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FACULDADE VENDA NOVA DO IMIGRANTE

PÓS GRADUAÇÃO EM GESTÃO PÚBLICA

LAIS PAULO DE JESUS

ASPECTOS DA TERCEIRIZAÇÃO DOS SERVIÇOS DE SAÚDE

SALVADOR
2022
FACULDADE VENDA NOVA DO IMIGRANTE

LAIS PAULO DE JESUS

ASPECTOS DA TERCEIRIZAÇÃO DOS SERVIÇOS DE SAÚDE

Trabalho de conclusão de curso


apresentado como requisito parcial à
obtenção do título especialista em
NOME DO CURSO

SALVADOR
2022
ASPECTOS DA TERCEIRIZAÇÃO DOS SERVIÇOS DE SAÚDE

Lais Paulo de Jesus1

Declaro que sou autora deste Trabalho de Conclusão de Curso. Declaro também que o
mesmo foi por mim elaborado e integralmente redigido, não tendo sido copiado ou extraído, seja
parcial ou integralmente, de forma ilícita de nenhuma fonte além daquelas públicas consultadas e
corretamente referenciadas ao longo do trabalho ou daqueles cujos dados resultaram de
investigações empíricas por mim realizadas para fins de produção deste trabalho.
Assim, declaro, demonstrando minha plena consciência dos seus efeitos civis, penais e
administrativos, e assumindo total responsabilidade caso se configure o crime de plágio ou violação
aos direitos autorais. (Consulte a 3ª Cláusula, § 4º, do Contrato de Prestação de Serviços).

RESUMO: O objetivo do presente artigo é analisar os impactos da terceirização do trabalho nos


serviços de saúde de maneira que seja possível compreender a partir de seus aspectos as
consequências tanto para os serviços de saúde quanto para o trabalhador. Para elaboração, foi
realizado um levantamento bibliográfico por meio do banco de dados da Scielo, pesquisas online e
transcrições textuais sobre o tema. Desse modo, considerando os impactos fomentados pela
terceirização como um processo no qual, através da promessa de custo poderão ser reduzidos,
pode-se constatar, a partir da literatura disponível, os efeitos da terceirização nos serviços de saúde
pública. Contudo, por mais que se tenham grandes produções, para melhor compreensão dos efeitos
sobre a saúde e qualidade de vida do trabalhador. A partir da construção deste trabalho também foi
possível dimensionar a problemática da terceirização sobre a vida do trabalhador e os riscos da
terceirização de serviços que são de obrigação do Estado para garantia do bem estar social.

PALAVRAS-CHAVE: Terceirização; Saúde Pública; Neoliberalismo.

SERVIÇO PÚBLICO E O CENÁRIO DA GLOBALIZAÇÃO NO BRASIL

A compreensão do que é o serviço público tem ligação direta com as


atividades que são prestadas com o objetivo de atender as necessidades da
população, contudo, no contexto no qual vivemos, o serviço público tem sido
reformulado em seus conteúdos e normas. Essa nova forma que ele vem tomando
pode ser explicada a partir da Emenda Constitucional de nº 9, que coloca como
princípio norteador da administração pública a palavra "eficiência". Druck (2016),
aponta que nos últimos 25 anos os estudos realizados sobre a terceirização no
Brasil revelaram a degradação nos trabalhos em várias dimensões, desrespeitando
os salários dignos, as condições de saúde, e piorando também a vulnerabilidade
política dos trabalhadores aumentando a dificuldade da organização coletiva.

1
Lais Paulo de Jesus é graduada em Serviço Social pela Faculdade Dom Pedro II. Pós graduanda
em Gestão Pública pela Faculdade Venda Nova do Imigrante. E-mail: matsuo.lais@gmail.com. ID
Lattes: 4029672235947479.
No contexto geral, as pesquisas sobre a terceirização indicam caminhos para
a precarização social do trabalho evidenciando uma nova estratégia de dominação
que pode atingir a todos os trabalhadores e trabalhadoras. Druck (2016), pontua que
a terceirização pode ser entendida como um fenômeno que incorpora e sintetiza as
seis dimensões2 do trabalho no Brasil, nesse sentido, a precarização está em
concordância com a inserção e posições precárias no mercado de trabalho
contribuindo de maneira direta com a fragmentação da unidade dos trabalhadores.
Nesta medida, o desenvolvimento deste estudo tem como objetivo analisar
como se desenvolvem as dinâmicas da terceirização no Brasil e suas
particularidades nos serviços de saúde pública a partir da implantação das
organizações sociais (OSs) - lei nº 9.637/1998 e também do fenômeno de
terceirização dos serviços que se configuram como obrigação do Estado. Assim, a
hipótese que norteia este trabalho é de que o serviço público no Brasil tem
assumido formas, que evidenciam um quadro de diminuição salarial, no número de
funcionários, desqualificação e desvalorização dos profissionais com a premissa de
que esta dará mais eficiência às instituições.

TERCEIRIZAÇÃO

A terceirização no Brasil demonstra um fato que já vem tomando espaço há


algum tempo nas relações trabalhistas. De acordo com Leite (2021), desde o final
do século passado o trabalho vem enfrentando profundas transformações causadas
pelo neoliberalismo, que junto ao processo de globalização e financeirização da
atividade econômica vem provocando a deterioração do trabalho. No contexto geral,
a terceirização encontra-se longe de ter um conceito definido, mas de forma material
essa se expressa a partir do da interposição de uma empresa terceira entre o
trabalhador e a empresa que fará uso dessa mão de obra. Faria (2014, apud Véras

2
1) as formas de mercantilização da força de trabalho (o mercado de tr abalho); 2) os padrões de
gestão e organização do trabalho; 3) as condições de (in)segurança e saúde no trabalho; 4) o
isolamento e a perda de enraizamento e de vínculos resultantes da descartabilidade, da
desvalorização e da discriminação, afetando decisivamente a solidariedade de classe; 5) o
enfraquecimento da organização sindical e das formas de luta e representação dostrabalhadores; e,
porfim, 6) a ‘crise’ do direito do trabalho motivada pela ofensiva patronal, que questiona a sua
tradição e existência, expressa hoje nos ataques à Consolidação das Leis doTrabalho (CLT), a
exemplo das 101 propostas de modernização trabalhista formuladas pela Confederação Nacional da
Indústria (CNI) ou do projeto de lei nº 4.330, proposto e defendido pelo empresariado, que libera a
terceirização sem limites.
de Oliveira, 2015), entende a terceirização como toda forma de trabalho onde
acontece uma transferência de atividades e responsabilidades para terceiros.

A terceirização de mão de obra se perfaz através da presença de uma


figura intermediária entre os sujeitos da relação de emprego. Nas atividades
rurais, esse intermediário é comumente conhecido como gato ou turmeiro e
acumula as funções de contratante da mão de obra e fiscal do trabalho.
Conhecendo as demandas dos empreendimentos rurais, o gato alicia os
trabalhadores, geralmente pessoas oriundas de regiões diversas ao local
de prestação do serviço, em situação de vulnerabilidade social e
econômica, para inseri-los em atividades pontuais do ciclo produtivo
agrícola. As empresas rurais remuneram diretamente o intermediador que
posteriormente faz a contratação dos empregados (Carvalho, 2015, p.113).

Outro fator importante a se considerar sobre a terceirização é que quando se


encontra nesse formato se trata de um fenômeno que é característico do sistema de
acumulação. Seus processos podem ser compreendidos através do prisma de que
as empresas agora passaram a externalizar parte de seus processos produtivos e a
promover formas de contratação que vem de empresas terceiras com o intuito de
baratear o custo da mão de obra. Essa característica de terceirizar a mão de obra
cria então uma categoria de trabalhadores que têm menos direitos e outra que, de
acordo com Viana (2012), faz parte de uma mão de obra alugada de outra empresa.
Nesse sentido, Druck e Filgueiras (2014) chamam atenção para o fato de que a
terceirização ocupa um lugar ímpar nas novas formas de relações trabalhistas,
segundo os autores, a terceirização e as formas degradadas do trabalho tem como
características centrais condições analogas a escravidão, acidentes de trabalhos e
mortes.
Esse cenário aponta para a renúncia do Estado de sua responsabilidade
social e também demonstra o descaso das relações público-privadas. Druck (2016),
relata que essa característica vem demonstrando a transferência de um grande
montante de recursos públicos para instituições privadas, sem planejamento ou
supervisão de como estes recursos estão sendo utilizados e até mesmo em quais
condições os serviços estão sendo prestados.
Marcolino (2019), diz que os estudos de caso sobre a terceirização se
mostram relevantes no sentido de problematizar o tema e auxiliar na compreensão
de seus impactos no processo de trabalho e no mercado de trabalho. Dessa forma,
considerando a bibliografia levantada sobre terceirização até aqui, o desmonte aos
sindicatos e também ao Sistema Único de Saúde (SUS) os apontamentos sobre o
impacto da terceirização nos serviços de saúde pública se tornam imprescindíveis
para a compreensão do cenário e também para traçar novas formas de organização
coletiva para superação da terceirização.
TERCEIRIZAÇÃO DA SAÚDE PÚBLICA: OSs NA BAHIA

A terceirização das ações e serviços de saúde é uma medida adotada por


um número cada vez maior de entes federativos. O poder público está
deixando de gerenciar hospitais, unidades básicas de saúde, equipes da
saúde da família e outros serviços, transferindo esta incumbência para
entidades privadas (Tribunal de Contas da União, 2012, p. 65)

Com a terceirização dos serviços de saúde pública temos um cenário onde


se tem a transferência dos recursos públicos para as empresas privadas que retiram
do Estado a sua obrigação de cumprir com os serviços essenciais à sociedade
brasileira. Quando analisamos o cenário de terceirização do serviço de saúde
pública na Bahia temos os seguintes dados

Na Secretaria Estadual da Saúde da Bahia (SES-BA), dos nove processos


de seleção de entidades para parcerias na gestão dos hospitais de rede
estadual analisados, nenhum apresentou estudo ou ensaio capaz de
demonstrar eventuais vantagens de economicidade ou produtividade na
gestão da unidade hospitalar pelo modelo privado, em comparação com a
gestão pelo regime jurídico aplicável à administração pública (Druck apud
Tribunal de Contas da União, 2012, p. 27).

A qualificação e seleção das organizações sociais para assinatura do


contrato de gestão apresentam uma série de falhas que comprometem a
objetividade dos processos, dando margem a favorecimentos e à
possibilidade de contratação de entidades sem as condições adequadas
para gerenciamento dos serviços públicos de saúde. Em muitos casos,
observa-se que os processos constituem mera formalidade com o objetivo
de atender às disposições legais, mas que, na prática, pecam pela falta de
critérios objetivos e análises detalhadas (Druck apud Tribunal de Contas da
União, 2012, p.29 ).

Esses dados seguem revelando que o argumento de que a contratação de


OSs seriam minimamente mais econômicas para a saúde pública não
correspondem à realidade. Druck (2016), avalia esse fato como uma série de
processos irregulares, uma vez que o processo de contratação das OSs se mostram
irregulares na maior parte dos estados, denunciando assim que as instituições
privadas com fins lucrativos intermediam os contratos de trabalhadores utilizando o
patrimônio público para exploração. Além disso, a autora também ressalta que uma
das práticas das OSs na Bahia seguem sendo:
[...] contratos com empresas privadas com fins lucrativos para gerenciarem
hospitais públicos. Trata-se de modelo bastante semelhante com o das
organizações sociais, pois uma unidade pública de saúde tem seu
gerenciamento terceirizado, mas não existe legislação que autorize este
tipo de ajuste (Tribunal de Contas da União, 2012, p. 40).

Outro dado sobre a Bahia:

A Secretaria de Estado da Saúde da Bahia (SES-BA) também mantém


contratos com empresas privadas para gerenciamento de hospitais
públicos. Há seis hospitais cuja gestão foi terceirizada por meio da
contratação de serviços junto a empresas privadas – contratação regida
pelas normas aplicáveis de licitações e contratos administrativos (Tribunal
de Contas da União, 2012, p. 41).

Para a autora, os casos analisados demonstram a necessidade de implantar


controles e procedimentos que avaliem de maneira real as OSs.

Em síntese, os resultados em todas as instituições auditadas demonstraram


que: a) a terceirização não prova ser a melhor opção, pois não há estudos
sobre a situação nem antes nem depois da contratação das OSs; b) não há
controle nem avaliação dos contratos e dos serviços; c) não há participação
dos conselhos de saúde ou, quando há, são desconsiderados; d) não há
critérios objetivos para a classificação das entidades como organizações
sociais; e) não há controle financeiro no repasse de recursos, o que é
agravado pelo fato de a legislação definir que as OSs não precisam fazer
licitação para contratar pessoal ou para a compra de bens. (Druck, 2016)

De maneira geral, a terceirização no serviço público tem aberto a discussão


para o processo de precarização e de transferência do bens públicos para as
iniciativas privadas se configurando como uma prática completamente antiética,
uma vez que aumentam o número de trabalhadores sem vínculo permanente,
diminuem-se os números de funcionários públicos, reduzem direitos, desqualificam
as categorias profissionais, etc.
Contudo, mesmo que o cenário nacional demonstre a desorganização
ordenada da luta coletiva, as categorias permanecem traçando metas para que as
consequências da terceirização sejam freadas. A exemplo disso, em 2011 ocorreu
em Brasília uma Audiência Pública, convocada pelo Tribunal Superior do Trabalho
(TST), com o objetivo de compreender os impactos da terceirização na vida dos
trabalhadores. A conclusão dessa audiência exprime o desrespeito, por parte do
Estado e iniciativas privadas, aos direitos dos trabalhadores e trabalhadoras
resultando num expressivo quadro de processos na Justiça do Trabalho. Ainda
assim, mesmo com os esforços e adesões sindicais à luta contra a terceirização, em
2015 o Tribunal Federal julgou a ADI 1.923 colocando em pauta que o processo
referente a área da saúde foi constitucional e que poderia ser implantado em todo
serviço de saúde. O desenvolver desse trâmite não caberia neste trabalho pela sua
densidade, o que de fato deve ser exposto aqui é que, conforme são fomentadas a
utilização do uso das organizações sociais para os serviços públicos é criado no
Brasil um quadro de progressiva extinção de funcionários públicos restando apenas
terceirizados sem direitos, privatização dos serviços públicos, etc.

IMPACTOS DA TERCEIRIZAÇÃO NA SAÚDE PÚBLICA

De acordo com Mandarini, Alves e Sticca (2016), estudos vêm apontando a


diferença na qualificação, treinamento, remuneração e até mesmo benefícios entre
o trabalhador terceirizado e o efetivo. Os autores ainda indicam que os impactos
causados aos trabalhadores e trabalhadoras perpassam a saúde e condições de
trabalho, que além de causar o adoecimento emocional destes, causam acidentes e
até mesmo mortes devido a falta de treinamento e especialização dos mesmos.
Com isso, considerar também que o cenário da pandemia agrava os impactos da
terceirização traz de volta a discussão sobre as fragilidades do capitalismo e as
desigualdades que fazem parte da história deste país.
A pandemia de Covid-19 escancarou as mazelas sociais no nosso país e no
mundo, com isso foi percebido mais inteiramente a cisão da classe trabalhadora. O
mercado de trabalho brasileiro já vem sofrendo com a privatização há alguns anos,
mas com a pandemia, o mercado financeiro em clima de incertezas e os riscos do
desenvolvimentos a longo prazo vários trabalhadores e trabalhadoras foram
pressionados pelo desemprego, insegurança, as sensíveis relações do capital,
garantindo a prevalência de condições de trabalho cada vez mais desumanas. Em
um cenário de cortes de orçamento, demissões em massa e de assombro pela
condição sanitária do país, a terceirização da saúde pública pode alcançar efeitos
mais devastadores. Em 2016, o Tribunal de Contas da União (2012) apontava:

Porém, além da falta de estudos prévios que demonstrem que a


terceirização para organizações sociais é a opção mais vantajosa em cada
um dos serviços transferidos, outro problema identificado no processo de
decisão acerca da transferência ou não do gerenciamento dos serviços de
saúde para entidades privadas é a falta de participação dos conselhos de
saúde. Em muitos casos não há consulta às entidades de controle social,
em outros há a manifestação contrária à terceirização, que não é atendida
pelos gestores locais.

Esses dados, em 2016, já demonstravam que a terceirização não se


mostrava a melhor opção mesmo depois da contratação das OSs, não haviam
também controle sobre os contratos e serviços e muito menos controle de recurso,
fazendo com que a argumentação de que se teria melhores condições para se
operar a partir da terceirização se tornasse duvidosa. E, se antes da pandemia já se
tinha um cenário de contratos fragilizados pela incerteza, durante a pandemia o
cenário de pandemia escancarou a fragilidade da principal fonte de garantia de
direitos de dignidade e bem estar das pessoas.
O trabalho, para trabalhadores terceirizados, funciona em um sistema rotativo
no qual não existe a possibilidade de ter seguridade empregatícia. Com o cenário de
empresas falindo e as atividades essenciais se mostrando “menos essenciais”, a
onda de demissões se fez presente acarretando danos à sociedade. A exemplo
disso:

1. A Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo)


cortou gastos e acabou com contratos com empresas terceirizadas no
último trimestre de 2020 em resposta à crise imposta pela pandemia.
As empresas terceirizadas afetadas ainda reclamam da decisão de
redução de contratos de mais de 40 empresas de prestadores de
serviços ter sido unilateral e, como efeito disso, 800 trabalhadores
perderão o emprego. O valor de pagamento para essas empresas
caiu em 60%, segundo dados da associação das prestadoras de
serviços e, em ordem de manter salários daqueles terceirizados que
a Fiesp dispensou seriam necessários quase três milhões de reais por
mês. (UOL, mar.2020).

Pensando no quadro de saúde pública, não apenas a saúde populacional foi


abalada pelo vírus, mas agora com o desemprego como consequência, nessa
realidade atípica, o trabalhador aceita condições de trabalho que os colocam em
situações de vulnerabilidade constante. Dessa forma, o pensamento de Fernandes,
Soares, Cardoso e Bugalho (2021), expressam em realidade a situação na qual os
trabalhadores se encontram:

Assim, conclui-se que o empregado terceirizado está em uma situação


mais fragilizada dentro do mercado de trabalho, principalmente com o
estourar da pandemia do novo coronavírus, e caso ocorra o término do seu
contrato, este deve respeitar as garantias constitucionais, assegurando a
similitude de direitos entre trabalhadores terceirizados ou não. É dever
da Justiça do Trabalho trabalhar em prol da proteção desses
trabalhadores e é essencial o reconhecimento de igualdade entre todos
para a definir um país plenamente mais justo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com o aprofundamento teórico acerca desse tema e da amplitude desse


tema, hoje se tem dimensão sobre os impactos no mercado de trabalho, atuação
trabalhista, precarização do trabalho e ordenamento jurídico trabalhista, fatores
estes que vem aprofundando cada vez mais as desigualdades no nosso país. Como
demonstrado aqui, e ressaltado por Druck e Oliveira (2021), mesmo com a riqueza
da produção científica acerca deste tema ainda são necessários métodos que
permitam dimensionar a terceirização no setor da saúde pública. A literatura atual
demonstra efeito sobre a saúde e qualidade de vida do trabalhador, fatos estes que
ocasionam doença e sofrimento relacionados ao trabalho.
É importante considerar também que para melhor entender a terceirização
primeiro precisamos rever as complexidades do mundo do trabalho e este quadro só
é possível a partir da análise focal sobre os segmentos do mercado trabalhista.
Conforme fora demonstrado, a literatura sobre a terceirização cresceu, mas isso não
foi suficiente para que fosse possível dimensionar os impactos no setor da saúde
pública, toda pesquisa que considera avaliar os impactos da terceirização da saúde
pública hoje enfrenta o desafio de construir uma metodologia que avalie junto às
múltiplas dimensões, para que seja possível mapear e analisar o sistema que
compõe a saúde pública.
O que de fato se sabe e é incontestável é que a desobrigação de cumprir as
burocracias que os acordos trabalhistas exigem poupa empresas de cumprir com os
requisitos básicos do mundo do trabalho. Dessa maneira, formam-se quadros de
trabalhadores que se veem completamente desassistidos pela máquina estatal, sem
nenhum tipo de assistência, se vendo obrigados a permanecer para garantia de sua
sobrevivência. Por fim, como demonstrado durante a construção deste trabalho,
esse tema se mostra completamente relevante uma vez que desnuda as falácias
sobre a terceirização nos segmentos de nossa sociedade, principalmente no
segmento da saúde pública, demonstrando a necessidade do mesmo para
posteriores análises sobre os impactos na saúde pública após a pandemia de
covid-19.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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FERNANDES, A L. SOARES, J G. CARDOSO, J A. BUGALHO, A C.


Transformações e impactos da pandemia (COVID-19):da garantia trabalhista
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LEITE, M P. Terceirização no Brasil: o embate entre sindicatos e patronato.


Caderno C R H, Salvador, v. 34, p. 1-13, e021036, 2021.

MARCOLINO, Adriana. Balanço da produção acadêmica brasileira sobre


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(Mestrado em Sociologia) – Programa de Pós-Graduação em Sociologia da
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MANDARINI, M B. ALVES, A M. STICCA, M G. Terceirização e impactos para a


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VÉRAS de OLIVEIRA, Roberto. Sindicalismo e terceirização no Brasil: pontos


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VIANA, Márcio. A terceirização revisitada: algumas críticas e sugestões para
um novo tratamento da matéria. Revista do TST, São Paulo, v. 78, n. 4, p. 198-
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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO. Relatório de Auditoria Operacional, TC 018.


739/2012-1. Brasília, 2012. Disponível em: http://www.tcu.gov.br/consultas/juris/doc
s/judoc/acord/20131129/ac_3239_47_13_p. doc.

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