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EBITDA

ARMANDO RASOTO

“EBITDA” – O que é isso?

SUMÁRIO
- Introdução
- O que significa a sigla?
- O que significa o conceito?
- Um exemplo
- Diferença entre o lucro operacional e o EBITDA
- Mas...para que o EBITDA?
- Usando o EBITDA para se avaliar a empresa
- A lógica do multiplicador
- Outro ponto importante no conceito do EBITDA: a alavancagem produzida pela
dívida
- Cuidado especial com o multiplicador

INTRODUÇÃO

Vem ocorrendo, nos últimos tempos, uma enorme quantidade de negociações


com e entre empresas: fusões, cisões, compras, parcerias, joint ventures etc.

E isso em todos os níveis e em todos os segmentos de negócios. Empresas


estatais que se privatizam, empresas privadas que trocam de mãos, empresas
nacionais que são vendidas a estrangeiros, estrangeiros que se vão e negociam com
investidores locais etc. negociam-se bancos, indústrias, empresas comerciais, de
serviço etc.; grandes, médias e pequenas.

Em todos esses casos está presente um problema complexo e interessante: o


da avaliação da empresa, do negócio, da divisão ou parte deles sendo negociada.
Além disso, cada vez mais o empresário quer saber o valor de seu negócio, mesmo
que não esteja com intenção de desfazer-se dele.

Pretendemos aqui, em diversos artigos, tratar da avaliação de empresas,


discutindo diferentes critérios utilizados na prática, os motivos de ora se preferir
um ou outro e o porquê de determinadas regras pragmáticas muito utilizadas em
determinados segmentos.
Escolhemos, para iniciar, esse critério ligado à sigla EBITDA, que tem
provocado olhares interrogativos; e o fizemos apenas porque parece tratar-se de
técnica pouco discutida ainda na literatura brasileira, e não porque seja
necessariamente melhor do que as outras.

Trata-se, na verdade, de uma forma de medir desempenho da empresa em


termos de fluxo de caixa e de auxiliar, de forma prática, no processo de avaliar a
empresa como um todo. E, como veremos, olhando basicamente a capacidade de
geração de recursos dos ativos da entidade.

O QUE SIGNIFICA A SIGLA?

EBITDA corresponde, em inglês, a Earnings Before Interest, Taxes,


Depreciation and Amortization, ou seja, significa lucro antes dos juros, impostos
(sobre o lucro), depreciações e amortizações. Na nossa língua ficaria, então,
LAJIDA.

Na verdade as exaustões têm a mesmíssima característica que a depreciação


e a amortização, em termos de representarem alocação, ao resultado, de pedaços de
valores normalmente desembolsados no passado; mas na sigla em inglês ocorre que
exaustão é chamada de depletion e já existe o “d” de depreciation, além do mais,
essa figura da exaustão é muito rara na contabilidade em geral, só ocorrendo em
alguns tipos muito especiais de empresas. Por isso não colocam o “d” de depletion.
Na grande maioria das empresas existe sempre a depreciação e, muito comumente,
a amortização - como a de ágio, por exemplo. Por isso vamos neste texto também
omitir a palavra exaustão, mas é preciso lembrar que, se ela aparecer na
demonstração do resultado, deverá ter o mesmo tratamento que a depreciação e a
amortização.

O QUE SIGNIFICA O CONCEITO?

Esse conceito de EBITDA corresponde, simplesmente, ao caixa gerado pelos


ativos genuinamente operacionais.

Afinal, o lucro, antes dos juros (tanto receitas como despesas financeiras), do
Imposto de Renda e da Contribuição Social sobre o Lucro e antes das depreciações
e amortizações, corresponde ao potencial de caixa que o ativo operacional de uma
empresa é capaz de produzir, antes inclusive de considerar o custo de qualquer
capital tomado emprestado.
Não corresponde ao efetivo fluxo de caixa físico já ocorrido no período
porque parte das vendas pode não estar recebida e parte das despesas pode não
estar paga. Mas representa o potencial de geração genuinamente operacional de
caixa; assim que recebidas todas as receitas e pagas todas as despesas, esse é o
valor de caixa produzido pelos ativos, antes de computadas as receitas e as
despesas financeiras e os itens não operacionais e extraordinários.

UM EXEMPLO

Tomemos, a título de exemplo, uma empresa que tenha, de forma


simplificada, as seguintes demonstrações:

Balanços:
31/12/00 31/12/01
Caixa 72.000 72.000
Aplicações Financeiras - 165.256
Clientes 450.000 450.000
Estoques 180.000 180.000
Imobilizado 750.000 750.000
Dep. Acumulada . - . (75.000)
Imobilizado Líquido 750.000 675.000
Ativo 1.452.000 1.542.256
Fornecedores 180.000 180.000
Empréstimos 522.000 522.000
Capital 750.000 750.000
Lucros Acumulados - 90.256
Passivo 1.452.000 1.542.256

Demonstração do resultado:
2001
Vendas 1.800.000
CMV (1.080.000)
Lucro Bruto 720.000
Despesas Operacionais (360.000)
Depreciação (75.000)
Receitas Financeiras 2.160
Despesas Financeiras (62.640)
Lucro Antes dos Tributos 224.520
Imp. Renda e Cont. Social (74.091)
Lucro Líquido 150.429

Demonstrações das mutações patrimoniais:


2001
Patrimônio Líquido Inicial 750.000
Lucro Líquido 150.429
Dividendo Pagos (60.172)
Patrimônio Líquido Final 840.257

Os tributos sobre o lucro

Veja-se, na demonstração do resultado, que a empresa teve um lucro líquido


de R$150.429,00, após uma tributação de R$74.091,00. Mas nessa tributação existe
o efeito de dedutibilidade das despesas financeiras de R$62.640,00 e da tributação
das receitas financeiras R$2.160,00.

Na prática, sabemos de tantos outros efeitos, inclusive de não-tributação da


equivalência patrimonial, que produzem uma desproporção, muito comumente,
entre o lucro contábil e o valor do imposto de renda somado ao da contribuição
social.

No cálculo do EBITDA, procura-se um valor isento desse efeitos fiscais,


exatamente por causa da maior parte dos efeitos desproporcionais estarem fora dos
itens genuinamente operacionais da empresa. Isso ainda se entenderá melhor
adiante.

As despesas financeiras

Nesse lucro líquido estão também embutidas as despesas financeiras


comentadas, que, na verdade, decorrem do processo de tomar dinheiro emprestado,
e não das atividades do negócio propriamente dito.

Ou seja, o genuíno lucro operacional derivado das atividades da empresa,


independentemente da forma como elas são financiadas, é o que ocorre antes das
despesas financeiras.

Daí excluir-se do EBITDA a figura das despesas de captação de recursos


financeiros perante terceiros.
Juros sobre o capital próprio

Veja-se que, no nosso caso brasileiro, precisariam também ser excluídos os


juros sobre o capital próprio que estivessem contabilizados no resultado.

Representam remuneração do capital próprio limitado a TJLP e a outros


fatores e têm a mesma característica que as despesas financeiras: não se originam
dos ativos, e sim da forma de seu financiamento.

Receitas Financeiras

As receitas financeiras decorrem da existência de disponibilidades aplicadas


no mercado financeiro, que não são, por sua vez, o negócio dessa empresa,
nitidamente comercial.

Assim, como se quer avaliar a capacidade de geração de dinheiro por parte


do negócio, elimina-se também o valor das receitas financeiras para se chegar ao
EBITDA. Por isso se quer o lucro antes delas.

Depreciações e Amortizações

Finalmente, as depreciações a amortizações não representam desembolso


neste exercício, e o que se quer com o EBITDA é mensurar a capacidade de
geração de caixa dos ativos; assim, interessa-nos o valor antes dessas despesas para
se Ter a capacidade efetiva de geração de recursos financeiros dos ativos da
empresa.

Resumindo

É como se introduzíssemos, agora, a seguinte linha na demonstração do


resultado:

Demonstração do resultado:
2001
Vendas 1.800.000
CMV (1.080.000)
Lucro Bruto 720.000
Despesas Operacionais (360.000)
EBITDA 360.000
Depreciação (75.000)
Receitas Financeiras 2.160
Despesas Financeiras (62.640)
Lucro Antes dos Tributos 224.520
IR + CS (74.091)
Lucro Líquido 150.429

Ou seja, o que se quer, com o EBITDA, é o valor do caixa, ou melhor, do


potencial de geração de caixa (portanto valores antes de se considerarem as
depreciações) produzidos pelos ativos genuinamente operacionais (excluindo-se
então as receitas financeiras que, neste caso, não são o objetivo da empresa), sem
os efeitos decorrentes da forma de financiamento da empresa (portanto, excluindo-
se também as despesas financeiras) e antes dos efeitos dos tributos sobre o
resultado (Imposto de Renda e Contribuição Social sobre o Lucro no caso
brasileiro).

DIFERENÇA ENTRE O LUCRO OPERACIONAL E O EBITDA

Veja-se que, na legislação brasileira, chamamos de lucro operacional, neste


exemplo, ao exato valor do Lucro Antes dos tributos, ou seja, o valor de
R$224.520,00.

Tecnicamente, todavia, deveríamos excluir, no cálculo do genuíno lucro das


operações, as despesas e as receitas financeiras. Assim, o verdadeiro lucro
operacional é de R$285.000,00 (que, embora não apareça na demonstração
apresentada, corresponde ao resultado após o cômputo da depreciação).

Como todavia o EBITDA está atrás do efeito caixa, ele despreza o valor das
depreciações, amortizações e exaustões; só que estas compõem o valor do resultado
operacional.

Dessa forma, pode-se dizer que, em geral a diferença entre o lucro


operacional (genuíno, tecnicamente falando, não o legalmente utilizado no Brasil) e
o EBITDA é exatamente o valor das depreciações e amortizações. Ou seja. O
EBITDA é o lucro genuinamente derivado dos ativos operacionais antes de
computadas as depreciações e as amortizações.

Algumas exceções
Em alguns casos isso pode sofrer algumas variações; no caso de instituições
financeiras, por exemplo, normalmente não faz nenhum sentido calcular-se o
EBITDA, já que as despesas financeiras não são evitáveis por decisão de
reestruturação financeira da empresa; além disso, elas são genuinamente
operacionais.

Além disso, podem ocorrer outras situações também específicas, por


exemplo, no caso de uma empresa que, além de ser uma indústria, é também uma
holding, pois possui investimentos em outras empresas, há de se discutir se quer o
lucro incluindo a equivalência patrimonial sobre esses investimentos ou não.

Mas... para que o EBITDA

Esse valor de R$360.000,00 de EBITDA do nosso exemplo significa o quê?


Que os ativos da empresa foram capazes de gerar esse potencial de dinheiro no
período.

Aliás, nesse caso foi dinheiro mesmo, já que não houve incremento de contas
a receber nem de contas a pagar. Assim o caixa gerado pelas operações foi mesmo
de R$360.000,00. Tanto que, caso quiséssemos, poderíamos montar o seguinte
fluxo de caixa:

Fluxo de caixa
2001
Dos Clientes 1.800.000
Aos Fornecedores (1.080.000)
Despesas Operacionais (360.000)
EBITDA 360.000
Receitas Financeiras 2.160
Despesas Financeiras (62.640)
IR+CS (74.091)
“Caixa das Operações” (*) 225.429
Dividendos (60.172)
Aplicação Financeira (165.256)
Caixa no Período 0
Saldo Inicial de Caixa 72.000
Saldo Final de Caixa 72.000
(*) Interessante notar que costumamos denominar de caixa das operações ou
caixa das atividades operacionais ao efeito caixa de todas as operações que
compõem o resultado do período, ou seja, damos um sentido bastante amplo ai à
palavra operacional. Enquanto o EBITDA es refere ao caixa operacional no seu
sentido mais restrito possível, limitando-se ao caso do caixa gerado estritamente
pelas atividades genuinamente operacionais, e antes dos atributos.

Vemos nesse fluxo de caixa que o dinheiro trazido pelas operações foi
exatamente o lucro antes da depreciação; e que após o pagamento dos dividendos,
todo o saldo disponível foi investido na aplicação financeira.

Mas o que nos interessa mesmo é que comprovamos que de fato, a


capacidade bruta de gerar caixa do ativo foi R$360.000,00.

Ou seja, os ativos de R$1.452.000,00 geraram esse valor bruto durante o


ano. Atenção, novamente, para o seguinte: normalmente, na prática, as receitas nas
são todas recebidas dentro do período nem todas as despesas são pagas, o que faz
com que não haja essa igualdade entre o resultado e o fluxo de caixa; mas o
EBITDA é calculado a partir da demonstração do resultado, desconsiderando essas
diferenças temporárias.

E é lógico que, maior o EBITDA de uma empresa, maior tende a ser o seu
valor de mercado, já que todos querem uma empresa que produza dinheiro. E
quanto maior a relação entre o EBITDA e o valor investido no ativo, tanto melhor.
USANDO EBITDA PARA SE AVALIAR A EMPRESA

Tanto isso é verdade que se costuma avaliar as empresas da seguinte forma:


1. multiplica-se o EBITDA por um certo multiplicador;
2. adiciona-se a esse produto, o valor das aplicações financeiras;
3. diminui-se dessa importância, o valor das dívidas de financiamento;
4. chega-se ao valor do patrimônio líquido da empresa para efeito de
transação.

Ao final de 2001, por exemplo, se multiplicador usado fosse 3,5


(explicaremos mais à frente a construção do multiplicador – que vai conforme o
segmento econômico), teríamos:

Cálculo do valor da empresa:


1. EBITDA x 3,5 1.260.000
2. Mais aplicações Financeiras 165.256
3. Menos Dívidas Bancárias (522.000)
4. = Valor do Patrimônio Líquido 903.256
(Valor da Empresa)

Isso significaria que, alguém usando esse critério estaria disposto, se


comprador, a pagar esse valor como o máximo pela empresa, como está no final do
ano de 2001. Se vendedor, seria o mínimo que por ela pediria.

A lógica do multiplicador

Veja-se que, se a empresa não tivesse aplicações financeiras nem dívidas, o


valor da empresa corresponderia, simplesmente, à multiplicação do EBITDA pelo
multiplicador usado de 3,5; ou seja valeria R$1.260.000,00.

Ora se não houvesse a aplicação financeira e a dívida, na demonstração


financeira não apareceriam nunca nem despesas nem receitas financeiras; além
disso, do fluxo de caixa de R$360.000,00 produzido pelo ativo, teríamos apenas de
tirar o que seria o pagamento dos tributos sobre o lucro. Nesse caso, a alíquota
usada é de 33%, mas ela incidiria sobre os R$ 360.000,00 diminuídos da
depreciação de R$75.000,00.

Ou seja, a demonstração do resultado, sem receitas e despesas financeiras,


seria então:

Demonstração do resultado simulada:


2001
Vendas 1.800.000
CMV (1.080.000)
Lucro Bruto 720.000
Despesas Operacionais (360.000)
EBITDA 360.000
Depreciação (75.000)
Receitas Financeiras 0
Despesas Financeiras 0
Lucro Antes dos Tributos 285.000
IR + CS (94.050)
Lucro Líquido 190.950
Primeiro raciocínio

Caso não houvesse então as aplicações financeiras e as dívidas de


financiamento, o investidor pagaria R$1.260.000,00 pela empresa e auferiria um
lucro líquido anual de R$190.950,00.

É como se o comprador exigisse que o artigo dono usasse as aplicações


financeiras para pagar parte da dívida e pagasse o restante com seu recurso próprio
(não da empresa), usando talvez uma parte dos R$ 1.260.000,00 que receberia pela
venda.

Assim, o comprador da depreciação não representa fluxo de caixa (o fluxo de


caixa respectivo diz respeito ao valor usado no investimento feito no imobilizado,
já ocorrido), o dono da empresa poderia levar para casa todo o lucro líquido de
R$190.950,00 e mais esses R$75.000,00 (a título de redução do capital, por
exemplo); ou poderia usar esses R$75.000,00 para investir em outro negócios.

De qualquer forma, teria o investigador disponibilidade total representada


pela soma dos dois valores: lucro e depreciação, no total de R$265.950,00
(deveríamos dizer “lucro antes da depreciação” para ficar mais claro e não dar a
impressão de que depreciação “gera” caixa; ela retém, mas não gera).

O fluxo financeiro embutido nesse primeiro raciocínio e sua taxa de retorno

Com isso, teria investido os R$1.260.000,00 e compraria, assim, um fluxo


financeiro de R$265.950,00 até que precisasse repor o imobilizado ou fechasse a
empresa.

Assim, ao final dos 9 anos de vida útil restante do imobilizado, se fechasse a


empresa ficando com o capital circulante líquido final de R$522.000,00
(equivalente a caixa mais clientes, já que os estoques liquidariam os fornecedores),
teria o seguinte fluxo de caixa que, colocado numa planilha e a ele se aplicando a
fórmula da taxa interna de retorno (TIR), produziria:
Investimento em fins de 2001 (1.260.000)
Retirada em 2002 265.950
Retirada em 2003 265.950
Retirada em 2004 265.950
Retirada em 2005 265.950
Retirada em 2006 265.950
Retirada em 2007 265.950
Retirada em 2008 265.950
Retirada em 2009 265.950
Retirada em 2010 265.950+
522.000=
787.950
TIR= 18,04%

Essa seqüência de fluxos nos diz que a taxa interna de retorno (TIR) é de
18,04% ao ano. Ou seja, ser proprietário desse fluxo de caixa corresponde a ganhar
essa taxa ao ano.(1)

O multiplicador de 3,5 significaria, então, uma taxa de retorno mínima


exigida pelo comprador de 18,0% ao ano nessa hipótese de retirar todo o dinheiro
do negócio todo o ano. E, lembremo-nos, teria pago os R$1.260.000,00 por uma
empresa sem dívida.

Se quisesse continuar a empresa, ao final do nono ano precisaria investir


outros R$750.000,00 no imobilizado, em vez de retirar os R$522.000,00 de sobra
de capital de giro líquido. Se pensasse assim indefinidamente, com esse
investimento a cada 10 anos e com a retirada integral do caixa integral disponível
em cada ano, e caso colocasse-mos todo esse fluxo numa planilha, chegaríamos à
TIR de 18,14%. Veja-se a proximidade da taxa!

Assim, o multiplicador de 3,5 mostraria que o investidor estaria procurando,


como valor máximo de investimento, um montante que lhe desse pelo menos esses
18% a.a. de taxa de retorno.

Se recalculássemos tudo com o multiplicador de 4, veríamos que ele estaria


interessado no retorno mínimo de 21,6%.

Segundo raciocínio

Poderíamos imaginar também qual poderia ser outro raciocínio: o investidor


só retiraria da empresa o valor do lucro líquido, deixando o caixa relativo à
recuperação via depreciação dentro da empresa, reinvestindo-o no imobilizado,
como se fosse preciso investir, cada ano, o valor dessa mesma depreciação.
Nesse caso, pensaria noutro fluxo de caixa um pouco diferente, já que não
retiraria os R$265.950,00 mas apenas o máximo de R$190.950,00, mas em
compensação não teria de fazer aquele desembolso de R$750.000,00 para repor o
imobilizado a cada dez anos.

Seu fluxo de caixa seria outro: investimento agora de R$1.260.000,00 e


retirada, permanente, de R$190.950,00, se mantidas as condições de hoje. Isso
significaria uma taxa de retorno de 15,2% ao ano, inferior à outra, logicamente,
porque não se estaria considerando eventual ganho adicional com esse
reinvestimento dos R$75.000,00.

OUTRO PONTO IMPORTANTE NO CONCEITO DO EBITDA: A


ALAVANCAGEM PRODUZIDA PELA DÍVIDA

Como vimos, o cálculo do valor da empresa dentro dessa lógica implica


admitir-se a pronta liquidação da dívida.

Com isso, se ela é uma boa dívida, que custa menos do que sua aplicação
produz dentro da empresa, esse benefício não estará ajudando a valorizar a
empresa. Por outro lado, se a dívida for muito cara, com taxa superior ao que ela
produz de retorno para a empresa, esse fato não irá diminuir o valor da empresa.

Veja-se por exemplo, o que ocorreria se o investidor pagasse os


R$903.256,00 mas não liquidasse a dívida. E admitamos que retirasse de imediato
da empresa, na data da compra, sua aplicação financeira. Seu investimento líquido
seria então:
Pago aos antigos sócios 903.256
- Retirado da firma (165.256)
Investimento líquido 738.000

Sem a receita financeira, mas com as despesas financeiras pela manutenção


da dívida, passaria a Ter um lucro líquido de R$148.981,00 (do lucro líquido de
R$150.429,00 seria diminuída apenas a receita financeira de R$2.160,00 que,
líquida do tributo de 33%, diminuiria o resultado em R$1.447,50).

Se retirasse o lucro mais os R$75.000,00 equivalentes à depreciação e


mantivesse esse endividamento, teria um fluxo de caixa que seria:
Investimento em fins de 2001 (738.000)
Retirada em 2002 223.981
Retirada em 2003 223.981
Retirada em 2004 223.981
Retirada em 2005 223.981
Retirada em 2006 223.981
Retirada em 2007 223.981
Retirada em 2008 223.981
Retirada em 2009 223.981
Retirada em 2010 223.981+
0=
223.981
TIR= 26,8%

Obs.: Repare-se que em 2010 o investidor não retiraria os R$522.000,00


como na hipótese anteriormente vista, já que esse valor precisaria ser utilizado para
pagar a dívida.

Essa taxa é superior à anteriormente obtida, de 18,0%, porque, no caso de


manutenção da dívida, o investidor teria investido menos e continuaria usando uma
dívida que custa 12% ao ano (basta comparar as despesas financeiras de
R$62.640,00 com a dívida de R$522.000,00) antes do efeito fiscal para financiar
ativos que geram bem mais do que isso, aumentando daí o retorno dos sócios (a
dedutibilidade fiscal faz com que o custo efetivo da dívida seja inferior a esses
12%).

Ao avaliar a empresa pelo EBITDA, o investidor (ou o vendedor) está


desconsiderando esse fato: o de que a empresa pode valer mais por causa de uma
dívida bem estruturada, principalmente se puder ser mantida a longo prazo.

Por outro lado, desconsidera também o contrário: algumas empresas valem


menos por causa de dívidas antieconômicas, que custam mais do que o valor
gerado de benefício à empresa. E isso porque se parte da hipótese de se liquidar a
dívida de financiamento totalmente logo após a transação.

CUIDADO ESPECIAL COM O MULTIPLICADOR

Não se pode fazer relação fixa entre o multiplicador e a taxa de retorno. Isso
porque o fluxo de caixa de uma empresa depende das depreciações, amortizações e
exaustões.
Assim, o mesmo multiplicador de 3,5, usado como exemplo básico neste
caso, pode representar uma taxa de retorno bem mais alta para o caso de uma
empresa com pouca depreciação. Ou o contrário numa empresa com depreciação
muito maior. Para isso influenciam o investimento necessário no imobilizado e a
sua vida útil econômica.

Demonstrações do resultado simuladas


Depreciação
50% Em R$ mil
normal
Vendas 1.800 1.800 1.800
CMV (1.080) (1.080) (1.080)
Lucro Bruto 720 720 720
Despesas Operacionais (360) (360) (360)
EBITDA 360 360 360
Depreciação 75 37,5 150
Receitas Financeiras 0 0 0
Despesas Financeiras 0 0 0
Lucro Antes dos Tributos 285 322,5 210
IR+CS (93) (106,5) (69)
Lucro Líquido 190,5 216 141
Fluxo Caixa: EBITDA-Tributos 265,5 253,5 291

Os lucros são obviamente diferentes, mas o importante é que o fluxo de caixa


também é diferente para cada hipótese, por causa da saída do dinheiro para
pagamento do Imposto de Renda e da Contribuição Social sobre o Lucro.
Assim, para o mesmo multiplicador de 3,5, as taxas de retorno seriam:

 18,1% para a hipótese da depreciação normal;


 19,7% para a hipótese da depreciação reduzida à metade;
 12,6% para a hipótese da depreciação igual ao dobro.

O EBITDA é o mesmo para todas as hipóteses, mas o mesmo multiplicador


sendo mantido produzirá diferentes taxas de retorno.

É claro que, sendo a depreciação igual à metade, temos de admitir que o


reinvestimento se faz apenas a cada 20 anos, e não dez; e, sendo o dobro, a cada 5
anos. Isso influencia fortemente os fluxos de caixa.
Por causa desses aspectos é que os multiplicadores são diferentes para cada
ramo de negócio, dependendo do tipo de imobilizado (principalmente) exigido e de
sua vida útil econômica.

Da mesma maneira que os multiplicadores de faturamento utilizados nas


transações de farmácias e padarias, assunto sobre o qual falaremos proximamente.
(1)
Para calcular essa TIR, pode-se com o uso da planilha eletrônica Excel, fazer: coloca-se
o fluxo na planilha, verticalmente, como mostrado. Na célula do cálculo da taxa entra-se:
“Inserir”, “Função”, “Financeira”, “TIR”; tecla-se “Finalizar” e sairá o resultado; basta formatá-
lo para percentual e pronto.

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