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Professora Isabel Raposo, 6º Mestrado em Reabilitação da Arquitectura e Núcleos Urbanos

qualificação de bairros críticos / 1


Isabel Raposo

FAUTL . MRANU . 2006/07

dos bairros operários aos bairros críticos


pr(oblem)áticas, planos e programas

FAUTL . MRANU . 2006/07 . Qualificação de bairros críticos . Isabel Raposo

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Professora Isabel Raposo, 6º Mestrado em Reabilitação da Arquitectura e Núcleos Urbanos

Síntese da disciplina .
prática
sociedade intervenção pública
/mercado teoria

cidade medieval
cidade clássica

cidade industrial
interv. paternalistas utópicos séculoXIX
Bairros operários
Ilhas, pátios, vilas Paris: Haussamann
urbanística formal
Lisboa Av. Novas
Crescimentos urbano
acelerado Bairro Alvalade
Extensão dos subúrbios
Novas acepções conceito Carta Atenas 1933
urbanização Grands ensembles Movimento moderno
Olivais, Chelas
cidade pós-industrial Bairros sociais/PER…
SAAL Carta Atenas 1998/2003
Novos problemas
Esvaziamento e degradação Novos programas Novas abordagens
dos centros históricos social+espacial teóricas e metodológicas
Fragmentação Na periferia:
Desqualificação das reabilitação
Proqual / urban … (re)qualificação
periferias
AUGI, bairros precários, Swot/estratégia
bairros sociais… Iniciativa Bairros Críticos Concertação/participação
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sumário
da cidade medieval à cidade industrial
6 cidade medieval
8 cidade clássica
15 cidade neoclássica
20 cidade industrial
30 alojamento operário em Lisboa
das acções paternalistas às acções públicas
das visões utópicas ao movimento moderno
40 industriais filantrópicos
42 acção pública
43 utopias do século XIX
49 cidade jardim
56 carta de atenas de 1933
79 aplicação dos princípios da carta de atenas de 1933
81 olivais
86 chelas
urbanização acelerada
101 explosão demográfica vertiginosa
103 explosão urbana
109 urbe extensiva
113 aceleração da urbanização: novas dimensões ou acepções
do esvaziamento dos centros à extensão e degradação das periferias
119 centros antigos
120 periferias / subúrbios
129 pnpot

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da cidade medieval à cidade industrial


do centro à periferia

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cidade medieval

Reconstituição da cerca moura e da muralha fernandina (1761) (in Moita 1994: 99)
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ruínas do antigo Paços do Infante D. Henrique,


onde funcionou a Universidade Escolas
Gerais (1862) (in Moita 1994: 105)

Rua Nova dos Mercadores (século XVI, Braunio)


(in Moita 1994: 93)

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cidade clássica
(1807) (in Moita 1994: 223)

Bairro Alto
regularidade de quarteirões
divididos em lotes
e com logradouros no interior
planta actual:
traçados, quarteirões e lotes
(in Lamas 2000: 189)
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Bairro Alto

“é este bairro
senão o mais frequentado,
ao menos o mais gabado;
as casarias mui nobres,
a obra de arquitectura romana
e a traça moderna:
o sítio mais alto da cidade,
mais descoberto ao norte,
mais lavado dos ventos
e mais purificado nos ares;
e como com as chuvas
têm tanta corrente para o mar
fica todo mui limpo e sadio
e fora dos incomodos que nas mais
partes da cidade se padecem:
as ruas são mui largas e mui bem
lançadas”
Padre jesuíta Teles (século XVII)
(in Moita 1994: 222)

Arruamento (in Moita 1994: 224)

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Baixa
antes do terramoto

Planta da cidade por Tinoco, 1650 Maqueta de Lisboa antes do terramoto


(in Moita 1994: 241) (Museu da Cidade, 1955-59,
in Moita1994: 363)

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Baixa Pombalina

Planta de reconstrução de Lisboa 1758, de Eugénio dos Santos e Carlos Mardel


(in Moita 1994: 367)
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Baixa Pombalina
• Traçado racionalista iluminista

• Sistema de quarteirões para


fazer a operação fundiária

• Quarteirão estreito com saguão


interior

• Regularidade e repetição das


fachadas

• Estandardização de vãos e
elementos construtivos

• Cércea uniforme de edifícios

• Edifícios uniformes geradores


da malha urbana

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Baixa Pombalina

Desenho das fachadas normalizadas para os edifícios da baixa


(Rua Portas de Santa Catarina e Rua Augusta)
de Eugénio dos Santos e Carlos Mardel

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Planta de Lisboa, 1855 (in Moita: 385)


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cidade neoclássica
avenidas de Lisboa
• Ressano Garcia (engº diplomado em Paris)
rompe o Passeio Público e abre a Av. da Liberdade
direccionando o crescimento de Lisboa para NO
depois a Av. Fontes Pereira de Melo e Av. da República
Crescimento linear, mais que em mancha de óleo
São feitas expropriações numa faixa de 50 metros
para cada lado dos arruamentos
• Av. da Liberdade
cose com o tecido existente para nascente,
e origina expansão urbana para poente,
quarteirões largos (mas menos que posteriores das Av.
Novas)
• Avenidas de traçado haussmanniano
- com arborização na faixa central e passeio pedonal
- praças/rotundas: Marquês de Pombal, Saldanha
- malhas ortogonais e quarteirões regulares de
diferentes dimensões, mudando de orientação em
cada bairro
Ressano Garcia. Planta parcial da cidade de Lisboa
com todos os melhoramentos aprovados, 1903 (in Lôbo 1995: 20)
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Avenida da Liberdade
(in Moita 1994, 432)

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O quarteirão de
Ressano Garcia

• espaços intersticiais entre


empenas
• penetrações entre empenas
permitem entrada de serviço
• difrentes tipologias habitacionais
• -- moradia/residència burguesa
• -- prédio de rendimento
• interior privado para logradouro,
jardim ou horta
• volumetria e ocupação do solo
descontínua
• lotes hierarquizados pela
importância das ruas

Avenida da Liberdade em 1911


(in Moita 1994: 408)

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Av da República (in Moita 1994: 410, 413)

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Na cidade
pré-industrial
existe
diferenciação social

in Raposo et al 2007
mas não existe
segregação socio-espacial

Na cidade industrial
existe segregação
socio-espacial
século XVIII-XIX

Exemplo: cidade de Loulé


perímetro das muralhas
bairro medieval da
mouraria (segregação
religiosa mas não social)
zona industrial séc XIX-XX

FAUTL . MRANU . 2006/07 . Isabel Raposo século XX-XXI

Cidade industrial
(Goitia 1982)
Revolução industrial
(na agricultura, nos meios de transporte e
comunicação, nas teorias económicas e sociais)
Aumento da população
Máquina a vapor (1775)
concentração industrial
desenvolvimento tecnológico
Desenvolvimento dos meios de transporte
Favorece expansão do mercado
e desenvolvimento de grandes centros industriais
Teoria liberalismo económico capitalista
(Adam Smith, final séc XVIII)
Divisão do trabalho (crescimento do mercado)
= aumento produtividade + desenvolvimento
tecnológico
Mão-de-obra = mercadoria
Salários baixos – baixo custo de produção
Excedentes de operários
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Cidade industrial
Visão de curto prazo
Fábricas, armazéns, centrais térmicas, estações de caminhos-de-ferro, áreas
portuárias implantados em função do máximo lucro
Poluição ambiental e sonora
Circulação perigosa
Crescimento urbano e crescimento demográfico
Novos centros fabris
Cidades próximas de matérias-primas
Cidades antigas: sedes do poder político e económico
e concentração de mão-de-obra
Novas zonas industriais
Novas infra-estruturas e equipamentos
A cidade cresce extra-muros – fim da cidade delimitada
A periferia cresce com novos bairros de baixa densidade
O subúrbio emerge na Europa na segunda metade do século XIX
com novo traçado urbano
Loteamentos alastram : traçado em quadrícula
Alteração do equilíbrio cidade-campo

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Cidade industrial

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Cidade industrial
(Leonardo Benevolo, 1976 ed. orig 1963, Origenes del urbanismo moderno, H. Blume Ediciones, pp. 37-53)

Famílias rurais afluem às cidades industriais:


- alojam-se nos espaços livres disponíveis dos bairros antigos
- ou nas novas construções da periferia, em geral perto dos lugares de trabalho.
Adaptação de casas existentes ou construção de novas casas
na mão de especuladores privados.
Seu único objectivo é o lucro: redução dos custos através redução da qualidade.
Precárias condições habitacionais
- agravadas pelas guerras
- e pelas deficientes condições higiénicas, em situação de adensamento e
extensão das novas construções.
Como refere Benevolo, “em todas as épocas existiram misérias semelhantes”.
Mas as descrições são “tristes e resignadas na época pre-industrial”, passando a ser
depois “carregadas de rebeldia e iluminadas pela fé num futuro melhor”
A pobreza passa a ser percebida como “miséria”
“na perspectiva moderna de um mal que pode e deve ser eliminado” (p. 52).
O surgimento da urbanística moderna está ligado, segundo Benevolo:
- não só às transformações técnicas mas à problemática social da época
- a um agravamento das situações que “provoca incomodidade e protestos”
- à “intenção de fazer aceder a todas as classes os benefícios potenciais da
revolução industrial” (p.53)
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Cidade industrial
A cidade antiga: descrição de Manchester por Engels em 1845
(Leonardo Benevolo, 1976 ed. orig 1963, Origenes del urbanismo moderno, H. Blume Ediciones, pp. 41-45)

“[Na cidade velha] as ruas, mesmo as melhores, são estreitas e turtuosas […], as
casas sujas, velhas e em ruínas, e o aspecto das ruelas laterais, é horrível. [Num]
bairro claramente operário, nem sequer as vendas e as tabernas procuram
aparentar um pouco de limpeza. Mas isto não é nada comparado com as travessas
e pátios que se abrem atrás e aos quais apenas se chega através de estreitas
passagens cobertas que não podem ser atravessadas por duas pessoas ao
mesmo tempo. É impossível fazer-se uma ideia da desordenada confusão de
casas, que constitui uma burla contra toda a urbanística racional, e da estreiteza
do espaço […] a confusão foi levada ao seu extremo pois onde existia algum
espaço livre entre as construções da época precedente continuou a edificar-se e a
construir anexos. […] Em baixo corre, ou melhor está estagnado, o Irk, um rio
estreito e negro, hediondo, cheio de dejectos e resíduos que banham a margem
direita, mais baixa […] Na parte superior da ponte há grandes fábricas de
curtumes; mais acima também tinturarias, moagens […] cujos canais de
desperdícios se vertem todos no Irk, o qual recolhe ademais o conteúdo das
latrinas…” (tradução de IR)

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Cidade industrial
A cidade nova: descrição de Manchester por Engels em 1845
(Leonardo Benevolo, 1976 ed. orig 1963, Origenes del urbanismo moderno, H. Blume Ediciones, pp: 45-49)

“A cidade nova […] estende-se para além da cidade antiga, sobre uma colina
argilosa […] Aqui termina toda a semelhança com a cidade; filas de casas ou
grupos de ruas encontram-se dispersas, aqui e além como pequenas aldeias sobre
o terreno argiloso desnudado no qual não cresce sequer uma erva; as casas, ou
melhor dito as cottages, estão em péssimo estado, mal conservadas, sujas,
húmidas, com sótãos que se usam como habitações; as ruas não estão
pavimentadas nem têm esgotos […] O barro em todos os caminhos é tal que só é
possível atravessá-los quando o tempo está muito seco…[O] método de fechar os
operários em pátios fechados por todos os lados é […] prejudicial. O ar não pode
sair, e as chaminés das casas quando o fogo está aceso, são as únicas vias de
escape para o ar viciado dos pátios […]. Os empresários [dos cottages para
operários] não são os proprietários do terreno, mas, de acordo com o costume
inglês arrendaram-nos por vinte, trinta, quarenta, cinquenta ou mesmo noventa
anos, ao fim dos quais, voltam ao seu antigo proprietário com tudo o que nele foi
construído, sem que o referido proprietário tenha de pagar pelas construções
erguidas. Por isto o arrendatário constrói os edifícios de forma a que quando
termine o prazo acordado tenham o valor mínimo possível […] os cottages
arruinam-se muito rápido e tornam-se inabitáveis” (tradução de IR)
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Bairros operários e subúrbios

Precariedade,
falta de condições de higiene e habitabilidade,
mortalidade infantil,
“Cidades carvão” sem direitos civis

Reivindicações políticas e sindicais


por melhores condições de vida e de habitação
Novas tipologias habitacionais

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Ilhas no Porto
(in Lamas 2000: 207)

Forma de habitação operária


desenvolvida no Porto na
segunda metade do século
XIX.

“A maior parte das ilhas


consistem em filas de
pequenas casas de um só
piso, com áreas que muitas
vezes não excedem os
16m2, construídas nos
quintais das traseiras de
antigas habitações das
classes médias e com
acesso para a rua apenas
através de estreitos
corredores por debaixo
destas habitações à face da
rua. […] No final do século as
ilhas alojavam cerca de um
terço da população do Porto.”
(Teixeira 1994)

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Isabel Raposo

Crescimento urbano de Lisboa

Planta de Lisboa, 1855 (in Moita 1994: 385)


Reconstituição da cerca moura e da muralha fernandina (Fonte: id.: 99)

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Lisboa

Planificação do
crescimento
urbano para Norte:
Av. da Liberdade
Avenidas Novas

Plano Geral de
melhoramento
de Lisboa,
do engº Ressano
Garcia
apresentado em
1888 e aprovado
em 1903
(in Lôbo 1995: 21)

FAUTL . MRANU
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O alojamento operário em Lisboa no arranque da industrialização


último quartel do século XIX e primeiros anos do século XX (fonte:Teotónio Pereira e Buarque 1995: 262)

MONSATO

MARQUÊS
POMBAL

GRAÇA

SANTOS
ALCÂNTARA

Localização das vilas operárias


junto às fábricas, em zonas de periferia,
em Alcântara, Campolide,
na zona ribeirinha de Xabregas a Poço do Bispo
junto aos bairros antigos orientais, Graça e Sapadores,
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ou em outros terrenos vagos

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Alojamento operário em Lx Rua de S. Bento


(fonte: Teotónio Pereira 1995)

Atraso industrial
Lento processo de industrialização a partir de
meados século XIX
Concentração de mão-de-obra operária

Pátios
Habitações precárias de renda, em espaços
desocupados, ou pardieiros arruinados
Nos bairros antigos ou nos da periferia
Em 1902, cerca de 200 (T. Pereira 1995: 263)
Com o afluxo crescente de mão-de-obra,
proprietários constroem casas abarracadas
nas traseiras dos seus prédios para aluguer
ou alugam caves insalubres
Conventos das ordens extintas e palácios
arruinados, são alugados quarto a quarto
Prédio de 3 pisos com pátio nas traseiras
construído depois do prédio
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Alojamento operário em Lx
(fonte: Teotónio Pereira 1995) Edifício tipo vila
no Campo Grande
Vilas final século XIX
(in T.Pereira 1995: 278)
Inquérito industrial de 1881,
refere carências habitacionais
Conjuntos construídos por iniciativa familiar
expressamente
para habitação de famílias operárias,
-ao contrário dos pátios –
de tipologias variadas,
em torno de recintos
à margem dos arruamentos
(em geral no interior dos quarteirões)
comunica com a via pública por serventia
Pode ser prédio de correnteza
ou tipo bloco colectivo,
construído ao longo da via
geralmente de difícil acesso
(Tipo bloco - semelhança com “vila” burguesa e daí
Grande edifício tipo “vila”
o seu nome, segundo Leite Vasconcelos) com 5 escadas servindo 2 fogos/piso
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Alojamento operário em Lx
(fonte: Teotónio Pereira 1995) Vila Luz Pereira
Mouraria
Vilas formando pátio início século XX
(T.Pereira 1995: 286)
Aproveitamento máximo da área disponível
(lucro)
Maior número de fogos possível com áreas
ínfimas
Por vezes tratamento formal com qualidade
(guarnecimento de vãos, , remate de
coberturas, desenho de letreiros, jogo de
escadas e galerias com guardas de ferro)
mesmo em vilas de nível modesto

Vila Celeste
1910
hoje integrada na via
por rasgamento do fundo
(in T.Pereira 1995: 292)

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Vila Santos, 1931, Campo Pequeno


Alojamento operário em Lx Estabelecimentos no R/C, Projecto de arqº,

Vilas formando pátio

(in T.Pereira 1995: 303) vendido para demolição

(in T.Pereira 1995: 298)

Vila Ramos, Rua Maria Pia


corpos laterais de 2 pisos com galeria
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Alojamento operário em Lx
Vila Souza, 1890
Vilas atrás de prédios Graça
(in T. Pereira 1995: 324)
Prédio para a burguesia na frente
Vila operária nas traseiras
Com acesso lateral ou a eixo do lote, através de
corredor a céu aberto ou de passagem aberta em
arco sob o prédio
com portão de ferro com placa com nome da vila

Vila Macieira, 1907, Cç dos Barbadinhos Grande vila edificada sobre palácio
(in T. Pereira 1995: 321) destruído no terramoto, reconstruído e
FAUTL . MRANU . 2006/07 . Isabel Raposo de novo destruído em incêndio de 1819.

Alojamento operário em Lx
Vilas formando rua Vila Berta, 1902, Graça
(in T.Pereira 1995: 330)
Algumas vilas maiores
dispõem-se ao longo de uma rua particular

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Alojamento operário em Lx Vila Cândida, 1912,


Av. General Roçadas
35 unidades, 137 fogos
Vilas de escala urbana 1 comércio, 1 EP, 1 PSP,
doada aos moradores
Com o desenvolvimento da vila, em1975
(in T. Pereira 1995: 356)
diversifica-se a tipologia.
Surgem unidades de habitação horizontal (Estrela
d’Ouro) ou de blocos em altura
Promovidas por empresas industriais
ou por promotores imobiliários que permanecem
como senhorios, residindo no mesmo terreno
e dão o nome à vila.
Tendência filantrópica e paternalista
As vilas mais complexas incluem equipamentos:
comércio diário, escolas, espaços de convívio
e mesmo esquadra (Vila Cândida)

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Alojamento operário em Lx

Bairros operários

Formação de proletariado
Surto do cooperativismo e associativismo
Formação de sociedades cooperativas de
construção e habitação:
A Companhia Comercial Construtora
constrói em 1890,
o Bairro operário dos Barbadinhos, Bairro operários dos Barbadinhos
5 quarteirões, 2 a 3 pisos, escada central
de arquitectura simples
(in T. Pereira 1995: 365)

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das acções paternalistas às acções públicas


das visões utópicas ao movimento moderno

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Industriais filantrópicos

Alguns industriais esclarecidos decidem


melhorar a situação.

Constróem bairros modelo junto às suas


fábricas, antecipando as cidades-jardim do
século XX (Goitia 1982):

- família Krupp funda a cidade-jardim Essen,


junto às suas fábricas de aço;
Essen (in Goitia 1982: 165)
- Meunier constrói a Colónia de Noisel-sur
Seine em 1874.

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Bairro Grandela
Industriais filantrópicos em Lx para alojº do pessoal
da Casa Grandela
(fonte: Teotónio Pereira 1995) Frente: escola primária
e administração
“Vilas” operárias directamente ligadas (Estrada de Benfica)
à produção (in T. Pereira 1995: 351)

Nas zonas de maior concentração industrial


algumas empresas constroem habitações para
os seus trabalhadores, caso de empresas
têxteis (em Alcântara e Xabregas)
Por vezes, resulta de atitude paternalista
dos empresários, pela “dignificação do
trabalho” mas também como instrumento de
controlo dos assalariados.
Nestes casos existe grande cuidado formal
e o espaço reproduz a hierarquia do trabalho.
Noutros casos, em empresas de menor
dimensão, as habitações são integradas no
edifício das instalações fabris, caso de
armazéns de distribuição de vinho do Poço do
Bispo, por vezes, com interessantes soluções
espaciais, como a galeria
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Acção pública
Bairros sociais em Lisboa
(fonte: Teotónio Pereira 1995)

Iniciativas da Câmara Municipal:


Bairro do Alvito, Bairro da Rua Carvalho Araújo
Edifícios pluri-familiares de 2 a 3 pisos em banda Bairro social
da Ajuda
Iniciativas do Estado
Só na 1ª República o Estado constrói bairros 2ª década séc. XX
sociais: bairros da Ajuda e do Arco-do-Cego vários tipos de
iniciam em 1918. Quando as obras são concluídas, edificado
as casas não são atribuídas a famílias operárias. (in T. Pereira 1995: 354)

Bairro social
do Arco do Cego

iniciado em 1916,
inaugurado em 1934
~480 fogos
Tipologias variadas,
fachadas decoradas
Estúdios para artistas
plásticos, lojas, escolas
(in T. Pereira 1995: 368)

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in Leonardo Benévolo Origenes del urbanismo moderno


Utopias do século XIX (1979; 1ª ed it 1963), H. Blume Ediciones, Madrid.

Robert Owen (1771-1858) (Benevolo 1979: 61-79)


Critica a teoria então em voga do self-made man, considerando que são as
condições do meio ambiente que determinam a sorte dos homens. Esta só pode
ser melhorada, reconstruindo o ambiente e colocando-o ao serviço do homem.
Põe em prática as suas ideias, melhorando as condições de vida dos seus
operários em New Lanark, na Escócia.
Apresenta publicamente a sua utopia em 1817 como remédio universal,
Owen parte das seguintes premissas:
• a força mecânica é mais barata que o trabalho humano
• o trabalho é mantido a um preço inferior às condições mínimas de vida e deixa
muitas pessoas sem trabalho remunerado.
• a mão-de-obra não tem condições de lutar contra a força mecânica;
• não é possível diminuir a energia mecânica;
• não é aceitável que milhões de pessoas morram de fome por causa do novo
sistema produtivo.
Propõe:
“encontrar um emprego para todos, mantendo o progresso mecânico”
(premissas do socialismo moderno).
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in Leonardo Benévolo Origenes del urbanismo moderno


Utopias do século XIX (1979; 1ª ed it 1963), H. Blume Ediciones, Madrid.

A utopia de Owen requer novo ordenamento territorial:


• pequenas aldeias com 300 a 2000 habitantes, de preferência 1200,
• edifícios de habitação dispostos em quadrado,
• 3 dos lados do quadrado para casais e o outro para jovens com mais de 3 anos,
• no centro do quadrado uma praça pública com edifícios públicos e alojamentos
para encarregados, notáveis da aldeia e visitantes,
• quadrado rodeado de jardins separando as residências dos edifícios rurais, dos
campos de cultivo e das oficinas e fábricas.
O seu “paralelogramo” funciona como uma “máquina para multiplicar a eficiência
física e o bem estar mental de toda a sociedade de forma ilimitada”.
Engloba premissas políticas e económicas, programa construtivo e financeiro,
sendo considerado o “primeiro plano urbanístico moderno” ou a “emergente
experiência urbanística moderna” (Benévolo 1979: 64,73).
Tem em conta os problemas resultantes do progresso mecânico, mas não tem em
conta a organização sócio-cultural. É criticado na altura por querer dividir o mundo
em quadrados como um jogo de xadrez.
O ideal de Owen concretiza-se parcialmente, ao nível económico (cooperativas de
consumo e de produção): sem os níveis político e urbanístico, inseparáveis para
Owen.
FAUTL . MRANU . 2006/07 . Isabel Raposo

22
Professora Isabel Raposo, 6º Mestrado em Reabilitação da Arquitectura e Núcleos Urbanos

in Leonardo Benévolo Origenes del urbanismo moderno


Utopias do século XIX (1979; 1ª ed it 1963), H. Blume Ediciones, Madrid.

“paralelogramo” de Owen.

FAUTL . MRANU . 2006/07 . Isabel Raposo

in Leonardo Benévolo Origenes del urbanismo moderno


Utopias do século XIX (1979; 1ª ed it 1963), H. Blume Ediciones, Madrid.

Falanstério de Fourier (Benevolo 1979: 82-92)


Propõe uma utopia que publica anónima em 1808:
“considera imoral e absurda uma sociedade baseada na competição dos interesses
individuais ou de classe e propõe em alternativa a união dos esforços para se obter
um estado de harmonia universal”.
Faz uma descrição minuciosa da cidade do que chama o sexto período de
desenvolvimento da humanidade, propondo um conjunto de regras que antecipam
os regulamentos construtivos do século XIX.
Para a harmonia universal que prevê para o sétimo período, Fourier concebe a
Falange, grupo funcional de 1500 a 1600 pessoas, residindo num dispositivo
construtivo unitário, o Falanstério (p.85).
O movimento fourierista teve sucesso nos EU (fundaram-se 41 comunidades
experimentais).

FAUTL . MRANU . 2006/07 . Isabel Raposo

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Professora Isabel Raposo, 6º Mestrado em Reabilitação da Arquitectura e Núcleos Urbanos

in Leonardo Benévolo Origenes del urbanismo moderno


Utopias do século XIX (1979; 1ª ed it 1963), H. Blume Ediciones, Madrid.

Familistério de Godin (Benévolo 1979: 92-103)


Jovem industrial, Godin realiza com os seus meios, entre 1859 e 1877, em Guise,
onde tem a sua fábrica metalúrgica, o falanstério de Fourier, adaptando-o.
Duas inovações:
• carácter industrial
• renuncia à vida em comum prevista por Fourier, cada família tendo o seu
alojamento particular mas beneficiando dos serviços comuns: antecipa a base
da “unidade de habitação” de Le Corbusier.
Em 1880 estabeleceu uma cooperativa entre os seus operários a quem confiou a
direcção da fábrica e do familistério, que continuava em actividade em 1939.

FAUTL . MRANU . 2006/07 . Isabel Raposo

in Leonardo Benévolo Origenes del urbanismo moderno


Utopias do século XIX (1979; 1ª ed it 1963), H. Blume Ediciones, Madrid.

As iniciativas utópicas do século XIX alertam para a organização de todo o


território urbano e rural com base em novas relações económicas e sociais.

Todavia, como criticaram Marx e Engels (Manifesto do Partido Comunista de 1848)


(Benevolo 1979: 112-113):
• as utopias substituem as condições históricas de organização e emancipação
do proletariado por condições fantásticas de uma sociedade inventada
• propõem planos sociais pacíficos, valendo-se da força do exemplo, mas as
suas pequenas experiências não têm continuidade
• propõem soluções abstractas e esquemáticas, para o problema da cidade
industrial sem terem em conta a ligação real que existe entre os programas
urbanísticos e o desenvolvimento económico e social.

Mas Marx e Engels não fizeram propostas urbanísticas, por considerarem que as
transformações urbanas são uma consequência das relações sociais.

O contributo das utopias é a intervenção ao nível urbano sem esperar pela reforma
geral da sociedade, propondo uma cidade ideal com um modelo de generosidade
muito distinto da cidade ideal renascentista: influenciam a cultura urbanística
moderna e as experiências urbanísticas futuras.
FAUTL . MRANU . 2006/07 . Isabel Raposo

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Professora Isabel Raposo, 6º Mestrado em Reabilitação da Arquitectura e Núcleos Urbanos

Cidade-jardim
Ebenezer Howard
(1969/1898)
utiliza a investigação dos
reformadores socialistas na
Teoria da cidade jardim
individualismo + socialismo
cidade + campo
funda
Letchworth (1903)
Welwyn (1919)
Cerca de 20 cidades são
construídas em Inglaterra
respeitando a ideia de EH
de Cidade-Jardim,
visando descongestionar as
grandes cidades,
dispersar e reagrupar as
populações e locais de
trabalho
FAUTL . MRANU . 2006/07 . Isabel Raposo

Cidade-jardim

Ebenezer Howard (1969/1898)

FAUTL . MRANU . 2006/07 . Isabel Raposo

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Professora Isabel Raposo, 6º Mestrado em Reabilitação da Arquitectura e Núcleos Urbanos

Cidade-jardim
Letchworth (1903)
Ebenezer Howard + Arqºs Raymond Unwin e B Parker
Paradigma das reformas do planeamento e da habitação

FAUTL . MRANU . 2006/07 . Isabel Raposo

Cidade linear

Em Espanha, nos finais do século XIX, Soria y Mata projecta a cidade linear
a 7km do centro de Madrid: todas as habitações têm contacto com o campo.

A ideia foi retomada por Milyutin, em 1930, na planificação de Estalinegrado,


incluindo a dimensão industrial: paralelamente ao rio Volga, traça várias faixas,
um parque, uma faixa residencial, uma via, outra faixa de parque, uma faixa
industrial e uma via férrea.

Madrid.
Cidade linear
(in Goitia 1982: 166)

FAUTL . MRANU . 2006/07 . Isabel Raposo

26
Professora Isabel Raposo, 6º Mestrado em Reabilitação da Arquitectura e Núcleos Urbanos

Cidade industrial, Tony Garnier, 1904

Esquema
(in Lamas 2000: 269)

FAUTL . MRANU . 2006/07 . Isabel Raposo

Cidade industrial, Tony Garnier, 1904

Pormenor dos
bairros
habitacionais

Planta dos edifícios

Perspectiva aérea
do conjunto

Perspectiva da gare
ferroviária

Perspectiva da
siderurgia na zona
industrial

in Lamas (2000: 271)

FAUTL . MRANU
2006/07 . Isabel Raposo

27
Professora Isabel Raposo, 6º Mestrado em Reabilitação da Arquitectura e Núcleos Urbanos

Urbanismo, disciplina autónoma finais séc XIX, princípios séc. XX

Resultado de grandes transformações societais


e crescente complexidade urbana
Novos problemas e desafios:
–Habitação para todos
–Higiene e salubridade
–Infra-estruturas e equipamentos
–Funções industriais
–Expansão urbana
Visão integrada e pluridisciplinar
Intensa actividade teórica, institucional e prática
Urbanística formal
Continuidade do modelo de cidade neoclássica sob influência da escola francesa
(ensino, exportação de urbanistas, traçados de Haussmann / eficácia,
simplicidade e grandiosidade)
Movimento Moderno
Propõe-se resolver os novos problemas urbanos da cidade industrial com novo
modelo de cidade e novos instrumentos

FAUTL . MRANU . 2006/07 . Isabel Raposo Forestier, 1925, plano de prolongamento da Av. Liberdade

a carta de atenas 1933


LE CORBUSIER, La Charte d’Athènes, Les Editions Minuit, Paris, 1957

Congressos Internacionais da Arquitectura Moderna (CIAM)


• reunem-se pela primeira vez em 1928,
’ para reflectir sobre o problema e o papel da arquitectura contemporânea:
“o destino da arquitectura é exprimir o espírito de uma época”
’ para apresentar a ideia de uma arquitectura moderna e difundi-la
• reconhecem que a transformação social e económica
determina “fatalmente” a transformação da arquitectura
• retiram a arquitectura do domínio das academias
• aplicam a noção de rendimento, axioma da vida moderna, à arquitectura:
’ não se trata de conseguir o lucro comercial máximo
’ mas de conseguir a produção necessária
para satisfazer as necessidades humanas
’ através da racionalização e normalização industrial
’ utilizar os recursos da técnica industrial
em vez de “fazer apelo exclusivo a um artesanato anémico”

FAUTL . MRANU . 2006/07 . Isabel Raposo

28
Professora Isabel Raposo, 6º Mestrado em Reabilitação da Arquitectura e Núcleos Urbanos

a carta de atenas 1933


LE CORBUSIER, La Charte d’Athènes, Les Editions Minuit, Paris, 1957

• “O urbanismo é o arranjo dos diversos lugares e locais que devem abrigar o


desenvolvimento da vida material, sentimental e espiritual em todas as suas
manifestações, individuais ou colectivas. Trata quer das aglomerados urbanos
quer dos aglomerados rurais”.

• “O urbanismo não pode continuar exclusivamente submetido às regras de um


esteticismo gratuito.”

• “Pela sua essência o urbanismo é de ordem funcional.”

• Os CIAM defendem:

’ uma proporção justa de volumes construídos e espaços livres

’ o agrupamento fundiário, em vez da fragmentação desordenada do solo,


para garantir a repartição equitativa das mais-valias
resultantes dos trabalhos em comum.

FAUTL . MRANU . 2006/07 . Isabel Raposo

Duas vistas: Manhattan e o centro de uma “cidade contemporânea” : “o contraste é claro”


(in Corbusier, The city of tomorrow, 1929)

FAUTL . MRANU . 2006/07 . Isabel Raposo

29
Professora Isabel Raposo, 6º Mestrado em Reabilitação da Arquitectura e Núcleos Urbanos

a carta de atenas 1933


LE CORBUSIER, La Charte d’Athènes, Les Editions Minuit, Paris, 1957

1933, 4º congresso dos CIAM, em Atenas


• a partir da análise de 33 cidades estabelecem
os princípios de uma Carta do Urbanismo: X La Charte d’Athènes

• publicada, em 1941, em Paris, em período de ocupação alemã (edição anónima)


• materializada no 7º congresso em 1949,
com o nascimento de uma célula CIAM de urbanismo
• reeditada em 1957 por Le Corbusier,
considerada de grande actualidade, para resolver as questões do urbanismo,
colocadas pela acelerada “mutação do mundo”
resultante da “civilização maquinista” e da modernidade

X funcionalista e racionalista

FAUTL . MRANU . 2006/07 . Isabel Raposo

a carta de atenas 1933


LE CORBUSIER, La Charte d’Athènes, Les Editions Minuit, Paris, 1957

• A cidade é entendida como parte de um conjunto económico, social e político


que constitui a região

’ o plano urbano deve associar os interesses individuais e colectivos

’ o sítio (a topografia, o sol, a água, o clima) influencia o destino dos homens

’ a cultura, a situação económica, o sistema político e administrativo


desenham a história das cidades
• com a era do maquinismo, passa-se da velocidade do passo humano
à velocidade dos veículos mecânicos

• a máquina altera as condições de trabalho,


aniquila o artesanato, esvazia os campos,
provoca o crescimento acelerado das cidades e a concentração urbana
afasta a habitação do local de trabalho,
precariza as condições de vida e de habitação,
provoca desordem, doença, decadência e revolta

FAUTL . MRANU . 2006/07 . Isabel Raposo

30
Professora Isabel Raposo, 6º Mestrado em Reabilitação da Arquitectura e Núcleos Urbanos

a carta de atenas 1933


LE CORBUSIER, La Charte d’Athènes, Les Editions Minuit, Paris, 1957

• A partir da análise do estado actual das cidades,


são tecidas críticas e propostos remédios em torno de 4 funções chave:

’ Habitação
’ Recreio
’ Trabalho
’ Circulação

e de uma questão actual

’ Património histórico das cidades

FAUTL . MRANU . 2006/07 . Isabel Raposo

a carta de atenas 1933


LE CORBUSIER, La Charte d’Athènes, Les Editions Minuit, Paris, 1957

Habitação: centro das preocupações urbanísticas


• Observa uma densificação dos centros históricos e das zonas de expansão
industrial
’ outrora as habitações de núcleos amuralhados eram pequenas
mas rodeadas de espaço verde extramuros
’ com a industrialização:
área habitável/pessoa reduzida, vãos reduzidos, falta de sol, humidade,
falta de instalações sanitárias, promiscuidade, ruído, ruas estreitas e sombrias,
falta de espaços verde, falta de manutenção dos edifícios,
populações de baixos recursos, rendas
(“não se vende carne estragada...”)
• Distingue habitação de mão-de-obra barata de habitação de classes favorecidas:
em zonas com sol, arejadas, ao abrigo de ventos fortes, com vista
• Considera os subúrbios um erro urbanístico dramático na América
com densidade baixa, feios e tristes, de uma população de fracos recursos

• Propõe gerir o solo antes do subúrbio nascer

FAUTL . MRANU . 2006/07 . Isabel Raposo

31
Professora Isabel Raposo, 6º Mestrado em Reabilitação da Arquitectura e Núcleos Urbanos

a carta de atenas 1933


LE CORBUSIER, La Charte d’Athènes, Les Editions Minuit, Paris, 1957

Habitação (cont)
• Considera a necessidade psicológica e fisiológica de todo o ser humano de:
sol, espaço e verde ’ 3 primeiros materiais do urbanismo
• Defende zonamento de actividades: habitação, indústria, comércio, recreio
• Defende a construção em altura (graças à nova tecnologia em aço e em
cimento armado) para ter melhor vista, ar puro, insolação e espaços verdes
melhorar a circulação e criar espaços verdes
• Localizar habitação nos melhores sítios
• Garantir que sol entre em cada alojamento pelo menos 2h por dia
• Acabar com o alinhamento das habitações ao longo da rua
• Separar a habitação e as vias de peões das vias de automóveis
• Destruir bairros sem condições sanitárias resultantes de especulação
• Controlar a expansão urbana desmesurada e fixar as densidades urbanas
(determinando a área do terreno e a previsão de população)
• Prever área para construção de equipamentos colectivos: educação, saúde,
creches, desporto, recreio, cultura
“a sua necessidade é ainda pouco ressentida pela população”
• Afastar as escolas das vias e aproximá-las da habitação

FAUTL . MRANU . 2006/07 . Isabel Raposo

composição tradicional e composição moderna de um bairro residencial


(Volckers, Wohnbaufibel 1931, in Lamas 2000: 339)

FAUTL . MRANU . 2006/07 . Isabel Raposo

32
Professora Isabel Raposo, 6º Mestrado em Reabilitação da Arquitectura e Núcleos Urbanos

evolução comparativa,
das formas urbanas tradicionais às modernas
Antoine Prieur, “Habitation collective et urbanisme”, AA 16, 1947
in Lamas 2000: 339)

in Maneira de Pensar o Urbanismo (in Lamas 2000: 341)


Le Corbusier, Evolução das formas da cidade,

FAUTL . MRANU . 2006/07 . Isabel Raposo

Mas as pessoas dirão:


As suas propostas tornar-se-ão nos
horrores da cidade típica americana
com o seu traçado mecânico”.
Aqui está uma comparação.

(in Corbusier, The city of tomorrow, 1929: 233)

FAUTL . MRANU . 2006/07 . Isabel Raposo

33
Professora Isabel Raposo, 6º Mestrado em Reabilitação da Arquitectura e Núcleos Urbanos

a carta de atenas 1933


LE CORBUSIER, La Charte d’Athènes, Les Editions Minuit, Paris, 1957

Lazer
• Existem poucos espaços livres no interior das cidades:
parques, jardins de casas aristocráticas ou burguesas,
na periferia ou no centro de zona residencial luxuosa,
para bem-estar das classes privilegiadas,
só utilizadas ao fim de semana, só com função de embelezamento,
longe da habitação popular, interditas ao público,
• Têm sido substituídos por imóveis
• Propõe-se a conversão dos espaços livres para prolongamento da habitação:
jardins, equipamentos de recreio e desporto
• Assegurar condições de vida saudáveis e em espaço natural,
locais de lazer para desfrute depois das horas de trabalho,
numa proporção equilibrada entre volumes construídos e espaços livres
• Criação de reservas verdes na cidade para descanso semanal
e em torno da habitação, para descanso quotidiano

FAUTL . MRANU . 2006/07 . Isabel Raposo

a carta de atenas 1933


LE CORBUSIER, La Charte d’Athènes, Les Editions Minuit, Paris, 1957

Lazer (cont.)
• Transformar as aglomerações em cidades verdes
com espaços para equipamentos colectivos
(ao contrário das cidades jardins, divididas em pequenos lotes privados)
e para hortas individuais com infra-estruturas colectivas

• Demolição dos bairros insalubres e de barracas,


sua reconversão em parques para embelezamento
e equipamentos colectivos para uso dos bairros limítrofes,
com creches, jardins de infância, escolas, centros de juventude, centros
culturais de desporto e recreio,
ou para novos edifícios indispensáveis à vida da cidade

• Parques, florestas, estádios, praias,


para horas de descanso semanal, passeio, desporto, espectáculos, acessíveis
por transporte colectivo,
com restauração e hotelaria e infra-estruturas

• Preservar e reparar as belezas naturais


FAUTL . MRANU . 2006/07 . Isabel Raposo

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Professora Isabel Raposo, 6º Mestrado em Reabilitação da Arquitectura e Núcleos Urbanos

Le Corbusier

A cidade radiosa: blocos construídos


em amplas zonas verdes
(in Lamas 2000: 357)

FAUTL . MRANU . 2006/07 . Isabel Raposo

a carta de atenas 1933


LE CORBUSIER, La Charte d’Athènes, Les Editions Minuit, Paris, 1957

Trabalho
Existente
• Com o maquinismo: fim da proximidade do trabalho-casa,
fim do artesanato,
emerge mão-de-obra anónima e móvel
• Implantação das pequenas e médias indústrias
nos bairros de habitação, provocam poluição sonora e poeiras,
• Implantação da grande indústria na periferia, faz surgir subúrbios
obriga a longas deslocações casa-trabalho e a grandes investimentos em
transportes públicos
Proposta
• Redução das distâncias habitação-trabalho
• Cidades industriais lineares
ao longo das vias de transporte das matérias primas, férrea, canal, auto-estrada,
incluindo zona de habitação paralela à zona industrial, separada por zona verde e
aberta para o campo, diminuindo distância casa-trabalho,
• Actividades artesanais no centro da vida urbana
• Centro de negócios consagrada à administração pública e privada, junto às vias
que servem a zona de habitação, de indústria e artesanato, estações

FAUTL . MRANU . 2006/07 . Isabel Raposo

35
Professora Isabel Raposo, 6º Mestrado em Reabilitação da Arquitectura e Núcleos Urbanos

a carta de atenas 1933


LE CORBUSIER, La Charte d’Athènes, Les Editions Minuit, Paris, 1957

Circulação
• Vias antigas concebidas para peões e carroças, dimensionamento
inapropriado e distância entre cruzamentos fracos
• Caminho de ferro tornou-se, com a extensão da cidade, um obstáculo à
urbanização, uma barreira
• Propõe-se
• Hierarquia viária
• Nós viários desnivelados
• Ruas de peões
• Zonas verdes de protecção das vias de atravessamento

FAUTL . MRANU . 2006/07 . Isabel Raposo

a carta de atenas 1933


LE CORBUSIER, La Charte d’Athènes, Les Editions Minuit, Paris, 1957

Circulação

Vista sobre a estação central (Le Corbusier, The city of tomorrow, 1929)

FAUTL . MRANU . 2006/07 . Isabel Raposo

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Professora Isabel Raposo, 6º Mestrado em Reabilitação da Arquitectura e Núcleos Urbanos

a carta de atenas 1933


LE CORBUSIER, La Charte d’Athènes, Les Editions Minuit, Paris, 1957

Património histórico das cidades

• Respeitar “em parte” bairros históricos

Salvaguarda dos valores arquitecturais


(de edifícios isolados ou conjuntos urbanos):

• que sejam a expressão de uma cultura anterior,


• quando respondem a um interesse geral
• quando não determina o sacrifício de populações mantidas em condições de vida
insalubres
• se for possível desviar elementos vitais de circulação
• se for possível criar espaços verdes em torno de monumentos históricos com a
destruição de zonas insalubres
• não recorrendo nunca a mimetismos de estilos passados nas construções novas
nas zonas históricas o que que “têm consequências nefastas”

FAUTL . MRANU . 2006/07 . Isabel Raposo

Le Corbusier
O Plan Voisin, 1925

Proposta para reestruturação


do centro de Paris

(Lamas 2000: 355)

FAUTL . MRANU . 2006/07 . Isabel Raposo

37
Professora Isabel Raposo, 6º Mestrado em Reabilitação da Arquitectura e Núcleos Urbanos

Le Corbusier
The city of tomorrow
(1929: 289)

Solução proposta para o


esquema “Voisin” do
centro de Paris.

Zonas que se propõem


demolir e o seu novo
traçado (à mesma
escala)

FAUTL . MRANU . 2006/07 . Isabel Raposo

a carta de atenas 1933


LE CORBUSIER, La Charte d’Athènes, Les Editions Minuit, Paris, 1957

Princípios gerais:
• As cidades, na era do maquinismo, oferecem uma imagem de caos e já não
respondem às necessidades básicas biológicas e psicológicas dos seus habitantes
• A violência dos interesses privados,
dos industriais e construtores de alojamentos
sobrepuseram-se aos interesses colectivos,
provocando ruptura do equilíbrio entre as forças económicas,
a fraqueza do controle administrativo e a fraqueza da solidariedade social
• A transformação urbana faz-se sem controle
nem tendo em conta os princípios de urbanismo
• O dimensionamento de todos os elementos urbanos
deve ser regido pela escala humana
• Os planos determinam a estrutura de cada uma das 4 funções chave do
urbanismo e fixam a sua localização
• A habitação é o centro das preocupações urbanísticas
• Revisão da circulação urbana e suburbana a partir do zonamento
• A construção em altura permite melhorar a circulação e criar espaços verdes
• A cidade deve ser estudada no conjunto da sua região
• A cidade é definida como uma unidade funcional

FAUTL . MRANU . 2006/07 . Isabel Raposo

38
Professora Isabel Raposo, 6º Mestrado em Reabilitação da Arquitectura e Núcleos Urbanos

a carta de atenas 1933


LE CORBUSIER, La Charte d’Athènes, Les Editions Minuit, Paris, 1957

Princípios gerais (cont.):

• Cada cidade deve estabelecer o seu programa, no tempo e no espaço,


a partir de análises rigorosas sobre os recursos naturais, a topografia, a
economia, a sociologia, a cultura
• O instrumento de medida do arquitecto,
nesta tarefa do urbanismo, é a escala humana
• O núcleo inicial do urbanismo é uma célula de habitação
e a sua inserção numa unidade de habitação,
articulada com locais de trabalho e de lazer
• A arquitectura preside aos destinos da cidade
• Utilizar a técnica moderna
• Política voluntarista e clarividente,
população esclarecida para compreender o que os especialistas programaram
para ela,
situação económica favorável,
política de solos,
subordinação do interesse privado ao interesse colectivo.

FAUTL . MRANU . 2006/07 . Isabel Raposo

Le Corbusier
“La ville contemporaine”
In Lamas 2000: 353

• Planta geral
• Pormenor do centro
• Vistas do eixo central e da
zona residencial

FAUTL . MRANU . 2006/07 . Isabel Raposo

39
Professora Isabel Raposo, 6º Mestrado em Reabilitação da Arquitectura e Núcleos Urbanos

Aplicação dos
princípios da
Carta de Atenas
de 1933

Urbanismo francês
do pós-guerra

Os grands
ensembles

Sarcelles, 1966
Vista de 15º andar
in Lamas (2000: 393)

NOTA:
ver aula Prof. Daniel PINSON

FAUTL . MRANU . 2006/07 . IR

FAUTL . MRANU . 2006/07 . Isabel Raposo

40
Professora Isabel Raposo, 6º Mestrado em Reabilitação da Arquitectura e Núcleos Urbanos

Olivais e
Sul
Chelas (ver Teresa Heitor (s/d) Olivais e Chelas, operações urbanísticas de grande escala)

Operações urbanísticas de grande escala, de iniciativa pública


Decreto Lei 42454 de 18 de Agosto de 1959
Responsabilidade do município: aquisição de terrenos, elaboração de PU,
projectos de aqrª, programas de trabalho, direcção e fiscalização das obras
Objectivos
• promoção de habitação social
• 70% de fogos sociais + 30% fogos de renda livre
• 4 categorias de fogos sociais função de:
custos de terreno, preços de construção, escalões de renda mensal
• Habitações de renda módica para realojamentos
Introdução de relação preço/m2
Introdução de categorias de habitação (integradas no REGEU):
níveis de qualidade e tipos de concepção
Criação do Gabinete Técnico de Habitação (GTH)
Olivais Norte: 40ha, 2.500 fogos, 10.000 hab
Olivais Sul: 187ha, 8.000 fogos, 38.250 hab
Chelas: 510ha, 11.500 fogos, 55.300 hab

FAUTL . MRANU . 2006/07 . Isabel Raposo

Olivais e
Sul
Chelas (ver Teresa Heitor (s/d) Olivais e Chelas, operações urbanísticas de grande escala)

Olivais Norte
• Ruptura com prática da urbanística formal de Alvalade
• Aplicação fiel do modelo racionalista da “Carta de Atenas” de 1933:
• edifícios não alinhados com rua, espaço livre ajardinado fluido
• Rede de circulação viária: espinha dorsal da malha e elemento integrador
• Hierarquização dos espaços exteriores: separação rede viária e pedonal
• Serviços concentrados no centro cívico-comercial. Escola separada
• Independência e liberdade nos projectos dos edifícios: tipologias de banda e
torre
Olivais Sul
• Alteração do modelo da cidade moderna:
• Densificação das áreas residenciais
• Centro cívico estruturante
• Identidade
• Abandono do conceito de unidade de vizinhança
• Introdução de áreas centrais
• Introdução de formas de agregação dos edifícios inovadoras
• Introdução de estruturada celular hierarquizada e zonificada nas suas funções
• Equipamentos e serviços próximos da habitação em função da hierarquia
• Mistura de categorias para evitar segregação e exclusão social
• Não inclui equipamento produtivo: não ultrapassou estatuto de zona dormitório
FAUTL . MRANU . 2006/07 . Isabel Raposo

41
Professora Isabel Raposo, 6º Mestrado em Reabilitação da Arquitectura e Núcleos Urbanos

Olivais Sul

C F

D E

A malha foi estruturada em função de células habitacionais que incluíram zonas


verdes de protecção, recreio e desporto, equipamento escolar e comercial

FAUTL . MRANU . 2006/07 . Isabel Raposo

Olivais Sul
Fotos Sívia Jorge

FAUTL . MRANU . 2006/07 . Isabel Raposo

42
Professora Isabel Raposo, 6º Mestrado em Reabilitação da Arquitectura e Núcleos Urbanos

Olivais Sul

Fotos Sívia Jorge


FAUTL . MRANU . 2006/07 . Isabel Raposo

Chelas (ver Teresa Heitor (s/d) Olivais e Chelas, operações urbanísticas de grande escala)

Estudos iniciados pelo GTH em 1960


Plano aprovado em 1964 prevendo-se então a sua conclusão em 2000
11.500 fogos / 55.300 hab / 160hab/ha
Objectivo
• Estrutura urbana plurifuncional e socialmente diversificada
• Integração na cidade e articulação com a frente ribeirinha oriental
• Criação de malha coesa com forte imagem urbana
• Operar realojamento por grupos e não por famílias
Modelo
• Estrutura linear: 2 eixos paralelos ao vale central, e eixos secundários que
estruturam 5 zonas habitacionais
• Núcleo principal no centro da malha
• Rejeita-se a visão normalizada da prática funcionalista mas prevalece conceito
racionalista de zonamento
62% zonas habitacionais
14% parque oriental
13% zonas industriais
11% espaços verdes adjacentes e vias principais

Coerência urbana assegurada pela ideia base do plano


Estrutura urbana baseada em estudos pluridisciplinares (sociologia, economia,
geografia, antropologia…)
FAUTL . MRANU . 2006/07 . Isabel Raposo

43
Professora Isabel Raposo, 6º Mestrado em Reabilitação da Arquitectura e Núcleos Urbanos

Chelas (ver Teresa Heitor (s/d) Olivais e Chelas, operações urbanísticas de grande escala)

Buscaram-se visões alternativas aos modelos urbanos e tipologias de habitação


social usados em Portugal
• Opta-se pela construção em altura: mais de 8 pisos
• Diversidade de projectos e tipos de edifícios
• Liberdade de concepção
• Alternativas à tipologia esquerdo/direito:
•Galerias em blocos
•Patamares distribuidores nas torres
• Marcação de elementos verticais de caixas de escadas e elevadores
• Adopção de sistemas de pre-fabricação do tipo “túnel”
• Elaboração de normas técnico-financeiras e exigências funcionais
Atraso das operações Olivais Norte e Sul dão origem
ao atraso no início da operação Chelas e levam a optar por intervenções parcelares.
É reduzido o número de praças, alguns equipamentos previstos são integrados nos
edifícios de habitação e é rectificado o esquema viário.
Só na década 1990 se realizaram as vias principais: viaduto sobre vale de Chelas
ligando ao Areeiro e prolongamento da Av. EUA (obras necessárias para conclusão
do núcleo central)
Atrasos, alterações, não revisão do plano, desadaptação aos novos contextos

FAUTL . MRANU . 2006/07 . Isabel Raposo

Chelas
objectivo: integração na cidade e articulação com a frente ribeirinha oriental

FAUTL . MRANU . 2006/07 . Isabel Raposo

44
Professora Isabel Raposo, 6º Mestrado em Reabilitação da Arquitectura e Núcleos Urbanos

Chelas

Zona N2 Zona I

Zona N1

Zona J

Zona M

FAUTL . MRANU . 2006/07 . Isabel Raposo

Chelas
Fotos Sívia Jorge

O plano previa a articulação entre


as diferentes zonas através de
elementos de continuidade:
percursos pedonais…
integração de espaços verdes…
FAUTL . MRANU . 2006/07 . Isabel Raposo

45
Professora Isabel Raposo, 6º Mestrado em Reabilitação da Arquitectura e Núcleos Urbanos

Chelas

Fotos Sívia Jorge


percursos pedonais…
planos com áreas não exclusivamente habitacionais…
manifestação artística…

FAUTL . MRANU . 2006/07 . Isabel Raposo

Chelas
Fotos Sívia Jorge

polivalência dos espaços …

FAUTL . MRANU . 2006/07 . Isabel Raposo

46
Professora Isabel Raposo, 6º Mestrado em Reabilitação da Arquitectura e Núcleos Urbanos

Chelas

Fotos Sívia Jorge


espaços verdes…
planos com áreas não exclusivamente habitacionais…

FAUTL . MRANU . 2006/07 . Isabel Raposo

Chelas
Fotos Sívia Jorge

actividades e usos diversificados

FAUTL . MRANU . 2006/07 . Isabel Raposo

47
Professora Isabel Raposo, 6º Mestrado em Reabilitação da Arquitectura e Núcleos Urbanos

Chelas

Fotos Sívia Jorge


… linguagem facilmente inteligível

…estrutura diversificada
…manifestação artística
FAUTL . MRANU . 2006/07 . Isabel Raposo …exploração de novas formas

Chelas
Fotos Sívia Jorge

responsabilidade social da Arquitectura

elementos de
continuidade…

FAUTL . MRANU . 2006/07 . Isabel Raposo

48
Professora Isabel Raposo, 6º Mestrado em Reabilitação da Arquitectura e Núcleos Urbanos

Chelas

Fotos Sívia Jorge


“aos arquitectos e urbanistas
cabia explorar novas formas”…

FAUTL . MRANU . 2006/07 . Isabel Raposo

Chelas
Fotos Sívia Jorge

espaços verdes
malha coesa
tecido compacto

FAUTL
UTL . FA
MRANU
. MRANU
. 2006/07
. 2006/07
. Isabel
. Isabel
Raposo
Raposo

49
Professora Isabel Raposo, 6º Mestrado em Reabilitação da Arquitectura e Núcleos Urbanos

Chelas

Alguns problemas
• falta de coordenação institucional
• problemas na execução das infra-estruturas e dos espaços exteriores
• diversidade de soluções técnicas não articuladas
• o resultado final traduz o somatório de diferentes iniciativas formais afastando-
se da proposta global do conjunto urbano (quanto à forma e ao funcionamento)
• fraca coerência da malha com descontinuidade entre as partes
• falta de legibilidade do ambiente urbano
• falta de articulação e descontinuidade com massas edificadas das áreas
envolventes
• os obstáculos naturais e vias rápidas periféricas não foram ultrapassados
• a zona O (núcleo central), que devia agregar as zonas edificadas e articulá-las
com a envolvente, não foi construído
• os espaços deixados livres funcionam como pausas e não como vazios,
comprometendo a unidade do tecido urbano e acentuando a descontinuidade
interna e com exterior

FAUTL . MRANU . 2006/07 . Isabel Raposo

urbanização acelerada

FAUTL . MRANU . 2006/07 . Qualificação de bairros críticos . Isabel Raposo

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Professora Isabel Raposo, 6º Mestrado em Reabilitação da Arquitectura e Núcleos Urbanos

explosão demográfica vertiginosa


Boaventura SOUSA SANTOS (1994), Pela mão de Alice

A população mundial duplica

 entre 1825 e 1925 (100 anos)


passa de 1 para 2 biliões de pessoas
 entre 1925 e 1975 (50 anos)
passa de 2 para 4 biliões de pessoas
 entre 1975 e 2025 (50 anos)
passará de 4 para 8 biliões de pessoas (segundo projecção moderada)
(em 2000 tem cerca de 6 biliões)
A partir de 1970
a média do crescimento anual mundial desacelera, a nível global,
mas continua muito alta nos países periféricos,
onde se concentra a explosão demográfica desde então:

Exemplo:
entre 1965-70 entre 1985-90
crescimento anual global 2,06 1,73
em África 2,63 3,00
na Europa 0,67 0,22
FAUTL . MRANU . 2006/07 . Isabel Raposo

explosão demográfica vertiginosa


Boaventura SOUSA SANTOS (1994), Pela mão de Alice

Teoria de Malthus de final do século XVIII:


o crescimento da população nos países do N põe em causa a sua subsistência
Esta teoria não se verificou porque recursos também aumentaram, por 3 factores:
aumento da produtividade da terra com a revolução agrícola
aumento da produtividade do trabalho com a revolução industrial
emigração maciça de ingleses e outros europeus
para países menos desenvolvidos, sujeitos ao domínio colonial ou pós-colonial
Hoje, nos países periféricos:
• Os 2 primeiros factores não acompanham o aumento exponencial da população,
a explosão demográfica ocorre no Sul,
mas a explosão tecnológica continua a ocorrer no Norte
• A explosão demográfica é problema quando determina desequilíbrio entre
população e recursos: a maioria dos habitantes dos países do Sul não tem
acesso aos elevados padrões de vida e consumo vigentes no Norte.
• A única solução é a emigração
• No actual sistema capitalista,
aumenta a desigualdade entre os países do Norte e do Sul
o empobrecimento geral associa-se à degradação ambiental.
FAUTL . MRANU . 2006/07 . Isabel Raposo

51
Professora Isabel Raposo, 6º Mestrado em Reabilitação da Arquitectura e Núcleos Urbanos

explosão urbana
A cidade cresce e adquire importância crescente com Revolução Industrial.
Torna-se lugar de concentração de população, meios de produção e capital.

Segundo Paul Jairoch (1984, De Jéricho à Mexico):


 século XVIII - 9% da população mundial vive em cidades
 século XIX - 16%
 1930 - 25%
 1980 - quase 40%
 2000 - ronda os 50%

A industrialização é o primeiro acelerador da urbanização, porque:

 acelera a transformação da tecnologia


 acentua a divisão do trabalho
 generaliza o trabalho assalariado e a monetarização
 desenvolve os meios de comunicação
 e, no quadro do liberalismo económico,
favorece a emergência da sociedade de mercado que se estende
a um número crescente de países conduzindo à mundialização da economia.

FAUTL . MRANU . 2006/07 . Isabel Raposo

tipo de sociedades Karl Polanyi, La grande transformation, aux origines politiques


et économiques de notre temps, Paris, Gallimard, 1983 (1ª ed. 1944)

Sociedade pré-moderna
• A posse de bens materiais serve para defender uma posição social
• O objectivo não é a acumulação de capital
• Os mercados são elementos secundários na vida económica

Sociedade de economia de mercado


• Emerge no início do século XIX com revolução industrial e revoluções
burguesas / liberais e estende-se a um número crescente de países
• Supõe a passagem definitiva da economia feudal ou doméstica (África) ao
capitalismo
• Atinge o seu auge com o liberalismo económico que assenta na ideia de
liberdade económica e de interesse individual e considera qualquer intervenção
do Estado nefasta
• O mercado auto-regulador torna-se o factor dominante de regulação da
economia, “toda a produção se destina à venda no mercado”, o lucro comanda
a organização da sociedade
• Resultado: destruição de todas as formas de organização anterior

FAUTL . MRANU . 2006/07 . Isabel Raposo

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Professora Isabel Raposo, 6º Mestrado em Reabilitação da Arquitectura e Núcleos Urbanos

produção do espaço Henri Lefebvre (1970) La production de l’espace

Cada sociedade produz o seu espaço

 Nas sociedades pre-modernas


existe grande diferenciação dos habitats:
adaptação aos modos de vida e sítios

 Nas sociedades de economia de mercado,


assiste-se à transformação acelerada do habitat rural e urbano;
com tendência para homogeneização
e segregação sócio-espacial

FAUTL . MRANU . 2006/07 . Isabel Raposo

espaço urbanizado Henri Lefebvre (1970) e Isabel Raposo (1999)

É produto do social e indicador das práticas urbanas e das relações sociais


• Resulta da interacção entre condicionantes-determinismos-constrangimentos
estruturais (Estado-poderes-instituições-ideologias-instrumentos de
planeamento / mercado / guerra) e as estratégias e capacidade de acção
dos habitantes
É indutor de transformações sociais: o espaço urbanizado participa na
transformação das práticas urbanas e das relações sociais
 Pode ser instrumento de transformações sociais, já que participa na
transformação das práticas urbanas e das relações sociais: no caso de
sociedades com meios para investir fortemente no espaço, pode participar na
constituição da identidade dos grupos sociais.
Exemplos:
1. Melhoria das redes de infra-estruturas e equipamentos colectivos;
2. Planos de ordenamento do território visando contrariar a tendência à instalação
espontânea e dispersa;
3. Actos voluntaristas mais ou menos violentos. Confronto entre as lógicas e
estratégias dos planificadores/planos e as dos agentes económicos e das populações
« planificadas » (suas estratégias de aceitação, adaptação/transformação ou rejeição)
Três casos paradigmáticos: (1) missionários salesianos e índios Bururu, em Tristes trópicos de Levi-
Strauss (1955); (2) realojamento da classe operária de Paris XIII para a periferia em Rénovation urbaine
et changement social de Henri Coing (1966); (3) concentração da população rural/urbanização do campo
nas Aldeias Comunais em Moçambique, em Urbaniser villages et maisons de Isabel Raposo (1999).
FAUTL . MRANU . 2006/07 . Isabel Raposo

53
Professora Isabel Raposo, 6º Mestrado em Reabilitação da Arquitectura e Núcleos Urbanos

explosão urbana
A população mundial tende a concentrar-se em urbes
cada vez mais extensas, congestionadas, onde se amontoam milhões de pessoas
• sem emprego
• sem as condições básicas de habitação,
• sem infra-estruturas e serviços sociais,
• com degradação do equilíbrio ecológico
• e crescimento da violência
11 das vinte maiores cidades (com 11 ou mais milhões de pessoas)
localizar-se-ão em 2025, segundo as melhores projecções, nos países periféricos
• México: 24,4 milhões de pessoas;
• São Paulo: 23,6 milhões de pessoas
O processo de urbanização capitalista
nos países industrializados
• eclode com a Revolução Industrial
• e anda associado ao crescimento das economias nacionais.
na maioria dos países periféricos e especificamente em África,
• acentua-se nas últimas décadas
• e anda associado à degradação das economias dos países do Sul,
• como resultado da aplicação desajustada
- das políticas emanadas dos países desenvolvidos
- e da globalização da economia neo-liberal

FAUTL . MRANU . 2006/07 . Isabel Raposo

explosão urbana: periferias


Nos países centrais e nos países periféricos,
com este processo de urbanização capitalista
que se processa segundo os lugares, em tempos e ritmos distintos,
assiste-se à expansão da cidade:
– com fortes concentrações urbanas
– e extensão dos subúrbios
– aumentam as desigualdades sociais e espaciais,
– aumenta a fragmentação e a diversificação dos assentamentos,
– multiplicam-se as centralidades
– e diferenciam-se as situações de periferia
No contexto do capitalismo neo-liberal dominante
o mercado de trabalho formal (construção civil, obras públicas, comércio e serviços)
requer uma mão-de-obra crescente pouco qualificada e barata, migrante ou imigrante,
que se instala frequentemente nas periferias urbanas,
de menor qualidade urbanística, solo e a habitação de preços mais acessíveis :
– situação laboral precária (alta % de contratos a prazo, sem contrato e desemprego)
– poder de compra limitado,
– acesso à informação limitado
– dificuldade de arrendar ou adquirir habitação no mercado privado, tendo de recorrer ao
mercado paralelo
– constrangidos a instalar-se em antigos ou novos bairros barracas
– ou a contribuir para a expansão da construção clandestina nas franjas da capital

FAUTL . MRANU . 2006/07 . Isabel Raposo

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Professora Isabel Raposo, 6º Mestrado em Reabilitação da Arquitectura e Núcleos Urbanos

urbe extensiva Portas, Domingues e Cabral (2004) Políticas Urbanas

Novas geografias resultantes da explosão urbana


do último meio ou quarto de século, resultado de pressões económicas e sociais.
Três etapas de urbanização:
1. Explosão dos limites da cidade oitocentista/industrial
2. Explosão da metrópole novecentista/terciária, ainda monocêntrica,
3. Fragmentação e diversificação dos assentamentos e das centralidades,
desde a segunda metade de novecentos.
Em Portugal, semi-periférico e com Estado-Previdência incipiente
sobreposição de processos arcaicos e pós-modernos
a 1ª e 2ª urbanização chegam tarde
– bairros sociais, reconversão de bairros de génese ilegal
sobrepondo-se a elas a 3ª urbanização
– auto-estradas, shoppings, parques temáticos, golfes, condomínios,
formando novas centralidades, vias rápidas urbanas,
salvaguarda de centros históricos e reservas ecológicas
Urbanização contemporânea ≠ da cidade patrimonial:
– estrutura compósita de cidade histórica e sem história, com e sem modelo;
– descontinuidade de contornos, de fluxos e espaços públicos,
– diversidade de centralidades, de densidades e morfologias

FAUTL . MRANU . 2006/07 . Isabel Raposo

urbe extensiva Portas, Domingues e Cabral (2004) Políticas Urbanas

FAUTL . MRANU . 2006/07 . Isabel Raposo

55
Professora Isabel Raposo, 6º Mestrado em Reabilitação da Arquitectura e Núcleos Urbanos

urbe extensiva Portas, Domingues e Cabral (2004) Políticas Urbanas

Deverão ser colocadas em alternativa, como o fazem os autores:


• A regeneração e densificação da cidade herdada,
ou seja, a tendência patrimonialista de revitalização dos núcleos antigos,
de ocupação dos lugares vazios, de melhoramento das acessibilidades,
do ambiente e de equipamentos centrais
• E a regeneração das patologias das expansões
condição da própria regeneração dos tecidos consolidados, através dos efeitos
induzidos ou catalizadores?
ou não serão elas as duas faces da mesma moeda?
Para intervir nas expansões ou na cidade herdada, são necessários:
• diagnósticos realistas,
• selecção de prioridades,
• identificação de oportunidades para investimentos requalificadores,
públicos e privados, alguns dos quais (acessibilidade e ambiente)
constituindo candidaturas inter ou supra municipais,
porque atravessam quer as zonas consolidadas quer as expansões recentes.
e são urgentes
• soluções de parceria e de partilha de responsabilidade
entre actores públicos e privados
de forma a reduzir a atomização das intervenções de iniciativa privada
e de racionalizar os custos de infra-estruturas e serviços a cargo dos municípios
• a participação e manifestação dos cidadãos e a relevância da freguesia
FAUTL . MRANU . 2006/07 . Isabel Raposo

urbe extensiva Portas, Domingues e Cabral (2004) Políticas Urbanas

Ou seja, a sustentabilidade do conjunto urbano assenta:


• em políticas mais abrangentes, traçadas com base em cenários objectivos
• na construção de consensos
• em compatibilizar a durabilidade da proposta e o exercício da democracia
• na formação de opiniões públicas esclarecidas
• na construção de estratégias comuns
• no enquadramento e articulação de programas e projectos sectoriais de
instâncias centrais com poderes locais.

Consequências ao nível do planeamento


• Passar da tendência tecnocrática do ordenamento do território ou
planeamento urbanístico
(assente na concentração de poderes, na confiança na capacidade de
previsão, na visão homogeneizada da sociedade)
• a processos de cooperação, de compatibilização, de auscultação e mediação,
de regulação.

FAUTL . MRANU . 2006/07 . Isabel Raposo

56
Professora Isabel Raposo, 6º Mestrado em Reabilitação da Arquitectura e Núcleos Urbanos

Aceleração da urbanização
novas dimensões ou acepções (Isabel Raposo 1999)

Dimensão demográfica
(exodo rural, crescimento populacional)

Dimensão espacial

• expansão/explosão das cidades existentes


(crescimento e concentração urbana,
dimensão dos aglomerados e densidade populacional)

• criação de novas cidades

• transformação das relações cidade-campo


- concentração urbana
- formas mixtas de urbanização meio rurais e meio urbanas
com mutação de formas e de práticas que tendem a densificar a rede urbana:
- zonas peri-urbanas
- e urbanização difusa metropolitana,
estruturada por rede de pequenos e médios centros urbanos

FAUTL . MRANU . 2006/07 . Isabel Raposo

Aceleração da urbanização
novas dimensões ou acepções (Isabel Raposo 1999)

• melhoria das redes de infra-estruturas


e dos equipamentos colectivos, ou seja
– “proliferação do tecido urbano no campo”
ao longo das vias, na periferia de aldeias ou vilas
no sentido de Henri Lefebvre (La révolution urbaine, Gallimard, 1ªed. 1979)
“uma residência secundária, uma auto-estrada, um supermercado em pleno
campo, fazem parte do tecido urbano”, na medida em que constituem
“manifestações do predomínio da cidade sobre o campo”
– urbanização da casa
• eclosão espontânea de casas de emigrantes e de residências secundárias:
• incorporação de sinais de prestígio do vocabulário urbano
considerado ter mais valor que o rural;
• originalidade, inovação, individualidade;
• recurso sistemático a novas formas e novos espaços;
• nova relação da casa com a rua,
• nova organização do espaço doméstico
• e nova apropriação dos elementos de higiene e de conforto
– urbanização turística (exógena, industrial e planificada)

FAUTL . MRANU . 2006/07 . Isabel Raposo

57
Professora Isabel Raposo, 6º Mestrado em Reabilitação da Arquitectura e Núcleos Urbanos

Aceleração da urbanização
novas dimensões ou acepções (Isabel Raposo 1999)

Dimensão socioeconómica
• substituição da produção artesanal pela produção industrial
• mudança dos sectores predominantes de actividade: aumento da percentagem
da população não agrícola (industrial ou dos serviços); mais recentemente
aumento do terciário em detrimento do secundário;
• extensão do trabalho assalariado e da monetarização
• aumento da produtividade
• aumento da divisão do trabalho, especialização profissional, racionalização
económica e mecanização agrícola;
• complementaridade das actividades não agrícolas e agrícola (produção para
autoconsumo); incessante vai e vem entre urbano e rural
• com a disseminação das pequenas e média empresas agrícolas, industriais, de
serviços ou turísticas (resultado das novas tecnologias e da crise do modelo
fordista), aumenta a pluriactividade e o trabalho por conta própria
• redes relacionais mais complexas, profissionais e económicas que tendem a
substituir as sociabilidades de interconhecimento; maior interdependência
• maior mobilidade profissional, geográfica e social
• aumento da racionalidade económica ou mercantil, da procura do proveito
individual, do espírito competitivo, do profissionalismo

FAUTL . MRANU . 2006/07 . Isabel Raposo

Aceleração da urbanização
novas dimensões ou acepções (Isabel Raposo 1999)

Dimensão socio-cultural

• Com a extensão da economia de mercado expande-se um modo de vida novo:


uniforme, homogéneo e universal
• Com a maior divisão do trabalho constituem-se
novos grupos socio-profissionais e acentua-se a diferenciação social;
esta agudiza-se com a liberalização da economia
• Estabelecem-se novas relações sociais e surgem novos conflitos
• A autonomia do indivíduo ao nível da família e do grupo tende a coabitar
ou a substituir a entreajuda e a solidariedade familiar e de vizinhança
• Mudam as práticas de consumo, aumentam os níveis de consumo
e o tempo de lazer
• Mudam os modelos de referência e as práticas socio-espaciais
• É o modo de vida urbano
que tende a tornar-se dominante à escala mundial

FAUTL . MRANU . 2006/07 . Isabel Raposo

58
Professora Isabel Raposo, 6º Mestrado em Reabilitação da Arquitectura e Núcleos Urbanos

Aceleração da urbanização
novas dimensões ou acepções (Isabel Raposo 1999)

Dimensão socio-cultural (cont)

• O modelo cultural urbano é veiculado


através do trabalho, da migração para a cidade, da escola, da comunicação
interpessoal, pelos media, pela publicidade, pelo turismo, pelo mercado

• Manifesta-se ao nível
da alimentação, do vestuário, da habitação,...

• Os valores, lógicas, práticas urbanas e mercantis


combinam-se, justapõem-se, sobrepõem-se, ou absorvem,
os valores, normas, lógicas, práticas rurais,
transformando atitudes e comportamentos,
desestruturando ou reestruturando
a organização política, socioeconómica, cultural, habitacional e territorial
das populações em processo de urbanização

FAUTL . MRANU . 2006/07 . Isabel Raposo

problemas urbanos actuais


do esvaziamento dos centros à desqualificação das periferias
FAUTL . MRANU . 2006/07 . Qualificação de bairros críticos . Isabel Raposo

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Professora Isabel Raposo, 6º Mestrado em Reabilitação da Arquitectura e Núcleos Urbanos

centros antigos

Loulé in Raposo et al 2007


envelhecimento da população, degradação do edificado, abandono, ruínas

estacionamento, novos usos, novos materiais, elementos apostos,…

…bairros críticos?

FAUTL . MRANU . 2006/07 . Isabel Raposo .

periferias

FAUTL . MRANU . 2006/07 . Isabel Raposo

60
Professora Isabel Raposo, 6º Mestrado em Reabilitação da Arquitectura e Núcleos Urbanos

subúrbio

Lá não figura no mapa
No avesso da montanha,
é labirinto
É contra-senha,
é cara à tapa

Casas sem cor
Ruas de pó, cidade
Que não se pinta
Que é sem vaidade
……
Lá não tem moças douradas

FAUTL . MRANU . 2006/07 . Isabel Raposo


Não tem turistas
Não sai foto nas revistas
Lá tem Jesus
E está de costas

Dança teu funk, o rock,
Forrói, pagode, reggae
Teu hip-hop
Fala na língua do rap

subúrbio
subúrbio…

FAUTL . MRANU . 2006/07 . Isabel Raposo

61
Professora Isabel Raposo, 6º Mestrado em Reabilitação da Arquitectura e Núcleos Urbanos

belas clube de campo

FAUTL . MRANU . 2006/07 . Isabel Raposo

bairros degradados

“Não tenho condições nenhumas.


É uma miséria, mas não arranjo nada
porque eles querem deitar isto abaixo”
azinhaga dos besouros

FAUTL . MRANU . 2006/07 . Isabel Raposo

62
Professora Isabel Raposo, 6º Mestrado em Reabilitação da Arquitectura e Núcleos Urbanos

clandestinos

cova da moura

FAUTL . MRANU . 2006/07 . Isabel Raposo

clandestinos e PERs no Vale da Ameixoeira

FAUTL . MRANU . 2006/07 . Isabel Raposo

63
Professora Isabel Raposo, 6º Mestrado em Reabilitação da Arquitectura e Núcleos Urbanos

2001

2 500 000 habitantes na AML


cerca de 800 000
vivem em zonas sem condições de vida e de urbanidade
FAUTL . MRANU . 2006/07 . Isabel Raposo

periferias
Pontos de vista de NEUTELINGS, Willem, Patchwork city, Roterdão, 010 Publishers, 1992:

Neutelings enaltece a cidade moderna feita à medida por cada indivíduo


contra os “urbanistas-desejosos-de-ordem”…

Constituirá o caos das periferias a maior riqueza das nossas cidades?


A sua complexidade fragmentada constituirá o potencial para uma futura
qualidade?

“Expandir a cidade está fora de questão”


O que se pretende é a reestruturação globalizadora dos seus fragmentos:
a manta de retalhos não é um modelo
mas um cenário de transformações,
um campo em permanente evolução e reajuste
onde importam sobretudo as linhas de conexão e as paisagens de relação.
Como criar um novo equilíbrio que valorize o patchwork
como um todo global interconectado”.

FAUTL . MRANU . 2006/07 . Isabel Raposo

64
Professora Isabel Raposo, 6º Mestrado em Reabilitação da Arquitectura e Núcleos Urbanos

PNPOT - Programa Nacional


da Política de Ordenamento do Território
(em discussão)

O PNPOT sistematiza 24 problemas para o ordenamento do território


(Programa de Acções 2006: 3), destacando-se os pontos 5, 7, 8, respeitantes ao
desenvolvimento urbano que alertam para:
• a “expansão desordenada das áreas metropolitanas e de outras áreas
urbanas, invadindo e fragmentando os espaços abertos[…]”;
• a “degradação da qualidade de muitas áreas residenciais, sobretudo nas
periferias […] agravando as disparidades sociais intra-urbanas”;
• a “insuficiência das políticas públicas e da cultura cívica no acolhimento e
integração dos imigrantes, acentuando a segregação espacial nas áreas
urbanas”.

Opções para o desenvolvimento do território na AML (Relatório 2006:


97):
• “qualificar os subúrbios, contrariar a segregação espacial urbana e
promover a inserção urbana das áreas críticas;
• […] recuperar as áreas de habitação degradada, com intervenções
qualificantes sobre os edifícios, os espaços públicos e os equipamentos”

FAUTL . MRANU . 2006/07 . Isabel Raposo

fim

65

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