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Índice

1 Nota prévia .................................................................................................................................. 6

2 Contextualização
histórico-literária ............................................................................................................... 10

2.1. O tempo de Camões.......................................................................................................... 10


2.2. Luís de Camões: trajeto pessoal e experiências de vida............... 15

3 LRimas

uís de Camões,
...................................................................................................................................................... 18

3.1. A representação da amada ........................................................................................ 18


3.2. A representação da Natureza................................................................................... 21
3.3. A experiência amorosa e a reflexão sobre o Amor............................. 25
3.4. A reflexão sobre a vida pessoal.............................................................................. 30
3.5. O tema do desconcerto.................................................................................................. 34
3.6. O tema da mudança.......................................................................................................... 39
3.7. Linguagem, estilo e estrutura.................................................................................. 41
3.7.1. A lírica tradicional ................................................................................................ 43
3.7.2. A inspiração clássica........................................................................................... 44
3.7.3. Discurso pessoal e marcas de subjetividade ........................... 46
3.7.4. O soneto: características................................................................................ 50
3.7.5. Métrica, rima e esquema rimático....................................................... 56
3.7.6. Recursos expressivos: a aliteração, a anáfora,
a antítese, a apóstrofe e a metáfora....................................................... 59

3
4 LOsuísLusíadas

de Camões,
................................................................................................................................... 63

4.1. Visão global d’ Os Lusíadas............................................................................................. 63


4.2. Imaginário épico.................................................................................................................... 66
4.2.1. Matéria épica: feitos históricos e viagem...................................... 70
4.2.2. Sublimidade do canto...................................................................................... 73
4.2.3. Mitificação do herói............................................................................................ 74
4.3. Reflexões do poeta.............................................................................................................. 85
4.3.1. Canto I, estâncias 105 e 106 ...................................................................... 86
4.3.2. Canto V, estâncias 92 a 100 ........................................................................ 88
4.3.3. Canto VII, estâncias 78 a 87......................................................................... 90
4.3.4. Canto VIII, estâncias 96 a 99 ...................................................................... 94
4.3.5. Canto IX, estâncias 88 a 95 ......................................................................... 96
4.3.6. Canto X, estâncias 145 a 156..................................................................... 99
4.4. Linguagem, estilo e estrutura.................................................................................. 104
4.4.1. A epopeia: natureza e estrutura da obra ..................................... 104
4.4.2. Os quatro planos do poema. Interdependência .................. 107
4.4.3. Estrofe e métrica.................................................................................................... 111
4.4.4. Recursos expressivos ........................................................................................ 114

5

História Trágico-Marítima:
aventuras e desventuras dos Descobrimentos .............. 121

5.1. Elementos histórico-culturais.................................................................................. 121


5.2. Sentidos e motivações da História Trágico-Marítima ...................... 122
5.3. As terríveis aventuras de Jorge de Albuquerque Coelho..................... 124
5.4. Estrutura e sentidos da ação..................................................................................... 135

4
6

Tópicos
para revisão ................................................................................................................................. 139

6.1. Processo de revisão............................................................................................................ 139


6.2. Contextualização histórico-literária ................................................................. 139
6.3. Luís de Camões, Rimas.................................................................................................... 141
6.4. Luís de Camões, Os Lusíadas...................................................................................... 143
6.5. História Trágico-Marítima: aventuras e desventuras
dos Descobrimentos......................................................................................................... 147

7

Textos
de consulta ................................................................................................................................... 149

• Leituras complementares......................................................................................... 149


• Amor............................................................................................................................................... 149
• Dedicatória.............................................................................................................................. 150
• Desconcerto........................................................................................................................... 150
• Épico e antiépico............................................................................................................... 151
• Estrutura..................................................................................................................................... 151
• Ilha dos Amores.................................................................................................................. 152
• Ilha dos Amores: divinização................................................................................. 152
• Matéria épica......................................................................................................................... 153
• Medida velha......................................................................................................................... 153
• Mitologia.................................................................................................................................... 154
• Mulher.......................................................................................................................................... 154
• Narração..................................................................................................................................... 155
• Reflexões do poeta.......................................................................................................... 155
• Relatos de naufrágios (1)........................................................................................... 156
• Relatos de naufrágios (2)........................................................................................... 157

8 Obras
consultadas ................................................................................................................................. 158

5
3 Luís de Camões,
Rimas

3.1.  A representação da amada

A representação da mulher amada na poesia de Camões liga-se

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diretamente àquele que é um dos grandes temas da sua obra: o amor.
É este um tema complexo e muito trabalhado, não só por aparecer em
diversas formas literárias (nos sonetos, nas redondilhas, nas éclogas,
também n’Os Lusíadas, por exemplo, no episódio da Ilha dos Amores),
mas sobretudo pelas diferentes facetas que revela. Nessa diversidade
está envolvida a mulher e a imagem que dela é representada.
Antes de lermos um soneto camoniano que ilustra uma certa re-
presentação da amada, lembremos alguns aspetos significativos
do tema do amor em Camões. Assim:
O amor é um sentido que dinamiza uma parte importante da
escrita poética camoniana; ele é ponto de partida para a cons-
trução de uma figura literária, a da mulher amada, sem ne-
cessária correspondência com mulheres realmente existentes.
As facetas que o tema do amor apresenta podem ser sintetiza-
das em duas visões da mulher:
A mulher como figura erótica, dando lugar ao desejo e à vivên-
cia sensual. A atração pela mulher pode ser entendida, então,
como uma celebração da beleza física, sem censura moral.
A mulher enquanto figura ideal, olhada como modelo de per-
feição, sem dimensão sensual. Assim, a mulher é uma entidade

18
Luís de Camões, Rimas

vista e recordada, mas não fisicamente desejada, valorizada


por atributos morais e físicos, inacessíveis ao poeta que ama.1
Enquanto motivo de expressão amorosa, a mulher da poesia ca-
moniana é um ponto de partida para a celebração do amor em
si mesmo, mais do que para o elogio de uma mulher concreta.
O sofrimento, a saudade e até a frustração que a mulher
amada pode causar sugerem que o amor é um sentimento
cuja plenitude o poeta persegue, mas jamais atinge.

A partir daqui, tratamos de ler um soneto motivado pela repre-


sentação da mulher amada, registando alguns elementos de leitura
que poderão ser desenvolvidos:

Um mover d’olhos, brando e piadoso,


sem ver de quê; um riso brando e honesto,
quási forçado; um doce e humilde gesto, um encolhido ousar; ũa brandura;
de qualquer alegria duvidoso; 10 um medo sem ter culpa; um ar sereno;
um longo e obediente sofrimento;
5 um despejo quieto e vergonhoso;
um repouso gravíssimo e modesto; esta foi a celeste fermosura
ũa pura bondade, manifesto da minha Circe, e o mágico veneno
indício da alma, limpo e gracioso; que pôde transformar meu pensamento.2

Do ponto de vista da sua construção ou estrutura de sentido, o


soneto é claro: as duas quadras e o primeiro terceto acumulam quali-
dades atribuídas à mulher; o último terceto funciona como uma es-
pécie de conclusão que completa uma argumentação. Nesse movi-
mento percebe-se até uma certa dinâmica narrativa, confirmada pela
transformação que, no final, o sujeito poético verifica em si mesmo.

1. O termo poeta, utilizado neste contexto, tem o mesmo sentido atribuído a sujeito poético.
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Ambos designam uma entidade ficcional construída a partir do texto, que não deve ser
confundida com a figura real de Camões.
2. A menos que haja indicação em contrário, citamos a poesia lírica camoniana pela edição das
Rimas (texto estabelecido, revisto e prefaciado por Álvaro J. da Costa Pimpão). Coimbra: Atlântida
Editora, 1973.

19
Carlos Reis

4.2.1. Matéria épica: feitos históricos e viagem


A leitura atenta das primeiras dezoito estâncias d’Os Lusíadas per-

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mite-nos notar aspetos importantes da constituição da matéria épica
e dos feitos históricos de que a epopeia é feita. Daí partiremos para a
observação da viagem como um elemento do relato que se relaciona
com a matéria épica e com a sua substância histórica. Assim:
Neste início do poema épico distinguimos três momentos
(adiante voltaremos a eles) que não se encontram isolados
uns dos outros:
Primeiro momento (ests. 1-3): o poeta apresenta o seu projeto;
Segundo momento (ests. 4-5): o poeta pede ajuda para o
concretizar;
Terceiro momento (ests. 6-18): o poeta dirige-se ao rei.
A matéria épica exige que se fale, em tom de glorificação, dos
feitos históricos de um coletivo, integrando três componentes:
“As armas e os Barões assinalados” (est. 1) que partiram de
Portugal (a “Ocidental praia Lusitana”) e que navegaram e lu-
taram em “perigos e guerras”;
“As memórias gloriosas” (est. 2) dos Reis e o seu esforço de
conquista e de expansão do Cristianismo;
Todos aqueles que, pelos seus feitos, escapam ao esqueci-
mento que normalmente resulta da morte.
A matéria épica define-se por comparação com feitos do passado
(est. 3); os heróis portugueses e o seu valor (“o peito ilustre Lusi-
tano”) superam os heróis da Antiguidade (Ulisses, Eneias, etc.).
As musas invocadas pelo poeta (ests. 4-5) têm também uma con-
dição portuguesa (as Tágides são as ninfas do Tejo). Ao mesmo
tempo, elas ajudam o poeta a cultivar a inspiração e o estilo épico
(a “fúria grande e sonorosa”) que combina com a matéria épica.
A partir da estância 6, a atenção do poeta centra-se no rei D. Se-
bastião. É ele o destinatário primeiro do poema épico, por três
razões:
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Luís de Camões, Os Lusíadas

Ele representa o coletivo nacional ao qual interessa o con-


teúdo do poema épico;
Ele é a personalidade de elevada condição, perante a qual o
poeta se verga (“Os olhos da real benignidade / Ponde no
chão”, est. 9), mesmo com a consciência de que a sua missão
é generosa e patriótica (“Vereis amor da pátria, não movido /
De prémio vil”, est. 10);
Ele é o sucessor e herdeiro de reis e de heróis que nele
devem ter continuação, antes de mais como garantia da in-
dependência de Portugal (“bem nascida segurança / Da Lusi-
tana antiga liberdade”, est. 6).
Esta última condição do destinatário primeiro (o destinatário
último e principal da epopeia é o povo português) permite in-
sistir na matéria épica: continua-se na estância 6 e seguintes o
que está nas estâncias de abertura. Os heróis portugueses (“um
Nuno fero”, “um Egas e um Dom Fuas”, est. 12; “o primeiro Afonso”,
est. 13; e assim por diante) merecem atenção por excederem
outros heróis; além disso, os seus feitos são verdadeiros (ou
seja: históricos) e não façanhas “sonhadas, fabulosas” (est. 11).
O estatuto do destinatário e dos seus antepassados justifica
uma nova epopeia (“nunca ouvido canto”, est. 15) que celebre
feitos que ele há de realizar. Ou seja: uma nova matéria épica.

Logo que termina esta introdução da epopeia (é assim que po-


demos considerar as dezasseis estâncias iniciais do canto I), inicia-se
a narração propriamente dita. Em duas estâncias (19 e 20), o poeta
começa a contar a viagem (“Já no largo Oceano navegavam”, est. 19),
para logo a interromper: é o momento de narrar o consílio dos Deu-
ses. Isso corresponde também à abertura de um outro nível da epo-
peia que, como veremos adiante, faz dela uma narrativa em vários
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planos interdependentes.
Por agora, falaremos da viagem e mostraremos nela dois aspe-
tos distintos:

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