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DO DESIGN
. '
Geometria do design
Estudos sobre proporção e composição
Kimberly Elam
tradução Claudio Marcondes
COSACNAIFY
Sumário
nada aborr ece tanto o juízo sadio quanto uma pi11· "A geometria é a linguagem do homem. Mas ao deter·
I lr•l realizada sem conhecimento técnico, ainda que minar as distãncias respectivas dos objetos, ele inven·
I 1la com cuidado e diligência. Ora, o único motivo tou ritmos, ritmos sensíveis ao olho, nítidos nas suas
P•lo qual os pintores desse tipo não se dão conta de relações. E esses ritmos estão no nascimento de com·
11, próprios erros é o fato de não terem aprendido portamentos humanos. Ressoam no homem por uma
Jeometria, sem a qual ninguém pode ser, ou se tor· fatalidade orgânica, a mesma fatalidade que faz com
1 n, um verdadeiro artista; mas a responsabilidade por que as crianças. os velhos, os selvagens, os letrados
1 lo deve ser atribuída aos seus mestres, eles próprios tracem a seção áurea."
1 1110rantes dessa arte." Le Corbusier, Por uma arquitetura, 1923 [ed. bras. 1998]
Albrecht Dürer. Unterweisung der Messing [Instrução
p.tra medição]. 1525
1'lO que é possível aperfeiçoar uma arte sobretu· " .. as proporções dos element os formais e de seus
J l partir de uma base matemática de pensamento.'' espaços intermediários quase sempre estão relacio·
M.1x Bill, extraído de um texto de 1949, republicado nadas a determinadas progressões numéricos logica·
••m Typographic Communications Today, 1989 mente dedutíveis."
Josef Müller·Brockmann, Th e Graphic Artist and His De·
sign Problems [O artista gráfico e seus problemas de
design], 1968
Multas vezes. como profissional do d@sign e como edu· e guardam vínculos com o estilo e a tecnologia das
c .ulora. vi excelentes ideias conceituais acabarem pre· épocas em que foram produzidas, mas também com
Judieadas durante o processo de realização. em grande a intemporalidade do design clássico. Apesar das dife·
po�r te devido a uma falta de entendimente, por parte do renças que marcam tais épocas e da diversidade formal
eh ,,gner, dos princípios visuais da composição geomé· das obras, de pequenas obras gráficas bidimensionais
lfl<a. Tais princípios incluem uma compreensão dos sis· a estruturas arquitetônicas, nota-se uma extraordinária
5
lt 111<1s clássicos de proporções. como a seção áurea similaridade em sua concepção e ordenamento, a qual
o·. retângulos de raiz, assim como dos conceitos de se deve ao uso deliberado da geometria.
1111,\0 e proporção e das relações entre as formas e os Este Geometria do design não pretende usar a
llotc;.ldos reguladores. Este livro se propõe a explicar, geometria como critério de avaliação estética, mas an·
""'termos visuais, os princípios da composição geo· tes pór em evidência aquelas relações visuais que se
"" Inca e também a analisar, em conformidade com baseiam em atributos essenciais tanto da vida. como
lnl' princípios, um conjunto abrangente de cartazes, a proporção e os padrões de crescimento, quanto da
>hiPtos e edifícios. matemática. Seu propósito é esclarecer o processo
1\ �eleção dessas obras teve como critério o fato de projetual e oferecer coerência ao desenho por meio
I•l••m passado pela prova do tempo e de serem con· de e struturas visuais. Com tal entendimento, o artis·
I lnloJdas, em muitos aspectos, exemplos clássicos de ta ou o designer poderá encontrar, por conta própria,
h IIJn. Elas são apresentadas em ordem cronológica mérito e valor para si mesmo e suas obras.
Kimberly Elam
Ringling School of Art and Design
Primavera de 2001
Proporções e preferências cognitivas
Ao longo de toda a história, no contexto tanto do am tarde. artistas e arquitetos renascentistas também es
biente humano como do mundo natural, jó se com tudaram, documentari:lm e empregaram as proporções
provou uma evidente preferência cognitiva dos seres derivadas da seção áurea em extraordinárias obras de
humanos pelas proporções baseadas na seção áurea. escultura, pintura e arquitetura. E. além das obras feitas
Alguns dos mais antigos indícios do emprego de um pelo homem, as proporções da seção áurea podem ser
retãngulo áureo-ou seja, aquele no qual há uma pro observadas no mundo natural, tanto nas proporções do
porção de 1:1,618 entre os lados-estão na estrutura de corpo humano como nos padrões de crescimento de
Stonehenge, erguida entre 2450 e 1600 aC. Outros indí muitas plantas, animais e insetos.
cios documentados encontram-se em textos e na arte Intrigado pela seção áurea, o psicólo go alemão
e arquitetura dos antigos gregos. no século V aC. Mais Gustav Fechner estudou, no final do século XIX, o modo
razão:
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despertada pelos indícios existentes de uma predileção exibiam proporções semelhantes a essa. Os experi
estética arquetípica e transcultural pelas proporções da mentos exaustivos mas informais de Fechner acaba
seção áurea. ram sendo repetidos, com maior rigor cientifico. pelo
Fechner restringiu seu experimento ao mundo hu ê
franc s Charle s Lalo em 1908, e mais tarde por ou
mano e começou tomando as medidas de milhares de tros pesquisadores, que obtiveram resultados nota
objetos retangulares, tais como livros, caixas, edifí velmente similare s.
50%
45%
40%
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rezão 1: 1 5:6 4:5 3:4 ) 7:10 2:3 5:8 13:23 1:2 2:5
quadrado seção quadrado
áurea duplo
"O poder do segmento áureo de criar harmonia advém das notáveis relações entre as proporções nos padrões
de sua capacidade singular de unir as diferentes par de crescimento de seres vivos como plantas e animais.
tes de um todo, de tal forma que cada uma continua As formas com perfil em espiral das conchas re
mantendo sua identidade, ao mesmo tempo que se velam um padrão cumulativo de crescimento, o qual
integra ao padrão maior de um todo único." foi objeto de vários estudos científicos e ar tísticos.
Gyõrgy Doczi, O poder dos limites: harmonias e propor Os padrões de crescim ento das conchas são espirais
ções na natureza, arte e arquitetura, 1986 [ed. bras. 1990) logarítmicas de proporções áureas, refletindo o que
ficou conhecido como a teoria de um padrão de cres
A predileção pela seção áurea não se restringe ao sen cimento perfeito. No livro The Curves of Life [As cur
so estético dos seres humanos; ela também faz parte vas da vida). Theodore Andrea Cook descreve esses
Espiral áurea
Diagrama de constr ução
de um retângulo áureo e
da espiral resultante.
Náutllo
Corte transversal do Nautitus
de crescimento em espiral.
8
ciais da vida". Em cada et apa de crescimento , a ssi gular estrelado) também exibem proporções áureas
nalada por uma espiral, a nova espiral é muito próxi e podem ser encontrados em muitas criaturas vivas,
ma da proporção de um quadrado áureo maior que o como a bolacha-da-praia. As divisões internas de um
anterior. Os padrões de crescimento das conchas d o pentágono criam um pentagrama, no qual a razão en
náutilo e d e outros moluscos nunca exibem pro p or tre duas linhas quais quer tem a proporção de 1:1,618.
ções áureas exatas. Em vez disso, o que se constata
nas proporções dos padrões de crescimento biológico
é a tentativa, nunca alcançada, de chegar a propor
Comparação do
crescimento em espiral
de uma concha e a
proporção áurea
Padrão pentagona l
O pentágono e o
pcntagrama têm
proporções áureas,
pois a ruzão dos lados
elos triângulos em um
pentagrama é 1:1,618.
As mesmas relações
1 resentes no pentágono/
p<'ntagrama silo
••ncontradas nas
bolachas-da-praia e nos
llocos de neve.
A pinha e o girassol apresentam padrões de cresci há 21 esp irais em sentido horário e 34 em sentido
mento em espiral muito semelhantes. As sementes a nti -hor ár io.
dos dois crescem ao longo de duas espirais que se Os números 8 e 13, constatados nas espi rais da�
inters ectam e irradiam em direç ões opostas, e cada pinhas, e 21 e 34, nas dos girassóis, são bem conhe
semente per tence a ambos os conjuntos de espirais. cidos dos matemáticos. Eles são pares adjacentes nn
O ex ame das espirais da pinha revela que 8 delas se série matemática conhecida como sequência de F1
movem em sentido horário e outras 13 em sentido bonacci. N est a, cada número ê obtido pela soma do�
anti-h or ário, aproximando-se bastante das propor dois anteriores: O, 1, 1, 2, 3, 5, 8, 13, 21, 34, 55 ... A razão
ções da seção áurea. A mesma pr ox imidade com a entre dois termos sucessivos na série tende no limite
seção áurea ocorre no caso das espirais do girassol: a 1:1,618, ou seja. à proporção áurea.
Padrões de crescimento
em espiral das pinhas
Cada semente na p inha
pertence a ambos os
Muitos peixes também exibem medidas relaciona- Talvez parte do nosso fascínio pelo ambiente natu-
das com a seção áurea. A superposição de três dia- ral e por seres vivos como conchas. flores e peixes seja
gramas de construção com a proporção aurea ao cor- devido à nossa predi leção subconsciente pelas pro-
po de uma tr uta arco-íris mostra as relações entre o porções. formas e padrões associados à seção áurea.
olho e a nadadeira caudal nos retãngulos e quadrados
dourados recíprocos. A lém disso, as nadadeiras indi-
viduais exibem proporções áureas. O peixe-anjo-azul
enquadra-se exatamente em um retãngulo áureo, e
sua boca e guelras estão no ponto áureo reciproco
da altura do corpo.
um retângulo áureo
reciproco. e outro
retângulo deste tipo define
a nadadeira caudal.
recíproco.
Proporções do corpo humano
na escultura clássica
Assim como muitas plantas e animais compa rt il h am nos tratados de um arquiteto e estudioso latino do
as proporções áureas, o me s mo se dá com os seres prime iro século dC, Marcus Vitruvius Pollio. Vitrúvio,
humanos. Talvez outro motivo para a predileção cog como é mais conhecido, recomendava que a arquite
n i tiva pelas proporções áureas seja o fato de que o tura dos templos fosse baseada nas proporçõe s ideais
rosto e o cor po humanos exibem as mesmns relações de um corpo humano em que todas as partes estão
proporcionais matemáticas constatad as em todos os em pe rfeita harmonia. Ao descrever tal ideal, el e expli
seres vivos. cava que a altura de um homem bem-proporcionado
Algumas das mais antigas investigações sobre pro é equivalente ao comprimento de seus braços aber
porções anatómicas e arquitetônicas são encontradas tos. A altura do corpo e o comprimento dos bra ços
12
\
est"nd1dos cnam um quadrado, enquanto as máos e
os pés tocam um c rcul o CUJO cent r o é o umb1go Nes
se esquema. a forma humana é diVIdida ao me1o na
v1nlha e pela seçâo aurea no umb1go As estátuas do
Doriforo e de Zeus sllo ambas dos anos 1400 ac Em
i- bora real1zadas por escultores diferentes multo tem
po antes dos estudos de Vótrúvlo. ambas co1ncidem
claramente com as proporções por ele recomendadas.
13
'
13
A. li •
Jura é dividida ao meio na virilha e (a direita) pela
10 .�urea no umbigo.
Proporções do corpo humano
no desenho clássico
O cânone vitruviano foi adotado por a rtis ta s renas Dürer com vários desses sistemas podem ser vistos
centistas como Leonardo da Vinci e Albrecht Dürer, em sua obra Vier Bücher von menschlicher Proportion
no final do século XV e início do XVI. Tanto Da Vinci [Quatro livros sobre a proporção humana], de 1528.
como Dürer se dedicaram ao estudo dos sistemas de Já Leonardo da Vinci fez as ilustrações para o livro
proporções da anatomia humana. Os experimentos de De divina proportione [Sobre a divina proporç5o]
\
14
Homem Inscrito num círculo, Alb recht Oürer, após 1521 Homem vítruviano, Leonardo da Vinci, 1485-90
\.
de Da Vinci e de Dürer se conformam
ao sistema de Vitrúvio. Além disso, quan
IIMramos esses desenhos com a ajuda de so-
15
16
de Leonardo da Vinci
Um quadrado encerra o corpo, ao passo que as mãos e
os pés tocam um círculo cujo centro coincide com o
umbigo. A figura está dividida ao meio na virilha e pela
seção áurea no umbigo.
\
17
Comparação das
proporções de DOrer
(om vermelho) e
Da Vinci (em preto)
A� proporções de
1mbos os artistas são •
quase idênticas.
17
Proporções faciais
O cânone de Vitrúvio abrange as proporções do ros de construção suaves podem ser vistas em seu de
to e do corpo humano. O posicionamento dos traços senho ori g in al.
faciais revela as proporções classicas usadas na es Dürer, no entanto, recorre a proporções faciais cla
cultura greco-romana. ramente diferentes. No Homem inscrito num círculo.
Embora tanto Leonardo da Vi nci como Albrecht as proporções são caracterizadas pe los traços con
Dürer tenh am empregado o cânone vitruviano de centrad os na parte inferior do rosto e pela testa mais
proporções anatômicas, notam-se di fere nças sig ampla, o que possivelmente revela uma predileção es
nificativas nas proporções faciais. O si s tema de Da tética comum à época. O rosto é dividido ao meio por
Vinci para o rosto reproduz o de Vitrúvi o e linhas uma linha no topo das sobrancelhas, com os olhos,
Comparação de proporções faciais e seção áurea O diagrama mostra Que um único retãngulo áureo rege o
18 Deta lhe da cabeça do Doríforo (esque rd a). Detalhe da co mprimen to e a largura da cabeça. Esse retãngulo
cabeça do Zeus do Cabo Artemísion (direita). Quando subdivide-se a segu ir e m retângulo s áureos menores que
aplic amo s às c abeças das estátuas o cánone vitru viano, definem a posição dos outros e l ementos fa cia is.
notamos que as proporções são Quase idênticas.
< S r «
Proporções arquitetônicas
Além de r egist ra r as proporções da anatomia huma conceito viria a adquiri r muita impo rtância na his
na, Vit r uvio também era arquiteto e catalogou as tória da arquitetura.
proporções arqui tetônicas mais harmoniosas. Se O templo do Parteno n, em Atenas, é um exemplo
gundo ele, a arquitetura dos templos deveria se ba do sistema de proporções u sado pelos gregos an
sear no corpo humano b em-proporcionado, aquele tigos. Um exame sumário revela que a fachada do
no qual há perfeita harmonia ent re todas as par edifício é contida em um r etângulo áureo subdivi
tes. Atribui-se a ele a introdução do conceito de dido. O quadrado do retângulo recíproco principal
módulo, do mesmo modo que as proporções hu fornece a altura do frontão, e o retângulo menor do
manas se expressavam de acordo com um módu diagrama determina o posicionamento do friso e da
lo definido pel a medida da cabeça ou do pé. Esse arquitrave.
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20
;- o<'lculos depois, a "pr oporção divina", ou seção acima do óculo. a janela circular central, que intercep
''''"·foi propositalmente empregada na arquitetura tam as principais linhas de força verticais da catedral.
· IC)rejas góticas. Em Por uma arquítetura, Le Cor A porta central também tem uma proporção áurea.
li tN cita o papel do quadrado e do círculo nas pro como se pode ver no diagrama de construção. A pro
ot�Oes da fachada da catedral de Notre-Dame, em porção do óculo é 1/4 do diâmetro do círculo inscrito
O retângulo em torno da fachada da catedral no quadrado maior.
111 ,, proporção áurea. O qu adrado desse retângulo
1111 o encerra a parte principal da fachada. e o retãn-
III•J ,\ureo recíproco inclui as duas torres. Os traçados
u11ladores são as diagonais que se encontram logo
torres. no retângulo
""o recíproco. Além disso, a
'''lo i nferior da fachada
f ser dividida em seis
"' l·ldes, cad<� qu<�l formando
'• 11t�ngulo áureo.
21
"Do nascimento fatal da arquitetura. A obrigação da O interesse de Le Corbusier pela aplicação da geo
ordem. O traçado regulador é uma garantia contra metria e da matemática está registrado em Por uma
o arbitrário. Proporciona a satisfação do es p írito. O arquitetura. Nesse livro, ele discute a necessidade dos
traçado regulador é um meio; não é uma receita. Sua traçados reguladores como um meio de criar ordem
escolha e suas modalidades de expressão fazem parte e beleza na arquitetura. e também responde à c rítica
integrante da criação arquitetural." de que "com seus traçados reguladores, vocês ma
Le Corbusier, Por uma arquitetura, 1923 tarão a imaginação e entronizarão a receita". Ao que
ele retruca: "Mas o passado nos legou provas, docu
mentos iconográficos, estelas , lajes, pedras gravadas.
pergaminhos. manuscritos, impressos... [.. .]
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retângul áureo \
o ra io de um arco de circu nferência que I
\
\
intercepta o ponto C no prolongamento I
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I
1etfingulo áureo é unico porque, ao ser dividido, o
1u retãngulo recíproco é um retãngulo proporcional
1111nor.e a área remanescente após a divisão é um
111.1drado. Os quadrados proporcionais decrescentes
P•>d�m gerar uma espiral quando se usa um raio com
• 1nesmo comprimento dos lados do quadrado.
.. ---
1111 um di agrama de subdivisões d a
•/lo áurea é possível construir uma
pirai áurea. Basta usar o comprimento
t ' t.1dos d os quadrados das subdivisões
•1110 raio de um segmento de circulo,
'
25
A
c
B
26
4. Esse método resulta em proporções
áureas ao definir o comprimento de AB
e BC, que são os lados do retângulo.
A divisão do triângulo proporciona a
criação dos lados de um retãngulo com
proporção áurea. pois a razão entre
AB e BC é de 1:1,618.
A c
B
'
'
I
I
Proporções áureas
AB: BC +CD
BC =CD+ DE
CD: DE+ EF
etc.
A c F GH
27
retângulo retãngulo
áureo + quadrado áureo o
E
A B = AB
AB
ABC
ABCD
+
+
c =
o =
E =
ABC
ABCD
ABCDE
lcFf
ABCDE + F: ABCDEF
G
ABCDEF + G = ABCDEFG
F
Proporções áureas em
círculos e quadrados
O método de construção
de seções aureas por meio
do triângulo também
produz uma série de
círculos ou quadrados
aureos.
28
Seção áurea e sequência de Fibonacci
As propriedades específicas da seção áurea têm es- os dois números antecessores para se obter o seguinte.
treita relação com a série de números denominada se- Por exemplo, 1 + 1 = 2, 1 + 2 = 3, 2 + 3 = 5 etc. A pro
quência de Fibonacci, assim chamada em homenagem porção entre qualquer par de números na sequência
.10 seu descobridor, o matemático Leonardo de Pisa é muito próxima da proporção áurea. Os primeiros
(1170-1250), conhecido como Fibonacci, e que também pares da série vão progressivamente se aproximando
101 o introdutor dos algarismos arábicos na Europa cer- da seção áurea, e, depois do 152 número, a divisão de
ca de oitocentos anos atrás. Essa sequência de núme- qualquer número pelo subsequente tende a 0,618, e
ros-1, 1, 2, 3, 5, 8, 13, 21,34-é calculada somando-se a divisão por qualquer número anterior tende a 1,618.
8+13=21,
13 +21=34,
21+34=5 5
34+55=89
2j 1 2,0000
3j 2 1,5000
5;3 1,66666
8Js 1,60000
29
13;8 1,62500
21j13 1,61538
34/21 1,61904
55/34 1,61764
89/55 1,61818
144/89 1,61797
377/233 1,61802
Construção do triângulo
áureo a partir do
pentágono
Comece com um
pentágono. Conecte os
ângulos na base ao vértice
do pentág ono, o que
resu lta em um triâng ulo
áureo com ângulos de 72"
na base e de 36" no vértice.
Elipse áurea inscrita em retângulo áureo
Construção de triângulo
áureo secundário a partir
do pentágono
A construção do pen tágono
também resulta em
triâng u los áureos secundá
30
rios. Basta conectar um
ângu lo da base a um dos
vértices do lado oposto.
Construção de triângulo
áureo a partir do decágono
Comece com um decágono,
ou seja, um polígono com
dez lados. Conecte
quaisquer dois vértices
adjacentes ao centro para
obter um triângulo áureo.
I
I
Proporções áureas do pentagrama
A estrela de cinco pontas criada a partir
.... ------
,,' - -_...�'
...
.....,....- .
/,
',,\
31
(
Retângulos áureos dinâmicos
Todos os retângu los se dividem em duas categorias: retângulos dinâmicos produzem, ao se dividirem, uma
os retâ ng u los estáticos, com razões de frações de nú· in terminável quantidade de subdivisões e razões de
meros racionais (como 1/2, 2/3, 3/3, 3/4 etc.), e os superfície harmoniosas em termos visuais, pois suas
retângu los dinâmicos, com razões de frações de nú razões deri va m de números i rraciona is .
meros irracionais (como !2, !3, JS. !j> da seção áurea O proc esso de d iv isão de u m retângu lo dinâmico
etc.). Quando divididos, os retâng ulos estáticos não em uma série de subdivisões harmõnicas é muito sim
resultam numa série de superfícies proporc ionais vi· ples. Diagonais são traçadas entre vértices opostos e
suaimente atraentes. As subdivisões são previsíveis e então uma rede de linhas paralelas e perpendiculares
não apresentam muitas variações. Por outro lado, os é construída a partir dos lados e das d i ago n ais .
Retãngulos áureos
dinâmicos
Esses diagramas, extraídos
de The Geometry ofArt
and Ufe [A geometria da
arte e d a vida], de Matila
Ghyka, ilustram vários
exemplos de subdivisões
harmónicas de retêngulos
áureos dinâmicos. Os
pequenos retãngulos em
vermelho (esquerda)
most ram a construçao dos
retângulos aureos. Os
retãngutos nas cores cinza
e vermelho (coluna
intermediária) mostram a
construção dos retángulos
áureos em vermelho. com
32
as subdivisões harmónicas
em linhas cinzentas. Já os
retãngulos com linhas
pretas (direita) indicam
apenas as su bdivisões.
I
LO
'
'
-
33
[[]
'
-
-
Construção do retângulo de raiz 2
Os retángulos de rai z 2 exibem a propriedade espe dividido em qu atro. resu ltam quatro retângulos me no
cial de serem infinitamente divisíveis em retângu los res de raiz 2 et c . Cabe notar ainda que as propor ções
proporcion ai s menores. Isso significa que. qu ando se do retângulo de raiz 2 são bem próximas da seção
di vide ao meio um retángulo de raiz 2, r es ultam dois áur ea: as dos retângulos de raiz 2 são 1:1,41, cont ra
retângulos menores também de raiz 2; e, quando é 1:1,618 da seção áurea.
� '
2. Trace uma diagonal no i nterior '
/
do quadrado. Use a di ag onal /
como raio de um arco que
/ \
i n te rsecta a linha da base do / \
/ I
quadrado. Complete o retêngulo /
/ \
em torno da nova figura. Este é
um retêngulo de raiz 2. /
/
/
34
Subdivisão de raiz 2
1. O retângulo de raiz 2 pode ser
'
dividido em retângulos similares '.-'
/ '
menores. Divid indo-se o retângulo '
com a ajuda de uma diagonal,
obtêm-se dois retângulos menores.
Subdividindo cada um destes, '
'
obtêm-se sucessivamente
'
retângu l os menores de raiz 2.
/
' /
2. Esse processo pode ser repetido ' /
/
/
fl '
/
• / '
/
'
/
/
'
/ '
/
/
'
/ '
/ '
/
/ '
retllngulon retãngulon
I
J
Construção do retãngulo de raiz 2,
método do circulo
1. Outra maneira de se construir um
retângulo de raiz 2 começa com o traçado
de um c írculo. Em seguida, inscreve-se um
quadrado no cfrculo.
Espiral decrescente
de raiz 2
Pode·se construir uma
espiral decrescente de
raiz 2 traçando-se e
conectando-se as
diagonais nos retângulos
35
recíprocos de raiz 2.
Relações proporcionais
de raiz 2
A subdivisão contínua
de um retângulo de raiz 2
resulta em retãngulos
similares proporcionalmen·
te menores.
Norma DIN de formatos proporcionais de papel
Os retàngu l os de raiz 2, como se viu, têm a proprie vezes a folha original, obtêm-se quatro fol has meno
dade de se subdividirem sem cessar cm retàngulos res ou oito páginas impressas etc. Esse sistema não
proporcionalmente menores. Por esse motivo, servem só é eficiente, como t ambém otimi za o uso do papel.
de base para a norma DIN - Deutsche I ndus trie Nor As cidades europeias nas quais é tradicional o uso
men (normas Industriais alemãs), um crité rio para a de cartazes dispõem de áreas publicas próprias para
def iniçã o de formatos de papel. E também regem as eles com essa proporção. Além da vantagem prát1ca
proporções de muitos dos cartazes examinados nes de evitar o desperdício no uso das folhas de papel, o
te livro. Um a dobra inicial no meio da folha res ulta retângulo de raiz 2 se aprox1ma das propriedades es
em d uas meias-folhas. ou fólios. Dobrando-se quatro téticas da seção áurea.
A2 A3
A1
A4
A3
AS
A4
36 Al
AS
A2
I
I
Rotângulos dinâmicos de raiz 2
I>o mesmo modo que os retângulos âureos, os re- O processo de divisão harmônica requer o traçado
t.,ngulos de raiz 2 são conhecidos como retângulos de diagonais e, depois, o traçado de uma rede de li-
•llnâmicos, pois, como aqueles, produzem uma varie- nhas paralelas e perpendiculares aos lados e às diago
'1.1de de subdivisões e combinações harmônicas que nais. Os retângulos de raiz 2 sempre vão se subdividir
·.c>mpre guardam as proporções do retângulo original. em um número equivalente de retângulos recíprocos.
c�>squerda) Divisão de
lltn retângulo de raiz 2
•m 9 retângulos
n1cnores de raiz 2.
!direita) Divisão de um
111tangulo de raiz 2 em
! 1etângulos menores
•I" raiz 2 e 3 quadrados.
37
wsquerda) Divisão de um
''tângulo de raiz 2 em 5
t•ttàngulos menores de raiz
) e 2 quadrados.
1direita) Divisão de 2
''têngulos de raiz 2.
'
' '
'
Retângulo de raiz 3
Assim como o retângulo de raiz 2 pode ser dividido O retân gulo de raiz 3 tem a propriedade de per
em outros retã ng u l os similares, o mesmo se dá com os mitir a construção de um prisma hexagonal regular.
retángulos de raiz 3, raiz 4 e raiz 5. Esses retângulos Esse hexágono é encontrado também na forma dos
podem ser divididos tanto na vertical como na horizon- cristais de neve, dos favos de mel e em muitas outras
tal. O de raiz 3 pode ser subdividido em 3 retãngulos estruturas do mundo na t ural.
verticais de ra i z 3; e estes, por sua vez. em 3 retângulos
horizontais de raiz 3 etc.
Construção de raiz 3
1. Comece com um retângulo de raiz 2.
/
/
/
/
38
Subdivisão de raiz 3
O retângulo de raiz 3 pode ser dividido
em retãngulos similares menores. Divida o
retãngulo em três retãngulos menores.
/ '
Divida de novo cada um destes em '
39
Retângulo de raiz 4
Construção de raiz 4
1. Comece com um retângulo de raiz 3. '
/
/ '
'
/
/
40
Divisão de raiz 4
O retângulo de raiz 4 pode ser dividido
/
/
J,rt \
Construção de raiz 5
I. Comece com um retângulo de raiz 4.
--
Divisão de raiz 5
O retãngulo de raiz 5 pode ser dividido
um retàngulos similares menores. Divida o
41
Raiz 5, método de construção
com quadrado
..
..
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..
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'
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42
Análises visuais do design
"Um dia. sob a lamparina o óleo em seu quartinho parisiense, alguns cartões-pos
tais com obras de arte estavam espalhados sobre a mesa. Seu olho deteve-se em
uma imagem do Capitólio de Michelangelo, em Roma. Ele virou outro cartão, dei
xando-o com o verso para cima, e intuitivamente um de seus ângulos (um ângulo
reto) cobriu a fachada do Capitólio. De repente, ele ficou impressionado de novo
com \)ma verdade corriqueira: o ângulo reto rege a composição; os lieux (lieux de
l'angle droit, "localizações do ângulo reto") ordenam toda a composição. Para ele
isso foi uma revelação. uma certeza. O mesmo teste funcionou com uma pintura
de Cézanne. Mas ele desconfiou de seu próprio veredicto, dizendo a si mesmo que
a composição de uma obra de arte é ordenada por regras: tais regras podem ser
métodos conscientes, apropriados c sutis, ou podem ser regras corriqueiras, apli
cadas desatentamente. Elas também podem estar implícitas no instinto criativo
do artista, como manifestação de uma harmonia intuitiva, o que sem dúvida era o
caso de Cézanne. Já Michelangelo era de outra natureza. mais propenso a seguir
planos conscientes, preconcebidos e deliberados.
Foi um livro que lhe trouxe a certeza: algumas páginas da Historie de I'Architecture
[História da arquitetura], de Auguste Choisy, que falavam do tracé regu!ateur (tra
çado regulador). Então havia coisas como traçados reguladores que determinavam
a composição?
Em 1918 decidiu dedicar-se seriamente à pintura. Os dois quadros iniciais foram
compostos a esmo. Já no terceiro. em 1919, tentou preencher a tela de maneira
ordenada. O resultado mostrou-se quase satisfatório. Então veio a quarta pintura,
uma réplica me) horada da terceira, devido ao plano categórico que a unificava.
continha e lhe dava uma estrutura. Depois houve a série de pinturas feitas em 1920
(expostas na Galerie Druet. em 1921),todas rigorosamente baseadas na geometria.
43
Dois recursos matemáticos foram usados nesses quadros: a posição do ângulo
reto e a razão áurea."
Essa percepção deLe Corbusier é valiosa para todos os artistas. designers e arqui
tetos. A compreensão dos princípios organizativos geométricos permite atribuir a
uma obra criativa um sentido de coesão compositiva, o qual por sua vez confere
a todos os elementos um senso de adequação visual. Por meio do exame de ca
racterísticas geométricas. esquemas e proporções, pode-se entender melhor as
intenções e o raciocínio dos designers e arquitetos. Essa análise esclarece o pro
cesso de criação c proporciona uma explicação racional para muitas das decisões
tomadas em tais obras, seja o ordenamento geométrico intuitivo ou proposital.
aplicado com rigidez ou adotado de maneira casual.
Cartaz "Folies-Bergere", Jules Chéret, 1877
O cartaz "Folies-Bergere", de Jules Chéret (1836-1932). menor e proporcional. A razão dos l ados dos triângu
é uma obra fascinante e repleta de dinamismo que cap los no interior de um pentagrama é 1:1,618, a razão áu
tura o movimento de um grupo de dançarinos. A pri rea. O centro exato do cartaz é um ponto pivotante no
meira vista, parece ser uma composição espontânea e quadril da dançarina, e as pernas estendidas dos seus
desprovida de ordenamento geométrico, mas um exa companheiros criam um triângulo invertido, a ponta su
me mais detido revela uma estrutura visual cuidadosa. perior do pentagrama que a enquadra. Os membros e
As posições dos membros dos dançarinos correspon- os ombros de todas as figuras são dispostos com exa
dem a um pentágono inscrito em um círculo. tidão em confor midade com a geometria da estrutura.
As divisões internas do pentágono criam um penta
grama que, por sua vez, delimita um outro pentágono
44
I
'
O pentagrama
As subdiVISões do pePtágono c r am uma
a•xo) O tnãngulo
ar nos e um tnângulo
\
O pentagrama B c
o
estrela interna de cinco pontas cujo
centro é outro pentágono. A seção áurea
está presente ali: nos triângulos. a razão
entre os dois lados iguais, 8 e c. e a base
A é 1:1,618. ou seja, a razão áurea.
Análise
Na ordenação das três
f1guras estão implícitos
primeiro um círculo. depois
um pentágono, e m
seguida u m pentagrama e,
por fim, outro pentágono,
com o centro no ponto
pivotante localizado no
quadril da dançarina.
Até mesmo a figura me nor
na parte infe rior participa
dessa estrutura, na me dida
em que sua cabeça toca o
circulo e o pentágono.
(embaixo) O triângulo
formado pelas pernas dos
dançarinos é um triângulo
áureo.
45
Cartaz "Job", Jules Chéret, 1889
um mestre da impressão, o parisiense Chéret é consi- ele foi assíduo frequentador dos principais museus
derado um dos responsáveis por elevar ao patamar de de arte da Europa, onde estudava atentamente as
forma artística a técnica conhecida como cromolito- obras dos grandes pintores.
grafia. Seu dominio dessa técnica foi a consequência Muitos dos cartazes de Chéret alcançaram êxito
de uma aprendizagem iniciada aos 13 anos de idade. imediato, devido ao belo jogo de cores e às mara
Em termos de educação formal no cnmpo da arte e vilhosas figuras que os ilustravam. Ele aproveita
do desenho, Chéret fez apenas um curso na École va ao máximo os recursos da cromolitografia, as
Nationale de Dessin, onde provavelmente tomou con- sim como os princípios da composição, usando-os
tato com a geometria e os princípios da composição. para conf erir unidade a esta e muitas outras de
Apesar das limitações de sua formação acadêmica. suas obras.
46
O pentagrama e a proporção
do cartaz
Nota-se que as proporções do
formato do cartaz se baseiam no
esquema conhecido como ·'página
pentagonal". A base do cartaz
coincide com o lado inferior do
pentagono e sua altura estende-se
até tocar o círculo.
Análise
Um círculo cujo centro
o•ncide com o ponto
entrai do cartaz determ ina
n posicionamento da figura
posicionamento da cabeça,
do olho e da mão. Já a
nutra diagonal passa pelo
�>mbro e define o limite
lo quadril.
47
Cartaz "Bauhaus Ausstellung", Fritz Schleifer, 1922
Fritz Schleifer (1903-77) celebra os princípios do cinco formas retangulares e depuradas graças à
construtivismo em seu cartaz de 1922 para a Bauhaus el iminação das finas linhas horizontais e verticais.
Ausstellung (Exposição Bauhaus). Seguindo os ideais A largura do menor retângulo, que representa a
construtivistas da época, o rosto humano e a tipo boca, é o módulo de medida para a largura dos
grafia são apresentados de maneira abstrata, com as outros retângulos.
formas geométricas simplificadas que caracterizam A tipografia. concebida para ser compatível com
a era das máquinas. os elementos retangulares do rosto. ecoa as rígidas
O rosto geométrico, concebido por Oskar Schlem formas angulares. Em seu desenho, os tipos são si
mer como parte de um selo da Bauhaus, é submeti milares àqueles originalmente concebidos por Theo
do a uma simplificação ainda maior e abreviado em van Ooesburg em 1920.
48
Selo da Bauhaus,
BRUHRUS
RUSSTELLUn
WEimRR
.AUu SEPT 1!323
f
oesign dos tipos
UHSG
Baseada em um quadrado de 5 por 5 unidades, a
estrutura dos tipos permite que os caracteres mais
largos, M e W, ocupem o quadrado todo, com cada traço
e contraforma ocupando uma unidade. Os caracteres
em
mais estreitos ocupam uma porção do quadrado com
S por 4 unidades, com cada traço ocupando uma
unidade, e as contraformas ampliadas até duas unidades.
O B e o R são exceções, na medida em que mais meia
unidade é reservada para as formas originalmente
arredondadas, assim como para marcar as diferenças
·
entre o R e o A e entre o B e o numeral 8.
EIEi'
Análise
O olho está alinhado com
o eixo vertical central.
Os outros elementos
..
faciais são dispostos em .,
�
relações assimétricas com ·;:
"
esse eixo. A tipologia fica
alinhada, no alto e
embaixo, ao retãngulo
que representa
o pescoço.
"'
..
.,
..
.,
·;:
Proporções entre as "
dos retângulos)
'��
cabeça, nar ;:_. N
que1xo
';:>
pescoço
olho
..
.,
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.,
c
"
..
.,
..
.,
· ;:
"
Cartaz para o jornal L'lntransigeant, A. M. Cassandre, 1925
"O módulo expresso matematicamente serve apenas Concebido em 1925 por Adolphe Mouron (1901 -68) -
para confirmar uma percepção espontânea. A razão que se tornaria mais conhecido sob o pseudónimo de A.
áurea só define a proporção 1deal previamente intuida M. Cassandre - para o jornal parisiense L'lntransigeant,
pelo artista; trata-se antes de um meio de verificação o cartaz é ao mesmo tempo um triunfo conceituai e
do que um sistema (ela estaria condenilda [se fosse] um exemplo de construção geométrica. Um triunfo por
mais um SIStemil)." traduzir a figura de uma cabeça feminina no símbolo
Diário, Adolphe Mouron (A. M. Cassandre), 1960 visual de Marianne, a personificação da França.
Cassandre teve formação artística acadêmica e es·
tudou pintura em diversos ateliês de Paris. Na verdade,
50
dotou o pseudôn1mo de Cassandre com a 1ntenção profundamente Influenciado pelo cub1smo Em uma
.Jsar o nome verdade•ro em seus quadros. Con entrevista de 1926, ele ass1m descreveu esse MOVI·
oo. logo f1cou fnscmado pelas artes gráficas, nelas mento: "... sua lóg1ca Implacável e o esforço do artis
vmbrando mais poss1b11idades de uma v1gorosa ex ta para construir geometncamente a obra trazem à
r :nentação do que na pirotura Outros aspectos que luz o aspecto eterno, o aspecto impessoal. para além
trafam eram a 1de1a de comunicação de massa e de toda cont1rogênc1a e complexidade 1ndiv1dua1s" Ele
a prát•ca art1stcca desv1nculada das trad1c1ona•s e reconhecia que sua própna obra era 'essencialmente
e estudos no campo da pmtura, Cassandre acabou construção geométnca eram perceptíveiS em quase
SI
51
Análise
da figura encaixa-se num desses campos, assim como
O formato do cartaz está ordenado segundo um
o poste de telégrafo. O ângulo de 45• do pescoço
conjunto de módulos de 6 por 8 unidades. proporcionan
estende-se de um vértice a outro de um quadrado que
do 48 campos visuais quadrados. Todos os elementos
abrange quatro campos visuais. Os fios do telégrafo
adequam-se a esse grid em termos de posição e
saem do centro do ouvido em ângulos sucessivos de 15•,
proporção. O orificio do ouvido fica na intersecção
formando dois ângulos de 45• acima e embaixo da linha
desses campos visuais. assim como o centro da boca.
horizontal central.
O canto do L está no centro exato do cartaz. O queixo
todos os seus cartazes. Cassandre tinha plena cons ressaltando sobretudo a objetividade e a função. Tal
ciência da força visual do círculo e o empregou deli filosofia refletiu-se na Bauhaus da década de 1920 e
beradamente neste cartaz e em vários outros com o deixou repetidas marcas nos cartazes que Cassandre
objetivo de dirigir e concentrar o olhar do observador. desenhou ao longo de sua carreira. Neste cartaz. o tí
Além da pintura cubista, a obra de Cassandre foi tulo do jornal é abreviado para L 'lntrans no cabeçalho
influenciada pelo Sa ch Plakat (cartaz-objeto), um que se sobrepõe a um símbolo mais poderoso, a figura
movimento de artes gráficas que procurou se afas de Marianne, a voz da França.
tar da tendência expressiva e ornamental do passado
52
Ângulos e raiz de 2
O formato do cartaz é um retângulo de raiz 2. O olho
da figura é bissectado pela diagonal do retãngulo de raiz
2, indicada por uma linha tracejada. Essa diagonal
53
Proporções do círculo
•1 clrculos da boca e da parte mais externa da orelha Os círculos da cabeça estão dispostos de tal modo
I•1n o diâmetro de um módulo. Os círculos menores do que os pontos centrais estão alinhados segundo
z
• liH>. da parte interna e do lóbulo da orelha e dos diagonais de 45°. Os círculos dos isoladores estão todos
1 •>lo1dores no poste têm o diâmetro equivalente a 2/5 de alinhados em diagonais com ângulos sucessivos de
1111 campo visual. O círculo maior, da cabeça, tem o aproximadamente 15°. Tr ês desses incrementos resultam
Cr iado em 1925 pelo artista inglês Tom Purvis (1888- técnica s imilar de si mpl ifi cação e jogo de espaço,
1959), o cartaz "East Coast by L.N.E.R." é um convi cor e padronagem.
te para que o espectador viaje, nas férias de verão, O guarda-sol em forma de elipse é o elemento visual
pela ferrovia London Northeast. Mais de 25 anos mais incisi vo e atraente do cartaz, não só em função de
antes, dois ilustra dores que assinavam suas obras sua cor vibrante, mas também devido ao formato e ao
como "Beggarstaffs'' i ntroduzi ra m a abordagem posicionamento na diagonal. O laranja vivo estabelece
então radical de s implificar suas composições mar um contraste complementar com o azul do céu e do
cantes com áreas de cores chapadas delimitando mar. A elipse tem um formato que se aproxima daquele
silhuetas graticas. Os cartazes de Purv is usam uma do círculo, e este atrai mais a atenção do que qualquer
54
t a forma geométnca. Ja a d1agonal é a d1reçao ma1s
ante em termos VJSUills dev1do a sua JnstabiiJda·
'T\OVI'nento Jmplic1tos. A drarnát1ca forma elípt1·
pete-se por duas vezes. 'lil estrutura :-1terna do
da-sol e na termmação preta do suporte.
das as formas são mems Silhuetas desenhadas
extrema concisão. As I stras e o i"lrrilnJO Irregular
55
r.a do cartaz torn ·se ev dente por me1o de guarda-sol alaran1ado passa pelo ponto central do cartaz
e 6 por 6 un1dades A linha entre a P'aa e o e dá equ1 1bno à composição As figuras foram di spostas
r d v1de o cartaz e a parte azul ocupa os 2/3 à d re1ta e à esquerdil desse e1xo, de novo reforçando o
55
Análise
A estr utur a do cartaz torna-se evidente por meio de guarda-sol alaranjado passa pelo ponto central do cartaz
um grid de 6 por 6 unidades. A linha entre a praia e o e dá equilíbrio à composição. As figuras foram dispostas
céu e o mar divide o cartaz e a parte azul ocupa os 2/3 a direita e à esquerda desse eixo, de novo reforçando o
superiores da imagem. O eixo menor da elipse no cquilibrio de cores c formas.
Cadeira Barcelona, Mies van der Rohe, 1929
A cadeira Barcelona foi projetada para o Pavilhão da como as mesas exibiam a mesma estrutura em "x" da
Alemanha na Exposição Universal de 1929, realizada na cadeira. Mies van der Rohe (1886-1969) projetou o
cidade de Barcelona. O pavilhão destacava-se de edifício e a mobí lia, e ambos são considerados mar
todos os outros pelo fato de não abrigar nenhuma cos do des ign e a maior realização do período euro
exposição; o que se queria mostrar era o próprio edi peu do arquiteto.
fíc i o. Elegante, austero e combinando painéis de tra É difíc il crer que uma peça tão contemporânea
vertino e mármore, lâminas de vidro fumê e colunas e clássica tenha sido projetada e produzida há mais
cromadas, o pavilhão estava mobiliado apenas com de setenta an os. A cadeira Barcelona é uma sinfo
mesas, cadeiras e banquetas Barcelona, estas últi nia de proporções meticulosas baseadas em um sim
mas forradas de couro branco. Tanto as banquetas ples quadrado. A altura, a largura e a profundidade da
56
57
57
Os arquitetos formados na tradição acadêmica quase edifícios. Por sua vez. tanto Le Corbusier como Mies
sempre levam em conta os princípios da proporção se inspiraram nas formas geométricas das cadeiras de
clássica e os aplicam tanto na arquitetura como na mo madeira vergada do austríaco Michael Thonet, adotan
bília que projetam. Charles É douard Jeanneret (1887- do em suas criações formas igualmente despojadas.
1965), mais conhecido como Le Corbusier, é um caso Em 1927, Le Corbusier começou a trabalhar com a ar
exemplar disso, c a sua atenção meticulosa aos de quiteta e designer Charlotte Perriand e com seu primo
talhes e proporções também está presente na Chaise Pierre Jeanneret. Essa bem-sucedida colaboração resul
Longue. Na década de 1920, Le Corbusier foi influencia tou em vários projetes clássicos de móveis que levam o
do por outros arquitetos. como Mies van der Rohe, que nome de Le Corbusier, entre os quais a Chaise Longue.
vinham desenhando móveis de aço tubular para seus A estrutura tubular cromada da cadeira é uma peça
58
Predecessora da
Chaise Longue
Cadeira de balanço
reclinável Thonet, c. 1870
arqueada que se apo i a num si
Esse arco é um sistema elegan desliza em am- As proporções '"�''"''';"
variedade de posições
ao atr ito e à força da gra
59
Cadeira Brno, Mies van der Rohe, 1929
Após o sucesso do Pavilhão alemão de Barcelona em balanço com estrutura de ferro tubular projetadas ain
1929, Mies van der Rohe foi contratado para projetar du no século XIX e na célebre cadeira de balanço d e
a residência da família Tugendhat, q ue também lhe madeira vergada de Michael Thonet. No caso d a MR,
encomendou o design da mobília mais adequada ao a resistência dos tubos de aço permitiu a ad oçã o de
estilo decididamente modernista do edifício. uma estrutura em cantiléver e a simplificação radical
Já em 1926 Mies havia desenvolvido com êxito uma de suas lin has.
cadeira com braços em cantiléver, batizada de MR. Na O projeto da casa Tugendhat previa uma imensa
época, a tecnologia para vergar tubos de aço era re sala de jantar, com uma mesa com capacidade para
cente e abriu um novo horizonte para desenhos ino 24 pessoas. A cadeira MR foi destinada origin almen
vadores. O da cadeira MR baseou-se em cadeiras de te para essa mesa, mas se revelou inadequada pois
60
Análise
Vista de cima, a cadeira
encaixa-se exatamente em
um quadrado (acima, a
direita). Como se nota nas
vistas frontal (direita) e
lateral (extrema direita), a
cade ira coincide com um
retãngulo áureo. O ângulo
das pernas dianteiras e o
do encosto da cadeira I
proporção de 1:3. I
I
I
I
•
I
61
Cartaz "Negerkunst", Max Bill, 1931
Divulgando uma exposição de pintura rupestre pré A chave de toda a figura é a medida do diâmetro
histórica da África do Sul, a geometria e o despoja do circulo central. Este é idêntico à altura das partes
mento veementes do cartaz "Negerkunst", desenhado superior e inferior; e a metade do diâmetro é a me
pelo suíço Max Bill (1908-94) em 1931, remontam ao dida das áreas laterais da figura. A linha vertical que
desenvolvimento dos conceitos da arte concreta na passa pelo centro do circulo torna-se o eixo para o
década de 1930. Esse movimento propunha a cons alinhamento esquerdo da caixa de texto.
trução aritmética de elementos visuais depurados, e
Bill adotou esse ideal de uma linguagem visual de ab
soluta clareza e apelo universal.
62
Proporções dos círculos maiores (direita)
Os círculos externos são duas vezes maiores
do que o interno.
Análise
As proporções do grande
O baseiam-se no círculo
interno. Os lados esquerdo
e direito medem metade
do diâmetro do círculo
interno, ao passo que os
lados superior e inferior
equivalem ao seu diâmetro.
A diagonal de um canto a
outro passa pelo centro do
círculo, assim como a linha
vertical que determina a
margem esquerda da caixa
o
de texto. :;
�
o
'D
2
"ii
E
...
63
:;;
'-
- -"l .,
d""ã m et r o do cfrculo
Cartaz "Wagon·Bar", A. M. Cassandre, 1932
.
. MJitos acham que os meus cnrtazes são cubistas. Eles O cartaz "Wagon·Bar" é u m prodígio de inter·rela·
têm razão no sentido de que o meu método é essen· ções geométricas e tão impecável quanto o anterior
cialmente geométric o e monumental. A arquitetura. "L'Jntransígeant". Mais uma vez, Cassandre elege ele·
que prefiro acima de tudo. me fe7 a bominar as idios· mentes representativos e os simplifica e estiliza em
sincrasias deformantes ... Sempre fui mais sensível às formas geométricas depuradas. A garrafa de soda, a
formns do que às cores, ao modo como se organizam taça e o copo, o pão, a garrafa de vinho e os canudos
as coisas do que nos seus detalhes. ao espírito de são colocados sobre a imagem de uma roda de trem.
geometria do que ao espírito de requinte..." O diâmetro da roda é usado como medida do seg·
Adolphe Mouron (A. M. Cassandre). La Revue de I'Uníon mente de trilho que enfatiza as frases "Restaurez·vous"
de I'Affiche Françaíse. 1926 e ''A Peu de frais". O centro do cartaz é visualmente
"
64
realçado pelas pontas dos dois canudos dent ro do Esse é um cartaz relativamente complexo em função
copo. No sentido vertical, o cartaz é facilmente divisí da quantidade de elementos que demandam simplifi
vel em três retãngulos. cação geométrica. das inter-relações estruturais e do
A geometria das figuras desenhadas é aparente domínio organizativo. Todavia, a análise dei xa claro que
na curvatura das garrafas e da taça de vinho. Há um cada uma das decisões tomadas tem sua justificativa.
belo jogo de espaços, com o fundo branco do cartaz
invadindo o sifão da garrafa de soda. Uma mudança
simi lar do espaço ocorr e entre o pão e o rótulo da
garrafa de vinho, e também entre a parte superior do
copo e o contorno do envoltório da roda.
Análise
O posicionamento
meticuloso e o controle
de cada elemento são
evidentes nos pontos
centrais dos cfrculos que
definem o bojo da taça de
vinho e as curvas da
garrafa de soda, pois
ambos estão situados na
diagonal traçada entre o
canto superior esquerdo ,,
e o inferior direito. Do
mesmo modo, o centro do
círculo da garrafa de vinho
e o centro da roda estão
alinhados na mesma
vertical.
65
Cartaz "Konstruktivisten", Jan Tschichold, 1937
"Não sabemos por quê. mas podemos demonstrar que ser interpretados como indicação desse ocaso. Os
um ser humano acha os planos de proporções defini construtivistas defendiam a mecanização da arte e
das e intencionais mais agradáveis ou mais belos do do design por meio do posicionamento matemático
que os de proporções ac identais." de elementos geométricos abstratos como a forma
Jan Tschichold. A forma do livro: ensaios sobre tipo mais adequada de exprimi r a cultura industrial. Neste
grafia e estética do livro, 1975 [ed. bras. 2007] cartaz. Tschichold orienta-se pelos ideais constru
tivistas de abstração geo métrica. organização visual
Este cartaz foi desenhado por Jan Tschichold (1902- matemática e tipografia assimétrica - tal como pre-
74) em 1 929 para anunciar uma exposição de arte. gava em seu livro Die Neue Typographie [A nova ti
Como ele foi criado numa época em que já declinava pografia], publicado em 1928.
o movimento construtivista. o círculo e a linha p odem
..
..
66
kunslhaJie be.s.el
konstruktivisten
'""'
kln&-.sk)'
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li :kf
mohol)'-1'11119)'
?=" • &m: r
''
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'nii
i MgetlOO
ii
-
Análise Triângulo compositivo
O diâmetro do círculo é usado como A tipografia forma um
unidade de medida tanto para o formato triângulo que serve para
do cartaz como para a distribuição de ancorá-la no formato
seus elementos. O próprio círculo é um do cartaz e acentua o
ponto focal, atraindo inexoravelmente o interesse visual.
olhar. Ele também destaca o título da
exposição, assim como a relação dos
artistas participantes. O pequeno círculo
junto à linha de texto com as datas de
abertura e encerramento da mostra é um
fator de pontuação visual na medida em
que ecoa e contrasta em escala com o
círculo principal. A lista dos participantes
da exposição começa no ponto de
intersecção da diagonal do próprio cartaz
com a diagonal da seção retangular
inferior. As distâncias entre os textos e os
elementos principais são módulos da
distância entre a linha horizontal e a linha
de base do termo konstruktívisten, que
está centralizado no circulo.
67
Proporções do cartaz
O formato retangular estreito é uma
página pentagonal e deriva de um
pentágono inscrito num círculo. O lado
superior do pentágono invertido coincide
com a largura do retângulo e seu vértice
Projetado em 1938 por Jan Tschichold, este cartaz "der berufsphotograph", é impresso em íris, técnica em
destinava-se a uma exposição da obra de fotógrafos que as cores se mesclam quando tintas distintas (ama
profissionais e desde então tornou-se um clássico por relo, vermelho e azul) são adicionadas ao cilindro de
sua concepção e composição. Devido ao conteúdo da impressão. Esse arco-íris tipográfico é um raro desvio
mostra, a imagem é figu rativa, mas também abstra expressionista em relação ao formalismo que marca o
ta pois a mulher é retratada em negativo fotográfico. resto da obra de Tschichold. Todavia, sua predileção
Essa técnica dirige a atenção do espectador para os pela tipografia assimétrica e funcional é evidente na
procedimentos fotográficos em vez de ressaltar as ca disposição das texturas e elementos tipográf icos me
racterísticas dessa mulher específica. O título principal, ticulosamente alinhados e interconectados.
68
seine •beaeo - sein wertzeag
'II II ,. ....
tl ll u =" M-1!1 1 9-1 1.
....
". lt-11 14•lt
i• tiiW
''
n Relações do retângulo
a- de raiz 2
e Um diagrama de
o construção de raiz 2
o foi sobreposto ao cartaz.
o O canto do retângulo
a recíproco e as diagonais
e- bissectam o olho da '
''
mulher na foto.
-
''
,,
69
linha central
Análise
A foto em negativo estii exatilmente à direita do centro
do cartaz em formato retangular de raiz 2. O olho
esquerdo da figura está cuidadosamente posicionado e a
imagem foi recortada de modo a se tornar o nexo das
diagonais que regem o posicionamento dos elementos.
As medidas de largura e altura da imagem repetem-se
nos elementos tipográficos à esquerda.
Cadeira P lywood, Charles Eames, 1946
Embora contasse com bolsa integral para estudar ar Sua cadeira Plywood, de madeira compensada mol
quitetura, Charles Eames (1907-78) abandonou a fa duda, foi projetada para a Organic Furniture Competi
culdade após dois anos na Universidade Washington, tion (Concurso de Mobília Orgânica), patrocinada pelo
em St. Louis. cujo currículo se baseava no ensino tra Museu de Arte Moderna de Nova York em 1940. Eames
dicional das academias de belas-artes. Certamente e seu colaborador, o arquiteto Eero Saarinen, preten
algo nada animador para quem já demonstrava um diam fazer uma junção de formas orgânicas em um
ardoroso interesse pelo modernismo e pela obra de todo unificado. A peça resultante, com belas formas
Frank Lloyd Wright. Porém, no decorrer de sua car curvilíneas. cativou os jurados, assim como as inovado
reira, Eames veio a apreciar os fundamentos de sua ras técnicas de moldagem tridimensional da madeira
formação acadêmica. sobretudo os princípios clássi e de fixação de compensado e metal com borracha.
cos de proporção. A cadeira ganhou o primeiro l ugar na competição.
,,
70
Cadeira Plywood
Há um modelo todo em madeira
compensada (acima) e outro com
compensado e estrutura metálica
(direita). A cadeira também foi concebida
em duas versões: uma mais baixa, para
uso na sala de estar, e outra um pouco
mais alta, para a sala de jantar.
Até hoje em produção, o modelo atual foi desen·
volvido a partir da cadeira original. É impossível afir
mar inequivocamente que a relação das proporções
da cadeira com o retângulo áureo tenha sido deci
d i d a de propósito, mas a formação acadêmica clás
sica de Eames, assim como sua colaboração com
Saarinen, faz com que isto seja bastante provável.
Encosto (acima)
O encosto enquadra-se
perfeitamente em um
retã ngulo áureo. '
'
/
/
/
Proporções (à direita) /
de jantar. as proporções
são bem próximas da
seção áurea.
71
Proporções dos detalhes
Os raios dos cantos do
encosto e as pernas
tubulares são
proporcionais entre si,
nas razões 1 4:6:8.
A=l
B= 4
C= 6
D= 8
Cartaz "Konkrete Kunst ", Max Bill, 1944
"Estou convenc1do de que é possível desenvolver uma Entre as características do De Stijl na década de 1920 cc
arte recorrendo sobretudo ao pensamento matemático." estava a ri gorosa divisão do espaço com linhas verti A•
Max Bill, entrevista de 1949, republicada em Typogra· cais e horizon tais. Tal te ndência, porém, já se atenuara as
phic Communications Today, 1989 quando Bill desenhou este cartaz em 1 944. Aqui tam· dii
bém o espaço está dividido, mas com círculos e arcos, e Cit
Max Bill distinguiu-se como artista plá stico, arquiteto as rígidas linhas horizontais de alguns dos tipos De Stijl a�
e tipógrafo. Na Bauhaus, estudou com Walter Gropius, são modificadas a fim de incluírem círculos e diagonais. CC
László Moholy·Nagy e Josef Albers, entre outros. Ali foi O uso da abstração geométrica por Bill passou
influenciado pelos ideais do funcionalismo, pelo estilo com o tempo a incluir elementos tipográficos. Os ca· PI
De Sti jl e pelas técnicas de ordenamento matemático. racteres são desenhados à mão com base no mesmo A
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72
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A construção de raiz 2 está diretamente
associada à posição dos círculos. A
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a Proporções do círculo (extrema direita)
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o A proporção dos círculos é 1:3:6.
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Análise
O diâmetro do circulo
menor corresponde a
�kbV1k(�t�
1/3 da largura do cartaz,
1/3 do diâmetro do círculo
intermediário e 1/6 do
diâmetro do circulo maior.
Os tipos menores estão I
kvV1st
alinhados com o circulo
pequeno; este também é
referência, nos pontos de
tangência com os círculos ,,
73
C18. �,Ãr:z
- - - - - - t�s... - ., - -
16 · .Af"ril ,
1944
I
� !k\;VtstV1Ail�
brAS�I
princípio de raiz 2 do formato do cartaz. Cada carac
tere mantem uma relação geométrica direta com a
estrutura do retângulo de raiz 2 e foi criado de forma
modular. A mesma fonte foi usada e m outro s carta
zes e também em uma exposição projetada por Bill
em 1 949.
Construção da tipografia
O quadrado de construção do retângulo é
a linha de base e a linha mediana, ou
altura-x, dos caracteres em caixa-baixa. Os
segmentos ascendentes e descendentes
são definidos pelo comprimento do
retángulo de rai z 2. Os traços baseiam-se
na construção geométrica com ângulos
restritos a 45•. As exceções ocorrem no s.
com ângulos de 30• e so•. e nos traços
principais do a e do v, com ângulos de 63•.
Dois retângulos de raiz 2 são usados na
construção dom, quê équivalê a dois n
repetidos. Os numerais são criados com os
mesmos métodos de construção e exibem
circules perfeitos, refletindo as formas
circulares maiores na composiçllo.
74
Proporções no corpo
das letras
As letras têm peso único
e a mesma proporção dos
círculos, ou seja, 1:3:6.
Cartaz "Pevsner
Vantongerloo Bill",
Max Bill, 1949
Criado quatro anos depois
do "Konkrete Kunst", este
cartaz usa o mesmo
método de construção da
tipografia. Mais tarde, Bill
aperfeiçoou ligeiramente a
construção das letras para
uso em uma exposição;
essa fonte atualmente é
distribuída pela The
Foundry, de Londres.
75
Capela do Instituto de Tecnologia de Illinois, Mies van der Rohe, 1949-52
Mais conhecido por seus monumentais arranha-céus A capela do Instituto de Tecnologia é um bom
de aço e vidro, Mies van der Rohe dominava com per exemplo da maneira como ele usa as proporções em
feição os sistemas de proporções. Muitos desses edi um edifício de menor escala. Toda a fachada do pré
fícios são tão similares, em termos de forma e pro dio está na proporção áurea, 1:1.618, ou apro ximada
porção, que podem ser considerados versões de um mente 3:5. O edifício pode ser di vidido exatamente
arquétipo único. Durante vinte anos, Mies foi diretor em 5 retângulos áureos; quando estes são repetidos,
da Faculdade de Arquitetura do Instituto de Tecnolo- vê-se que o prédio é um módulo constituído por 5 x 5
gia de Illinois e, nesse período, projetou todo o cam- retângulos horizontais.
pus e vários dos seus edifícios.
,,
76
Capela do Instituto
de Tecnologia de Illinois
(acima) Vista externa da
fachada frontal.
(direita) Vista do interior.
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Proporções áureas
do�e ndê ncias <J{l serviço ..•·j
As proporções áureas são facilmente notadas nestes .:,- .
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desenhos. (no alto, a esquerda) A fachada frontal da
capela pode ser dividida em uma série de retângulos . o[p''
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I
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áureos que circundam as grandes janelas superiores e
l
as janelas basculantes de ventilação no alto. As grandes
aberturas inferiores são quadrados. (no alto, à direita)
altar
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O corte do interior. tendo o altar ao fundo, mostra que __
o perímetro da fachada frontal pode ser definido por
3 retângulos áureos. (direita) A planta do perímetro
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--lI
gu ada
r �corpo 1
da capela enquadra-se exatamente em um retângulo
áureo. O quadrado do retflngulo áureo delimita a área I
77
altar e por um guarda -corpo. O projeto original da I
I
I
I
I
I
I
I
I
"As proporções dos elementos formais e dos espaços in para a sala de concertos Tonhalle. em Zurique, nas dé
termediários quase sempre estão associadas a determi cadas de 19 40 e 1950, foram cruciais para o estabe
nadas progressões numéricas logicamente dedutíveis." lecimento de um padrão para o ordenamento visual
Josef Müller-Brockmann, The Graphic Artist and His com base em sistemas de grid.
Design Prob/ems [O artista gráfico e seus problemas Como obra conceituai, os ritmos geométricos dos
de design), 1961 arcos de circunferência concêntricos estão di reta
mente associados às estruturas e aos sistemas ma
Josef Müller-Brockmann (1914-96) é conhecido como temáticos presentes na música. Como obra de de
um dos fundadores do chamado estilo tipográf ico in sign planejada, há um motivo para as dimensões e
ternacional, ou estilo suíço. Os cartazes que desenhou o posicionamento de todos os elementos no cartaz.
,.
78
beethoven
� cart schwidrt
sollst woltv.-n o �Mriderhan
Análise
O centro do circulo esta
na margem supenor
esquerda do bloco de
texto Def1n1dos a part1r
desse centro. todos os
&ngulos t�m como base
vm módulo de 45° Os
ângulos merores silo 1/4
do módulo, ou 11,2s•, os
termedia11os são 1/2 do
módulo, ou 22.s•. e os
ma1ores eqUivalem ao
módulo
79
A d rástica variação na proporção dos arcos concên
tricos reflete a dramaticidade da própria música de
Beethoven.
As obras de Müller-Brockmann podem ser analisa
das geom et r icamente da mesma maneira, pois todas
são logicamente construídas de acordo com um rigo
roso planejamento matemático.
Análise
O centro do círculo está
na margem superior
esquerda do bloco de
texto. Definidos a partir
desse centro, todos os
ângulos têm como base
um módulo de 45°. Os
ângulos menores são 1/4
do módulo, ou 11,25•. os
interm ediar ias são 1/2 do
,,
módulo, ou 22,5•, e os
maiores equivalem ao
módulo.
À medida que se
afastam do ponto central,
os arcos de círculo variam
de largura. de uma a 32
unidades. dobrando de
79
largura prog ressivamente.
O bloco de texto que
transborda à esquerda e o
respectivo ângulo vertical
constituem um eixo. assim
como a linha horizontal
que assinala o topo do
texto e seu respectivo
ângulo horizontal.
Orientação angular (direita)
A proporção e o posicionamento
planejados para os ângulos ficam logo
evidentes com a inscrição de um
quadrado no círculo menor.
Estrutura de raiz 2 (extrema direita)
O formato do cartaz está baseado num
retãngulo de raiz 2, como se vê no
diagrama de construção de raiz 2.
O centro do círculo está situado na base
do quadrado de construção.
Proporção do arco
A largura dos arcos de círculo varia de uma
a 32 unidades. Cada arco sucessivo tem a
largura dobrada em relação ao anterior: 1,
2, 4. 8, 16. 32. O maior arco, de 32 unidades,
é apenas sugerido por seu segmento no
canto superior direito do cartaz.
,,
Desenho original
Abaixo vê-se o desenho
80
original de produção feito por
Josef Müller-Brockmann.
Cartaz "Musica Viva", Josef Müller-Brockmann, 1957
dOMEil'Staa
erlchschmld
sollsten
florewend
Asede montmolln
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17.Januar 20.15uhr buguescuénod
19!;7 geseng
heinz woester
t�• sprecher
g�Jisdlaft zOrlch
,,
81
Diagrama
(acima) Diagrama original deste cartaz.
Cartaz "Music a Viva", Josef Müller-Brockmann, 1958
Este cartaz de Müller-Brockmann também pertence O c artaz tem o formato de um retângulo de raiz 2,
à ser ie do Tonhalle e. tal como o restante de sua obra, determinado pelo traçado de um arco a p artir de seu
baseia-se em um esquema geométrico. Os elementos l imite horizontal superior. O lado inferior do quadra
repetidos são círc u los, e há um jogo com os espaços do torna-se a linha horizontal que centraliza o segun
e as proporções. Do menor para o maior, cada círculo do menor círcu lo. As l i nhas verticais que passam pelo
é 2 1/2 vezes �a io r que o anterior. Isto se nota no dia centro de dois dos círcu los guiam o posicionamento
grama, onde cada círc u lo ocupa um quadrante. das colunas de texto, e o centro do circulo maior está
al i nhado com a margem do próprio cartaz.
"
82
83
Análise
posicionamento dos c1rculos é definido pela
agonal do quadrado, com os centros dos círculos
,postos entre SI em ângulos retos. Há uma
oporc1onalldade de 1 1.41 entre a altura·x de
us1ca v1va e o menor c�rculo. Esta é uma proporção
83
Análise
O posicionamento dos círculos é definido pela
diagonal do quadrado, com os centros dos círculos
dispostos entre si em ângulos retos. Há uma
proporcionalidade de 1 : 1,41 entre a altura-x de
musica viva e o menor circulo. Esta é uma proporção musica viva
de raiz 2. A largura das colunas é dete rm i nada pelos
perímetros e centros dos círculos.
kl:U'1e�>!rt..2�••1'l�3 .
y'('.('V('fl(:.vf tQt>�.,!l�loll.0.$9 1\oJj:i
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Cadeira Tulipa, Eero Saarinen, 1957
A predileção de Eero saarinen (1910·61) pela simplici· pernas das cadeiras e da mesa de jantar. Para solu·
dade e pelas formas unitárias é notável seja em sua ar cionar isso, concebeu formas tão elegantes, moder
quitetura, como no Arco da Passagem (Gateway Arch) nas e inesperadas que as peças desse conjunto aca·
em St. Louis. no Missou ri, seja em projetos de móveis, baram se tornando símbolos do futuro.
como no conjunto Pedestal. do qual faz parte a ca· Abaixo pode-se ver a versão sem braços da cadei·
deira Tulipa. Saarinen havia colaborado anteriormente ra Tulipa, que faz parte de um conjunto que inclui
com Charles Eames no desenho da cadeira Plywood, bancos, cadei ras com braços e mesas laterais. Quan
e sua busca de formas orgânicas unificadas afinal de do examinada de frente e de lado, nota-se que a ca·
sembocou no famoso conjunto Pedestal em 1957. deira segue fielmente as proporções áureas. e a cur·
Saarinen procurou simplificar os inter iores das re· vatura do pedestal relaciona-se com a elipse áurea.
sidências e eliminar o que via como uma confusão de
"
84
Elipse áurea � q '!•;' r�d..?
_ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _
Análise
Em vista frontal, a cadeira enquadra-se
com facilidade nas proporções áureas
(extrema direita). Desta perspectiva, a
cadeira também pode ser analisada como
dois quadrados sobrepostos: o quadrado
inferior estendendo-se até o topo do
assento, e o superior estendendo-se
até o ponto de conexão entre o pedestal
e o assento.
As curvas principais do pedestal
.,
conformam-se as proporções da elipse
áurea, tanto na parte superior como �-------------------·
q ua drado
na inferior.
Perspectivas frontal
e lateral
85
Tanto de uma perspectiva
lateral (direita) como de
uma frontal (extrema
direita), a cadeira Tulipa
encaixa-se com exatidão
num retângulo áureo. O
limite frontal da cadeira
fica no ponto central do
retângulo. O pedestal, até
o ponto de fixação no
assento, tem cerca de 1/3
da altura da cadeira.
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I
I
I
I
I
I
I
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Cartaz "Vormgevers", Wi m Crouwel, 1968
Este cartaz foi concebido em 1968, muito antes da di papel cada vez mais relevante na comunicação tipo
fusão dos m icrocomputadores. Naquela época, ape gráfica. O cartaz tem um formato de raiz 2, com um
nas os bancos e as grandes empresas faziam uso in grid de quadrados, e uma simples divisão ao meio. O
tensivo de computadores, e a tipografia desse cartaz padrão do grid apresenta certa complexidade, pois
tem uma aparência similar à dos números destinados cada quadrado é subdividido por uma linha colocada
a serem li dos por máquinas, como no caso dos talões a 1/5 da distância entre o topo e a margem direita. As
de cheques. Além de remeter a fontes dos primór formas das letras são criadas "digitalmente", a partir
dios da computação eletrônica, a tipografia do cartaz dos quadrados definidos por esse grid. As linhas adi
antecipa a era digital que estava prestes a começar. cionais determinam o raio dos cantos das letras, e o
Já naquela época Wim Crouwel (n. 1928) vislumbrava mesmo raio é usado para a interligação dos traços.
que as telas e os computadores iriam desempenhar
,,
86
Análise
87
O sistema de construcão das letras
baseia-se no uso de um grid, mostrado
nos diagramas com linhas vermelhas.
A rigidez dos quadrados é atenuada pelo
emprego dos raios correspondentes às
linhas adicionais situadas a 1/5 da distância
entre o topo e a margem direita, indicadas
no diagrama por meio de linhas cinzentas.
O grid permite a criação "digital" de
traces horizontais, verticais e diagonais.
O alfabeto só tem letras minúsculas e o
espaçamento entre estas é feito por
espaces finos. Na criação da maioria dos
caracteres foi usado um padrão de 4 x 5
unidades. Os caracteres mais estreitos.
como o i e o j, ocupam apenas a largura
de um módulo do grid. O texto no alto do
cartaz tem 1/5 da altura do Lexto na parte
inferior.
Cartaz "Fürstenberg Porzellan", lnge Druckrey, 1969
Este cartaz de lnge Druckrey alude magnificamente à Tal como a maioria dos cartazes europeus do século
sutileza e à delicadeza da porcelana Fürstenberg. As XX. este tem o formato padrão de raiz 2, e seus elemen
formas das letras são construções esguias e geomé· tos também se estruturam a partir dessa proporção.
tricas com o mesmo peso, e o seu desenho curvilíneo, As linhas horizontal e vertical centrais se encontram
sobretudo do u e do r, é uma composição assimétri quando o olho do espectador segue o traço vertical do
ca que exibe uma elegância harmoniosa e intemporaL número 1, próximo do vértice do A maiúsculo.
,.
221
JAH RE
88
f'ORZ E L LAN
MA N U -
FAI <TU R
F U R STE N
G E RG
Construção das letras
A largura padronizada dos
Análise
As letras do texto "221
Jahre Porzellan Manufaktur
•
deJ
. <hule Kreleló
·U69 r·tag
Qffnungsz.
ci:cn:
'-!ootag.Frellag10-18 Uhr
10·13 UIY
j___
i'
alto têm altura equivalente
a 2/3 daquela das letras
maiores. O monograma da
__
II
fábrica de porcelana, um F
,,
em itálico e uma coroa.
tem o dobro da altura do
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quadrado de construção
das letras maiores.
89
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'l.
Cartaz "Majakovskij", Bruno Monguzzi, 1975
Bruno Monguzzi (n. 1941) recupera neste cartaz para compositiva. Hierarquicamente, os nomes dos três
uma e xposição de artistas russos em Milão o espírito artistas - "Majakovskij", "Mejerchold" e "Stanislavskij"
dos primeiros construtivistas refletindo os i deais revo - têm o maior impacto visual. As faixas e a ti pogra
lucionários da década de 1920. O uso de cores atenu fia estão na mesma proporção. Uma ideia de espaço
adas - vermelho, preto e cinza - e os incisivos retân visual é transmiti da pelas faixas sobrepostas e pela
gulos dispostos em ângulos de 45• conferem à obra transparência indicada pela sobreposição da faixa ver
um funcionalismo que era a marca dos construtivistas. melha e da cinza, com uma consequente diferença
Monguzzi usa os mesmos tipos sem serifa e as de tonalidade.
técnicas construti vistas com aguçada perspectiva
,.
90
Elementos proporcionais
A largura das faixas nas quais se destaca a
tipografia segue a razão 2:3:4. Tal
proporção também é aplicada no corpo
dos caracteres, que seguem a mesma
razão de 2:3:4.
Formato de raiz 2
O método de construção do retângulo de
raiz 2 com um círculo revela o "x"
centralizado que rege a composição.
Análise
O ângulo reta com que
cada uma das faixas
sangra os limites do
cartaz cria uma vigorosa
tensão visual.
,,
91
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/
Processador de alimentos Braun, 1987
O projeto simples e elegante dos eletrodomésticos Os projetistas industriais dessas obras de arte tridi
da marca Braun vem há muito cativando artistas, ar mensionais recorrem aos mesmos esquemas e desen
quitetos e designers. Muitos desses utensílios foram volvem as mesmas relações formais usadas por seus
incluídos na coleção permanente de design do MOMA colegas que se dedicam ao design gráfico. E devido
de Nova York. Pretos ou brancos, os produtos Braun às qualidades tridimensionais, tais relações são tanto
têm quase sempre formas despojadas, simples e geo visuais como estruturais.
métricas. apenas com os botões de controle essen
c iais. O design simplificado confere a cada aparelho
a aparência visual de uma peça de escultura funcional.
92
Estrutura e proporção
O comprimento do eixo
longo do processador é 1/3
da altura total do aparelho.
93
Cafeteira Aromaster Braun
94
Estrutura e proporção
A superfície da cafeteira
pode ser dividida em u ma
série de elementos
regulares. Cada um deles
foi cuidadosamente
concebido para se
harmonizar com os outros.
A marca da empresa fica
ligeiramente acima do
centro. O formato
cilíndrico do aparelho tem ,,
o seu eco na forma da alça,
que é um segmento de
círculo. A trave diagonal
da alça está alinhada com
a ponta superior da
cafeteira. A simetria dos
elementos pode ser
95
notada no botão inferior,
alinhado com as marcas
de medida na vasilha e
também com as aberturas
de ventilação no alto.
Chaleira 11 Conico, Aldo Rossi, 1980-1983
Há muito a empresa italiana Alessi é conhecida por A chaleira é uma composição unificada de sólidos trid
incentivar e produzir projetos experimentais e avan geométricos. O formato principal é o do cone de um ind
çados concebidos por designers. Seus produtos com triângulo equilátero. que permite à superfície inferior do
binam ousadamente aspectos artísticos e funcionais, aproveitar ao máximo o contato com a fonte de ca fo n
e é isso o que se vê na chaleira 11 Con i co. Aldo Rossi lor, tornando mais eficiente o aquecimento. A forma tid·
(1931-97), seu criador, trabalhava como um artista con facilmente se divide segundo um grid de 3 x 3 unida ge•
ceituai, que privilegiava a concepção do objeto e só des. O terço superior da chaleira, o vértice, termina em co
depois discutia com os técnicos industriais os deta uma encantadora esfera pequena, que facilita a remo
lhes do processo de produção. ção da tampa, mas também funciona como pontuação
96
tridimensional para o v értice. Já o terço intermediário
inclui o bico e a alça. A alça projeta-se horizontalmente
do corpo da chaleira e depois desce na vertical. Esse
formato pode ser considerado um triângu lo reto inver
tido ou uma porção de um quadrado. Todas as formas
geométricas primárias estão presentes na composição:
cone, triângulo, círculo, esfera e quadrado.
Estrutura geométrica
A chaleira pode ser
facilmente analisada com
um grid de 3 x 3. O terço
superior compõe-se da
tampa e da esfera no vértice,
a porção intermediária
97
abrange o bico e a alça e o
terço infer ior, a base.
Novo Fusca, Volkswagen, Jay Mays, Freeman Thomas, Peter Schreyer, 1997
Antes de ser um carro, o Novo Fusca, da Volkswagen, presente no formato das janelas laterais, com a porta
é uma peça de escultura cinética quando circula pe- inscrita no quadrado do retãngulo áureo, e a janela
las ruas. Nitidamente diferente de outros veículos, ele traseira no retângulo áureo recíproco. Todos os de
transmite com eloquência a ideia de coesão formal. Sua talhes das variações na superfície tangenciam elipses
carroceria é ao mesmo tempo antiquada e futurista, áureas ou círculos. Até mesmo a posição da antena
uma fusão de geometria e nostalgia. segue um ângulo tangencial à roda dianteira.
A carroceria encaixa-se perfeitam ente na meta
de superior de uma elipse áurea. Esta também está
,.
98
Perspectiva frontal
te do carro é quase um q adrado.
todas as superfic1es s1métncns
rca da empresa fica no cent•o
drado.
Análise
I
I
I
I
99
Perspectiva frontal
A frente do carro é quase um quadrado,
com todas as superfícies simétricas.
A marca da empresa fica no centro
do quadrado.
Análise
Uma elipse áurea foi
inscrita no retângulo áureo
do diagrama de
construção. A carroceria
enquadra-se com exatidão
na metade superior dessa
elipse. O eixo principal
está alinhado com a
carroceria logo abaixo
do centro das rodas.
,,
Antena
O ângulo da antena
tangencia o círculo do
paralama dianteiro, e a
base da antena está
alinhada com o paralama
traseiro.
_,
---
,,
100
Epílogo
Serviços editoriais
Christopher R. EIam,
Trumbull, Connecticut
Editor de matematica
Dr. David Mullins,
Professor associado de Matemática,
New College of the University of
South Florida
Mary R. Elam
Charlotte, Carolina do Norte
Johnette lsham
Ringling School of Art and Design
Jeff Maden
Suncoast Porsche, Audi, Volkswagen
Sarasota, Flórida
Allen Novak
Ringling School of Art and Design
Jim Skinner
Sarasota, Flórida
"
Créditos:
A analise do cartaz "Majakovskij", de
Bruno Monguzzi, baseia-se em analise
original feita por Anna E. Cornett, Ringling
School of Art and Design
Cadeira Barcelona, Mies van der Rohe, "Musica Viva", 1957, Josef Müller-Brockmann,
cortesia Knoll. foto, cortesia de Shizu ko Yoshikawa.
Cadeira Brno, Mies van der Rohe, "Musica Viva", 1g58, Josef Müller-Brockmann,
cortesia Knoll. foto, cortesia de Shizuko Yoshikawa.
Capela do Instituto de Tecnologia de Illinois, foto de "Pevsner. Vantongerloo, Bill", Max Bill,
Hedrich Blessing, cortesia da Chicago Historical Society. acervo Merrill C. Berman.
Chaleira 11 Conico, Aldo Rossi, Pinha, conchas. cafeteira Braun, fotos de Allen Novak.
produzida por Alessi.
Processador de alimentos Braun, foto, cortesia da Braun.
Chaise Longue, Le Corbusier,
Tabelas e gráficos de Fechner, H. E. Huntley, The Divine
tortesia de Cassina EUA.
Proportíon: A Study in Mathematical Beauty. Nova York:
50 Years Swiss Poster: 1941-1990, Swiss Poster LE CORBUSIER. Le Modular. Basileia: Birkhãuser, 2000
Advertising Company, 1991. [reedição facsimilar da edição original de 1950].
ADES, Dawn. The 20 th Century Poster - Design of the awings. Nova York: Dover Publications, 1980.
Leonardo Dr
Publications, 1991.
STRAUSS. Walter L (org.). The Human Figure by
DOCZI, Gyõrgy. O poder dos limites: harmonias e Albrecht Oürer, The Complete Oresden Sketchbook. Nova
proporções na natureza, arte e arquitetura. São Paulo: York: Dover Publications, 1972.
Mercuryo, 1990.
SWEET, Fay. Alessi: Art and Poetry. Nova York: lvy Press,
DREXLER, Arthur. Ludwig Mies van der Rohe. Nova York: 1998.
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Elam, Kimberly
Geometria do design: estudos sobre ,,
proporção e composição: Kimberly Elam
Titulo original: Design Geometry
Tradução: Claudio Marcondes
São Paulo: Cosac Naify, 2010.
108 pp., 63 i Is.
ISBN 978-85-7503-703-4
09-12607 CDD-701.8
COSAC NAIFY
Rua General Jardim, 770, 22 andar
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A geometria é a linguagem do
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crianças, os velhos, os selvagens,
Le Corbusier