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NOÇÕES DE VIROLOGIA

Introdução

O termo vírus deriva do latim veneno. Antes das descobertas do muno


microbiano acreditava-se que os venenos eram os principais agentes causadores
de doença e morte. Após a descoberta das bactérias ainda algumas enfermidades
permaneciam sem uma etiologia conhecida. A possibilidade de ser uma toxina era
descartada, pois a doença era produzida mesmo em altas diluições, oq eu só seria
explicado pela sua capacidade de reprodução. Os vírus somente são observados
por microscopia eletrônica, devido ao seu tamanho reduzido (20 a 300nm- de 10 a
100 vezes menores que as bactérias). Por esta característica estes agentes
atravessam a maioria dos filtros. A primeira descrição de vírus ocorreu em 1892
por Dimitri Iwanoski que estudava a doença do mosaico do tabaco, contudo o
agente só foi caracterizado plenamente em 1935.
Os vírus sãos seres que não apresentam um a organização complexa,
possuindo somente DNA ou RNA e não sendo capazes de multiplicar fora de
células sejam elas animais, vegetais ou bacterianas. Desta forma, os vírus são
parasitas intracelulares obrigatórios, que possuem a capacidade de controlar o
fluxo gênico (DNA-RNA-PROTEÌNAS) dentro das células hospedeiras.

1.Conceito

Vírus são agentes/entidades infecciosos (as) não celulares, cujo genoma pode ser
DNA ou RNA. Replicam somente em células vivas, utilizando toda maquinaria de
biossíntese e de produção de energia da célula para síntese e transferência de
cópias de seu genoma para outras células.

2.Estrutura dos vírus

2.1. Ácido nucléico: Os vírus possuem como material genético exclusivamente


DNA ou RNA. O genoma viral é bem menor do que o das bactérias 25Kb (25 mil
nucleotídeos, bactérias possuem milhões). O ácido nucléico nos vírus pode ser fita
simples ou dupla, tanto para o DNA como para o RNA. O genoma viral pode ser
circular e até mesmo fragmentado (para vírus com RNA).

2.2. Capsídeo e envelope: O material genético dos vírus é envolto por uma
camada de proteínas denominada capsídeo. O capsídeo por sua vez é formado
por pequenas unidades de proteína viral denominada capsômero. A composição
do capsômero varia de acordo com o vírus e pode tanto ser formado por um tipo
de proteína como por proteínas diferentes, embora o número de proteínas
diferentes seja reduzido, devido ao tamanho do genoma. Alguns vírus são
recobertos por um envelope formado pela combinação de lipídeos carbohidratos e
proteínas. Dependendo do tipo viral, o envelope pode apresentar projeções
denominadas espículas. Estas estruturas podem se ligar aos eritócitos formando

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pontes entre eles num processo chamado de hemaglutinação (ex. Vírus da gripe
e vírus da Doença de Newcastle)
Ácidos nucleicos

capsômero

capsídeo
Virion
envelope
3.Morfologia geral
espículas
3.1. Vírus helicoidais: tem a forma de longos bastões, que apresentam o ácido
nucléico em forma espiralada. O caspsídeo apresenta forma cilíndrica e oca.
Ex.: Vírus Ebola, Vírus do mosaico do tabaco

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3.2. Vírus poliédricos: O capsídeo da maioria destes vírus tem o formado de
icosaedro (polidero regular com 20 faces triangulares e 12 vértices).
Ex.: Adenovírus e poliovírus.

Obs.: Independente da morfologia do vírus este pode ser envelopado ou não.

3.3. Vírus complexos: Esta morfologia é encontrada principalmente nos vírus


bacterianos (bacteriófagos). Estes apresentam além da estrutura básica,
apresentam outros componentes aderidos, como bainha e cauda que servem para
aderência e injeção do material genético para o interior da célula hospedeira.
Ex.: Bacteriófagos e poxvírus.

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4.Multiplicação ou replicação viral

4.1.Ancoragem e Adsorção: Os vírus possuem locais para sua ligação (feita


através de proteínas na superfície do capsídeo) a célula do hospedeiro
(receptores). O número e a ocorrência de receptores nas células hospedeiras
varia de indivíduo para indivíduo, de acordo com características genéticas e
ambientais, como os valores de pH do mio. Logo numa população, uma pequena
parcela dos indivíduos serão naturalmente resistentes à infecção por um
determinado vírus. Sem aderência os vírus não causam efeitos lesivos e são
rapidamente eliminados pelo sistema imune. Além disto, a ocorrência de
receptores específicos em determinadas células podem explicar por que alguns
vírus atacam preferencialmente um tipo de célula ou tecido. Ex.: HIV e linfócitos T
CD4

4.2.Penetração: A penetração se dá de diferentes formas. Esta pode ocorrer pela


simples injeção do ácido nucleico, formando poros na membrana citoplasmática.
Outro mecanismo bem conhecido é a endocitose. Nela a membrana
citoplasmática da célula forma pequenas vesículas, que irão conter os virions no
seu interior. No interior destas vesículas o envelope é digerido, liberando o
capsídeo. O envelope pode em muitos casos se unir a membrana ciotplasmática,
uma vez que é formado de lipídeos e proteínas. Neste caso, o processo alternativo
de entrada do vírus na célula é denominada fusão.

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4.3.Decapsidação: Consiste na separação do ácido nucléico do seu revestimento
protéico. A maior parte dos vírus sofre decapsidação por ação de enzimas
lizossomais, que são liberadas no interior do vacúolo de fagocitose que se forma
após a endocitose. A decapsidação ainda pode ocorrer por ação de enzimas virais
específicas, codificadas logo após a infecção ou pela ação de enzimas
citoplasmáticas.

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4.4.Replicação ou biossíntese viral: Ocorre em duas fases. Uma fase precoce
que envolve eventos bioquímicos de dominação da célula hospedeira, destruição
do DNA hospedeiro e síntese do RNAm. A fase tardia envolve a síntese de
proteínas envolvidas na montagem do capsídeos.

cópia Ácido nucleico


mRNA
Transcrição tardia
Transcrição precoce
Tradução
tardia
mRNA

Proteínas estruturais
Tradução preoce

Poteínas não estruturais


virion

4.4.1.Replicação dos vírus DNA: O DNA viral após ser liberado do capsídeo
migra para o núcleo e lá inicia o seu processo de replicação e transcrição (síntese
de RNAm). O RNAm produzido vai ao citoplasma e lá inicia a tradução de
proteínas virais que retornarão ao núcleo da célula para montagem do capsídeo.
Os virions montados são encaminhados ao retículo endoplasmático, membrana
citoplasmática e então são liberados da célula hospedeira. Os poxvírus são uma
exceção, pois são montados no citoplasma.

Principais vírus DNA: Adenovírus, Herpesvírus, Papovavírus (papilomavírus) e


hepdnavírus.

virion Proteínas do Célula do hospedeiro


1 capsídeo

2
4 RNA
6
7
DNA
3

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Fases da Replicação de Vírus DNA: 1. adesão, penetração e decapsidação do
vírion; 2. entrada do DNA viral no núcleo e destruição do DNA da célula
hospedeiro; 3. usando maquinaria celular o vírus realiza sua replicação e
transcrição (4); 5. no citoplasma o RNA mensageiro viral realiza a síntese de
proteínas do capsídeo, que retornam ao núcleo; 6. no núcleo ocorre a montagem
do cápside e 7. a liberação dos vírions da célula infectada.

4.4.2. Replicação de Vírus de RNA: Os vírus de RNA apresentam um problema


essencial para sua replicação. A maquinaria de todas as s células não está
preparada para duplicar fitas de RNA. Para resolver isto os vírus utilizam diversas
estratégias:

Vírus de fita positiva ou senso positivo: Possuem uma molécula de RNA


que serve como RNAm, este RNA menssageiro (senso) codifica proteínas que
inibem e síntese de RNAm e proteínas pelo hospedeiro. Em seguida, sintetizam
RNA polimerases dependentes de RNA e que são capazes de realizar cópia do
RNA viral. Contudo esta cópia possui seqüência complementar a da fita de RNA
viral (original). Esta fita (antisenso) servirá como molde para síntese de novas fitas
positivas que podem servir para síntese das proteínas do capsídeo e se
incorporam a elas para síntese dos vírions que serão liberados da célula
hospedeira.
Vírus de fita negativa ou senso negativo: Possuem uma molécula de
RNA que é complementar ao RNAm viral, logo deve ser convertido nesta molécula
pela ação de polimerases. O RNAm sintetizado pela RNA polimerase dependente
de RNA, será utilizado para síntese de proteínas do capsídeo, bem como molde
para síntese da fita antisenso, que é o RNA viral original. O RNA antisenso será
incorporado na montagem do virion.

Retrovírus: Os retrovírus são vírus de RNA que carregam consigo a enzima


transcriptase reversa. Esta enzima converte RNA em DNA complementar ao RNA
original, bem como o degrada. O DNA complementar replica para dar origem a
uma fita de DNA dupla fita que serve para síntese do RNAm (transcrição) e das
proteínas do capsídeo, bem como ao RNA original será incorporado ao capsídeo
para montagem do virion.

Principais vírus RNA: Picornaírus, Togavírus, Rhabdovírus, Reovírus e


Retrovírus.

OBS.: Tanto os vírus DNA como os retrovírus e oncovírus desenvolvem um


processo denominado de latência, onde o DNA viral é incorporado ao DNA da
célula e fica lá até que um fator de estresse (imunossupressão), entre outros,
ocasionem a ativação do vírus, que destrói a célula hospedeira. Nos bacteriófagos
este evento é denominado ciclo lisogênico (fagos temperados)

5. Liberação: Os vírus envelopados sofrem um processo denominado


brotamento, onde os vírus emergem da membrana citoplasmática levando lipídeo

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e proteínas da mesma formando o envelope. Os vírus não envelopados são
liberados por ruptura da membrana citoplasmática.

DIAGNÓSTICO VIRAL

O diagnóstico viral pode ser realizado de diversas maneiras. Contudo a


maioria necessita de métodos específicos e de alta tecnologia nem sempre
disponíveis. Entre os métodos empregados para o diagnóstico virológico podemos
citar:

1. testes sorológicos: Os testes sorológicos têm como principio a detecção de


anticorpos específicos no soro de animais enfermos ou infectados. Várias
metodologias podem ser utilizadas como o ELISA. A sorologia pareada é a coleta
do soro de animais suspeitos de infecção viral num intervalo de duas semanas. Se
a quantidade de anticorpos neste período se elevar significa infecção, enquanto
que se ficar igual indica uma infecção antiga.

Animal não infectado


Infecção recente
Infecção crônica (antiga)

A B

Teste de ELISA no dia A: - animal não infectado


+ animal infectado
+ animal com infecção crônica

Teste de ELISA no dia B (15 dias depois): + + animal infectado


+ animal com infecção crônica

2. Inoculação em animais: Os vírus podem ser mantidos em animais como


camundongos coelhos e cobaias. A inoculação de animais pode ser utilizada tanto
para o isolamento, diagnóstico e estudo dos vírus, uma vez que os animais
permitirão a multiplicação viral. Após a inoculação, órgãos e tecidos destes
animais são coletados estudados para identificação do vírus envolvido. A
inoculação em camundongos recém nascidos é muito utilizada para o diagnóstico
ra raiva associado à técnica de imunofluorescência.

3. IMUNOFLUORESCÊNCIA: A imunofluorescência é uma técnica que utiliza


anticorpos específicos contra antígenos (proteínas) bacterianas e virais. Os
anticorpos específicos são utilizados com um conjugado com isotiocianato de
fluoresceína, um composto que emite um fluorescência (brilho) esverdeada
quanto em presença da radiação ultravioleta. Se a amostra apresentar o vírus se

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ligará ao conjugado e quando o tecido (na forma de cortes histológicos) for
observado num microscópio de UV emitirá uma luminescência verde característica
dos corpos de inclusão viral. No caso da raiva este teste é aplicado sobre
esfregaços de tecido encefálico de animais suspeitos de raiva (caninos, felinos e
bovinos).

Amostra negativa Amostra positiva

Partículas virais

Aplicado o conjugado (anticorpo + flouresceína)


fluoresceína
ac

Lavagem com solução tampão

Observar em radiação UV

4.Cultivo em ovo embrionado: O ovo embrionado (fertilizado) é utilizado para o


cultivo de uma variedade de vírus animais. Os ovos podem ser inoculados
assepticamente com uma seringa, por meio de um orifício feito na casca em locais
desinfetados previamente com iodo. Para manter a anti-sepsia o orifício deve ser
vedado com parafina. Para multiplicação viral os vírus devem ser incubados a
36oC por 2 a 3 dias. O cultivo em ovos embrionados foi amplamente substituído
pelo cultivo em células de mamíferos mantidas no laboratório. Entretanto esta
técnica ainda é muito utilizada para produção vacinas, o que explica a reação de
indivíduos alérgicos a ovo a certos tipos de vacinas víricas.

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5. Cultura em tecidos animais: A cultura de células e tecidos nos laboratórios
permitiu grandes avanços a virologia. Para que as células possam crescer nos
laboratórios estas devem ser diferentes daquelas que encontramos na natureza,
pois devem resistir fora do organismo por um tempo indefinido. Estas células são
geralmente denominadas linhagens celulares permanentes. Estas células são
geralmente obtidas de tumores ou embriões e são vendidas comercialmente.
Mesmo sendo células modificadas elas devem possuir os receptores virais na sua
superfície como se estivessem ainda no animal de origem. Quando as células são
extraídas diretamente dos animais temos um cultivo primário. No laboratório as
células são cultivadas em garrafas com a lateral plana. Nesta superfície plana as
células multiplicam de modo contínuo, formando uma monocamada. As células
são mantidas num meio denominado Meio Essencial Mínimo (MEM) que supre
todas as necessidades nutricionais e de pH tanto para as células, como para os
vírus. Além disto, se utiliza soro bovino fetal para estimular a replicação das
células (fatores de crescimento e multiplicação).
Quando os cultivos são infectados com o vírus de interesse este podem
infectar as células mantendo sua arquitetura original, ou produzindo alterações na
morfologia e organização das células. Esta alteração é chamada de EFEITO
CITOPÁTICO e pode ser usada na identificação do vírus presente no cultivo.
Muitas vezes os vírus se agregam no interior das células dando origens a
corpúsculos que podem ser observado no microscópio, como exemplo os
corpúsculos de negri, produzidos pelo vírus da raiva.

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Questões de revisão

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1) Dentre as características dos vírus, assinale V ou F :
( ) possuem DNA e RNA
( ) não fazem síntese de proteína
( ) utilizam a membrana celular para sua replicação
( ) são seres vivos
( ) não multiplicam fora da célula

2) O capsídeo é:
a) estrutura que reveste o material genético
b) estrutura que promove adesão dos vírus envelopados
c) não está presente em todos os vírus
d) promove hemaglutinação
e) é o material genético viral

3) Relacione as colunas:
a) vírus helicoidal ( ) forma icosaédrica
b) vírus poliédrico ( ) forma de bastões
c) vírus complexo ( ) possui apêndices, como bainha e cauda

4) Para que o vírus possa penetrar na célula do hospedeiro, este utiliza proteínas do
capsídeo ou do envelope, que devem se combinar com que estrutura da célula hospedeira?
a) material genético
b) receptores de superfície
c) proteínas do citoplasma
d) lipídeos da membrana citoplasmática
e) enzimas lizossonais

5) A penetração do vírus na célula ocorre, normalmente, por:


a) fagocitose
b) pinocitose
c) endocitose
d) exocitose
e) penetração ativa

6) A montagem dos virions em vírus DNA ocorre em que compartimento celular?


a) núcleo
b) citoplasma
c) retículo endoplasmático
d) aparelho de golgi
e) ribossomos

7) O que significa latência?

8) Nos vírus de senso positivo:


a) a molécula de DNA dará origem a um RNA primário
b) o RNA original serve como mensageiro
c) o RNA viral dará origem ao RNAm complementar

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d) o DNA servirá como RNAm
e) NDA

9) Os retrovírus recebem este nome, pois:


a) carregam consigo a enzima transcriptase reversa
b) fazem retro-infecção
c) são os vírus mais antigos
d) conseguem transcrever
e) NDA

10) Dado o título de anticorpos do animal A, suspeito de uma infecção viral, podemos
afirmar que:
Animal A Dia 0 +
Dia 15 ++

a) o animal não está infectado


b) o animal foi infectado há muito tempo
c) o animal apresenta infecção oportunista por bactérias
d) o animal está imunossuprimido
e) o animal está infectado

11) Explique o princípio da imunofluorescência:

12) O efeito característico que um vírus produz em cultivo de células é denominado:


a) viral
b) citopático
c) citolítico
d) celular
e) tardio

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