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CADERNO
50
Os primeiros anos
da Igreja Católica
VOZES N. 50 - 1 1
seus estudos, as suas opol'tuni e não tentar fazer a fantasia de
dades de investigação, a sua ex sempenhar o papel de fato".
periência e os seus dotes natu Hoje, muitos historiado1·es 11i
rais bem o apuelhavam pua pro tuam a conclusão da HistóTia da
duzir as obr11s hist6rirns que lhe lyrcju de Eusébio no eno 324 da
gt·anjearan1 o titulo de "Pai da era cristã. No ano seguinte Eusé
Hist6ri11 da Igreja". bio estava presente e desempenha
Embora fôssc um escritor mui va papel importante no primeiro
to alentado cm muitos terrenos, concllio mundial ou ecumênico da
foram os seus trabalhos no teneno quilo que então era conhecido (e
· é conhecido hoje) como a Igreja
da história da Igreja que bene-
ficiaram especialmente as gera Católica. Isso tornou-se posslvel
ções que sa lhe scguir11m, mesmo pela liberdade de religião e 1le
até hoje. reunião religiosa p1·oclamada pe
lo Imperador Romano Constanti
no. Delegados vindos das princi
pais partes do mundo cristão, com
a proteção do Imperador, viaja
ram para a cidade de Nicéia e
nela se reuniram - cidade es
sa desde muito destrulda, mas
que estava situada não muitas
milhas a sudeste dessa que hoje
é conhecida como a cidade d e
Istambul, n a Turquia.
O concílio reuniu-se em 325 pa
ra p1·oclamar a unidade da ver
dadeira Fé Cristã e prática i·e
ligiosa para a Igreja Católica.
:l!:le é um 1·egish·ador de fatos Na sua composição, na sua or
que podem ser acreditados; pol' ganização hierárquica e no seu
quanto, como o disse um escrito1· processo, êsse concilio deveria ser
moderno, "o seu direito à grande um abridor de olhos para mui
za l'epousa na sua vasta erudi tos cat61icos modernos e acatóli
ção e no seu rigoroso senso. Os cos igualmente.
seus podêres de aquisição eram Para os católicos êle mostra
notá.veis, e era incansável a sua a sua Igreja vivendo, crendo, cul
diligência no estudo. :l!:le tinha a tuando a regulando-se ao longo
seu mando, indubitàvelmente, mais das mesmas linhas qual o faz
material adquirido do que qual hoje. Para os não católicos êle
quer homem na sua época . . . Vi revela até onde as seitas cristãs
sava a pôr os seus leitores de de hoje se apartaram da Fé, d o
posse do saber que êle pr6prio culto e da organização dos pri
adquirira, mas era semp1·e bas meiros cristãos, que então esta
tante consciencioso para puar ai vam sõmente algumas gerações
distantes de Cristo e dos seus mas, na sua qualidade de histo
o.p6stolos. riado1·, e com a sua clara e acura
Enquanto lei· este folheto, ima da visão do passado, fomece-Ihe
gine, se quiser, Eusébio, o histo material de fundo tirado da sua
riador, no ano 325, atuando na Uistóritt da loreja então recém
qualidade de um profissional de escrita. Cita coisas não sômente
imprensa ou de relações públicas dos seus próprios escritos, mas
do Concílio em Nicéia. O dever também do seu conhecimento da
dêle é informar os angariadores quilo que outt·os disseram e es
de noticias e todos os que estão creve1·am, mesmo se os escritos
interessados nos trabalhos do Con dêstes não chegaram até nós se
cilio. Isto significa que êle está não pelos excertos que foram prc
falando a você. E não só explica sel'Vados nas obras dêlc.
o que está sendo feito e po1· quê,
O Concilio da Vitória'' em Nicéia
..
'l
Capadócia e na Ásia, e, por fim,
vindo 11a1·a Roma, foi crucificado
de cabeça pBl'a baixo, po1· ter
pedido sofrer dõste modo. Que
precisamos dizer a respeito de
Paulo, que Jlregou o Evangelho
de Cristo de Jer usa l é m à ll ir ia,
e depois sofreu o rnartí1·io e m
Roma sob Nero ?" (Eusébio, Hi.s
tó1·ia Eclesiástica, III, 1). Hero
des Ag1·ipa "mandou matar a es
pada Tiago, irmão de João" (At
12, 2). Josefa, o g u nd e historia
dor judeu, d iz-nos do outro Após
tolo Tiago : como os judeus, "ten
Um dos perseguidores judeus, do-o acusado, com cel'tos outros,
Saulo, de Tarso, discípulo dêsse de lhes violar a lei, entregal'arn-no
mesmo Gamaliel, ainda teve d e para ser lapidado" (A 11tig11ida,..
ap1·ender duramente essa l ição. eles elos J11cle11s, 20, 9 ) . E assim
Na estrada de Damasco, por on· com os outros. Exceto João, todos
de io para deter os cristãos, êle fo!'am mortos por causa das suas
foi denubado do seu cavalo por convicções, e mesmo João foi mi
intervenção divina, para ouvfr lag!'osamenle presel'vado.
uma censura do seu pr6prio Mes 111 e.�se a1iostálicu. E qual foi a
tre : "Saulo, Saulo, pol' que me messe dêsse sangue dos Apósto
persegues?" (At 9) . E Saulo, _, los? "Sob a influência do poder
pel'Seguido1·, tornou-se Paulo, o celeste e com a coopel'ação divi
Apóstolo, modêlo que é de mui na, o ensino do Salvado1·, como
tas conversões sem explicação hu os raios do sol, prontamente ilu
mana satisfat6ria. minou o mundo todo . . . Em ca
Dispersão apost6lica. Mas aten da cidade e aldeia igrejas fo1·am
damos ao nosso esbóço do desen prontamente cstnbelecida9" (Eu
volvimento cristão ; resumamos a sébio, História, II, 3).
nossa rápida visiio da expansão Por êsse tempo os pagãos ha
da Igreja. "Os Santos A póstolos viam-se tol'nado tão cépticos a
e disclpulos de nosso Salvador fo respeito dos seus tolos mitos, e
ram dispe1·sados através do mun fábulas de deuses e deusas, tão
do. A Pártia, segundo a tra desgostosos das práticas imol'ais
dição, foi confiada a Tomé corno feitas por todos e no entanto re
seu campo de ti·abalho; a Cltia provadas pela consc1encia, tão
a André ; e a Ásia a João, que, cansados da pêca e velha conso
depois de ali viver algum tempo, lação do "comamos, bebamos e ale
morreu em 1!:: feso. Pedro parece gremo-nos, pois amanhã rno1·1·e1·e
ter pregado aos Judeus da Dis mos'1, - que estavam famintos
persão no Ponto, na Bitinia, na de urna religião sublime e pura.
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Quando niío sômcntc ouviram fa êlcs ouviram o seu chefe Simão
lar de tal religião, mas também Pedro rcmemoru-lhes que êles
n vit·am pl'aticada pelo povo Cl'is não eram redimidos pelas obras
tão de vida sem mancha e de co- da Lei Mosaica, mas que "nós
1·agcm invencível, tornaram-se an somos salvos pela g1·aça do Sc
siosos por abraçá-la. Depois, en nho1· Jesus, tal como o são êles"
levados com a sua recém-acha (At 15, 11). Esta decisão tran
da felicidade e paz de alma, êsses quilizou os antioquenos, cm cuja
convcl'tidos, tanto os leigos, ho cidade o problema chegara a uma
mens e mulheres, como o clel'o, solução. Ali, sob a própria ins
não podiam descansar enquanto peção de Pcdl'o, tantos gentios já
não transmitiam essa boa-nova haviam aderido à lg1·eja, que os
aos seus amigos e conhecidos, e membros desta já não podiam ser
até mesmo aos seus inimigos e classificados como judeus; assim,
perseguidores. O Evangelho cris "em Antioquia é que os discípu-
tão el'a particularmente bem re
cebido pelos escravos e pelos po
b res, êsses esquecidos de uma so
ciedade egoísta. E, assim, não deve
você fixar a sua atenção na mais
espetacular pregação da doutl'i
na de Cristo no mercado públi
co, a ponto de descurar essa fir
me penetração da sociedade pelo
vulgo, como a massa do pão pelo
fermento.
Unive1·salidacle cristã. Será que
essa mensagem cristã foi católi
ca, isto é, universal, logo desde
o comêço? Ora, precisamente sô
bre esta questão vital surgiu a los foram pela primeira vez cha
pl'imeira disputa na Igreja. A des mados cristãos" (At 11, 26). E
peito do mandado de Cristo de é um sucessor de Pedro na i greja
ensinar tôdas as nações (Mt 28, de Antioquia, Inácio Teóforo,
19), apesar do batismo do gentio quem nos fornece - no reinado
Cornélio por Pedro (At 10), al de Trajano (98-117) - a primei
guns convertidos judeus procura ra prova do atual sobrenome da
vam monopolizar para si mes Igreja Cristã. Porquanto êle diz:
mos o cristianismo, ou, pelo me "Onde o bispo aparece, ali está
nos, fol'çar os convertidos gentios o povo, tal como onde está Je
a aceitarem as práticas da lei mo sus Cristo, aí está a Igreja Ca
saica i n teira. Todavia, os Após tólica" (Carta aos Esmír11ios, 8).
tolos assim não entendiam. Re Ulterior expansão. Pedro, por
unindo-se em Jerusalém durante certo, não ficou em Antioquia,
o reinado de Cláudio (41-54) , mas p1·osseguiu para Roma, da
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qual fêz o seu quartel-general romântica, não é nenhuma lenda
permanente. De Roma, a fé cris inverificável, mas sim um fato
tã foi levada a Alexandria, no científico .sério. Temos os nossos
Egito, pelo secretário de Pedro, livros, os Evangelhos, os Atos, as
Marcos, o autor do segundo Evan Cartas dos Apóstolos; todos êstee
gelho. "t:sse Ma1·cos foi o primei- suportarão todo e qualquer exame
1•0 a ser enviado ao Egito, e pro honesto para história objetiva.
clamou o Evangelho que havia Mas também damos grande impor
escrito, e foi quem pl'imeiro esta tância à trnnsmissão do ensino
beleceu igrejas em Alexandria" de Cristo por palavra de bôca ;
( Eusébio, História, II, 16 ) . Ale na verdade, por uns vinte anos,
xandria tornou-se um centro cris até mesmo os relatos evangélicos
tão de e111dição quando a sua foram por essn forma preserva
escola catequética foi elevada à dos pelos Apóstolos. Documentos
verdadeira categoria de colégio podem ser forjados, mas o teste
pelos hábeis doutõres Panteno, munho oral de homens fidedignos
Clemente, Orígenes e Dionísio, o dispostos a morrer pelas suas
Grande. Paulo também "tinha inú convicções - isto proporciona real
meros colaborado1·es ou "co-mi segu1·ança.
Iicianos", como êle lhes chama E nem há nessa linha de trans
va . . . Timóteo, assim é relatado, m1ssao doutrinária tantos elos
foi o primeiro a receber o epis como você poderia pensar. Deixe
copado da paróquia em i;:feso, e me dar-lhe um exemplo. O Após
Tito o das igrejas em Creta . . . tolo João viveu até idade avan
Paulo atesta que Crescêncio foi çada. Clemente de Alexand1·ia re
enviado à Gália, porém Lino, que lata que "a igreja em :i;;feso, que
êle menciona na Segunda Epís foi fundada por Paulo, e onde
tola a Timóteo (4, 21) como seu João permaneceu até o tempo de
companheiro em Roma, foi o su T rajano (98-117) , é uma fiel tes
cessor de Pedro como Bispo da temunha da tradição apostólica"
igreja ali . . . Também Clemente, ( Eusébio, História, III, 23). Ora,
que fôra nomeado terceiro bispo o Apóstolo João instruiu pessoal
da igreja em Roma, foi, confor mente Policarpo, a quem nomeou
me Paulo testifica, seu colabora Bispo de Esmirna, como o regis
dor e co-miliciano . . . " ( Eusébio, ta o nosso Tertuliano (Prescri
História, III, 4, citando Filip ção dos hereges, 32). Policarpo,
4, 3). por sua vez, viveu até idade avan
Historicidade cristã. Mas eu não çada, po1·que, quando lhe é man
desejo enfadá-lo com listas de no dado negar Cristo, êle redargúi
mes. Meu único objetivo ao apre aos oficiais perseguidores : "Oi
sentar êstes foi mostrar que nós tenta e seis anos o tenho servi
cristãos guardamos listas cuida do, e êle não me fêz mal; como
dosas dos nossos chefes p1·inci posso, pois, blasfemar meu Rei
pais, os nossos bispos. A nossa que me salvou?" ( Eusébio Histó
h istória não é nenhuma fábula ria, IV 15 ) . Então Policarpo foi
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morto enquanto l'ezava pela "Igre
ja Cnt6lica univel'sal" (Atn11 tlc
Jlfartlrio, 8). E bem fazia êle, pois
um dos seus disclpulos, Irineu,
breve viria o. ser bispo da distan
te Liiío, na Gália. esse I rineu
l'elembl'o. : "Posso dizei' o . próprio
lugai· onde o bento Policupo cos
tumava scnta1·-sc quando discul'
sava, as suas idas e vindas, o seu
modo de vida e a sua apal'ência
pessoal, e os seus sel'mões ao po
vo, nos quais descreveria o seu
tl'ato com João e com o resto da
queles que o Senhol' envial'a, e
como relntal'ia as palavl'as dêles.
Tudo quanto dêles ouvira sôbl'e o los acusadores, e o processo pros
Senhol', sôbl'e os seus milagres seguirá, pol'que o contágio dessa
e o seu ensino, Policarpo, haven superstição (assim diz êle) tem
do-o recebido de testemunhas ocu se espalhado não s6 pelas cida
lares do Vel'bo de Vida, relatá-Jo des, mas também pelas aldeias
ia de perfeito acõl'do com as Es fazendas" (Plínio, Cartas, X, 96
crituras" ( Carta a Florino, ci Uns cinqüenta anos mais ta
tada por Eusébio, Hist6ria, V, 20). de já não se trata mais de un.
€ssc ll'ineu ( morto em 202 ) , que igreja local, porque aquêles qu
se tornou mundialmente famoso, refe1·iam o mutlrio de Policar
mol'l'eu há pouco mais de um sé po em Esmirna se dirigem aos
culo ( 202) . O que eu, portanto, "conve11idos da Santa Igrej a Ca
estou quel'endo frisar é que, mes tólica l'esidentes em qualquel' lu
mo se não tivéssemos Escl'ituras, gar", sob Cristo, "o Pastor da
ainda poderiamas ter tl'adição fi Igreja Católica universal" (Ata.a
dedigna atl'avés de tl'ês gerações do Martírio, 1, 19). Pelo mesmo
de homens afiançáveis : de João, tempo Justino, o filósofo, pensa que
o Apóstolo, através de Policarpo, "não há raça, de bárbuos ou de
o Mál"ti1·, até Irineu, Bispo, auto1• gregos . . . nem mesmo de nôma
e mál'tir. des sem casas ... entre os quais
Crescimento cristão. Não temos Ol'ações e ações de graças não se
o númel'o exato de Cl'istãos naque jam recitadas, em nome de Je
le tempo. Tal censo seria impos sus crucificado, ao Pai e Criador
slvel. Mas note isto. Durante o de todos" (Diálogo com Trifãa,
reinado de Trajano, o Governa 1 17 ) .
dor Pllnio, da BiUnia, assim re Outro meio século mais tarde,
lata ao Imperador : " Homens de Irineu refere a respeito da Gá
tõda idade e condiçiio, de ambos lia : "As igrejas que foram plan
os sexos, são postos em perigo pe- tadas na Germânia não Cl'êem nem
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transmitem coisa alguma diferen uma vez s6, senão várias vêzes . . .
te, nem as da Espanha, nem as Foram batidos com varas, chico
da Gália, nem as do Oriente, nem tes, correias, cordas . . . Alguns,
as do Egito, nem as da Llbia, nem com as miios atadas pot· trás,
as que foram estabelecidas nas eram colocados no cavalete, en
l'cgiões centrais" (Contra as he quanto todos os seus membros
resias, I, 1 0 ) . eram esticados por uma máqui
Assim, a f é cristã marchava na . . . Os executores rasgavam
avante. Menos de um século an lhes com garfos de ferro não sõ
tes, o sábio Origenes, reitor da mente os lados, mas também o
Academia Alexandrina, podia ex ventre, as pernas, e até mesmo
plicar : "Antes da vinda de Cris as faces. Alguns eram pendura
to, quando foi que a terra da Bre dos no pórtico por uma das
tanha concordou com a religião mãos . . . alguns eram amarrados
de um s6 Deus? quando foi que a colunas. . sem que os pés lhes
o fêz a terra dos Mouros? quan tocassem o solo . . . " ( Eusébio,
do o mundo todo junto? Entre Hist6ria, VIII, 10). Não é de ad
tanto, agora, através das igt·ejas mirar que às vêzes as espadas
que se estendem até os confins do dos executores se embotassem.
mundo, a terra inteira pronuncia Não admira que muitas vêzes
com aleg1:ia o nome do Senhor" piedosos parentes e amigos nada
( Homilia IV sôbre Ezequiel, 1 ) . mais pudessem fazer do que en
O encontro Niceno. Hoje você tenar as vitimas em massa : você
vê bispos, padres e diáconos d!! pode ler nas catacumbas : "150
todo o mundo católico encon mártires de Cristo"; "Mareeis e
trando-se abertamente em Nicéia. 550 mártires de Cristo". Os Im
Muitos são sobreviventes da úl peradores Romanos Nero, Domi
tin1a grande perseguição sob os ciano, Trajano, Marco Aurélio,
Imperadores Diocleciano e Ga Severo, Maximino, Décio, Galo,
lério. Há menos de vinte anos o Valeriano, Diocleciano, Galério -
Bispo Filéias de Thmuis, no Egi todos procuraram exterminar a
to, escrevia: "Os beatos mártires Igreja, e hoje o sucessor dêles,
que conosco viveram . . . sofreram Constantino, honra-a. Não é ver
por amor de Cristo tôdas as pe dadeiramente um "Concilio da
nas, todos os tormentos que po Vitória"? - uma vitória sôbre
diam ser inventados, e alguns não a perseguição?
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Que é isto? Será que por Cristo. f:le já não é
ouvi você chamar-me pre mais um me1·0 discipulo
sidente deste Concílio <le ou aprendiz; é chamado
Nicéia? Isto não é certo. para ser mestre.
Sou Bispo de Cesuéia, na Depois da sua Ressur
Palestina. reição, é aos onze Após
O seu mal-entendido ori tolos fiéis que Cristo diz:
gina-se da sua pouca fa "Assim como o Pai me
miliaridade com o gover enviou, assim também eu
no eclesiástico. Talvez que vos envio... Recebei C'
uma breve explicação aju Espirita Santo; a que 1
de a esclarecer alguns perdoardes os pecados se
pontos. lhes-ão perdoados, e
Primeiramente você deve com quem os retiverdes ser-lhes-i
preender que em qualquer conci retidos" (Jo 20, 21). Mais um
lio da Igreja os membros quali vez, o tênno acentuado é enviar.
ficados são bispos, sucessores dos os Apóstolos devem continuar a
Apóstolos de Cristo. Na verdade, própria missão que Cristo recebeu
êles são assistidos por sacerdo de seu Eterno Pai. E a êsse mes
tes e diáconos, alguns dos quais mo grupo de Apóstolos é que o
são técnicos peritos, como o diá Senhor diz pouco antes da sua
cono Atanásio de Alexandria. Ascensão: "Todo poder me foi
Contudo, sempre a responsabili dado no céu e na terra. Ide, pois,
dade e o voto decisivo cabe aos e ensinai t6das as nações, bati
bispos. zando-as em nome do Pai e do
Como você sabe, Cristo teve Filho e do Espirita Santo, en
muitos discipulos, mas só confiou sinando-as a observar tudo o
o poder de governar a um corpo que eu vos mandei. E eis que eu
de doze, chamados Apóstolos. Lu estou convosco todos os dias até
cas alude a isto no seu Evange à consumação dos séculos" (Mt
lho: "Quando amanheceu, êle cha 28, 18). E' então surpreendente
mou os seus discípulos, e dêles que a tais plenipotenciários Cris
escolheu doze, aos quais também to diga: "Quem vos recebe a mim
chamou apóstolos" (Lc 6, 13) me recebe" (Mt 10, 40).
01·a, "apóstolo" quer dizer envia· Sucessão Apost6lica. Ma!I vejo
do, isto é, delegado para falar que você está para me perguntar
18
qual é a conexão que existe entre nhor Jesus Cristo, que haveria
os Apóstolos de Cl'isto e os bispos contendn sõbre o ofício de bispo.
católicos reunidos aqui em Nicéia. Assim, por causa disto, lendo dis
S implesmente esta : os bispos so completa presciência, êlcs no
- isto significa "vigias" - são mearam os homens supramencio
os sucesso1·es dos Apóstolos pela nados (bispos ) , e depois lhes de
vontade de Cristo. Quando Cris ram um caráter permanente, de
to disse aos Apóstolos que fica modo que, quando �les morressem,
ria com êles até o fim dos sécu outros homens aprovados lhes su
los, evidentemente entendeu que cedessem no ministério" (Carta
êles teriam sucesso1·es, pois mui aos Co,·lntios, 42, 44 ) .
tas vêzes êle predisse que êles E' por isto que Inácio de An
seriam mortos (Mt 10, etc. ) . tioquia (morto em 107 A. D . ) ,
Na minha descrição da expan também discípulo dos Apóstolos,
são da Igreja, tive ensejo de men insiste tanto sâbre o govê1·no epis
cionar, de passagem, os nomes copal, dizendo: "Jesus Cristo,
de alguns dos sucessores imedia nossa inseparável vida, por sua
tamente escolhidos pelos Após parte é o pensamento do Pai, tal
tolos primitivos. Agora deixe-me como os bispos, embora nomeados
dar-lhe um relato contemporâneo att-avés da vasta, larga terra, re
oriundo de um sucessor que estava presentam o pensamento de Jesus
à mão como testemunha ocular C risto . . . Daí ser conveniente pa
dessa crucial "mudança da guar ra vós agirdes em concordância
da da tradição cristã, dessa im
n
14
esteja o povo, tal como onde está
J csus Cl'isto aí está P. Igreja Ca
tólica" (Esmlrnios, 8 ) .
Li.qta.q e11iscovni.�. Orn, lcval'ia
muito tempo dal'mos os nomes de
todos os bispos que sucederam aos
Apóstolos cm vá1·ias partes do
mundo até os nossos dias. Mas te
mos tais listas, e elas estão aber
tas para exame. Mais de um sé
culo atrás, Tertuliano desafia,·a
todos os que quisessem, dizendo:
"Se houvesse quaisquer hereges
bastante ousados para reivindica
rem um fundamento durante a
idade apostólica, de modo que êles e os de Alexandria desde Mul'
pareçam, assim, derivar dos Após cos, o Evangelista, até o Pedro
tolos, po1· terem existido no tem dos meus próprios dias (II-VII);
po dêlcs, podemos dizer-lhes: Que e finalmente aquêles que sucede-
êles exibam os registos originais 1·am ao Apóstolo Tiago em Jeru
das suas igl'ejas. Mostram a lis salém até "Hermon, o último an
ta dos seus bispos, estendendo-se tes da perseguição nos nossos
em devida sucessão desde o co dias" (II-VII) (Vll-32). Os 1·e
mêço, de modo que o seu bispo gistos ali estão todos; são do co
mostre como tendo por seu orde nhecimento público, ou podem sê
nante e predecessor um dos Após lo pa1·a quem quer que o deseje.
tolos ou um dos discípulos dos Não há nada lendário ou secre
Apóstolos. Po1·quanto nesta ordem to no fato histórico de serem ês
as igrejas apostólicas apresentam tes bispos do Concílio Católico de
os seus registl'os, tal como a Nicéia os sucessores legais dos
lg1·eja de Esmirna mosti·a que Apóstolos de Cristo.
Policarpo foi para ela nomeado Presidência Romana. Entretan
po1· João (Tertuliano, Prescrição to, até agora ainda não abordei
de Hereges, 32). a sua questão implícita. Não e.""t
Ademais, eu mesmo organizei pliquei por que sou o historiador
as listas de algumas das princi antes que o presidente do Concílio
pais igrejas, aquelas a que cha Niceno. Deixe-me passar a êste
mamos patriarcais. Na minha ponto. Embora eu tenha feito o
Hist6ria Eclesiástica você achará discurso de abertura - po1· ser
não somente os nomes dos Bis amigo pessoal do nosso gracioso
pos de Roma em sucessão reg1·es lrnpe1·ador Constantino, - não
siva até S. Pedro (III-VII), mas sou presidente do concílio. tste ti
também aquêles que se seguiram tulo pe1·tence ao chefe de todos
a Pedro em Antioquia até o ll1P.U os bispos do mundo cristão .:a
contempol'âneo Cirilo (III-VII); tólico, o Bispo de Roma, nosso
. 16
Santo Padl'e Silveetl'e. Embol'a pl'eendel' que tais homena não
não esteja aqui cm pessoa, êle iriam cedei" o pl'imeiro lugal' a
enviou seus delegados, o Bispo um usul'padol'; nunca tolera
Hósio, de Cól'dova na Espanha, riam a introdução de algu1na no
e os sacel'ifotes romanos Vito e va super-autoridade não estabele
Vicente. Você verá que, quando cida pol' Cristo. E assim você já
as atas oficiais do concilio vie tel'á adivinhado a real explicação:
l'em a ser assinadas, as pl'imei Silvestre de Roma é chefe dos
ras assinatul'as não serão as dos bispos, não pol' sel' Roma capital
bispos das gl'andes cidades Ol'i do Império, mas pol' ser êle su
entais: Alexandl'e de Alexandl'ia, cessor de Pedl'o, que pelo pl'Õprio
ou Macél'io de Jel'usalém, ou Eus Cristo foi feito chefe dos Após
tãtio de Antioquia. Registei a as tolos.
einatul'a oficial aqui. Reza ela : Eleição ele Pedro. Por cel'to, eu
"Hósio, Bispo de Córdova, es quase não pl'eciso mostl·al' a quem
creveu : "Assim c1·eio como aci &eja familiar com os nossos Evan
ma foi escl'ito. Vítor e Vicente, gelhos que Pedro desempenhou u
sacerdotes romanos, pelo vene papel p1'incipal entre os discípu
r
rável homem, nosso santo papa
bispo, Silvestre, assinaram,
rendo como acima escriton. Ale
los de Cristo. Isto l'esulta claro
de três dos Evangelhos; o úni
co Evangelho que lhe altel'a al
lndl'e de Alexandria .. . " ( Man gum tanto as pl'el'rogativas é o
' Amplissima. Collectio Conci de Mal'cos, que escreveu sob as
.orum, II col. 692 ss. ) . vistas de Pedro e não ousou ofen
Agora quase posso ler o s seus del'-lhe a humildade. Mas veja o
pen&Bmentos. Ouço-o perguntai': que os outros têm a dizer.
Quem é êsse Papa Silvestre? Que Mateus regista a promessa fei
valor tem êle? Uma boa pel'gun ta por Cl'isto a Pedro da supre
ta, realmente, pois deve haver al ma autoridade, significada pela
guma boa i·azão para que todos ês figul'a familiar das chaves: "Tu
ses bispos, caracteres fol'tcs, se és Pedro, e sôbre esta pedra edi
nhores em suas próprias casas, te ficarei a minha Igreja, e as 11or
nham cedido o pl'imeiro lugal' aos tas do infemo não prevalec<>rio
meros deputados e procu1·adores contra ela. E du-te-ei as cha
do ausente Bispo de Roma. Con ves do reino dos céus; e tudo o
forme você já tel'á obsel'vado, que ligal'es na terra será ligado
muitos bispos que aqui estão pel' no céu, e tudo o que desligar..:s
deram uma das mãos ou um dos na tena será desligado no ..:éu"
olhos, ou sofreram de algum ou ( M t 16, 18-19).
tro modo na recente pel'seguição. Ora, Lucas adita uma pl'omcssa
São, pois, homens a um tempo da infalibilidade, isto é, uma segu-
corajosos e conscienciosos, homens 1·ança de que Pedro e os seus su
dispostos a moner antes que a cessores nunca ensinariam o êl'ro
trair qualquer ponto da fé cristã. em matéria de fé cristã ou de mo
Pode você agora prontamente com- ral : " S imão, Simão, eis que Sa-
16
os campos de m1ssao e c>m ad
mitir convertidos gentios (8-10);
e em presidir o primeiro concí
lio cristão cm Jerusalém (15).
Note como, depois da fala de Pe
dro nesta ocasião, "então a assem
bléia inteira se calou" (At 15, 12).
- --
17
Naturalmente a VC!lha peuegul e ali foi rnartil'izado com Pcdl'o.
dora judia, Babilônia na Mesopo João insinua outro tanto no seu
tâmia, e:1tava então grandemente Apocalipse: "Exulta sôbre r.la
em rufnas. Mas nenhum cristão (Babilônia, nliús Homa), 6 céu,
convertido do judaismo deixaria e vós santos apóstolos e proíetae,
de compreender essa alusão à his pois Deus julgou o vosso julg-J
tória judaica : "Babilônia" aí re mento sôbre ela" ( 18, 20 ) . Ao
íe1·e-se a Roma, moderna ca11torn mesmo tempo, na própria Roma, o
e perseguidora de judeus e cris sucessor de Pedl'o, Clemente, in
tãos. bto é um elementar códi forma-nos que "as maiol'es e mais
go "subterrâneo". João Evange retos colunas da Igreja fornm
lista refere-se muitas ví!zes a Ro
ma dêsse modo, como Babilônia.
(Apoc 14, 8 ; 16, 19; 17, 5; 18, 21 ) .
Certa vez êle quase deixa cair
inteil'Bmente o véu chamando-lhe
a cidade udos sete montC!s" ( ibid.,
17, 9) - as sete colinas de Ro
ma, sem dúvida. Todo o modo de
falar de Pedro, e especialmente n
1ua referi!ncia a urna "igreja",
:ambém torna claro que i!le não
estava simplesmente visitando Ro
ma, mas ali estava em caráter
oficial, presumivelmente corno che
fe da comunidade local.
Essa presunção é fo11alecidn perseguidas e mesmo combatidas
por Paulo. Antes mesmo de ter de morte. Ponhamos diante dos
visto Roma, i!le protesta que não nossos olhos os bons Apóstolos. Lá
quereria "edificar sôbre funda estava Ped ro, que, em razão de
mento de outro homem" ( Rom 15, uma injusta inveja, suportou não
16-20 ) . Na verdade, éle não no um, nem dois, senão muitos jul
meia i!sse "outro homem", ma� gamentos, e, assim, tendo dado o
não havia necessidade de fazê-lo, seu testemunho, passou ao seu
quando a Igreja inteira sabia do designado lugar de glória" (Car
pa1·adeiro dos principais Apósto ta aos Coríntios, 5) •
18
taram na nossa Col'into e nos en ria, IV, 22), e por Irineu de Lião
sinaram, e ambos igualmente en (Contra as Heresias, Ili, 3).
einnl'om juntos na Itália e sofre Talvez, no entanto, você se per·
ram o ma1·t!rio ao mesmo tempo" gunte se algum dos sucessores de
(Eusébio, Hi.�tória, II, 25). Final Pedro mostrou algo da chefia au
mente, há pouco mais de um sé to1·itária de Pedro. A êste respei
culo, Caio, um sacerdote cm Ro- to, note isto. Você se lembra de
quanto trabalho os Coríntios de
ram a Paulo; que linguagem for
te teve êste de usar para corrigi
los. Pois bem: depois da morte
dêle, certa vez, durante o reinado
de Domiciano, êsses turbulentos
Corintios revoltaram-se contra l•S
seus sacerdotes locais. Quem é
que deve revocá-los a um senso
dos seus deveres? Será o Após
tolo João, que ainda vive? Não:
é o sucessor de Ped1·0, Clemente,
o quarto Bispo de Roma (92-101).
Veja em que têrmos fortes êl
lhes escreve: "O Beato Apóstol
f
ma, desafia uns pretensos turis Paulo. .• escreveu-vos a respeit
tas dizendo: "Posso mostrar-vos de si mesmo e de Cefas e de Apol1 '
os troféus (tumbas monumentais) porque até mesmo então éreis da
dos Apóstolos, porque, se f6rdes dos a tumulto ... E' ve1·gonhoso,
ao Vaticano ou à Via óstia, acha meus amados, mui vergonhoso, e
reis os troféus dos que lançaram é indigno da vossa instrução em
os fundamentos desta igreja" Cristo, ouvir dizei· que a estável
(lbid. II, 25). e antiga igreja dos Coríntios, por
Sucessão de Pedro. A esta al causa de uma ou de duas pessoas,
tura, posso ver que você deduziu devesse revoltar-se contra os seus
o nexo existente entre o primado sacerdotes. . . Portanto, vós, que
de Pedro, fundador e primeiro lançastes o fundamento da rebe
bispo da Igreja cm Roma, e o lião, submetei-vos aos sacerdotes,
fato de o presidente desta assem e aceitai castigo para penitên
bléia em Nicéia ser Silvestre, o cia ... Mas, se alguns desobedeces
atual Bispo de Roma e nosso ve sem às palavras que po1· :tle
ne1·ável pai em Cl'isto. Já lhe (Cristo) foram ditas por nosso
disse que compilei uma lista inin intermédio, fiquem sabendo que se
terrupta dos bispos romanos des envolverão em não pequena trans
de Pedro. Você pode verificar as gressão e perigo, mas nós sere
fontes dos meus próprios registos mos inocente dêsse pecado ... Pro
na informação fornecida por He porcionar-nos-eis alegria e júbilo
gesipo da Síria (Eusébio, Hist6- se obedecerdes ao que nós escre-
19
vemos por mediação do Esp!rito tensão rival à chefia cristã con
Santo . . . Mandai-nos de volta ti·a o Bispo de Roma, êsse sc1·ia o
prontamente os nossos legados, Bispo de Antioquia, onda Pedro
CI6.udio Ef'ebo e Valério Vito, jun tl'abalhara por algum tempo. Mas,
tamente com Fortunato, em paz longe de reclamar qualquer aut.ori
com alegria, de modo que êles pos dadc sôbre a Igreja Romana, Iná
sam com presteza anunciar a paz cio mostra deferência : "Não co
e harmonia pela qual temos re mo Pedro e Paulo eu dou quais
zado e que tanto temos dese quer ordens a võs. :E:les eram
jado" (Ca.Tta. a.os Corlntios, 47, Apóstolos ; cu sou um convicto ;
57, 69, 63 ) . êles e1·am livres, eu até êste mo
Observe que nenhum simples mento sou um servo" ( Carta a.os
bispo igual em categoria ousaria Romanos, 4 ) .
escrever tal carta a uma igrej:i
como Corinto, fundada por um
Ap6stolo, o próprio grande Paulo
- senão tendo autoridade sôlH'e
a Igreja de Cristo intefra, por
sucessão a Pedro, chefe dos Apõs
�los. Incidentemente, veja como
?le envia legados, tal como Silvea
h·e tinha feito a Nicéia. Final
mente, mesmo se pudéssemos ima
ginar o Papa Clemente usurpan
do uma autoridade que não e!'a
sua, êle nunca teria sido obede
cido por aquêles altivos Corfntios
a não ser compreendendo êles que
a autoridade dêle era a autoridade
de Crist.o, como delegada a Pedro N o seu caminho para o martí-
e aos seus sucessores. E sabemos 1·io, Inácio escreveu sete cartas.
que Clemente foi obedecido. O pos Em outras missivas êle simples
terior Bispo Dionlsio de Corinto mente saúda "a igreja que está
"faz menção da carta de Clemen em Esmirna", "a igreja que está
te aos Coríntios, mostrando que em Filadélfia", etc .. Mas veja co
tinha sido costume desde o comê rno seu estilo muda quando êle
ço lê-la na igrej a" ( Eusébio, His vem a se dirigir à Igreja Roma
t6ria, IV, 23 ) . n a : "À Igreja que é amada e
Reconhecimento do PTima.do Ro iluminada por vontade daquele
t1r.a.no. Não mais de dez ou quinze que quis tôdas as coisas que exis
anos depois da advertência de Cle tem, de acõrdo com o amor rle
mente aos Col'fntios, achamos Iná Jesus Cristo Nosso Senhor, mes
cio, Bispo de Antioquia, escreven mo àquela que preside na região
do aos Romanos. Ora, se algum dos romanos, digna de Deus, dig
bispo pudesse suscitar uma pre- na de honra, digna de bênção, dig-
20
na de louvor, digna de prosperi para a tradiçüo derivada dos
dade, digna na sua pu reza e pre Apóstolos daquela grande e glo
sidindo à con fraternidade . . . " riosa igreja fundada e organizada
( ibidem, 1). em Roma pelos dois gloriosos
S im, "presidindo à confraterni Apóstolos Pedro e Paulo, e para
dado" . . . note bem estas pala a fé declarada à humanidade e
vras ! transmitida ao nosso próprio tem
Essa prerrogativa da "presi po através dos bispos dela na sua
dência" romana é repetida por sucessão. Porquanto, dessa igreja,
I rineu ( por volta de 140 ) . Já fri por causa da sua posição de co
sei anteriormente a importância mando, cada igreja, isto é, os fiéis
dêste : êle era um " grão-discípulo" de tôda parte, devem nccessària
de João, o Apóstolo, familiarizado mente depender, e nela a tradição
com o ensino e prática cristãs tan que vem dos Apóstolos tem sido
to no Oriente como no Ocidente. continuamente preservada pelos
No seu tempo apareceu ali um que são de tôda parte . . . " ( Con
grupo de sabidões chamados Gnós tra as Heresias, III, 3) .
ticos que p retendiam possuir uma "Subsolo" Pétreo. Agora deve
" i n formação interior" sôbre a s mos para r ; não podemos cansá-lo
verdades cristãs, alguma ciência citando testemunha após testemu
oculta deixada a êles pelos Após nha. Se você deseja acompanhar
tolos. Refutando-os, Irineu can êstes pontos e outros em maior
sou-se da verdadeira abundância detalhe, leia a minha H ist6riu.
d e material que tinha a seu dis Ali, por exemplo, você achará co
por. Daí, a fim de encurtar a rno o Papa Victor expulsou da
discussão e desfechar um golpe Igreja os bispos asiáticos por cau
de efeito, asseverou : sa da sua obstinação sôbre a ce
"Está no poder de quem quer lebração da Páscoa (5, 24) ; "JU
que o deseje achar a verdade e como os bispos da Síria e do Egi
conhecer a tradição dos Ap6sto to referiram à Igreja Romana a
los, p rofessada através do mun sua censura de Paulo de Samó
do em cada igreja. Também so sata ( 7, 30) . Tudo o que você
mos capazes de nomear aquêles tem a fazer é ler os documentos.
que foram designados bispos pe Quê ! se vier a cogitar disso, nem
los A póstolos nas igrejas, e os sequer precisará ler. Entre nas
seus sucessores até os nossos pró catacumbas de Roma e olhe para
prios tempos . . . Mas, já que seria os desenhos que há nas paredes.
muito tedioso, num livro como ês Veja Cristo dando a Pedro um
te, repassar as linhas de suces rôlo de pergaminho com a ins
são em cada ig1·eja, confundil·e crição : "O Senhor dá a lei". tste
mos tôdas as pessoas que, ou por e outros desenhos comparam a
mau humor ou por vanglória ou delegação de Pedro na Nova Lei
por cegueira ou por perversidade com a de Moisés sob a Antiga.
de mente, d e qualquer modo se Contemple Cdsto em traje de pas
coligam no êrro, apontando-lhes tor colocando um rebanho de ove-
21
lhas aos cuidados de Pedro. Des Portanto, você niio precisa ler
ça à cripta vaticana, por baixo livros para ficar sabendo que Pe
da bas!lica. O Imperador Constan dro foi deputado de Cristo, que
tino está-se convertendo à Igreja foi o primeiro Bispo de Roma, e
de Pedro ; veja os corpos de Pedro que ali foi martirizado. Túmulos
e dos seus sucessores jacentes lado e monumentos, tanto como listas
a lado. Entre no forum de Nero episcopais e testemunhos de es
sôbre a Colina Vaticana. Deite critores, afirmam que o nosso
um olhar àquele obelisco ; êle fêz
sombra ao real mutfrio de Pe
dro no circo, "entre os postes
de meta" (Atos de Pedro, em
Barnes, Petllf" in Rome, p. 97 ) .
Ou entre na nova Basllica do
Salvador perto da Porta de La
trão, e inspecione o velho altar
de madeira preservado desde o
tempo em que Pedro oferecia o
Sacrifício Euculstico em Roma.
Dê um passeio até o Charco da
Cabra, ao Cemitério Ostriano en
tre a Via Salaria e a Via No
mentana. Aqui acredita-se que al
guns dos primefros convertidos de
Pedro colocaram a · sua vivenda à venerável pai Silvestre, o trigé·
disposição de Pedro. Aqui você simo terceiro Papa, sucedeu a Pe
pode ver a própria cadeira de Pe dro nas suas funções. t:le, e s6 êle,
dro ; Tertuliano menciona-a (Pres é o verdadeiro presidente dêstc
C'l'�áo dos Hereges, 36) . Cipria Concilio Niceno, e, mui prazero
no chama cismáticos a todos os samente, eu e todos os bispos ca
que se opõem aos ocupantes dela t61icos cedemos a tribuna a êle e
( Carta. 59, 14) . aos seus representantes.
22
CR EDO N I CEN O :
CRI STO É DEUS
E para que fim é esta criatura, um homem deiíi
reunião? Eu já me esta cado ou adotado como di
va perguntando o quanto vino.
demoraria. fazer-me você O bispo de Ario e seus
esta pergunta. A resposta. irmãos sacerdotes decla-
parece-me sei· simplesmen 1·aram-se contra êle. Mos
te esta : é para provar que traram que a inte1·preta
a Igreja Cristã é sem ção dêle ia contra a voz
pre cristã. unânime da Escritura �
Origens A rianas. Digo da Tradição, e que ela
isto porque você deve com contradizia a voz do céu
preender que êste concí que disse : u i:: ste é meu Fi
lio foi convocado em Nicéia para lho bem-amado em quem pus tõ
ti·atar de um ponto fundamental das as minhas complacênciasn ( l\lt
da doutrina cristã. A origem ia 3, 1 7 ) . O modo de ver de Ario
presente crise reside em Alexan também punha de lado a solene
dria. afirmação de Cristo em face da
Ali, há uns seis anos, Ario, um morte; quero dizer quando, inti
dos principais pastõres da cid.c mado pelo Sumo Sacerdote judeu
de, contendeu com o Bispo Ale Caifás a dizer se era o Filho de
xandre sôbre a natureza de Cris Deus, êle firmemente respondeu :
to. Ora, logo desde o com�o, sem " Disseste-o" ( Mt 26, 63) .
28
as temel'ál'ias afil'mac;ões de Ario. simplesmente ser l'eferido à Sé
Mas, uma vez que Al'io buscou i·e Apostólica Romana, tal como a
fúgio junto ao meu homônimo o dis11uta coríntia o fõra ao Papa
Bispo Eusébio de Nicomedia, a Clemente, ou a Controvérsia Pas
acusação de pal'tidal'ismo poderia coal ao Papa Victor, ou o caso do
ser fàcilmente dil'igida contra o rebatismo africano ao Papa Es
Bispo Alexand1·e. Os de fora po têvão. E eu lhe concedo que êstc
deriam sempre suspeitar que Al'io seria um método segu1·0 e um mé
era simplesmente vitima de algu todo fácil. Porém nem sempre o
ma rixa pessoal. Foi pol' isto que, meio mais fácil é o mais eficiente.
depois de muito falar e mesmo Se fõsse exclusivamente a ez
amotinal'-se, foi julgado pl'udente posição da fé verdadeira que n6s
reunir os bispos de todo o mundo desejássemos, certamente poderia
Cl'istão pal'a examinar os pontos dar-no-la o Papa Silvestre. Mas
cm discussão. Sua mui graciosa conseguir que a verdadeira fé fõs
majestade o Imperador Constanti se aceita, isto já é outra coisa.
no apreciou o quanto a paz reli Como você vê, as paixões tinham
giosa contribuiria para a ordem sido excitadas ; sucessos eram con
polltica. Dai ter sido mui coope fundidos com personalidades. As
rativo cm organizai' o concilio. palavras el'am mal compreendida s ;
por exemplo, alguns s e perturba
l'am com o uso do têrmo g:l'ego
"homooúsios", ou "consubstancial",
em mau sentido, pelo Concílio de
Antioquia contra Paulo de Samó
sata, há mais de cinqüenta anos.
Pode êle, porém, ser usado em bom
sentido hoje, e assim o entende
rão muitos cristãos? Estas fo1·am
algumas das graves razões por
que o Papa Silvestre julgou pl'u
dente dar à dificuldade ariana
plena discussão.
Porque você deveria saber que,
na última Ceia, Cristo prometeu
Conveniência Concilia'I'. Mas que aos seus Apóstolos e aos suces
é isto? Por que não referir a ma sores dêstes que o Espll'íto San
téria inteira ao Papa Silvestre em to, o Paráclito ou Consolador, "fi
Roma? ôtima observação ; de fa cará convosco sempre . . . ensinar
to, é uma observação muito ani vos-á tõdas as coisas e vos lem
madora, pois me diz que a nossa bral'á tôdas as coisas que eu vos
última entrevista não foi inteira disse . . . ensinar-vos-á tôda a ver
mente vã. Sim, à primeil'a vista dade" (Jo 14, 17, 26 ; 16, 13) .
pareceria que êsse desaguisado Dêste Espirita Santo é que os
ariano em Alexandria poderia Apóstolos estavam lembrados na-
24
quclc primeil·o Concilio de Jeru do ou era perveno, e destartc o
salém, quando p ronunciaram o seu único prnblema 1·cnl era descubrir
veredito final : "Porque o Espíri as palavras certas para cxprimfr
to Santo e n6s havemos decidi o ensino católico. A solução esta
do . . . " ( At 15, 28 ) . va implicitamente nas palaVl"as
Deliberaç1io Nicena. Assim, de de C1·isto, mas tinha de ser de
pois de invocarem a guia dêsse duzida : de que modo Cristo e o
mesmo Espirita Santo, e depois Pai eram um? Ario e os seus
de conclulrem as formalidades partidários d iziam que êles não
inaugurais, os padres do Concilio eram o mesmo em substância ou
de N icéia confiantemente conce natureza. Por outro lado, Alexan
deram a Ario plena licença dl! dre de Alexandria e o seu diáco
apresentar os seus pontos de vis no, Atanásio, contradiziam isto
ta. �stes não mudanm substan pretendendo que Cl"isto era o mes
cialmente desde que êle pela pri mo em substância : whomooúsios"
meira vez os ap resentou em Ale ou "consubstancial". Embora sen
xandria. Dia ap6s dia êle argu do uma Pessoa divina distinta,
mentava largamente que "o Filh'l êle tinha a mesma natureza di
é uma crialura, formada e feita ; vina que o Pai.
não é da substância do Pai". Os CompTomisso Tepudiado. Depois
bispos, entretanto, acharam essas de terem sido expressos êsses mo
afirmações cm positiva contradi dos de ver, pensei chegado o tem
ção com a asse1·ção de Jesus : "Eu
po de entornar 6leo nas águas tur
e o Pai somos um" (Jo 10, 22 ) .
vas. De conformidade com isto,
propus um compromisso. Suponha
se que deixemos a matêria inde
f inida : digamos simplesmente que
Cristo é de natu1·eza similar, pois
a similaridade cobre uma multi
dão de sentidos tênuemente dife
renciados.
E então aprendi uma liçio que
nunca esquecerei. Compromisso po
de estar muito certo em polltica;
pode ser a chave para trato social ;
mas tra1·á brasas sôbre a sua ca
beça se você o pi-opuser a respei
to da fé da Igreja Cat61ica. Nada
pode ser mais tenaz do que essa
Igreja quando se tl"ata de defen
Não tudou muito que uma es der o ensino divinamente revela
magadora maio1·ia dos bispos per do l'ecebido de Cristo. Imediata
cebesse que A rio ou estava iluili . mente, em tê1·mos não incertos
loi-me dado a compreender pelos celeb1·açiio da snlutar festa da
meus colegas que em doutrina não Pâscoa aceito por todos. Também,
pode haver palavras dúbias, não aquêles pontos que fo1·am sancio
pode haver especulação com a nados pela resolução do corpo in·
vei·dade depositada na Igreja co teiro foram confiados à escrita,
mo num banco por Cristo, o Mestre. e receberam a assinatura de ca
Cristo era da mesma natureza que da membro. Então o Imperador,
o Pai ; aseim o dissera êle ; eesim acl'editando haver assim obtido
o haviam ensinado os Apóstolos ; uma segunda vitória sôbre o ad
aesim fôra transmitido ; assim a versário da Igreja, resolveu cele
Ig1·eja Católica crê neste ano de brar uma festa triunfal em hon
325 ; assim crerá até que Cristo ra de Deus" ( Eusébio, Vida de
volte em glória para julgar o Constantino, III, 14) . A decisão
mundo. sôbre a Páscoa é : "Pelo unânime
Unidade ds Fi. Sôbre tal pon juizo de todos foi decidido que a
to de doutrina, po1'tanto, não po santíssima festa da Páscoa deve
de1·ia haver diferença de crença ser celebrada em tôda parte num
na Igreja Católica. Agir de ou só e mesmo dia" (ibidem, III, 1 9 ) .
tro modo seria repudiar o próprio O Credo Niceno. Para que a
Cristo, que rogua a seu Pai : Fé Católica de Cristo seja pre
"Pai santo, guarda em teu nome se1'Vada sem mudança contra fu
aquêles que me deste, para que turos imitadores de Ario, os Pa
êles sejam um como n6s somos dres nicenos redigiram uma fór
um . . A gl6ria que me deste dei
. mula de crença, um c redo. Folgo
ª a êles, pua que êles sejarr de poder fornecer-lhe o texto ofi
um como nós somos um: eu nê cial ; é como segu e :
les e tu em mim, para que êles "Cremos n u m s 6 Deus, o Pai
sejam consumados na unidade, e Onipotente, Criador de tôdes as
para que o mundo conheça que tu coisas visfveis e invisíveis ; e num
me enviaste" (Jo 1 7, 1 1 , 22 ) . só Senhor Jesus Cristo, Filho de
A prece d e Cristo pela uni Deus, Filho Unigênito do Pai, isto
dade certamente prevaleceu em é, da substância do Pai ; Deus de
Nicéia, o "Concilio da Vit6ria", Deus, luz de luz, verdadeiro Deus
por uma dupla razão. Todos os do verdadeiro Deus, gerado, não
bispos, exceto cinco, sinceramen feito, consubstancial com o Pai,
te subscreveram o inflexível dog por meio do qual tôdas as coi
ma do "homooúsios" : consubstan sas foram feitas tanto no du
cialidade do Pai com o Filho. As como na terra; o qual por n6s
sim, sucedeu que, como estou pa1·a homens e pela nossa salvação
inse1·ir na minha próxima Vida desceu ( dos céus) e se encar
de Constantino, "o resultado foi nou, e se fêz homem ; padeceu, e
não somente terem êles estado ressuscitou ao terceiro dia ; subiu
unidos no tocante à fé, mas tam aos céus e virá a julgar os vivos
bém haver sido o tempo para n e os mortos; e no Espírito Sento.
26
Os que dizem : houve um tempo lho de Deus é criado ou é aua
em que êle niio existia, e que êle ceptivel de mudança ou altera
não existia antes de ter sido ge- ção, (êaaes) a Igreja Católica e
1·ado, e que êle foi feito do nada ; Apostólica anatematiza" ( H. J.
ou que dizem que êle é de outra Schroeder, De�etos Disciplinares
hip6stase ou de outra substância dos Concílios Gerais, p. 16 ) .
( q ue niio a do Pai ) , ou que o Fi-
17
Uíll llAllf DE fÉ...
FIOEUDAOE ílA SUA TRAOf�ÃO
Estabilidade bó.siea. O vam essas coisas à escri
que eu lhe dei na nossa ta, não como por êles mes
última entrevista não fo mos descobertas, mas sim
ram "novidades" no sen como a mesma coisa que
tido ordinário do têrmo. os Apóstolos haviam en
O que eu quero dizer é que sinado" ( Atanásio, Sôbre
o Credo Niceno não diz os Sínodos, 5) -
28
tinentes à verdade" ( Contra as todos os dias até à consumação
Heresias, III, 4 ) . dos séculos" ( M t 28, 29 ) .
Desempenhemos o papel d e ins Concllio de JerusaU111. Natural
petores de banco, e inquiramos se, é, pois, que unidade de fé e fi
no decurso de três séculos, os delidade de transmissão fôssem
mestres cl"istãos foram cônscios claramente manifestadas quando
do seu sagrado dep6sito. os Apóstolos se reuniram no pri
mei1'0 concilio eclesiástico cm Je
Segurança de Cristo. Já recor
rusalém. Ali, "alguns da seita dos
dei a prece do Mestre pela uni Fariseus" que haviam aceitado a
dade por ocasião da última Ceia. fé cristã levantaram-se e disse
Mas nessa ocasião êle também as ram : "tles devem ser circunci
segurou ao dep6sito cristão a pro dados e também mandados obser
teção permanente do Espírito San var a Lei de Moisés" ( At 15, 5 ) .
to : "Rogarei ao Pai, e êle vos Mas não conseguiram mudar o
dará outro Advogado para ficar ensino tão recentemente recebido
convosco para semp1·e, o Espírito de Cristo. "Pedro levantou-se e
de Verdade, que o mundo nãi:i lhes disse : "Irmãos, sabeis que
pode receber, porque nem o vê nos dias passados ordenou Deus
nem o conhece. Mas v6s o co entre n6s que por minha bôca os
nhecereis, porque êle ficará con Gentios ouvissem a palavra do
vosco e estará em v6s. O Ad Evangelho e cressem. E Deus, que
vogado, o Espírito Santo que o conhece os corações, declarou-se
Pai enviará em meu nome, ensi por êles, dando-lhes o Espírito
nar-vos-á tôdas as coisas e vos Santo tal como o fêz conosco ; e
lembrará tudo o que eu vos dis não fêz distinção entre n6s e êles,
se . . . Quando vier o Advogado mas, purificou-lhes os corações pe
que eu vos enviuei do Pai, o Es la fé. Por que, pois, procurais ago-
pírito de Verdade que procede do 1·a tentai· a Deus pondo na cerviz
Pai, êle dará testemunho de dos discípulos um j ugo que nem
mim . . . Quando êle, o Espírito de nossos pais nem n6s pudemos su
Verdade, vier, ensina1·-vos-á tôda a portar? Mas n6s cremos que so
verdade . . . " ( Jo 14, 16-17, 26 ; mos salvos pela graça do Senhor
16, 13) . Jesus, tal como o são êlesn ( At
Os A tos elos A pós to los ( 2) re 15, 7-11 ) .
latam o cumprimento dessa pro Note-se, pois, a unanimidade da
messa no Pentecostes, quando os lg1·eja em preservar a tradição
Ap6stolos " foram cheios do Es c1·istii : " Então a assembléia in
p h-ito Santo e começaram a falar teira se calou . . . Então os Ap6s
várias llnguas, conforme o Es tolos e sacerdotes com a Igreja
pírito Santo lhes dava de fala tõda decidil'am escolher represen
remn ( 2, 4) . Sem dúvida, a vinda tantes. . . porque ao Espírito San
do Espírito não quis dizer deser to e a n6s pareceu bem não lan
ção de Cristo ; embon invisível, çar outros encargos sôbre v6s . . . "
diz-nos êste, "eu estou convosco (At 15, 12, 22, 28) .
29
Solicitude Apostólica. O cuida Precaução tal fêz os Apóstoloa
do escrupuloso com que os pri e os seus disclpulos entenderem
meiros dirigentes da Igrej a evi que não podiam nem sequer con
tavam qualquer pessoa ou qual versar com qualquer daqueles que
quer coisa que pudesse pôr em pervertiam a verdade; conforme
perigo a fé é ilustrado por esta Paulo também disse : " U m homem
anedota : "0 Apóstolo João entrou herege, depois de uma primeira
certa vez numa casa de banhos e de uma segunda admoestação,
para se banhar ; mas, sabendo evitai-o" (Tito 3, 10, citado por
que Cerinto (o herege M ilenário) Eusébio, História, IV, 14) .
estava lá dentro, pulou fora do Docilidade dos fiéis. Mas tal
lugar e correu para fora da por vez você pense que era só a hie
ta, por não poder suportar ficar rarquia ou corpo dirigente da
sob o mesmo teto com êle. E Igreja que mostrava êsse cuidado
aconselhou os que com êle esta pela tradição. Somos feli:zes de
vam a fazerem o mesmo, dizendo : ter uma espécie de manual ou li
"Fujamos, antes que a casa de vro de oração para os leigos fiéis,
banhos caia ; pois Ccrinto, o ini compilado, cremos, dentro de u m
migo da verdade, está lá dentro" século depois d a Ressurreição d o
( Eusébio, História, III, 28 ) . Apa Senhor. Traz êle o significativo
rentemente, esta lição causou titulo : Ensino do Senhor por in
grande impressão no discípulo de termédio <los Do::e A póstolos, em
João, Policarpo, pois outra histó bora muito mais freqüentemente
ria é relatada dizendo que "o pró se lhe faça referência sob o seu
prio Policarpo, quando Marcion curto título grego, ou seja como
(o herege Gnóstico) certa vez en a Didaché.
cont1'0u-se com êle e disse : "Re Abra êsse livrinho quase ao
conheces-nos"? êle respondeu : "Re acaso e veja como êle considera al
conheço o primogênito de Sata tamente êsse depósito sagrado da
nás". fé cristã : " Meu filho, dia e noi
te guardai na memória aquêle
que vos fala a palavi·a de Deus ;
honrá-lo-eis como ao Senhor, pois
o Senhor está onde quer que o
ensino do Senhor é pregado . . .
Não desejeis nenhum cisma . . .
Não abandoneis os mandamentos
do Senhor, mas guardai aquilo
que recebestes, sem acrescentar
ou subtrair . . . Tomai cuidado de
que ninguém vos desvie do cami
nho do Ensino, de vez que êsse
ensino seria sem Deus . . . Por
tanto, se alguém vier a v6s e vos
ensinar tôdas as coisas sobredi-
30
tns, l'ecebei-o : mas, se uma má ja Católica o direito de prescri
p essoa vier e ensinar outra dou ção à verdade l'eligiosa : Os
tl"ina pal'a contl'adizer essa, não Apóstolos "pregaram aquilo que
n escuteis" ( Diduché, 4, 6, 1 1 ) . Cristo lhes i·evelou, e isto que
Continu i<la.dc da Tra([ição. E eu pl'escrevo não deve ser pro
assim a achal'á você sempre atl'a vado de outro modo a não ser
vés dos anos Cl'istãos. Deixe-me através das mesmas igrejas que
d irigir a orquestl'a cristii. desde os Apóstolos fundaram pregan
tõdas as partes do mundo cató do-lhes viva voce, como dizem
lico. Hegesipo da Palestina fêz êles, e mais tarde mediante ca1·
uma pel'egrinação a Roma no tem tas. Já que estas coisas assim
po do Papa Aniceto (c. 160) : são, é claro que deve ser consi
em caminho " encontrou-se com derada verdadeira tiid a doutrina
muitíssimos bispos, e de todos que concorde com essas igrejas
êles recebeu a mesma dout1ina. apostólicas, raízes e originais da
Convém ouvh· o que êle diz : fé, sustentando certamente aqui
. . . "Em tôda a sucessão (dos lo que as igrejas receberam dos
bispos) e em tôdas as cidades Apóstolos, que os Apóstolos re
é observado aquilo que é prega cebel'am de Cl'isto, e Cristo re
do pela Lei e pelos Profetas e cebeu de Deus; e deve ser con
pelo Senhor" (Hegesipo, Me m ó vencida de mentira tôda doutri
'l'ias, citado por Eusébio, Histó na que ensina contra a verdade
ria, IV, 21 ) . das igrejas e dos Apóstolos e
Outl'o peregrino ido a Roma de Cristo e de Deus" ( Prescri
apenas alguns anos mais tarde, ção dos Hereges, 21 ) .
ou fôsse Irineu da Gália, afir Vitória sôbre o racionalismo.
ma : "Conhecimento verdadeiro Enquanto Tel'tuliano desafiava
é o ensino dos Apóstolos e a a perseguição dos oficiais civis
antiga constituição da lgl'eja no em Cartago na Ãfrica, uma uni
mundo inteil'o, e a manifestação versidade cristã era estabelecida
distintiva do corpo de Cristo acor em Alexandria, no Egito. Saben
de com a sucessão dos bispos pe do como os filósofos clássicos
l a qual êles transmitiram essa gregos arrazoavam os antigos mi
Igreja que existe em todos os tos religiosos, você poderia espe·
lugares e que chegou até nós, sen l'a1· que talvez a tradição cris
do guardada e preservada, sem tã não suportasse o exame da
qualquer fo1·jamento de Escl'i erudição profunda. Mas n ão ;
turas, por um completíssimo sis porque, com tôda a s u a insistên
tema de doutrina, e não i·ece cia pela mais alta instrução e pe
bendo nem adição nem encurta las abstrações filosóficas, o mes
mento, e sendo lido sem falsifi tre alexandrino Clemente ( 150)
cação" ( Contra as heresias IV, previne: "De modo algum deve
33 ) . mos transgredir a regra da Igre
D a Ãfrica, Tertuliano ( circa ja . . . Uma vez que a estrada i·eal
160-160) reivindica para a Igre- é uma só, e há muitos outros ca-
31
minhas, dos quais alguns levam seus relaxados sequazes e do
ao precipfcio e ouh'os a uma tor outro estava o antipapa Novacia
rente impetuosa, e outros a um no em Roma. Contra todos êsses
ma1· profundo, use-se a estrada Cipriano diz : "A cspôsa de Cris
i·eal, antiga e liv1·e de perigo . . . to não pode ser uma adúltera ;
Em origem e em preeminência di é inconupta e casta . . . Preser
zemos que a Igreja antiga e ca va-nos 11ara Deus ; assinala os
tólica é única, congregando, co filhos que ela gera para o i•ei
mo congrega, os homens na uni no. Quem quer que esteja separa
dade de uma só fé" (Stromata, do da Igreja está unido a uma
VII, 16, 17) . adúltera, está separado das p ro
E nem isto é a mera opinião messas da Igreja, e aquêle que
pessoal de um conservado1·. O su deixa a Igreja de Cristo não vem
cessor de Clemente como reitor às promessas de Cristo. Não po
da escola alexandrina, o incompa de ter a Deus por pai quem não
rável O rlgenes ( 185 ) , era um pen tem po1· mãe a Igreja" (Sôbre a
sador tão ousado como o mundo Unidade da Igreja, 6) . Não é,
ainda não viu - e de fato, por um pois, surpreendente que Cipriano
tempo estêve sob censura do seu concluísse dizendo que "Novacia
bispo. Contudo, sôbre os principias no não é um bispo na Igreja, nem
fundamentais Orlgenes nunca va pode ser computado como tal, por
cila. No próprio prólogo de uma que, desrespeitando a tradição
obra em que de boa-fé comete vá evangélica e apostólica, a nenhum
rios e1·ros particulares, êle estabele sucedeu, mas partiu de si mes
ce um principio : "Já que há mui mo" ( Carta 69 ) . E isto resumiu
tos que pensam sustentar as opi tudo : "Quem quer que êle seja e
niões de Cristo, e, no entanto, al o que quer que seja, não é cristão
guns dêsses pensam diferente aquêle que não está na Igreja de
mente dos seus predecessores, con Cristo" ( Carta 55 ) .
tudo ainda está preservado o en Respeito Niceno pela Trod�ão.
sino da Igreja, transmitido em Não deveria, pois, constituir sur
sucessão ordeira desde os Após prêsa acharmos os bispos em Ni
tolos e permanecido nas igrejas céia sempre lembrados da tl'8di
até o presente dia, ensino que diz ção, mesmo nas leis disciplinares.
só devei· ser aceito como verdade
Queira notar um pouco frases co
aquilo que a nenhum respeito di
mo estas : "é um sábio dizei· do
verge da tradição eclesiástica e
Apóstolo" (cânone 2) ; "adira-se
apostólica . . . " (Sôbre os Princí
pios, Prólogo, 2, 3 ) .
estritamente ao antigo costume
Resistência ao cisma.. Por ês
que vige no Egito, de vez que êste
se mesmo tempo, Cipriano, o Már é também o costume do Bispo de
tir ( cil'ca 210 ) , Bispo de Carta Roma" (cânone 6 ) ; "uma vez
go, estava contendendo contra que o costume e a antiga tradi
cismáticos rivais. De um lado es ção mostram" (cânone 7) ; "rela
tavam Novato de Cartago e os tivamente aos que mol'l'em, a an-
tiga lei canônica continuari a sel' p6sito, que devemos guardar em
observada" (cânone 1 3 ) . segu 1·ança, e não desperdiçar pela
Não sel'ão, pois, êles que violem especulação. N6e Padres em Ni
a injunção de Paulo : "Se alguém céia somos bispos : bispos ou vi··
vos pregar um Evangelho outro gias. Nossa é a responsabilidade
que aquêle que recebestes, seja de gual'dar êste depósito da fé
anitema" ( Gál 1, 8) . Nós, bispos pal'a gerações ainda não nascidas.
em Nicéia, quase a uma s6 voz, Ontem, hoje, amanhã, Cristo é
havemos reafil"rnado, contra Ario, para n6s "o Alfa e o Omega, o
que Cristo é Deus. Se Cristo é p l'incipio e o fim . . . é Aquêle que
Deus, então o seu ensino é divino ; é, e Aquêle que era, e Aquêle que
é um p recioso legado, um rico de- virá, o Onipotente" ( A poc 1, 8 ) .
33
f('Lembra1iças "C1•ist1is
A Euca1•istia
•••
êsses pobres prazeres que esta vi 1·ador também mandou que amplas
da p1·oporciona. "O próprio Im dádivas de dinheiro fõssem outor
perador convidou e recepcionou gadas a todo o povo, tanto no
aquêles ministros que êle havia campo como nas cidades, compra
congregado, e, por assim dizer, zendo-se assim em honrar a fes
assim ofe1·eceu por meio dêles um tiva ocasião do vigésimo aniver
conveniente sacrifício a Deus. N e sano do seu reinado" ( Eusébio,
nhum dos bispos faltou ao ban Vida de Constantino, III, 16, 16,
quete imperial, cujas circunstân 22 ) .
cias foram esplêndidas acima de "Lembranças" cristãs. Você po
qualquer descrição. Destacamentos de pensar que nós b ispos nos es
do corpo-da-guarda e outras tro tamos movendo em círculos eleva
pas circundavam a entrada do dos, realmente, jantando à mesa
palácio com espadas desembainha- do Imperador. Mas nossos p1·ede-
ccssorcs, os Apóstolos, foram ain te rcdento1·0 são por Jõ:le aplicados
da inais favol'ccidos. Se Constan a geração sôbre geração de c1·entes.
tino, como um govel'nante sábio Poderia explical' como essa vida so
e benevolente, cuidou de pl'opo1· brenatural cristã, tal como a vida
cional' aos bispos cm Nicéia um natul'al de cada um, tem de nas
banquete e "lembranças", se dese cer pelo Batismo (Jo 3, 6 i Di
jou que o anive1·sál'io fôsse por dachi, 7 ) ; tcm de sel' fol'talecida
todos observado, não deveria su1· pela Confil'mação ( A t 8, 1 5 ; Hi
p rcende1·-nos que Cristo, Rei do pólito, Tradição Apost6lica) ; ali
céu e da tena, não fizesse menos. mentada pela Eucal'istia (Jo 6,
Também êle pl'eparou um ban 54 ; Inácio, Eamlrnioa, 8 ) ; cura
quete para os seus Apóstolos. da pela Penitência (Jo 20, 23 ;
·Também cuidou de que a memó D idaché, 4, 14 ) , e por uma Ex
ria dêsse banquete pel'dUl'asse em trema-Unção na morte (Tgo 5, 14 ;
celebrações anive1·sál'ias, dizendo : Orígenes, Homflia li aôbre o Le
" Fazei isto em memória de mim" vftico) ; e como o poder de ad
( Lc 22, 19) ; cuidou de que essa ministi·al' êsses sacl'amentoa deve
festa l'eccbesse publicidade mun se1· conferido pela Ol'dem ( 1 Tim
d i a l, de modo que, "do nascer do 4, 1 4 ; Hipólito, Tradição Apoat6-
sol ao ocaso, meu Nome seja gl'an lica) ; e como novas pessoas são
de entre as gentes e em cada lu geradas em Matrimônio "de acôr
gar haja sacrifício e seja ofel'eci do com o Senhol', e não meramen
da ao meu Nome uma oblação te pol' lasclvia" ( Inácio de An
pura" ( Mal 1, 1 0 ) , tioquia, Carta a. Policarpo, 5 ) .
Sacrifício Eucaristico. Mas não
há tempo ! Uma só entrevista nun
ca podel'ia começar sequer a des
Cl'ever sete sacl'amentos. Por fõr
ça cingir-me-ei a um s6 sacramen
to, o maior, nisso que êle contém
o Autol' dos sacramentos. Refil'o
me ao Sacriflcio Eucarístico ins
tituído por Cl'isto na ú ltima Ceia.
Lucas dá-nos a parte essencial
dêste rito : "Tendo tomado pão,
êle deu graças e partiu-o, e deu
º a êles dizendo : "Isto é meu
Corpo, que é dado por v6s; fazei
Sete "lembranças". Se tivesse isto em mem6l'ia de mimª. Se
tempo, eu poderia mostl'al' que melhantemente, tomou o cálice
Cristo deixou sete grandes "lem após a ceia, dizendo : ":€ste é o
branças" da sua Paixão - nós lhes nôvo testamento em meu Sangue,
chamamos sacl'amentos - median que será derl'amado por amor de
te as quais os méritos da sua mor- vós" ( Lc 22, 19-20) ,
3ú
Note que Cristo chama clara sos ritos pascais do. Lei Mosaica.
mente a êsse abençoado pão seu Emborn êetes últimos não estives
corp o ; o vinho consagrado é cha sem fora de moda po.rn os c1"is
mado seu sangue, e não o repre tãos, êstes naturalmente qui11e1·am
senta. Estamos face a face com substitui-lo por certas petições
aquilo a que os Judeus chamavam preparatórias. Certamente, a 01·a
um "duro dizer" (Jo 6, 62) , a pre ção Dominical, por nós chamada
tensão de Cristo de converter pão o "Pai-Nosso", era natural para
e vinho em seu corpo e em seu êsse fim ; você a acha i·ecomen
sangue. Não me proponho arguir dada na Didaclté ( 8 ) . Ademais, os
êste ponto, pOl'<!Ue àqueles que c1·entes devotos queriam agrade
crêem que Cristo é Deus êle não cer a Deus após o sacrifício e a
ap1·esenta dificuldade de qualquer comunhão que se seguia. A Di
sorte ; para os que não crêem, i·e daché, talvez apenas um meio-sé
ceio que qualquer coisa que eu dis culo depois da última Ceia, dá-nos
sesse brevemente fõsse inadequa muitas dessas orações. Não posso
da. Sou um historiador antes que mencioná-las tõdas, mas note co
um teólogo ; tudo o que eu propo mo a seguinte atende ao ponto
nho fazer é relatu aquilo que até básico do alimento divino dos ho
o tempo presente a tradição cris mens : "Deus Onipotente, criaste
tã tem sustentado acêrca da na tôdas as coisas por amor do teu
tureza do Sacrifício Eucaristico. nome. Deste comida e bebida aos
Eucaristia Apost6lica. Certa homens para regozijo, para que
mente o respeitado mestre de Lu êles possam dar-te graças, e deste
cas, Paulo de Tarso, tomou as pa graciosamente comida e bebida es
lavl'Bs do Senhor no seu valor li piritual e vida eterna por inter
teral ; adverte aquêles turbulentos médio de teu Servo ( Cristo ) "
Coríntios de que " todo aquêle que ( Didaché, 10 ) .
comer êsse pão ou beber êsse cá E nem êsse sacrifício eucarls
lice do Senhor indignamente será tico, nos tempos apostólicos, e1·a
réu do co1·po e do sangue do Se mera cer1moma optativa. Veja
nhor" ( 1 Cor 1 1, 27) . com que indignação Inácio de
A Did.aché recomenda o uso se Antioquia denuncia os hereges
manal dos sacramentos da Peni Docetas que negavam que Cristo
tência e da Eucaristi a : "No Dia tinha um corpo real : "Da Euca
do Senhor reuni-vos e parti o pão ristia e da oração êles ficam lon
e oferecei a Eucaristia, tendo an ge, porque não confessam que a
tes confessado as vossas trans Eucaristia é a Carne de nosso
gressões, para que o vosso sacri Salvador Jesus Cristo que pade
flcio seja puro" (Didaché, 1 4 ) . ceu pelos nossos pecados, e a
J á os cristãos começaram a cer quem o Pai, na sua misericórdia,
car o rito eucarístico de orações ressuscitou dos mortos. E assim
e hinos. O p1·6prio Cristo só pas os que discutem o dom de Deus
sou a consagrar a Eucai·istia de perecem na sua contenda" (CMta
pois de haver celeb1·ado os exten- aos Esmirnios, 7 ) . Pelo contrário,
86
mo dia". Primeiramente os adora
-�
dores ouvem leituras do Velho
e do Nôvo Testamento : "os es
critos dos Profetas ou as mem6-
rias dos Ap6stolos são lidas quan
do há tempo". Então o bispo, que
para os pagãos Justino identifica
como "presidente dos irmãos",
profere um sermão, adve1-tindo
todos de uimitarem tais exemplos
de vil-tude". Depois disto, un6s
todos nos levantamos juntos e ofe
recemos as nossas orações". Se
guem-se depois providencias pre
parat6rias para o sacrifício : "Pão
o s bons cristãos são intimados a e um cálice contendo vinho mis
"esforçar-se para s e 1·eunirem turado com água são apresentados
mais freqüentemente a fim de ce ao que preside aos irmãos. E:st•
lebrarem a Eucaristia de Deus e os toma e . . . recita extensas ora
oferecerem oração . . . e partirem ções de ações de graças", - voe
o mesmo Pão, que é o 1·emédio se lembra da da Didach,. Enquan·
d a imortalidade, o antidoto con to isso, "os ricos, se lhes apraz,
tra a morte, e é a vida eterna contribuem com o que desejam, e
em Jesus Cristo" ( Carta aos Efé a coleta é colocada sob a guarda
sios, 13, 20 ) . do presidente", para que êle " tome
Rito E11caristico. Escrevendo há cuidado de todos os que estão na
cêrca de cento e cinqüenta anos, necessidade".
Justino (circa 100-110) , o Fi16so Quando o ato central do sacri
fo, p rocurou ajudar seus compa fício se aproxima, veja como Jus
nheiros c ristãos em Roma. Na es tino recorre à tradição apost61ica :
perança de que as auto1·idades im "Os Ap6stolos, nas suas mem6-
periais mitigassem a perseguição rias, que são chamadas Evange
se compreendessem direito o culto lhos, transmitiram o que Jesus
c1·istão, Justino escreveu duas lhes ordenou fazerem : que ele to
Apologias. Na primeira, depois de mou pão e, ap6s dar graças, disse :
explical' o rito batismal, ele dá "Fazei isto em mem6ria de mim;
uma descrição detalhada do sa isto é meu Corpo". Semelhante
crifício Eucarístico do seu tem mente, tomou também o cálice, deu
po ( Apologia 1, 65-67) : "No dia g1·aças e disse : "Isto é meu san
"
que é chamado Domingo n6s te gue , e s6 a êles o deu". Assim
mos uma assembléia comum de como o bispo imitou Cristo nesse
todos os que vivem nas cidades ato de consagração, assim também
ou nos distritos de fora . . . por imita-o em distribuir o alimento
que nosso Salvador Jesus Cristo espiritual : "Quando o que presi
ressurgiu dos mortos nesse mes- de acabou de celebrar a Eucaris-
tia, aquêles a quem nós chamamos cialmente clara pela instrução de
diáconos permitem a cada um dos Orlgenes aos fiéis leigos que re
presentes participar do Pão eu cebiam a comunhão : "Vós que
caristico . . . Os Elementos euca costumais estar presentes aos D i
rlsticos são distribuldos e consu vinos Mistérios sabeis que, quando
midos pelos presentes, e aos que recebeis o Corpo do Senhor, de
estão ausentes são enviados por veis tratá-lo com todo cuidado e
intermédio dos diáconos". reverência, para que não suceda
Uns setenta anos mais t8l'de cair um fragmento dêle, para que
podemos examinar o sacrifício eu não se perca alguma porção do
carlstico para ver se teve lugar Dom consagrado. Porquanto vos
nêle alguma alteração básica. Hi credes culpados - e o c1·edes cer
pólito (circa 170-176 ) , sacerdo to - se alguma coisa cair por ne
te l'Omano, compôs um manual li gligência nossa" ( Homilia XII I :
túrgico, Trad�ão Apost6lica, que Sôbre o E:xodo, 3 ) . Porém a real
descreve alguns novos detalhes e celebração do Sacrifício, diz pelo
cerimônias, porém mais urna vez mesmo tempo Cipriano de Ca1·
inclui o i·ito essencial que remon tago (circa 210 ) , é confinada aos
ta à ação de Cristo na 'Última sace1·dotes : "Se o pr6prio Jesus
Ceia. Cristo Nosso Senhor e Deus é o
Assim achamos a Tradi,ão sumo sacerdote de Deus Pai e se
Apostdlica relembrando-nos que se ofereceu em sacrifício a seu
Crista, "tomando pão, deu gra Pai, e mandou que isto fôsse feito
ças a Ti e disse : "Tomai e co em memória de si, então desem
mei ; isto é meu Corpo, que será penha vcl'dadeiramente o ofício de
quebrantado por amor de v6s ; Cristo o sacerdote que imita o que
sempre que isto fizerdes, fá-lo-eis Cristo fêz, e agora oferece o ver
em mem61·ia de mim". Portanto, dadeiro e perfeito Sacrifício na
em memória da sua morte e res Igreja a Deus Pai" ( Carta 63 ) .
surreição n6s te oferecemos êste
Monumentos e 1Lc11rlsticos. Mas
pão e bte cálice, dando-te graças
nem tôda evidência da Eucaristia
por nos teres feito dignos de fi
há de ser achada em documentos.
car na tua presença e de minis
Se você conhecer a chave, poderá
trar a t i . . . " Hip61ito refere ou
descobrir nos monumentos cristãos
tros detalhes : o diácono traz o pão
muitas referências ao Cristo Eu
e o cálice ao bispo ; água é .mis
carlstico.
turada com o vinho ; é dado o
ósculo de paz. O bispo parte em Durante os dias de pe1·seguição,
pedaços o Pão eucarlstico e, com os cristãos muitas vêzes usavam
os sacerdotes, distribui-o ao povo, um peixe como símbolo de Cris
d izendo : "O pão celeste em Cris to. Você deve saber que a pala
to Jesus" ( Trad�ã.o Apost61ica : vra grega pua peixe é "ichthlls".
Missa de sagração episcopal ) . Os cristãos usavam-lhe as letras
Reverência pela Eucan-istia. J á iniciais para representarem : " Je
evidente, essa reverência é espe- sus Christõs Theoil Huiõs, Sotér" ;
38
isto ê : "Jesus Cristo, Filho de com leite, e êste leite . . . é o corpo
Deus, Salvodor". de Cristo" ( Pedagogo, 1, 7 ) .
D e nôvo, na catacumba de Pl'is
Tendo isto em mente, leia al
cila � provavelmente um dos pl'i
guns epitáfios de cristãos devotos,
meiros convertidos de Pedro -
tais como Abe1·cius deixou cm
você achará aquilo que, pelas suas
Hierápolis, na Fl'igia, e de Pec
t6l'io erigido em Autun na Gália. inscrições, é conhecido como a Ca
pela Grega. AI está uma pintura
Esta última inscrição assim po
simbólica a que os latinos chamam
deria ser traduzida : "Divina pro
" Fl'actio Panis" : a fração do Pão.
]e do Peixe celeste, prese1·vai um
Sete pessoas estão sentadas a uma
coração reverente quando tomar
longa mesa onde estão dois peixes,
des a bebida da imortalidade que
cinco pães e um cálice. Um ho
é dada entre os mortais. Confor
mem venerando, evidentemente o
tai vossa alma, ó amados, com as
presidente da festa como o diria
fontes inefáveis, nas inexaurlveis
nosso amigo Justino, está pondo
fontes da Sabedoria, dadoras de
as mãos sôbre os objetos que es
riqueza. Tomai o mcligeno alimen
tão na mesa. Sem dúvida, os cinco
to do Salvador de santos, e cornei-
pães e os dois peixes sugerem o
o com fome, segurando nas mãos
milagre de Cristo da multipJica
o Peixe. Enchei-me do Peixe, ro
ção ( M t 1 4 ) . Mas, enquanto o de
go-vos, Senhor Salvador. Durma
senho relembra o poder milagro
bem minha mãe, rogo-vos, Luz dos
so de Cristo, dirige-o a outro fim.
mortos. Aschandius, meu pai, ama
Para uma representação do mila
dlssimo do meu coração, com mi
gre dos pães e dos peixes, mesa,
nha doce mãe e meus irmãos, lem
banquete e taça seriam desneces
brai-vos do vosso Pect6rio na paz
sários. Essa i·eunião, portanto, re
do Peixe" ( Bettenson, Henry,
presenta um sacriflcio eucarfstico
Docmnents o f the Christian
celeb1·ado por um bispo - e os
p. 121 ) .
cristãos naqueles dias prontamen
Agora vá a Roma, desça à ca te o i·econheceriam como ta].
tacumba da Beata Domitila. Ali Mas eis que aqui lhe estou for
achará desenhos do Cordeil'o de necendo um livro-guia para o sub
Deus ou do Bom Pastor, trazendo solo cristão ! Não o farei mais,
um balde de leite. Note que um assegu1·0-lhe. Bastante já foi fei
haJo circunda o leite, pondo em to para seguir a Eucaristia desde
luz a natureza sagrada dl!ste. O a última Ceia até o Concilio em
significado desta pintura é que N icéia. Melhor entenderá você
Cristo, sob os símbolos do Cor como o Culto Eucarístico é o
deiro de Deus ou do Bom Pastor, coração da liturgia cristã. E,
está dando ao seu rebanho o ali se você aceita a tradicional c1·en
mento da Sagrada Eucaristia. ça cristã de que Cristo está ver
Clemente de Alexandria i·esume dadeiramente presente no sa
e interpretação quando diz que : cramento eucarlstico, apreciará
ª A Igreja alimenta seus filhos o nosso gnnde cuidado pelos
39
moribundos em Nicéi a : "Com ceber a Eucuistia, dê-lha o bispo
respeito aos rno1·ibundos, a antiga após devida investigação ( Cino
lei canônica continua1·á a ser ob ne 13) . "Viãtico" quer dizer pro
servada, a saber : se alguém es visão para um caminho, para uma
tiver perto da morte, não seja jornada. Nós cristãos somos todos
privado do último e mui neces viandantes rumo ao céu, mas Cris
sá1·io Viãtico . . . no caso de al to é sempre "o caminho, a verda
guém moribundo que deseje re- de e a vide" (Jo 14, 6 ) .
40
rÉGur oOR.Ês-ÕÊ cRrsro
1, OU DE CO NSTA t\,T f �J�);? �
li.������� �--�--- --w--�
A legaria c/evendência ecle- ve!'sal e . . . intimou os bis-
siástica. Nesta entl'evista pos a reunir-se imediata-
final p !'ocu 1·arei respon- mente". Refere o discu!'SO
der a algumas das ques- dêle ao concílio sõb1·e a or-
tõcs que você me subme- dem, e os seus mandatos
teu. De tôdas elas, a mais de observar decl'etos ( Eu-
inquiridol'a pal'ece ser a sébio, Vida de Conslan t i-
seguinte : M, Ili, 6, 12, 20 ) . Essen-
41
s1çso p1·ivilegisds. Tanto por mo dade senão vinda de Dl!us, I! as
tivo de respeito como por moti que existem fo1·am ordenadas por
vos prudencisis de eficiência, nós Deus. Portanto, aquêle que re
lhe permitimos fazer as notifica siste à autoridade resiste à or
ções para esta i·eunião, e nssegu dem de Deus, e os que resistem
rar transporte seguro. Pareceu trazem sôbre si a condenação . . . "
me simplesmente justo convidar ( Rom 13, 1 ) .
Sua Majestade para fah1r à as Deixando de lado êsscs i·elatos
sembMia, e também lhe concede marginais, veja o que a polltica
mos publicar os decretos conci oficial de Constantino é para com
liares. a religião. Refiro-me ao Edito
O Estado Constantino. Mns da Liberdade Religiosa promul
c1·eio que o pr6p1·io Imperador gado por êle e iielo seu último
Constantino está bem cônscio da colega, Licínio. Deixe-me citar
sua verdadeira posição. "Não foi lhe alguns trechos n êle pertinen
sem i·azão que certa vez, quan tes : " Percebemos desde há mui
do conversava com um grupo de to que a liberdade i·el igioss não
bispos, êle deixou cair uma obser deve ser negada, mas que ao jui
vação, de que também êle era um zo e desejo de cada individuo de
bispo, falando a êles sob minhn ve ser permitido cumprir os seus
escuta como segue: "Os Srs. são deveres religiosos de scõrdo com
bispos cuja jurisdição está den a sua própria escolha, demos or
tro da Igreja. Eu também sou um dens para que todos os homens,
bispo, ordenado por Deus pars os cristãos como outros, possam
vigiar o que é externo à Igreja" preservar a fé da sua própria
( Eusébio, Vida de Constantino, seita e religião . . . estando clara
IV, 24 ) . Ora, conquanto alguns mente de acôrdo com a tranqüi
tenham levado a mal êsse meio lidade dos nossos tempos que ca
gracejo, eu penso que nenhum da um tenha a liberdade de es
homem equilibrado interpretaria colher e de adorar qualquer di
essa observação como reivindican vindade que lhe apraza. Isto foi
do mais do que um poder de po por nós feito a fim de que de
licia para a ordem pública, ou, modo algum parecesse discrimi
no máximo, um papel protetor narmos contra qualquer catego
para com os interêsses e a pro ria ou religião" (Eusébio, Hist6-
priedade eclesiástica, Foi neste ria, X, 5 ) . :i;:ste edito é, a meu
espirita que êle fêz de árbitro en ver, de mentalidade um tanto
tre nós e os Donatistas africa la1·ga demais, porém nenhuma
nos · ( Eusébio, Hi3t6ria, X, 6-6 ) . renúncia do contrltle secula1· sa
Quanto à sua "ordenação divinan, bre a religião poderia sel' mais
penso que êle poderia pleitear clara.
justificação junto ao Apóstolo Independência Eclesilistica. Mas
Paulo, quando êste diz : "Seja ca que seria se algum futuro impe
da um sujeito às mais altas au radol' transpusesse os limites que
toridades, pois não existe autori- Constantino · se impôs? Esto. poa-
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metais nos negócios da Igreja, e
nem nos deis ordem referente a
ela, mas, ao invés, aprendei de
nós. Deus colocou cm vossas mãos
o Império, e a nós confiou a ad
ministração da sua Igreja : e, as
sim como se oporia à ordem de
Deus quem quisesse roubar de
vós o govêrno, vós também vos
tornaríeis réu de um grave pecado.
Escrito está : " Dai a César o que
é de César e a Deus o que é de
Deus". Portanto, não nos é lici
to governar a terra, nem vós ten
des o direito de queimar incenso"
( Hósio, Cuta a Constantino, ci
sibilidadc, devo admiti-lo, pertur tada por Atanásio, História dos
bou-me tanto, que eu consultei A riano,q, 44) •
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Importantes Datas nos Três Primeiros
Séculos da Igreja Cristã
67 - O Martírio de S. Paulo.
70 - A destl'uição de Jerusalém por Tito.
100 - A morte de S. João Evangelista, o último dos Apósto-
los. Com a sua morte, o depósito da fé foi encerrado.
313 - O Edito de M ilão promulgado por Constantino Magno,
pelo qual o Cristianismo recebeu i·econhecimento legal
dentl'o do Império Romano.
325 - O Concilio de Nicéia, o pl'imeil'o Concilio Ecumênico,
que condenou o heresiarca Ario por ensinar que o Fi
lho é infuior ao Pai. O Concilio também fo11nulou o
Credo Niceno.
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Os primeiros anos da Igreja Católica
Co11tetido: