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Sobre Comportamento e Cognição (Vol. 13) PDF
Sobre Comportamento e Cognição (Vol. 13) PDF
B Cognição
C o n t in g ê n c ia s e S M eta co n tín ffên cía s: C o n te x t o s
S ó c ío s -v e r h a is e o C o m p o r t a m e n t o cfo 'T e ra p e u ta
ESETec
Editores Associados
Sobre
Comportamento e
Cognição
Volume 13
Associação Brasileira de Psicoterapia e
Medicina Comportamental
Diretoria gestão 0 2 /0 3
Volume 13
Adnana Regina Rubio • Alexandre Dittrlch • Antonio de Freitas Ribeiro • Carlos Augusto de Medeiros • Carlos
Eduardo Lopes • Caroline Cunha da Silva • Célia Vaisbich Ignácio • Claudia Barbosa • Diana Tosello Laloni •
Eliene Moreira Curado • Fabiana Pinheiro Ramos • Fabrlcio de Souza • Fernanda Martins Pereira • Gisele
Carneiro Campos Pereira • Guilherme Massara Rocha • Helena Bazanelli Prebianchi • Hólio José Guilhardi • lima
A. Goulart de Souza Britto • João Cláudio Todorov • Jocelaine Martins da Silveira • José Antônio Damásio Abib
• José Carlos Dalmas • José Raimundo Fadon • Josiane Cecília Luzia • Josy de Souza Moriyama • Karine Amaral
Magalâes • Kátia Perez Ramos • Laércia Abreu Vasconcelos • Liana da Silva Mousinho • Luc Vandenberghe •
Lucas Ferraz Córdova * Maisa Moreira * Mara Regina A. Prudêndo • Margareth da Silva Oliveira • Maria José
Carli Gomes • Maria Luiza Mannho • Maria Rita Zoéga Soares • Mariana Lage • Mylena Pinto Lima Ribeiro •
Mylène Magnnelli Orsi • Myrna Chagas Coelho • Nione Torres • Patrlaa Cristina Novaki • Patrlaa Galvão • Paula
Virgínia Oliveira Elias • Rachel Rodrigues Kerbauy • Regina Christina Wielenska • Renato M. Caminha • Roosevelt
R. Starling • Sonia Beatriz Meyer • Viera Lúcia Adami Raposo do Amaral • Vera Regina Lignelli Otero • Viviane de
Castro • Wander C. M. Pereira da Silva • Yara Kuperstein Ingberman • Yuristela Yano
ESETec
Editores Associados
2004
Copyright <D desta edição:
KSKTec K.ditores Associados, Santo André, 2(XW.
Iodos os direitos reservados
445 p 17 x 24cm
CDD 155 2
CDU 159 9 019 4
Apresentação .............................................................................................................. ix
v
Capítulo 10 - Produção de conhecimento e ciência natural - tudo que ó sólido
pode se desmanchar no ar
Roosevelt R. Starling ........................................................................ 84
Capitulo 11 - A produção do conhecimento em Psicologia Comportamental:
revendo paradigmas
Wander C. M. Pereira da S ilv a .......................................................... f20
Capitulo 12 - Comportamento ótico e liberdade individual: expressões da
identidade do terapeuta na clinica comportamental
Wander C. M. Pereira da S ilv a ......................................................... 128
Seçào II: Análise do Comportamento Verbal
Capítulo 13 - Independência funcionai entre operantes verbais
Antonio de Freitas Ribeiro, Mariana Lage, Liana da Silva Mousinho e
Lucas Ferraz Córdova.......................................................................... 735
vi
Capítulo 22 - Controle Coercitivo e Ansiedade - Um caso de “transtorno de
p&nlco" tratado pela Terapia por C ontingências de
Reforçamento (TCR)
Hélio José G uilhardi........................................................................... 1S9
Capitulo 2 3 - Considerações sobre o papel do terapeuta ao lidar com os
sentimentos do cliente
Hélio José G uilh ard i........................................................................... 229
Capitulo 24 - Histórias Infantis: Diferentes propostas de intervenção
psicológica com crianças
Helena Bazanelli Prebianchi e Maria Rita Zoéga Soares................. 250
Capitulo 25 - Análise comportamental de delirios e alucinações
lima A. Goulart de Souza B ritto ...................................................... 259
Capitulo 26 - Modelo terapôutico integrativo comportamental aplicado em
autismo com grau severo de comportamento
José Raimundo Facion .................................................................. 266
Capítulo 27 - História de Contingências no transtorno dismórfico corporal:
análise comportamental de casos
Josy de Souza Moriyama e Vera Lúcia Adami Raposo do Am aral.... 283
Capítulo 2 8 - 0 modelo de terapia por contingências aplicado ao transtorno
dismórfico corporal: fragmentos de um caso
Kátia Perez R a m o s........................................................................... 294
Capítulo 29 - Estratégias Lúdicas da terapia analitico-comportamentalinfantil:
A literatura infantil - Branca de Neve e os sete anões
Laércia Abreu Vasconcelos, Caroline Cunha da Silva, Eliene Moreira
Curado e Patrícia G alvão ................................................................. ^06
Capítulo 30 - Terapia de grupo como processo interpessoal
Luc Vandenberghe............................................................................ ^21
Capitulo 31 - Melhora de desem penho na gagueira: o que aterapia
comportamental cognitiva tem a oferecer?
f Maria José Carli G o m e s...............................................................fí. ^26
Capítulo 3 2 - Motivação para a mudança em dependentes decocaina v
Considerações sobre o modelo transteórico de motivação paraSs'~—^
a mudança
Mylène Magrinelli Orsi e Margareth da Silva Oliveira........................ 333
Capitulo 3 3 - 0 stress, o transtorno do pânico e a psicoterapia: a pessoa e
sua vida
Nione Torres e Myrna Chagas C oelho............................................. 239
Capitulo 34 - Intervenção Cognitiva na pedofilia: um ensaio clinico
Renato M. Caminha ....................................................................... 3 4 5
Capítulo 35 - Metodologia de pesquisa da interação terapêutica ' a
Sonia Beatriz M e y e r.......................................................................... 355
Capítulo 36 - Terapia Comportamental de casais: da teoria à prática
'— "“" v . Vera Regina Lignelli Otero e Yara Kuperstein Ingberman.... 363
Capitulo 37 A Dependência Quimica - Prevenção derecaidaContribuições
Ida terapia cognitiva Comportamental sf
''V iviane de Castro .................................................................................L Í3 7 4
Capitulo 38 - Sistematização de observações informais empsicoterapia V_ ^
Yuristela Yano e Sonia Beatriz M eyer..................................................... 384
v iíi
Apresentação
Análises Teóricas
em Psicologia
Comportamental
Capítulo 1
Behaviorismo Radical: uma revisão do
conceito de S elfna obra de B. F. Skinner
A d r ia n d Keg in a R u b i o '
w -u s r
Sobrr ComportitmcnlocCognivüo 13
comportamentalismo. Para fins deste trabalho, duas versões de Behaviorismo serão
destacadas: o Behaviorismo Metodológico e o Behaviorismo Radical.
O Behaviorismo Metodológico foi fundado em 1913 por J. B. Watson. O
comportamento, para Watson, era definido como qualquer resposta que pudesse ser
observada por consenso (por mais de duas pessoas) e na qual se pudesse obter a verdade
consensual: portanto, não eram considerados comportamentos quaisquer eventos internos
por não ser possível a observação direta. Sendo assim, a mente, a consciência e os
eventos mentais para Watson eram compreendidos como fenômenos não físicos, não
observáveis e, portanto, não passíveis de estudo por uma ciência do comportamento.
Segundo Matos (1997), o Behaviorismo Metodológico não nega a existência da
mente, mas nega-lhe status científico ao afirmar que não podemos estudá-la pela sua
inacessibilidade. Neste ponto, Watson exclui do âmbito da psicologia, enquanto ciência
do comportamento, todos os eventos que não são públicos, como, por exemplo, pensar,
sentir etc.
As causas do comportamento para Watson são os estímulos ambientais que
atingem o organismo, forçando-o a eliciar uma resposta. Portanto, trabalhou, em grande
parte, com os comportamentos ditos reflexos, comportamentos do tipo Estímulo - Resposta
(Stimulus-Response- S-R).
Entre 1938 e 1945, B. F. Skinner funda o Behaviorismo Radical e lança seus
primeiros estudos definindo o conceito de operante, dando uma reviravolta nos estudos
behavioristas acerca do comportamento. Para Skinner, os comportamentos dos organismos
não podiam ser totalmente reduzidos às explicações S-R.
O operante è uma classe de comportamentos que opera no meio modificando-o, e
por sua vez essa classe de comportamentos é modificada quando opera sobre o meio, ou
seja, a aprendizagem trata-se, portanto, de uma seleção de comportamentos pelas suas
respectivas conseqüências. Skinner ainda afirma que o behaviorismo radical é uma filosofia
da ciência do comportamento, por se preocupar com o esclarecimento de termos que se
referem ao próprio comportamento, termos esses obscurecidos pelas explicações
mentalístas.
O homem, para Skinner, é produto da evolução das espécies (seleção filogenética),
da sua história de condicionamento operante (seleção ontogenética, da seleção por
conseqüência como já foi referido) e da evolução de práticas culturais.
Skinner não desconsidera de forma alguma o mundo privado do homem (“o mundo
debaixo da pele", tão físico quanto o mundo externo) e nem os comportamentos encobertos
e sequer os sentimentos e emoções, só não atribui aos sentimentos e emoções status
causal do comportamento e nem sequer a uma suposta estrutura mental.
Ainda a título de esclarecimento, faz-se importante dizer que Skinner ao afirmar
que o homem não é livre e "não age" segundo seus desejos e vontades, o faz porque os
próprios desejos e vontades de alguém estão subordinados à sua história de vida (história
de condicionamento), ou seja, o comportamento é controlado por estímulos ambientais
que em sua maioria são coercitivos. A vida em sociedade é uma vida coercitiva, mas não
esqueçamos que tem suas recompensas, caso contrário estaríamos olhando para a relação
do homem com seu meio com lentes muito negativistas, e que desejos e vontades existem,
mas não como estados gerados por algo que chamaríamos de mente, e sim gerados
pelas contingências de reforço (circunstância em que um comportamento é emitido e
reforçado).
3. O Self
Uma das maiores restrições impostas pela Ciência do Comportamento é a utilização
de constructos hipotéticos, como por exemplo, a mente, para a explicação do
comportamento. Segundo Baum (1999), a noção de mente é problemática para a ciência
do comportamento porque a mente não é um evento natural, ou seja, a mente é uma
entidade inferida a partir de observações dos comportamentos emitidos pelos organismos,
como por exeniplo, os pensamentos os sentimentos, as emoções. Ao atribuir à mente
status causal estaríamos jogando para dentro do organismo as explicações de seus
comportamentos. Entretanto o fato de as causas do comportamento não serem buscadas
no interior de um organismo, não faz com que a sua individualidade e privacidade sejam
destruídas. Nas palavras de Skinner, isto fica claro:
"Uma pessoa não ó um agente que origine; ó um lugar, um ponto em que muitas
condições genéticas e ambientais se reúnem em um efeito conjunto. Como tal,
ela permanece inquestionavelmente única. Ninguém mais (a menos que ela
tenha um gômeo idêntico) tem sua dotação genética e, sem exceção, ninguém
mais tem sua história pessoal. Assim, ninguém mais se comportará da mesma
maneira. Nós nos referimos ao fato de que não há ninguém como ela enquanto
uma pessoa, quando falamos de sua identidade.’' (1974-1999, p.145-146)
SobreComportamentocCoflnlvJo 15
Skinner (1953-1985) salienta que à medida que as causas do comportamento não
são encontradas ou são ignoradas, atribui-se a um self, a um agente iniciador, as suas
causas. Entretanto, para Skinner, o self, a mente, as emoções, os sentimentos,
pensamentos e o sistema nervoso não são iniciadores do comportar-se. Pode-se encontrar
em vários trechos da obra de Skinner os seguintes esclarecimentos a cerca do Self.
"O Self constitui um repertório de comportamento adequado a um determinado
conjunto de contingências. Uma parte significativa das condições às quais uma
pessoa é exposta pode desempenhar um papel de destaque (...). A identidade
co nfe rid a a um S e lf o rig in a -se das co n tin g ê n cia s resp on sáve is p elo
comportamento" ( 1971-1983, p.149).
Um Self ou uma personalidade ó, na melhor das hipóteses, um repertório de
comportamento partilhado por um conjunto organizado de contingências. O
comportamento que um jovem adquire no seio de sua familia compõe um Self; o
comportamento que adquire, digamos no serviço militar compõe outro. Os dois
Selfs podem coexistir na mesma pele sem conflito até as contingências contatarem"
(1974-1999, p. 130).
5. Conclusões
O presente estudo objetivou investigar a posição de B. F. Skinner diante do conceito
e formulações acerca do Self. O levantamento bibliográfico realizado, entretanto, embora
não extensivo, possibilitou-nos revisar os trechos da obra do mestre Skinner em que de
alguma maneira mostra o seu interesse, enquanto cientista do comportamento, nas
questões relacionadas à subjetividade, individualidade e formação do Self.
È possível identificar, nos trechos apresentados, a preocupação de Skinner em
manter seu conceito de ciência do comportamento e distinguir a posição Behaviorista Radical
dos outros Behaviorismos e de outras abordagens da psicologia, que em sua maioria, atribuem
a um Self, uma mente, um tipo específico de personalidade a origem de todas as coisas.
Fica evidente nas palavras de Skinner o seu conceito do que significa o Self de
uma pessoa. O Self é um repertório de comportamento adquirido através da interação do
organismo com o ambiente, é um produto das contingências de sobrevivência, de
reforçamento e cultural. Só pode ser conhecido através da auto-observação e
autoconhecimento. Sendo a auto-observação e o autoconhecimento modelados pela
comunidade verbal a que o indivíduo está inserido.
O Selfó\z respeito à individualidade de um organismo, à sua subjetividade, à sua
personalidade, e é construído socialmente, na interação com outros indivíduos de sua
espécie, através da evolução de ambientes sociais.
Portanto, o self não é causa de comportamentos, ele é um conjunto de
comportamentos selecionados na interação do indivíduo com o ambiente, ele é produto de
contingências de reforçamento sociais. E a função do analista do comportamento não é
buscar as causas do comportamento em um agente iniciador e sim levar o cliente a identificar
as causas de seus comportamentos através da auto-observação e autoconhecimento.
Referências
Baum, W.M. (1999) Compreender o Behaviorismo. Trad: Maria Teresa Araújo Silva; Maria Amólia
Matos; Gerson Y. Tomanari; Emmanuel Z. Tourinho. 1* ed. Porto Alegre: Artmed.
Alexandre Dittrlch'
Universidade federa! de Sào Carlos
22 Alexandre Pittrich
parece repetir o mesmo equívoco já verificado em disciplinas como a sociobiologia e o
darwinismo social: estende uma “ponte” explicativa entre natureza e cultura sem fazer
referência ao nível seletivo individual - isto ó, às contingências de reforço.3 Enquanto a
psicologia evolucionista vê-se obrigada a atribuir à cultura, genericamente, as possíveis
variações de repertório entre organismos com tendências genéticas supostamente
semelhantes, a análise do comportamento detém os meios conceituais e empíricos para
analisar intimamente os detalhes do processo que leva à configuração efetiva do repertório
comportamental humano.
O modelo de seleção por conseqüências é, de fato, um poderoso recurso explicativo.
Porém, esse mesmo modelo alerta-nos quanto à complexidade do comportamento humano.
Explicar episódios comportamentais específicos será sempre uma tarefa exigente, diante
da quaí nada aíém de investigação cuidadosa poderá bastar. Enquanto psicólogos, é natural
que sintamos certa ansiedade em explicar todo e qualquer fenômeno comportamental -
sobretudo aqueles que nos parecem excepcionalmente estranhos ou bizarros. Deparamo-
nos, constantemente, com casos amplamente divulgados pela mídia, diante dos quais a
opinião pública mostra perplexidade: adolescentes que atiram contra colegas e professores,
estupradores contumazes, assassinos seriais-todos exibem comportamentos que agridem
frontalmente nossos padrões éticos. Obviamente, buscamos explicações: por que tais
pessoas comportam-se dessa forma? 4
É interessante notar, primeiramente, que a necessidade de explicação surge
apenas porque, para a maioria de nós, não existem "bons motivos" para executar tais atos
extremos. Nossa história ética até o momento não nos permite compreender porque alguém
agiria de tal forma. Assim, nossa tendência imediata, diante de tais casos, é buscar
formas de afastamento em relação ao criminoso: ele é “doente", ou um "monstro", ou "não
é um ser humano". Entre os psicólogos, é prática comum explicar comportamentos bizarros
citando possíveis estados patológicos. Classificar certo comportamento como “doentio"
possui, certamente, algum poder de alívio sobre nossa ansiedade explicativa, mas pode
ser um recurso espúrio: classificar não é o mesmo que explicar. Se sabemos sobre certa
pessoa apenas que ela cometeu atos que consideramos eticamente repulsivos, não temos,
em principio, motivos suficientes para dizê-la doente. Seria necessário, obviamente,
examinar detidamente as contingências passadas e atuais que controlam o comportamento
dessa pessoa para descobrir os motivos de sua conduta. Se tal possibilidade não estiver
ao nosso alcance, a única afirmação que podemos fazer, com segurança, enquanto analistas
do comportamento, é esta: todo comportamento, do mais corriqueiro ao mais bizarro, é
produto de contingências seletivas atuantes nos níveis filogenético, ontogenético e cultural.
É, por certo, uma explicação bastante genérica, mas é também a única possível diante
das circunstâncias. Na análise do comportamento, toda explicação é, necessariamente,
de ordem histórica. Analisar somente os produtos das contingências seletivas em busca
de explicações de cunho estrutural destoa por completo dessa orientação. Seria fácil, por
certo, satisfazer o público leigo com explicações simples e imediatas - mas também
seria uma agressão direta contra o arcabouço teórico que sustenta nossa prática
profissional.
' Na verdade, sequer podamo» aatar certos »obra a acuidade da noasa avaliação am relação ao qua t ou n to "bom" (reforçadot) para nós Relutou do
Mtntimenkw (pnuar ou daapnuar, por exemplo) arn raiaçAoaotyat» ou eventoa nâo odniJdem, naoeaaariarnenle, oom os eWtos comixxtiimenluta efotlviimonhi
produzldoa (1003/1906. p. 82)
10 comportainanto áttoo é, naaaa aarrtkjo. «amalhanhi ao oomportamento vartial: da meeme torna oomo n*u pradaamos, nocaaaariamanla, oonaultar manuais
da raunai gratnattcala para exMr oomportamanlo veibal, tsmbém nto pradaamue, naoaaaartamanla. oonaular manual* da ragraa atoas para a x t* oomportamento
iWoo > otnborH o auxilio de ragraa poaaa «ar. em amboe oa caaoa, um Importante racurao da aprendizagem Porém, aaalm oomo o comportamento verbal
rrxxMarfoporaxitfntf^^narnaarnpwraapatoaneymaajNBdk^arnátlcB.oonrnportarnanloáttomodaMoporoontlri^énalaetamijArrrtarKtoaaaafaatar
do comportamento inicialmente eapeuAcado pelaa re g ra *-o qua poda tar atotoe bona ou ruins
u Alexandre Pittrkh
conclusão é de suma importância para os analistas do comportamento - desde que
pretendam controlar sua própria atuação ética e política. De nada adiantará discutir os
melhores caminhos óticos e políticos para nossa profissão se as diretrizes daí extraídas
não produzirem práticas que estimulem consistentemente a observância destas regras no
interior de nossa comunidade profissional. Por melhores que sejam suas intenções, regras
óticas são, em princípio, apenas declarações formais de ideais comportamentais .7 Cabe
à comunidade dos analistas do comportamento fazer com que nossos princípios óticos
traduzam-se, de fato, em práticas profissionais. Antes disso, porém, será necessário
construir (ou reconstruir, a partir do sistema ótico skinneriano) esses princípios - por si
só, uma tarefa árdua.
Conclusão
É possível, afinal, tratar a ótica como um elemento explicativo do comportamento
no behaviorismo radical? Vimos que, ao falar sobre ótica, estamos lidando com as
conseqüências que controlam nosso comportamento. A ótica do behaviorismo radical ó
uma ótica das conseqüências - e, como todo comportamento tem conseqüências, todo
comportamento ó controlado por certa ótica. Assim, seria redundante tratar a ótica como
um elemento explicativo do comportamento - embora não fosse um equívoco. Ao afirmar
que variáveis de ordem ótica controlam o comportamento, estaríamos apenas repetindo,
com outras palavras, o que já ó, de longa data, apontado pela análise do comportamento:
variáveis seletivas controlam o comportamento. A ótica não figura, portanto, como um
elemento especial, diferenciado, que aja além das contingências seletivas. Ética ó sinônimo
de seleção por conseqüências.
Por outro lado, também podemos - como vimos há pouco - atribuir à palavra o
mesmo significado com o qual ela ó mais comumente utilizada: ótica como um fenômeno
exclusivamente humano-ou, mais precisamente, como o controle que as culturas humanas
exercem sobre o comportamento de seus membros a fim de beneficiar a própria cultura.
Nesse caso, certamente poderemos explicar parte substancial do comportamento de certa
pessoa pelo fato de ela estar submetida a determinada ótica. Podemos, por exemplo,
afirmar que uma pessoa comporta-se de certo modo porque segue certos padrões óticos
- e, estaremos, dessa forma, utilizando a ótica como elemento explicativo. Observe-se,
porém, o seguinte: tudo isso ocorre no interior do modelo de seleção por conseqüências;
mais uma vez, não estamos fugindo a este modelo, e nem lhe acrescentando novos
elementos. A$ comunidades que controlam o comportamento ótico também fazem parte
do universo das contingências seletivas.
Sempre que considerarmos a ótica como um conjunto especial e delimitado de
contingências seletivas no interior das culturas, classificar os possíveis significados da
palavra consistirá tão-somente em identificar as práticas de reforço vigentes nas diversas
comunidades verbais: a ótica dos cientistas, dos psicólogos, dos políticos, dos religiosos,
etc. - ou de quaisquer outras comunidades designadas por diferentes características
geográficas, históricas ou comportamentais. Sob tais circunstâncias, podemos,
' Em «m uiinpk) Himtrn, ■ pnipAailo, * (joaalM Idadad« ktdapan<tAncla antra prAkca» vartMUta nAo-varbala no cn n ip o d * AUca dlloronla» varlévttl» podum
axilrolar m«Hic* oom|iortamantal e o d la cu n o q u a fa t "rafarêncla- ■ «ala M k» Quando imi polltloo, por d« d ar« ubndIAnda a cxirton pflfidpk» ôtlixi»,
podamoa «atar ca rti» da aua «Incaridada? Um falante qualquer poda. naaaa tanUdu, "inanir conadaniom anto* ( u n d o tu o polllloodaaonaalo), m a» lamM rn
poda "manlíf Inooanlamanta* A "manUra conadenle" kii|)Kca o controla do (xxnportamanto vartoal por variáv«»l» pubUcaa a t p a d a » (voto», por axarnplo), ma»
i»n falanli» poda, parfartamanla. proclamar-*e dato*for da valora* am rataçéo aoa q uak nada ftu a. ainda aaalm, ««lar '«ando »Incaro’ S a uma cultura rakirça
a «xaltaçAo vmtoal da cartoa v alora*- • M> a ila axallaçAo nAo practoa. obrigalorlamafila, raOatlr a conduta nâo- vwtoal do falanhi - aww quadro é fadlm anlc
u x K w tilv e l
Referências
Prado, L. (1982). Herança social e herança biológica: A Sociobiologia. Em: B. Prado Júnior
(org.), Filosofia e comportamento (pp. 140-148). São Paulo: Brasilíense.
Skinner, B.F. (1965). Science and human behavior. Now York: Macmillan. (Trabalho original
publicado em 1953).
Skinner, B.F. (1971). Beyond freedom and dignity. New York: Alfred A. Knopf.
Skinner, B.F. (1984). Selection by consequences. Em: A C. Catania & S. Harnad (orgs ), Canonical
papers of B.F. Skinner (pp. 477- 481). The Behavioral and Brain Sciences, 7, 473-724.
(Trabalho original publicado em 1981).
26 Alexandre Plttrld)
Capítulo 3
Racionalização: um breve diálogo entre a
psicanálise e a análise do comportamento
É surpreendente notar que Freud é o autor na Psicologia mais citado por Skinner
com exceção dele próprio. Além disso, a maior parte das citações apresenta, pelo menos
parcialmente, a concordância entre os dois pontos de vista, principalmente quando estes
remontam às descrições do comportamento. O lamentável sectarismo entre as duas
abordagens parece residir muito mais em posturas preconceituosas dos seguidores das
mesmas do que em impasses conceituais. O debate histórico diz respeito muito mais às
pessoas e aos interesses corporativistas do que às idéias.
Atualmente, a Psicologia, como campo de conhecimento, vem sendo ameaçada
pelo reducionismo aos determinantes fisiológicos do comportamento. Observa-se o risco,
de que tanto Analistas do Comportamento, quanto Psicanalistas, em um futuro próximo,
ocupem apenas um papel histórico na Psicologia como outros sistemas psicológicos
(e.g., estruturalismo e funcionalismo). Neste sentido, não parece absurda a noção de que
duas das principais abordagens teóricas em psicologia devam dialogar para sobreviver.
Afinal de contas, os fenômenos são os mesmos, e a negação de todo conhecimento
gerado por arcabouços conceituais diferentes representa uma prepotência injustificada.
Sendo assim, o presente trabalho defende que, para a descrição apropriada deste elefante,
é essencial que os cegos aprendam a se comunicar.
Skinner, ao longo de sua obra (Skinner, 1953/1994,1957/1978,1969/1984,1974/
2 0 0 0 ) reconhece a propriedade das descrições freudianas de regularidades do
comportamento, e das histórias responsáveis pela instalação de diferentes repertórios
com portam entais. Obviamente, Skinner discorda do local da causalidade do
comportamento. Para ele, as variáveis devem permanecer no ambiente. Entretanto, uma
vez que as abordagens tratam das mesmas variáveis, o diálogo pode começar por elas.
O diálogo será profícuo uma vez que os behavioristas podem se aproveitar das
variáveis já identificadas pelos psicanalistas, pois ó uma perda de tempo ficar reinventando
1Paicólogoe Profasaor am Pwcokjgla/UtiICClJB/IESB/IBAC/Doulof uni Psicologia
’ Pticótogo • ProfaMor w tf P«Jcologla/UFMQ/ Maalra am Psicologia
’ Th« oontlnganclea wo have ravtawnd atao M l to provida an adeguate chack agamat flctlonal dWortton of tha ralation of relerence (• g., aa In ratkxwltfabny)
Statamenls aboul priva te avanài may Éwundnr conlrol o#k a dWvaa aaaodafed w*h »wír coneequanoee mlhar lhan amecedenl ülmu*.
5. Conclusões
De acordo com a apresentação da racionalização do ponto de vista da Psicanálise,
parece que as coincidências entre as visões comportamental e psicanalítica ocorrem
principalmente em se tratando de neuróticos. A semelhança dos usos do termo
racionalização se encontra principalmente na importância concedida ao controle aversivo
social na sua determinação. Caberia ressaltar, contudo, que o caráter "aversivo" do controle
social nem sempre é legitimado como fundamento universal para a racionalização a partir
da psicanálise. Pelo menos, se entendermos por isso a qualidade punitiva daquilo que
retorna para o indivíduo a partir de sua experiência com o outro. Freud já admitia que o
indivíduo "racionaliza" sua conduta, muitas vezes, tão simplesmente pelo fato de que ele
desconhece a causa inconsciente daquilo que a move. Ele aponta ainda, quanto a isso,
que sob a ação do recalque o sujeito fica alienado das causas que sustentam seu desejo
e, muitas vezes, isso por si só ó suficiente para que ele as descreva com os recursos que
o outro lhe destina. A qualidade desse recalcado não deve, entretanto, ser confundida
somente com o efeito inconsciente de uma punição ou controle social aversivo. Mas o
psicanalista ali entreyê, sobretudo, um excedente libidinal que força os limites do aparato
simbólico do sujeito produzindo, por essa via, um mal-estar que, secundariamente, pode
vir a assumir um valor aversivo.
Em se tratando da prática clínica, fica claro que, para ambas as abordagens, uma
confrontação das racionalizações do cliente é desaconselhada principalmente pelas
implicações indesejáveis para a relação terapêutica.
A composição de um artigo exclusivamente sobre a racionalização pode induzir a
conclusão de que este é um fenômeno central para clínica. Um aspecto que ficou claro na
visão psicanalítica, principalmente nos escritos de Freud, é a pequena importância
concedida ao fenômeno. Como apresentado anteriormente, Freud parece até desaconselhar
a sua abordagem direta na análise, a qual poderia aumentar a resistência. Obviamente,
uma abordagem do fenômeno também não essencial para uma intervenção comportamental,
o que pode ser demonstrado pela literatura inexistente acerca do tópico. Conduto, ao
Referências
Abib, J.A.D. (2002). Behaviorismo radical e interpretação [Resumo]. In Associação Brasileira de
Psicoterapia e Medicina Comportamental (Org.), Anais do XI Encontro Brasileiro de
Psicoterapia e Medicina Comportamental (p. 283). Londrina: ABPMC.
Assoun, P.L. (1981). Epistemologie freudienne. Paris: Payot, 1981.
Catania, C. Shimoff, E. e Mathews, B.A (1989). An experimental analysis of rule-governed
behavior. Em S.C. Hayes (Ed.), Rule-guverned behavior: cognition, contingencies, and
instructional control {pp. 119-149). New York. Plenum.
Dollard, J. & Miller, N.E. (1950). Personality and psychotherapy. New York: McGraw-Hill.
Ferster, C.B., Culbertson, S. & Boren, M.C.P (1977). Princípios do comportamento. Traduzido
por M.l. Rocha e Silva, M.A.C. Rodrigues & M.B.L. Pardo. São Paulo: Edusp. (trabalho original
publicado em 1968).
Freud, S. Notas Psicanalíticas sobre um relato autobiográfico de um caso de paranóia (1911/
1987). Rio de Janeiro: Imago, (2* ed.) (Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas
Completas de Sigmund Freud)
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Hamilton, S.A. (1988). Behavioral formulations of verbal behavior in psychotherapy. Clinical
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Harzem, P. & Miles, T.R. (1978). Conceptual issues in Operant Psychology. New York: Wiley.
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La Cause Freudienne (ACF en Belgique). Agalma-Seuil, n. 84.
1. Disposições
Muitos dos conceitos do behaviorismo radical podem ser classificados como
disposicionais (Lopes, 2003; Lopes & Abib, 2003). No entanto, se quisermos encontrar
uma unidade podemos dizer que no behaviorismo radical disposição é o mesmo que
probabilidade. Dizer que uma pessoa apresenta uma disposição para comportar-se de um
certo modo é, portanto, o mesmo que dizer que essa pessoa tem uma certa probabilidade
Pnorttoflo • Bacharel «Nn Psicologia. doutorando no Programa da Pós-graduaçâo erri Filosofia do Departamento da f-Moaolta a Metodologia daa Ciéndas
da Universidade Fadaral da S4o Cario*
1Com l*ao apontamos qua n io eatamoa aqui compromtsaadoa com uma teoria da verdade raatata, a portanto, o trabatw nto dava aar Ndocomo uma busca
do verdedetro modalo exp*ca#vo skinneriano, mas sàmoomo uma propoeta da modalo da expfcaçAo do comportamento, que poda aar aceito ou n*o. da acordo
oom sua plausJbMded« em ralaçAo ao behavtoriemo radical, sua coarènda Intema a a« coneeqOAndas produzidas pato compromisso com a*sa propoata
Sobrr ComporldmrntoeCognição 39
de comportar-se (Ryle, 1949/1980). A esse esquema simples acrescentamos que a
manifestação ou atualização de uma disposição é contingente a um certo contexto, ou
em termos behavioristas, que a ocorrência de uma resposta é influenciada pela presença
de uma estimulação discriminativa.
Nesse ponto faz-se necessária uma importante diferenciação. A disposição diz
respeito a uma probabilidade de ocorrência, e não a uma ocorrência atual. Do mesmo
modo o operante: trata-se de uma probabilidade, disposição ou tendência de ocorrência
de uma resposta em um dado contexto, e não de uma resposta propriamente dita.
Classificaremos, portanto, o operante como um estado comportamental que se
caracteriza por uma probabilidade de ocorrência de certas respostas, que por sua vez
caracterizam-se por propriedades funcionais constituídas e constituintes do próprio estado.
2. Explicação do comportamento
Geralmente explicar é responder a uma pergunta do tipo "por que... ?". Assim
sendo, a explicação do comportamento pode ser buscada na resposta à questão "por que
essa pessoa fez isso?" Parece evidente que há mais de uma resposta possível e, portanto,
mais de um modo de se explicar o comportamento. A escolha por uma dessas respostas
é contingente a outros fatores, como, por exemplo, a metafísica adotada. A presente
análise ficará restrita a duas possibilidades: a explicação causal e a explicação
disposicíonai.
' Há (|uom dlicordti deMa deflnlçAo de expIlcaçAo dwpostdonal (VanderbMkwi & Weber, 2002). A encolha por uma ou outra deflnlçAo é norteada pnla
metafísica «dotada em cada um doa caaoa. NAo é poaatval apraeentar aqui, oom lodo o datafwmenlo que o aaaunto merece, a metafísica relacional - «dotada
no proaente trabalho - , baeta duer que ele tem como característica« a imanência e o Indetemiiniemo
4. Conclusão
O presente trabalho teve como principal objetivo apresentar um tipo de explicação
que emprega estados comportamentais ao invés de causas, a “explicação disposicional
Como principal conclusão podemos apontar o fato de que as características disposicionais
do operante nos conduzem a um novo modelo de ciência do comportamento.
Uma importante característica das disposições (e, conseqüentemente, do operante)
é que elas não são observáveis (Lopes, 2003; Ryle 1949/1980). Isso, em um primeiro
momento, pode assustar aqueles que têm uma leitura empirista do behaviorismo radical,
ou seja, aqueles que atribuem excessiva importância, para não dizer obrigatoriedade, do
dado empírico na ciência. O interessante aqui é que embora o operante não seja observável,
ele é fundamental para a ciência do comportamento. Por outro lado, quando dizemos que
o operante não é observável e que ele explica as respostas, isso não nos compromete
com uma metafísica transcendente: o operante não é um evento que está para além do
dado empírico, ele é um estado e como tal não pode ser qualificado por adjetivos como
observável ou inobservável.
Dessa forma, uma importante característica do behaviorismo radical, enquanto
filosofia da ciência do comportamento, é a desconstrução de dicotomias. No caso do
operante isso pode ser encontrado nas dicotomias observável/inobservável, público/privado,
intemo/externo - ele não é observável ou inobservável, público ou privado, intemo ou externo.
Para o operante essas dicotomias não se colocam, ele é uma abstração, uma construção,
um instrumento útil para os propósitos da análise experimental do comportamento. Buscar
ver um operante é como tentar sentir o sabor do azul, ou ver a cor do número cinco. Não
ó que o sabor do azul não pode ser sentido, é que cores não têm gosto; não é que a cor
do número cinco não pode ser vista, é que os números não têm cor.
Outra importante conseqüência da aceitação do modelo disposicional, tal como
foi proposto aqui, é que a ciência do comportamento deixa de seguir um modelo determinista
causal. Isso quer dizer que o conceito de causa pode ser abandonado, com a justificativa
de que o fenômeno comportamental é probabilístico; lembrando que essa afirmação não
está embasada em uma discrepância entre metafísica e epistemologia e, portanto,
probabilidade não é sinônimo de incapacidade cognitiva.
A pergunta que se constrói é: como seria, então, essa nova ciência do
comportamento, esboçada por essas características? Não responderemos a essa questão
Referências
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Philosophy, 30, 43-59.
1. Metodologia
1.1. Objeto de Estudo
O objeto de estudo da pesquisa é o Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei n°
8069, de 13 de julho de 1990, de acordo com as alterações dadas pela Lei n° 8.242, de 12
de outubro de 1991, enquanto um conjunto de contingências entrelaçadas constituindo
metacontigências (Glenn, 1986).
O Estatuto da Criança e do Adolescente é composto por dois Livros. Esses livros
estão subdivididos em Títulos. Cada Título é subdivido em Capítulos. Os Capítulos estão
subdivididos em seções e estas últimas, em subseções. Resultando, portanto, em um
total de 267 (duzentos e sessenta e sete) artigos dispostos na Lei.
1.3. Procedimento
Foram analisados os 267 artigos presentes na Lei, tendo como objetivo identificar
os termos das contingências que representavam, por exemplo, se cada artigo referia-se a
um antecedente, comportamento ou conseqüente. Localizado um artigo que descrevesse
um antecedente, pesquisava-se a existência de artigos que apresentassem
comportamentos e conseqüentes, contingentes ao antecedente.
O texto foi pesquisado seguindo-se a ordem numérica dos artigos; entretanto, na
organização das contingências essa ordem foi desconsiderada, priorizando-se o
agrupamento dos termos das contingências. Por exemplo, no tema Proteção à Vida e à
Saúde, o antecedente da contingência é o artigo 7o:
Art. 7o - A chança e o adolescente têm direito à proteção, à vida e à saúde,
mediante a efetivação de políticas sociais públicas que permitam o nascimento e
0 desenvolvimento sadio e harmonioso, em condições dignas de existência.
Fica óbvio, pelo exemplo anterior, que o texto legal não especifica um a um cada
comportamento, cada antecedente e cada conseqüência. Antecedentes são agrupados
Antecedentes
Art. 7o - A criança e o adolescente têm direito ò proteção, à vida e à saúde,
mediante a efetivação de políticas sociais públicas que permitam o nascimento e
o desenvolvimento sadio e harmonioso, em condições dignas de existência.
Comportamentos
Art. 245 - Deixar módico, professor ou responsável por estabelecimento de atenção
à saúde e de ensino fundamental, prê-escola ou creche, de com unicar à
autoridade competente os casos de que tenha conhecimento, envolvendo suspeita
ou confirmação de maus-tratos contra criança ou adolescente:
Conseqüências
(Artigo 245) Pena - multa de 3 (três) a 20 (vinte) salários de referência, aplicando-
se o dobro em caso de reincidência.
2. Resultados e Discussão
O presente trabalho possibilitou o estudo da metacontingência envolvida no ECA,
entendendo-se como metacontingência a unidade que descreve as relações funcionais
entre classes de operantes, cada classe associada a uma contingência tríplice diferente,
e uma conseqüência comum a longo prazo, comum a todos os operantes na
metacontingência. São essas conseqüências que ligam nossas ações do dia-a-dia e que
podem ser controladas pelas regras da sociedade como a Constituição e os Códigos de
Leis (Todorov, 1987).
A metacontingência contida no ECA pode ser descrita no seu artigo 1o: "Esta Lei
dispõe sobre a proteção integral à criança e ao adolescente". Observando-se os artigos da
Lei e organizando-os em contingências, percebeu-se que formam dois conjuntos:
contingências çompletas e incompletas. Esses conjuntos entrelaçados procuram garantir
uma conseqüência comum a longo prazo, a qual é descrita no artigo primeiro.
Na completa são encontrados os três termos da contingência: antecedentes,
comportamentos e conseqüências, como apresentado a seguir:
Exemplo 1:
Tema: Saúde
Antecedentes
Art. 7o - A criança e o adolescente têm direito à proteção, à vida e à saúde,
mediante a efetivação de políticas sociais públicas que permitam o nascimento e
o desenvolvimento sadio e harmonioso, em condições dignas de existência.
Conseqüências
(Artigo 228) Pena - detenção de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos.
Também foi considerada contingência completa aquela que nào apresentava
antecedente específico, ou seja, que não estabelecia a condição para a ocorrência do
comportamento. A falta de um antecedente específico não impede o entendimento da
contingência, pelo contrário, permite maior flexibilidade na interpretação da Lei, visto que
o comportamento requerido deve ocorrer em qualquer condição, como se segue:
Exemplo 2:
Tema: Direito à educação, à cultura, ao esporte e ao lazer
Comportamentos
Conseqüências
Art. 129 - São medidas aplicáveis aos pais ou responsável:
I - encaminhamento a programa oficial ou comunitário de promoção à família;
II - inclusão em programa oficial ou comunitário de auxilio, orientação e tratamento
a alcoólatras e toxicômanos;
III - encaminhamento a tratamento psicológico ou psiquiátrico;
IV - encaminhamento a cursos ou programas de orientação;
V - obrigação de matricular o filho ou pupilo e acompanhar sua freqüência e
aproveitamento escolar;
VI - obrigação de enca m in ha r a criança ou a d o le scen te a tratam ento
especializado;
VII - advertência;
VIII - perda da guarda;
IX - destituição da tutela;
X — suspensão ou destituição do pátrio poder.
Parágrafo Único - Ala aplicação das medidas previstas nos incisos IX e X deste
artigo, observar-se-á o disposto nos arts. 23 e 24.
Exemplo 3:
TEMA: Convivência familiar e comunitária
Este artigo dispõe sobre os direitos dos filhos havidos do casamento ou por adoção.
Poróm, não se encontrou no texto um comportamento esperado diante deste antecedente,
bem como uma conseqüência.
É importante ressaltar que os artigos 1o e 6o por apresentarem uma descrição
geral foram considerados antecedentes gerais que permeiam todo o texto.
O agrupamento dos artigos para formar uma contingência não obedece a uma
ordem numérica, uma vez que os antecedentes, comportamentos e conseqüentes não se
encontram em artigos próximos. Observou-se que as penas se encontravam nos últimos
artigos do Livro II. Os artigos que contêm comportamentos estão na Parte Especial, e os
principais antecedentes no Livro I. Tal configuração é observada no Exemplo 1.
Semelhante fragmentação das contingências no texto pode ser verificada também
na distribuição dos temas (especificado a seguir), ou seja, um tema como Flagrante de
Ato Infracional surge no Livro I assim como no Livro II (artigos relacionados a procedimentos).
Essa disposição dos artigos pode representar uma dificuldade no manuseio da Lei
Estatutária à medida que, para aplicá-la, o intérprete da Lei (juiz, promotor, advogado,
delegado) e o cidadão comum devem percorrer todo o livro para encontrar os artigos que
remetam à situação em estudo.
No ECA os artigos são divididos em temas. Na análise, alguns desses temas foram
agrupados resultando em 29 temas para este trabalho. São eles: Saúde, Liberdade, Família,
Pátrio Poder, Guarda, Tutela, Adoção, Educação e Esporte, Profissionalização, Prevenção,
Produtos e Serviços, Autorização para Viajar, Entidades de Atendimento, Medidas de Proteção,
Ato Infracional, Garantias Processuais, Medidas Sócio-Educativas, Conselho Tutelar, Acesso
à Justiça, Juiz, Serviços Auxiliares, Procedimentos, Apuração de Infração Administrativa,
Recursos, Ministério Público, Advogado, Proteção de Direitos, Crimes e Infrações Administrativa
e Disposições Finais. É interessante observar que o entrelaçamento de contingências se dá
na existência de contingências semelhantes presentes em cada tema, ou seja, todas
apresentam o mesmo objetivo: garantir direitos da criança e do adolescente
Na análise de contingências completas e incompletas por tema verificou-
se que o maior número de contingências completas se encontram nos temas Prevenção
e Saúde. O conteúdo do tema Prevenção se refere tanto à exposição da criança e do
adolescente a produtos de entretenimento - como filmes, shows, espetáculos e revistas -
quanto ao consumo de substâncias e objetos que possam causar danos físicos e
psicológicos - álcool. O tema Saúde apresenta os direitos da criança e do adolescente
referentes ao atendimento hospitalar e tratamento médico. Essas contingências completas
indicam que há conseqüências descritas para controlar os comportamentos desejados e
que os legisladores se preocuparam em garantir direitos básicos para a criança e o
adolescente, desde o acompanhamento pré-nataf para a mãe, até a atenção que o jovem
deve receber no Sistema Único de Saúde.
Os cinco outros temas com maiores escores são: Família, Educação e Esporte,
Ato Infracional, Liberdade e Guarda. Os quatros primeiros parecem mostrar a preocupação
com os procedimentos e condições de aplicação da Lei com relação aos comportamentos
inadequados dos adolescentes (como roubo, furto e homicídio).
Exemplo 4:
Tema: Do Juiz
Antecedentes
Art. 146 - A autoridade a que se refere esta Lei è o Juiz da Infância e da Juventude,
ou o Juiz que exerce essa função, na forma da Lei de Organização Judiciária
local.
50 João Cláudio Toilorov, M<tlw Moreira, M .ir jj Reflin.i A . Prudônclo c C/iiele C. C. Pcrrlr.i
da comunidade, da sociedade em geral e do Poder Público assegurar os direitos de saúde
e alimentação (artigo 4o) e não especifica a conseqüência para o não cumprimento desta
ação, o resultado jurídico de uma sentença para este caso pode ser distinto para famílias
diferentes (ou níveis sociais diferentes) que incorrem no mesmo delito.
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Todorov, J. C. (1982). Behaviorismo e análise experimental do comportamento. Cadernos de
Análise do Comportamento, 3, 10-23.
Defende-se, neste ensaio, que um conceito só está definido quando está explicado.
Pode-se estranhar essa afirmação porque usualmente se pensa que um conceito é primeiro
definido e somente depois explicado - crença que não é de todo incorreta porque na
definição já há referência a termos que explicam. Porém, trata-se de termos que, de todo
modo, ainda necessitam ser explicados. Portanto, é com uma explicação cada vez mais
apurada que, com mais exatidão e visibilidade, se define um conceito qualquer.
Se alguém disser que o “neocomportamentalista" Edward C. Tolman (1886-1959)
não é um comportamentalista, algumas reações, contundentes até, serão ouvidas (a
polêmica será toda centrada em torno da definição da noção de comportamentalismo). E
que escândalo não seria se tal afirmação houvesse sido dirigida ao “arquicomportamentalista"
John B. Watson (1878-1958)! E é bem isso o que será dito aqui: Watson não é um
comportamentalista. O leitor pedirá explicações. Com razão. A explicação que será
apresentada conduzirá à conclusão não só que comportamentalismo é comportamentalismo
radical, mas também que Watson não radicalizou o comportamentalismo (logo, não é
comportamentalista). Novamente o leitor pedirá explicações. E, mais uma vez, com razão.
Agora, é necessário explicar que só pode haver comportamentalismo se for radical. Já
impaciente talvez o leitor diga: seria possivel, então, dizer o que é comportamentalismo
radical? É preciso começar a explicar.
6. Conclusão
As teorias do comportamento examinadas neste texto são diferentes - seja do
ponto de vista científico ou filosófico. Conseqüentemente, contribuem com explicações e
definições diferentes de comportamento. Sugere-se que a única teoria que define o
comportamentalismo ó a teoria conseqüencialista, complexa e relacional de Skinner. A
m etafísica do relacionism o radicaliza a definição de co m portam ento porque abandona
explicações substancialistas-fisicalistas ou substancialistas-mentalistas do comportamento
(metafísicas incompatíveis com o estudo do comportamento em seu próprio direito). A
epistemologia da complexidade permite visualizar a complexidade do comportamento e a
implausibilidade tanto do fisicalismo quanto do mentalismo para explicar o comportamento.
Um sistema complexo só pode ser explicado por explicações complexas e as explicações
do fisicalismo e do mentalismo são, como foi visto, bastante limitadas nesse aspecto.
Naturalmente, a fisiologia pode e precisa participar da explicação do comportamento, mas
não na condição de um fisicalismo, como pretendia Watson. E na explicação complexa
do comportamento aliada à teoria conseqüencialista do comportamento, a mente não
explica o comportamento, pois se trata precisamente de explicá-la. O comportamento é a
realidade complexa que explica a mente - a mente é derivada do comportamento, ou
ainda, é um produto mais recente da evolução do com portam ento.
De uma perspectiva filosófica, nem Watson nem Tolman são comportamentalistas.
A metafísica fisicalista e a epistemologia reducionista de Watson pertencem ao projeto
materialista vigente na neurociência atual e a metafísica do mentalismo e a epistemologia
emergencialista de Tolman pertencem ao projeto mentalista em voga não só na psicologia
cognitiva contemporânea, que se desenvolveu como uma das disciplinas constitutivas da
revolução cognitiva, mas também na psicologia cognitivo-comportamental.
O relacionismo da teoria conseqüencialista do comportamento opera com
desconstruçãoquer do materialismo ou do mentalismo (Abib, 2001 b). Conseqüentemente,
passa ao largo de projetos materialistas ou mentalistas de qualquer índole. Há, de qualquer
modo, uma afinidade filosófica atravessando o mentalismo ficcional de Tolman e o
relacionismo comportamental de Skinner: o pragmatismo. O comportamento e a mente-
fícção não são realidades a serem desveladas como objetos de contemplação. A noção
de realidade refere-se não só aos comportamentos produtivos de conseqüências, mas
também às invenções conceituais produtivas de conhecimento. A mente-ficção produz
conhecimento (além de cultivar a imaginação científica) e não deve, portanto, ser
subestimada. Mais significativo ainda é isto: ela deixa de ser instrumento para ser fim. E
que fim é esse? O de ser ficção-realidade (não como substância) e o de contribuir, desse
modo, para a dissolução da dicotomia realidade-ficção ou substância-invenção. Um
mentalismo pragmatista como o de Tolman pode se constituir em uma filosofia defensável
para a psicologia cognitivo-comportamental. Admitindo-se isso, não seria uma excitante
R eferên cias
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L uc Vàndenberffhe'
Universidade C\itóhcd de Çonís
B.F. Skinner nasceu em 1904 e morreu em 1990 nos Estados Unidos. Este capítulo
ó dedicado a um dos temas centrais da sua obra, do qual emergem sempre novas
implicações. Desde que Skinner, nos anos trinta, introduziu a análise funcional, o tema
apareceu em diferentes variações em diferentes situações, revolucionando práticas de
laboratório, de assistência social, de consultório e estabelecendo um corpo de
conhecimento de relevância acadêmica.
Depois de descrever a prática da análise funcional em ambientes aplicados e uns
dos problemas que são inerentes nesta, o texto comenta o maior desafio que a análise
funcional enfrentou atô hoje, sua adaptação à prática do consultório psicoterápico e as
transformações que acarretou. Considera-se que este passo, enquanto implicou um
afastamento da forma e da aparência do procedimento original, significou também um
retorno á essência da análise funcional como instrumento de gerar conhecimento. Esta
volta às origens filosóficas, torna as contradições implícitas na filosofia contextualista
mais agudas, impondo a consideração do comportamento do analista comportamental
em relação com o^problema da reflexividade das ciências humanas.
1. Prática.
A análise funcional ó um método empírico gerativo. A partir de dados brutos gera
interpretação, explicação e teoria nova. Não foi desenvolvida para testar teorias existentes
ou verificar hipóteses, mas para focalizar a identificação de variáveis que influenciam a
ocorrência de comportamentos. O que está sendo analisado? O termo funçào significa a
relação entre duas ou mais variáveis em que mudanças em uma dependem da outra. Na
perspectiva operante, a função é o efeito que o comportamento tem sobre o ambiente.
Analistas aplicados do comportamento usam esta metodologia para determinar
com antecedência, num determinado caso, quais intervenções funcionarão ou não e porque.
' Psicólogo dlnlco, UntvaraidBdo Católica de O olái
62 l.uc Vandenberflfie
O analista aplicado chega a tais conclusões comparando um dado comportamento sob
condições de teste e de controle. Uma situação de teste envolve alguma variável
independente que está ausente na condição de controle. A manipulação direta das variáveis
distingue a análise funcional da análise descritiva que envolve a observação direta de
comportamentos. Se não há intervenção do analista, não se trata de análise funcional.
Mesmo se a observação almeja identificar relações entre antecedentes, comportamentos
e conseqüências, se trata meramente de análise descritiva (Hanley e cols., 2003).
Enquanto o método foi usado por experimentalistas para entender sentimentos e
outros comportamentos sutis (Gewirtz e Peláez-Nogueras, 2000), a análise aplicada do
comportamento, geralmente se restringe a comportamentos públicos que podem ser
quantificados em termos de freqüências (Kazdin, 1982; Hanley e cols., 2003).
Em principio, a análise funcional é um método idiográfico. Pode-se analisar
comportamentos de diferentes pessoas ao mesmo tempo, mas precisa-se considerar o
efeito das contingências sobre o comportamento de cada uma delas separadamente. É
uma análise da relação entre o comportamento do sujeito único e o ambiente. O que o
analista conclui sobre a função do comportamento auto-lesivo de uma pessoa não pode
ser generalizado para o comportamento auto-lesivo de outra.
Em segundo lugar é um método indutivo. Skinner (1981) destacou a indução
como um dos princípios Baconianos que guiou sua prática cientifica durante toda sua vida
profissional. Francis Bacon (1561-1626) era um político e filósofo Inglês que tinha traçado
novos caminhos relativos à compreensão da ciência num tempo em que as tradicionais
teorias do saber não deram mais conta de explicar novas descobertas cientificas. Bacon
enfatizou que para saber necessita-se estudar o mundo, ao invés de estudar os livros.
Para Skinner, isto significa que um experimento deve levar ao outro, ao invés de teorias
(livros) conduziram a experimentos.
Na psicologia cientifica em geral, o método dedutivo é o mais popular, e foi
extensivamente apoiado pelos argumentos filosóficos de Popper (1963) e Lakatos (1987).
Hipóteses são deduzidas de teorias e testadas em experimentos. A tradição Cartesiana,
uma visão racionalista da ciência, prioriza o abstrato como referencial (a dedução de uma
predição a partir de uma teoria) e só na última instância, se direciona para os dados para
verificar a teoria. O método indutivo faz o movimento contrário. Começa com os dados e
somente depois de identificar padrões recorrentes nos mesmos, conclui algo. Assim, é
um método cientifico que gera conhecimento a partir da realidade concreta.
Enquanto a indução define a análise funcional como Skinner a propôs, variantes
dedutivos emengiram no decorrer da divulgação da prática e na sua adoção por uma variedade
de profissionais, em ambientes com diferentes necessidades. Isto acontece quando o
investigador escolhe uma teoria que relaciona comportamentos específicos com
contingências específicas e procede a testar se, para tal indivíduo, esta teoria está correta.
Por exemplo, o analista acredita que certos comportamentos auto-lesivos servem para
obter atenção, e pode testar sua hipótese num delineamento com condição experimental
(atenção quando a pessoa se machuca), e condição de controle (atenção somente quando
não se machuca), verificando a freqüência do comportamento nas duas situações.
De acordo com a revisão de literatura de Hanley et al. (2003), as características
básicas de uma análise funcional de comportamentos problemáticos já eram conhecidas
na literatura da análise aplicada dos anos 1960, mas não foram sistematicamente
respeitadas. São elas: (1) observação do comportamento sob condições de teste e de
controle em que uma variável ambiental é manipulada; (2 ) demonstração de uma relação
2. Problem as.
Três pontos podem ser discutidos como problemas potenciais na analise funcional.
( 1 ) É observada na literatura uma baixa concordância entre observadores, problema
decorrente da estratégia indutiva. (2) A validade ecológica pode ser questionada já que as
variáveis cruciais são manipuladas pelo analista durante o processo. Esta manipulação
cria condições artificiais, que não necessariamente têm as mesmas características como
as interações naturais que mantém o comportamento relevante. (3) Percebe-se que o
analista que conduz uma análise funcional não é neutro, também faz parte da unidade de
interação que estuda. O participante cujos comportamentos examina, reage aos
comportamentos do analista e o comportamento deste (inclusive a escolha das variáveis e
a manipulação das mesmas) é influenciado pelos comportamentos do sujeito.
Na sua revisão da literatura, Hanley e cols. (2003) indicam a baixa fidedignidade
das análises funcionais, operacionalizada como a concordância entre avaliadores. Dois
analistas não chegam a conclusões idênticas na análise do mesmo comportamento de
um dado sujeito. Isto poderia invalidar o método dentro de uma visão mecanicista do
saber, mas é menos catastrófico numa visão contextua lista onde a pragmática é o critério
de validade de uma conclusão. Skinner (1974) recusa a verdade por concordância.
Diferentes conclusões podem ser igualmente validas, se ambas levam a ações bem
sucedidas.
64 Luc V jndcnbcrjjhf
A validade ecológica de análises funcionais análogas conduzidas fora do ambiente
natural pode ser um problema mais sério. No intuito de isolar as variáveis cruciais e evitar
interações com outras não identificadas, o analista que cria condições artificiais para a
sua análise funcional, pode estar identificando contingências que controlem o
comportamento na situação de avaliação, mas não no cotidiano do participante.
Análises funcionais que são conduzidas de maneira menos óbvia durante a rotina
diária do participante evitam este problema, mas permitem que variáveis não controladas
ofusquem os efeitos das variáveis manipuladas. Soluções intermediárias para o problema
da validade ecológica, que Hanley e cols. (2003) encontraram na sua revisão de estudos
publicados são: a inclusão de pessoas do ambiente natural do participante na análise
funcional, ou o uso mais amplo da análise descritiva em busca de variáveis idiossincráticas
que podem estar presentes na interação natural e que podem ser relevantes em análises
funcionais subseqüentes ou ser considerados como informação suplementar.
O analista não é neutro, interfere no material que analisa. Este problema também
é conhecido nas abordagens pós-modernas (Gergen, 2 0 0 1 ) em que se aceita que os
dados são construídos na interação entre pesquisador e participante e que não se trata de
uma realidade que existe independente do pesquisador. Especificamente na análise
funcional o envolvimento direto do analista no material analisado é incontornável. Ele precisa
manipular as variáveis para poder analisá-las.
Em estratégias de pesquisa objetiva, a pessoa que colhe os dados está idealmente
cega para o que está testando. Aqui é impossível esconder quais variáveis são manipuladas
tanto para quem coleta os dados, quanto para o sujeito, sendo que e as interpretações
estão sob controle da interação entre ambos. Ao contrário do que acontece quando se
estuda comportamento atrás de um espelho, o analista não está observando uma realidade
independente dele, mas exatamente a relação entre o comportamento dele e o do
participante.
Pode surpreender que numa prática tão radicalmente contextualista e interacionista,
a consciência de que esta visão não se encaixa num discurso objetivista, só se impôs
relativamente recentemente (Chiesa, 1994; Moxley, 2001; Brown, 2002).
3. Clínica.
Na situação de consultório, a análise funcional análoga é inaplicável e o terapeuta
não tem acosso às contingências do cotidiano do cliente. Terapia é um processo
intensamente dinâmico e imprevisível. Assim, condições experimentais e de controle não
podem ser montadas com antecedência. Também não é possível isolar artificialmente as
variáveis independentes de traumas, problemas existenciais, dificuldades de entregar-se
num relacionamento íntimo etc. Parece que a análise clínica estaria limitada, por estes
motivos aos métodos da análise descritiva, sendo estes a entrevista e a observação.
Realmente, a sessão terapêutica é um ambiente propício para a observação direta do
comportamento do cliente em relação com o terapeuta. Este último pode depois interpretar
o que o cliente faz em termos da contingência tríplice.
A experiência mostrou, contudo, que a análise funcional é possível na sessão
terapêutica, porque o terapeuta manipula as variáveis relevantes diretamente, como o faz
o analista aplicado do comportamento. A maior diferença é que o analista aplicado com
sua metodologia de análise funcional análoga divide as sessões de maneira planejada em
condições experimentais e de controle enquanto o clínico no consultório aproveita das
6 6 l.uc ViintlenbcrRhc
O analista não pode ser um técnico engajado pelos pais, aliado específico deles,
que procura descobrir como podem melhor controlar o comportamento da criança. O
comportamento dos pais ó tão determinado pelos comportamentos da criança quanto o
contrário. Isto leva à rejeição de modelos normativas que desqualificam a criança como
um sujeito que tenha seus próprios direitos independente de seus genitores e que contribuem
para uma análise unidirecional da influência das contingências familiares e escolares sobre
a criança (Vasconcelos, 2001).
Da mesma forma, comportamento do terapeuta é tão determinado pelo
comportamento do cliente quanto o contrário. Assim, o que foi dito acima sobre a criança
pode ser repetido para o cliente de consultório e para o paciente psiquiátrico.
A resistência do cliente ao processo terapêutico recebe um novo significado. Busca-
se entender resistência á mudança não como algo inerente no cliente, mas como algo que
exige uma análise das interações dos sistemas de contingências de reforçamento tanto
do cliente como do terapeuta (Guilhardi, 2002).
O efeito do atendimento sobre a pessoa do terapeuta se torna um assunto a ser
analisado (Banaco, 1993; 1997). No contexto do vínculo terapêutico, ambos (terapeuta e
cliente) passam por transformações do repertório comportamental e dos sentimentos
produzidos pelas contingências apresentadas pelo outro. Por isso é feita uma análise
funcional do comportamento do terapeuta, sob controle das contingências que atuam na
relação com o cliente (Guilhardi e Queiroz, 1997; Queiroz e Guilhardi, 2001)
4. Reflexividade.
A necessidade da análise do comportamento do analista clínico pode ser
demonstrada a partir da analogia com a análise funcional do comportamento do analista
experimental e do analista aplicado. Entendemos a análise funcional como uma prática de
investigação empírica. Este aspecto merece umas considerações.
Ribes-lfiestra (1993) argumentou que a investigação empírica necessariamente é
um processo lingüístico. Na visão analítico-funcional, a consciência de eventos corresponde
à maneira pelo qual a linguagem como prática social, constrói o mundo para o indivíduo.
Na medida em que estes eventos constituem referências concretas para a experiência
cotidiana, o investigador abstrai deles dados empíricos que têm sentido a partir da sua
visão. As convenções sobre como o estudioso deve prosseguir na sua atividade cientifica,
inclusive como deve colher dados e como entendê-los, os critérios para decidir quando um
fato é relevante ou não, são padrões culturais.
Analisar as práticas prevalentes numa comunidade científica e expor os controles
sociais destas, arrisca desqualificá-las como procedimentos de estabelecer conhecimento
válido. Quando condições sociais podem explicar práticas cientificas, as mesmas perdem
seu status sagrado de princípios intelectuais, independentes dos interesses de grupos e
indivíduos, acima de suspeição. São, pelo contrário, práticas que seriam diferentes, se as
condições fossem diferentes (Blashfield, 1982; Latour e Woolgar, 1983).
Bourdieu (2001) sinalizou que há um perigo em deslizar de análises dos deter
minantes sociais do comportamento de cientistas para a conclusão que a produção deles
é sem relevância. O que devemos lembrar da análise acima citada de Ribes-lftestra (1993)
é que todas as formas de investigação empírica são práticas culturais sob controle de
uma comunidade verbal e que os resultados que geram não têm sentido (ou ao menos
mudam de sentido) fora deste contexto.
6 8 l-uc Vandenbcrghe
contingências geradas pela comunidade-cliente, isto é, como os clientes reagem às
intervenções do analista. (2 ) Contingências universitárias, isto ó, como a comunidade
acadêmica modela e mantém no psicólogo, determinados padrões de comportamentos
de analisar e tirar conclusões das suas análises. (3) Contingências geradas pela comunidade
cientifica. Isto significa que o analista comportamental com suas análises produz
conhecimento e se expõe assim, às conseqüências providenciadas por uma comunidade
mais ampla que vai consequenciar sua produção em função do que a mesma considera
ético, valido e significativo. (4) Contingências geradas pela interação com uma equipe. Isto
significa: a equipe observa condições que passariam despercebidas pelo analista individual
e modela padrões de ação que estão de acordo com as observações desta comunidade
verbal. (5) Contingências geradas pela relação terapêutica. Já que o terapeuta observa,
interpreta e interage com seu cliente em função do seu repertório, deve submeter a mesma
a uma análise, às vezes numa terapia com outro terapeuta que aborda seu comportamento
em geral ou alternativamente numa supervisão que aborda especificamente seu
comportamento profissional.
Trata-se de um paradoxo. A análise funcional da análise funcional a expõe como
uma prática culturalmente determinada. O analista do comportamento usa axiomas e
regras que são produtos da sua comunidade verbal e assim chega a conclusões que
dependem desta cultura cientifica. Já que a análise funcional foi exposta como prática
cultural, resultante de controles de uma comunidade verbal, a análise que foi feita da
análise funcional também estaria invalidada. Segue disto que a análise funcional como
prática, não foi invalidada, porque a análise realizada não é valida. Pode-se novamente
fazer uma análise funcional da prática de fazer análise funcional.
Ao definir analisar como comportamento, toma-se inevitavelmente a lente da análise
do comportamento para a própria análise do comportamento. Para entender a análise
comportamental, pode-se fazer perguntas como: “Quais são as contingências que
modelaram e mantêm este comportamento que chamamos de análise comportamental?”
Ou “Quais contingências mantém o uso de conceitos como reforço positivo e negativo,
contingência?” etc. A leitura de dados através de conceitos teóricos é comportamento
verbal, mantido pelas conseqüências na presença de certas condições antecedentes. As
próprias regras e axiomas da análise funcional podem ser submetidos, e foram submetidos
(Dougher, 1989; Ribes, 1993) a análises funcionais que os explicam como comportamentos.
Os próprios comportamentos de analisar do terapeuta comportamental mostraram-se
passíveis de uma análise comportamental (p. ex. Guilhardi, 1987).
Resumindo esta tese acerca da reflexividade da análise funcional, fazer uma análise
funcional é comportamento controlado pelas suas conseqüências. Usando a análise
funcional como método de investigação, pode-se descobrir quais contingências sociais e
controles verbais determinam este comportamento. O paradoxo reside na consideração
de que se esta análise funcional invalida a própria análise funcional como método de
estabelecer conhecimento, a análise que acabou de ser feita da análise funcional é inválida.
Refletir sobre estas pegadinhas inerentes na filosofia behaviorista radical (ao invés
de ignorá-las) pode talvez, ajudar a construir uma prática analítica funcional mais produtiva.
Estar consciente das implicações epistemológicas do behaviorismo radical pode nos poupar
da ilusão de estar conduzindo uma ciência exata no paradigma muitas vezes chamada de
Newtoniano, acumulando respostas definitivas às perguntas que atacamos. Tudo isto
pode nos tornar mais conscientes do nosso comportamento de analisar, e mais atentos
às contingências que controlam nosso comportamento profissional. A reflexão crítica sobre
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'SavooAacradftaatncartaapalavnM, voc* actadHa no* argumanlo* que aia* pra*aupAam Quundo vocé aoadHa if j* attfo é certo ou errado, voniacMr»
ou tateo, voc* acredita na* *upn*lçAe*conOdaenae palavra* que expreaaam o* argumento* Na maioria da* vaza*, aaaaa •upoatçAe* contém enorme*
incnnaiatfndaa. ma* pamianaca™ aNtnwnamanla prat&aaa para oa aaalm convanddua (Tradução do autw)
84 Roosevelt R. Starling
métodos de produção do conhecimento e algumas de suas limitações. Este trabalho pode
e deve ser entendido como um texto elementar, até mesmo com pretensões didáticas, no
qual, em nome da clareza, se sacrificará uma formulação academicamente mais precisa
e nào se discutirão os pontos mais controversos e conceitualmente mais delicados. O
autor está convencido de que um leitor sofisticado neste tema nada encontrará aqui que já
nào esteja mais bem tratado em outro lugar.
Contrariamente ao que preconiza a boa prática académica e em função da sua
pretensão de texto didático, no correr da exposição serão evitadas as indicações
bibliográficas de fundamentação geral, exceto nos casos de uma citação direta ou nos
quais a indicação seja importante para a atribuição do crédito ao autor consultado. Ao
final, serão oferecidas ao leitor as principais fontes bibliográficas utilizadas. Nelas os
pontos aqui abordados de maneira introdutória e esquemática, recebem o tratamento
rigoroso e detalhado necessário para um domínio mais sólido dos temas discutidos.
A produção de um texto elementar nesta área - e que portando deverá ser o mais
abrangente possível - é uma tarefa aterradora, como bem o reconhecerá o leitor afeito aos
problemas que a filosofia da ciôncia. Infelizmente este autor, por sua própria insegurança
e temor, não conseguiu se livrar da praga das notas de rodapé ao se aventurar por tema
tão complexo e elusivo, como é o da filosofia da ciência. Mais vezes do que seria
recomendável este autor incluiu notas de rodapé com a finalidade de complementar,
relativizar, ampliar ou enfatizar afirmações ou discussões presentes no texto nas quais
sentiu nào ter conseguido ser suficientemente claro. O autor, constrangido, desde já
apresenta ao leitor o seu pedido de desculpas, pelo incômodo que isso puder lhe trazer.
De fato, a simples seleção e ordenação dos tópicos numa proposta abrangente
como a deste trabalho já representa uma notável dificuldade: o que tratar, o que deixar,
sabendo que o tratado e o deixado são ambos relevantes e complementares: como ordenar
os tópicos selecionados, sabendo que múltiplas ordenações são igualmente possíveis,
úteis e válidas, dependendo da direção que se deseja orientar a discussão. Este autor
seguirá um caminho, uma seleção, uma ordenação, reconhecendo que estes dificilmente
seriam os melhores. Terá como único guia a sua própria e limitada experiência como
estudioso e professor, orientando-se peto que parecem ser as principais dúvidas e interesses
dos alunos com os quais tem discutido este fascinante tópico em sala de aula e nos
corredores da academia. Por ser um texto destinado primariamente aos estudantes e
estudiosos da psicologia, os exemplos e analogias que ilustram os princípios aqui discutidos
se referem a esta disciplina, embora a ambição deste texto seja a de discutir ciência
natural em gêral e não a sua aplicação a um determinado campo em particular.
Seria talvez supérfluo dizer - mas manda a prudência e a boa prática acadêmica
que assim se faça - que este texto, por se tratar de uma produção teórica está sujeito à
discordância dos colegas com relação a muitos dos conceitos e implicações aqui
apresentados. Este autor entende que estes colegas devem ser ouvidos com toda a atenção.
A ciência é uma atividade em permanente reconstrução da qual participa toda a comunidade
interessada. No atual estado do nosso conhecimento, nào temos certezas a serem
defendidas como dogmas; na verdade, poderíamos frustrar nossos próprios propósitos
caso nos recusássemos a ouvir atentamente o contraditório.
Delimitando ciência. A primeira tarefa de uma discussão como esta é definir o
seu objeto. Esta é também a primeira dificuldade: não existe uma definição inequívoca de
ciência e, mesmo quando a este [enganador] substantivo adicionamos o adjetivo natural,
continuamos tendo problemas para alcançar uma definição que possa obter um consenso
'CulxirUt M<|ul iitriM cüfMkivAc) «nlrn ci&icm t» Incnab p sou lachnA, mais practaamento (Bungo. 1085) Etto è um exmnpk) do Npo cfc»rintx>nrçA<> mui» rutlnmlH
qut! nhu truladu nmttn texto
86 Roo«evflt R. Starllnfl
presumido daquele discurso ou prática e um correspondente incremento no poder atribuído
ao seu detentor ou detentores. Esta situação muitas vezes se presta a todo tipo de
manipulação social, algumas vezes por ingenuidade do declarante, boa parte delas por
malícia dele, quase sempre por ignorância da audiência. Segue-se disto a importância de
constantemente reformular e disseminar uma descrição, a mais precisa possível, do
arquétipo compartilhado corrente do que é ciência ou científico.
Delimitando ciôncia natural. O arquétipo compartilhado corrente que desejamos
examinar aqui, o da ciência naturah desejamos examinar o que possa ser um conhecimento
naturalístico sobre o mundo. Uma ciência natural nào prescinde, naturalmente, da forma
lógica que deve presidir as suas asserções sobre o mundo, mas acrescenta a ela outras
exigências. Numa definição essencial, um conhecimento naturalístico sobre o mundo
seria aquele que considerasse nas suas asserções somente as propriedades naturais
dos fenômenos, ou seja, aquelas que possuem dimensões espaciais ou temporais capazes
de ativar algum receptor sensorial num ser humano comum.
Por esta delimitação, uma ciência natural não se interessa por asserções que
incluam, em qualquer dos seus termos declarativos fenômenos, partes de um fenômeno
ou propriedades de um fenômeno que não apresentem estas propriedades. Não se
trata de afirmar ou negar a possibilidade de tais fenômenos, mas sim de uma delimitação
clara do campo de interesse: “estamos interessados nisso, desenvolvemos métodos e
procedimentos para examinar isso e não aquilo”. Proposições filosóficas e religiosas
de longa tradição afirmam que vivemos num universo dual e dão grande ênfase à
existência e a um controle exercido por forças não naturais nos eventos do mundo
material. Contudo, mesmo pessoas que atribuem um grande peso a esta possibilidade
podem admitir que podemos estudar e conhecer muito do que acontece examinando o
comportamento dos fenômenos naturais no mesmo nível em que ocorrem e, dessa
forma, não existe uma incompatibilidade necessária entre ciência e religião; muitos
cientistas professam também uma fé religiosa. Uma incompatibilidade se manifesta
somente quando declarações religiosas contradizem relações naturais que podem ser
demonstradas como ordenadas e empiricamente verificáveis como, por exemplo, a
relação entre contato com sangue contaminado com HIV e o conjunto de manifestações
a que chamamos de AIDS.
Um ponto importante neste exame é ter presente que uma ciência natural não é
uma "coisa", mas sim uma prática sócio-verbal, conforme afirmamos acima. Sendo assim,
não se trataria de descobrir a definição correta, mas sim a de formular a definição mais
útil. "Útil para quem, no julgamento de quem e para quê?", poderia, com justiça, indagar o
leitor. A pergunta interessa, porque nos permite antecipar um ponto que será tratado com
maior detalhamento ao fim deste trabalho. Este ponto é: a ciência não se propõe a ser o
discurso sobre o mundo, mas sim um dos discursos sobre o mundo. Uma questão prática
aqui não seria nem mesmo saber qual seria o discurso melhor ou mais verdadeiro, mas
sim o de saber se os vários discursos possíveis seriam igualmente adequados para resolver
todos e quaisquer problemas ou se eles difeririam entre si quanto ao seu poder de resolução
de problemas específicos em contextos específicos.
De uma maneira geral, poder-se-ia dizer que uma ação seria considerada como
mais ou menos útil na resolução de um problema dependendo dos seus resultados no
aumento do bem-estar e no alívio do sofrimento de quem o tem. Mas esta resposta abre
88 Rooífvclt R. St.irlinR
para cada ocorrência singular de um dado fenômeno. É preciso também que esta
previsibilidade e controle aumentados obtidos sobre uma determinada ocorrência do
fenômeno estabeleçam declarações de relações ( 1 ) igualmente válidas para outros
fenômenos da mesma classe e, (2 ) idealmente, sob quaisquer condições de ocorrência.
O primeiro destes propósitos corresponde ao problema da generalização ou generalidade
do conhecimento (também podendo ser chamado de replicaçâo ou replicabilidade) e o
segundo ao problema da universalidade do conhecimento produzido. Como veremos, boa
parte da linguagem científica está voltada para encontrar soluções para estes dois propósitos
e, como seria de se esperar, boa parte dos debates internos tem por base discussões
sobre a melhor maneira de obtê-los.
A linguagem da ciôncia natural. Maior previsibilidade e controle sâo os
resultados que a inquirição naturalistica persegue e que possivelmente seleciona as suas
asserções. Foi longa a história seletiva de uma linguagem que pudesse produzir com
regularidade estes resultados. Pelos registros históricos, com um breve interregno
representado por alguns filósofos gregos, foi somente na Renascença que se firmou e
obteve aceitação mais ampla esta maneira de falar sobre o mundo, provavelmente em
função das suas conseqüências: uma notável e inusitada explosão das possibilidades da
ação humana no controle do mundo material, tendo por resultado uma correspondente
explosão na produção de bens e serviços importantes para a nossa espécie ou para
parcela predominante dela.
Esta linguagem é a linguagem dos dados, ou linguagem descritiva. Talvez a sua
característica mais relevante seja a de, deliberadamente, se colocar sobre controle dos
eventos naturais. Numa declaração científica naturalistica só falamos “vejo quatro...’’,
referindo-nos ao ambiente extemo presente num dado momento, quando estivermos falando
sob controle de quaisquer quatro propriedades físicas do ambiente, ou quaisquer quatro
eventos naturais no ambiente. Se uma pessoa diz “Estou vendo ali no canto da sala os
espíritos alados de quatro cães recentemente falecidos", boa parte dos ouvintes da nossa
cultura reagiria com surpresa e incredulidade e o analista do comportamento procuraria na
história cultural, nas práticas lingüísticas da sua comunidade circunscrita e em eventuais
contingências presentes naquele momento, os possíveis controles de uma declaração
tão...subjetiva. No seu estado atual de desenvolvimento, esta linguagem encontra sua
máxima precisão na matematização, pois nela as relações de controle do ambiente sobre
a fala são explícitas, unívocas e sujeitas a contingências de reforçamento precisamente
definidas.
Propóáitos e problemas diferentes podem conduzir a definições diferentes de ciência
natural. Para o propósito deste texto e nos seus termos mais simples, uma ciência natural
pode ser definida como um discurso sobre o universo fenomênico, sobre o mundo natural,
que se pronuncia sob o controle de algumas regras relativamente bem discriminadas e
compartilhadas, tendo por objetivo uma busca empírica por ordem. Aqui, a palavra crítica
é empírica.
Diversos campos semânticos ou linguagens fazem declarações verbais sobre
possíveis relações entre eventos naturais e também sobre possíveis relações entre estas
mesmas declarações, tais como os conceitos, premissas e previsões de cada ciência.
Entretanto, uma linguagem científica naturalistica exige que estas declarações de relações
tenham uma fundamentação empírica. Para que isso seja possível, é condição necessária
que os eventos sobre os quais se declara a existência de alguma relação sejam eventos
naturais (esta condição é necessária, mas não suficiente, como ficará claro no decorrer
Para que uip evento ou condição da natureza possa sensibilizar os órgãos sensoriais
de um ser humano comum, é necessário e imprescindível que eles tenham dimensões
espaciais ou temporais sensorialmente discerníveis. Até a presente data, não temos órgãos
sensoriais que nos permitam ver, tocar, ouvir, degustar ou por qualquer maneira sentir os
Elementais da Natureza ou os Djins; assim, estes supostos entes não podem ser objetos
de uma inquirição científica naturalistica. Dizer que tais entes não podem ser objetos de
uma inquirição científica naturalistica não equivale a dizer que eles nâo poderiam de alguma
maneira existir. Entretanto, quer dizer que a ciência não tem como conhecê-los.
Observe-se aqui que também não temos órgãos sensoriais que nos permitam
ver, tocar, ouvir ou degustar certos comprimentos onda de energia luminosa, como, por
exemplo, o ultravioleta. Como podemos então falar numa linguagem científica naturalistica
sobre tal fenômeno? Bem, uma resposta pode ser a de que não falamos sobre tal
' Por exmn|)kj, mohUí hipóltiae podorlamo» ler «xipuo» toUima ou lunar**, ma» nAo «ohm* * lunar««, a manoa que poalulAaaamoa movimentos devem»
imisItiKlo« a caprictKiMia para naUta corpo»
90 Roo*evelt R. St.irllnft
fenômeno como um fato, mas sim como um efeito. Podemos ver a posição de uma
agulha num espectrômetro ou determinadas linhas num gráfico. Podemos dividir a
oscilação máxima e mínima do nosso espectrômetro em unidades discretas e relacionar
a posição da agulha em certos intervalos a outros eventos como, por exemplo, o
escurecimento da pele humana e, dessa forma, podemos declarar relações entre eles.
Mais adiante trataremos com mais detalhes de dois outros conceitos importantes para
um melhor entendimento deste parágrafo: a questão da observabilidade dos fenômenos
e a relação desta propriedade dos eventos com uma linguagem científica naturalística, e
a construção verbal de construtos em ciência.
Falamos em busca empírica por ordem. Esta ordem, esta ordenação, não é
necessariamente uma propriedade do mundo fenomênico, mas sim uma propriedade da
sua formulação verbal. Ao falarmos sobre o mundo, criamos esta ordem. Pressupor uma
ordem pró-existente e estranha ao falante institui o problema da criação dela e, em última
análise, conduziria a uma regressão ao infinito ou a um ato criador. Compreendido assim,
o problema da ciência deixa de ser um esforço para descrever corretamente uma certa
ordem já existente e passa a ser a criaçào verbal - e por conseqüência social - de uma
ordenação. A implicação disto é que, ao falarmos sobre o mundo com este ou aquele
conjunto declarativo, não estamos dizendo verdades, mas sim descrevendo os fatos com
uma linguagem que se subordina a determinadas premissas e se pronuncia sob
determinadas regras.
Quando aprendemos as diversas teorias sobre o mundo, em qualquer dos seus
aspectos, ficamos habitualmente sob a impressão de que estamos aprendendo verdades.
Uma nova teoria costuma então ser entendida como uma “nova verdade" que se sobreporia
à verdade anterior, caso suas declarações sejam reciprocamente conflitantes ou
contraditórias. Não obstante, entendidas as coisas como acima, não se trata disso. Uma
nova teoria é somente uma outra maneira de falar sobre um mesmo fenômeno, cujo valor
final, insistimos, há de ser a precisão com que ela nos permite prever e controlar fenômenos
naturais de interesse, caso estes resultados sejam desejáveis ou relevantes para aquela
pessoa ou sociedade.
Uma compreensão mais clara da natureza verbal das declarações sobre o mundo
poderia nos evitar alguns aborrecimentos. No nosso meio profissional, por exemplo, são
comuns discussões entre behavioristas radicais e psicólogos tradicionais, que quase sempre
se mostram frustrantes e insatisfatórias. Ora, tais discussões dificilmente poderiam produzir
resultados diferentes dos acima citados, pois se dão a partir de pressupostos diferentes,
de visões deTnundo diferentes e são pronunciados em línguas diferentes. Podemos falar
sobre estas diferenças, mas habitualmente não podemos resolvê-las. Nestes casos, uma
das poucas saídas satisfatórias consiste em tentar delimitar o fenômeno natural sobre o
qual se deseja fazer predições e oferecer então, a cada um, a explicação que a sua
própria língua permite. Quando as relações declaradas se dão entre fenômenos naturais,
pode-se muitas vezes arranjar situações experimentais que focalizem ou ampliem as
possibilidades sensoriais de exame do fenômeno e, eventualmente, decidir-se por esta ou
aquela explicação. Quando uma ou ambas as variáveis consideradas não têm dimensões
naturais que possam ser observadas ou quando a discussão se dá a partir de visões de
mundo antinômicas, nada a fazer, exceto conviver em relativa paz com a diferença.
Dividindo para produzir ordem: VI e VD. Ao falarmos sobre as relações entre
os eventos buscando uma fala que possa dar uma ordem ao fenômeno, toma-se importante
desenvolver uma linguagem que facilite esta ordenação. Para isso, uma das possibilidades
92 Roiwevdt R. Storlinjj
declaração, entretanto, não seria uma forma de comunicação prática no cotidiano dos
cientistas. Assim, coloquialmente ó comum simplificar e dizer “A é a causa de B" ou “B é
conseqüência de A”. Esta simplificação será usada muitas vezes neste trabalho e o leitor
fica desde já alertado para ler “causa" ou “conseqüência" e reservar seu entendimento à
"correlação" ou “seqüência".
Na verdade, as discussões sobre previsão e controle e sobre Vi’s e VD’s, mostram
que representar estas relações como funções atenderia melhor às possibilidades e
propósitos da linguagem da ciência natural. Reveja a formulação geral: "Se A...então B".
Por esta declaração, afirma-se que a diferentes valores de A correspondem diferentes
valores de B. B ocorrerá previsivelmente desta ou daquela maneira dependendo de A
ocorrer desta ou daquela maneira. Suponhamos que B = 2 x A; então, se A for igual a 6 , B
será igual a 12. Sabendo que A é igual a 3, posso prever o valor de B e se nos interessa
que B seja igual a 4, podemos controlareste resultado, nos assegurando que o valor de A
seja igual a 2. Generalizando, podemos dizer que o valor de B é função do valor de A: B =
f (A); A e B estão funcionalmente relacionados. Esta formulação é puramente descritiva e
não faz suposições sobre as "causas" desta relação. Como poderemos partir de uma
relação puramente descritiva, empírica, para formulações mais abrangentes e com maior
poder de ordenação, será objeto de discussão posterior.
De qualquer forma, descrições de "causalidade" sempre implicam inferências e,
portanto, devem ser usadas com extremo cuidado, pelas ambigüidades e desacordos a
que podem dar lugar. Em disputas de declarações de correlação versus inferências causais,
a intransigência pode ser decisiva. Há que se exigir (1) evidências empíricas da variação
concomitante; (2) evidências empíricas de que a VD não precede a VI e (3) evidências
empíricas da exclusão de outras variáveis que possam estar funcionalmente relacionadas
com a VD. (Craighead, Kazdin e Mahoney, 1976)
Para ilustrar estas dificuldades, considere a ação corriqueira de acender um
palito de fósforo. O fósforo se inflama após ser friccionado numa superfície áspera, uma
espécie de lixa, habitualmente já fornecida pelo fabricante. O evento que antecede o
inflamar do fósforo é friccioná-lo naquela superfície. Estaríamos autorizados a afirmar
que friccionar o fósforo na lixa é a causa do fósforo se inflamar? O fósforo se inflamaria
caso não tivesse propriedades químicas combustíveis? Inflamar-se-ia no vácuo? Inflamar-
se-ía caso estivesse molhado ou a lixa molhada? Independentemente das respostas
objetivas a estas perguntas, vemos que existe uma boa dose de arbitrariedade em
declarações causais como esta. Dependendo do foco de interesse, poderíamos afirmar
uma ou outra "causa" para o inflamar do fósforo. Esta possibilidade é válida para afirmações
científicas. Na verdade, esta flexibilidade é mesmo uma das vantagens desta linguagem,
por ampliar a variedade das declarações permitindo que novas relações possam ser
afirmadas dependendo do problema específico a ser resolvido. Caso tomássemos
seqüência por "causa", acender ou fabricar um palito de fósforo poderia apresentar
problemas inusitados numa série de situações.
Objetividade e subjetividade. A linguagem da ciência natural pretende ser uma
linguagem objetiva. A dicotomia subjetividade versus objetividade tem sido o mais das
vezes tratada de um ponto de vista filosófico, oferecendo-se o pragmatismo como uma
possível saída para esta antinomia. Esta é uma abordagem clássica ao problema e traz
consigo as vantagens do rigor formal da filosofia. Contudo, podemos também abordar esta
dicotomia em nossos próprios termos, considerando-a como instâncias do comportamento
verbal. Aceitando-se os critérios taxonômicos propostos por Skinner (1978), perguntaríamos
' Provavelmente, mIm jm rtlojlnrkleil« d* (»1« human« tambAm reaponde pela dllk;ukli#de quo «e «xfMNlmnoln ao limtar deacntvor oxpnrléndaa wtnsoflttlN
(MicoUam* e Inlonaas Ao d e acrové-la», o Inliinln halrihMlmnnlo retain ‘itAo Uh palavraa* cxi quo "a x palavrxa nAo »Ao aufldimtbs*. D« (alo. riAo tm na Iftiii.
ou elaa nAo »Ao »irflctenlea Corto» atalnmaa NoaAflcoa lendem h emfirtmlar uma fttfaan nn|m(:Ml A nxfmnAncm sensori«!, multa* vh/hh declarando (pio tntüi
«eria N“verdadeira" (xjaaltjllldade humana dn contMKXV o unlvorvu Embora «ala poaaa *er urwinwtMrH do cu ilie u tr o unlverao, o mhi cmAtui ontrlUimonlo
privado dlfluillH »obremnnelra a *ua utilliaçAo aodHl Ao quo tudo Indica. nAo nxliitn nnriH do nocesiiHdMiianlii 'm a lt vordadoiro* nlfito. tixcolo o valor
mkirvador quo «ala* «aniavAm poaaam ler adquirido na hblória daqiwia p*Mua Provavaimanto, lamoa aqui dota fanAmano* dlallnkm, aob dota controla«
Igualiimnlo <ll»llrito» oa aatadoa corporal« que o aqtilpamnnk) Mnaorial humano noa parm lt* exparlmanlar, aob cxNitrotn (WBdomlf mntn da tkmim lilalfVIa
Nogon^loa a o qua o podamoa falar aobra o que experiment*«*» nob controle predominante da noaaa hlslòrt« (Adtural e onlngonAUc«
94 Roosevelt R, St.irllnfl
aqui de afirmar uma natureza fracionária do mundo fenomônico, mas sim de um artifício
verbal. A palavra artifício se relaciona a artefato: algo fabricado, um instrumento. Partimos
o mundo em fenômenos e estes em partes a fim de podermos falar sobre eles. O mundo
e os fenômenos em si mesmos nada tem a ver com nossas instrumentações,
permanecendo sempre o que de fato sâo, seja lá o que forem e seja lá o que queira dizer
esta frase; a "verdadeira" natureza do mundo é uma questão para o filósofo, não para o
cientista. Para este último, o relevante ó o incremento na predição e controle do mundo
que este instrumento possa permitir, quando utilizado desta ou daquela maneira.
Se as declarações de relações são pronunciadas sem uma clara relação com
fenômenos naturais, estando sob controle de propriedades do comportamento verbal e/ou
peculiaridades históricas do falante e da sua comunidade verbal, chamamos estas
declarações de especulações?, tais como declarações de relações entre Vi’s e VD’s não*
naturais. Nestes casos, são muito tênues e imprecisas as relações entre estas declarações
e os eventos naturais que lhes servem de base. Na psicologia, a virtual totalidade das
declarações psicanalíticas, por exemplo, pertencem a esta classe. Destes casos não nos
ocuparemos aqui, pois embora possam ter interesse como instâncias do comportamento
verbal, sua análise formal pertence ao domínio da filosofia, não da ciência.
Por sua recorrência nas declarações científicas e também por suas importantes
implicações conceituais e práticas, uma outra possibilidade que examinaremos
extensivamente neste trabalho é a de declarações que se pronunciam sobre eventos naturais,
mas uma das partes nas quais se dividiu o fenômeno sob análise não tem propriedades
naturais ou, as tendo, estas propriedades não foram ou não podem ser observadas;
chamamos estas declarações de inferências9.
Finalmente, se ambas as partes do fenômeno sob análise, VI e VD, são eventos
naturais, chamamos estas declarações de interpretações10. Interpretar è a tarefa por
excelência de uma ciência natural madura. Exposto a determinado fenômeno, o cientista
fala sobre ele, socorrendo-se das possibilidades descritivas da sua linguagem. Ele falará
somente o que a sua linguagem possibilitar. Ele poderá experimentar sensorialmente
mais do que pode falar e, nesta circunstância, precisará desenvolver novos recursos
lingüísticos para descrever o que experimentou.
Uma infinidade de fatores poderá ter influência nas possibilidades da resposta
sensorial do cientista, tais como as condições específicas na quais se deu a observação,
as práticas verbais da sua comunidade de origem, as possibilidades discriminativas verbais
e sensoriais que a sua história comportamental particular permitir, a sensibilidade do seu
equipamento"sensorial, tanto a sensibilidade biológica quando aquela dos artifícios que
usou para ampliá-la etc. O arranjo específico de cada um destes fatores, conjunções
particulares deles, ou ainda a resultante dos seus efeitos conjuntos, conduzirá a diferentes
falas por diferentes cientistas sobre um mesmo fenômeno. As regras estritas que uma
ciência natural madura estabelece para estas diversas falas asseguram-lhes, ainda que
aproximativamente, uma lógica e um controle ambiental comuns. Dessa forma, falas
diferentes podem ser ponderadas quanto às suas possibilidades de previsão e controle,
* FtlmoInglcMmonln, o vnrtxi tiajxwniUtr mi relacton« ho mjtmlantivo eupelho (do lalm ) Algtiém ntfxicxM ae ooioca frenl* a iim onpnllK), quo rtiflotn parte»
(lo mundo - ttontro s» qu»M predomrm Otmu prófno re/feko - • («1« aotor» o qtai v* Quem rtfot» PropoalvOo* #*(>«aJ«llvn» »Ao hafoilualmenUi
fomiulmlH» nuiriM llnguay«#m tmpntêãlonlMUi, l»to é, (xonimclada aob control* da» KnpmmtôtM (pa»»oal», fxx certo) qite o» lato* nbanrvadoa tndu/em no
Monta
* Inferir (do Intlm mhmw) A conckitr peto rad od n io Para uma knguagmn cientifica, l»to Mnplca qu« a» dedaruçAcM dever Ao m nubordlnar o»líllarnenUi Aa
regraa da lógica |>ara »arem vAlktai Em w o » llmll»*», ond a a » propoalçOo« nAo derivam d * axpaninMitMçAo, aata forma d e iHodiuir conhecim ento é
ctiam ad a de raclonêlm m o Q uando aAo d aclarad a» aobro evento » nAo natural», »Ao aMnplea • »peculaçfla», rnoanto que o raciocínio Mprn»enlNdo pmn
amparar a» concki»f>e» «utiordina-ae a o * cân o n e » lógkxm
Interpretar A traduzir de uma Ungiu* |Mra otitrn, fazer uma ver»Ao
96 Roo*cvclt R. M.irllnfl
uma pessoa como tendo ou não “saúde” estará provavelmente sob o controle de diferentes
discriminações de eventos naturais, se esta categorizaçào for feita por um médico ou
por um artista plástico11. Não sendo uma coisa, “saúde” não pode fazer coisas
acontecerem; o fato de se dizer que uma pessoa tem ou nào tem saúde não faz com
que ela piore ou melhore. Não se pode tratar uma pessoa dando-lhe "mais saúde" e nem
a "falta de saúde” tem o poder de alterar qualquer parâmetro da sua fisiologia. O caminho
ó o exato inverso: se algum desses parâmetros se altera no sentido negativo é que
dizemos que àquela pessoa "falta saúde”.
A linguagem da ciência está repleta de construtos: força da gravidade, impulso
nervoso, reforçamento, memória, voltagem, catálise, momento inercial...todas estas palavras
não são coisas, mas sim categorias verbais, criadas por nós para falarmos sobre o mundo.
Numa formulação rigorosa, estas palavras “significam" somente as relações naturais que
elas descrevem. Assim, reforçamento é somente uma palavra conveniente para descrever
0 fato de uma resposta aumentar a sua freqüência de ocorrência no repertório de um
organismo caso ela seja seguida consistente e fidedignamente por um determinado evento12.
"O reforçamento” não pode fazer nada acontecer no mundo natural, não pode alterar a
freqüência de uma resposta. Novamente, o caminho é inverso: porque algo acontece de
uma certa maneira é que podemos falar em reforçamento.
Modelos. Muitas vezes, conjuntos de construtos são articulados num modelo13.
Por exemplo, usamos amplamente o modelo atômico, falando sobre certos fenômenos
em termos de construtos tais como átomo, nêutrons, elétrons, mósons etc. Todos estes
construtos nào existem como “coisas". Por tudo aquilo que sabemos, pode bem ser que
não exista nada na natureza topograficamente semelhante a átomos, nêutrons ou mésons.
Estas palavras, que podem soar tão sólidas para muitos de nós, são simples artefatos
verbais, como em qualquer outro construto: categorizações de traços numa placa de vidro
especialmente tratada, de oscilações no ponteiro de algum medidor, de perturbações
características no espectro luminoso etc. Assim como qualquer outra declaração científica,
um modelo è avaliado por suas possibilidades de ampliação da previsibilidade e controle
dos fenômenos naturais e não por qualquer Verdade que possa conter. Na psicologia, por
exemplo, falamos do Modelo operanteou do Modelo respondente, que articulam e resumem,
num conjunto mais abrangente, as observações empíricas e construtos criados para falar
sobre certas propriedades do comportamento humano quando exposto a certas condições.
Matrizes conceituais. Quando conjuntos de modelos e de construtos construídos
com base numa visão-de-mundo compartilhada se arranjam de uma maneira articulada,
mutuamente compatível e interdependente, temos o que chamamos de uma matriz
conceituai, um conjunto relativamente coeso de declarações mais abrangentes sobre todo
um campo fenomênico de interesse que possa ser delimitado com base em alguma
propriedade comum, como, por exemplo, o comportamento de organismos, em oposição,
por exemplo, ao comportamento dos corpos inorgânicos ou, ainda, dentro este último,
1 Isto lliwlra l*mi o natuni/M funcional o sodal do conhecimento * makx parle d* rtôs, ocidental», M sentiria mal» Mgurn se e»la cateyorl/nçâo fcmso MOi
|x)f útil mAdlco, em furiçAo dn hlatòria das conseqitAndM desta dedaraçAo • farnftám do arquétipo de dAnda (ou aaber) currenle na nossa sociedade. Etn
nlyumas comunidades,a m esma caleyorl/açAo prununcieda por um curarnlelro poderia ler nlorto calmante makw do qut) a pronundada por um mAdlco.
Evidenlemenle, uma pesaoa poda declarar unia outra como “seudAver unicamente »oh controla da variável» sodal», ma» a»ta [>o»»lbllldad«t 11*0 no»
Interessa examinar nesta dlsaissAo
Para que o aleito a qua chamamos reforçamento ocorra. riote-M que nAo * ne<ieasárlo que a»la e««rito aaja produzido pala ra«po»ta, ou Mja. astaja
diretamanto relacionado com a rmpoala num »antldo de determlnaçAo. o chamado comportamento super klcloeo lusUa eale fato Basla que M estabeleça
nntm eles uma relação fundonal
1Raramente, se alguma ve/, o desenvolvimento da knguagem denllflca sa dá em passos Uko ordenados, lóglcoa é asaiplicos oomo poderíamos crer ao
estudar textos acadAmlcos sobre o lema Achados experimentais, construtos tentativos, modelos ItagmenUbrlo*. todo Isso se mlsluia na Ixirafurida que é
0 ambiento real de Irabaltio doa ulenltslas Por mala qua se posaa desejar mitificar a dAnda, uma coisa sa pode afirmar sem rtaco de errar a atividade de
fazer dAnda t definitivamente um processo e uma alvtdade eminentemente ftumana (SUnner. 1001)
14Podo*Mi aatnbelocar um» dlatlnçAo rotevantn antro um conatnilo empírico o um* vanAvel Interveniente Por exemplo, otaorve-M ■ dlfernnçM entrfl o
uonatruto *roforçamento" • o oonttruta "evento prlvndo* N* Mruklise do comportamento, «mtxw aatAo ancorado» empiricamente e demonstram regra*
matrllaa pnra a Mia daflnlçAo • imo, ma« o |>nmelro tom um carAtar eminentemente rienr.rltlvo ao pa««o que o aagundo é de carAler mal« Inferenclal O
primairo poderia «ar mal« bem caracterizado como um conmrulo ampinco• o aagundo como uma vanávot ntorvanmnte Contudo, corno o objetivo dealu
aaçAo é ealabalacer uma diferença anlre e t le i u«oa e a uMImçAo daala artificio para a conalruçio da um con«lrulo hlpoléWco ou uma agência, nAo no«
aprofundaramoa naata diacuaaAo
98 Rootevdt R. Starling
clássico da construção de um construto hipotético, uma agência, para salientar as
implicações lógicas e práticas desta maneira de usar o artifício.
Pessoas expostas a um estímulo num momento t0 respondem a este estimulo da
maneira x, digamos. Num momento futuro do tempo, t,, expomos novamente a pessoa ao
mesmo estímulo. Esta pessoa pode responder da mesma maneira xou falhar em fazer
isso; dizemos que ela se lembrou se responde da maneira x, e que ela se esqueceu, se
não responde da maneira x. Num exemplo: o leitor é apresentado a uma pessoa hoje [tj
aprende o seu (dela) nome [x] e usa este nome para conversar com ela. Alguns dias
depois [tj, ao reencontrá-la, chama-a pelo nome [repete x] ou falha em fazê-lo. Isto é tudo
o que há sobre o fenômeno observado: a possibilidade de se constatar empiricamente a
permanência ou não dos efeitos da aprendizagem ao longo do tempo. Para simplificar
nossa fala sobre este fenômeno, poderíamos criar uma categoria verbal, um conceito, que
abarcasse esta classe de fenômenos. “Memória" é a categoria já criada. No uso coloquial,
não há inconveniente em dizer que uma pessoa tem “memória" ou tem “boa memória" se
ela apresenta o comportamento de lembrar mais freqüentemente do que o de esquecer;
se o contrário acontece, podemos dizer que ela “não tem memória", se o comportamento
de lembrar nunca acontece, ou que tem "memória fraca", se ele ocorre com freqüência
baixa ou intermitentemente.
Entretanto, no uso científico (?!) habitual deste construto, “memória" deixa de ser
a simples palavra que é e passa a ser uma agência, ou seja, algo a que se atribui o poder
de "causar" os fenômenos que categoriza. Acrescenta-se assim algo mais ao significado
do construto do que a simples soma dos elementos que o definem e das regras que
presidem esta definição: acrescenta-se um significado adicional ao termo. Diz então que
uma pessoa esqueceu ou lembrou por causa da sua “memória"; foi “a memória" que falhou
oufundonou1ft. Como memória não é uma coisa, não é um fenômeno natural, mas somente
uma abstração, um conceito, num discurso científico naturalístico não se pode
legitimamente atribuir a esta agência imaterial16o poder de fazer coisas materiais
acontecerem. Pode-se falar que é assim, mas demonstrar isso representa um desafio
fantástico que, até a presente data, ainda não foi atendido: como comprovar que uma não-
coisa poderia executar uma ação qualquer e fazer uma coisa acontecer ou, por qualquer
maneira, influenciar um acontecimento no mundo das coisas. Mais tecnicamente, o
problema, até aqui insuperável, seria o de demonstrar a independência epistemológica do
construto, ou seja, demonstrar uma situação na qual ele existira e agiria independentemente
dos eventos que ele se propõe explicar; algo como uma ação demonstrável da memória
que não incidisse sobre os fenômenos do lembrar e do esquecer, que são os que ela
pretende explicar.
Utilizando os construtos desta maneira, surgem notáveis dificuldades para testar
e validar as relações declaradas. Recapitulando: os comportamentos de lembrar e de
esquecer, algo que uma pessoa faze que pode ser diretamente observado e mensurado
por outras pessoas, são os eventos naturais sobre os quais se apóia a metáfora da
memória, ou seja, constituem o fenômeno de interesse. Criamos então uma categoria
verbal a que chamamos memória e que descrevemos vagamente como uma "função
cognitiva" ou “função mental". Neste momento, já complicamos um pouco mais o nosso
entendimento do fenômeno, acrescentando os termos "função cognitiva" ou “função
" Um outro nonm pura Im o è refflcaçâo O praflxo laltno m , rm> iignlflca c o ita (com o em rofjúWtca ■ c o ita pública) R*tlflcar ê dar atributos d * colaa Aquilo
qua nAo tem aubatAt ícla
* Uma agéncuipodo Umitani ser malertal Numa vwlanto aUwl do nam ilhuiK ), por nxwnpk). atribui-«« aooérwbro a seu funcionamento o stoUisda ttyéKt*
«la "com anda" o corpo
1 0 0 Roosevelt R. Stnrlíng
Um destes problemas ó chamado de falácia da afírmaçào do conseqüente. Vamos
colocaras premissas e conclusões do experimento acima na forma de sentenças lógicas:
Premissa: A memória é a "causa" do lembrar e do esquecer.
Premissa: A memória pode ser treinada através do treinamento x.
Conclusão: Depois de submetido ao treinamento x, um grupo de pessoas apresentou
um incremento no número médio de itens lembrados de uma lista de palavras, em
comparação ao número obtido antes do treinamento [a memória pode ser treinada
através do treinamento x].
Ora, concluir pela confirmação das premissas a partir da confirmação da conclusão
inverte a lógica da validação. "Na lógica dedutiva, as premissas validam uma conclusão,
mas uma conclusão não valida as premissas". (Chiesa, 1994). Tudo que se pode
legitimamente concluir deste experimento é que, tendo ocorrido x (o treinamento), ocorreu
um incremento no número médio de itens lembrados. Por esta razão, mesmo que as
predições contidas nas premissas sejam confirmadas pela conclusão, ainda assim não
se pode inverter a lógica da validação, partido da confirmação da conclusão para a
confirmação das premissas.
O problema da confirmação da validade de uma explicação não é resolvido pela
observação do desempenho da VD; outras variáveis podem ser as que de fato influenciaram
o desempenho observado, que não aquelas propostas pela teoria. Pode-se andar de bicicleta
muito bem em função da experiência direta, da modelagem direta pelas contingências, e
explicar este desempenho como sendo resultante da possessão do espírito de um notável
e histórico ciclista espanhol. Pode-se ser campeão de natação alegando um ‘‘talento
nato", sem mencionar ou se dar conta da posição do corpo sobre a água, da topografia
particular dos movimentos dos membros, da velocidade de reação daquele sistema nervoso
em especial, de uma infinidade de outros fatores. Ser campeão de natação não comprova
a veracidade da declaração de se ter um "talento nato".
Se a idéia for preservar a qualquer custo a hipótese original, entra em cena um
segundo expediente: o das hipóteses ad hoc. Quando os achados empíricos não se
conformam às predições especificadas para a VI hipotetizada, recorre-se ao expediente
de adicionar, à hipótese original, hipóteses adhoc(óo latim: arranjadas para esta finalidade)
a fim de acomodar os achados preservando a teoria. No caso do lembrar, por exemplo, os
achados demonstram que o tempo é uma variável crítica para este desempenho: existem
fatos dos quais somos capazes de nos lembrar somente durante um curto tempo após a
exposição e outros cuja lembrança persiste por períodos dilatados. Se a VI responsável
pelo lembrar e esquecer é a memória, temos um problema: mesma causa, efeitos diferentes.
Para preservar então o construto hipotético e fazê-lo dar conta dos achados, será preciso
adicionar a esta hipótese uma outra, ad hoc. existe a memória, ela é a "causa" dos
comportamentos de lembrar e esquecer, mas ela tem mais de uma dimensão ou modo de
funcionamento; ela se divide em memória de curto prazo e memória de longo prazo.
"Enquadramos" os resultados das observações empíricas sem sacrificar a nossa teoria.
Naturalmente, quase sempre será possível - e habitualmente é o que se faz - adicionar
mais e mais hipóteses adhoc, fazendo-se perpetuar através desde expediente a hipótese
original.
O leitor há de ter observado que é quase sempre possível medir alguma coisa num
arranjo experimental montado para gerar este produto: números. Entretanto, nem sempre
se pode demonstrar que o se mede é o que se diz que se está medindo. Por exemplo, é
1 0 6 Rooievtlt K. Stcirllng
O resultado é que os dados são admitidos neste tipo de conhecimento por exclusão;
não por seu valor positivo, mas pela boa-sorte de terem sucumbido ao demônio do Acaso
quando no seu modo de funcionamento de baixa significãncia, arremata aquele autor.
O problema da falácia da afirmação do conseqüente, já discutido anteriormente,
se mantém também aqui, mesmo quando não temos agências postuladas como Vi’s.
Vejamos o exemplo da moeda, arranjado na forma de sentenças lógicas:
Premissa: Se a moeda estiver viciada, os resultados reais apresentarão um grande
afastamento do valor médio teórico predito para esta série.
Conclusão: Os valores obtidos apresentaram um grande afastamento do valor
médio teórico predito para esta série [a moeda estava viciada].
As premissas validam a conclusão, mas a conclusão não pode validar as
premissas, pois outros fatores podem também responder pelos resultados obtidos, tais
como a maneira de jogar a moeda, a superfície sobre a qual ela caiu, a temperatura no
ambiente e...o próprio acaso. Por mais que controlássemos cada um destes fatores, não
poderíamos garantir ter controlado todos os fatores possíveis e, assim, de positivo ficou
demonstrado somente que os resultados obtidos podem ocorrer no lançamento de uma
moeda. A conclusão, inferida, decorre das premissas e dos pressupostos adotados e não
do testemunho dos fatos.
Considerações preocupantes são feitas por Chiesa (1994) a respeito do teste de
significãncia estatística. Nas palavras da autora:
(...) o corpo de conhecimentos constitutivo de muito da psicologia
contemporânea poderia ruir não pela introdução de novas descobertas, mas por
uma simples mudança no procedimento. Através da mudança do habitual e
conveniente nivel de significãncia de 5 por cento para 3 ou 1 por cento, muito do
que normalmente constitui o corpo de conhecimentos da psicologia experimental
- "derivado rigorosamente” e inferido “inequivocamente" - mudaria de acordo
com o novo nivel de significãncia. (p. 64)
’ Pttm HubIthi a falta lógica ctiamadH patiçiodêpnncipn nAoéd* kxk> noomurn. em «MunçAm aemeltianle«. eacularmue "expllcaçôe*" IrtgAnua» lal» oomo"
1st« numtoon porque m peaaom variam am nua haMMada da Iamtirar da Haw»de uma M a (rwtamanta Ida' Ora. além da um nvidanto tnilwno, Min expHcnçAo
paca por poUçAu da pririclptn riAo «a pode uaar a varleçAo para explicar a própria vartaçAo, qua é, aflrial, o que ta de»a)a explicar
" O crIMrlo d« ta iM x lk ta lti irn|>ltui« propoMçAo puppariarui da coridlçAa d« rwfulubHid«d<' d * um a í im o tç ío para qua ala » aja consldorada darillflca, ma«
néo 6 um «qulvalantn parindo da ló g ic a do falaeam sntn* uN tm la pain método htpotoKco-dflduUvo, (fctvklo ao car Atar m latíttfco dtt raftitnçáki itaquoto modefo,
aqui contraponto a um oarAlar am plrico (P op p af, 1909)
1 1 4 Roosevelt R. Sl.irllnp
causa da música que se ouve partindo do piano. Como responderia o leitor a uma declaração
tão surpreendente? Entretanto, nenhum problema haveria se a pessoa estivesse em contato
físico com o piano através de suas mãos, por exemplo. O astrônomo faz declarações de
relações entre eventos estelares observáveis somente através de um telescópio, um
instrumento que amplia as capacidades sensoriais visuais da nossa espécie (mas isto
não muda o fato de ser a visão a modalidade sensorial envolvida nesta experiência do
mundo natural). Os eventos fongínquos podem ser vistos pelo astrônomo através das
propriedades de um outro evento natural, independentemente demonstrado: as ondas
luminosas, que é o médium através do qual a observação visual do astrônomo é naturalmente
possível.
É bom esclarecer o que nâo se está implicando aqui. Observe-se que as mãos do
pianista nâo são as causas do tocar piano e as ondas luminosas não são as causas do
ver do astrônomo ou das relações astronômicas que ele declara. Tanto uma quanto outra
não participam do fenômeno sob o qual se produzem as declarações em qualquer sentido
causal ou fun cio n al. São e fe to re s ou o pe ra n d o s: outros eventos naturais,
epistemologicamente independentes e por si mesmos objetos de interesse de outros
domínios disciplinares (no caso a fisiologia e a física), que possibilitam a ocorrência do
fenômeno de interesse ou a sua observação, mas não participam das relações que se
declaram.
Um corpo de conhecimentos produzido de acordo com premissas e regras
semelhantes apresenta um certo grau de interdependência e complementaridade. As
ciências naturais não são impermeáveis umas às outras e esta permeabilidade é mesmo
uma das exigências que se faz para compreendê-las num mesmo corpo. Modelos hidráulicos
do comportamento, como a noção original de libido na psicanálise, não podem ser aceitos
como declarações científicas naturalísticas dentre outras coisas porque não se descobriu
até a presente data um funcionamento hidráulico semelhante na biologia humana. Não
existe a demonstração de um meio natural que possibilitasse a sua ocorrência. Ora, se a
fisiologia já demonstrou, dentro do seu domínio disciplinar, certas propriedades e relações
cientificamente válidas entre os eventos biológicos, declarações de outros domínios
disciplinares não podem, em princípio, se fazer em contradição com aquilo que já se sabe
a partir das investigações daquele domínio. Não pode também prescindir delas. Um
astrônomo não pode legitimamente declarar relações astronômicas observadas em
desacordo com o que já se sabe da fisiologia da visão, das propriedades ópticas de um
telescópio e das propriedades físicas das ondas luminosas.
Não se pressupõe como necessária a existência de fenômenos comportamentais
separados e independentes - no sentido absoluto da palavra - dos fenômenos físicos, dos
fenômenos biológicos ou dos fenômenos químicos. De vez que não temos uma linguagem
para falar racionalmente sobre "o fenômeno como um todo", dividimos formalmente os
campos fenomênicos para que possamos desenvolver uma linguagem mais precisa para
falar sobre os fenômenos a partir de um enfoque particularizado. Estes enfoques
particularizados são os objetos de estudo dos diversos domínios disciplinares. Esta divisão
é feita para finalidades conceituais e de manipulação experimental e não implica, como já
dissemos acima, a pressuposição de uma natureza fracionária ‘ real" para o mundo. Descobrir
a natureza “real" do mundo não é um objetivo explícito da ciência, pelo menos na concepção
que dela apresentamos aqui.
Por outro lado, a integridade que deve manter um domínio disciplinar para que
possa ser identificável implica que, para produzir suas declarações de relação, ele não
R eferências
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3. Alternativas m etodológicas
Os limites metodológicos que autores, como Tourinho (1995), apontam na
proposta skinneriana para os eventos privados se referem à dificuldade na utilização do
modelo de investigação científico-experimental para esses fenômenos. No entanto, nos
últimos anos surgiram pesquisas que podem ser apontadas como modos de se estudar
experimentalmente os chamados eventos privados e que tem produzido ‘‘tecnologias’’ de
intervenção eficientes. Por exemplo, as pesquisas sobre “autocontrole", comportamento
governado por regras, resolução de problemas, manipulação de autoclíticos,
correspondência dizer-fazer, dentre outros. Além disso, o próprio Skinner (1953/1998),
apesar de considerar a importância do método experimental, não o elegeu como a única
maneira de se obter conhecimento em uma ciência. Por isso, precisamos, ao mesmo
tempo em que refinamos nossos conceitos, estudar os fenômenos com porta menta is
empiricamente como nas situações nas quais ele ocorre naturalmente.
O ponto principal a ser defendido aqui é que alguns tópicos de pesquisa, dos
quais uma ciência do comportamento deve se ocupar, requerem uma revisão no modo
como a ciência do comportamento tem desenvolvido seus conhecimentos. Temos
investigado tópicos importantes para a compreensão do comportamento humano, mas
adotando a estratégia de analisar as respostas a partir de condições arranjadas para que
ela ocorra em laboratório. Essas condições, muitas vezes, sâo demasiadamente artificiais.
Uma alternativa utilizada para minimizar esse problema tem sido criar histórias experimentais
no laboratório. Achamos que essa medida tem seus limites e que muitas vezes acabam
por produzir contingências suficientes apenas para confirmar as expectativas do pesquisador
do que reproduzir situações naturais.
As investigações factuais em ciência do comportamento são feitas em sua maioria
em laboratórios, utilizando a metodologia de sujeito único. Elas têm sido importantes para
a consolidação e a produção de novos conhecimentos. Mas, parece que não possuem
alcance suficiente para acompanhar certos fenômenos do comportamento social humano.
Mas, mais uma vez é importante dizer que as pesquisas experimentais em
andamento são de grande valia e que, de forma alguma são excludentes em relação a
outros tipos de pesquisas, elas serão sempre a uma fronteira segura para validação de
conhecimento. A possibilidade de manipulação de variáveis independentes a partir dos
4. À guisa de conclusões
Skinndt’ (1953/1998) reconhece que
"O material a ser analisado por uma ciência do comportamento provém de muitas
fontes:
(1) As observações casuais não são inteiramente de desprezar. São especialmente
importantes nos primeiros estágios da investigação. Generalizações baseadas nelas,
mesmo sem uma análise explícita, fornecem indicações para estudo posterior.
(2) Na observação de campo controlada como em alguns métodos da antropologia, os
dados são colhidos com mais cuidados e as conclusões colocadas mais explicitamente
que na observação casual. Instrumentos e procedimentos padrões aumentam a precisão
e a uniformidade da observação de campo.
(3) A observação clínica fornece material em quantidade. Métodos padronizados de
entrevista e teste mostram um comportamento que pode ser facilmente medido,
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Análises do
Comportamento
Verbal
Capítulo 13
Independência funcional entre operantes
verbais * 1
136 Antonlo de Freitas Ribeiro, M.iritin.i I «ijje, l.ian«i dd Silva M o uíin ho c l.ucus f cm» Córdova
obtinha apenas algumas gotas de cada vez) ele pronunciou a palavra pela
primeira vez bastante corretamente. No dia seguinte a mesma coisa aconteceu;
a palavra nunca foi ouvida a não ser no jantar. Quando ele se tornou um
aborrecimento com seus constantes pedidos por água, sua mãe disse: 'Diga, por
favor'- e imediatamonte voio o 'Bobe vand' ('Água, por favor') do menino - a
primoira tentativa dele para colocar duas palavras juntas. (Jespersen, 1922, p.
134, citado por Passos, 1999, p. 176)
R eferên cias
m
"In humans the verbal repertoire is highly significant. Understanding the behavioral
processes by which an individual becomes an effective speaker and listener is
important and will have great practical value in making possible an effective technology
o f education. This should include preventing and remediating defective verbal
repertoires, as well as improving on normal acquisition" (Michael, 1984, p. 367).
138 Mariana l.iiRf, Liana da Silva Mousinho, Lucas Ferrai Córdova c Antonio dc Freitas Ribeiro
intraverbal, o estímulo discriminativo é um estímulo verbal; e assim por diante. As variáveis
conseqüentes também irão variar dependendo do operante, podendo ser reforços específicos
(no caso do mando) ou genéricos (em todos os outros casos). O repertório verbal do
falante descreve na realidade o comportamento potencial do falante, pois aprender a ser
um falante eficaz requer aprender muito mais do usar um "vocabulário". Pode-se falar aqui
das propriedades dinâmicas do repertório, como a força ou probabilidade de emissão da
resposta, a disponibilidade, a velocidade, repetições, entonação etc, que mudam
dependendo das circunstâncias em que o comportamento ocorre.
O comportamento do falante ó mediado pelo comportamento do ouvinte, enfatizando-
se, outra vez, a importância de se analisar o episódio verbal total. O repertório de ouvinte
difere em vários aspectos do de falante, pois além dos comportamentos verbais também
envolve comportamentos não-verbais. O ouvinte, por exemplo, é capaz de responder a
uma quantidade muito maior de palavras do que ele apresenta em seu repertório de falante.
As variáveis antecedentes do repertório de ouvinte são os estímulos verbais no ambiente.
Estes estímulos podem afetar o sistema nervoso autônomo da pessoa, como suas glândulas
e seus músculos lisos, que geram os reflexos condicionados. Os estímulos também
controlam seus movimentos voluntários através do qual o indivíduo atua sobre o meio. Os
estímulos verbais desta forma não diferem dos outros tipos de estímulos presentes no
meio e o comportamento do ouvinte não precisa ser distinguido das outras formas de
comportamento. As variáveis conseqüentes devem ser analisadas dentro da funcionalidade
do episódio verbal total. Os benefícios para o ouvinte são diversos, porém específicos à
situação e, como dito anteriormente, não diferem das explicações para os controles dos
comportamentos em geral.
Skinner enfatizou uma análise do comportamento verbal voltada para o falante e o
ouvinte individual. Portanto, cada ocorrência do comportamento é um contexto diferente
para análise. Na aquisição e manutenção dos repertórios, os controles ambientais são
diferentes. Porém, algumas situações acontecem que facilitam a translação entre os
repertórios verbais podendo parecer que a aprendizagem de um automaticamente implica
na aprendizagem do outro. É possível que estím ulos em comum, presentes
concomitantemente no ambiente, ajudem no processo de transferência entre repertórios.
Isso não significa, por exemplo, que quando uma criança responde adequadamente como
ouvinte a um estimulo verbal que ela seja capaz de produzir esse estímulo como falante ou
vice versa.
Guess, em 1969, publicou um estudo demonstrando a independência funcional
entre a linguagem produtiva (repertório de falante) e a linguagem receptiva (repertório de
ouvinte) para o morfema que designa o plural. Dois sujeitos com retardo no desenvolvimento
participaram do experimento. Primeiro, o pesquisador treinou o repertório receptivo, onde
os sujeitos tinham que apontar para objetos isolados ou em pares depois de ouvirem o
rótulo respectivo (singular ou plural). Nessa fase, testava os sujeitos para averiguar se o
repertório de falante (produtivo) tinha aparecido colateralmente ao treino de ouvinte. Nenhum
dos sujeitos apresentou o repertório de falante para plurais. Treinou-se, então, o repertório
produtivo. Em seguida, ele repetiu todo o procedimento só que com os rótulos invertidos,
ou seja, o sujeito era treinado a apontar para o objeto isolado quando o experimentador
falava seu rótulo no plural e para os objetos em pares quando o rótulo singular era
apresentado. Testou-se a ocorrência da inversão no repertório de falante. Os resultados
mostraram que os sujeitos não generalizaram da aprendizagem no repertório de ouvinte
para o repertório de falante. O autor concluiu que a compreensão receptiva era
140 Mariana I age, l.lana dd Silva Mouslnho, l.ucas f erra/ Córdova e Antonio de f-relta* Ribeiro
Embora os dados de Lee (1981) não tenham demonstrado a independência funcional
de forma clara entre os repertórios de ouvinte e falante, sua proposta e interpretação dos
dados, baseada na mudança no controle de estímulos para topografias pré-existentes
pelo treino consistente de um dos repertórios, foi inovadora e de suma importância na
área.
Então, se há a possibilidade de que cada repertório verbal precisa ser treinado
independentemente na fase de aquisição, como explicar que a partir de uma certa idade o
ser humano transporta palavras novas para os diferentes repertórios, parecendo que todos
são interconectados e dependentes? Skinner (1957) falou do comportamento de
transferência ou translação entre repertórios; comportamento este também aprendido
durante a aquisição. No ambiente natural, estímulos são apresentados de forma ambígua
ou exercendo múltiplas funções, o que facilita a aprendizagem do comportamento de
transferir respostas verbais entre repertórios distintos. Por exemplo, na interação falante-
ouvinte a resposta do falante serve de estímulo verbal do ouvinte; ou seja, a resposta verbal
e o estímulo discriminativo têm a mesma forma ou topografia. Além disso, durante o
episódio verbal, estím ulos antecedentes em comum podem estar presentes
concomitantemente no ambiente, ajudando no processo de transferência entre repertórios.
Com o estabelecimento dos repertórios verbais, o indivíduo atua simultaneamente como
falante e ouvinte de suas próprias respostas. O indivíduo reage ao seu próprio
comportamento. Parte do que ele diz está sob controle das outras partes de seu
comportamento verbal, sendo assim o falante manipula seu comportamento à medida que
funciona como próprio ouvinte.
A capacidade de transferir respostas verbais entre repertórios não significa que
quando a pessoa responde apropriadamente como ouvinte a um dado estímulo verbal que
ela é capaz de produzir esse estímulo como falante ou vice versa. Pensemos em quantas
palavras conseguimos identificar e reagir adequadamente, mas nunca utilizamos na hora
de nos expressarmos. Isso fica bastante claro quando analisamos a aprendizagem de
uma segunda língua. Fica talvez mais n/tida a diferença dos repertórios de ouvinte e falante
neste caso. Uma pessoa na aquisição preliminar do repertório da segunda língua pode
saber agir como ouvinte, mas não consegue se expressar suficientemente bem a fim de
gerar o comportamento apropriado no outro. Algumas pessoas conseguem Jer e traduzir
uma língua, mas na hora de falar não conseguem se expressar. Ou seja, cada operante
verbal (textual, ditado, cópia, ecóico, intraverbal, mando e tacto) precisa ser treinado na
segunda língua para que a pessoa se torne um membro eficaz da nova comunidade verbal.
A aprendizagem de uma segunda língua é em si a aquisição de outro repertório verbal.
Pode-se falar a mesma coisa em dois idiomas diferentes (o livro está sobre a mesa - the
book is on the table), porém seria altamente improvável que alguôm dissesse que saber
português implica automaticamente na aquisição da língua inglesa.
Não é só na fase de aquisição que podemos observar como diferentes línguas são
repertórios comportamentais distintos. Um fenômeno interessante acontece quando os
repertórios já estão bem formados. Erros que aparecem em traduções (por exemplo, eu
pretendo usar minha calça nova hoje à noite - I pretend to wearmy newpants tonight)
podem ser avaliados e compreendidos a partir da aquisição prévia de um repertório
intraverbal específico para essa tarefa onde o controle dos estímulos verbais não foi
adequado. Porém, não é necessário supor que o operante intraverbal está necessariamente
envolvido no processo, pois as variáveis ambientais controlam tanto o repertório da língua
mãe, como o do segundo idioma.
142 Mtirlonu laflc, I i<in<i d*i Silva Mousinho, l utas f erra/ Córdova e Antonlo de Freitas Ribeiro
é o repertório de ouvinte já sugere a independência entre as diferentes classes
comportamentais.
Conclusão
Como apresentado no início do texto, na citação de Jack Michael (1984), é de
suma importância compreender os processos pelos quais os seres humanos se tornam
falantes e ouvintes eficazes, tanto para as questões práticas de intervenção com as
populações com dóficits nos repertórios verbais, como para a compreensão da própria
aquisição do comportamento verbal. A proposta de Skinner (1957) permite uma visão
abrangente do fenômeno e possibilita experimentações que testem empiricamente sua
hipótese. Essa visão não presume que o treino de um repertório implica no surgimento
espontâneo dos outros, o que viabiliza explicações produtivas para certos déficits
apresentados em populações especiais e possibilita intervenções específicas a partir de
uma análise funcional bem elaborada. Além disso, dentro da aprendizagem formal durante
a aquisição do comportamento verbal, certos procedimentos podem ser implementados
para a facilitação da transferência entre repertórios, habilidade esta essencial para o sucesso
na interação ouvinte-falante.
Cabe aqui ressaltar a necessidade de investir em pesquisas nesta área de
conhecimento, pois não são muitos os estudos que focalizam especificamente a
independência funcional entre repertórios verbais. A proposta de Skinner apresentada no
presente trabalho é, em primeira instância, um apelo à pesquisa e ao embasamento empírico.
Sendo assim, a investigação científica sobre o assunto precisa continuar e a metodologia
evoluir para que as tecnologias e as intervenções desenvolvidas sejam eficazes e adequadas.
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14 4 liana dei Silva Mousinho, Luca§ Ferra/ Córdova, Mariana l äge e Antonio de Freitas Ribeiro
As pesquisas publicadas sobre a independência funcional entre operantes verbais
têm aumentado nas últimas décadas, bem como revisões teóricas sobre o comportamento
verbal e sugestões m etodológicas de aplicação para pessoas com atraso no
desenvolvimento do comportamento verbal ou com algum tipo de deficiência auditiva
(Catania & Schimoff, 1998; Drash & Tudor, 1991; Knapp, 1992 e Oah & Dickinson, 1989).
As metodologias utilizadas nessas pesquisas envolvem estudos das relações entre mandos
e tactos e estudos das relações entre outros operantes verbais. O presente trabalho irá
considerar algumas pesquisas que envolvem relações entre comportamento de falante e
de ouvinte e entre mandos e tactos. No que se refere ao comportamento de falante e de
ouvinte, serão descritos os estudos de Guess (1969), o qual confirma a proposição de
Skinner (1957) sobre independência funcional e ode Lee (1981). Neste estudo, ao investigar
a relação entre o comportamento verbal (falante) e não-verbal (ouvinte), Lee apresenta uma
interpretação inovadora dos resultados, em termos de controle de estímulos. Sobre os
operantes verbais mandos e tactos, serão descritos outros dois importantes estudos,
Lamarre e Holland (1985) e Hall e Sundbeng (1987), os quais também confirmam a proposição
de Skinner sobre independência funcional entre operantes verbais no momento da aquisição.
Uma das primeiras pesquisas sobre a independência funcional entre o
comportamento de falante e de ouvinte foi conduzida por Guess (1969). O objetivo do
estudo foi examinar a relação entre a linguagem receptiva (ouvinte) e a produtiva (falante)
duas crianças com retardo mental diagnosticadas com Síndrome de Down. O plural de
palavras foi utilizado como unidade de análise. Os participantes deveriam apontar
corretamente para objetos sozinhos (singular) ou em pares (plural) ao longo da apresentação
de uma série de objetos no singular ou no plural, até que a generalização correta do
desempenho fosse observada. Na primeira condição experimental, treino de linguagem
receptiva, os sujeitos aprenderam a apontar para os objetos no singular e no plural. As
respostas corretas eram consequenciadas com o recebimento de fichas, trocadas por
doces ao final da sessão. Após o treino, a linguagem produtiva (nomear) era testada no
singular ou no plural de forma intercalada com o intuito de mostrar uma possível
generalização entre as duas formas de linguagem. Nesse caso, o experimentador
apresentava os objetos sozinhos ou em pares e perguntava aos sujeitos: "o que você está
vendo?". Durante o teste, respostas corretas não eram mais consequenciadas. Na segunda
condição experimental, houve o treino da linguagem produtiva (nomear os objetos
corretamente) no plural. Por fim, houve um treino receptivo invertido, no qual os sujeitos
deveriam apontar para os pares, após ouvirem a palavra no singular e apontar para um
único objeto após ouvirem a palavra no plural. Como resultado, nenhum dos sujeitos
generalizou de respostas corretas no plural da linguagem receptiva para respostas corretas
no plural da linguagem falada. Cada sujeito também continuou a apresentar singulares
quando solicitados para o plural. Tais resultados sugerem independência funcional entre o
repertório produtivo e o repertório receptivo.
Lee (1981) conduziu três experimentos onde também investigou a relação entre o
comportamento verbal (falante) e não-verbal (ouvinte) com propriedades sintáticas comuns
em duas crianças com retardo mental moderado. No primeiro experimento foi estabelecida
uma condição de linha de base para ensinar os participantes a apontar e nomear, bem
como para testar as respostas "esquerda/direita". Em seguida, uma criança foi treinada a
emitir respostas não-verbais de colocar objetos em uma posição. Entào, as respostas
verbais foram testadas. A outra criança recebeu treino de respostas verbais de nomear
objetos, seguido do teste de respostas não-verbais. Portanto, em cada etapa desta condição,
14 6 Liana ila Silva M outinho, l.uca* f-m a/ Córdova, Martana l.aflc c Antonlo dc Frcllas Ribeiro
de um estímulo discriminativo e reforçamento não-especlfico das respostas corretas (Carroll
&Hesse, 1987;Guess, 1969; Guess & Baer, 1973; Lamarre& Holland, 1985; Lee, 1981;
Savage-Rumbaugh, 1984; Silva, 1996; Sundberg, 1985eTwyman, 1996).
O estudo conduzido por Lamarre e Holland (1985) teve como objetivo investigar a
relação entre mandos e tactos que possuíam a mesma forma de resposta. Nove crianças
com idade entre três e cinco anos participaram do experimento. As formas de respostas
utilizadas eram frases preposicionais à esquerda/à direita. O material consistia de objetos
de nome fácil e pronúncia familiar aos sujeitos (cachorro, flor, por exemplo). Os sujeitos
foram, então, divididos em dois grupos. O primeiro grupo recebeu inicialmente o treino de
mando, seguido do treino de tacto e treino de mando invertido. O segundo grupo recebeu
inicialmente o treino de tacto, seguido do treino de mando e treino de tacto invertido. No
treino de mando, dois objetos eram colocados lado a fado na frente do sujeito, que deveria
fornecer respostas à questão do experimentador: "aonde você quer que eu ponha a flor"? O
experimentador treinava as respostas dizendo "á esquerda/à direita". Logo após esse
treino, era testado o desenvolvimento de tactos colaterais. No treino de tacto, o sujeito
deveria responder à pergunta do experimentador: “onde está o cachorro”? A seguir, o
experimentador treinava a resposta dizendo: “à esquerda/à direita". Logo após esse treino,
também foram realizados testes para verificar o surgimento de mandos colaterais. No
treino de mando invertido, a seguinte pergunta era feita ao sujeito: "aonde você quer que eu
ponha a flor?”. O experimentador colocava, então, o objeto na posição oposta à solicitada
pelo sujeito. Assim, a resposta invertida correta do experimentador de colocar a flor deveria
ser consequenciada pelo sujeito. No treino de tacto invertido, o experimentador perguntava:
“onde está o cachorro?". O sujeito deveria, assim, responder fornecendo a posição oposta
à real posição em que se encontrava o cachorro. Essa resposta invertida era, então,
consequenciada pelo experimentador. Os resultados apontam que para todos os sujeitos
houve independência funcional entre mandos e tactos durante a fase de aquisição desses
repertórios. No entanto, três dos nove sujeitos apresentaram repertórios colaterais invertidos
durante o treino. Lamarre & Holland apontam que no ambiente natural é freqüentemente
observado que quando um falante adquire um tacto, o mando correspondente aparece
colateralmente (Skinner, 1957). Adicionalmente, a proposição de Skinner sobre
independência funcional entre operantes verbais foi focalizada durante a aquisição. Outras
possíveis interações durante a modificação de um tipo de operante após a aprendizagem
de uma frase particular como tacto e mando não foram discutidas. Lamarre e Holland
(1985) entendem, ainda, que durante o experimento, a situação na qual o mando foi ensinado
foi muito comum à situação na qual o tacto foi ensinado. Assim, a posição do estímulo
que controlava o tacto era idêntica à posição do estímulo que reforçava o mando, Da
mesma maneira, as frases preposicionais utilizadas foram ensinadas tanto como tactos
quanto como mandos.
Hall e Sundberg (1987) realizaram o primeiro estudo manipulou operações
estabelecedoras condicionadas na investigação de independência funcional entre operantes
verbais. O experimento possuía os seguintes objetivos: (a) avaliar se mandos podem ser
treinados em um contexto estruturado, onde o experimentador controla as topografias a
serem treinadas manipulando operações estabelecedoras condicionadas; (b) avaliar se a
aquisição de topografias na forma de mandos é funcionalmente independente de topografias
na forma de tactos; (c) avaliar se a história dos sujeitos e as operações estabelecedoras
condicionadas podem ser manipuladas para criar oportunidades para ensinar mandos
específicos; (d) avaliar se procedimentos de prompt de tactos e prompt imitativo facilitam
1 4 8 I land d.i Silva Mousinho, l.uais Ferra/ Córdova, Mariana I afle e Antonio de Freitas Ribeiro
Os resultados dos estudos discutidos no presente trabalho possuem implicações
práticas significativas para a área de patologias da fala. Oah e Dickinson (1989) consideram
que as diferenças entre mandos e tactos deveriam ser mais claramente reconhecidas em
programas de treinamento da linguagem. Uma vez que esses operantes são funcionalmente
diferentes, um treino efetivo da linguagem exige que uma atenção seja dada ao controle de
variáveis e às conseqüências de cada um. Os autores apontam, ainda, evidências empíricas
que sugerem que o treino de mando facilita a aquisição de outros operantes verbais. No
entanto, esse treino tem sido negligenciado no estudo do desenvolvimento do comportamento
verbal. Uma possível razão para essa negligência parece ser a dificuldade associada com
a manipulação de operações estabelecedoras.
Uma outra dificuldade nos estudos sobre independência funcional parece ser a
idade dos participantes, visto que Skinner (1957) focaliza a independência entre operantes
verbais no momento da aquisição. Ou seja, crianças de pouca idade parecem adquirir
repertório de falante muito rapidamente. As pesquisas deveriam, então, utilizar participantes
com menos idade do que tem sido utilizado, com pouca experiência como falantes,
buscando controlar os efeitos da história verbal na relação entre os operantes verbais.
Por fim, o entendimento dos processos comportamentais através dos quais um
indivíduo se torna falante e ouvinte parece ter implicações práticas ao viabilizar uma
tecnologia educacional efetiva. Assim, repertórios verbais deficientes poderiam ser evitados,
bem como a aquisição ‘‘normal" do comportamento verbal poderia ser melhorada (Michael,
1984). As evidências empíricas que apóiam a noção de independência funcional entre
operantes verbais podem contribuir para que na prática educacional se estabeleçam
programas que considerem as diferentes relações funcionais envolvidas na aquisição dos
diferentes repertórios verbais em crianças “normais", com algum tipo de atraso no
desenvolvimento do comportamento verbal ou mesmo entre pacientes hospitalizados que
sofreram algum tipo de lesão cerebral comprometendo a utilização de um repertório
específico verbal ou não-verbal.
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150 I iana dd Silva Mousinho, l.uca* Ferraz Córdova, Mariana I.afle e Anlonio de Freit.« Ribeiro
Capítulo 16
Independência funcional entre operantes
verbais de diferentes ou mesmos meios
Lucas Ferra/ Córdova - UnB/DF, Liana da SiIva Mousinho - UnB/DF
Mariana Lage - UnB/DF e Antomo de Freitas Ribeiro - UnB/DF
Por exemplo, um termo bastante "simples" como “água" pode apresentar diferentes
significados dependendo se sua ocorrência é função de uma privação ou se ela é controlada
pela presença no ambiente da água.
A noção de significado com base numa explicação funcionalista do comportamento
verbal torna-se claro em Skinner quando este apresenta o conceito de independência
funcional dos operantes verbais (Córdova e Medeiros, 2003). A análise funcional do
comportamento verbal feita por Skinner (1957) identifica seis grandes relações funcionais,
ou operantes verbais, diferindo entre si pelo tipo de variável controladora (i.e., variáveis
antecedentes e conseqüentes) e pelo tipo de resposta. A título de exemplo, o operante
verbal mando, como definido por Skinner, seria
“um operante verbal em quo a resposta ó reforçada por uma conseqüência
característica e está, portanto, sob o controle funcional de condições relevantes
de privação ou estímulo aversivo” (Skinner, 1957 pp. 56). Já o operante verbal
tacto seria “um operante verbal, no qual uma resposta de corta forma ó evocada
(ou pelo menos reforçada) por um objeto particular ou um acontecimento ou
propriedade do objeto ou acontecimento” (Skinner, 1957 pp. 108).
152 I uca* f-rrra/ Córdova, l.lana da Silva Mousinho, Marlana l aqe c Antonlo de I rcllas Rlbclro
sujeitos foram divididos em dois grupos: um grupo recebeu o treino de mando e foi testado
o aparecimento do tacto colateral; para o segundo grupo foi treinado o tacto e testado o
mando colateral. A resposta exigida foi a relação esquerda/direita; os sujeito deveriam, no
caso do tacto, tactear a posição de um objeto em relação a outro e no caso do mando,
mandar a posição em que o experimentador deveria posicionar um objeto em relação a
outro. Após essa primeira etapa ter sido concluída, as posições (i.e., o nome das posições
- esquerda e direita) eram invertidas, sendo então repassado o procedimento inicial (i.e.,
treino e teste de tacto e mando invertidos). Observou-se em todos os nove sujeitos a
independência funcional entre o tacto e o mando na primeira fase do experimento. Esses
dados corroboram a proposta apresenta por Skinner (1957), indicando que o que é aprendido
é uma função comportamental, e não um significado intrínseco a uma topografia verbal. Já
no treino invertido foi observado por parte de três sujeitos o surgimento do operante colateral
não treinado.
Contudo, como foi observado no estudo de Lamarre e Holland (1985), apesar de
durante a aquisição do repertório verbal crianças apresentarem independência funcional, a
medida em que vão adquirindo um repertório mais sofisticado, quando aprendem uma
topografia verbal em um dado operante, os demais operantes aparecem colateralmente.
Skinner apresenta várias formas de como isso acontece. Uma criança poderia aprender a
tactear um objeto perguntando M0 que é isso?", e então ecoar o nome aprendido em um
autoclítico de mando, como por exemplo uMe d ê ________ " que já tenha sido previamente
estabelecido como passível de reforçamento específico, ou simplesmente sua resposta
ecóica pode ser reforçada como se fosse um mando. Da mesma forma, um mando
previamente aprendido pode ser ocasionalmente reforçado como se fosse um tacto. Outra
possibilidade é o fato de que o evento reforçador em um mando (por exemplo: "Me dá um
copo de leite") pode vir a ser o mesmo que o estímulo discriminativo que controla a emissão
de um tacto (por exemplo: dizer "leite" na presença de leite). E ainda, mandos geralmente
ocorrem na presença do objeto mandado, o que aumenta a probabilidade de reforço. Nesse
sentido, essas respostas são em parte mando, por ocorrerem sob condições motivacionais,
mas a presença do objeto enquanto estímulo discriminativo torna a resposta também um
tacto. Ou simplesmente pelo treino específico para a emissão de uma resposta verbal
adquirida como um determinado operante nos diferentes operante verbais ainda não
treinados de forma direta. Lamarre e Holland discutem, em acordo com Skinner, sobre a
similaridade no que diz respeito ao contexto de emissão tanto de mandos como de tactos
como favorecendo a dependência funcional demonstrado por alguns dos seus sujeitos.
At^agora se enfocou apenas operantes verbais na mesma mídia, ou seja que
envolvam a mesma musculatura (i.e., fala e fala). Contudo é importante enfocar também a
relação existente entre operantes de mídias diferentes (i.e., fala e escrita, escrita e leitura),
ou seja, que envolvam musculaturas distintas. Devido à observação dos repertórios de
sujeitos já verbais, a noção de que uma palavra escrita pode ser falada sem necessidade
de treino direto leva à concepção de que a mesma resposta verbal pode ocorrer em meios
diferentes, ou seja, a mesma resposta verbal poderia ocorrer em diferentes operantes de
forma espontânea. Contudo, o comportamento de falar e o de escrever, assim como o
tacto e o mando, são operantes verbais distintos e possuem variáveis controladoras também
distintas. Deve-se ter claro então as variáveis que controlam cada um desses operantes e
identificar também como os comportamentos de fala e escrita se ligam, "apontando algo
comum quer nas ocasiões em que o comportamento ocorre, quer entre os efeitos que eles
produzem no ouvinte ou no leitor” (Skinner, 1957 pp. 230).
R eferên cias
154 Lucas f-erra/ Córdova, Liana da Silva Moutinlui, Mariana Lage c Antonio de f-reitat Ribeiro
Seção III
APsicoterapia
Comportamental:
Intervenção e
Pesquisa
Capítulo 17
Análise funcional do transtorno do pânico
Comportamentai: são todos os comportamentos operantes por meio do qual uma pessoa
modifica seu ambiente:
• Fuga / Esquiva
Conseqüentes: qualquer mudança é seguida por uma ação no próprio organismo e/ou
ambiente:
• Diminuição do estado de ansiedade;
• Diminuição dos sintomas físicos;
• Ganhos secundários.
A seguir o relato de um caso clínico e parte de sua análise funcional:
Paciente: sexo feminino com idade de 31 anos, professora, casada e com dois filhos (4 e
6 anos de idade).
Queixa: "Acho que tenho a síndrome do pânico, pois li um artigo em uma revista e
identifiquei-me com todos os sintomas. Comecei a passar mal um dia no trânsito quando
eu estava indo trabalhar e ia ter uma reunião com a equipe da escola. Eu estava muito
preocupada com o resultado daquela reunião. Já passei por vários médicos, já fiz vários
exames, mas nada foi constatado. Tenho medo de sair sozinha de casa e passar mal. Já
pedi licença do meu trabalho e tenho ficado cada vez mais em casa. Às vezes penso que
estou ficando louca e tenho vontade de morrer. Tenho medo de fazer alguma besteira".
• Adolescência:
a. Paciente tinha dificuldades de relacionamento com meninos. Apresentava a seguinte
crença: "nunca, ninguém, vai gostar de mim";
b. Comparava-se com as amigas e acreditava que eram mais bonitas e inteligentes do
que ela;
c. Com 18 anos teve seu primeiro namorado e depois do primeiro beijo terminou com ele;
• Adulta:
a. Casou-se com seu segundo namorado aos 24 anos - "Não o amava, mas meu
sonho era casar e ter filhos" (sic);
b. Vida sexual insatisfatória. Tinha o seguinte pensamento: "Meu marido podia congelar
para eu ter outras oportunidades e não perdê-lo" (sic). Sentia-se segura e amparada
por ele;
c. Insatisfeita com o trabalho;
d. Após o nascimento de seu segundo filho (8 meses) teve seu primeiro ataque de pânico;
e. Todas as vezes que tem ataques de pânico na rua seu marido a socorre.
Algumas questões servem de guia para o levantamento da análise funcional:
(descrição detalhada de cada item)
1. Situação: Onde estava? Quando ocorreu? Quantos anos você tinha? Como eram as
relações familiares? Situações recentes de vida?
2. Pensamentos: O que você pensava?0 que pensa agora com relação a este fato passado?
Se fosse hoje, como você pensaria? O que você pensa do seu problema atual? O que
você pensa quando se sente mal (sensações físicas)?
3. Sentimentos: O que você sente(iu) quando está(estava) nesta situação? O que você
experimenta(ou)?
4. Comportamentos: O que você faz(fez)? E os outros, como reagem (reagiram)?
Conseqüências: E depois, o que aconteceu? Como você se sentiu? O que pensou?
A partir da análise funcional, pode-se constatar que a paciente teve uma história
de condicionamento baseada, principalmente, em esquemas de reforçamento negativo e
punição, o que lhe causou um problema sério de auto-estima e auto confiança. Estas
conseqüênci&s ocorriam quando, por exemplo, tinha medo de dormir sozinha e passava
para a cama de sua mãe ou quando tirava notas baixas e recebia castigos de sua mãe e
comparações com sua irmã. Estes esquemas se mantiveram na fase adulta quando, por
exemplo, não procurava se atualizar profissionalmente por medo do fracasso.
Seus ataques de pânico reforçaram sua crença de incapacidade e de dependência,
principalmente do marido.
Observa-se, também, que aprendeu a usar seus medos para evitar situações que lhe
eram desagradáveis e que lhe exigiam responsabilidades ou resolução de problemas, como
no caso de seu relacionamento conjugal.
Seu processo terapêutico baseou-se em técnicas comportamentais eficazes para o
transtorno do pânico, como exposições graduais aos estímulos que lhe causavam ansiedade
e exposições interoceptivas, bem como técnicas de relaxamento e respiração. No entanto,
percebeu-se, por meio da análise funcional, a necessidade de uma intervenção comportamental,
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1. Anorexia
Anorexia ó um distúrbio que tem como indicadores o peso corporal abaixo de 15%
do normal e a pessoa recusa manter o peso corporal adequado para a relação idade e altura.
Nas anorexias a perda de peso ocorre geralmente através da redução da
alimentação, que ó limitada a frutas e verduras e por vezes chegando a um jejum total.
Nos casos mais graves são adotados métodos adicionais de perda de peso, como a auto-
indução de vômito, o uso indevido de laxantes ou diuréticos e a prática excessiva de
exercícios físicos.
' Huapilnl« Matttmklad« Cdao Plnmi. PUC-Campina». Doutora mn Pakxiogm oorrto Clétoa a PruftuAo Enctoraço para (xxmtpotidAnda Rua Camargo
PlnwriM, 528, Jardim Guanabara, Camplna»/8P- CEP 13073-340, E-mail dlana l«k»t(©terra (xxti bf, foo®. (10) 32415fl04* fm § (19) 3242360ft* oom
2. Bulim ia
Bulimia consiste no com portam ento com pulsivo de comer seguido de
comportamentos compensatórios de vômito. As características principais são os
comportamentos periódicos de compulsão, os métodos compensatórios inadequados para
evitar ganho de peso e os comportamentos de auto-avaliação dos pacientes são
excessivamente influenciados pela forma e peso do corpo, tal como ocorre na Anorexia.
Para qualificar o transtorno, a compulsão periódica e os comportamentos compensatórios
inadequados devem ocorrer, em média, pelo menos duas vezes por semana durante um
período de três meses.
Os pacientes com Bulimia Nervosa estão dentro da faixa de peso normal, embora
alguns possam estar com um peso levemente acima ou abaixo do normal. O transtorno
ocorre, mas não ó comum, entre pacientes moderados e morbidamente obesos. Há indícios
de que, antes do início do Transtorno Alimentar, os pacientes com Bulimia estão mais
propensos ao excesso de peso do que os outros.
Uma compulsão periódica é definida pela ingestão de uma quantidade maior de
alimento do que a maioria das pessoas consumiria em circunstâncias similares, num
período limitado de tempo. Período limitado de tempo refere-se a um período definido,
geralmente dOrando menos de 2 horas. O ato de ingerir continuamente pequenas
quantidades de comida durante o dia inteiro não seria considerado uma compulsão periódica,
as compulsões caracterizam-se por uma anormalidade na quantidade de alimentos
consumidos, e não pela avidez num determinado tipo de alimento.
As pessoas com Bulimia envergonham-se de seus problemas alimentares e
procuram ocultar seus comportamentos. As compulsões periódicas geralmente ocorrem
em segredo, ou são dissimuladas. Um episódio bulímico pode ou não, ser planejado de
antemão e em geral ó caracterizado por um consumo rápido.
A compulsão periódica freqüentemente prossegue até que a pessoa se sinta
desconfortável, ou mesmo dolorosamente repleta. O controle do comportamento de
compulsão de comer da Bulimia não ó absoluto, por exemplo, um paciente pode continuar
comendo enquanto o telefone toca, mas interromper o comportamento se alguém ingressar
inesperadamente no mesmo aposento.
17 0 lo fd lo Ldlonl
para tratamento de obesidade. O TCAP acomete indivíduos de todas as raças, com
distribuição aproximada entre os sexos, sendo três mulheres para cada dois homens,
geralmente tendo início no final da adolescência. Mulheres com esse diagnóstico
apresentam índice de massa corporal mais alto do que mulheres sem TCAP, assim como
oscilações de peso mais freqüentes e maior dificuldade em aderir ou manter o peso ao
tratarem a obesidade.
Muitos autores apontam características pessoais comuns em pacientes com
TCAP: baixa auto-estima, perfeccionismo, impulsividade, e pensamentos dicotômicos do
tipo tudo ou nada, sintomatologia depressiva e depressão clínica em 50% dos casos.
4. O besidade
Obesidade é considerada pela OMS como uma doença, estando classificada
como tal no CID-10 (Código Internacional de Doenças), é caracterizada pelo excesso de
massa gorda (gordura) de um indivíduo. Um indivíduo normal apresenta cerca de 20% do
seu peso, em massa gorda, e 80% de seu peso em massa corporal magra, formada pelos
órgãos, músculos, ossos e água. O excesso da massa gorda está relacionado à ingestão
calórica maior que a queima calórica. A obesidade pode ter características genéticas e
hereditárias, estar relacionada a certas doenças e ao comportamento de comer.
O transtorno alimentar tendo como conseqüência a obesidade é considerado pela
Organização Mundial de Saúde um grave problema, atualmente apresenta aumento de
sua prevalência no Brasil. A obesidade é um problema importante tanto para uma perspectiva
de saúde pública, como para os indivíduos afetados.
A prevalência da obesidade aumenta com a idade e acarreta risco substancial
para doenças graves, como diabetes, hipertensão e doença cardiovascular. Nos últimos
1 0 anos há um reconhecimento de que múltiplos fatores contribuem para a obesidade, os
fatores genéticos, culturais e comportamentaís, atuam com diferentes combinações entre
os indivíduos. Portanto, duas pessoas que têm o mesmo peso podem ter razões muito
diferentes para o excesso de peso. O fato de algumas pessoas ganharem peso porque
tem uma dieta rica em gorduras e não fazerem exercício, não explica porque essas pessoas
se comportam assim. De outro lado há pessoas que apresentam o comportamento de
compulsão alimentar, e ganham peso por esse transtorno de comportamento.
É comum usar como critério diagnóstico para a obesidade 20 % de sobrepeso.
Para a classificação de peso, sobrepeso ou baixo peso, utiliza-se como referência o
Indice de Masca Corpórea (IMC). O cálculo desse índice é obtido pela divisão do peso em
quilograma pela altura elevada ao quadrado (IMC = Peso: Altura2). A classificação de
obesidade usando -se esse índice classifica o peso das pessoas: sobrepeso = IMC entre
25 e 30, obesidade leve = IMC entre 30 e 35, obesidade moderada = IMC entre 35 e 40,
obesidade severa (mórbida = IMC entre 40 e 50 e super obesidade = IMC maior que 50.
5. Análise de contingências
Esta apresentação pretende demonstrar a análise de contingências do
comportamento de comer em pacientes obesos, sugerir intervenções e promover a
orientação para grupos interdisciplinares.
O estudo da relação entre o comportamento e os estímulos que o antecedem e as
conseqüências que o seguem, denominada de análise de contingências, foi a metodologia
Tabela 1.
Antecedentes históricos recentes Antecedentes aversivos
História pessoal de não seguimento de regras, Ter que pagar contas e não ter dinheiro
especialmente orientações médicas. suficiente.
Exposição constante a alimentos (fartura na Foi punida quando emitiu opinião.
geladeira e dispensa).
Alimentos ricamente preparados por outros, Assistiu a brigas familiares, a doenças e
reuniões sociais associadas a comer. morte na família.
Tabela 2.
Guloseimas, bolachas, chocolates, Evita pensar que tem que pagar contas.
refrigerantes, balas.
Alimentos mais baratos, farináceos Evita subir na balança, e olhar para o espelho.
e doces. Evita situações de exposição.
Ensinar outros a preparar alimentos, Evita falar de doenças e morte, evita exames
experimentar pratos variados. módicos.
R eferências
Kaplan, H.l. (1999). Tratado de psiquiatria (6*.ed.),(D. Batista, Trad.) Porto Alegre, RS: Artes
Módicas Sul Ltda.
Para realizar uma análise funcional nos termos que Skinner propõe é imprescindível
a identificação e a descrição da relação entre uma resposta específica e o contexto de
sua emissão. A importância dessa relação pode ser notada, entre outras menções, na
afirmação de Skinfier (1969/1984): “ Uma formulação adequada das interações entre o
organismo e seu meio ambiente para ser adequada, deve sempre especificar três coisas
(1) a ocasião na qual ocorreu a resposta, (2) a própria resposta e (3) as conseqüências
reforçadoras" (p. 182|
Meyer (1997) admite que a análise funcional do comportamento é o instrumento
básico do analista do comportamento, pois na maior parte do tempo,este se ocupa com a
tarefa de identificar e descrever as contingências em operação que mantém o comportamento
do indivíduo, para então, inferir aquelas que agiram durante a ontogênese. Por meio da
análise funcional, é possível estabelecer ou propor relações de contingências para instalar
ou desenvolver um comportamento, assim como, promover a alteração da sua freqüência
e padrão. MMudanças no comportamento só se dão quando ocorrem mudanças nas
contingências. Por isso a análise funcional é fundamental sempre que o objetivo seja a
predição e o controle do comportamento” (p. 32).
1 7 6 híbrido dc Sou/a, M ylena Pinto Ribeiro, Fübl<ind Pinheiro Ktimot c I léllo loié C /uillw ili
Matos (1999), discute que
Não podemos perder de vista, no entanto, que as contingências são efetivas mesmo
que uma pessoa não seja capaz de descrevê-las. Isto fica evidente quando se solicita ao
indivíduo que descreva as contingências que controlam seu comportamento como ocorre,
por exemplo, quando o terapeuta pergunta: "Por que você acha que fez isso?" Neste
momento o cliente poderá examinar seu comportamento e descobrir as relações de
dependência que não havia percebido antes.
Por vezes, a descrição das contingências pode não ser precisa ou estar incorreta,
temos, neste caso, o assim chamado tacto inadequado. Considerando que a descrição
das contingências pode ocorrer antes da ação propriamente dita, podemos pressupor
uma mudança na probabilidade de resposta como função de uma regra auto-construída.
Esta possibilidade pode ser especialmente importante para a compreensão de repertórios
comportamentais modelados em contingências coercitivas.
Skinner ressalta que alterações corporais, tais como as emoções, não parecem
evidentes quando o indivíduo declara uma intenção ou propósito. No entanto é preciso
considerar que boa parte das descrições de contingências, ou seja, regras, emergiram de
contingências aversivas. Para Skinner (1969/1984) “(...) a ansiedade, no sentido de medo
de um acontecimento iminente, é mais do que expectativa,assim como a antecipação
que quase chega a ser antônimo de ansiedade (...)" e acrescenta "(...) a ansiedade contém
respostas emocionais''p.267.
Partindo do pressuposto que o comportamento que teve conseqüências aversivas
tende a ocorrer menos plausivelmente, e considerando a variabilidade como um determinante
da seleção pelas conseqüências, pode-se explicitar a utilidade dos princípios da análise
funcional na identificação e descrição de padrões de comportamento fortemente baseados
em classes operantes de fuga-esquiva que foram selecionados pela exposição a
contingências codteitivas.
É preciso, ainda, considerar os efeitos colaterais da exposição prévia a estímulos
aversivos, respostas autônomas geradas por tais contingências passam a ser descritas
como sentimentos de medo, ansiedade, angústia, culpa etc. Uma boa descrição funcional
deve incluir as relações entre o relato dos sentimentos, as alterações corporais e os
padrões de comportamento manifesto que constituem uma classe operante. Evidencia-
se, dessa forma, o papel atribuído ao analista do comportamento na proposição de uma
análise funcional. Esta não é uma tarefa fácil, uma vez que contingências de reforço não
podem ser observadas em uma ocasião em especial, definir a função das variáveis ambientais
sobre o comportamento requer a identificação das propriedades de estímulos e respostas
que entram numa relação de contingência, o que pode requerer um extenso processo de
observação e análise por parte do analista comportamental.
1 7 8 hibrfclo de Sou/a, M ylena Pinlo Lima Ribeiro, f-abiana Pinheiro Ramos e H élio ]o*é Quilhardi
Utilizando-nos dos pressupostos aqui mencionados, analisaremos, a partir da
apresentação de dois casos clínicos6, alguns padrões de comportamento mantidos,
especialmente, por contingências de reforçamento negativo.
Nos dois casos, foram identificados alguns déficits comportamentais, em especial
aqueles convencionados como repertório de habilidades sociais. Serão apontadas, com o
emprego da analise funcional, especificidades em termos de padrões de relacionamento
interpessoal nos níveís familiar e afetivo. Buscou-se tanto descrever as influências de
auto-regras no comportamento cotidiano, como identificar as relações entre os sentimentos
relatados e os eventos vivenciados em contextos atuais para cada um dos casos.
Caso 1.
Ana (nome fictício), de 31 anos, é concluinte de um curso de graduação e atua
como secretária. A cliente mora com a mãe que é dona de casa. O pai teve problemas
com adição de álcool durante toda a infância de Ana e morreu de câncer há cerca de um
ano. O relato das experiências da infância incluiu menção a sentimentos de ansiedade,
medo e desapontamento em relação ao pai e à sua condição de alcoolista “quando chegava
perto da hora dele chegar ficava todo mundo tenso". O comportamento da mãe foi descrito
como rígido durante a infância, e atualmente inclui uma rotina de cuidados para com Ana
( "Ela lava minhas roupas e faz o que gosto de comer”).
Em relação às primeiras experiências amorosas, Ana relata comportamentos de
submissão ao primeiro namorado, após o que se recusa assumir outro relacionamento
estável ( “todas as minhas amigas jà tem filho, eu não quero isso para mim'). A cliente
informou que tem dificuldades de iniciar e manter conversas em situações sociais, iniciar
novos relacionamentos afetivos e de encerrar relacionamentos considerados insatisfatórios.
Manteve um vínculo com ex-namorado por dois anos após o término do namoro. Expressou-
se da seguinte forma sobre ao fim da relação amorosa; ( “Deixei ele te r m in a r "Estava
sofrendo". "Me senti livre"). Atualmente mantém encontros com um rapaz mas considera
a relação insatisfatória ("não é o tipo de pessoa que quero". “É legal estar com ele". "Ele
não tem ambição’).
A queixa inicial se refere à dificuldade em finalizar o trabalho de conclusão de
curso da faculdade, sem o qual não pode obter o diploma de curso superior. Em suas
palavras: {"Eu sento para escrever, quando parece que vai vir a idéia mais legal ai.eu
paro.", “elas (outras pessoas) não entendem como ô difícil escrever"). Relata que há seis
meses recebeu forte crítica do orientador, sentiu-se “humilhada"e “injustiçada". Descreve
sentimentos dè "insegurança" em situações sociais e relaciona esses sentimentos a
comportamentos de postergação de atividades. ( "Tenho projetos que não vão para a frente".
"Estou fazendo o que as pessoas esperam?". “Porque a gente tem que fazer escolhas?".
"Por que eu tenho sempre que perder o bom e ficar com o ruim ?").
Identifica situações em se comporta de forma agressiva ( “O primeiro ano da
faculdade foi muito difícil, quase abandonei", "Sou possessiva com meus amigos, não
gosto que pessoa estranhas se aproximem’). A cliente descreveu comportamentos
agressivos no contexto familiar, bem como dificuldades em solicitar mudança de
comportamento, especialmente em situações de interação com a mãe ( "Ela vive dizendo
que estou gorda", “fico esperando ela dizer isso toda hora').
‘ O» cmkm aqui airotuxiüKiuH toram ataodMo« pelo* HutofWRdurantn um our*> da mpautoçAo o*n IntHptu ootnpotUMtMntaf mafUado pai« Facufdad« Seíeeíene
da Vltúrla, ontre o» riM M i de Nuvnmbro dn 2002 • Junho d# 2003.
Caso 2.
Um exemplo do reflexo do déficit no repertório de habilidades sociais nas relações
familiares pode ser obtido com a análise da história de uma mulher, Clara (nome fictício),
de 46 anos, casada, mãe de dois filhos, João Pedro de 12 anos e Caio César de 8 .
Clara busca ajuda queixando-se por seu filho mais velho estar tirando notas baixas
na escola. Relatou que ( “ele já ficou reprovado na 4asérie, é disperso e deixa tudo para a
última hora"). Na primeira sessão Clara afirma que embora João Pedro seja ("uma criança
boa, tem uma personalidade muito difícil"). Ele não aceita, de acordo com a mãe, as
conversas que esta tenta entabular. No relato da situação para o terapeuta, Clara afirma:
( "Ás vezes sou calma, mas, ás vezes, falo o que nâo devia falar").
Sobre o filho mais novo, ela o caracterizou como sendo ("totalmente diferente e
muito amoroso enquanto João Pedro era muito devagar"). Tentando conversar com João
Pedro sobre a necessidade das coisas serem diferentes, ela conta que a resposta dele
foi: ( "Desde que você nâo me encha o saco").
Após ser questionada sobre esta atitude do filho, na fala de Clara transpareceu
um dado significativo: permanentemente ela repetia o padrão de lembrar o filho das tarefas
1 8 0 hibrkio de Sou/a, M ylena Pinto !.lm<i Ribeiro, Fdbldn.i Pinheiro Rdmo« e f Jíllo Josí Qullhardl
que estavam ficando para a "última hora". Notável era padrão de falar e cobrar a realização
das tarefas e de não aplicar sanções se estas não fossem cumpridas. Em algumas ocasiões
ela própria fazia os deveres. Reclamou: ("o que eu peço ele não faz. Assim, eu acabo
fazendo"). Quando o pai apresenta algum castigo aos filhos ela tende a não permitir que o
mesmo seja executado por completo: ( uEu sou meio mole e solto algumas coisas").
Após a primeira sessão foram observados alguns aspectos que se mostraram
relevantes para o devido encaminhamento do caso:
I) esclarecer problemas afetivos, tais como a culpa da mãe diante da situação;
II) discriminar se os problemas atribuídos ao filho eram mesmo inapropriados ou apenas
supostos;
III) explicitar, em momento oportuno, o fato de a mãe tentar controlar o filho exclusivamente
pelo antecedente ( "Façat")\
IV) investigar a rotina do garoto: o que e como ele faz as tarefas rotineiras;
V) o corte privilégios (contingentemente) quando as tarefas não fossem cumpridas.
Também se mostrou relevante o levantamento de dados acerca de duas questões
importantes. Uma primeira ligada ao filho: em quais ocasiões ele apresenta os problemas
relatados, com quem ele os apresenta e, sendo o caso, quais outros ele poderia ter. Uma
segunda questão era a ineficácia de Clara frente ao filho e a possibilidade das dificuldades
afetivas desta estarem generalizadas para outros aspectos de sua vida.
Embora Clara tenha buscado atendimento para o filho mais velho, foi decidido que
tomaríamos o comportamento desta com o foco de análise visto que a investigação de sua
história de vida levou-nos à hipótese, de que as atitudes frente ao filho relacionavam-se
com as experiências de frustração vividas por ela e, possivelmente, estas experiências
estivessem na condição de história prévia fazendo com que a excessiva cobrança se
constituísse em uma esquiva da possibilidade deste vir a frustrar-se também.
Relatou que não teve oportunidade de estudar. Sentia-se rejeitada pela mãe que,
como relatado, era mais atenciosa com a irmã mais velha. No entanto, a mãe de Clara
adoeceu e veio a falecer, mas antes de morrer sua màe a elogiou pelos cuidados a ela
dispensados. Ao se referir a esse fato, Clara reconhece a gratidão da mãe e díz: "se não
foi pelo amor foi pela dor". Pareceu-nos que nesse momento poderíamos ter a possibilidade
de esclarecer a relação entre o padrão de interação entre Clara e sua màe, e entre Clara
e João Pedro.
O que nos intrigava era o fato de Clara insistir, da forma com fazia, para que o filho
estudasse tanto. O padrão de interação diante da mãe, insistir para que ela a reconhecesse
como uma boa filha, ainda que nos momentos finais da vida, contribuiu para que Clara
emitisse, incansavelmente, no contato João Pedro, as respostas para a obtenção do
reforço desejado. Entretanto, Clara não discriminava que o repertório que produziu as
conseqüências reforçadoras provenientes de sua mãe poderia não ter o mesmo efeito com
o filho. Eis um exemplo genuíno de um comportamento governado por regra visto que ela
nâo desistia diante da dificuldade, mas também não variava sua resposta.
Por sentir-se rejeitada pela màe, Clara não queria que João Pedro passasse por
experiência semelhante. Logo, doava-se integralmente a ele na tentativa de obter o
reconhecimento e o amor.
A experiência de lutar pelo reconhecimento da màe fez Clara acreditar que as mulheres
fossem mais dedicadas ás suas causas e aos outros, mais sensíveis e com maiores chances
de perdoar. Tendo essa regra como estímulo discriminativo, ela supunha que a atenção dada
R eferências
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1. Caracterização do caso
A fim de exemplificar a relação entre o perfeccionismo e a baixa auto-
estima, será apresentado o caso de uma criança atendida em consultório particular, segundo
os princípios da terapia cognitivo-comportamental.
1 EapaclalliiUi uni psloologi* hospitalar (UNIRA), maalra am Mtlôha da* dAndaa da Saúdn (COC/FIOCRUZ)
2. Tratam ento
O tratamento teve por objetivo reestruturar as crenças perfeccionistas tanto de N.
como de sua mãe, uma vez que havia fortes indícios de que estas estavam desencadeando
a maioria das queixas relatadas.
As metas traçadas e as estratégias desenvolvidas durante a psicoterapia com a
criança foram ( 1 ) reduzir o nível de ansiedade de desempenho da criança, aumentando
seu senso de auto-eficácia; ( 2 ) identificar distorções cognitivas e reestruturá-las
(principalmente a crença de que N. só seria uma criança de valor se fosse perfeita em
tudo): e (3) treino de habilidades sociais. Para isso, foram propostos determinados jogos
e brincadeiras (ex: 60 segundos, Parole) nos quais N. pudesse observar o quanto seu
resultado era alterado por sua ansiedade; treino em relaxamento muscular e mental; role
play para o treino de respostas socialmente mais habilidosas, a fim de reduzir os conflitos
gerados pela interação com os colegas da classe. Todas essas estratégias tinham o
objetivo maior de elevar a auto-estima de N. na medida em que esta fosse conhecendo
suas qualidades e se empenhando na melhoria de suas deficiências.
Com a mãe, os objetivos foram (1) mostrar a influência das crenças perfeccionistas
nos comportamentos inadequados da criança; (2 ) estabelecimento de um tempo mínimo,
diário, em que pudessem desenvolver juntas atividades prazerosas; (3) conscientização
para a necessidade de reduzir as tarefas rotineiras de N., principalmente as que envolviam
competição, deixando que a criança pudesse escolher em quais gostaria de permanecer;
(4) encaminhamento da mãe para psicoterapia individual, a fim de que pudesse modificar
seu alto padrão de exigência e diminuir seu nivel de stress.
4. Conclusão
O estudo de caso aqui apresentado ilustra a relação do perfeccionismo e a baixa
auto-estima infantil. Os psicólogos devem estar muito atentos á influência das crenças
perfeccionistas na auto-estima na criança, na medida em que esta pode comprometer o
desenvolvimento emocional, cognitivo e social da mesma.
A criança perfeccionista pode desenvolver um autoconceito distorcido devido a
seus padrões de exigência excessivamente elevados. As estratégias cognitivo-
comportamentais auxiliam a criança e sua família a compreender e a modificar essa
situação, na medida em que promovem o desenvolvimento de comportamentos e crenças
mais adaptativas e condizentes com a realidade.
É importante ressaltar que no caso aqui apresentado, o sucesso do tratamento
estava condicionado, em parte, à mudança das crenças maternas. Deve-se ter sempre
em mente que o meio muitas vezes reforça a emissão de comportamentos perfeccionistas.
Se esforçar para alcançar metas não deve ser encarado como um problema, mas sim o
fato de que muitas delas talvez sejam irracionais ou inatingíveis. Do contrário, a criança
estará sendo reduzida a um desempenho específico.
R eferên cias
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1. O caso Raul
Meu primeiro encontro com Raul foi muito agradável. Ele tem de 32 anos, é
solteiro, mora com a mãe; esta deixou sua cidade e marido para "cuidar do filho doente".
Pode parecer um pouco estranho descrever o primeiro encontro entre terapeuta e cliente
como "agradável", já que a sessão é o contexto indicado para se falar de problemas de
comportamento e sentimentos aversivos. Raul, no entanto, é uma pessoa falante, gesticula
muito, “catastrofiza" suas queixas, mas o faz de maneira tão peculiar, que seu
comportamento verbal é envolvente e mantém o terapeuta sob controle de uma teatralidade
que comove (pelo sofrimento) e encanta (pelo sabor da narrativa). Não hesitei em chamá-
lo de Raul “Autran", sobrenome de um dos maiores atores teatrais que conhecemos.
Raul veio para a consulta, já tendo vivenciado quatro anos de terapia de orientação
‘ Auradovü àa palcóluga» Maria EIoIm Bonavila Soara* a Noraan Camptoll da Agukro, pata» criteriosa» »ugMtôa* durantn a «labor «çâo do capitulo
' Campina* • SP
ruim . p. ^ ...ruim
Figura 1. Representação esquemática feita por Raul de sua relação com o mundo externo.
A descrição que ele fazia do seu corpo estava sob controle do modelo módico
tradicional de doença: "Há algo errado com o funcionamento do meu corpo. Não sei o que
é. Ninguém sabe. E, sofro por causa disso. Faço o que posso: tomo todos os remédios
que me mandam tomar." A cúpula que o envolve exclui o mundo externo como parte dos
determinantes de sua doença. É, portanto, compreensível que tenha procurado mais de
Eventos Eventos
antecedentes Respostas consequentes
Raul não fíca sob controle das inter-relações entre os três componentes
da tríplice continqência
Figura 2. Paradigma da tríplice contingôncia.
O modelo comportamental revelou que, até então, Raul não estabelecia nenhuma
relação comportamento-ambiente. Ele ficava exclusivamente sob controle dos estímulos
provindos do próprio corpo (elo do meio da tríplice contingôncia). É de se esperar, portanto,
que Raul atribuísse os sintomas a uma causa orgânica e ele nem suspeitava que pudessem
ser produzidos por complexas relações entre organismo e ambiente. Entende-se também
a estranheza de Raul: por que os remédios não têm efeito e os sintomas persistem,
mesmo tomando regularmente todos os medicamentos indicados pelos psiquiatras? A
interpretação de Raul sobre a queixa é que ele, tem uma doença no seu corpo, por isso
procura ajuda médica. Só foi ao psicólogo porque a ajuda médica, exclusivamente, não o
estava ajudando em seu sofrimento. Aceitou mudar de modelo terapêutico quando o Dr.
Mauro lhe deu unaa orientação específica sobre as contribuições que a Terapia
Comportamental tem trazido para problemas como os dele.
“O que a Ciência do Comportamento tem a oferecer para Raul?’’, perguntei-me.
Fiquei sob controle do modelo experimental de ansiedade (outros autores sugerem outros
nomes: resposta emocional condicionada ou supressão condicionada, segundo Catania,
1998, p. 186) desenvolvido por Estes e Skinner (1941), pois ele parecia ser um bom
começo para controlar meu comportamento de analisar a queixa de Raul.
No paradigma experimental de ansiedade, mostrado na Figura 3, da página seguinte
nenhum comportamento do sujeito experimental pode evitar a apresentação do choque
livre. Os sintomas, para Raul, teriam a função de estímulo pré-aversivo, diante do qual ele
nada poderia fazer para evitar o estímulo aversivo, qual seja, o diagnóstico de uma doença
fatal e, decorrente dela, a morte. Os sintomas, por sua vez, eram também averslvos em si
• S pré-aversivo
(luz)
• Sav evitável -----------------------
(choque elétrico)
• Resposta eficaz _________ I
(remove luz e choque) respodf c^ ulva
• Tempo (seg) •••*..............i ---------------- 1-
10 20 30
não existe
• S pré-aversivo
(luz)
J_______________ L
• Sav evitável
(choque elétrico)
• Resposta eficaz ________ I____I____ I
resposta de esquiva
(adia o choque) do choque
Pensei, então, que o paradigma de ansiedade ajuda a entender o que ocorre com
Raul, mas ó de pouca utilidade terapêutica, pois tal paradigma não instrumenta a pessoa
para mudar a contingência: o choque é inevitável e, portanto, não há comportamento
operante que impeça sua liberação. É exatamente assim que Raul lida com a contingência
a que está exposto. Eu precisava buscar alternativas. A Ciência do Comportamento oferece
os paradigmas de fuga-esquiva, que são terapêuticos, pois neles há comportamentos
operantes de fuga-esquiva possíveis e que emitidos suprimem (ainda que temporariamente)
o evento aversivo. Diante disso, os paradigmas experimentais de fuga-esquiva fornecem
um modelo análogo para a compreensão do que ocorre com Raul. Baseado em suas
verbalizações, posso propor dois paradigmas, apresentados nas Figuras 8 e9 ,6a página
seguinte operando em sucessão no cotidiano dele:
Pode-se çoncluir que Raul se mantém o tempo todo em ansiedade, pois nào
apresenta, no seu repertório, comportamentos de fuga-esquiva funcionalmente eficazes:
se está sem sintomas orgânicos, não sabe o que deve fazer para evitar que os sintomas
apareçam; se os sintomas estão presentes, não sabe que comportamentos deve emitir
para eliminá-los. Há duas maneiras de analisar a função dos sintomas: podem ser
considerados análogos à luz, em função, pois sinalizam que algum evento aversivo ainda
pior virá - doença fatal (imaginada e temida por ele) e, como conseqüência, a morte
(imaginada e temida por ele) - análogo, em função, ao choque. Nesta condição, o paradigma
equivale ao de esquiva sinalizada. Outra maneira de analisar é considerar os sintomas os
próprios eventos aversivos - análogos, em função, ao choque -, que surgem sem nenhuma
sinalização exteroceptiva e o paradigma equivale ao de esquiva não sinalizada de Sidman.
Prefiro falar em paradigmas de fuga-esquiva, pois é possível ao terapeuta instalar
comportamentos de fuga e de esquiva dos sintomas; no entanto, para Raul, as
Sobre(_'omport<imentoeCojjnlyJo 195
Tal auto-regra tem para ele a função de uma auto-instrução (um mando verbal
auto- imposto) que Raul verbaliza assim: “Eu sempre aprendi que, quando a gente está
doente, é simples: vá ao módico e tudo se resolve. Só que agora vejo que náo funciona
mais comigo". O comportamento presente de Raul, de se queixar de doença e de procurar
o módico, está sendo consequenciado de maneira que difere da sua história de
contingências. Assim, na Figura 11, pode-se notar que a “cura" não ocorre, conforme o
previsto por ele, as queixas são modeladas pelas reações das pessoas, tornando-se,
progressivamente, mais elaboradas.
A modelagem do comportamento de se queixar e de procurar sucessivos médicos
leva Raul a enunciar uma nova auto-regra, conforme apresentada na Figura 12, que pode
ser formulada assim: “Se o médico não consegue resolver seu problema, procure outro, e
mais outro etc." Note que Raul persiste no modelo médico de doença.
SobreComportamentocCognição 199
- Ele não gostava que a gente perdesse tempo vendo TV. Não gostava das coisas
fora do lugar.
- Nós sabíamos que ele estava chegando em casa pelo barulho do carro quando
virava a esquina. Saía todo mundo arrumando as coisas, desligávamos a TV. Eu me escondia
na minha “toca", no quarto. Às vezes, ele me pegava lá mesmo: ai de mim se não estivesse
estudando.
- Nunca entendi porque eles nunca se separaram...
O relato acima pode ser assim esquematizado, conforme a Figura 13.
Resposta de
S pré-averslvo S aversivo
fuga-esquiva
-comportamentos
-ruído do -desligar a do pai: gritar, criticar, ter
motor do carro TV "explosões" verbais,
-barulho do -arrumar a ameaçar etc.
sapato sala
(do pai) -ir brincar
sozinho no
quarto
("toca")
A n te c e d e n te s R e s p o s ta s C o n s e q ü ê n c ia »
SobreComportamentoeCogniv<1o 207
b) Não enfraquecem os comportamentos de punir do pai: ele pode ainda apresentar
conseqüências aversivas para qualquer outro comportamento que não seja o
específico de fuga-esquiva. Ou seja, se esquivar e fugir não altera a probabilidade
(por sinal sempre alta) de o pai consequenciar aversivamente qualquer outro
comportamento de Raul.
c) Privam Raul de acesso a reforçadores positivos: de modo geral, o que é reforçador
positivo para Raul ó aversivo para o pai e vice-versa.
d) Não há repertório comportamental reforçado positivamente que possa ocorrer
complementarmente na presença do pai\ só são emitidos comportamentos de fuga-
esquiva ou comportamentos submetidos a procedimentos de extinção.
Paradigma de ansiedade
Estou neste ponto começando a responder com mais clareza à questão que Raul
me propôs no in/cio da terapia: MDr. Hélio, diga-me qual o comportamento de fuga-esquiva
“que vai me salvar?" Posso, então, ir um pouco adiante, dizendo-lhe: “Você possui o
repertório de fuga-esquiva já instalado, porém não é emitido sob controle de estímulos
adequados. A presença dos sintomas deve adquirir a função de SD, isto é, a ocasião em
que você deve emitir tais comportamentos e ficar sob controle das reais conseqüências
sociais por eles produzidas" (que o terapeuta aposta que serão reforços positivos
generalizados provindos do ouvinte). Em outras palavras, a presença dos sintomas deve
perder a função de estimulo pré-aversivo, que suprime comportamentos operantes desejados
e elicia respondentes indesejados. “E, quanto à ausência de sintomas?" me perguntou
ele. "Você sabe que eu também tenho medo, nessa situação, de que o sintoma apareça."
“O raciocínio é o mesmo", respondi. “A ausência de sintoma deve também adquirir a
função de SD". Há, no entanto, um aspecto muito importante ao qual se deve dar a máxima
ênfase. O terapeuta deve colocar o comportamento de Raul sob controle das reais
conseqüências sociais reforçadoras positivas que os comportamentos produzem e
enfraquecer o controle da crença que possíveis (não reais) conseqüências aversivas serão
produzidas pelos mesmos comportamentos (é necessário alterar as generalizações e
relações de equivalência que Raul faz de sua história de contingências passadas para as
+
&
Sugestões do terapeuta:
- Crie condições - programe SDs - para ela em itir comportamentos de
independência do filho e do marido, ou seja comportamentos para os quais marido e filho
não têm função nem de SD nem de S", e que produzam reforçadoras positivos vindos de
outras fontes. Por exemplo, anime-a a formar um coral, a voltar a tocar violão etc.
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‘ A sltijHçáo descrita podo *er tiMAIoya atx e»qiiema» do reforçflmonlo nncadeado n tandum
Eugenia nncNckiiKlfl «»quoma compoalo no qual o rafcxço depende da uomftotaçAo Mtuetslva, eni uma determinada ordem, ria* axIyAncla» da do)« ou
mui» esquema» componente», cada um do* qual» opera ru» pre»enç« de um e»llmulo dlfwent«» (Calanla 1968, p 329)
E » q u e m a tandmm «squerna compoalo no (p ia i o mforço depende dn compietavAo om «ucmaAo da* exIgAncia» d« dd» ou mal* esquema» oomponanle»,
tudo» dm prMMtnçM do mesmo »»Mmuto Um mqtMWTM ta n riw n . portanto, è eqokvaknto a um M Q u e m a o o u tò a n d u *m tormo» da» »xlgèrnia» do M q u w n n ,
m H * » e m e»llrmilo» diferente» (X irrw la c lo n a d o * com cada componente do « » q u a n ta (Calanla, 1968, p 548)
' Para tornar mala dar a a análsa, segua-s« um axamplo dn cotkJleno sugerido por Layng a Andronl» (1984). a ralação anlra a* <jon*ng4nda» pagar acouta
iht amrgm alétrwa e mlarruptor da ku(SD)— ptv*aion4-lo (R) tkuacaaa(S). Pagar a conta Implica em cu»lo* qua nüo prtiduxem nenhum beriefldo
flnaricnlm Ahvlo direto Nem pagar a oonta toma a luz raforçadora ma* vlaUNza a operaçAo da conUngAnda »»tnrmptcf(SD) pmtwloná-lo(R) -■»kaacma
(S)
"Precisamos nos voltar para algo que possa ser diretamente observado e, se
possivel, posto para funcionar. Isto significa que as histórias genética e pessoal
são as responsáveis pelo comportamento e, conseqüentemente, pelos estados
do corpo introspectivamente observados. " (p. 76)
Comportamento Conseqüência
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1.3 Conclusão
Como as histórias instruem sobre a relação entre ação e conseqüência social,
sua utilização como instrumento psicoterapêutico é particularmente útil na prática
psicoterápica infantil, dado que, a despeito de todos os avanços tecnológicos elas ainda
se constituem em elementos atrativos do mundo das crianças.
Além disso, o uso da narrativa de história, possui ainda a vantagem de não se
constituir em elemento punitivo, nem em instrução direta, a qual às vezes, não é eficaz
devido à história de vida do sujeito.
2.1 A Informação
2.3 Conclusão
A hospitalização pode representar uma oportunidade para que o paciente aprenda
mais sobre a doença e o funcionamento de seu corpo, adquirindo habilidades de
enfrentamento. Através da exploração de atividades que propiciem uma melhor informação,
a criança pode tornar-se participante ativo em decisões clínicas, sendo incentivada a
tomar decisões, a ser mais independente, a ter mais autocontrole e autoconfiança. Tal
perspectiva é congruente com o crescente e atual reconhecimento dos direitos da criança
sobre a informação de sua condição (Rushforth, 1999).
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Poucas coisas são tão difíceis como conviver ou trabalhar diariamente com pessoas
com autismo quando associado a graves transtornos de comportamento. Podemos
encontrar uma vasta literatura sobre o Transtorno Autista com as mais diversas formas de
entendimento sobre sua possível etiologia e que, muitas vezes, implica numa condução
terapêutica. No entanto, na medida em que o mundo científico avança nos seus
conhecimentos, vai ficando cada vez mais claro, que a forma de compreender tal fenômeno,
dentro de uma perspectiva médica e comportamental, indica alguns resultados bastante
satisfatórios em suas ações terapêuticas. Este capítulo pretende, através de relatos bem
definidos e concretos, demonstrar esta relação, ou seja, um conceito teórico que
desencadeia uma ação, ou um conjunto de ações terapêuticas que demonstram,
claramente, as modificações de comportamentos pretendidas.
Primeiramente é preciso definir sobre o que e sobre quem estamos falando:
Transtorno Autista e Graves Problemas de Comportamento e ações terapêuticas.
O Transtorno Autista é compreendido dentro dos Transtornos Invasivos do
Desenvolvimento “que causam prejuízos severos e invasivos nas diversas áreas do
desenvolvimento (habilidades de interação social recíproca, de comunicação ou presença
de comportamentos e/ou interesses estereotipados). Eles vêm, muitas vezes,
acompanhados de um Retardo Neuropsicomotor, significando assim, uma segunda
formulação de diagnóstico e uma possível associação com distúrbios de comportamentos
mais graves e, por conseqüência, de maiores dificuldades de convívio no dia-a-dia.
O autismo se apresenta como uma inadequacidade no desenvolvimento que se
manifesta desde o nascimento, de maneira grave, por toda a vida. Ele acomete cerca de
vinte entre cada dez mil nascidos e é quatro vezes mais comum entre meninos do que
meninas. Quando a menina é acometida, normalmente é mais grave. Ele é encontrado em
1 Pilcótoyo. doulor etrn pnkxjlogta pelo Depto de PttquMria lnf»nto-.kiv*r\l<la Univeraldad«d» Mtnuter, Atamanha, PruíeMor Tllular <1« Urilwiraklmtn (to
Conteatado-UnC. Campu* Caçador-SC, Coordenador do Ortipo de Petqulta Enaino • Aprendlugom no Programa de Maatmdo em Educação da UnC,
Coritullor Qeral dH COTEI-Comunldade Teru|>4utk:a lnterdl»d|)llnar
' A ICC, que o it i daacrlta mal* cJnlaltuKtamenl« no Capllulo 0 do livro 'Itonstonto* InvtUvo» do D— twolviménlo Ataodmkm » O ta v t Problmrm$ dm
Compoflummito Rttlmxfaa *o6r» um MtxMo Intêgnltvo'(Factoo, 2002) rvprment« um do« fundamnnkNi do trwüwimnlo
2. Ilustração
Para ilustrar o funcionamento do modelo integrativo proposto, descrevemos abaixo
o atendimento de um jovem com 19 anos, com o diagnóstico de autismo com retardo
mental, associado a graves comportamentos de auto-agressão, que esteve sob regime de
residência terapêutica durante cinco meses.
Trata-se do primeiro filho de uma união conturbada, tendo a mãe biológica feito
várias tentativas de aborto durante toda a gestação. Após separação dos pais ele foi criado
somente pelo pai e posteriormente também pela madrasta. O comportamento auto-agressivo
foi observado, pela primeira vez, aos dois anos de idade e ele já apresentava um atraso no
desenvolvimento neuro-psico-motor. Andou com quatro anos, não desenvolveu a linguagem,
apesar de emitir alguns sons e, aos 11 anos foi diagnosticado com o Transtorno Autista.
Ainda que apresentasse o controle esfmcteriano anal e vesical ele evacuava, e algumas
vezes urinava em locais inadequados, como por exemplo, debaixo do chuveiro, dentro do
guarda-roupa etc. Sua auto-agressão se manifestava através de fortes golpes na cabeça e
frontes com as mãos abertas e em forma de punhos e, por isso, vivia contido (com as mãos
para trás atadas com uma fralda) havia, pelo menos, 14 anos. Ele era dependente nas
atividades de vida diária como: alimentar-se, tomar banho, escovar dentes, vestir-se e despir-
se, etc. Havia baixa freqüência de utilização do vaso sanitário para as necessidades fisiológicas,
restrição alimentar, utilização dos pés em funções manuais etc.
Observava-se que muitos dos comportamentos inadequados eram conseqüências
da imobilidade das mãos para evitar a auto-agressão. Após o seu ingresso na Residência
Protegida, estabeleceu-se como objetivos prioritários a eliminação dos comportamentos
de auto-agressão; do deitar-se no chão ou em colchão em horários inapropriados; de
urinar e evacuar em locais inadequados; de utilizar os pés em atividades tipicamente
manuais; de enurese e encoprese. Foram também objetivos terapêuticos a instalação de
comportamentos de sentar-se no vaso sanitário; de utilizar calçados; de ajudar a terceiros
e de utilizar pijamas para dormir além de promover uma maior independência nas atividades
de vida diária como: alimentar-se, vestir-se, higiene corporal assim como de aumentar
qualitativamente os itens de sua dieta alimentar.
b) Utilização de Regras
As regras auxiliavam na eliminação e instalação de alguns comportamentos como,
por exemplo, deitar-se no chão ou colchão em horários inapropriados. Todas as vezes que
o comportamento se manifestava Luciano era colocado de pé. Nos horários de assistir
televisão ele permanecia sentado como os demais residentes e só era permitido que se
deitasse na cama no horário em que todos se recolhiam para dormir.
A restrição alimentar dependia do que era oferecido. Ele não ingeria, por exemplo,
lasanha, macarrão, carne de frango, doces etc. Procurou-se não modificar as regras da
instituição e as refeições recusadas não eram substituídas. Também para que se Instalasse
o hábito de utilizar calçados durante todo o dia e pijamas para dormir o mesmo procedimento
foi utilizado. Portanto, enquanto ele não estava calçado ou, à noite, não colocava o pijama,
ele não poderia participar das respectivas refeições.
c) Reforço Positivo
O reforço positivo foi utilizado em todos os comportamentos adequados de Luciano.
Em especial para instalar o hábito de sentar-se no vaso sanitário e evacuar. Ele evacuava
todos os dias quando^stava tomando banho e foi observado que a água morna do chuveiro
lhe era bastante agradável e, por isso, poderia ser utilizada como reforço positivo. Desta
maneira, antes que se iniciasse o banho, o chuveiro era ligado e falado a ele que somente
depois que se sentasse no vaso e evacuasse entraria no Box. Quando, mesmo após
utilizar o sanitário, ele reiniciava a evacuação tomando banho, o chuveiro era desligado e
ele recolocado no vaso.
d) Treinamento
Este procedimento começou a ser utilizado após eliminação da auto-agressividade.
Considerávamos que algumas dependências nas atividades de vida diária e utilização dos
pós em funções manuais eram conseqüências da imobilidade dos braços que estavam
atados. Quando Luciano não necessitada mais estar contido, esses hábitos começaram
a ser treinados e a cada resposta adequada ele recebia reforço material e socíaí. Desta
Gráfico 2
Freqüôncia
quinzenal de
r evacuação no
sanitário
Quinzenas
Gráfico 3
5 *
/ \
■8 4 / \
I 3 ♦ . / \ ♦ ♦ Frequência quinzenal
| i \ do comportamento
£ 2 í ♦ ♦ 4 \ ♦ enurótico
1 ♦ ♦ ♦
0 , , r ♦ T- ♦
1 2 3 4 5 6 78 9 10111213
Quinzenas
A encoprese apresentada por ele era baixa nas primeiras quinzenas, aumentou
por volta do terceiro mês oscilando entre 3 e 4 vezes por quinze dias. Finalmente foi
eliminada como pode ser observado no gráfico 4, da página seguinte três meses antes da
sua alta.
5 , ... - ------------
4 ♦
1
í2
3
. \ ♦ Frequência quinzenal
do comportamento
LL I ©ncoprético
1 ♦ ♦ ♦ ♦
/ .........
0 \ -----------------r t - ♦ - r r ♦
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13
Quin/enas
Gráfico 6
16 •
14 ♦ ♦
12 \
♦ ♦ Freqüência quinzenal do
1 10
comportamento de deitar-se no
1 8 '
♦ chfio
1 6
4 ♦ ♦
2 * \ ...................... ♦ *
0 ♦ i ♦
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13
Quin/enas
Gráfico 7
Freqüência quinzenal
do comportamento de
tirar o calçado
Quinzenas
3. Discussão e Perspectivas
As teorias sobre a sintomatologia e, principalmente, sobre a etiologia e terapia do
Transtorno Autista evidenciaram a superficialidade e os limites dos conhecimentos atuais
sobre esta temática. A multiplicidade e as contradições das interpretações das respectivas
teorias (princípios psicológicos, orgânicos, psicanalíticos, neuroquímicos etc.), nos íevam
à conclusão que, no momento, não se pode partir, no mais longínquo que seja, de uma
etiologia uniforme sobre os transtornos de comportamentos associados ao Transtorno
Autista. Sendo assim, torna-se necessária a intensificação das investigações científicas
buscando aprimorar as relações teórico-práticas.
A compreensão que temos desta problemática ó multidimensional e isto implica
a necessidade de oferecer um tratamento para as diferentes manifestações de
comportamento (independentes da gravidade) não exclusivamente com um método, como
por exemplo, os procedimentos operantes, a estimulação sensorial ou uma terapia
farmacológica; nos parece muito mais ter sentido uma combinação de uma série de
estratégias de intervenções terapêuticas. Esta combinação não deve ser entendida como
um mero alinhamento eclético de métodos isolados um do outro; muito mais decisiva é a
concordância, a influência recíproca das diferentes partes do programa terapêutico, num
processo dinâmico. O mecanismo de atuação deste processo dinâmico, o qual foi
conceituado como Modelo Integrativo necessita, entretanto, de intensas investigações.
A aplicação prática deste modelo requer do terapeuta um empenho elevado. Ele tem que
estar em condições de reagir, em cada fase da terapia, de uma forma flexível sobre o
respectivo desenvolvimento da criança e adaptar suas intervenções posteriores a este
estado de desenvolvimento.
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286 Jo*y ilc Souza Moriyam<i t Vera l úcld AiKiml Raposo do Amaral
Desse modo, propõe-se que através do levantamento das histórias de reforço e
punição de indivíduos particulares, seja possível entender os processos que estabeleceram
determinados estímulos como discriminativos e alteraram os valores do reforço ou punição,
relacionados aos comportamentos atuais categorizados como TDC.
Geralmente, um indivíduo encontra-se em contextos complexos, sob a presença
de inúmeros estímulos, mas parte do contexto foi selecionada como estímulo discriminativo,
antes da ocasião imediata em que ocorre a resposta. Portanto, a discriminação provém da
história de reforço e punição (Baum, 1994). Considerando as definições de Baum (1994)
de que estímulo significa "contexto" e controle significa "mudar a freqüência ou probabilidade"
de uma ou mais ações, pode-se entender o controle de estímulos como a mudança de um
comportamento na presença de um determinado estímulo.
Atualmente, observa-se uma tendência, entre analistas do comportamento, em
enfatizar o controle de estímulos em eventos privados como pensamentos, sentimentos e
lembranças (Moore, 2001 ). Diante das afirmações de indivíduos diagnosticados com TDC
de que emitem comportamentos típicos do transtorno para aliviar a ansiedade, propõe-se
que esteja havendo um controle de estímulos deste tipo.
Entretanto, o principal problema em considerar os eventos privados seria classificá-
los como causas iniciais do comportamento. Estes eventos devem ser analisados em
termos de relações comportamento-ambiente, entendendo que parte do ambiente pode
estar dentro da pele, ou seja, pode ser o "contexto". Como os eventos privados também
são comportamentos, sujeitos às mesmas leis dos comportamentos externos,
primeiramente, é preciso compreender as circunstâncias que causam ambos os eventos:
privados problemáticos e os problemas comportamentais. (Moore, 2001 ).
Sob a perspectiva dos analistas comportamentais todos os comportamentos são
multideterminados. “Na explicação histórica, a ‘causa’ do evento não está presente em lugar
algum, mas é toda uma história de eventos passados" (Baum, 1994, p.87). Não existe uma
única causa ou um agente iniciador que explique a emissão de um comportamento. O que
há são muitas e diferentes variáveis atuando em conjunto, de modo que não se deveria falar
em causas, pois tudo o que existe são relações entre eventos ou entre variáveis (Matos,
1999). Desse modo, para se estudar um comportamento deve-se investigar estas relações
entre eventos, também denominadas de relações funcionais, uma vez que explicam quais
as funções de um determinado comportamento para o indivíduo.
Neste trabalho, a análise dos casos buscou enfatizar, principalmente, as variáveis
históricas, com o objetivo de demonstrar a importância da história de contingências no
desenvolvimento de comportamentos típicos do TDC.
4. Conclusão
A partir da perspectiva de que todos os comportamentos são desenvolvidos através
das interações dos indivíduos com seu ambiente, foram lançadas hipóteses para explicar
alguns comportamentos relatados por três pessoas diagnosticadas com TDC. Além dos
comportamentos relacionados às preocupações com a aparência, categorizados como
TDC, os participantes apresentaram comportamentos inseridos em outras categorias
estruturais. Foram consideradas as histórias de reforçamento que, provavelmente,
R eferên cias
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Segundo Buhlman, McNally, Wilhelm e Florin (2002), o TDC é uma síndrome que
se caracteriza por sofrimento mental e físico sobre defeitos imaginados na aparência e
que possui características associadas à fobia social (medo de avaliação negativa por
parte de outras pessoas), e ao TOC (pensamentos intrusivos sobre a feiúra do defeito e
comportamentos de checagem).
Existem argumentos que tornam o TDC um transtorno relacionado ao transtorno
obsessivo-compulsivo (TOC), ou seja, o TDC não seria uma desordem separada, mas,
uma forma de TOC (Vitello & Leon, 1990; Neziroglu & Tobias, 1993; Petribú & Oliveira,
1999).
Para Amaral (2002), no TOC as obsessões são caracterizadas por pensamentos
repetitivos inaceitáveis e as compulsões por respostas repetitivas mal-adaptativas que
têm como objetivo a esquiva ou fuga dos pensamentos e das respostas fisiológicas
associadas a tais pensamentos, mesmo que por um curto período de tempo. Já no
Transtorno do Corpo Dismórfico estes pensamentos são específicos, pois envolvem dúvidas
sobre a aparência física e para que sejam evitados os pacientes desenvolvem rituais
elaborados.
Desta forma, tentando camuflar o seu defeito, uma pessoa poderá se olhar no
espelho inúmeras vezes, até alcançar uma camuflagem que ela considere a mais eficaz
para que seu defeito fique quase imperceptível. Entretanto, o que ocorre é que checando-
se novamente no espelho tornará a perceber que seu defeito ainda está visível, e os
pensamentos sobre a aparência física serão novamente recorrentes, fazendo com que o
ciclo da camuflagem recomece, até que a pessoa consiga obter algum alívio. Grande
parte do tempo desta pessoa é consumido durante o processo de checagem,
conseqüentemente fazendo com que este comportamento substitua qualquer outro que
seja apropriado e que tenha probabilidade de ser positivamente reforçado (Amaral, 2002).
Assim, segundo Amaral (2001) o repertório comportamental apresentado no TDC
não pode ser mais bem descrito em outra desordem, de acordo com os sistemas
classificatórios de transtornos.
A Tabela 1 mostra o constructo do TDC a partir das informações levantadas acima,
levando em consideração os critérios do diagnóstico do TDC pelo DSM-IV (1994) já
1. Relato de caso
Déficit de "... ah, eles (os pais) Déficit de “...eu trabalho, vou na
reforçadores nunca falaram que eu reforçadores academia e só, né (...) não
positivos faço coisas certas, mas positivos tenho vontade de fazer
quando tem coisa outras coisas (...) no
errada sempre sou eu trabalho é só encheção,
(...) eu nunca ouvi ninguém vê tudo o que eu
assim elogio bom que faço, ninguém fala: pô você
nem meus irmãos...’ é esforçada! (...) parece
que tudo é só obrigação..."
ambientes a meia fuz, cinema, por exemplo, com poucas pessoas, até fazer com que
ela chegue a freqüentar ambientes com maior interação social e iluminados, os quais
fique bem mais exposta (festas, barzinhos, etc).
4. Instalação de comportamentos que sejam incompatíveis com respostas relacionadas
ao transtorno como forma de prevenir que ela se engaje em suas compulsões.
Observar mais outras relações entro pais e filhos e/ Estimular a mãe a criar um modelo
ou assistir filmes que aborde relações adequadas de relacionamento mais reforçador
nas relações famftiares (estes filmes foram com J.
sugeridos).
orientações que são dadas. Os outros aspectos apresentados neste relato ainda estão
sendo trabalhados.
É importante ressaltar a importância da terapia por contingências no processo de
tratamento do transtorno dismórfico corporal (aliás, não somente no TDC), já que não se
limita a diagnósticos centralizados em sintomas, mas se caracteriza por um processo
contínuo, interativo e autocorretivo, não produzindo como produto final o estabelecimento
de um rótulo ou diagnóstico para tratamento e não orientando a avaliação e a psicoterapia
para uma patologia. Desta forma, este modelo está se mostrando eficaz na melhora da
qualidade de vida da cliente e na manutenção desta melhora.
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306 l.aérciti A brfu Vasconcdo*. Cdrollnc Cunh.i d.i Silva, Hlcnr Monrira Curadu c Palrftiu C/ulv.lo
como na psicologia do desenvolvimento, mas como um tema presente em todas as questões
psicológicas. Interessa ao psicólogo investigar como padrões de ação desenvolvem-se e
como são mantidos (Harzem, no prelo). A avaliação do desenvolvimento funcional é
apresentada também por outros profissionais como Brazelton e Greenspan (2002).
O surgimento de padrões de comportamento, logo após o nascimento, assim
como nos primeiros anos de vida tem sido pouco investigado na abordagem analítico-
comportamental. Estudos longitudinais envolvendo mãe-criança poderiam contribuir para
o conhecimento da aquisição e desenvolvimento da linguagem, como sugerido por Ribes-
Iflesta e Quintana (2002). A interação mãe-criança seria, assim, a unidade funcional mínima.
O sistema observacional envolveria categorias comportamentais que poderiam, por sua
vez, ser utilizadas com díades de diferentes culturas, classes sociais e níveis educacionais
(Ribes-lnesta & Quintana, 2002).
Na sociedade contemporânea, ó urgente a investigação de meios eficientes e
humanistas de controle de comportamento e do ambiente para que se possa lidar com
novas tecnologias. Uma falha humana em uma usina nuclear, poderá resultar em efeitos
fatais de grandes proporções (Harzem, no prelo). É urgente também o desenvolvimento de
estratégias que possam transmitir aos pais noções sobre o desenvolvimento infantil, as
necessidades de uma criança, e práticas educativas apropriadas, não coercitivas (Brazelton
& Greenspan, 2 0 0 2 ).
Brazelton e Greenspan discutem a importância do desenvolvimento de
estratégias voltadas para a avaliação da saúde que possam contribuir para uma visão
mais otimista e positiva dos cuidadores para com as crianças. No mundo infantil, o
abuso e a negligência estão aumentando. Assim, torna-se imprescindível para os
profissionais das áreas de saúde e educação não negligenciar famílias e crianças que
apresentam problemas, mas incluí-las em programas que irão contribuir para o
desenvolvimento de uma criança inteligente, criativa, segura e com elevados níveis de
auto-estima. É necessária uma mudança dirigida para uma orientação antecipatória,
preventiva em substituição a um modelo de educação patológico em que os déficits da
criança estào sendo rotulados e remediados (Brazelton & Greenspan, 2002). Há uma
clara interação de déficits neurológicos e estresses ambientais. A forma como os
cuidadores interagem com uma criança, incluindo o cuidado carinhoso, um ambiente
sustentador, o respeito pelas diferenças individuais poderá alterar padrões de
comportamentos, que, de outra forma atingiriam, por influência fisiológica, alguns dos
distúrbios de saúde. Traços fisiológicos não determinam, necessariamente, o potencial
de uma criança, com exceção dos danos incapacitantes (Brazelton & Greenspan,
2 0 0 2 ). “Temos aplicado rótulos a padrões de problemas e síndromes diagnosticadas,
quando a evidência de que muitos desses comportamentos perturbados realmente se
enquadram em síndromes verdadeiras não é ainda convincente" (Brazelton & Greenspan,
2 0 0 2 , p. 1 0 1 ).
Estudos mostram alterações na família brasileira do século XX. Dos anos 30 aos
80, observam-se mudanças no conceito de criança e de práticas educativas adotadas
(Biasoli-Alves, 1997). Nos anos 30 e 40, a ênfase era sobre padrões de comportamentos
que caracterizavam o bem-educado e, posteriormente, sobre a ternura, o lúdico e o lazer.
Os anos 70 e 80 mostraram o diálogo, a compreensão e a afeição para com a criança. O
tamanho das famílias diminuiu, com um menor número de filhos. As mulheres foram para
o mercado de trabalho fora do ambiente doméstico e os valores democráticos permearam
a educação dos filhos. A participação da criança na vida familiar aumentou e ela passou a
308 I aércia Abreu V<i*concelos, Carollnc Cunha da Silva, Hiene Moreira Curado e Patrícia C/alvilo
é possível acessar informações valiosas para a compreensão dos padrões de
comportamentos infantis (Conte & Regra, 2000). A literatura infantil representa um dos
instrumentos disponíveis que, ao ser cuidadosamente analisado, poderá maximizar seus
potenciais benefícios. A criança depara-se com alternativas para solução de problemas
vividos em diferentes áreas e ó possível observar, entre alguns dos ganhos, o
desenvolvimento de sua comunicação, ao aprender a descrever seus próprios sentimentos
e pensamentos; ao emitir comportamentos criativos, soluções originais para os problemas,
e ao desenvolver o comportamento de leitura e uma visão crítica da realidade.
O desenvolvimento desses padrões de comportamentos ocorre quando os
primeiros educadores, pais e professores, utilizam recursos tais como livros, músicas,
filmes e teatro, entre outros, desde os primeiros anos de vida. Livros-brinquedo oferecem
uma ocasião para a emissão de comportamentos por parte da criança, tais como sorrisos,
movimentos do corpo, emissão de sons na presença da estimulação de cores, formas,
texturas e sons presentes em alguns livros. Além disso, uma mãe estará conversando,
sem a necessidade de limitar-se a frases curtas, apresentando o conteúdo do livro com
uma expressão de alegria para a criança. Essas interações com a criança despertarão
seu interesse por diferentes temas e objetos.
Os comportamentos de brincar com livros, ouvir ou assistir histórias, recontá-las
de diferentes formas e a representação em teatrinhos possibilitam a aquisição de: noções
básicas de interação social, valores culturais, noções éticas e, sobretudo, uma visão
crítica da criança, o que tem valor de sobrevivência para grupos familiares e sociais em
nossos dias. É necessário saber criticar e filtrar as informações disponíveis em diferentes
veículos de comunicação (Gontijo, 2004; Vasconcelos, 2003).
A produção de literatura infantil no Brasil tem crescido de forma significativa e
com alta qualidade. As livrarias, por sua vez, têm valorizado essa produção, criando espaços
de leitura e brincadeiras atraentes para a população infantil. Os contadores de história são
cada vez mais freqüentes e prestigiados nesses espaços, assim como em shopping centers,
escolas, eventos festivos familiares e feiras do livro. O contexto de alta produção literária
dirigida à população infantil e as possibilidades de interação com tal produção em espaços
públicos têm favorecido a participação das famílias. Vale ressaltar também a crescente
participação de professores em apresentações de escritores, em eventos científicos
nacionais e em feiras do livro.
O trabalho que será apresentado constitui-se de interpretações, orientadas pela
análise do comportamento, do clássico Branca de Neve e os Sete Anões, versão dos
estúdios Disney de 21 de dezembro de 1937. Essa adaptação feita para crianças foi
selecionada por ser a história mais lida e assistida em todo o mundo (Rahn, 2000). Foi o
primeiro longa-metragem de animação que causou e ainda causa impacto positivo em
crianças e adultos. Análises de contingências presentes no filme de Walt Disney, envolvendo
as interações dos personagens em diferentes contextos, poderão sugerir aos educadores,
pais e professores, terapeutas e outros profissionais que lidam diretamente com a criança,
formas alternativas de ação, em momentos críticos da história para cada criança.
A história envolve a princesa Branca de Neve, a Rainha madrasta, o caçador, um
príncipe e os sete anões (Mestre, Zangado, Feliz, Dengoso, Atchim, Soneca e Dunga). A
beleza da Princesa despertou inveja, competição e vingança na Rainha, a qual tentou
destruir Branca de Neve. Nessa tentativa, a Princesa conheceu os sete anões que viviam
entre as sete colinas, no meio da floresta. Eles tentaram protegê-la da maldade da Rainha,
mas não conseguiram evitar o ataque com uma maçã envenenada. O encantamento pela
310 I «lércici Abreu Vasconcelos, Carolinc Cunha ila Sjlv.i, I licnc Moreira Curado c Patrícia C/alv<U>
A utilização de recursos lúdicos, entre eles a literatura infantil, é fundamental para a
comunicação com educadores, pais e professores, assim como, com outros profissionais
que lidam diretamente com uma criança.
Ao descobrir pelo Espelho Mágico que Branca de Neve era a mais bela, a Rainha
ordenou ao caçador que a matasse. Essa passagem possibilita a discussão da relação
com uma figura de autoridade e o cumprimento de ordens. No contexto da história está
Estas são as primeiras cenas de ação da história, a fuga de Branca de Neve para
o interior da floresta, assustada com o que o caçador dizia "...A Rainha é invejosa, é má,
corra, fuja para bem longe...” Assustada com a tentativa do caçador de matá-la e com as
informações que ele passou, ela corre em direção à floresta e seu medo, despertado pela
situação imediatamente vivida a faz ver o mundo de outra forma. Sua imaginação produz
vários perigos e monstros. O escuro, a noite, os troncos e galhos das árvores tornam-se
animais ferozes em sua direção. Perguntas poderiam orientar um contexto voltado para: O
que é sentir medo? é vergonhoso chorar? É vergonhoso sentir medo? Meninos e meninas
podem ter os mesmos sentimentos? O medo pode nos proteger do perigo? O medo pode
nos impedir de aprender coisas novas ou fazer novos amigos? Preconceitos e algumas
relações entre conceitos tais como, medo-vergonha e escuro-medo podem ser enfraquecidos,
enquanto se fortalecem padrões alternativos, adaptativos ou funcionais.
O escuro e a noite podem contribuir para aumentar sensações de perigos
imaginários ou inexistentes? As crianças são advertidas dos riscos potencialmente
envolvidos nessas circunstâncias, o que possibilita a emissão de comportamentos
preventivos. Entretanto, algumas histórias associam o escuro, a noite, a tempestade a
momentos críticos e assustadores.
Novamente, vale ressaltar que todas as interpretações psicológicas e sugestões
de atividades não devem ser utilizadas, necessariamente, com todas as crianças,
independentemente de suas histórias de vida. É possível encontrar crianças que utilizam
a linguagem da fantasia com seres imaginários sem que isto represente problemas ou
312 I «lérciti Abreu Vasconcelos, Oarollne Cunlw d<i Sllvd, Miene Moreira Curado c Palrldti C/<ilv<lo
dificuldades em seu dia-a-dia. A imaginação possibilita uma busca original de solução
para inúmeros problemas, facilitando, assim, o surgimento de pensamentos originais (e.g.,
Virgolim & Alencar, 1994; Virgolim, Fleith & Neves-Pereira, 1999). Infelizmente, desde os
primeiros anos da criança na escola, o pensamento lógico em detrimento das fantasias é
cada vez mais estimulado. "A educação moderna está em crise... Ela tem gerado jovens
lógicos, que sabem lidar com números e máquinas, mas não com dificuldades, conflitos,
contradições e desafios" (Cury, 2003, p. 139). A escola tem estimulado a discussão sobre
o desenvolvimento de todos os animais e pouco tem falado sobre o desenvolvimento do
homem, sobre seu crescimento emocional (Alves, 2002; Brazelton & Greenspan, 2002).
7. Nossos am iguinhos...
314 l aércid A b rfu Vasconcelos, Caroline Cunlw dd Sllvd, Flicnc M o rtin i C'unido e l\itrki<i 1/dlv.lo
As interações de Branca de Neve com os animais representam também outro
aspecto extraordinário na comunicação com crianças. O respeito, o carinho e a possibilidade
de conversar com os bichinhos encantam a todas elas. No mundo da fantasia amigos
imaginários e grandes amigos no reino animal fazem parte do cotidiano de muitas crianças.
Noções de amor, de enfrentamento do medo e noções de limpeza e organização dentro de
uma casa, cuidados pessoais são transmitidos às crianças quando Branca de Neve
conversa com os animais.
A utiiização de fantoches de animais em brincadeiras com as crianças pode
contribuir para a transmissão de conhecimento e de criação de um vínculo positivo com
diferentes animais. A interação com o reino animal pode incentivar a educação ambiental,
o cuidado com plantas e animais, a separação do lixo, a reciclagem, o uso moderado da
água e tantos outros temas urgentes na formação das novas gerações.
Uma outra característica da obra de Branca de Neve e os Sete Anões ó a ênfase
nas diferenças individuais dos sete anões. O Mestre, o líder; o Zangado, com seu mau
humor e clara rejeição pelas mulheres, embora seja um importante tecladista em momentos
de festa. Branca de Neve mostra-se compreensiva, diante das críticas de Zangado, lutando
para que ele mude sua opinião em relação a ela, o que acontece no transcorrer da história.
O Dengoso tão envergonhado, tímido; o Atchim, com sua alergia; o Soneca, tão cansado;
o Feliz, sempre disposto e sorridente e o Dunga, o anão com deficiência, o qual nunca
falou. Dunga, participa de todas as atividades, trabalha e se diverte como todos os outros
e não é isolado ou superprotegido por sua deficiência. O convívio entre os anões ó
harmonioso, todos opinam, são ouvidos e aceitos.
Ao Dunga foi atribuída a difícil tarefa de descobrir quem estava dentro do quarto.
Porém, ele não sabia argumentar e, tampouco negociar outras formas de resolver esse
problema. A crianças são impostas também muitas tarefas ou lhe são atribuídas
responsabilidades sem que estas tenham alternativas de escolha. Portanto, de forma
lúdica, elas podem ser conduzidas à formulação de argumentos e à criação de novas
formas de resolução de tais problemas.
Uma análise sobre os personagens pode se tornar uma ocasião de aprendizagem.
O comportamento de rotular as pessoas por suas características mais marcantes, físicas
ou intelectuais é muito comum em nossa sociedade e os educadores ou terapeutas poderão
alterar esse padrão de comportamento. As crianças são muito sensíveis a mensagens
sutis que refletem discriminação de gênero, idade, raça, credo, nível socioeconõmico,
dentre outros. A promoção de um ambiente mais reforçador e acolhedor quanto às diferenças
individuais pode facilitar a comunicação de todas as pessoas envolvidas. A variabilidade
de opiniões, de histórias de vida, de valores poderá ser cada vez mais apresentada, a qual,
por sua vez, contribuirá para um ambiente mais rico, favorecendo a sobrevivência dos
grupos culturais envolvidos.
316 l dérclu Abreu Viinconcelo*, C\irollne Cunhd d.i S||v<i, Hiene M oreiw Cunido c l\itrki<i t/<ilv«lo
poderão ser estimuladas a pensar nos cuidados que devemos ter com nossos hóspedes.
Em que momentos são importantes os comportamentos de pedir licença, dizer por favor,
agradecer, se desculpar? Que benefícios estes comportamentos podem trazer?
318 l.aércia Abreu Va*concelo», Caroiinc Cunha da Silva, Elienc Moreira Curado c Patrícia Qalvilo
O final feliz da maior parte das histórias infantis, representa para a criança a
possibilidade de solução dos problemas vividos pelos personagens que souberam respeitar
os direitos de outros. Branca de Neve livra-se do feitiço da Rainha madrasta e reencontra
o Príncipe. Por outro lado, a madrasta não teve seus sonhos realizados, envolvendo a
destruição da Princesa, chegando ao final da história de forma trágica, com sua queda de
um penhasco. Os conceitos de bom e mau e os finais felizes e tristes podem se tornar
também temas de discussão com crianças ao envolver as seguintes questões: Fazer o
bem sempre ó seguido por conseqüências positivas, enquanto fazer o mal é seguido por
conseqüências negativas?
Em Branca de Neve e os Sete Anões diferentes conceitos, valores, regras e
outros padrões de comportamentos podem ser discutidos de forma lúdica com a criança.
A programação de contingências, por parte de educadores ou terapeutas poderá favorecer
ao enriquecimento do repertório comportamental das crianças, com a manipulação de
estímulos antecedentes e conseqüentes. Estímulos discriminativos podem constituir uma
ocasião que favorecerá a emissão comportamentos funcionais e novas soluções para os
problemas vividos pelos personagens. Assim, questões reflexivas, jogos nos quais
alternativas de solução para os problemas são apresentadas, filmes, dramatizações, teatro
de bonecos, a música, redações, entre outras possibilidades aplicadas individualmente
ou em grupos podem fazer parte dos estím ulos discrim inativos utilizados. A
conseqüênciação positiva para os comportamentos emitidos pelas crianças cria um
contexto receptivo, não coercitivo, favorecendo a expressão de diferentes opiniões. O
reforçamento natural, em oposição ao reforçamento arbitrário, tornará a situação de
aprendizagem mais próxima ao ambiente natural, o que facilita a ocorrência de
generalização de estímulos (e.g., Kohlenberg & Tsai, 1991/2001). Isto ó, a emissão dos
comportamentos adquiridos em um determinado ambiente para outros ambientes
constituídos por semelhanças físicas ou funcionais (e.g., Gadelha, 2003; Gadelha &
Vasconcelos, no prelo). Estas estratégias lúdicas contribuem para o desenvolvimento da
criança, especialmente nos campos intelectual e emocional.
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320 L itrd ti Abreu Vasconcelos, Caroline Cunha da Silva, Mlene Morvlra Curado e Patricia C/alv,lo
= = Capítulo 30
Terapia de grupo como processo
interpessoal
Luc Vândcnbcrghc
i/nivcrsidn/c L\itóHcd </<• C/o/<í$
2. Reflexões
O grupo pode ser um contexto excelente para FAP por três motivos.
(1) Os antecedentes: Situações sociais difíceis acontecem realmente no grupo e de
maneiras bastante variadas. Não precisam ser introduzidos em forma de role play
porque fazem parte do encontro entre pessoas.
(2) Os comportamentos: O cliente realmente precisa lidar com estas situações. Não se
trata de ensaiar, mas de ação no seu próprio direito.
(3) As conseqüências: Os outros membros do grupo realmente reagem ao comportamento
do cliente (sem precisar fazer um papel) porque suas atitudes têm efeitos sobre eles e
precisam lidar com estes efeitos.
Tendo estas características, os processos interpessoais espontâneos no grupo
possibilitam os episódios genuínos (em contraste com ensaios, treinos, exercícios ou
dramatizações), que de acordo com FAP têm o maior potencial curativo, por transformar
diretamente os padrões clinicamente relevantes, através da vivência do encontro com
outras pessoas.
Se o grupo tem todas as características necessárias, ainda precisa de terapeutas?
E para que? Acredito que numa terapia de grupo, segundo os princípios da FAP, o trabalho
do terapeuta ó crucial. Suas tarefas são complexas e estrategicamente delicadas. Elas
incluem:
• Propor e coordenar as discussões.
• Moderar as trocas entre participantes.
• Destravar seqüências de interações repetitivas quando necessário.
• Tornar as interações mais intensas.
• Evocar comportamentos clinicamente relevantes.
• Instigar interações nas quais os participantes podem aprender algo relevante para os
seus problemas.
• Facilitar reforço positivo e interromper interações punitivas.
• Cuidar para qufe novas táticas valiosas (mas inicialmente ainda fracas) que emergem
no meio das trocas, não sejam extintas pelo grupo.
• Além disso, é uma das pessoas que está envolvida na interação, o que o torna
inevitavelmente, um participante do grupo.
Psicoterapia analítico-funcional num grupo é uma inovação, mas não ó uma quebra
com as técnicas estabelecidas do grupo comportamental estruturada em módulos de
aprendizagem. Não se trata de eliminar as técnicas tradicionais da terapia comportamental
em grupo, para deixar as interações espontâneas predominar. Módulos programados,
temas sucessivos com atividades escaladas, podem ser aproveitados como contextos de
encontro, de colaboração e de convivência para se fazer FAP.
Como conduzir FAP nestas condições? Trata-se de atentar-se às trocas que
acontecem entre os participantes como pessoas envolvidas em atividades em conjunto,
conhecendo um ao outro, ajudando, criticando, colaborando com ou defendendo-se do
3 24 l.uc Vcinilcnborfllie
outro. Consiste em prestar atenção a eventos mais importantes que ocorrem entre estas
pessoas, o terapeuta e os participantes, enquanto estão participando destas técnicas. É
olhar além das técnicas e levar a sério o comportamento.
Fazer FAP só é possível quando você não considera o que os clientes falam como
comunicação sobre outros tópicos, mas como comportamento relevante por si mesmo.
Assim, cada fala pode ser uma manifestação do problema ou uma melhora ao vivo. A
vantagem da FAP é que os participantes do grupo não aprendem sobre a vida, como é o
caso com técnicas de dramatização, treino de habilidades ou ensaios comportamentais.
Aprendem pela experiência direta a lidar com o outro e com problemas reais durante a
sessão. A interação no grupo, assim, nào é um contexto didático, mas uma oportunidade
de aprendizagem e de crescimento coma própria vida.
Com todo o anterior, sugeriu-se que os princípios da FAP constituem uma opção
interessante para intensificar e aprofundar o processo de mudança em terapias de grupo.
R e fe rên c ia s
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reflexão teórica à diversidade na aplicação. Santo Andró: ESETec Editores Associados
Kohlenberg, R. & Tsai, M. (2001), FAP. Psicoterapia Analítico Funcional. Santo Andró : ESETec.
(Original 1991. Tradução organizada por R. Kerbauy).
1 Pfticòlogn, doutoranda em Pnlcotog)« do IPUSP, Docente UNIP- SAo Joeé do Rio Prelo
1.1 Cliente
A cliente, a quem chamaremos pelo nome fictício de Mila, tem 28 anos, bacharel
em Direito, solteira, desempregada. É gaga desde a adolescência.
SobreComportamentocCognição 329
de 50 minutos cada. Após um ano de atendimento integrado, foram reavaliados alguns
aspectos do comportamento de Mila, que estão apresentados no quadro abaixo:
Com relação ao isolamento social, Mila conseguiu vários êxitos. Voltou a falar
com uma amiga de infância, que mora apenas a cem metros de sua casa e com a qual
não mantinha contato havia dois anos.
Sua aparência física modificou bastante, em comparação com o início da terapia.
Hoje apresenta-se bem arrumada, com batom e blush de tonalidade discreta, brincos e
colares, assim como mudou o corte do cabelo. Tem observado rapazes e está atenta a
olhares e comentários por parte deles, com o objetivo de paquerar e arrumar um namorado.
No início da terapia chorava em todas as sessões. Um ano após, conseguia falar sobre
coisas que a magoavam, sem chorar.
Decidiu trabalhar em áreas diferentes da advocacia e prestou dois concursos
públicos, na época, mas não passou. A terapia continuou por mais 8 meses e foi
interrompida.
Atualmente, M. está trabalhando em um banco estatal, selecionada após um
concurso público em que se saiu muito bem. Está namorando e relata ser feliz. Há
revalidação social de sua melhora: sua mãe entrou em contato, por duas vezes, para
relatar as mudanças benéficas que ocorreram na vida de sua filha.
2. Pow er 2- Tratam ento cognitivo com portam ental para prevenir a recaida
em adolescentes que gaguejam .
A obtenção da fluência é suficiente para mudar sentimentos e atitudes do gago?
Para Dr. Blood, eminente patologista da fala, não. Para ele, mudanças nas atitudes
e nos sentimentos não resultam, necessariamente, dos procedimentos de modelagem da
fluência. É necessário trabalhar as mudanças cognitivas, instalando novas habilidades e
prevenindo recaídas, além da manutenção e transferência dos ganhos para outros contextos.
Para isto, esse autor propõe o Power 2 (Blood, 1995) que é um programa que foi desenvolvido
com o propósito de prevenir a recaída e fornecer uma maneira fácil e estruturada de ensinar
adolescentes a lidar com a gagueira e com seus sentimentos.
Após um treinamento intensivo da fluência, durante 25 horas, é introduzido o
Power 2, que é um jogo de tabuleiro, através do qual são trabalhados pensamentos e
sentimentos sobre responsabilidade, domínio, resiliência, auto-estima e recuperação, por
um mínimo de 50 horas. A terapia, nesta fase, incluía também revisões e prática dos
comportamentos e habilidades adquiridos na fase anterior, além de ensinar estratégias
para enfrentar situações de recaída ou percebidas como muito estressantes.
Power* é uma reunião das iniciais de P(permission), O(ownership), W(well-being),
E (esteem of one’s self), R(resilience) e R2(responsability). Nesse jogo, o participante
joga dois dados, um com letras (P,0,W,E.R,R2) e o outro com números( 1,2,3,4,5,6 ). Se
tirar, 4 e P, por exemplo, vai andar 4 casas e responder uma pergunta sobre
Responsabilidade.
Em cada casa de jogo pode haver letras; se cair numa letra F(power-full), o
participante deve responder de uma maneira mais positiva, construtiva, segura. Se cair na
letra L(power-less), vai responder de maneira menos positiva, menos segura e menos
produtiva. De acordo com Blood (1995), esta forma de dessensibilização e prática negativa
ajuda os clientes a imaginar de que maneira estão reagindo à sua gagueira e às situações
R eferên cias
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260-313.
1. O Modelo Transteórico
A elaboração do modelo transteórico começou a partir da análise dos resultados
divergentes de diversos estudos, onde alguns mostravam que a aderência a um tratamento
formal faz com que as pessoas modifiquem comportamentos indesejados; outros, no
entanto, referiam que as mudanças podem acontecer sem nenhum tipo de ajuda profissional,
' Puloóloga. Moalm nrti Ptlootogla Clinica - PU CRS, Fantiklad* d* Ciénd*a Humana* e da Saúdo de Taquara (RS), Contro d« Paaqutaa am Aluxil n Droga*
-U F R 08
1 Pilcôtoga, Doutora em Ciência» da Saúda - UNIFESP.Progrania da Póa-Qraduaçâo um Psicologia - PU C R S
* É utilizado o padrAo de 6 meses porque se considera que este é o futuro mais distante no qual as pessoas
plane|am mudanças especificas para comportamentos problema.
Fonte«: Velicer, Prochaska, Fava, Norman, Reddlng (1998); Velicer, Rossi, Prochaska & DICIemente (1996);
Prochaska elal. (1992); Mlller & Rollnlck (2001); Mlller (1998).
2. Relato de pesquisa
O principal objetivo desta pesquisa foi estudar a motivação para a mudança em
sujeitos internados por dependência de cocaína através de um delineamento transversal.
Para fins deste relato serão apresentados os resultados obtidos com a administração da
URICA (University of Rhode Island Change Assessment), que é a escala desenvolvida por
Tabela
Médias, medianas e desvios-padrão das subescalas da URICA
Mínimo 8 25 21 18
Máximo 34 40 40 41
3. Conclusões
Embora este estudo tenha algumas limitações importantes tais como: amostra
reduzida e obtida por conveniência, e a utilização de instrumentos não validados para
amostrar de dependentes de cocaína, acredita-se que seus dados possam ser utilizados
para a formulação de novas questões de pesquisa, bem como para reflexões sobre a
prática clínica nas unidades de tratamento para a dependência química.
Para finalizar, sugere-se tendo em vista os dados mencionados, que durante o
processo terapêutico de um indivíduo dependente químico, esteja ele em tratamento
ambulatorial ou em internação, sejam realizadas periodicamente avaliações individuais de
sua motivação para a mudança. Só assim pode-se delinear estratégias eficientes de
abordagem tendo em vista o estágio motivacional em que o paciente se encontra.
R eferên cias
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N ione Torres'
lA C tr
e M yrna Chagas Coelho'
lACkP
Este trabalho propõe uma reflexão sobre as possíveis relações entre o stress e o
transtorno do pânico, mas sem a pretensão de realizar conclusões pois ele baseia-se em
observações do cotidiano clínico. Observa-se, na prática clínica que, muitas vezes, se não
na maioria, as queixas são tão amplas e as contingências tão variáveis que se faz
necessário, com certa freqüência, lançar mão de enquadramentos clínicos. Dessa forma,
considera-se importante a discussão do que se tem evidenciado: a estreita relação causal
entre contingências geradoras de stress, repertórios comportamentais de enfrentamento
deficiente e o transtorno do pânico.
Inicialmente serão utilizadas verbalizações de um cliente diagnosticado com
transtorno do pânico pelo psiquiatra que o encaminhou. M. tinha 32 anos, sexo masculino,
recém-casado, empresário, e, em suas primeiras sessões de terapia assim relatou:
“Eu tenho ’pânico'. Nào sei bem como tudo começou, só sei que grandes problemas
eu tive, na verdade, dez meses atrás, ao mudarmos para uma casa em construção... A
casa dos sonhos da minha esposa... Demorou muito para ser terminada: problemas com
o engenheiro, còm o terreno, o dinheiro acabou, aí, diminui a marcha da construção, mas,
já estávamos dentro dela. Quartos e cozinha inacabados... Tudo incompleto. Nâo suporto
viverem desorganização; nào agüento mesmo! Dá uma sensação horrível... Fico ansioso
demaisl Quero resolver tudo rapidamente I Também tenho medo de viver numa casa.
Desde que nasci, morei em apartamento. Meus pais tentaram mudar para uma casa, nâo
aceitei... Quando me casei, minha esposa quis... Fomos e foi péssimo, nào me adaptei e
voltamos em menos de dois meses. Ê fato... Nâo gosto de mudanças - nenhuma.
Trabalhei a vida toda com meu pai. Nâo é fácil, mas acho que pior seria se tivesse que
passar por mudanças e mudanças de emprego, relacionamentos e tudo mais. Preciso
me sentir seguro em tudo, por Isso ó difícil me adaptar. Evito mesmo... se nâo
consigo, sofro multo... Nesta mesma época, meu pai passou por uma grave doença... e
•Pncôtoo«» Clinica* da InatKuto d* Análtaa da Comportamento em Eitudoa e Pakxtampta - IACEP Londrina/ Pr • Bratll
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p.213-224. .
2. Prevalência e curso
Conforme Kaplan & Sadock (1996) o transtorno possui uma prevalência de 20:1
(homens e mulheres). Para compreendermos estas discrepâncias é necessário recorrermos
às teorias evolucionistas que abordam a assimetria do comportamento sexual entre homens
e mulheres.
Conforme Buss (1998) e Caminha (1999) há significativo grau de assimetria sexual
no comportamento masculino e feminino, variando as estratégias masculinas mais ao
nível quantitativos as femininas mais ao nível qualitativo, formando diferenciado nível de
estratégia na escolha de parceiros sexuais.
Estima-se que os transtornos parafílicos ao nível epidemiológico estejam
subestimados. Infere-se desse modo que o número de parafílicos seja significativamente
maior, contribuindo para o subdiagnóstico a difundida e aceita cultura da pornografia em
muitos substratos sociais (Perry & Orchard, 1992).
Outra importante questão se refere ao nível de procura espontânea de tratamento
de parafilias. Há um baixo nível de dissonância cognitiva nestes pacientes, o que não
ocasiona demanda por tratamento. Qualquer clínico experiente não deve possuir muitas
histórias para contar acerca de pacientes que o tenham procurado com queixas do tipo:
“vim buscar tratamento, pois tenho impulsos sexuais com crianças".
Tais afirmativas quanto ao subdiagnóstico das parafilias são pertinentes tendo-se
em vista que a cada ano novos escândalos relacionados à pedofilia são divulgados em
3. Principais Co-morbidades
A rigor ainda não conseguimos afirmar com relativo grau de certeza no que tange
a pedofilia como um todo, exceto caso a caso, se a pedofilia é gerada como co-morbidade
por algum outro, ou ainda vários outros transtornos específicos, ou se ela ó uma decorrência
co-mórbida comum a várias psicopatologias.
Caminha (2003) após estudos epidemiológicos anuais com maus-tratos infantis
pende mais para a idéia de que o quadro de pedofilia é uma conseqüência recorrente a um
espectro específico de outros transtornos, sobretudo os de Eixo II, os Transtornos de
Personalidade, que por sua vez, possuem alto grau de correlação com abuso sexual e
físico na infância e o naturalmente comum a crianças abusadas, Transtorno do Estresse
Pós-Traumático Infantil.
•aquamaa
raparadora*
•aquamaa parmlaalvoa
(dlaaoclaçAo-avitaçlo)
5. Modelo de Tratamento
Pedófilos são pacientes difíceis de serem tratados no mundo todo justamente
pela tendência de não-revelaçâo e de não-percepção de seus comportamentos como
patologia.
A imensa maioria destes pacientes é acessada por pesquisadores e terapeutas
quando se encontram cumprindo pena em alguma instituição penal e cada país tende a
tratá-los conforme o previsto em seus códigos penais e os modelos terapêuticos que
dispõe.
A literatura registra modelos discrepantes de tratamentos de pedófilos conforme
diversos países. Países nórdicos até poucos anos atrás apelavam para a castração física,
hoje muitos deles estão utilizando a castração química através de injeções de hormônios
inibidores de esteróides sexuais (Perry, 1992).
Países como Bélgica utiliza centros de tratamento com tecnologias como a
falometria capaz de mapear os estímulos mais potentes para desencadear o comportamento
pedofílico. Na Bélgica os pedófilos são monitorados periodicamente e os índices de recaída
ficam apenas na faixa dos 15%, muito baixos se considerarmos pedofilia como um
comportamento compulsivo (Marshall, 2002).
Na Inglaterra e Estados Unidos perduram os modelos comportamentais e cognitivo*
comportamentais no tratamento destes pacientes (Salter, 2003).
Apesar dos modelos diferirem de país a país, algumas características são imutáveis
devido o perfil do pedófilo.
5.3. Individuais: quando o paciente após a avaliação padrão não se beneficia com o
tratamento grupoterápico.
7. Conclusões
Ensaios clínicos são necessários para maior conhecimento científico e elaboração
de modelos replicáveis nesta difícil patologia. A pedofilia possui forte impacto social e no
processo de desenvolvimento de crianças e adolescentes que são expostos á ação de
pedófilos.
Estudos recentes apontam para graves patologias decorrentes de exposição a
abusos infantis. A exposição de crianças a atos pedofílicos é tão grave que é capaz de
gerar definitivas alterações na arquitetura neural das crianças expostas a estes estímulos.
A principal patologia decorrente de abusos infantis ainda é o transtorno de estresse
pós-traumático, grave patologia altamente correlacionada com transtornos de personalidade
na vida adulta, de comportamentos compulsivos e de exposição a riscos.
O comportamento pedofílico è resultante de um severo esquema disfuncional
patológico. Tal comportamento se caracteriza por ser uma patologia que gera patologia.
Assim sendo serve para retroalimentar o padrão de repetição da violência através de
gerações de adultos que interagem com crianças denominado de multigeracíonalidade,
fonte permanente de abusos infantis.
Interferir terapeuticamente na pedofilia ajuda a interromper o drástico ciclo de
violência e de patologias que acometem as vítimas dos pedófilos, diminuindo o impacto
social negativo gerado a partir do desencadeamento deste comportamento.
Referências *
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Editores Associados.
354
Capítulo 35
Metodologia de pesquisa da interação
terapêutica
Soniâ Beatriz Meyer
Pcfurtiimcnto de PsicohgU CHnicü do /PL/ST
1. A pergunta de pesquisa
O primeiro passo para a condução de uma pesquisa é a formulação de uma
pergunta de pesquisa. Pode-se perguntar sobre 1) os resultados da psicoterapia; 2) o
processo de produção de mudanças em psicoterapia; 3) a influência das variáveis do
terapeuta, 4) do cliente, 5) da relação terapêutica.
4. Coleta de dados
Para responder perguntas sobre o processo de mudança, a melhor fonte de dados
é a análise de sessões de terapia. Para isso têm sido usadas gravações de sessões em
5. A nálise de dados
Existem diversos sistemas de categorias de análise de sessões tanto na literatura
nacional quanto internacional e tanto de pesquisadores comportamentais como não. É
possível usar categorias já desenvolvidas ou criar novas de acordo com os objetivos do
estudo. A vantagem das categorias já desenvolvidas está na comparação entre estudos.
Um exemplo de sistema nacional de categorias de verbalizações de terapeutas e clientes
é o elaborado pelo Grupo de Estudos em Análise do Comportamento da Universidade
Federal do Pará. Na literatura internacional temos como exemplo o livro "Helping Skills:
The Empirical Foundation" organizado por Clara Hill (2001).
7. Consideração final
Não devemos nos esquecer dos limites quanto à confiança que se pode ter nos
resultados obtidos assim como possibilidades e limites quanto à sua generalização.
R eferências
1.2 Heterogamia as diferenças existentes entre as pessoas sâo vistas como fatores de
complementação, de enriquecimento e neste caso, fundamentalmente funcionam como
critérios de escolha dos parceiros. Dentre eles os mais comuns são: maneira de ser (mais
falante, mais calado, assertivo, inassertivo) diferenças de opiniões, afazeres, gostos,
interesses. Neste critério de escolha, cada parceiro ora atua como controlador ora como
suplemento do outro. As diferenças são vistas como elementos de atratividade, interpretadas
pelos pares como facilitadoras da vida a dois. Entendendo assim, eles se escolhem
mutuamente. A partir disso muitos acordos e concessões se tornam necessárias ao
estabelecimento de uma boa convivência.
O namoro é uma fase do relacionamento na qual as pessoas se conquistam
visando uma vida futura: ambos explicitam suas melhores idéias, a melhor ’maneira de
ser’ e de resolver questões divergentes. Os encontros são mais esporádicos e quase
sempre têm por objetivo a recreação, o lazer e o prazer. As diferenças e semelhanças
potencialmente conflitantes, em geral, não costumam se caracterizar como problemas
nesta fase.
Após a decisão de viverem juntos’ e o conseqüente aumento do tempo de
convivência, revelam-se mais claramente suas características individuais, estados de humor,
hábitos de vida e preferências pessoais: os valores e os padrões de relacionamento tornam-
se mais genuínos. Nesta fase nem sempre desejam as mesmas coisas ao mesmo tempo
eda mesma maneira.
Desenvolvem-se as regras de convivência e a prática de negociações. Negociação
deve ser entendida como a busca da melhor solução para que ambos se sintam respeitados
e considerados no enfrentamento de suas divergências. A partir de então, as decisões
pessoais de um já afetam a vida de ambos. É muito comum neste período surgirem
dificuldades que a primeira vista não parecem de grande importância, embora sejam
responsáveis pela maioria dos desajustes encontrados na clínica de casais.
3. O bjetivos gerais
Os objetivos gerais do processo psicoterápico de casais propõem o
estabelecimento de algumas estratégias que facilitam a mudança na direção desejada.
Estas estratégias incluem atividades como o treinamento em solução de problemas, o
treinamento em comunicação, a programação de condições para o aumento de trocas
positivas e a reestruturação de cognições (autoregras) problemáticas (Beck, 1988; Papp,
1992; Caballo, 1996; Barlow, 1999).
8. Habilidades do terapeuta
Christensen e Jacobson (2000) sugerem que especialmente na prática da terapia
comportamental integrativa o terapeuta de casais tenha algumas habilidades e seja capaz
de: a) ensinar os parceiros a reconhecerem a polarização; b) ensinar os parceiros a
formular a descrição de suas histórias, c) estar apto a distinguir entre variáveis básicas e
derivativas, d) manter uma atmosfera terapêutica bastante relaxada, apesar dos casais
estarem vivendo conflitos severos; e) evitar a ocorrência de confrontos; f) interromper a
interação destrutiva, sem contribuir para a linguagem raivosa e acusatória; g) manter uma
posição não confrontativa, tentando não entrar em nenhum dos lados; h) exercer uma
influência apaziguadora, sendo que quando isto não for possível a sessão deverá ser
interrompida e poderão ser realizadas mini sessões individuais para tentar o
equacionamento da situação; i) usar a linguagem da maneira que 'seja familiar' ao cliente,
tentando utilizar as mesmas palavras e expressões proferidas pelos casais.
Além disso, o terapeuta habilidoso usará de metáforas pertinentes, ficando sempre
atento ao tipo de linguagem do casal; tem habilidade para usar o bom humor e fazer os
casais rirem de situações que vivenciam assim como deve ensiná-los a rir de si mesmos.
Utilizará linguagem da aceitação, para guiar os casais no sentido de desenvolverem uma
maneira diferente de falar sobre os problemas. Enfatizará a experiência de cada um ao
invés de salientar o que o parceiro fez ou disse. Encorajará os parceiros a falarem sobre
suas próprias experiências. Quando falarem acerca de si mesmos, o terapeuta os estimulará
para que façam revelações suaves ao invés de apontarem ou abordarem incisivamente
temas difíceis para o casal.
R e fe rê n c ia s
5. Prevenção de Recaída
A Prevenção de Recaida é uma abordagem que promove e mantém a mudança do
comportamento adicto. O dependente químico aprende a prever e a lidar com a possibilidade
da recaída. A recaída é o retorno do uso da substância, no momento que o indivíduo esta
buscando a mudança de seu comportamento indulgente. O indivíduo retoma o consumo
da droga depois de permanecer determinado período em abstinência, tendo realizado
nesse espaço de tempo tentativas de mudança comportamental (Marlatt e Gordon, 1995).
O indivíduo deve ter iniciado uma mudança no seu estilo de vida. O que determina a
ocorrência ou não de uma recaída, além do período de abstinência, é se o consumo foi ou
não precedido por uma tentativa de mudança comportamental (Irvin et al, 1999).
As taxas de recaídas entre dependentes químicos são altas, especialmente entre
indivíduos que saem de um tratamento em regime de internação. O indivíduo sente uma
falsa sensação de autocontrole em relação ao consumo da substância, após permanecer
em ambiente protegido. A maior parte destes sujeitos acredita que somente a permanência
em ambiente controlado é suficiente para não retomar o uso da substância. Geralmente o
dependente químico apresenta dificuldade para compreender que sua recuperação
dependerá de diversos fatores que não somente a permanência neste tipo de ambiente;
aliás, a internação não é condição si ne qua non para a reabilitação do indivíduo.
Apesar das taxas de recaídas serem altas, alguns fatores são reputados como
indicadores de bom prognóstico, como, por exemplo, a procura voluntária pelo tratamento,
a participação ativa do sujeito no seu processo de reabilitação e um histórico de bom
funcionamento social anterior ao diagnóstico da dependência (Leite et al, 1999).
Antigamente a recaída era considerada uma falha completa no tratamento. O
profissional não discutia e nem levantava a possibilidade da sua ocorrência e tão pouco
como esta poderia ser evitada. Os tratamentos desenvolvidos para dependentes químicos
eram constituídos por uma fase de promoção àa abstinência imediata, sem a preocupação
da manutenção da mesma por um período maior. Atualmente a recaída é um indicativo de
que algo no processo terapêutico está necessitando de uma revisão; é considerada uma
ocorrência totalmente aceitável, porém que pode ser evitada (Miller, 1995).
De maneira geral, a recaída é o conjunto de sucessivos acontecimentos internos
e externos ao indivíduo que se iniciam antes mesmo dele retomar o uso da substância.
Devido a isso, é difícil determinar com exatidão quando começa o processo da recaída
(Marlatt e Gordon, 1995). O próprio indivíduo tem dificuldade para perceber estas mudanças
e emite comportamentos que podem desencadear uma recaída. Quando percebe a situação
fora do seu controle, sente-se incapaz de reverte-lá. As fissuras tornam-se cada vez mais
intensas e o indivíduo se coloca em situações de risco buscando maneiras de obter a
substância. Dessa forma, o sujeito retoma o padrão adicto finalizando o ciclo de
acontecimentos que caracterizam a recaída completa. A retomada do uso da substância
não significa necessariamente que houve uma recaída total. Ao contrário do que se observa
o indivíduo pode ter apresentado um lapso. O lapso é considerado como um primeiro sinal
de violação nas regras para a promoção e manutenção da abstinência, pode ser o início de
R eferên cias
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Sessões 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
Ataques de Pânico 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2
Exercícios 3 3 3 3 3 3 2 3 3 3
Exposição 0 1 2 2 2 2 2
Sintomas da Depressão 0 0 1 2 3 3 3 3 2 2 2 3
Sono 0 2 2 3 3 3 3
Uso de Tranquilizante 3 0 3 3 3
Pensamento catastrófico 1 1 2 1 2 2 2 2 2 2
Relação c/ Família 0
Relação d Marido 1.5 0 1.5 0 3 0 0
Relação d Filhos 0 0 1.5 3 3
Percepção jie Mudança 1 1 2 2 2 3
Assertividade 0 2 3
R eferên cias
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A Formação de
Psicoterapeutas
Capítulo 39
Análise correlacionai entre repertório
em habilidades sociais em terapeutas
iniciantes e o estabelecimento da
relação terapêutica1
Karine Amaral Magalhães - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo,
Josiane Cecília Luzia - Universidade tstadua! de Londrina
José Carlos Palmas - Universidade tstadua! de Londrina
1. Relação Terapêutica
Segundo Meyer e Vermes (2000), a psicoterapia pode ser definida como um
processo em que os principais objetivos são a promoção de mudanças comportamentais
que, consequentemente, levem a uma diminuição dos eventos aversivos responsáveis
pelo sofrimento e também aumente as contingências reforçadoras para o indivíduo. Para
que tais objetivos sejam alcançados, diversos procedimentos e técnicas são utilizados.
Todavia, isto gerou a noção de que terapeutas comportamentais exerciam apenas o papel
de "modificadores de comportamentos" utilizando-se da tecnologia do condicionamento
operante (Ferster, 1979), o que disseminava ainda mais a concepção errônea de que o
Behaviorismo Radical se caracterizava como uma abordagem mecanicista e reducionista
do comportamento humano.
Para Silveira e Kerbauy (2000) a pesquisa em Psicoterapia dividiu o contexto clínico
em dois segmentos. Estes se propunham a analisar as variáveis que contribuíram para a
obtenção dos resultados terapêuticos: as variáveis específicas, caracterizadas pelas ações
intencionais co*mo procedimentos e técnicas aplicadas pelo terapeuta e, as variáveis não
especificadas que "referem-se às qualidades inerentes a uma relação humana satisfatória,
tais como a empatia e aceitação incondicional" (Silveira e Kerbauy, 2000, p. 214).
Sabe-se que a relação construída entre o cliente e o terapeuta pode funcionar
como uma variável preditora de bons resultados da terapia (Digiuseppe, Linscott, Jilton,
1996) pois uao início do atendimento, o clínico não dispõe de procedimentos específicos
para auxiliar seu cliente, necessitando recorrer à própria relação terapêutica [...]e ao seu
repertório pessoal, construído ao longo da vida, para levar o cliente a se engajar no
tratamento. "(Wielenska, 2000, p.9). Para Novaki (1999), o papel do terapeuta, no início do
processo terapêutico, caracteriza-se por um envolvimento nas discussões e avaliações,
1Trabalho deaenvolvtdo pela primeira autora, orientado pota «egunda. no Curto de Espedalbaçio em Palcolerapia na AnátiM do Comportamento •
aaaettorado pelo terceiro autor not quealtoa eatatliUoo* • apresentado como Comunicação Coordenada no XII Encontro da AaaoclaçAo Bratllelru de
PaJcuterapJa e Medicina Cornpof lamentai - ABPMC, 2003
394 Karfnc Amaral McigulhAet, losl.inc Cccflld l.u/l.i c lo*é t <irlo* l)<ilma
O termo competência social, anteriormente definido, também se constitui em um
importante requisito na formação de profissionais de várias áreas de atuação, pois pode
evitar dificuldades adaptativas ao desempenho profissional destes (Del Prette e Del Prette,
1997).
Com base nisto, a importância das habilidades sociais para o profissional da área
de Psicologia Clínica se dá em função do caráter essencialmente interativo de suas relações
com seus clientes.
"A natureza essencialmente interativa da atuação profissional de psicólogo aponta
para a necessidade de avaliar a aquisição de habilidades interpessoais ao longo
da formação do aluno e, portanto, de tomar a competôncia social como um
objetivo, mais do que como um subproduto esperado dessa form ação" (DoI
Prette, Del Prette e Castelo Branco, 1996)
Neste sentido, as habilidades sociais deveriam fazer parte do currículo dos Cursos
de graduação em Psicologia, tanto em seu escopo teórico quanto prático. Para Silvares e
Gongora (1998) os comportamentos específicos ou habilidades devem ser treinados em
alunos de graduação através de role-playingacompanhados de feedbacks. Todavia, percebe-
se que tais cursos privilegiam alunos com um repertório em habilidades sociais melhor
desenvolvido em detrimento dos que apresentam prejuízos comportamentais nesta área.
Na perspectiva de Del Prette, Del Prette e Castelo Branco (1992), a aquisição de habilidades
sociais pelos alunos, muitas vezes, se dá de forma indireta, como produto da aprendizagem
observacional e/ou da generalização de comportamentos aprendidos em outros contextos.
Com base nisto, os feedbacks dos supervisores de casos clínicos conduzidos
por terapeutas iniciantes (geralmente realizados no quinto ano de Psicologia) torna-se
condição sine qua non para que o aluno atente para suas dificuldades. A partir destes
feedbacks, os supervisores podem modelar interações terapêuticas mais adequadas em
seus alunos, os futuros terapeutas.
Neste sentido, estudos que viabilizem uma descrição mais sistemática dos
comportamentos do terapeuta, assim como um levantamento das variáveis determinantes
da relação terapêutica se faz necessário. Segundo Wielenska (2000,), "o desafio que
persiste ô o de conseguir descrever funcionalmente relações entre características e
comportamentos do cliente e do terapeuta"(p. 11).
Desta maneira, se o estabelecimento e a manutenção de uma boa relação
terapêutica têm sido atribuídos a características e habilidades pessoais do terapeuta,
então há relação entre habilidades sociais e o estabelecimento de relação terapêutica?
Assim, este estudo se propôs a: investigar a correlação entre os escores de
Habilidades Sociais e Relação Terapêutica obtidos através do Inventário de Habilidades
Sociais (IHS - Del-Prette e Del-Prette, 2001) e do Inventário de Aliança Terapêutica -
versão terapeuta (A..O. Horvath, 1981-1984).
5. Método
PopulaçAo: participaram desta investigação 38 alunos do quinto ano do Curso de Psicologia
que atuavam nas Clínicas-Escola de duas universidades da cidade de Londrina-Paraná e
tinham como referencial teórico a Análise do Comportamento.
L ocal: esta pesquisa foi desenvolvida nas dependências das Clínicas-Escola das
universidades situadas na cidade de Londrina, Paraná.
396 Karlm* Amaral Magalhães, Josiane Cecília Lu/la e Josí Carlot Palma
6. Resultados
Os resultados referem-se, primeiramente, a uma caracterização da amostra
estudada, assim como uma média da pontuação geral desta nos instrumentos utilizados.
Tabela 1 : Caracterização da população pesquisada
Os dados da Tabela 1 indicam que 50% dos terapeutas cursavam o quinto ano do
Curso de Psicologia da Universidade A e os outros 50% cursavam o mesmo ano do
referente curso na Universidade B. A maior parte dos terapeutas era do sexo feminino e
estavam atendendo clientes na faixa etária adulta.
Terapeutas Clientela
Instituição
Masculino Feminino Infantil Adulto
A 1 18 12 7
B 04 15 1 18
210 |
♦ re^rcssà«
120 í -I
60 90 120 150
ms
Figura 1: Correlação entre a pontuação obtida pela somatória dos pontos do IAT e dos escores
totais do IHS
7. Discussão
Os resultados dessa investigação mostraram que os escores totais obtidos estão
acima da média tanto no Inventário de Habilidades Sociais (IHS - Del-Prette, 2001), como
no Inventário de Aliança Terapêutica versão terapeuta (A.O. Horvath, 1981-1984), como se
pode verificar na Tabela 2. Os desempenhos dos participantes em cada instrumento
utilizado, demonstraram que esta população apresenta um repertório de Habilidades Sociais
acima da média e, também, habilidades em estabelecer uma relação terapêutica efetiva
com seus clientes.
Uma explicação possível para este fenómeno reside no fato de se tratar de uma
população já em fase de término do Curso de Psicologia (alunos de 5o ano), que já adquiriu
um repertório comportamental mais elaborado na área de habilidades sociais em função
398 Kiirlnr Amaral Magalhâet, Jotianc Crcllia l u/i.i e Joté Carloi Palma
de algumas disciplinas (pelo menos nas instituições investigadas) modelarem, de forma
direta e indireta, tais comportamentos, conforme sugere Silvares e Gongora (1998), que
os comportamentos específicos ou habilidades facilitadoras do processo terapêutico, devem
ser treinados em alunos de graduação através de role-playing acompanhados de feedbacks,
a fim de melhorar o desempenho profissional do futuro terapeuta.
Apesar das diferenças estruturais dos inventários utilizados (número de asserções
e pontuação atribuída a cada uma delas), os resultados demostraram que o Inventário de
Aliança Terapêutica e o Inventário de Habilidades Sociais tiveram uma correlação positiva,
porém fraca (r = 23,4%) resultando em um coeficiente de explicação de 5,5% (r2), o que
mostra a pouca influência na relação entre os dois instrumentos. Fazendo-se um teste
para verificar a signrficância da correlação, chega-se à conclusão que esta nào foi significativa
(p = 0,157).
Tais achados sugerem uma tendência de acompanhamento entre os dois
instrumentos. Havendo uma boa pontuação em um instrumento, pode haver uma inclinação,
por parte do respondente, em apresentar um bom desempenho no outro. Assim sendo, os
resultados encontrados nesta pesquisa foram insuficientes para afirmar que terapeutas
com um bom repertório comportamental em Habilidades Sociais também fossem hábeis
em estabelecer uma relação terapêutica consistente e efetiva.
Talvez o fato de a observação dos comportamentos ter sido realizada de maneira
indireta, apenas, pode ter contribuído para estes dados. Outro aspecto a ser considerado
refere-se ao fato de que o Inventário de Habilidades Sociais não ser um instrumento utilizado
exclusivamente para avaliar habilidades sociais em terapeutas, mas sim em pessoas de
modo geral. Desta maneira, a observação direta, de sessões de psicoterapia desde o seu
início e a elaboração de um instrumento específico poderá contribuir com resultados mais
consistentes dando margem para o desenvolvimento de novas pesquisas nesta área. Outro
aspecto refere-se a estudos que incluam a percepção dos clientes acerca das habilidades
de seus terapeutas, objetivando operacionaiizar e sistematizar melhor os termos que
definam os comportamentos de um terapeuta comportamental ideal (Wielenska, 2000).
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Doutora oiti Pntcologla Clinica - USP / Pfri-dookxado na Unlveraklade da Granada - Espanha/ Eapxiallala am Pakxrtarapta na AnAHan do Cornporliirnmito
- UEL
' Doulora em Palcologla Clinica • USP/ Kfaatrn arn Palcokjgla Exporimantal • USP/Eipecialisla oni P*k30lerapla na AnéUan do Coniportamimlo - UEL
Nota M refere-se à parte motora do inventário IMS e C, à parte cognitiva do inventário; E indica o estado
de ansiedade e T, o traço de ansiedade. Gl e Gll indicam o grupo de treinamento do qual o estudante fez
parte.
Os desistentes do programa, identificados pelos números 15 e 16, foram os
únicos a apresentar escores inferiores a 185 no Inventário de Habilidades Sociais,
respectivamente 178 e 184.0 escore mais próximo desses, foi 189, apresentado pelo
participante número 6 e todos os demais foram superiores a 2 0 0 , conforme ilustra a
Figura 1 na página seguinte.
A Tabela 1 indica que, em medidas da ansiedade, os desistentes não pareceram
diferir de maneira sensível dos demais. Os sintomas de depressão estiveram ausentes
(escore 6 ) no número 15 e quase ausentes, mas mais próximos de moderados (escore
10) no número 16. Portanto, em relação aos participantes desistentes do programa,
apenas as habilidades sociais deficitárias apresentaram escores sensivelmente distintos
dos demais.
1 2 3 4 5 8 7 8 9 10 11 12 13 14 16 16 17
Partie Ipantsa
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Anexo 1
Preencha os parênteses com T para Inadequado, "R" para Regular e “A" para Adequado.
4. Auto-exposição do terapeuta. ( )
Auto-exposição oportuna para modelação e/ou modelagem de comportamentos
da criança.
Evitação de familiaridade excessiva e de auto-exposições desvinculadas dos
objetivos da atividade.
5. Direção da atividade. ( )
Apresentação e cumprimentos iniciais.
Esclarecimentos sobre os objetivos da atividade.
Resolução da tensão "manter-se sensível ao comportamento da criança versus
cumprir os objetivos da sessão".
Variação de brincadeiras.
Retroalimentação da interação com a criança
Descrição do que a criança está fazendo
Capacidade de sumariar a interação.
Cumprimentos finais (afetuosos e definitivos).
Esse capítulo tem como objetivo descrever um estudo sobre as possíveis diferenças
encontradas entre terapeutas experientes e iniciantes quanto à identificação de intervenções
terapêuticas e, a partir desse conhecimento, levantar uma proposta para treinamento de
terapeutas comportamentais que estão em processo de formação.
A literatura a respeito da experiência dos terapeutas indica que não ocorrem
diferenças entre terapeutas experientes e iniciantes em relação à formação do vínculo
terapêutico (Mallinckrodt & Nelson, 1991; Dunkle & Friedlander, 1996; Novaki & Luiza,
2000). Contudo, não aponta um consenso sobre diferenças de outras variáveis3, como:
Objetivos e Tarefas da terapia (Mallinckrodt & Nelson, 1991; Dunkle & Friedlander,
1996); Satisfação dos clientes (Gold & Dole, 1989; Laszloff, 2000); Tipo específico de
cliente (Berman e Norton, 1986; Weisz, Weiss, Alicke & Klotz, 1987) e Orientação teórica
do terapeuta (Gomez-Scwwartz, 1978).
Porém, observa-se que há uma diferença entre eles. Investigando mais
detalhadamente esses estudos ocorre que algumas diferenças entre os profissionais podem
existir, apesar 5e todos apresentarem melhoras nos resultados da terapia. Contudo essas
diferenças só são percebidas quando os dados coletados são mais específicos como o
estabelecimento das tarefas e objetivos da terapia, ou com clientes de idades diferentes.
Desta forma, pode-se considerar que essas diferenças estejam relacionadas aos
comportamentos apresentados pelos terapeutas em sessão (fatores específicos) e não à
questão do seu relacionamento com o cliente (fatores inespecíficos), até porque a maioria
dos estudos sobre a aliança terapêutica concorda que com relação à formação do vínculo
esses terapeutas não diferem entre si.
1Em « artigo A dacorranle da peaqulM realizada pala auktra no curto d« M««lraòo am Puuologla Clinica USP-SP
1A autora é palcótoga dl nica « docentn do nurao da paloologia na Unlvanudada Pwwumioimi - UNIPAR carnpu» Catcaval Ê EapaoMila am Patootompla
na AnállM do Coc?rç>ort*rnarito. pota UEL e Mm Ii * arn Pwcoiogia Clinica, pata USP-8P Endereço para oonlato Rua Alfrado BatUni, 610 Jd. San Reino,
Londrina/Pr, OMViaa-rtiaM|>novahlQ)unip«r br Telefcxie (43) 3327-3143 ou 3327-0920
1Para aabarmata attora a*dtfarariçaa onlre InrapoutMaxportwilM• inicianlM NOVAKI, PC (2003) Tarapoulaa«xpartaolMaInWanta». Oqua a NlaralutM
apxita «obra alw ?Em M Z S BrandAo al al (org) Sobr* CtímportanmUo • Cogntçéa A hM onattM m m nçot, aaahçêopofoona^quándêt mv açàa (p 251 -
2fl7) Sank>AndrA,SP EaatacEdikimaAaaociado«
Sendo então, o comportamento apresentado pelo terapeuta uma variável que pode
indicar as diferenças entre terapeutas experientes e iniciantes, levanta-se a hipótese de
que essa diferença poderia estar relacionada ao conhecimento que têm sobre o que acontece
em sessão, o que fazem e o porquê o fazem. Isto é, o quanto sào capazes de prever e
controlar seu próprio comportamento na sessão (Novaki, 2003).
Com base nesta hipótese, buscou-se realizar uma pesquisa que pudesse confirmá-
las ou refutá-las. Para tanto, teve-se por objetivo verificar se: a) há diferenças entre terapeutas
iniciantes e experientes no que se refere à capacidade de identificar e descrever o que um
terapeuta faz em sessão e justificar sua ação em termos dos objetivos que este teria, isto
é, se o conhecimento que os terapeutas têm sobre o que acontece em sessão, sobre o
que um terapeuta faz, é um aspecto que os diferenciaria, e b) se a introdução de um
modelo de análise e o exercício afeta a capacidade de terapeutas iniciantes em identificar,
descrever e justificar o que acontece em sessão.
1. Metodologia
Colaboraram para esta pesquisa três tipos de participantes: nove alunos, um
participante experiente e um aluno-terapeuta. Os nove alunos eram do último ano do curso
de Psicologia com orientação comportamental, que foram denominados nessa pesquisa
de alunos-participantes. Esses pertenciam a uma mesma Instituição e recebiam, em
virtude disso, orientação semanal de uma mesma supervisora (a orientação referia-se aos
atendimentos clínicos que realizavam e que faziam parte das atividades de quinto ano do
curso de Psicologia da instituição na qual os alunos estavam matriculados. Esclarecimento:
essas atividades, atendimento e supervisão, não fizeram parte desta pesquisa). Procurou-
se selecionar os alunos-participantes dessa forma, para que estivessem todos em uma
mesma condição e não houvesse diferenças em relação ao conteúdo teórico ministrado a
eles pela instituição. Foi dada instrução a esses alunos-participantes para que não
comentassem sobre o material a ser estudado nesta pesquisa com os demais, tanto para
garantir o compromisso de sigilo com o caso, como para evitar que as respostas fossem
influenciadas pela discussão com outros.
Os alunos-participantes foram separados em três grupos denominados de grupos
A, B e C, conforme o dia da sua supervisão. Cada grupo de supervisão era composto de
quatro alunos, sendo os participantes desta pesquisa os que concordaram em participar.
Assim, o grupo A foi composto de três alunos-participantes (P1a, P2a e P3a), o grupo B
composto por quatro alunos-participantes (P1b, P2b, P3b e P4b) e o grupo C por dois
alunos-participantes (P1c e P2c). P indica participante, o número determina o participante
e a letra define a qual grupo ele pertence.
Também colaborou com a pesquisa um terapeuta experiente com 17 anos de
experiência clínica e prática de supervisão. Esse terapeuta experiente foi denominado de
participante experiente (P exp.).
Além desses participantes, fez parte da pesquisa um aluno-terapeuta (em formação)
que foi selecionado para atuar como aluno-terapeuta (T) em um atendimento clínico individual
com um cliente adulto. O aluno-terapeuta, em suas atividades acadêmicas, também recebia
orientação sobre o caso que atendia. O aluno-terapeuta e os alunos-participantes pertenciam
a instituições diferentes. Esse critério foi adotado para evitar um possível contato dos
alunos com o caso atendido pelo aluno-terapeuta e também para preservar a identidade do
aluno-terapeuta e do cliente. Para contemplar os objetivos desse capitulo serão analisados
1.1. Sessões
Foram estudadas cinco sessões de atendimento clínico que foram gravadas em
vídeo e posteriormente transcritas. As sessões começaram a ser gravadas a partir da
quinta sessão de terapia, por se considerar que a partir desse período ocorrem mais
intervenções que na fase inicial do tratamento, sendo esta entendida, em sua maior parte,
como coleta de informações sobre o cliente. Considerou-se que as cinco sessões eram
suficientes para obter uma amostra da intervenção, além de não tornar muito extenso o
trabalho dos participantes a ponto de desestimular sua participação nesta pesquisa.
1.2 Material
Foram utilizadas fitas de vídeo e cassete, filmadora, gravador, as sessões transcritas
e um questionário contendo três questões abertas. O questionário que foi destinado aos
alunos-participantes e ao participante experiente continha as seguintes questões sobre os
procedimentos adotados pelo aluno-terapeuta na terapia: “(1 ) Descreva as intervenções que
você percebe que o terapeuta fez nessa sessão. Em que momentos da sessão isso ocorreu?;
2 ) O que você considera que levou o terapeuta a fazer cada uma destas intervenções? Isto
é, baseado em que análise, ou em que hipótese?, e 3) Como essas intervenções
(procedimento adotado) estão relacionadas com a Terapia Analítico-Comportamental?".
Os questionários foram entregues aos participantes semanalmente e em conjunto
com a transcrição da sessão atendida, totalizando cinco semanas. No caso do aluno-
terapeuta era entregue apenas o questionário, uma vez que esse já tinha acesso ao conteúdo
de sua própria sessão de atendimento. Assim, todos responderiam aos questionários
com base nos dados da sessão naquela semana.
Na semana seguinte, os questionários respondidos juntamente com a transcrição
da sessão correspondente eram devolvidos à pesquisadora. Só então tinham acesso a
uma nova transcrição e ao questionário.
Para verificar a influência de um modelo sobre as respostas dos alunos-
participantes, foram-lhes apresentadas às respostas do participante experiente. Assim, a
partir do início da fase de intervenção, as respostas das sessões anteriores eram devolvidas
aos alunos-participantes para compararem o que haviam respondido com o que o participante
experiente respondeu.
1.3. Local
Os atendimentos foram realizados na sala da clínica-escola, na qual o aluno-
terapeuta estava matriculado. Após a saída do cliente da terapia, esse respondia ao
1.4. Delineamento
Este estudo envolveu dois delineamentos de pesquisa. Para a pergunta de pesquisa
sobre diferenças entre terapeutas iniciantes e experientes foi realizado um estudo descritivo
e exploratório que não contou com uma amostra representativa, em que se comparou a
resposta de um único participante experiente com as respostas de nove alunos-participantes,
com objetivo de levantar subsídios para o treinamento futuro de terapeutas iniciantes. Já
um delineamento experimental de sujeito único foi usado para responder à questão do
efeito de um modelo de resposta de um participante experiente sobre as respostas de
alunos-participantes. O delineamento foi o de linha de base múltipla através de participantes.
Para isso houve a participação dos nove alunos-participantes de uma mesma
instituição que foram divididos em três grupos, os quais deveriam responder durante cinco
semanas a um questionário que versava sobre uma transcrição de sessão por semana.
Conforme as semanas decorriam, foi entregue a cada grupo a resposta ao questionário
formulado pelo participante experiente, com base na transcrição da sessão da semana
anterior. Este procedimento teve por objetivo verificar se a apresentação de um modelo de
análise de sessão feita pelo participante experiente poderia facilitar a identificação de
intervenções por parte dos alunos-participantes.
Assim, o grupo A composto por três alunos-participantes recebeu na terceira
semana, juntamente com a transcrição da terceira sessão e o questionário, a resposta
dada pelo participante experiente sobre as sessões anteriores, isto ó, sobre a primeira e
a segunda sessão. Os alunos-participantes desse grupo A deveriam comparar suas
respostas com as do participante experiente e responder, em seguida, ao questionário
referente à terceira sessão. Para tanto foi devolvida a cada participante a sua própria
resposta ao questionário das sessões anteriores (primeira e segunda). Com esse grupo,
esse procedimento ocorreu da terceira à quinta semana, portanto, eles tiveram acesso às
respostas dadas pelo participante experiente por três semanas.
Para o grupo B, composto por quatro alunos-participantes, houve a apresentação
da resposta do participante experiente a partir da quarta semana. Esses alunos-
participantes deveriam, assim como os alunos-participantes do grupo A, comparar suas
respostas com as do participante experiente e responder, em seguida, ao questionário
referente à quarta sessão. Para tanto, foram-lhes devolvidas as suas respostas ao
questionário das sessões anteriores (primeira, segunda e terceira sessão). Nesse grupo,
os primeiros dados a serem comparados foram referentes á quarta sessão. Esse
procedimento ocorreu por duas semanas.
Ao grupo C, composto por dois alunos-participantes, foi apresentado às respostas
do participante experiente referentes às sessões anteriores, somente na última semana.
Assim como para os demais, os alunos-participantes desse grupo deveriam comparar
suas respostas com as do participante experiente e responder, em seguida, ao questionário
referente à quinta sessão. Para isso, os dois alunos-participantes desse grupo receberam
as suas próprias respostas ao questionário das sessões anteriores (primeira, segunda,
terceira e quarta sessão). Com esse grupo, o acesso às respostas dadas pelo participante
experiente foi concedido apenas uma vez.
1.5 Procedimento
Início dos atendimentos e da coleta de dados. Após cinco semanas de atendimento
do cliente foi iniciada a gravação das sessões (totalizando cinco sessões). Ao final de
cada uma dessas sessões, as fitas gravadas foram encaminhadas à pesquisadora para
que se realizasse a transcrição. Essas foram encaminhadas, semanalmente, ao participante
experiente (P exp.) e aos alunos-participantes, para que esses analisassem a transcrição
da sessão e respondessem às questões. O procedimento de responder ao questionário
ocorreu durante as cinco semanas em que a transcrição das sessões foi apresentada aos
participantes, uma em cada semana. Assim, na primeira semana receberam a transcrição
da sexta sessão de atendimento do terapeuta com seu cliente. Na segunda semana
receberam a sétima sessão, e assim por diante até se completarem as cinco sessões (a
décima sessão de atendimento).
Como explicado no delineamento, os participantes foram divididos em três grupos
por envolver-se procedimento de linha de base múltipla. Assim, antes da terceira sessão
ser analisada pelos três alunos-participantes do grupo A, foram-lhes apresentadas as
respostas do participante experiente relacionadas à primeira e segunda sessões para
serem comparadas com as suas respostas. Para os quatro alunos-participantes do grupo
B, as respostas do participante experiente relativa à primeira, segunda e terceira sessões
foram apresentadas antes da quarta sessão ser analisada por esses alunos-participantes.
Para os dois alunos-participantes do grupo C, as respostas do participante experiente
referente à primeira, segunda, terceira e quarta sessões foram apresentadas antes da
última sessão ser analisada pelos alunos-participantes desse grupo. Assim, obtiveram-se
como linha de t>ase às respostas apresentadas pelos alunos-participantes antes da
apresentação das respostas do participante experiente. Durante a fase de intervenção, os
alunos-participantes continuaram recebendo as respostas do participante experiente dadas
à sessão anterior, antes de responderem ao questionário daquela semana. Para um melhor
entendimento, a tabela da página a seguir ilustra como foi o procedimento.
Sistematização e categorizaçâo dos dados coletados. A sistematização dos dados
ocorreu após a digitação literal das respostas dadas pelos participantes e de uma leitura
geral de todas as respostas. Seguido esse primeiro passo, optou-se por categorizar os
dados por questão. Fez-se uma nova leitura das respostas à primeira questão identificando-
se semelhanças e diferenças entre elas. Foi criada uma lista de intervenções terapêuticas
utilizadas por terapeutas analítico-comportamentais as quais foram citadas como resposta
à pergunta 1 do questionário. Essas foram consideradas as categorias de Intervenção. A
criação dessa lista envolveu diversas revisões, em que algumas categorias foram extintas
Nota: As células em cor clnza-claro sinalizam as sessões em que não houve a apresentação do modelo de
respostas do participante experiente. As células em cor cinza-escuro sinalizam a apresentação do modelo
de respostas do participante experiente aos respectivos grupos.
a essa questão, e então foram agrupadas as justificativas que eram semelhantes. Somente
após esse processo ó que foram definidas as categorias de justificativas das intervenções
realizadas pelo terapeuta. Da mesma forma como ocorreu com a definição das categorias
para a primeira questão, nessa questão ela foram criadas a partir das justificativas dadas
pelos participantes, sobre os motivos da atuação do aluno-terapeuta em cada sessão e,
portanto, não foram predeterminadas. Porém, diferentemente da análise da questão um,
nessa questão as categorias formuladas não foram excludentes, assim, numa mesma
resposta pode-se encontrar mais que uma categoria de justificativa da intervenção do
aluno-terapeuta.
Na questão três, novamente foi realizada uma leitura das respostas dadas pelos
participantes e foram agrupadas aquelas que eram semelhantes. Após esse processo
definiram-se as categorias que relacionavam as Intervenções com a terapia analítico-
comportamental. Também nessa questão as categorias não foram predeterminadas e
correspondiam às respostas dadas pelos participantes a essa questão.
Essa sistematização e categorização foram realizadas para que houvesse a
possibilidade de comparação das respostas dos alunos-participantes, do aluno-terapeuta
e do participante experiente verificando-se assim, se havia diferença entre eles quanto à
quantidade de procedimentos terapêuticos identificados nas sessões e quanto ao tipo de
categorias identificadas e se a identificação dos eventos que ocorreram em sessão foi
facilitada pela apresentação do modelo e, ainda, se sofreu influência do exercício.
2. Resultados
Para investigar se a diferença entre terapeutas experientes e iniciantes estava
relacionada ao conhecimento que possuem das intervenções que ocorrem na sessão,
utilizou-se das questões do questionário para comparar os dados obtidos pelo participante
experiente com os dados dos alunos-participantes.
Em relação à primeira pergunta sobre as intervenções que o terapeuta fez e em
que momentos da sessão isso ocorreu, obtiveram-se os seguintes resultados:
- 10
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TD
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0
F igu ra 1 : Média de intervenções identificadas pelos alunos-particlpantes dos grupos A, B e C, pelo participante
experiente e aluno-terapeuta nas cinco sessões.
Nota: P exp indica o participante experiente, T indica que o aluno-terapeuta, A representa a média dos
resultados dos alunos-particlpantes do grupo A, B representa a média dos resultados dos alunos-
particlpantes do grupo B e C representa a média dos resultados dos alunos-particlpantes do grupo C.
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3. Conclusão
O conhecimento que os terapeutas tem sobre o que acontece em sessão, sobre
o que fazem, possivelmente é uma diferença entre terapeutas experientes e iniciantes.
Essa diferença pode estar relacionada a:
• Discriminação dos eventos que ocorrem em sessão;
• Terapeutas iniciantes estarem menos conscientes sobre o que ocorre em sessão do
que o experiente;
• Terapeutas iniciantes permanecem sob controle do relato do cliente para justificar as
intervenções, enquanto o experiente fica mais atento ao comportamento do terapeuta
e à interação com o cliente.
Em relação a influência do modelo de respostas, observou-se que este produziu
efeito, tanto na:
• identificação de intervenções quanto de categorias,
• quanto na identificação de novas formas de intervenção que antes não foram percebidas;
• a utilização do delineamento de linha de base múltipla permitiu observar que os efeitos
(aprendizagem) foram decorrentes da apresentação do modelo (VI) e não da simples
repetição do exercício (responder as questões)
Desta forma, acredita-se que a utilização desse procedimento pode favorecer
a aprendizagem de terapeutas analítico-comportamentais quanto à identificação de
intervenções realizadas em terapia, sendo uma forma promissora de ensino.
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Sobre Comportamento c
Cognição 423
Capítulo 42
Categorias funcionais de intervenção
aplicadas em contextos terapêuticos*
Pau/d Virgínia Oliveira hl ias e
lima A. Goulart de Sou/a Hntto
Universidade Católica de í/onis
a) Função Informativa:
Intervenções realizadas com o objetivo de informar ao cliente sobre aspectos
considerados relevantes sobre a terapia, de forma oral ou escrita, em sessões iniciais de
atendimento e/ou ao longo do processo. Foram incluídas duas CTIE para especificar esta
categoria.
a.1) Educar para a Terapia: informações orais fornecidas ao diente sobre os procedimentos
do processo de tratamento da terapia, no que se refere à duração de cada sessão de
atendimento, freqüência semanal, princípios explicativos da abordagem com a qual trabalha
o terapeuta, procedimentos e técnicas utilizadas, em que momentos são úteis, credibilidade
do tratamento junto a órgãos de saúde, métodos de intervenção adquiridos através de
estudos empíricos em laboratório, forma de seleção de conteúdos a serem abordados
durante as sessões e estruturação destas.
Tais dados são abordados durante a sessão com o objetivo geral de levar o cliente
a compreender o modelo de intervenção terapêutica, com relação ao tratamento e aspectos
gerais e/ou corrigir possíveis distorções de idéias sobre a terapia. Tendo em vista que
estes procedimentos podem vir a facilitar a adesão do cliente ao processo, pois se supõe
que estes conhecimentos tragam maior credibilidade ao tratamento.
Exemplo resumido da breve fala de um terapeuta com relação a estes aspectos:
“As nossas sessões tem duração de, aproximadamente, 50 minutos e ocorrem
duas vezes por semana... na Psicologia existem algumas abordagens de tratamento que
se diferem em seus métodos de trabalho. Por exemplo, temos a Psicanálise, fundada por
Freud, a Gestalt, o Psicodrama, a Terapia Comportamental, entre outras. Nosso trabalho
aqui será desenvolvido com base na Terapia Comportamental. Esta abordagem trabalha
com procedimentos de tratamento mais diretivos e focais, sendo que sua metodologia de
atuação deriva da aplicação do método científico aos problemas humanos, pela eficácia
apresentada durante o tratamento. Utilizamos dezenas de técnicas específicas como, a
Exposição Gradual ao Vivo, a Dessensibilização Sistemática, o Relaxamento Muscular
Progressivo, a Prevenção de Respostas, entre outras, que serão explicadas e demonstradas
a você em momentos específicos. As sessões serão planejadas e estruturadas de acordo
com os problemas apresentados por você. O trabalho é conduzido de forma mais objetiva,
se baseando em estudos, também, de laboratório. O problema é contextualizado,
b) Função Explicativa:
Intervenções elaboradas com a finalidade de explicar ao cliente aspectos
considerados relevantes sobre a situação e comportamentos apresentados, bem como,
utilização de reforço positivo verbal pelo terapeuta. Foram incluídas três CTIE para especificar
esta categoria.
b.1) Reeducar1 para a Situação: explicações fornecidas ao cliente sobre objetos ou pessoas
presentes na situação, no momento em que seus comportamentos adaptados ou desadaptados
ocorrem, sendo estas situações antecedentes e/ou conseqüentes, seja em casa, no trabalho
ou durante o lazer. Devem ser priorizadas as explicações e exemplos contendo a situação
problema que envolve o cliente. Sendo que, durante tais explicações o terapeuta pode ou não
realizar perguntas direcionadas, que levem o cliente a compreender melhor.
A finalidade principal deste procedimento é levar o cliente a descrever os fatores
ou contingências que favorecem a manutenção de vários de seus comportamentos.
Exemplo resumido das possíveis falas de terapeuta e cliente com relação a estes
aspectos:
T - "Sempre que você está numa situação semelhante isto parece ocorrer, você
concorda?”
C - “É parece que sim".
T - “Quando sua prima está presente você permite que ela escolha por você, por
isso as pessoas dizem que você depende muito dela. Na maioria das vezes que estão
juntas, ela toma a iniciativa de fazer as escolhas?"
C - “Sim, isso é verdade. Sempre que saímos juntas fico meio incomodada e
deixo que ela domine a situação desta maneira. Apesar de que me sento mal por isso".
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c) Função Instrutiva:
Intervenções realizadas com a finalidade de instruir o cliente à respeito de aspectos
considerados relevantes para a psicoterapia, de forma oral ou através de demonstrações,
podendo ser incluídas neste item vários tipos de técnicas. Tal procedimento pode ser
realizado em sessões iniciais de atendimento e/ou ao longo do processo. Foram incluídas
duas CTIE para especificar esta categoria.
c.1) Modelação 1 (falar como fazer): instruções fornecidas ao cliente. São consideradas
as fala do terapeuta sobre a melhor forma de se comportar em situações do ambiente
natural, no que se refere ao conteúdo verbalizado, expressão facial, entonação de voz,
postura corporal, vestuário e/ou autocomandos. Tendo sido esta situação demonstrada,
relatada pelo cliente ou sendo apenas uma exemplificação de prováveis situações no
ambiente natural deste.
A finalidade principal deste procedimento é de aprimorar ou adequar as atitudes
do cliente frente as mais diversas situações do ambiente natural.
Exemplo resumido da breve fala de um terapeuta com relação a estes aspectos:
T - “Gostaria que nesta situação você se comportasse de forma assertiva, como já
conversamos, falando ao seu chefe o que deseja, sem dar oportunidade para que ele o
deprecie. Se ele o acusar novamente de algo que você não fez, como vem ocorrendo,
descreva os fatos reais a ele. Diga que você não é responsável pelo erro e que você está
a disposição da empresa para qualquer esclarecimento sobre o ocorrido. Lembre-se, sempre
utilizando uma expressão facial firme, com uma entonação de voz condizente e postura
corporal voltada para ele, com os ombros erguidos. Diga a você mesmo neste momento
que não irá acontecer nada demais por estar falando a verdade, de forma adequada, ao
seu chefe, pelacontrário, poderia ocorrer um problema se a situação não fosse esclarecida.
Você concorda?"
c.2) Modelação 2 (demonstrar como fazer): instruções demonstradas e encenadas diante
do cliente, consideradas quando o terapeuta demonstra, com a colaboração do cliente, o
comportamento adequado a ser executado em determinada situação do ambiente natural,
no que se refere ao conteúdo verbalizado, expressão facial, entonação de voz, postura
corporal e/ou auto comandos. Tendo sido esta situação demonstrada, relatada pelo cliente
ou sendo apenas uma exemplificação de prováveis situações no ambiente natural deste.
Sendo que, durante tais explicações o terapeuta pode ou não realizar a troca de papéis,
característica do Ensaio Comportamental.
A finalidade deste procedimento é adequar ou aprimorar os comportamentos do
cliente frente as mais diversas situações do ambiente natural através da demonstração de
possíveis comportamentos adequados.
SobrsComportamentoeCoflntçJo 431
Exemplo resumido da breve demonstração de um terapeuta com relação a estes
aspectos:
T - "Gostaria que nesta situação houvesse comportamentos assertivas, como já
conversamos, falando ao seu chefe o que deseja, sem deixar que ele o deprecie. Se ele o
acusar novamente de algo que vocé não fez, como vem ocorrendo, diga: "Eu não sou o
responsável pelo erro cometido no departamento Sr. Pedro, parece-me que isso vem
ocorrendo mesmo antes de eu entrar na empresa. Mas, em todo caso, se houver
necessidade, me coloco a disposição para qualquer esclarecimento sobre o ocorrido.”
Lembre-se (o terapeuta demonstra), sempre utilizando uma expressão facial firme, com
uma entonação de voz condizente e a postura voltada para ele, com os ombros erguidos,
como demonstrei a vocô agora. Diga a você mesmo neste momento: "Não irá acontecer
nada demais por eu estar falando a verdade ao meu chefe, pelo contrário, pode ocorrer um
problema se a situação não for esclarecida." Isto irá ajudá-lo na resolução do problema? O
que acha?"
Os exemplos de fragmentos de intervenções parciais abordados acima fazem
parte de um caso clínico de Fobia Social.
No Quadro 1apresentam-se as sínteses e siglas das três Categorias Funcionais
de intervenção Educacional e suas respectivas Classes de Técnicas utilizadas durante o
estudo.
0 1 1 11/(1
) -
■ D2-I2/C2
□ D3-T3/C3
Técnicas
Técnicas
Os índices mais altos de T 1 foram com IEFE - 4 e os mais baixos com IEFE - 5,
sabendo-se que esta terapeuta-estagiária deixou de aplicar duas técnicas. Os índices
mais altos de T2 foram com IEFE - 3 e os mais baixos com IEFE - 5, sendo que esta
terapeuta-estagiária não deixou de aplicar técnica alguma, assim como na primeira sessão.
E chegando às análises de T3 os índices mais altos foram com IEFI - 4 e os mais baixos
com IEFE - 5, deixando de aplicar quatro Classes de IE, que foram, IEFI - 1, IEFI - 2,
IE F Is - 6 e IE F Is -7 .
Houve quatro Classes de Técnicas de IE que deixaram de ser aplicadas em algum
momento por alguma das trôs terapeutas-estagiárias, entretanto não houve IE não aplicada.
Durante esta sessão a técnica mais aplicada pelas três terapeutas-estagiárias foi
IEFE - 4 e as técnicas menos aplicadas foram IEFI - 2 e IEFE - 5, novamente.
Técnicas
5. Conclusão
Através da comparação dos dados acima, pôde ser observada uma tendência ao
aumento da aplicação das técnicas selecionadas da primeira para a quarta sessão, bem
como uma diminuição do número de técnicas não aplicadas. Os dados mostram que
durante a primeira sessão, cinco técnicas não foram aplicadas, na segunda sessão o
número foi reduzido para quatro, na terceira sessão para duas e, finalmente, na quarta
sessão o número foi reduzido para apenas uma técnica não aplicada. É interessante
observar que na quarta sessão houve o índice máximo de ocorrência de aplicação geral
das técnicas.
Tais dados podem sugerir que, com o passar do tempo e com mais oportunidades
de treinamento, as terapeutas-estagiárias observadas tiveram uma tendência a utilizar
mais as intervenções educacionais sugeridas acima.
Percebe-se que se faz necessário, mas não é suficiente, o entendimento por
parte do cliente sobre os aspectos que estão controlando seu comportamento de modo a
desadaptá-lo. Isto é, aspectos antecedentes e conseqüentes do ambiente envolvido e
respostas emitidas diante de tais contingências, tendo em vista a história de
condicionamento.
Nota-se a relevância da presença de aspectos educacionais durante sessões
terapêuticas, com o objetivo de levar ao aprendizado de respostas mais adaptativas por
parte do cliente, considerando as metas envolvidas nos procedimentos da Terapia
Comportamental-Cognitiva.
R eferên cias
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4 4 0 Rcpirtti Wlclenik.i
Capítulo 44
Ser cliente nos ensina a ser terapeuta?*
1. Formação profissional
Ao analisarmos a formação do terapeuta, após terminar sua graduação, verificamos
que ela ocorre em duas principais instâncias: na supervisão de seus casos clínicos e na
sua própria terapia pessoal. O profissional recém formado tem, especialmente nestas
duas circunstâncias, a oportunidade de conhecer e examinar seus atributos pessoais que
obviamente advêm de sua história de vida e estão presentes na sua atuação como
psicoterapeuta (Otero, 2000).
* RownwroMvwBoty»*, Tfoc«mci»muK» kléiu» e cktvo n nln
muHo do qun sistematizei neata Iflxto
a) Viver o outro lado da moeda: quando o terapeuta torna-se cliente ele passa pelos
processos de aprendizagem de várias situações de vida. Aprende a expor a uma pessoa
inicialmente desconhecida, suas próprias dificuldades e facilidades de relacionamento e
de enfrentamento, além de suas imperfeições, seus medos e fantasmas, suas resistências
á mudança e seus limites pessoais. Vive a experiência de ouvir a opinião do outro sobre si
próprio. Observa nar própria carne o quanto é difícil expor-se e se sentir analisado e avaliado
por alguém; o quanto é difícil identificar e assumir seus pontos fortes e fracos. Assumir e
aceitar seus limites pessoais.
R e fe rê n c ia s
Barros, L. F. L. (1995) Supervisão em terapia cognitivo comportamental. Em B. Rangó (Org):
Psicoterapia comportamental e cognitiva - pesquisa, prática, aplicações e problemas.
(...)
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