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ESETec
CIÊNCIA DO COMPORTAMENTO
conhecer e avançar
2
Copyright © desta edição:
ESETec Editores Associados, Santo André, 2002.
Todos os direitos reservados
196p. 23cm
C D D 155.2
C D U 159.9.019.4
ESETec
Editores Assoclmdo*
2002
S umário
P r e f á c io ..................................................................................................... v
A presentação ................................................................................................. v ii
P s ic o lo g ia in t er e s sa d o s em educação
A n á l is e do c o m p o r t a m en t o : u m m o delo oe a n á l is e a p l ic a d a
I n terv en ç ão co m po r t a m en t a l n a c l ín ic a
A a n á l is e f u n c io n a l n a c l ín ic a comportamental
V a r ia b il id a d e c o m po rta m en ta l : u m a in t r o d u ç ã o
V
Aquisição de discriminação em múltiplos EXT (MIX VI) e EXT (MIX EXT VI) em ratos
Cloves Alves Baier, Alysson Albis Carvalho Pinto, Helton Rocha Campos, Luiz Octavio
Souza de Oliveira (FAFICH - UFMG)..................... ,................................ 151
A n á l is e f u n c io n a l d o c o m po rtam en to v e r b a l n a cl Jn ic a c o m p o r t a m en t a l
vi
P r e f á c io
VÜ
A tra v é s de c u r so s de g r a d u a ç ã o , p ó s -g r a d u a ç ã o e de
especialização, esse grupo, agora ampliado, vem exercendo sua esfera de
influência interagindo tanto com a comunidade científica maior de médicos,
psiquiatras, educadores, farmacólogos e biólogos como com a comunidade
leiga. Hoje, esse crescimento e essa influência acham-se aqui representa
das, ainda que de forma incompleta, nesta obra com um total de mais de
400 páginas.
ÍX
Entretanto, precisamos também ter presente que, ao respondermos à
feia daqueles gigantes, transformamos uma vez mais o nosso ambiente: ao nos
abrirmos para o novo, ao nos responsabilizarmos pela solidez do chamado que nos
faziam, justificamos o trabalho deles e também nos tomamos sujeitos da ainda
recente história do estudo científico do comportamento humano. Inúmeros pro
fissionais e estudantes estiveram envolvidos nas atividades que precederam e esta
beleceram as contingências que se materializam nestes dois volumes do Ciência do
comportamento: conhecer e avançar. Aqui, uma vez mais, nos vemos às voltas com o
mesmo problema que destacamos anteriormente. Poderíamos listá-los a todos?
Poderíamos pesar e avaliar a importância do entusiasmo, da dedicação, da serieda
de de cada um deles, a fim de a todos fazer justiça e, ao mesmo tempo, não impor
mos ao leitor uma lista por demasiado extensa, por tantos que foram aqueles que
em incontáveis sábados e domingos e em igualmente incontáveis segundas, terças
e quintas, deixaram o seu descanso e o seu lazer e sacrificaram ainda mais o seu dia
de trabalho para dispor as contingências que agora controlam esse texto que escre
vo? Melhor talvez nem tentar. Melhor talvez lembrar-lhes que os frutos que produ
ziram serão novas sementes de incontáveis novos livros, que ajudarão a transfor
mar a vida de incontáveis pessoas, mais e mais e cada vez mais, ampliando sempre
a nossa presença responsável ética e humanamente sensível na cesta de práticas
psicológicas a serem selecionadas por suas conseqüências.
Que flexível e rica pode ser esta ferramenta da humanidade, o com
portamento verbal: cá estamos a todos agradecendo, sob a afirmativa de ser im
praticável a todos agradecer!
E talvez tenhamos, na observação anterior, a possibilidade de um
novo, justo e essencial agradecimento. De maneira geral, a comunidade dos cien
tistas do comportamento tende a entender a palavra ciência como sendo o com
portamento verbal do cientista ao falar de uma maneira especial sobre o mundo.
Disso, uma particularidade: temos definido comportamento verbal como um tipo
de comportamento operante que depende, para sua instalação e manutenção, da
ação reforçadora de uma comunidade verbal, de uma outra pessoa, sendo assim um
evento social que exige um falante e um ouvinte para que possa ocorrer. Dessa
forma, de nada adiantaria terem falado os nossos gigantes, de estarmos falando
nós, caso essa feia não caísse em ouvidos sensíveis, em pessoas cujas histórias as
fizeram merecedoras dos adjetivos curiosas, abertas, inteligentes e ousadas. Estamos,
assim, agradecendo a cada um dos ouvintes que, através da sua resposta ativa de
ouvir, mantiveram e mantêm viva e florescente a Ciência do Comportamento. Estamos
agradecendo a você, caro leitor!
Pelos organizadores,
Roosevett R. Starling
Inverno de 2002.
X
A presentação
xi
se de aplicações diversificadas da análise do comportamento; os capítulos
12 e 13 versam sobre pesquisa e os capítulos 14, 15 e 16 discutem avanços
do modelo conceituai da análise do comportamento.
Essa classificação dos artigos é arbitrária e as categorias utili
zadas não são mutuamente exclusivas.
A organização dos textos, na forma apresentada, não obedece
a uma cronologia em correspondência com a sequência dos eventos reali
zados. Cumpre apenas a função de orientar o leitor quanto à origem dos
trabalhos, quanto à natureza de seus conteúdos e quanto à procedência de
seus autores.
Convém salientar que os artigos publicados neste livro revelam
uma grande heterogeneidade. Pode-se constatar uma diversidade na forma
ção acadêmica dos autores e uma variabilidade em seus interesses temáticos.
Considera-se que isso poderá mostrar-se útil como contribuição para a ex
pansão da Ciência do Comportamento e especialmente da Análise do Com
portamento Aplicada.
Embora atentos às tendências, concentradoras de interesse,
nesse campo de conhecimento, estamos convencidos de que a variação é
uma condição indispensável para a sua expansão, cabendo à comunidade
científica, como um todo, selecioná-la.
lo c a n d o o m o d e lo s o b a s c o n tin g ê n c ia s do m o d e la d o 1
R o o se ve lt R. StarLing
F U N R E I/D P S IC
1 Este trabalho è uma versSo revisada e ampliada da palestra de mesmo título, apresentada à I Jornada
Mineira da Ciência do Comportamento, realizada em Belo Horizonte, MG, em julho de 2000.
1
quer sobre um dado fenômeno (regras), fruto, espera-se, de exposições bem
sucedidas do modelo e/ou modelador às contingências que presidem o fenô
meno. Nesse sentido, uma teoria contém um conjunto de regras: se o pacien
te tossir pela tardinha, mas não pela manhã [S°], prescreva o remédio X [R] e
ele provavelmente irá parar de tossir [S11*]; se o bife estiver na cor tal [S°], ele
está pronto para ser retirado da frigideira [RJ e você poderá saborear um
"bom " bife [SR*]; se o cliente relata um sonho [SD], faça-lhe algumas pergun
tas sobre os detalhes do sonho [R] e você poderá discriminar os processos
inconscientes que governam as suas respostas [SR+]; se o cliente apresenta
respostas de ansiedade [S°], procure discriminar os antecedentes e as conse
qüências destas respostas [R] e você poderá manipular estas variáveis para
extinguir aquelas respostas [SR*]. Nesta visão, quaisquer resultados discerníveís
no mundo natural só podem ser obtidos se (1) o profissional discriminar com
precisão os estímulos relevantes e emitir a resposta especificada pela regra e
se (2) a regra descrever com acurácia as variáveis intervenientes e a sua cor
relação com a resposta programada para reforço pela contingência que o fe
nômeno efetivamente dispõe. Dessa maneira, o que uma teoria pode fazer é
controlar o comportamento daquele que fala de uma maneira específica sobre
um dado fenômeno, ou seja, fala sobre ele de acordo com uma certa teoria
(Starling, 2001).
Temos, então, duas vertentes a considerar: de um Lado, o fenô
meno por si mesmo e as contingências que ele determina; do outro, a descri
ção que uma teoria faz do fenômeno e as contingências que ela, a teoria,
determina. Disso decorre que o desempenho de um profissional (suas respos
tas) está assim multicontingenciado e o resultado final dependerá da maior
ou menor correspondência entre a contingência estabelecida pela teoria e a
disposta pelo fenômeno. Casos em que essa correspondência não se verifica
são descritos na linguagem coloquial pelo dito popular: "na prática, a teoria
é outra!".
Dois problemas, dentre outros, são suficientemente freqüentes
num processo de formação profissional para manter a propriedade descritiva
do dito popular acima mencionado. Um é constituído peLo fato de que as
variáveis que intervêm na situação prática necessariamente diferem daquelas
atuantes na situação do aprendizado teórico: são contextos diferentes e o
laboratório nos demonstra de maneira convincente que o aprendizado é ge
ralmente dependente do contexto em que ele ocorre (Donahoe e Palmer, 1994;
Catania, 1999).
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0 outro problema, quase um corolário do primeiro, é constituído
pela diferença entre o aprendizado teórico formal, que na nossa cultura se faz
de maneira predominantemente verbal, e o aprendizado prático, predomi
nantemente modelado pelas contingências; essa distinção guarda correspon
dência com a distinção entre conhecim ento deliberativo e conhecim ento
operacional (Skinner, 1972; Baum, 1999). No ensino formal, o aprendizado
teórico tem como resultado colocar o repertório verbal do aprendiz sob o
controle de determinados S°'s verbais; e o prático, o de adicionar uma habili
dade ao seu repertório, colocando-a sob controle dos estímulos do próprio
fenômeno.
A resposta que a cultura oferece para esses problemas é antiga e
bastante conhecida: damos ao aprendiz algumas regras básicas e tratamos de
expô-lo às contingências do próprio fenômeno, para que estas possam então
promover a modelagem fina daquele desempenho através do processo de
seleção pelas conseqüências (Baldwin e Baldwin, 1986). Dessa prática, nova
mente decorrem outros tantos problemas. Um deles é que o saber operacional
proporcionado pela exposição prática é essencialmente não-verbal, isto é, o
aprendiz - e, eventualmente, também o mestre! - pode não discriminar ver
balmente as variáveis que controlam a sua prática naqueles aspectos e assim
- um outro problema - pode descrever (explicar, falar) sobre o que faz de
maneira incongruente com as variáveis que de fato estão funcionalm ente
correlacionadas com as suas respostas. Por exemplo, posso saber nadar sem
saber falar sobre o porquê eu nado. Por outro lado, posso falar sobre o por
quê eu nado de ta l forma que encubro as variáveis relevantes para o meu
nadar, dizendo, por exemplo, que "isso é um dom dos deuses" ou que "é da
minha natureza nadar" Dentre outras inconveniências, essa linguagem difi
culta sobremaneira o ensino/aprendizagem. No exemplo, ou o aprendiz rece
beria de alguma maneira mágica o "dom ", ou sofreria uma transubstanciação
mudando a sua "natureza", ou estaria restrito a um aprendizado direto por
ensaio e erro - seleção pelas conseqüências -, com o tempo desnecessaria
mente aumentado que esta condição estabelece para a aprendizagem.
De qualquer forma, as profissões da saúde, dentre elas a psicolo
gia, reproduzem com maior ou menor sistem atização essa prática cultural,
oferecendo alguns tatos e regras (aprendizado teórico)e, a seguir, expondo
os seus futuros membros às contingências do fenômeno, o que se dá através
dos estágios, das "práticas" diversas, programas de extensão, etc. Aqui, vale
observar que a ênfase que a biomedicina e as profissões correlatas (odonto-
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logia, enfermagem, etc.) colocam na aquisição de habilidades revela-se supe
rior a da psicologia. Um exame dos currículos destas diferentes formações
profissionais habitualmente nos mostra que o número de horas curriculares
destinadas à exposição direta do aprendiz às contingências determinadas pelo
fenômeno, ou seja, a "prática", é maior naquelas outras profissões do que na
psicologia.
Consideremos, agora, o quadro típico de uma situação de treina
mento em psicologia clínica convencional. Habitualmente, o terapeuta-aprendiz
está sozinho, sentado à frente do seu primeiro cliente. Nenhuma das regras
que ele aprendeu permite que ele se sinta seguro para responder à profusão
de estímulos, internos e externos, presentes naquele contexto. 0 cliente se
comporta, gera estímulos. Temerosa e cautelosamente, o terapeuta-aprendiz
responde com o melhor da sua discriminação da situação e, o mais das vezes,
termina o seu atendimento com uma sensação aguda de inadequação, de ca
rência de estratégias interventivas, de incertezas sobre a propriedade da sua
atuação. Até aqui, tudo bem: afinaL, é exatamente para resolver isso que exis
te o supervisor e a prática da supervisão. Mas, infelizmente, é também aqui
que começam alguns problemas; alguns mais significativos para a situação
clínica em particular e outros comuns àquilo que a psicologia convencional
chama, amplamente, de problemas de "comunicação". A seguir, e a título de
ilustração, examinamos dois deles.
Já no in ício do século passado, Sigm u nd Freud (1 8 5 6 -1 9 3 9 )
chamava a nossa atenção para o controle, predominantemente respondente
(CS's), que alguns estímulos gerados pelo terapeuta podem exercer sobre as
respostas do cliente e, inversa e simetricamente, para o controle que alguns
estímulos gerados pelo cliente podem exercer sobre as respostas do terapeuta.
Sabemos hoje que as duas situações estão sob o controle de um só processo
com porta mental, mas, não existindo naquela época uma linguagem mais pre
cisa e discriminada para falar sobre o comportamento, e estando a construção
teórica limitada pelos pressupostos do dualismo psicofísico cartesiano; Freud
o classificou com base no sujeito que emitia a resposta, tendo assim denomi
nado a resposta de "transferência" quando era o cliente que respondia sob
aquele controle, e "contra-transferência", quando quem respondia era o
terapeuta, atribuindo-as ambas às ações autônomas de supostas instâncias
imateriais (Freud,1999; 1912). Kohlenberg e Tsai (2001) retomaram a análi
se das variáveis independentes presentes nas interações terapeuta-cliente e
indicam ter feito dela um dos focos da sua particularidade técnica de inter
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venção (FAP, Psicoterapia Analítica Funcional), tratando-a sob o título gené
rico de CRB's (Comportamentos Clinicamente Relevantes), Um exame cuida
doso provavelmente demonstraria uma superposição apenas parcial entre os
fenômenos que Kohlenberg e Tsai consideram sob esta única categoria verbal
(CRB) e aquele considerado pelas duas categorias verbais propostas por Freud
(transferência e contra-transferência) , embora certamente este último in-
clua-se entre os analisados por eles. Recusando uma interpretação mentalista
e oferecendo um tratamento extensivo do fenômeno sob uma perspectiva
analítico-comportamental, remeto a esses autores o leitor interessado num
estudo ampliado do fenômeno abordado neste parágrafo.
A natureza operante do comportamento de ouvir já está convin
centemente assentada para a análise do comportamento, tanto através de
dados experimentais como através de análises teóricas (Skinner, 1978, 1995;
Donahoe e Palmer, 1994; Catania, 1999). Ouvimos o que as nossas contingên
cias nos permitem, não necessariamente o que o outro falou. Variáveis cultu
rais, ontogenéticas e os efeitos das contingências presentes no momento do
ouvir podem controlar o que eu ouço, bem como a futura narrativa do que eu
ouvi. Figurativamente, o falante fala sob o controle das suas contingências
(que incluem, é claro, a sua história com porta mental) e o ouvinte ouve sob o
controle das contingências dele.
Tendo presentes as observações anteriores, consideremos nova
mente o quadro típico de uma supervisão convencional: o terapeuta-aprendiz
ouve, sob o controle das contingências presentes no momento em que ouve,
o que o cliente fala a partir das contingências dele, no momento em que fala.
A seguir, o terapeuta-aprendiz narra (fala) ao supervisor o que ele ouviu, sob
as contingências do momento em que narra, narrativa que o supervisor ouve
sob o controle das suas próprias contingências. Depois de ouvir, o supervisor
responde (fala) sob o controle das suas contingências e o terapeuta-aprendiz
falará ao cliente, sob as contingências atuantes no momento em que falará,
aquilo que ouviu o supervisor falar, sob as contingências do momento em que
ouviu, fala que o cliente, finalmente, ouvirá sob o controle das contingências
dele, no momento em que ouve. Convenhamos que os elos desta cadeia são
por demais complexos para supormos que, através desse processo, pudésse-
! A rigor, uma terceira categoria verbal utilizada por Freud estaria relacionada âs duas citadas: a "aliança
terapêutica" (observando-se sempre que esta, assim como a maioria das categorias verbais propostas por
Freud, costuma ser apresentada com grandes variações de definição e entendimento, muitas vezes contra
ditórios, o que parece ser inevitável em conceitos que não possuem referentes empíricos).
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mos assegurar que o terapeuta-aprendiz viesse a responder com discrimina
ção apropriada aos estímulos gerados pelo cliente. No mínimo, o tempo ne
cessário para que o reforçamento diferencial proporcionado pela exposição à
situação clínica refinasse essas respostas, em um nível de precisão satisfatório,
seria inaceitavelmente longo, se temos em consideração que os problemas
que a psicologia clínica é chamada a solucionar são de natureza prática e
implicam invariavelmente sofrimento psicológico (quando não também físi
co) presente ou futuro, para o cliente e para o seu grupo social.
0 modelo que está sendo relatado nasceu da insatisfação do au
tor com esta situação. Desde as etapas iniciais do seu desenvolvimento, a
pergunta orientadora foi: como assegurar uma melhor precisão e rapidez na
modelagem do comportamento do terapeuta-aprendiz? 0 que se segue é o
detalhamento deste programa e, assim sendo, o corpo principal deste traba
lho.
C a r a c t e r ís t i c a s d e f in id o r a s , v a r i á v e i s c r í t ic a s e p r o c e d im e n t o s d o p r o g r a m a
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avaliação final do estagiário para efeitos acadêmicos.
0 atendimento se dá sempre em duplas: um "terapeuta" e um
"co-terapeuta". Esses papéis não são rígidos. "Terapeuta" é o membro da du
pla que está, naquele momento, respondendo ao cliente, e os papéis alter
nam-se livremente durante o atendimento. Por sua vez, cada dupla é observa
da por uma outra dupla, que é também observada por ela, quando "observa
dores" e "terapeutas" revezam suas funções. Assim, temos duas duplas que se
alternam entre "observadores" e "terapeutas", cada uma delas com o seu cli
ente próprio. Esse arranjo, o atendim ento em duplas terapêuticas, é tão
freqüente e habitual nos ambientes terapêuticos contemporâneos, que não
ocorre a necessidade de defendê-lo na sua utilidade clínica e formativa, A
literatura internacional está repleta de relatos casuais deste arranjo e somen
te numa cultura clínica ainda dominada pelo modelo freudista, como é a bra
sileira, é que esse detalhe poderia causar espécie. Na verdade, o que deveria
causar espécie, e muito, é a reprodução passiva e acrítica, por outras aborda
gens, de um padrão de atendimento que só faz sentido dentro dos pressupos
tos mentalistas e funcionais da escola freudista. No caso específico das inter
venções analítico-comportamentais, os padrões freudistas são algo a ser de
cididamente evitado, por limitar enormemente o pleno aproveitamento das
novas e revolucionárias possibilidades que esta aplicação trouxe para a práti
ca da clínica psicológica (veja-se, a esse respeito, o instigante artigo de Guedes,
1993).
Cada atendim ento é estruturado quanto a sua distribuição do
tempo, de acordo com um procedimento empírico originalmente desenvolvi
do em conjunto com os primeiros ensaios do programa ora relatado (Starling,
1999), Este procedimento divide o atendimento em três etapas, que se distin
guem pelas diferentes contingências que estabelecem, cada uma delas, para
as respostas do cliente e do terapeuta, como se apresenta e detalha a seguir.
Este autor acredita que esse procedimento já tem apresentado suficiente va
lor heurístico para justificar a sua divulgação.
De fato, uma das características das terapias de orientação
comportamentalista é a sua preocupação com o desenvolvimento de técnicas
de intervenção sistem atizadas e empiricamente validadas, tanto em agrupa
mentos ou padrões relativamente freqüentes e estáveis de disfuncionalidades
comportamentais como em déficits ou excessos comportamentais pontuais
ou pervasivos. Protocolos terapêuticos básicos têm sido sugeridos tanto para
11
Uma solução que poderia parecer óbvia seria colocar o supervisor
como modelo, atendendo, ele mesmo, sob a observação do aprendiz. Mas
essa situação teria o inconveniente de treinar o aprendiz num contexto dife
rente daquele em que se daria a sua prática (conforme já comentamos acima,
sobre o controle contextual da aprendizagem): não seria diretamente sobre
as r e s p o s ta s dele, o a p re n d iz , que in c id ir ia m as o p e ra ç õ e s de
conseqüenciamento. Por outro lado, a utilização de uma sala de observação,
onde pudesse estar o supervisor, atenderia à condição " a" acima, ou seja,
colocaria o supervisor sobre as mesmas contingências do terapeuta-aprendiz
(ou o mais aproximadamente possível disto), mas falharia em atender à con
dição "b ", tornar as respostas (ações profissionais) do supervisor imediata
mente disponíveis para o terapeuta-aprendiz.
A solução adotada foi gravar a imagem e o som de alguns dos
atendimentos em VHS (vídeo-cassete). Por razões práticas, limitou-se a gra
vação a um de cada quatro atendimentos. 0 cliente é previamente esclarecido
deste procedimento e das razões para isso e o seu consentimento informado
é obtido. As informações assim obtidas são tratadas em estrita obediência ao
Código de Ética dos psicólogos e também adere, por decisão do supervisor, às
recomendações do The Belmont Report (1979). Se a presença da câmara (ou
o conhecimento de que está sendo filmado) constitui um estímulo suficiente
mente poderoso para caracterizar um contexto que invalidaria a relação clíni
ca, por torná-la atípica, é uma questão para a pesquisa. Este autor desconhece
estudos em píricos que estabeleçam inequivocam ente esse fato. Um dado
observacional que já pode ser citado a este respeito é que, no início dos pri
meiros atendimentos em que a câmara está presente, observa-se que os clien
tes ocasionalmente olham para a câmara, indicando que ela foi um estímulo
relevante o suficiente para eliciar uma resposta de observação (Catania, 1999).
Não obstante, esta resposta diminui de freqüência ao longo do atendimento e
não é maís observada a partir do terceiro ou quarto atendimentos, exceto
ocasionalmente. É possível que a habituação extinga o poder de controle da
câmara, transformando-se esta num estímulo funcionalmente neutro (Sato,
1995). Em adição a isso, as respostas não-verbais (CER's) e o relato verbal
dos clientes não indicam ser diferentes dos relatos verbais e respostas não-
verbais apresentadas pelos clientes em contextos clínicos típicos e, para um
mesmo sujeito, não se distinguem notavelmente daqueles observados nos
7
atendimentos em que a câmara não está presente, mesmo quando se trata da
demonstração de CER's potentes e de relatos de natureza mais íntima. Assim,
o programa de formação que estamos relatando assume que a filmagem não é
uma variável que possa comprometer o objetivo de aproximar a situação de
treinamento da situação de desempenho futuro.
A terapia analítico-comportamental, fiel à sua origem experimen
ta l (a n álise experim ental do com portam ento), tem com o uma "re g r a "
orientadora informal a de que "não existe cliente resistente, mas sim terapeuta
resistente". Essa expressão é metafórica, naturalmente. Em algumas circuns
tâncias e por vários dificultadores ambientais, as respostas-problema do cli
ente podem ser extrema-mente resistentes à mudança (confira-se, para três
ilustrações exemplares, Wason, P.C. e Johnson-Laird, P.N., 1970; Eisenberg,
1986 e Dube e Mcllvane, 2001). Entretanto, seu valor heurístico para a práti
ca da terapia analítico-comportamental é inegável, pois ela nos força a conti
nuamente manter o foco da análise no comportamento do terapeuta, pela
simples e satisfatória razão que, como já vimos acima, o terapeuta somente
pode agir sobre uma resposta-problema do cliente sendo ele mesmo - ou o
contexto terapêutico, numa consideração extensa - importante fonte de ope
rações de estímulo e de conseqüenciamento para as respostas do cliente, quer
seja diretamente, na situação clínica, quer seja como facilitador indireto da
exposição do cliente às novas contingências ou, ainda, às velhas contingênci
as mas com um novo repertório. Consistentes com essa posição, boa parte
dos estudos sobre a prática da terapia analítico-com portam ental enfocam,
como variável crítica para o resultado desejado, o comportamento do terapeuta
no contexto clinico (além do já citado Kohlenberg e Tsai, 2001, veja-se tam
bém Delitti, 1997, Meyer, 2001).
Os estagiários deverão ter cursado com bom aproveitamento as
d isc ip lin a s de orientação com portam ental oferecidas pela escola e são
selecionados através de entrevista com o supervisor. 0 estágio desenvolve-se
em 30 semanas, conforme se pode ver na Programação Detalhada do Estágio,
reproduzida no Apêndice I deste trabalho. As primeiras cinco semanas são
reservadas para o treinamento de algumas habilidades necessárias para a ava
liação comportamental, revisão conceituai e para o treinamento na condução
de um diagnóstico clínico convencional, desejável para um diagnóstico for
mal segundo o CID-10 e DSM IV que, pelo poder normativo da profissão médi
ca, termina por ser uma exigência legal em um sem número de situações pro
fissionais, tais como laudos para planos de saúde, para a Justiça, em perícias,
etc. (Matos, 2001).
8
Para sim p lificar o número de variáveis do treinam ento, são
selecionados, dentre os clientes registrados na clínica universitária que te
nham entre 21 e 45 anos de idade, os que declaram uma problemática de
respostas depressivas primárias, desde que não comprometidas por desorga
nizações mais agudas do comportamento, como as que se encontram nos qua
dros classificados como bipolares pela taxonomia psiquiátrica convencional.
Esta seleção objetiva assegurar que os estagiários possam aprender manejos
já bem delineados e testados para esse agrupamento específico de respostas
disfuncionais e, como um efeito colateral desejável, eles terão as probabili
dades de reforçamento positivo maximizadas para a sua primeira experiência.
A delimitação da faixa etária reduz a possível participação de variáveis bioló
gic as e so c ia is típ ic a s de determ inadas faixas etárias (a d ole scê n cia e
senectude), bem como reduz a diferença de idade entre o terapeuta-aprendiz
e seu cliente, aumentando a probabilidade de que as contingências atuantes
sobre o cliente sejam aproximadas às contingências já experimentadas pelo
terapeuta-aprendiz.
Após a seleção, os clientes são avaliados funcionalmente para a
determinação de déficits e/ou excessos comportamentais, prováveis variá
veis de controle e outras variáveis críticas, conforme apresentadas, resumida
mente, no Apêndice I I I , Folha Resumo de Avaliação Funcional. Para essa ava
liação, consideramos as classes de respostas depressivas descritas em Caval
cante (1997) como ponto de partida, ampliando-as e modificando-as confor
me a especificidade da história comportamental do cliente indicar. Esta avali
ação dá origem a um protocolo clínico tentativo, o qual será implementado e
avaliado periodicamente quanto aos seus resultados (veja-se o Apêndice I).
Essa avaliação é periodicamente conduzida através de uma verificação de a l
terações na freqüência relatada dos déficits e excessos comportamentais pre
viamente identificados, da observação e registro da freqüência de novas res
postas relatadas e/ou verificadas durante os atendimentos e dos resultados
quantitativos e qualitativos da aplicação do Inventário de depressão de Beck,
BD I, obtidos sem analm ente e subm etidos a uma análise e interpretação
comportamentais (para considerações sobre escalas para avaliação da depres
são e sobre o Inventário de depressão de Beck, consulte-se Calil e Pires, 1998,
e Gorestein e Andrade, 1998).
As quatro etapas da intervenção clínica (avaliação, intervenção,
término e acompanhamento) começam a partir da sexta semana e vão até a
vigésima nona semana. 0 tempo previsto para o tratamento (24 semanas ou
9
seis meses) corresponde ao tempo mínimo sugerido na literatura da área para
um tratamento comportamental das apresentações depressivas, critério de
seleção dos clientes, conforme já se comentou acima. Se ao fim deste período
o cliente ainda apresentar disfunções importantes, a sua permanência em
tratamento é reavaliada. Clientes com disfunções residuais poderiam ser en
caminhados ao SUS/Posto de Saúde Municipal para a finalização do seu trata
mento, uma alternativa prevista, mas que, até a presente data, não precisou
ser adotada. Na verdade, e com uma única exceção, todos os clientes atende
ram aos critérios mínimos que adotamos para alta clínica - BD I normal e ex
pressiva redução ou extinção dos déficits/excessos comportamentais obser
vados - no prazo do tratamento. Para a exceção mencionada, o tratamento
foi prolongado por mais 14 atendimentos, quando então aqueles critérios
foram atendidos.
De fa to , os r e s u lta d o s c lín ic o s m e receriam um m e lh o r
d e ta lh a m e n to , até m esm o p elo s b o n s r e s u lta d o s o b tid o s , m as este
detalhamento representaria um afastamento da finalidade predpua deste tra
balho, que é relatar o programa que estamos utilizando para a formação de
terapeutas analítico-com portam entais.
Paralelamente, os estagiários são solicitados a estudar uma série
de textos, selecionados pelo supervisor, relacionados a cada etapa do estágio
e distribuídos ao longo das 30 semanas. Além de complementar alguns apren
dizados importantes para o desempenho no estágio, esses estudos visam a
ampliação, a particularização e a generalização dos manejos básicos aprendi
dos para intervenções em outros quadros disfuncionais, não depressivos, A
seleção de textos está em constante mudança, conforme novas experiências
são publicadas e, por esta razão, uma listagem deles não é oferecida neste
trabalho. Não obstante, pode ser útil relacionar as categorias sob as quais
eles se agrupam. São elas: 1) Questões éticas; 2) Variáveis clínicas na terapia
analítico-comportamental; 3) Avaliação comportamental; 4) Técnicas em in
tervenções analítico-com portam entais; 5) Estudos clínicos: apresentações
depressivas; 6) Estudos clínicos: apresentações ansiosas; 7) Estudos clínicos:
apresentações o b se ssiv o -c o m p u lsiv a s e tra n sto rn o s do com portam ento
repetitivo; 8) Estudos clínicos: disfunções sexuais; 9) Estudos clínicos: suicí
dio e manejo de crises; 10) Estudos clínicos: intervenções no casal e na fam í
lia. Para cada categoria, os estagiários devem preparar um estudo dirigido
(TE, Tarefa Especial). Para cada uma delas, é procedida uma avaliação da apren
dizagem, normalmente uma verificação oral, e estes resultados comporão a
10
uns quanto para outros, desde o inicio das primeiras aplicações clínicas da
ciência do comportamento. Originalmente propostos por autores orientados
pelo comporta-mentalismo metodológico, tais como Wolpe (1976) e Lazarus
(1979), essa tendência tem sido aparentemente selecionada por suas conse
qüências. Trabalhos nesta direção tornam-se cada vez mais freqüentes e ela
b o ra d o s, c o n d u z id o s por in v e s t ig a d o r e s c lín ic o s o r ie n ta d o s p elo
n e o c o m p o rta m e n ta lism o m e to d o ló g ic o ( c o g n it iv is t a s ), de o rie n ta ç ã o
com portam ental-cognitiva e analítico-com portam ental, como podemos ver,
por exemplo, em Beck, Rush, Shaw e Emery (1979), Rim e Masters (1983),
Butler (1987), Scott, W illians e Beck (1994), Rangé (1995), Datillio e Freeman
(1995), Caballo (1996), Miltenberger, Fuqua e Woods (1998), Barlow (1999),
Miltenberger (2001). Esta produção permite concluir que importante parte da
comunidade terapêutica comportamentalista tem considerado útil sistem ati
zar alguns manejos técnicos básicos para o tratamento de disfunções, cujas
variáveis criticas já estão razoavelmente bem identificadas. Como conseqüên
cia, acabam por estabelecer para cada uma delas uma referência do tempo
total médio para a intervenção. Uma referência da duração esperada do trata
mento pode nos permitir uma base importante para criticar e rever as hipóte
ses clínicas e as estratégias interventivas utilizadas em um tratamento que se
prolongue além desta duração média e, assim, providenciar as correções ne
cessárias, se tal for o caso. A referência de uma duração média de um trata
mento implica a desejabilidade de referenciar também o tempo de cada aten
dimento.
Na supervisão, é bastante comum verificarmos em relatos de aten
dimentos que o terapeuta-aprendiz esteve predominantemente respondendo
aos estímulos que o cliente produziu, habitualmente relacionados a sua his
tória comportamental mediata ("a semana passada") e/ou a sua colagem de
estímulos imediata (Baldwin e Baldwin, 1986). Ainda que o terapeuta-apren-
diz possa ter respondido com adequação técnica a esses estímulos, coube ao
cliente dispor as contingências às quais respondeu o terapeuta, ou, mais tec
nicamente, as contingências do cliente acabam por ter controle exclusivo so
bre o conteúdo, o tempo e o ritmo do atendimento. Para uma intervenção de
fundamentação experimental, como a analítico-comportamental, que pressu
põe planejamento e diretividade (previsão e controle), podem ser úteis o
desenho e o teste de estruturações do tempo de atendimento que estabele
çam bases técnicas para a sua otimização, para o controle equilibrado do
atendimento (variáveis do cliente e do terapeuta ou do método terapêutico)
12
e que, simultaneamente, minimizem o risco de homogeneizá-lo e/ou torná-lo
excessivamente diretivo.
Numa primeira tentativa para o estabelecimento desta base técni
ca para o controle do tempo de atendimento, na fase do tratamento propria
mente dito (as fases de avaliação, término e acompanhamento têm demandado
uma estruturação de tempo diferenciada), tenho utilizado, para minha referên
cia e dos meus estudantes, a divisão do tempo de atendimento em três unida
des básicas, as quais denominamos Emergentes, Rapport e Agenda3. Essas uni
dades se repetem duas vezes cada uma, dentro dos 50/60 m inutos que
correspondem ao tempo clássico de um atendimento de terapia psicológica.
Como as utilizamos, essas unidades básicas - Emergentes, Rapport e Agenda -
não são estanques, como também o tempo reservado a cada uma delas é uma
faixa de tempo, permitindo flexibilidade e adequação do procedimento às ne
cessidades específicas daquele atendimento. Indicam que, naquela faixa de tem
po, os estímulos gerados ou manipulados pelo terapeuta devem estar orienta
dos para induzir/evocar/eliciar verbalizações e respondentes emocionais pró
prios daquela unidade. De certa maneira, esse procedimento implica treinar o
cliente nessa estruturação, o que tem sido obtido após três ou quatro atendi
mentos. Estímulos gerados pelo cliente que pudessem receber um melhor trata
mento em outras unidades, que não aquela do momento, podem ser atendidos
ou defletidos, conforme circunstâncias especiais daquele atendimento e daque
le cliente.
A primeira delas denominamos Emergentes, para a qual reserva
mos em torno de dez minutos. É uma unidade que "pertence" ao cliente, na
qual ele dá o tema e estrutura o tempo. Normalmente, uma pergunta simples
do tipo "Como foi a sua semana?" é suficiente para iniciá-la. Tem uma dupla
função: para o cliente, permite-lhe tratar dos seus emergentes, isso é, relatar
os eventos ocorridos na última semana e/ou provenientes da sua colagem
pessoal de estímulos naquele momento. Para o terapeuta, oferece uma amos
tra bem próxima do comportamento "natural" do cliente, as principais contin
gências atuantes no seu dia-a-dia, seu repertório e padrões com porta mentais
mais freqüentes, os respondentes emocionais eliciados por esses padrões, a
menor ou a maior adequabilidade dos seus tatos e auto-relatos. Corrobora ou
não as hipóteses que orientaram a formulação do protocolo terapêutico e
13
expõem contingências especiais que, quer pela novidade quer pelas variações
na intensidade, possam ter ganho um controle aumentado sobre as respostas
do cliente. Desta fase, podem nascer agendas especialmente formuladas para
atender circunstâncias especiais e/ou intervenções paralelas com técnicas não
previstas, inicialmente, no protocolo.
A segunda unidade é o Rapport, à qual dedicamos uma faixa de
tempo ao redor de cinco minutos. 0 Rapport destina-se à renovação e ao
fortalecimento da relação cliente-terapeuta, isto é, o reforçamento da respos
ta de comparecer aos atendimentos. Repetida a cada consulta, essa unidade
tem a finalidade de "aquecer" e preparar o cliente para o trabalho de agenda
subseqüente, firmando o caráter especial daquela relação e eliciando e refor
çando respondentes em ocionais favoráveis ao desenvolvimento do trabalho
clínico. Geralmente, introduzo essa unidade com um simples "Quer saber o
que eu penso de tudo isso ?" ou uma de suas inúmeras variantes. Como a uso,
tem por principais funções:
• Restabelecer o con tato interpessoal: dar respostas cultural, so cia l e
afetivamente adequadas e consoantes aos estímulos verbais e não-verbais
gerados por aquele cliente naquele momento, ou seja, aos emergentes
apresentados na primeira unidade, que é o relato das contingências que
estiveram/estão atuando na vida do cliente. Numa formulação expressiva,
"ouvir e responder com empatia ao aqui e agora do cliente".
■ Discriminar e avaliar a intensidade das contingências aversivas atuando
sobre o cliente naquele momento e responder com adequação e consonân
cia cultural, social e emocional. Ou seja, expressivamente: "encontrar o
sofrimento e mostrar compaixão".
• A cada vez, resumir e salientar as respostas disfuncionais apresentadas
pelo cliente, remetendo-as a classes operantes mais amplas ("mudando a
perspectiva"), e reforçar as estratégias bem- sucedidas já aplicadas pelo
cliente ao longo do tratamento, citando-as e estimulando a sua generali
zação ("recuperando o controle do cliente sobre o seu ambiente"). Estabe
lecer, evocar e reforçar as discriminações verbais do cliente sobre as variá
veis do meio externo e interno que provavelmente tenham algum controle
sobre suas repostas disfuncionais ("facilitando e ampliando o in s ig h f).
A A gen da é a terceira unidade e o núcleo do tratamento. Vinte
minutos são dedicados a ela. Introduzida com um singelo "Bem, agora vamos
à nossa Agenda de hoje!", ou variante, é uma unidade que "pertence" ao
terapeuta, na qual a sua diretividade é ampliada. Como a maior parte dos
14
textos clínicos discute exaustivamente o manejo técnico, que é o foco desta
unidade, limito-me a apresentar, a seguir, um delineamento esquemático do
seu conteúdo. De maneira ge ral tem por função:
Examinar os ensaios comportamentais (tarefas terapêuticas) da semana,
calibrando-as ou reformulando-as, verificando as suas conseqüências, o
custo da resposta alternativa, estimando o impacto das mudanças em ou
tras contingências que também atuam sobre o cliente e na implantação de
estratégias de generalização.
■ Trabalhar os itens do protocolo clinico. É o manejo técnico das respostas
disfuncionais, incluindo técnicas específicas para redução/extinção de
déficits ou excessos comportamentais.
15
guintes, Repetição e ensaio são procedimentos importantes para aumentar a
p ro b a b ilid a d e de c o n tr o le das o p e ra ç õ e s de e s tím u lo e o p e ra ç õ e s
conseqüenciais ao longo do tempo (Donahoe e Palmer, 1994; em especial os
capítulos que tratam dos fenômenos memoriais). Variáveis criticas para o de
sempenho são repetidas, recebem explicações adicionais e são enfatizadas.
Conexões entre itens da Agenda e dados compor-tamentais evidenciados nas
unidades de Emergentes, originados das respostas do cliente ou terapeuta ou
ainda particulares à relação que estabeleceram naquele dia são considerados.
Reforços, calibragens e estratégias para a manutenção e a generalização da
quele item do protocolo podem ser proporcionados pelo terapeuta, É também
nesta etapa que as tarefas terapêuticas para o próximo atendimento são apre
sentadas e discutidas, considerando o protocolo clínico e/ou agendas especi
ais. Por efeito da supressão condicionada, como já vimos quando da discus
são anterior sobre a segunda rodada dos Emergentes, sugerir o que "vai acon
tecer" pode aumentar a probabilidade de que processos verbais privados e
CER's relacionadas ao contexto terapêutico adquiram a saliência necessária
para serem eliciados por eventos do ambiente natural do cliente, facilitando
os ensaios comportamentais e a generalização, e mantendo o cliente "em te
rapia", por assim dizer, até o próximo atendimento.
Entramos então na última unidade, um novo Rapport, durante os
cinco minutos finais, nos quais estaremos novamente ocupados em reforçar a
resposta de comparecer à terapia e ampliar a discriminação verbal do cliente
sobre os eventos tratados durante o atendimento (evocar CRB3, na termino
logia de Kohlenberg e Tsai; 2001). Geralmente, pergunto: "0 que você apren
deu hoje que pode Lhe ajudar?" ou "De tudo o que vimos hoje, o que foi mais
significativo para você?" Tenho utilizado esta unidade como uma recapitula
ção daquele atendimento em particular e para fazer a conexão dele com o
tratamento como um todo. Podemos resumir o relatado anteriormente como
se vê na Tabela 1.
Skinner (1974), falando sobre o fenômeno do autocontrole, as
sim se expressa: "Quando um homem se controla (...) controla-se precisamen
te como controlaria o comportamento de qualquer outro através de manipu
lação de variáveis das quais o comportamento é função.", (pág. 134). Quando
desejamos controlar o nosso próprio comportamento, tratamos de manipular
o nosso ambiente, dispondo estímulos que possam, num momento futuro,
16
Tabela 1 - Distribuição das etapas e tempos
para a estru tu ração do tem po de
a te n d im e n to
Emergentes 1 10 m inutos
Rapport 1 5 m inutos
Agenda 1 20 m inutos
Emergentes 2 5 m inutos
Agenda 2 10 m inutos
Rapport 2 5 m in u to s
Tempo discricionário 5 m in u to s
vir a exercer controle sobre as nossas respostas. Assim, quem precisa acordar
mais cedo do que o habitual, manipula o seu ambiente, recolhendo-se ao leito
mais cedo, colocando um relógio despertador, pedindo a alguém que o acor
de, repetindo insistentemente para si mesmo (mandos a si mesmo) que "te
nho que" acordar às tantas horas, etc. Quando alguém provê, ele mesmo, as
contingências que virão a controlar as suas respostas num momento futuro,
dizemos que aquela pessoa está praticando o autocontrole.
17
Como provavelmente já está claro para o leitor, entendemos que
formar um terapeuta a nalítico-com porta mental é, principalmente, treinar a dis
criminação, modelar4 as respostas do terapeuta-aprendiz e ampliar o seu re
pertório clínico (técnicas de intervenção), sendo, portanto, as respostas do
terapeuta-aprendiz, seus antecedentes e suas conseqüências o foco do proces
so formativo. Ora, na gravação, para atender à condição de colocar o supervisor
sob contingências o mais semelhante possível
às do aprendiz, a câmara filma o cliente, estan
do os terapeutas-aprendiz de costas para ela,
conforme se vê na Figura 2. Para funcionar
como modelo, é preciso que o supervisor res
ponda às contingências estabelecidas pelo cli
ente e não àquelas que o terapeuta-aprendiz
estabelece, caso em que estaria constrangido a
fu n c io n a r p re d o m in a n te m e n te com o
modelador. Para assegurar uma observação
acurada do comportamento dos terapeutas-
aprendiz, os atendimentos se dão numa sala
que contém um ambiente de observação ane
xo, com uma janela de observação dotada de
um espelho unidirecional. Nesta sala de obser
vação, fica, então, a dupla de observadores que, pelo arranjo espacial, está de
frente para a dupla de terapeutas. Sua função é observar e registrar os compor
tamentos dos "terapeutas", aos quais depois darão um retorno (feedback) for
mal, objetivando conseqüenciar aqueles comportamentos num processo de
reforçamento diferencial (modela-gem) continuado. Assim como no caso da
gravação, o cliente é informado da dupla de observadores, dos objetivos dela
e o seu consen-timento informado é obtido. As mesmas observações que acima
se relataram para a presença da câmara são igualmente verdadeiras para a
presença dos observadores e, pelas mesmas razões, o programa de formação
que estamos relatando assume que a presença dos observadores na sala de
observação não é uma variável que comprometa a aproximação da situação de
treinamento da situação de desempenho futuro, nem para o cliente, nem para
os terapeutas-aprendiz.
‘ O verbo modelar aqui implica os processos de modelagem {to shape) e modelação (to modet).
18
do terapeuta seja m ais "liv r e " No en ten dim ento deste autor, aqueles
supervisores parecem preferir deixar que as contingências terapêuticas pro
venham, elas mesmas, o aprendizado, a partir de um mínimo de regras. Na
nossa cultura, as palavras "livre" e "liberdade" referem-se, o mais das vezes, a
uma ausência de controle coercitivo para o comportamento e estão pareadas
com potentes respondentes emocionais, sendo, por isso mesmo, palavras que
coloquialmente poderiam ser chamadas de sedutoras, desejáveis, emotivas.
Tal como usadas na linguagem coloquial, um analista do comportamento tal
vez acrescentasse mais um adjetivo: ilusórias (Skinner, 1977; Sidman, 1995;
Baum, 1999),
19
2001) pode-se depreender que um terapeuta controlado por "princípios" res
ponderia preferencialmente â configuração molar do comportamento do cli
ente, em oposição à sua configuração molecular. Pode-se também entender
que, atuando assim, o terapeuta buscaria implantar classes de respostas, tais
como as contidas no conceito de behavioral cusps, definidas como "um a mu
dança de comportamento que tem para o organismo conseqüências além da
mudança em si mesma" (Rosales-Ruiz e Baer, 1997, pág. 537). Ou ainda,
pode-se entender que o terapeuta estaria atento a oportunidades de discri
minar e reforçar classes de ordem superior (íearning sets), tais como discuti
das por Catania (1999). Não existe incom patibilidade alguma entre o modelo
aqui relatado e a proposição de Kohlenberg e, seja como for, o resultado das
proposições técnicas de Kohlenberg e Tsai manifesta-se, como esperado, num
alentado conjunto de regras.
* Este autor está convencido de que os mesmos argumentos e situação aqui apresentados em contra a uma
'formação livre" se aplicam com igual propriedade com relação â proposta de uma "duração livre" para o
tempo total do tratamento. A rigor, admitir a indeterminaçâo da duração de uma intervenção terapêutica
equivale a admitir a indeterminaçâo do próprio procedimento.
20
através deste procedimento. A mutabilidade do ambiente e a variabilidade
comportamental garantiriam a continuidade do processo de seleção pelas
conseqüências, ou seja, a evolução dessas práticas. Dessa evolução, surgirão
novas regras, mais fiéis como descritoras das contingências atuantes naquele
novo ambiente as quais, por sua vez, deverão ser igualmente sistemática e
extensivamente ensinadas até que novas transformações venham a torná-las
inadequadas. Como se pode depreender do programa formativo que se relata,
este autor valoriza em igual importância a modelagem pelas contingências,
mas defende que esta modelagem seja facilitada e otimizada pela discrimina
ção que as regras permitem.
21
reforçamento direto ao aprendiz, através da apresentação de uma medida
objetiva do seu desempenho e da sua evolução ao longo do período formativo.
22
cada dupla seleciona 15 minutos de sua gravação para apresentar em super
visão, justificando a escolha desta seleção. A supervisão é dada semanalmen
te, com uma hora e meia de duração, e no mini mo duas gravações de atendi
mentos podem ser apresentadas a cada semana ao supervisor e ao conjunto
dos estagiários. Esse arranjo permite que cada dupla tenha pelo menos um
dos seus atendimentos avaliados a cada mês. Nessa situação, o supervisor
observa as respostas do terapeuta-aprendiz à estimulação apresentada pelo
cliente, apresenta a sua própria resposta e auxilia o aprendiz a discriminar os
eventos antecedentes que provavelmente exerceram controle sobre a respos
ta do aprendiz e sobre a que ele mesmo emitiu, bem como examina as possí
veis conseqüências destas respostas para o cliente. Também nessa oportuni
dade, o supervisor pode avaliar e reforçar diferencialmente as respostas do
aprendiz durante o atendimento, oferecer e trabalhar hipóteses alternativas,
recomendar estudos e, ainda, atribuir tarefas específicas e individualizadas
que possam melhorar a adequação e/ou ampliar o repertório clínico do apren
diz.
23
D is c u s s ã o e r e c o m e n d a ç õ e s p a r a f u t u r o s d e s e n v o l v im e n t o s
24
Do ponto de vista dos recursos empregados, estamos nos prepa
rando para trabalhar em tempo real, fazendo a transmissão das imagens e do
som diretamente para a sala de supervisão e utilizando o ponto eletrônico
para comunicação imediata do supervisor com os terapeutas-aprendiz. A pos
sibilidade de embutir a aparelhagem eletrônica de gravação e transmissão de
imagens e som está também sendo estudada.
25
sos, eventualmente melhor equipados intelectualmente, aperfeiçoá-lo ou subs
tituí-lo por outro melhor. Se isso de fato acontecer, este relato terá tido um
êxito muito além do esperado.
R eferências B ib l io g r á f ic a s :
Beck, A., Rush, A., Shaw, B., & Emery, G. (1979). Terapia cognitiva da depressão.
(Trad. Sandra Costa) Porto Alegre: Artes Médicas. (Trabalho original
publicado em 1979.)
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depressão. Revista de Psiquiatria Clínica, 25(5), 240-244. (Edição espe
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26
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27
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Othmer, W., & Othmer, S.C. (1992). A entrevista clínica usando o D SM -III-R . São
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evaluating information in an inferential task. British Journal o f Psychol
ogy, 61, 509-515.
29
A pêndice I - P rogramação D etalhada do Estágio
30
Semana Supervisão Prática Estudo Entregas
31
Semana Supervisão Prática Estudo Entregas
32
A pêndice II - R oteiro para verificação do desempe
Esteve atento e respondeu aos estímulos verbais e não verbais do cliente mesmo ao
desempenhar papel primariamente diretivo.
Solicitou fccdback.
Forneceu feedback.
Solicitou sugestões c/ou ofereceu opções.
Respondeu ao feedback ou sugestões do cliente, não os ignorando ou desqualificando.
Verificou periodicamente a sua compreensão dos pontos-chavc trazidos pelo cliente (por
cx.( resumiu, solicitou esclarecimentos adicionais, ctc.).
Resumiu periodicamente os seus próprios pontos-chavc para facilitar a compreensão do
cliente.
Discriminou e trabalhou CRB 1.
Discriminou e trabalhou CRB 2.
Comportou-se com rcsílência nas interações com o cliente.
Respeitou o ritmo do cliente.
Mostrou-se flexível em suas respostas, exemplos o'ou sugestões frente a estímulos
inesperados.
Cumpriu a estruturação do tempo de atendimento.
33
4. Controle eficaz do tempo: O terapeuta..
Cobriu a maioria dos itens da Agenda e reprogramou os pendentes.
Foi flexível com o tempo para trabalhar tópicos importantes que surgiram durante o
atendimento.
Limitou o tempo despendido em tópicos periféricos ou tangenciais.
Discriminou e limitou a discussão improdutiva sobre tópicos pertinentes.
Combinou as perguntas para obter uma narração adequada das contingências atuantes
sobre o cliente.
Empregou adequadamente perguntas abertas.
Fez uso mínimo de perguntas que pudessem ser respondidas com “ sim" ou "não” .
Evitou o interrogatório de “ fogo cruzado” .
Entremeou as perguntas com observações de reflexão, exemplos ilustrativos ou resumos
breves.
Empregou a maiêutica para evidenciar dis funcional idades do cliente cuidando para não
eliciar C ER aversivos.
Empregou perguntas para ajudar o cliente a explorar as diversas facetas de um problema
e/ou o exame de alternativas de interpretação e/ou ação (treinou discriminação verbal:
C R B 3.)
Empregou perguntas para ajudar o cliente a formular regras tentativas sobre alguma açâo
proposta.
34
Reviu cuidadosamente com o ciiente o trabalho para casa (TPC) da semana anterio-
Resumiu para o cliente o resultado conseguido na TPC e explorou desdobramentos.
Determinou nova TPC.
A TPC atribuída foi adequada aos problemas identificados.
A TPC atribuída foi adequada ao repertório e contingências do cliente.
a
Explicou lógica da atribuição da TPC.
A TPC foi especifica e os detalhes foram claramente explicitados.
Indagou se o cliente antevia problemas na execução da TPC.
Trabalhou eventuais dificuldades, previstas pelo cliente, na execução da TPC.
9. Técnicas específicas.
35
11. Calor humano :
U tilize o verso */£*£□ fnlha par« quaisquer uulroü comentários/ expansões/ indagações,
marcando um "X" aqui -> ( ).
36
A pêndice I I I - Folha resumo da avaliação funcional
(modificada e ampliada pelo autor a partir de original de Fuqua, T, W., 1999)
AVALIAÇÃO f u n c io n a l d o c o m p o r t a m e n t o
FO LHA RESU M O
4. VARIÁVEIS ECOLÓGICAS.
Gatilhos Inibidores
7. CONSEQÜÊNCIAS D AS RESPOSTAS-PROBLEMA.
Controle
s por reforça manto negativo?
Controla por estimulação sensorlal?
37
2
0 LUGAR DA EMOÇÃO NA ANÁLISE DO COMPORTAMENTO
Luciana Maluf 1
PUC-SP
1 Durante todo o texto, aparecerão algumas referências contendo duas datas, sendo a
primeira referente a publicação original; e a segunda, a consultada.
nem que, ao menos, admitam possuí-los. Dentre as várias formas de má inter
pretação do behaviorismo, talvez essa seja uma das mais comuns" (pág. 13).
Paixão
Ciúme
"É fácil confundir o que sentimos com causa, porque nós o senti
mos enquanto estamos nos comportando (ou mesmo
39
antes de nos comportarmos), mas os eventos que são responsáveis
peto que fazemos (e portanto peto que sentimos), permanecem
num passado realmente distante. A análise experimental do com
portamento favorece a nossa compreensão dos sentimentos por
esclarecer os papéis dos ambientes passado e presente" (pág. 15).
40
" Entretanto, parte do condicionamento acarretado por uma emoção
é aparentemente incondicionado, e neste caso o agrupamento deve
ser expiicado em termos de conseqüências evoiutivas" (pág. 163)
c) impedimento da resposta;
R ife r ê n c ia s B ib l io g r á f ic a s
41
Skinner, B. F. (1991). 0 Lugar do sentimento na análise do comportamento. In
B. F. Skinner, Questões Recentes na Análise Comportamental. Campinas:
Papirus. (Trabalho original publicado em 1989.)
42
3
A lg u m a s d a s c o is a s q u e B . F. S k in n e r pode d iz e r a p r o
fe s s o re s e e s tu d a n te s de P s ic o lo g ia in t e r e s s a d o s em edu
cação 1
Diz Skinner:
44
justificadas no atual contexto filosófico da Psicologia e da Pedagogia. Em
2001, isso continua acontecendo.
45
"prejudicado pela extraordinária lista de subprodutos atribuíveis a esse tipo de
prática" (Skinner, 1968/1972, pág. 92).
46
esse lugar. Aqui, em Belo Horizonte, as discussões à respeito da "Escola Plural"
da Prefeitura mobilizaram a mídia, os pais, os professores e os alunos. Os defen
sores da "Escola Plural" tentavam defender suas idéias, mas faltavam-lhes, como
ainda faltam hoje, alternativas aos métodos aversivos usados para ensinar. Na
maioria das discussões, as opiniões eram pela volta da reprovação. Sem ela,
diziam, o que poderia motivar o aluno a estudar?
Vamos, com Skinner (1987, pág. 129), verificar uma série de proposi
ções lógicas chamadas sorites aplicados à análise do aprender e do ensinar:
1. "Os estudantes falham quando nâo aprendem? Não, eles não foram bem
ensinados.
47
estão falhando? Não, a eles não foi ensinada uma teoria do comportamento
que os conduzisse a um ensino efetivo.
5. Então, é a cultura que está falhando? Mas qual é o próximo passo?" (1987,
pág. 128)
2 Um deles: atualmente (2001) - nós temos seis alunos fazendo programas de mestrado em Análise do
Comportamento em São Paulo, na PUC e em Brasília, na UnB. Logo, seremos um grupo.
48
1 Tenha claro o que você quer ensinar - só assim você poderá acompanhar a
aprendizagem do aluno, ainda que em uma sala de 60 alunos.
4> Programe o seu material => considerando que os alunos estudam outras matérias e
que não dispõem de muito tempo, é mais interessante programar textos menores,
que o aluno possa efetivamente estudar, do que textos enormes para ele ler e esquecer
depois.
4. Mostre como é que eles podem usar o que aprenderam na sua disciplina para
conseguir uma qualidade de vida melhor para si mesmos, para a sala e seus outros
ambientes.
49
Prepare-se também para o estranhamento inicial dos alunos. Acostumados a
trabalhar sob contigências aversivas, eles poderão estranhar não serem mais obrigados a fazer
seus deveres. Ficarão um pouco confusos até serem capazes de responder às novas
contingências em vigor.
Poderiamos, então, acreditar e desejar como Skinner que "... esses assuntos
fossem discutidos è propósito do mundo como um todo" o que poderia resultar em um
mundo no qual:
R e f e r e n c ia s B ib l io g r á f ic a s
50
4
A lguns aspectos da a bo rd ag em s k in n e r ia n a s o b r e ed u
cação*
■ ‘ Professora Assistente do Instituto de Psicologia da PUC-Minas. Mestra em Processos Comporta mentais pela Un8.
51
A educação implica o planejamento de contingências adequadas à
aprendizagem. Decerto, a manipulação não sistemática do ambiente natural irá também
promover aprendizagem, na medida em que respostas eficientes vão sofrendo
reforçamento diferencial.
52
maneira, os comportamentos de estudar, cumprir tarefas escolares e responder
adequadamente às contingências educacionais adquirem caráter de fuga e/ou esquiva.
53
o comportamento tem um controle mais eficaz. Porém, a aproximação nem sempre é
possível. Muitas vezes, o comportamento instruído só será verdadeiramente útil num futuro
muito distante. Então, outro recurso que pode ser utilizado é a otimização do materiaL Isto
é, os livros, os brinquedos e os jogos, os programas destinados ao exercício devem ser
interessantes, dinâmicos, bonitos e prazerosos, de forma que sua manipulação seja
reforçadora, podendo, então, manter o envolvimento e a atenção do aprendiz.
54
de criar habilidades. Assim, o aprendiz estará capacitado para lidar de maneira eficaz não
só com as situações já conhecidas, mas também com as situações novas e inusitadas que
venham lhe ocorrer.
R ef e r ê n c ia s B ib l io g r á f ic a s
55
5
E d u c a ç ã o e s p e c ia l e o co m p ro m isso com a a n á lis e e x p e ri
m e n ta l DO COMPORTAMENTO1
Cíntia Guilhardi
Leila BagaioLo*
PUC-SP
'A s autoras agradecem as contribuições de Shawn E. Kenyon e Paula Braga-Kenyon pela sua inserção na área de
educação especial. As autoras também agradecem os comentários de Hélio José Guilhardi. Texto apresentado ns
II Jornada Mineira de Ciência do Comportamento, UFMG em B.Horizonte, 9/6/2001.
2 As autoras são alunas do Programa de Estudos Pós-Graduados em Psicologia Experimental: Análise do Compor
tamento, e ambas sáo bolsistas Capes.
56
I Análise Experimental do Comportamento. Além disso, apresentam uma con
tribuição social significativa, uma vez que possibilitam progressos efetivos
(10 desenvolvimento de crianças especiais e melhoras relevantes nas interações
(j«ssas crianças com seus familiares.
57
Passo 2: Observar e registrar as respostas.
"... a unidade de uma ciência preditiva não é uma resposta, mas sim uma
classe de respostas. Para descrever-se esta classe usar-se-á a palavra
"operante". 0 termo dá ênfase ao fato de que o comportamento opera sobre
o ambiente para gerar conseqüências As conseqüências definem as propri
edades que servem de base para a definição da semelhança de respostas."
(Skinner,; 1953/98, pág. 71)
58
tamento autolesivo, aparecem com uma certa freqüência no repertório de crian
ças diagnosticadas com autismo, e podem ser agrupadas em classes de respos
tas de acordo com a função que exercem no ambiente. Tais topografias
comportamentais podem ser conseqüenciadas positivamente pela atenção (1)
fornecida por parte dos pais/cuidadores da criança, cada vez que ela se engaja
na emissão de comportamentos autolesivos, definindo, dessa forma, uma clas
se de respostas. Ou então, conseqüenciada negativamente pela retirada da con
dição de demanda ou exigência (2) na qual a criança se encontra, quando, por
exemplo, os professores retiram o lápis e o papel da frente da criança numa
situação de sala de aula, definindo, assim, uma outra classe de respostas. E
ainda, pode-se hipotetizar que tais top o grafias são conseqüenciadas por
reforçamento automático/auto-estimulação (3), ou seja, cada vez que a criança
se engaja nesse comportamento, ela "vê estrelinhas" (Iw ata, Pace, Kalsher,
Cowdery e Cataldo, 1990; Iwata, Pace, Cowdery, Miltenberger, 1994).
59
transformadoras mais eficazes. (...) prever, produzir, interromper ou
evitar o fenômeno como uma possibilidade de acerto maior do que
quem usa outros recursos. (...) Assim, seus procedimentos e con
clusões podem ser criticados, aperfeiçoados e aplicados por outras
pessoas. A observação é um instrumento de coleta de dados que
permite a socialização e conseqüentemente a avaliação do trabalho
do cientista. Através da observação sistemática do comportamento
dos organismos, em situação natural ou de laboratório, os pesquisa
dores têm conseguido identificar algumas das relações existentes
entre o comportamento e certas circunstâncias ambientais."(D an n a
e Matos, 1982/86, pág. 28)
P as s o 3 : E stabelecend o a u n h a de b a se
60
0 estabelecimento da linha de base tem implicações importantes,
uma vez que permite que o sujeito seja usado como seu próprio controle, ou
seja, as mudanças comportamentais que ocorrem serão sempre e invariavel
mente comparadas com os padrões comportamentais previamente observa
dos, todos produtos da história particular daquele sujeito, e jam ais compara
das com o desempenho de um grupo de sujeitos (cada qual com sua história
particular de contato com contingências de reforça mento e, como tal, não
diretamente comparáveis entre si):
61
(por exemplo: instalação de pré-requisitos como sentar-se à mesa, manter
contato visual com pais e terapeutas), a médio prazo (por exemplo: diminuir
o número de estereotipias na sessão e/ou aprender a emitir tatos e mandos
em relação a objetos, brinquedos, comidas via treino de comunicação com
cartões - PECS3, ou via com unicação oral) e a lo ngo prazo (por exemplo:
desenvolvimento de habilidades sociais como interação ativa com outras cri
anças, participação de eventos da comunidade, alfabetização).
1. Instrução,
2. Resposta da criança,
3. Conseqüenciação e
4. Intervalo entre tentativas: uma pausa discreta (3-5 segundos) ocorre en
tre a disponibilização da conseqüência e a próxima instrução.
' Uma discussão mais detalhada sobre os procedimentos descritos pode ser encontrada em
Miurice et al., 1996 e Sidman, 1985.
63
A fim de minim izar os com portam entos inadequados, pode-se
utilizar o procedimento de D RO (reforça mento diferencial de outro comporta
mento), que consiste basicamente no reforçamento diferencial de um com
portamento alternativo (desde que adequado para o indivíduo) ao comporta
mento que se quer minimizar, ao mesmo tempo que extingue o comportamen
to indesejável. Por exemplo, se queremos extinguir o comportamento agressi
vo de uma criança deficiente, podemos não reforçar essa resposta (não pro
porcionar atenção, por exemplo, quando o comportamento ocorre), ao mes
mo tempo que são criadas condições para que a criança emita, por exemplo,
com p ortam e ntos de cooperação (ajudar o c o le g a ) e p ossa, então, ser
conseqüenciada positivamente por isso (ganhar atenção dos colegas, profes
sores).
64
Comportamento e socialmente relevante (Baer et al., 1968), tem como ques
tão prioritária a generalização das classes de respostas instaladas/m inim izadas
dentro do setting terapêutico ou dentro da sala de aula para diversos contex
tos e situações. Para viabilizar a generalização do novo repertório da criança,
o terapeuta deve arranjar contingências específicas: trazer os pais-cuidadores
da criança para o contexto terapêutico e ensiná-los uma nova maneira de se
relacionar com a criança (por exemplo, não reforçar os seus comportamentos
inadequados), ou ainda, prepará-los a explorar, no ambiente da criança, con
teúdos ensinados durante a sessão de terapia (por exemplo, se a criança
aprende a dizer "pare" frente a figura de um sinal de trânsito específico, os
pais devem explorar a temática ao caminhar com a criança na rua).
65
programado em associação com a passagem do controle de contingências
arbitrárias, programadas e manejadas pelos terapeutas e pais, para as contin
gências naturais, disponíveis no contexto cotidiano da criança e acionadas
pelo p ró p rio c o m p o r ta m e n to da c ria n ç a . A ssim , a s n o v a s c la s s e s
comportamentais desejáveis adquiridas se manterão de forma duradoura.
66
que busca ajuda. Partindo desta relação, é importante ressaltar quanto a
eficiência de um tratamento pode estar vinculada ao grau de cientifícidade
presente na intervenção adotada:
R eferências B ib l io g r á f ic a s
Baer, D. M., Wolf, M. M., & Risley, T. R. (1968). Some current dimensions of
applied behavior analysis. Journal o f Applied Behavior Analysis, 1, 91-
97.
67
Baer, D. M., Wolf, M. M., & Risley, T. R. (1987). Some still-current dimensions
of applied behavior analysis. Journal o f Applied Behavior Analysis, 20,
313-327.
Halle, W. J., & Holt, B. (1991). Assessing stimulus control in natural settings:
an analysis of stimulus that acquire controlduring training. Journal o f
Applied Behavior Analysis, 24, 579-589.
Hersen, M., & Bellack, S. A. (1976). A multi pie-base line analysis of social-
skills training in chronic schizophrenics. Journal o f Applied Behavior
Analysis, 9, 239-245.
Houten, R. V., Alxerod, S., Bailey, J. S., Favell, J. E., Foxx, R. M., Iwata, B. A., et
al. (1988). The right to effective behavioral treatment. Journal o f Applied
Behavior Analysis, 21, 381-384.
Iwata, B. A., Pace, G. M., Kalsher, M. J., Cowdery, G. E., & Cataldo, M. F. (1990).
Experimental analysis and extinction of self-injurious escape behavior.
Journal o f Applied Behavior Analysis, 23, 11-27.
Iwata, B. A., Pace, G. M., Cowdery, G. E., & Miltenberger, R. G. (1994). What
makes extinction work: An analysis of procedural form and function.
Journal o f Applied Behavior Analysis, 27, 131-144.
68
Skinner, B. F.r Solomon, H. C., & Lindsley, 0. R, (1953, November 30). Studies
in b e h a v io r th e rap y . M e tr o p o lit a n S ta te H o s p ita l, W alth a m ,
Massachusetts, Status Report I.
69
6
A náuse do c o m po r t a m en t o : u m m o d elo de a n á l is e a p l ic a
da
(NAC-BH)
R esumo
Este a rtig o procu ra Levar a uma refle xão sobre a A n á lise
Comportamental Aplicada, apresentando os critérios clássicos de Baer, Wolf e
Risley. Apresenta também, uma proposta de análise comportamental aplicada
através do trabalho do Acompanhante Terapêutico (AT) em ambiente natural.
(Palavras-Chave: Análise comportamental, Análise funcional, Behaviorismo
Radical, Terapia Comportamental, Acompanhante Terapêutico.)
C r itérios pa r a u m a a n á l is e comportamental
1 Para amptiação dos estudos sobre os fundamentos da Modificação do Comportamento, o capftulo "The
f mergence of Behavior Modification" de Kazdin é bastante ilustrativo.
' Sâo respectivamente os artigos, "Some current dimensions of applied behavior analysts" e “Some stilt-
(urrent dimensions of applied behavior anaLysis".
71
A análise do comportamento individual é um problema em demons
tração científica, razoavelmente bem entendido (Skinner, 1953, Sec.
1), amplamente descrito (Sidman, 1960) e praticado com bastante
meticulosidade (Journal ofthe Experimental Analysis ofBehavior,
1957-). Através dos anosr essa análise tem sido buscada em vários
contextos. Apesar da precisão, elegância e poder variáveis, ela resul
tou em relatos descritivos gerais de mecanismos que podem produzir
muitas formas que o comportamento individual pode assumir. (Baer,
Wolfe Risley, 1968 pág. 1).
72
Assim, após apresentarem as dificuldades inerentes ao processo da
pesquisa aplicada, Baer, WoLf e Risley declinam os critérios para avaliação de uma
análise comporta mental aplicada. Conforme eles:
a) Aplicada
73
tes) suficientes para gerar algo chamado de solução, ou ao menos um
programa. (...)
b) Comportamental
74
instrumental e, para isso, sugerem que sejam investigados tanto o comporta
mento quanto quem se modifica na situação, uma vez que tanto o comporta
mento de quem está sendo objeto de estudo quanto o de quem registra sofre
rão alterações no processo, Para os autores, esses são motivos para o pesqui
sador procurar com mais afinco chegar a um resultado digno de confiança e
não, ao contrário, abandonar esse critério:
75
Segundo eles, o poder desse método está na mutabilidade do com
portamento do observador pelo treino direto e cuidadoso e na possibilidade de
acesso ao comportamento do observador para avaliações diretas, possibilitan
do aferir a fidedignidade.
76
A análise comportamental aplicada talvez devesse considerar com
muito mais cuidado e muito mais explicitamente as opções de lin
guagem que poderiam maximizar sua efetividade em sua cultura:
(a) encontrar formas de ensinar sua cultura a falar analítico-
comportamentalmente (ou ao menos a valorizara linguagem analí-
tico-comportamental); (b) desenvolver uma linguagem não analíti
co comportamental para exposição pública e observar se essa lin
guagem será tão útil para a pesquisa e a análise quanto a lingua
gem analítico-comportamental atual, ou se devem ser mantidas duas
linguagens; ou (c) deixar como está... (Baer, Wolf e Risiey, 1987
pág. 53).
c) Analítica e Conceituai
77
pela ocorrência ou não desse comportamento. Uma análise do comportamen
to só é conseguida quando se pode exercer controle sobre ele. Desta forma, a
aplicação, para ser analítica, tem que demonstrar controle quando possível,
ficando para a audiência um problema de julgam ento se o experimentador
demonstrou suficiente controle e freqüência para ser confiável. (Baer, Wolf e
Risley, 1968 págs. 3-4).
d) Tecnológica
78
Saber-se-á se uma descrição de um procedimento é tecnológica
se um Leitor bem treinado conseguir replicar esse procedimento produzindo
os mesmos resultados, apenas pela leitura da descrição. Isso implica o fato
de que a descrição deve levar em conta, em considerável nível de detalhamento,
todas as contingências possíveis do procedimento.
Este critério é atingido caso uma mudança com porta mental mos
tre-se durável através do tempo, apareça numa grande variedade de ambientes
possíveis ou se estenda a uma grande variedade de comportamentos relaciona
dos; por exemplo, caso a mudança comportamental produzida na clínica seja
também verificada na casa, no ambiente social, no trabalho do cliente. (Baer,
Wolf e Risley, 1968 pág. 6).
f) Eficaz
79
Resumindo, portanto, uma análise comportamental aplicada
deixará óbvia a importância do comportamento mudado, suas carac
terísticas quantitativas, as manipulações experimentais que anali
sam com clareza o que foi responsável pela mudança, a descrição
tecnologicamente exata de todos os procedimentos que contribui-
ram para essa mudança, a eficácia desses procedimentos em tornar
suficiente a mudança e a generalidade desta. (Baer, Wolf e Ristey,
1968 pág. 7).
3 O termo "Acompanhamento Terapêutico" expressava uma função que implicava uma ação, uma interven
ção junto a um outro sujeito. Por outro lado, o uso da palavra “amigo" gerava confusões, na medida em
que dificultava a discriminação e a caracterização do vinculo entre paciente e este profissional, como
relatam Mauer e Resnizky (1987).
80
Este processo acima descrito teve suas influências no Brasil. A
idéia do auxiliar psiquiátrico passou por Porto Alegre (Clínica Pinei) e, por
sua vez, chegou às comunidades terapêuticas do Rio de Janeiro, principal
mente, à Clínica Vila Pinheiros.
À medida que esta atividade (AT) era cada vez mais requisitada,
foi ocorrendo uma especialização do acompanhante terapêutico. Não só estu
dantes, mas também psicólogos, terapeutas ocupacionais e outros profissio
nais passaram a trabalhar como acompanhantes.
81
professores) para aplicar técnicas de modificação de comportamen
to ou para auxiliar programas terapêuticos no ambiente dos clien
tes. "
82
Em 1997, o NAC - Núcleo de Análise do Comportamento inicia a
prática do AT em Belo Horizonte, na abordagem com porta mental. 0 trabalho
iniciou-se com alunos de graduação da PUC-MG e da UFMG que se interessa
vam pelo Behaviorismo Radical e a terapia comportamental. Em 2000, foi
ministrado um curso de Acompanhante Terapêutico para mais de 70 alunos
da PUC/MG, da UFMG e do Unicentro Newton Paiva.
• Transtornos depressivos;
• Transtornos de ansiedade;
83
• Transtornos fóbicos (fobias);
• Transtornos do pânico;
• Queixas escolares;
• Queixas difusas.
0 Acompanhante Terapêutico
• Treinamento em observação;
• Técnicas de entrevista;
• Relação terapêutica;
E acrescentamos,
• Habilidades sociais;
84
C o n s id e r a ç õ e s é t ic a s do t r a b a l h o do A T n a a b o r d a g e m co m p o rt a m e n t a l
• A especificação de objetivos.
85
com o uso de contingências efetivas. No esquema de Owens, o segundo passo
para a resolução de um problema de comportamento é uma decisão comparti
lhada entre o profissional de análise do comportamento e o cliente sobre os
objetivos e métodos de tratamento.
R eferencias B ibliográficas
Baer, M. D., Wolf, M. M., & Risley, T. R. (1968). Some current dimensions of
applied behavior analysis. Journal o f applied behavior analysis. 1, 91-
97.
Baer, M. D., Wolf, M. M., & Risley, T. R. (1987). Some still-current dimensions
of applied behavior analysis. Journal o f applied behavior analysis, 4,
313-327.
86
Morris, E. K. (1988). Tendências actuales em et análisis conceptual Del
comportamiento. In: Manual de análisis experimental Del comportamiento
(pp. 19-55). Madri: Biblioteca Nueva.
87
7
I ntervenção com portam ental na c lín ic a *
88
Historicamente, o termo Terapia Com portam ental foi introduzi
do, de modo mais ou menos independente, por três grupos de pesquisadores:
em 1953, Lindsley, Skinner, Solomon e Richards empregaram o condiciona
mento operante a problemas clínicos de pacientes psicóticos hospitalizados,
com o termo de T.C. Em 1959, Eysenck definia a T.C. de forma mais ampla,
como sendo a aplicação das m odernas teorias de aprendizagem no trata
mento de distúrbios psicológicos, e sua definição compreendia o condiciona
mento clássico, o operante e a modelação. Contudo, antes disto, em 1958, na
África do Sul, Lazarus patenteou, de forma independente, o termo I X , para
referir-se ao fato de acrescentar procedimentos objetivos de laboratório à
psicoterapia tradicional e é, em grande parte, o responsável peto uso atual
(Caballo, 1996).
89
podem produzir mudanças no comportamento humano, tornando-o mais fun
cional.
90
No modelo comportamental, o comportamento desajustado ou
inadequado é visto como resultado da interação da pessoa com o ambiente à
sua volta e representa o resultado compreensível da história de reforçamento
do indivíduo. Aqui, o terapeuta começa por fazer 1- a análise funcional do
comportamento; 2- a seleção do comportamento de interesse; 3- a modifica
ção do com porta mento-problema e 4- a avaliação do resultado. É importante
ressaltar que o modelo comportamental traz, subjacente, uma questão funda
mental que é a importância da teoria na prática clinica.
91
manipulação dessas variáveis sobre o comportamento de interesse (Matos,
1999). Além disso, para que uma intervenção seja bem sucedida é necessário
não apenas utilizar um procedimento de modificação do comportamento, mas
decidir corretamente sobre as ocasiões adequadas para seu uso e como inter
pretar seus efeitos.
92
cliente e uma definição de um programa de intervenção individualizado (Meyer,
em Lettner, 1988), pois, muitas vezes, a tecnologia a serviço do terapeuta pode
ou não se adequar ao caso. 0 terapeuta comporta mental privilegia a própria
situação terapêutica como ambiente natural, modelando os comportamentos
verbais do cliente que surgem durante as sessões e analisando as contingências
interpessoais entre ele e o cliente, em função dos problemas deste último. 0
clinico-analista do comportamento acredita que o próprio cliente constrói grande
parte de seu ambiente, ou seja, que ele cria as contingências das quais seu
comportamento é função e é porque se comporta que os efeitos de seu compor
tamento o afetam. 0 terapeuta crê, também, que ele faz parte das contingências
de vida do cliente e que influencia suas respostas através dos efeitos que elas
têm sobre o comportamento dele - terapeuta (Banaco, 1997; Guilhardi e Queiroz,
1997).
Lipp (em Rangé e cols., 1995) chama atenção para o fato de que,
93
ta mento são: buscar uma compreensão adequada das dificuldades do cliente,
propor estratégias e realizar uma intervenção cuidadosa baseada na análise
funcional do comportamento (Baptistussi, 2000). Eles têm, também, como
objetivo levar o cliente â auto-observação e ao autoconhecimento, oferecen
do uma melhor qualidade de vida e uma independência maior para a resolu
ção de problemas futuros (Guilhardi e Queiroz, 1997).
Referências B ibliográficas
B a r c e llo s, A. B . r & H ay d u , V. B. (1 9 9 5 ). H is t ó r ia da P s ic o t e r a p ia
Comportamental. In B. Rangé (Org.), Psicoterapia Comportamental e
Cognitiva - pesquisa, prática, aplicações e problemas. 1 ed. Campinas:
Editorial Psy.
94
Guilhardi, H. J., & Queiroz, P. P. (1997). A análise funcional no contexto
terapêutico. In M. Delitti (Org.), Sobre Comportamento e Cognição - a prá
tica da análise do comportamento e da terapia cognitivo-comportamental.
Santo André: ESETec Editores Associados.
Rangé, B., Gorayeb, R., & cols. (1995). Glossário de Técnicas. In B. Rangé
(Org.)f Psicoterapia Comportamental e Cognitiva de Transtornos Psiquiá
tricos. São Paulo: Psy Editora.
95
QUADRO 1 - GLO SSÁRIO DE TÉCNICAS COM PORTAM ENTAIS
Adaptação de: (Rangé, B.; Gorayeb, R.; Lettner, H. W.; Oliveira, C. M. F.;
Souza, C. R.; Conceição, D. B.; Poser, N. - 1995)
96
8
A ANÁLISE FUNCIONAL NA CLÍNICA COMPORTAMENTAL1'2
UNIVALE
PUC-SP
í 0 autor agradece ao Professor João Carlos Muniz Martinelli pela revisão deste texto.
97
0 segundo enfatiza o papel central do comportamento verbal na prática clínica
e discute a característica mediacional do comportamento verbal na produção
de conseqüências. O terceiro propõe uma discussão sobre as intervenções
comportamentais e, para efeitos de análise, diferencia intervenções tecnicistas
de intervenções terapêuticas. O quarto tópico apresenta possíveis variáveis
comportamentais necessárias para uma análise funcional no contexto clínico,
E, por fim, as considerações finais.
A ANÁLISE FUNCIONAL
2) a própria resposta e
98
Estímulo antecedente(S°): Resposta (R) Estímulo conseqüente (SR)
II
COMPORTAMENTO
' Pode-se até argumentar que na relação terapeuta-cliente o que ocorre é uma testagem experimental de
variáveis presentes na vida do cliente, mas o sentido de experimentação discutido aqui refere-se ao
modelo experimental de pesquisa que pressupõe controle estrito de variáveis e posterior demonstração
desse controle.
99
-queixa do cliente e propõe alterações que comprovam ou não suas hipóteses.
Comportamento verbal
‘ Sempre que na referência aparecerem duas datas, a primeira indicará a data da publicação originai; e a
segunda, a data da publicação consultada.
100
Segundo Skinner (1957, 1978), na maior parte do tempo o ser
humano age apenas indiretamente sobre o ambiente. Seu primeiro efeito é
sobre outros homens. Ele recorre a um exemplo para demonstrar o papel do
ouvinte na mediação do comportamento. 0 exemplo refere-se a um homem
sedento que, ao invés de ir diretamente a uma fonte de água, pode simples
mente "pedir um copo d'água" a alguém. A conseqüência última - que é receber
o copo d'água - não compartilha nenhuma relação mecânica com o comporta
mento de origem - pedir um copo d'água - mas, necessariamente, depende da
mediação de alguém para ser eficaz. De fato, diz Skinner, a característica desse
comportamento é o de ser impotente em relação ao mundo físico.
101
referendai os movimentos do organismo num espaço de tempo com duração
determinada (respostas), podendo ser decomposta em propriedades, tais como
forma, duração, intensidade etc... Se, em determinado contexto, várias res
postas emitidas pelo organismo estiverem funcionalmente relacionadas a um
determinado reforçador, teremos, então, uma classe de respostas. Portanto,
uma definição funcional de classe de respostas tem como referencial o efeito
que a classe produz no ambiente; descreve os efeitos produzidos pelas res
postas (topografia) no ambiente físico e social ou nas relações que o sujeito
mantém com este ambiente.
102
dendo da situação é falante ou ouvinte) tem como pressuposto para o seu
trabalho agir como uma audiência não punitiva, que procura estabelecer uma
relação reforçadora e minimizar os efeitos adversos da punição sobre o bem-
estar do cliente.
TÉCNICA MÉTODO
(tecnicistas) (terapêuticas)
103
0 comportamento clínico do terapeuta de analisar as variáveis de
controle do comportamento do cliente é a própria análise funcional, resguar
dando as dificuldades relativas aos Limites de uma análise em contextos não
experimentais. A busca de relações "funcionais" é uma tentativa metodológica
de como abordar o evento com porta mental e abstrair, a partir dele, as variáveis
que efetivamente mantêm controle sobre sua ocorrência e/ou manutenção. Outro
aspecto é que considerar a análise funcional como um método de identificação
das variáveis relevantes do evento com porta mental não implica afirmar que o
conhecido das variáveis será suficiente para efetivar uma intervenção, pois a
análise funcional não é necessariamente um método de intervenção para mu
dança de comportamento, mas uma proposta terapêutica de habilitar o cliente
a pensar e analisar suas dificuldades a partir do modelo de contingências. Des
ta forma, fazer análise funcional na clínica não implica necessariamente promo
ver uma mudança no comportamento do cliente, mas produzir condições a
partir das quais o cliente consiga fazer suas próprias análises, como por exem
plo, discriminar o efeito de seu comportamento sobre o ambiente; discriminar
comportamentos de autocontrole; discriminar como a ação de outras pessoas e
aspectos do ambiente afetam seu comportamento; avaliar efeitos da emissão
de novos operantes; analisar sensações e correspondência com fatores ambientais
(abertos e encobertos), sua ação no " setting terapêutico”, entre outras.
V a r i A v e is c o m p o r t a m e n t a e p a r a u h a a n à l b e f u n c io n a i n o CONTEXTO CLlNICO
104
• o repertório e os efeitos do comportamento do cliente sobre o terapeuta e
vice-versa;
C onsiderações fin a is
106
gia metodológica que tem uma finalidade terapêutica. Nesse sentido, Meyer (1997)
enfatiza que:
107
Matos, M. A., & Malerbi, F. E. K. (1992). A análise do comportamento verbal e
a aquisição de repertórios auto descritivos de eventos privados. Psicolo
gia: teoria e pesquisa, 5(3), 407-421.
Meyer, S. B. (1997). Quais os requisitos para que uma terapia seja considerada
comportamental? Trabalho apresentado no IV encontro de Paranaense
de Psicologia, Curitiba, de 22 a 25 de Agosto de 1990.
108
9
É POSSÍVEL SABER SE O CLIENTE ESTÁ FALANDO A VERDADE?
PUC-SP
• e intenções.
Vamos dizer que a terapia lida tipicamente com relato verbal. Como
podemos saber se esse relato está em conformidade com a realidade? Como
saber se é exato? Como saber se é sincero?
1 Bolsista Capes de mestrado. O autor gostaria de agradecer a Maria Amália Andery, pela colaboração na
elaboração da palestra proferida na I I Jornada Mineira. Endereça para correspondência; Rua Irmão Odilon
Diniz, 80. CEP 01259-060. Sâo Paulo-SP. E-mail: nicopergher@hotmail.com
Conforme nos lembra de Rose (1997), o relato verbal é, além de
uma fonte de dados, um com portam ento.
"um tato pode ser definido como um operante verbal, no qual uma
resposta ê evocada (ou ao menos fortalecida) por um objeto ou even
to particular, ou por uma propriedade de um objeto ou evento" (págs.
81-82).
110
Figura 1: Representação esquemática dcs elementos da tríplice contingência
no operante verbal tato.
"Ele não tem freio na boca. A hora que ele abre aquela boca pra
falar algo que ele pensa, ele não tá olhando se tá magoando ou se tá tirando a
alegria da pessoa, nem nada. Ele vai em frente!"
"Ele fala que eu 'não vou fazer nada lá na Igreja', que eu 'não vou
receber nada lá', que eu 'tenho que ficar dentro de casa, junto com a família, à
noite', (...) Ele nunca aceitou minha família, meus parentes na minha casa".
111
E s t u d o s e x p e r i m e n t a i s : m a n i p u l a ç ã o d a s c o n d iç õ e s a n t e c e d e n t e s
112
tado a tentativa de em parelha mento com o modelo: além das opções "sim " e
"n ão" (como nos estudos anteriores), o sujeito podia responder "não sei". A
Figura 2 sintetiza as principais manipulações feitas nos estudos acima cita
dos, bem como as possibilidades de respostas verbais que os sujeitos tinham
ao contar sobre seu desempenho.
Figura 2: Resumo das manipulações e possibilidades de respostas verbais existentes nos estudos de
113
uma tarefa relativamente simples. 0 que pensar, então, dos relatos verbais
que ocorrem depois de um Longo tempo da ocorrência do comportamento que
está sendo relatado, ou que descrevem respostas diversas e complexas? Será
que permitimos aos clientes dizer "eu errei"? Quando o cliente expõe-se a
situações complexas, na qual seu repertório é colocado à prova e pode falhar,
como é que ele nos conta o que aconteceu? Será que o fato de incentivarmos
que o cliente comente sobre seu desempenho não estaria afetando a fidedig-
nidade do relato?
114
mando, ou seja,
topografia, de um tato pode ter, na verdade, a função de um
pode estar sob controle de condições especiais de um reforçamento espe
cífico (positivo ou negativo). Em nosso exemplo, seria um mando para re
ceber a moeda e ter acesso a reforçadores, no caso, a moeda e os produtos
adquiridos com esta.
116
está controlando o relato dos clientes: se são pura e simplesmente os eventos
antecedentes e o cliente está emitindo um tato preciso e verdadeiro, ou se
existem outras fontes de controle as quais estão levando a uma não-corres-
pondência entre determinados comportamentos e sentimentos e a maneira
com que são relatados.
117
relata que não tem mais ído à Igreja, ficando em casa e restringindo o seu
dia-a-dia à realização de atividades domésticas. Segundo Skinner (1989), tanto
os sentimentos quanto as ações são produtos de contingências. 0 terapeuta
deveria, portanto, buscar as contingências que estão produzindo tais senti
mentos e manter os comportamentos relatados por G.
118
para agradá-lo e diminuir a probabilidade de ser criticada, agredida (punida).
"Vou com ele (na missa). Quando eu vou,., porque se vai sozinho,
ete não gosta, eie gosta que vai junto, nê, mas se já foi no Sábado!Aí eu falo:
Se já fui ontem, hoje eu não vou' (...)"
do marido, não aceita os posicionamentos dele e faz do seu jeito. Isso prova
velmente é aversivo para o marido e produzirá sentimentos ruins no cônjuge.
E, para a cliente, os sentimentos serão de alívio, porque, apesar da reprova
ção, ela fez o quis (nesse caso, o sentimento não será de prazer ou satisfação,
porque ela está se esquivando de algo que lhe é aversivo - ouvir as reclama
ções dele).
119
comportamentos deliberativos do marido em função de estar doente, evita
realização dos afazeres da casa num ritmo ou qualidade diferente daquela que
ju lga correta - a sua maneira). Tais fatos poderiam ser incluídos na mesma
classe de comportamento, uma vez que seria uma tentativa de contra controlar
o marido, tentando fazer com que seja priorizada a sua própria vontade.
120
eventos da Igreja. Essa ausência de contato com reforçadores positivos pode
ria também explicar a desmotivação da cliente.
C o n clu são
121
R e f e r ê n c ia s B ib l io g r á f ic a s
Baer, R. A., & Detrich, R. (1990). Tacting and manding in correpondence training:
effects of child selection of verbalization. Journal o f the Experimental
Analysis of Behavior, 54, 23-30,
122
10
B eh a v io r is m o e C o m p r o m is s o S o c i a l *
• ter participado de uma palestra proferida pela Dra. Ana Mercês Bahia Bock,
presidente do CFP, em que ela fez uma reflexão sobre a Psicologia no Brasil,
elaborando questionamentos sobre a profissão do psicólogo no futuro: que
Psicologia queremos e de qual Psicologia precisamos no Brasil. Em sua
explanação, fez uma critica às concepções sobre o homem e sobre o fenômeno
psicológico que têm fundamentado a formação e a prática dos psicólogos,
apresentando a sua visão sobre esses aspectos, e que vai dar suporte às
suas propostas para tais formação e prática;
123
resid en tes em uma favela situ a d a nas proxim idades da Faculdade de
Psicologia, com a perspectiva de estender esse trabalho às fam ílias dessas
crianças. Esse estágio faz parte dos "Projetos de Extensão de Psicologia"
que, de acordo com a Coordenadora Executiva de Extensão do Unicentro
Newton Paiva, Professora Ângela Ribeiro Rodrigues, são entendidos como
prática acadêmica que interliga a Universidade à demanda da sociedade. A
extensão legitima a escola de ensino superior como espaço privilegiado de
produção do conhecimento e de transformação social e possibilita a formação
do profissional cidadão;
12 4
psicólogo, resumidamente, referem-se ao homem como um ser ativo, social e
histórico. A relação desse homem com a natureza, através de suas atividades, e
a relação com os outros homens constituem o ser humano. Há um permanente
movimento e um permanente processar do homem. 0 homem é criado pelo
homem. Não há natureza humana pronta. Não há aptidões. A única aptidão do
homem é poder desenvolver várias aptidões. E o desenvolvimento do indivíduo
se dá através do contato com a cultura e com os outros homens. O homem
aprende a ser homem.
0 indivíduo, ao adquirir as condições para sobreviver, adquire
também uma visão de mundo, adquire um conjunto de significados, pois essa
relação do homem com a cultura, mediada pelos outros homens, tem como
mediador fundamental a linguagem (comportamento verbal), através da qual
vai desenvolvendo sua consciência.
125
Essa diferença, encontrada nas explicações skinnerianas segundo
Andery (1997),
As fo rç a s p o lic ia is b r a sile ir a s n ão a lc a n ça ra m , a in d a , as
características de uma policia democrática. São autoritárias e arbitrárias. Seus
responsáveis não chegaram a compreender que a atividade policial numa
democracia deve ser exercida em benefício de todo o povo, para lhe dar
segurança e tranqüilidade, e não apenas em prol de uma parcela dele.
126
A utilização do controle aversivo produz mais violência e gera
contracontrole também aversivo.
127
são repetidos nesses ambientes. Como conseqüência, apresentam problemas
de relacionamento com os colegas e educadores, sendo agressivas, destrutivas,
perturbadoras da ordem e resistentes à participação nas atividades. Começam,
então, a ser rejeitadas e o desempenho acadêmico é prejudicado.
128
não podemos apresentar, ainda, dados sobre este trabalho. Estão sendo feitas
entrevistas com as mães (porque só elas comparecem), com o objetivo de
conhecer a história particular de cada criança e program ar orientações
especificas para cada família.
Para finalizar, gostaria de dizer que tem valido a pena. Não tem
sido fácil nem simples, mas por enquanto possível. Percebe-se que, após o
estágio, o aluno sai modificado, sensível ao desafio de produzir alternativas
à Psicologia tradicional.
R e f e r ê n c ia s B i b l io g r á f i c a s
129
11
V a r ia ç õ e s de id e n t id a d e s e x u a l:
1 Departamento de Psicologia, Fafich, UFMG: Av. Antônio Carlos, 6627, Campus da Pampulha, CEP
31270-901, Belo Horizonte, MG, Fone: (31) 3499-5022/5070. Site; www.faficii.ufmg.br/~senechal.
E-mails: 5 enechal@fafich.jfmg.br; senechal@terra.com.br
sexual de um ind ivídu o é reconhecida a partir da presença de órgãos se
xuais característicos de cada gênero (testículos para os ind ivídu os do sexo
m asculino e ovários para os indivíduos do sexo fem inino), A definição da
identidade sexual de uma pessoa diz, portanto, da distinção entre o sexo
p s ic o ló g ic o (q u e irá se d e se n v o lv e r ao lo n g o d o s a n o s - s e le ç ã o
ontogenética) e o sexo fisio ló gico (caracteres sexuais primários - seleção
filogenética). In clu i ainda, a orientação sexual, que se define pela ocor
rência de com portam entos con siste ntes em direção a um certo tip o de
objeto sexual, que permite, na maioria das vezes, precisar a noção que o
in d iv í d u o tem de su a m a s c u lin id a d e ou f e m in ilid a d e e de su a
heterossexualidade, hom ossexualidade ou bissexualidade (seleção c u ltu
ral) (Lettner e Brito, 1988; Todorov, 1989; Castilho, 1989; Rangé e Con
ceição, 1995; Lopes, 1993).
0 com portam ento, visto como atividade prim ordial dos seres
v ivo s, é c o n ce itu a d o por Skin ne r (1979, 1980) com o um p ro du to da
interação entre o organism o (com sua base genética) e seu am biente (com
sua base histórica e im ediata). Pode ser descrito, de maneira ampla, "(...)
com o o movimento de um organismo no espaço, com respeito a ele mesmo
ou a qualquer outro quadro de r e f e r ê n c i a (Skinner, 1979, pág. 114). Es-
tendendo-se essa conceituação ao específico comportamento sexual, pode-
se, então, defini-lo como o que se refere "a toda e qualquer resposta, aber
ta ou encoberta, que envolva alguma excitação na direção de um objeto se
x u a l." (Rangé e Conceição, 1995, pág. 219), Assim, na caracterização do
sexo de uma pessoa, devem ser levados em consideração; 1) seu sexo
biológico, 2) sua identidade p sicológica, 3) seu papel sexual so cia l e 4)
sua preferência afetiva. Tais fatores dizem dos movimentos de um o rga
nismo em relação a ele mesmo e a outro e à efetivação de respostas, aber
tas ou encobertas, na direção de um objeto sexual. Dizem, pois, que o
comportamento sexual pode ser uma função de suas conseqüências.
131
mãe. Em função desse processo de aprendizagem de repertórios masculinos
ou femininos, a pessoa irá construindo contingências de identificação sexual,
afirmando-se e funcionando como homem ou mulher, ainda que contraria
mente ao seu sexo biológico. São raros os casos, entretanto, em que essa
identidade psicológica contraria a biológica. Já o papel sexual social (3), ou
a disposição à diferenciação de atitudes que um individuo faz, muito prova
velmente depende, em grande parte, dos processos de socialização e de apren
dizagem de repertórios operantes funcionais que ocorrem em seu dia-a-dia.
Compreende-se, aqui, atitude como uma tendência a responder a alguma pes
soa, objeto ou situação, de modo positivo ou negativo, e socialização como
um processo de aquisição de valores, de atos e de comportamentos específi
cos aprovados pela sociedade. De modo especial, portanto, pode-se concluir
que a aprendizagem por observação e o condicionamento operante são es
senciais para a socialização, do ponto de vista dos papéis sexuais exercidos.
Os seres humanos aprendem tanto o comportamento masculino como o femi
nino observando os diversos modelos que os cercam. A preferência afetiva de
uma pessoa (4) pode estar direcionada a indivíduos do sexo oposto ou do
mesmo sexo, podendo, ainda, direcionar-se a ambos os sexos ou a nenhum
deles. Na grande maioria dos casos, porém, há uma preferência dominante,
hetero, homo ou bissexual. Nesse sentido, independentemente da maneira
como um indivíduo expressa sua sexualidade (na direção hetero, homo ou
bi), sua identidade psicológica e seu papel na sociedade são, via de regra,
coerentes com seu sexo biológico, salvo raras exceções. Pode-se observar, por
exemplo, que a maioria esm agadora dos hom ossexuais não é facilm ente
identificável na sociedade, exatamente porque se distingue dos heterossexu
ais, em geral, somente por seus aspectos afetivos ou de manutenção de reper
tórios na direção de um objeto sexual (Lettner e Brito, 1988; Castilho, 1989;
Lopes, 1993).
132
são esses tais modos de contingenciação que vão produzir o ajustamento
sexual de um indivíduo, ou, ainda, controlar a direção e/ou as variações de
sua identidade sexual. Enfim, o desenvolvimento da sexualidade de uma pes
soa parece estar vinculado ao desempenho funcional de habilidades de so
brevivência ou de contingências de sobrevivência, determinadas biologica
mente e aprendidas. Entretanto, essas bases biológica e psicológica ainda
não estão bem compreendidas quanto aos seus controladores, ou seja, ainda
nenhuma afirmação pode ser conclusiva com relação aos determinantes e
mantenedores da sexualidade, tipificada, de um indivíduo. Pois, ainda que se
demonstre que há uma origem genética ou biológica para as variações de
identidade sexual (particularmente para o homossexualismo), não é sempre
possível confirmar essa demonstração, mesmo porque, em todos os casos de
variação, fica também evidente que o meio sociocultural também participa do
controle da produção e manifestação dessa indentidade sexual.
133
diferenciados de com portam ento eficiente. Isto quer dizer que a terapia
com portam ental propõe e permite a observação e a seleção do que está
bem aprendido e deve ser m antido e do que está mal aprendido e deve ser
suprim ido ou substituído. Propõe, ainda, com partilhar conhecim ento com
o cliente sobre o que pode ser reconvencionado e enfrentado como grati-
fica n te ou resignado, com o m enos so frid o e m ais ra c io n a l (S p ie gle r e
Guevremont, 1998; Lé Sénéchal-M achado, 1999).
134
clínica, contextuai e funcional das queixas espontâneas apresentadas pelo
cliente é efetivada em direção ao reconvencionamento de con flitos e ao
esclarecimento de traum as e crenças arraigadas (por exemplo, a de que a
hom ossexualidade é um "d efeito" de fabricação). Essa análise é dirigida,
ainda, ao rem anejam ento con tin gen cia l de repertórios d isfu ncion ais ex
c essivo s ou d e ficitá rio s, su bm etid os a uma h istória de punição ou de
reforçamento n egativo desde há muito tempo.
R e f e r ê n c ia s B ib l io g r á f ic a s
Lé S é n é c h a l- M a c h a d o , A. M. (2 0 0 0 ). R e s p o n d e n d o so b r e terap ia
comportamental. Acessado em www.fafich.uf mg. br/~senechal
135
Lé Sénéchal-Machado, A. M. (2001). In validando e contextualizando a quei
xa inicial: um modo de intervenção em psicoterapia breve. In H. J.
Guilhardi, M. B. B. P. Madi, P. P. Queiroz & M. C. Scoz (Orgs.), Sobre
comportamento e cognição - expondo a variabilidade, vol. 7, cap. 20
(pp. 146-158). Santo André: ESETec Editores Associados,
Lopes, G., & cols. (1993). Sexualidade humana. 2 ed. Rio de Janeiro: M E D 5 I/
Editora Médica e Científica.
136
12
V a r ia b il id a d e co m po rtam en tal: uma in t r o d u ç ã o
PUC-SP
V a r ia b il id a d e comportamental
138
mesmo na ausência de mudanças perceptíveis do meio." (Keller e Schoenfeld,
1950/1973, pág. 203)
139
seguido pela fase de nível operante, e o menor grau de variação era observa
do durante o condicionamento e o recondicionamento da resposta. Os dados
encontrados por Antonitis (1951) foram replicados em diversos estudos pos
teriores que investigaram a variação de outras dimensões da resposta como
força (Notterman, 1959) e duração (Lachter e Corey, 1982).
140
Nesse trabalho, os autores realizaram uma série de seis experimentos. Nesses
experimentos, foram utilizadas caixas experimentais que continham duas cha
ves, uma do lado esquerdo e outra do lado direito da mesma parede da caixa.
Eram reforçadas seqüências de respostas diferentes nas chaves. No terceiro
experimento, foi utilizado um procedimento de tentativas discretas, em que
cada seqüência de oito respostas às duas chaves era considerada uma tentati
va discreta. 0 critério de reforçamento, nas primeiras sessões, era a emissão
de uma seqüência de respostas diferente da seqüência apresentada na tenta
tiva anterior (esse procedimento foi chamado LAG 1 - caso fosse exigido que
a seqüência atual fosse difente das duas anteriores, seria LAG 2, e assim por
diante). Nesse experimento, os autores aumentaram gradualmente o critério
de reforçamento de LAG 1, para LAG 5 e sucessivamente para LAG 10, LAG 15,
LAG 25, chegando em LAG 50. A quantidade de seqüências novas e diferentes
aumentavam em função do aumento do critério LAG. Segundo os autores, a
variabilidade foi explicitamente reforçada. No mesmo estudo, no experimen
to seis, os autores estabeleceram um controle de estímulos para o reforçamento
da repetição da mesma seqüência (estereotipia) e para o reforçamento da
emissão de seqüências de respostas diferentes (variabilidade) das cinco últi
mas emitidas (LAG 5). Diante de uma luz azul, só eram reforçadas seqüências
de respostas diferentes e, diante de uma luz vermelha, somente a emissão de
uma seqüência específica de respostas era reforçada. Concluíram que a varia
bilidade é uma dimensão operante do comportamento, sendo sensível às con
seqüências e podendo ficar sob controle de estímulos.
R e f e r ê n c ia s B ib l io g r á f ic a s
141
Carlton, P. L. (1962). Effects on deprivation and reinforcement-magnitude of
response variability. Journal o f the Experimental Analysis o f Behavior, 5,
481 -87
Pryor, K. W., Haag, R., & O'Reilly, J. (1969). The creative porpoise: Training
for novel Behavior. Journal o f the Experimental Analysis o f Behavior, 12,
653-661.
Simonassi, L. E., Santos, A . C., Pires, M. C., Vasconcelos, L. A., Lima, R. N., &
Pires, M. E. (1986). Variabilidade, custo de resposta e extinção em
humanos. Psicologia Teoría e Pesquisa, vol. 2, í, 23-31. Brasília.
Tatham, T. A., Wanchisen, B. A., & Hiline, P. N. (1993). Effects of fixed and
variableratios on human behavioral variability. Journal o f the Experi
mental Analysis o f Behavior, 59, 349-359.
142
13
A q u e i ç â o d e d is c r im in a ç ã o em m ú l t ip lo s EXT (MIX VI) e EXT
(MIX EXT VI) EM RATOS
UFMG
1 Bolsista PIBIC.
‘ Aluno de graduação do curso de Psicologia.
1 Aluno de graduação do curso de Psicologia.
rio e, com Lacunas pequenas, em que o CS está mais próximo do US subseqüente,
condicionam ento excitatório.
144
M éto d o
Sujeitos
Foram u tilizados como su je itos seis ratos a lb in o s, machos,
provenientes do biotério do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade
Federal de Minas Gerais, com idade variando de 120 a 140 dias no inicio do
experim ento. Os sujeitos, alojados individualm ente, foram m antidos no
biotério do Departamento de Psicologia e, durante os primeiros dez dias,
tinham água e ração à vontade para aferição de seus pesos ad libitum. Após
estes dez dias, seus pesos foram reduzidos a níveis compreendidos entre 80 e
8 5 % de seus pesos ad libitum ,através de restrição de acesso à água, níveis
estes que foram mantidos no curso do experimento.
Equipamento
Foi u t iliz a d a uma câm ara de c o n d ic io n a m e n to o p e ra n te
(HABITEST™) equipada com os seguintes módulos: dois falantes, uma barra
conectada a um dispensador de água, cubículo de isolamento acústico, luz
ambiente, gerador de ruído branco, gerador de estímulos sonoros, todos do
fabricante Coulbourn. Uma microcâmera de vídeo conectada a um aparelho
de televisão foi instalada no interior da câmara de condicionamento, com a
finalidade de se permitirem observações visuais. A programação de enventos,
apresentação de estímulos discriminativos e reforçadores ou primários, bem
como os registros de dados foram efetuados em um PC conectado ao ambiente
experimental através de interface e software (Graphic 5tate 1.013-00) do
mesmo fabricante. Como estím u lo s sin alizad ore s dos com ponentes dos
múltiplos, foram utilizados um tom continuo cuja freqüência era de 1000 Hz
e um tom intermitente, 0,5 segundo ligado e 0,5 segundo desligado, cuja
freqüência era de 3500 Hz. 0 tom con tínu o foi utilidado como SD e o
intermitente como SD. Água foi utilizada como estímulo reforçador e, durante
suas apresentações, não apenas se desligava a luz ambiente, mas também
ilum inava-se o bebedouro.
Procedimento
Após modelagem de resposta de pressão â barra, duas sessões de
CRF, que se encerravam com 60 reforços, duas de VI 30s com duração de 30
minutos, duas de V I 60s, que também se encerravam com 60 reforços, os
sujeitos foram expostos ao treino discrim inativo ou fase experimental. Na
fase experimental, os sujeitos foram divididos em dois grupos. Um deles (n=3),
denominado INIC, foi exposto ao esquema Mutt EXT (mix VI EXT); e o outro,
denominado FIN, ao esquema Mult EXT {mix EXT VI). As durações de cada um
dos componentes simples dos esquemas compostos eram de 90 segundos,
145
de modo que, para o grupo INIC, os ciclos iniciavam com um período de SD,
de 90 segundos, seguido de um período de SD, também de 90 segundos e,
finalm ente, se gu ido de um novo período de SD, não sin alizado, de 90
segundos. Para o grupo FIN, a seqüência dos ciclos era primeiro um período
de SD de 90 segundos, outro período de SÀ de 90 segundos, não sinalizado,
e finalmente, um período de SD de 90 segundos. 0 sinal presente no período
inicial dos ciclos (EXT ou SD) era um tom intermitente de 3500 Hz e o sinal
presente nos períodos de SD e SD subseqüentes era um tom continuo de 1000
Hz. 0 esquema em vigor nos períodos de SD era um V I 30 s. As sessões
experimentais, em número de 33, eram diárias e duravam 90 minutos. Foram
registrados o número de reforços por sessão e o número de respostas em
cada segmento de 90 segundos dos ciclos por sessão. Os intervalos de EXT,
tanto sinalizada quanto não sinalizada, foram subdivididos cada um em 5
intervalos de 18 segundos e foi registrado o número de respostas em cada
um deles. Dito de outro modo: foram registradas as respostas em cada
décimo-d os intervalos de EXT.
R esultados
146
Figura l. índices médios de discriminação por sessão dos grupos INIC
(rótulos quadrados) e FIN (rótulos redondos).
Sessões
Figura 3. índices de discriminação por sessão de cada um dos
148
e, para o grupo FIN, a EXT s. 0 que se observa é que, na Figura 4, há um decréscimo
do percentual de respostas após os reforços (primeiros cinco décimos de EXT),
quer a EXT em vigor fosse sinalizada (grupo FIN) ou não (grupo INIC), e um
aumento do percentual de respostas antes dos reforços (últimos cinco décimos
de EXT), quer EXT fosse sinalizada (grupo INIC) ou não (grupo FIN). Note-se que,
embora os dados sejam médios de três sujeitos e de três sessões, eles descrevem
bem o que ocorreu para cada sujeito em cada sessão. Além disso, vale apontar
também que o aumento de respostas nos intervalos pré-reforço é substancialmente
maior no FIN do que no grupo INIC. Em suma, observa-se que, nas últimas três
sessões da fase experimental, a distribuição de respostas antes dos reforços é
parecida com a distribuição de respostas entre reforços em FI.
D iscussão
149
aproximam do momento do reforço (momento do pico) e, a partir de então,
iniciam uma redução proporcional ao aumento pré-reforço. Isto foi observado
também no presente estudo. 0 intervalo de reforços envolvia um número
variável de reforços, um mínimo de dois e um máximo de seis. Para um grupo
(IN IC ), o término do intervalo reforçador não era sinalizado por estímulos e
sequer por um número fixo de reforços. A liberação do reforço em FI, por si
só, acaba se tornando um estímulo discriminativo para deixar de responder
logo a seguir. Quando omitido, portanto, não há dica externa e o controle que
aparece deve ser de natureza temporal. Seria o caso do decréscimo do responder
pós-reforço no grupo INIC. E quanto ao grupo FIN? Para este grupo, o término
do intervalo reforçador era sinalizado por EXT, e mesmo assim, aparece nas
sessões finais um decréscimo do responder. Isto sugere a permanência de um
controle temporal, mesmo em pregando-se um estím ulo sinalizador de EXT.
Retornando ao FI: é possível que a omissão do reforçador, no procedimento
conhecido como momento do pico, mesmo sinalizada por algum estímulo de
EXT leve a uma redução progressiva do responder, controlada temporalmente.
Gibbon, 3., & Church, R. M. (1990). Representation of time. Cognition, 37, 23-
54.
Millenson, J.R. (1967). Principles o f Behavior Analysis. New York: The Macmillan
Company.
150
14
0 MODELO DE SELEÇÃO POR CONSEQÜÊNCIAS A PARTIR DE TEXTOS DE
B. F. S kinner
Nilza Micheletto
PUC-SP
A spectos internos
152
delimitação da expressão "relações funcionais", o analista do comportamen
to parece acreditar que ao descrever ele já explica; crença que acaba por afastá-
lo do estudo do modelo causal que orienta (ou deveria orientar) sua prática
descritiva.
a) as re laç õ e s e s t ím u lo -r e s p o s t a , c a r a c t e r ís t ic a s de re fle x o s
incondicionados;
153
do comportamento em questão? Com essa pergunta, estamos passando para a
atividade de explicar e, ao realizar essa atividade, vamos nos defrontar com o
modo causal que, sabidamente ou não, deve ter orientado nosso trabalho de
produção de conhecimento até aqui.
154
da discussão do modelo causal. Este afastamento pode ser uma das razões da
polêmica gerada por tal modelo causal; nós mesmos não nos encontramos pre
parados para explorá-lo e difundi-lo.
A spectos externos
155
abandonadas, caso o modelo de seleção por conseqüências fosse assumido;
esses exem plos envolvem explicações que podem ser classificadas como
mecanicistas e explicações que podem ser classificadas como finalistas e são
bastante ilustrativos da resistência que tal abandono enfrentaria. Segundo
ele, a seleção por conseqüência ocuparia, por exemplo, o lugar de um criador
ou de um momento especial da criação, seja em termos da espécie humana,
seja em termos do comportamento, seja em termos da vida social; a seleção
por conseqüências ocuparia também o lugar de m odelos que recorrem a
objetivos finais, a metas, a propósitos para explicar características das espé
cies, do comportamento de indivíduos ou de práticas culturais.
V ar ia ç ã o e seleção
156
analisar as possíveis razões da dificuldade para se entender a teoria proposta
por Darwin, ele afirma:
1 É especialmente importante notar que Gould defende que a dificuldade em aceitar a teoria proposta por
Darwin não deriva do conteúdo científico dessa teoria, e sim de seu conteúdo filosófico, e os aspectos
que ele destaca sobre esse conteúdo podem ter relação direta com as dificuldades encontradas para a
aceitação do modelo causal de seleção por conseqüências: a ausência de um propósito para o processo
de variação e seleção, a ausência de direção em relação ao progresso e ao materialismo.
157
0 reconhecimento do "papel criativo" da seleção natural leva,
segundo Gould (1987), à especificação de duas características do processo
de variação: 1) "a variação deverá ser casual, ou pelo menos não poderá incli
nar-se preferencialmente para a adaptação" e 2) "a variação deve ser pequena
em relação à extensão da mudança evolutiva na formação de novas espécies"
(pág. 2).
158
"Um organismo é mais do que um corpo; é um corpo que faz coisas
. (...) 0 organismo é o executor." (pág. 27)
159
sucesso do grupo praticante na solução de seus problemas. É o efei
to sobre o grupo, não as conseqüências reforçadoras para membros
individuais, que é responsável pela evolução da cultura." (pág. 54)
"Uma clara distinção pode (...) ser feita entre pessoa e self: uma
pessoa, como um repertório de comportamento, pode ser observada
por outros; o self, como um conjunto de estados internos (...) é
observado apenas por meio dos sentimentos ou da introspecção."
(pág. 28)
D escrever e expucar
160
processo de variação e seleção e os produtos desse processo uma distância
temporal que dificulta a identificação da relação entre o processo e o seu
produto. Quando nos defrontamos com o produto, o processo de variação e
seleção já se operou. Essa distância temporal entre o processo e o efeito
desse processo - o produto - é que abre brechas para outros tipos de explica
ções, principalmente as explicações mentalistas (Skinner, 1974).
161
E é exatamente no processo de elaboração do próprio conceito
de comportamento operante que algumas características básicas do modelo
de seleção por conseqüências vão sendo explicitadas. A preocupação de Skinner
com o processo de variação pode ser identificada em textos bastante iniciais.
Por exemplo, já em 1932, Skinner afirma a variabilidade de respostas aparen
temente iguais, esboçando o conceito de classe de respostas. A proposição
do processo de seleção, entretanto, parece ter ocorrido mais tarde. É interes
sante notar que, em 1935, Skinner parece afirmar uma concepção oposta àquela
que defenderá mais tarde. Referindo-se à distinção entre comportamento
respondente e comportamento operante, afirma:
Referências Bibliográficas
162
Moore, J. (1990). On the 'causes' of behavior. The Psychological Record, 40,
469-480.
163
15
P odem os nos b en eficiar do concedo de metacontingênoas n a
R esumo
164
foram debatidos por uma diversidade grande de pessoas que vieram de todas
as partes do mundo para participar desse encontro. D ireitos hum anos,
globalização, problemas urbanos, preservação do meio ambiente, violência,
segurança pública, reforma agrária, o atentado de 11 de setembro em Nova
York, o papel da mídia na veiculação e manipulação da informação, discrimi
nação (de populações indígenas, do imigrante, da mulher, do negro), uma
economia mundial mais solidária foram alguns temas debatidos numa série
de atividades (Otero, 2002). Tendo em vista tal diversidade, profissionais de
várias áreas debateram algumas alternativas aos problemas enfrentados, tan
to pela sociedade brasileira quanto pela comunidade global. Segundo Otero
(2002), estiveram presentes jo rn a lista s, econom istas, cie n tistas sociais,
arquitetos, advogados, psicólogos, ecologistas e muitos estudantes. Entre
tanto, a autora chamou a atenção para a ausência de analistas do comporta
mento no Fórum, fazendo-nos refletir a respeito de algumas questões que se
referem ao alcance da análise do comportamento, e também sobre a prática
do profissional que assume esse referencial teórico.
165
pois permite a análise do comportamento de um grande número de pessoas
em interação.
166
um único indivíduo ou sem a participação dos outros (Gtenn, 1986, 1988, 1991;
Malagodi, 1986; Pierce, 1991); segundo, os princípios que regulam o comporta
mento social são os mesmos que regulam o comportamento não social (Pierce,
1991; Skinner, 1953/1994).
1 Segundo Skinner (1969), deve-se fazer uma distinção entre o comportamento que é modelado pelas
contingências e o comportamento governado por regras. No primeiro, a probabilidade futura da emissào
de uma resposta ou de uma classe de respostas é alterada pela comeqüência imediata que seguiu essa
resposta ou essa classe de respostas no passado, e pelas possíveis alterações ambientais que provocaram.
No segundo, as respostas sâo evocadas por estímulos antecedentes verbais e por descrições de respostas
e suas conseqüências; mesmo tendo suas probabilidades modificadas pelas mudanças ambientais que
produziram.
? 0 nome do periódico Behavior and Social Action mudou para Behavior and Social íssues. Pode-se acessar
alguns artigos pelo site http://www.behavior.org.
167
Para apresentar e discutir o conceito de metacontingênrias, aborda
rei, inicialmente, o modelo de seleção por conseqüências. Em seguida, para com
preender a definição de metacontingêncías, discutirei o que são contingências
comportamentais entrelaçadas {interlocking behavior contingencies)3 e práticas
culturais e seus produtos.
' A tradução do termo inglês interlocking behavior contingencies para contingências comportamentais
entrelaçadas foi proposta por Maria Amália Andery e Tereza Pires Sério, em artigo de 1997 (cf. Referências
Bibliográficas).
168
Durante o tempo de vida do indivíduo, comportamentos vão sen
do adquiridos, alguns se tornam menos freqüentes, outros deixam de existir,
por meio da ação seletiva do ambiente. A especificidade do comportamento
individual é o resultado de um grande número de variáveis que estiveram, no
passado da espécie, e estão, por intermédio da relação com o ambiente, de
terminando o comportamento idiossincrático. Glenn (1991) busca compreen
der os processos que levaram indivíduos da espécie humana a comportarem-
se de forma tão particular, levando em conta as mesmas características com
partilhadas com a espécie; e também o que os mantêm agrupados socialmen
te.
0 CONCEITO DE METACONTINGÊNCIAS
169
Em 1991, pode -se id e n tific a r novam ente uma d e fin içã o de
metacontingências:
170
com portam erttal. A comida, o olhar dos outros, a voz humana, o toque são
alguns dos materiais brutos a partir dos quais o repertório comportamental
do bebê irá se constituir (Glenn, 1991). 0 ambiente comportamental necessa
riamente deve desempenhar alguma função, e o comportamento verbal é o
grande responsável pela transmissão de padrões comportamentais através de
gerações. Glenn afirma:
171
Um exemplo dos elementos envolvidos em uma metacontingência
ê dado por Glenn (1988), ao analisar as práticas culturais envolvidas para
produzir leitores. A prática de ensinar a 1er envolve um grande número de
pessoas, das quais talvez algumas nunca terão contato com os outros partici
pantes da prática. Professores ensinam em salas de aula, cartilhas são
fornecidas pelo estado e confeccionadas por uma série de outras pessoas
envolvidas com o ensino, a política para o ensino público, o comentário de
outros professores, o auxílio dos pais. A participação individual de cada um
na prática é mantida por contingências particulares. No entanto, o comporta
mento de cada indivíduo produz a prática cultural, que está diretamente rela
cionada com o produto cultural - ensinar pessoas a 1er.
172
individuais era o discurso político, entendido aqui como comportamento ver
bal.
A lgumas questões
173
Essas questões permanecem em aberto e podem ser fonte de uma
infinidade de pesquisas que se dediquem à análise de grandes grupos huma
nos. Embora ainda esteja longe a resolução dos problemas conceituais e
metodológicos existentes na área, o conceito de metacontingências parece
indicar-nos alguns caminhos possíveis para que novas tecnologias de inter
venção possam ser desenvolvidas, visando ã solução de problemas sociais,
assim como o planejamento cultural. E, quem sabe, incentivar os analistas do
comportamento a participarem de uma maneira mais efetiva no debate dos
temas abordados no I I Fórum Social Mundial.
Glenn, S. S. (1985). Some Reciprocai Roles between Behavior Analysis and Institu
tional Economics in Post-Darwinian Science. The Behavior Analyst, 5(1), 15-
27.
Glenn, S. S. (1986). Metacontingencies in Walden Two. Behavior Analysis and Social
Action, 5, 2-8.
Glenn, S. S. (1988). Contingencies and Metacontingencies: Toward a Synthesis of
Behavior Analysis and Cultural Materialism. The Behavior Analyst 22(2), 161-
179.
Guerin (1992). Behavior Analysis and the Social Construction of Knowledge. Ameri
can Psychologist 47(11), 1423-1432.
Guerin, B, (1994). Analyzing Social Behavior: Behavior Analysis and Social Sciences.
Reno: Context Press.
Holland, J. (1978). Behaviorism: Part of the Problem or Part of the Solution? Jour
nal o f Applied Behavior Analysis, 11, 163-174.
174
Kunkel, 0. H„ & Lamal, P. A. (1991). The Road Ahead. In P. A. Lamal (Org.), Behav
ioral Analysis of Societies and Cultural Practices (pp. 219-240). New York:
Hemisphere Publishing Corporation.
Malagodi, E. F., & Jackson, K. (1989). Behavior Analysis and Cultural Analysis: Troubles
and Issues. The Behavior Analyst, 12(1), 17-33.
Mattaini, M. A., & Thyer, B.A. (1996). Finding Solutions to Social Problems: Behavioral
Strategies for Change. Washington: American Psychological Association.
Skinner, B. F. (1978). Walden Two. São Paulo: EPU. (Trabalho original publicado em
1948.)
COMPORTAMENTAL
R esumo
176
conceitos do comportamento do cliente. Por fim, ressalta-se a importância do
treino de tato para aperfeiçoar as análises funcionais feitas peio cliente, o
que é essencial para torná-lo apto a manipular o próprio comportamento, o
comportamento das pessoas que o cercam e para a manutenção dos resulta
dos da terapia.
177
do comportamento verbal para a prática da Clínica Comportamental, e apre
se n tar brevem ente a lg u m a s a lte r n a tiv a s de com o lid a r com p adrõe s
disfuncionais de interação verbal trazidos à terapia pelos clientes.
A udiência
C onsiderar a audiência
178
belecendo a freqüência de comportamentos verbais do cliente, o que é essen
cial à terapia;
179
aumentada. Também é esperado que esse efeito se generalize para fora da
terapia (Hamilton, 1988). A audiência não punitiva também contribui para o
estabelecimento do vínculo terapêutico, no sentido em que o terapeuta co
meça a exercer funções de estímulo que não sinalizam a probabilidade de
punição e, conseqüentemente, o cliente passa a confiar no terapeuta, isto é,
passa a relatar com precisão a sua vida para o terapeuta.
M andos d is f a r ç a d o s
180
emite a seguinte verbalização: "Ultimamente todo mundo tem falado coisas
tão duras para mim", ao invés de pedir ao terapeuta para dizer coisas menos
aversivas para ele. Nas interações verbais, os ouvintes têm um treino extenso
em responder a tais respostas manipulativas como se estas fossem mandos,
oferecendo o reforço ao comportamento do cliente. Neste caso, os ouvintes
mantêm o padrão disfuncional das verbalizações do cliente (Skinner, 1957).
Cabe ao terapeuta comportar-se de forma diferente dos ouvintes fora da tera
pia, respondendo aos mandos disfarçados como se estes fossem tatos, isto é,
não oferecendo o reforço ao cliente, obrigando-o a emitir um mando direto,
para só ai reforçar o seu comportamento (Hamilton, 1988). 0 terapeuta tam
bém pode confrontar o cliente quando estas respostas são emitidas, analisan
do o efeito desta manipulação a longo prazo sobre o ouvinte, e instruindo o
cliente a emitir mandos diretos.
T atos d is t o r c id o s
18 1
{Ribeiro, 1989). Por exemplo, uma adolescente pode contar às novas am igas
que tirou o primeiro lugar no curso em que ela fez vestibular, quando na
realidade nem fez o vestibular. Muitos clientes podem apresentar tais respos
tas, relatando ter seguido as regras apresentadas pelo terapeuta, emitindo os
comportamentos que o terapeuta sugeriu. Tal relato é controlado, principal
mente, pelo reforço a ser provido pelo terapeuta do que pelos eventos ocorri
dos fora da terapia. 0 terapeuta deve, portanto, ter cuidado com o seu com
portamento de ouvinte de forma a não manter tais padrões. Este também
deve evitar punir tais padrões, pois é exatamente como a comunidade verbal
reage a tais comportamentos. A punição somente levaria o cliente a abando
nar a terapia, da mesma forma que ele pára de procurar os seus am igos que
não acreditam mais nas suas estórias (Rosenfarb, 1992). 0 terapeuta deve pôr
em extinção ta is tatos distorcidos, mudando de assunto, por exemplo. 0
terapeuta também pode reforçar quando o cliente relata que não conseguiu
cumprir algo proposto na terapia, e anaLisar junto com o cliente porque este
não consegue seguir as regras em itidas pelo terapeuta. Também é importante
que o terapeuta avalie se está emitindo regras demais, o que pode impedir
que o próprio cliente faça as análises funcionais e formule as auto-regras.
182
I ntraverbab
R eg ras d is f u n c io n a is
183
disfuncionais por regras que descrevem de forma mais precisa as contingênci
as, além de ter a confiança aumentada em relação ao terapeuta.
L in g u a g e m m e t a f ó r ic a
I n t e r p r e t a ç ã o d o s l a p s o s v e r b a is
184
sessão. A repetição deste nome sugere que esta resposta verbal está forte ou
provável no repertório verbal do cliente. Muitas vezes é válido investigar o que
está levando à grande probabilidade de em issão deste comportamento. 0
terapeuta poderia simplesmente pedir para o cliente parar de falar da esposa e
começar a falar desta pessoa, ao invés de ignorar tais lapsos verbais. Segundo
Skinner (1953; 1957), quando uma resposta apTesenta um controle deficiente
dos estímulos presentes no momento da sua emissão, provavelmente está so
bre o controle da história de reforçamento do cliente. Os lapsos verbais
exemplificam tal processo, fornecendo informações sobre variáveis controladoras
do comportamento do cliente que podem ser relevantes para a terapia.
T r e in o d e tato
185
lo a responder discriminativamente às variáveis das quais o seu comporta
mento é função. 0 terapeuta também pode utilizar-se de metáforas, como no
exemplo acima, para gradativamente ir aumentando a freqüência do relato
verbal do cliente, pois estas representam as contingências que estão contro
lando o comportamento do cliente de forma menos aversiva.
S ig n if ic a d o p el o u s o
C o n clu são
186
nível de sofisticação da clínica comporta mental, permitindo abordar de forma
mais completa os diferentes padrões de respostas exibidos pelos clientes em
terapia.
R e f e r ê n c ia s B i b l io g r á f i c a s
18 7
Esta obra foi impressa em sistema digital sob demanda e corresponde
ao consumo de 1,3 árvores plantadas sob a norma ISO 14001.
RECICLE SEMPRE.
CONTINGÊNCIAS NÃO HOMOGÊNEAS
Esta publicação coroa um longo processo de desenvolvimento profissional a que
vimos assistindo em Belo Horizonte, desde os primeiros contatos que o grupo
mineiro teve com a Análise do Comportamento até suas mais recentes vertentes
clínicas e educacionais. O livro testemunha o resultado do esforço de cooperação
recíproca entre centros de desenvolvimento profissional com níveis de excelência,
uma clara demonstração de que o conhecimento evolui a partir da integração
de contingências de reforçamento não homogêneas. De um lado, o grupo local
de professores, pesquisadores, psicólogos e alunos que, sem poupar esforços,
buscaram, ativamente, profissionais de outros postos, aptos para selecionarem
repertórios comportamentais - a partir de uma matriz já extremamente elaborada
- na direção de um trabalho científico rigoroso e socialmente relevante. De outro
lado, profissionais com perfil missionário e comprometidos com a própria filosofia
do behaviorismo radical de que melhores comportamentos emergem com melhores
contingências, o que os desafiou, dentro de suas respectivas possibilidades e
com muito afeto, a colaborar com este projeto integrador, modelo de atuação
comportamental. O resultado pode ser apreciado e avaliado nas páginas deste
volume. Tenho certeza de que todos sorrirão satisfeitos no final da leitura.
ESETec
Editores Associados