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RESUMO: De acordo com Mészáros (1995) a partir da década de 1970 deu-se início a
maior crise estrutural do sistema capitalista que produziu uma reconfiguração no seu
padrão de acumulação. No Brasil, como indica Giovanni Alves (2014), percebe-se um
padrão especifico dessa instrumentalização, a partir dos governos petistas que
readequaram a lógica da acumulação flexível. A Reestruturação e Expansão das
Universidades Federais (REUNI) é um exemplo desse tipo de fenômeno. A Universidade
Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF) por ser produto desse programa e com
sinais de desgaste do mesmo tem passado por processos de demissão em massa e
precarização do trabalho terceirizado. Sendo assim, este trabalho objetiva compreender
as formas de organização política dos trabalhadores terceirizados do Campus-Juazeiro da
UNIVASF. Analisamos especificamente como são organizados os vínculos
empregatícios com as respectivas empresas e as formas de organização política dos
trabalhadores a partir de análise de dados e referencial bibliográfico. Conclui-se que,
devido às condições do trabalho terceirizado, os trabalhadores não sentem-se pertencentes
aos modelos de organização política local, devido à instabilidade empregatícia e a
inabilidade de outras categorias em empreender a solidariedade de classe.
Palavras Chaves: Acumulação Flexível; Pertencimento Político; Solidariedade de
Classe; Organização Política; Univasf
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Trabalho apresentado no GT “Trabalho, sindicalismo e ação coletiva” na VIII Semana
de Ciências Sociais e IV Colóquio Internacional de História da África, realizados entre os dias
18 e 21 de novembro de 2018, na Universidade Federal do Vale do São Francisco, campus
Juazeiro/BA
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Graduando em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Vale do São Francisco
Campus Juazeiro. silassaavedraba@gmail.com
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Graduando em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Vale do São Francisco
Campus Juazeiro.henriquesangelo60@gmail.com
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Graduando em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Vale do São Francisco
Campus Juazeiro. luizricardomolina@hotmail.com
1 INTRODUÇÃO
De acordo com Mészáros (1995) a partir da década de 1970 deu-se início a maior
crise estrutural do sistema capitalista que produziu uma reconfiguração no seu padrão de
acumulação, alguns elementos são fundamentais para entender a emergência da nova
configuração produtiva, sendo as principais: a queda nas taxas de lucro da burguesia; o
esgotamento do binômio taylorismo/fordismo; a crise do compromisso do welfare state;
e a hipertrofia do capital financeiro. Essa confluência de fatores está associada no plano
político ao surgimento do neoliberalismo como modelo hegemônico de administração do
Estado e do toyotismo como padrão de exploração de mão de obra.
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modelos de organização política local, devido à instabilidade empregatícia e a inabilidade
de outras categorias (técnicos e docentes) em empreender a solidariedade de classe,
construindo espaços que contemplem os terceirizados. Percebe-se também que a
categoria de maior vínculo com os terceirizados são os estudantes, especialmente àqueles
que são beneficiários da Assistência Estudantil, uma expressão concreta disso, é a
integração das pautas de ambas as categorias a partir da tentativa de construção do Comitê
em Defesa dos Terceirizados.
Apesar de ter sido elemento constitutivo dos governos neoliberais dos anos 1990,
a flexibilização das relações de trabalho teve continuidade a partir dos governos
neodesenvolvimentistas de Lula e Dilma nos anos 2000. À proporção que os governos
petistas foram marcados pela aposta na conciliação de classes para garantia da
governabilidade, foi uma constante nas gestões do partido ações governamentais que
tentassem combinar os interesses das classes dominantes com os interesses das classes
populares, mesmo este sendo uma adaptação rebaixada do Welfare State, característica
que é fruto da estruturação produtiva mista. (ALVES, 2013; ANTUNES, 1999).
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aumento das relações de trabalho tidas como precarizadas, principalmente da
terceirização.
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social do trabalho, principalmente por conta da concorrência no mercado nacional e
internacional. (DRUCK, 1999; ALVES, 2014).
3 O REUNI E A UNIVASF
A Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF) foi criada por meio
da Lei N° 10.473, de 27 de junho de 2002, assinado pelo então presidente da República,
Fernando Henrique Cardoso. Apesar de ter tido seu marco legal na data supracitada e seu
efetivo funcionamento com início em 2004 - ainda quando era sediada em Petrolina no
Centro Federal de Educação Tecnológica (CEFET), em Juazeiro na antiga FACJU e em
São Raimundo Nonato na Fundação Museu do Homem Americano (FUMDHAM)- é em
2007 que a instituição passa pelos principais processos de reconstrução fundamentado
pelo Programa de Expansão e Reestruturação das Universidades Federais (BRASIL,
2010).
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universidades Brasileiras “(OTRANTO, 2006; MACHADO E LIMA, 2016). Este
relatório apontava para uma situação crítica do Ensino Superior no país, particularmente
naquilo que tange à disparidade do número de vagas nas IES privadas e públicas, com
alto número das primeiras em relação às últimas. Essa conjuntura no âmbito da educação
superior tinha relação intrínseca com as políticas adotadas pelos governos FHC para
expansão das IES privadas, resultado do alinhamento do então governo brasileiro às
exigências dos órgãos multilaterais. (FREITAS, 2013; MARTONI, 2015)
Contudo, a partir de 2013, quando a conciliação de classes passa dar seus sinais
mais fortes de desgaste, por diversos fatores políticos e econômicos, altera-se a correlação
de forças e a classe trabalhadora passa ter sucessivas derrotas. O REUNI, por fazer parte
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desse conjunto de políticas assentadas na frágil “malha social” criada pelos governos
petistas passa a dar sinais de corrosão por meio das próprias bases que o fundaram: a
expansão imponderada, a associação ao capital privado e à lógica de mercado.
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trabalho análogos a escravidão estarem situados nas formas flexíveis de contrato,
principalmente a terceirização. O discurso da condição sine quo non da terceirização no
capitalismo contemporâneo só tem validade a medida que legitima o caráter explorador
das relações sociais que existem nesse sistema (ALVES, 2014)
Esses dados mostram aquilo que Anna Pollert (1996) e Helena Hirata (1995) ao
tratar desses temáticas, apresentam semelhança em suas pesquisas, acerca da diferença
entre o trabalho feminino e masculino. É visível que o maior contingente do trabalho
feminino envolve trabalho intensivo, que abarca trabalhos manuais e repetitivos com
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menor qualificação, , já o trabalho masculino se coloca ao capital intensivo, em contato
com estabelecimentos que tem maquinários mais sofisticados.
Desde de 2015, ainda no governo Dilma Rousseff, com início dos cortes em
verbas na educação superior de maneira mais incisiva, que o sucateamento da UNIVASF
tem atingido a comunidade acadêmica como todo, o grupo mais afetado por essas ações
orçamentárias foram os trabalhadores terceirizados.
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o cálculo do trabalho é feito pela metragem, as auxiliares de serviços gerais têm dado
conta do dobro de metros de antes do último processo de demissão, além de em vários
momentos, segundo relatos das próprias trabalhadoras, tendo que utilizar matérias
próprios, pois a empresa não fornece o quantitativo suficiente.
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esforço para inserção dos trabalhadores terceirizados. De toda forma, é notável o foço
existente, por questões políticas e materiais implicadas na terceirização que dificultam a
integração entre esses diversos grupos e a unificação de pautas comuns. Esses empecilhos
dificultam nos terceirizados a noção de pertencimento à comunidade acadêmica e também
à instâncias políticas criadas pelos demais grupos e categorias que congregam esse espaço
Através dos relatos, é notório também por parte dos terceirizados a insatisfação
com a representação sindical, haja visto que são representados, na maioria das vezes por
sindicatos patronais que têm sede em Salvador com representantes na região do Vale do
São Francisco. São comuns relatos de que “o sindicato só pega o dinheiro e não dão nada
em troca” ou que “o sindicato representa a empresa e não a gente”. Nesse sentido
podemos afirmar que um maior nível de institucionalização dos organismos de resistência
sindical resulta numa relativa despolitização da classe trabalhadora (ANTUNES, 1999).
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Assim como a Associação Internacional do Trabalho (AIT) histórica, onde havia
pluralidade ideológica (GUILLAUME, 2009) além de ser a primeira organização a
articular o socorro mútuo (mutualismo) com a forma de organização de resistência, e a
exemplo também da experiência dos trabalhadores portuários na cidade de Fortaleza, a
partir da Sociedade Mutualista Deus e Mar (MORAIS, 2017), podemos ver que o percurso
da história das lutas e organizações de solidariedade de classe perpassa a disputa das mais
diversas matrizes ideológicas, o mesmo ocorre com o incipiente Comitê de Defesa dos
Terceirizados (CDT) na UNIVASF, onde diversas linhas políticas e organizações,
fundamentalmente estudantis, constroem a iniciativa e disputam os caminhos a serem
traçados por esta organização de socorro mútuo.
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
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categorias (técnicos e docentes) em empreender a solidariedade de classe, construindo
espaços que contemplem os terceirizados. De toda forma, para compreensão de como
estrutura-se o trabalho terceirizado e a dinâmica de organização política desses atores,
deve-se recorrer à análise dos condicionantes políticos, econômicos e geográficos que
dão base a essa situação na UNIVASF. Percebe-se também que a categoria de maior
vínculo com os terceirizados são os estudantes, especialmente àqueles que são
beneficiários da Assistência Estudantil, uma expressão concreta disso, é a integração das
pautas de ambas as categorias a partir da tentativa de construção do Comitê em Defesa
dos Terceirizados.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
______. O novo e precário mundo do trabalho no Brasil. São Paulo: Boitempo, 2000.
______. Terceirização e Capitalismo No Brasil: Um Par Perfeito. Rev. TST, Brasília, vol.
80, no 3, jul/set 2014
COSTA, Lúcia Cortes da. PESQUISA & DEBATE, SP, volume 11, número 1 (17), 49-
79, 2000
DIEESE/CUT. Terceirização e desenvolvimento: uma conta que não fecha. Dossiê sobre
o impacto da terceirização sobre os trabalhadores e proposta para garantir a igualdade de
direitos. São Paulo, 2011.
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DRUCK, M. da G. Terceirização: (des)fordizando a fábrica: um estudo do complexo
petroquímico. São Paulo: Boitempo, 1999.
MARINI, Rui. Editora Era, México, 1990, 10a edição (Ia edição, 1973). O postscriptum
conforme: Revista Latinoamericana de Ciências Sociales, Flacso, (Santiago de Chile), n°
5, junho 1973. Versão digitalizada conforme publicado em "Ruy Mauro Marini: Vida e
Obra", Editora Expressão Popular, 2005.
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