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Verso e Reverso, XXVI(63):152-159, setembro-dezembro 2012

© 2012 by Unisinos – doi: 10.4013/ver.2012.26.63.05


ISSN 1806-6925

A Escola de Frankfurt e seu legado

Frankfurt School and Its Legacy

Janine Regina Mogendorff


Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Rua Ramiro Barcelos, 2705, Campus Saúde, 90.035-007, Porto Alegre, RS, Brasil
janinemogen@gmail.com

Resumo. A Escola de Frankfurt foi o embrião de um Abstract. Frankfurt School was the embryo of a
grupo de teóricos europeus que se dedicou a ela- group of European theorists who dedicated them-
borar uma teoria crítica sobre a sociedade. A partir selves to develop a critical theory of society. Walter
da produção intelectual de Walter Benjamin e The- Benjamin’s and Theodor Adorno’s intellectual work
odor Adorno, tendo a revisão bibliográfica como were the basis to verify the legacy of the Frankfurt
método, buscamos verificar o legado da Escola de School nowadays in the beginning of the XXI cen-
Frankfurt à luz do século XXI e compreender como tury. This paper also intends to understand how
os conceitos de indústria cultural e teoria crítica po- the concepts of cultural industry and the critical
dem ser lidos a partir do confronto de ideias com theory can be read from the confrontation of ideas
alguns de seus críticos. of some of their critics, using the literature review
as a method.

Palavras-chave: Escola de Frankfurt, indústria cul- Key words: Frankfurt School, culture industry, crit-
tural, teoria crítica, sociedade de consumo. ical theory, consumer society.

A massa sempre é semelhante a uma fortaleza sitiada, mas sitiada de maneira dupla: ela tem um inimigo no
seu próprio porão. Durante a luta, ela atrai partidários em números cada vez maiores. Diante de todos os
portões reúnem-se seus novos amigos que pedem passagem com golpes decididos e impetuosos. Em momentos
favoráveis, esta petição costuma ser aceita; mas também existem os que preferem escalar as muralhas. A cidade
fica cada vez mais e mais repleta de lutadores; mas cada um deles traz consigo o seu próprio pequeno e invisível
traidor, que se esconde rapidamente dentro de algum porão.

Elias Canetti

Introdução Horkheimer (1895-1973), Erich Fromm (1900-


1980) e Herbert Marcuse (1898-1979). Além
Em 1923, uma autorização ministerial dava deles, outros intelectuais viram suas obras
início à construção do edifício que abrigaria serem ligadas posteriormente à Escola de
um instituto de ciências sociais vinculado à Frankfurt, como Walter Benjamin (1892-1940)
Universidade de Frankfurt, o Instituto de Pes- e Siegfried Kracauer (1889-1966). O projeto
quisas Sociais (Institut für Sozialforschung). teórico inicial de cunho fortemente marxista
O Instituto seria o ponto de convergência de deu lugar a um projeto filosófico e político
um grupo de pensadores nascidos na virada único, ao propor uma teoria crítica que fosse
do século XIX para o XX, basilarmente forma- capaz de apreender a sociedade do início do
do por Theodor W. Adorno (1903-1969), Max século XX (Rüdiger, 2001).
A Escola de Frankfurt e seu legado

No presente artigo, pretendemos recuperar que orientaria o Instituto para “pesquisas so-
as ideias de alguns dos principais pensadores bre a história do socialismo e do movimento
da Escola de Frankfurt, que se articularam operário, sobre a história econômica, sobre a
para tentar compreender um mundo que mal história e a crítica da economia política” (Wi-
superara uma guerra de proporções mundiais ggershaus, 2002, p. 61). Segundo o autor, ain-
e já estava sofrendo as consequências de outra, da, Grünberg tivera um papel importante no
se deparava com a multiplicação dos meios de sentido de abrir as portas para o ensino do
comunicação e o fim da autonomia entre cul- marxismo e do movimento operário em nível
tura e economia (Rüdiger, 1999). Por meio de de estudos universitários. Inusitado era para
pesquisa bibliográfica como método, este arti- o momento que um instituto ligado a uma
go tem como objetivo também analisar como a universidade trabalhasse com uma maioria de
Escola de Frankfurt, em sua crítica à indústria colaboradores e doutorandos engajadamente
cultural, pode ser estendida para o século XXI. comunistas.
A problematização se dará em perceber como Quando Grünberg precisou se afastar do
as contradições sociais e o próprio homem são Instituto em razão de problemas de saúde,
mediados pela indústria cultural. Em função Max Horkheimer acabou sendo alçado à dire-
da ampla gama de autores reunidos sob a de- ção em 1931. Politicamente não comprometi-
nominação de teóricos de Frankfurt, vamos do, tendo publicado pouco até o momento e
nos deter mais especificamente na obra de dois trabalhando como assistente de filosofia na
deles, Theodor Adorno e Walter Benjamin. Universidade, Horkheimer assumiu, num pri-
meiro momento, dando continuidade ao traba-
Os anos iniciais lho anterior sobre o estudo da teoria marxista.
da Escola de Frankfurt As modificações foram graduais. Em 1932,
Horkheimer substitui a revista de Grünberg,
Felix Weil (1898-1975) nasceu na Argentina, “Archiv für die Geschichte des Sozialismus
país para onde seu pai imigrara e construíra und der Arbeiterbewegung”, pela “Zeitschrift
um negócio de grande destaque de comércio für Sozialforschung”, a qual passa a dar aber-
de cereais. Em 1908, toda a família retornou tura para a discussão de temas da atualidade
para Frankfurt. Depois da Primeira Guerra, e a ampliar sua gama de colaboradores, in-
Felix se dedicou com afinco aos estudos das corporando a seu quadro nomes como o de
teorias socialistas. O encontro com Kurt Albert Theodor Wiesengrund-Adorno. E essa aber-
Gerlach, então recém-admitido como profes- tura também se refletiu em um deslocamento
sor de ciências econômicas da Universidade e alargamento das perspectivas teóricas. No
de Frankfurt, era o impulso que faltava para a mesmo ano de 1932, Herbert Marcuse passou
criação do Instituto. a fazer parte do Instituto.
Algumas razões podem ser consideradas Em 1933, quando Hitler foi nomeado chan-
como as causas que, em confluência, possibi- celer, a casa de Horkheimer foi invadida, mas
litaram a criação do Instituto (Wiggershaus, ele já estava morando com sua mulher num
2002): hotel. Em julho do mesmo ano, o Instituto foi
• aporte financeiro do pai de Felix Weil, fechado, e posto à disposição do Estado por
que almejava um título de doutor honoris ter mantido “atividades hostis” (Wiggershaus,
causa; 2002, p. 158). A sede do Instituto foi então
• uma cidade (Frankfurt am Main) conhe- transferida para Genebra, onde se constituiu a
cida pelo mecenato, que abrigava uma Société Internationale de Recherches Sociales.
universidade com uma faculdade de eco- Nesse momento de incertezas, a revista do Ins-
nomia e ciências sociais e cuja população tituto passou a ser impressa em Paris.
tinha altos índices de identificação com Em 1934, Horkheimer, após uma viagem
as teorias socialistas e comunistas; de “reconhecimento” para os Estados Unidos,
• um Ministério da Educação e Cultura in- transferiu o Instituto para Nova York. Pouco
teressado em impulsionar uma reforma a pouco a ele se juntaram Marcuse, Löwen-
universitária. thal, Pollock e Wittfogel (Adorno só imigra-
ria em 1938). O quadro fixo de colaboradores
Com a morte precoce de Gerlach, outros do Instituto – agora conhecido como Inter-
três nomes despontaram em torno do Institu- national Institute of Social Research – estava
to: Friedrich Pollock, Max Horkheimer e Carl novamente reunido. No mesmo ano, Walter
Grünberg, que viria a ser o primeiro diretor e Benjamin – que conhecia Adorno desde 1923

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–, colaborador regular da “Zeitschrift für So- tinha como base a crítica da economia
zialforschung” até 1940, passava o verão na política marxista, aliando teoria filosófica
Dinamarca, na casa de Bertolt Brecht, onde re- à prática científica e seguindo uma jun-
tomava seu trabalho sobre as passagens (“Pas- ção “entre pesquisa social, análise crítica
sagenwerk”). e ação revolucionária”.
• Segundo período (1940-1951): a proble-
A teoria crítica da sociedade mática passa a ser vista sob a ótica de
e a indústria cultural uma “crítica da razão moderna”.
• Terceiro período: ocorre a retomada do
A teoria crítica se desenvolveu em gran- projeto inicial de uma “ciência social crí-
de parte em torno do Instituto. Como afirma tica”.
Wiggershaus (2002, p. 97), “desde o ensaio de
Horkheimer ‘Traditionelle und kritische The- Em 1944, quando Horkheimer e Adorno lan-
orie’(1937), a expressão ‘teoria crítica’ tornou- çaram num volume mimeografado “Dialética
se a designação preferida dos teóricos [...]. Era do iluminismo” (“Dialektik der Aufklärung”,
também uma espécie de camuflagem para a traduzido também como “do esclarecimento ou
teoria marxista.”. Não apenas em Marx a Esco- das luzes”)1, texto no qual aparece o conceito de
la de Frankfurt estabeleceu seus alicerces, mas indústria cultural, estavam mais próximos do
sua filosofia era também herdeira de Freud e terceiro período, de uma ciência social crítica,
Nietzsche, pensadores que mudaram a manei- embora estivessem circunscritos à crítica à ra-
ra de ver a sociedade e refletir sobre o homem zão moderna. No contexto da época, a Segunda
e sobre a cultura. E é justamente sob a direção Guerra Mundial só teria fim no ano seguinte,
de Horkheimer que o Instituto alcançou visibi- a figura do Estado liberal estava aniquilada e
lidade como instituição de pesquisa e voz crí- uma série de grupos econômicos em formação
tica ao desenvolvimento da indústria cultural. viam com interesse o crescente mercado de
A designação “Escola de Frankfurt” foi bens de consumo. O advento e a popularização
dada a posteriori, na década de 1960 e, de acor- do cinema e do rádio formaram rapidamente
do com Wiggershaus (2002), não é possível um mercado de massa para esses bens. No pre-
dividi-la em fases, uma vez que as constantes fácio do texto, os autores afirmavam claramen-
transformações da “teoria” mostram um des- te seu objetivo “Saber por que a humanidade
locamento progressivo de tendências. Todos mergulha num novo tipo de barbárie em vez de
os seus pensadores eram intelectuais múlti- chegar a um estado autenticamente humano”
plos, ligados a diversas áreas do saber como (in Wiggershaus, 2002, p. 357).
filosofia, sociologia, literatura e artes, mas não No decorrer do texto, os autores se detêm
à comunicação. De acordo com Rüdiger (in nas ambiguidades desse esclarecimento:
França et al., 2001, p. 132)
Desde que o Aufklärung existe no sentido mais
amplo, o de um pensamento em ação, ele procu-
os frankfurtianos trataram de um leque de as-
ra libertar os homens do medo e fazer deles seus
suntos que compreendia desde os processos ci-
senhores. Mas a terra que passou dominada com-
vilizadores modernos e o destino do ser humano
pletamente pelo Aufklärung brilha sob o signo da
na era da técnica até a política, a arte, a música,
catástrofe completa. (Wiggershaus, 2002, p. 358).
a literatura e a vida cotidiana. Dentro desses te-
mas e de forma original é que vieram a descobrir
a crescente importância dos fenômenos de mídia Segundo Horkheimer e Adorno, o Auf-
e da cultura de mercado na formação do modo de klärung, a partir do momento que levaria à ca-
vida contemporâneo. tástrofe e à dominação do mítico, entraria num
ciclo de autodestruição. Para os autores, a in-
Ainda segundo o autor (1999), a teoria críti- dústria cultural serviria como um escape para
ca pode ser dividida em três momentos: a civilização, que seguia o caminho “da obedi-
• Primeiro período (anos iniciais): materia- ência e do trabalho, sobre o qual a satisfação
lismo interdisciplinar, focado na pesqui- dos desejos brilha perpetuamente como pura
sa embasada por uma teoria social que aparência, beleza despojada de seu poder”

1
Neste artigo, utilizam-se dois títulos diferentes para fazer referência ao mesmo livro, uma vez que cada tradução fez sua
opção conceitual: a Dialética do iluminismo tem forte ligação com o pensamento francês. Já a Dialética do esclarecimento
se aproxima do movimento alemão.

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(in Wiggershaus, 2002, p. 366). O progresso da da sétima arte, que com sua crítica da cultu-
razão ao mesmo tempo em que tira o homem ra tendo como base os fenômenos da própria
da barbárie é responsável por sua perpetua- sociedade, influenciou fortemente Adorno e
ção. Assim, segundo Rüdiger (1999), os pensa- Benjamin, de quem trataremos agora.
dores da Escola de Frankfurt acreditavam que
a ideia de avanço não pode estar dissociada do A atualidade da Escola de Frankfurt
aparecimento de novas sujeições. A indústria
cultural seria fruto desse momento da passa- Em 7 de maio de 1931, Adorno intitulou a
gem do século XIX para o XX, marcada pela aula inaugural na Faculdade de Filosofia da
mudança nas estruturas socioeconômicas, que Universidade de Frankfurt de “A atualidade
dariam origem a um processo de massificação da filosofia”. Para Adorno, assim como para
a partir da cada vez maior imiscuição das rela- Benjamin, “a atualidade tinha a ver com a ca-
ções mercantis na vida social e no processo de pacidade de uma ideia ir ao encontro de seu
construção social de sentidos. presente de modo a possibilitar uma mudan-
É interessante atentar para a terminologia, ça” (Seligmann-Silva, 2010, p. 11). Para voltar
pois a expressão “indústria cultural” por vezes ao passado e realizar esse exercício de atuali-
pode se confundir com as indústrias produto- zação, é necessário realizar primordialmente
ras ou mesmo com as técnicas utilizadas para um exercício de memória, tendo como ponto
difundir esses bens. A indústria cultural se re- de partida, contudo, o presente. Ainda segun-
fere sim ao processo social de transformação da do o autor,
cultura em bem de consumo tendo como plano
de fundo uma sociedade imersa no capitalismo o ‘atualizador’ não teme cortar e recortar o fato
avançado. Segundo Rüdiger (1999), a termino- cultural que ele estuda. Trata-se de um modo di-
logia foi escolhida pelos frankfurtianos para se verso do que normalmente se pratica no âmbito
diferenciar da expressão “cultura de massa”, acadêmico, pois a escrita voltada para a atuali-
que talvez desse uma falsa impressão de que zação está mergulhada na atualidade e não pode
seria uma cultura que imana do povo. ser simples encômio e comemoração. (Seligmann-
Silva, 2010, p. 11)
Para os frankfurtianos, a cultura de mer-
cado fez com que a subjetividade passe a se
identificar com a posse dos bens; consequen- Quando os teóricos da Escola de Frankfurt2
temente, a satisfação das necessidades passa propuseram-se encetar uma produção inte-
a estar muito mais relacionada com o ato da lectual que desse conta de uma teoria crítica
compra, uma vez que é o mercado que vai da sociedade, eles estavam muito voltados a
apontar quais são esses valores culturais que uma atualidade. Mas isso poderia parecer uma
precisam ser “adquiridos”. aparente contradição, uma vez que ao falar de
Os pensadores da Escola de Frankfurt não certa realidade histórico-temporal parece-se
pretenderam analisar os fenômenos da co- circunscrever essa discussão a um só tempo
municação de maneira isolada. A indústria e espaço. Entretanto, ao observar o seu tempo
cultural, portanto faz parte de uma teoria crí- de maneira particular, especialmente Benja-
tica da sociedade mais abrangente, e a trans- min, transcendeu essa barreira.
formação da cultura em mercadoria precisa
ser compreendida dentro de um contexto que Walter Benjamin
contemple as relações que as pessoas travam
entre si dentro do sistema capitalista e levando Hannah Arendt foi uma das primeiras in-
em conta a resistência a esse próprio sistema: telectuais a reconhecer seu legado. Benjamin
“o comportamento consumista, a procura de seguia a concepção kantiana de crítica como
diversão, os lazeres industriais e outros hábi- um meio de reflexão, tanto estético como po-
tos são ambíguos porque, embora dependam lítico. “O ato da crítica era visto por ele como
da ratio burocrática e mercantil, também po- um meio de crítica de todo o sistema cultural
dem ser considerados como uma forma de e de sua base econômica” (Seligmann-Silva,
resistência” (Rüdiger, 1999, p. 49). Entre as 2010, p. 48). Ainda segundo o autor, a crítica
muitas influências dos pensadores da Escola benjaminiana se refletia em cinco atos: autor-
de Frankfurt, podemos citar Kracauer, teórico reflexão; reflexão sobre a obra em questão;

2
Não cabe ao espaço deste artigo discutir a filiação de Walter Benjamin à Escola de Frankfurt. Acreditamos sim que, por sua vasta
e ampla crítica sobre a sociedade (nos campos da literatura, comunicação, sociologia etc.), ele possa ser classificado como tal.

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reflexão sobre a história da arte e da literatura; (2010) mostra que Adorno, ao estudar as ar-
reflexão crítica sobre a sociedade e teoria da tes, via uma antiestética nascida da dissolução
história. Para o autor, a reflexão nunca estava da estética. Na “Dialética do esclarecimento”,
isolada, estava sempre acompanhada de uma Adorno e Horkheimer afirmam que a indús-
observação histórica e crítica. Benjamin passou tria cultural acabou com a tragédia, uma vez
a encarar a cultura como um documento, que que ela aniquilou esse indivíduo, aniquilou as
poderia ser lido como um “testemunho da bar- diferenças, reduzindo tudo a uma massa.
bárie” (Seligmann-Silva, 2010, p. 51). Adorno travou diversas polêmicas com Ben-
Para Seligmann-Silva, a atualidade de Ben- jamin; uma delas se refere à tese benjaminiana
jamin só aumenta no decorrer dos anos, e isso desenvolvida em “A obra de arte na era de sua
se deve a uma grande característica de seus reprodutibilidade técnica”. Para Adorno, é uma
escritos: a centralidade da ética na sua obra, falácia afirmar que os meios de comunicação
ética essa que perpassa o olhar do intelectual promoveriam uma democratização da cultu-
quando ele faz crítica literária ou em seu tra- ra, uma vez que esses meios estão a serviço da
balho de historiador. Como em sua obra “Pas- própria indústria cultural (Rüdiger, 2001), que
sagens” (1927-1940), na qual discute a história transforma a produção estética em produção
como um grande arquivo, raciocínio que serve mercantilizada. A cultura de mercado seria
para observar a sociedade atual, pois como nada mais do que uma forma de controle social.
afirma Derrida (in Seligmann-Silva, 2010, p. De acordo com Adorno, “as referidas técni-
66), sociedade tal que sofre de um “mal de cas precisam ser entendidas históriaca e social-
arquivo”. Em “A obra de arte na era de sua mente, situando-as na totalidade históriaca na
reprodutibilidade técnica”, ensaio publicado qual está entrelaçado seu desenvolvimento”
pela primeira vez em 1936 na “Zeitschrift für (Rüdiger, 1999, p. 80). O filósofo alemão enten-
Sozialforschung”, Benjamin já dizia que “O de que, além da falsa ideia de democratização
que faz com que uma coisa seja autêntica é da cultura, a reflexão crítica não pode se base-
tudo o que ela contém de originalmente trans- ar em uma visão de um futuro melhor advin-
missível, desde sua duração material até seu do dos progressos técnicos. Para o autor, essa
poder de testemunho histórico.” (Benjamin, atitude positiva frente à técnica é insuficiente,
2002, p. 225). A multiplicidade da obra benja- pois o fenômeno precisaria ser avaliado, em
miniana não se esgotou em seu tempo nem no um primeiro momento, não de maneira abs-
nosso, uma vez que a cada nova leitura a força trata, mas sim intrinsecamente aos aspectos
do seu pensamento se renova. sociais a que ele se circunscreve.
Contudo, Rüdiger (1999) chama a atenção
Theodor Adorno para algo que é essencial sublinhar: tanto para
Adorno como para Horkheimer, o progresso
A partir do momento em que Adorno afir- da técnica em si não era a causa da crise na
ma que “Para quem não tem mais pátria, é bem cultura, mas sim seu movimento na economia,
possível que o escrever se torne sua morada” que impulsionava a indústria cultural. E, mais
(in Seligmann-Silva, 2010, p. 85), ele estava se do que isso, a questão não reside no fato de
referindo a dois de seus fundamentais traba- ser a favor ou contra, tanto da cultura como
lhos, produzidos no exílio norte-americano: da técnica. Adorno e Horkheimer defendiam
“Dialética do esclarecimento” e “Minima mo- a discussão dialética como modo mais eficaz
ralia”. Na sua produção, a crítica do conheci- de lançar uma luz sobre essas questões. O pen-
mento, estética e da sociedade tiveram um pa- samento crítico, para ambos, não poderia ser-
pel basilar, uma vez que, para o autor, “crítica vir como um consolo. Pelo contrário, deveria
da sociedade é crítica do conhecimento, e vice- proceder a uma análise contundente das con-
versa” (in Seligmann-Silva, 2010, p. 86). Ador- sequências para a arte e para a comunicação
no sempre trabalhou com “campos de força”, de uma sociedade de limites tão frágeis entre
rejeitando a ideia de conceitos encerrados em as relações sociais e as mercadorias.
si mesmo e de pensamento em blocos, termo Adorno via a modernidade como um sem-
que utiliza na “Dialética do esclarecimento” fim “de contradições que devem ser supera-
para falar sobre o homem fruto da sociedade das, mas isso não quer dizer sua abolição, na
capitalista, que seria em suma contrário à dife- medida em que, no seu modo de ver, o con-
rença. Assim como Benjamin – que acreditava ceito de cultura deve ser conservado critica-
que qualquer documento da cultura continha mente” (Rüdiger, 1999, p. 91). Propunha, em
um documento da barbárie –, Seligmann-Silva suma, um olhar crítico sobre os fenômenos da

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A Escola de Frankfurt e seu legado

indústria cultural. Entretanto, diversos auto- bloquear o discurso e mostra uma recusa em
res ainda no século XX e atualmente no século aceitar a própria história e a perspectiva de
XXI construíram críticas, por vezes bem ácidas que a humanidade saiba se colocar frente a ela.
e descontextualizadas, à Escola de Frankfurt – Segundo Eco, pode-se afirmar que a indústria
e à obra de Adorno em especial – por diversas cultural remonta ao invento de Gutenberg e à
razões, entre elas, seu suposto radicalismo, e é utilização dos tipos móveis para imprimir as
a elas que vamos nos dedicar no próximo item. primeiras cópias dos livros.
O autor classifica as formulações da Esco-
As vozes críticas la como “pseudomarxistas” e critica a posição
dos frankfurtianos de não procederem a um
As vozes insurgentes contra a Escola de estudo concreto dos produtos, assim como de
Frankfurt não são poucas. A mais famosa seu consumo, e de trabalharem com conceitos
delas talvez seja a de Umberto Eco. Em 1964 difusos e imprecisos de cultura de massa, so-
(posteriormente seria publicada uma edição bre o qual não se sabe exatamente o que signi-
revista em 1977), o intelectual italiano lançou fica cultura e o que se chama indistintamente
“Apocalípticos e integrados”, sobre o qual fa- de massa, fazendo-se preciso reelaborar essa
laremos a seguir. Quando, em 1969, Adorno noção do homem de cultura, perdido em meio
afirma que “tiveram de se passar trinta anos à crítica apocalíptica à indústria cultural.
para que a teoria crítica da indústria cultural Em meio à discussão sobre os apocalípti-
se afirmasse; [e] ainda hoje numerosas instân- cos, Eco levanta a contradição da cultura de
cias e agências tentam sufocá-la, por prejudi- massas, uma vez que a comunicação massiva
car os negócios” (in Rüdiger, 1999, p. 7), não propõe às massas um consumo de modelos
imaginava que mais de trinta anos depois de culturais da burguesia, pondo em xeque tan-
proferir essa constatação a teoria crítica da in- to a mensagem massificante como o homem-
dústria cultural continuaria sendo posta em massa. Dessa maneira, como a própria cultura
xeque. Rüdiger (1999, p. 7) vai além, afirman- de massa, afirma o autor, as generalizações
do que “a crítica à indústria da cultura parece contradiriam as premissas.
ter sido jogada às traças pela maior parte dos Assim como Rüdiger (1999) apontou an-
praticantes dos estudos culturais e pesquisa- teriormente quais era as principais críticas à
dores da comunicação”. Entre as diversas acu- Escola de Frankfurt, Eco (1979, p. 44) arrola a
sações, o anacronismo e a posição elitista de seguir algumas proposições sobre a “verda-
seus teóricos, a defesa da cultura erudita e a deira” cultura de massa:
rejeição da cultura de massa são algumas das • a cultura de massa não nasce necessaria-
mais recorrentes. mente de um regime capitalista, mas de
Retornando a Umberto Eco, em seu já cita- um regime industrial; entre seus defeitos
do livro ele classifica os frankfurtianos como constam “o conservatismo estético, o ni-
“apocalípticos”, adjetivo usado largamente na velamento do gosto pela média, a recusa
crítica à Escola de Frankfurt (os integrados do das propostas estilísticas que não corres-
título seriam os funcionalistas). Segundo o au- pondem ao que o público já espera”;
tor, os apocalípticos seriam responsáveis por • a cultura de massa preencheu uma lacu-
esboçar teorias sobre a decadência, enquanto na junto àqueles que não tinham acesso
aos integrados, pela falta de teorização, só lhes aos bens culturais;
restaria produzir e afirma: “O Apocalipse é • o acúmulo de informação trazido pelos
uma obsessão do dissenter, a integração é a rea- mass media pode sim gerar um ganho
lidade concreta dos que não dissentem [grifo do qualitativo;
autor]” (Eco, 1979, p. 9). Para o teórico, caberia • as formas de entretenimento ditas “me-
aos apocalípticos o papel de consolar o leitor, nores” (como histórias em quadrinhos
já que, em meio à catástrofe, se elevariam os eróticas, lutas etc.) não deveriam ser con-
“super-homens”, ou seja, aqueles acima da siderados como uma forma de decadên-
média, que olhariam para o mundo com des- cia de costumes;
confiança. Para Eco (1979), essa atitude seria • uma homogeneização do gosto serviria
um convite à passividade. para “unificar as sensibilidades nacio-
Os apocalípticos seriam responsáveis tam- nais”;
bém por difundir conceitos-fetiche, como o da • a difusão de obras integrais a preços bai-
indústria cultural, por exemplo. Segundo o xos e em grandes tiragens é uma ação vá-
autor, o conceito-fetiche tem a capacidade de lida para a cultura;

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• a repetição à exaustão de certos bens cul- blemática cultural para o campo da filosofia,
turais afetam a recepção dos mesmos, bem como transformá-lo num ponto de parti-
tornando-se, de tão batidos, quase que da para os teóricos de esquerda refletirem so-
slogans; bre as contradições sociais.
• os mass media têm um poder de mobiliza- Barbero aproxima a Escola de Frankfurt da
ção das massas frente ao mundo, provo- reflexão crítica latino-americana para encetar
cando certas subversões culturais; um debate com ela e mostrar as diferenças de
• por fim, os mass media não são em si con- realidade sociocultural. Para o autor, Benjamin
servadores, já que introduzem uma reno- – como voz dissidente da Escola de Frankfurt
vação estilística. – foi também a voz mais lúcida, principalmen-
te por mostrar “algumas chaves para pensar o
Para Eco, acima de tudo, os fenômenos não pensado: o popular na cultura não como
culturais de massa são fruto de um contexto sua negação, mas como experiência e produ-
industrial, sofrendo, as consequências dessa ção”. (Barbero, 2003, p. 76).
condição. Para o autor, o erro dos apocalípti- O autor acredita que a conceituação da in-
cos reside em “pensar que a cultura de massa dústria cultural é resultado de uma cuidadosa
seja radicalmente má, justamente por ser um reflexão, e não de definições rápidas e rastei-
fato industrial, e que hoje se possa ministrar ras. Comenta, ainda que uma das maiores con-
uma cultura subtraída ao condicionamento in- tribuições da obra de Horkheimer e Adorno é
dustrial” (Eco, 1979, p. 49). a noção de “unidade do sistema”, afirmação
O problema estaria em pensar na cultura essa polêmica, principalmente pela ideia ge-
de massa como algo essencialmente bom ou neralizante que carrega, assim como afirmava
mau. Para Eco, o verdadeiro problema reside Eco (1979), e pelo que Barbero (2003) chama de
em aceitar que se vive em uma sociedade in- “pessimismo cultural”.
dustrial na qual os meios de massa são uma Adorno, segundo Barbero (2003, p. 80), se
realidade. A partir de tal premissa, o teórico coloca numa posição tal que muitas vezes o
questiona qual seria então o modo pelo qual leitor não sabe de que lado o crítico se encon-
os mass media poderiam servir para transmitir tra. “Que sentido tem tudo o que foi afirmado
valores culturais. sobre a lógica da mercadoria, que sentido tem
Na perspectiva de Jesús Martín-Barbero criticar a indústria cultural se ‘o que parece
(2003), não se pode dissociar a Escola de Frank- decadência da cultura é seu puro chegar a si
furt da experiência nazista, uma experiência mesma’?” (Adorno in Barbero, 2003, p. 80).
radical, que por sua vez estaria na base da Segundo o autor, Adorno, ao fazer da arte o
radicalidade do pensamento desses autores. único caminho para a verdade, omite a plurali-
O capitalismo mostraria, a partir do nazismo, dade das experiências estéticas e, ao se colocar
seu caráter totalizante. Por essa razão, entende num lugar mais elevado, parece se distanciar
Barbero (2003, p. 75), a impossibilidade de os do estudo das contradições das massas.
frankfurtianos fazerem economia e sociologia O autor ressalta que Benjamin “não in-
sem fazer filosofia. “É o que significa a crítica vestiga a partir de um lugar fixo, pois toma a
e o lugar estratégico atribuído à cultura”, afir- realidade como algo descontínuo” (Barbero,
ma. A partir do momento em que os processos 2003, p. 84). Ao se afastar desse centro, Ben-
de massificação passam a ser vistos como par- jamin percebe que o caminho está em pensar
te dos conflitos da sociedade, uma transforma- a experiência [grifo do autor] e para isso traça
ção se opera: uma análise da modernidade a partir daquilo
que vê acontecer no mundo, seja nas artes ou
em lugar de ir da análise empírica da massi- na rua.
ficação à de seu sentido na cultura, Adorno e Para Barbero (2003, p 84.), a popularidade
Horkheimer partem da racionalidade desenvolvi-
de “A obra de arte na era de sua reprodutibi-
da pelo sistema – tal e como pode ser analisada
no processo de industrialização-mercantilização
lidade técnica” talvez seja seu maior inimigo,
da existência social – para chegar ao estudo da uma vez que o texto tem sido lido de diversas
massa como efeito dos processos de legitimação e – e principalmente errôneas – maneiras, ou por
lugar de manifestação da cultura em que a lógica ser lido de modo isolado do restante da obra
da mercadoria se realiza. (Barbero, 2003, p. 75). ou por confundir a morte da aura com o pró-
prio fim da arte. “Tratar-se-ia então, mais do
Para o autor, a Escola de Frankfurt é res- que de arte ou de técnica, do modo como se
ponsável por dois grandes feitos: levar a pro- produzem as transformações na experiência e

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A Escola de Frankfurt e seu legado

não só na estética”, conclui. Para Benjamin, ao mente na visão de dois autores, Umberto Eco e
contrário de Adorno, a técnica aliada às mas- Jesús Martín-Barbero, um com um olhar euro-
sas seria capaz de emancipar a arte. peu e o outro com uma visão latino-americana.
Ao pensarmos o legado da Escola de Frank-
Conclusão furt, é interessante sempre retomar o ponto de
partida dos próprios teóricos, seu contexto so-
A aceitação da perspectiva frankfurtiana no cial e histórico, para entender como é possível
campo da comunicação no Brasil passou por que, prestes a completar 90 anos da inaugu-
diversos períodos. Após uma primeira fase de ração do Instituto de Pesquisas Sociais, seus
descoberta e incorporação desses teóricos nos textos continuem sendo estudados com tan-
anos 1970, os mesmos foram sendo relegados a ta atenção. Benjamin foi o grande teórico da
segundo plano, recebendo inclusive a alcunha modernidade. Já a teoria estética de Adorno e
de apocalípticos. Posteriormente, na década de seus estudos sobre a música foram ofuscados
1980 – tendo como ponto de referência a obra pela força de sua crítica à indústria cultural
de Adorno –, seriam tachados de pessimistas, e pela polêmica que suscitou. Tanto Adorno
e a crítica à indústria cultural, esvaziada de seu como Benjamin exerceu sua produção inte-
conteúdo. Já na década seguinte, a teoria foi lectual em grande parte por meio do ensaio.
dada como caduca: “A referência às suas teses Tanto um como o outro se deparou com um re-
transformou-se num procedimento ritual, atra- gime de exceção que os fez imigrar. Depois da
vés do qual eles preparam o terreno para expor Segunda Guerra, Adorno ainda retornou para
outras concepções teóricas e metodológicas” a Alemanha, onde viveu até morrer em 1969.
(Rüdiger, 1998, p. 15). Para o autor, ainda, esse Benjamin sucumbiu e se suicidou em 1940, em
tipo de posicionamento é fruto de uma leitura Port Bou. Críticos da anestesia cultural, ambos
apressada e de um falso entendimento de que devem ser relidos sempre.
os autores frankfurtianos eram contra a cultura
popular e contra a tecnologia, quando na ver-
dade eram críticos a esse sistema. Referências
E os anos 2000, como ficam nessa perspec-
BENJAMIN, W. 2002. A obra de arte na época de
tiva? É interessante observar que em 2011 a sua reprodutibilidade técnica. In: L.C. LIMA.
obra de Walter Benjamin entrou em domínio Teoria da cultura de massa. Rio de Janeiro, Paz e
público no Brasil (setenta anos depois da sua Terra, p. 215-254.
morte, de acordo com a lei do direito autoral). ECO, U. 1979. Apocalípticos e integrados. São Paulo,
Unicamente de “A obra de arte na era de sua Perspectiva, 386 p.
reprodutibilidade técnica” já foi publicada MARTÍN-BARBERO, J. 2003. Dos meios às mediações.
Comunicação, cultura e hegemonia. Rio de Janeiro,
uma nova tradução (Francisco de Ambrosis UFRJ, 356 p.
Pinheiro, Zouk, 2012) e há outra sendo pre- RÜDIGER, F. 1998. Comunicação e indústria cul-
parada (Gabriel Valladão Silva, com introdu- tural: a fortuna da teoria crítica nos estudos de
ção de Márcio Seligmann-Silva, pela L&PM mídia brasileiros. Revista Brasileira de Ciências da
Editores, com previsão de publicação em Comunicação. 21(2):13-25.
2013). As novas traduções de uma obra, es- RÜDIGER, F. 1999. Comunicação e teoria crítica da
sociedade:Adorno e a Escola de Frankfurt. Porto
pecialmente do idioma original, são de suma Alegre, Edipucrs, 262 p.
importância para o estudo e a divulgação do RÜDIGER, F. 2001. A Escola de Frankfurt. In: V.V.
tema, uma vez que a renovação dos leitores FRANÇA; A. HOHFELDT; L.C. MARTINO
é facilitada, especialmente de obras há mui- (org.). Teorias da comunicação: conceitos, escolas e
to esgotadas ou traduzidas indiretamente de tendências. Petrópolis, Vozes, p. 131-150.
outras línguas. Em termos de perpetuação SELIGMANN-SILVA, M. 2010. A atualidade de Wal-
ter Benjamin e de Theodor W. Adorno. Rio de Janei-
da Escola, observa-se também o que se pode ro, Civilização Brasileira, 142 p.
chamar de uma quarta geração de pensado- THE FRANKFURT SCHOOL. 2010. In Our Time,
res (The Frankfurt School, 2010), encabeçada Londres. BBC, 14 jan. 2010. Programa de rádio.
pela figura do filósofo alemão Rainer Forst, Disponível em: http://www.bbc.co.uk/program-
que não por acaso teve sua tese de doutorado mes/b00pr54s. Acesso em: 16/10/2012.
orientada por Jürgen Habermas. WIGGERSHAUS, R. 2002. A Escola de Frankfurt. His-
tória, desenvolvimento teórico, significação política.
A partir de uma revisão bibliográfica, vi- Rio de Janeiro, Difel, 742 p.
mos alguns dos pontos mais polêmicos que
cercam a dialética do esclarecimento e as crí- Submetido: 26/08/2012
ticas em relação à indústria cultural, especial- Aceito: 01/11/2012

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