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Júlio França
tradição gótica tem suas raízes fincadas tanto nas origens do romance
policial quanto no nascimento das narrativas detetivescas, o que
pode ser observado em como as técnicas e as convenções góticas
foram e são exploradas na ficção de crime, desde a ficcionalização dos
Newgate Calendars, passando pelos contos de investigação racional
de Edgar Allan Poe, até a tendência contemporânea das narrativas
de horror com personagens serial killers. No cenário brasileiro,
ainda que seja pouco significativo o número de heróis policiais ou
detetives, há, em contrapartida, uma longa série de crimes e vidas
de criminosos que são transformados em romances – Januário
Garcia ou Sete Orelhas (1832), de Joaquim Norberto; O Cabeleira
(1876), de Franklin Távora; Memórias de um rato de hotel (1912),
de João do Rio, apenas para citar alguns. Leituras que contemplem
essas obras por um viés de comparação com a tradição gótica podem
ajudar a iluminar essa tendência de nossa literatura em representar
mais criminosos do que agentes da lei.
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Os romances de sensação: há um campo fértil a ser
explorado por estudos que foquem nas imbricações entre narrativa
gótica, ficção de crime e os chamados romances de sensação. Estes
últimos foram autênticos best-sellers que inundavam o mercado
editorial brasileiro em fins do século XIX e início do XX. Eram bro-
churas baratas, geralmente ilustradas, com tramas mirabolantes e
de fácil leitura, programaticamente publicadas para “atingir uma
parcela ainda pouco explorada pelo mercado editorial: ‘o povo’” (EL
FAR, 2004, p. 11). O rótulo “sensação” anunciava para o leitor, de
maneira direta e explícita, o tipo de obra de que se tratava: “dramas
emocionantes, conflituosos, repletos de mortes violentas, crimes hor-
ripilantes e acontecimentos imprevisíveis” (Ibid., p. 14). Uma linha
de abordagem promissora é observar em obras como A emparedada
da Rua Nova (1909-1912), de Carneiro Vilela, a encenação de dilemas
morais extremos através do emprego de procedimentos estilísticos
góticos e melodramáticos (cf. BROOKS, 1995).
CONVERSAS sobre LITERATURA em tempos de CRISE
REFERÊNCIAS
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