vasconcelos [1975], pág. 399.
912
Pombinho Júnior [1936], pág. 51; Leite de Vasconcelos [1975], pág. 399.
913 Pombinho Júnior [1925h], pág. 4.
914
Róis [2004], pág. 84.
915 s.a. [1928c], pág. 2.

400
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Na faculdade do amor.

CAP 198916
Os tês olhos é que são
Causantes de eu te q’rer béim.
Os tês olhos nã me dêxom
Amar a mais nenguéim.
(Reguengos)

CAP 199917
Os teus olhos são dois sóis
Que ao mundo dão clareza;
As sobrancelhas anzóis
Que trazem minha alma presa.
(Reguengos de Monsaraz)

CAP 200918
Os teus olhos são tão lindos,
Que me lembram não sei bem
Se a mãe de Nosso Senhor
Se a minha mãe que Deus tem.

CAP 201919
O teu olhar desleal
Corações queima por gosto…
Vou chama-lo ao tribunal
Por crime de fogo posto.

CAP 202920
Ouvi dezêri que partias
P´ra munto longe de mim.
Ó amôri, nã te vaias,
Que mê prato nã tem fim.
(Regue ngos)

CAP 203921
Passaste a Santa Luzia
Por cima das passadeiras;
Eu vi o que tu não querias,
Por cima das traçadeiras!
(Reguengos de Monsaraz)

916Pombinho Júnior [1935d], pág. 111.


917 Leite de Vasconcelos [1975], pág. 657.
918s.a. [1929a], “Cancioneiros - Trovas Populares”, in O Guadiana, Ano II, nº 44, Reguengos, 10 de Julho

de 1929, pág. 2.
919 s.a. [1928c], pág. 2.
920 J. A. Pombinho Júnior [1938], “Retalhos de um Vocabulário”, in Brados do Alentejo, Estremoz, 10 de

Abril de 1938, nº 377, pág. 6.


921 Pombinho Júnior [1936], pág. 95; Leite de Vasconcelos [1975], pág. 450; [1979] pág. 324.

Segundo a obra de Leite Vasconcelos a composição por colhida em: semanário Terra Alentejana, 2-VIII-
1925 (cf. Leite de Vasconcelos [1979] pág. 324).

401
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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CAP 204922
Passi pela travisquêra
Tombi-le a rama prô lado.
Nã posso, indas que quêra,
Mostrar-te ruim agrado.
(Aldeia do Mato)

CAP 205923
Informante: Maria Joana Bugalho, nascida a 29 de Janeiro de 1923, em Reguengos de Monsaraz. Foi
trabalhadora rural. Utente do Lar de Idosos D. Josefa Valadas (Santa Casa da Misericórdia). Recolha
realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva, de
Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por Luísa Róis.

Pediste-me paciência
Tão pouca eu lá vou tendo
Custa-me os dias da vida
Não te falar em te vendo

CAP 206924
Pedi-te uma vez um beijo
Que um beijo não custa a dar…
- São quatro lábios unidos,
Duas bocas a pecar.

CAP 207925
Prògunta, béim pròguntado,
Se te quero béim ó não,
Às telhas do tê telhado,
Às pedras do tê balcão.
(Aldeia do Mato)

CAP 208926
Perguntas-me o que é morrer
Meu amor, minha alegria!...
Morrer: - é passar um dia
Todo inteiro sem te ver.

CAP 209927
Podia-te dar o fim,
Dêxar-te desmaginar;
Pur tanto gostar de ti,
É que me faz combinar.928
(Reguengos)

922 Pombinho Júnior [1936], pág. 96.


923
Róis [2004], pág. 123.
924 s.a. [1928f], pág. 2.
925 Pombinho Júnior [1936], pág. 28.
926 s.a. [1928b], “Cancioneiros - Trovas Populares”, in O Guadiana, Ano I, nº 36, Reguengos, 12 de Agosto

de 1928, pág. 1.
927 Pombinho Júnior [1936], pág. 44.
928 Pombinho Júnior [1925g], pág. 4.

402
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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CAP 210929
Por cima s’acêfa o trigo,
Por baixo fica o chabouco.
- Serias tu o primeiro
Que de mim farias pouco.
(Reguengos)

CAP 211930
Por muito que a silva cresça,
Nunca chega a ir ao chão;
Por muitos amores que eu tenha,
Manuel não deixo, não.
(Reguengos de Monsaraz)

CAP 212931
Pra te amar nunca fiz féi,
Aborreci tal ceguêra;
A minha sina nã ei
Amar gente bandolêra.932
(Reguengos)

CAP 213933
Pude ler na escuridão
A carta da minha amada,
Pois da luz dos olhos dela
Vinha ainda iluminada.

CAP 214934
Pus um pé na pera ausente,
Recostei-me ao limão dôce,
Amava-te cegamente
Se eu do teu agrado fosse.
(Reguengos)

CAP 215935
Pus um péi na piornêra,
Dê um nó, dêxê-me tar.
Tu dizes que me nã queres,
Ê pra ti nã posso olhar.
(Aldeia do Mato)

CAP 216936

929 Pombinho Júnior [1935d], pág. 127; [1925b] pág. 4; [1936], pág. 39.
930 Leite de Vasconcelos [1975], pág. 466.
931 Pombinho Júnior [1936], pág. 30.
932 Pombinho Júnior [1925], pág. 19.
933 s.a. [1928g], pág. 1.
934 J. A. Pombinho Júnior [1940d], “Retalhos de um Vocabulário”, in Brados do Alentejo, Estremoz, 18 de

Agosto de 1940, nº 500, pág. 4.


935 Pombinho Júnior [1936], pág. 81.
936 Pombinho Júnior [1940d], pág. 4.

403
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Pus um pé na pera ausente,


Recostei-me ao limão dôce,
Amava-te cegamente
Se eu do teu agrado fosse.
(Reguengos)

CAP 217937
Informante: Florinda Rosado da Silva, nascida a 19 de Novembro de 1938. Residente na Cumeada (c. de
Reguengos de Monsaraz). Foi trabalhadora rural. Utente do Centro de Dia da Santa Casa da Misericórdia.
Recolha realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão
Silva, de Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por
Luísa Róis.

Quando eu tinha quinze anos


Mais do que a prata valia
Namorava por acenos
Tinha amores esses que eu queria

CAP 218938
Informante: Maria Joaquina Garcias, nascida a 7 de Junho de 1925, em S. Marcos do Campo (c. de
Reguengos de Monsaraz). Foi Trabalhadora Rural. Utente do Polo de Apoio à Família da Santa Casa da
Misericórdia. Recolha realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia
Vogado Perdigão Silva, de Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz,
coordenada por Luísa Róis.

Quando foste minha amada


Pensaste em mim somente
Mas longe por desafronta
Namora toda a gente

CAP 219939
Quando ha pouco te deixei,
Foi um sorriso o adeus:
Sorriso com que enganei
O pranto dos olhos meus.

CAP 220940
Informante: Ricardina Bárbara Gerónimo, nascida a 8 de Fevereiro de 1939, em Cabeça Gorda (c. de
Beja). Foi Trabalhadora Rural e Doméstica. Utente do Polo de Apoio à Família da Santa Casa da
Misericórdia. Recolha realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia
Vogado Perdigão Silva, de Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz,
coordenada por Luísa Róis.

Quando olhares para mim


Inclina a vista ao chão
Para a gente se querer muito
E os demais pensarem que não.

937
Róis [2004], pág. 83.
938 Róis [2004], pág. 75.
939 s.a. [1929a], pág. 2.
940 Róis [2004], pág. 33.

404
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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CAP 221941
“Quando o sol deixar de dar
Na parede do meu monte,”
Deixarão então de amar
As raparigas da fonte.
(Reguengos)

CAP 222942
Quarta-feira travejada
Lá no cimo da ‘strada nova.
Mas que flor tã delicada
O filho da minha sogra.
(São Marcos)

CAP 223943
Quatro coisas é preciso
Para quéim anda namorado:
Pé leve e olho vivo,
Libaral e confiado.
(Reguengos)

CAP 224944
Quatro coisas sã precisas
Para saber namorar:
Olho fino e pé leve,
Responder, saber falar.
(Reguengos)

CAP 225945
Quéim quiser q’a silva creça
Ponhá no alto valado;
Quéim quiser ter amor firme
Trágô descandalizado.946
(Reguengos)

CAP 226947
Quéim me dera ser arado
Pra lavrar esse tê pêto;
Indas que o nã sameasse,
Ficava o alquéve fêto.
(Reguengos)

941 J.A. Pombinho Júnior [1939b], “Retalhos de um Vocabulário”, in Brados do Alentejo, Estremoz, 4 de
Junho de 1939, nº 437, pág. 6.
942 Pombinho Júnior [1936], pág. 95.
943
Pombinho Júnior [1936], pág. 29.
944
Pombinho Júnior [1936], pág. 29.
945
Pombinho Júnior [1936], pág. 43.
946 Pombinho Júnior [1935a], pág. 164.
947
Pombinho Júnior [1936], pág. 20.

405
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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CAP 227948
Quéim me dera ser o bôlso
Dêsse tê lenço-da-mão,
Para ò certo saber,
Se me tens amor ó não!949
(Aldeia do Mato)

CAP 228950
Quem por amor se perdeu
Não chore, não tenha pena,
Que uma das Santas do ceu
É Maria Magdalena.

CAP 229951
Informante: Mariana Mendes Conceição, nascida a 22 de Agosto de 1920, em Reguengos de Monsaraz.
Foi trabalhadora rural. Utente do Lar de Idosos D. Josefa Valadas (Santa Casa da Misericórdia). Recolha
realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva, de
Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por Luísa Róis.

Rua abaixo rua acima


Com o meu chapéu na mão
Namorando as casadas
Que as solteiras minhas são

CAP 230952
Informante: Mariana Mendes Conceição, nascida a 22 de Agosto de 1920, em Reguengos de Monsaraz.
Foi trabalhadora rural. Utente do Lar de Idosos D. Josefa Valadas (Santa Casa da Misericórdia). Recolha
realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva, de
Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por Luísa Róis.

Salsa vejo à minha porta


Qualquer raminho tempera
Vale mais um amor de fora
Que vinte ou trinta da terra

CAP 231953
- “Salsa verde, quando nasce,
No teu peito faz encôsto,
Se não querias que eu te amasse
Não narcêsses tanto a mê gosto…
(Aldeia do Mato)

CAP 232954
Informante: Maria Alves Santos Falé, nascida a 21 de Abril de 1923, em São Marcos do Campo (c. de

948 Pombinho Júnior [1936], pág. 67.


949 Pombinho Júnior [1925a], pág. 8.
950s.a. [1928d], “Cancioneiros - Trovas Populares”, in O Guadiana, Ano I, nº 38, Reguengos, 9 de Setembro

de 1928, pág. 2.
951 Róis [2004], pág. 116.
952 Róis [2004], pág. 117.
953 Pombinho Júnior [1925c], pág. 4.
954 Róis [2004], pág. 16.

406
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Reguengos de Monsaraz). Foi doméstica. Utente do Lar de Idosos D. Josefa Valada (Santa Casa da
Misericórdia). Recolha realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia
Vogado Perdigão Silva, de Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz,
coordenada por Luísa Róis.

Saúde, amor, passa bem


Já não ouves a minha fala
Vou-te fazer uma ausência
Como o fumo quando abala

CAP 233955
Se cudas qu’ê te amo,
Engana-te o coração;
Ê nã sou arrabacêro
Que apanhe a fruta do chão.
(Aldeia do Mato)

CAP 234956
Se eu soubesse quem tu eras,
Quem tu havéras de ser,
Mandava vir da botica
Remédios para morrer.
(Aldeia do Mato)

CAP 235957
Segura-me, amor, que eu caio,
Linda flor é o maio
Criado na terra dura,
P’ró centro da sepultura.
(Aldeia do Mato)

CAP 236958
Senhora doutora médica,
Minha especialista,
Venho aqui «cego de amores»
Preciso curar a vista.
(Reguengos)

CAP 237959
Se os meus olhos te incomodam
Quando os tens á tua frente
Prometo que hei-de arranca-los
Quero amar-te cegamente.

955
J. A. Pombinho Júnior [1936a], “Retalhos de um Vocabulário”, in Brados do Alentejo, Estremoz, 10 de
Maio de 1936, nº 276, pág. 8; [1936], pág. 24.
956
Pombinho Júnior [1940f], pág. 4.
957
J. A. Pombinho Júnior [1942a], “Retalhos de um Vocabulário”, in Brados do Alentejo, Estremoz, 11 de
Janeiro de 1942, nº 573, pág. 4.
958
Pombinho Júnior [1940d], pág. 4.
959 s.a. [1928e], pág. 2.

407
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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CAP 238960
Se quanto as vozes do mundo
Disseram que fosse verdade,
Que intenso amor, que profunda
Seria a nossa amizade.

CAP 239961
Informante: Filomena Maria Lopes, nascida a 5 de Junho de 1916, em Perolivas (c. de Reguengos de
Monsaraz). Foi costureira. Utente do Centro de Dia da Santa Casa da Misericórdia. Recolha realizada em
2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva, de Reguengos
de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por Luísa Róis.

Silva verde na varanda


Todo o ano dá limões
Olha agora o meu amor
Quer amar dois corações

CAP 240962
Sobrancelhas ramalhudas,
Tens olhos de namorári,
Aqui me tens ô té lado,
Amóri, p’ra te falári.
(Reguengos)

CAP 241963
Tanto tempo sem te ver
Só em mim se pode achar.
Muito custa um bem-querer
Em se chegando a prantar.
(Reguengos de Monsaraz)

CAP 242964
Tão linda estavas á noite,
Quando a janela se abriu,
Que a lua d’envergonhada
Numa nuvem se encobriu.

CAP 243965
Informante: Ricardina Bárbara Gerónimo, nascida a 8 de Fevereiro de 1939, em Cabeça Gorda (c. de
Beja). Foi Trabalhadora Rural e Doméstica. Utente do Polo de Apoio à Família da Santa Casa da
Misericórdia. Recolha realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia
Vogado Perdigão Silva, de Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz,
coordenada por Luísa Róis.

960 s.a. [1928a], pág. 2.


961
Róis [2004], pág. 149.
962 J. A. Pombinho Júnior [1940b], “Retalhos de um Vocabulário”, in Brados do Alentejo, Estremoz, 26 de

Março de 1940, nº 488, pág. 7.


963 Leite de Vasconcelos [1975], pág. 332; [1979], pág. 22.

Leite Vasconcelos colheu a composição em: semanário Terra Alentejana, 2-VIII-1925 (cf. Leite de
Vasconcelos [1979], pág. 22.
964 s.a. [1928g], pág. 1.
965 Róis [2004], pág. 32.

408
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Tenho dentro do meu peito


Ao lado do coração
Duas letrinhas que dizem
Morrer sim, deixar-te não

CAP 243966
Tenho drento do mê peto
Um canivete dourado,
Para partir o pã-leve
No dia do mê noivado.
(Aldeia do Mato)

CAP 244967
Informante: Filomena Maria Lopes, nascida a 5 de Junho de 1916, em Perolivas (c. de Reguengos de
Monsaraz). Foi costureira. Utente do Centro de Dia da Santa Casa da Misericórdia. Recolha realizada em
2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva, de Reguengos
de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por Luísa Róis.

Tenho o meu amor doente


Não é falta de trato
Ainda ontem lhe mandei
Ainda suspirava num prato

CAP 245968
Tenho pena, vivo triste,
Choro de te ver chorar.
Só ’ma pena m’enziste
Em te nã poder lograr. 969
(Reguengos)

CAP 246a970
Informante: Filomena Maria Lopes, nascida a 5 de Junho de 1916, em Perolivas (c. de Reguengos de
Monsaraz). Foi costureira. Utente do Centro de Dia da Santa Casa da Misericórdia. Recolha realizada em
2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva, de Reguengos
de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por Luísa Róis.

Tenho um amor, tenho dois e tenho três


Não quero mais
Para que quero eu amores
Se eles não são leais

CAP 246b971
Tenho um amor, tenho dois,
Tenho três, não quero mais:

966 Pombinho Júnior [1936], pág. 79.


967
Róis [2004], pág. 152.
968
Pombinho Júnior [1936], pág. 49.
969 Pombinho Júnior recolheu a composição em Aldeia do Mato.

Pombinho Júnior [1925g], pág. 4.


970 Róis [2004], pág. 149.
971
Leite de Vasconcelos [1975], pág. 480.

409
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Para que quero eu amores


Se eles não me são leais?
(Reguengos de Monsaraz)

CAP 247972
Tenho um lençol igual ò teu,
Recortado òs corações.
Andas zangado comigo,
Mê amor, diz-m’ass rezões?
(Aldeia do Mato)

CAP 248973
Tenho um sapato rompido,
Tenho outro arremendado;
Tenho um amor perdido,
Tenho outro quási ganhado.
(Reguengos)

CAP 249974
Informante: Gertrudes Medinas Caeiro, nascida a 29 de Agosto de 1924, natural de Reguengos de
Monsaraz. Foi doméstica. Utente do Lar de Idosos D. Josefa Valadas (Santa Casa da Misericórdia).
Recolha realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão
Silva, de Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por
Luísa Róis.

Tens a parreirinha à porta


Não a sabes vindimar
Tens o teu amor ao lado
Não o sabes namorar

CAP 250975
Tôdô moço que é capaz
Nã traz chapéu à maromba.
A-pesar-de ser pequenina,
Vòcêi commigo nã zomba!
(Reguengos)

CAP 251976
Tomi amor’s com o vento,
Nã sê se faria béim;
O vento é bandolêro,
Nã toma amor’s a nenguéim.
(Reguengos)

CAP 252977
972
Pombinho Júnior [1936], pág. 85.
973 J. A. Pombinho Júnior [1940c], “Retalhos de um Vocabulário”, in Brados do Alentejo, Estremoz, 11 de
Agosto de 1940, nº 499, pág. 5.
974 Róis [2004], pág. 137.
975 Pombinho Júnior [1936], pág. 71.
976 Pombinho Júnior [1936], pág. 30.
977 s.a. [1929a], pág. 1.

410
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Trago comigo um pecado


Que não mais esquecerei.
De á minha mãe ter roubado
O grande amor que te dei.

CAP 253978
Trago dentro do meu peito
Uma chave inglesa,
Para abrir teu coração
Com toda a delicadeza.
(Reguengos de Monsaraz)

CAP 254979
Trocastes-me a mim por outra,
Ê béim sê que me trocastes.
Manda-me dizer, amor,
Na troca canto ganhastes.
(Reguengos de Monsaraz)

CAP 255980
Trocaste-me a mim por outra,
Paciência! não me importa;
Inda ‘spero perguntar-te
Quanto ganhaste na troca.
(Reguengos de Monsaraz)

CAP 256981
Trocaste-me a mim por outra
Por ser mais rica que eu.
Se algum dia me quiseres,
Talvez te não queira eu.
(Reguengos de Monsaraz)

CAP 257982
- “Trocaste-me a mim por outra,
Trocaste amôr, trocaste;
Tu me dirás a seu tempo
Quanto na troca ganhaste.”
(Aldeia do Mato)

CAP 258983
Trocastes o ouro à prata,
Tendo o ouro mais valia;
Trocastes-me a mim por outra,

978 Leite de Vasconcelos [1975], pág. 662.


979 J. A. Pombinho Júnior [1926], pág. 4; [1935a], pág. 111; [1942], “Cantigas Dobradas”, in Ethnos,
Revista do Instituto Português de Arqueologia, História e Etnografia, vol. I, Lisboa, 1942, pág. 399.
980 J. A. Pombinho Júnior [1926], pág. 4; [1935a], pág. 111; Leite de Vasconcelos [1975], pág. 494.
981
Pombinho Júnior [1926], pág. 4; Leite de Vasconcelos [1975], pág. 495.
982
Pombinho Júnior [1926], pág. 4.
983
Pombinho Júnior [1926], pág. 4; [1935a], pág. 111.

411
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Coisa que t’eu nã fazia.

CAP 259984
Trocaste o ouro à prata
Tendo o ouro mais valia;
Trocaste-me a mim por outra,
Coisa que te eu não fazia.
(Reguengos de Monsaraz)

CAP 260985
Tu desejas, eu desejo
Semos dois a desejar:
Tu desejas estar comigo,
Eu desejo-te encontrar.
(Reguengos)

CAP 261986
Informante: Ricardina Bárbara Gerónimo, nascida a 8 de Fevereiro de 1939, em Cabeça Gorda (c. de
Beja). Foi Trabalhadora Rural e Doméstica. Utente do Polo de Apoio à Família da Santa Casa da
Misericórdia. Recolha realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia
Vogado Perdigão Silva, de Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz,
coordenada por Luísa Róis.

Tua boca era uma rosa


Os dentes são as folhinhas
As tuas faces mimosas
São duas lembranças minhas

CAP 262987
- “Tu és a minha entersôra
Eu não te digo que não.
Ganhas-me em ser lavradora,
Perdes na comportação.
(S. Marcos)

CAP 263988
«Tu és minha intersôra,
Eu não digo que não.
Ganhas m’em ser lavradora;
Perdes na comportação.
(S. Marcos – Reguengos)

CAP 264989
Viuva d’olhos enxutos
Outros amores abraça;

984
Leite de Vasconcelos [1975], pág. 495.
985 Pombinho Júnior [1940], pág. 4.
986 Róis [2004], pág. 32.
987 Pombinho Júnior [1925f], pág. 4.
988Pombinho Júnior [1935a], pág. 143.
989 s.a. [1910c], “Tribuna Feminina”, in Folha Nova, I Anno, nº 7, 20 de Fevereiro de 1910, pág. 3.

412
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Já não suspira saudosa…


tudo foge! tudo passa…

413
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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2.1.2. Cantigas às Cantigas

CCP 1990
A minha guitarra é triste
É dolente, meiga e calma…
Parece que nela existe
A tristeza da minha alma.

CCP 2991
Cantigas e mais cantigas
Que a cantar é que isto vai.
- Cantae, cantae raparigas
Rapazes, cantae, cantae.

CCP 3992
Informante: Gertrudes Medinas Caeiro, nascida a 29 de Agosto de 1924, natural de Reguengos de
Monsaraz. Foi doméstica. Utente do Lar de Idosos D. Josefa Valadas (Santa Casa da Misericórdia).
Recolha realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão
Silva, de Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por
Luísa Róis.

Cantigas são pataratas


Sem razões leva-as ao vento
Quem se fia em cantigas
Tem falta de entendimento

CCP 4993
Com pena, Nossa Senhora
Chorando, pediu-me um dia
Que não chorasse cantando
Que os Anjos entristecia

CCP 5994
Eu cantar não sei cantar,
Eu não sei como se canta,
Dá-se-l’um jeitinho à boca,
Revoltinhas à garganta.
(Reguengos de Monsaraz)

CCP 6995
Informante: Gertrudes Medinas Caeiro, nascida a 29 de Agosto de 1924, natural de Reguengos de
Monsaraz. Foi doméstica. Utente do Lar de Idosos D. Josefa Valadas (Santa Casa da Misericórdia).
Recolha realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão
Silva, de Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por

990 s.a. [1928d], pág. 2.


991 s.a. [1929], “Cancioneiros - Trovas Populares”, in O Guadiana, Ano II, nº 42, Reguengos, 3 de Abril de
1929, pág. 1.
992 Róis [2004], pág. 136.
993 s.a. [1929], pág. 1.
994 Leite de Vasconcelos [1975], pág. 196.
995 Róis [2004], pág. 136.

414
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Luísa Róis.

Eu gosto de figos lampos


Da figueira rebaldia
Mesmo cantando falo
Adeus amor de algum dia

CCP 7996
Informante: Maria Antónia Palolo Conde, nascida a 27 de Março de 1925, em Reguengos de Monsaraz.
Foi Doméstica. Utente do Lar de Idosos D. Josefa Valadas (Santa Casa da Misericórdia). Recolha
realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva, de
Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por Luísa Róis.

Eu não sei armar cantigas


Não sei como se canta
Dá-se um jeitinho à boca
Revoltinhas à garganta

CCP 8997
Gosto de cantar o fado,
E o fado canta-se bem.
É dizer em quatro versos
O que a nossa vida tem.

CCP 9998
Informante: Isabel Rosado, nascida a 27 de Janeiro de 1921, em S. Pedro do Corval (c. de Reguengos de
Monsaraz). Foi costureira. Utente do Lar da Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva. Recolha
realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva, de
Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por Luísa Róis.

Já chove
Já está chovendo
já corem os regatinhos
Já os campos estão alegres
Já cantassem os passarinhos

CCP 10999
Informante: Maria Inácia Gamado, nascida a 11 de Fevereiro de 1923, em Reguengos de Monsaraz. Foi
costureira e empregada fabril. Utente do Lar de Idosos D. Josefa Valadas (Santa Casa da Misericórdia).
Recolha realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão
Silva, de Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por
Luísa Róis.

Já que me pede que eu cante


Vou-lhe fazer a vontade
Não sei que gosto é o seu
De ouvir cantar quem não sabe

996
Róis [2004], pág. 141.
997 s.a.
[1928b], pág. 1.
998
Róis [2004], pág. 72.
999 Róis [2004], pág. 145.

415
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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CCP 111000
Meu doce fado és tão triste
Como á noite a voz do mar,
Tão triste que a quem te canta
Dás vontade de chorar.

CCP 121001
Nas cordas de uma guitarra
Há qualquer coisa que sente…
Soluça, geme e delira
Parece a alma da gente.

CCP 131002
O cantar da mêa-noute
É um cantar insolente:
Acorda quéim tá dromindo,
Faz mal a quéim tá doente.1003
(Reguengos)

CCP 141004
O cantar para mim é
Um grande advertimento;
Encanto nã tou cantando
Nã tenho distraǐmento.
(Reguengos)

CCP 151005
Informante: Maria Catarina Medinas, nascida a 4 de Maio de 1922, em Reguengos de Monsaraz. Foi
Trabalhadora Rural. Utente do Centro de Dia da Santa Casa da Misericórdia. Recolha realizada em 2003,
por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva, de Reguengos de
Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por Luísa Róis.

Ontem à noite à meia-noite


À meia-noite, noite seria
Ouvi cantar uma pomba
No coração de Maria.

CCP 161006
Quéim sabe balhar nã balha,
Quéim nã sabe quer’ balhar;
Quéim sabe cantar nã canta,
Quéim nã sabe quer’ cantar.
(Aldeia do Mato)

1000
s.a. [1928d], pág. 2.
1001
s.a. [1928d], pág. 2.
1002
Pombinho Júnior [1936], pág. 104.
1003
J. A. Pombinho Júnior [1935b], “Retalhos de um Vocabulário”, in Brados do Alentejo, Estremoz, 15
de Abril de 1935, nº 220, pág. 7.
1004
Pombinho Júnior [1936], pág. 17.
1005 Róis [2004], pág. 38.
1006 Pombinho Júnior [1936], pág. 29.

416
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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CCP 171007
Rapazes cantem baixinho
Ao passar ao seu postigo…
Não sei porquê adivinho
Que está sonhando comigo.

CCP 181008
Informante: Maria Catarina Medinas, nascida a 4 de Maio de 1922, em Reguengos de Monsaraz. Foi
Trabalhadora Rural. Utente do Centro de Dia da Santa Casa da Misericórdia. Recolha realizada em 2003,
por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva, de Reguengos de
Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por Luísa Róis.

Tenho um saco de cantigas


E mais uma talegada
P'ra cantar ao meu amor
Quando estou apaixonada

CCP 191009
Informante: Gertrudes Medinas Caeiro, nascida a 29 de Agosto de 1924, natural de Reguengos de
Monsaraz. Foi doméstica. Utente do Lar de Idosos D. Josefa Valadas (Santa Casa da Misericórdia).
Recolha realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão
Silva, de Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por
Luísa Róis.

Tenho um saco de cantigas


E mais uma talegada
Hoje canto tudo
Amanhã não canto nada

CCP 201010
Informante: Gertrudes Medinas Caeiro, nascida a 29 de Agosto de 1924, natural de Reguengos de
Monsaraz. Foi doméstica. Utente do Lar de Idosos D. Josefa Valadas (Santa Casa da Misericórdia).
Recolha realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão
Silva, de Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por
Luísa Róis.

Uma noite toda a noite


Sou eu capaz de cantar
Cantigas a teu respeito
Sem no teu nome falar

CCP 211011
Vou dar o meu pensamento
Em cantares recortado;
Direi talvez… quasi tudo;
Mas tudo desordenado.

1007 s.a. [1928f], pág. 2.


1008
Róis [2004], pág. 35.
1009 Róis [2004], pág. 136.
1010 Róis [2004], pág. 137.
1011 s.a. [1910d], “Tribuna Feminina”, in Folha Nova, I Anno, nº 8, 27 de Fevereiro de 1910, pág. 2.

417
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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2.1.3. Cantigas Conceituosas

CConP 11012
Abre-te ó janela d’ouro,
Tira-te tranca de vrido,
Resolve o tê coração
Que o mê tá resolvido!
(Reguengos)

CConP 21013
Água clara nã se turva
Vindo ela dos rochedos.
Amor’s firmes nã se mudom,
Nã havendo alguns enredos.
(Reguengos)

CConP 31014
- “Agua clara não s’enturva,
Sem haver quem a enlode
Amor firme não se muda,
Indas que queira não pode.”
(Aldeia do Mato)

CConP 41015
Informante: Maria Alves Santos Falé, nascida a 21 de Abril de 1923, em São Marcos do Campo (c. de
Reguengos de Monsaraz). Foi doméstica. Utente do Lar de Idosos D. Josefa Valada (Santa Casa da
Misericórdia). Recolha realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia
Vogado Perdigão Silva, de Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz,
coordenada por Luísa Róis.

A rosa para ser rosa


Deve estar no meio da horta
O amor para estar firme
Deve estar lonje da porta

CConP 51016
- “Arrabaça c’o pé n’água
Sempre s’está bendeando;
É com’á moça solteira,
Quando está namorando.”
(Reguengos)

1012 J.A. Pombinho Júnior [1938g], “Retalhos de um Vocabulário”, in Brados do Alentejo, Estremoz, 11
de Setembro de 1938, nº 399, pág. 5.
1013 Pombinho Júnior [1936], pág. 48.
1014 Pombinho Júnior [1926a], pág. 4.
1015
Róis [2004], pág. 15.
1016 Pombinho Júnior [1925d], pág. 4.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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CConP 61017
Assentada numa pedra
Ouvi dar a meia-noute.
Coitadinho de quéim ‘spera,
P’lo que tá nas mãs d’outre.
(Reguengos)

CConP 71018
Informante: Maria Alves Santos Falé, nascida a 21 de Abril de 1923, em São Marcos do Campo (c. de
Reguengos de Monsaraz). Foi doméstica. Utente do Lar de Idosos D. Josefa Valada (Santa Casa da
Misericórdia). Recolha realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia
Vogado Perdigão Silva, de Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz,
coordenada por Luísa Róis.

Cravo roxo à janela


É sinal de casamento
Menina recolha o cravo
Que o casar ainda tem tempo

CConP 81019
És homem, basta o teu nome,
És falso por natureza.
Não há que fiar nos homens,
Nos homens não há firmeza.
(Reguengos de Monsaraz)

CConP 91020
Informante: Isabel Rosado, nascida a 27 de Janeiro de 1921, em S. Pedro do Corval (c. de Reguengos de
Monsaraz). Foi costureira. Utente do Lar da Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva. Recolha
realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva, de
Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por Luísa Róis.

Eu devo o meu corpo à terra


Porque eu da terra estou comendo
A terra me pague em vida
E eu pago à terra em morrendo

CConP 101021
Fecho os olhos de mansinho,
Não m’os abras, para ver…
Que a vida d’olhos fechados
Custa menos a viver.

1017 Pombinho Júnior [1936], pág. 77.


1018
Róis [2004], pág. 19.
1019 Pombinho Júnior [1925h], pág. 4; Leite de Vasconcelos [1979], pág. 244.

De acordo com o Cancioneiro Popular Português, a composição foi colhida em: semanário Terra
Alentejana, 4-X-1925 (cf. Leite de Vasconcelos [1979], pág. 244).
1020
Róis [2004], pág. 71.
1021 s.a. [1929a], pág. 2.

419
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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CConP 111022
Já corri o mar em roda,
Nas asas de uma cegonha;
Não há que fiar nos homens,
Qu’eles não têm vergonha.
(Reguengos de Monsaraz)

CConP 121023
Já corri o mar em roda,
Nas asas duma cegonha;
Nã há que fiar nos homens,
Que êles nã tēim vergonha.1024
(Reguengos)

CConP 131025
Intersôra, amiga minha,
O que é demais aborrece;
«Quéim mais perto tá do lume
Mais à vontade s’aquece.»
(Reguengos)

CConP 141026
Mê amor, prògunta agrado,
Nan pròguntes fremosura;
Uma mulher séim agrado,
É pior q’a noite ‘scura.
(Aldeia do Mato)

CConP 151027
Informante: Maria Alves Santos Falé, nascida a 21 de Abril de 1923, em São Marcos do Campo (c. de
Reguengos de Monsaraz). Foi doméstica. Utente do Lar de Idosos D. Josefa Valada (Santa Casa da
Misericórdia). Recolha realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia
Vogado Perdigão Silva, de Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz,
coordenada por Luísa Róis.

Nas ondas do teu cabelo


É que eu me quero afogar
É p'ra que saibas ingrato
Que há ondas sem ser no mar

CConP 161028
Informante: Maria Joaquina Garcias, nascida a 7 de Junho de 1925, em S. Marcos do Campo (c. de
Reguengos de Monsaraz). Foi trabalhadora rural. Utente do Polo de Apoio à Família da Santa Casa da
Misericórdia. Recolha realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia
Vogado Perdigão Silva, de Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz,
coordenada por Luísa Róis.

1022
Leite de Vasconcelos [1975], pág. 134.
1023
Pombinho Júnior [1936], pág. 56.
1024 Pombinho Júnior [1925h], pág. 4.
1025
Pombinho Júnior [1933b], pág. 6; [1936], 64.
1026
Pombinho Júnior [1936], pág. 83.
1027 Róis [2004], pág. 15.
1028 Róis [2004], pág. 75.

420
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Nesta vida passageira


O meu destino mal o digo
Não tenho eira nem beira
Mas tenho um peito amigo

CConP 171029
Ninguem conhece no rosto,
O que a nossa alma inspira.
A vida é gosto e desgosto,
Mentira tudo mentira.

CConP 181030
Nossa Senhora me disse
De cima do seu altar:
- Filha, faze por ser boa,
Que eu farei por te ajudar.
(S. Pedro do Corval, c. de Reguengos de Monsaraz)

CConP 191031
Informante: Maria Joaquina Garcias, nascida a 7 de Junho de 1925, em S. Marcos do Campo (c. de
Reguengos de Monsaraz). Foi trabalhadora rural. Utente do Polo de Apoio à Família da Santa Casa da
Misericórdia. Recolha realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia
Vogado Perdigão Silva, de Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz,
coordenada por Luísa Róis.

Nunca a vontade vem


A negra sorte mofina
Triste de quem já nasceu
Com uma estrada de má sina

CConP 201032
O limão é fruto azêdo,
Que narce no verde ‘scuro,
Nenguéim diga neste mundo:
- «Tenho o mê amor seguro».
(Reguengos)

CConP 211033
- “Ó moças haja cuàtela,
Que o homem é importante;
A honra duma donzela,
Está na bôca dum tratante.”
(Reguengos)

1029 s.a.
[1928b], pág. 1.
1030 Leitede Vasconcelos [1983], pág. 228.
1031Róis [2004], pág. 75.
1032 Pombinho Júnior [1936], pág. 18.
1033 Pombinho Júnior [1925g], pág. 4.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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CConP 221034
O sete-estrêlo caiu
Na folhinha do sargaço.
Nã há que fiar nos homes,
O más firme é o más falso.
(Reguengos)

CConP 231035
Os meus versos a ninguem,
Conseguiram comover;
Só eu é que sinto bem
O que não sei bem dizer.

CConP 241036
O tempo vai, o tempo véim,
O tempo taméim se muda;
Brada por quéim te quis béim,
Que talvez inda t’acuda.
(Caridade – Reguengos)

CConP 251037
Passas por mim, nã me falas,
Guardas precêto a alguéim;
Deves passar e falar,
Respêtar a quéim quer’s béim.1038
(Reguengos)

CConP 261039
Informante: Maria Luísa Medinas, nascida a 5 de Junho de 1930, em Reguengos de Monsaraz. Foi
doméstica. Utente do Lar de Idosos D. Josefa Valadas (Santa Casa da Misericórdia). Recolha realizada
em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva, de
Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por Luísa Róis.

Primeiro, lava a tua alma


Ao princípio e ao fim do dia
Com uma oração pequenina
Padre Nosso, Avé Maria

Segundo, lava o teu coração


Deves-lhe estima e respeito
Que o corpo é obra de Deus
Deve assear-se a preceito

1034 Pombinho Júnior [1936], pág. 91.


1035 s.a.[1928b], pág. 1.
1036 J. A. Pombinho Júnior [1938], “Retalhos de um Vocabulário”, in Brados do Alentejo, Estremoz, 2 de

Janeiro de 1938, nº 363, pág. 6.


1037 Pombinho Júnior [1936], pág. 62.
1038 J. A. Pombinho Júnior [1926], “Cantigas Populares Alentejanas (e seu subsídio para o léxico

português)”, in Terra Alentejana, Évora, 11 de Abril de 1926, Ano III, nº 106, pág. 4; [1935a], “Retalhos
de um Vocabulário”, in Brados do Alentejo, Estremoz, 3 de Março de 1935, nº 214, pág. 7.
1039 Róis [2004], pág. 109.

422
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Terceiro, põe-te à carteira


Com o corpo bem direito
Corpo torto faz marrecas
E faz doença de peito

Quarto, ama a luz dos teus olhos


Tesouros que Deus te deu
Com eles sem te mexeres
Podes ver terra e céu

Quinto, estuda-me as lições


Faz as contas com cuidado
Traz os livros e cadernos
Tudo limpinho e asseado

Sexto, não lambas os dedos


P'ras folhas serem viradas
Traz as unhas sempre limpas
E bem certinhas cortadas

Sétimo, cuida da roupa


Antes limpo e remendado
Do que andar de fato novo
Muito rico e pouco asseado

Oitavo, à noite faz as contas


Das coisas boas que dás
Grande rol das coisas boas
E nenhum das coisas más

Decora os oito preceitos


Para bem cumpri-los depois
Que este oito mandamentos
Se encerram só em dois

CConP 271040
Quéim tevér òpenião,
É béim que nela apareça.
Amor do mê coração
Nunca deias à cabeça! 1041
(Reguengos)

CConP 281042
- “Repara, toma sentido,
A quanto ‘stamos do mês.
Nan sejas, amôr, fingido,

1040 Pombinho Júnior [1936], pág. 42.


1041 Pombinho Júnior [1925b], pág. 4; [1935d], pág. 156.
1042
Pombinho Júnior [1925f], pág. 4.

423
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Como fostes da outra vez.


(Reguengos)

CConP 291043
Se fores ao cemitério,
Entra, não peças lincença:
Verás o rico e o pobre
Sem nenhum fazer dif’rença.
(Reguengos de Monsaraz)

CConP 301044
Se fôres um dia ao mar,
Que a fortuna te não deixe:
“Bota a rede, vai-te embora,
“Quanto mais burro mais peixe.”
(Reguengos)

CConP 311045
Tôdô home que nã tem
Três ó catro raparigas;
Nã é home, nã é nada:
É um mata-formigas!
(Aldeia do Mato)

CCon P 321046
Informante: Isabel Rosado, nascida a 27 de Janeiro de 1921, em S. Pedro do Corval (c. de Reguengos de
Monsaraz). Foi costureira. Utente do Lar da Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva. Recolha
realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva, de
Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por Luísa Róis.

Uma rosa em botão


Não é fineza cheirar
Fineza é depois de seca
O mesmo cheiro deitar

1043
Leite de Vasconcelos [1979], pág. 438.
1044
Pombinho Júnior [1938b], “Retalhos de um Vocabulário”, in Brados do Alentejo, Estremoz, 6 de Março
de 1938, nº 372, pág. 6.
1045
Pombinho Júnior [1936], pág. 72.
1046 Róis [2004], pág. 71.

424
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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2.1.4. Cantigas Toponímicas

CTP 11047
Informante: Perpétua Reis Bico, nascida a 27 de Março de 1925, em Reguengos de Monsaraz. Foi
trabalhadora rural. Utente do Lar de Idosos D. Josefa Valadas (Santa Casa da Misericórdia). Recolha
realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva, de
Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por Luísa Róis.

Abalei da minha terra


Não foi por mal que eu fizesse
Foi só por ouvir dizer
Quem não aparece esquece

CTP 21048
Adeus Aldeia de Cima,
Cercada de cachos de uvas,
Vão os rapazes para a praça,
Ficam as moças viuvas.

CTP 31049
Aldeia de Lima
Adeus, Aldeia de Lima,
Cercada de cravos verdes,
Onde o meu amor passeia,
Não é sempre, só às vezes.
(Reguengos de Monsaraz)

CTP 4a1050
Machede
Adeus, aldeia de Machede,
A roda tem dois piais,
Adonde o meu amor se assenta
Dando suspiros e ais.
(Reguengos de Monsaraz)

CTP 4b1051
Adeus, aldeia de Machede,
Que à roda tens dois piais,
Onde o mê amor se assenta
Dando suspiros e ais.

CTP 5a1052
Aldeia do Mato

1047 Róis [2004], pág. 147.


1048
J. A. Pombinho Júnior [1957], Achegas para o Cancioneiro Popular Corográfico do Alto Alentejo,
Separata do Boletim da Junta da Província do Alto Alentejo, Évora, Minerva Comercial,1957, pág. 39.
1049
Leite de Vasconcelos [1983], pág. 5.
1050 Leite de Vasconcelos [1983], pág. 64.
1051
Pombinho Júnior [1925c], pág. 4; [1936], pág. 66.
1052 Pombinho Júnior [1928] “Reguengos, Portel e Mourão e as suas cantigas populares”, in Ilustração

Alentejana, Abril de 1928, nº 5, pág. 44; [1957], pág. 39; Leite de Vasconcelos [1983], pág. 5.

425
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Adeus, Aldeia do Mato,


É terra de boa gente,
Dá de comer a quem passa
Que leve dinheiro corrente…
(Reguengos de Monsaraz)

CTP 5b1053
Monsaraz é boa terra,
Boa terra, melhor gente:
Dá de comer a quem passa,
Se traz dinheiro corrente.
(Monsaraz, c. de Reguengos de Monsaraz)

CTP 5c1054
Baldio
Ó aldeia do Baldio,
Casas novas de Carneiro,
Dá de comer a quem passa
Se leva muito dinheiro…

CTP 61055
Adeus, aldeia do Telheiro,
Ao lado fica o convento.
Se me falas verdadeiro,
Tens amor para muito tempo.

CTP 71056
Évora
Adeus, ó cidade de Évora,
Dá para cá uma volta,
Que eu tenho lá uma prenda
Não sei se é viva se é morta.
(Reguengos de Monsaraz)

CTP 81057
Adeus, ó estrêla do Norte,
Adeus, ó lua do Natal!
Deixarei-te só por morte,
Rainha de Portugal!
(Aldeia do Mato, Reguengos)

CTP 91058
“Adeus, vila de Reguengos,
Cercada de cachos de uvas
Vão-se os rapazes embora,
Ficam as moças viuvas.”

1053 Leite de Vasconcelos [1983], pág. 31.


1054 Leite de Vasconcelos [1983], pág. 18.
1055
Pombinho Júnior [1957], pág. 39.
1056 Leite de Vasconcelos [1983], pág. 45.
1057
Pombinho Júnior [1941], pág. 4.
1058
Pombinho Júnior [1957], pág. 39.

426
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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CTP 101059
“Ailé,
Aldeia do Mato,
Vamos desmanchar
O nosso contrato.”

CTP 111060
Aldeia da Caridade,
Ao lado fica o ribeiro.
Eu não deixo a mocidade
Enquanto estiver solteiro .

CTP121061
Aldeia da Caridade
De comprida não tem fim.
Não posso ter amizade
A quem ma não tem a mim.

CTP 131062
Aldeia da Caridade,
Hei-de a mandar ladrilhar
De tojos e carapetos,
Para o meu bem passear.

CTP 141063
Informante: Florinda Rosado da Silva, nascida a 19 de Novembro de 1938. Residente na Cumeada (c. de
Reguengos de Monsaraz). Foi trabalhadora rural. Utente do Centro de Dia da Santa Casa da Misericórdia.
Recolha realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão
Silva, de Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por
Luísa Róis.

Aldeia da Cumeada
Terra da minha paixão
Quem me dera abraçar
O amor do meu coração

CTP 151064
Informante: Filomena Maria Lopes, nascida a 5 de Junho de 1916, em Perolivas (c. de Reguengos de
Monsaraz). Foi costureira. Utente do Centro de Dia da Santa Casa da Misericórdia. Recolha realizada em
2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva, de Reguengos
de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por Luísa Róis.

Aldeia das Perolivas


P'ra baixo, p'ra cima não
P'ra baixo correm as água
P'ra cima o meu coração

1059
Pombinho Júnior [1957], pág. 39.
1060
Pombinho Júnior [1957], pág. 39.
1061
Pombinho Júnior [1928], pág. 44; [1957], pág. 39.
1062
Pombinho Júnior [1957], pág. 39.
1063
Róis [2004], pág. 84.
1064 Róis [2004], pág. 152.

427
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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CTP 161065
Informante: Filomena Maria Lopes, nascida a 5 de Junho de 1916, em Perolivas (c. de Reguengos de
Monsaraz). Foi costureira. Utente do Centro de Dia da Santa Casa da Misericórdia. Recolha realizada em
2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva, de Reguengos
de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por Luísa Róis.

Aldeia das Perolivas


Logo além à entrada
Prenderam o meu aor
Com uma fita encarnada

CTP 171066
Aldeia de Lima é minha,
Hei-de a mandar calçar
De biquinhos de alfinetes
Para o meu amor passear.
(Reguengos de Monsaraz)

CTP 181067
Aldeia do Mato é minha,
Que ma deu minha tinha:
Hei-de mandar pôr no centro
Uma rosa da Alexandria.

CTP 191068
Aldeia do Mato é minha,
Que ma deu o rei de prenda,
Quem nela quiser morar,
Há-de-me pagar a renda.
(Reguengos de Monsaraz)

CTP 20 a1069
As do Campinho são bruxas;
De S. Marcos, feiticêras;
Da Cumeada, manhosas;
De Reguengos, borrachêras.

CTP 20b1070
Campinho, terra das bruxas,
São Marcos, das fêtecêras,
Cumiada, das manhosas,
Reguengos, das borrachêras.

1065 Róis [2004], pág. 152.


1066 Leite de Vasconcelos [1983], pág.5.
1067 Pombinho Júnior [1957], pág. 40.
1068 Pombinho Júnior [1928] pág. 44; [1957], pág. 40; Leite de Vasconcelos [1983], pág. 5
1069 J. A. David de Morais [2006], Ditos e Apodos Colectivos. Estudo de Antropologia Social no Distrito

de Évora, Lisboa, Colibri, 2006, pág. 51.


1070
Pombinho Júnior [1928], pág. 44; [1936], pág. 66; [1957], pág. 40; Leite de Vasconcelos [1983],
pág. 142.
Manuel Joaquim Delgado publica esta quadra, remetendo a sua recolha para a obra de J. A. Pombinho
Júnior (cf. Delgado [1956], pp. 13-14).

428
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
_____________________________________________________________________________________

CTP 211071
Barrada, terra de coxos.
Outeiro1072, dos aleijados.
Motrinos, dos bons moços.
Telheiro, dos Malcriados.

CTP 221073
Carrapatelo é vila,
Casas Novas é cidade;
Aldeia do Mato é corte,
Onde existe a mocidade.

CTP 231074
Comparo o Monte do Val,
… Pirolivas e Gafanhoeiras,
A Horta do Zambujal,
S. Romão e Corujeira.

CTP 241075
Cumiada é verde lima,
Campinho é verde limão,
Amor, vieste á luz,
Diz-me lá por que razão?

CTP 251076
Dia 25 de Abril,
em S. Marcos se faz fêra,
onde se vêm advertir
os corvos da Amiêra.1077
(S. Marcos)

1071 Pombinho Júnior [1928], pág. 44; [1936], pág. 66; [1957], pág. 40; David de Morais [2006], pág. 42.
Manuel Joaquim Delgado publica esta quadra, remetendo a sua recolha para J. A. Pombinho Júnior e
respectiva publicação na obra que acabámos de citar (cf. Delgado [1956], pág. 14).
Sobre os habitantes da aldeia do Outeiro, J. A. David Morais publicou a seguinte quadra recolhida em
Mourão:
Os do Outeiro
Comem carne de carnêro.
E os de Mourão
Comem carne de cão.
(Mourão) (David de Morais [2006], pág. 77)
O autor explica: “(…) Isto porque não era muito prestigiante comer carne de ovinos velhos (carneiro ou
ovelha velha, a chamada ovelha badana): alentejano que se prezasse (e pudesse…) deveria, isso sim, comer
carne de borrego, em especial no ‘dia do borrego’ (segunda-feira a seguir à Páscoa, que ainda continua a
ser feriado em muitas localidades do Alentejo), dia grande entre os alentejanos, em que vão para o campo
confraternizar à volta do borrego assado no forno” (David de Morais [2006], pág. 77).
1073
Pombinho Júnior [1957], pág. 40.
1074 Pombinho Júnior [1957], pág. 40.
1075
Pombinho Júnior [1957], pág. 40.
1076
David de Morais [2006], pág. 36.
1077 J. A. David Morais afirma: “Existe também uma variante, em que o último verso é substituído por ‘os

alarves da Amieira’, donde a ocorrência de um suplementar epíteto de ‘Alarves’ aplicado aos amieirenses”
(David de Morais [2006], pág. 36).

429
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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CTP 261078
Em chegando a Monsaraz,
Avista-se as Ferrarias.
Ó amor, não és capaz,
Cumprires o que dizias.

CTP 271079
Em Reguengos nasce o sol,
Em Mourão a lua cheia,
Em Monsaraz um jardim,
Onde o meu amor passeia.

CTP 281080
Hei-de ir pra’à Cumiada,
Que é terra que fica perto.
Tu andas desconfiada,
Ainda te o faço certo.

CTP 291081
Já corri o norte à Terra
Para brigar c’os alimões
E só ainda encontri,
Como o nosso, dois corações.
(Reguengos)

CTP 30a1082
Já Reguengos não é vila,
Aldeia lhe chamarão:
Foram buscar não trouxeram
O concelho a Mourão.
(Reguengos de Monsaraz)

CTP 30b1083
Já Reguengos não é vila,
Aldeia lhe chamarás;
Foram buscar não trouxeram,
O concelho de Monsaraz.

CTP 31a1084
Reguengos de Monsaraz
Já Reguengos não é vila
Já le querem pôr cidade,
Por ter praça de touros

1078
Pombinho Júnior [1957], pág. 40.
1079
Pombinho Júnior [1957], pág. 41.
1080
Pombinho Júnior [1957], pág. 41.
1081
J. A. Pombinho Júnior [1952b], “Retalhos de um Vocabulário” (2ª Série), in Brados do Alentejo, nº
1106, Estremoz, 7 de Setembro de 1952, pág. 3.
1082 Pombinho Júnior [1928], pág. 44; [1957], pág. 41; Leite de Vasconcelos [1983], pág. 144.
1083 Pombinho Júnior [1928], pág. 44; [1957], pág. 41.
1084 Leite de Vasconcelos [1983], pág. 98.

430
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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E a Praça da Liberdade.
(Reguengos de Monsaraz)

CTP 31b1085
Já Reguengos não é vila
Já lhe querem pôr cidade,
Por ter a igreja nova
Na Praça da Liberdade.

CTP 321086
Piroliva
Já ouvi cantar o cuco
Na ponta do meu arado;
As moças da Piroliva
Andam com o rabo alçado.
(Reguengos de Monsaraz)

CTP 321087
Monsaraz
Ladeiras de Monsaraz
São custosas de subir;
Arranja outro rapaz,
Que eu já não posso cá vir.
(Monsaraz, c. de Reguengos de Monsaraz)

CTP 341088
Mourão
Lá dos lados de Mourão
Armou-se uma lavareda;
Há-des me vir ter à mão
Mais mansa que uma borrega!
(Reguengos de Monsaraz)

CTP 351089
Informante: Maria Catarina Medinas, nascida a 4 de Maio de 1922, em Reguengos de Monsaraz. Foi
Trabalhadora Rural. Utente do Centro de Dia da Santa Casa da Misericórdia. Recolha realizada em 2003,
por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva, de Reguengos de
Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por Luísa Róis.

Lá vai Serpa, lá vai Moura


As Pias ficam no meio
Em chegando à minha terra
Eu canto sem receio

1085Pombinho Júnior [1928], pág. 44; [1957], pág. 41; Leite de Vasconcelos [1983], pág. 98.
1086 Pombinho Júnior [1928], pág. 44; [1957], pág. 41; Leite de Vasconcelos [1983], pág. 89.
1087
Leite de Vasconcelos [1983], pág. 75.
1088 Pombinho Júnior [1925a], pág. 8; [1936], pág. 66.; Leite de Vasconcelos [1983], pág. 78.

A composição publicada na obra de Leite de Vasconcelos foi colhida em: semanário Terra Alentejana, 24-
-6-1925 (cf. Leite de Vasconcelos [1983], pág. 78).
1089
Róis [2004], pág. 38.

431
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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CTP 361090
Leve o diabo òs homens todos,
Afogados no Degébe!
Parecem machinhos novos
Cando vã parô alquéve.
(Reguengos)

CTP 371091
Lindas ruas de Reguengos
‘Stão calçadas a compasso,
Quem nelas tomar amores
Deve ter desembaraço.

CTP 381092
Informante: Maria Alves Santos Falé, nascida a 21 de Abril de 1923, em São Marcos do Campo (c. de
Reguengos de Monsaraz). Foi Doméstica. Utente do Lar de Idosos D. Josefa Valada (Santa Casa da
Misericórdia). Recolha realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia
Vogado Perdigão Silva, de Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz,
coordenada por Luísa Róis.

Minha terra é no Alentejo


Eu não o posso negar
Toda a gente me conhece
Pelo modo de falar

CTP 39a1093
Monsaraz é boa terra;
Dá de comer a quem passa.
Tem a fonte no Telheiro
E Santa Maria na Praça.

CTP 39b 1094


Monsaraz está numa altura
Dando vistas a quem passa,
Tem a fonte no Telheiro
E Santa Maria na Praça.

CTP 40a1095
Monsaraz é boa terra,
Terra de muita hortaliça,
Tem muita moça bonita
Mas não me metem cobiça.
(Reguengos de Monsaraz)

1090 Pombinho Júnior [1925d], pág. 4; [1936], pág. 20.


Pombinho Júnior refere que recolheu a composição em S. Marcos (cf. [1925d], pág. 49.
1091 Pombinho Júnior [1928], pág. 44; [1957], pág. 41; Leite de Vasconcelos [1983], pág. 98.
1092 Róis [2004], pág. 17.
1093 Pombinho Júnior [1928], pág. 44; [1957], pág. 41.
1094 Pombinho Júnior [1928], pág. 44; [1957], pág. 41.
1095 Leite de Vasconcelos [1983], pág. 76.

432
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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CTP 40b1096
Monsaraz é boa terra,
Terra de muita hortaliça:
Tem moças muito lindas,
Mas não me metem cobiça.

CTP 411097
Monsaraz é terra boa,
Tem o feitio de nau;
É de pedra e não de pau
E tem o relógio à proa.
(Reguengos de Monsaraz)

CTP 421098
Monsaraz está num alto,
Dando vistas a quem passa;
A fonte é no Telheiro,
Santa Maria na Praça.
(Reguengos de Monsaraz)

CTP 431099
Monsaraz é um navio
O Telheiro uma pistola
O Outeiro não tem feitio
E a Barrada é uma bola.

CTP 441100
Monsaraz é verde lima,
Mourão é verde limão,
A Granja é caracol,
Telheiro, manjericão.

CTP 45a1101
Monsaraz tá numa altura,
Mourão tá numa chapada,
A Granja numa bàxura,
Amârlêja numa assentada.
(Campinho - Reguengos)

CTP 45b1102
Monsaraz tá num outêro,

1096 Pombinho Júnior [1928], pág. 44; [1957], pág. 42.


1097 Leite de Vasconcelos [1983], pág. 76.
1098 Leite de Vasconcelos [1983], pág. 76.
1099
Francisco Martins Ramos [2012], De Monsaraz a Melbourne. Reflexões Antropológicas numa Era
Global, Lisboa, Edições Colibri, 2012, pág. 31.
1100 Pombinho Júnior [1957], pág. 41.
1101 Pombinho Júnior[1925e], pág. 3; [1927] “Vocabulário Alentejano (subsídios para o léxico português)”,

vol. XXVI, Lisboa, Livraria Clássica Editora, 1927, pág. 70; [1936], pág. 26; [1936], pág. 26.
Pombinho Júnior localiza a recolha da cantiga em Reguengos (cf. Pombinho Júnior, [1925e], pág. 3).
1102 Pombinho Júnior[1925e], pág. 3; [1936], pág. 26.

433
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Mourão numa assentada,


Amârlêja numa cova,
A Póvoa numa chapada.

CTP 461103
No Campinho fui narcido
Em São Marcos, baptizado,
Na Cumiada, divertido,
Em Reguengos, sorteado.
(Reguengos de Monsaraz)

CTP 471104
Ó aldeia do Baldio
Casas Novas de Carneiro,
Dá de comer a quem passa
Se leva muito dinheiro.

CTP 481105
O caminho de Reguengos
É muito custoso a andar.
Uma lebre a dois podengos
É custosa de escapar.

CTP 491106
Ó moças da Caridade
Devo-lhe muito obrigado:
Da maior à mais pequena
Todas me têm estimado.

CTP 501107
Ó Reguengo, ó Reguengo,
Ó Reguengo, ó ladrão,
Agora até já levaste
O concelho de Mourão!
(Reguengos de Monsaraz)

CTP 511108
Ó tapada do Baldio,
Que dás voltas a Monsaraz,
Toda a moça que tem brio
Namora só um rapaz.
(Reguengos de Monsaraz)

CTP 521109
Ó vila de Monsaraz

1103 Pombinho Júnior [1928], pág. 44; [1957], pág. 42; Leite de Vasconcelos [1983], pág. 144.
1104 Pombinho Júnior [1928], pág. 44; [1957], pág. 42.
1105 Pombinho Júnior [1957], pág. 41.
1106 Pombinho Júnior [1957], pág. 41.
1107 Leite de Vasconcelos [1983], pág. 144.
1108 Pombinho Júnior [1928], pág. 44; [1957], pág. 41; Leite de Vasconcelos [1983], pág. 18.
1109 Pombinho Júnior [1957], pág. 41.

434
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Quem te não conhecera!


Onde quer que chegares
Inda levantas bandêra.

CTP 531110
«Ó vila de Monsaraz,
Stás cercada de olivais;
Toda moça que lá mora
‘Stá picada dos pardais.»
(Reguengos, 1922)

CTP 541111
Ó vila de Monsaraz
Ó fonte com quatro portas!
Adeus Outeiro, adeus Barrada,
Adeus Motrinos, adeus Horta!

CTP 551112
Ó vila de Monsaraz,
Pareces um algueirinho.
Ó meu amor, se lá estás,
Vem-me esperar ò caminho.

CTP 561113
Ó vila de Monsaraz,
´Stás cercada de olivais;
Tôda moça que lá mora
´Stá picada dos pardais.

CTP 571114
“Pôs-se me o sol ao Baldio,
“O ar de dia” à ribeira,
Já venho a tremer de frio,
A roupa está em Ferreira.”

CTP 581115
Quando fui a Monsaraz,
Avistei as Corredouras,
Se queres ser o meu rapaz,
Não dei-de ter “intersoras”.

CTP 591116
Quem subir ao «Miradouro»
Do alto do Covalinho,

1110
Pombinho Júnior [1938e], pág. 208; [1939a], pág. 176; [1957], pág. 42.
1111 Pombinho Júnior [1957], pág. 41.
1112 Pombinho Júnior [1957], pág. 41.
1113 Pombinho Júnior [1957], pág. 41.
1114 Pombinho Júnior [1957], pág. 41.
1115 Pombinho Júnior [1957], pág. 41.
1116
s.a. [1927], “O Miradouro”, in O Éco de Reguengos, nº 924, 27 de Novembro de 1927, pág. 1.

435
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
_____________________________________________________________________________________

De ver terra em redondeza


Fica de todo parvinho.

CTP 601117
“Reguengos, não é comarca
Nem vila lhe chamarão;
Foram buscar, não trouxeram
O concelho de Mourão”.

CTP 611118
Reguengos, por ser Reguengos,
Também é terra de pão;
Também tem moças bonitas,
Claras como o carvão.

CTP 621119
Reguengos melhor das vilas
Talvez que algumas cidades:
Ó quem pudera lá ir,
Para matar umas saudades!

CTP 631120
Rua de S. Pedro tem
No meio duas travessas.
Ainda não vi a ninguém
Escrever cartas às avessas.

CTP641121
São Manços é vila,
Cumiada é cidade
Campinho é porto,
Onde existe a mocidade.

CTP 651122
Tenho uma mana Inácia
Para lá de Vila Boim;
Tenho outra no Campinho
Essa não me esquece a mim.

CTP 661123
Informante: Filomena Maria Lopes, nascida a 5 de Junho de 1916, em Perolivas (c. de Reguengos de
Monsaraz). Foi costureira. Utente do Centro de Dia da Santa Casa da Misericórdia. Recolha realizada em
2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva, de Reguengos

1117 Pombinho Júnior [1957], pág. 43.


1118 Pombinho Júnior [1957], pág. 43.
1119 Pombinho Júnior [1957], pág. 43.
1120 Pombinho Júnior [1957], pág. 43.
1121 Pombinho Júnior [1957], pág. 43.
1122 Pombinho Júnior [1957], pág. 43.
1123 Róis [2004], pág. 155.

436
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
_____________________________________________________________________________________

de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por Luísa Róis.

Tenho um amor em Alvito


Outro em Vila Boim
Tenho outro nas Perolivas
Esse não me esquece a mim

671124
Tenho um amor no Baldio,
Tenho outro na Caridade,
Tenho outro na minha terra
Com o dobro da amizade.

CTP 681125
Vejo ao longe Monsarás
E o castelo de Mourão,
Mais perto vejo Reguengos
- Terra do meu coração.

CTP 691126
Vento norte, vento norte,
Lá do lado de Reguengos,
Quem nasce p’rà pouca sorte
Toda a vida anda aos morengos.

CTP 701127
Volti a cara prà Espanha,
Já nã volto a Portugal.
Os homes t ẽem más ronha
Que’ sete zorras num vale.
(São Marcos)

1124 Pombinho Júnior [1928], pág. 44; [1957], pág. 43.


1125 s.a. [1927], pág. 1.
1126 J. A. Pombinho Júnior [1925], pág. 19; [1928], pág. 44; [1934b], pág. 6; [1936], pág. 23; [1957], pág.

43; Leite de Vasconcelos [1983], pág. 98.


1127 Pombinho Júnior [1936], pág. 98.

437
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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2.1.5. Outras

OP 11128
Ergue as abas do chapéu,
Olha p’ra mim com jêto
Que te quero prèguntar
O mal que te tenho fêto.
(Aldeia do Mato)

OP 21129
Água corrente nã coalha,
Só se a corrente for frouxa.
Mulher casada nã balha,
Só se é cabra, louca ou coxa.
(Reguengos)

OP 31130
Informante: Maria Alves Santos Falé, nascida a 21 de Abril de 1923, em São Marcos do Campo (c. de
Reguengos de Monsaraz). Foi doméstica. Utente do Lar de Idosos D. Josefa Valada (Santa Casa da
Misericórdia). Recolha realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia
Vogado Perdigão Silva, de Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz,
coordenada por Luísa Róis.

Alegria dos meus olhos


Não sei que me a tirou
Tão alegre que eu fui sempre
E agora já nada sou

OP 41131
Informante: Maria Catarina Madeira Verdasca, nascida a 15 de Junho de 1920, em São Vicente de Valongo
(c. de Reguengos de Monsaraz). Foi Doméstica. Utente do Lar de Idosos D. Josefa Valadas (Santa Casa
da Misericórdia). Recolha realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia
Vogado Perdigão Silva, de Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz,
coordenada por Luísa Róis.

A Palavra saudade,
Aquele que a inventou,
A primeira vez que a disse,
Com certeza que chorou.

OP 51132
A poejeira no vale,
Quando reverdece, chora;
Que lhe importa a cada qual
A vida de quem namora?

1128
J. A. Pombinho Júnior [1939c], “Retalhos de um Vocabulário”, in Brados do Alentejo, Estremoz, 10
de Setembro de 1939, nº 451, pág. 7.
1129
Pombinho Júnior [1936], pág. 35.
1130 Róis [2004], pág. 15.
1131 Róis [2004], pág. 81.
1132
Leite de Vasconcelos [1979], pág. 290.

438
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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OP 61133
O acipreste no vale
Muda a folha a toda a hora;
Que lhe importa a cada qual
A vida de quem namora?
(Reguengos de Monsaraz)

OP 71134
À minha porta está lama
À tua fica um lameiro…
Quando falares dos outros
Olha para ti primeiro.
OP 81135
“- Arranca-se o limoeiro,
Por baixo fic´ô chabouco.
Serias tu o primeiro
Que de mim farias pouco!”
(Aldeia do Mato)

OP 91136
- “Atirei o cravo ó poço,
Foi fechado, veiu aberto.
É um regalo na vida,
Enganar-se quem é experto.
(S. Marcos)

OP 101137
Bemdito seja o sacrário
E bemdito o altar e a cruz!
Bemditas sejam as mães
Que dão morenas á luz!

OP 111138
Cala-te daí boca-aberta,
Rodilha da chum’néi;
Raparigas cõma ti
Trago eu a pontapéi!
(Reguengos)

OP 121139
Camélias, cravos e rosas,
Amor´s prefêtos e lírios,
Béim-me-quer’s, sucenas,
Soïdades, goivos, martírios.
(Reguengos)

1133
Leite de Vasconcelos [1979], pág. 298.
1134
s.a. [1910], “Tribuna Feminina”, in Folha Nova, I Anno, nº 1, 9 de Janeiro de 1910, pág. 3.
1135
Pombinho Júnior [1925b], pág. 4.
1136
Pombinho Júnior [1925f], pág. 4.
1137
s.a. [1928g], pág. 1.
1138
Pombinho Júnior [1936], pág. 33; [1936c],pág.4.
1139
Pombinho Júnior [1936], pág. 93.

439
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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OP 131140
Comadre, minha comadre,
Ata o atilho da bota;
Já te podes ir gabar
Que apanhaste cambalhota.
(Reguengos)

OP 141141
Desejava-te encontrar
Numa rua séim saída,
Que te q’ria purcurar:
- Que te importa a minha vida?
(Reguengos)

OP 151142
Deste-me triaga a buber
Más a baga do lourêro.
Quiseste-me exp’rimentar,
Inda morreste primêro.
(Reguengos)

OP 161143
Dêxa vir a primavera,
Que arrebenta o carapêto.
Inda m’hás-de ver vingada
Das acções que me tens fêto.1144
(Reguengos)

OP 171145
Diga-me o que m’ensina
Parà minha constipação.
- Compra trinta réis de quina,
E um ventéim de solimão.
(Reguengos)

OP 181146
Ê já fiz ‘ma recêta
Com rezões da tua boca.
Quéim me faz ´ma desfêta,
Nã me torna a fazer outra.
(São Marcos - Reguengos)

OP 191147
Informante: Madalena Galego, nascida a 18 de Fevereiro de 1926, natural de São Vicente de Valongo (c.

1140
Pombinho Júnior [1935d], pág. 105; [1936], pág. 36.
1141
Pombinho Júnior [1936], pág. 83.
1142
Pombinho Júnior [1936], pág. 96.
1143
Pombinho Júnior [1936], pág. 37.
1144 Pombinho Júnior [1925f], pág. 4.
1145
Pombinho Júnior [1936], pág. 92.
1146
Pombinho Júnior [1936], pág. 87.
1147 Róis [2004], pág. 109.

440
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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de Redondo). Foi doméstica. Utente do Lar de Idosos D. Josefa Valadas (Santa Casa da Misericórdia).
Recolha realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão
Silva, de Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por
Luísa Róis.

É linda a casa onde mora


Ali a minha vizinha
A minha é mais pobre
Embora goste mais da minha

OP 201148
Essa dita criatura
Que essa rezão te contou,
Andà busca da vergonha
Mas inda a nã encontrou.
(São Marcos do Campo)

OP 211149
- “Este mal que Deus me deu,
Não foram sezões malditas.
‘Stou melhor graces a Deus,
Não foi c’as suas visitas.”
(S. Marcos do Campo)

OP 221150
Este meu doairo alegre
Já mo quiseram poribir;
Ainda qu’ eu queira, não posso
Olhar p’ra ti sem me rir.
(Reguengos de Monsaraz)

OP 231151
Eu desejaria morrer
Pregado como Jesus
Mas era preciso ter
Teus braços por minha cruz.

OP 241152
Eu não gosto, nem brincando,
Dizer adeus a ninguem.
Quem parte, parte sem vida,
Quem fica, saudades tem.

OP 241153
Eu ouvi em Santa Clara

1148
Pombinho Júnior [1936], pág. 86.
1149
Pombinho Júnior [1926], pág. 4.
1150
Leite de Vasconcelos [1975], pág. 420.
1151
s.a. [1928f], pág. 2.
1152
s.a. [1928e], pág. 2.
1153
s.a. [1929], pág. 1.

441
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Gemidos de alguem que chora…


- Era a Rainha pedindo
Por mim a Nossa Senhora

OP 251154
Informante: Isabel Rosado, nascida a 27 de Janeiro de 1921, em S. Pedro do Corval (c. de Reguengos de
Monsaraz). Foi costureira. Utente do Lar da Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva. Recolha
realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva, de
Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por Luísa Róis.

Eu venho não sei da onde


E encontrei não sei quem era
Era então o mês de Abril
À busca da Primavera

OP 261155
Fiz uma cova na areia
P’ra sepultar minha magua
Entrou por ela o mar dentro
Não encheu a cova d’agua.

OP 271156
Fui lavar ao rio turvo,
Escorregou-me o sabão,
Abracei-me com as rosas,
Ficou-me o cheiro na mão.
(Reguengos de Monsaraz)

OP 281157
Informante: Maria Alves Santos Falé, nascida a 21 de Abril de 1923, em São Marcos do Campo (c. de
Reguengos de Monsaraz). Foi doméstica. Utente do Lar de Idosos D. Josefa Valada (Santa Casa da
Misericórdia). Recolha realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia
Vogado Perdigão Silva, de Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz,
coordenada por Luísa Róis.

Há tanto tempo que eu ando


Para a tua casa ir
Hoje vou, amanhã vou
O dia certo sem vir

OP 291158
- “Inda canto, inda bálho,
Inda cá não há tristeza;
Inda cá não há quem tenha
Minha libardade prêsa.”
(Reguengos)

1154 Róis [2004], pág. 71.


1155
s.a. [1928a], pág. 2.
1156
Leite de Vasconcelos [1975], pág. 234.
1157 Róis [2004], pág. 17.
1158
Pombinho Júnior [1926], pág. 4.

442
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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OP 301159
Já corri o mar em roda,
Nas asas duma cegonha;
Em tôdô mar achi fondura,
Só em ti pouca vergonha.
(Aldeia do Mato)

OP 31 1160
Já foram e já vieram,
As formosas andorinhas;
Levaram de mim saudades,
Trouxeram saudades minhas.

OP 321161
Já lá véim o sol nascendo,
Deitando raios às aldeias;
Já lá véim a tesourinha,
Cortando em vidas alheias.
(São Marcos)

OP 331162
Já morri, já m’entarri
Debàxo de dois tarrões;
Agora ressuciti
Co’as tuas orações.
(Reguengos)

OP 341163
Já morri, já m’entarrarom
Entremeio de dois tarrões;
Dês me nã leve do mundo
Séim te dar duas rezões.
(São Marcos)

OP 351164
Laranja de casca fina
De fina nã vai ò fundo.
Mal empregada menina,
Andar nas bocas do mundo.
(Aldeia do Mato)

OP 361165
Levanti-me hoje tã triste
1159
Pombinho Júnior [1936], pág. 56.
1160
B. de M. [1939], “As Andorinhas”, in O Éco de Reguengos, (II Série) nº 345, 3 de Março de 1939,
pág.1.
1161
Pombinho Júnior [1936], pág. 94; [1936b], pág.5.
1162
Pombinho Júnior [1925f], pág. 4; [1935d], pág. 109.
Pombinho Júnior localiza o local de recolha da cantiga em S. Marcos ([1925f], pág. 4).
1163 Pombinho Júnior [1935d], pág. 110.
1164
Pombinho Júnior [1925d], pág. 4; [1934], pág. 6; [1936], pág. 22.
1165
Pombinho Júnior [1925f], pág. 4; [1935d], pág. 109.

443
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Que me aborrece viver:


Se visse quéim desejava,
Nã m’havéra de aborrecer.
(Reguengos)

OP 371166
Liberdade, liberdade,
Quem na tem chama-lhe sua;
Eu não tenho liberdade
Nem de pôr o pé na rua.
(Reguengos de Monsaraz)

OP 381167
Mandi fazêri um jazido
No jardim, ó péi do mári,
P´ra sepultári mê sentido,
Encanto fôr melitári.
(Reguengos)

OP 391168
Informante: Maria Catarina Medinas, nascida a 4 de Maio de 1922, em Reguengos de Monsaraz. Foi
Trabalhadora Rural. Utente do Centro de Dia da Santa Casa da Misericórdia. Recolha realizada em 2003,
por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva, de Reguengos de
Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por Luísa Róis.

Maria, teu lindo nome


Quem foi a tua madrinha
Quem foi a santa mulher
Que tão lindo gosto tinha

OP 401169
Informante: Madalena Galego, nascida a 18 de Fevereiro de 1926, natural de São Vicente de Valongo (c.
de Redondo). Foi doméstica. Utente do Lar de Idosos D. Josefa Valadas (Santa Casa da Misericórdia).
Recolha realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão
Silva, de Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por
Luísa Róis.

Manuel era um petiz de palmo e meio


Um pouco mais seria na verdade
Fazia contas como um banqueiro
Lia no livro como um doutor

OP 411170
Minha avó quando morreu
Levou palmito e capella;
Deixon-me as chaves da adega,

1166
Leite de Vasconcelos [1979], pág. 49.
1167
J. A. Pombinho Júnior [1938l], “Retalhos de um Vocabulário”, in Brados do Alentejo, Estremoz, 5 de
Novembro de 1938, nº 407, pág. 6.
1168 Róis [2004], pág. 37.
1169 Róis [2004], pág. 109.
1170
s.a. [1910b], “Tribuna Feminina”, in Folha Nova, I Anno, nº 5, 6 de Janeiro de 1910, pág. 3.

444
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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E o vinho bebeu-o ella.

OP 421171
Não julgues pelas risadas
a alegria de ninguém
que ás vezes as gargalhadas
são maguas que a vida tem.

OP 431172
Não tenho pena em deixar
A mocidade em que estou,
Só tenho pena em deixar
Pai e mãi que me criou.
(Reguengos)

OP 441173
Informante: Maria Catarina Medinas, nascida a 4 de Maio de 1922, em Reguengos de Monsaraz. Foi
Trabalhadora Rural. Utente do Centro de Dia da Santa Casa da Misericórdia. Recolha realizada em 2003,
por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva, de Reguengos de
Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por Luísa Róis.

O António Maçã Verde


“Escolhido” da macieira
Não te cases, oh António
Enquanto eu estiver solteira.

OP 451174
O arado lavra a terra,
A grade grada-a depois,
Quem vae guiando a rabiça
Sorri a quem guia os bois.

OP 461175
O chaparro dá boleta,
A esteva correpio
Anda aí uma sujeita,
Não pode falar com brio.
(Aldeia do Mato, c. de Reguengos de Monsaraz)

OP 471176
Informante: Maria Alves Santos Falé, nascida a 21 de Abril de 1923, em São Marcos do Campo (c. de
Reguengos de Monsaraz). Foi doméstica. Utente do Lar de Idosos D. Josefa Valada (Santa Casa da
Misericórdia). Recolha realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia
Vogado Perdigão Silva, de Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz,
coordenada por Luísa Róis.

1171
s.a. [1928], pág. 2.
1172
J. A. Pombinho Júnior [1940], “Retalhos de um Vocabulário”, in Brados do Alentejo, Estremoz, 1 de
Março de 1940, nº 480, pág. 6.
1173Róis [2004], pág. 38.
1174 s.a. [1910b], pág. 3.
1175
Leite de Vasconcelos [1979], pág. 298.
1176 Róis [2004], pág. 18.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Oh António, Santo António


Oh Francisco, São Francisco
José de Nossa Senhora
E Manuel Monte Cristo

OP 481177
Informante: Mariana Mendes Conceição, nascida a 22 de Agosto de 1920, em Reguengos de Monsaraz.
Foi trabalhadora rural. Utente do Lar de Idosos D. Josefa Valadas (Santa Casa da Misericórdia). Recolha
realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva, de
Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por Luísa Róis.

Oh lampião, lampião
Oh lampião rua abaixo
Eu perdi o meu anel
E às escuras não o acho

OP 491178
Informante: Madalena Galego, nascida a 18 de Fevereiro de 1926, natural de São Vicente de Valongo (c.
de Redondo). Foi doméstica. Utente do Lar de Idosos D. Josefa Valadas (Santa Casa da Misericórdia).
Recolha realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão
Silva, de Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por
Luísa Róis.

Óh minha Mãe da minha alma


Oh meu pai do coração
Por muitos anos que eu viva
Não lhe pago a criação

OP 501179
Informante: Maria Alves Santos Falé, nascida a 21 de Abril de 1923, em São Marcos do Campo (c. de
Reguengos de Monsaraz). Foi doméstica. Utente do Lar de Idosos D. Josefa Valada (Santa Casa da
Misericórdia). Recolha realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia
Vogado Perdigão Silva, de Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz,
coordenada por Luísa Róis.

Oh minha mãe, minha mãe


Que me deu tantos miminhos
Hoje, por ser o teu dia
Eu dou-te muitos beijinhos

OP 511180
Informante: Maria Catarina Medinas, nascida a 4 de Maio de 1922, em Reguengos de Monsaraz. Foi
Trabalhadora Rural. Utente do Centro de Dia da Santa Casa da Misericórdia. Recolha realizada em 2003,
por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva, de Reguengos de
Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por Luísa Róis.

O meu amor é mais lindo


Do que a rosa quando abre

1177
Róis [2004], pág. 116.
1178
Róis [2004], pág. 109.
1179
Róis [2004], pág. 19.
1180 Róis [2004], pág. 37.

446
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Toda a gente mó cobiça


Nossa Senhora mó guarde

OP 521181
Ó olhos preparem lenços,
Ó lenços preparem fios;
Tá chagada a àcasião
De mês olhos serem rios. 1182
(Reguengos)

OP 531183
Ó papel da empostura,
Inda te hê-de aventári;
És uma fraca-figura
Que andas de mim a mangári.
(Reguengos)

OP 541184
- “Ó penas! Não venham todas,
Juntas ao meu coração.
Venham mais acompassadas,
Dar alívio ás que cá estão.”
(Reguengos)

OP 551185
Ó penas! nã venhom juntas,
Venhom mais acompassadas;
Que as penas em vindo juntas
Inda sã penas dobradas.
(Reguengos)

OP 561186
O quêjo é par’às baldorégas,
Os ovos par’às ervilhas.
Dês faça as velhas cegas,
Encanto ê balhar c’as filhas.1187
(Reguengos)

OP 571188
Informante: Mariana Mendes Conceição, nascida a 22 de Agosto de 1920, em Reguengos de Monsaraz.
Foi trabalhadora rural. Utente do Lar de Idosos D. Josefa Valadas (Santa Casa da Misericórdia). Recolha
realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva, de
Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por Luísa Róis.

1181
Pombinho Júnior [1936], pág. 16.
1182 J. A. Pombinho Júnior [1925d], pág. 4.
1183
Pombinho Júnior [1936], pág. 57.
1184
Pombinho Júnior [1925d], pág. 4.
1185
Pombinho Júnior [1925d], pág. 4; [1936], pág. 16.
1186
Pombinho Júnior [1936], pág. 28.
1187 Pombinho Júnior [1925e], pág. 3.

Pombinho Júnior localiza a recolha da quadra em S. Marcos do Campo (Pombinho Júnior [1925e], pág. 3).
1188 Róis [2004], pág. 116.

447
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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O rapaz de chapéu branco


Precisa da cara partida
Por baixo do chapéu branco
Pisca o olho à rapariga

OP 581189
Os dias da semana

Os sete dias da semana


Eu t’vos a construi:
São palavras excelentes
Escuta, amor, se quer’s ouvir.

«Segunda-feira» é rosa
Por sêr o primeiro dia;
Uma paixão rigorosa
Numa ausência principia.

«Terça-feira» é àgua
Que rega toda verdura,
Taméim os mês olhos regom
Essa tua fermosura.

«Quarta-feira» é trevo
Que narce rente ó chão;
Só Deus do céu é que sabe
Se por ti tenho paixão.

«Quinta-feira» é açucena
Todô ano dá sementes;
A todos falas verdade,
Só a mim tanto me mentes.

«Sexta-feira» é rôxo,
O rôxo é sentimento;
Quem nan há-de têr pena
Duma ausência há tanto tempo.

«Sábado» é alecrim
Que todô ano dá flor;
Antes q’a morte me venha,
Nan te dêxo, mê amor.

«Domingo» é ramalhête
Todô ano dá carinhos;
Inda ‘spero dar-te abraços
E nesse tê rôsto bêjinhos.

J. A. Pombinho Júnior [1934], “Canções e modas alentejanas”, Arquivo Transtagano, Elvas, ano II,
1189

1934, pp. 209-210.

448
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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(Aldeia do Mato – Reguengos)

OP 591190
«O suspiro é uma flor
Cá p´ra minha ´stimação;
Todas as flores se vendem,
Só os suspiros se dão.»
(Reguengos)

OP 601191
Passas por mim, não me falas,
Não me matas meu desejo:
És ingrato conhecido,
Eu por ti cego não vejo.
(Reguengos)

OP 611192
Passeaste no carrinho,
Aprendeste bem a ‘scola.
Par’cias bom rapazinho,
Saíste-me um gabazola.
(Reguengos de Monsaraz)

OP 621193
Por ê ser advertida,
Já me querem dêtar fama.
Ê sou cõmà oliveira,
Sempre teve mão da rama!1194
(Aldeia do Mato)

OP 631195
Informante: Maria Natália Carrasco Mendes, nascida a 25 de Dezembro de 1297, em Reguengos de
Monsaraz. Foi Doméstica. Utente do Lar de Idosos D. Josefa Valadas (Santa Casa da Misericórdia).
Recolha realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão
Silva, de Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por
Luísa Róis.

Pus-me a contar às avessas


Na pedra de uma coluna
Nove, oito sete, cinco, quatro,
Três, dois e uma

OP 641196

1190
Pombinho Júnior [1939a], pág. 210.
1191
Pombinho Júnior [1940d], pág. 4.
1192
Pombinho Júnior [1925h], pág. 4; Leite de Vasconcelos [1971], pág. 491.
1193
Pombinho Júnior [1936], pág. 17.
1194 Pombinho Júnior [1925d], pág. 4.

Pombinho Júnior localiza a recolha da quadra em Reguengos de Monsaraz (Pombinho Júnior [1925d], pág.
4).
1195 Róis [2004], pág. 79.
1196
s.a. [1928a], pág. 2.

449
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
_____________________________________________________________________________________

Pus-me a contar minhas máguas


A um Cristo d’um altar…
As máguas eram tão grandes
Que o Cristo poz-se a chorar.

OP 651197
Informante: Filomena Maria Lopes, nascida a 5 de Junho de 1916, em Perolivas (c. de Reguengos de
Monsaraz). Foi costureira. Utente do Centro de Dia da Santa Casa da Misericórdia. Recolha realizada em
2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva, de Reguengos
de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por Luísa Róis.

Quando era menina


Usava fitas e laços
Agora que sou casada
Tenho os filhos nos braços

OP 661198
Informante: Manuel Claro Galhano, nascido a 29 de Maio de 1931, em S. Marcos do Campo (c. de
Reguengos de Monsaraz). Foi trabalhador rura. Utente do Polo de Apoio à Família da Santa Casa da
Misericórdia. Recolha realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia
Vogado Perdigão Silva, de Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz,
coordenada por Luísa Róis.

Quando o rebuliço se armou


Havia razão por isso
Foi por causa de um ouriço
Que bebeu e não pagou

OP 671199
Quatrocentos mil abelhas
Te mordom em cada mão;
Na língua um alacrau,
Na orelha um atabão.1200
(Reguengos)

OP 681201
Quatrocentos sapateiros
Se juntaram em campanha
Com martelos e turqueses
P’ra matarem uma aranha.
(Reguengos de Monsaraz)

OP 691202
«Que linda está a Cruz
Coberta de flores!

1197 Róis [2004], pág. 154.


1198
Róis [2004], pág. 95.
1199 Pombinho Júnior [1936], pág. 27.
1200 Pombinho Júnior [1925e], pág. 3.
1201
Leite de Vasconcelos [1975], pág. 251; Moutinho [2008], pág. 248.
1202 Pe Júlio Nogueira [1947], “Monsaraz”, in O Éco de Reguengos (II Série), nº 717, 1 de Junho de 1947,

pág. 1.

450
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Nela morreu Jesus


para salvar os pecadores.»

OP 701203
«Que lindo botão de rosa
Qu’eu tenho à minha direita:
Que sombra que ´stá fazendo,
Que lindo cheiro que deita!»
(S. Marcos – Reguengos)

OP 711204
Informante: Maria Joaquina Garcias, nascida a 7 de Junho de 1925, em S. Marcos do Campo (c. de
Reguengos de Monsaraz). Foi Trabalhadora Rural. Utente do Polo de Apoio à Família da Santa Casa da
Misericórdia. Recolha realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia
Vogado Perdigão Silva, de Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz,
coordenada por Luísa Róis.

Raparigas todas vamos


Toca a bailar, a bailar
Os vossos braços são ramos
Nascidos para abraçar

OP 721205
Salsa verde na parede
Dá-lo vento, troce o pé;
Assim se trocerá a língua,
De quéim por mim que nã é.
(Aldeia do Mato)

OP 731206
Samiei couves na serra,
Bem longe me fica a horta.
Não fales na minha vida
Que eu da tua não m’importa.
(Reguengos)

OP 741207
São minhas irmãs as arvores
Almas tranquilas, singelas
Sabem ellas meus segredos
Eu sei os segredos d’ellas.

OP 751208
Informante: Filomena Maria Lopes, nascida a 5 de Junho de 1916, em Perolivas (c. de Reguengos de

1203 Pombinho Júnior [1939a], pág. 213.


1204
Róis [2004], pág. 75.
1205 Pombinho Júnior [1936], pág. 97.
1206 J. A. Pombinho Júnior [1951], “Retalhos de um Vocabulário” (2ª Série), in Brados do Alentejo,

Estremoz, 15 de Julho de 1951, nº 1046, pág. 3.


1207 s.a. [1910e], “Tribuna Feminina”, in Folha Nova, I Anno, nº 9, 6 de Março de 1910, pág. 3.

1208 Róis [2004], pág. 152.

451
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
_____________________________________________________________________________________

Monsaraz). Foi costureira. Utente do Centro de Dia da Santa Casa da Misericórdia. Recolha realizada em
2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva, de Reguengos
de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por Luísa Róis.

Saudades levam
Muita gente à sepultura
Não me há-de levar a mim
Que o meu mal ainda tem cura

OP 761209
Saudade não as merece
Toda a gente que as inspira…
- Ter saudades de quem ‘squece
É ter crença na mentira

OP 771210
Saudades, tenho saudades
Do tempo em que não sabia
Que esta palavra saudade
Infelizmente existia.

OP 781211
«Se fôreis um dia ao mar
Que a fortuna te não deixe:
«Bota a rede, vai-te embora,
Quanto mais burro mais peixe.»
(Reguengos)

OP 791212
«Senhora dona de casa,
A culpa é toda sua:
Porque não pega num pau
E põe tudo no olho da rua?»
(Aldeia do Mato)

OP 801213
S’ê sóbésse lêri,
Como ê nan seio,
‘Screvia ‘ma carta,
Mandava no correio.
(Reguengos)

OP 811214
Informante: Maria Alves Santos Falé, nascida a 21 de Abril de 1923, em São Marcos do Campo (c. de
Reguengos de Monsaraz). Foi doméstica. Utente do Lar de Idosos D. Josefa Valada (Santa Casa da

1209 s.a.
[1929], pág. 1.
1210 s.a.
[1928e], pág. 2.
1211 Pombinho Júnior [1939a], pág. 178.
1212 Pombinho Júnior [1938d], pág. 10; [1939], pág. 204.
1213 Pombinho Júnior [1937], pág. 6.
1214 Róis [2004], pág. 15.

452
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Misericórdia). Recolha realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia
Vogado Perdigão Silva, de Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz,
coordenada por Luísa Róis.

Se passares ao cemitério
No dia do meu enterro
Diz à terra que não estrague
A trança do meu cabelo

OP 821215
Toda a vida me enlevou
Uma delicada dama,
Que a mulher em sendo gorda
Só ela apanha a cama.
(Aldeia do Mato, Reguengos)

OP 831216
«Tenho drento do mê pêto
Um punháli com cinco bicos,
Para matári e feriri
Quéim anda co’ mexericos.»
(Aldeia do Mato)

OP 841217
Tenho pena de quem tem pena,
Penas de quem penas tem;
Tenho pena de mim mesmo,
Que peno mais que ninguém.
(Reguengos)

OP 85a1218
- “Tenho quatro aventais
Com lacinhos côr de rosa;
P’ra dar á minha intersôra,
Qu’ela é muito vaidosa.”
(S. Marcos – Reguengos)

OP 85b1219
“Tenho quatro aventais
Com lacinhos cor de rosa,
P’ra dar à minha contrária
Qu’ela é munto vaidosa.”
(São Marcos)

1215 J. A. Pombinho Júnior [1952], “Retalhos de um Vocabulário” (2ª Série), in Brados do Alentejo,
Estremoz, 6 de Janeiro de 1952, nº 1071, pág. 5.
1216 Pombinho Júnior [1936b], pág.5.
1217 J. A. Pombinho Júnior [1940a], “Retalhos de um Vocabulário”, in Brados do Alentejo, Estremoz, 5 de

Março de 1940, nº 485, pág. 6.


1218 Pombinho Júnior [1925], pág. 19.
1219 Pombinho Júnior [1933b], pág. 6.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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OP 861220
Tenho tantas saudades
Como folhas tem o trigo.
Eu não as conto a ninguem
Todas consumo comigo.

OP 871221
Tenho uma saia verde
Com raminhos côr de rosa,
Pra dar à minha intressôra
Que ela é munto vaidosa.
(São Marcos)

OP 881222
Tens cabeça de andorinha,
Tens pescoço de cegonha,
Tens corpo de mula ruça,
Cara de pouca vergonha.
(Reguengos de Monsaraz)

OP 891223
Tira daí a argola,
Que eu sou fera da montanha;
Saíste-me um gabarola,
Nan te sabia da manha.
(Reguengos de Monsaraz)

OP 901224
Tu dizes que me namoras,
Ó rapaz da gaforina!
Tenho-te um ódio-mortal,
Ó mê preto da China!
(Reguengos)

OP 911225
Informante: Maria Alves Santos Falé, nascida a 21 de Abril de 1923, em São Marcos do Campo (c. de
Reguengos de Monsaraz). Foi doméstica. Utente do Lar de Idosos D. Josefa Valada (Santa Casa da
Misericórdia). Recolha realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia
Vogado Perdigão Silva, de Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz,
coordenada por Luísa Róis.

Vou-me embora, vou partir


P'rá terra das andorinhas

1220 s.a. [1928b], pág. 1.


1221 Pombinho Júnior [1925], pág. 25; [1933b], pág. 6; [1936], pág. 65.
1222
Leite de Vasconcelos [1979], pág. 372.
1223
Leite de Vasconcelos [1975], pág. 578.
José Leite Vasconcelos recolheu a quadra em: semanário Terra Alentejana, 4-X-1925 (cf. Leite de
Vasconcelos [1975], pág. 578).
Pombinho Júnior [1925h], pág. 4; [1936], pág. 57.
1224
Pombinho Júnior [1936], pág. 58.
1225 Róis [2004], pág. 15.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Mete carta no correio


Se queres saber novas minhas

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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2.1.6. Cantigas ao Despique

CDP 11226
Anda cá, salta-quintais,
Dá um pulo véim cá fora;
Tu és o namora todas
A ti ninguéim te namora.

Resposta:

Tu chamaste-me salta-quintais,
Tão todos enganados.
Nan quero tapar portelos
Que outros téim destapado.
(Aldeia do Mato)

CDP 21227
- Cala-te aí, boca aberta,
Cara de sardinha frita,
Vai dizer a Santo António
Que te faça mais bonita.

- Cala-te lá, boca aberta,


Barbas de cão perdigueiro:
Já vi andar teu pai
Ás turras com um carneiro.

- Cala-te aí, boca aberta,


Rodilha de chaminé,
Raparigas, como tu,
Trago-as eu a pontapé.

- Cala-te lá, boca aberta,


Boca de sapo ranhado:
Já te dei um pontapé
No cimo do meu telhado.
(Reguengos de Monsaraz)

1226 Pombinho Júnior [1936], pág. 90.


1227 Leite de Vasconcelos [1975], pág. 172.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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2.1.7. Canções e Modas

CMP 11228
A Botica Nova

A botica nova
Não tem boticário.
Canta o pintassilgo,
Responde o canário.

Responde o canário
Do alto do castelo;
Já lá vem meu bem
De fato amarelo.

De fato amarelo
De fato algarvio.
Já lá vem meu bem,
Vem prô navio

Vem prô navio


Vem prá ‘stação;
Já lá vem meu bem
E aperta-me a mão.

E aperta-me a mão,
E pisa-me o péi;
Já lá vem meu bem
Tró-lari, ló, léi!
(Reguengos)

CMP 21229
Ao passar da ribeirinha

O passar da rebêrinha,
Pus o péi, molhi a meia.
Nan casi na minha terra,
Fui casar em terra alheia.

Fui casar em terra alheia,


Podendo casar na minha.
Pus o péi, molhi a meia,
O passar da rebêrinha.
(Reguengos)

1228 J.A. Pombinho Júnior [1935], “Canções e modas alentejanas”, in Arquivo Transtagano, Elvas, 15 de
Fevereiro de 1935, ano III, nº 3, pág. 39.
1229 Pombinho Júnior [1934], pág. 312.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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CMP 31230
A Laurentina

A roupa do marinheiro
Nan é lavada no rio,
É lavada no mar largo
À sombra do sê navio.

À sombra do sê navio,
À sombra do sê vapor.
Nan é lavada no rio
A roupa do mê amor.

Vai, vai, marujinho, vai,


Vai buscar a Làrentina;
Que ela ‘tá no meio do mar.
Ela é tua, nan é minha.

Ela é tua, nan é minha;


Ela tua é que há-de sêr.
Vai, vai, marujinho, vai
Nan na dêxes mais sofrer.
(Reguengos)

CMP 41231
Contigo, sim, sim

Contigo, sim, sim,


Cavalheiro e donzela,
Dá-la volta senhorita,
Passear em Palmela.

Passear em Palmela,
Passear, isso sim.
Dá-la volta, senhorita,
Cavalheiro, ai de mim!
(Reguengos)

CMP 51232
Fui ao jardim passear

Fui ó jardim passear, }


Truxe um ramo de alecrim,} bis
ai
Pra dar ô mê amor, }
Que se nan ‘squece de mim} bis

1230
Pombinho Júnior [1934], pág. 353.
1231
Pombinho Júnior [1934], pág. 313.
1232
Pombinho Júnior [1934], pág. 337.

458
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Que se nan ‘squece de mim,}


Para de mim s’alembrar }bis
ai
Truxe ramo de alecrim,}
Fui ó jardim passear. } bis
(Reguengos)

CMP 61233
Manjericão da Janela

Manjericão da janela,
Dá-lhe o vento, abana, abana:
Não há balas que atravessem
Os olhos da Mariana.

Os olhos da Mariana,
Os olhos daquela maldita.
Dá-lhe o vento, abana, abana;
Dá-lhe o vento, vai e fica.

No cimo daquele outeiro,


Mói um moinho de vento;
Anda o meu amor também
A moer-me o pensamento.

Manjericão da janela, etc.

Eu não choro por ti, Rosa,


Que o jardim mais rosas tem,
Choro por mal empregado
O tempo que te quis bem.

Manjericão da janela, etc.


(Reguengos)

CMP 71234
Nã me amas com fremeza,
Quer’s-me trazer enganada;
Pela minha natureza
Vou tando desmaginada.

Vou tando desmaginada.


Pela tua presunção;
Quer’s-me trazer enganada
Engrato do coração!1235

1233 J. A. Pombinho Júnior [1946], “Canções e Modas Alentejanas (2ª Série)”, in Brados do Alentejo,
Estremoz, 3 de Fevereiro de 1946, nº 78, pág. 4.
1234 Pombinho Júnior [1936], pág. 44.
1235 Pombinho Júnior [1925 g], pág. 4.

459
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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(Reguengos)

CMP 81236
Não quero que vás à Monda

No dia em que me casar, Não quero que vás à monda,


hás-de ser minha madrinha; nem à ribeira lavar,
não quero que vás à monda, (bis) só quero que me acompanhes (bis)
nem à ribeira sozinha. no dia em que me eu casar.

Andas morta por saber


onde eu passo os meus serões:
nas vendas das vendedeiras, (bis)
encostadinho aos balcões.

(F. Lopes Graça, Caridade, 1949)

CMP 91237
1
No tempo em que te eu amei,
Mais valia amar um cão:
Fazia guarda ao monte
Não viesse algum ladrão.

2
No tempo em que te eu amei,
Mais valia amar um burro:
Vendia-o numa feira
Prantava o dinheiro a juro.
(Reguengos de Monsaraz)

CMP 101238
Os alegres passarinhos
Já têm novo cantar,
Aprenderam só de ouvir
Dois amantes a falar.

Dois amantes a falar,


Os alegres passarinhos,
Os alegres passarinhos,
Já têm novo cantar.
(Reguengos de Monsaraz)

1236
Michel Giacometti [1981], Cancioneiro Popular Português, Lisboa, Círculo de Leitores, 1981, pp.
255/256.
1237
Leite de Vasconcelos [1979], pág. 358.
1238
Fernando Lopes Graça, Michel Giacometti [1965], Antologia de Música Regional Portuguesa, Vol.
IV, 2ª ed., Edição dos Arquivos Sonoros Portugueses e dos Estabelecimentos – Valentim de Carvalho Lda.,
1965, pág. 15.

460
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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CMP 111239
O tocador do harmónio

O tocador do harmónio
Tem dedos de «marafim»,
Tem olhos de enganador;
Não me há-de enganar a mim.

Não me há-de enganar a mim,


Não me há-de enganar, não,
O tocador do harmónio
Que anda aqui nesta função.

Que anda aqui nesta função,


Mais valia cá não vir;
Os olhos que eu vim ver
Estão deitados a dormi.
(Reguengos)

CMP 121240
Quero-me casar

Quero-me casar,
Não me caso não;
Quero-me casar,
Há-de ser para o v’rão.

Há-de ser para o v’rão,


Há-de ser se fôr;
Quero-me casar,
Mais o meu amor.

Mais o meu amor,


Rosa em botão;
Quero-me casar,
Há-de ser para o v’rão.
(Reguengos)

CMP 131241
Se eu quisesse amar bonecos,
Mandav’ós vir de ‘Stremôris.
Vergonha da minha cara
Se eu contigo tinha amôris.

Se eu contigo tinha amôris.

1239 J. A. Pombinho Júnior [1948], “Canções e Modas Alentejanas (2ª Série)”, in Brados do Alentejo,
Estremoz, 22 de Fevereiro de 1948, nº 869, pág. 3.
1240 J. A. Pombinho Júnior [1948a], “Canções e Modas Alentejanas (2ª Série)”, in Brados do Alentejo,

Estremoz, 28 de Julho de 1948, nº 809, pág. 3.


1241 Pombinho Júnior [1925g], pág. 4; [1935], pp. 60-61; [1936], pág. 51.

461
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Se eu era o tê namorado;
Mandav’ós vir de ‘Stremôris.
Mandav’ós vir do Chiado.
(Reguengos)

CMP 141242
Se queres laranjinha

Anda cá, senta-te aqui,


Eu numa pedra, tu noutra;
Se queres laranjinha, toma lá, toma lá,
Se queres laranjinha que limão não há.
Aqui choraremos ambos
A nossa ventura pouca.
Se queres laranjinha, toma lá, toma lá,
Se queres laranjinha que limão não há.

Ó coração pede, pede,


Terra para um pomar,
Se queres laranjinha, toma lá, toma lá,
Se queres laranjinha que limão não há.
Estes meus olhos se obrigam
A dar água para o regar.
Se queres laranjinha, toma lá, toma lá,
Se queres laranjinha que limão não há.

Etc, etc…
(Reguengos)

CMP 151243
Venha cá meu boi Capote,
Camarada do Pombinho;
Quem não for capaz não volte,
Repouse ao pé do caminho.

Tu é que és o meu rapaz,


Quando é que lá vais,
Quando é que lá vais?
Vou hoje ao jardim das flores,
Ó meu lindo amor,
A quem tenha amor,
A quem saiba amar.
(Reguengos de Monsaraz)

1242 Pombinho Júnior [1948a], pág. 3.


1243 Lopes Graça, Giacometti [1965], pág. 10.

462
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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2.2. Cantigas religiosas

2.2.1. Cantigas de Reis

RCRP 11244
Esta noite choveu neve,
No gargalinho do poço;
Viva a Senhora F…
Mais o sê cravo roxo!
(Reguengos)

1244 J. A. Pombinho Júnior [1939], pág. 17.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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464
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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B. Antologia de textos líricos recolhidos, em 1999 – recolha do CTPP (Centro


de Tradições Populares Portuguesas Professor Manuel Viegas Guerreiro)

1.Composições de carácter prático-utilitário


1.1. Composições de natureza e intenção mágica e religiosa

1. 1.1. Orações

Para o quotidiano

De manhã

Ao levantar
ROrCTPP 1
Informante: Maria do Carmo Godinho Valadas Amieira, 55 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade,
natural de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de
Monsaraz, em Abril de 1999.

Deus te salve, luz do dia,


Deus te salve quem te cria,
Santo ou Santa deste dia.

ROrCTPP 21245
Informante: Maria do Carmo Godinho Valadas Amieira, 55 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade,
natural de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de
Monsaraz, em Abril de 1999.

Quando eu me deito,
Quando eu me levanto,
Na graça de Deus
E do divino Espírito Santo.

À noite

Ao fechar a porta
ROrCTPP 3
Informante: Maria do Carmo Godinho Valadas Amieira, 55 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade,
natural de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de
Monsaraz, em Abril de 1999.

Minha porta fecho,


Minha porta vou fechar,
Saia quem sair,
Entre quem entrar,
5 Entre Nossa Senhora

1245
A informante referiu que rezava esta oração ao levantar.

465
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Que me vem acompanhar


E o divino Espírito Santo
Para a minha alma salvar.

Ao deitar

ROrCTPP 4
Informante: Maria do Carmo Godinho Valadas Amieira, 55 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade,
natural de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de
Monsaraz, em Abril de 1999.

Anjo da Guarda,
Minha companhia,
Guardai a minha alma
De noite e dia.

ROrCTPP 5
Informante: Maria do Carmo Godinho Valadas Amieira, 55 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade,
natural de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de
Monsaraz, em Abril de 1999.

Jesus na boca,
Jesus no peito,
Jesus na cama
Onde me deito.

ROrCTPP 6
Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 70 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em Abril de 1999.

Nesta cama me deitei,


Sete anjos nela achei,
Três aos pés, quatro à cabeceira,
Nossa Senhora na dianteira,
5 Nossa Senhora me disse:
- Dorme, pousa,
Não tenhas medo de nenhuma cousa.
Dormi e acordei
E Nossa Senhora ao pé de mim.

Para confessar
ROrCTPP 7
Informante: Maria do Carmo Godinho Valadas Amieira, 55 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade,
natural de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de
Monsaraz, em Abril de 1999.

Ó meu Deus da minha alma,


Senhor do meu coração,

466
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Perdoai os meus pecados,


Bem sabe quantos eles são.
5 Dá-me nesta vida a graça
E na outra a eterna salvação,
Que a minha alma se não perca
E não morra sem confissão.

Orações Paralelas

ROrCTPP 8
Informante: Leonilde Paixão Rosado, 63 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de Reguengos
de Monsaraz, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em
Abril de 1999.

Salve Rainha pequenina,


Rosa divina,
Cravo de amor,
Mãe do Senhor,
5 Luzes e entendimento,
Para receber o Santíssimo Sacramento.

Para proteger
ROrCTPP 91246
Informante: Maria do Carmo Godinho Valadas Amieira, 55 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade,
natural de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de
Monsaraz, em Abril de 1999.

Deus te salve cavalheiro honrado,


Com as armas de Cristo foste armado,
Com o leite da Virgem Maria foste borrifado,
Que eu e a minha família não sejamos presos,
5 Nem agarrados, nem roubados, nem embruxados,
Nem sangue do nosso corpo tirado,
Por feros caminhos andaremos,
Bom e mau encontraremos,
Os maus não nos virão,
10 Os bons nos encaminharão,
Encaminhados sejamos nós
Pelo Senhor S. Francisco,
Pela Senhora da Conceição
E pelo Senhor Jesus Cristo.

1246
Oração de protecção contra o “mau olhado”, segundo a informante.

467
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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ROrCTPP 10
Informante: Leonilde Paixão Rosado, 63 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de Reguengos
de Monsaraz, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em
Abril de 1999.

Padre Nosso pequenino,


Sete anjinhos,
Sete livros a rezar,
Sete candeias a alumiar,
5 O senhor é meu padrinho
E a senhora minha madrinha,
Para que me fez a cruz na testa
Para que o demónio não me impeça,
Nem de noite nem de dia,
10 Nem ao pino do meio-dia,
Já os galos cantam,
Já os anjos se levantam,
Já o Senhor subiu à cruz,
Assim seja. Amém. Jesus.

ROrCTPP 11
Informante: Maria do Carmo Godinho Valadas Amieira, 55 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade,
natural de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de
Monsaraz, em Abril de 1999.

Santo António pequenino,


Que tem a chave do menino,
Quem lha deu, quem lha daria?
São Pedro, Santa Maria?
5 Cruz em monte, cruz em fonte,
Nunca o demónio me encontre,
Nem de noite, nem de dia,
Nem à hora do meio-dia.
Já os galos cantam,
10 Já os anjos se levantam,
Já Deus subiu à cruz,
Para sempre. Amém. Jesus.

ROrCTPP 121247

1247
A informante contou que foi uma tia que lhe transmitiu a oração, em papel e que se fosse rezada às
avessas tinha mais força, para proteger de todo o mal, bruxas, maus espíritos.
A particularidade de a oração ser proferida “às avessas” fez com que não fosse transcrita em verso.
Esta é uma versão às avessas das Tabuinhas de Moisés, conhecida no concelho de Reguengos como Oração
das Doze Palavras Ditas e Retornadas. No concelho de Loulé, foram recolhidas diversas versões, algumas
até têm uma narrativa introdutória que procura explicar a sua origem (cf. Custódio, Galhoz, Cardigos
[2008], pp. 285-310).
Também encontrámos uma versão, a Oração do Anjo Custódio, outra denominação popular das Tabuinhas
de Moisés, em Rezas e Benzeduras Populares (Etnografia Alentejana), mas sem as palavras às avessas (cf.
Roque [1946], pp. 78-80).

468
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Informante: Maria do Carmo Godinho Valadas Amieira, 55 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade,
natural de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de
Monsaraz, em Abril de 1999.

Oração das Doze Palavras “às avessas”


Tua é não e minha é alma esta que demónio daqui embora vai-te lua, a tem raio três; sol
o tem que raios treze os são treze as treze as diz-me sabes que palavras três pelas quero
sim, Senhor? Deus da graças pela salvo ser queres, Custódio – XIII Ámen nós por morreu
Cristo Jesus Senhor meu o onde Jerusalém de casa a é primeira a e pés Divinos seus os
pôs Cristo Jesus Senhor meu o onde Moisés de Tábuas Duas as são duas as; Trindade
Santíssima da Pessoas Três as são três as Mateus e Marcos Lucas João Evangelista Quatro
os são quatro as Cristo. Jesus Senhor meu do Chagas cinco as são cinco: nascimento seu
no teve Cristo Jesus Senhor meu o que Bentos Círios Seis os são seis os sacramentos Sete
as são sete as Bem-aventuranças Oito as são oito as ventre Paríssimo seu no Filho Bendito
seu o trouxe Senhora Nossa que meses nove os são nove as Deus de Lei da Mandamentos
Dez os são dez as Virgens Mil onze as são onze os Apóstolos Doze os são doze as doze
as diz-me sabe que palavras treze pelas quero sim senhor? Deus de Graças pela sa lvo
queres, Custódio – XII.
Ámen nós por morreu Cristo Jesus Senhor meu o onde Jerusalém de Cara o é primeira a
e por Divinos seus os pôs Cristo Jesus Senhor meu o onde Moisés de Tábuas duas as são
duas as.

Para encomendar
ROrCTPP 131248
Informante: Maria do Carmo Godinho Valadas Amieira, 55 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade,
natural de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de
Monsaraz, em Abril de 1999.

Encomendo-me à Luz,
E ao Senhor da Vera Cruz,
E ao Reino da Virgindade e a S. Romão,
Coroado e por coroar,
5 Tem a cabeça em Roma e os pés em Portugal,
Que me livre e me queira livrar
Do cão danado e por danar,
Do homem morto e do mau encontro
Do homem vivo e do mau perigo.
10 Santo António é meu amigo
E São Romão esteja comigo. Amém.

1248
A informante aprendeu a oração com a avó.

469
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Para acompanhar o ritual da missa

Ao entrar na igreja
ROrCTPP 14
Informante: Maria do Carmo Godinho Valadas Amieira, 55 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade,
natural de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de
Monsaraz, em Abril de 1999.

Deus te salve, Casa Santa,


Que por Deus foste ordenada,
Aonde está o cálice bento
E a hóstia consagrada.

Ao molhar mão na água benta


ROrCTPP 15a
Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 70 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em Abril de 1999.

Água benta tomarei,


Por intenção dos meus pecados,
Que, à hora da minha morte,
Sejam todos perdoados.

ROrCTPP 15b
Informante: Maria do Carmo Godinho Valadas Amieira, 55 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade,
natural de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de
Monsaraz, em Abril de 1999.

Água benta tomarei,


Na remissão dos meus pecados,
À hora da minha morte,
Sejam todos perdoados.

Ao ajoelhar-se
ROrCTPP 16
Informante: Maria do Carmo Godinho Valadas Amieira, 55 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade,
natural de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de
Monsaraz, em Abril de 1999.

Aqui me ajoelho,
Aqui me apresento,
Em louvor do Santíssimo Sacramento.

Ao avistar o cemitério
ROrCTPP 171249
Informante: Maria do Carmo Godinho Valadas Amieira, 55 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade,
natural de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de
Monsaraz, em Abril de 1999.

1249
Depois reza-se o Pai Nosso.

470
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Deus os salve, corpos mortos,


Que já foram como nós,
Roguem lá a Deus por mim,
Que eu cá rogarei por vós.

Para proteger da trovoada

ROrCTPP 18
Informante: Maria do Carmo Godinho Valadas Amieira, 55 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade,
natural de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de
Monsaraz, em Abril de 1999.

Santa Bárbara bendita,


No céu está escrita,
Na terra assinalada,
Quantos anjos há no céu,
5 Que acompanhem nossa alma.

471
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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1.1.2. Benzeduras

RBenzCTPP11250
Informante: Maria do Carmo Godinho Valadas Amieira, 55 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade,
natural de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de
Monsaraz, em Abril de 1999.

Benzedura do distorcido

Eu coso carne quebrada,


Carne quebrada coso,
Linha que desmentiste,
Nervo que torceste
5 Volta ao lugar aonde nasceste,
Em louvor de Deus e da Virgem Maria,
Pai-Nosso e Ave-Maria.

RBenzCTPP21251
Informante: Maria do Carmo Godinho Valadas Amieira, 55 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade,
natural de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de
Monsaraz, em Abril de 1999.

Benzedura da Lua

Eu te benzo fulano de afito,


Lua e ar, cobranto
Com a cruz do divino Espírito Santo. Amén.
Lua, tu por aqui passaste,
5 A cor de fulano levaste,
Volta atrás e deixarás
Que a mão de Nossa Senhora
Vá diante da minha,
Para que sirva de mezinha,
10 Em louvor de Deus e da Virgem Maria,
Pai-Nosso e Ave-Maria.

1250
Explicação da informante: Benze-se em cruz no início. Com uma agulha com linha sem nó e um novelo
de linha, enquanto se reza a oração, cose-se. Reza-se três vezes a oração.
1251
Explicação da informante: Tem que dizer três vezes em cruz, direito ao fulano, depois oferece-se ao
Santíssimo Sacramento e a Nossa Senhora.

472
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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1.1.3. Ensalmos

REnsCTPP 1
Informante: Maria do Carmo Godinho Valadas Amieira, 55 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade,
natural de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de
Monsaraz, em Abril de 1999.

Oração do susto

Desceu Deus do céu à terra


E da terra ao seu altar,
Para que o ventre de fulano vaia ao seu lugar,
Em louvor de Deus e da Virgem Maria,
5 Sem Deus nada se fazia.
Pai-Nosso e Ave-Maria.
Ofereço a São Vicente
Estes cinco Pai-Nossos
E estas cinco Ave-Marias
10 Para pôr esta criatura boa e escorrente
Como antigamente.

473
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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1.1.4. Esconjuros

Para afastar a trovoada


REscCTPP 1
Informante: Maria do Carmo Godinho Valadas Amieira, 55 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade,
natural de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de
Monsaraz, em Abril de 1999.

São Jerónimo se levantou,


Seu sapatinho de ouro calçou.
Com o seu cacheirinho na mão,
Nossa Senhora encontrou
5 E ela lhe perguntou:
- Onde vais, S. Jerónimo?
- Vou espalhar esta trovoada
Lá para bem longe,
Onde não haja eira nem beira,
10 Nem raminho de oliveira,
Nem gadelhinho de lã,
Nem alma cristã, nem pedrinha de sal,
Que nem a mim nem à minha gente
Nada possa fazer mal.

474
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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1.2. Composições de sabedoria


1.2.1. Provérbios

RPCTPP1
Informante: Leonilde Paião, 63 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de Reguengos de
Monsaraz, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em Abril
de 1999.

Abril águas mil.

RPCTPP2 a
Informante: Leonilde Paião, 63 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de Reguengos de
Monsaraz, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em Abril
de 1999.

Burro velho não aprende línguas.

RPCTPP2 b
Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 70 anos, doméstica, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em Abril de 1999.

Ferro velho já não aprende linguagem.

RPCTPP3
Informante: Leonilde Paião, 63 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de Reguengos de
Monsaraz, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em Abril
de 1999.

Em Janeiro, sobe ao outeiro.


Se vires verdejar, põe-te a chorar.
Se vires terrejar, põe-te a cantar.
Quando não chove em Fevereiro,
Nem bom prado, nem bom centeio.
Março, marçagão,
Manhã de Inverno, tarde de Verão.
Abril frio, pão e vinho.
Quando o Maio chegar,
Quem não arou, há-de arar.
Em Junho, foucinha no punho.
Em Julho, ceifa o trigo e o debulho
E em vento soprando vou limpando.
Nem em Agosto caminhar,
Nem em Dezembro malhar.
Agosto amadura, setembro derruba.
Outubro seca tudo.
De Todos os Santos ao Natal
Ou bem chover ou bem nevar.
Ande o frio por onde andar
Há-de vir pelo Natal.

475
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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RPCTPP41252
Informante: Leonilde Paião, 63 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de Reguengos de
Monsaraz, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em Abril
de 1999.

Enquanto há homens não se confessam mulheres.

RPCTPP5
Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 70 anos, doméstica, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em Abril de 1999.

Feio e esquisito como o Raimundo bacro1253.

RPCTPP6
Informante: Leonilde Paião, 63 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de Reguengos de
Monsaraz, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em Abril
de 1999.

Mais vale tarde do que nunca.

RPCTPP7
Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 55 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em Abril
de 1999.

Mourão: boa cara, ruim coração.

RPCTP8
Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 70 anos, doméstica, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em Abril de 1999.

Não morram os homens que as oportunidades não faltam.

RPCTPP9
Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 55 anos, doméstico, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em Abril
de 1999.

Novas não as cansei, velhas as saberei.

RPCTPP10
Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 70 anos, doméstica, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em Abril de 1999.

Não tem gosto nem desgosto, é como o amor da mulher velha.

RPCTPP11
Informante: Leonilde Paião, 63 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de Reguengos de
Monsaraz, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em Abril
de 1999.

1252 O mesmo que: As mulheres ficam sempre para último.


1253 O mesmo que “bácoro”.

476
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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O menino e o pão têm frio no pino do Verão.

RPCTPP12
Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 70 anos, doméstica, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em Abril de 1999.

Quem dá o que tem mostra o que deseja.

RPCTPP13
Informante: Leonilde Paião, 63 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de Reguengos de
Monsaraz, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em Abril
de 1999.

Quem muito dorme pouco aprende.

RPCTPP14
Informante: Leonilde Paião, 63 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de Reguengos de
Monsaraz, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em Abril
de 1999.

Quem muito fala pouco acerta.

RPCTPP15
Informante: Leonilde Paião, 63 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de Reguengos de
Monsaraz, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em Abril
de 1999.

Quem não se sente não é filho de boa gente.

RPCTPP16
Informante: Leonilde Paião, 63 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de Reguengos de
Monsaraz, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em Abril
de 1999.

Quem não trabalha não manduca.

RPCTPP17
Informante: Leonilde Paião, 63 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de Reguengos de
Monsaraz, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em Abril
de 1999.

Vozes de burro não chegam ao céu.

477
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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1.2.2. Expressões Populares

REPCTPP1
Informante: Leonilde Paião, 63 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de Reguengos de
Monsaraz, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em Abril
de 1999.

À vontade do dono é que se albarda o burro.

REPCTPP2
Informante: Leonilde Paião, 63 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de Reguengos de
Monsaraz, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em Abril
de 1999.

Estar com um olho no burro e outro no cigano.

REPCTPP3
Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 55 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em Abril
de 1999.

Matar dois coelhos de uma cajadada só.

478
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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2.Composições de carácter lúdico

2.1. Rimas Infantis

Lengalenga
RLCTPP1
Informante: António Lopes, 65 anos, 4º ano de escolaridade, reformado, natural de Reguengos de
Monsaraz, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em Abril
de 1999.

Senhor José Godinho


A cavalo num burrinho.
O burrinho era fraco
A cavalo num macaco.
5 O macaco era valente
A cavalo numa trempe.
A trempe era de ferro
A cavalo num martelo.
O martelo batia sola
10 A cavalo numa bola.
A bola era redonda
A cavalo numa pomba.
A pomba era branca
A cavalo numa tranca.
15 A tranca era da porta
A cavalo no Zé da Horta.

479
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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2.2. Cantigas de todos os dias

2.2.1. Cantigas Amorosas


CTPPCA 1
Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 70 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em 1999.

Alfinetes são ciúmes,


Agulhas são saudades,
Namorado fora da terra
São dobradas as saudades.

RCTPPCA 2
Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 55 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em 1999.

A azeitona maçanilha
Pouca vai ao lagar.
É como as meninas bonitas
Todos as querem lograr.

RCTPPCA 3
Informante: Inácia Veladas Amieira, 63 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de Reguengos de
Monsaraz, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em 1999.

A azeitona miudinha
Também vai ao lagar.
Também eu sou pequenina,
Mas sou firme no amar.

RCTPPCA 4
Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 55 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em 1999.

A oliveira no alto
Tem as folhas aos anéis.
Quem namora com um gaiato
Toda a vida faz papéis.

RCTPPCA 5
Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 55 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em 1999.

Eu sou fina como o corte


De espada natural.
Serei firme até à morte,
Se a amizade for igual.

480
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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RCTPPCA 6
Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 55 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em 1999.

José amo, José quero,


José trago no sentido.
Por causa de ti, José,
Trago o meu sono perdido.

RCTPPCA 7
Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 55 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em 1999.

Josezinho, cravo roxo,


Craveiro da minha varanda,
Caixinhas dos meus segredos
E onde o meu sentido anda.

RCTPPCA 8
Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 55 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em 1999.

Limoeiro detrás da nora,


Todo o ano dá limões.
Olha, o meu amor agora
Quer amar dois corações.

RCTPPCA 9
Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 55 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em 1999.

Lindra letra é um S,
Com um C acompanhando.
É o nome e o sobrenome
Do rapaz que eu ando amando.

RCTPPCA 10
Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 70 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em 1999.

Não me inveja a mim


Quem tem carros, parelhas e montes.
Só me inveja a mim
Quem bebe a água de todas as fontes

RCTPPCA 11
Informante: Inácia Veladas Amieira, 63 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de Reguengos de
Monsaraz, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em 1999.

Olha para mim que ainda

481
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Tens quem te queira bem.


Vou a deixar a Galinda
Para depois de amanhã.

RCTTPCA 12
Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 55 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em 1999.

Olhos azuis são falsos,


Os pretos enganadores,
Estes meus acastanhados
São leais ao meu amor.

RCTPPCA 13
Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 55 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em 1999.

O nome do meu amor


Com quatro letras se escreve,
A primeira é o S
E as outras ficam em breve.

RCTPPCA 14
Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 70 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em 1999.

Ó olhos requerem olhos,


Ó corações, corações,
E os meus requerem os teus
Em certas ocasiões.

RCTPPCA 15
Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 55 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em 1999.

Quando eu nasci, chorava


Com pena de ter nascido.
Parece que adivinhava
Que vinha a casar contigo.

RCTPPCA 16
Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 55 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em 1999.

Quando eu tinha dois amores,


Deixei um por não ter jeito.
E agora nem um nem outro,
Que calote tão bem feito.

482
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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RCTPPCA 17
Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 70 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em 1999.

Quem me dera amar um dia,


Ter amor, ter afeição.
Ser escrava, dar a vida
Por um eterno coração.

RCTPPCA 18
Informante: Inácia Veladas Amieira, 63 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de Reguengos de
Monsaraz, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em 1999.

Salsa verde ao pé da nora


Qualquer raminho tempera.
Vale mais um amor de fora
Do que três ou quatro da terra.

RCTPPCA 19
Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 70 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em 1999.

Se eu chorando restaurasse
Um amor que já perdi,
Desfazia com chorar
Os dois olhos com que nasci.

RCTPPCA 20
Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 70 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em 1999.

Se eu tivesse, não pedia


Nada no mundo a ninguém,
E assim como não tenho
Peço um filhinho ao pai que o tem.

RCTPPCA 21
Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 70 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em 1999.

Se me amas, dá-me a ver,


Quero amar teu lindo rosto.
Tenho mais quem me queira,
Só tu és do meu gosto.

RCTPPCA 22
Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 55 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em 1999.

Tenho um lencinho amarelo


Com raminhos cor de chá.

483
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Já te quis, já te não quero,


São voltas que o mundo dá.

484
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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2.2.2. Cantigas às Cantigas

RCTPPCC 1
Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 70 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em 1999.

Deus do Céu mandou à terra


Um aviso à mocidade,
Que cantassem e “balhassem”,
E “divertissem-se” à vontade.

RCTPPCC 2
Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 70 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em 1999.

Quero cantar, ser alegre,


Que a tristeza nada tem.
Não vi tristeza nenhuma
Dar de comer a ninguém.

RCTPPCC 3
Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 70 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em 1999.

Tens uns olhos tão bonitos,


Mesmo à flor da cara,
Mesmo cantando te digo:
Meu amor, quem tos lograra.

485
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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1.2.1. Cantigas Conceituosas

RCTPPCCon 1
Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 70 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em 1999.

Erra o céu no oriente,


Nós erramos cá na terra.
Erra tudo o que é vivente
E quem é mestre também erra.

RCTPPCCon 2
Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 70 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em 1999.

Eu fui ao jardim das noras


Colher o pé à açucena.
Olha o que fazes agora,
Mais tarde não tenhas pena.

RCTPPCCon 3
Informante: António Rosado Lopes, 65 anos, reformado, 4º ano de escolaridade, natural de Reguengos de
Monsaraz, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em 1999.

Por cima se ceifa o trigo,


Por baixo fica o restolho,
Raparigas, não se fiem
No rapaz que pisca o olho.

486
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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1.2.2. Cantigas Toponímicas

RCTCTPP 1
Informante: António Rosado Lopes, 65 anos, reformado, 4ª classe, natural de Reguengos de Monsaraz,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em Abril de 1999.

Cada vez que eu vejo vir


Barcos à meia barreira,
Lembram-me as moças de Cuba
E os vinhos da Vidigueira.

RCTCTPP 2
Informante: Maria do Carmo Godinho Valadas Amieira, 55 anos, doméstica, 4ª classe, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em Abril
de 1999.

Campinho, terra das bruxas,


S. Marcos, das feiticeiras,
Cumeada, das manhosas,
Reguengos, das borracheiras.

RCTCTPP 3
Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 70 anos, reformada, 2ª classe, natural de Campinho, residente em
Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em Abril de 1999.

De Lisboa me mandaram
Quatro pêras num raminho.
Por serem coisas de longe,
Comeram-mas pelo caminho.

RCTCTPP 4
Informante: Inácia Veladas, 63 anos, reformada, 4ª classe, natural de Reguengos de Monsaraz, residente
em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em Abril de 1999.

Em Moçambique, não há
Nem deve haver
Tanto papel como cá
Há vontade de escrever.

RCTCTPP 5
Informante: António Rosado Lopes, 65 anos, reformado, 4ª classe, natural de Reguengos de Monsaraz,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em Abril de 1999.

Para Lisboa mandei eu


Uma carta escrita a lápis,
Com ordem de castrar cães
Alçará que tu te escapes.

RCTCTPP 6
Informante: António Rosado Lopes, 65 anos, reformado, 4ª classe, natural de Reguengos de Monsaraz,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em Abril de 1999.

487
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Salsa verde, folha escura,


Lá para os lados de Mourão,
Cautela com a pendura
Não ta coma algum cão.

488
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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1.2.3. Outras

RCTPPO 1
Informante: António Rosado Lopes, 65 anos, reformado, 4º ano de escolaridade, natural de Reguengos de
Monsaraz, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em 1999.

Ali nos bancos da praça,


Onde pára a velharia,
Ó morte, não te esqueças
De passar por lá um dia.

RCTPPO 2
Informante: António Rosado Lopes, 65 anos, reformado, 4º ano de escolaridade, natural de Reguengos de
Monsaraz, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em 1999.

As mulheres comparo eu
Com os burros dos ciganos.
Se andam de mãos em mãos,
Vão cair em bons enganos.

RCTPPO 3
Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 70 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em 1999.

Já não sou quem era dantes,


Já não sou quem dantes era.
Sou um papel de paixão,
Que anda ao de cimo da terra.

RCTPPO 4
Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 70 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em 1999.

Lá vai uma, lá vão duas


Três penas ao ar,
Uma é minha, outra é tua
Outra é de quem a apanhar.

RCTPPO 5
Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 55 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em 1999.

Maria três vezes


Ou fulana só uma vez.
Vale mais uma fulana
Do que as Marias todas três.

RCTPPO 6
Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 55 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em 1999.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
_____________________________________________________________________________________

Maria tu és a lima,
O teu pai é o limão,
A tua mãe é a laranja,
Ó que linda geração.

RCTPPO 7
Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 55 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em 1999.

Minha mãe da minha alma,


Meu pai do coração,
Por muitos anos que eu viva,
Não lhes pago a criação.

RCTPPO 8
Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 55 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em 1999.

Minha rua cheira a sangue,


Quem seria que sangrou?
Foi a mãe do meu amor
Com porradas que levou.

RCTPPO 9
Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 55 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de
Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em 1999.

Ó minha mãe, minha amada,


(…)
Quem tem mãe tem tudo.
Quem não tem mãe não tem nada.

RCTPPO 10
Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 70 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,
residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em 1999.

Ó que ranchinho de moças,


Ó que bela mocidade,
São criadas numa aldeia,
Parecem numa cidade.

RCTPPO 11
Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 63 anos, desempregado, 4º ano de escolaridade, natural
de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em
1999.

Procurei a paz no mundo,


Só no cemitério a vi,
Ouvi uma voz dizer:

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Não há paz senão aqui.

RCTPPO 12
Informante: Josefa Rodrigues Godinho, 78 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural da Luz
(Mourão), residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em 1999.

Quando eu era pequenina,


Ainda não comia pão.
Davam-me as moças beijinhos
E agora já não mos dão.

RCTPPO 13
Informante: Leonilde Paixão Rosado, 63 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de Reguengos
de Monsaraz, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em
1999.

Se este livro se perder


E tornar a ser achado,
Para melhor se conhecer,
Leva o meu nome assinado.

RCTPPO 14
Informante: António Rosado Lopes, 65 anos, reformado, 4º ano de escolaridade, natural de Reguengos de
Monsaraz, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em 1999.

Tu deste-me uma cabaça,


Estava rota na barriga.
Tu de cabra já não passas,
Não há ninguém que o não diga.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Anexo IV - 2 Lindas Quadras dedicadas á Imponente Procissão, de Reguengos de


Monsaraz em 27 de Outubro de 1946, de João Flôres

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Anexo V - Quatro quadras fundamentais dedicadas ao nosso falecido Doutor


Domingos Rosado Vogado natural de Reguengos de Monsaraz, de João
Rosado Marques

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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Anexo VI – Descritivo do DVD de demonstração da recolha de literatura oral e


tradicional realizada no concelho de Reguengos de Monsaraz

Identificação do ficheiro Tipo de composição

Reguengos de Monsaraz – Isménia Moleiro Ramalho Cantigas:


(10/09/2009) Cantiga Amorosa - RCA 76
Cantiga Conceituosa – RCon 10
Outra – RO 51
Reguengos de Monsaraz - Josefa Rodrigues Godinho Cantiga ao Menino Jesus:
(5/10/2009) RCMJ 9e
Reguengos de Monsaraz – Maria Inácia Borrego Cantigas Amorosas:
(7/03/2011) RCA 12; RCA 81; RCA 91;
RCA 93; RCA 145
Reguengos de Monsaraz – Iria Morais Oração Paralela: Ror 38c
(8/02/2012)
S. Pedro do Corval – Domingos Falardo Amieira Cantiga:
(23/10/2011) Outra – RO 21
Campinho – Joaquim Leal Cantiga Amorosa: RCA 85
(9/04/2011)
Monsaraz – António Joaquim Rodrigues Moda: RCM 18b
(29/09/2011)
Monsaraz – Florinda Maria Fernandes Cantiga de embalar: RCE 9
(13/09/2011)
Telheiro – Rosa Cardoso Orações para afastar a trovoada:
(25/09/2011) Ror 63a; Ror 72; Ror 73h
Telheiro – Rosa Berjano Esconjuro para afastar as
(21/09/2011) feiticeiras: REsc 1
Telheiro – António Cardoso Modas:
(22/09/2011) RCM 29; RCM 80
Barrada – Francisca Gato Oração ao avistar a igreja:
(25/09/2011) Ror 55a
Santo António do Baldio – Rosário Pinto Ramalho Esconjuro para achar as coisas
(3/11/2011) perdidas: REsc 3a
Caridade – Maria Antónia Valido Lobo Moda: RCM 37a
(7/11/2011)

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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498
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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-------------------------------- [1933a], “Retalhos de um Vocabulário”, in Brados do


Alentejo, Estremoz, 25 de Junho de 1933, nº 126, pág. 7.

-------------------------------- [1933b], “Retalhos de um Vocabulário”, in Brados do


Alentejo, Estremoz, 17 de Dezembro de 1933, nº 151, pág. 6.

------------------------------- [1934a], “Retalhos de um Vocabulário”, in Brados do Alentejo,


Estremoz, 17 de Junho de 1934, nº 177, pág. 6.

502
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
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------------------------------- [1934b], Retalhos de um Vocabulário”, in Brados do Alentejo,


Estremoz, 5 de Agosto de 1934, nº 184, pág. 6.

------------------------------- [1934c], “Retalhos de um Vocabulário”, in Brados do Alentejo,


Estremoz, 17 de Dezembro de 1934, nº 190, pág. 6.

------------------------------ [1935a], “Retalhos de um Vocabulário”, in Brados do Alentejo,


Estremoz, 3 de Março de 1935, nº 214, pág. 7.

--------------------------------[1935b], “Retalhos de um Vocabulário”, in Brados do


Alentejo, Estremoz, 15 de Abril de 1934, nº 168, pág. 7.

------------------------------- [1935c], “Retalhos de um Vocabulário”, in Brados do Alentejo,


Estremoz, 20 de Outubro de 1935, nº 247, pág. 6.

------------------------------- [1936a], “Retalhos de um Vocabulário”, in Brados do Alentejo,


Estremoz, 10 de Maio de 1936, nº 276, pág. 8.

------------------------------- [1936b], “Retalhos de um Vocabulário”, in Brados do


Alentejo, Estremoz, 21 de Junho de 1936, nº 282, pág.5.

------------------------------- [1936c], “Retalhos de um Vocabulário”, in Brados do Alentejo,


Estremoz, 11 de Outubro de 1936, nº 299, pág.4.

------------------------------- [1936d], “Retalhos de um Vocabulário”, in Brados do


Alentejo, Estremoz, 8 de Novembro de 1936, nº 303, pág.4.

------------------------------- [1937], “Retalhos de um Vocabulário”, in Brados do Alentejo,


Estremoz, 28 de Março de 1937, nº 363, pág. 6.

------------------------------- [1938], “Retalhos de um Vocabulário”, in Brados do Alentejo,


Estremoz, 2 de Janeiro de 1938, nº 363, pág. 6.

------------------------------- [1938a], “Retalhos de um Vocabulário”, in Brados do Alentejo,


Estremoz, 9 de Janeiro de 1938, nº 364, pág. 5.

------------------------------- [1938b], “Retalhos de um Vocabulário”, in Brados do


Alentejo, Estremoz, 6 de Março de 1938, nº 372, pág. 6.

------------------------------- [1938c], “Retalhos de um Vocabulário”, in Brados do Alentejo,


Estremoz, 20 de Março de 1938, nº 374, pág. 6.

----------------------------- [1938d], “Retalhos de um Vocabulário”, in Brados do Alentejo,


Estremoz, 27 de Março de 1938, nº 377, pág. 10.

----------------------------- [1938e], “Retalhos de um Vocabulário”, in Brados do Alentejo,


Estremoz, 10 de Abril de 1938, nº 377, pág. 6.

503
DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO
_____________________________________________________________________________________

----------------------------- [1938f], “Retalhos de um Vocabulário”, in Brados do Alentejo,


Estremoz, 14 de Agosto de 1938, nº 395, pág. 7.

----------------------------- [1938g], “Retalhos de um Vocabulário”, in Brados do Alentejo,


Estremoz, 11 de Setembro de 1938, nº 399, pág. 5.

----------------------------- [1938h], “Retalhos de um Vocabulário”, in Brados do Alentejo,


Estremoz, 25 de Setembro de 1938, nº 401, pág. 7.

------------------------------ [1938i], “Retalhos de um Vocabulário”, in Brados do Alentejo,


Estremoz, 2 de Outubro de 1938, nº 402, pág. 5.

------------------------------ [1938j], “Retalhos de um Vocabulário”, in Brados do Alentejo,


Estremoz, 16 de Outubro de 1938, nº 404, pág. 5.

------------------------------ [1938l], “Retalhos de um Vocabulário”, in Brados do Alentejo,


Estremoz, 5 de Novembro de 1938, nº 407, pág. 6.

----------------------------- [1939], “Retalhos de um Vocabulário”, in Brados do Alentejo,


Estremoz, 5 de Novembro de 1938, nº 407, pág. 6.

----------------------------- [1939a], “Retalhos de um Vocabulário”, in Brados do Alentejo,


Estremoz, 15 de Janeiro de 1939, nº 417, pág. 17.

----------------------------- [1939b], “Retalhos de um Vocabulário”, in Brados do Alentejo,


Estremoz, 4 de Junho de 1939, nº 437, pág. 6.

----------------------------- [1939c], “Retalhos de um Vocabulário”, in Brados do Alentejo,


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Estremoz, 26 de Março de 1940, nº 488, pág. 7.

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