(1) O documento discute a participação de crianças na Ceia do Senhor na história da Igreja, notando que embora os textos do Novo Testamento sejam escassos, a prática se tornou comum na Igreja Antiga.
(2) Ao longo da Idade Média, por medo de profanação, a comunhão sob as duas espécies foi restrita aos clérigos, mas Lutero e outros reformadores defendiam a participação infantil baseados em testemunhos históricos.
(3) A discussão continua sobre
Descrição original:
Examina a participação das crianças na Ceia do Senhor na história. Autor José Carlos de Souza;
(1) O documento discute a participação de crianças na Ceia do Senhor na história da Igreja, notando que embora os textos do Novo Testamento sejam escassos, a prática se tornou comum na Igreja Antiga.
(2) Ao longo da Idade Média, por medo de profanação, a comunhão sob as duas espécies foi restrita aos clérigos, mas Lutero e outros reformadores defendiam a participação infantil baseados em testemunhos históricos.
(3) A discussão continua sobre
(1) O documento discute a participação de crianças na Ceia do Senhor na história da Igreja, notando que embora os textos do Novo Testamento sejam escassos, a prática se tornou comum na Igreja Antiga.
(2) Ao longo da Idade Média, por medo de profanação, a comunhão sob as duas espécies foi restrita aos clérigos, mas Lutero e outros reformadores defendiam a participação infantil baseados em testemunhos históricos.
(3) A discussão continua sobre
nos sacramentos: CEIA DO SENHOR O testemunho da História José Carlos de Souza
(1) Os textos referen- medieval em torno da Eu-
tes à participação das cri- caristia. O receio de pro- anças na Ceia do Senhor fanar o sacramento pelo
Ilustração: Le Press de Taizé
são escassos. Nada encon- mau uso do vinho levou, tramos no NT. Contudo, já no século VII, a adesão há testemunhos de que do costume grego de mo- essa prática se tornou cor- lhar o pão no vinho e, por rente na Igreja Antiga. O último, no século XII , a próprio Lutero o afirma concessão do cálice apenas categoricamente. Recha- aos clérigos. Pressupondo- çando a restrição do cáli- se que o corpo e o sangue ce aos leigos na liturgia de Cristo estavam plena- de as crianças serem bati- tados no povo de Deus: católica, o reformador re- mente presentes em cada zadas, estão destinadas, sinal de nossa regeneração portava-se ao escrito de um dos elementos, a co- por vontade da Igreja, a espiritual, através da qual Cipriano (+ 258), bispo munhão dos leigos era re- receber a eucaristia. A somos nascidos de novo de Cartago em meados do alizada apenas com o pão. Igreja que crê em seu lu- para filhos de Deus, quan- 3o século, a respeito dos Nessa direção, abandona- gar, no batismo, por elas do, em contrapartida, haja que haviam abandonado a se, nos séculos XII e XIII, a deseja a eucaristia (S. Th. a Ceia sido atribuída aos fé diante das perseguições, “prática da comunhão in- III, q. 73, a3)”5. O batis- mais crescidinhos, que, ul- para destacar o que, então, fantil a qual havia sido mo tende para a partici- trapassada a infância mais era aceito sem contesta- universal e que permane- pação eucarística, entre- tenra, já estejam em con- ção: “naquela Igreja era ce até o presente na Igreja tanto, segundo o uso ca- dições de suportar alimen- costume dar a muitos lei- Grega”3. Descrevendo a tólico, tal vínculo somen- to sólido...”6. Se nenhuma gos e também às crianças vida litúrgica no mesmo te se efetiva a partir da seleção de idades é feita no ambas as espécies e até o período, o historiador ca- confirmação ou crisma. que concerne ao batismo, corpo do Senhor na mão, tólico Jean Comby expõe (4) Calvino representa o mesmo não ocorre com como ensina com muitos tese semelhante: “Já não se bem a postura que foi as- a Santa Ceia, a qual se des- exemplos”1. Calvino tam- dá mais ao recém-nascido sumida pelo “protestantis- tina não a quaisquer pes- bém o testifica – “Foi isto, a comunhão sob a forma mo magisterial” (a expres- soas indiscriminadamen- na verdade, freqüente- de vinho, pois esse rito de- são é de G. Williams). Ele te, senão somente àquelas mente praticado na Igreja sapareceu da missa, no não se mostra convencido que são capazes de discer- Antiga, como se constata Ocidente, no que se refe- de que a aceitação do ba- nir o corpo e o sangue de de Cipriano e Agostinho re aos fiéis”4 tismo infantil implica ine- Cristo, examinando a pró- (...)” – porém, acrescenta (3) Vale a pena ressal- vitavelmente na admissão pria consciência e ponde- uma ressalva: “(...) mas tar que Tomás de Aquino, das crianças à Ceia do Se- rando sobre o sentido e a esse costume, com razão, que tanto contribuiu para nhor. Segundo o reforma- eficácia sacramentais7. A se fez obsoleto”2, ou seja, definir teologicamente a dor francês, é preciso con- participação eucarística, caiu em desuso, ao menos, prática sacramental cató- siderar a natureza e o ca- enfim, supõe, no mínimo, no Ocidente. Quando isso lica, estabelece, no entan- ráter específico de cada sa- maturidade suficiente pa- ocorreu? to, um nexo entre o batis- cramento, conforme ex- ra indagar acerca de seu (2) W. Walker, em sua mo e a comunhão eucarís- plica: o batismo é “um significado (cf. Êx 12.26). História da Igreja Cristã, tica. Comenta Walter M. como que ingresso e uma Idêntica preocupação pa- relaciona esse fato ao de- Goedert: “(...) Santo To- dir-se-á iniciação à Igreja, rece ter animado Lutero a senvolvimento da piedade más afirma que, pelo fato mercê da qual somos con- ponto de ele introduzir a
12 Mosaico – Apoio Pastoral ? Ano 6, no 10, outubro/novembro de 1998
catequese e, posterior- ciocínio, observa Williams, vos. Creio que a partici- Notas mente, a confirmação, Wesley estava disposto a pação das crianças na Ceia como meios adequados admitir crianças batizadas do Senhor deve ser situa- 1 LUTERO, Martinho. Do Ca- para assegurar a participa- na mesa eucarística, sem- da nessa dimensão! tiveiro Babilônico da Igre- ção consciente, nutrida pre que fossem instruídas (6) Ao invés de uma ja in Obras Selecionadas. São Leopoldo, Sinodal- pela fé em Cristo, na co- quanto ao significado des- conclusão formal, é prefe- Concórdia, 1989, v. II, p. munhão eucarística8 . É sa participação. Um exem- rível encerrar o presente 353). De fato, a observa- preciso indagar, com toda plo disso é o registro feito artigo com um convite ção de Lutero é correta, a honestidade, se aqueles por Wesley, no dia 29 de para uma reflexão autocrí- como se pode constatar facilmente recorrendo ao que chegam à “idade da maio de 1737, em seu tica. Os termos, publica- próprio tratado do bispo razão” compreendem, de Journal: “Sendo domingo dos no conhecido docu- cartaginês, De Lapsis fato, todas as implicações de Pentecostes, quatro de mento do Conselho Mun- (Dos Apóstatas) – cf. ca- pítulos 9 e 25), publicado da participação na Ceia do nossos estudantes, depois dial de Igrejas (CMI) so- em Obras de San Cipria- Senhor. Também não se de terem sido instruídos bre a questão, são contun- no. Madrid, Biblioteca de pode escamotear a per- diariamente por várias se- dentes: “Se o batismo, Autores Cristianos/La Edi- torial Católica, 1964, p. gunta se as crianças pos- manas, foram, por seu sin- como incorporação no 176, 188-9. suem, ou não, alguma for- cero e reiterado desejo, ad- Corpo de Cristo, tende, 2 CALVINO, João. As Ins- ma de discernimento. O mitidos à mesa do Senhor. pela sua própria natureza, titutas ou Tratado da Reli- questionamento da posi- Eu acredito que o seu zelo à comunhão eucarística gião Cristã. São Paulo, ção dos reformadores se tem movido muitos a se no corpo e no sangue de Casa Editora Presbiteria- torna mais intensa na me- lembrar do seu Criador Cristo, levanta-se a ques- na, 1989, v. IV, p. 332 (IRC, IV, 16, 30). dida em que experiência nos dias de sua mocidade, tão de saber por que um pastoral, comum em mui- e a redimir o tempo, mes- rito separado pode ser 3 WALKER, W. op. cit., v. I, p. 348. tas comunidades, tem mo no meio de uma gera- acrescentado entre batis- 4 Para Ler a História da Igre- demostrado que, ao ser ção má e adúltera. De fato, mo e admissão à comu- ja, Tomo I: Das Origens ao acolhida na mesa do Se- por essa época, nós obser- nhão. As Igrejas que bati- Século XV, São Paulo, nhor, a criança assimila vamos o Espírito de Deus zam crianças, mas recu- Loyola, 1993, p.145. existencialmente o signifi- a mover-se nas mentes de sam-lhes a comunhão na 5 Teologia do Batismo, São cado da comunhão, ainda muitas crianças. Elas co- eucaristia antes de um tal Paulo, Paulinas, 1987, p. que não saiba expressá-lo meçaram a ouvir mais cui- rito, deveriam interrogar- 75. verbalmente. dadosamente as coisas que se se terão ou não avalia- 6 IRC, IV, 16, 30, p. 332 na edi- (5) E Wesley, como ele eram faladas, tanto no lar do e aceito plenamente as ção citada. enfrentou essa questão? A como na igreja, e uma se- conseqüências do batis- 7 Ibidem; cf. 1 Co 11.28s. problemática é colocada riedade notável apareceu mo”12. Sem dúvida algu- 8 Cf. P. Dr. Lothar C. Hoch, por Colin Williams nos em todo seu comporta- ma, a interrogação, acima “Santa Ceia Para Crian- ças: Sim ou Não” in A Cruz seguintes termos: de acor- mento e conversação...”10. indicada, alcança a maior no Sul - Jornal da Igreja do com o fundador do Em outro registro do gravidade se levarmos em Evangélica Luterana de metodismo, “(...) a ceia do Journal, este um ano an- conta o precedente wes- São Paulo, Ano XLVII, nº Senhor é um poderoso tes de sua morte (21/fev/ leyano e o colocarmos em 2, Abr/1995, p. 2. meio de graça não só no 1790), Wesley revela que contraste com a hesitação 9 John Wesley’s Theology sentido de comunicar a a sua preocupação com as e, mesmo, com a oposi- Today. New York, Abing- don Press, 1960. O grifo é graça santificadora para a crianças não era entusias- ção, relativas à participa- meu. nutrição do convertido, mo passageiro dos anos de ção das crianças na Ceia, 10 The Works of John Wesley. mas também para conce- sua mocidade: “Eu pre- ainda nutridas em mui- London, Wesleyan-Metho- der graça preveniente e guei às crianças na Nova tos setores de nossa Igre- dist Book-Room, 1831, v. justificadora conduzindo Capela [New Chapel]; e ja a despeito das orienta- I, p. 50. à aceitação consciente de eu creio que não foi em ções do Colégio Episco- 11 Ibidem, v. IV, p. 736. Cristo. Por essa razão, o vão”11. Certamente, tais pal 13 . Que as lições da 12 Batismo, Eucaristia e Minis- batismo é a qualificação observações nos levam a história nos ajudem a tério. Rio de Janeiro, para a admissão, e a Ceia refletir sobre o lugar das reavaliar as nossas ações CONIC/CEDI, 1983, p. 21. não deveria ser reservada crianças na vida e na mis- na vida e na missão da 13 Cf. Carta Pastoral do Colé- para os que alcançaram a são da Igreja, não apenas Igreja, dando prioridade gio Episcopal sobre a Ceia do Senhor. São Paulo, Im- maturidade do novo nas- como objetos da ação pas- a quem o Senhor real- prensa Metodista, 1996, p. cimento mediante a con- toral da comunidade, mas mente exaltou como her- 23-25. versão”9. Nessa linha de ra- como agentes eclesiais ati- deiras do Reino.
Mosaico – Apoio Pastoral ? Ano 6, no 10, outubro/novembro de 1998 13