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INTRODUÇÃO

A Catequese.
O ser humano é um ser dotado de consciência. Isso levou a humanidade,
através da sua história, a compreender a sua realidade e, assim, apreende-la. O
homem começou a analisar o que o rodeava, buscar explicação para os
acontecimentos e fatos, para a sua própria existência e, dessa maneira, a produzir
cultura baseada no conhecimento que adquira.
Isso tudo fez com que o ser humano quisesse também que todo esse
aprendizado fosse passado para as gerações futuras, afim de perpetuar aquilo que
era aprendido, visando uma sociedade melhor e, como consequência, um homem
melhor. Aqui mostraremos essa realidade na sociedade greco-romana, que no início
da cristandade estava se expandindo, tendo como base da sua educação a Paideia.
Essa compreensão é básica para entendermos o início e a expansão do
cristianismo que acabou adquirindo métodos, expressões e condutas desse processo.
Para exemplificar, São Basílio de Cesareia será apresentado como aquele que
se preocupa com o ensino da fé para os mais jovens. Em sua “Carta aos Jovens de
como tirar proveito da Literatura Pagã” queremos mostrar, através do seu método
catequético, a preocupação que a Igreja teve com a perpetuação da fé e de sua
expansão desde os primórdios.
No primeiro capítulo, iremos mostrar a história do Bispo de Cesareia, com a
finalidade de contextualiza-lo e de mostrar como ele era estimado e conhecido por
seus dons de ensino. No segundo, a carta será esmiuçada para que se possa fazer
uma boa comparação com aquilo que a Igreja vê como necessidade da pedagogia
catequética na atualidade, apresentada no capítulo 3. Poderemos ver se, o método
de São Basílio para catequisar a juventude no seu contexto histórico pode servir como
exemplo para os objetivos da Igreja nesse âmbito nos dias de hoje.
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1 BASÍLIO DE CESARÉIA
Este primeiro capítulo, que está subdividido em dois subtítulos, tem como
objetivo situar Basílio de Cesária em seu contexto histórico e, com isso, mostrar a sua
importância para a história da Igreja e para a Teologia.

1.1 A Capadócia e os Capadócios


“Pedro, apóstolo de Jesus Cristo, aos estrangeiros da Dispersão: do Ponto, da
Galácia, da Capadócia, da Ásia e da Bitínia (...)”. Nessa citação que se encontra na
1º epístola de São Pedro 1, 1 já podemos encontrar o nome da Capadócia como um
lugar que o evangelho de Cristo, após a sua ressurreição, começou a ser proclamado.
Ali se encontravam alguns judeus convertidos ou então cristãos que viviam no meio
dos gentios. Mais do que isso, o livro do Atos dos Apóstolos 2, 5s demonstra esse
dado durante o acontecimento de Pentecostes. Estavam lá reunidos “judeus piedosos,
vindos de todas as nações que há debaixo do céu (...) Partos, medos e elamitas;
habitantes da Mesopotâmia, da Judeia e da Capadócia, do Ponto e da Ásia (...)”. No
século I da era cristã, essa região era um centro de cultura e civilização, mesmo após
o domínio dos romanos. Aqui se obteve com o tempo um perfeito entrelaçamento da
estrutura romana e da cultura helenista, o que contrasta com o seu passado, onde a
Capadócia era muitas vezes objeto de sátira por causa do seu baixo nível
civilizacional. (MORESCHINI, 2008, p. 2)
No século III e IV, após se tornar parte do Império Romano do Oriente, a
Capadócia viu seu desenvolvimento expandir-se. “Se na antiguidade alguém quisesse
fazer uma viagem por terra de Alexandria para Constantinopla, a pé ou a cavalo, o
único meio seria o de atravessar o Egito e a Terra Santa, usando um caminho
conhecido como Via Marítima, avançando em seguida para península Anatólica em
direção à capital” (RICARDO, 2012, p. 1). Assim, tendo como predominante a cultura
grega, ela se transformou na rota mais usada pelos comerciantes da Ásia e dos
europeus cristãos que faziam as suas peregrinações. Além disso, ao longo de todo
Mar Negro se localizavam inúmeros portos que impulsionavam ainda mais o comércio
e a movimentação de pessoas em toda a região.
Na história da Igreja, seja no Oriente ou no Ocidente, esse período é chamado
de Patrística, época que também recebe as suas subdivisões. O momento em que
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Basílio está situado é o titulado Pré-Agostiniano, que vai do início da era cristã até o
século IV.
Nesse período, mais exatamente na época que compreende o intervalo do
Concílio de Nicéia em 325 e o de Constantinopla e 381, três homens importantes
viveram nessa região: Basílio de Cesareia, que também é chamado de O Grande,
Gregório de Nissa, seu irmão e Gregório de Nazianzo. Eles fazem parte do grupo dos
Padres Capadócios. Uma de suas marcas, além dos seus escritos, era o fato de terem
uma proveniência aristocrática e, mesmo assim, não usarem de seus privilégios para
se impor. Pelo contrário, “desprezando toda a glória e riqueza do mundo, dedicaram-
se aos necessitados tanto quanto à vida intelectual, à meditação, à oração.”
(FRANGIOTTI, 2012, p. 9)
Juntos, os Capadócios deram contribuições valiosas para a Teologia. Pode-se
elencar aqui “a posição do partido niceno de que Jesus Cristo é da mesma substância
que o Pai se tornara geralmente aceita. (...) [eles] afirmavam a plena partilha de
atributos entre Pai, Filho e Espírito Santo” (IRVIN, 2004, p. 237). Além disso, entre as
questões abordadas pelos Capadócios estava a da plena divindade do Espírito Santo
indo contra as ideias dos pneumatômacos.

Em todas as suas obras os Capadócios enfatizaram o caráter pessoal de


Deus e não admitiram qualidades abstratas da divindade fora do Pai. Desde
a eternidade, e não no tempo, o Filho foi gerado e o Espírito Santo procedeu
do Pai – afirmavam – estabelecendo assim a unidade e a diversidade dentro
da vida divina (IRVIN, 2004, p. 238)

As ideias deles, tanto espirituais quanto teológicas, receberam por parte do


Concílio de Constantinopla em 381 sanção oficial.

1.2 “O Grande” de Cesareia


Basílio de Cesareia nasceu no ano 329, no período conhecido como “idade de
ouro” da Patrística, dentro de uma tradicional família rica, numerosa e de tradição
cristã oriunda da província do Ponte. Seu pai era conhecido como um dos mais
virtuosos e mais eloquentes de Cesareia, oriundo de uma família rica e considerada
latifundiária na mesma região. Basílio, com certeza, aprendeu muitos elementos da
retórica com ele, bem como os primeiros elementos culturais; sua mãe era Santa
Eumélia, também de família nobre. (PLANCHE. apud BASÍLIO, 2012) De sua árvore
genealógica é importante também falar sobre sua avó paterna, Macrina, que foi
educada por Gregório Taumaturgo, discípulo de Orígenes. Basílio teve grande
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influência dessa educação pois sempre foi muito próximo dela, como comprovado
pelas suas cartas, nas quais fala do papel dela como educadora de uma fé ortodoxa
aos netos:

Que prova mais clara poderia ter em favor de nossa fé, que o fato de ter sido
educado por uma avó que era mulher bem-aventurada (...)? Quero falar da
ilustre Macrina, que nos ensinou as palavras do bem-aventurado Gregorio (o
Taumaturgo), todas as que se servia para educar e formar na piedade os
pequeninos que éramos, então (Epist. 104,6; 110,1; 123,3 apud
FRANGIOTTI, 2012, p. 10).

Bento XVI afirma que Basílio nasceu “numa família de santos, ‘verdadeira igreja
doméstica’, que vivia num clima de profunda fé”. (2007, p. 1)
Ao todo são dez irmãos, dentre os quais sua irmã Macrina, a Jovem, Gregório,
bispo de Nissa e Pedro, bispo se Sebástia se destacam. Seus avós paternos sofreram
a perseguição movida pelo imperador Diocleciano por volta de 301 – 303, se
refugiando nas florestas do Ponto por, pelo menos, 7 anos, tendo também todos os
seus bens confiscados.
Tendo tudo isso a sua volta, “Basílio parecia destinado, desde o nascimento, a
se tornar um dos mais distintos homens da Igreja, tanto pelos exemplos domésticos
que tinha diante dos olhos, quanto dos talentos que a Providência lhe havia
destinado.” (PLANCHE. apud BASÍLIO, 2012, p. 15)
A sua juventude foi marcada por inúmeras viagens. Logo depois de ter feito os
estudos iniciais na província da Ponte, foi para Constantinopla onde teve lições com
um dos maiores retóricos de seu tempo, Libânio, que logo viu no aluno uma distinção
entre os outros, criando uma estima por ele que durou por toda a vida. Em Antioquia,
teve contato com a Filosofia de Eustácio de Sebástia, Bispo.
Em Atenas ele se aperfeiçoou na clareza da linguagem, adquirindo a
capacidade de escrita tão elogiada pelos mais próximos, como atesta o Excerto de
uma carta de Libânio a São Basílio (apud BASÍLIO, 2012, p. 12 – 13). O santo, ao
escreve uma carta endereçada a seu amigo que, ao recebe-la, tinha em sua
companhia pessoas que ocupavam posições importante no Estado foi adjetivado
como um “escritor de cartas elegantes”. Todos no local ficaram curiosos com o
conteúdo e leram o que Basílio tinha inscrito, levando a cabo a opinião de Libânio.
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No Excerto da Biblioteca de Fótios1 há um elogia pela mesma capacidade:


“Basílio, o Grande se destaca em todos seus discursos. Autor algum melhor do que
ele tem a pureza, a propriedade de expressão, o verdadeiro estilo da oratória e do
panegírico. Em relação à clareza de pensamento, não tem igual, ou pelo menos
ninguém o supera”
Não se pode deixar de lado, também, o nascimento da amizade que aconteceu
em Atenas com Gregório de Nazianzo, que também era seu equivalente na piedade,
nos talentos e no amor pelo conhecimento. Além da retórica, ali também completou
os estudos em Filologia e Filosofia. Com tantas qualidades, acabou recusando
inúmeras propostas para que ficasse em Atenas como mestre e acabou retornando
para sua pátria em 355, onde se estabeleceu como retórico e também nos tribunais.
(FRANGIOTTI, 2012)
Porém, a fama que conquistou e os aplausos que escutava ao falar não lhe
serviam para nada; a isso juntou o seu desejo de perfeição trazido da cultura grega e
também as constantes advertências de sua Irmã Macrina. Decidiu, então, renunciar
as suas funções e empreendeu uma nova viagem, desta vez, visitando os ascetas do
Egito, da Palestina, da Síria e Mesopotâmia. Foi aqui que a sua conversão aconteceu
de maneira radical: “Insatisfeito com os seus sucessos mundanos, e percebendo que
tinha desperdiçado muito tempo nas vaidades, ele mesmo confessa: ‘Um dia, como
que acordando de um sono profundo, dirigi-me para a admirável luz da verdade do
Evangelho... e chorei sobre a minha vida miserável’” (cf. Ep. 223: PG 32, 824ª apud
BENTO XVI, 2007, p. 1). Voltando para a sua terra em 358, foi batizado.
A partir desse momento, Basílio empreendeu uma transformação radical em
sua vida. Com a morte prematura de seu pai, nesse mesmo ano, vendeu todos os
seus bens e distribuiu o dinheiro aos pobres de sua cidade. A isso juntou o seu
afastamento de Diano, à época bispo de Cesareia que estava pregando formalmente
o arianismo.
Decidiu então sair de sua terra natal e se fixar em uma propriedade da família
no Ponto, às margens do rio Íris. Sua irmã e sua mãe já tinham fundado de um lado
um mosteiro feminino. Na outra margem, então, abriu um mosteiro para homens,
acolhendo aqueles que na época viviam uma vida eremítica e os conduziu à vida

1
Excerto da Biblioteca de Fótios, CXLL. apud BASÍLIO, São. Carta aos Jovens sobre a utilidade da literatura pagã.
Tradução de Diogo Chiuso. Campinas; Ecclesiae, 2012, p. 13.
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monástica. Para tanto, juntou-se a ele Gregório de Nazianzo, e, juntos se


aprofundaram nas obras de Orígenes, sobre o qual escreveram uma antologia de
textos que levou o nome de Filocália. (FRANGIOTTI, 2012)
Seu Bispo Diano, porém, foi atacado por uma doença grave e mandou que o
chamasse novamente para Cesareia. Lá, o epíscopo confessou a Basílio que nunca
pretendeu renunciar à fé de Nicéia e que reconhecia o mal que havia se espalhado
com a fórmula ariana. Ele, então, resolve se instalar ali novamente e cuidou de Diano
nesse período. Seu sucessor, Eusébio, foi quem ordenou Basílio em 364, porém, sua
fama como pregador e também seu exemplo de vida ascética e caridosa causou a
inveja do seu Bispo que logo o impediu de ministrar e o liberou para que voltasse ao
seu mosteiro na província do Ponte.
Não muito tempo depois de sair de Cesareia, o imperador Valente dirigiu todos
os seus esforços para tomar posse das igrejas católicas a fim de difundir o arianismo.
Eusébio não estava sendo capaz de se opor ao intento e, conhecedor dos dons de
Basílio, o chamou novamente. “Sua presença fez cessar as divisões que prevaleciam
entre os ortodoxos; seu zelo frustrou o intento do imperador, e sua eloquência fez-se
ouvir no celeiros dos ricos, para alimentar os pobres que a fome havia reduzido à mais
terrível miséria”. (PLANCHE. apud BASÍLIO, 2012, p. 18)
Eusébio faleceu em 370 e Basílio foi se sucessor, mas não com grande
facilidade. Sua fama entre o povo era grande e conhecida, porém não entre o clero.
Frangiotti (2012) afirma que essa oposição se fazia por causa da sua precária saúde.
Porém, isso não bastou para evitar a sua ascensão. Em apenas 9 anos no exercício
do episcopado, ele já era reconhecido como o “Grande”.
A partir daí, a Igreja de Cesareia, orientada por seu bispo, começou a formar
os padres com um maior cuidado, para assim lutar de uma forma mais eficaz contra
os arianos que tinham o apoio explícito do imperador Valente. Todo esse trabalho,
bem como por meio dos seus trabalhos pastorais e teológicos que era reconhecido
por todos, as dioceses vizinhas também começaram a condenar a heresia ariana, que
já havia sido condenada no concílio de Nicéia. (RICARDO, 2012)
Era um fato que a “Igreja em Antioquia estava dilacerada por um cisma tão
completo que cada divisão era encabeçada por um homem distinto” (PLANCHE. apud
BASÍLIO, 2012, p. 18) e Basílio tentou estabelecer a harmonia, mas sem muito
sucesso. Porém, com o Bispo da Macedônia, conseguiu algum êxito: o fez adotar a fé
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de Nicéia e também a divindade do Espírito Santo. Ele tinha em mente que se


conseguisse ao menos voltar à unidade, aos poucos, por meio de conferências
amigáveis, seria mais fácil conduzi-los à fé do concílio. Essa estratégia, embora
criticada por alguns católicos da épocas, foi aprovada por Santo Atanásio e conseguiu
seu objetivo primordial que era enfraquecer os arianos.
O imperador, vendo que estava perdendo a influência naquela região, dividiu a
Capadócia em duas partes para diminuir a influência de Basílio sobre as outras igrejas
da província e, para as novas dioceses criadas, foram indicados por Valente bispos
arianos. O Capadócio, porém, não se intimidou e impôs ao irmão Gregório a diocese
de Nissa (que depois virá a perder a cátedra para os arianos) e a seu amigo Gregório
de Nazianzo a diocese de Sásima, tudo isso para reforçar a presença ortodoxa.
Em meio a toda essa controvérsia teológica, mas que, por consequência,
também estava virando uma guerra política, Basílio “percebeu que o melhor caminho
para se enfrentar o arianismo seria o de buscar provar a divindade do Espírito Santo,
para que automaticamente se provasse a divindade de Jesus.” (RICARDO, 2012, p.
1) Nesse intuito ele escreveu o “Tratado sobre o Espírito Santo” que foi sendo
disseminado entre todo o clero da região. Ele também é o responsável por uma das
aclamações mais conhecidas no meio católico: “Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito
Santo”. Antes, a saudação era sempre dirigida “Ao Pai, pelo Filho no Espírito Santo”,
da mesma maneira como é utilizada ainda hoje em algumas celebrações litúrgicas.
Porém, dentro daquele momento histórico, tal expressão levava a interpretação de
que, tanto o Filho quanto o Espírito Santo eram menores do que o Pai. O “e” inserido
por ele reforçou a igual dignidade das pessoas da Trindade.
Escreveu e pronunciou inúmeras homilias voltadas aos pobres, mas não só, ele
também agia pessoalmente em favor deles. Umas de suas ações mais conhecidas
nesse ponto é a construção de hospitais para acolher doentes, vítimas de epidemias,
viajantes, estrangeiros e abandonados. “De Deus, que é amor e caridade, Basílio deu
um válido testemunho com a construção de vários albergues para os necessitados,
quase uma cidade da misericórdia, que dele recebeu o nome de Basilíada. Ela está
nas origens das modernas instituições hospitalares de internação e de cuidado dos
doentes.” (BENTO XVI, 2007, p. 2)
Basílio, então, não só se destaca em âmbito teológico na defesa do concílio de
Nicéia, mas também na ação social.
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De fato, vendo o povo empobrecido, esmagado pelo fisco, exploração e


usura, prega contra o luxo e a avareza. Defende a igualdade fundamental de
todos os homens diante de Deus, a eminente dignidade da pessoa humana,
a necessidade da redistribuição dos bens para eliminar a avareza e o
enriquecimento. (FRANGIOTTI, 2012, p. 15)

Em meio às suas reflexões teológicas, a assistência aos pobres e ao trabalho


de unir a igrejas, ele também se dedicava na orientação espiritual dos monges e pela
vida de oração. Com sua experiência, impulsionou a fundação de várias irmandades
e comunidades de cristãos consagrados. Basílio não os deixava caminhar sozinhos,
sempre os visitava e, por meio de seus escritos, os motivava a viver e a progredir na
perfeição. “Das suas obras hauriram também vários legisladores do monarquismo
antigo, entre os quais São Bento, que considerava Basílio como o seu mestre”.
(BENTO XVI, 2007, p. 2) O seus monges não ficavam fechadas à Igreja local, ao
contrário, eles se firmaram como o núcleo animador da comunidade e davam o
exemplo, não só na firme adesão a Cristo, mas também nas obras de caridade. “Estes
monges, que tinham escolas e hospitais, estavam a serviço dos pobres e mostraram
assim a integridade da vida cristã” (BENTO XVI, 2007, p. 2)
Em meio a tantas atividades, principalmente no atendimento e no serviço da
caridade, Basílio ainda encontrava tempo para escrever
Ele se destacou em inúmeras áreas, como, por exemplo a liturgia, onde em
suas cartas, propôs um programa de santificação do dia e também elencou
argumentos para defendê-las das críticas das igrejas mais conservadoras. Também,
um formulário eucarístico bizantino marcado com o seu nome existe em siríaco,
aramaico, eslavo e árabe. Para ajudar os monges a bem meditar e celebrar, reformou
o ofício litúrgico dos mosteiros. As igrejas de rito bizantino ainda utilizam uma liturgia
que traz o seu nome nos dias da quaresma e nas grandes festas do ano.
(FRANGIOTTI, 2012)
Dentre muitas obras, tratados teológicos, sermões e cartas, mereceu destaque
os tratados teológicos-dogmáticos contra os arianos e os pneumatômacos, seus
escritos ascéticos voltados para a vida monástica, fixando as normas de conduta dos
monges e uma obra pedagógica titulada “Carta aos jovens sobre a utilidade da
literatura pagã” (PLANCHE. apud BASÍLIO, 2012)
Nesse pequeno escrito, Basílio orienta os jovens na leitura da literatura pagã
grega da época que tem em si muitas virtudes que podem ser de grande proveito para
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a vida do cristão. “Por isso, é preciso tirar dos textos dos autores clássicos tudo o que
é conveniente e conforme com a verdade: assim com atitude crítica e aberta de fato
trata-se de um verdadeiro e próprio "discernimento" os jovens crescem em liberdade”.
(BENTO XVI, 2007, p. 3)
O motivo para escrever o texto é orientar os sobrinhos para que eles possam
entender como a Filosofia e a paidéia ateniense podem conduzir o homem a uma
atitude que se assemelha muito a proposta cristã de vida ascética. Assim, o cristão
cresce sabendo diferenciar o que lhe é útil para seguir a Cristo e o que é necessário
abandonar e deixar de lado. (FRANGIOTTI, 2012)
Esse trabalho terá como base esse escrito com o objetivo de entender a
proposta de São Basílio e ver sua atualidade.
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2 A PROPOSTA DE SÃO BASÍLIO


O objetivo desse segundo capítulo é esmiuçar a Carta aos jovens sobre a
utilidade da literatura pagã de São Basílio a fim de encontrar os seus elementos
catequéticos de ensino da fé cristã partindo de conteúdos acessíveis aos jovens para
se chegar às verdades de fé.
O livro é subdivido em cinco capítulos, no primeiro ele apresenta as suas
motivações para escrever tal texto, no segundo dá as bases do seu método, no
terceiro mostra a virtude como algo defendido por inúmeros autores e que deve ser
perseguida, no quarto alerta para os prejuízos da preguiça e das satisfações
momentâneas e no quinto ele faz um resumo, afirmando que o acumulo das virtudes
é o que trará uma vida digna e, portanto, a eternidade.

2.1 Elementos catequéticos


São Basílio, logo no primeiro parágrafo de seu livro afirma que “Bons motivos
me encorajam para dar-vos conselhos que creio serem sábios, e asseguro: serão úteis
àqueles que os acolherem” (BASÍLIO, 2012, p. 31). Essa frase leva a crer que a
metodologia que ele irá apresentar a partir daqui não é simplesmente uma teoria, mas
sim um método já experimentado que lhe dá motivos para acreditar que será de
alguma forma útil. Isso se confirma ainda mais na sequência do parágrafo, quando diz
que “Na idade em que me encontro, o grande número de acontecimentos pelos quais
passei, as diversas revoluções que experimentei e que são excelentes para instruir,
deram-me a experiência para poder indicar o caminho mais seguro e menos arriscado
aos jovens que iniciam nas suas carreiras” (BASÍLIO, 2012, p. 31).
Para se mostrar de alguma forma próximos daqueles a quem está dirigindo o
texto, ele afirma ter sentimentos paternos para com cada um e se gaba por acreditar
que esses, quando olham para ele, o veem como um dos intelectuais do seu tempo.
Para corroborar que a ideia de escutá-lo em suas indicações pode valer a pena,
ele parafraseia uma frase célebre de Hesíodo em que afirma “(...) o primeiro mérito é
enxergar por si só aquilo que é melhor a ser feito; o segundo é poder seguir os
conselhos sábios úteis que alguém lhe dá; mas que isso tudo é inútil a quem não sabe
nem agir por si mesmo nem aproveitar os bons conselhos” (BASÍLIO, 2012, p. 32).
Ele apresenta, então, a motivação para ter escrito tal texto: mesmo sabendo do
valor dos mestres, com os quais os jovens tem contato na escola, ou mesmo os
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ilustres escritos que eles leem, Basílio adverte para que os jovens não sigam de forma
cega esses doutores profanos, ao contrário, “Deles deve-se absorver o que há de bom
e útil, sempre sabendo aquilo que é preciso rejeitar. Como então podemos fazer essa
distinção? É isto que pretendo ensinar, e é por onde iniciarei esse discurso” (BASÍLIO,
2012, p. 32).
No início do capítulo 2 ele dá aos jovens sua primeira orientação para fazer
essa distinção: “Nós cremos, minhas queridas crianças, que a vida presente não é
nada: tudo aquilo que é limitado às vantagens temporais apresentadas nesta vida são
nada mais do que ilusões que se apresentam a nossos olhos” (BASÍLIO, 2012, p. 33).
Ele afirma que nada do que é considerado grande ou de valor neste mundo pode ser
um bem para os cristãos, porque as “(...) nossas esperanças estão apontadas para
um lugar muito mais distante” (BASÍLIO, 2012, p. 33) e tudo o que condiz para isso,
deve-se “(...) usar de todas as forças para encontrá-los” (BASÍLIO, 2012, p. 33). Mais
do que isso, ele orienta a “(...) nos livrar, sem culpa alguma, daquilo que é desprezível,
de tudo aquilo que pode nos afastar do nosso objetivo último” (BASÍLIO, 2012, p. 33).
Basílio admite que seria necessário explanar de forma mais profunda sobre
essa outra vida de que fala, porém, afirma não ser o objetivo do seu texto e também
conclue que tal conteúdo escapa à capacidade de entendimento dos jovens. Ele se
limita a dizer que “(...) reunindo toda a felicidade que o homem tem desfrutado desde
o início dos tempos, mal se chegaria à menor parte da felicidade que espera a vida
futura” (BASÍLIO, 2012, p. 34). Ele chega a fazer outra analogia para tentar demonstrar
o grande valor dessa outra vida: “(...) assim como a alma é mais preciosa do que o
corpo, a vida futura prevalece sobre a vida presente” (BASÍLIO, 2012, p. 34).
Apesar de as Sagradas Escrituras ensinarem essas verdades, o santo reafirma
que a juventude não permite tal aprofundamento da fé. Para instruí-los, então, ele se
volta a livros que não são completamente contrários a elas e, partindo daí, olhar para
as próprias almas, como se no reflexo de um espelho. Ele demonstra tal método,
novamente, por meio de analogia: “Primeiro devemos aprender a ver o reflexo do sol
nas águas cristalinas e, depois, com a visão fortalecida, olhar diretamente para a luz
pura” (BASÍLIO, 2012, p. 35). Será vantajoso conhecer, segundo ele, as afinidades
entre as ciências sagradas dos livros santos e a dos autores profanos. Vendo as duas
e a elas fazendo comparação, “(...) contribuirá bastante para nos fortalecer no
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conhecimento da verdade” (BASÍLIO, 2012, p. 35). Para reafirmar tal pedagogia, faz
uso de outra analogia:

As árvores têm uma virtude natural de ficar carregadas de frutos numa dada
estação, todavia elas recebem uma espécie de ornamento de folhas que se
agitam em torno de seus ramos. Da mesma forma se dá com a alma: a
verdade é seu fruto essencial, no entanto pode ser enriquecida com
conhecimentos profanos, assim como as folhas realçam a beleza dos frutos.
(BASÍLIO, 2012, p. 35).

Assim, a literatura pagã não substitui o conteúdo da fé cristã, mas a introduz e


também dá robustez. Basílio parece ter muito bem estabelecida a ideia de que os
jovens não são capazes de compreender as verdades de fé logo de início. O seu
discurso da utilidade da literatura pagã nasce dessa necessidade de dar base para
que eles possam ter, aos poucos, contato com elas.
Por isso, ele inicia o terceiro capítulo citando figuras bíblicas conhecidas como
Moisés e Daniel que, antes de terem contato com as coisas do alto, conheceram as
ciências egípcias e a sabedoria dos Caldeus da Babilônia, respectivamente. Porém,
ele logo afirma que é preciso aprender o que delas se pode extrair e, para tal
ensinamento, começa citando os poetas; que “Não devemos nos apegar a tudo aquilo
que dizem, mas recolher as ações e palavras dos grandes homens dos quais nos
falaram: iremos admirá-los e tentaremos imitá-los” (BASÍLIO, 2012, p. 37). Daquilo
que deve ser rejeitado, ele continua: “Mas quando forem apresentadas personagens
infames, taparemos os ouvidos para nos proteger de semelhantes exemplos, como
fez Ulisses para evitar o canto das sereias. Pois o hábito de se entreter com palavras
contrárias à virtude conduz diretamente à prática do vício” (BASÍLIO, 2012, p. 37). Ele
assim procede querendo alertar os jovens de que os poetas colocam na boca e nas
ações de seus personagens injúrias, sarcasmos, embriaguez, dando a esses e a
outros elementos valores não verdadeiros como se eles fossem capazes de conduzir
o homem para a felicidade, em direção a “mesas suntuosas e cantos afeminados”
(BASÍLIO, 2012, p. 38). Basílio alerta também sobre a pluralidade de deuses e suas
ações infames, capazes de envergonhar até os animais.
O santo indica aos jovens que estudem autores “que louvam a virtude e
condenam o vício” (BASÍLIO, 2012, p. 37) a fim de contrapor e evitar os proseadores
que usam da sua arte para a enganação. “Das flores, nos contentamos em apreciar
suas cores e sentir seu perfume; no entanto, as abelhas delas extraem a substância
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para produzir o mel. Do mesmo modo, aqueles que nas suas leituras não procuram
unicamente o prazer poderão extrair coisas muito úteis para o espírito” (BASÍLIO,
2012, p. 38). Ele se utiliza dessa analogia com as abelhas para dizer que elas não
voam em todas ou qualquer flor, mas sim fazem uma boa escolha para adquirir aquilo
que lhes é útil, deixando de lado o resto. O jovem, se for sábio, assim também deve
proceder: desses livros, colher só o que for precioso a fim de conhecer a verdade, o
resto deve ser abandonado.
O objetivo desse caminho é conduzi-los a uma vida bem-aventurada, longe dos
vícios. Ele acredita que, esses passos, apreendidos durante essa idade se fixam a
ponto de não serem mais apagados. Novamente evocando o ensinamento de
Hesíodo, Basílio afirma que o caminho da virtude, “(...) à primeira vista, [parece]
áspero, duro, íngreme, não oferecendo nada mais que suor e cansaço” (BASÍLIO,
2012, p. 39), mas uma vez no topo “(...) percebe-se que ele mesmo é tranquilo, macio,
fácil, mais agradável do que aquele que conduz ao vício, que podemos chegar sem
demora, como diz o poeta [Hesíodo], pois o vício é vizinho da virtude” (BASÍLIO, 2012,
p. 39). Fazendo um contrapondo às riquezas, ele afirma que “a virtude é o único bem
que não nos pode ser tirado, é o único bem que acompanha o homem na vida e
também na morte” (BASÍLIO, 2012, p. 40). Ele se utiliza de inúmeros exemplos,
contemporâneos a eles, passando pela poesia homérica e outros poetas gregos, para
demonstrar aos jovens que essa verdade está contida nos livros pagãos e em poemas
de autores não-cristãos. Todos escrevem sobre a mesma coisa, mas cada um à sua
maneira. Uma vez ouvidos, seus axiomas devem ser incorporados às ações, pois “O
verdadeiro sábio me parece assemelhar-se a um pintor que, pintando as mais belas
figuras de homens virtuosos, vê a si mesmo representado como modelo daqueles
cujos traços pretende retratar” (BASÍLIO, 2012, p. 42). Para motivar ainda mais o
conhecimento e a prática das virtudes, ele traz em seu texto as ações dos antigos,
como Alexandre, Sócrates e Péricles para servirem como exemplos, afirmando ser útil
lembrá-los nos momentos contrários às boas práticas.
Basílio conhece bem a realidade em que os jovens estão inseridos, por isso
insiste em retirar do seu próprio contexto os autores e os exemplos a serem seguidos.
Através desse caminho, ele vai demonstrando que os valores cristãos não são difíceis
de serem aprendidos e, ainda mais, vividos. Em um certo ponto, ao final do capítulo,
22

ele começa a fazer comparações com o próprio Evangelho para demonstrar os


inúmeros pontos convergentes.
Logo no início do quarto capitulo ele afirma que, assim como são selecionados
os melhores alimentos visando uma boa saúde, da mesma forma devemos proceder
com a alma: selecionar tudo o que é útil para a vida, dirigindo corretamente palavras
e ações a fim de se distanciar dos “bárbaros”. Nessa condução da vida, inúmeros
exercícios são necessários, assim como aqueles que se dedicam aos esportes ou a
música que, antes de se tornarem os melhores naquilo que se propõem, passam por
inúmeros desafios com a finalidade de se aperfeiçoarem e se tornarem perfeitos
(BASÍLIO, 2012, p. 48). “Somente depois de muito exercício, de um trabalho árduo
nos ginásios, aumentando suas forças e dedicando-se a combates particulares, é que
os atletas estão preparados para a disputa” (BASÍLIO, 2012, p. 49). É assim que ele
mostra que, da mesma forma, para se tornar um bom cristão e ganhar, durante e no
fim da vida, “prêmios tão admiráveis, de grandeza inexplicável” (BASÍLIO, 2012, p. 49)
nada se conseguirá sem coragem e sem esforço: “Uma vida covarde e preguiçosa
merece algum tipo de elogio?” (BASÍLIO, 2012, p. 49). Assim ele afirma que não se
deve entregar à vida fácil e às satisfações momentâneas.
Dessa forma, no quinto e último capítulo, Basílio começa por tentar resumir e
dar um caminho final com tudo aquilo que apresentou até aqui.

O que fazer então?, perguntar-me-íeis. É preciso cuidar da alma, mas sem


negligenciar todo o resto. Não se incomodar com o corpo além do necessário,
pois não somos seus escravos. Devemos trabalhar para o bem da nossa
alma, livrar-nos das paixões que nos aprisionam, acostumando o corpo a
resistir aos próprios desejos. Sim, é preciso atender às necessidades da
carne, mas sem nos tornar servos da sensualidade (...) (BASÍLIO, 2012, p.
51).

Partindo disso, ele vai discorrendo sobre o cuidado que se deve ter com o
supérfluo, focando prioritariamente àquilo que interessa à alma. Com essa prudência,
afirma ele, outros vícios vão começando a ser abandonados e o autoconhecimento
começa a ser conquistado.
Basílio pede a purificação da alma com o abandono dos prazeres dos sentidos,
abandonando os espetáculos vãos, coisas e pessoas que acendam o fogo da
concupiscência e também as músicas que corrompem os ouvidos. Ele chega a
23

advertir até mesmo sobre as fragrâncias que agradam o olfato ou as essências


esfregadas ao corpo. “Em suma, é preciso desprezar o corpo se não quisermos nos
afundar nas volúpias, assim como se afunda no lamaçal. Seu cuidado não deve
exceder além daquilo que pode ser útil à sabedoria.” (BASÍLIO, 2012, p. 53). Domar o
corpo, então, é essencial para que os reais valores que alimentam o mais íntimo do
ser humano, possam se transformar em condutas no dia a dia. “Tomando a razão
como guia, deve permanecer no caminho reto a buscar o objetivo que julgar melhor,
sem desviar-se por conta das contradições dos homens, nem pelos insultos,
tampouco pelos perigos” (BASÍLIO, 2012, p. 57).
Chegando ao fim, ele afirma que “Embora pareça que se tenha desviado do
assunto, tudo isso se pode aprender nos nossos Livros Sagrados. Porém, a literatura
profana nos ajuda a traçar o primeiro esboço da virtude.” (BASÍLIO, 2012, p. 57).
Assim como os córregos que juntos conseguem encher um rio, assim é a literatura
profana, quando bem conduzida, para a vida cristã.

Então, aconselho-vos a fazer provisões [acumular virtudes] para essa grande


viagem [da vida], sem nada negligenciar daquilo que nos ajudará a chegar a
nossa verdadeira pátria. Se o caminho oferece dificuldades e fadigas, não
vos desencorajeis. Lembrai-vos que procuramos escolher o melhor plano de
vida, e confiamos que o hábito nos ajudará a suportar todas as penas
(BASÍLIO, 2012, p.58).
24

3 A PREOCUPAÇÃO COM A EDUCAÇÃO


Apresentaremos aqui como a educação se tornou algo essencial na sociedade
greco-romana e sua influência no cristianismo nascente. Essa preocupação da Igreja
será mostrada na figura de Basílio e veremos se o Catolicismo atual compreende a
mesma preocupação e quais os caminhos para aplicação.

3.1 A educação Greco-Romana


No tempo de Jesus, os romanos já detinham o total controle territorial de toda
a palestina. Porém, no que tende a cultura, eram os gregos que davam as bases. Isso
fez com que as sociedades grega, romana e judaica tivessem uma grande relação
entre si. Por causa disso se faz necessário analisar um pouco a educação dos gregos.
“O ideal de educação encarnado no conceito de Paideia helenística era considerado
uma conquista histórica de tão grande valor que, no primeiro século a.C., ainda se
referia como ‘uma espécie de religião helenística da Paideia’” (JÚNIOR, apud
CÍCERO, De oratore 2, 22, 94, 1995).
A Paideia é o modelo de educação criado por eles, cujo o centro era a educação
da juventude. Isso mostra a solidez da sociedade grega, porque “todo povo que atinge
um certo grau de desenvolvimento sente-se naturalmente inclinado à prática da
educação” (WERNER, 2013, p. 1). A sociedade percebe que é necessário transmitir
os seus valores e tradições, esses que fizeram com que pudessem chegar a tal ponto
socialmente, e isso só é capaz de se “perpetuar” na história e amadurecer com o
passar do tempo através da educação. É ensinando os mais novos que tudo será
transmitido e evoluirá. “Tratava-se, efetivamente, de um sistema educativo vital para
a preservação da herança cultural do helenismo, de grande eficácia aliás na
fecundação do génio grego.” (JÚNIOR, 1995, p. 493) De antemão já é possível
entender o porquê que, mesmo territorialmente dominado pelos romanos, a cultura
grega conseguiu se sobrepor, chegando a influenciar até mesmo os judeus.
Assim, a cultura helênica facilmente se expandiu, chegando já no III século em
Roma. E como Roma era considerada, naquela época, como o centro do mundo,
podemos até afirmar que a educação dos gregos transpôs os muros das cidades
helênicas e chegou aos confins da terra. Mesmo que as tradições culturais de cada
povo pudessem conservar alguns de seus elementos próprios, com o tempo a sua
justificação ideológica ia se perdendo e rapidamente se transformava e se colocava a
25

serviços das demais, assim, enriquecendo ainda mais essa cultura mundial do
helenismo.
Para eles, a cidade, ou Pólis, tinha muita importância, pois ela era entendida
como sendo a expressão da comunidade onde o homem exercia a sua função como
cidadão. Nela, os jovens passavam por processos que criavam microssociedades,
seja para o treinamento na caça, na corrida, para a guerra, música e literatura para
assim formar e educar o homem grego culturalmente e para a vivência social. Dessa
maneira mostravam a importância que tinha para eles a educação dos jovens e a
tornou uma realidade social.

Cientes de que a cultura é tudo o que enforma a identidade de um povo, a


soma total dos seus valores e formas de conduta, as suas estruturas de
conhecimento e pensamento, a sua linguagem e modos de comunicação;
convencidos também da superioridade da cultura helénica, os Gregos
entenderam a educação como um esforço deliberado de a encarnar, viver e
ensinar, internacionalizando-a e passando-a às gerações seguintes.
(JÚNIOR, 1995, p. 495)

No Império Romano, essa mesma educação ganhou o nome de Humanitas,


isso por não terem encontrado um termo melhor que expressa-se o complexo
significado de Paideia. Para não dizer que não havia nenhuma diferença, “o que
distinguia a escola grega da escola romana era a presença do esporte na educação e
o fato de o romano estudar grego, e o grego não estudar o romano...” (Frizullo, apud
FRASCHETTI, 2016, p. 85).

3.2 A Igreja dos primeiros séculos nesse contexto


Em meio a essa expansão da cultura grega, não podemos deixar fora do
contexto a própria expansão do cristianismo, que, de uma certa maneira, pegou
carona nesse fenômeno. Isso se iniciou, particularmente, com a dispersão dos que
acreditavam no Cristo com a morte de Estevão, descrito em At 8, 1.
Sem esses elementos, a missão de ir até os confins do mundo poderia não ter
tido êxito. Isso, claro, significou também a helenização do cristianismo o que fez com
que ele se enriquece-se com os conceitos, com as categorias de pensamento,
metáforas e conotações dessa cultura. Isso aconteceu rapidamente porque os judeus
se achavam helenizados e porque foi para eles que primeiramente os missionários
cristãos chegaram.
26

O próprio nome “Christianoi” teve origem em Antioquia, que foi onde os


primeiros cristãos encontraram campo de missão. A evangelização de Paulo era se
utilizando do grego, mesmo quando dirigido aos hebreus, e também se valia de
citações da versão dos Setenta (grega), não do original hebraico. Eles começaram a
escrever (exceto os evangelhos) em forma literária grega da Epístola.
Assim, houve um paralelismo quase que imediato entre os filósofos gregos e
os missionários cristão que usavam, até, o termo conversão que foi cunhado por
Platão para indicar a mudança de vida que a filosofia exigia. Não só isso, como
descrito no próprio Atos dos Apóstolos (17, 17ss), eles iam buscar justamente nos
filósofos e na cultura helênica os seus argumentos. O futuro do cristianismo como
religião mundial dependeu disso e vai marca-lo para sempre (JAEGER, 2002).
Em pouco tempo, a preocupação de instruir e doutrinar os novos cristãos, bem
como organizar a fé que era vivida e celebrada, se instalou também dentro da própria
Igreja nascente. Uma das referências para percebermos essa preocupação é a
Didaqué, que é uma instrução do século I, ou seja, bem próximo dos escritos do novo
testamento, que foi uma espécie de catecismo para os primeiros crentes.
Logo nos primeiros dizeres, podemos conferir um tipo de catequese sobre o
amor: “O caminho da vida e este: Em primeiro lugar, ame a Deus, que criou você. Em
segundo lugar, ame o próximo como a si mesmo. Não faça a outro nada daquilo que
você não quer que façam a você” (DIDAQUÉ, 1997, p. 7 – 8); algumas orientações
sobre os demais mandamentos: “(...) Não mate, não cometa adultério, não corrompa
os jovens, não fornique, não roube (...)” (DIDAQUÉ, 1997, p. 10); sobre a vida
comunitária: “Procure estar todos os dias na companhia dos fiéis, para encontrar apoio
nas palavras deles. Não provoque divisão. Pelo contrário, reconcilie aqueles que
brigam entre si” (DIDAQUÉ, 1997, p. 14); sobre as obras dos pecadores: “Por esse
caminho andam os perseguidores dos bons, os inimigos da verdade, os amantes da
mentira, os que ignoram a recompensa da justiça, os que não desejam o bem nem o
julgamento justo (...)” (DIDAQUÉ, 1997, p. 17).
Há também algumas orientações litúrgicas, como a maneira com de se deve
celebrar o batismo: “Quanto ao batismo, procedam assim: Depois de ditas todas essas
coisas, batizem em água corrente, em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo”
(DIDAQUÉ, 1997, p. 19), sobre a oração do Pai Nosso, sobre o modo de celebrar a
Eucaristia, orientações de quem deveria comungar.
27

Essa compreensão da expansão da cultura grega e da sua influência no


cristianismo primitivo faz entender o motivo pelo qual São Basílio escreveu uma “Carta
aos Jovens de como tirar proveito da literatura pagã”, essa que eram os escritos dos
filósofos que, por meio da Paideia Grega ou da Humanitas Romana, os jovens tinham
acesso. Não somente isso, mas os filósofos se tornavam, com o passar dos estudos,
mestres a serem seguidos. Justamente por ter essa percepção que ele adverte “para
que não sigais de forma cega esses doutores profanos; não vos entregueis sem
reservas em um mar cheio de armadilhas, conduzidos por esses perigosos pilotos”
(BASÍLIO, 2012, 32).
Como visto no capítulo 2, ele vai usar como base a literatura dos filósofos, mas
vai mostrar aos jovens que, por mais que aqueles ensinamentos fossem, de certa
maneira, dignos, eles poderiam leva-los a fins não tão cristãos assim. Para ele, a
salvação da alma, a vida eterna é o crivo para perceber se o ensinamento era digno
de ser seguido ou não.
Para tal intento, ele se utiliza até da dualidade grega de corpo e alma quando
afirma que da mesma maneira que a alma é muito mais valiosa do que o corpo, a vida
eterna e futura também tem muito mais valor do que a vida terrena e, por isso, afirma
valer a pena prossegui-la, mesmo em meio às dificuldades que possa se encontrar no
caminho.
É uma vida virtuosa que será capaz de conduzir os jovens nessa trilha para a
salvação. Ele sabe que alguns filósofos em seus escritos louvam a virtude e condenam
os vícios. Basílio compreende que perseguir e exercitar as virtudes e se afastar dos
vícios é o grande segredo, mas entende também que os jovens não são capazes de
perceber esses elementos tão necessários sozinhos. Por isso a carta; para isso a sua
orientação.
Ele investe nos jovens por entender que “não é pouca a vantagem de inspirar
e habituar os jovens naquilo que é honesto. Dificilmente eles esquecem o que
aprendem na mais tenra idade, e esses primeiros traços se imprimem nas suas almas
de uma forma tão marcante que nunca mais poderão ser apagados” (BASÍLIO, 2012,
39).
No decorrer da história, a catequese se fez presente, por exemplo, no Concilio
de Trento, donde veio o Catecismo Romano, também conhecido como Tridentino. Foi
também um estímulo para os padres a fim de cumprirem o seu dever de ensino.
28

3.3 A Igreja atual e suas orientações


Mesmo sem utilizar o termo Catequese, o Concílio Vaticano II permitiu que à
ela se voltasse as atenções. Ele revolucionou a catequese por causa do novo conceito
de Revelação que propôs à Igreja que se dá pela Palavra e pelos Acontecimentos /
Fatos (COMPÊNDIO, 2005, nº 6). O concílio afirmou que o anúncio da palavra se dá
pela Evangelização, Catequese e Homilia.
Dessa maneira a catequese começou a ganhar um destaque cada vez maior.
Em 1977, o Papa Paulo VI na Evangeli Nuncianti afirmou que a evangelização visa
uma mudança interior que é uma transformação no modo de pensar que,
naturalmente, leva a uma mudança no modo de agir. Se o cristianismo não consegue
transformar o mundo é porque não consegue transformar o modo de pensar. Para que
isso aconteça, depende muito da intensidade da evangelização e a catequese é o
momento privilegiado dela dentro da vida eclesial. Quando as pessoas não participam
da Igreja, o erro não está no Kerigma, mas sim na catequese, que é o passo seguinte.
De pronto podemos compreender que os Gregos compreendiam a educação
como uma maneira de formar os seus cidadãos, mas também para fazer com que a
sua história, conhecimento e cultura fossem passados de geração e geração. Isso,
embora entendida pela Igreja, foi sendo mal aplicada, o que fez com que as gerações
posteriores começassem a não compreender mais a fé professada e celebrada,
gerando assim um grande afastamento dos crestes. Claro, isso não é causa una e
específica do processo catequético, mas também foi uma contribuição para esse
processo. Por isso que o Papa une a evangelização e a catequese, por saber que
somente o Kerigma não basta: é necessário que esse processo de aprofundamento
da fé se concretize e amadureça.
Ainda sobre essa perspectiva, em 1968, no Documento da Conferência
Episcopal de Medellin, os Bispos, partindo da definição de Revelação dada pelo
Concílio, começou a pedir que a catequese não se afastasse da vida das pessoas, ou
seja, é necessário que o cotidiano faça parte dela. “As situações históricas e as
aspirações autenticamente humanas são parte indispensável do conteúdo da cate-
quese. E devem ser interpretadas seriamente, dentro de seu contexto atual, à luz das
experiências vivenciais do povo de Israel, de Cristo, e da comunidade eclesial, na qual
o Espírito de Cristo ressuscitado vive e opera continuamente” (Medellin, 1968, p. 39).
29

Para eles, falhar nesse processo seria, ao mesmo tempo, trair a Deus que confiou à
sua Igreja essa mensagem e também ao homem que necessita dela para a sua
salvação.
Aqui podemos, novamente, trazer São Basílio e sua carta aos jovens como
exemplo. O Santo foi muito feliz ao perceber o contexto em que eles se apresentavam,
a literatura e mestres com quem tinham contato e fazer de tudo isso uma maneira de
leva-los próximo de Deus e das verdades da fé, bem como começar a construir neles
uma crítica mais apurada daquilo que deve ser retido ou ignorado, tendo em vista a
salvação.
Em 1977, o Papa Paulo VI convocou um Sínodo dos Bispos que teve como
tema “A Catequese no nosso tempo, especialmente para as crianças e jovens”. Viram
que “era necessário examinar, sempre à luz da palavra de Deus, os sinais dos tempos,
com o fim de renovar a catequese e de insistir na sua importância no conjunto da ação
pastoral” (SINODO DOS BISPOS, 1978, p. 3 – 4).
Os bispos compreendem de maneira clara que é necessário não afastar a
catequese da realidade, principalmente considerando os jovens. “A fé cristã, por meio
da catequese, há de encarar-se nas culturas. A verdadeira ‘encarnação’ da fé por meio
da catequese supõe não só o processo de ‘dar’, mas também o de ‘receber’” (SÍNIDO
DOS BISPOS, 1978, p. 8). Eles observam que a ação catequética se torna cada vez
mais complexa, tendo em vista a grande transformação que os nossos tempos sofrem.

Por isso, mudam as formas de expressão, como também a linguagem e o


comportamento humano. Os jovens representam justamente o lugar duma
fratura cultural considerável com respeito às gerações precedentes. A
catequese não pode ser eficaz, diante destas transformações, se não
consegue transmitir a mensagem, que lhe está confiada, usando os meios de
expressão dos homens do nosso tempo (SÍNODO DOS BISPOS, 1978, p. 9)

Dessa maneira, para satisfazer as exigências do nosso tempo, a catequese


deve continuar a renovação que já vinha sendo proposta desde o tempo do concílio.
Eles insistem que “as deficiências que se encontram ou que surgem na catequese
derivam muitas vezes da falta de realismo, que é ao mesmo tempo infidelidade ao
Evangelho e ao homem; trata-se de catequisar no nosso tempo” (SÍNODO DOS
BISPOS, 1978, p. 9).
Pois meio disso tudo, vale corroborar que a iniciativa de São Basílio continua
atual e serve como um exemplo do desafio que é ensinar a fé, mas sem deixar a
30

realidade e o contexto de fora, principalmente na educação dos mais jovens. Cada


vez mais a interação entre fé e vida se faz urgente.
Logo em seguida, em 1979, foi dada à Igreja a Exortação Apostólica Catechesi
Tradendae de João Paulo II que falou sobre o conteúdo da catequese, esmiuçou
àqueles que se destinam, propôs meios e métodos e também reservou um capítulo
para tratar sobre os agentes da catequese e o seu lugar.
No número 52 do documento, novamente vem à tona o Concílio Vaticano II ao
afirmar que “Há-de ser pela Revelação que a catequese tem de procurar reger-se”.
Ao propor caminhos efetivos para uma boa execução, o documento fala da pedagogia:
“Dentre as numerosas e prestigiosas ciências do homem, nas quais se manifesta em
nossos dias um imenso progresso, a pedagogia é certamente uma das mais
importantes” (nº 58); e da linguagem: “Para esta é um dever imperioso, de fato,
encontrar a linguagem adaptada às crianças, aos jovens do nosso tempo em geral e
ainda a muitas outras categorias de pessoas (...)” (nº 59).
Para que a pedagogia e a linguagem sejam aplicadas de forma eficaz para
determinado público, uma das maneiras mais eficientes é se utilizar de figuras e
analogias compreensíveis. É dessa maneira que São Basílio fez, ao tentar mostrar ao
mesmo tempo os elementos equivocados da literatura pagã, mas também as suas
definições e condutas concernentes à fé cristã. Isso ajuda até mesmo no próprio
amadurecimento da fé do crente, pois a criticidade o ajudará a fazer escolhas do que
é Bem ou não durante a vida.
A Igreja nos apresenta ainda outros documentos importantes sobre o assunto,
como o Diretório Geral de Catequese (1971) e as Diretrizes de Catequese para o
Brasil (1980), porém o conteúdo aqui esmiuçado não seria realmente atual se não nos
deparássemos com as indicações do Papa Francisco na Evangelii Gaudium. Não que
ele reinvente a catequese da Igreja, mas o Sumo Pontífice se utiliza de inúmeros
documentos, muitos deles descritos acima, para mostrar caminhos atuais de ação.
A partir do número 163 ele vai falar de uma catequese kerigmática e
mistagógica. Kerigmática por é o primeiro contato com a fé que a pessoa tem, mas
não só por isso, o Papa pede que “na boca do catequista, volte a ressoar sempre o
primeiro anúncio: ‘Jesus Cristo ama-te, deu a sua vida para te salvar, e agora vive
contigo todos os dias para te iluminar, fortalecer, libertar’” (nº 164). Esse “é o
anúncio principal, aquele que sempre se tem de voltar a ouvir de diferentes maneiras
31

e aquele que sempre se tem de voltar a anunciar, duma forma ou doutra, durante a
catequese, em todas as suas etapas e momentos” (nº 164). Para ele, não há nada
mais sólido a ser dado na catequese do que esse conteúdo Kerigmático.

A centralidade do querigma requer certas características do anúncio que hoje


são necessárias em toda a parte: que exprima o amor salvífico de Deus como
prévio à obrigação moral e religiosa, que não imponha a verdade mas faça
apelo à liberdade, que seja pautado pela alegria, o estímulo, a vitalidade e
uma integralidade harmoniosa que não reduza a pregação a poucas
doutrinas, por vezes mais filosóficas que evangélicas. Isto exige do
evangelizador certas atitudes que ajudam a acolher melhor o anúncio:
proximidade, abertura ao diálogo, paciência, acolhimento cordial que não
condena. (nº 165)

Sobre uma catequese mistagógica, ele afirma que os encontros devem conter
elementos litúrgicos, de profundo sentido e que também ocorra uma inserção na
vivência comunitária. Para Francisco, isso ainda não foi explorado como deveria,
principalmente pelos manuais. É na catequese o lugar do anúncio da Palavra e nela
deve se centrar, mas nunca deixando de lado a necessidade de uma “ambientação
adequada e duma motivação atraente, do uso de símbolos eloquentes, da sua
inserção num amplo processo de crescimento e da integração de todas as dimensões
da pessoa num caminho comunitário de escuta e resposta” (nº 166).
Por fim, para ele, outro dado importante é a beleza, pois “Anunciar Cristo
significa mostrar que crer n’Ele e segui-Lo não é algo apenas verdadeiro e justo, mas
também belo, capaz de cumular a vida dum novo esplendor e duma alegria profunda,
mesmo no meio das provações” (nº 167).
Com tudo isso, salienta, é essencial indicar uma verdadeira proposta de vida,
que possa gerar maturidade, realização, sermos mensageiros dos bens mais altos,
arautos do bem e da beleza que se mostram em uma vida baseada na fidelidade ao
Evangelho. Essa é a base da carta de São Basílio, que tem como objetivo principal
formar os jovens da fé para leva-los às atitudes virtuosas. “Como a virtude é o caminho
para a vida bem-aventurada que pretendemos, devemos nos concentrar nos poetas,
escritores e, sobretudo, nos filósofos que a celebram em inúmeras de suas obras”
(BASÍLIO, 2012, p. 39).
Fazer com que os jovens olhassem para o mundo, para a cultura e para a vida
e percebessem que é necessário, em meio a tudo isso, correr atrás dos bens que não
perecem e que levam à vida eterna é uma das centralidades da orientação de São
32

Basílio aos jovens. Podemos perceber que, mesmo sendo um Santo da época da
Patrística, sua forma de orientar, nesse caso especificamente os jovens, é
perfeitamente convergente com o que a Igreja vem pedindo para a catequese atual,
claro, salvo elementos de contextualização histórica. A metodologia, as preocupações
centrais, a percepção do público a quem estava se dirigindo, as analogias, a
pedagogia, tudo isso mostra a sua atualidade.
Todos esses elementos pode servir como base para novos manuais de
catequese, porém, isso pode ser um trabalho para futuras pesquisas e
aprofundamentos.
33

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O percurso desse trabalho nos ajudou a compreender um pouco do momento


histórico em que a Igreja estava nos seus primórdios e a influência que sofreu,
principalmente por meio da cultura helênica. Ao passo que a própria sociedade pagã
começou a ver na educação uma maneira de garantir a sobrevivência das ciências,
da cultura e também da formação de um homem melhor socialmente, os primeiros
cristãos não fugiram a essa compressão.
A transmissão da mensagem de Jesus e também da educação da fé se tornou
cada vez mais necessária e, de certa maneira, vista como uma das prioridades dos
grandes bispos. O capadócio São Basílio exemplifica isso muito bem em sua carta,
com o objetivo de conduzir os jovens a um caminho seguro, mesmo em meio ao
conhecimento que adquirem na sociedade pagã. Toda essa orientação fica visível no
segundo capítulo.
Apesar de ser uma literatura antiga, conseguimos perceber ao longo das
menções do terceiro capítulo que essa exigência de conciliação entre o ensino da fé,
por meio da catequese, o contexto história e a vida das pessoas é uma necessidade
da Igreja nos tempos de hoje.
Sem ter essa ligação entre fé e vida, mensagem de Jesus e o contexto, a vida
futura e nossa conduta nesse momento histórico o cristianismo soa vazio de sentido.
Só o conteúdo não basta. Só conhecer a fé não é o suficiente, por mais que
saibamos que já é um grande passo, visto o nosso contexto onde se tem muita
informação, mas quase nada é retido. Fazer com que essa fé se transforme e tenha
relação com a vida é essencial, e essa proposta tem que partir primordialmente por
meio da Igreja e dos seus membros. Se não ensinarmos isso, a nossa fé começará a
se tornar cada vez mais coisa do passado.
34

REFERÊNCIAS

BASILIO, São. Carta aos jovens sobre a utilidade da literatura pagã. Tradução de
Diogo Chiuso. Campinas: Ecclesiae, 2012.

BENTO XVI. São Basílio, 2007. Disponível em http://w2.vatican.va/content/benedict-


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IRVIN, Dale T. e SUNQUIST, Scott W. História do Movimento Cristão Mundial.


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JAEGER, Werner. Cristianismo primitivo e Paideia grega. 1º ed. Lisboa: edições 70.

MORESCHINI, Claudio. I Padri Cappadoci: storia, letteratura, teologia. Roma; Città


Nuova.

RICARDO, Paulo. Os Padres Capadócios. Disponível em:


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Vaticana, 1975.

PAULO VI. A Catequese no nosso tempo especialmente para as crianças e os jovens.


2º ed. São Paulo: Paulinas, 1977.

II CONFERÊNCIA GERAL DO EPISCOPADO LATINO-AMERICANO. Conclusões de


Medellin. 6 ed. São Paulo: Paulinas, 1968.

JOÃO PAULO II. Exortação Apostólica “Catechesi Tradendae”. Roma: Libreria Editrice
Vaicana, 1979.
35

FRANCISCO. Exortação Apostólica “Evangelii Gaudium”. São Paulo: Loyola, 2013.

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