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19/07/2019 Guerra do Afeganistão (1979-1989) – Wikipédia, a enciclopédia livre
Em fevereiro de 1979, a Revolução Iraniana (acontecendo num país na fronteira afegã) derrubou o regime do
imperador Mohammad Reza Pahlavi, que era simpático aos Estados Unidos. O embaixador americano no Afeganistão,
Adolph Dubs, foi sequestrado por militantes do movimento Setami Milli e depois acabou sendo morto durante uma
fracassada tentativa de resgate feito pela polícia afegã. A morte do embaixador obscureceu ainda mais as relações dos
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Estados Unidos com o Afeganistão.[18] Os americanos então enviaram uma frota de vinte navios de guerra ao Golfo
Pérsico e ao mar arábico, ao mesmo tempo que as tensões também aumentavam entre o governo dos Estados Unidos e
do Irã.[19]
Em março de 1979, foi assinado, com apoio americano, um acordo de paz entre Israel e Egito. A liderança soviética viu
este tratado como uma vitória geopolítica americana. Para Moscou, o acordo não tinha o propósito de apenas selar a
paz entre israelenses e egípcios, mas também de firmar um pacto militar entre essas nações e o governo americano.
Também, os Estados Unidos avançaram em outras frentes para expandir sua influência na região, como a venda de 5
000 mísseis para a Arábia Saudita e o oferecimento de ajuda aos combatentes antinasserismo na guerra Civil do
Iêmen do Norte. Além disso, a outrora forte parceria entre a União Soviética e o governo do Iraque começou a se
desfalecer. Em junho de 1978, os iraquianos começaram a se aproximar mais do Ocidente, comprando armas da
Europa (especialmente da França e da Itália), em detrimento dos russos, apesar de boa parte do seu equipamento
militar ainda ter origem soviética.[20]
A Revolução de Saur
Em 1933, Mohammed Zahir Xá ascendeu ao trono do Reino do
Afeganistão e governou até 1973. O primo de Zahir, Mohammed
Daoud Khan, serviu como primeiro-ministro do país de 1954 a 1963.
O poder do chamado Partido Democrático do Povo (PDPA), de
inclinação marxista, cresceu rapidamente. Em 1967, o PDPA se
dividiu em duas facções, o Khalq, liderado por Nur Muhammad
Taraki e Hafizullah Amin, e o Parcham liderado por Babrak
Karmal.[20]
O ex primeiro-ministro Daoud assumiu o poder total no país em 17 de Destruição nas ruas de Cabul, capital do
Afeganistão, logo após a revolução de
julho de 1973 após dar um golpe com apoio dos militares. O governo
Saur, em 1978.
monarquico há muito tempo havia perdido popularidade devido a
pobreza extrema na nação e as acusações de corrupção. O governo de
Daoud, por outro lado, acabou conquistando certa aceitação popular, mas não recebeu apoio dos membros do PDPA,
que lhe faziam forte oposição. Não demorou e simpatizantes de ambos os lados começaram a se confrontar pelas ruas
do país, incitando a repressão do regime de Mohammed Daoud Khan. Em 1978, em um dos atos repressivos, o líder da
PDPA, Mir Akbar Khyber, acabou sendo morto.[21] As circunstâncias da morte de Khyber incitou várias manifestações
antiDaoud por toda Cabul, que resultou na prisão de vários simpatizantes do partido.[22]
Em 27 de abril de 1978, o exército afegão, simpático à causa do PDPA, derrubou Daoud do poder e depois o executou
(sua família também foi morta pelos militares). Nur Muhammad Taraki, Secretário geral do Partido Democrático do
Povo do Afeganistão, se tornou presidente do Conselho Revolucionário e Primeiro-ministro do país.[23]
Durante seus primeiros dezoito meses no poder, o PDPA lançou vários programas de reformas, de inspiração soviética,
para modernizar a nação, sendo que algumas destas acabaram por irritar a ala mais conservadora do país. Entre
algumas das mudanças, vieram leis que alteravam regras quanto a casamento e reforma agrária, que acabaram
incitando insatisfação na maioria da população islâmica da nação, que via tais reformas como uma ameaça as suas
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tradições e cultura. Vários latifundiários e donos de terras também se sentiram ameaçados economicamente,
especialmente após a abolição da usura e do cancelamento de algumas dívidas dos pequenos fazendeiros. Em meados
de 1978, rebeldes anticomunistas lançaram um ataque contra uma guarnição militar na região de Nuristan, na parte
leste do país. Combates começaram a irromper por toda a zona rural e nas regiões montanhosas, se espalhando
também para áreas urbanas. Em setembro de 1979, o vice primeiro-ministro, Hafizullah Amin, assumiu o poder
depois do assassinado do presidente Taraki. Os dois meses seguintes foram de profunda instabilidade, com o regime
de Amin combatendo seus oponentes no PDPA e os rebeldes.[25]
Relações afegã-soviéticas
A União Soviética (URSS) havia influenciado consideravelmente o
ambiente político afegão durante toda a década de 1970, afetando
profundamente a sociedade afegã. Nos anos 80, o russo chegou a ser a
segunda língua mais falada no país. Desde 1947, o Afeganistão sentia a
forte ingerência dos governos russos em seus assuntos internos, vindo
desde a forma de ajuda humanitária, a assistência econômica e militar,
Combatentes de infantaria soviética
com treinamento e exportação de armas.[20] Auxílios econômicos e outros
enviados ao Afeganistão ao fim dos
de menor porte também foram reportados em 1919, logo após a Revolução anos 70.
Russa. Provisões foram enviadas, como armas pequenas, munição,
aeronaves menores e (de acordo com algumas fontes) um milhão de rublos
para apoiar a resistência durante a Terceira Guerra Anglo-Afegã. Em 1942, a URSS mais uma vez tentou fortalecer as
Forças Armadas Afegãs, fornecendo armas e aeronaves pequenas, além de estabelecer centros de treinamento em
Tashkent (República Socialista Soviética Uzbeque). A cooperação militar entre os dois países começou em efetivo e
larga escala apenas em 1956 e novos acordos foram assinados nos anos 70, com os soviéticos enviando conselheiros
militares e especialistas. A União Soviética financiou várias obras de infraestrutura, além de assistência na construção
da Universidade de Cabul, do Instituto Politécnico e também de hospitais, usinas de energia e escolas. Nos anos 80, os
soviéticos também financiaram a construção de universidades em Blakhe, Herate, Takhar, Nangarhar e Fariyab.
Professores russos foram enviados para dar aulas no Afeganistão, ensinando sua língua e costumes.[20]
Em 1978, o presidente Daud Khan iniciou um programa de pesados investimentos nas forças armadas, após a Índia
iniciar seu programa nuclear, o Smiling Buddha. Irã e Paquistão também tentaram aumentar sua influência no
Afeganistão. Em dezembro, um dos últimos tratados assinados antes da invasão soviética, permitia que o PDPA
convocasse apoio militar russo, se necessário. Contudo, políticos soviéticos não estavam muito entusiasmados a
respeito.[26]
exterior) e outros ministros soviéticos. Alguns afirmam que Karmal, chefe —Alexei Kosygin, chefe de
gabinete do conselho de ministros
da facção Parcham e rival político de Taraki, também estava presente na da URSS, em resposta ao pedido
de Taraki para a União Soviética
reunião para tentar uma reconciliação. Taraki conseguiu negociar mais enviar mais tropas ao
apoio militar ao seu país, incluindo o envio de duas divisões do exército Afeganistão.[27]
vermelho russo para a região de fronteira, além de mais 500 conselheiros
militares, civis e especialistas, junto com enormes quantidades de armas vendidas com descontos de até 25%.
Contudo, os soviéticos reafirmaram que não tinham interesse de enviar grandes unidades militares aquela nação e
Brezhnev voltou a pedir a Taraki para trabalhar mais pela unidade do seu partido. Apesar dos acordos com a liderança
afegã, os soviéticos continuavam a rejeitar a ideia de uma intervenção militar.[30]
Início da insurgência
As relações entre o Afeganistão e Paquistão sempre foram deterioradas, especialmente depois do primeiro-ministro
afegão Daoud adotar políticas linha dura contra o povo do Pashtunistão, na região de fronteira entre os países.[31] A
retaliação paquistanesa veio na forma de operações secretas feitas por seu serviço de inteligência.[31] Entre uma das
medidas tomadas pelos paquistaneses era treinar militantes do movimento Jamiat-e Islami.[31] Contudo, tais
operações cessaram após a derrubada do premier Zulfikar Ali Bhutto do poder no Paquistão.[31]
Em junho de 1975, militantes do grupo Jamiat Islami tentaram um golpe de estado. Sua rebelião se focou na região do
vale de Panjshir (na província de Parwan), cerca de 100 km de Cabul. Porém, o governo rapidamente destruiu a
insurgência, com sobreviventes da revolta tomando refúgio no Paquistão, onde receberam apoio de autoridades
locais.[32]
No dia 24 de março de 1979, uma guarnição de soldados afegãos em Herat matou um grupo de conselheiros soviéticos
(e suas famílias) que ordenaram às tropas para disparar contra manifestantes antigovernamentais. A partir deste
ponto, o regime passou a enfrentar uma grande hostilidade de amplas parcelas da população, e elevou o nível de
repressão. A frente da repressão estava o Hafizullah Amin, na época Primeiro-Ministro.[37]
Na primavera de 1979, cerca de 24 das 28 províncias reportaram casos de violência.[38][39] As revoltas, outrora
restringidas as zonas rurais e interioranas, se mudaram também para os centros urbanos. Em março de 1979, islamitas
iniciaram uma rebelião em Herat. Entre 3 000 e 5 000 pessoas foram mortas ou feridas na repressão naquela cidade.
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Com o agravamento da situação, os soviéticos aconselharam Taraki a demitir Amin, se reunir com o Parcham (facção
do PDPA) e adotar uma política de "nacionalismo democrático". Mas Amin ficou sabendo do plano e, em setembro,
prendeu e assassinou Taraki, e passou a ser o Chefe de Estado.[37]
Com os combates se intensificando no final da década de 70, a situação se complicava para o governo comunista
afegão. Durante toda a década de 1980, quase metade do exército do Afeganistão havia ou desertado ou se juntado aos
rebeldes.[38]
A guerra
Preparações
O governo comunista do Afeganistão, tendo assinado um acordo em
dezembro de 1978 que permitiu a entrada de tropas soviéticas no país,
havia pedido insistentemente ajuda na forma de assistência militar
direta durante o ano de 1979, para auxiliar na luta contra os
mujahidins. Em 14 de abril de 1979, o regime afegão pediu aos
soviéticos que estes enviassem de 15 a 20 helicópteros para o país e,
em 16 de junho, Moscou respondeu enviando um destacamento de
tanques, vários BMPs e tripulações para proteger Cabul e guardar os
aeroportos de Bagram e Shindand. No dia 7 de julho, um batalhão de O Palácio de Tajbeg, em Cabul, 1987.
paraquedistas, comandados pelo coronel A. Lomakin, chegou na base Foi, por boa parte da década, o quartel-
aérea de Bagram. Eles chegaram sem seus equipamentos de combate, general do 40º Corpo do Exército
Soviético.
sob disfarce de estar ali apenas para auxílio técnico. Eles assumiram a
posição de seguranças do presidente Taraki. Esses soldados eram
subordinados aos oficiais soviéticos que serviam em Cabul na função de conselheiros e não interferiam com a política
local. Vários proeminentes políticos russos, como Alexei Kosygin e Andrei Gromyko, eram contra a intervenção.[47]
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Com o passar do tempo, o regime afegão começou a pedir por mais tropas e por contingentes maiores. Em julho, Cabul
pediu por duas divisões mecanizadas. Logo depois, foi feito um pedido por mais uma divisão aerotransportada. Nos
meses seguintes, até dezembro de 1979, eles continuaram a pedir insistentemente por mais soldados. Contudo, o
governo soviético não tinha pressa em responder.
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Em 27 de dezembro de 1979, cerca de 700 soldados soviéticos, vestidos em uniformes afegãos, incluindo agentes da
KGB e membros das forças especiais GRU dos Grupos Alpha e Zenith, se moveram para ocupar prédios e instalações
militares em Cabul. Já um grupamento de Spetsnaz seguiu para o alvo principal, o palácio presidencial de Tajbeg.[47]
A operação começou as 19:00 h, quando o grupo Zenith da KGB destruiu o prédio de comunicações em Cabul,
cortando o Comando militar afegão do resto do país. As 19:15 h, o ataque ao palácio de Tajbeg começou. Como
planejado, o presidente Hafizullah Amin foi morto. Ao mesmo tempo, outras instalações (como o Ministério da
Informação) também foram tomadas. No amanhecer de 28 de dezembro de 1979 as operações já estavam
completas.[53]
O comando soviético em Termez, no Uzbequistão, anunciou na Radio Kabul que o Afeganistão havia sido "libertado do
regime de Amin". De acordo com o Politburo soviético, eles estavam em conformidade com o "Tratado de Amizade,
Cooperação e Bons vizinhos" de 1978 e que Amin havia sido "executado por seus crimes", por condenação do Comitê
Central Revolucionário Afegão. Tal comitê elegeu então como novo líder da nação o ex vice primeiro-ministro Babrak
Karmal, que havia caído em desgraça quando a facção Khalq do partido comunista subiu ao poder.[54]
Em 27 de dezembro, tropas soviéticas, comandadas pelo marechal Sergei Sokolov, entraram no Afeganistão. Naquela
manhã, a 103ª Divisão Aerotransportada 'Vitebsk' se lançou sobre o aeroporto de Bagram e forças adicionais do
exército vermelho começaram a se mover por todo o país. A espinha dorsal da força invasora era o 40º Corpo do
Exército Soviético, acompanhado por batalhões da 108ª e 5ª Divisão Mecanizada de Rifles, do 860º Regimento
Mecanizado, da 56ª Brigada Aerotransportada e elementos do 36º Corpo Misto Aéreo. Grupamentos da 201ª e 58ª
Divisão de Infantaria também entraram no Afeganistão, junto com outras unidades menores.[55] A força de invasão
inicial continha 1 800 tanques, 80 000 soldados de infantaria e outros 2 000 veículos blindados. Na semana seguinte,
a força aérea soviética já tinha feito mais de 4 000 voos sobre Cabul.[56] Mais tarde, duas divisões extras entraram no
país, totalizando assim mais de 100 000 militares soviéticos na primeira onda de invasão.[54]
Vários países rapidamente começaram a fornecer ajuda clandestina aos rebeldes afegãos. Os Estados Unidos
compraram todo o equipamento soviético em posse de Israel e depois enviou para os mujahidins, enquanto o Egito
iniciou um programa de modernização de suas forças armadas, mandando então equipamento velho para os
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Periodicamente, o exército soviético lançava várias ofensivas concentradas contra áreas controladas por mujahidins.
Entre 1980 e 1985, os russos lançaram nove ofensivas contra o estratégico vale de Panjshir, mas o controle
governamental da área nunca foi firmado.[65] Uma das regiões mais violentas era a fronteira com o Paquistão, onde
cidades e postos de controle do governo estavam sendo atacados por guerrilheiros mujahidins. Grandes operações
militares soviéticas conseguiam repelir as ofensivas dos islamitas, mas estes voltavam quando os russo partiam de
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Além das missões para destruir a insurgência, os soviéticos usaram o KHAD (a polícia secreta afegã) para coletar
inteligência, se infiltrar nos grupos rebeldes, espalhar falsas informações, subornar líderes tribais e organizar milícias
pró-governo. Embora seja impossível saber qual foi a eficiência destas missões, eles conseguiram de fato se infiltrar
em algumas milícias e coletaram informações, porém nada se provou decisivo.[69] Os subornos só conseguiram
conquistar a lealdade dos líderes rebeldes por pouco tempo, sendo que na maioria dos casos, eles só conseguiam
acordos de cessar fogo temporários.[70] A milícia Sarandoy, leal ao governo, teve pouco sucesso na guerra. Melhores
salários e armas conseguiram atrair mais recrutas, mesmo os que não eram tão entusiasmados com o comunismo. O
problema era que os mujahidins também tinham pessoas infiltradas nas forças de segurança do governo, passando
desinformação e coletando dados.[71]
Em 1985, o número de tropas soviéticas no Afeganistão passou dos 108 800 soldados, enquanto a luta se intensificava
por todo o país. Este ano acabou sendo o mais sangrento da guerra. Apesar do equipamento superior e de serem mais
numerosos, os soviéticos e seus aliados comunistas afegãos não conseguiam lutar bem no terreno irregular, enquanto
os insurgentes islamitas usavam táticas de guerrilha de forma bem eficiente. Ainda, os mujahidins reforçavam seus
números com combatentes estrangeiros (jihadistas) e assim eles resistiam as ofensivas dos inimigos.[72]
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O estudioso francês Olivier Roy estimou que no quarto ano de guerra havia pelo menos quatro mil bases de onde os
mujahidins operavam. A maioria destes era filiado a sete grupos expatriados com base no Paquistão, que era a
principal rota de transporte de suprimentos para os guerrilheiros islamitas. As unidades dos combatentes da
resistência eram compostas por grupos de 300 ou mais homens, que normalmente operavam a partir da zona rural e
das áreas montanhosas. A maioria desses combatentes não tinha treinamento formal porém acumulavam experiência
de uma década de guerras. Boa parte dos mujahidins assumiam posturas defensivas, guardando suas cidades e vilas,
mas alguns eram mais ambiciosos e até organizavam ataques em larga escala contra áreas controladas pelo governo
comunista. Uma das mais bem sucedidas milícias era comandada por Ahmad Shah Massoud, do vale de Panjshir, ao
norte da capital Cabul. Perto do fim do conflito, ele liderava um grupamento de pelo menos 10 000 combatentes
excepcionalmente bem treinados e equipados e havia expandido sua esfera de influência por todas as áreas dominadas
pelo povo tajique - nas províncias na região nordeste do país.[77] Roy também descreveu as variações étnicas, regionais
e sectárias da organização dos mujahidins. No território do povo pachtum (nas partes sul e leste do Afeganistão), a
estrutura tribal, com suas várias sub-divisões rivais, forneceu a base militar de vários grupos, além de vários de seus
líderes. A mobilização para os ataques, normalmente, partiam tradicionalmente do leste dos lashkars (força de
combate) tribais. Em circunstâncias favoráveis, suas formações para ofensivas podiam mobilizar 10 000 homens.
Contudo, o confronto direto contra posições defensivas soviéticas normalmente acabava em fracasso, devido a
disparidade de armamentos entre os dois lados, o que forçava os rebeldes a lutar, primordialmente, na defensiva.[77]
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Os ataques dos rebeldes miravam alvos militares e civis, derrubando pontes, fechando estradas, emboscando
comboios, interrompendo linhas de transmissão de energia elétrica e centros industriais. Além disso, postos de polícia
e instalações militares e bases aéreas soviéticas também eram atacadas. Muitos membros do governo e do PDPA (o
partido comunista afegão) foram assassinados. Em março de 1982, uma bomba explodiu em frente ao prédio do
ministério da educação, danificando vários edifícios na área. No mesmo mês, falhas na rede de energia resultaram em
blecautes em várias cidades, principalmente em Cabul. A estação elétrica de Naghlu, que alimentava a capital do país,
era alvo frequente de atentados. Em junho de 1982, um grupo de mil jovens do partido comunista afegão, que partia
para o vale de Panjshir, foi emboscado a cerca de 30 km de Cabul, o que resultou em centenas de mortes. Em 4 de
setembro de 1985, insurgentes derrubaram um voou doméstico da Bakhtar Airlines, que havia decolado do aeroporto
de Kandahar, matando todas as 52 pessoas a bordo.[78]
Em maio de 1985, sete facções rebeldes afegãos se uniram na chamada "Aliança de Sete Partidos Mujahidins" para
coordenar seus esforços em combater o exército soviético. No fim do mesmo ano, o grupo já estava ativo na região de
Cabul, lançando ataques com foguetes e conduzindo outros tipos de atentados, não só contra alvos do governo
comunista, mas até contra outras facções de guerrilheiros, caso tivessem ideologias diferentes.[79]
afegãos lançadores portáteis de mísseis antiaéreaos chamados FIM-92 Stinger. Os Estados Unidos enviaram pelo
menos 250 desses lançadores e também mais de 500 mísseis, além de pessoal para treinar os guerrilheiros a como
usar este equipamento.[80]
A introdução do Stinger no campo de batalha virou a maré do conflito no ar. Com isso, o poderio aéreo soviético
começou a ser contestado de forma mais eficiente e mortal. As aeronaves Su-25 e Mi-24 eram extremamente
vulneráveis a esse tipo de arma, pois eles voavam baixo e lento, se mantendo no alcance do Stinger. Depois que este
armamento começou a ser utilizado, os mujahidins começaram a derrubar pelo menos uma aeronave soviética por dia.
O custo da perda de aeronaves começou a fazer com que o custo da guerra se tornasse ainda maior e analistas afirmam
que os gastos causados pelas perdas infligidas pelo Stinger forçou o governo soviético a considerar a retirada do
Afeganistão. O congressista americano Charlie Wilson era considerado uma das maiores vozes por apoio aos
mujahidins e foi um fervoroso defensor da entrega dos Stingers aos rebeldes afegãos. E quando os soviéticos
começaram a perder batalhas, Wilson deu crédito aos mísseis Stinger. De fato, muitos analistas e historiadores
afirmam que a introdução do Stinger no campo de batalha foi o fator decisivo que virou a guerra em favor dos
mujahidins, mas analistas militares russos atuais discordam. Com um índice de precisão de 70% e mais de 350
aeronaves (aviões e helicópteros) abatidos em apenas dois anos, o Stinger notavelmente contribuiu para o
aceleramento da derrota soviética na guerra. Alguns analistas nos Estados Unidos chamaram esse fator determinante
de "Stinger Effect" (o "Efeito Stinger").[80]
Em meados de 1987, com as perdas aumentando, os soviéticos anunciaram que começariam a retirar suas forças do
Afeganistão. Sibghatullah Mojaddedi foi então apontado chefe do Governo Interino do Estado Islâmico afegão, para
dar uma face legítima à resistência contra o regime comunista, apoiado por Moscou. Mojaddedi, como chefe do
governo interino, se encontrou com o então vice-presidente dos Estados Unidos, George H. W. Bush, conquistando
uma vitória política a resistência afegã. Mais confiantes tanto no campo diplomático como no de batalha, os
mujahidins não mais iriam buscar algum tipo de comprometimento ou entendimento político com o regime, mas
aceitariam apenas vitória total.[81]
Sob liderança dos soviéticos, as forças do governo comunista do Um soldado soviético combatendo no
Afeganistão, 1988.
Afeganistão construiram um exército de 302 000 homens em 1986.
Para evitar que esta força pudesse ameaçar o governo central e dar
um golpe, as unidades militares foram dividias em vários braços, seguindo o modelo soviético. Contudo, o regime
nunca conseguiu fazer total uso destes números, já que sofria com altos índices de deserção. Só as forças terrestres
tinham uma média de 32 000 deserções por ano.[82]
A decisão de fazer com que o exército afegão assumisse a maioria das missões de combate partiu dos soviéticos, mas
foi mal recebida pelos comunistas afegãos, que viam a partida de seus protetores com maus olhos. Em maio de 1987,
os militares afegãos atacaram posições dos mujahidins no distrito de Arghandab, mas não conseguiram muito sucesso
e acabaram sofrendo pesadas baixas durante a luta.[83] Na primavera de 1986, uma nova ofensiva na província de
Paktia conseguiu sobrepujar os islamitas em Zhawar, mas o custo da vitória foi extremamente alto em termos de
números de vidas perdidas.[84] Enquanto isso, os mujahidins se beneficiaram do aumento do apoio estrangeiro a sua
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causa. Mais armas e suprimentos vinham dos Estados Unidos, da Arábia Saudita, do Paquistão e de outras nações
muçulmanas. Os americanos tendiam a concentrar sua ajuda nas forças comandadas por Ahmed Shah Massoud
(considerado um islâmico moderado). A ajuda aos combatentes de Massoud aumentou consideravelmente na
administração do presidente Reagan, através da chamada "Operação Ciclone".[85][86]
No começo de 1988, a retirada das tropas soviéticas do Afeganistão começou a todo vapor. As operações de combate
caíram drasticamente.[89] Em setembro, um caça MiG-23 russo derrubou um F-16 paquistanês e dois AH-1J Cobra
iranianos, que haviam penetrado no espaço aéreo afegão.[90]
Uma exceção a retirada foi a Operação Magistral, que, conduzida por forças afegãs e russas, limpou as estradas entre
Gardez e Khost, que estavam em mãos dos guerrilheiros islâmicos. O efeito desta ação não durou muito, mas serviu
para ajudar os soviéticos a, simbolicamente, encerrar sua missão naquele país com uma vitória.[91]
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soviéticos evitaram combates próximos, usando artilharia, mísseis e outros tipos de armamento pesado. Várias baixas
civis foram reportadas. Massoud então ordenou um contra-ataque.[94] No final, os mujahidins tiveram de recuar,
perdendo ao menos 600 homens entre mortos e feridos.[93]
Após a retirada das forças soviéticas, as tropas do regime comunista do Afeganistão tiveram de lutar sozinhas e com
poucas provisões. Dada as circunstâncias, acreditou-se que eles não conseguiriam resistir por muito tempo. Contudo,
o governo central conseguiu uma importante vitória na batalha por Jalalabad.[89]
De fato, as primeiras negociações para retirada soviética do Afeganistão começaram em 1982. Em 1988, o governo
paquistanês e afegão, com os americanos e russos servindo como garantidores, firmaram um compromisso de acertar
suas diferenças através do Acordos de Genebra. As Nações Unidas enviaram uma missão para supervisionar o
processo. Nesse meio tempo, Najibullah, novo presidente afegão, havia estabilizado sua posição política o suficiente
para garantir que o seu governo não caísse mesmo após a retirada dos soviéticos. Um ano antes, em 20 de julho 1987,
foi anunciado o começo da retirada. O comando da operação ficou a cargo do tenente-general Boris Gromov, que,
naquele período, era o comandante do 40º Exército.[89]
Entre outras coisas, os Acordos de Genebra firmaram um entendimento entre os Estados Unidos e a União Soviética,
que se comprometiam a não interferir mais nos assuntos internos do Paquistão e do Afeganistão, além de organizar
um cronograma de retirada para as tropas soviéticas. Em fevereiro de 1989 já não havia mais nenhum combatente
russo no território afegão.[89]
Consequências da guerra
Reações internacionais
A administração do presidente americano Jimmy Carter colocou um Aqueles valentes
embargo econômico contra a União Soviética, especialmente focado em guerreiros com quem
commodities, como grãos e até armas. O aumento nas tensões, assim como andei, e suas famílias,
o medo da presença de tropas soviéticas tão perto do Golfo Pérsico (rico em
que sofreram por fé e
liberdade e aqueles
petróleo), efetivamente colocou um fim na chamada détente.[97]
que ainda não estão
livres, eles eram os
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O chamado Movimento Não Alinhado ficou dividido entre os que apoiavam a intervenção soviética e aqueles que
achavam que a invasão fora um movimento ilegal. Dentro do Pacto de Varsóvia, a ação russa foi condenada pela
Romênia.[99] Índia, uma aliada da União Soviética, se recusou a demonstrar qualquer apoio a Guerra Afegã,[100] mas,
após o fim das hostilidades, ofereceu ajuda humanitária ao governo do Afeganistão.[101][102]
O conselheiro de segurança do governo Carter, Zbigniew Brzezinski, Ronald Reagan, presidente dos Estados
conhecido como um dos políticos mais "linha dura" em relação a Unidos, em um encontro com líderes
União Soviética, iniciou em 1979 uma campanha para ajudar os mujahidins afegãos na Casa Branca.
mujahidins no Afeganistão, com apoio da inteligência paquistanesa
que recebia suporte da CIA e do MI6 (a inteligência britânica).[8] Anos mais tarde, em 1997, Brzezinski deu uma
entrevista a CNN/National Security Archive onde detalhou os planos da administração do presidente Carter contra os
soviéticos em 1979:
"Nós começamos uma reação dupla quando soubemos que os soviéticos tinham entrado no Afeganistão.
A primeira foram reações diretas e sanções contra a União Soviética, e tanto o Departamento de Estado
e o Conselho de Segurança Nacional prepararam uma longa lista de sanções e passos para serem
tomados para aumentar o custo internacional para a União Soviética sobre suas ações. A segunda ação
me levou ao Paquistão um mês depois da invasão soviética do Afeganistão, com o propósito de
coordenar uma responsa em conjunto com os paquistaneses, tendo o propósito de fazer os soviéticos
sangrarem pelo maior tempo possível; e nós engajamos nesta tarefa com a ajuda dos sauditas, dos
egípcios, dos britânicos e dos chineses, e nós começamos a enviar armas aos mujahidins, a partir de
várias fontes – por exemplo, como algumas armas russas do Egito e da China. Nós até conseguimos
armamento soviético do governo comunista da Checoslováquia, já que eles estavam suscetível a
incentivos materiais; e, em um período, nós compramos armas pros mujahidins diretamente de
militares soviéticos no Afeganistão, pois aquele exército era muito corrupto".[104]
O envio de bilhões de dólares em armas e equipamentos para os mujahidins afegãos foi a operação mais cara e longa
da história da CIA.[105] A agência de inteligêcnia americana apoiou os fundamentalistas insurgentes através dos
serviços secretos paquistaneses, o Inter-Services Intelligence (ISI), em um programa conhecido como Operação
Ciclone. Pelo menos 3 bilhões de dólares foram enviados para o Afeganistão para treinar e equipar os militantes. A
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Arábia Saudita, o Reino Unido, o Egito, o Irã e a China também ajudaram os mujahidins,[106] com armas como o
lançador de mísseis portátil FIM-43 Redeye, uma poderosa arma contra aeronaves pequenas, como helicópteros. Os
paquistaneses, com seu ISI, foram os principais intermediários de armas.[47]
Entre as facções mujahidins que mais receberam financiamento Combatentes do Spetsnaz interrogando
um mujahidin capturado, em 1986.
externo, destacava-se aquela lidera por Gulbuddin Hekmatyar.[37]
Surgimento da Al-Qaeda
Durante a guerra, entre as facções mais extremistas dos mujahidins, surgiu a al-Qaeda. Supostamente, eles estavam
entre os grupos que receberam dinheiro, armas e outros tipos de ajuda vindo dos americanos e seus aliados. Os
combatentes que viriam a servir na al-Qaeda ganharam proeminência por sua bravura em combate contra os
russos.[116] Os americanos afirmariam mais tarde que a organização liderada por Osama Bin Laden estava "fora da
alçada da CIA" e que eles não receberam apoio destes, porém esta informação é muito contestada.[117]
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Osama Bin Laden, que era um amigo próximo do príncipe Turki al-Faisal (chefe dos serviços de inteligência da Arábia
Saudita entre 1977 e 2001), e de Ahmed Badeeb (na época chefe de gabinete de serviços de inteligência da Arábia
Saudita), foi a principal liderança entre os cerca de 4 000 sauditas que lutaram no Afeganistão. Os sauditas eram
apenas uma parte dos cerca de 100 mil combatentes estrangeiros, que foram financiados, armados e treinados pela
CIA e Arábia Saudita para lutar ao lado dos fundamentalistas.[118]
Envolvimento da China
Durante a chamada ruptura sino-soviética, as relações entre a China e a União Soviética se deterioraram, desde o final
da década de 1960. O governo chinês tinham relações pífias com o Reino Afegão. Quando os comunistas pró-Moscou
assumiram o poder em Cabul, em 1978, as relações com a China, também comunista, surpreendentemente pioraram.
Os afegãos apoiaram os inimigos dos chineses no Vietnã e os acusaram de apoiar os extremistas. O governo chinês
respondeu a invasão soviética do Afeganistão apoiando os mujahidins e aumentando sua presença militar nas regiões
próximas. A China também teria até recebido equipamento militar americano para se defender de um possível ataque
russo.[119]
Em cima, soldados soviéticos retornando para casa, em outubro de 1986. A baixo, um soldado russo em serviço
no Afeganistão, em 1988.
O Exército de Libertação Popular chinês treinou e apoiou os mujahidins. A maioria dos campos de treinamento se
mudaram do Paquistão para a própria China. Mísseis antiaéreos, lançadores de foguetes e metralhadoras, avaliados
em milhões de dólares, foram dados aos fundamentalistas pelos chineses. Conselheiros militares da China teriam
inclusive ido até o território afegão para fornecer mais ajuda.[119]
As perdas sofridas pelas forças soviéticas foram extensas. Foi reportado que, entre todas as unidades de serviço e
segurança, um total de 14 453 combatentes morreram. O exército teria perdido 13 310 homens, a KGB sofreu 572
baixas e a polícia soviética perdeu 28 em operações. Cerca de 20 cidadãos soviéticos de outros departamentos ligados
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ao conflito também perderam a vida. Ao fim da guerra, cerca de 312 militares permaneciam desaparecidos ou foram
feitos prisioneiros. Destes, cerca 119 foram soltos, com 97 retornando para a Rússia e outros 22 indo a outras
repúblicas soviéticas.[121]
As unidades de combate também reportaram que ao menos 53 753 homens foram feridos, e mais 415 932 adoeceram.
As doenças foram uma das principais responsáveis pelas baixas soviéticas nesta guerra. As condições climáticas e
sanitárias no Afeganistão eram bem ruins, o que fez com que doenças e infecções se espalhassem muito rapidamente.
Foi registrado 115 308 casos de hepatite entre as tropas soviéticas, além de 31 080 casos de febre tifoide. Outros 140
665 militares foram retirados de serviço por outras doenças. Durante a década que o conflito durou, cerca de 11 654
soviéticos foram dispensados por motivo de ferimentos ou enfermidades, além de pelo menos 10 751 homens
acabaram incapacitados com alguma sequela física. Outros milhares mais tiveram problemas psicológicos devido a
brutal natureza do conflito.[122]
Destruição no Afeganistão
Estima-se que entre 850 000 e 1 500 000 afegãos morreram neste
conflito.[123][124] Outros 5 a 10 milhões se refugiaram no Paquistão ou
no Irã (cerca de um terço da população pré-guerra) e outros dois
milhões ficaram desalojados no país. Em meados da década de 80,
quase metade de todos os refugiados no mundo eram afegãos.[125]
Além das fatalidades, outros 1,2 milhões de civis foram incapacitados (a maioria por
mutilações, sendo que este número compreende os mujahidins, soldados do governo e
Militares americanos e civis) e outros 3 milhões foram feridos (a maioria não combatentes).[128]
combatentes
mujahedins feridos na Antes mesmo da guerra começar, o país já era um dos mais pobres do mundo. Os
base aérea de Rhein,
combates prolongados por décadas levaram o Afeganistão da posição 170 para a 174 na
em Frankfurt,
lista do IDH dos países, uma das piores marcas.[129] A agricultura, uma das principais
Alemanha.
fontes de recursos do país sofreu muito com a guerra. Sistemas de irrigação, cruciais
devido ao árido clima afegão, foram destruídos em diversos bombardeios aéreos feitos
pelos soviéticos ou pelo governo central afegão. Em um dos piores e mais intensos anos da guerra, 1985, mais da
metade dos fazendeiros que ainda estavam trabalhando tiveram suas plantações bombardeadas e ainda tiveram um
quarto do seu sistema de irrigação destruídos. Também houve denúncias de que soldados soviéticos e do regime
matavam o gado e outros animais dos fazendeiros, como informou alguns observadores suecos.[125]
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A população da cidade de Kandahar, a segunda maior do Afeganistão, que era de 200 000 antes da guerra caiu para 25
000 perto do seu fim, após meses de combates e, principalmente, bombardeios feitos por forças soviéticas ou por
soldados do regime comunista afegão.[130] Minas terrestres também foram um problema, matando ao menos 25 000
pessoas durante a guerra. No fim dos grandes combates, foi estimado que entre 10 e 15 milhões de minas ainda
estavam ativas (a maioria plantada pelos russos) e, até os dias atuais, ainda assolam a população.[131] O Comitê
Internacional da Cruz Vermelha estimou, em 1994, que levaria ao menos 4 300 anos de trabalho para remover todas
as minas plantadas no Afeganistão.[132] As crianças se tornaram algumas das maiores vítimas das minas e do conflito
em si. Em um campo de refugiados na cidade paquistanesa de Quetta, uma pesquisa notou que a taxa de mortalidade
infantil dentre os recém nascidos era de 31%, sendo que 80% das crianças nascidas nem eram registradas. A pesquisa
também revelou que 67% das crianças estavam mal nutridas.[133]
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De acordo com um relatório intitulado CIA World Fact Book, de 2004, o Afeganistão ainda tinha uma dívida de US$8
bilhões de dólares, com a maior credora sendo a Rússia. Porém, em 2007, o governo russo concordou em cancelar boa
parte da dívida.[140]
Refugiados
Até 1988, um total de 3,3 milhões de afegãos refugiados fugiram para o Paquistão. Nos dias atuais, uma boa parcela
deste número segue vivendo naquele país. A maioria destes esta na cidade de Peshawar, ou por toda a região da
província de Khyber Pakhtunkhwa.[141][142] Ao mesmo tempo, perto de dois milhões de afegãos foram morar no Irã. O
fluxo de refugiados ficou tão grande que o governo iraniano (e paquistanês) tiveram de impor condições mais estritas
para conceder visto de entrada nos seus países. O número de deportações também aumentou consideravelmente com
o tempo.[143][144] Refugiados afegãos também foram para a Índia, e muitos até ganharam cidadania local.[145][146]
Refugiados também foram para o Norte da África, Europa, Austrália e outras partes do mundo.[147]
Impacto ideológico
Muitos islamitas acreditavam que suas ações foram as verdadeiras razões que levaram ao colapso do império soviético.
Osama bin Laden (que lutou na guerra ao lado dos mujahedins), por exemplo, teria afirmado que que "os responsáveis
pela dissolução da União Soviética ... foram Deus e os mujahidins do Afeganistão."[154]
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Memoriais
Ver também
Crimes de guerra soviéticos
Retirada soviética do Afeganistão
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