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SC.

24-Y-D (Serrinha)

2
GEOLOGIA
2.1 Contexto Geológico Regional 1979). Dessa latitude para norte a faixa granulítica
se bifurca em dois ramos: o oriental, que desapare-
O Cráton do São Francisco é uma entidade geo- ce sob as coberturas da Faixa de Dobramentos
tectônica sinbrasiliana, conforme definido por Almei- Sergipana, e o ocidental, que se projeta até o rio
da (1977), onde se distinguem, além das coberturas São Francisco, limite norte do Estado da Bahia,
meso-cenozóicas não-dobradas, três grandes con- com a designação de Cinturão Móvel Salvador- Cu-
juntos de rochas pré-cambrianas: os supergrupos raçá (Santos & Souza, 1983).
São Francisco e Espinhaço, que representam co- Os terrenos de alto grau metamórfico ocorrem
berturas plataformais dobradas do Proterozóico Su- ainda em outras áreas mais restritas, como nas re-
perior e do Proterozóico Médio, respectivamente, e giões de Guanambi e Lagoa Real, ambas no cen-
a Associação Pré-Espinhaço, que identifica o emba- tro-oeste do Estado da Bahia.
samento arqueano-eoproterozóico. Por terrenos granito-greenstone entende-se as
A área compreendida pela Folha Serrinha está associações de rochas granito-gnáissico-migmatí-
geologicamente inserida nesse embasamento (fi- ticas com seqüências metavulcano-sedimentares,
gura 2.1), no qual pode-se individualizar os terre- universalmente conhecidas como greenstone
nos de alto grau metamórfico, os terrenos granito- belts, cuja faciologia metamórfica varia de xis-
greenstone e as bacias intracratônicas. to-verde a anfibolito, ou mesmo granulito. Tais as-
Os terrenos de alto grau metamórfico abrangem sociações afloram por grandes extensões na parte
ortognaisses de composição tonalito-granítica com baiana do Cráton do São Francisco, e são constitu-
freqüentes associações básico-ultrabásicas e me- intes principais dos chamados crátons de Serrinha,
tassedimentares. Apresentam sua principal área Guanambi e Remanso (Mascarenhas et al., 1984)
de ocorrência, no Cráton do São Francisco, em delineados após os trabalhos de gravimetria reali-
uma faixa contínua que atravessa longitudinalmen- zados por Gomes e Motta (1980).
te a porção leste do território baiano, desde seu ex- O único exemplo comprovado de greenstone
tremo-sul até, aproximadamente, o paralelo da ci- belt no Estado da Bahia é o do rio Itapicuru (Kishi-
dade de Salvador, conformando os denominados da, 1979). No âmbito dos terrenos granito-greensto-
Bloco de Jequié (Pedreira et al., 1976) e Cinturão ne ocorrem várias outras assembléias de rochas
Móvel Costeiro Atlântico (Mascarenhas et al., supracrustais, mostrando marcantes característi-

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Programa Levantamentos Geológicos Básicos do Brasil

44° 40°
42°

II
46° COBERTURAS MESO-CENOZÓICAS
10°
10°
SUPERGRUPO SÃO FRANCISCO

I SUPERGRUPO ESPINHAÇO

ASSOCIAÇÃO PRÉ-ESPINHAÇO
12°
12°

FOLHA SERRINHA

14°
14°
LIMITES DO CRÁTON DO
SÃO FRANCISCO

III
44°
46° I – FAIXA RIO PRETO
16° 16°
0 100 200km
42°
II – FAIXA SERGIPANA

III – FAIXA ARAÇUAÍ

18° 18°

40°

Figura 2.1 – Esboço geológico do Estado da Bahia (modificado de Mascarenhas, 1979).

cas daquele tipo de estrutura, muito embora alguns 2,7Ga, com registros importantes nos intervalos
elementos que comprovem essa identidade este- 2,4Ga a 2,3Ga e 2,1Ga a 1,9Ga.
jam ausentes. Os principais exemplos são os com- Os principais modelos evolutivos para esse trato
plexos Rio Capim, Brumado, Itapicuru, Urandi-Licí- da crosta terrestre foram concebidos com base na
nio de Almeida, Boquira, Barreiro, Salitre e Conten- tectônica de placas, e remontam a 1975, quando
das-Mirante (Unidade Inferior). Seixas et al. identificaram três blocos cratônicos
Sobre alguns desses complexos foram deposita- consolidados antes de 2,7Ga, e uma faixa móvel
das seqüências clástico-químicas, com especifica- conformada entre 2,7Ga e 2,0Ga e granulitizada no
ções de evolução litoestrutural em bacias intracra- Ciclo Transamazônico, além de admitirem como es-
tônicas, tais como os grupos Colomi, Serra das truturas tipo greenstone belt a Seqüência do Rio Ita-
Éguas, Jacobina e a Unidade Superior do Comple- picuru e o Grupo Jacobina. Em seguida Santos &
xo Contendas-Mirante. Dalton de Souza (1983) propuseram uma comparti-
Na área abrangida pela Folha Serrinha e adjacências mentação tectônica e uma evolução cronogeológi-
as determinações geocronológicas existentes para os ca similar, mas consideraram a faixa móvel de idade
terrenos granito-gnáissico-migmatítico-granulíticos arqueana e o Grupo Jacobina característico de uma
(Cordani, 1978; Neves et al., 1980; Mascarenhas et al., bacia intracratônica. Mais recentemente, o Projeto
1980-1985; Gava et al., 1983; Jardim de Sá & Kawashi- Gavião-Serrinha (Melo, 1991; Loureiro, 1991 ; Perei-
ta, 1986; e Melo, org., 1991) e para a seqüência do ra, 1992; e Sampaio, 1992, orgs.) caracterizou a evo-
greenstone belt do rio Itapicuru (Neves et al. , 1980; lução da faixa móvel a partir de uma possível crosta
Gaal & Silva, 1987; e Davison et al., 1988), indicam que oceânica, constituída em conseqüência da individu-
o embasamento cratônico nessa região teve seu pri- alização e separação de dois blocos siálicos anti-
meiro estágio de evolução geotectônica entre 3,0Ga e gos, no Arqueano Superior, com posterior colisão

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oblíqua e soldagem dos blocos, e estruturação final 2.2.2.1 Complexo Mairi (Unidade 14)
em flor positiva, durante o Proterozóico Inferior.
No Domínio I, os gnaisses migmatíticos do Com-
plexo Mairi (Loureiro, org., 1991) afloram desconti-
2.2 Estratigrafia nuamente, configurando corpos de formas ligeira-
mente amendoadas e de dimensões variáveis em
2.2.1 Introdução meio às rochas supracrustais do Complexo Saúde,
conseqüência do imbricamento tectônico verifica-
Ao longo dos anos, várias tentativas foram feitas do na área.
para interpretar a evolução dos terrenos polimeta- Tendo em vista que as melhores exposições
mórficos pré-cambrianos que ocorrem no âmbito dessa unidade estão no Domínio II, e para evitar re-
da Folha Serrinha. A proposta de organização es- petições desnecessárias e cansativas ao leitor, as
tratigráfica contida neste trabalho está fundamen- características geológicas dos litótipos do Comple-
tada tanto na análise dos dados relativos às pesqui- xo Mairi encontram-se descritas no item 2.2.3.1.
sas anteriormente executadas, sejam referentes a
levantamentos básicos, prospecção mineral ou te- 2.2.2.2 Complexo Saúde (Unidades 9 a 13)
ses universitárias, quanto nas observações obtidas
nos trabalhos de campo realizados. A presença de um cinturão de rochas supracrus-
Na área em questão afloram os mais diversos ti- tais associadas a gnaisses migmatíticos balizando a
pos de rochas, plutônicas, vulcânicas e sedimenta- parte leste da serra de Jacobina tem sido um tema
res, de baixo e alto grau metamórfico, que repre- controverso. Leo et al. (1964) consideraram essas li-
sentam diferentes níveis crustais, refletindo uma in- tologias produto de granitização de uma seqüência
trincada evolução tectônica, protagonizada nos sedimentar, relacionando-as ao Grupo Jacobina.
tempos arqueano-eoproterozóicos. Ainda na mesma linha, Griffon (1967) designou-as
Na figura 2.2 aparecem os grandes grupamen- Jacobina Inferior, enquanto Jordan (1972) definiu o
tos litológicos identificados, denominados comple- conjunto como flanco leste do que denominou Sin-
xos Mairi, Santa Luz, Saúde, Itapicuru, Ipirá e Caraí- clinório de Jacobina, cujo flanco oeste seria a pró-
ba, Suíte São José do Jacuípe, Greenstone Belt do pria serra de Jacobina. Já para Mascarenhas (1976)
Rio Itapicuru e Grupo Jacobina, além das diversas e Sims (1977) essa associação representaria o em-
gerações de rochas intrusivas e das formações su- basamento do Grupo Jacobina. Figueiredo (1981)
perficiais cenozóicas. Essas unidades foram orga- utilizou para ela a denominação de “Cinturão Gnáis-
nizadas em quatro domínios tectono-estruturais (I, sico de Senhor do Bonfim”, admitindo que o mesmo
II, III e IV) caracterizados por patrimônio litológico, poderia representar as partes superiores do Grupo
metamorfismo, deformação e história evolutiva pró- Jacobina, submetidas a processos de gnaissifica-
prios e limitados, quase sempre, por importantes ção e migmatização.
zonas de cisalhamento. Couto et al. (1978) propuseram, pela primeira
Tendo em vista suas peculiaridades litoestrutu- vez, o termo Complexo Saúde para caracterizar
rais, esses domínios serão descritos a seguir, sepa- “uma associação litológica composta, principal-
radamente, e no capítulo seguinte, Tectônica, se- mente, de biotita gnaisses, granada leptitos, meta-
rão discutidas as relações entre eles durante a evo- conglomerados, quartzo-sericita xistos”, ocorren-
lução geológica da área. do em uma faixa entre as cidades de Senhor do
Bonfim e Caém, bordejando a parte oriental da ser-
ra de Jacobina; essa faixa estaria limitada, a oeste,
2.2.2 Domínio I pela falha de Pindobaçu e, a leste, pelo Complexo
Metamórfico-Migmatítico. Neste último, os autores
Este domínio ocorre em uma faixa de direção incluíram um conjunto de migmatitos, gnaisses,
meridiana, na porção ocidental da Folha Serrinha. quartzitos, rochas calcissilicáticas, formações ferrí-
Está separado do Domínio II por zona de cisalha- feras, xistos e metabasitos.
mento transpressional, em parte encoberta por se- Seixas et al. (1980), durante a realização do Pro-
dimentos detríticos cenozóicos (figura 2.3). jeto Mundo Novo (Convênio DNPM-CPRM), identifi-
Compreende litologias pertencentes aos com- caram o Complexo Saúde, classificando-o em três
plexos Mairi, Saúde e Itapicuru e Grupo Jacobina, unidades: uma gnáissica, uma kinzigítica e uma ter-
além de rochas plutônicas intrusivas. ceira, calcissilicática.

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40º30’ 39º00’
11º00’ 11º00’

II

IV

II

III

12º00’ 12º00’
40º30’ 0 10 20km 39º00’

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13

1- COBERTURAS SUPERFICIAIS CENOZÓICAS. DOMÍNIO I: 2- GRUPO JACOBINA; 3- COMPLEXO ITAPICURU;


4- COMPLEXO SAÚDE; 5- COMPLEXO MAIRI. DOMÍNIO II: 6- COMPLEXO MAIRÍ. DOMÍNIO III: 7- COMPLEXO I II III IV
CARAÍBA; 8- COMPLEXO IPIRÁ; 9- SUÍTE SÃO JOSÉ DO JACUÍPE. DOMÍNIO IV: 10- COMPLEXO SANTA LUZ
11- GREENSTONE BELT DO RIO ITAPICURU; 12- DOMOS GRANITO-GNÁISSICOS; 13- ROCHAS PLUTÔNICAS
INTRUSIVAS; 14- DOMÍNIOS TECTONO-ESTRUTURAIS.

Figura 2.2 – Tectono-estratigrafia da Folha Serrinha.

40º30’ 39º00’
11º00’ 11º00’

S S

II

IV
S
S S

I
S
III

II

12º00’ 12º00’
40º30’ 0 10 20km
39º00’

S I II III IV
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15

1-FORMAÇÕES SUPERFICIAIS CENOZÓICAS. 2- DOMÍNIOS TECTONO-ESTRUTURAIS. GRUPO JACOBINA: 3- Formação


Rio do Ouro; 4- Formação Serra do Córrego; 5- serpentinitos. COMPLEXO ITAPICURU: 6- indiviso; 7- quartzitos. COMPLEXO
SAÚDE: 8- indiviso; 9- quartzitos; 10- quartzitos/rochas calcissilicáticas; 11- anfibolitos; 12- formações ferríferas. 13- COMPLE-
XO MAIRI. ROCHAS INTRUSIVAS DO PROTEROZÓICO INFERIOR: 14- monzogranitos a duas micas; 15- monzogranitos
e sienogranitos.

Figura 2.3 – Distribuição geográfica e relações de contato das unidades do Domínio I.


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Nas pesquisas executadas na Folha Mundo sos de quartzito e de rocha calcissilicática rica em
Novo, Loureiro, org. (1991) utilizou a nomenclatura epidoto e/ou diopsídio. Tal alternância de bandas
Complexo Ipirá para designar um pacote de rochas de diferentes composições demarca, sem dúvida,
supracrustais, as quais conformam extensos blo- uma estrutura primária (S0), ainda que se encontre
cos alóctones cavalgados sobre os gnaisses mig- transposta por deformação(ções) posterior(es). Já
matíticos do Complexo Mairi. Essas rochas supra- os termos enriquecidos em biotita mostram uma
crustais compreendem, sobretudo, gnaisses alu- forte xistosidade mineral, sem evidências do aca-
minosos, rochas calcissilicáticas, formações ferrí- mamento original. Independente da maior ou me-
feras, metabasitos e metaultrabasitos. nor quantidade desse mineral, os gnaisses alumi-
No presente trabalho, em decorrência dos estu- nosos apresentam, localmente, abundantes nódu-
dos de integração realizados, propõe-se a redefini- los com formas elipsoidais, com o eixo maior me-
ção do Complexo Saúde. Por esta proposição, a re- dindo em média 3cm, compostos essencialmente
ferida unidade passa a englobar, em parte ou no to- de quartzo, K-feldspato e sillimanita, referidos em
tal, litologias antes atribuídas aos complexos Meta- trabalhos anteriores como kieselgallen (cristas de
mórfico-Migmatítico e Ipirá, compreendendo, as- galo). Sua origem parece estar relacionada a se-
sim, uma associação metavulcano-sedimentar gregações mineralógicas sinmetamorfismo, onde
com predominância de gnaisses aluminosos, as biotitas ocupariam a periferia dos núcleos de
quartzitos e rochas calcissilicáticas, além de biotita concentração mineral e, sendo mais facilmente in-
gnaisses, metabasitos, metaultrabasitos, forma- temperizadas, isiolariam os núcleos quartzo-feldspá-
ções ferríferas e xistos micáceos e aluminosos, me- tico-sillimaníticos.
tamorfizada na fácies anfibolito, com atuação mar- Os gnaisses aluminosos exibem uma foliação de
cante de processos de migmatização e granitiza- plano-axial, definida por bandamento gnáissico ou
ção. Tendo em vista a escala de apresentação das por xistosidade mineral, paralelizada, quase sem-
cartas Geológica e Metalogenética-Previsional pre, à superfície S0; ambas as superfícies foram do-
adotada no presente trabalho (1:250.000), essas li- bradas por, pelo menos, um evento deformacional,
tologias foram cartografadas quase sempre de ma- produzindo padrões de interferência tipos bume-
neira indivisa, exceção feita aos níveis mais pos- rangue e coaxial.
santes de quartzitos, rochas calcissilicáticas e for- Além do acamamento primário (S0), os altos teo-
mações ferríferas. Como mostra a figura 2.3, o res de quartzo (alcançam até 75% em algumas
Complexo Saúde aflora em uma faixa que atraves- bandas mais félsicas), a presença de aluminossili-
sa longitudinalmente a parte ocidental da Folha catos e de níveis interacamadados de quartzito e
Serrinha, projetando-se, para norte e sul, além de de rocha calcissilicática, e a total ausência de inclu-
seus limites. Está em contato com os complexos sões atestam a natureza sedimentar dos protólitos
Itapicuru e Mairi, na maioria dos casos através de dessas rochas.
zonas de cisalhamento transpressional. Os quartzitos e as rochas calcissilicáticas aflo-
Dentre os tipos litológicos que o compõem, os ram de maneira generalizada, constituindo níveis
gnaisses aluminosos são os predominantes, aflo- decimétricos intercalados nos gnaisses alumino-
rando sobretudo na metade sul da área de ocorrên- sos ou configurando corpos com quilômetros de
cia do Complexo Saúde. Trata-se de rochas cin- extensão, como ocorre na metade norte da área
zentas, nos mais variados matizes, de granulação abrangida pelo Complexo Saúde. Ali, podem ser
média a fina, exibindo estruturas migmatíticas ban- observadas duas faixas paralelizadas dessas ro-
dadas, com geração local de massas graníticas. chas supracrustais, separadas pelo maciço graníti-
Apresentam uma assembléia mineral – quartzo, co de Cachoeira Grande; a ocidental compreende
K-feldspato, plagioclásio, biotita, sillimanita, grana- essencialmente quartzitos, enquanto na faixa orien-
da e cordierita – indicativa de condições metamórfi- tal essas litologias ocorrem associadas a rochas
cas da fácies anfibolito superior, ou transição desta calcissilicáticas. Na primeira, os quartzitos têm co-
para a fácies granulito, com variações composicio- loração clara, branca, creme, esverdeada ou acin-
nais locais relativas ao teor de biotita e à presença zentada, variando desde os termos mais puros, re-
ou não de granada e/ou cordierita. Os tipos mais cristalizados, até outros com teores elevados de
pobres em mica exibem notável ritmicidade de ca- sericita. Obviamente, nestes últimos os planos de
madas composicionalmente distintas, umas enri- foliação podem ser melhor observados, com seus
quecidas em quartzo, outras com predominância mergulhos em torno de 60 a 70° para leste. Já na fa-
de aluminossilicatos, além de níveis pouco espes- ixa mais a leste, os quartzitos exibem tons brancos

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ou esverdeados e gradam lateralmente para, ou es- elementos terras-raras confirmam essa ortoderiva-
tão interestratificados com, rochas calcissilicáti- ção, caracterizando esses anfibolitos como basal-
cas, igualmente esverdeadas, contendo, invaria- tos de assoalho oceânico (MORB). De maneira
velmente, diopsídio em sua composição, além de idêntica foram caracterizados alguns metaultrama-
quartzo e K-feldspato. fitos que constituem outros corpos menores, não di-
Em ambas as faixas, os quartzitos e rochas cal- ferenciados, situados mais a norte.
cissilicáticas exibem planos de foliação nítidos Contornando toda a curvatura superior do anzol
mergulhando quase sempre para leste, com valo- desenhado pelas rochas metabásicas, aparece
res médios em torno de 65°. Nesses planos ocorre, uma camada de formações ferríferas compostas
localmente, lineação de estiramento mineral incli- de quartzo e magnetita, que se dispõem em ban-
nada de 40 a 60° para leste e sudeste, assim como das milimétricas, alternadas ritmicamente, com
lineação de interseção e eixos de mullion com plun- predominância, ora de um, ora de outro mineral. Em
ges suborizontais, em geral para sul. vários outros locais há registros da presença de for-
Couto et al. (1978) descreveram os biotita gnais- mações ferríferas, quase sempre na forma de frag-
ses do Complexo Saúde como rochas “finamente mentos e/ou blocos, associados a metabasitos,
foliadas, com textura granolepidoblástica, granula- metaultrabasitos ou rochas calcissilicáticas.
ção fina a média, apresentando coloração cinza- Com áreas de exposição mais restritas, o Com-
claro”, e consideraram os arredores da cidade de plexo Saúde abrange ainda xistos a biotita e/ou se-
Caém como o limite sul da área de ocorrência des- ricita, além de granada-cordierita xistos, onde a
sa litologia. Nas investigações de campo desenvol- granada comparece com teores médios em torno
vidas no presente trabalho, foi possível verificar de 15%.
que os biotita gnaisses afloram até o paralelo da Associados às rochas supracrustais do Comple-
vila de Tapiranga, situada a cerca de 40km ao sul xo Saúde ocorrem vários maciços granitóides intru-
de Caém. sivos, uns claramente relacionados à evolução me-
São rochas constituídas essencialmente de tamórfica do pacote vulcano-sedimentar, outros
quartzo, microclina, plagioclásio e biotita, mostran- com idade e mecanismo de colocação ainda não
do, não raro, estruturas migmatíticas. Apresentam bem entendidos.
uma foliação muito bem definida pelo arranjo das No primeiro grupo encontram-se rochas plutôni-
palhetas de mica, com mergulhos quase sempre cas de composição geralmente monzogranítica, de
para leste, em ângulos de 60 a 70°. coloração rósea e cinzenta, constituídas por quart-
A fina granulometria e a ausência de inclusões, zo, K-feldspato, plagioclásio, biotita e muscovita,
assim como a associação com rochas supracrustais, além de sillimanita, granada e cordierita, onde os
tais como gnaisses aluminosos e quartzitos, permi- dois últimos minerais nem sempre estão presentes.
tem especular, para os biotita gnaisses, uma as- Com essas características ocorrem cinco maciços
cendência vulcânica, de composição riodacítica a de rochas granitóides, sendo que o mais importan-
dacítica. te deles, o maciço de Cachoeira Grande ocupa
2
Embora raramente constituam corpos cartogra- uma superfície aproximada de 170km na porção
fáveis na escala adotada, e tenham quase sempre centro-setentrional da área de ocorrência do Com-
sua presença denunciada por fragmentos sobre plexo Saúde. Esse batólito compreende granitói-
solos argilosos castanhos ou vermelhos, os meta- des a duas micas, quase sempre homófanos, mos-
basitos e metaultrabasitos são componentes im- trando, localmente, provável foliação de fluxo, pou-
portantes do Complexo Saúde. Compreendem co nítida, definida pela orientação de palhetas de
uma plêiade de tipos petrográficos, desde serpen- biotita. Abrangem três tipos texturais distintos (gra-
tinitos até rochas gabróicas, cujo significado não nulação grossa, média e fina), englobam xenólitos
está devidamente aclarado. A leste-nordeste da ci- de gnaisses aluminosos e biotita gnaisses, e estão
dade de Mundo Novo, os metabasitos configuram cortados por vênulas aplíticas ricas em sillimanita,
uma faixa em forma aproximada de anzol mostran- e por veios pegmatóides também com sillimanita,
do concavidade para sul. Nessa faixa, predominam além de turmalina.
amplamente os termos anfibolíticos, cuja paragê- A presença de granada, cordierita e sillimanita
nese mineral (plagioclásio, hornblenda, quartzo, ti- evidencia um caráter peraluminoso para esses gra-
tanita, epidoto) indica atuação de metamorfismo re- nitóides, o qual, aliado às suas relações intrínsecas
gional na fácies anfibolito sobre protólitos ortoderi- com o pacote supracrustal, indica uma evolução a
vados. A geoquímica de óxidos, elementos-traço e partir da fusão crustal de uma seqüência semipelíti-

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ca. Dessa forma, eles podem ser caracterizados dade estrutural existente entre estas formações. No
como granitos tipo S, segundo os critérios estabe- presente trabalho, o Complexo Itapicuru é redefini-
lecidos por Chappel & White (1974). do, com a inclusão, além das citadas formações,
No extremo-oeste da área aflora o maciço de das unidades Mundo Novo e Itapura, de Loureiro,
2
Areia Branca, medindo cerca de 40km e limitado, org. (1991).
por zonas de cisalhamento compressional, com os Esse complexo compõe um cinturão de rochas
complexos Saúde e Itapicuru. É constituído de bio- vulcano-sedimentares metamorfizadas em baixo e
tita monzogranitos a biotita sienogranitos com tex- médio grau, de idade presumivelmente arqueana,
tura porfiroclástica, onde os fenoclastos de alongado na direção meridiana e ocupando quase
K-feldspato têm tamanhos variáveis de 2mm a toda a borda ocidental da folha, como mostra a fi-
6mm, podendo alcançar até 15mm. Apresentam gura 2.3, onde também aparecem suas relações de
uma intensa foliação milonítica, mergulhando para contato com as unidades adjacentes.
leste na porção ocidental do maciço, e para sul em O complexo é composto de tipos litológicos muito
sua região central. A análise de alguns critérios ci- variados, tais como quartzitos, metacherts, filitos,
nemáticos (assimetria de fenoclastos e relação de metassiltitos, xistos, formações ferríferas, metacon-
planos S-C) indica que o transporte tectônico prefe- glomerados, metarritmitos, metabasitos e metavul-
rencial foi de SE para NW. É comum, também, a cânicas intermediárias dos quais, em conseqüência
presença de enclaves de rochas supracrustais, da escala de trabalho, somente os quartzitos foram
quartzitos e sericita-quartzo xistos principalmente, diferenciados na Carta Geológica, ficando as demais
aprisionados em meio à massa granítica, sempre li- litologias com representação indiferenciada.
mitados por zonas de cisalhamento. Geoquimica- Os quartzitos são brancos, cinzentos, averme-
mente, os augen gnaisses Areia Branca podem ser lhados e localmente verdes, possuem granulação
classificados como fracamente peraluminosos, de fina a média, são puros a micáceos, e exibem folia-
tendência subalcalina a alcalina, fortemente dife- ção conspícua, estruturas de marca de onda e es-
renciados, e gerados, possivelmente, a partir de fu- tratos cruzados proeminentes. Algumas vezes con-
são crustal de protólitos predominantemente íg- têm níveis de metaconglomerados e metacherts.
neo-félsicos (Teixeira, in Loureiro, 1991). Normalmente, conformam corpos alongados na di-
Na terminação sul da área de ocorrência do reção norte-sul, com relevo delineando cristas, e
Complexo Saúde e relacionados a porções lenticu- mergulho de foliação predominante para leste.
larizadas de gnaisses e migmatitos do Complexo Os filitos são muito freqüentes, ocorrendo em
Mairi, afloram monzogranitos e sienogranitos, os quase toda a extensão do complexo, gradando lo-
quais Loureiro, org. (1991) incluiu nos denomina- calmente para metassiltitos. Apresentam cores ver-
dos granitóides tipo Baixa Grande. Essas rochas, melha e cinzenta, são constituídos de sericita,
que conformam um maciço alongado na direção quartzo e clorita e, geralmente, estão decompos-
meridiana, apresentam coloração cinza a rosada e tos, além de exibir foliação proeminente com mer-
textura eqüigranular média a grossa relativamente gulhos fortes, quase sempre para leste. São co-
bem preservada. Seu contato com os gnaisses e muns as concentrações supergênicas de ferro e/ou
migmatitos supracitados parece ser transicional, manganês associadas aos filitos, que representam
sendo comum a presença de xenólitos dessas ro- as encaixantes dos jazimentos manganíferos da
chas englobados pelos granitóides. Suas caracte- área.
rísticas geoquímicas, exceção feita à razão A/CNK, Os xistos apresentam ampla variedade compo-
que indica serem essas rochas metaluminosas, são sicional de minerais aluminossilicatos. São fina-
similares àquelas dos augen gnaisses Areia Bran- mente granulados, com as micas sempre predomi-
ca, o que permite advogar idênticos protólitos e nando, em cores diversas. As variedades mais co-
processo de formação. muns são: quartzo-sericita xisto, quartzo-bioti-
ta-muscovita xisto, sericita-clorita xisto, quartzo-bio-
2.2.2.3 Complexo Itapicuru (Unidades 7 e 8) tita-andaluzita (sillimanita) xisto e, menos comu-
mente, quartzo-biotita-estaurolita xisto. Cianita xis-
O Complexo Itapicuru foi originalmente definido to é raro, assim como turmalina xisto, este último
por Couto et al. ( 1978), que nele englobaram as for- ocorrendo a oeste de Mundo Novo.
mações Bananeiras e Cruz das Almas, de Leo et al. As formações ferríferas estão geralmente associa-
(1964) e Serra do Meio e Água Branca, de Griffon das aos filitos e micaxistos e também aos metarrit-
(1967), por reconhecerem o alto grau de complexi- mitos (sedimentos turbidíticos), estes últimos ocor-

– 15 –
Programa Levantamentos Geológicos Básicos do Brasil

rendo com destaque a oeste de Mundo Novo, na em suas exposições. Os quartzitos possuem cores
estrada para Piritiba. Nesse local, os metassedi- branca, verde e, às vezes, avermelhada, e são
mentos rítmicos estão representados por material constituídos por quartzo de granulação média a
síltico e argiloso, formação ferrífera e óxido de man- grosseira, recristalizado, com alguma mica nos li-
ganês, alternados em níveis centimétricos. mites dos grãos. Já os metaconglomerados são
Os metabasitos afloram esporadicamente, em bem classificados, lenticulares, de contatos irregu-
exposições intemperizadas, sem relações de con- lares com os quartzitos, e de espessuras variadas.
tato definidas com as rochas adjacentes. Em um Os seixos são de quartzo, apresentam tamanho, ar-
desses afloramentos, situado a norte de Itapura, redondamento e empacotamento variados, com di-
ocorre uma rocha gabróide, de granulação média a minuição de tamanho dos seixos à medida que se
grosseira, anfibolitizada, com foliação tênue, tida sobe na coluna. A matriz é quartzítica, de granula-
como intrusiva nas supracrustais. ção fina a média.
As metavulcânicas intermediárias afloram princi- A Formação Serra do Córrego está relacionada
palmente a oeste de Mundo Novo, nas estradas a sistemas de leques aluviais e de planícies alu-
para Piritiba e Morro do Chapéu. São rochas de cor viais, com as paleocorrentes fluindo de leste para
cinza-escuro a esverdeada, granulação média, às oeste.
vezes porfiríticas, xistificadas, quase sempre cre- Sua importância econômica se deve aos jazi-
nuladas; petrograficamente são constituídas por mentos auríferos, com urânio associado, relaciona-
uma matriz fina de quartzo, plagioclásio (andesi- dos às lentes de metaconglomerados, um deles em
na), bastita, mica branca, apatita e opacos, envol- explotação (Mina João Belo), situado na Folha Ja-
vendo pórfiros de plagioclásio e agregados de cobina (SC.24-Y-C).
quartzo sob forma de “olhos”, classificadas como A Formação Rio do Ouro é composta de orto-
metadacito pórfiro e metadacito a biotita. quartzitos quase puros, de granulação fina a mé-
dia, cores branca, cinza a esverdeada, recristaliza-
2.2.2.4 Grupo Jacobina (Unidades 4 e 5) dos, endurecidos, e raramente friáveis.
A estratificação e/ou foliação do pacote quartzíti-
Neste trabalho, o Grupo Jacobina (Griffon, 1967) co mergulha para leste, com valores diferentes nas
está definido segundo a concepção de Couto et al. bordas oriental e ocidental. Na borda ocidental os
(1978), que o designam como uma seqüência eo- mergulhos são médios a forte e na porção oriental,
proterozóica, puramente sedimentar, metamorfiza- onde a formação faz limites com o Complexo Itapi-
da em baixo grau, onde predominam metassedi- curu através de zona de cisalhamento, os mergu-
mentos clásticos médios a grosseiros, distribuídos lhos dos ortoquartzitos são bem fortes para leste. O
nas formações Serra do Córrego (basal) e Rio do limite oeste da formação é apontado topo da cama-
Ouro, de Leo et al. (1964). da metaconglomerática oriental da Formação Serra
Essa seqüência supracrustal ocorre no extre- do Córrego, que está subjacente.
mo-noroeste da área (figura 2.3), conformando re- Estruturas primárias de estratos normais, estra-
levo montanhoso, constituído por serras de dire- tificação cruzada bidirecional tipo “espi-
ção norte-sul, entalhado por vales longitudinais e nha-de-peixe” e marcas de onda normais e assi-
transversais que correspondem, respectivamen- métricas, são freqüentes na base do pacote e di-
te, a corpos de serpentinito e/ou andaluzita-ciani- minuem em direção ao topo. Os elementos estru-
ta xistos e a diques de rochas básicas e interme- turais e sedimentares disponíveis indicam que a
diárias. deposição da Formação Rio do Ouro se proces-
O limite oriental do Grupo Jacobina, com o Com- sou em um ambiente marinho raso, dominado por
plexo Itapicuru, está marcado por zona de cisalha- marés, com indicação de paleocorrentes oscilató-
mento transpressional (“falha Maravilha”); estrutu- rias para norte, sul ou leste.
ras idênticas assinalam, igualmente, os contatos Localmente observam-se veios de quartzo pou-
entre as camadas quartzíticas e as fatias de ser- co espessos cortando as rochas quartzíticas, sen-
pentinito que se Ihes intercalam. do que alguns deles contêm concentrações aurífe-
A Formação Serra do Córrego, cuja maior área ras. Além disso, uma zona de brechação, relacio-
de ocorrência encontra-se na Folha Jacobina nada a evento tectônico tardio que afetou os quart-
(SC.24-Y-C), vizinha a oeste, é composta por quart- zitos, onde se processou deposição de sílica na for-
zitos e metaconglomerados, com estruturas de es- ma de cristais de quartzo e ametista, encontra-se
tratos cruzados e marcas de onda bem observadas em lavra no Vale do Coxo (ver Capítulo 4).

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SC.24-Y-D (Serrinha)

2.2.2.5 Rochas Básico-Ultrabásicas Associadas Domínio I, geralmente através de zonas de cisalha-


ao Grupo Jacobina / Complexo Itapicuru mento e falhas, e a leste está separado do Domínio
(Unidades 6, 15, 16 e 17) III por meio de importantes zonas de cisalhamento.
Está representado pelos litótipos arqueanos do
Uma das principais características do Grupo Ja- Complexo Mairi, por rochas supracrustais kinzigíti-
cobina e do Complexo Itapicuru é a marcante pre- cas migmatizadas e granitóides intrusivos do Prote-
sença de rochas básico-ultrabásicas associadas rozóico Inferior, localmente sobrepostos por cober-
às litologias dessas unidades. Essas rochas ocor- turas detríticas cenozóicas (figura 2.4).
rem em vales bem entalhados no relevo montanho-
so, uns paralelos à direção dos metassedimentos, 2.2.3.1 Complexo Mairi (Unidades 19 e 20)
outros transversais a ela.
Trata-se de um conjunto de tipos litológicos vari- As rochas gnáissicas que ocorrem a leste da ser-
ando desde anfibolitos (metagabros) até piroxeni- ra de Jacobina, aí incluídas tanto as representantes
tos e peridotitos já serpentinizados, todos de cor da infra-estrutura quanto as supracrustais, foram
escura, verde a preta, finamente granulados, com referidas por diversos autores como gnaisses de
foliação nem sempre nítida. Itaberaba (Kegel, 1963), Complexo Caraíba (Ne-
Essas rochas básico-ultrabásicas foram inicial- ves, 1972) e Complexo Metamórfico-Migmatítico
mente interpretadas por Leo et al. (1964) como intru- (Seixas et al.,1975). Mais recentemente, Loureiro,
sões na forma de sills e diques, que teriam sido colo- org. (1991) utilizou o termo Complexo Mairi para de-
cadas e metamorfizadas durante a principal fase oro- finir “uma associação bimodal, de idade suposta-
gênica que afetou aquelas unidades. Posteriormente, mente arqueana, cuja parte félsica tem composi-
Sims (1976) e Molinari (1983) admitiram a mesma ori- ção tonalito-trondhjemito-granodiorítica (TTG) e
gem para aquelas rochas. Entretanto, Couto et al. cuja porção básica é diorito-gabróica”, acrescen-
(1978) constataram que os corpos dispostos longitu- tando que “todo o conjunto está metamorfizado na
dinalmente à estrutura das encaixantes são repre- fácies anfibolito alto, exibindo estruturas migmatíti-
sentados quase sempre por peridotitos serpentiniza- cas das mais variadas”.
dos, enquanto aqueles transversais ao trend prefe- Neste trabalho, o Complexo Mairi, que constitui o
rencial abrangem rochas diabásio-gabróico-dioríti- segmento de crosta siálica antiga designado pelo
cas em geral anfibolitizadas. Com base nas caracte- Domínio II, abrange, além dos gnaisses migmatíti-
rísticas petrológicas de um e outro conjunto, os mes- cos, as rochas granitóides que foram classificadas
mos autores propuseram que os corpos de rochas por Loureiro, org. ( 1991) como pré-tangenciais do
básico-ultrabásicas com direção meridiana repre- tipo Várzea do Poço.
sentam produtos vulcânicos de idade arqueana, que A distribuição geográfica da unidade, assim
foram colocados justapostos aos metassedimentos como suas relações de contato com os demais gru-
como intrusões frias (escamas tectônicas), ao longo pamentos litológicos que compõem o Domínio II es-
de falhamentos regionais, durante a fase de dobra- tão na figura 2.4.
mento isoclinal; enquanto que os gabros e dioritos es- Os gnaisses migmatíticos do Complexo Mairi,
tariam preenchendo planos de falha/fratura relacio- que têm suas melhores exposições nas imedia-
nados a evento tectônico tardio. ções da cidade homônima, exibem claramente os
No presente trabalho, a proposta de Couto et al. elementos petrológicos característicos de tipos li-
(1978) foi adotada em sua essência, consideran- tológicos originados por processos de fusão par-
do-se as rochas peridotíticas/piroxeníticas como pro- cial: a fração paleossomático/mesossomática,
váveis representantes de uma crosta oceânica ar- constituída por biotita-(hornblenda) gnaisses to-
queana, e atrelando o processo de imbricamento tec- nalíticos, trondhjemíticos e granodioríticos e por
tônico à evolução do cinturão de transcorrências que metagabro-dioritos anfibolitizados; o melanosso-
designa o Domínio III. Para maior entendimento, con- ma, que é caracteristicamente biotítico, enquanto
sultar o Capítulo 3 – Tectônica. a fase leucossomática compreende, no geral,
monzogranitos.
2.2.3 Domínio II Geoquimicamente, os termos intermediários a
ácidos (TTG) do Complexo Mairi são semeIhantes
O domínio em referência compõe uma faixa que aos grey gneisses arqueanos e são interpretados
se prolonga na direção norte-sul, na metade oci- como produtos de fusão parcial de uma crosta toleií-
dental da Folha Serrinha. Limita-se a oeste com o tica quente, cujos restos são representados pelas

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Programa Levantamentos Geológicos Básicos do Brasil

40°30’ 39°00’
11°00’ 11°00’

S
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IV
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40°30’ 39°00’

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S I II III IV x x +
+ +
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1 - FORMAÇÕES SUPERFICIAIS CENOZÓICAS. 2 - DOMÍNIOS TECTONO-ESTRUTURAIS. 3 - gnaisses kinzigíticos.


COMPLEXO MAIRI; 4 - gnaisses migmatizados; 5 - monzogranitos; quartzossienitos e granodioritos. ROCHAS INTRU-
SIVAS DO PROTEROZÓICO INFERIOR. 6 - monzogranitos a sienogranitos.

Figura 2.4 – Distribuição geográfica e relações de contato das unidades do Domínio II.

inclusões gabro-dioríticas que compõem a suíte bi- anatexia. Estes últimos ocorrem tanto na escala de
modal (Teixeira, in: Loureiro, org., 1991). afloramento, a exemplo da pedreira situada nos ar-
Estruturalmente, essas rochas apresentam-se redores da cidade de Mairi, como também configu-
sobretudo bandadas, exibindo localmente evidên- rando corpos de dezenas de quilômetros quadra-
cias de história deformacional complexa, como por dos, exemplo do maciço de Várzea do Poço.
exemplo em exposições situadas nas rodovias Mai- No geral, esses granitóides variam composicio-
ri-Capim Grosso e Baixa Grande-Mairi, onde ocor- nalmente de monzogranitos a quartzo sienitos com
rem padrões de interferência tipos domo e bacia e poucos representantes granodioríticos. Nas zonas
bumerangue, além de dobramentos incongruentes de contato, sempre difuso com os gnaisses migma-
entre si e dobras intrafoliais. É digna de registro a títicos encaixantes, abundam os enclaves destas ro-
faixa de milonitos/cataclasitos impressa nos gnais- chas (mesossomas), engolfados pela massa mon-
ses migmatíticos pela atuação da zona de cisalha- zo-sienogranítica (leucossoma), desenvolvendo-se
mento de Mairi de caráter dúctil-frágil, ao longo da entre essas duas fases uma salbanda máfica, biotíti-
qual as litologias deformadas exibem sigmóides de ca (melanossoma), com espessura milimétrica.
foliação, minidobras assimétricas e lineações de Segundo Teixeira (in: Loureiro, org., 1991), algu-
forte rake, que demonstram o movimento compres- mas características químicas desses granitóides –
sional transcorrente sinistral desse importante ele- teores de SiO2 sempre elevados, evolução muito ir-
mento tectônico. regular das razões K/Rb e altos teores de K2O – per-
É comum a ocorrência de produtos anatéticos di- mitem concluir que representam líquidos originados
ferenciados, como atesta a presença conspícua de de fusão parcial de material crustal, de natureza íg-
estruturas diatexíticas, além dos granitóides de neo-félsica, já que são geralmente metaluminosos.

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SC.24-Y-D (Serrinha)

Sem dúvida, os gnaisses tonalito-trondhjemi- sam consubstanciar uma outra alternativa, admite-
to-granodioríticos (TTG) representam essa fonte se, nesse trabalho, que os corpos de gnaisses kinzi-
crustal que foi submetida a anatexia, a qual, segun- gíticos podem representar as referidas nappes.
do Padilha (in: Loureiro, org., 1991), teve lugar por
volta de 2,7Ga, com base em isócrona de aflora- 2.2.3.3 Rochas Intrusivas do Proterozóico Inferior
mento onde foram utilizados valores geocronológi- (Unidade 21)
cos Rb/Sr determinados por Neves et al. (1980).
Essa mesma isócrona acusou, para os TTG, idade Essas rochas correspondem a um maciço carto-
de formação em torno de 3,0Ga. grafado no quadrante sudeste do Domínio II, deno-
minado de maciço de Baixa Grande, por apresen-
2.2.3.2 Gnaisses Kinzigíticos (Unidade 18) tar suas melhores exposições nas imediações da
cidade homônima. Esse corpo intrusivo possui a
Os gnaisses kinzigíticos, únicos representantes maior dimensão na direção meridiana e apresenta
de rochas supracrustais do Domínio II, conformam parte de seus contornos ultrapassando o limite sul
cinco corpos, cuja distribuição geográfica e rela- da Folha Serrinha (figura 2.4).
ções espaciais com o Complexo Mairi e com as ro- Trata-se de granitóides tenuemente foliados, cin-
chas granitóides intrusivas do Proterozóico Inferior, zentos a rosados, eqüigranulares médios a gros-
são mostradas na figura 2.4. sos, com fácies pegmatóides tardias, variando
Suas melhores exposições são observadas na composicionalmente de monzogranitos a sienogra-
estrada BR-407, que liga as cidades de Baixa nitos, com ocorrências locais de termos sieníticos.
Grande e Mairi, onde os gnaisses kinzigíticos exi- A assembléia mineralógica, constituída por
bem suas principais características litológicas e fei- quartzo + K-feldspato (microclina) + plagioclásio
ções texturais-estruturais. (An 25-35) + biotita, sugere condições de coloca-
São rochas cinzentas, de granulação fina a mé- ção compatíveis com a fácies anfibolito.
dia, raramente grossa, foliadas, com bandamento Com base nos estudos litogeoquímicos de ele-
composicional e feições de migmatização leito a lei- mentos maiores, elementos-traço e terras-raras, os
to. A paragênese mineral desses gnaisses (quartzo granitóides do maciço de Baixa Grande podem ser
+ K-feldspato + plagioclásio + biotita + cordierita + classificados como metaluminosos, subalcalinos
sillimanita + granada), aponta para um protólito altamente diferenciados, com teores de SiO2, 70%
grauváquico semipelítico, evidenciando uma con- gerados a partir da fusão crustal de protólitos prefe-
dição metamórfica da fácies anfibolito superior ou rencialmente ígneo-félsicos pertencentes ao Com-
transição desta para a fácles granulito. plexo Mairi (Teixeira, in: Loureiro, org., 1991).
Os processos migmatizantes a que foram sub- Como não existem determinações geocronológi-
metidas essas rochas são denunciados pela pre- cas, torna-se difícil determinar o período de coloca-
sença das fases mesossomática, constituída pelos ção dessas rochas granitóides. Concretamente,
gnaisses kinzigíticos e leucossomática, conforma- sabe-se que não apresentam xenólitos de gnaisses
da por veios granitóides grosseiros, dispostos qua- kinzigíticos e que aqueles capturados referem-se ao
se sempre em estruturas bandadas; além da fração Complexo Mairi que exibem elementos texturais (flu-
melanossomática, que exibe granulação mais xo magmático) e assembléias minerais magmáticas
grossa, em relação ao mesossoma, e fábrica lepi- bem preservadas, o que permite sugerir, para essas
doblástica acentuada. rochas granitóides, uma idade eoproterozóica.
Não são claras as relações de contato dos gnais-
ses kinzigíticos com as litologias do Complexo Mairi 2.2.4 Domínio III
e com as rochas granitóides intrusivas do Protero-
zóico Inferior, tendo em vista a ausência de aflora- O Domínio III abrange a região central da Folha
mentos que elucidem tais relações. Em 1991, Lou- Serrinha, estendendo-se, com direção geral apro-
reiro, org. propôs que aquelas rochas supracrustais ximada norte-sul, para fora de seus limites geográ-
configuram nappes transportadas tectonicamente ficos. Seus limites com os domínios ll e IV se fazem
a partir do Cinturão Móvel Salvador-Curaçá (Domí- através de zonas de cisalhamento transpressional,
nio III) sobre o Bloco de Mairi (Domínio II), durante a conforme ilustra a figura 2.5.
fase final do evento transcorrente. Os elementos Seu patrimônio litológico compreende rochas
estruturais indicativos dessa hipótese não foram metamórficas de alto grau, plutônicas e supracrus-
comprovados, mas, na falta de evidências que pos- tais, que constituem a Suíte São José do Jacuípe e

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Programa Levantamentos Geológicos Básicos do Brasil

40°30’
~~~ ~ 39°00’
11°00’ +~ + +~ ~ + ~
~ +~ ~ 11°00’
+ ++ ~
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40°30’ 39°00’
0 10 20km

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x x
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1 - FORMAÇÕES SUPERFICIAIS CENOZÓICAS. 2 - DOMÍNIOS TECTONO-ESTRUTURAIS. COMPLEXO CARAÍBA: 3 - ortognaisses granulíticos


(TTG); 4 - ortognaisses granulíticos migmatizados. COMPLEXO IPIRÁ: 5 - associação de gnaisses aluminosos, gnaisses bandados, rochas
calcissilicáticas, quartzitos; formações ferríferas; xistos grafitosos, metabasitos e metaultrabasitos; 6 - rochas calcissilicáticas e quartzitos com gnaisses
bandados, metabasitos, formações ferríferas e gnaisses kinzigíticos associados. 7 - SUÍTE SÃO JOSÉ DO JACUÍPE. ROCHAS INTRUSIVAS DO
PROTEROZÓICO INFERIOR: 8 - sienitos e granitos localmente porfiríticos; 9 - monzogranitos e sienogranitos com textura augen; 10 - quartzo
monzonitos e monzonitos com textura augen; 11 - quartzo monzonitos, monzogranitos e sienogranitos.

Figura 2.5 – Distribuição geográfica e relações de contato das unidades do Domínio III.

os complexos Caraíba e Ipirá, além de diversas ge- das folhas 30’ x 30’ Pintadas e Gavião, e na parte
rações de rochas granitóides intrusivas. oriental da quadrícula 30’ x 30’ Mundo Novo, que
recebeu a denominação Suíte São José do Jacuí-
2.2.4.1 Suíte São José do Jacuípe (Unidade 28) pe, em referência àquela sede municipal, próximo
à qual estão suas melhores exposições.
Seixas et al. (1975) fizeram as primeiras referên- Na figura 2.5, onde aparecem a distribuição geo-
cias à ocorrência de rochas anfibolíticas a sudoes- gráfica e as relações de contato dessa unidade,
te da localidade de São José do Jacuípe, incluin- pode-se constatar a configuração lenticularizada
do-as no Complexo Metamórfico-Migmatítico. Em dos corpos máficos-ultramáficos ao longo da faixa
1980, Seixas et al. identificaram, na mesma região, centro-ocidental da área estudada. Em razão da in-
outros corpos de anfibolito e alguns de serpentinito tensa ação intempérica, os afloramentos dessas li-
e interpretaram-nos como produtos ígneos plutôni- tologias não são muito constantes, de forma que a
cos, encaixados concordantemente nos gnaisses e observação dos solos, caracteristicamente verme-
migmatitos do referido complexo, acrescentando lhos, argilosos, e dos fragmentos e blocos de ro-
que a concordância dever-se-ia a um evento tectô- chas, foi fundamental na definição dos seus limites.
nico posterior à colocação dos plutonitos. As pes- A Suíte São José do Jacuípe compreende uma
quisas levadas a efeito pelo Projeto Gavião-Serri- associação de gabro-noritos, ferrogabros e perido-
nho (Melo, 1991; Loureiro, 1991 e Sampaio, 1992, titos, além da ocorrência restrita de leucogabros,
orgs.) propiciaram a identificação de um conjunto com ampla predominância dos primeiros. São bioti-
de rochas máfico-ultramáficas, metamorfizadas na ta noritos e hornblenda noritos nos quais, hiperstê-
fácies granulito, aflorando nas porções ocidentais nio, parcialmente substituído por biotita e/ou horn-

– 20 –
SC.24-Y-D (Serrinha)

blenda, augita e plagioclásio (andesina) são os Tabela 2.1


principais constituintes, exibindo, quase sempre,
contatos retos, em arranjos tríplices, refletindo o Unidade Suíte São José do
Diques Básicos
Litoestratigráfica Jacuípe
equilíbrio da paragênese nas condições de P eT da
fácies granulito. Os noritos afloram preferencial- Extensiva, constitui Corpos com pos-
corpos cartografá- sança de 0,6 a 2m,
mente a leste da área de ocorrência da unidade, 1. Ocorrência
veis na escala do não individualiza-
enquanto os terrenos ferrogábricos e peridotíticos trabalho dos em mapa.
aparecem mais a ocidente, sugerindo um zonea- 2. Tipos
Gabro-noritos, fer-
Gabros, dioritos,
mento ultramáfico-máfico no sentido oeste-leste. rogabros, piroxeni-
petrográficos dacitos.
tos, serpentinitos.
Os metabasitos/metaultrabasitos apresentam fo-
Fácies granulito Desde não meta-
liação de plano-axial nítida e, localmente, nas mar- 3. Metamorfismo progressiva; xis- mórficos até fácies
gens do rio Jacuípe, imediações da cidade de São to-verde retrógrada. granulito.
José do Jacuípe, os gabro-noritos exibem estruturas Pelo menos duas
de cumulatos (S0) paralelizadas àquela foliação, fases de deforma- No máximo uma
ambas dobradas por evento posterior, e truncadas 4. Deformação ção; foliação de fase de deforma-
plano-axial presen- ção.
por rochas granitóides sindeformacionais. te.
Quimicamente, as rochas da Suíte São José do Ja- Não-intrusivas, com
Diques tardios, cor-
cuípe pertencem à linhagem toleiítica (hiperstênio 5. Relações
os complexo Caraí-
tando todas as uni-
normativo), sendo que as características dos elemen- ba e Ipirá, intrudida
estratigráficas dades litoestratigrá-
por granitóides sin-
tos maiores e traço são bastante similares às dos tole- deformacionais.
ficas.
iítos de cadeias mesoceânicas atuais (MORB), en- Toleiítos (MORB),
quanto que os elementos terras-raras mostram, igual- 6. Quimismo
sem indícios de
Tendência alcalina.
mente, variação compatível com os teores dos basal- contaminação crus-
tal.
tos modernos das cadeias oceânicas do tipo transicio-
nal ou T-MORB (Teixeira & Melo, 1992).
A presença de uma suíte máfico-ultramáfica que José do Jacuípe, onde os metamafitos da suíte ho-
mostra gradação dos termos peridotíticos a oeste, mônima aparecem em contato com gnaisses en-
aos termos gábricos, a leste, os quais estão em con- derbíticos do Complexo Caraíba, estando o conjun-
tato não-intrusivo com uma sequência vulcano-sedi- to dobrado e invadido por diques básicos clara-
mentar (Complexo Ipirá), aliada às características mente tardios.
geoquímicas dos mafitos/ultramafitos – linhagem to-
leiítica e registros semelhantes aos de basaltos con- 2.2.4.2 Complexo Caraíba (Unidades 22 e 23)
temporâneos de fundo oceânico (T-MORB) – permi-
tem especular, embora dados adicionais sejam re- O termo Grupo Caraíba foi utilizado por Barbosa
queridos, que a Suíte São José do Jacuípe repre- et al. (1964-1970) para definir uma associação de
sente os restos de uma crosta oceânica de idade rochas migmatizadas e metamorfizadas em alto
possivelmente arqueana-eoproterozóica. grau, aflorantes no vale do rio Curaçá, norte da Ba-
É comum, na área abrangida pela Folha Serri- hia. Ainda nessa região, Ladeira & Brockes Jr.
nha, a presença de diques básicos, de idades não (1969) e Delgado & Dalton de Souza (1975) execu-
determinadas, intrudindo seqüências mais antigas. taram pesquisas geológicas nessa unidade, sendo
Sobre esta questão, Gava et al. (1983) se referiram que os primeiros elevaram-na à categoria de super-
à “região compreendida entre Aroeira, Mairi e São grupo. Diversos autores, entre eles Mascarenhas et
José do Jacuípe, onde afloram rochas básicas sob al. (1971), Neves (1972), Nunes et al. (1973) e Inda
a forma de diques de possança variada”. Talvez et al. (1976), identificaram o Grupo/Supergrupo Ca-
pela referência geográfica, a ocorrência desses di- raíba em outros sítios do Cráton do São Francisco.
ques básicos possa gerar confusões de interpreta- Figueiredo (1981), diante da dificuldade em reco-
ção em relação à Suíte São José do Jacuípe, motivo nhecer formações em terrenos de alto grau, adotou
pelo qual estão listadas na tabela 2.1, as caracterís- a terminologia Complexo Caraíba, propondo uma
ticas de um e outro conjunto, buscando dirimir quais- origem supracrustal para o conjunto de gnaisses e
quer dúvidas com respeito a esse tema. migmatitos félsico-intermediários. Figueiroa et al.
Finalmente, para ilustrar definitivamente essa (1988) utilizaram a mesma nomenclatura para de-
comparação, existem notáveis afloramentos no signar uma associação gnáissico-migmatítica, a
sangradouro da barragem situada a oeste de São qual representaria a infra-estrutura arqueana da fo-

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Programa Levantamentos Geológicos Básicos do Brasil

lha 30’ x 30’ Petrolina. Mais recentemente, o Projeto pos petrográficos aparecem cristais de ortopiroxê-
Gavião-Serrinha (Melo, 1991; Loureiro, 1991; Sam- nio transformados em talco e clorita.
paio, 1992 e Pereira, 1992, orgs.) considerou o Além dos processos de migmatização, inerentes
Complexo Caraíba como uma suíte bimodal, cuja à interface crosta inferior-crosta intermediária, os
parte félsica tem composição geral tonali- ortognaisses granulíticos exibem evidências de
to-trondhjemito-granodiorítica e cuja porção básica transformação e contaminação, conseqüências da
apresenta composição diorito-gabróica, dividida injeção de plútons granitóides. Melo, org. (1991)
nas unidades Conceição do Coité, na fácies anfibo- descreve “uma extensa faixa de terreno, que de-
lito alto, e Riachão do Jacuípe, granulítica. marca toda a zona de contato entre os granitóides
Os trabalhos de reavaliação ora relatados permi- intrusivos sin e tardi a pós-transcorrentes e os com-
tiram concluir que os migmatitos da unidade Con- plexos Caraíba e Ipirá”, na qual “ocorre uma intrin-
ceição do Coité são o prolongamento, a sul, do con- cada mistura de tipos litológicos, cujo aspecto ge-
junto que Davison et al. (1988) chamaram de Com- ral lembra migmatitos”. Acrescenta ainda que “os
plexo Gnássico Santa Luz, embasamento do Gre- tipos ortognáissicos do Complexo Caraíba encon-
enstone Belt do Rio Itapicuru, e, como tal, constitu- tram-se injetados, venulados e engolfados por ma-
inte da região cratonizada que conforma o bloco de terial granítico róseo, relacionados àquelas intru-
Serrinha. Assim, neste documento, o termo Com- sões granitóides”. A essa mistura de materiais ro-
plexo Caraíba define tão somente os ortognaisses chosos foi dada a denominação de Complexo Ara-
granulíticos até então abrangidos pela Unidade Ria- ras (Melo, 1991 e Sampaio, 1992, orgs.). Neste tra-
chão do Jacuípe. balho, essa faixa é considerada como representan-
Como mostra a figura 2.5, eles compõem a uni- te do Complexo Caraíba, identificando não mais
dade de maior superfície aflorante no Domínio III, que uma franja de reação nos ortognaisses granulí-
onde suas áreas de ocorrência exibem um padrão ticos, quando da intrusão dos corpos granitóides.
lenticularizado, constituindo megalentes que se al- As rochas do Complexo Caraíba exibem pronun-
ternam com outras formadas por rochas supracrus- ciada foliação, definida pela recristalização dos mi-
tais e granitóides intrusivos. nerais da fácies granulito, mostrando ângulos de
Trata-se de ortognaisses de cor cinza-esverdea- mergulho acentuados, em torno de 75°; lineação
do, quando frescos, a amarelo-pardacento, em al- de estiramento mineral com plunges suaves, em
teração, classificados petrograficamente como hi- geral para sul, pode ser observada com alguma fre-
perstênio gnaisses tonalíticos (predominantes), hi- qüência. Localmente, ocorrem padrões de interfe-
perstênio gnaisses trondhjemíticos, granodioríticos rência em bumerangue, resultantes da interação
e quartzo-dioríticos, até hiperstênio gnaisses graní- de uma segunda fase deformacional.
ticos, de ocorrência mais restrita. Apresentam pa- A partir do diagrama isocrônico de quatro pon-
ragêneses minerais indicativas de reequilíbrio na tos, obtido por meio de análises radiométricas
fácies granulito – hiperstênio ± clinopiroxênio ± Rb/Sr de ortognaisses granulíticos, Pereira,
hornblenda (oliva) ± biotita (titanífera) ± plagioclá- org.(1992) obteve uma idade de 2.350Ma, conside-
sio (antipertita) ± quartzo – onde o hiperstênio exibe rando-a como a possível época do metamorfismo
feições de equilíbrio com a hornblenda e a biotita, de alto grau que os afetou.
sugerindo uma reação do tipo: hornblenda + biotita “Os ortognaisses félsicos granulitizados têm com-
+ quartzo = hiperstênio + K-feldspato + plagioclá- posições químicas que variam de tonalitos a grano-
sio + água, e que, segundo Winkler (1977), assinala dioritos, caracterizando-os dentro de uma linhagem
passagem da fácies anfibolito alto para granulito calcialcalina pobre em K e rica em Al2O3. Os teores
(hidrogranulito), intervalo no qual são comuns os de elementos maiores e traço são muito semelhan-
processos de fusão parcial. Em conseqüência, os tes aos obtidos em grey gneisses de outras regiões
ortognaisses mostram, com freqüência, estruturas cratônicas do globo, comumente chamados de suí-
migmatíticas schlieren, nebulítica e schollen, onde te TTG” (Teixeira & Melo, 1990). As evidências geo-
a fase leucossomática é representada por sieno- químicas, sobretudo o padrão de distribuição de
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granitos e monzogranitos. Bons exemplos dessas elementos terras-raras e a razão inicial Sr /Sr (ver
feições encontram-se no sangradouro da barra- Teixeira, in: Melo, org. 1991) sugerem que os gnais-
gem de São José do Jacuípe e nas proximidades ses enderbíticos e associados do Complexo Caraí-
da vila de Aparecida, locais em que os gnaisses en- ba tenham se originado a partir da fusão parcial de
derbíticos estão permeados por material monzo- uma crosta oceânica (anfibolitizada) subduzida em
granítico, e nas zonas de transição entre os dois ti- zona de gradiente geotérmico elevado. Esta crosta

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SC.24-Y-D (Serrinha)

oceânica (Suíte São José do Jacuípe?) estaria repre- derados predominantes na unidade, estão separa-
sentada hoje, pelas inclusões noríticas encontradas dos dos ortognaisses granulíticos do Complexo
em meio aos ortognaisses. Caraíba por zona cisalhante de transpressão, e em
contato aparentemente gradacional com os mig-
2.2.4.3 Complexo Ipirá (Unidades 24 a 27) matitos do Complexo Santa Luz, constituindo, in-
clusive, outros corpos em meio a essas rochas. Por
Grupo Ipirá foi a denominação utilizada por Sof- conseguinte, neste trabalho, as unidades Angico e
ner (1973) para designar um conjunto de paragna- Umbuzeiro foram incluídas no Complexo Saúde
isses, quartzitos, escarnitos, metabasitos e migma- (ver item 2.2.2.2), e a Unidade Juazeirinho passa a
titos que afloram nas imediações da cidade homô- integrar o Complexo Santa Luz (item 2.2.5.1), o que
nima, situada a sul, fora da área estudada. Esse restringe o Complexo lpirá às unidades Pintadas e
mesmo conjunto foi definido por Tesch (1978) Serra do Camisão, aqui reunidas em virtude da difi-
como Associação Ipirá. Seixas et al. (1975) reco- culdade de se reconhecer os limites entre elas por
nheceram a presença dessas litologias, estenden- toda a área da Folha Serrinha.
do para norte e para sul sua área de ocorrência, e O Complexo Ipirá representa, assim, uma asso-
incluíram-nas nos complexos Granulítico e Meta- ciação de gnaisses aluminosos, rochas calcissili-
mórfico-Migmatítico. Lima et al. (1981), em referên- cáticas, metacarbonatos, quartzitos, gnaisses ban-
cia ao mesmo pacote supracrustal, e na impossibi- dados, formações ferríferas e gnaisses e xistos gra-
lidade de individualizar formações, propuseram a fitosos, além de metabasitos e metaultrabasitos,
nomenclatura Complexo Ipirá. Este termo foi adota- expostos, sobretudo, na região central do Domínio
do durante os levantamentos geológicos básicos III, como mostra a figura 2.5. Esta figura também
executados pelo Projeto Gavião-Serrinha (Melo, ilustra as formas amendoadas de suas faixas de
1991; Loureiro, 1991; Sampaio, 1992 e Pereira, afloramento, controladas por um feixe anastomosa-
1992, orgs. ) para identificar uma seqüência vulca- do de zonas de cisalhamento, e a afinidade espacial
no-sedimentar metamorfizada nas fácies anfibolito que suas camadas mais ocidentais têm com os ga-
alto e granulito, compreendendo cinco diferentes bro-noritos da Suíte São José do Jacuípe. Na meta-
unidades: Pintadas, Serra do Camisão, Juazeiri- de sul da área de ocorrência da seqüêncla meta-
nho, Angico e Umbuzeiro, sendo que as rochas su- vulcano-sedimentar, onde a ausência de cobertu-
pracrustais aflorantes a oeste da zona de cisalha- ras cenozóicas permitiu melhor entendimento de
mento de Mairi, abrangendo as unidades Angico e sua distribuição, uma hipotética seção transversal
Umbuzeiro, e parte da Unidade Pintadas, repre- oeste-leste mostra, em primeiro lugar, a presença
sentariam nappes transportadas tectonicamente de formações ferríferas e quartzitos (metacherts?),
sobre os gnaisses migmatíticos do Complexo Mairi vindo em seguida a área de predominância de gna-
(Domínio II). isses aluminosos, passando à faixa de ocorrência
A reavaliação de dados realizada para o presen- majoritária de quartzitos e rochas calcissilicáticas.
te trabalho; com apoio de seções geológicas estra- Esse zoneamento sugere, grosso modo, a transi-
tégicas de campo, propiciou o aclaramento de al- ção, no mesmo sentido oeste-leste, de ambiente de
guns pontos ainda obscuros, com respeito a essa fundo oceânico ao talude e plataforma continenta-
divisão litoestratigráfica: 1 – as litologias das unida- is, ratificando o que indicam os litótipos da Suíte
des Angico e Umbuzeiro mostram continuidade fí- São José do Jacuípe (ver item 2.2.4.1).
sica para norte e sul, compondo o extenso cinturão Os gnaisses aluminosos são importantes consti-
gnáissico que bordeja, a leste, a serra de Jacobina; tuintes do Complexo Ipirá e incluem dois tipos pe-
2 – em seus afloramentos não foram encontradas trográficos distintos: os gnaisses kinzigíticos e os
evidências estruturais que comprovassem a pre- gnaisses granadíferos. Os gnaisses kinzigíticos
sença das nappes; ao contrário, há uma perfeita mostram-se quase sempre migmatizados, exibindo
harmonia tectônica no comportamento daquelas li- estruturas estromática, dobrada e schlieren, e sua
tologias em relação às que lhes são adjacentes; 3 – assembléia mineral (plagioclásio + quartzo +
os gnaisses kinzigíticos que afloram em meio aos K-feldspato + biotita ± ortopiroxênio ± granada ± sil-
gnaisses migmatíticos do Complexo Mairi, anterior- limanita ± cordierita), que aponta para protólitos do
mente referidos à Unidade Pintadas, conformam tipo grauvaqueano semipelítico, é compatível com
corpos individualizados, fora do contexto definido a fácies metamórfica do granulito. Em uma única
pelo cinturão supracrustal acima referido; 4 – os ocorrência, na região de Gavião, foi registrada a
gnaisses bandados da Unidade Juazeirinho, consi- presença do mineral safirina, que aparece, junta-

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Programa Levantamentos Geológicos Básicos do Brasil

mente com sillimanita, no interior de cristais de cor- fletem, através do desenho das formas de relevo
dierita. Nos gnaisses kinzigíticos migmatizados são que compõem, as deformações da seqüência su-
comuns restólitos de composição norítica. Em pracrustal. Na região centro-sul da área, as mega-
amostra de um desses restólitos foram realizadas lentes constituídas por esses tipos litológicos assi-
análises de microssonda eletrônica pelo professor nalam o notável megapadrão de interferência, em
Herbert Conceição, do Instituto de Geociências da laço, ali observado, além dos dobramentos en
Universidade Federal da Bahia, que, utilizando os echelon atribuídos à ação do cisalhamento trans-
pares opx-cpx, determinou valores de temperatura corrente que afetou o conjunto.
da ordem de 818°C a 831°C, relativas ao metamor- Os gnaisses bandados afloram por toda a área
fismo de alto grau. do Complexo Ipirá, mas apenas localmente, devido
Subordinadas ao conjunto kinzigítico afloram ro- à pronunciada alteração, bons afloramentos dessa
chas gnáissicas, quase brancas, compostas es- litologia foram observados. Sua característica mais
sencialmente de K-feldspato, quartzo, plagioclásio importante é a alternância de bandas composicio-
e granada, atém de pouca biotita. A presença de nalmente distintas, umas claras, de composição
granada, em cristais isolados ou agregados, salpi- granítico-granodiorítica, outras em tons cinzentos,
cando em tons avermelhados a massa quartzo- enriquecidas em minerais máficos como piroxênios,
feldspática, constitui-se na principal feição diag- hornblenda e biotita. Essa feição rítmica, cujos con-
nóstica dos gnaisses granadíferos, que represen- tatos podem ser acompanhados por dezenas de
tam granitos S, segundo a definição de Chappel & metros, identifica, provavelmente, um acamada-
White (1974). mento primário (S0), paralelo ao qual desenvolve-
As rochas calcissilicáticas, outro importante gru- ram-se, sucessivamente, bandamento gnáissico e
pamento litológico do Complexo Ipirá, ocorrem xistosidade mineral, que identificam duas fases de-
constituindo corpos em que tanto podem ser as úni- formacionais distintas.
cas componentes como estar associadas, princi- As formações ferríferas bandadas ocorrem, qua-
palmente, a níveis de metacarbonatos e quartzitos. se sempre, na forma de fragmentos e blocos de ro-
Em qualquer dos casos são rochas de cor ver- chas, sendo que, apenas na parte oeste da área de
de-claro, às vezes acinzentadas, mediamente gra- afloramento do Complexo Ipirá, foram identificados
nuladas, quase sempre com foliação pouco nítida, alguns corpos dessas rochas. Quartzo e óxido de
exibindo composição mineralógica pouco variável: ferro (magnetita e hematita) são seus componentes
diopsídio, plagioclásio, K-feldspato, quartzo e es- essenciais, organizados em bandas de segrega-
capotita. São elas as encaixantes dos inúmeros ja- ção alternadas, podendo ocorrer também grünerita
zimentos de apatita catalogados na área, a qual e ortopiroxênio.
costuma ocorrer configurando veios irregulares, de Gnaisses e xistos grafitosos aparecem de manei-
possanças variáveis, atravessando a rocha hospe- ra restrita, limitados a poucas exposições. Nos pri-
deira. Teixeira (in: Melo, org., 1992), com base na meiros, a grafita está em níveis pouco espessos,
geoquímica dos elementos maiores e dos elemen- descontínuos, concordantes aos planos de folia-
tos-traço, concluiu que as rochas calcissilicáticas ção, enquanto que nos xistos o teor desse mineral
podem ter sido originadas, por metamorfismo, de aumenta, podendo alcançar até 45% da rocha.
sedimentos dolomíticos e pelíticos misturados em Ortoanfibolitos, metagabros, metaornblenditos,
proporções variáveis. hornblenda granulitos e metaperidotitos são as va-
Os quartzitos ocorrem conformando corpos indi- riedades petrográficas dos metabasitos e metaul-
vidualizados na Carta Geológica, como também trabasitos que afloram no contexto do Complexo
em camadas métricas, interbandadas com rochas Ipirá. A tais variedades composicionais correspon-
calcissilicáticas. Neste caso, eles são esverdeados dem iguais organizações texturais e modos de
e acinzentados e contêm baixos teores de minerais ocorrência, observando-se a presença desde me-
máficos, como biotita e diopsídio; e na primeira situa- tabasitos finos a médios, interacamadados com
ção apresentam-se quase brancos, recristalizados, gnaisses aluminosos, até termos de granulação
variando a pardacentos quando os feldspatos es- média a grossa, eminentemente plutônicos. Aliada
tão presentes em maior quantidade. No geral têm à variada gama de tipos litológicos, a ausência de
granulação média a fina e apresentam-se nítida- bons afloramentos, dada a intensa alteração intem-
mente foliados. périca, dificulta sobremaneira o entendimento do
Por sua maior resistência aos processos intem- real significado dessas rochas no que tange a pro-
péricos, os níveis quartzíticos/calcissilicáticos re- tólitos, relações estratigráficas e épocas de coloca-

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SC.24-Y-D (Serrinha)

ção. O mais provável é que identifiquem diversas trográficos variando de granitos a granodioritos,
probabilidades, constituindo tanto lavas basálticas que guardam estreitas relações de contato com o
como diques/soleiras intrusivos, sem desprezar a pacote supracrustal do Complexo Ipirá. No geral,
possibilidade de que representem, em parte, níveis são rochas de cor rósea a cinzenta, muito bem folia-
da Suíte São José do Jacuípe interados tectonica- das, exibindo texturas eqüigranular média a porfirí-
mente com as rochas supracrustais. tica, e, caracteristicamente, além de não conterem
inclusões de rochas básicas, sua paragênese mi-
2.2.4.4 Rochas Intrusivas do Proterozóico Inferior neral (K-feldspato + biotita + granada) sugere que
(Unidades 29 a 33) são produtos de fusão de protólitos sedimentares
(Complexo Ipirá), podendo ser classificados como
Às rochas metaígneas e metassedimentares que granitos S, de acordo com os parâmetros estabele-
compõem os complexos Caraíba e Ipirá e a Suíte cidos por Chappel & White (1974).
São José do Jacuípe estão relacionadas várias ge- As intrusões granitóides tarditangenciais ocor-
rações de rochas granitóides intrusivas, as quais, rem em pequenos maciços, concentrados na por-
com base em suas características petrotectônicas ção centro-sudeste da área estudada. No entanto,
e período de colocação, em referência à evolução sua área de afloramento mais expressiva relacio-
do cinturão de cisalhamento que identifica o Domí- na-se a uma faixa alongada na direção aproximada
nio III, foram classificadas em sintangenciais, tardi- SSE-NNW, medindo cerca de 140km de extensão
tangencjais, sin-transcorrentes e tardi a pós-trans- com largura média de 7,5km, encaixada nos ortog-
correntes. Esta classificação é idêntica àquela ado- naisses granulíticos do Complexo Caraíba, e cujos
tada pelos executores do Projeto Gavião - Serrinha limites estão representados por cisalhamentos
(Melo, 1991; Loureiro, 1991; Sampaio, 1992 e Perei- transcorrentes sinistrais. Essa faixa, assim como os
ra, 1992). corpos menores, é constituída predominantemente
Os granitóides sintangenciais afloram na faixa de orto augen gnaisses monzoníticos a quartzo-
de terreno compreendida, aproximadamente, entre monzoníticos metamorfizados na fácies granulito, e
os meridianos das cidades de Mairi e Capela do cujos fenoclastos de K-feldspato, quando assimé-
Alto Alegre, região centro-sul da Folha Serrinha, tricos, atestam a cinemática transcorrente sinistral.
conformando corpos de grande extensão, condi- Além de K-feldspato, plagioclásio (mesopertita),
zentes com o arranjo lenticularizado regional (figu- quartzo e ortopiroxênio, na maior parte em pseudo-
ra 2.5), e abrangem dois grupamentos distintos. morfos, substituído por hornblenda e biotita, são os
O primeiro grupo é constituído de quartzo monzo- minerais formadores desses granitóides. Em seus
nitos, monzogranitos e sienogranitos claramente in- afloramentos, são comuns os enclaves máficos,
trusivos nos complexos Caraíba e Ipirá, dos quais sempre estirados, concordantes à proeminente fo-
aprisionou xenólitos, haja vista a presença de roof liação da encaixante, que engloba também inúme-
pendants da seqüência metavulcano-sedimentar, e ros xenólitos de tipos representantes do Complexo
na Suíte São José do Jacuípe, cujos gabro-noritos Caraíba. Localmente, os augen gnaisses tarditan-
são truncados por apófises desses granitóides. genciais exibem estruturas de acamamento primá-
Apresentam granulação média e textura eqüigranu- rio definidas pela alternância de faixas de largura
lar com ocorrência local de fácies porfirítica; a pre- métrica, umas com fenoclastos de até 5cm de ta-
sença de mesopertita e de pseudomorfos de ortopi- manho, outras com textura microporfiroclástica. A
roxênio, quase sempre substituídos por biotita, ates- geoquímica de elementos maiores, elementos-tra-
tam o metamorfismo granulítico a que foram subme- ço e terras-raras, caracteriza essas rochas como
tidas essas rochas. Mostram-se nitidamente foliadas de linhagem subalcalina, caráter metaluminoso, si-
e com intenso estiramento mineral, apresentando, milares às que, segundo a classificação de Chap-
não raro, dobramentos normais, apertados; com ei- pel & White (1974), são consideradas granitos I (Te-
xos de plunges suaves para sul. Quimicamente ixeira, in: Pereira, org., 1992).
apresentam altos teores de SiO2 e K2O e coríndon Em sincronia ao movimento transcorrente que
normativo, o que indica que essas rochas foram ori- afetou os conjuntos litológicos que compõem o Do-
ginadas a partir de fusão de material crustal ígneo in- mínio lll, houve a intrusão de inúmeros plútons, dis-
termediário a ácido (Complexo Caraíba) com algu- tribuídos ao longo de sua porção central, classifica-
ma contribuição sedimentar (Complexo Ipirá). dos como granitóides sindeformação transcorren-
O segundo grupo de granitóides sintangenciais, te. Petrograficamente são monzogranitos com sie-
de ocorrência mais restrita, compreende tipos pe- nogranitos subordinados, com textura eminente-

– 25 –
Programa Levantamentos Geológicos Básicos do Brasil

mente porfiroclástica, onde os fenoclastos de mi- 2.2.5 Domínio IV


croclina apresentam tarnanho médio em torno de
3,5cm. Apresentam expressiva foliação, desenvol- Este domínio ocupa o quadrante nordeste da Fo-
vida com maior intensidade nas zonas mais próxi- lha Serrinha, limitando-se a oeste e a sul com o Do-
mas aos limites dos maciços, correspondentes, mínio III, através de zona de cisalhamento tangen-
quase sempre, a lineamentos tectônicos importan- cial/transcorrente dextral, e a leste com a Bacia ju-
tes, enquanto que em suas partes mais internas ob- ro-cretácica de Tucano, no extremo-oriental da
serva-se uma deformação menos intensa. Aquelas área da folha. Configura um segmento de crosta in-
superfícies planares estão paralelizadas ao aca- termediária de natureza granito-greenstone, cons-
mamento primário dos granitóides, localmente defi- tituído por um embasamento gnáissico-granítico-
nida pela alternância de bandas contendo feno- migmatítico arqueano referido como Complexo
clastos e outras não, o que sugere que a colocação Santa Luz e pela seqüência supracrustal eoprote-
do magma granítico foi condicionada por zonas de rozóica do Greenstone Belt do Rio Itapicuru, ambos
concentração de deformação. A partir dos resuta- intrudidos por plútons granitóides do Proterozóico
dos de análises geoquímicas dos elementos maio- Inferior (figura 2.6).
res e elementos-traço, Teixeira (in: Melo, org.,
1991) individualizou essas rochas como de linha- 2.2.5.1 Complexo Santa Luz (Unidades 42 a 46)
gem calcialcalina com alto K, características de
ambiente compressivo. O conjunto gnáissico-granítico-migmatítico que
A observação da figura 2.5 permite constatar ocorre no Domínio IV, foi incluído por Seixas et al.
que os granitóides cosiderados tardi a pós-tectôni- (1975) no Complexo Metamórfico-Migmatítico. Da-
cos afloram na mesma região que seus precurso- vison et al. (1988) denominaram esse conjunto de
res sintranscorrentes, conformando corpos expres- Complexo Gnáissico Santa Luz, considerando-o
sivos, entre os quais se destaca o maciço batolítico como o embasamento siálico do Greenstone Belt
de Pé de Serra, localizado na parte sul da área da do Rio Itapicuru. Tendo em vista que o contato entre
Folha Serrinha. As rochas plutônicas intrusivas que as duas unidades não é observado diretamente,
compõem esse grupo são, invariavelmente, sieni- essa interpretação está embasada em algumas
tos, sienogranitos e monzogranitos de cor rósea, evidências indiretas, como por exemplo nas proxi-
exibindo diversos tipos texturais, desde porfirítico midades da fazenda Rebolo, onde os metapelitos
grosso até eqüigranular médio, englobando, em al- de seqüência supracrustal jazem cinqüenta metros
guns locais, inclusões autolíticas de gabros e diori- acima dos gnaisses e não mostram metamorfismo
tos de formas ovaladas, cuja direção de alonga- de contato; ainda nesse local, foi observada uma
mento reflete o trend principal de fluxo. São co- forte discordância estrutural entre o bandamento
muns as manifestações tardias relacionadas a gnáissico e a clivagem dos pelitos, sugerindo que a
esse plutonismo, na forma de veios aplíticos e peg- deformação dos gnaisses pode ser mais velha.
matíticos, destacando-se estes últimos por sua im- Além disso, Davison et al. (1988) ainda fizeram refe-
portância metalogenética, relacionados que são às rência à ocorrência de um xenólito de gnaisse ban-
mineralizações de apatita da área. dado, altamente deformado, aprisionado nas bor-
Os granitóides tardi a pós-tectônicos não mos- das do Domo de Ambrósio, que foi datado pelo mé-
tram quaisquer evidências de eventos deformacio- todo U/Pb em zircão e monazita, fornecendo uma
nais posteriores à sua colocação, exceção feita a idade de 2.930 ± 32Ma (Gaál et al., 1987). Em 1982,
alguns cisalhamentos tardios, que os transformam Sá já havia considerado que as rochas gnáissi-
em augen gnaisses miloníticos, e ao desenvolvi- co-migmatíticas apresentam-se cortadas por di-
mento pouco comum de foliação gnáissica, nas re- ques máficos correlacionados aos metavulcanitos
giões próximas aos contatos com as encaixantes. básicos do greenstone belt e que, portanto, consti-
Registra-se também a presença constante de xe- tuiram o embasamento da seqüência metavulca-
nólitos das mais diferentes Iitologias – ortognaisses no-sedimentar do Rio Itapicuru.
granulíticos, metabasitos, gnaisses bandados, Nesse trabalho, admite-se que o Complexo San-
quartzitos e, sobretudo, rochas calcissilicáticas – ta Luz represente esse embasamento, de idade ar-
provas do caráter intrusivo das rochas granitóides, queana, abrangendo quatro grupamentos litológi-
caráter este reforçado pelos efeitos de “migmatiza- cos, individualizados na Carta Geológica da Folha
ção” presentes nos litótipos do Complexo Caraíba, Serrinha, anexo: A – gnaisses e migmatitos com an-
ao longo do contato entre ambos. fibolitos associados; B – rochas granitóides de

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SC.24-Y-D (Serrinha)

40º30’ 39º00’
11º00’ 11º00’

II

IV

III

II

0 10 20km

12º00’ 11º00’
40º30’ 39º00’
I II III I
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11
1 - FORMAÇÕES SUPERFICIAIS CENOZÓICAS. 2 - DOMÍNIOS TECTONO-ESTRUTURAIS. GREENSTONE BELT DO RIO
ITAPICURU: 3 - unidade sedimentar; 4 - unidade vulcânica félsica; 5 - unidade vulcânica máfica; 6 - domos granito-gnáissicos.
COMPLEXO SANTA LUZ: 7 - gnaisses migmatizados; 8 - ortognaisses granodioríticos; 9 - gnaisses bandados; 10 - granitos e
granodioritos. ROCHAS INTRUSIVAS DO PROTEROZÓICO INFERIOR: 11 - sienitos, monzogranitos, sienogranitos e monzonitos.

Figura 2.6 – Distribuição geográfica e relações de contato das unidades do Domínio IV.

composição granítico-granodiorítica (maciço de ca está contornada por gnaisses bandados em


Serrinha); C – orto augen gnaisses granodioríticos quase toda a sua extensão, e é intrudida por maci-
aos quais associa-se um corpo básico-ultrabásico; ços granitóides do Proterozóico Inferior no seu seg-
e D – gnaisses bandados, gnaisses a granada e sil- mento noroeste (figura 2.6).
limanita e rochas calcissilicáticas. Trata-se em geral, de migmatitos bandados, da
Os gnaisses e migmatitos foram individualizados fácies anfibolito alto, cujos paleossomas/mesosso-
pelo Projeto Gavião-Serrinha (Pereira, org., 1992; mas são biotita gnaisses de cor cinza e granulação
Sampaio, org., 1992) como uma unidade litológica média a fina, e cuja fase leucossomática tem com-
pertencente ao Complexo Caraíba, denominada Uni- posição granítica e mostra coloração branca a ró-
dade Conceição do Coité, devido seus melhores aflo- sea. Exibem geralmente estrutura estromática,
ramentos situarem-se nas proximidades da cidade apresentando localmente partes mais mobilizadas,
homônima, na porção centro-leste da Folha Serrinha. com estruturas nebulíticas e schlieren. As superfícies
Neste trabalho essa unidade de gnaisses e migmati- planares (bandamento gnáissico) dessa unidade
tos foi incluída no Complexo Santa Luz, como base possuem atitudes variadas: a partir de Conceição
nos trabalhos de reavaliação executados, conforme do Coité para noroeste apresentam direções
exposto anteriormente no item 2.2.4.2. N30°-45°W e mergulhos médios a fortes para sudo-
A área de ocorrência dessas litologias apresenta este; a leste da citada cidade, assumem direção
um relevo bastante arrasado, e ocupa uma faixa próxima a E-W e mergulhos para sul; e na porção
com direção aproximadamente NW-SE, que se in- mais oriental, a sul de Serrinha, as direções infletem
flete para leste nas proximidades da cidade de para N45°E e os mergulhos são médios para su-
Conceição do Coité. Esta faixa gnáissico-migmatíti- deste.

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Programa Levantamentos Geológicos Básicos do Brasil

O estudo de lâminas delgadas da face mesosso- Trata-se de rochas de cor cinza-claro, granula-
mática desses migmatitos mostra uma composição ção média, exibindo em alguns locais fenoclastos
de quartzo, microclina, plagioclásio e biotita. de feldspato, possivelmente oligoclásio. Esses or-
Alguns cristais de biotita encontram-se instáveis, tognaisses de composição predominantemente
produzindo cloritas, indicando que a rocha sofreu granodiorítica com termos tonalíticos e graníticos
retrometamorfismo local à fácies xisto-verde (abai- subordinados, englobam inúmeros enclaves de dio-
xo da isógrada da biotita). ritos, monzodioritos e anfibolitos, quase sempre es-
Associados à unidade gnáissico-migmatítica tirados na mesma direção da foliação milonítica,
constatou-se a presença de anfibolitos que ocor- atingindo, alguns deles, até 10m de comprimento.
rem, ou sob a forma de pequenos enclaves, ou A foliação milonítica, conspícua, desenvolveu-se
como corpos maiores, uns estirados concordantes paralelamente a uma outra, mais antiga, definida
à foliação regional, outros discordantes, podendo pela segregação dos minerais em bandas milimé-
representar diques máficos intrusivos, também de- tricas.
formados. Segundo Teixeira (in: Pereira, org., 1992), as ca-
As rochas granitóides de composição graníti- racterísticas geoquímicas dos orto augen gnaisses
co-granodiorítica constituem o maciço de Serrinha, granodioríticos permitem identificá-Ios como uma
que aflora na região em torno da cidade homônima. suíte do tipo tonalito-trondhjemito-granodiorítica –
Seixas et al. (1975) os classificaram como diatexi- TTG, provavelmente originada a partir da fusão par-
tos pertencentes ao Complexo Metamórfico-Mig- cial de uma crosta oceânica anfibolítica subduzin-
matítico, enquanto Pereira, org. (1992) descre- do em zona de gradiente geotérmico elevado. Vale
veu-os como granitóides sintangenciais de acordo frisar que esses estudos geoquímicos referem-se
com as fases de deformação definidas no levanta- apenas aos gnaisses granodioríticos que afloram
mento geológico básico, na escala 1:100.000, exe- na folha 1:100.000 Serrinha (SC.24-Y-D-VI), não
cutado pelo Projeto Gavião-Serrinha. sendo necessariamente válidos para toda a área
Compreende um conjunto ígneo plutônico cons- de ocorrência desses gnaisses.
tituído por dois tipos litológicos que se interpene- Poucos quilômetros a leste da cidade de Santa
tram, sendo um de cor cinza, granodiorítico e outro Luz e encaixado nos orto augen gnaisses granodio-
de cor rósea, de composição granítica. Ambos os ríticos, ocorre um corpo constituído por rochas bá-
tipos exibem granulação média a grosseira, folia- sico-ultrabásicas de idade presumivelmente ar-
ção nítida, e são constituídos essencialmente por queana, ao qual Carvalho Filho et al. (1986) deno-
quartzo, feldspato, plagioclásio (oligoclásio) e bio- minaram de Complexo Básico-Ultrabásico de Pe-
tita, variando seus percentuais de acordo com o es- dras Pretas.
pectro composicional característico de cada um Esses autores dividiram o complexo em uma as-
dos tipos petrográficos. sociação básica, onde predominam gabros e anor-
Tendo em vista as relações de interpenetração tositos e uma associação ultrabásica, composta de
das fases granítica e granodiorítica, várias hipóte- piroxenitos, peridotitos e dunitos, que contêm hori-
ses foram aventadas para a origem desses grani- zontes mineralizados sob a forma de cromititos
tóides: migmatização, diferenciação de um único compactos e friáveis ou zonas de cromitito dissemi-
magma, mistura de dois magmas (mixing) ou colo- nado. No presente trabalho, tendo em vista a esca-
cação de dois magmas imiscíveis (mingling). Com la de apresentação das cartas Geológica e Metalo-
base nos estudos litogeoquímicos realizados, Tei- genética/Previsional (1:250.000) essas associa-
xeira (in: Pereira, org., 1992) concluiu que a coexis- ções não foram cartografadas.
tência de dois líquidos imiscíveis (mingling) repre- Ainda segundo Carvalho Filho et al. (1986), as ro-
senta a melhor alternativa para explicar a gênese chas básico-ultrabásicas estão intrudidas por di-
das rochas granítico-granodioríticas que compõem ques máficos, diques aplopegmatíticos e por grani-
o maciço de Serrinha. tos intrusivos, além de terem sido afetadas por
Os orto augen gnaisses granodioríticos, referidos duas fases de deformação.
por Pereira, org. (1992) como Unidade Gnaisses Gra- Pereira, org. (1992) e Sampaio, org. (1992) iden-
nodioríticos, conformam uma significativa faixa aflo- tificaram um conjunto de rochas supracrustais,
rante no Domínio IV; quase sempre em contato com gnaisses bandados e rochas calcissilicáticas prin-
os gnaisses bandados e gnaisses aluminosos do cipalmente, que denominaram de Unidade Juazei-
Complexo Santa Luz e com a Unidade Vulcânica Má- rinho, membro do Complexo Ipirá. Segundo esses
fica do Greenstone Belt do Rio Itapicuru (figura 2.6). autores, essa unidade marcaria a interface entre os

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SC.24-Y-D (Serrinha)

ortognaisses granulíticos do Complexo Caraíba e 2.2.5.2 Greenstone Belt do Rio Itapicuru


os gnaisses e migmatitos hoje inseridos no Com- (Unidades 34 a 41)
plexo Santa Luz, conforme descrito anteriormente.
No entanto, os dados de campo recém-adquiridos As rochas supracrustais da região médio rio Ita-
para este trabalho, mostram que aquelas rochas picuru vêm sendo estudadas desde meados deste
supracrustais estão separadas dos gnaisses en- século. Rocha (1938) faz referência à ocorrência,
derbíticos do Complexo Caraíba por zona de cisa- nessa região, de rochas sedimentares metamorfi-
lhamento transpressional dextral, e em contato zadas em baixo grau, e as correlacionou com a Sé-
aparentemente transicional com os referidos gnais- rie Minas, enquanto Mascarenhas et al. (1971) as
ses e migmatitos, os quais encontram-se contorna- colocaram no Grupo Caraíba. Neves (1972) consi-
dos por um conjunto de gnaisses bandados e ro- derou essas rochas pertencentes ao Grupo Cabro-
chas associadas (figura 2.6), estas últimas repre- bó, e Seixas et al. (1975) as denominaram de Com-
sentadas por gnaisses a granada e sillimanita e ní- plexo Metamórfico de Serrinha, denominação que
veis de rochas calcissilicáticas. Tais evidências Bruni et al. (1976) simplificaram para Complexo
permitem considerar essas supracrustais, meta- Serrinha. Inda et al. (1976) estenderam sua área de
morfizadas na fácies anfibolito alto, como perten- ocorrência para o norte, até a região de Uauá, ao
centes ao Complexo Santa Luz. passo que Inda & Barbosa (1978) redefiniram o
Os gnaisses bandados caracterizam-se pela al- complexo, dividindo-o em duas unidades: Unidade
ternância de bandas de espessuras variáveis (20 a Inferior, composta de rochas magmáticas básicas
50cm) de biotita gnaisses cinzentos, de granulação a ultrabásicas, metamorfizadas ou não, rochas cal-
média, bandas mais largas de anfibolitos escuros, cissilicáticas e mármores; e Unidade Superior,
finos a médios, bem foliados, e outras de gnaisses constituída por uma seqüência química e vulcano-
graníticos, médios de cor rósea e cujos cristais de química. Mascarenhas (1979) caracterizou o Com-
quartzo mostram textura flaser marcante. Essa al- plexo Metamórfico de Serrinha como uma estrutura
ternância de bandas composicionalmente distintas tipo Greenstone Belt, nomeando-a greenstone belt,
caracteriza, possivelmente, uma estrutura primária de Serrinha; idéia seguida por Kishida (1979), que
(S0), paralela à qual desenvolveram-se, progressi- referiu-se às seqüências metavulcano-sedimenta-
vamente, um bandamento gnáissico e uma xistosi- res que ocorrem a norte da cidade de Serrinha
dade mineral. como greenstone belt do Rio Itapicuru. Esse último
As rochas calcissilicáticas ocorrem apenas na autor estudou em detalhe essas rochas supracrus-
forma de fragmentos dispersos em solo argiloso, tais e as agrupou em três unidades, uma basal, for-
escuro. São de coloração esverdeada, finamente mada por rochas metavulcânicas máficas, uma in-
granuladas, exibem foliação pouco nítida e consti- termediária, constituída por metavulcanitos félsi-
tuídas por diopsídio, predominante, escapolita, cos, e uma outra superior, contendo metassedi-
feldspato e quartzo. Associados aos fragmentos de mentos imaturos tipo flysch. Em 1992, Silva deno-
rochas calcissilicáticas, são comuns aqueles de minou essas unidades, respectivamente, de Unida-
metabasitos e metacherts. de Vulcânica Máfica (UVM), Unidade Vulcânica
Os gnaisses a granada e sillimanita estão repre- Félsica (UVF) e Unidade Sedimentar (US), nomen-
sentados por afloramentos localizados na porção clatura esta utilizada no presente trabalho.
setentrional da área de ocorrência do conjunto su- A Unidade Vulcânica Máfica (UVM) está situada
pracrustal. São gnaisses de cor cinza predominan- ao longo das zonas marginais do cinturão de supra-
te, bem foliados, de granulação média a fina, cons- crustais em contato com as rochas granito-gnáissi-
tituídos principalmente de quartzo, feldspato, bioti- cas do embasamento arqueano. É composta de
ta, granada e silimanita, exibindo, raramente, fei- derrames máficos com feições texturais e estrutu-
ções de migmatização com estruturas bandada e rais diversas (basaltos maciços, porfiríticos, variolí-
migmatítica. Localmente, foram observados nódu- ticos, tufos máficos, brechas de fluxo, além de inter-
los de forma elipsoidal, com tamanhos variados, calações sedimentares químicas, formações ferrí-
3cm em média, compostos de quartzo, feldspato, feras e cherts) e filitos grafitosos.
mica branca e sillimanita. Esses nódulos dis- Os basaltos maciços caracterizam-se macros-
põem-se paralelamente à foliação gnáissica e sua copicamente pela coloração cinza-esverdeada,
origem está relacionada a processos de segrega- granulação fina e foliação fraca, e, em alguns pon-
ção mineral (ver item 2.1) durante o metamorfismo tos, se apresentam como almofadas (pillow lavas)
da fácies anfibolito alto que afetou o conjunto. moderadamente achatadas pela deformação regio-

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Programa Levantamentos Geológicos Básicos do Brasil

nal. Os basaltos porfiríticos ocorrem sob a forma de Análises geocronológicas realizadas por Gaal et
lentes irregulares e descontínuas dentro dos derra- al. (in: Silva, 1992), em andesitos da UVF revelaram
mes de basaltos maciços. Os basaltos variolíticos idade isocrônica Pb-Pb (rocha total) de 2.109 ±
encontram-se também intercalados nos basaltos 80Ma, e idade-modelo Sm-Nd de 2,1Ga resultados
maciços, principalmente associados aos derrames compatíveis com a idade Rb-Sr (rocha total) de
em almofadas, em lentes irregulares e difusas. 2.080 ± 90Ma, encontrada por Neves et al. (1980)
Para esses basaltos, cuja assinatura geoquímica também para rochas andesíticas.
é toleiítica de fundo oceânico, do tipo P-MORB, as A Unidade Sedimentar (US) ocupa o topo da se-
datações geocronológicas existentes revelam uma qüência supracrustal e compreende sedimentos
idade isocrônica Pb-Pb (rocha total) de 2.209 ± clásticos grosseiros, que predominam na parte sul
60Ma, e uma idade-modelo Sm-Nd de 2,2Ga (Silva, do greenstone belt, e sedimentos mais finos, quími-
1992). co-pelíticos, que são mais abundantes em suas
Intercalações de sedimentos, tanto químicos porções central e norte.
quanto clásticos finos ocorrem associados à UVM, De acordo com Davison et al. (1988) os principais
compreendendo cherts finos, formação ferrífera tipos litológicos dessa unidade estão representa-
bandada (BIF), xistos pelíticos e poucos carbona- dos por psamitos finamente granulados e pelitos,
tos. A presença dessas litologias sugere, para a dispostos em bandas ritmicamente alternadas,
UVM, um desenvolvimento em bacia imersa com com estratificação plano-paralela conspícua e exi-
pouco aporte de sedimentos clásticos, mas com bindo localmente graded-bedding e estratifica-
grandes derrames de natureza essencialmente su- ções cruzadas em pequena escala. Esses mesmos
baquática, evidenciada pela presença de pillow la- autores interpretam essa seqüência como turbidi-
vas e escassez de piroclásticas associadas. tos de derivação vulcânica com alguns intervalos
A Unidade Vulcânica Félsica (UVF), que tem uma de sedimentação química, identificada por cherts,
distribuição irregular e grade lateralmente para as jaspilitos, formações ferríferas e gonditos.
unidades Vulcânica Máfica e Sedimentar, compre- Segundo Lebede & Hoppe (in: Silva, 1991) os se-
ende um conjunto de rochas de composição variá- dimentos clásticos da Unidade Sedimentar são in-
vel, dentro dos limites andesito-dacito, constituído traformacionais, derivados do retrabalhamento dos
de lavas, piroclásticas e vulcânicas epiclásticas metadacitos e metandesitos (UVF) subjacentes,
(tufos, aglomerados vulcânicos e sedimentos vul- com contribuição desprezível dos gnaisses e mig-
cânicos retrabaIhados), além de intercalações se- matitos do Complexo Santa Luz.
dimentares químico-pelíticas. Silva (1984) concluiu que os processos de sedi-
Os andesitos apresentam coloração cinza-es- mentação atuaram ao longo de toda a evolução da
verdeado e granulação afanítica, com tipos maci- seqüência supracrustal do Greenstone Belt do Rio
ços porfiríticos e esferulíticos; são levemente folia- Itapicuru, sendo que a sedimentação químico-pelí-
dos, porém, o alinhamento dos fenocristais, nos ti- tica predominou nos estágios iniciais, enquanto
pos porfiríticos, não têm características de xistifica- que a sedimentação psamítica foi mais expressiva
ção ou orientação tectônica, provavelmente repre- nas etapas finais.
sentando uma textura de fluxo primária. Os dacitos A seqüência metavulcano-sedimentar do Greens-
estão interdigitados com os andesitos, são porfiríti- tone Belt do Rio Itapicuru constitui, no geral, uma
cos e estão caracterizados macroscopicamente calha sinclinorial de eixo próximo a N-S e vergência
pela coloração cinza, aspecto isotrópico a leve- geral para leste. Essa geometria atual é resultante
mente foliado. da atuação de uma compressão de direção E-W,
Segundo Silva (1992), esses vulcanitos interme- que provocou, além dos dobramentos, a formação
diários, de quimismo calcialcalino, mostram assi- de importantes zonas de cisalhamento submeridi-
natura geoquímica similar à de rochas vulcânicas anas e o desenvolvimento de foliação de plano-
de margens continentais ativas modernas. axial penetrativa em todo o conjunto supracrustal.
O evento vulcânico félsico parece ter sido, de Ainda nessa fase se processou a intrusão de maci-
acordo com Silva (1984), de caráter eminentemen- ços granitóides que assumiram formas dômicas
te subaéreo, como indicado por seus componentes alongadas, devido à ação da tectônica tangencial.
piroclásticos, muito embora as intercalações sedi- Na porção meridional do greenstone belt, na Faixa
mentares químico-pelíticas apontem para condi- Weber, as estruturas apresentam-se com trend
ções subaquáticas, ainda que locais. E-W.

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SC.24-Y-D (Serrinha)

Segundo Silva (1984), essas rochas supracrustais diorítico, pouco deformado, em contraste com a
foram afetadas por três eventos metamórficos distin- margem bastante deformada e constituída de gra-
tos: o primeiro (M1), teria sido de natureza hidroter- nodiorito, gnaisses e pegmatitos; C – as supracrus-
mal, atuando sobre parte das vulcânicas máficas e tais encaixantes exibem uma auréola de metamor-
félsicas; o segundo evento (M2), relacionado à prin- fismo em uma faixa concêntrica ao domo, na qual o
cipal fase deformacional, provocou o metamorfismo grau metamórfico foi elevado de xisto-verde para
de todo o conjunto na fácies xisto-verde, exceto nas anfibolito superior; D – a forma final alongada do
zonas de contato com os domos granito-gnáissicos, domo é resultante da compressão E-W, sincrônica
onde se desenvolveu metamorfismo de fácies anfi- à intrusão diapírica.
bolito; o terceiro evento (M3), de ocorrência restrita, Segundo Silva (1991), os domos grani-
refere-se às intrusões de pequenos corpos tarditec- to-gnáissicos são de natureza calcialcalina, simila-
tônicos, e originou auréolas de metamorfismo de res geoquimicamente aos vulcanitos intermediári-
contato da fácies hornblenda-hornfels. os da UVF. A mesma autora, em 1992, faz referên-
Para os terrenos granito-greenstone do Rio Itapi- cia a determinações geocronológicas realizadas
curu, Silva (1991, 1992) propôs um modelo evoluti- por Gaal et al., que revelaram idade Rb-Sr de 1,9Ga
vo segundo o qual esse conjunto “teria sido gerado para o Domo de Ambrósio.
num ambiente de colisão do tipo arco-continente, Os dioritos e quartzo dioritos conformam quatro
com os basaltos da UVM representando o assoalho corpos intrusivos nas rochas supracrustais do Gre-
de uma bacia do tipo back-arc e os vulcanitos félsi- enstone Belt do Rio Itapicuru, sendo dois em sua
cos da UVF representando um arco de margem porção sudeste, a leste da localidade de Salgadá-
continental, adjacente à bacia”. Acrescenta a mes- lia, e dois em seu setor noroeste, a norte da cidade
ma autora que essa tectônica de colisão-subduc- de Santa Luz, conforme mostra a Carta Geológica,
ção se processou durante o Ciclo Transamazônico anexa.
(entre 2,2Ga e 1,9Ga) e que a vergência da sub- Os dioritos e quartzo dioritos apresentam colora-
ducção foi de oeste para leste. ção clara, aspecto maciço e textura grosseira a por-
firítica. Geralmente os corpos constituídos por essas
2.2.5.3 Rochas Intrusivas do Proterozóico Inferior rochas exibem as bordas cataclasadas, evidencian-
(Unidades 47 a 49) do contatos tectônicos com as encaixantes.
As rochas granitóides intrusivas compõem inúme-
As rochas intrusivas atribuídas ao Proterozóico ros maciços localizados sobretudo na parte noroes-
Inferior que ocorrem no Domínio IV, podem ser te do Domínio IV (figura 2.6), onde aparecem trun-
agrupadas em três conjuntos distintos: os domos cando os elementos estruturais das litologias do
granito-gnáissicos, os dioritos e quartzo dioritos e Complexo Santa Luz e do Greenstone Belt do Rio
as rochas granitóides. Os dois primeiros grupos es- Itapicuru.
tão relacionados diretamente com a seqüência do Vários desses corpos granitóides foram identifi-
Greenstone Belt do Rio Itapicuru, enquanto que o cados por Pereira, org. (1992) e Sampaio, org.
terceiro conjunto tem relações de contato com as (1992) e classificados por esses autores como gra-
rochas supracrustais e com o embasamento grani- nitóides tardi a pós-transcorrentes, em referência
to-gnáissico (figura 2.6). às fases de deformação caracterizadas pela carto-
Uma das características marcantes do Greensto- grafia geológica na escala 1:100.000 executada
ne Belt do Rio Itapicuru é a presença de inúmeras pelo Projeto Gavião-Serrinha.
intrusões dômicas, alongadas na direção N-S, cor- Essas rochas granitóides apresentam-se homó-
respondendo às estruturas anticlinais ali presentes. fanas, sem evidências de haverem sido afetadas
Dentre esses domos granito-gnáissicos desta- por qualquer evento deformacional, além de exibi-
ca-se o de Ambrósio, por ser o maior e o mais bem rem, não raro, xenólitos das rochas encaixantes.
estudado, tendo sido alvo de inúmeros trabalhos ci- Seu espectro composicional varia de sienitos a
entíficos, como por exemplo o desenvolvido por monzonitos, incluindo sienogranitos e monzograni-
Matos (1988), de cujas conclusões foram selecio- tos, que exibem vários tipos texturais, desde eqüi-
nados os seguintes tópicos: A – as características granulares finos até grosseiros, com ocorrência de
estruturais e petrográficas do Domo de Ambrósio alguns termos porfiríticos, com fenocristais de mi-
são válidas para os demais domos granito-gnáissi- croclina.
cos, sobretudo o Domo de Pedra Alta; B – o Domo Para o maciço situado cerca de 12km a noroeste
de Ambrósio apresenta um núcleo no geral grano- da cidade de Serrinha, Padilha (in: Pereira, org.,

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Programa Levantamentos Geológicos Básicos do Brasil

1992) apresenta uma idade isocrônica (Rb-Sr, ro- versas litologias dos domínios tectono-estruturais
cha total) de 1.962Ma, alertando, no entanto, que a identificados. Estão caracterizadas por sedimentos
elevada razão inicial (0,7466) deve ser pesquisada inconsolidados, mal selecionados, claros, predomi-
para melhor entendimento. nantemente arenosos a areno-argilosos, atualmente
submetidos a intenso processo de dissecação.
2.2.6 Coberturas Cenozóicas (Unidades 1 a 3) Os depósitos de tálus correspondem a sedimen-
tos mal selecionados, contendo blocos e matacões
As coberturas cenozóicas na Folha Serrinha de rocha dispersos em matriz de cascalho e/ou are-
(SC.24-Y-D) estão representadas por depósitos detrí- nosa.
ticos terciários/quaternários e por depósitos de tálus Quanto aos depósitos aluvionares quaternários,
e aluvionares quaternários. os mesmos estão relacionados ao rio Jacuípe e a
As coberturas detríticas terciárias/quaternárias alguns de seus principais tributários como o rio Sa-
possuem ampla distribuição no quadrante NNW da craiu. São de natureza areno-argilosa, com bolsões
folha, onde recobrem discordantemente as mais di- de cascalho localizados.

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