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B) CHOQUE NÃO-HEMORRÁGICO:
• Choque Cardiogênico: deve-se suspeitar de traumatismo fechado do coração sempre
que a desaceleração rápida for o mecanismo de lesão torácica. Todo doente com trauma
fechado do tórax necessita de monitoração eletrocardiográfica (ECG) contínua para
determinar a presença de arritmias ou de traçados sugestivos de lesão. Os níveis
sanguíneos da isoenzima CK e os estudos do miocárdio com isótopos específicos
raramente têm algum valor no diagnóstico FAST realizado no OS pode identificar a
presença de líquido no pericárdio e a possibilidade de tamponamento cardíaco como a
causa do choque.
• Tamponamento Cardíaco: é mais comum no ferimento penetrante do tórax, mas pode
ocorrer como resultado de contusões torácicas. Bulhas abafadas, veias do pescoço
dilatadas e engurgitadas com hipotensão que não responde à reposição volêmica
sugerem tamponamento cardíaco (TRÍADE DE BECK – pode ou não estar presente).
O tamponamento cardíaco é tratado melhor por toracotomia. A pericardiocentese pode
ser uma manobra paliativa.
• Pneumotórax Hipertensivo: o pneumotórax hipertensivo pode simular o
tamponamento cardíaco, mas pode ser diferenciado deste pela ausência de murmúrio
vesicular e pelo timpanismo à percussão no hemitórax afetado. É uma verdadeira
emergência cirúrgica e requer diagnóstico e tratamento imediatos. Ele aparece quando
se forma um mecanismo valvular que permite a entrada de ar no espaço pleural, mas
não a sua saída. A pressão intrapleural aumenta progressivamente, causando colapso
total do pulmão e desvio do mediastino para o lado oposto, e resulta em diminuição do
retorno venoso e redução no débito cardíaco. presença de insuficiência respiratória
aguda, de enfisema subcutâneo, de ausência de murmúrio vesicular, de timpanismo à
percussão e de desvio da traqueia sugere fortemente o diagnóstico e autoriza a
descompressão torácica emergencial com Gelko calibroso no 2º Espaço Intercostal
adjacente à borda esternal sem esperar a confirmação radiológica.
• Choque Neurogênico: a perda do tônus simpático acentua o efeito fisiopatológico da
hipovolemia e a hipovolemia acentua o efeito fisiopatológico da denervação simpática.
O quadro clássico do choque neurogênico é hipotensão sem taquicardia e sem
vasoconstrição cutânea. Os pacientes devem ser tratados inicialmente como se
estivessem hipovolêmicos. O insucesso no restabelecimento da perfusão orgânica com
a reposição volêmica sugere a presença de hemorragia contínua ou de choque
neurogênico. A monitoração da PVC pode auxiliar no tratamento desse problema.
• Choque Séptico: esse problema pode ocorrer se a chegada do doente ao PS demorar
algumas horas. O choque séptico pode ocorrer nos doentes com ferimentos penetrantes
de abdome com contaminação peritoneal por conteúdo intestinal. Os doentes sépticos
que estão hipotensos e afebris são de difícil diferenciação daqueles em choque
hipovolêmico, pois ambos os grupos podem apresentar taquicardia, vasoconstrição
cutânea, diminuição do débito urinário, diminuição da pressão sistólica e pulso fino.
CONSIDERAÇÕES ESPECIAIS:
• IDOSO: o processo de envelhecimento produz uma diminuição relativa da atividade
simpática no que diz respeito ao sistema cardiovascular. Acredita-se que este fato
resulte de um défice na resposta do receptor às catecolaminas mais do que uma redução
na produção destas. A complacência cardíaca diminui com a idade.
▪ A doença oclusiva vascular aterosclerótica faz com que muitos órgãos vitais se
tornem extremamente sensíveis a reduções no fluxo sanguíneo.
▪ Muitos doentes idosos apresentam uma depleção de volume preexistente,
devida a uso crônico de diuréticos ou à um mau estado nutricional.
▪ O uso de bloqueadores beta-adrenérgicos pode mascarar a taquicardia como
indicador precoce do choque.
▪ Outros medicamentos podem comprometer a resposta sistêmica ao trauma, ou
bloqueá-la totalmente.
▪ A redução na complacência pulmonar, a diminuição da capacidade de difusão e
a fraqueza geral da musculatura respiratória limitam a resposta do doente.
▪ O envelhecimento glomerular e tubular dos rins reduz a capacidade do idoso em
preservar o volume. Os rins são também mais suscetíveis aos efeitos do
hipofluxo.
▪ É prudente considerar precocemente a conveniência da monitoração
invasiva com o intuito de evitar uma reposição de volume excessiva ou
insuficiente.
• ATLETAS: as rotinas de treinamento rigoroso adotadas por este grupo de doentes
alteram sua dinâmica cardiovascular. A resposta habitual à hipovolemia pode não se
manifestar em atletas.
▪ O volume sanguíneo pode aumentar de 15 a 20% e o débito cardíaco pode
aumentar até seis vezes.
▪ O volume de ejeção sistólica pode aumentar 50% e o pulso de repouso é,
geralmente, em torno de 50. A capacidade de adaptação à volemia é muito boa.
• GRAVIDEZ: tendo em vista a hipervolemia fi siológica da gravidez, torna-se
necessária uma perda sanguínea maior para que se manifestem anormalidades de
perfusão na mãe que também repercutam em sofrimento fetal.
• MEDICAMENTOS:
▪ Os bloqueadores de receptores beta-adrenérgicos e os bloqueadores dos canais
de cálcio podem alterar significativamente a resposta hemodinâmica do doente
à hemorragia.
▪ A superdosagem de insulina pode ser responsável por hipoglicemia e pode ter
contribuído para os eventos que resultaram no traumatismo.
▪ O uso crônico de diuréticos pode explicar uma hipocalemia inesperada.
▪ Agentes antinflamatórios não esteroides podem prejudicar a função plaquetária.
• HIPOTERMIA: os doentes que apresentam hipotermia e choque hemorrágico não
respondem normalmente à reposição volêmica e à administração de sangue podem
desenvolver ou piorar a coagulopatia.
• MARCA-PASSO: doentes com marca-passo são incapazes de responder a perda
sanguínea da maneira habitual, pois o débito cardíaco é diretamente proporcional à
frequência cardíaca. A monitoração da pressão venosa central é de grande utilidade para
orientar a reposição volêmica.