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Formacao Docente para Diversidade PDF
Formacao Docente para Diversidade PDF
FORMAÇÃO DOCENTE
PARA A
DIVERSIDADE
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48416 FORMAÇÃO
DOCENTE PARA
A DIVERSIDADE
Margarete Terezinha de Andrade Costa
Formação Docente
para a Diversidade
ISBN 978-85-387-6157-0
Produção
A superação dos problemas sociais, comuns no cotidiano brasileiro, se dá com uma edu-
cação voltada à cidadania. Esta exige conhecimento sobre ações e políticas necessárias para a
transformação social, pois se acredita que a desigualdade é superada com a universalização do
acesso e permanência bem-sucedida numa escola de qualidade.
Este livro foi escrito com intenção de contribuir para a mudança necessária na formação
do professor, alunos e comunidade escolar na busca de uma educação suficiente para formar
pessoas comprometidas com a democratização da sociedade brasileira, que possui em sua raiz
a riqueza da pluralidade e da diversidade.
Para procurar dar conta de uma formação docente para a diversidade, discutiremos a
prática docente na diversidade, ressaltando o conceito de alteridade, os diversos níveis e mo-
dalidades de ensino, a educação profissionalizante, em tempo integral, de jovens e adultos,
especial e inclusiva, a distância, no campo e indígena.
Sobre a autora
Aula
1 A PRÁTICA DOCENTE NA DIVERSIDADE 9
PARTE 1: POR QUE PENSAR A DIVERSIDADE NA EDUCAÇÃO? 10
PARTE 2: FORMAÇÃO DOCENTE: ÁREAS DE ATUAÇÃO 14
PARTE 3: DIVERSIDADE CURRICULAR: UM DESAFIO 20
Aula
2 NÍVEIS DE ENSINO 28
PARTE 1: EDUCAÇÃO BÁSICA 29
PARTE 2: EDUCAÇÃO SUPERIOR 36
PARTE 3: POLÍTICAS PÚBLICAS NA AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM 39
Aula
3 MODALIDADES DE ENSINO 46
PARTE 1: DEFINIÇÃO DE MODALIDADES DE ENSINO 47
PARTE 2: FINALIDADES E OBJETIVOS 52
PARTE 3: CARACTERÍSTICAS CURRICULARES E DIRETRIZES 56
Aula
4 EDUCAÇÃO PROFISSIONALIZANTE 63
PARTE 1: EDUCAÇÃO TÉCNICA DE NÍVEL MÉDIO 64
PARTE 2: EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA 66
PARTE 3: ABRANGÊNCIA DE CURSOS X MERCADO DE TRABALHO 71
Sumário
Aula
5 EDUCAÇÃO EM TEMPO INTEGRAL 84
PARTE 1: O QUE É EDUCAÇÃO EM TEMPO INTEGRAL? 84
PARTE 2: O QUE PRETENDE A EDUCAÇÃO EM TEMPO INTEGRAL? 89
PARTE 3: LEGISLAÇÃO ESPECÍFICA E LDB 91
Aula
6 EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS 99
PARTE 1: OBJETIVO DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS 100
PARTE 2: DIREITO DE ACESSO E GRATUIDADE 106
PARTE 3: AÇÕES E PROGRAMAS DE INCENTIVO À EJA 109
Aula
7 EDUCAÇÃO ESPECIAL E A INCLUSÃO 117
PARTE 1: DEFINIÇÕES DA LEI PARA EDUCAÇÃO ESPECIAL 118
PARTE 2: ADAPTAÇÕES PARA O ATENDIMENTO A ALUNOS ESPECIAIS 123
PARTE 3: DESAFIOS PARA EDUCAÇÃO ESPECIAL SER INCLUSIVA 129
Aula
8 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 137
PARTE 1: O QUE É EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 138
PARTE 2: LEGISLAÇÃO ESPECÍFICA NA EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 142
PARTE 3: REGULAMENTAÇÃO E CERTIFICAÇÃO 145
Sumário
Aula
9 EDUCAÇÃO NO CAMPO E EDUCAÇÃO INDÍGENA 153
PARTE 1: EDUCAÇÃO NO CAMPO 154
PARTE 2: EDUCAÇÃO INDÍGENA 156
PARTE 3: O QUE DIZ A LEI SOBRE EDUCAÇÃO INDÍGENA 160
Aula
10 PANORAMA DA DIVERSIDADE DA EDUCAÇÃO NO BRASIL 171
PARTE 1: AÇÕES E POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A UNIVERSALIZAÇÃO DE ACESSO À EDUCAÇÃO 172
PARTE 2: CONTRIBUIÇÃO DAS AÇÕES DE INCENTIVO À EDUCAÇÃO 176
PARTE 3: O PROFISSIONAL DA EDUCAÇÃO COMO AGENTE DE MUDANÇAS 179
Aula 1
A Prática
Docente
na Diversidade
Prática docente e diversidade, duas categorias que exigem
um exercício de reflexão intensa e desafiadora. Intensa pela
complexidade que o universo docente se apresenta e desafiadora
porque nos exige um ir além do que se sabe e do que se vive. O mais
interessante disso é que ambas as categorias são infinitas, isto é,
não se acabam; não conseguimos definir, estruturar e conhecê-las
de forma terminal. Elas crescem à medida que o nosso contexto
social se modifica. Assim, elas também se modificam à medida
que os seres vivem suas relações humanas. Elas não se esgotam
em um único estudo e em uma única observação, pois são tão
variáveis como nós.
Para começar a conhecer a prática docente na diversidade,
começaremos essa aula questionando: por que pensar a diversidade
na educação? Em seguida, buscaremos como se dá a formação
docente e suas áreas de atuação e, por fim, terminaremos com o
desafio da diversidade curricular.
Parte
1 Por que pensar a diversidade
na educação?
Para pensar a diversidade na educação devemos entender primeiramente o que é diversidade.
O Dicionário Michaelis traz a seguinte definição:
Feng Yu/Shutterstock
Diversidade -
1 Qualidade de diverso.
2 Variedade (em oposição a identidade); multiplicidade.
Assim, a diversidade está voltada para a variedade, a pluralidade, a diferença. Se formos analisar o
contexto em que vivemos, perceberemos que são poucas as coisas não variáveis. Na realidade, raras são
exatamente iguais. Vivemos em um universo ímpar, isto é, composto de elementos diversos.
Estamos rodeados de diversidade biológica, cultural, linguística, religiosa, étnica, musical, entre tan-
tas outras. Assim, pensar a diversidade na educação significa tornar visível o que está implícito em nossas
relações sociais.
Organização familiar • pai, mãe e filhos; mãe e filhos; avós e netos; casal homoafetivo...
Desta forma, podemos perceber que estamos inseridos em um contexto social composto por elementos
diversos. Daí a importância de a temática da diversidade ser infinitamente explorada frente às relações humanas.
Observe o cartaz da Associação ILGA Portugal, que nos faz refletir e repensar a organização familiar:
TÍTULO II
DOS DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS
CAPÍTULO I
DOS DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS
Art. 5.º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, ga-
rantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade
do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade,
Todos nós somos iguais perante a lei, não devendo haver distinção de qualquer natureza. A lei ainda
traz que: “I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações”.
A Constituição traz no mesmo artigo a liberdade de crença:
Temos, então, respaldo legal frente à diversidade. A lei certifica as diferenças de crenças religiosas,
convicções filosóficas ou políticas e da mesma forma tem assegurado legalmente a livre expressão.
TÍTULO VIII
DA ORDEM SOCIAL
CAPÍTULO III
DA EDUCAÇÃO, DA CULTURA E DO DESPORTO
Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colabo-
ração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua
qualificação para o trabalho.
A educação é direito de todos, independentemente das condições em que a pessoa se encontre, e é dever
do Estado. Ele é responsável em garantir a educação com ajuda da sociedade para o pleno desenvolvimento
da pessoa para a cidadania e para o trabalho.
Agora já podemos responder com mais fundamentos a questão título desta parte da aula: Por que pensar
a diversidade na educação?
Porque a educação é um direito de todos, e a escola como espaço formal do trabalho com a educação,
deve considerar e acolher a diversidade, visto que todos nós somos diferentes.
A escola deve valorizar a diversidade em sua prática pedagógica e levar em conta que nem todos apren-
dem da mesma forma e ao mesmo tempo. Que metodologias devem ser pesquisadas e empregadas a fim
de alcançar a maioria dos alunos. O processo ensino-aprendizagem precisa voltar-se para todos os alunos,
levando-se em consideração suas diferenças.
Por outro lado, a interação com os outros traz à tona diferenças que devem ser respeitadas, todas elas.
As mais explícitas como as de gênero e de etnia e as mais implícitas como as de gostos e de preferências
pessoais. Isso significa não esconder as desigualdades e nem “tolerar” o diferente, mas conhecê-lo, valori-
zá-lo e respeitá-lo como se deve conhecer, valorizar e respeitar todo ser humano.
Aqui cabe um termo importante: a alteridade.
Rawpixel.com/Shutterstock
A alteridade tem como princípio a interação do ser humano com outro ser humano. Somente com essa
interação somos um ser, um “eu” que se relaciona com um “outro” que, por sua vez, também é um “eu”; e
nessa relação se percebe no outro as mesmas necessidades que temos. Ao se colocar no lugar do outro, o
“eu” respeita-o como igual, mesmo sendo diferente. Se a escola entender a alteridade inerente ao ser humano
e trabalhar assertivamente com ela, o papel de educação irá além de um dever ou direito expresso em lei.
Ao lembrar que somos diferentes, a diversidade deve ser vista como natural. Mas não devemos não
perceber que em nossa realidade ela esconde desigualdades, que são “toleradas” pelas elites sociais. Fechar
os olhos e não levar situações de diversidades para discussões coletivas faz da diversidade um problema e
não uma solução, e assim, ela pode ser vista como contradição das desigualdades sociais.
A diversidade é uma grande riqueza que temos, pois ela garante a nossa sobrevivência.
Parte
2 Formação docente: áreas de atuação
O que é ser professor?
A resposta parece simples, porém, exige um aprofundamento maior de reflexão sobre a função docente
– que, aliás, tem várias denominações: professor(a), mestre(a), regente, docente, educador(a), instrutor(a),
catedrático(a), mentor(a), entre outras.
A nossa lei maior – A Constituição Federal – traz o termo: função de magistério:
Cf. Art. 67, §2.º: Para os efeitos do disposto no §5.º do art. 40 e no §8.º do art. 201 da Constituição Federal, são
consideradas funções de magistério as exercidas por professores e especialistas em educação no desempenho de
atividades educativas, quando exercidas em estabelecimento de educação básica em seus diversos níveis e modali-
dades, incluídas, além do exercício da docência, as de direção de unidade escolar e as de coordenação e assessora-
mento pedagógico. (Incluído pela Lei 11.301/2006.)
Observem que, conforme a lei, a função de magistério é exercida por professores e especialistas (quem
faz um curso de especialização – pós-graduação) somente nos estabelecimentos de educação básica e unida-
des escolares. Interessante saber que a função docente admite mais de um exercício, visto que o profissional
da educação pode atuar em instâncias diferentes ao mesmo tempo. Ele pode estar vinculado ao estado e ao
município, por exemplo. Ele pode atuar como regente e atuar também fora de sala de aula.
O Dicionário Aurélio traz:
1 Aquele que ensina uma arte, uma atividade, uma ciência, uma língua etc.
2 Pessoa que ensina em escola, universidade ou noutro estabelecimento de ensino.
3 Executante de uma orquestra de primeira ordem.
O dicionário amplia o âmbito de atuação do professor e sua formação, observe o item um “aquele que
ensina uma arte” pode ser qualquer arte, qualquer artesão. O item três volta-se para a formação musical; o
item quatro, formação religiosa; o item seis, qualquer pessoa que entende muito bem de alguma coisa; o item
6, aquele “que ensina” é professor, assim, mãe é a primeira das professoras.
Vamos começar a nossa conversa retomando a organização da educação no Brasil. Vejamos a tabela a
seguir:
Pré-escola
EDUCAÇÃO
Nossa educação está sob determinação legal – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, de 20
de dezembro de 1996 – LDB 9.394/96. Ela é a legislação que regulamenta o sistema educacional (público
ou privado) do Brasil (da Educação Básica ao Ensino Superior). E é a LDB que estabelece organizações de
ensino, dentre as quais podemos destacar:
• A Educação Básica é constituída pela Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio.
• Há também as modalidades de ensino: Educação de Jovens e Adultos (fundamental ou médio),
Educação profissional ou técnica, Educação Especial e a Educação a Distância (EAD), Educação
do Campo, Educação Indígena.
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Licenciatura
• são aptos a ministrarem aulas na educação básica;
• presença de matérias de cunho pedagógico;
• duração que varia entre 4 e 6 anos.
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Tecnólogo
• apto para atuar em apenas uma área específica;
• têm um objeto de estudo bastante específico.
• duração que varia entre 2 e 3 anos.
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Bacharelado
• estuda um pouco sobre tudo dentro da área escolhida;
• pode atuar em diversas áreas;
• duração que varia entre 4 e 6 anos.
Muitas pessoas pensam que especialização e pós-Graduação é a mesma coisa; observem que os cursos
de Pós-Graduação, como o próprio nome já diz, são aqueles realizados depois da graduação. Assim, a espe-
cialização, o mestrado e o doutorado são cursos que estão dentro da categoria pós-Graduação.
Com relação à administração das instituições de ensino, elas podem ser:
• Públicas – geridas pelo Poder Público.
• Privadas – geridas por pessoas físicas ou jurídicas de direito.
Os órgãos responsáveis pela educação são:
Conselho Municipal de
Nível municipal CME SME Secretaria Municipal de Educação
Educação
Depois desta visão geral da organização da educação no Brasil, vamos localizar os cenários que os
professores se encaixam.
De acordo a determinação legal, podem lecionar nas escolas de Educação Básica, os graduados em
licenciatura e Pedagogia. Os cursos de licenciatura habilitam o profissional a atuar como professor.
A atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação (Lei 9.394/96) traz:
Art. 61. A formação de profissionais da educação, de modo a atender aos objetivos dos diferentes níveis e mo-
dalidades de ensino e às características de cada fase do desenvolvimento do educando, terá como fundamentos:
1.a associação entre teorias e práticas, inclusive mediante a capacitação em serviço;
2. aproveitamento da formação e experiências anteriores em instituições de ensino e outras atividades.
A necessária relação entre a teoria e a prática, esta feita em serviço: Educação continuada.
Art. 62. A formação de docentes para atuar na educação básica far-se-á em nível superior, em curso de
licenciatura, de graduação plena, em universidades e institutos superiores de educação, admitida, como
formação mínima para o exercício do magistério na educação infantil e nas quatro primeiras séries do Ensino
Fundamental, a oferecida em nível médio, na modalidade Normal.
A lei reconhece à necessidade da modalidade Normal, visto a falta de professores licenciados para
atender a demanda de crianças.
Na Educação Infantil e nos primeiros anos do Ensino Fundamental, podem atuar professores com for-
mação mínima de nível médio (Normal e/ou Magistério).
Vamos estruturar as informações de atuação dos professores de acordo com sua formação:
Cursos Atuação
Educação Infantil
Licenciaturas Graduação Ensino Fundamental
Ensino Médio
Educação infantil
Normal Superior Graduação
Primeiros anos do Ensino Fundamental
Educação Infantil
Magistério Nível médio
Primeiros anos do Ensino Fundamental
Educação Infantil
Anos iniciais do Ensino Fundamental
Ensino Médio – na modalidade Normal – formação de professores
Educação Profissional
Pedagogia Graduação Educação de Jovens e Adultos
Serviços e de Apoio Escolar
Gestão do sistema escolar
Gestor de processos educativos
Organização e no funcionamento de sistemas e de instituições de ensino
É importante salientar que os cursos de bacharelado não habilitam o profissional a lecionar, este precisa
de curso de complementação pedagógica para tal.
Observe que, mesmo para atuação fora da sala de aula, mas dentro do ambiente escola, a lei pede o
curso de Pedagogia ou Pós-Graduação.
O artigo 67 traz expressa a valorização dos professores. É interessante conhecer o artigo e fazer uso
dele quando necessário.
Para atuar em escolas públicas (estaduais, municipais ou federais) o professor, em geral, passa por um
processo de seleção (concurso público), que lhe trará um regime estatutário de trabalho.
Poderá atuar na rede particular de ensino ou pública (se for concursado) nos turnos diurno ou noturno.
O pedagogo pode atuar em distintas áreas, tais como: creches, escolas, empresas, hospitais, associa-
ções, clubes, editoras, recursos humanos, espaços educativos, entre outras; daí a importância de uma forma-
ção voltada para a diversidade.
Parte
3 Diversidade curricular: um desafio
Extra
[...]
Se entendermos o currículo, como propõe Williams (1984), como escolhas que se fazem em vasto
leque de possibilidades, ou seja, como uma seleção da cultura, podemos concebê-lo, também, como
conjunto de práticas que produzem significados. Nesse sentido, considerações de Silva (1999b) podem
ser úteis. Segundo o autor, o currículo é o espaço em que se concentram e se desdobram as lutas em
torno dos diferentes significados sobre o social e sobre o político. É por meio do currículo que certos
grupos sociais,
especialmente os dominantes, expressam sua visão de mundo, seu projeto social, sua “verdade”. O
currículo representa, assim, um conjunto de práticas que propiciam a produção, a circulação e o consumo de
significados no espaço social e que contribuem, intensamente, para a construção de identidades sociais e culturais.
O currículo é, por consequência, um dispositivo de grande efeito no processo de construção de identidade do(a)
estudante.
Não se mostra, então, evidente a íntima relação entre currículo e cultura? Se, em uma sociedade cindida,
a cultura é um terreno no qual se processam disputas pela preservação ou pela superação das divisões sociais,
o currículo é um espaço em que esse mesmo conflito se manifesta. O currículo é um campo em que se tenta
impor tanto a definição particular de cultura de um dado grupo quanto o conteúdo dessa cultura. O currículo é
um território em que se travam ferozes competições em torno dos significados. O currículo não é um veículo
que transporta algo a ser transmitido e absorvido, mas sim um lugar em que, ativamente, em meio a tensões, se
produz e se reproduz a cultura. Currículo refere-se, portanto, a criação, a recriação, a contestação e a transgressão
(Moreira e Silva, 1994).
Como todos esses processos se “concretizam” no currículo? Pode-se dizer que no currículo se evidenciam
esforços tanto por consolidar as situações de opressão e discriminação a que certos grupos sociais têm sido sub-
metidos, quanto por questionar os arranjos sociais em que essas situações se sustentam. Isso se torna claro ao nos
lembrarmos dos inúmeros e expressivos relatos de práticas, em salas de aulas, que contribuem para cristalizar
preconceitos e discriminações, representações estereotipadas e desrespeitosas de certos comportamentos, certos
estudantes e certos grupos sociais. Em Conselhos de Classe, algumas dessas visões, lamentavelmente, se refletem
em frases como: “vindo de onde vem, ele não podia mesmo dar certo na escola!”.
Ao mesmo tempo, há inúmeros e expressivos relatos de práticas alternativas em que professores(as) desa-
fiam as relações de poder que têm justificado e preservado privilégios e marginalizações, procurando contribuir
para elevar a autoestima de estudantes associados a grupos subalternizados. Ou seja, no processo curricular,
distintas e complexas têm sido as respostas dadas à diversidade e à pluralidade que marcam de modo tão agudo
o panorama cultural contemporâneo.
Cabe também ressaltar a significativa influência exercida, junto às crianças e aos adolescentes que povoam
nossas salas de aula, pelos “currículos” por eles “vividos” em outros espaços socioeducativos (shoppings, clubes,
associações, igrejas, meios de comunicação, grupos informais de convivência etc.), nos quais se fazem sentir com
intensidade muitos dos complexos fenômenos associáveis ao processo de globalização que hoje vivenciamos.
Nesses outros espaços extraescolares, os currículos tendem a se organizar com objetivos distintos dos currículos
escolares, o que faz com que valores como padronização, consumismo, individualismo, sexismo e etnocentrismo
possam entrar em acirrada competição com outras metas, visadas por escolas e famílias. Vale perguntar: como
temos, nas salas de aula, reagido a esse “confuso” panorama em que a diversidade se faz tão presente? Como te-
mos nos esforçado para desestabilizar privilégios e discriminações? Como temos buscado neutralizar influências
“indesejáveis”? Como temos, na escola, dialogado com os “currículos” desses outros espaços?
(MOREIRA, Antonio Flávio Barbosa; CAUDAU, Vera Maria. Currículo, Conhecimento e Cultura. In:
BEAUCHAMP, Jeanete; PAGEL, Sandra Denise; NASCIMENTO, Aricélia Ribeiro do (Org.). Indicações sobre
Currículo. Brasília: Ministério da Educação, 2007. p. 17-46. (Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seb/arqui-
vos/pdf/Ensfund/indag3.pdf>. Acesso em: 25 abr. 2014.)
Atividades
1. A Constituição traz, em seu artigo 5.º, “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de
qualquer natureza”.
Veja esta charge.
IGUALDADE JUSTIÇA
Referências
ARROYO, Miguel Gonzáles. Indagações sobre currículo: educandos e educadores: seus direitos e o currículo.
Organização do documento: Jeanete Beauchamp, Sandra Denise Pagel, Aricélia Ribeiro do Nascimento. Brasília:
Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2008.
BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 02 mai. 2016.
______, LEI Nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, publicado
no DOU de 23.12.1996. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9394.htm. Acesso em: 02 mai.
2016.
GIMENO SACRISTÁN, J. O currículo: uma reflexão sobre a prática. Tradução Ernani F. da Fonseca. 3. Ed. Porto
Alegre: Artmed, 2000.
MOREIRA, Antonio Flavio Barbosa, CANDAR, Vera Maria. Currículo, Conhecimento e Cultura. In: Indagações
sobre currículo: currículo, conhecimento e cultura / [Antônio Flávio Barbosa Moreira , Vera Maria Candau];
organização do documento Jeanete Beauchamp, Sandra Denise Pagel, Aricélia Ribeiro do Nascimento. – Brasília:
Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2007. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/
pdf/Ensfund/indag3.pdf. Acesso em: 02 mai. 2016.
Níveis
De Ensino
Parte
1 Educação básica
Como vimos na aula 1, os Níveis de Ensino são estabelecidos pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação
(LDB 9394/96). Em nossa história, ela é a segunda LDB que regulamenta todos os níveis. A primeira foi a
LDB 4023/61, promulgada em 20 de dezembro de 1961.
A LDB 9394/96, em seu artigo 21, divide a educação brasileira em dois níveis: a Educação Básica e o
Ensino Superior, com determinação de idades:
Educação Ensino
Ensino Fundamental Graduação
Infantil Médio
Você deve ter observado que há uma correlação entre a idade e o nível de ensino, porém as leis e os re-
gulamentos educacionais garantem o direito a todo cidadão de frequentar a escola regular em qualquer ida-
de. Essa possibilidade amplia a educação para a diversidade, pois possibilita que pessoas com necessidades
Língua portuguesa
Matemática
Observe que a disciplina de História contempla, de acordo com a legislação, diferentes culturas e et-
nias, aqui a diversidade é contemplada na lei.
As diretrizes apresentadas no artigo 27 são: a difusão de valores fundamentais ao interesse social, aos
direitos e deveres dos cidadãos, de respeito ao bem comum e à ordem democrática; consideração das condi-
ções de escolaridade dos alunos em cada estabelecimento; orientação para o trabalho; promoção do desporto
educacional e apoio às práticas desportivas não formais. Todas com cunho de inclusão e abertura para tal
cabem usar de tais determinações e buscar espaços para a prática da valorização da diversidade.
Cada nível de ensino tem objetivos próprios e formas de organização diversificadas, vejamos mais
detalhadamente cada uma das etapas.
• Educação Infantil
A Educação Infantil é a primeira etapa da criança na escola (0 a 5 anos de idade) e tem como foco o
desenvolvimento físico, psicológico, intelectual e social da criança, completando a ação da família e da
comunidade.
Crianças de zero a três anos podem frequentar as creches ou instituições equivalentes. Já para as crian-
ças entre quatro e cinco anos, o ensino é realizado em pré-escolas. (LDB, artigo 29)
Em abril de 2013, a LDB foi alterada por uma emenda constitucional aprovada pelo Congresso Nacional em 2009.
Ela altera a idade de matrícula de seis para quatro anos. E determina que até 2016 os estados e municípios devem
oferecer vagas na rede pública de ensino para crianças dessa faixa etária.
A carga horária mínima anual nas pré-escolas, segundo a mesma emenda constitucional é de 800 horas.
• Ensino Fundamental
O Ensino Fundamental é dever do Estado e é uma etapa obrigatória da Educação Básica, sendo minis-
trado em Língua Portuguesa, garantindo às comunidades indígenas o uso de suas línguas maternas e de pro-
cessos próprios de aprendizagem. A jornada escolar (artigo 34) será de no mínimo quatro horas de trabalho
efetivo em sala de aula para o turno diurno, sendo progressivamente ampliado o período de permanência
na escola. Atentem para o termo “trabalho efetivo em sala de aula”, isto quer dizer que não se considera
atividades diferenciadas na carga horária mínima.
O artigo 32 da LDB determina que a duração mínima do Ensino Fundamental é de nove anos (Lei
11.274/2006.), e será ministrado de forma obrigatória e gratuita na escola pública. Ele é presencial, sendo o
ensino a distância utilizado como complementação da aprendizagem ou em situações emergenciais.
Os objetivos são: o desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo como meios básicos o pleno
domínio da leitura, da escrita e do cálculo; a compreensão do ambiente natural e social, do sistema político,
da tecnologia, das artes e dos valores em que se fundamenta a sociedade; o desenvolvimento da capacidade
de aprendizagem, tendo em vista a aquisição de conhecimentos e habilidades e a formação de atitudes e va-
lores; o fortalecimento dos vínculos de família, dos laços de solidariedade humana e de tolerância recíproca
em que se assenta a vida social.
Vejamos o que determina o artigo 32 da LDB:
§5.º O currículo do Ensino Fundamental incluirá, obrigatoriamente, conteúdo que trate dos direitos das
crianças e dos adolescentes, tendo como diretriz a Lei 8.069, de 13 de julho de 1990, que institui o Estatuto da
Criança e do Adolescente, observada a produção e distribuição de material didático adequado. (Incluído pela
Lei 11.525/2007).
§6.º O estudo sobre os símbolos nacionais será incluído como tema transversal nos currículos do Ensino
Fundamental. (Incluído pela Lei 12.472/2011).
IV – Em todas as escolas deverá ser garantida a igualdade de acesso para alunos a uma base nacional comum,
de maneira a legitimar a unidade e a qualidade da ação pedagógica na diversidade nacional. A base comum
nacional e sua parte diversificada deverão integrar-se em torno do paradigma curricular, que vise a estabelecer
a relação entre a educação fundamental e:
a) a vida cidadã através da articulação entre vários dos seus aspectos como: 1. a saúde 2. a sexualidade
3. a vida familiar e social 4. o meio ambiente 5. o trabalho 6. a ciência e a tecnologia 7. a cultura 8. as
linguagens.
b) as áreas de conhecimento: 1. Língua Portuguesa 2. Língua Materna, para populações indígenas e migran-
tes 3. Matemática 4. Ciências 5. Geografia 6. História 7. Língua Estrangeira 8. Educação Artística 9. Educação
Física 10. Educação Religiosa, na forma do artigo 33 da Lei 9.394, de 20 de dezembro de 1996.
O artigo 33 da LDB determina que o ensino religioso tenha sua matrícula facultativa, constitui disci-
plina dos horários normais das escolas públicas de Ensino Fundamental, sendo oferecido, sem ônus para
os cofres públicos, de acordo com as preferências manifestadas pelos alunos ou por seus responsáveis em
caráter. Ou seja, o Estado não tem deveres financeiros com os professores de ensino religioso.
Ensino Médio
A duração mínima do Ensino Médio é de três anos e sua finalidade, de acordo com o artigo 35 da LDB, é: a
consolidação e o aprofundamento dos conhecimentos adquiridos no ensino fundamental, possibilitando o prosse-
guimento de estudos; a preparação básica para o trabalho e a cidadania do educando, para continuar aprendendo,
de modo a ser capaz de se adaptar com flexibilidade a novas condições de ocupação ou aperfeiçoamento pos-
teriores; o aprimoramento do educando como pessoa humana, incluindo a formação ética e o desenvolvimento
da autonomia intelectual e do pensamento crítico; a compreensão dos fundamentos científico-tecnológicos dos
processos produtivos, relacionando a teoria com a prática, no ensino de cada disciplina.
O Ensino Médio é dividido em áreas que englobam os conhecimentos que compartilham objetos de
estudo:
• Ciências da Natureza
Ciências da Natureza, • Matemática
Matemática e suas • Biologia
Tecnologias • Física
• Química
• História
Ciências Humanas e • Geografia
suas Tecnologias • Filosofia
• Sociologia
Parte
2 Educação Superior
O Ensino Superior , segundo a LDB (artigo 43), tem como finalidades o estímulo à cultura e ao espírito
científico; prevê a formação dos alunos nas diferentes áreas do conhecimento com aptidões profissionais
e participação social; incentiva a pesquisa na busca do desenvolvimento científico, tecnológico e cultural,
assim como a sua divulgação a fim de sistematizar o conhecimento produzido e repassá-lo a cada geração.
Em relação aos cursos e programas, a LDB no artigo 44 prevê:
A Educação Superior será efetuada em Instituições de Ensino Superior (IES), de acordo com o artigo
45 da LDB, tanto públicas quanto privadas com variados graus de abrangência ou especialização. As IES
deverão ter autorização, reconhecimento e credenciamento em prazos limitados necessitando ser renovados
periodicamente (artigo 46 da LDB). Após a avaliação haverá um prazo para saneamento de deficiências e
haverá nova avaliação que poderá descredenciar o curso ou até mesmo a instituição de ensino.
Assim como na Educação Básica, o ano letivo regular, na Educação Superior será de duzentos dias de
trabalho acadêmico efetivo, excluído o tempo reservado aos exames finais, quando houver. Sendo obrigató-
ria a frequência tanto dos alunos como professores se o curso não for a distância, nas instituições públicas
de Educação Superior (artigo 57) o professor ficará obrigado ao mínimo de oito horas semanais de aulas.
O artigo 52 da LDB expressa que as universidades são instituições pluridisciplinares de formação dos
quadros profissionais de nível superior, de pesquisa, de extensão e de domínio e cultivo do saber humano,
que se caracterizam pela produção intelectual, e para tal deverão ter um terço do corpo docente, pelo menos,
com titulação acadêmica de mestrado e doutorado e um terço de professores em regime de tempo integral.
A educação superior é aquela que deve proporcionar um ensino que visa atender a diversidade cultural
de sua comunidade. Ela é o lugar no qual todos os alunos devem ter as mesmas oportunidades. Sabemos que
a entrada na universidade já é um diferencial explícito em nossa sociedade.
Há muitas formas de discriminação na porta de entrada das universidades, seu acesso não é democráti-
co visto o número de vagas e a quantidade de candidatos.
Outra grande situação explicita é que o Brasil é um país diverso, rico em diferentes culturas, costumes,
crenças e saberes. Uma universidade que atenda um ensino que respeite a cultura da comunidade significa
ter várias universidades dentro de cada uma delas. Neste contexto, a dificuldade é explorar um universo
representado por uma população formada de incontáveis grupos étnicos, com seus costumes, culturas e
conhecimentos.
Adaptar o currículo escolar sem ocorrer no processo de exclusão é um exercício complexo, que antes
de tudo precisa de vontade. Um currículo multiculturalista atenderia a necessidade das misturas de culturas
em uma mesma localidade. Mas para tal, é preciso entendimento de sua necessidade. Sabemos que a diver-
sidade cultural é um tema complicado e precisa ser compartilhado pela comunidade acadêmica.
No universo aberto e plural do multiculturalismo, a educação intercultural orientaria um processo de
que tem por base o reconhecimento do direto à diferença. De acordo com Candau:
“a interculturalidade orienta processos que têm por base o reconhecimento do direito à diversidade e a luta
contra todas as formas de discriminação e desigualdade social. Tenta promover relações dialógicas e igualitá-
rias entre pessoas e grupos que pertencem a universos culturais diferentes, trabalhando os conflitos inerentes
a essa realidade. Não ignora as relações de poder presentes nas relações sociais e interpessoais. Reconhece e
assume os conflitos, procurando as estratégias mais adequadas para enfrentá-los”. (Candau, 2011, p. 32)
Assim, um Ensino Superior que mostre uma formação dos alunos nas diferentes áreas do conhecimen-
to, com aptidões profissionais e participação social precisa repensar um currículo multiculturalista.
Muita coisa já vem sendo pensada e feita e há muito material sobre o assunto, vejam o “O Programa
Diversidade na Universidade e a Construção de uma Política Educacional Antirracista”.
O Programa Diversidade na Universidade e a Construção de uma
Política Educacional Antirracista.
(Disponível em: <http://pronacampo.mec.gov.br/ima-
ges/pdf/bib_volume29_o_programa_diversidade_na_
universidade_e_a_construcao_de_uma_politica_educacio-
nal_anti_racista.pdf>.)
É importante destacar que no artigo 24 consta que a verificação do rendimento, em que a avaliação
deverá ser contínua e cumulativa e deverão prevalecer os aspectos qualitativos sobre os quantitativos,
assim como o resultado ao longo do período sobre os de eventuais provas finais. Isto é, as avaliações deve-
rão acontecer a todo tempo no Ensino Fundamental e não deverá haver uma única forma de avaliação. Fica
claro, assim, que o objetivo das avaliações é diagnosticar o que foi e o que não foi aprendido pelos alunos a
fim de sanar as deficiências, pois a avaliação não é um processo final, na realidade ela é o início das tomadas
de decisões do processo ensino-aprendizagem.
Extra
(LDB), instituída pela lei nº 9394, de 1996, são as leis maiores que regulamentam o atual sistema edu-
cacional brasileiro.
A atual estrutura do sistema educacional regular compreende a educação básica – formada pela
educação infantil, ensino fundamental e ensino médio – e a educação superior. De acordo com a le-
gislação vigente, compete aos municípios atuar prioritariamente no ensino fundamental e na educação
infantil e aos Estados e o Distrito federal, no ensino fundamental e médio. O governo federal, por sua
vez, exerce, em matéria educacional, função redistributiva e supletiva, cabendo-lhe prestar assistência
técnica e financeira aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios. Além disso, cabe ao governo
federal organizar o sistema de educação superior.
A educação infantil, primeira etapa da educação básica, é oferecida em creches, para crianças de
até 3 anos de idade e em pré-escolas, para crianças de 4 a 6 anos. O ensino fundamental, com duração
mínima de oito anos, é obrigatório e gratuito na escola pública, cabendo ao Poder Público garantir sua
oferta para todos, inclusive aos que a ele não tiveram acesso na idade própria.
O ensino médio, etapa final da educação básica, tem duração mínima de três anos e atende a for-
mação geral do educando, podendo incluir programas de preparação geral para o trabalho e, facultati-
vamente, a habilitação profissional.
Além do ensino regular, integram a educação formal: a educação especial, para os portadores de
necessidades especiais; a educação de jovens e adultos, destinada àqueles que não tiveram acesso ou
continuidade de estudos no ensino fundamental e médio na idade apropriada. A educação profissional,
integrada às diferentes formas de educação, ao trabalho, à ciências e à tecnologia, com o objetivo de
conduzir ao permanente desenvolvimento de aptidões para a vida produtiva. O ensino de nível técnico é
ministrado de forma independente do ensino médio regular. Este, entretanto, é requisito para a obtenção
do diploma de técnico.
A educação superior abrange os cursos de graduação nas diferentes áreas profissionais, abertos a
candidatos que tenham concluído o ensino médio ou equivalente e tenham sido classificados em pro-
cessos seletivos. Também faz parte desse nível de ensino a pós-graduação, que compreende programas
de mestrado e doutorado e cursos de especialização. A partir da LDB de 1996 foram criados os cursos
seqüenciais por campo do saber, de diferentes níveis de abrangência, que são abertos a candidatos que
atendam aos requisitos estabelecidos pelas instituições de ensino superior.
2. Considerando que o Ensino Superior deve proporcionar um ensino que atenda a diversidade
cultural de sua comunidade, qual o grande desafio para se alcançar tal objetivo?
3. Faça uma crítica ao sistema avaliativo que concentra as provas em datas específicas, como
semana de provas ou datas de avaliação concentradas.
Referências
BRASIL, LEI Nº 4.024, de 20 de dezembro de 1961. Fixa as Diretrizes e Bases da Educação Nacional, publicado no
DOU de 27.12.1961. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/CCIVIL_03/leis/L4024.htm. Acesso em: 02 mai.
2016.
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais:
pluralidade cultural, orientação sexual. Brasília, DF: MEC/SEF, 1997.
______, LEI Nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, publicado
no DOU de 23.12.1996. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9394.htm. Acesso em: 02 mai.
2016.
______, LEI Nº 11.274, de 6 de fevereiro de 2006. Altera a redação dos arts. 29, 30, 32 e 87 da Lei no 9.394, de 20 de
dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, dispondo sobre a duração de 9 (nove)
anos para o ensino fundamental, com matrícula obrigatória a partir dos 6 (seis) anos de idade, publicado no DOU de
07.02.2016. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11274.htm. Acesso em: 02.
Mai. 2016.
______, LEI Nº 11.525, de 25 de setembro de 2007. Acrescenta § 5o ao art. 32 da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de
1996, para incluir conteúdo que trate dos direitos das crianças e dos adolescentes no currículo do ensino fundamental,
publicado no DOU 26.06.2007. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2007/Lei/
L11525.htm. Acesso em: 02. Mai. 2016.
______, LEI Nº 14.472, de 1º de setembro de 2011. Acrescenta § 6o ao art. 32 da Lei no 9.394, de 20 de dezembro
de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, incluindo os símbolos nacionais como tema
transversal nos currículos do ensino fundamental, publicado no DOU 02.09.2011. Disponível em: http://www.planalto.
gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2011/Lei/L12472.htm..Acesso em: 02. Mai. 2016
______, Ministério da Educação, Resolução CEB N º 2, de 7 de abril de 1998. Institui as Diretrizes Curriculares
Nacionais para o Ensino Fundamental, publicada no DOU 15.04.98. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/cne/
arquivos/pdf/rceb02_98.pdf. Acesso em: 02. Mai. 2016.
______, LEI Nº 12.796, de 04 de abril de 2013. Altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece
as diretrizes e bases da educação nacional, para dispor sobre a formação dos profissionais da educação e dar outras
providências. Publicado no DOU 05.04.2013. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-
2014/2013/lei/l12796.htm. Acesso em: 02. Mai. 2016.
______, LEI Nº 11.741, de 16 de julho de 2008. Altera dispositivos da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996,
que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para redimensionar, institucionalizar e integrar as ações
da educação profissional técnica de nível médio, da educação de jovens e adultos e da educação profissional e
tecnológica. Publicado no DOU 17.07.2008. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-
2010/2008/Lei/L11741.htm. Acesso em: 02. Mai. 2016.
CANDAU, V. Diferenças Culturais e Educação; Construindo Caminhos. São Paulo: Sete Letras, 2011.
_____________, Cultura(s) e educação: entre o crítico e o pós-crítico. Rio de Janeiro: DP&A, 2005.
GADOTTI, M. Diversidade cultural e educação para todos. Rio de Janeiro: Graal, 1992.
MENEZES, Ebenezer Takuno de, SANTOS, Thais Helena dos. Verbete sistema educacional brasileiro. Dicionário
Interativo da Educação Brasileira - Educabrasil. São Paulo: Midiamix, 2001. Disponível em: <http://www.educabrasil.
com.br/sistema-educacional-brasileiro/>. Acesso em: 02 de mai. 2016.
Modalidades
de Ensino
Parte
1 Definição de modalidades de ensino
Como já vimos, o sistema educacional no Brasil é dividido em Educação Básica e Ensino Superior. A
LDB (9.394/96) também estrutura a educação por etapas e modalidades de ensino. As etapas são: Educação
Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio, já estudadas por nós anteriormente. E as modalidades de en-
sino de acordo com a LDB são: Educação de Jovens e Adultos, Educação Profissional e Educação Especial.
Um termo muito usado nos ambientes escolares é ensino regular. É considerado “regular” o sistema
de ensino tradicional que se realiza em tempo e espaços previstos pela lei de forma geral. As modalidades
de ensino foram criadas para atender diversamente os alunos com necessidades distintas. Assim podemos
ter a seguinte definição:
A LDB, ao valorizar as modalidades, contribui para a diversidade. Elas podem ser ofertadas em todos
os níveis de ensino, inclusive no Ensino Superior. Vejam as modalidades de ensino ofertadas pelo nosso
sistema de ensino atualmente:
Educação Profissional
O capítulo III da LDB apresenta a Educação Profissional, e o artigo 39 esclarece que “A educação
profissional e tecnológica, no cumprimento dos objetivos da educação nacional, integra-se aos diferentes
níveis e modalidades de educação e às dimensões do trabalho, da ciência e da tecnologia”. A organização
dos cursos poderá ser por eixos tecnológicos, possibilitando itinerários formativos diferenciados.
Os cursos indicados pela LDB, incluídos pela Lei 11.741, de 2008 são:
I. de formação inicial e continuada ou qualificação profissional;
II. de educação profissional técnica de nível médio;
III. de educação profissional tecnológica de graduação e pós-graduação.
O artigo 40 elucida a articulação da educação profissional com o ensino regular ou por diferentes estra-
tégias de educação continuada, em instituições especializadas ou no ambiente de trabalho.
O artigo 42 articula sobre cursos especiais abertos à comunidade, condicionada a matrícula à capacida-
de de aproveitamento e não necessariamente ao nível de escolaridade.
A intenção da educação profissional é clara: voltada para a formação do trabalhador.
Educação Especial
A Educação Especial aparece no capítulo V da LDB. O artigo 58 define como educação especial aquela
ofertada para educandos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou su-
perdotação. Esclarece que a modalidade deve ser oferecida preferencialmente na rede regular de ensino. No
seu parágrafo primeiro elucida que haverá, quando necessário, serviços de apoio especializado, na escola
regular, para atender às peculiaridades da clientela de educação especial. Também prevê atendimento em
classes, escolas ou serviços especializados sempre que, em função das condições específicas dos alunos, não
for possível sua integração nas classes comuns de ensino regular.
Veja o que fica assegurado no artigo 59:
I - currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e organização específicos, para atender às suas
necessidades;
II - terminalidade específica para aqueles que não puderem atingir o nível exigido para a conclusão
do ensino fundamental, em virtude de suas deficiências, e aceleração para concluir em menor tempo o
programa escolar para os superdotados;
III - professores com especialização adequada em nível médio ou superior, para atendimento especia-
lizado, bem como professores do ensino regular capacitados para a integração desses educandos nas
classes comuns;
IV - educação especial para o trabalho, visando a sua efetiva integração na vida em sociedade, inclusive
condições adequadas para os que não revelarem capacidade de inserção no trabalho competitivo, me-
diante articulação com os órgãos oficiais afins, bem como para aqueles que apresentam uma habilidade
superior nas áreas artística, intelectual ou psicomotora;
V - acesso igualitário aos benefícios dos programas sociais suplementares disponíveis para o respectivo
nível do ensino regular.
Em 2015, a Lei 13.234 incluiu no artigo 59-A o cadastro nacional de alunos com altas habilidades ou
superdotação:
Lightspring/Shutterstock
Art. 59-A. O poder público deverá instituir cadastro nacional de alu-
nos com altas habilidades ou superdotação matriculados na educação
básica e na educação superior, a fim de fomentar a execução de políti-
cas públicas destinadas ao desenvolvimento pleno das potencialidades
desse alunado.
Não se sabe o número de alunos com altas habilidades ou superdotação, principalmente pelo desprepa-
ro dos professores e especialistas em recolher esses alunos. Imagina-se que é grande o número e que, muitas
vezes, por não serem distintos, ficam marginalizados ou desistem dos cursos.
Saiba mais
LEGISLAÇÃO ESCOLAR INDÍGENA
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Educação do Campo
A Educação do Campo é contemplada no artigo 28 da LDB, que propõe adaptações ao ensino para a
população rural mediante às peculiaridades de cada região. São elas: I - conteúdos curriculares e metodolo-
gias apropriadas às reais necessidades e interesses dos alunos da zona rural; II - organização escolar própria,
incluindo adequação do calendário escolar às fases do ciclo-agrícola e às condições climáticas; III - adequa-
ção à natureza do trabalho na zona rural.
É interessante ressaltar que a identidade da escola do campo não se restringe ao espaço físico, mas às
pessoas que vivem no meio rural e podem frequentar a escola na cidade.
Educação a Distância
Nosso país tem dimensões continentais e é marcado por desigualdades regionais e sociais; portanto a
educação a distância cumpre papel importante em minimizar diferenças geográficas e financeiras, visto que
seu custo é menor tanto em estrutura quanto em acessibilidade.
O artigo 80 da LDB registra o incentivo ao desenvolvimento e vinculação de programas de ensino a
distância em todos os níveis e modalidades de ensino e de educação continuada. Em seus parágrafos são co-
locados que sua oferta será por instituições credenciadas pela União, e que esta regulamentará os requisitos
para a realização de exames e registros de diplomas. O parágrafo quatro versa sobre o tratamento diferen-
ciado da educação a distância:
I - custos de transmissão reduzidos em canais comerciais de radiodifusão sonora e de sons e imagens e
em outros meios de comunicação que sejam explorados mediante autorização, concessão ou permissão
do poder público;
II - concessão de canais com finalidades exclusivamente educativas; III – reserva de tempo mínimo,
sem ônus para o poder público, pelos concessionários de canais comerciais.
Vamos iniciar este capítulo refletindo sobre a finalidade da educação básica no Brasil. Lembrando que
finalidade significa propósito, o que se pretende alcançar. Vamos começar buscando na legislação vigente.
A LDB, no artigo 22, diz que: “A educação básica tem por finalidades desenvolver o educando, assegu-
rar-lhe a formação comum indispensável para o exercício da cidadania e fornecer-lhe meios para progredir
no trabalho e em estudos posteriores”.
Dessa forma, temos que o propósito de todo o processo educativo, seja em que nível ou modalidade
for, é o desenvolvimento do educando a fim de torná-lo um cidadão, com chances de progredir no trabalho
e avançar nos estudos. Ser cidadão significa conviver em sociedade, ter direitos civis e políticos garantidos
e ter consciência de seus deveres, mais do que isso, interiorizados a fim de usufruir deles com base na lei
maior: a Constituição. Dessa forma, a finalidade da educação básica é esta:
Cintia Erdens Paiva/Shutterstock
O preparo para a cidadania exige que a preparação do aluno seja voltada para a participação efetiva
da vida social e política, e isso começa na escola em todos os níveis e modalidades. Ele deve participar das
tomadas de decisões e deve conhecer e exigir seus direitos e deveres.
Vamos continuar a refletir sobre o que é posto na legislação e o que é efetivado na realidade. Vejamos
alguns dos princípios da Educação Básica de acordo com o artigo terceiro da LDB:
Igualdade de condições para o acesso e permanência na escola. Liberdade de aprender, ensinar, pesquisar etc.
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Valorização da experiência extraescolar. Garantia de padrão de qualidade.
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As imagens refletem algumas realidades que vivenciamos na educação. E isso nos leva aos objetivos
da Educação Básica.
O objetivo para a Educação Infantil, apresentado pela LDB no artigo 29, é promover o desenvolvimen-
to integral, “em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e
da comunidade”.
Os objetivos para a Educação Infantil, segundo o Referencial Curricular Nacional, são:
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• Observar e explorar o ambiente com atitude de curiosidade,
percebendo-se cada vez mais como integrante, dependente e
agente transformador do meio ambiente e valorizando atitu-
des que contribuam para sua conservação.
• Brincar expressando emoções, sentimentos, pensamentos,
desejos e necessidades.
wavebreakmedia/Shutterstock
• Conhecer algumas manifestações culturais, demonstrando
atitudes de interesse, respeito e participação frente a elas e
valorizando a diversidade.
Educação de Jovens e
Dar oportunidade de aprendizagem a pessoas que não o fizeram na idade regular.
Adultos (EJA)
Desenvolver o indivíduo parra que este seja produtivo por meio de criação de cursos
Educação Profissional
que deem acesso ao mercado de trabalho.
Educação Especial Reabilitação e profissionalização da pessoa com necessidades especiais.
Educação Indígena Manter e preservar a cultura do povo indígena, permitindo integração da sociedade.
Adequação da escola à vida no campo, garantindo alternativas de atendimentos es-
Educação no Campo colares, transporte escolar, fazendo da educação no campo uma educação justa e
cheia de oportunidades de crescimento.
Educação de Igualdade Tornar obrigatório o ensino da história da África e da cultura afro-brasileira e
Racial indígena.
Possibilitar estudo por meio de tecnologias, dando acesso aos estudantes em qual-
Educação a Distância
quer lugar e tempo
Podemos observar que a organização das modalidades de ensino leva em consideração aspectos que
diferenciam seus alunos, sempre respeitando os objetivos próprios e formas de organização de cada nível
de ensino.
Os currículos do ensino fundamental e médio devem ter uma base nacional comum, a ser
complementada, em cada sistema de ensino e estabelecimento escolar, por uma parte diversi-
Art. 26
ficada, exigida pelas características regionais e locais da sociedade, da cultura, da economia
e da clientela.
O ensino da arte constituirá componente curricular obrigatório, nos diversos níveis da edu-
Art. 26 §2.º
cação básica, de forma a promover o desenvolvimento cultural dos alunos.
O conteúdo programático a que se refere este artigo incluirá diversos aspectos da história e da
cultura que caracterizam a formação da população brasileira, a partir desses dois grupos ét-
nicos, tais como o estudo da história da África e dos africanos, a luta dos negros e dos povos
Art. 26-A §1.º
indígenas no Brasil, a cultura negra e indígena brasileira e o negro e o índio na formação da
sociedade nacional, resgatando as suas contribuições nas áreas social, econômica e política,
pertinentes à história do Brasil. (Redação dada pela Lei 11.645, de 2008).
Observamos que a LDB aponta compreensões das realidades sociais diferenciadas e abre espaço para
o trabalho com a diversidade de forma a respeitar todas as diferenças. Acreditamos que mais diferenças são
percebidas e incluídas na legislação. Isso mostra a flexibilidade necessária para se acompanhar o andamento
das transformações sociais livres de preconceitos.
Extra
O que são as Diretrizes Curriculares de Gênero e
Diversidade Sexual?
Professora Dra. Maria Rita de Assis César (UFPR)
Diretrizes sugerem um caminho a ser seguido. Um conjunto de pressupostos que orientarão esse
caminho a ser percorrido. Além de significar o feminino de diretor, pelo dicionário, diretriz significa
“[...] linha reguladora do traçado de um caminho ou estrada; conjunto de instruções ou indicações para
se tratar e levar a termo um plano, uma ação, um negócio etc.; [...] norma de procedimento [...]”.
Desse modo, ao se ter em mente a ideia de diretrizes, um conjunto de representações se materializa
nos aproximando também da ideia de normas, regras, procedimentos legais etc. Diretrizes são tudo isso
e, sobretudo, em se tratando do currículo escolar, a proximidade com a ideia de normas e regras, tam-
bém poderá significar procedimentos didático-pedagógicos que deverão ser seguidos.
Acostumadas/os às inúmeras mudanças e reformas na educação brasileira professora/es também
acabaram por se habituarem a receber de tempo em tempo novas diretrizes, além de novas normas,
novas leis, novas regras que, por sua vez, produzem impactos de diferentes dimensões no planejamento
e cotidiano do trabalho educacional. Muitas vezes proveniente de ‘ondas’ e ‘modas pedagógicas’, arran-
jos epistemológicos, que por obra do acaso ou do esforço de intelectuais e profissionais da educação e
outras áreas do conhecimento, acabam por vislumbrar solução para problemas pedagógicos insistentes.
As diretrizes curriculares na maior parte das vezes possuem uma filiação direta com a produção,
o controle e a distribuição dos saberes escolarizados, além da vigilância das práticas e procedimentos
pedagógicos. Assim, a elaboração de diretrizes curriculares faz parte do conjunto de atribuições de
secretarias e ministérios na tentativa de ‘melhorar a educação’. Entretanto, estudos críticos de diversas
filiações demonstram a arbitrariedade, as relações de poder estabelecidas nesses processos, as vozes ca-
ladas, os sujeitos esquecidos, enfim, uma gama de faltas e falhas que acabam por justificar os problemas
decorrentes, tanto dos processos de elaboração, como também da aplicação das mesmas.
Nas últimas décadas no Brasil, algumas experiências de elaboração de diretrizes curriculares têm
considerado as inúmeras vozes e práticas que, segundo variadas críticas, durante muito tempo foram
silenciadas na sociedade brasileira. Os inúmeros protagonistas de uma história que, há até pouco tempo,
não constavam no rol dos saberes escolarizados, a partir de um conjunto de empreendimentos oriundos
dos movimentos sociais, das universidades e das práticas culturais, começam a aparecer e intervir na
produção e distribuição dos conhecimentos. Afrodescendentes, indígenas, mulheres, quilombolas, gays,
lésbicas, bissexuais, transexuais, travestis, isto é, sujeitos e experiências que não pertenciam ao mundo
do conhecimento oficial e escolarizado, através das lutas sociais, fizeram-se presentes e hoje são partes
fundamentais da construção de propostas educacionais, currículos, diretrizes etc.
Considerando os ‘novos’ sujeitos sociais, os ‘novos’ problemas pedagógicos e as ‘novas’ experiên-
cias escolares, além das relações de poder presentes nos textos pedagógicos, as Diretrizes Curriculares
de Gênero e Diversidade Sexual da Secretaria de Educação do Estado do Paraná tomou como ponto
de partida um questionamento sobre a própria ideia de diretrizes. Ao reconhecer o texto pedagógico
como campo de disputas e relações de saber-poder, que por sua vez produz um conjunto normativo de
práticas pedagógicas que acabam por se configurar em processos de exclusão de saberes e de sujeitos,
estas diretrizes se propõem a inventar um outro lugar para a reflexão pedagógica.
Não se trata aqui de instituir instrumentos de direção de conhecimentos e condutas pedagógicas.
Os saberes aqui expostos dizem respeito a uma crítica em relação aos conhecimentos tradicionalmente
veiculados nos textos pedagógicos. Tampouco se trata aqui de produzir um novo guia do caminho a ser
percorrido, mas sim um conjunto de alertas e reflexões críticas sobre os caminhos que não deverão ser
percorridos. Desse modo, estas diretrizes se apresentam como reflexões que problematizam os saberes
normatizados e naturalizados, sobre gênero, sexualidade e diversidade sexual.
Toma-se aqui o currículo é uma narrativa, isto é, a narrativa de alguns grupos sociais que se torna-
ram perigosamente hegemônicos e se estabeleceram como ‘universais’. Desse ponto de vista ‘universal’
Desse modo, não serão apresentados aqui novos conhecimentos, novos saberes científicos e metodologias de
aplicação. O que estamos chamando de diretrizes é um conjunto de reflexões fundamentais que problemati-
zam as verdades consolidadas sobre gênero, sexualidade e diversidade sexual. Nesse sentido, se des-instaura
(des-territorializa) uma ideia universal de diretriz, re-territorializando-a. Isso se dá com o trabalho cuidadoso
com os temas que concorrem para uma abordagem sobre o gênero, a sexualidade e diversidade sexual.
Subvertendo a ideia tradicional de diretriz curricular, estas diretrizes, por abordar temas que trazem consigo
uma importante crítica dos conhecimentos estabelecidos, se apresentam na forma de reflexão, com o objetivo
de desestabilizar as verdades que construíram os preconceitos, as fobias, as violências sobre os sujeitos.
Inaugurando outra maneira de escrever diretrizes curriculares apresentamos aqui um Glossário e
um conjunto de quatro textos que abordam os seguintes temas: gênero, sexualidade, homofobia e edu-
cação sexual. Os textos que compõem essas diretrizes apresentam-se como possibilidades e certamente
abrirão um espaço de confronto de ideias, fundamental para as experiências necessárias que os trabalhos
com os temas proporcionarão. Talvez com esse documento estejamos inaugurando a possibilidade de
professoras/es se defrontarem com o (des)conhecido, com o não saber, como forma de produzir refle-
xões-ações que produzam menos preconceito e violência.
Atividades
1. Como a Educação a Distância contribui para a democratização da educação em nosso país?
2. Considerando os níveis de modalidades da educação brasileira, segundo a LDB 9.394/1996,
pesquise os cursos especiais que a educação profissional oferece em sua região e a relação
desses cursos com o nível de escolaridade do aluno.
3. Pesquise em sua região se o estudo da história afro-brasileira e indígena está sendo traba-
lhada na educação básica.
Referências
BRASIL. Lei 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Diário Oficial
da União, 23 dez. 1996. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9394.htm>. Acesso em: 25 abr.
2016.
______, LEI Nº 11.741, de 16 de julho de 2008. Altera dispositivos da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996,
que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para redimensionar, institucionalizar e integrar as ações
da educação profissional técnica de nível médio, da educação de jovens e adultos e da educação profissional e
tecnológica. Publicado no DOU 17.07.2008. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-
2010/2008/Lei/L11741.htm. Acesso em: 02. Mai. 2016.
Educação
Profissionalizante
Parte
1 Educação técnica de nível médio
Quanto aos currículos dos cursos, o Parecer 16/99 aponta que “é prerrogativa e responsabilidade de cada
escola e constitui meio pedagógico essencial para o alcance do perfil profissional de conclusão”. E coloca ainda
que “O planejamento dos cursos deve contar com a efetiva participação dos docentes e ter presente estas diretrizes
curriculares nacionais”, não existindo mais um currículo mínimo pré-definido por habilitação técnica.
O que existe agora são diretrizes curriculares nacionais que orientam as escolas na elaboração de planos de
cursos coerentes com projetos pedagógicos das próprias escolas e comprometidos com perfis profissionais
de conclusão definidos pela própria escola, à luz das referidas diretrizes e centrados no compromisso com
resultados de aprendizagem, em termos de desenvolvimento de competências profissionais.
A educação profissional e tecnológica tem como objetivo oferecer cursos que facilitem o acesso ao
mercado de trabalho, que qualifiquem quem já atua ou reinsiram os trabalhadores que, por algum motivo,
foram excluídos do sistema. Para isso, o currículo tem norteadores que buscam atender tais necessidades:
sociedade.
• Diversificação e expansão da oferta, tanto de cursos técnicos e tecnológicos
quanto de cursos de nível básico, que atendam à qualificação, requalificação e
atualização do trabalhador.
• Vínculo permanente com o mundo do trabalho e a prática social.
• Currículos flexíveis, em módulos, possibilitando itinerários diversificados,
acesso e saídas intermediárias e atualização permanente.
• Ensino contextualizado, que supere a dicotomia entre teoria e prática.
• A prática profissional constitui e organiza o desenvolvimento curricular.
• Competências profissionais adquiridas fora da escola passam a ser reconhecidas
para fins de continuidade dos estudos de nível técnico, a partir da avaliação
realizada pela instituição formadora.
O artigo 5.º da Resolução CNE/CEB 04/99 delibera qual é o itinerário de profissionalização definido
pela escola: “a educação profissional de nível técnico será organizada por áreas profissionais”. De acordo
com o artigo 13 da mesma Resolução, integrarão Cadastro Nacional de Cursos de Educação Profissional de
Nível Técnico e serão disponibilizados via internet para os interessados.
O documento “Perspectivas da educação Profissional técnica de nível médio Proposta de Diretrizes
Curriculares Nacionais” traz algumas reflexões interessantes sobre a educação profissionalizante que preci-
sam ser resgatadas. A primeira, e talvez a mais abrangente, é sobre o conceito de competências, apresentado
no Decreto 2.208/97, que apanhou o sentido abreviado de competências para o mercado de trabalho e desta-
cou a fragmentação do conhecimento (p. 8). De acordo com tal documento, questionam-se as competências
de natureza comportamental em que o treinamento, o que supõe a seleção de conhecimentos orientada pre-
dominantemente para o desempenho funcional: “Perde-se, assim, a referência das propriedades caracterís-
ticas da escola, que são a cultura e o saber científico sistematizado básico (técnico e tecnológico).” (p. 9).
Outra crítica importante apresentada é que “a preparação para o trabalho não é preparação para o
emprego, mas a formação omnilateral (em todos os aspectos) para compreensão do mundo do trabalho e
inserção crítica e atuante na sociedade, inclusive nas atividades produtivas, em um mundo em rápida trans-
formação científica e tecnológica.” (p. 9). O ideal é dar aos alunos criticidade suficiente para entender o
sistema produtivo e, a partir disso, discutir as relações sociais geradas por ele.
Entendemos assim que o Ensino Médio Profissionalizante prepara um estudante para entender as rela-
ções sociais do sistema capitalista e que tenha “ferramentas” intelectuais para desenvolver as aptidões para
a vida produtiva.
Parte
2 Educação profissional e tecnológica
A educação e o trabalho são direitos sociais expressos na Constituição Federal de 1988. Porém, nem
sempre foi assim. Historicamente, a educação brasileira dividia o Ensino Médio (antigo 2.º grau) em duas
partes: a formação propedêutica, voltada para o ingresso em cursos universitários, e a formação para o traba-
lho, em cursos técnicos, para a grande maioria da população que não teria acesso ao curso superior. Dentro
dessa perspectiva, a educação profissionalizante era voltada ao ensino de um ofício e/ou uma profissão.
Breve histórico
A educação profissional assumiu diferentes funções em nossa história educacional.
D. João VI cria o Colégio das Fábricas, o primeiro estabelecimento instalado pelo po-
1808
der público, com objetivo de atender à educação dos artistas e aprendizes.
A “Reforma Capanema” remodelou todo o ensino no país, e tinha como um dos princi-
1941
pais pontos: ƒ o ensino profissional passou a ser considerado de nível médio.
A Lei 6.545, três Escolas Técnicas Federais (Paraná, Minas Gerais e Rio de Janeiro)
1978
são transformadas em Centros Federais de Educação Tecnológica – (CEFETs).
Lei 9.394 LDB, que dispõe sobre a Educação Profissional num capítulo separado da
Educação Básica, superando enfoques de assistencialismo e preconceito social. Além
1996
disso, define o sistema de certificação profissional que permite o reconhecimento das
competências adquiridas fora do sistema escolar.
As mudanças científicas e tecnológicas da atualidade pedem uma formação mais complexa e densa,
criando assim a necessidade de uma formação profissional e tecnológica adequada às necessidades atuais. É
fato que a base da educação deve estar centrada na pesquisa, no desenvolvimento científico e no mercado de
trabalho. Mas deve ir além somente da integração com o mundo do trabalho. Para tal, o estudo das relações
sociais na perspectiva da promoção da equidade, da igualdade de gênero, da valorização da mulher, do com-
bate às violências e da cidadania são necessariamente elementos fundantes da formação desse profissional.
Num país com a diversidade que o Brasil apresenta, deve haver um modelo educacional que atenda de
forma flexível às variedades socioculturais e econômicas das diferentes regiões brasileiras, sobretudo frente
ao mercado de trabalho, que também sofre modificações constantes. Assim, o curso profissionalizante pre-
cisa atender de forma atualizada e especializada as demandas de cada setor.
• O primário dependente, também chamado rotineiro, é voltado para a linha de produção, indústria
de transformação e setor de serviços (os serviços rotineiros de escritório e burocráticos da admi-
nistração estão nesse setor).
• O segmento secundário é aquele que exige mínima qualificação e treinamento, a rotatividade
do empregado é alta, os salários são baixos e os contratos de trabalho são em grande maioria
informais.
O importante é saber que cada emprego exige critérios diferenciados de recrutamento, seleção, trei-
namento e promoção. Também há diversas formas de acompanhamento, controle e condições de trabalho,
assim como níveis salariais.
Uma forma de estar atualizado em relação ao que acontece no setor produtivo é buscar informações
sobre os cursos oferecidos. O Ministério da Educação (MEC) oferece e esclarece sobre cursos técnicos em
publicações periódicas na internet. O MEC anualmente analisa os cursos técnicos em nível médio ofertados
no país e as necessidades da sociedade e criou o Catálogo Nacional de Cursos Técnicos (CNCT).
Vejamos o que esse catálogo apresenta como oferta de cursos de nível médio nos diferentes sistemas de
ensino, agrupando os cursos em eixos tecnológicos:
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Eixo Tecnológico: Desenvolvimento Educacional e Social –
Compreende atividades relacionadas ao planejamento, execução,
controle e avaliação de funções de apoio social, pedagógico e admi-
nistrativo em escolas públicas e privadas e demais instituições.
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Eixo Tecnológico: Militar – compreende tecnologias, infraestrutu-
ra e processos relacionados à formação do militar.
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Eixo Tecnológico: Produção Alimentícia – compreende tecnolo-
gias relacionadas ao beneficiamento e industrialização de alimentos
e bebidas.
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Eixo Tecnológico: Recursos Naturais – Compreende tecnolo-
gias relacionadas à produção animal, vegetal, mineral, aquícola e
pesqueira.
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Eixo Tecnológico: Segurança – compreende tecnologias, infraes-
truturas e processos direcionados à prevenção, à preservação e à
proteção dos seres vivos, dos recursos ambientais, naturais e do
patrimônio, que contribuam para construção de cultura de paz, de
cidadania e de direitos humanos nos termos da legislação vigente.
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Cada eixo subdivide-se em cursos ofertados, que trazem a carga horária mínima de cada curso, as
possibilidades de temas a serem abordados na formação, as possibilidades de atuação e a infraestrutura
recomendada. Uma das intenções do catálogo é disciplinar a oferta de cursos técnicos, principalmente no
tocante às denominações utilizadas.
Extra
Educação Profissional
Ana Margarida de Mello Barreto Campello
Domingos Leite Lima Filho
O Manifesto dos Pioneiros identifica a existência, no Brasil, de dois sistemas paralelos e divorcia-
dos de educação, fechados em compartimentos estanques e incomunicáveis:
O sistema de ensino primário e profissional e o sistema de ensino secundário e superior teriam
diferentes objetivos culturais e sociais, constituindo-se, por isso mesmo, em instrumentos de es-
tratificação social. A escola primária e a profissional serviriam à classe popular, enquanto que a
escola secundária e a superior à burguesia (CUNHA, 1997, p. 13).
Naquela época, as escolas profissionais da Prefeitura do Distrito Federal exigiam, para matrícula,
que os alunos apresentassem atestado de pobreza. Embora as escolas técnicas profissionais continuas-
sem destinadas aos pobres, percebia-se nitidamente uma mudança na concepção da ‘educação profis-
sional’, na medida em que essas escolas passavam a ser encaradas como escolas formadoras de técnicos
capazes de desempenhar qualquer função na indústria. “O trabalho e o assistencialismo constituem-se
fundamentos de processos educativos associados à ‘escola do trabalho’, segundo dois eixos fundamen-
tais: a regeneração pelo trabalho e o trabalho para a modernização da produção” (CIAVATTA, 1990, p.
328).
A industrialização, a partir principalmente dos anos 30 do último século, modifica lentamente a
sociedade brasileira, tornando necessária uma nova proposta de educação: faz-se necessário preparar
trabalhadores para a indústria, dentro de uma nova ordem social, gerada pela acumulação do capital.
A necessidade de preparação de mão de obra para a indústria implica uma mudança de concepção do
ensino profissional. De uma aprendizagem mais próxima do ofício era necessário passar para uma
aprendizagem que introduzisse o domínio das técnicas, da parcelarização do trabalho e da adaptação à
máquina, de maneira a disciplinar a força de trabalho e adequá-la à organização fabril. Nesse quadro, a
‘educação profissional’ situa-se em um contexto maior de demandas de uma nova sociedade: a socie-
dade industrial. Além de preparar tecnicamente para o trabalho, é preciso também disciplinar os jovens
para as atividades produtivas e a divisão do trabalho.
Nos anos 30 e de novo nos anos 40 reforma-se o ensino secundário. A partir de 1942 são baixadas
por decreto-lei as conhecidas “leis orgânicas da educação nacional” para o ensino secundário, o ensino
industrial, o ensino comercial, o ensino primário, o ensino normal e o ensino agrícola. A Constituição de
1937, ao determinar que o ensino vocacional e pré-vocacional são dever do Estado, a ser cumprido com
a colaboração das empresas e dos sindicatos econômicos, propiciou a definição das Leis Orgânicas do
Ensino Profissional e a criação de entidades especializadas como o Serviço Nacional de Aprendizagem
Industrial (Senai) e o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac), bem como a transforma-
ção das antigas escolas de aprendizes artífices em escolas técnicas federais.
No conjunto das Leis Orgânicas da Educação Nacional, o ensino secundário e o ensino normal
têm como objetivo “formar as elites condutoras do país”, enquanto para o ensino profissional define-se
‘educação profissional’, definindo seus objetivos e níveis, além de estabelecer orientações para a for-
mulação dos currículos dos cursos técnicos. O decreto especifica três níveis de ‘educação profissional’:
o básico, o técnico e o tecnológico. A reforma dos anos 90 proíbe o desenvolvimento do ensino técnico
integrado ao ensino médio e define a ‘educação profissional’ como necessariamente paralela e comple-
mentar à educação básica.
Na proibição do desenvolvimento do ensino técnico integrado ao ensino médio evidencia-se de
forma exemplar as principais características da reforma da ‘educação profissional’ dos anos 90, no
Brasil: o retorno formal ao dualismo escolar, na medida em que se aparta a ‘educação profissional’ da
educação regular; na concepção de educação que embasa essa reforma – a ruptura entre o pensar e o agir
e o aligeiramento da educação profissional; a subsunção da escola à cultura do mercado na formação do
cidadão produtivo (FRIGOTTO; CIAVATTA, 2006). Essa concepção de educação se insere no contexto
de hegemonia das políticas neoliberais e se afina à redução do papel do Estado. Retoma-se com essa
reforma uma visão dualista do sistema educacional, destinando-se explicitamente a ‘educação profissio-
nal’ ao atendimento de uma determinada classe social.
O Decreto 5.154, de julho de 2004, revogou o Decreto 2.208/97 e restituiu a possibilidade de
articulação plena do ensino médio com a ‘educação profissional’, mediante a oferta de ensino técnico
integrado ao ensino médio. Manteve, entretanto, as alternativas anteriores que haviam sido fortaleci-
das e ampliadas com o Decreto 2.208/97 e expressavam a histórica dualidade estrutural da educação
brasileira.
O debate em torno das concepções que estavam presentes nas discussões que antecederam a Lei
9.394/96, no final dos anos 80, é retomado nesse início do século XXI de maneira a contemplar uma
proposta de articulação entre ciência, cultura e trabalho, como elementos norteadores de uma nova
política educacional. A expansão e democratização da ‘educação profissional’ no Brasil assume grande
relevância nesse contexto em razão das expectativas de elaboração de uma nova política pública para o
setor, no âmbito de um projeto nacional de desenvolvimento.
Atividades
1. Faça uma reflexão sobre o Ensino Médio integrado à educação profissional técnica de nível
médio e o Ensino Médio sem essa integração. Quais seriam as diferenças dos cursos?
3. Identifique e explique o que são as possíveis formas de oferta da educação profissional téc-
nica de nível médio previstas na legislação brasileira.
Referências
BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 02 mai. 2016.
______, Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares
Nacionais. Brasília: MEC/SEF, 1998.
______, Decreto Nº 2.208 de 17 de abril de 1997. Regulamenta o § 2º do art. 36 e os arts. 39 a 41 da Lei nº 9.394,
de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, e dá outras providências.
Publicado no DOU em 18.04.1997. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/D2208.htm. Acesso
em: 02 mai. 2016.
______. Lei 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Diário Oficial
da União, 23 dez. 1996. Disponível em: <www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9394.htm>. Acesso em: 25 abr. 2016.
______, Ministério da Educação, Catálogo Nacional de Cursos Técnicos. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/
pronatec. Acesso em: 02 mai. 2016.
______. Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação. Parecer 16, de 5 de outubro de 1999. Trata das
Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Profissional de Nível Técnico. Disponível em: <http://portal.mec.
gov.br/setec/arquivos/pdf_legislacao/tecnico/legisla_tecnico_parecer1699.pdf>. Acesso em: 25 abr. 2016.
______, Ministério da Educação, Resolução CNE/CEB Nº 04/99. Institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para a
Educação Profissional de Nível Técnico. Homologação em 26.11.1999. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/setec/
arquivos/pdf/RCNE_CEB04_99.pdf. Acesso em: 02 mai. 2016.
CAMPELLO, Ana Margarida de Melo Barreto, FILHO, Domingos de Leite Lima. Educação Profissional. Disponível
em: http://www.sites.epsjv.fiocruz.br/dicionario/verbetes/edupro.html. Acesso em: 02 mai. 2016.
FONSECA, Celso Suckow da. História do Ensino Industrial no Brasil. Rio de Janeiro: Escola Técnica, 1961.
GARCIA, Sandra Regina de Oliveira. O fio da história: a gênese da formação profissional no Brasil. In: TRABALHO
e Crítica. São Leopoldo: Unisinos, 2000.
O PLANO de Desenvolvimento da Educação: razões, princípios e programas. Brasília: Ministério da Educação, 2007.
Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/arquivos/livro/livro.pdf>. Acesso em: 25 abr. 2016.
PACHECO, Eliezer. Perspectivas da Educação Profissional Técnica de Nível médio: Proposta de Diretrizes
Curriculares Nacionais. São Paulo: Moderna, 2012. Disponível em: <www.moderna.com.br/lumis/portal/file/
fileDownload.jsp?fileId=8A8A8A8337ECDC2B0137ED025BFE393C>. Acesso em: 25 abr. 2016.
PEREIRA, Luiz Augusto Caldas. A Rede Federal de Educação Profissional e o desenvolvimento local. 114 f.
Dissertação (Mestrado Planejamento Regional e Gestão de Cidades) – Universidade Candido Mendes, Campos dos
Goytacazes, 2003.
Educação
em Tempo Integral
Parte
1 O que é educação em tempo integral?
A educação em tempo integral oferece ampliação de tempo dos alunos na escola. Obviamente, na busca
da melhoria da educação, com mais tempo há maiores possibilidades de formação completa, total. Para tal,
existe a necessidade de reorganização também de espaços e conteúdos.
Esse processo é complexo, demorado e dispendioso, pois muitas adaptações são necessárias tanto na es-
cola como na vida dos alunos, pais e comunidade escolar. A principal preocupação é o atendimento à deman-
da de alunos, pois uma escola que atende dois turnos passaria a atender em tempo integral. Teoricamente,
metade dos alunos não teria mais lugar naquele espaço. Da mesma forma, a estrutura física precisaria ser
adaptada às “novas” atividades propostas e todo o processo pedagógico precisaria ser ampliado. De acordo
com o MEC (2009, p. 5), “A Educação Integral exige mais do que compromissos: impõe também e prin-
cipalmente o projeto pedagógico, formação de seus agentes, infraestrutura e meios para sua implantação”.
Outra visão sobre a educação em tempo integral é a segurança das crianças, principalmente frente à
necessidade de trabalho dos pais. Ao mesmo tempo em que teriam uma formação mais densa, estariam longe
de situação de vulnerabilidade e risco social. Em relação a isso o MEC prevê:
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Porém, essas propostas não são novas. Para termos uma visão ampliada é interessante conhecer um
projeto de sucesso realizado no Brasil na década de 50. O professor Anísio Spínola Teixeira, baseado nas
ideias de John Dewey de criar oportunidades para os alunos vivenciarem uma sociedade democrática, con-
cebeu o Centro Educacional Carneiro Ribeiro (CECR). A ideia era expandir as atividades educativas da
escola primária oferecendo oportunidade de comunicação entre alunos e professores, proporcionando con-
vivência em diferentes atividades. A preocupação não era somente suprir as carências culturais, mas sim
novas unidades foram denominadas Centros Integrados de Atendimento à Criança (CIACS) e depois Centros
de Atenção Integral às Crianças (CAICS). Outras propostas de escolas de tempo integral se sucederam.
O projeto da escola-parque não teve seguimento e foi abandonado durante o regime militar, período no
qual Anísio Teixeira foi cassado e exilado. Mas a experiência deixou muitos ensinamentos para propostas
futuras que devem estudar o que já foi feito. Fica claro que para um processo educativo diferenciado obter
resultados positivos, é imprescindível muito investimento. E para sua manutenção é necessário a criação de
fundos financeiros. Também ficou óbvio a valorização dos profissionais e o respeito pelos alunos.
Assim, para atender às exigências de uma formação de qualidade, a escola em tempo integral precisa
ser bem estruturada e organizada. Os professores precisam estar envolvidos, organizados, preparados e
estimulados. A educação integral como colocamos volta-se para a aprendizagem por inteiro e, para tal, é
necessário ter todos os recursos físicos, pedagógicos e financeiros reais e concretos para criar e sustentar
tal proposta. Assim, sem dúvida nenhuma, uma educação completa e integral precisa necessariamente de
vontade política e investimento.
Para cumprir sua função, a escola integral necessita ter uma gestão democrática e participativa, um cur-
rículo que reflita essa participação e valorize a realidade de seu contexto e um Projeto Político Pedagógico
que garanta seus avanços, tendo como fiança a relação escola e comunidade.
Parte
2 O que pretende a educação
em tempo integral?
A educação em tempo integral tem como princípio um projeto de educação que instigue o respeito aos
direitos humanos e o exercício pleno da democracia. Ao valorizar diferentes tempos para trabalhar a plu-
ralidade de saberes, ampliam-se as possibilidades de conhecimento e transformações sociais. Desse modo,
as crianças, jovens e adolescentes estariam munidas de distintas ferramentas para enfrentar as diferentes
situações sociais que derivarão.
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Parte
3 Legislação específica e LDB
A educação integral não é referenciada literalmente na Constituição Federal e sim em legislações es-
pecíficas. Porém, nossa lei maior traz embasamento no compromisso ético com a inclusão social, e tam-
bém aponta para a gestão democrática e integrada, todos os pontos ligados diretamente à integralidade da
educação.
Já a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) – Lei 9.394/96, fundamentada nos princí-
pios constitucionais, prevê em seus artigos 34 e 87 a ampliação progressiva da fornada escolar do Ensino
Fundamental para o regime de tempo integral. Vejamos a lei literalmente:
“Art. 34. A jornada escolar no ensino fundamental incluirá pelo menos quatro horas de trabalho efe-
tivo em sala de aula, sendo progressivamente ampliado o período de permanência na escola.”
Art. 87. É instituída a Década da Educação, a iniciar-se um ano a partir da publicação desta Lei.
§5.º Serão conjugados todos os esforços objetivando a progressão das redes escolares públicas urba-
nas de ensino fundamental para o regime de escolas de tempo integral.
Temos assim, desde 1996, a garantia da lei educacional para implantação da escola em tempo integral
e, frente à data da lei, acreditamos que já houve tempo para sua progressiva ampliação.
Há também o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que reforça a ideia da obrigatoriedade do
acesso e permanência do aluno na escola, admitindo que o desenvolvimento integral da criança e do ado-
lescente requer uma forma específica de proteção e, por isso, recomenda um sistema articulado e integrado
de atenção a esse público, do qual a escola faz parte.
A Lei 10.172, de 9 de janeiro de 2001, que instituiu o Plano Nacional de Educação (PNE), reforça a
necessidade da Educação Integral como pressuposto para formação integral da pessoa, tanto na Educação
Fundamental como na Educação Infantil. O PNE tem como objetivo a ampliação progressiva da jornada es-
colar para um período de, pelo menos, 7 horas diárias, às “crianças das camadas sociais mais necessitadas”,
às “crianças de idades menores, das famílias de renda mais baixa, quando os pais trabalham fora de casa”.
A Lei 11.494/2007, que instituiu o FUNDEB, determina em seu artigo 10 que a distribuição propor-
cional de recursos dos Fundos levará em conta as seguintes diferenças entre etapas, modalidades e tipos de
estabelecimento de ensino da educação básica, vejamos:
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I - creche em tempo integral;
II - pré-escola em tempo integral; [...]
IX - ensino fundamental em tempo integral; [...]
XII - ensino médio em tempo integral; [...]
§3.º Para os fins do disposto neste artigo, o regulamento disporá sobre a
educação básica em tempo integral e sobre os anos iniciais e finais do ensino
fundamental.
O Decreto 6.253/07considera “educação básica em tempo integral a jornada escolar com duração
igual ou superior a sete horas diárias, durante todo o período letivo, compreendendo o tempo total que um
mesmo aluno permanece na escola ou em atividades escolares” (art. 4.º).
O Decreto 6.094, de 24 de abril de 2007, dispõe sobre a implementação do Plano de Metas Compromisso
Todos pela Educação, pela União Federal, em regime de colaboração com Municípios, Distrito Federal e
Estados, e a participação das famílias e da comunidade, mediante programas e ações de assistência técnica e
financeira, visando a mobilização social pela melhoria da qualidade da educação básica. No art. 2.º, encon-
tramos diretrizes voltadas para ampliação do tempo escolar. VII - ampliar as possibilidades de permanên-
cia do educando sob responsabilidade da escola para além da jornada regular.
O Programa Mais Educação, instituído pela Portaria Normativa Interministerial 17/2007, tem por ob-
jetivo fomentar a Educação Integral de crianças, adolescentes e jovens, por meio de atividades socioedu-
cativas, no contraturno escolar, articuladas ao projeto de ensino desenvolvido pela escola. Sua proposta é
desenvolver as potencialidades dos alunos, oferecendo-lhes condições de construir diferentes saberes que
vão além do currículo escolar, promovendo diálogo entre saberes escolares e comunitários.
Para finalizarmos, não podemos deixar de refletir que, antes de qualquer coisa, a educação deve me-
lhorar em sua totalidade, mas para tal é necessário políticas e investimentos sérios e intensos. As escolas
precisam de manutenção e materiais atualizados, os professores precisam ser valorizados e respeitados, os
currículos necessitam de atualizações constantes, as tecnologias devem estar disponíveis e as políticas não
podem limitar-se aos períodos partidários.
Somente com mudanças no que temos podemos melhorar a educação. A democracia exige que todos
sejam beneficiados, não podemos criar algumas escolas “ideais” e deixar todas as outras abandonadas; não
se pode querer começar algo novo deixando para trás o que já existe. Sabemos que a lei deve ser aplicada,
não bastando ficar somente “no papel”, sabemos também que para sua aplicação é necessário investimento
de tempo, vontade e recursos. As mudanças são demoradas e não há soluções milagrosas, daí a força popular
de lutar pelas melhorias necessárias à educação.
Extra
‘A educação integral deixa a escola mais humana’
Em entrevista, especialista no tema afirma que quanto mais “integral” a escola for, maior será o
aprendizado dos alunos
Davi Lira
Logo, a articulação do educador seria fundamental para que todas essas sugestões fossem
colocadas em prática…
Não tenho dúvida. Os nossos professores já conhecem de certa forma o que é a educação integral,
especialmente hoje que ela está com mais evidência. O que eles buscam agora é colocá-la em prática.
Para isso, eles precisam ser melhor instruídos na maneira com que podem utilizar esses conceitos para
melhorar o aprendizado dos alunos. Por isso a importância das formações continuadas de docentes.
E como funcionam essas formações?
Elas podem ocorrer por meio de cursos de pós-graduação, de extensão, de encontros que fomentem
o debate sobre a temática e a metodologia. Desde 2011, já participei da concepção de dois cursos de
extensão que duraram 10 meses. Neles, reunimos os oficineiros, professores comunitários, professores
da rede e gestores. Como muitos dos oficineiros que comandam as atividades educativas no contraturno
não têm curso superior, preferimos adotar esse formato de curso, ao invés de propor uma pós, o que res-
tringira o acesso. Pensamos em cursos de extensão que têm como abordagem uma proposta de formação
problematizadora, que significa a ação conjunta de desvelamento e reflexão sobre as realidades viven-
ciadas no ambiente escola-comunidade, onde acontecem as práticas educativas da educação integral,
em busca de repensar, ressignificar essas próprias práticas.
Que tipo de conteúdo é trabalhado nesses cursos?
Como o próprio nome do curso sugere (Múltiplos Olhares) buscamos trabalhar tanto a questão
legal como a conceitual, e também fomos além. Seguindo as próprias diretrizes do MEC, também foca-
mos em atividades que estimulavam os educadores participantes a mapearem a realidade de cada um na
escola e a realidade do entorno da unidade.
E como ocorreu esse mapeamento?
Para se trabalhar com a educação integral o professor precisa conhecer a realidade da escola, dos
alunos e da própria comunidade. Por isso que propusemos essa atividade prática. Nela, pedíamos para
que, em grupo, eles levantassem os equipamentos urbanos, como praças e monumentos; os centros
culturais, como bibliotecas e museus; as organizações não-governamentais ao redor; além das ativida-
des econômicas e culturais da região. Tudo isso, para que, com base nas informações, eles soubessem
articular e propor um projeto de ação pedagógica no âmbito da educação integral.
Mas os professores já não aprendem a elaborar esse tipo de projeto durante sua formação nas
universidades?
Os próprios tutores e supervisores que participavam dos cursos de extensão – muitos deles ainda
alunos de licenciatura –, falavam que nunca haviam tido contato com a proposta pedagógica da edu-
cação integral. Quer dizer, os modelos de currículos no ensino superior ainda estão muito distantes da
Essa reportagem faz parte de uma série especial sobre educação integral, acompanhando o lan-
çamento do Centro de Referências em Educação Integral, uma iniciativa apoiada pelo Porvir e pelo
Inspirare. A plataforma do centro estará disponível a partir de 29 de agosto, no www.educacaointegral.
org.br.
Atividades
1. Faça uma pesquisa sobre as escolas de tempo integral que já foram implementadas e bus-
que qualidades e problemas que elas apresentam.
Referências
BRASIL, LEI Nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, publicado
no DOU de 23.12.1996. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9394.htm. Acesso em: 02 mai.
2016.
______, Programa Mais Educação: gestão intersetorial no território. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de
Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade, 2009.
______, Decreto Nº 6.253, de 13 de novembro de 2007. Dispõe sobre o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da
Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação - FUNDEB, regulamenta a Lei no 11.494, de 20 de
junho de 2007, e dá outras providências. Publicado no DOU de 14.11.2007. Disponível em: http://www.planalto.gov.
br/ccivil_03/_ato2007-2010/2007/decreto/D6253.htm. Acesso em: 02 mai. 2016.
______, Decreto Nº 6.094, de 24 de abril de 2007. Dispõe sobre a implementação do Plano de Metas Compromisso
Todos pela Educação, pela União Federal, em regime de colaboração com Municípios, Distrito Federal e Estados, e
a participação das famílias e da comunidade, mediante programas e ações de assistência técnica e financeira, visando
a mobilização social pela melhoria da qualidade da educação básica. Publicado no DOU 25.04.2007. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2007/decreto/d6094.htm. Acesso em: 02 mai. 2016.
Educação de
Jovens e Adultos
Parte
1 Objetivo da Educação de
Jovens e Adultos
Muitos brasileiros não tiveram acesso aos bancos escolares ou tiveram que abandoná-los frente a diver-
sos motivos, tais como a necessidade de trabalho, renda familiar, locomoção, insatisfação, reprovação, entre
outros. Mas essa problemática não é atual, ela vem se arrastando há muito tempo. Então surge a Educação
de Jovens e Adultos (EJA).
Vamos situar historicamente a EJA no Brasil.
1530 Período colonial – eram os religiosos que educavam adultos com conotação missionária.
Chegada dos padres jesuítas que se voltaram para catequização e “instrução” de adultos e
1549
adolescentes.
O Ato Constitucional designou a instrução primária e secundária de todos, mas foi instituído
1834
principalmente para jovens e adultos e ficou sob responsabilidade das províncias.
A Lei Saraiva corrobora com a ideia da Reforma de Leôncio de Carvalho restringindo o voto às
1881
pessoas alfabetizadas.
Rui Barbosa postula que os analfabetos são considerados, assim como crianças, incapazes de
1882
pensar por si próprios.
A Constituição Republicana determinou que o voto fosse restrito às pessoas letradas e com
1891
posses, uma pequena minoria.
Segundo o IBGE, “o direito a ler e escrever era negado a quase 11 milhões e meio de pessoas
1910
com mais de 15 anos”.
Reforma João Alves, estabeleceu o ensino noturno para jovens e adultos atendendo aos interes-
1925
ses da classe dominante.
Foi criado o Plano Nacional de Educação, que previa o ensino primário integral obrigatório e
1934
gratuito estendido às pessoas adultas.
Foi criado o Fundo Nacional do Ensino Primário com objetivo de realizar programas que
1942
ampliassem e incluíssem o Ensino Supletivo para adolescentes e adultos.
Criada a Campanha Nacional de Educação Rural (CNER), para atender às populações que
1952
viviam no meio rural.
O pensamento de Paulo Freire, assim como sua proposta para alfabetização de adultos, inspira
1960
os principais programas de alfabetização do país.
Slobodan Dimitrov
Criação do Sistema rádio educativo criado na Conferência Nacional dos Bispos do Brasil com
1961
apoio do Governo Federal.
O professor Anízio Alves da Silva foi o “inventor” do supletivo, sistema de ensino hoje conhecido como EJA
(Educação de Jovens e Adultos). Em 1966 o miniginásio, posteriormente Liceu Mário de Andrade, deu oportunidade
para um número incontável de pessoas retomarem os estudos.
Na Lei de Diretrizes e Bases da Educação de 1961, Anízio leu algo que lhe inspirou: a LDB exigia 150 dias letivos
(215, portanto, eram ociosos) para cada série ginasial, mas não falava que esse período tinha de ser dentro de um ano
civil. Concluiu que era perfeitamente possível cumprir o currículo de quatro anos em dois anos e meio.
(<www.gazetadopovo.com.br/vida-e-cidadania/o-homem-que-inventou-o-curso-supletivo-dzzp6u2fat9j5r29cbj4nuvri>.)
1988 A Constituição passou a garantir o Ensino Fundamental gratuito e obrigatório para todos.
A LDB regulamenta nos artigos 37 e 38 a Educação de Jovens e Adultos. O artigo 37 esclarece a quem
a EJA é destinada, determina sua gratuidade e assegura oportunidade educacional apropriada aos alunos
levando em consideração características, interesses, condições de vida e de trabalho, mediante cursos e
exames. Em 2008 a Lei 11.741, complementa, com o parágrafo terceiro, que a EJA deverá articular-se pre-
ferencialmente com a educação profissional.
Parte
2 Direito de acesso e gratuidade
A Constituição Federal de 1988 garante em seu artigo 208, inciso I, acesso e gratuidade ao Ensino
Fundamental àqueles que não tiveram acesso na idade própria. Vejamos o que diz a lei na íntegra:
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Art. 208. O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de:
I - educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 (dezesse-
te) anos de idade, assegurada inclusive sua oferta gratuita para todos os
que a ela não tiveram acesso na idade própria (Redação dada pela Emenda
Constitucional 59/2009).
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VII - atendimento ao educando, em todas as etapas da educação básica, por meio
de programas suplementares de material didático escolar, transporte, alimentação e
assistência à saúde (Redação dada pela Emenda Constitucional 59/2009).
§1.º O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público subjetivo.
§2.º O não oferecimento do ensino obrigatório pelo Poder Público, ou sua oferta
irregular, importa responsabilidade da autoridade competente.
Temos assim toda uma legislação que fundamenta a EJA e consolida essa modalidade de ensino.
Compreende-se também, que a EJA deve ser diferenciada da educação de crianças e adolescentes, visto que
seus alunos já possuem toda uma experiência de vida, muitos participam do mundo do trabalho e precisam
ter tais conhecimentos considerados. Além de necessariamente ser uma educação contínua e permanente.
Reforçando essa ideia, a Resolução 1, de 5 de julho de 2000, do Conselho Nacional de Educação
(CNE) esclarece em seu artigo 5.º (Parágrafo único) que a EJA deve considerar as situações, os perfis dos
estudantes, as faixas etárias e se pauta pela equidade, diferenças e proporcionalidade na apropriação e con-
textualização das diretrizes curriculares nacionais e na proposição de um modelo pedagógico próprio, de
modo a assegurar:
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II - quanto à diferença, a identificação e o reconhecimento da
alteridade própria e inseparável dos jovens e dos adultos em seu
processo formativo, da valorização do mérito de cada qual e do
desenvolvimento de seus conhecimentos e valores;
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A EJA pode ser oferecida em cursos presenciais, semipresenciais e a distância; e ser organizada anual-
mente, semestralmente ou em períodos, ciclos e módulos distintos desde que definidos pelos sistemas de
ensino e respeite às normas da legislação educacional. Em qualquer uma das formas de oferta, os alunos são
avaliados no processo. O artigo 10 da Resolução 1/2000, do CNE, define que
no caso de cursos semipresenciais e a distância, os alunos só poderão ser avaliados, para fins de certifi-
cados de conclusão, em exames supletivos presenciais oferecidos por instituições especificamente auto-
rizadas, credenciadas e avaliadas pelo poder público, dentro das competências dos respectivos sistemas,
conforme a norma própria sobre o assunto e sob o princípio do regime de colaboração.
A EJA pode ser oferecida em instituições públicas, sendo obrigatoriamente gratuita, privadas, organi-
zações não governamentais (ONGs), empresas, instituições da sociedade civil, associações de bairro, clubes
e espaços alternativos, entretanto se a instituição não for credenciada pelo sistema de ensino, os cursos não
terão validade legal.
A diversidade é destaque nos cursos da EJA tanto em sua oferta quanto em seus alunos. Essas dife-
renças devem ser consideradas na hora da construção do seu plano de ensino, obviamente a base nacional
comum deve “abranger, obrigatoriamente, o estudo da língua portuguesa e da matemática, o conhecimento
do mundo físico e natural e da realidade social e política, especialmente do Brasil”.
Parte
3 Ações e programas de incentivo à EJA
Há uma multiplicidade de programas referentes à EJA apresentados nos últimos tempos. Vejamos al-
guns deles:
Em relação à meta dois, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD,
2011), 539,7 mil crianças ainda não frequentam as salas de aula. Essas crianças certamente serão alunos da
EJA no futuro.
Universalizar, até 2016, o atendimento escolar para a população de 15 a 17 anos e elevar, até 2020, a
Meta 3
taxa líquida de matrículas no Ensino Médio para 85% nessa faixa etária.
Para a meta três, ainda conforme dados da PNAD (2011), há uma distorção entre a idade e a série, de
80% dos alunos que frequentam as escolas, apenas 52,25% estão no Ensino Médio, nível de ensino próprio
para a idade. E ainda temos 1,6 milhões de jovens entre 15 e 17 anos que estão fora da escola.
Essa meta previa até 2016 atendimento para toda população de 15 a 17 anos. O Censo Escolar de 2010
indicava que um em cada cinco estudantes brasileiros estava atrasado no Ensino Fundamental, e três em
cada dez no Ensino Médio. Em 2011, 8,4% dos brasileiros com 15 anos ou mais não sabiam ler e escrever.
Segundo a PNAD de 2007, 42,7% dos oito milhões de brasileiros que frequentaram classes de EJA até 2006
não concluíram nenhum segmento do curso. O setor enfrenta uma queda contínua de matrículas, contrarian-
do a meta oito.
Elevar a escolaridade média da população de 18 a 24 anos de modo a alcançar mínimo de 12 anos de
estudo para as populações do campo, da região de menor escolaridade no país e dos 25% mais pobres,
Meta 8
bem como igualar a escolaridade média entre negros e não negros, com vistas à redução da desigualdade
educacional.
Elevar a taxa de alfabetização da população com 15 anos ou mais para 93,5% até 2015 e erradicar, até o
Meta 9 final da vigência do PNE, o analfabetismo absoluto e reduzir em 50% a taxa de analfabetismo funcional.
Em relação à meta nove, considerando a população de 15 a 17 anos nos censos do IBGE de 2000 e
2010, observa-se que houve redução de 5,3% no número absoluto e que o percentual de jovens fora da es-
cola também foi reduzido de 18,9% para 16,3% no período. Porém, de 2007 a 2011, o país perdeu 18 893
das 166 254 turmas de EJA, ou seja, uma queda de 18,9%. Percentual ainda muito distante do previsto de
93,5 até 2015.
Oferecer, no mínimo, 25% das matrículas de Educação de Jovens e Adultos (EJA) na forma integrada à
Meta 10
educação profissional nos anos finais do Ensino Fundamental e no Ensino Médio.
A oferta pode até ter acontecido, no entanto, não é cumprida em termos de qualidade. Assim, percebe-
-se com esses dados que a EJA, mesmo com todo suporte legal a favor dela, é relegada ao segundo plano
governamental e social. Os recursos destinados a ela, do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da
Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (FUNDEB), são os menores do sistema.
Podemos perceber isso claramente quando são constatados que a maioria dos currículos da EJA são adap-
tações do ensino regular, os professores não têm valorização especial nesse segmento de trabalho e, muitas
vezes, são voluntários que alfabetizam os jovens e adultos, sem preparo pedagógico. Geralmente os espaços
destinados a EJA nas escolas são improvisados, sem recursos e precários.
Devemos sempre buscar conhecer o que é apregoado legalmente e o que é efetivado. Esse olhar crítico
nos torna pertencentes ao processo democrático. Dessa forma, sabendo das possibilidades, devemos cobrar,
exigir e divulgar os direitos a nós atribuídos.
aprendendo sobre si mesmo e sobre o mundo. Na profissional, está incluída a necessidade de todas as
pessoas se atualizarem em sua profissão. Um médico, um engenheiro, um físico, todos os profissionais
precisam se requalificar. Em momentos de crise, como o atual, isso fica ainda mais necessário. É co-
mum o trabalhador ter de aprender um novo ofício para se inserir no mercado. Na social (que é a capa-
cidade de viver em grupo), um cidadão, para ser ativo e participativo, necessita ter acesso a informações
e saber avaliar criticamente o que acontece. Além dessas, há outra dimensão de aprendizagem muito
pertinente neste momento: a relação das pessoas com o meio ambiente. Todos nós temos a necessidade
de nos reeducarmos no que se refere a essa questão. Precisamos praticar novos paradigmas de sustenta-
bilidade e novos hábitos de consumo.
Qual a importância dos programas de alfabetização de adultos no Brasil?
Existe uma vontade política muito forte de reduzir as estatísticas de analfabetismo. Para um país
que pretende ser uma potência mundial, ter um número significativo de pessoas que não sabem ler e
escrever é um ruído na imagem. Também é essencial lembrar que esse é um dos indicadores usados para
calcular o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Por fim, no campo pedagógico, a alfabetização
representa o alicerce do processo de Educação, o portal pelo qual é necessário passar para poder conti-
nuar aprendendo.
Como adequar esses programas a um mundo em que o conceito de alfabetização tem se
ampliado?
De acordo com o conceito da Unesco, a alfabetização é a habilidade para identificar, entender,
interpretar, criar, calcular e se comunicar mediante o uso de materiais escritos vinculados a diferentes
contextos. Dessa forma, o essencial é compreender que ela não é mais entendida apenas como o domí-
nio básico da leitura, da escrita e das operações matemáticas. Para uma pessoa realmente possuir essas
habilidades, ela tem de concluir pelo menos o Ensino Fundamental. [...]
Segundo dados da Unesco referentes à América do Sul, a taxa de analfabetismo no Brasil só
não é pior que a do Peru. Por que estamos tão mal?
Eu apontaria três fatores principais. Primeiro, a riqueza natural do Brasil. Talvez ela tenha con-
tribuído para que a Educação não fosse prioridade. Com tantos recursos, parecia não ser necessário
investir nas pessoas. O segundo é que, obviamente, oferecer ensino em um país do tamanho do Brasil
é muito mais difícil do que em outros menores, como o Uruguai e o Paraguai. Por fim, creio que não
exista uma valorização da Educação. Só recentemente os governantes começaram a entendê-la como
essencial para o desenvolvimento sustentável. Durante muito tempo, ela não tinha valor social nem para
o próprio povo.
fundamentais. Em termos de gestão, é essencial implementar políticas de forma mais efetiva, trans-
parente, eficaz e responsável, envolvendo na decisão representantes dos segmentos que participam da
EJA – como a sociedade civil.
Criar políticas é papel da Confintea?
Em geral, a conferência estabelece linhas ou orientações políticas, mas é necessário que ela crie
mecanismos para avaliar o que está sendo feito.
(SATO, Paula. Objetivos maiores que a alfabetização: EJA-Educação para Jovens e Adultos. Planeta Sustentável,
jun. 2009.) Disponível em: <http://planetasustentavel.abril.com.br/noticia/educacao/conteudo_476364.
shtml?func=2>. Acesso em: 22 fev. 2016.)
Atividades
1. A Educação de Jovens e Adultos é oferecida por ser um problema da atualidade ou essa
necessidade é antiga?
2. Quais funções a EJA deve desempenhar de acordo com as Diretrizes Curriculares Nacionais?
Referências
BRASIL. Lei 9.394 de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases para a educação nacional. Diário
Oficial da União. Brasília, DF, 23 dez. 1996. Disponível em: <www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9394.htm>.
Acesso em: 25 abr. 2016.
______, LEI Nº 11.741, de 16 de julho de 2008. Altera dispositivos da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996,
que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para redimensionar, institucionalizar e integrar as ações
da educação profissional técnica de nível médio, da educação de jovens e adultos e da educação profissional e
tecnológica. Publicado no DOU 17.07.2008. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-
2010/2008/Lei/L11741.htm. Acesso em: 02 mai. 2016.
______, Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 02 mai. 2016.
______. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade. Documento
Nacional Preparatório à VI Conferência Internacional de Educação de Adultos (VI CONFINTEA) / Ministério da
Educação (MEC). – Brasília: MEC; Goiânia: FUNAPE/UFG, 2009.
______. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Fundamental. Proposta curricular para educação de
Jovens e Adultos. Brasília: MEC, 2002.
Educação Especial
e a Inclusão
Parte
1 Definições da lei para educação especial
O termo especial é um adjetivo que qualifica o que não é geral ou comum. Ele diz respeito ao particular,
exclusivo, peculiar, típico. De tal modo, a educação especial volta-se para alunos com essas características
e seu objetivo deve ser o mesmo da educação geral, diferindo apenas as formas de atendimento. Segundo o
art. 58 da Lei de diretrizes e bases da educação nacional, 9.394 de 20 de dezembro de 1996; “entende-se por
educação especial, para os efeitos desta Lei, a modalidade de Educação escolar, oferecida preferencialmente
na rede regular de ensino, para educandos portadores de necessidades especiais.”
Há três categorias de educação especial:
• Dependentes – alunos atendidos em clínicas por serem totalmente dependentes e necessitarem de
acompanhamento integral.
• Treináveis – alunos que precisam de supervisão, mas conseguem conviver com outros alunos
rotineiramente.
• Educáveis – alunos que frequentam salas de aulas regulares possuindo habilidade de adaptação
pessoal e social.
Encontramos nas escolas, por exemplo, alunos com transtornos globais do desenvolvimento, eles de-
monstram alterações no desenvolvimento neuropsicomotor, comprometimento nas relações sociais, na co-
municação ou estereotipias motoras. São estudantes com Autismo Infantil, Síndrome de Asperger, Síndrome
de Rett e Transtorno Desintegrativo da Infância. Também temos alunos com altas habilidades/superdotação
que evidenciam potencial elevado nas áreas intelectual, acadêmica, liderança, artes e psicomotricidade,
de forma isolada ou combinada. O espaço escolar para alunos especiais foi conseguido com muita luta e
comprometimento.
Vamos conhecer um pouco do percurso da legislação da Educação Especial.
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN 4.024): “A Educação de excepcionais, deve,
1961
no que for possível, enquadrar-se no sistema geral de Educação, a fim de integrá-los na comunidade”.
LDB Lei 5.692: “deficiências físicas ou mentais, ou que se encontrem em atraso considerável quanto à
1971
idade regular de matrícula e os superdotados deverão receber tratamento especial”.
Declaração de Salamanca é uma resolução da Organização das Nações Unidas (ONU) e foi concebida
na Conferência Mundial de Educação Especial. O texto trata de princípios, políticas e práticas das neces-
1994
sidades educativas especiais, e dá orientações para ações em níveis regionais, nacionais e internacionais
sobre a estrutura de ação em Educação Especial.
Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) – Lei 9.394: o capítulo V é voltado para a educação
especial:
“haverá, quando necessário, serviços de apoio especializado, na escola regular, para atender às peculiari-
dades da clientela de Educação Especial”. Também afirma que “o atendimento educacional será feito em
1996
classes, escolas ou serviços especializados, sempre que, em função das condições específicas dos alunos,
não for possível a integração nas classes comuns de ensino regular”. Além disso, o texto trata da formação
dos professores e de currículos, métodos, técnicas e recursos para atender às necessidades das crianças
com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação.
O Decreto 3.298 regulamenta a Lei 7.853/89, que dispõe sobre a Política Nacional para a Integração da
Pessoa Portadora de Deficiência e consolida as normas de proteção, define a educação especial como
modalidade transversal a todos os níveis e modalidades de ensino, enfatizando a atuação complementar
da educação especial ao ensino regular.
1999
Portaria 319, de 26 de fevereiro de 1999 – institui no Ministério da Educação, vinculada à Secretaria de
Educação Especial/SEESP a Comissão Brasileira do Braille, de caráter permanente.
Lei 10.098, de 19 de dezembro de 2000 – estabelece normas gerais e critérios básicos para a promo-
ção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida, e dá outras
2000 providências.
Portaria 554, de 26 de abril de 2000 – aprova o Regulamento Interno da Comissão Brasileira do Braille.
Lei 10.172. Aprova o Plano Nacional de Educação e dá outras providências. Destaca que “o grande
avanço que a década da educação deveria produzir seria a construção de uma escola inclusiva que garanta
o atendimento à diversidade humana”.
A Lei 10.436/02 reconhece como meio legal de comunicação e expressão a Língua Brasileira de Sinais
(Libras).
Portaria 2.678/02 – aprova diretrizes e normas para uso, ensino, produção e difusão do Sistema Braille
em todas as modalidades de ensino, compreendendo o projeto da Grafia Braille para a Língua Portuguesa
e a recomendação para seu uso em todo território nacional.
2003
Portaria 3.284, de 7 de novembro de 2003 – dispõe sobre requisitos de acessibilidade de pessoas por-
tadoras de deficiências, para instruir os processos de autorização e de reconhecimento de cursos e de
credenciamento de instituições.
Cartilha – O Acesso de Alunos com Deficiência às Escolas e Classes Comuns da Rede Regular.
O Ministério Público Federal divulga o documento com objetivo de disseminar conceitos e diretrizes
mundiais para a inclusão.
2004
Decreto 5.296/04 – regulamenta as leis 10.048/00 e 10.098/00, estabelecendo normas e critérios para
promoção da acessibilidade às pessoas com deficiência ou com mobilidade reduzida (implementação do
Programa Brasil Acessível).
Decreto 5.626/05 – regulamenta a Lei 10.436/02, visando a inclusão dos alunos surdos, dispõe sobre a
inclusão da Libras como disciplina curricular, formação e certificação de professor, instrutor e tradutor/
2005
intérprete de Libras, ensino da Língua Portuguesa como segunda língua para alunos surdos e organização
da educação bilíngue no ensino regular.
Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos. Elaborado pelo Ministério da Educação (MEC),
Ministério da Justiça, Unesco e Secretaria Especial dos Direitos Humanos. Objetiva, dentre suas ações,
2006
fomentar, no currículo da educação básica, as temáticas relativas às pessoas com deficiência e desenvolver
ações afirmativas que possibilitem inclusão, acesso e permanência na educação superior.
Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva. Documento que traça
o histórico do processo de inclusão escolar no Brasil para embasar “políticas públicas promotoras de uma
Educação de qualidade para todos os alunos”.
Decreto 6.949. Promulga a Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e
seu Protocolo Facultativo, assinados em Nova York, em 30 de março de 2007. Esse decreto dá ao texto
da Convenção caráter de norma constitucional brasileira. Ela afirma que os países são responsáveis por
garantir um sistema de Educação inclusiva em todas as etapas de ensino.
Lei 12.764. A lei institui a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do
2012 Espectro Autista.
Lei nº 13.146, De 6 de julho de 2015. Institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência
2015
(Estatuto da Pessoa com Deficiência).
Lei nº 13.234, De 29 de dezembro de 2015. Altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996 (Lei de
2015 Diretrizes e Bases da Educação Nacional), para dispor sobre a identificação, o cadastramento e o atendi-
mento, na educação básica e na educação superior, de alunos com altas habilidades ou superdotação.
A inclusão de alunos especiais no sistema regular de ensino baseia-se na perspectiva de uma educação
para todos. A intenção é estimular o desenvolvimento de todos os estudantes, inclusive dos ditos “normais”,
que de toda forma serão beneficiados visto que, ao elaborar uma proposta pedagógica voltada para a diver-
sidade, estarão sendo contemplados de forma ou de outra. Há também o vislumbre da melhoria da qualidade
da educação que busca diversas formas de ensinar e aprender. Por meio da convivência e cientes de que to-
dos são diferentes e possuidores de potencialidades e limitações, há oportunidade de avanços significativos
na educação.
De qualquer forma, a inclusão não é fácil, ela exige vontade e dedicação, abnegação, tolerância, tanto
dos alunos como dos professores. Sabemos também que muita coisa boa é feita, mas o caminho ainda é
longo para se atingir a qualidade desejada. Mais uma vez, o importante é investimento e vontade política de
nossos dirigentes.
Parte
2 Adaptações para o atendimento
a alunos especiais
Para o atendimento a alunos especiais o mais importante é a integração no sistema regular. Isso exige
mudanças na realidade escolar tanto no âmbito social quanto no educacional e no físico.
No âmbito social é necessário reconhecer os alunos especiais como cidadãos de direito, isto é, eles de-
vem estar agregados à sociedade o mais inteiramente possível. A escola é um ambiente integrador e para tal
deve estar aberta à diversidade de sua comunidade, seus alunos, professores, colaboradores. Essa abertura
tem embasamento no respeito.
No âmbito educacional, a preocupação volta-se para a preparação dos professores, na adequação curricular
e nos processos de ensino, aprendizagem e avaliativos. A Educação Especial deve seguir os mesmos requisitos
curriculares da educação regular, com adaptações e sem minimizar conteúdos ou procedimentos. Isso significa
que não devemos facilitar, diminuir ou excluir conteúdos da base nacional comum e seus processos e sim adap-
tá-los às diferentes necessidades. Quando isso não é possível, quando esgotadas todas as possibilidades, alunos
com grave deficiência mental ou múltipla, por exemplo, recebem a certificação de “terminalidade específica” na
qual o histórico apresenta, de forma descritiva, as habilidades atingidas pelos educandos.
No âmbito físico, a preocupação é com as adequações de espaços, equipamentos e materiais pedagógi-
cos. A eliminação de barreiras arquitetônicas é necessidade básica de acesso a alguns alunos.
O Atendimento Educacional Especializado (AEE) é oferecido nas escolas públicas e privadas de ensino
básico; em salas de recursos multifuncionais, que devem ser atendidas por um professor regente com forma-
ção continuada em Educação Especial. A sala deve oferecer mobiliário adequado, materiais didáticos espe-
cíficos, recursos pedagógicos de acessibilidade e equipamentos específicos para o atendimento dos alunos
com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento ou altas habilidades/superdotação. A intenção é
assegurar aos estudantes público-alvo da educação especial, pleno acesso ao currículo escolar em igualdade
de condições com os demais estudantes.
O AEE deve estar preparado para acolher os diferentes alunos matriculados nas escolas que atendem,
ou da proximidade. Vejamos alguns tipos de atendimentos que ele oferece:
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desenvolvimento de estratégias para promoção da
acessibilidade nas atividades de leitura e escrita. São
exemplos de recursos ópticos: lupas manuais ou de
apoio, lentes específicas bifocais, telescópios, dentre
outros, que possibilitam a ampliação de imagem. São
exemplos de recursos não ópticos: iluminação, plano
inclinado, contrastes, ampliação de caracteres, cader-
nos de pauta ampliada, caneta de escrita grossa, lupa
eletrônica, recursos de informática, dentre outros,
que favorecem o funcionamento visual.
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Consiste na promoção de atividades que ampliem as estruturas
cognitivas facilitadoras da aprendizagem, nos mais diversos
campos do conhecimento, para desenvolvimento da autonomia
e independência do estudante frente às diferentes situações no
contexto escolar. A ampliação dessas estratégias para o desen-
volvimento dos processos mentais possibilita maior interação
entre os estudantes, o que promove a construção coletiva de
novos saberes na sala de aula comum.
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O ensino de Libras consiste no desenvolvimento de estratégias pe-
dagógicas para a aquisição das estruturas gramaticais e dos aspectos
linguísticos que caracterizam essa língua.
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tórias suplementares ao currículo comum, que objetivam o
aprofundamento e expansão nas diversas áreas do conheci-
mento. Tais estratégias podem ser efetivadas por meio do
desenvolvimento de habilidades, da articulação dos serviços
realizados na escola, na comunidade, nas instituições de
educação superior, da prática da pesquisa e desenvolvi-
mento de produtos; da proposição e o desenvolvimento de
projetos de trabalho no âmbito da escola, com temáticas
diversificadas, como artes, esporte, ciências e outras.
O AEE tem por finalidade o ensino da Língua Brasileira de Sinais – Libras; ensino da
Surdez Língua Portuguesa na modalidade escrita; produção e adequação de materiais didáti-
cos e pedagógicos com base em imagens; entre outros.
Ensino do Sistema Braille; orientação e mobilidade no contexto escolar; uso de
tecnologias de informação e comunicação acessíveis; disponibilização de materiais
Cegueira didáticos e pedagógicos acessíveis: áudio-livro, livro digital acessível, textos em for-
mato digital e materiais táteis; ensino da técnica de Soroban; transcrição de material
em tinta para o Braille, entre outros.
Ensino do uso de recursos ópticos e não ópticos; materiais didáticos e pedagógicos
Baixa visão acessíveis: ampliação de fontes, materiais com contraste visual; encaminhamento para
avaliação funcional; a estimulação visual, entre outros.
Uso de recursos de comunicação alternativa; uso dos recursos de acesso ao computa-
Deficiência física dor: ponteira de cabeça, acionadores, entre outros; uso de recursos de acessibilidade:
engrossadores de lápis, plano inclinado, tesouras adaptadas, entre outros.
Denominação Característica
O estudante com Síndrome de Williams e/ou Síndrome de Silver pode ter algum
Síndrome de Williams e/ ou
tipo de deficiência – física, intelectual, sensorial –, transtorno global do desen-
Síndrome de Silver
volvimento ou altas habilidades/superdotação, ou não.
Parte
3 Desafios para educação
especial ser inclusiva
A educação especial, para ser inclusiva, deve acontecer dentro da escola regular. Diferente do que
acontecia até o início do século XXI, quando havia uma escola regular e outra especial, que atendia exclu-
sivamente aos alunos com algum tipo de necessidade especial.
Mesmo sem se dar conta, a escola regular é inclusiva, ela atende uma heterogeneidade incalculável de
alunos, pois recebe a diversidade existente na sociedade em que está inserida. Não podemos, no entanto,
confundir inclusão com interação. Incluir e integrar fazem parte do mesmo processo, porém não são iguais.
A integração é um processo que visa a colocar o aluno na escola, isto é, o aluno com alguma necessi-
dade especial adequa-se ao meio escolar. A educação se dará conforme o aluno especial se adaptar ao que
a escola regular oferecer. Assim, a integração pressupõe um esforço somente de um lado, o do aluno. Esse
processo é muito comum nas escolas sem as devidas preparações e recursos. Simplesmente o aluno especial
frequenta as aulas regulares. Nesse molde, nega-se a condição do aluno especial, ele é inserido no contexto
escolar que não se adéqua às suas necessidades. Nesse caso, não acontece realmente a inclusão, pois se o
aluno não se adaptar ao ensino regular oferecido, ele não se desenvolverá cognitivamente. A integração
defende a ideia de que o aluno especial deve se adaptar aos padrões da sociedade; esse processo é válido se
consideramos a importância da relação entre pares, porém só isso não basta.
Já a inclusão considera a independência da pessoa, isto é, o poder de tomar decisões sem interferências.
Nesse caso, a sociedade deve adaptar-se para atender a diversidade nela existente, isso tudo de forma natu-
ral. A sociedade é que deve promover e garantir a autonomia e a independência de todos, daí a equiparação
de oportunidades seria efetivada. A inclusão não cria um grupo de pessoas especiais que precisam de trata-
mento diferenciado, ela vê todos com características próprias e com necessidades também únicas.
Assim, considerando que todos são diferentes e apresentam necessidades próprias, algumas mais proe-
minentes que outras, a inclusão acontece em todas as escolas. O importante é refletir sobre esse papel social.
Não se deve, portanto, negar a existência de um atendimento especializado para alguns alunos, é ne-
cessário também preparo e suporte para o trabalho do professor. A atenção ao professor é fundamental.
Para atender inclusivamente os alunos especiais, o professor precisa de preparação contínua, constante e
preferencialmente no próprio local de trabalho. Para isso, é necessária uma rede de apoio efetivo, tanto no
Atendimento Educacional Especializado (AEE) como por profissionais da educação especial propriamente
dito (intérprete, professor de Braille, assistentes, acompanhantes etc.).
A escola inclusiva é aquela que oferece reuniões com alunos, professores, funcionários e comunidade
para discutir as dificuldades e buscar soluções, ela promove palestras com especialistas, agencia encontro
entre pais de alunos especiais e regulares, professores e profissionais na área da educação especial. Ela é
uma escola ativa que busca constantemente encarar seus problemas coletivamente.
Extra
Maria Tereza Mantoan: escola e família têm papel
primordial na inclusão
Pedagoga, com doutorado em educação, Maria Tereza Eglér Mantoan é professora da Faculdade
de Educação da Universidade de Campinas (Unicamp). Sua dedicação, nas áreas de pesquisa, docência
e extensão, está voltada ao direito incondicional de todos os alunos à educação escolar de nível básico
e superior de ensino. Tem 17 livros publicados.
Ela exerce, desde 2007, a função de coordenadora pedagógica do curso de especialização para
formação de professores de atendimento educacional especializado, promovido pela Secretaria de
Educação Especial do MEC em parceria com a Universidade Federal do Ceará (UFCE).
Em entrevista ao Jornal do Professor, Maria Tereza diz que a escola e a família têm papel primor-
dial na inclusão dos alunos especiais. Para ela, é importante que esses alunos tenham acesso a escolas
comuns, mas também é importante que as escolas ofereçam atendimento educacional especializado,
complementar à formação, segundo as necessidades de cada um.
Jornal do Professor – Em sua opinião, qual o papel da escola na inclusão de alunos especiais?
E da família?
Maria Tereza Eglér Mantoan – Escola e família têm um papel primordial na inclusão do aluno
que é público-alvo da educação especial. Elas introduzem a diferença, encarnada nesses alunos, assim
como podem escondê-la, como ocorre nas escolas e famílias que excluem essas pessoas dos ambientes
sociais.
JB – Quais as principais dificuldades enfrentadas por professores e escolas no processo de
inclusão? Como superá-las?
MTEM – O principal obstáculo é o modo de organização das escolas, que é excludente, por natu-
reza. Os professores têm muitas dificuldades no sentido de concatenar processos educativos includentes
com os que vigoram ainda nas escolas e que implicam em categorizar e hierarquizar alunos e as próprias
escolas, pelo desempenho de ambos, diante das exigências do sistema de ensino, das “cobranças”, entre
outras. A superação dessas barreiras acontece quando existe compreensão do que é a inclusão e de seus
propósitos de transformar a escola, no sentido de fazer dela um ambiente colaborativo, onde os alunos
aprendem segundo suas capacidades e têm livre expressão de suas ideias, não sendo meros repetidores
de conhecimentos que lhes são transmitidos. Para que essa “virada” da escola aconteça, a formação con-
tinuada é fundamental. Os professores precisam atualizar suas práticas e estarem convencidos de que o
ensino que ministram não dá conta das diferenças de todos os alunos que frequentam suas turmas. Os
pais, novamente podem ser grandes aliados da escola para que seus membros se sintam estimulados a
fazer uma revisão e uma reorganização pedagógica do que é propiciado aos alunos e do valor do ensino
para que estes, de fato, se beneficiem do processo educacional formal.
JP – O que é necessário para incluir bem os alunos da educação especial?
MTEM – Em primeiro lugar, é preciso que esses alunos tenham acesso às escolas comuns. A presença
deles nas turmas torna-se um desafio à “virada” da escola comum, no sentido de garantir-lhes a permanência
e participação plena nas aulas. Também é fundamental que cada escola ofereça a esses alunos, o atendimento
educacional especializado, como complemento à formação de cada um, segundo suas necessidades. Esses
conhecimentos não são os escolares/curriculares, propriamente ditos: matemática, língua portuguesa etc.,
mas aqueles que irão lhes garantir o máximo de autonomia e independência no aprendizado, como o sistema
Braille, a comunicação alternativa /aumentativa e outros equipamentos, ferramentas, linguagens que esse
serviço da educação especial lhes proporciona, preferencialmente, nas suas escolas, no período oposto ao
das aulas.
O reforço financeiro, para que a escola consiga manter esse novo serviço da educação especial é
de grande valia. A partir de 2010, o Fundeb será duplicado para os alunos da educação especial que es-
tiverem matriculados na escola comum e frequentando o atendimento educacional especializado – AEE.
JP – É importante que as escolas participem ativamente do processo de inclusão de alunos
especiais? Quais os benefícios que a inclusão traz tanto para os alunos especiais quanto para os
demais?
MTEM – A convivência com as diferenças traz para todos a possibilidade de exercitarem, desde
pequenos, o questionamento sobre tudo o que discrimina e coloca à parte pessoas, escolas, instituições,
programas.
JP – Você acredita que a inclusão pode contribuir para diminuir o preconceito? Por quê?
Atividades
1. Em relação à educação especial, você acredita que para sua efetivação o mais importante
é a legislação ou a atitude?
Referências
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil, de 5 de outubro de 1988. Diário Oficial [da] República
Federativa do Brasil. Brasília, 5 out. 1988. Seção 1, p.1.
______, LEI Nº 4.024, de 20 de dezembro de 1961. Fixa as Diretrizes e Bases da Educação Nacional, publicado no
DOU de 27.12.1961. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/CCIVIL_03/leis/L4024.htm. Acesso em: 02 mai.
2016.
______. Construir as Competências desde a Escola. Porto Alegre: Artmed, 1999.
______. Comitê Nacional de Educação em Direitos Humanos. Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos /
Comitê Nacional de Educação em Direitos Humanos. – Brasília: Secretaria Especial dos Direitos Humanos, Ministério
da Educação, Ministério da Justiça, UNESCO, 2007. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_
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Geral das Nações Unidas em 10 de dezembro de 1948. Disponível em: http://unesdoc.unesco.org/
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______. Decreto Legislativo 186, de 9 de julho de 2008. Aprova o texto da Convenção sobre os Direitos das Pessoas
com Deficiência e de seu Protocolo Facultativo, assinados em Nova Iorque, em 30 de março de 2007. Diário Oficial
da União, Brasília, 10 de jul. 2008. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Congresso/
DLG/DLG-186-2008.htm>. Acesso em: 26 abr. 2016.
______, Decreto Nº 3.298, de 20 de dezembro de 1999. Regulamenta a Lei no 7.853, de 24 de outubro de 1989, dispõe
sobre a Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência, consolida as normas de proteção, e dá
outras providências. Publicado no DOU de 21.12.99. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/
d3298.htm. Acesso em: 03 mai. 2016.
______, Decreto Nº 3.956, de 08 de outubro de 2001. Promulga a Convenção Interamericana para a Eliminação de
Todas as Formas de Discriminação contra as Pessoas Portadoras de Deficiência. Disponível em: http://www.planalto.
gov.br/ccivil_03/decreto/2001/d3956.htm. Acesso em: 03 mai. 2016.
______, Decreto Nº 5.296, de 02 de dezembro de 2004. Regulamenta as Leis nos 10.048, de 8 de novembro de 2000,
que dá prioridade de atendimento às pessoas que especifica, e 10.098, de 19 de dezembro de 2000, que estabelece
normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com
mobilidade reduzida, e dá outras providências. Publicado no DOU em 03.12.04. Disponível em: http://www.planalto.
gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2004/decreto/d5296.htm. Acesso em: 03 mai. 2016.
______, Decreto Nº 5.626, de 22 de dezembro de 2005. Regulamenta a Lei no 10.436, de 24 de abril de 2002,
que dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais - Libras, e o art. 18 da Lei no 10.098, de 19 de dezembro de 2000.
Publicado no DOU em 23.12.05. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/decreto/
d5626.htm. Acesso em: 03 mai. 2016.
______, Decreto Nº 6.094, de 24 de abril de 2007. Dispõe sobre a implementação do Plano de Metas Compromisso
Todos pela Educação, pela União Federal, em regime de colaboração com Municípios, Distrito Federal e Estados, e a
participação das famílias e da comunidade, mediante programas e ações de assistência técnica e financeira, visando a
mobilização social pela melhoria da qualidade da educação básica. Publicado no DOU em 25.04.07. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2007/decreto/d6094.htm. Acesso em: 03 mai. 2016.
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______, Ministério da Educação, PORTARIA Nº 319, DE 26 DE FEVEREIRO DE 1999. Disponível em: http://portal.
mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/port319.pdf. Acesso em: 03 mai. 2016.
______, Ministério da Educação, Portaria Nº 554 de 26 de abril de 2000. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/
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1994. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/salamanca.pdf>. Acesso em: 26 abr. 2016.
O Acesso de Alunos com Deficiência às Escolas e Classes Comuns da Rede Regular / Ministério Público Federal:
Fundação Procurador Pedro Jorge de Melo e Silva (organizadores) / 2ª ed. rev. e atualiz. Brasília: Procuradoria Federal
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Estados Americanos. Brasília, 2001. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/guatemala.
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______, Resolução CNE/CP 1, de 18 de dezembro de 2002. Institui Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação
de Professores da Educação Básica, em nível superior, curso de licenciatura, de graduação plena. Publicado no DOU
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______, Resolução Nº 4, de 2 de outubro de 2009. Institui Diretrizes Operacionais para o Atendimento Educacional
Especializado na Educação Básica, modalidade Educação Especial. Publicado no DOU em 05.10.09. Disponível em:
http://www.abiee.org.br/doc/Resolu%E7%E3o%204%20DE%2002%20out%202009%20EDUCA%C7%C3O%20
ESPECIAL%20rceb004_09.pdf. Acesso em: 03 mai. 2016.
______. Temas em Educação Especial. 2. ed. Rio de Janeiro: WVA, 1998.
CARVALHO, Rosita Edler. Temas em Educação Especial. Rio de janeiro: WVA, 1997.
FERREIRA, Windyz B. Educar na diversidade: práticas educacionais inclusivas na sala de aula regular. In:
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Ensaios Pedagógicos – Educação Inclusiva: direito à diversidade. Brasília: SEESP/
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MANTOAN, Maria Tereza. Escola e Família têm papel fundamental na inclusão. Entrevista publicada em: http://
portaldoprofessor.mec.gov.br/noticias.html?idEdicao=32&idCategoria=8. Acesso em: 03 mai. 2016.
Educação
a Distância
Parte
1 O que é educação a distância
A Educação a Distância, também conhecida como EAD, é a modalidade de ensino no qual aluno e
professor não precisam necessariamente estar no mesmo lugar, ao mesmo tempo. A relação entre eles pode
acontecer de várias maneiras e, obviamente na contemporaneidade, as tecnologias facilitam esse processo.
Vejamos a definição do Decreto 5.622 de 19.12.2005, que regulamenta o art. 80 da Lei 9.394, de 20 de de-
zembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional:
Decreto 5.622
Art. 1.º Para os fins deste Decreto, caracteriza-se a educação a distância como modalidade educacional
na qual a mediação didático-pedagógica nos processos de ensino e aprendizagem ocorre com a utilização de
meios e tecnologias de informação e comunicação, com estudantes e professores desenvolvendo atividades
educativas em lugares ou tempos diversos.
A EAD não é nova, inicialmente a conexão entre professor e aluno acontecia via correio, rádio, te-
levisão, vídeo, telefone e similares. Em 1939, foi fundado o Instituto RádioMonitor, a escola pioneira no
Brasil a desenvolver educação a distância. O curso, elaborado pelo imigrante húngaro Nicolás Goldberger, a
princípio era composto de apostilas e um kit, e no final era possível construir um rádio caseiro. A iniciativa
de Goldberger cresceu até que, em outubro de 1939, foi fundado o Instituto Radiotécnico Monitor, criando
a partir daí diversos cursos profissionalizantes.
Em 1941, em São Paulo, foi criado o Instituto Universal Brasileiro (IUB), instituição privada e pioneira
no ensino a distância por correspondência no Brasil. Por meio de anúncios em jornais e revistas, o instituto
oferecia vários tipos de cursos profissionalizantes e supletivos por correspondência; entre os mais procura-
dos destacavam-se: cursos de eletrônica, mecânica de automóveis, corte e costura e desenho artístico. De
acordo com a instituição, desde a fundação até o ano 2000, quatro milhões de pessoas haviam realizado os
cursos da escola, e a partir do ano 2000 o Instituto Universal Brasileiro também passou a oferecer cursos
pela internet.
O SENAC, em 1947, em parceria com o SESC, instituiu a Universidade do Ar, um projeto revolucioná-
rio. As aulas eram gravadas em disco de vinil e estes eram distribuídos para emissoras de rádio do estado de
São Paulo, tanto da capital como do interior. O projeto beneficiou milhares de alunos entre os anos de 1947
e 1962, período em que a Universidade do Ar durou.
O ensino a distância, ainda de acordo com o decreto 5.622, artigo 2.º, poderá ser ofertado em diferentes
níveis e modalidades educacionais. Assim, pode-se cursar a educação básica, a EJA, a educação especial,
respeitadas as especificidades legais pertinentes; a educação profissional, abrangendo os seguintes cursos e
programas: técnicos, nível médio e tecnológico, nível superior; a educação superior, abrangendo os seguin-
tes cursos e programas: sequenciais, graduação, especialização, mestrado e doutorado.
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Os locais de atendimento presenciais nas diversas localidades são chamados polos. Os polos de apoio pre-
sencial são unidades operacionais para o desenvolvimento descentralizado de atividades pedagógicas e admi-
nistrativas relativas aos cursos e programas ofertados a distância. Eles têm estrutura mínima de atendimento aos
alunos e devem oferecer acervo bibliográfico mínimo para possibilitar acesso aos estudantes, além do material
didático utilizado no curso; as avaliações da EAD devem ser presenciais e realizadas nos polos.
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As tecnologias ajudam nos avanços da Educação a Distância, pois facilitaram
o acesso a lugares mais remotos e de forma cada vez mais acessível. O grande
número de alunos também ajudou a baratear cursos e materiais.
Parte
2 Legislação específica na
educação a distância
As primeiras legislações voltadas para Educação a Distância surgiram no final da década de 1960.
O Decreto-Lei 236/67 determina em seu artigo 13 [a] televisão educativa se destinará à divulgação de
programas educacionais, mediante a transmissão de aulas, conferências, palestras e debates” e acrescenta no
parágrafo único [a] televisão educativa não tem caráter comercial, sendo vedada a transmissão de qualquer
propaganda, direta ou indiretamente, bem como o patrocínio dos programas transmitidos, mesmo que ne-
nhuma propaganda seja feita através dos mesmos”.
A Lei 5.692/71 enfatizou o ensino por correspondência no campo do Ensino Supletivo: Para dar a to-
dos – crianças e adultos – condições de receber a instrução que lhes é indispensável, para tal, deveriam ser
concentrados esforços no desenvolvimento de tecnologias educacionais voltadas para todos os níveis. A esse
imperativo respondia com efetividade o ensino por correspondência. Com o concurso de meios atuantes de
comunicação de massa, como rádio, televisão e cinema, veiculando informações educativo-culturais, nas
mais diversas formas, tornou-se mais ampla a perspectiva desse tipo de ensino, que, por suas características,
é método único de levar instrução àqueles que de outra forma a ela não teriam acesso (BRASIL, 1974, p. 34).
Em 1995 foi criada a Associação Brasileira de Educação a Distância (ABED), uma sociedade científica
sem fins lucrativos. Seus objetivos são: estimular a prática e o desenvolvimento de projetos em educação a
distância em todas as formas; incentivar a prática da mais alta qualidade de serviços para alunos, professo-
res, instituições e empresas que utilizam a educação a distância; apoiar a “indústria do conhecimento” do
país procurando reduzir as desigualdades causadas pelo isolamento e pela distância dos grandes centros ur-
banos; promover o aproveitamento de “mídias” diferentes na realização de educação a distância; fomentar o
espírito de abertura, de criatividade, inovação, de credibilidade e de experimentação na prática da educação
a distância.
A Associação Brasileira de Educação à Distância criou seu código de ética que indica o papel do tutor
no processo ensino-aprendizagem. De acordo com o código, o tutor deve acompanhar sistematicamente o
progresso de cada aluno, usando recursos de tutoria, apoio didático e aconselhamento, e fazer um trabalho
constante de motivação de cada um deles no sentido de que possam completar o programa de estudos com
bom aproveitamento.
O Decreto 2.494, de 10 de fevereiro de 1998, elucida que os cursos de educação a distância podem ser
constituídos em regime especial, com flexibilidade de horários, duração e requisitos para admissão, porém
sem prejuízo dos objetivos e das diretrizes curriculares fixadas em nível nacional.
O Plano Nacional de Educação, estabelecido pela LDB e que passou a vigorar em janeiro de 2001, com
aprovação da Lei 10.172/01, no capítulo que aborda a educação a distância e as Tecnologias Educacionais,
cita essa modalidade de ensino “como um meio auxiliar de indiscutível eficácia” para enfrentar “os déficits
educativos e as desigualdades regionais”.
Cabe colocar que as instituições de Ensino Superior presencial, de acordo com a Portaria 4.059 de 10
de dezembro de 2004, poderão ofertar até 20% da carga horária total do curso na modalidade semipresen-
cial. Sempre com a exigência de avaliação presencial.
As bases legais para a modalidade de educação a distância atual foram instituídas pela Lei de Diretrizes
e Bases da Educação Nacional (Lei 9.394, de 20 de dezembro de 1996), que foi regulamentada pelo Decreto
5.622, publicado no D.O.U. de 20/12/2005. A LDB integra a EAD ao sistema de ensino. Fica estabelecido
na lei que o governo federal (MEC) credenciará instituições e definirá requisitos para realização de exames
e de registro de diplomas relativos a cursos de Educação a distância. De acordo com o artigo 80 “O Poder
Público incentivará o desenvolvimento e a veiculação de programas de Ensino à Distância, em todos os
níveis e modalidades de ensino, e de educação continuada”. Determina ainda em seu §1.º que a educação
à distância, organizada com abertura e regimes especiais, será oferecida por instituições especificamente
credenciadas pela União.
Parte
3 Regulamentação e certificação
As instituições de ensino que têm interesse em credenciar a oferta dos cursos de graduação ou profis-
sional tecnológica a distância, deverão fazê-lo ao Ministério da Educação e do Desporto, a ser protocolada
no Protocolo Geral do MEC ou na DEMEC do Estado. A Portaria 301, de 7 de abril de 1998 desse minis-
tério, normatiza os procedimentos de credenciamento de instituições para oferta de cursos de graduação e
educação profissional tecnológica a distância.
Para tal, é necessária que a instituição apresente um projeto com as informações sobre a instituição,
experiência anterior com cursos a distância, dados sobre o curso pretendido, descrição da infraestrutura em
função do projeto a ser desenvolvido, professores, descrição do processo seletivo para o ingresso no curso e
parcerias com outras instituições. Em posse desse projeto, a comissão de credenciamento elabora um rela-
tório com a recomendação ou não do credenciamento.
O Decreto Presidencial 2.494, de 10 de fevereiro de 1998, define regras gerais para o credenciamento
das instituições que queiram se habilitar nessa modalidade de ensino e as normas a serem seguidas pelas
mesmas. De acordo com o artigo, “os cursos a distância que conferem certificado ou diploma de conclusão
do ensino fundamental para jovens e adultos, do ensino médio, da educação profissional e de graduação
serão oferecidos por instituições públicas ou privadas especificamente credenciadas para esse fim [...]”.
Para oferta de cursos a distância dirigidos à educação fundamental de jovens e adultos, ensino médio
e educação profissional de nível técnico, o Decreto 2.494/98 – mais tarde alterado pelo Decreto 2.561/98 –
entregou competência às autoridades integrantes dos sistemas de ensino, de que trata o artigo 8.º da LDB,
para agenciar os atos de credenciamento de instituições situadas no âmbito das respectivas atribuições.
Portanto, as propostas de cursos nesses níveis deverão ser conduzidas ao órgão do sistema municipal ou
estadual responsável pelo credenciamento de instituições e autorização de cursos – a menos que se trate
de instituição vinculada ao sistema federal de ensino, quando o credenciamento deverá então ser feito pelo
Ministério da Educação.
O Decreto 2.561, de 27 de abril de 1998, delega ao Ministro de Estado da Educação e do Desporto
competência para promover o credenciamento das instituições vinculadas ao sistema federal de ensino e das
instituições de educação profissional tecnológica e de ensino superior dos demais sistemas.
A criação, organização e oferta de cursos e programas da EAD devem seguir o estabelecido na legisla-
ção em vigor, sempre com a mesma duração definida para os respectivos cursos na modalidade presencial.
A avaliação do desempenho dos alunos tanto para promoção quanto conclusão de estudos e obtenção
de diploma ou certificado acontecem mediante cumprimento das atividades programadas e realização de
exames presenciais. Estes serão elaborados pela instituição de ensino credenciada. Os exames presenciais
prevalecem sobre os demais resultados obtidos em quaisquer outras formas de avaliação a distância.
Quanto à certificação dos cursos de EAD, a LDB 9.394/96, art. 80, §2.º determina que a União re-
gulamentará os requisitos para realização de exames e registro de diploma relativos a cursos de educação
a distância, e no Decreto 2.494/98, art. 2.º que os cursos a distância que conferem certificado ou diploma
de conclusão de ensino fundamental para jovens e adultos, ensino médio, da educação profissional, e de
graduação serão oferecidos por instituições públicas ou privadas especificamente credenciadas para esse
fim, nos termos deste Decreto e conforme exigências pelo Ministro de Estado da Educação e do Desporto .
O artigo 5.º do mesmo decreto explicita que os certificados e diplomas de cursos a distância serão
válidos dentro do território Nacional. E o artigo 6.º define que a revalidação de diplomas emitidos por ins-
tituições estrangeiras, quando da realização do curso em cooperação com instituições sediadas no Brasil.
Para fins de promoção, certificação ou diplomação, o aluno deverá realizar exames presenciais, de respon-
sabilidade da instituição credenciada para ministrar o curso, segundo procedimentos e critérios definidos no
projeto autorizado, segundo trata o Art. 7.º.
O parágrafo único do mesmo artigo prevê que os exames deverão avaliar competências descritas nas
diretrizes curriculares nacionais, quando for o caso, bem como conteúdos e habilidades que cada curso se
propõe a desenvolver.
Diplomas de graduação, mestrado e doutorado em universidades brasileiras e a distância têm a mesma
validade dos cursos equivalentes a universidades presenciais, desde que devidamente reconhecidas pelo MEC.
A EAD veio como opção de estudo e está se tornando a mais procurada. As facilidades, custos e resul-
tados estão sendo positivos e proporcionando mais formação acadêmica para muitas pessoas.
Extra
Conteúdo gratuito e jogos educativos são tendências
do ensino a distância
Andréia Martins
O Brasil tem hoje mais de 5 milhões de alunos de cursos a distância de acordo com os números
do último censo da Abed (Associação Brasileira de Educação a Distância), coletados em 2012. O UOL
Educação conversou com especialistas no assunto para levantar as tendências da área. O celular, a
mistura de conhecimento com entretenimento e mudanças nos Moocs (cursos massivos abertos online)
estão entre as apostas para o ensino a distância.
Confira a seguir as sete principais tendências dos cursos EAD.
1 – Curadoria de temas
“Hoje as pessoas, independentemente de idade, profissão ou escolaridade podem estudar e apren-
der o que quiserem, quando quiserem, no ritmo que quiserem, sem intermediações de instituições ou
professores. O processo de educação será cada vez mais centrado nos interesses do aluno, que tem cada
vez mais poder de acessar, escolher”, avalia Martha Gabriel, escritora e consultora nas áreas de inova-
ção e educação.
Para a especialista, essa tendência afetaria drasticamente o sistema de EAD. “Eles devem funcio-
nar cada vez mais como hubs de referências [curadoria] e de interação do que apenas repositório de
conteúdos e sistema de avaliação. A tendência é que o EAD passe a ser um facilitador aberto interativo
e não um sistema fechado engessado”.
2 – Mais conteúdo gratuito
Oferecer conteúdo gratuito tanto como complemento de um curso presencial ou como conteúdo
adicional é outra tendência. Um exemplo são os chamados REA (Recursos Educacionais Abertos),
materiais de ensino que estão sob domínio público na internet, disponíveis para que qualquer um possa
usar.
“No Brasil a tendência é que o REA cresça, mas não tanto como deveria. Aqui ainda é difícil os co-
légios fazerem seus próprios vídeos ou disponibilizarem apresentações de PowerPoint para download.
Hoje podemos nos dar o luxo de dar de graça o conhecimento que pode ser útil para as pessoas. Isso
não dá um diploma, mas gera o interesse no conteúdo”, diz Fredric Michael Litto, professor emérito da
USP e atual presidente da Abed.
Atividades
1. Que impacto as tecnologias digitais causam na EAD?
3. O Ensino Superior presencial pode fazer uso da EAD em sua grade regular?
Educação
no Campo e
Educação Indígena
Parte
1 Educação no campo
Na década de 1960, com o desenvolvimento industrial, o Estado, a fim de conter o fluxo migratório do
campo para a cidade, começou a pensar no investimento da educação rural. A Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional de 1961, em seu art. 105, estabeleceu que “os poderes públicos instituirão e ampararão
serviços e entidades que mantenham na zona rural escolas capazes de favorecer a adaptação do homem
ao meio e o estímulo de vocações profissionais”. Já em meados de 1960 foi criada a Escola-Fazenda, com
ensino técnico agropecuário.
Dentro de um processo politizador, os trabalhadores rurais começam a ter voz nos sindicatos dos tra-
balhadores rurais e iniciativas populares de organização da educação para o campo. Entre eles, destacam-se
o Movimento Nacional dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), a Comissão Pastoral da Terra (CPT),
a Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (CONTAG), o Movimento Eclesial de Base
(MEB), Escolas Famílias Agrícolas (EFAs), as Casas Familiares Rurais (CFRs) e os Centros Familiares de
Formação por Alternância (CEFAs).
A mobilização social teve seus reflexos na Constituição Federal de 1988, que consolidou o compromis-
so do Estado e da sociedade brasileira em promover a educação para todos, garantindo direito ao respeito e
à adequação da educação às singularidades culturais e regionais. Ao afirmar que “o acesso ao ensino obriga-
tório e gratuito é direito público subjetivo” (art. 208), edificou os pilares jurídicos sobre os quais viria a ser
construída uma legislação educacional capaz de sustentar o cumprimento desse direito pelo Estado brasilei-
ro. Dessa forma, a educação escolar do campo passa a ser abordada como segmento específico, recheada de
implicações sociais e propostas pedagógicas próprias.
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB (Lei 9.394 de dezembro de 1996) propõe no
artigo 28 medidas de adequação da escola à vida do campo:
Art. 28. Na oferta de educação básica para a população rural, os sistemas de en-
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brasileira que trabalha e vive no e do campo, por meio de uma política pública
permanente que inclua como ações básicas: o fim do fechamento arbitrário
de escolas no campo; a construção de escolas no campo que sejam do campo;
a construção de alternativas pedagógicas que viabilizem, com qualidade, a
existência de escolas de educação fundamental e de ensino médio no próprio
campo; a oferta de Educação de Jovens e Adultos (EJA) adequada à realidade
do campo; políticas para a elaboração de currículos e para escolha e distribui-
ção de material didático-pedagógico, que levem em conta a identidade cultural
dos povos do campo e o acesso às atividades de esporte, arte e lazer.
2. Ampliação do acesso e permanência da população do campo à Educação
Superior, por meio de políticas públicas estáveis.
3. Valorização e formação específica de educadoras e educadores do campo
por meio de uma política pública permanente.
4. Respeito à especificidade da Educação do Campo e à diversidade de seus
sujeitos.
A Resolução CNE/CEB, de 3 de abril de 2002, da Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional
de Educação, dispõe sobre as Diretrizes Nacionais para a Educação Básica nas Escolas do Campo.
De acordo com o CNE/MEC 2002:
“concepção político pedagógica, voltada para dinamizar a ligação dos seres humanos com a produção
das condições de existência social, na relação com a terra e o meio ambiente, incorporando os povos e o
espaço da floresta, da pecuária, das minas, da agricultura, os pesqueiros, caiçaras, ribeirinhos, quilombolas,
indígenas e extrativistas”.
Com essa resolução há o entendimento de que as pessoas que vivem no campo têm direito à educação
diferenciada que extrapola a noção somente de espaço geográfico e considera as necessidades culturais, dos
direitos sociais e a formação integral do indivíduo.
O Ministério da Educação, por meio da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade
(SECAD), criou em 2004 a Coordenação-Geral de Educação do Campo (CGEC), com objetivo de elaborar
políticas públicas específicas aos povos do campo. Em 2007, o Ministério da Educação, por meio da Portaria
1.258/2007, instituiu a Comissão Nacional de Educação do Campo, órgão colegiado de caráter consultivo
com a atribuição de assessorar o MEC para elaboração de políticas públicas em educação do campo.
Assim, o objetivo maior da Educação do Campo é ofertar uma educação escolar que esteja associada à
produção da vida, da cultura e dos saberes do campo, buscando ações coletivas na busca de um processo de
ensino e aprendizagem com qualidade.
Nesse sentido, é importante não confundirmos Educação Rural com Educação do Campo e, para tanto,
vamos contrapor as características de cada uma:
Atendia aos interesses das oligarquias rurais, que Surge a partir da luta de movimentos sociais para colo-
moldavam a sociedade camponesa de acordo com suas car como ponto central de debate a identidade do homem
necessidades. do campo.
Parte
2 Educação indígena
A Educação Indígena tem algumas especificações determinadas pela Fundação Nacional do Índio
(FUNAI), que foram pensadas buscando direitos fundamentais e de cidadania.
A FUNAI é um órgão federal que profere as políticas indigenistas e monitora sua aplicação e funcionalidade visan-
do sempre o respeito e autonomia dos povos indígenas frente às próprias organizações.
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Em relação ao apoio à discussão e elaboração de Projetos Políticos Pedagógicos (PPP), nele o povo
indígena pode expressar qual tipo de escola deseja para seus alunos, que estrutura essa escola terá e que tipo
de integração fará com os projetos comunitários, sempre buscando atender aos interesses do povo.
A FUNAI contribui no PPP nos seguintes aspectos:
a) A necessidade de assegurar os direitos à educação diferenciada aos povos
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indígenas e à valorização de suas línguas, conhecimentos e processos pedagógicos
próprios.
b) O entendimento de que o currículo compõe o todo do fazer escolar, e não apenas
a organização da matriz onde se abrigam as disciplinas, assim como o PPP se
constitui como elemento estruturante da vida escolar que expressa a identidade e os
projetos societários. A escola indígena deve refletir o modo de vida, a concepção
cultural e política de cada povo indígena e as relações intersocietárias que mantém.
c) O papel da escola na vida da comunidade, sua articulação com as demais ações
e projetos do povo indígena, assim como sua influência em outras áreas de atuação
dos governos, tendo como pressuposto, portanto a necessidade do tratamento inte-
grado de questões de territorialidade, sustentabilidade e patrimônio cultural.
Para tais ações, a FUNAI atua junto às Secretarias Municipais e Estaduais de Educação para implanta-
ção e discussão nessa construção.
Em relação ao monitoramento e acompanhamento das políticas de Educação Escolar Indígena, a
FUNAI observa a participação indígena nas discussões de propostas, implantação e avaliação das políticas
destinadas a eles.
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discutida pelos educadores indígenas e comunidades, com assessoria de
educadores indigenistas – técnicos da FUNAI. Dessa forma, as pessoas que
atuam nessa área podem acompanhar a execução da atividade, sendo parte
de sua trajetória, e não apenas “fiscalizadores” da ação. A Funai não se
configura como a única responsável pela avaliação dos processos educati-
vos, mas os acompanha junto aos indígenas e aos órgãos governamentais e
não governamentais envolvidos com a Educação Escolar Indígena.
Não podemos deixar de considerar que a intenção da FUNAI é a autogestão comunitária. Para isso, ela
acompanha e monitora os processos educativos realizados junto aos povos indígenas com os seguintes pontos:
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cação escolar, e aos diálogos interinstitucionais para elaboração e
implementação de propostas em parceria.
b) Incentivo à formação de técnicos, no que diz respeito às políticas
de educação, e ao exercício das atribuições relacionadas à garantia
dos direitos educacionais dos povos indígenas.
c) Apoio à formação de indígenas voltada à participação nas políticas
de educação e ao controle social.
Em relação à Educação Infantil, a Resolução 5, de 17 de dezembro de 2009, estabelece que é opcional,
cabendo a cada comunidade indígena decidir o que lhe convém.
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A educação infantil é avaliada de acordo com as condições de cada família indígena que deve decidir o
ingresso ou não da criança na escola formal. O apoio e contribuição da FUNAI se dão mediante:
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a) Apoio aos processos de discussão sobre Educação Infantil, de forma a dis-
ponibilizar informação clara e objetiva, e oferecer subsídios para a decisão
das comunidades indígenas sobre sua implantação ou não nas aldeias.
b) Acompanhamento e avaliação das ações em execução, tendo como condi-
ção a consulta às comunidades e referências técnicas adequadas às especifi-
cidades dos direitos indígenas.
Já o Ensino Fundamental é prioridade para as comunidades indígenas, desde que valorizados os conhe-
cimentos e processos pedagógicos próprios de cada povo, a língua materna, a interculturalidade, o calendá-
rio e os currículos escolares.
O Ensino Médio, Técnico e Profissional tem número pequeno de frequência de estudantes indígenas.
Isso se dá pela falta de oferta de escolas nas aldeias e a dificuldade de deslocamento. Outro problema
também é a falta de oferta de cursos em nível médio que atenda às especificidades das comunidades. Daí
a necessidade de discussões com os povos indígenas sobre a oferta de cursos técnicos e profissionalizantes
com adequações necessárias para as demandas específicas das comunidades indígenas. A Política Nacional
de Gestão Ambiental e Territorial das Terras Indígenas – PNGATI, da qual a FUNAI é coordenadora, tem,
entre seus eixos, um eixo sobre formação, que apresenta entre as finalidades a execução de ações educativas
de caráter escolar e não escolar.
Nesse sentido, a participação da FUNAI é de:
a) Apoio aos processos de discussão e implantação de projetos de formação
profissional, a partir de demandas das comunidades indígenas.
b) Apoio técnico e participação nas discussões de projetos pedagógicos de
formação profissional, em parceria com os Institutos Federais de Educação, e
das políticas de acesso e permanência para indígenas.
c) Contribuição para a discussão e adequação do Catálogo Nacional de Cursos
Técnicos e do Catálogo de Cursos PRONATEC, buscando atender às especifi-
cidades das propostas pedagógicas dos povos indígenas.
d) Apoio e participação nas etapas de extensão comunitária, visando à integra-
ção das atividades de formação aos projetos comunitários e às ações da FUNAI
em outros setores.
As principais ações da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade (SECAD) do
Ministério da Educação para garantir a oferta de educação escolar indígena de qualidade são as seguintes:
Parte
3 O que diz a lei sobre educação indígena
A legislação nacional entende que os povos indígenas devem ter uma educação específica, já que é ne-
cessário considerar prioritariamente as diferenças culturais e sociais, a interculturalidade, o estudo bilíngue,
§2.º O ensino fundamental regular será ministrado em língua portuguesa, assegurada às comunidades
indígenas também a utilização de suas línguas maternas e processos próprios de aprendizagem.
O artigo 231 reforça o reconhecimento aos índios de costumes, organização social, língua, crenças
e tradições; também retoma o direito sobre a terra. Vejamos os parágrafos do artigo que contemplam tais
considerações:
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§1.º São terras tradicionalmente ocupadas pelos índios
as por eles habitadas em caráter permanente, as utiliza-
das para suas atividades produtivas, as imprescindíveis
à preservação dos recursos ambientais necessários a
seu bem-estar e as necessárias à sua reprodução física
e cultural, segundo seus usos, costumes e tradições.
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§3.º O aproveitamento dos recursos hídricos, incluídos
os potenciais energéticos, a pesquisa e a lavra das
riquezas minerais em terras indígenas só podem ser
efetivados com autorização do Congresso Nacional,
ouvidas as comunidades afetadas, ficando-lhes
assegurada participação nos resultados da lavra, na
forma da lei.
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§5.º É vedada a remoção dos grupos indígenas de suas
terras, salvo, “ad referendum” do Congresso Nacional,
em caso de catástrofe ou epidemia que ponha em risco
sua população, ou no interesse da soberania do País,
após deliberação do Congresso Nacional, garantido,
em qualquer hipótese, o retorno imediato logo que
cesse o risco.
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O artigo 232 legitima os índios e suas comunidades a ingressar em juízo em defesa de seus direitos e
interesses com interferência do Ministério Público em todos os atos e processo.
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O artigo 79 determina que compete à União o apoio técnico e financeiramente aos sistemas de ensino
no provimento da educação intercultural às comunidades indígenas, desenvolvendo programas integrados
de ensino e pesquisa.
A Lei 11.645/2008 altera a Lei 9.394, de 20 de dezembro de 1996, modificada pela Lei 10.639, de 9 de janeiro de
2003, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da rede de ensino a
obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-brasileira e Indígena”.
Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e de ensino médio, públicos e privados,
torna-se obrigatório o estudo da história e cultura afro-brasileira e indígena.
§1.º O conteúdo programático a que se refere este artigo incluirá diversos aspectos da história e da cultura
que caracterizam a formação da população brasileira, a partir desses dois grupos étnicos, tais como o
estudo da história da África e dos africanos, a luta dos negros e dos povos indígenas no Brasil, a cultura
negra e indígena brasileira e o negro e o índio na formação da sociedade nacional, resgatando as suas
contribuições nas áreas social, econômica e política, pertinentes à história do Brasil.
§2.º Os conteúdos referentes à história e cultura afro-brasileira e dos povos indígenas brasileiros
serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de educação artística
e de literatura e história brasileiras.” (NR)
O Decreto 6.861/2009, que institui a organização da Educação Escolar Indígena em territórios etnoe-
ducacionais, define que:
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Cada território etnoeducacional compreenderá, independentemente
da divisão político-administrativa do País, as terras indígenas, mesmo
que descontínuas, ocupadas por povos indígenas que mantêm relações
intersocietárias caracterizadas por raízes sociais e históricas, relações
políticas e econômicas, filiações linguísticas, valores e práticas
culturais compartilhados.
As diferentes visões exigem diálogo de gestores da educação com povos com identidades ou processos
históricos e culturais articulados, para além do alcance das divisões territoriais de unidades federativas ou
municipais. São objetivos da educação escolar indígena (art. 2.º):
I - valorização das culturas dos povos indígenas e a afirmação e manutenção de
sua diversidade étnica;
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A Lei 12.711/2012 dispõe sobre o ingresso nas universidades federais e nas instituições federais de ensino
técnico de nível médio e dá outras providências. O art. 6.º determina que o Ministério da Educação e a Secretaria
Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, da Presidência da República, serão responsáveis pelo
acompanhamento e avaliação do programa de que trata essa Lei, ouvida a Fundação Nacional do Índio (FUNAI).
O Decreto 7.747, de 5 de junho de 2012, institui a Política Nacional de Gestão Territorial e Ambiental
de Terras Indígenas – PNGATI. O art. 4.º, eixo 7, indica a capacitação, formação, intercâmbio e educação
ambiental, promovendo ações voltadas ao reconhecimento profissional, à capacitação e à formação de indí-
genas para gestão territorial e ambiental no ensino médio, no ensino superior e na educação profissional e
continuada; capacitar, equipar e conscientizar os povos indígenas para prevenção e controle de queimadas
e incêndios florestais; promover e estimular intercâmbios nacionais e internacionais entre povos indígenas
para troca de experiências sobre gestão territorial e ambiental, proteção da agrobiodiversidade e outros te-
mas pertinentes à PNGATI.
O mesmo decreto determina as competências da FUNAI frente aos poderes de assistência jurídica aos
povos indígenas, sua estrutura organizacional.
A educação indígena está diretamente vinculada à FUNAI, que acompanha os avanços e neces-
sidades dos povos indígenas buscando melhor solução, considerando as diferenças culturais e sociais, a
interculturalidade.
Extra
Rita Potiguara – Entrevista
A professora e doutora em Educação que nunca deixou de lado sua identidade étnica e seu per-
tencimento ao povo indígena
Silvestre Gorgulho
FMA – Existe alguma estatística de quantos estudantes indígenas têm o curso superior no
Brasil?
Rita Potiguara – Não há uma estatística oficial a respeito, dada a recém presença dos povos in-
dígenas no ensino superior e sua histórica invisibilidade. Atualmente o MEC estima que haja cerca de
oito mil estudantes indígenas na educação superior. Eles têm acessado o ensino superior por programas
que têm criado formas de acesso e permanência diferenciadas, resultando nas iniciativas de criação de
cursos específicos, como na área da gestão territorial, da saúde indígena e da formação de professores,
campos de formação mais demandados pelos povos indígenas na educação superior.
FMA – Qual o sonho de uma Universidade Intercultural Indígena?
Rita Potiguara – Acredito que uma universidade indígena terá que ser protagonizada pelos próprios
indígenas, servindo ainda para repensar as estruturas do modelo de universidades vigentes. Assim, deve
ser atribuído aos conhecimentos indígenas um status de produção científica ou acadêmica nos campos
do ensino, da pesquisa e da extensão, por meio do reconhecimento do caráter experimentado e expe-
rienciado dos seus saberes, tais como as tecnologias da saúde, das engenharias e da sustentabilidade
ambiental.
FMA – Existe apoio governamental?
Rita Potiguara – Sim, a própria criação de um GT para realizar estudos sobre a criação de institui-
ções de educação superior indígena e intercultural indicam isso. Nele estamos pensando qual a melhor
estratégia ou qual o melhor formato para atender a grande diversidade de povos indígenas e suas de-
mandas por educação superior.
FMA – Quais os cursos terão mais procura?
Rita Potiguara – Acompanhando as demandas por formação de profissionais indígenas na educa-
ção superior nos Planos de Ação dos 23 Territórios Etnoeducacionais existentes na atualidade, observa-
mos que há reivindicação por formação em diferentes áreas do conhecimento. De modo geral, a busca
por estas formações estão ligadas à gestão dos territórios indígenas. A nossa luta é que nós indígenas
possamos assumir o controle de áreas que são estratégicas para nossa produção e reprodução cultural,
linguística, ambiental, econômica e política como Povos.
Atividades
1. Quais são as adaptações necessárias para a educação do campo?
Referência
BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 02 mai. 2016.
______, LEI Nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, publicado
no DOU de 23.12.1996. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9394.htm. Acesso em: 02 mai.
2016.
______, LEI Nº 4.024, de 20 de dezembro de 1961. Fixa as Diretrizes e Bases da Educação Nacional, publicado no
DOU de 27.12.1961. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/CCIVIL_03/leis/L4024.htm. Acesso em: 02 mai.
2016.
______, LEI Nº 12.960, de 27 de março de 2014. Altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece
as diretrizes e bases da educação nacional, para fazer constar a exigência de manifestação de órgão normativo do
sistema de ensino para o fechamento de escolas do campo, indígenas e quilombolas. Publicado no DOU em 28.03.14.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2014/Lei/L12960.htm. Acesso em: 03 mai.
2016.
______, RESOLUÇÃO CNE/CEB 1, de 3 de abril de 2002. Institui Diretrizes Operacionais para a
Educação Básica nas Escolas do Campo. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_
docman&view=download&alias=13800-rceb001-02-pdf&Itemid=30192. Acesso em: 03 mai. 2016.
______, MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, RESOLUÇÃO Nº 5, de 17 de dezembro de 2009. Fixa as Diretrizes
Curriculares Nacionais para a Educação Infantil. Publicado no DOU em: 18.12.09. Disponível em: http://www.seduc.
ro.gov.br/portal/legislacao/RESCNE005_2009.pdf. Acesso em: 03 mai. 2016.
______, MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, PORTARIA Nº 389, de 9 de maio de 2013. Disponível em: http://www.
ufma.br/portalUFMA/arquivo/jbTQbxR9b0sgztp.pdf. Acesso em: 03 mai. 2016.
______, DECRETO Nº 26, de 4 de fevereiro de 1991. Dispõe sobre a Educação Indígena no Brasil. Publicado no
DOU em 05.02.91. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1990-1994/D0026.htm. Acesso em:
03 mai. 2016.
______, LEI Nº 11.645, de 10 de março de 2008. Altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, modificada
pela Lei no 10.639, de 9 de janeiro de 2003, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir
no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena”.
Publicado no DOU em 11.03.08. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/lei/
l11645.htm. Acesso em: 03 mai. 2016.
______, LEI Nº 10.639, de 9 de janeiro de 2003. Altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece
as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da
temática “História e Cultura Afro-Brasileira”, e dá outras providências. Publicado no DOU em 10.01.03. Disponível
em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/L10.639.htm.Acesso em: 03 mai. 2016.
______, DECRETO Nº 6.861, de 27 de maio de 2009. Dispõe sobre a Educação Escolar Indígena, define sua
organização em territórios etnoeducacionais, e dá outras providências. Publicado no DOU em 28.05.09. Disponível
em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/decreto/d6861.htm. Acesso em: 03 mai. 2016.
______, LEI Nº 12.711, de 29 de agosto de 2012. Dispõe sobre o ingresso nas universidades federais e nas instituições
federais de ensino técnico de nível médio e dá outras providências. Publicado no DOU em 30.08.12. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2012/lei/l12711.htm. Acesso em: 03 mai. 2016.
______, DECRETO Nº 7.747, de 5 de junho de 2012. Institui a Política Nacional de Gestão Territorial e Ambiental de
Terras Indígenas – PNGATI, e dá outras providências. Publicado no DOU em 06.06.12. Disponível em: http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2012/decreto/d7747.htm. Acesso em: 03 mai. 2016.
______, MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, RESOLUÇÃO Nº 5, de 22 de junho de 2012. Define Diretrizes
Curriculares Nacionais para a Educação Escolar Indígena na Educação Básica. Publicado no DOU em 25.07.12.
Disponível em: http://mobile.cnte.org.br:8080/legislacao-externo/rest/lei/86/pdf. Acesso em: 03 mai. 2016.
______, MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, PORTARIA Nº 389, de 9 de maio de 2013. Disponível em: http://www.
ufma.br/portalUFMA/arquivo/jbTQbxR9b0sgztp.pdf. Acesso em: 03 mai. 2016.
______, Portaria do Ministério da Educação GM/MEC nº 1.062, de 30 de outubro de 2013, institui o Programa
Nacional dos Territórios Etnoeducacionais - PNTEE que consiste em um conjunto articulado de ações de apoios
técnico e financeiro do MEC aos sistemas de ensino, para a organização e o fortalecimento da Educação Escolar
Indígena, conforme disposto no Decreto nº 6.861, de 27 de maio de 2009. Disponível em: http://www.funai.gov.br/
index.php/leg-cidadania. Acesso em: 03 mai. 2016.
______, DECRETO Nº 6.861, de 27 de maio de 2009. Dispõe sobre a Educação Escolar Indígena, define sua
organização em territórios etnoeducacionais, e dá outras providências. Publicado no DOU em 28.05.09. Disponível
em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/decreto/d6861.htm. Acesso em: 03 mai. 2016.
______, DECRETO Nº 7.778, de 27 de julho de 2012. Aprova o Estatuto e o Quadro Demonstrativo dos Cargos em
Comissão e das Funções Gratificadas da Fundação Nacional do Índio. Publicado no DOU em 30.07.12. Disponível
em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2012/Decreto/D7778.htm..Acesso em: 03 mai. 2016.
______, LEI Nº 5.371, de 5 de dezembro de 1967. Autoriza a instituição da “Fundação Nacional do Índio” e dá outras
providências. Publicado no DOU em 06.12.67. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/1950-1969/
L5371.htm. Acesso em: 03 mai. 2016.
Fundação Nacional do Índio - FUNAI. Educação Escolar Indígena. Disponível em: <www.funai.gov.br/index.php/
educacao-escolar-indigena?start=2>. Acesso em: 26 abr. 2016.
GORGULHO, Silvestre. Rita Potiguara – Entrevista: A professora e doutora em Educação que nunca deixou de lado
sua identidade étnica e seu pertencimento ao povo indígena. Entrevista Publicada em: http://www.folhadomeio.com.
br/publix/fma/folha/2014/04/rita250.html Acesso em: 03 mai. 2016.
Panorama da
Diversidade da
Educação no Brasil
Parte
1 Ações e políticas públicas para a
universalização de acesso à educação
Uma das características marcantes da Constituição de 1988 e da consequente Lei de Diretrizes e Bases
da Educação de 1996 é a autonomia. As determinações legais tendem ao processo de descentralização da
gestão e a construção coletiva de projetos escolares. Isso se justifica principalmente pela abrangência geo-
gráfica e diversidade de nosso país.
Porém, na busca da promoção e melhoria do nível de ensino, é evidente que tais esforços são insuficien-
tes, principalmente pela falta de suporte governamental para subsidiar as decisões pedagógicas elaboradas
pelas escolas. O governo incentiva a formulação de projetos e propostas, mas não dá suporte, especialmente
financeiro, para sua efetivação. Há claramente uma preocupação com aspectos organizacionais e se deixa de
lado o processo de ensino-aprendizagem propriamente dito. Assim, é primordial o estabelecimento de uma
infraestrutura de suporte aos fazeres escolares.
Cada escola deveria ter condições de executar as estratégias de efetivação dos objetivos por ela deter-
minados, completando assim a intenção primeira de nossa legislação. Mas isso não acontece. Legalmente,
por exemplo, são determinados mecanismos de gestão democráticos e coletivos, como conselho escolar ou
colegiado, eleição de diretores, Projeto Político Pedagógico, mas a determinação legal simplesmente não
efetiva sua ação. Não é dado suporte para tais ações. Os pais, por exemplo, não têm liberação do trabalho
para participar de reuniões, não são capacitados para entender os processos e muitas vezes tomam decisões
influenciadas por ideias diferentes das suas. As eleições de diretores não são realizadas em todas as regiões,
muitas vezes estes são escolhidos politicamente; o Projeto Político Pedagógico passou a ser obrigação buro-
crática ao invés de um processo espontaneamente coletivo.
Outro ponto importante é o foco no processo ensino-aprendizagem, que, como objeto primeiro de cada
instituição de ensino, parece ser colocado de lado. É preciso realmente levar em consideração a heteroge-
neidade de desempenho de cada setor, região e nível de ensino. Não há cursos sistematizados de formação
continuada voltada para processos pedagógicos, alguns professores não têm curso de licenciatura, desconhe-
cendo, dessa forma, metodologias de ensino.
Um dos grandes problemas que enfrentamos é a descontinuidade política. Somos regidos partidaria-
mente, a cada mudança de partido político pelas eleições há mudanças nas decisões políticas educacionais.
Isso impossibilita a efetivação de propostas a longo prazo, e algumas regiões têm suas organizações educa-
cionais mudadas a cada quatro anos. Uma política educacional alinhada às diretrizes próprias, que funcio-
nasse independente de vontades políticas partidárias, seria necessária e refletiria processos mais alinhados
e coerentes.
Não há dúvidas que há conhecimento das necessidades educacionais de nosso país e sabe-se como
resolvê-las e isso é muito positivo, cabe agora sua efetivação.
Parte
2 Contribuição das ações de
incentivo à educação
Há vários programas de incentivo à educação oferecidos pelo Ministério da Educação (MEC). Mesmo
com tais incentivos há vários obstáculos para sua concretização, porém é necessário conhecer o que há de
oferta para buscar fazer melhor uso deles.
• Programa mais Educação
O programa tem como objetivo ampliação da jornada escolar e organização curricular na perspectiva
da educação integral.
O Programa Mais Educação, criado pela Portaria Interministerial 17/2007 e regulamentado pelo Decreto 7.083/10,
constitui-se como estratégia do Ministério da Educação para indução da construção da agenda de educação integral
nas redes estaduais e municipais de ensino que amplia a jornada escolar nas escolas públicas, para no mínimo 7 ho-
ras diárias, por meio de atividades optativas nos macrocampos: acompanhamento pedagógico; educação ambiental;
esporte e lazer; direitos humanos em educação; cultura e artes; cultura digital; promoção da saúde; comunicação e
uso de mídias; investigação no campo das ciências da natureza e educação econômica.
(Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/programa-mais-ducacao/apresentacao?id=16689>.)
O programa Caminho da Escola foi criado com o objetivo de renovar a frota de veículos escolares, garantir segu-
rança e qualidade ao transporte dos estudantes e contribuir para a redução da evasão escolar, ampliando, por meio
do transporte diário, o acesso e a permanência na escola dos estudantes matriculados na educação básica da zona
rural das redes estaduais e municipais. O programa também visa à padronização dos veículos de transporte escolar,
à redução dos preços dos veículos e ao aumento da transparência nessas aquisições.
(Disponível em: <www.fnde.gov.br/programas/caminho-da-escola/caminho-da-escola-apresentacao>.)
São três formas pelas quais estados e municípios podem participar do Caminho da Escola: com recur-
sos próprios, bastando aderir ao pregão; via convênio firmado com o FNDE, ou por meio de financiamento
do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que disponibiliza linha de crédito
especial para compra de ônibus zero quilômetro e de embarcações novas. Para adesão ao registro de preços,
acesse o Sistema de Gerenciamento de Adesão a Registro de Preços – SIGARP, disponível na página prin-
cipal do site do FNDE: <www.fnde.gov.br/sigarpweb>.
• Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE)
O PNBE é executado pelo FNDE em parceria com a Secretaria de Educação Básica do Ministério da
Educação e tem como objetivo fornecer obras e demais materiais de apoio à prática da educação básica
para as escolas de ensino público das redes federal, estadual, municipal e do Distrito Federal. As escolas
atendidas podem ser da esfera da educação infantil (creches e pré-escolas), do ensino fundamental, do ensi-
no médio e educação de jovens e adultos (EJA). São distribuídos às escolas por meio do PNBE; PNBE do
Professor; PNBE Periódicos e PNBE Temático.
Os acervos são compostos por obras de literatura, referência, pesquisa e outros materiais relativos ao
currículo nas áreas de conhecimento da educação básica, com vista à democratização do acesso às fontes de
informação, ao fomento, à leitura e à formação de alunos e professores leitores e ao apoio à atualização e ao
desenvolvimento profissional do professor.
Os gêneros literários ofertados são obras clássicas da literatura universal, poema, conto, crônica, nove-
la, teatro, texto da tradição popular, romance, memória, diário, biografia, relatos de experiências, livros de
imagens e histórias em quadrinhos.
Da distribuição dos acervos de literatura:
Dependendo do tipo de acervo e da clientela beneficiária, a distribuição dos livros é feita diretamente das editoras
às escolas ou das editoras a um centro de mixagem, para formação das coleções e posterior envio às escolas. A dis-
tribuição do PNBE é feita por meio de contrato firmado com a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT).
Essa etapa do PNBE conta com o acompanhamento de técnicos do FNDE e das secretarias estaduais de Educação.
Em se tratando de escolas das zonas rurais, os acervos são entregues na sede das prefeituras ou das secretarias mu-
nicipais de Educação, que devem passá-los a essas escolas.
(Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/mais-educacao/309-programas-e-acoes-1921564125/
programa-nacional-biblioteca-da-escola-1229869342/12548-saiba-mais-sp-1574170115>.)
O programa, que contempla várias ações, visa à melhora da infraestrutura física e pedagógica das es-
colas e o reforço da autogestão escolar nos planos financeiro, administrativo e didático, contribuindo para
elevar os índices de desempenho da educação básica. Os recursos são transferidos independentemente da
celebração de convênio ou instrumento congênere, de acordo com o número de alunos extraídos do Censo
Escolar do ano anterior ao do repasse.
• Programa Nacional de Reestruturação e Aquisição de Equipamentos para a Rede Escolar
Pública de Educação Infantil (PROINFÂNCIA)
Para prestar assistência financeira aos municípios o governo criou o Proinfância:
O governo federal criou o Programa Nacional de Reestruturação e Aquisição de Equipamentos para a Rede Escolar
Pública de Educação Infantil (Proinfância), por considerar que a construção de creches e pré-escolas, bem como
a aquisição de equipamentos para a rede física escolar desse nível educacional, são indispensáveis à melhoria da
qualidade da educação.
O programa foi instituído pela Resolução 6, de 24 de abril de 2007, e é parte das ações do Plano de
Desenvolvimento da Educação (PDE) do Ministério da Educação.
Seu principal objetivo é prestar assistência financeira ao Distrito Federal e aos municípios visando garantir o acesso
de crianças a creches e escolas de educação infantil da rede pública.
(Disponível em: <www.fnde.gov.br/programas/proinfancia/proinfancia-apresentacao>.)
Parte
3 O profissional da educação
como agente de mudanças
O principal protagonista da educação é sem dúvida alguma o aluno, ele é o centro de todo o processo.
É para ele que a escola foi construída. Junto dele trabalha o professor, este tem um papel primordial, pois
gerencia os acontecimentos entre aluno e conhecimento. O docente tem assim como papel formar cidadãos
que vão atuar na sociedade, consequentemente é um agente de mudança social.
A educação é um processo natural que acontece o tempo todo com todo mundo e em todo lugar. Nós
somos seres “aprendentes”. No entanto, a educação formal tem objetivo, meta. Esta vai além da “transmis-
são” de saberes historicamente construídos, ela busca a formação integral de pessoas. Essas possuidoras dos
conhecimentos mínimos necessários para entender o universo em que se encontram e também capazes de
relacionar-se de forma harmoniosa com seus pares sociais.
Por ser um processo tão denso, não cabe apenas ao professor toda essa carga, a própria Constituição
Brasileira de 1988 estabelece que “educação” é “um direito para todos, um dever do Estado e da família”.
Somos, assim, todos responsáveis pela educação de nossos jovens.
No espaço escolar, no entanto, há uma especificidade clara, definida: dar subsídios aos estudantes de
conhecer o lugar onde estão e poder tomar decisões claras, críticas e conscientes do que querem fazer. Para
isso deve-se formar um currículo voltado para o interesse da população em geral além dos conteúdos míni-
mos estabelecidos por lei. Este subsidiado em princípios de convivência mínimos: a formação de indivíduos
como cidadãos conscientes de seus direitos e deveres inseridos em determinado meio social.
O papel do professor, dessa forma, é ver em seus alunos sujeitos de múltiplas relações que estão em
formação, e que vão enfrentar uma sociedade desconhecida que evolui rapidamente. As mudanças ocorrem
em passo acelerado e a educação precisa estar preparada para esta nova realidade. Da mesma forma, o
professor precisa ir além de uma formação inicial, precisa buscar formação continuada e permanente. Eles
devem estar empenhados com a qualidade da educação e com a sua própria.
Refletir sobre a própria prática coletivamente é um exercício necessário para a construção da identida-
de do professor e da escola. Dessa forma, há grande possibilidade de adaptação às rápidas mudanças apre-
sentadas pela sociedade por meio das relações com os alunos. O professor, ao analisar seu fazer pedagógico,
está voltando-se para sua prática e mostrando efetivamente aos alunos a necessidade de analise e reflexão
dos processos em que se está inserido.
A constituição da autonomia do professor e consequentemente do aluno se dá quando se é construtor
também de seus conhecimentos. Essa é uma forma de abranger os processos de entendimento da realidade
social em que se vive, principalmente na era dos avanços tecnológicos em que deter grande número de co-
nhecimento não é mais necessário, o que se precisa é trabalhar com criatividade os conhecimentos teóricos
e críticos sobre a realidade. Nesse processo, alunos e professores são parceiros e autores na transformação
da qualidade social, cada um inserido em diferentes contextos históricos, sociais e culturais com suas orga-
nizações próprias e valiosas.
O mundo contemporâneo exige novas demandas de manipulação dos conhecimentos, no qual não basta
apenas ter um diploma ou um certificado; é necessário competência, profissionalismo, ética e consciência
política. Cabe ao professor trabalhar com essas categorias a fim de construir uma compreensão do mundo
real e de suas exigências. O professor só será agente de mudança se tiver consciência de seu papel social,
quando perceber que seu trabalho refletirá socialmente nos atos de seus alunos.
Para finalizar, gostaríamos de encerrar essa reflexão sobre o profissional docente como agente de mu-
danças com um fragmento de Paulo Freire, presente em sua obra Educação e Mudança (1979), sobre a
importância da tomada de consciência da transformação da realidade em que estamos inseridos:
Extra
Qual a importância de aliar a diversidade local ao
desenvolvimento da Educação Integral?
Fundação Itaú Social em 2015
O estudo e implementação de políticas públicas nos territórios é de extrema importância, por isso a
educação integral precisa se integrar a outras políticas públicas. Em uma área que sofre com a violência,
por exemplo, a educação integral não vai dar conta disso, mas deve se aliar a outras políticas públicas
para solucionar o problema.
Como garantir que a valorização das particularidades de determinada identidade cultural
nos processos educacionais seja aceita em comunidades onde ela não é dominante?
Para indígenas, por exemplo, ter uma escola deles é um valor, uma luta. Uma das suas maiores
reinvindicações hoje é construir escolas, o fato de ter uma escola, construída como tal, dignifica a edu-
cação indígena. Então em casos assim, talvez uma solução seja uma convivência entre escolas, porque
se a ideia for ter uma escola só, mesclando índios e não-índios, isso pode ser um passo atrás para os
indígenas. Promover encontros, visitas e apresentações entre as escolas pode ser enriquecedor, mais do
que tentar juntar. Mas, novamente, é preciso mergulhar no local para encontrar soluções, porque é a
questão das particularidades, do sujeito, e não há solução padrão.
Como alinhar as diretrizes no Plano de Educação Integral para atender as particularidades
e potencialidades locais de uma mesma rede pública com diferentes tipos de oferta de Educação
Integral?
O primeiro passo é reconhecer e abrir espaço para as diversidades, valorizando-as, pois assim o
projeto irá abrangê-las. Numa cidade em que há muitos cegos, por exemplo, como considerar isso no
projeto de educação? Pode não ser uma questão de integrar fisicamente, mas integrar no projeto.
A integração com os equipamentos locais e a apropriação da cidade como um todo são fundamen-
tais para que não se estabeleça escolas ou territórios como guetos discriminados. Assim, mesmo que
existam muitas condições e possibilidades no entorno escolar, sair da periferia e ir para o centro, por
exemplo, é incorporar, na educação integral, a demanda do território por não permanecer marginalizado.
Enfim, para que a diversidade entre na escola, ela não pode ter muros físicos nem pedagógicos.
Maria de Salete Silva é graduada em Arquitetura pela Universidade Federal da Bahia, teve
sua atuação profissional voltada para as políticas públicas e sua implementação em territórios. De
1995 a 1996, foi Secretária de Educação do município de Salvador, de onde foi também Secretária de
Administração (1993/94). Teve sua atividade profissional desenvolvida tanto nos poderes executivo
quanto legislativo e também em ONGs. Coordenou o Programa de Educação do Unicef no Brasil de
2007 a 2014.
Referências
BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 02 mai. 2016.
______, Ministério da Educação. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais:
pluralidade cultural, orientação sexual. Brasília, MEC/SEF, 1997.
______, DECRETO Nº 7.083, de 27 de janeiro de 2010. Dispõe sobre o Programa Mais Educação. Publicado no DOU
em 27.01.10. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/decreto/d7083.htm. Acesso
em: 03 mai. 2016.
______. Lei n. 9394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases para a educação nacional. Diário
Oficial da União. Brasília, DF, 1996. Disponível em: <www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9394.htm>.
______. Lei de Diretrizes e B. Lei n. 9.394/96, de 20 de dezembro de 1996. Disponível em: <www.planalto.gov.br/
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______, MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. PORTARIA NORMATIVA INTERMINISTERIAL Nº- 17, DE 24 DE
ABRIL DE 2007 Institui o Programa Mais Educação, que visa fomentar a educação integral de crianças, adolescentes
e jovens, por meio do apoio a atividades sócio-educativas no contraturno escolar. Publicado no DOU em 26.04.07.
Disponível em: http://portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/mais_educacao.pdf. Acesso em: 03 mai. 2016.
______, MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. RESOLUÇÃO/CD/FNDE Nº 006 DE 24 DE ABRIL DE 2007 Estabelece
as orientações e diretrizes para execução e assistência financeira suplementar ao Programa Nacional de Reestruturação
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http://portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/resolucao_n6_240407_proinfancia_medida18.pdf.pdf. Acesso em: 03 mai. 2016.
______, [Plano Nacional de Educação (PNE)]. Plano Nacional de Educação 2014-2024 [recurso eletrônico]: Lei nº
13.005, de 25 de junho de 2014, que aprova o Plano Nacional de Educação (PNE) e dá outras providências. – Brasília:
Câmara dos Deputados, Edições Câmara, 2014. Disponível em: http://www.observatoriodopne.org.br/uploads/
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______. Programa mais Educação. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/programa-mais-ducacao/
apresentacao?id=16689>. Acesso em: 16 mar. 2016.
______. Programa Caminho da Escola. Disponível em: <www.fnde.gov.br/programas/caminho-da-escola/caminho-
da-escola-apresentacao>. Acesso em: 16 mar. 2016.
9 788538 761570
Eôfkiq"nqiîuvkeq
48416 FORMAÇÃO
DOCENTE PARA
A DIVERSIDADE
Margarete Terezinha de Andrade Costa