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Bases - 4 - Fisiopatologia Da Hipertensao Arterial
Bases - 4 - Fisiopatologia Da Hipertensao Arterial
I. INTRODUÇÃO:
físicas. Uma destas é a pressão que o sangue exerce sobre a parede das grandes artérias,
momento da vida, uma pressão arterial acima de certos valores aceitos como normais. A
fisiopatologia desta elevação crônica da pressão arterial é uma temática muito complexa,
até mesmo por não haver, ainda hoje, uma definição precisa de hipertensão arterial. Neste
capítulo será discutida uma parte do que é conhecido a respeito dos principais mecanismos
ARTERIAL:
25
20
Freqüência, %
15
10
0
0 20 40 60 80 100 120 140
Pressão diastólica, mmHg
mínimo e um valor máximo (Fig. 10-1), o que torna difícil estabelecer um ponto de corte
hipertensão arterial tem de certo modo uma natureza estatística: trata-se de um desvio da
atualmente adotado é o de 135 mmHg para a pressão sistólica e de 85 mmHg para a pressão
variabilidade da pressão arterial em cada indivíduo. A pressão arterial varia de acordo com
a hora do dia, com o grau de atividade física e com o estado emocional, podendo ser
influenciada até mesmo pela presença do médico (“hipertensão do jaleco branco”).. Essas
determinação da pressão arterial deve sempre ser feita por pessoal devidamente treinado,
mesmo horário, devendo-se medir a pressão arterial mais de uma vez em uma mesma
pressão arterial esteja alta em três consultas sucessivas, para evitar que uma elevação
condição permanenete.
masculino com idade superior a 40 anos, essa prevalência pode ultrapassar 50%. Fica fácil
assim entender o impacto social da hipertensão arterial, já que a agressão mecânica imposta
Dentre estas, as mais conhecidas pela população, por seu caráter dramático e por sua
exposição do tecido renal durante muitos anos a altas pressões de perfusão leva uma parte
dos pacientes a desenvolver uma fibrose crônica do parênquima renal, que termina
causando a perda irreversível da função desse órgão. Finalmente, uma pequena parcela dos
quando se consideram suas causas. Na verdade, apenas em cerca de 10% dos pacientes
hipertensos é possível identificar uma causa definida para a elevação da pressão arterial,
como por exemplo uma produção anômala de aldosterona (hiperaldosteronismo primário)
hipertensões, não se consegue encontrar uma causa definida para o distúrbio. Isso não
significa que a hipertensão arterial seja uma condição incompreensível para a Medicina. Na
cada vez maior que a hipertensão não pode ser considerada como o resultado de um único
primária resulta da interação entre fatores genéticos (ou seja a disfunção de um ou mais
genes) e fatores ambientais (consumo excessivo de sal, obesidade, fumo, entre outros).
do sistema circulatório.
F=(Pi-Pf)/R,
entre F, Pi, Pf e R, conhecida como equação de Pouiseille, pode ser transposta, com
DC=(PA-PV)/R
magnitude muito pequena, sendo possível retirá-la da fórmula sem incorrer em um erro
PA = DCR (2)
O conceito contido na equação 2 pode ser melhor visualizado com o auxílio da Figura 10-2,
~ PA
DC
RP
PA = DC RP •
Fig. 10-2 – Representação esquemática e simplificada da circulação. A pressão arterial (PA) sempre pode
ser expressa como o produto do débito cardíaco (DC) e da resistência periférica (RP)
Pode-se demonstrar que a resistência periférica total é inversamente proporcional à quarta
R= k/r4 (3)
DC=kPA/r4 (4)
proporcional à quarta potência do raio dos condutos que formam o sistema circulatório, ou
seja, os vasos sangüíneos. A maior parte desse efeito é representada pelas arteríolas, que
principalmente nas arteríolas que agem os compostos vasoativos que ajudam a regular
momento a momento a pressão arterial. É também principalmente através das arteríolas que
os tecidos regulam o fluxo sangüíneo que os perfunde, num processo conhecido como
adiante.
hipertenso. Sejam quais forem esses mecanismos, no entanto, seus efeitos sobre a pressão
periférica, ou de ambos.
aquecedor. É assim que funciona também o nosso termostato interno: sensores cutâneos e
ajuste. Sistemas semelhantes atuam na regulação do nível sérico de cálcio (ver Capítulo 13)
um processo bem mais complexo. Temos aqui a interação de vários mecanismos atuando
em paralelo, cada um com sua própria dinâmica e com seus próprios efetores. Há
supina (horizontal) para a ereta. Esses sistemas são também muito úteis em situações de
emergência, como em uma hemorragia, por exemplo. A médio prazo (horas ou dias),
adquire maior destaque a ação das propriedades mecânicas das paredes vasculares, capazes
A longo prazo, isto é, após um intervalo de alguns dias, entra em ação a capacidade
dos rins de controlar a excreção de sal e água. Essa capacidade baseia-se no fato de que a
pressão de perfusão renal exerce uma profunda influência sobre a excreção de sódio e água.
Esse fenômeno, denominado natriurese pressórica, transforma o rim num poderoso agente
efetor na regulação da pressão arterial. Quando a pressão arterial se eleva, a excreção renal
de água e sódio aumenta, reduzindo o volume sangüíneo. Com isso, cai o débito cardíaco,
baixando a pressão arterial (Equação 2 e Fig. 10-2) e trazendo de volta ao nível anterior a
aqueles que influenciam a excreção renal de sódio, tais como a angiotensina II, a
aldosterona, um retentor de sódio por excelência (ver Capítulo 2). É fácil perceber, tendo
em vista o esquema mostrado na Fig. 10-2, que esses compostos podem alterar a pressão
fator natriurético atrial e o óxido nítrico, atuam como espoliadores de sódio (natriuréticos).
estimulação de sistemas que liberam esses compostos, como o sistema nervoso simpático e
o sistema renina-angiotensina-aldosterona.
V. FISIOPATOLOGIA DA HIPERTENSÃO ARTERIAL: AS DUAS PRINCIPAIS
TEORIAS
consenso quanto à importância relativa de cada um, não chega a surpreender que também
quanto aos mecanismos que levam à hipertensão essencial haja uma grande dose de
pelo próprio SNC, está elevado em relação ao normal. De outro lado, temos os que
pelos rins. Vamos analisar separadamente cada uma dessas duas grandes hipóteses.
1) Teoria neurogênica:
nervoso central invocam série de evidências em apoio a sua tese. Salientam a importância
um aumento da resistência periférica. Mais do que isso, apresentam evidências de que esse
atividade nervosa, está aumentado. Além disso, a atividade parassimpática está reduzida
nesses pacientes.. Os indivíduos com hipertensão limítrofe são ainda, de acordo com
hipótese da origem nervosa da hipertensão, argumenta em favor desse ponto de vista que as
manobras que elevam a pressão arterial o fazem mesmo em face de profundas modificações
de um aumento no débito cardíaco. Baseado nesse tipo de evidência, Stevo Julius propõe
que o sistema nervoso central seja na verdade o grande controlador da pressão arterial,
mecanismo central, de acordo com essa teoria, forçam a pressão arterial a elevar-se. Se se
tentar impedir essa elevação bloqueando por exemplo a vasoconstrição periférica, o sistema
ainda assim conseguirá trazer a pressão arterial a seu novo valor, aumentando o débito
aumenta nesse caso é a resistência periférica.. Portanto, o sistema nervoso central funciona,
de acordo com essa hipótese, como um regulador a longo prazo da pressão arterial. Nos
hipertensos, o ponto de ajuste está alterado, de modo análogo ao que ocorre com o centro
porção inferior da ponte, mantém através das fibras simpáticas um tônus contrátil na
situados no arco aórtico e no seio carotídeo. Através dos nervos vago, de Hering e
que dele emana. Quando a pressão arterial se eleva, o fluxo inibitório originado nos
baroceptores aumenta, fazendo-a retornar a seu valor inicial. É por essa razão que a
Seria então a disfunção dos baroceptores uma causa de hipertensão arterial? Essa
possibilidade parece hoje um tanto remota. O sinal proveniente dos baroceptores é de curta
como nova referência. Esta característica torna difícil imaginar como uma alteração do
componente sensor desse sistema de controle poderia originar uma hipertensão persistente.
Essa limitação fica evidente quando observamos o que ocorre quando os baroceptores são
sonolência, etc.), fortemente atenuadas pelo sistema nervoso central em animais intactos,
deixam de sê-lo nos animais intactos. No entanto, a pressão arterial mantém-se, na média
diária, em níveis semelhantes aos observados antes da denervação, ou seja, os animais com
formas através das quais o sistema nervoso central poderia perceber variações da pressão
arterial sistêmica, fica difícil entender como poderia funcionar o sistema de realimentação
negativa proposto por Stevo Julius. Existe no entanto a possibilidade de que uma disfunção
do sistema nervoso central eleve cronicamente a pressão arterial através de sua íntima
2) Teoria renal:
A teoria de que a hipertensão essencial é basicamente uma disfunção renal tem em
Arthur Guyton o seu defrensor mais destacado. De acordo com essa teoria, o rim, único
órgão a regular de modo significativo a excreção de sódio pelo organismo, é por essa
mesma razão o responsável último pelos níveis de pressão arterial sistêmica a longo prazo.
Ainda de acordo com essa teoria, além de constituir a única via de excreção de sódio de que
dispõe o organismo, os rins são também o único sistema capaz de responder diretamente a
alterações da pressão arterial com uma variação da excreção desse íon. Isso ocorre devido
rapidamente no interior do parênquima renal uma série de fenômenos ainda não muito bem
400 400
300 300
Ingestão/Excreção de Sódio (mEq/dia)
200 200
100 100
0 0
0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 0 20 40 60 80 100 120 140 160 180
Pressão de perfusão renal (mmHg) Pressão de perfusão renal (mmHg)
A B
Fig. 10-3 – Natriurese pressórica. Variações da pressão arterial promovem um aumento da taxa de
excreção urinária de sódio ao longo da linha azul. O círculo vermelho, que marca a intersecção dessa
linha com a linha vermelha, representatrva da taxa de ingestão de sódio, é denominado ponto de
equilíbrio.A) - Em condições normais, esse ponto corresponde a uma pressão arterial média entre 90 e
95 mmHg . B) - Se a pressão arterial média se elevar a cerca de 100 mmHg, a taxa de excreção de sódio
dobrará, levando a um desequilíbrio entre ingestão e excreção de sódio.
compreendidos. Alguns desses processos são de natureza puramente física, como por
exemplo as alterações das pressões hidráulica e oncótica (forças de Starling) junto ao
túbulo proximal e o aumento do fluxo sanguíneo ao longo dos vasos retos medulares. Essas
alterações tendem a alterar a excreção renal de sódio no mesmo sentido do distúrbio inicial
dessa linha com a linha de ingestão de sódio é denominada ponto de equilíbrio. É esse
ponto de equilíbrio o que determina a longo prazo o valor da pressão arterial. Se por
natriurese pressórica. (Fig. 10-3b). Como a ingestão de sódio permanece constante, passa a
sódio (e conseqüentemente de água). Havendo tempo suficiente, essa perda de sódio e água
retorno da pressão arterial a seu valor original. Uma queda na pressão arterial tem um efeito
obrigatório, e não cessará enquanto a pressão arterial não houver retornado a seu valor
original. Dessa maneira, a pressão arterial será determinada, de um lado, pela taxa diária de
ingestão de sódio e de outro pela inclinação da linha de natriurese pressórica, que reflete em
última análise a sensibilidade do rim a variações de sua pressão de perfusão e, portanto, sua
capacidade de excretar sódio. Como essa linha é, em indivíduos normais, quase vertical, a
pressão arterial altera-se em geral muito pouco com a ingestão de sódio, mesmo que esta
varie amplamente.
permanentemente a pressão arterial sem que seja modificada a relação entre ingestão e
excreção renal de sódio. Uma maneira de se obter esse efeito poderia ser um aumento
substancial da ingestão de sódio. No entanto, um exame simples da linha azul na Fig. 10-3
indica que seria necessário aumentar extraordinariamente a ingestão de sódio para que
ocorresse uma elevação de uns poucos mmHg na pressão arterial média. Portanto, a única
Fig. 10-4a, a inclinação da linha azul diminuiu, ou seja, a linha de natriurese pressórica
deslocou-se para a direita, indicando uma menor capacidade renal de excretar sódio: são
400 400
300 300
200 200
100 100
0 0
0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 0 20 40 60 80 100 120 140 160 180
Pressão de perfusão renal (mmHg) Pressão de perfusão renal (mmHg)
A B
Fig. 10-4 – Duas maneiras de se alterar a natriurese pressórica e provocar hipertensão arterial (deslocamento do ponto de
equilíbrio). A) diminuindo a declividade da linha de natriurese pressórica. Neste caso temos uma hipertensão sal-sensível. B)
deslocando a linha de natriurese pressórica para a direita, mantendo inalterada sua declividade. As linhas pontilhadas indicam
a natriurese pressórica normal.
agora necessárias pressões arteriais mais elevadas para que ocorra a excreção de uma
arterial eleva-se até que a excreção e a ingestão de sódio se igualem. estabilizando-se nesse
novo valor, necessariamente elevado em relação ao normal. Esse efeito pode ser obtido em
hipertensão essencial. Note-se que, em um indivíduo com esse tipo de anomalia, a pressão
arterial cai sensivelmente quando se reduz a ingestão de sal – o ponto de equilíbrio desloca-
se para a esquerda e para baixo, sendo possível até mesmo normalizar a pressão arterial.
Essas hipertensões são portanto sal-sensíveis. Uma outra maneira de se interferir com a
por exemplo um tiazídico (ver Capítulo 6). Nesse caso, a linha azul inclina-se para a
esquerda e a pressão arterial cai até que ingestão e excreção de sódio novamente se
ambos os casos, estaremos aumentando a capacidade renal de excretar sódio. Essa constitui
características da natriurese pressórica. Neste caso, a reta está deslocada para a direita,
será necessária uma pressão arterial mais elevada para uma mesma excreção de sódio,
pressão arterial neste caso seria pouco afetada retirando-se o sal da dieta, uma vez que a
inclinação da linha não se alterou em relação ao normal. Temos aqui portanto um exemplo
efeito, sendo necessário administrar drogas que tendam a trazer a natriurese pressórica a
suas características normais. É provável que uma parcela considerável dos hipertensos
reúna características comuns a esses dois modelos de disfunção. Por essa razão, a restrição
ainda que parcial à ingestão de sal e o uso de diuréticos integram de modo proeminente o
arsenal terapêutico utilizado no combate à hipertensão.
o hipertenso sempre apresenta uma relativa incapacidade de excretar sódio, não requer
capacidade de regular sua própria perfusão modificando a resistência das arteríolas que os
concentração local de catabólitos, como o O 2, o CO2 e os íons H+, à medida que varia o
de excretar sódio e o indivíduo passa a reter o íon, esse processo ocorre de modo
Essa anomalia tende a elevar ainda mais a pressão arterial. No entanto, essa elevação é
autolimitada, porque promove um aumento da excreção de sódio, o que aos poucos reduz o
periférica. Quando finalmente o indivíduo chega à situação estacionária (ou seja, quando a
zero (ou seja, como seria de se esperar, a ingestão e a excreção de sal são exatamente iguais
positivo de sódio. O indivíduo só retém uma pequena quantidade de sódio durante um curto
A teoria defendida por Guyton e outros encontra apoio em uma série de evidências
experimentais produzidas por esse grupo. Em cães que tiveram 70% de sua massa renal
removida, esses investigadores demonstraram que, mesmo nessas condições, o tecido renal
era ainda capaz de manter uma pressão arterial relativamente normal, provavelmente por
adaptação dos néfrons remanescentes (ver Capítulo 15). No entanto, quando esses animais
bebiam salina a 0,9% ao invés de água, desenvolviam hipertensão acentuada, a qual era
revertida quando voltavam a receber água pura. Esses resultados sugeriam que o que
quando os rins, mesmo sem sofrer redução de sua massa, têm diminuída sua capacidade
caso, os rins exigem uma elevação persistente da pressão arterial a fim de chegar a uma
taxa de excreção de sódio idêntica à de ingestão, ou seja, para chegar a um balanço zero de
sódio. Segundo a teoria de Guyton, um mecanismo semelhante a esse atua na maior parte
da capacidade renal de excretar sódio , com desvio para a esquerda da linha de natriurese
Uma série de evidências clínicas e experimentais obtidas por diversos outros grupos
dão respaldo à teoria da origem renal da hipertensão essencial. Talvez as evidências mais
Em experimentos realizados com várias cepas de ratos com hipertensão de origem genética,
observou-se de modo bastante consistente que a hipertensão "segue o rim". Isso fica claro
um doador hipertenso. Nesse caso, o receptor torna-se hipertenso. Isso ocorre mesmo
que a anomalia que leva à hipertensão é intrínseca àquele rim . O experimento inverso
Em outro estudo, pacientes com nefropatia hipertensiva terminal tiveram sua pressão
Outras evidências menos diretas dão também respaldo à teoria da origem renal da
de aorta, da redução cirúrgica da massa renal e talvez até mesmo de modelos classicamente
com dois rins (com um clip em uma das artérias). Algumas formas hereditárias de
hipertensão experimental dependem nitidamente da retenção renal de sódio, como é caso do
rato Dahl sensível, que se torna hipertenso quando submetido a um regime de alta ingestão
de sal. Outra linha de evidência em apoio à hipótese da retenção de sal é representada por
arterial. Esses estudos, dos quais um dos mais conhecidos é o INTERSALT, mostraram que,
a idade em populações afeitas dietas ricas em sal. Finalmente, deve-se lembrar que uma
ingestão de sal e ao uso de diuréticos, mostrando que a capacidade renal de excretar sódio
pressão arterial e o caráter transitório da atuação dos baroceptores não exclui a participação
fatores genéticos capazes de causar hipertensão, mas ignoramos quais são os produtos
gênicos envolvidos. Dada a íntima conexão entre os rins e o sistema nervoso, é possível que
os rins. Os vasos renais e o processo de transporte tubular de sódio respondem a uma série
de estímulos de origem nervosa, seja através da inervação direta do parênquima renal, seja
sistema calicreina-cinina, entre outros (ver Capítulo 2). Dentre todos esses, o sistema
é ainda hoje considerado por muitos como o mais importante, devido a três razões
aldosterona, passando por uma série de efeitos celulares que podem influenciar
extrarrenais. Por essa razão, o SRAA é considerado em detalhe neste capítulo (ver também
o Capítulo 2).
de uma artéria renal produz hipertensão arterial em animais. A contrapartida clínica desse
justaglomerulares denominado renina. A renina, por sua vez, age sobre um substrato
nos túbulos distais finais e coletores corticais promove reabsorção de sódio e água (ver
Capítulo 5). Esse efeito retentor de sódio contribui para a elevação da pressão arterial. A
tumor da supra-renal, produtor deste hormônio. Como vimos anteriormente, esta anomalia é
endotélio pulmonar) resultando na produção da substância ativa do sistema, a A II, que age
nos vários órgãos através da circulação. Este modelo é útil e consistente com o que se
renina, ECA, Ang I e A II na circulação. Com bases nestes dados tornou-se claro que o
fator limitante para a formação de A II no plasma é a atividade da renina. Sabemos hoje que
diminuição da concentração de cloreto de sódio que alcança a mácula densa (por exemplo,
relativa desses estímulos, ou seja, a hierarquização dos mesmos nas diferentes situações
fisiológicas e patológicas. O desenvolvimento de agentes farmacológicos que interferem
com o sistema, principalmente aqueles que o inibem, foi muito importante no tratamento de
SRAA. A utilização mais freqüente dessas drogas, principalmente a dos inibidores da ECA,
a partir dos anos 70 tornou-se um marco importante na medicina, pois veio revolucionar o
Na mesma época a popularização das técnicas de biologia molecular fazia com que esta
abordagem de alto poder analítico começasse a ser amplamente utilizada. Isto propiciou a
cardiovascular (vasos, coração, rins, adrenais e sistema nervoso). Esses achados forçaram a
uma revisão do paradigma anterior. Considera-se hoje a existência, além do sistema SRAA
endócrino, de sistemas SRAA locais (ou seja, é possível a vários órgãos e tecidos produzir
ações parácrinas (sobre células de tecidos vizinhos) e autócrinas (sobre células do mesmo
tecido). Este novo paradigma permite explicar, portanto, a ausência de correlação entre a
sistema. A existência de uma produção local de A II sugere também que esse peptídeo, que
participar da seqüência de eventos que conduzem à perda progressiva da função renal (ver
Capítulo 15) e ajudam a explicar a eficácia dos supressores do SRAA na prevenção desses
processos.
EXERCÍCIOS
Abra o programa HIPERTENSÃO ARTERIAL”. Há nesta tela duas áreas para a entrada de
parâmetros, denominadas 0-45 dias e 45-90 dias. Os parâmetros que constam de cada área podem
ser variados de modo inteiramente independente.
1) Aumente a ingestão de sódio no dia zero para 200 mEq/dia (a ingestão aos 45 dias acompanha essa
variação). Observe que: a) a pressão arterial e o débito cardíaco praticamente não variam. b) a
excreção urinária de sódio aumenta gradativamentede modo a igualar a quantidade ingerida. c) as
linhas azuis que representam a natriurese pressórica nos gráficos situados nos cantos inferiores
direito (0-45 dias) e esquerdo (45-90 dias) da tela tornam-se um pouco mais verticais, indicando
um aumento da capacidade renal de excretar sódio. Observe que, neste exercício, esses dois
gráficos são idênticos. Observe ainda a movimentação do ponto de equilíbrio (representado nos
dois gráficos pelo pequeno círculo vermelho).
2) Mantendo a ingestão inicial de sódio em 200 mEq/dia, reduza a 100 mEq/dia o valor
correspondente ao período 45-90 dias. Verifique o retorno dos parâmetros aos valores basais
3) Pressione novamente “PADRÃO”. Imagine agora uma situação em que o sistema nervoso
autônomo conseguisse a façanha de aumentar a resistência periférica sem alterar a resistência renal
e, portanto, a capacidade renal de excretar sódio (isso na verdade não ocorre na prática). Para isso,
aumente a resistência periférica de 20 para 25 mmHg/ml/min. Observe que a pressão arterial eleva-
se a princípio, retornando porém rapidamente ao valor basal à custa de uma queda no débito
cardíaco, motivada por uma perda urinária de sódio (forçada pela própria elevação da pressão
arterial – natriurese pressórica).
4) Reduza agora a declividade da reta de natriurese pressórica movendo a barra deslizante
correspondente (“capacidade renal de excreção de sódio”). Observe que: a) as reta azuis nos
gráficos inferiores esquerdo (0-45 dias) e direito (45-90 dias) deslocam-se para a direita e para
baixo, indicando uma redução de sua declividade e, portanto, de sua capacidade renal de excretar
sódio. b) desta vez a pressão arterial eleva-se progressivamente, estabilizando-se em um valor
permanentemente elevado em relação ao basal. c) ocorre de início uma redução na excreção
urinária de sódio, refletindo a dificuldade dos rins em excretar sódio na vigência de uma pressão
arterial normal. Com o passar do tempo, a excreção urinária de sódio retorna ao valor basal,
refletindo a elevação da pressão arterial (natriurese pressórica). O preço dessa adaptação é no
entanto a hipertensão arterial. e) o débito cardíaco aumenta gradativamente, explicando neste caso
a elevação da pressão arterial. Refaça o exercício observando atentamente a movimentação do
ponto de equilíbrio.
6) Vamos tentar agora tratar a hipertensão desse paciente. Reduza para 20 mEq/dia, na seção 45-90
dias, a ingestão de sódio. Observe que há uma queda dos níveis pressóricos e da resistência
periférica. Portanto, quando a declividade da reta de natriurese pressórica está diminuída, a
hipertensão é extremamente sensível à ingestão de sal. Observe agora o efeito da administração de
um diurético (assinalando o círculo correspondente) sobre a declividade da reta de natriurese
pressórica no gráfico à direita (correspondente ao período 45-90 dias). Observe novamente o
deslocamento do ponto de equilíbrio. Observe o que acontece ao débito cardíaco. Por que ocorre
isso?
7) Retorne a capacidade renal de excretar sódio ao normal, mantendo ativada a autorregulação.
Aumente para 110 o intercepto da reta de natriurese pressórica em relação ao eixo das abscissas.
Observe a reta deslocar-se para a direita, sem alterar sua declividade (mantendo-se portanto
paralela à reta normal). Observe o deslocamento do ponto de equilíbrio. Verifique que a pressão
arterial, a excreção urinária de sódio e o balanço de sódio comportam-se de modo semelhante ao
observado no ítem 6. Reduza agora a ingestão de sódio da segunda fase (45-90 dias) para 20 como
no ítem 7. Observe que o efeito hipotensor dessa manobra é agora bem mais modesto. Observe
também o efeito da administração de um diurético nessa fase. Portanto, quando a reta da natriurese
pressórica é paralela à normal, a hipertensão é pouco sensível à ingestão de sal. O efeito da
administração de diuréticos é também relativamente modesto. Isso não significa que a restrição
salina e o uso de diuréticos sejam inúteis a esses pacientes, uma vez que alguma redução pressórica
sempre ocorre. No entanto, esses pacientes quase sempre necessitam de outros medicamentos anti-
hipertensivos.
8) Combine agora as duas anomalias renais, reduzindo a declividade e aumentando o intercepto para
100 (essa é provavelmente a situação mais freqüente). Verifique que a sensibilidade a sal é
intermediária. Isso quer dizer que, de modo geral, vale a pena tentar controlar a hipertensão
restringindo a ingestão de sal e administrando diuréticos, nem que seja como um tratamento
coadjuvante.