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Terceirização: Flexibilização ou
Precarização das Relações De Trabalho?
ID vLex: 697260317
http://livros-e-revistas.vlex.com.br/vid/terceirizacao-flexibilizacao-ou-precarizacao-697260317
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Introdução
O presente artigo elabora uma análise sobre a relação entre a globalização, expansão e concorrência do
mercado, a propalada necessidade de terceirização das atividades empresariais, manutenção de empregos e
direitos da personalidade do trabalhador.
Nesse seguimento, passa-se a analisar como a terceirização, especialmente na atividade-im, vem sendo
defendida como alternativa ao desenvolvimento, segundo aqueles que extraem seu lucro da terceirização,
mas que, se não utilizada apenas como técnica de gestão, poderá constituir-se em fator de precarização das
relações de trabalho. Para tanto, será abordada a conceituação da palavra terceirização, seus objetivos e a
terceirização na atividade-meio e atividade-im.
A terceirização supostamente é entendida, como foi exposto, principalmente pelos que lucram com a
mesma, como a necessidade em diminuir os custos da produção e obter produtos de maior qualidade, que
para estes demonstra exigências do atual mercado de consumo. Nessa acepção, a terceirização encontra-se
diretamente relacionada à lexibilização das relações de trabalho, como meio de manter empresas em
funcionamento e concorrentes no mercado, com a justiicativa de garantir emprego aos trabalhadores.
No entanto, será consolidado neste artigo que as relações laborais terceirizadas frequentemente vêm
apresentando-se como precarização, em que trabalhadores sem quaisquer condições de exigir seus direitos
trabalhistas submetem-se a subempregos, jornadas de trabalho excessivas sem a devida remuneração,
salários ínimos, e, até mesmo, trabalho análogo ao escravo, quando deveria ser técnica de gestão, a im de
otimizar a administração.
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Os direitos da personalidade por sua imprescindibilidade devem ser protegidos em todo o seio social,
enfaticamente no meio ambiente de trabalho que possui condições contratuais especíicas, como a
dependência econômica e a subordinação por uma das partes.
Assim, serão apresentadas propostas para prevenir a terceirização abusiva no meio ambiente de trabalho,
com o intuito de proteger o trabalhador, parte hipossuiciente na relação de trabalho, bem como manter o
funcionamento e crescimento empresarial, frutos da globalização, objetivando que o trabalhador se torne
aliado do empreendimento e participe ativamente do desenvolvimento deste, visto que nitidamente
encontram-se interligados social e economicamente.
Enim, insta consignar que para o desenvolvimento do presente artigo foi utilizada a pesquisa teórica em
documentos físicos e eletrônicos, consultas em livros, periódicos, jurisprudências, revistas e análise de
casos concretos, além do método indutivo, partindo-se de temas pontuais para os gerais com o im de melhor
abranger a problemática. O método casuístico, também, com o qual se analisam casos concretos almejando
encontrar soluções à realidade fática.
Nesse seguimento, passa-se à terceirização e suas especiicidades, as quais serão objeto do próximo tópico.
1. Terceirização
O fenômeno da terceirização é decorrente da expansão do mercado e, portanto, fruto da globalização, em
que se tornaram necessárias mudanças nas organizações empresariais e meios de produção, objetivando a
manutenção da atividade e competitividade das empresas no mercado. Contudo, ao empregar a
terceirização, não se pode ignorar a pessoa humana envolvida em todo este processo, o trabalhador, que
progressivamente vem sofrendo os efeitos da terceirização, com a perda de inúmeros direitos trabalhistas,
quando do precípuo desvirtuamento da real função social desta forma de trabalho.
1.1. Conceito
Inicialmente, para melhor compreensão do tema, imprescindível a conceituação do instituto da
terceirização, o que se faz a seguir.
A terceirização pode ser deinida "como um processo de gestão empresarial consistente na transferência
para terceiros (pessoas físicas ou jurídicas) de serviços que originalmente seriam executados dentre da
própria empresa" (POLONIO, 2000. p. 97).
Da noção de contratar terceiros surge a expressão "terceirização", sendo terceiro aquele que não é parte, ou
seja, o intermediador da mão de obra, que é contratado para prestar determinado serviço por prazo
predeinido e preço previamente ajustado, referindo-se, portanto às empresas interpostas, que não podem
direcionar-se à atividade-im (BARAÚNA, 1997. p. 55-57).
Apesar da aprovação da Lei n. 13.429/17, aprovada em 31.3.2017, com intuito de terceirizar a atividade-im,
entende-se que até o momento em que esta pesquisa foi realizada, nada havia que assim levasse a esta
conclusão, quanto ao serviço permanente, pois esta lei não foi expressa a respeito. Destaque-se que esta
norma, ao considerar o trabalho temporário, foi expressa ao admitir a terceirização na atividade-meio e im,
mas não o foi na terceirização em geral, apenas referindo-se que a empresa prestadora de serviços deverá
prestar serviços "determinados e especíicos". Portanto, entende-se que a mesma não autorizou a
terceirização irrestrita por não haver outros elementos que assim o indiquem. Destarte, aplicável ainda a
Súmula n. 331 do TST e à luz desta, a pesquisa foi desenvolvida.
O "terceiro" é a "pessoa física ou jurídica que não se vincula como empregado da tomadora de serviços,
porque é estranho à relação de emprego que envolve os trabalhadores que praticam a atividade-im na
empresa tomadora", considerando terceirização o "processo pelo qual se delega a terceiros, denominados
parceiros, a produção de serviços ou bens que não façam parte da atividade-im da tomadora de serviços"
(SILVA, 2005. p. 83).
Terceirização deriva do latim tertius, o qual se refere a um estranho a uma relação entre duas pessoas,
sendo terceiro o intermediário ou interveniente, de modo que a terceirização está relacionada à contratação
deste terceiro "para a realização de atividades que não constituem o objeto principal da empresa"
(MARTINS, 2001. p. 19 e 23). A ideia de terceirizar está diretamente relacionada à busca por serviços de
um terceiro, que não é o empregado, para desenvolvimento de determinada tarefa (MANUS, 2014. p. 114).
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A atividade terceirizada está concatenada a uma relação jurídica triangular, a qual se apresenta como uma
exceção à regra de vínculo empregatício padrão, em que aquele que possui o poder de comando da empresa
é o mesmo a beneiciar-se com a força de trabalho do obreiro. A colocação de uma terceira pessoa nesta
relação promove o surgimento de uma empresa prestadora de serviços (POMPEU; ALMEIDA, 2010. p.
8.943), de modo que a subcontratação (terceirização) de empregados contraria a inalidade do direito e
função social, e por isso, constitui uma exceção à relação bilateral (CASSAR, 2008. p. 493).
(...) a contratação de serviços por meio de empresa, intermediária entre o tomador de serviços e a mão de
obra, mediante contrato de prestação de serviços. A relação de emprego se faz entre o trabalhador e a
empresa prestadora de serviços, e não diretamente com o contratante destes (BRASIL. MINISTÉRIO DO
TRABALHO E EMPREGO, 2001. p. 29).
Terceirização é a transferência de parte das atividades de uma empresa para outra, que passa a funcionar
como terceiro no processo produtivo entre o trabalhador e a empresa principal quando se refere à
intermediação de mão de obra ou entre o consumidor e a empresa principal ao relacionar a prestação de
serviços (MARTINS FILHO, 2010. p. 116).
No atual contexto social, a terceirização tem se apresentado necessária para o desenvolvimento empresarial
e manutenção de empreendimentos concorrentes no mercado, se utilizada como forma de gestão e na
atividade-meio, no entanto, inegável ser a terceirização constantemente prejudicial ao trabalhador
vulnerável nesta relação, razão pelo qual, fundamental a iscalização desta forma de trabalho, para evitar o
desvirtuamento de sua função.
Considerada um novo modelo de gestão, a terceirização é realizada por meio de empresas especializadas,
decorrente do desenvolvimento tecnológico e a modernização empresarial que levou ao surgimento e
abertura de novos segmentos e negócios especializados, assim como o fornecimento de determinados
serviços (SANTOS, 2011. p. 90), serviços estes por vezes de execução diferenciada.
A eiciência na prestação de serviços e a melhor qualidade dos produtos tem se apresentado como exigências
no mercado consumerista contemporâneo, razão pela qual empresas necessitam constantemente se
adaptarem às demandas, com o intuito de se manterem em funcionamento e competitivas.
Importante ainda a ser avaliado é a relação "custo x benefício" da eiciência, qualidade e produtividade que
se observa como decorrência da concentração da atenção nas atividades essenciais (atividades-im)"
(POLONIO, 2000. p. 98), de modo que se pressupõe que a empresa ao dedicar-se a mais uma atividade
mais para a qual foi criada, exerce-a plenamente e com maior qualidade. Não que a atividade-meio não seja
essencial pois é, também, mas não é o objeto social da empresa.
Dessa forma, o principal objetivo da terceirização deveria ser não apenas a redução de custos mas também
trazer agilidade, lexibilidade e competitividade à empresa, possibilitando o melhor aproveitamento do
processo produtivo (MARTINS, 2001. p. 24), desde que seja na atividade-meio.
Portanto, os objetivos da terceirização são vários, dentre os quais importante destacar a lexibilização nas
relações pactuadas, objetivando a manutenção da competividade no mercado, contudo essencial
destacarmos que a lexibilização tem limites para que não se torne verdadeira precarização.
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Nessa acepção, os direitos trabalhistas são frequentemente usurpados pelo atual modelo de produção,
quando se fala em terceirização na atividade-im, a qual promove a precarização, já que uma empresa
intermediadora lucra sem nada produzir.
Para a terceirização utiliza-se ainda a palavra focalização, também em administração de empresas, para
evidenciar a empresa que procura a qualidade inal de seus produtos, dedicando-se apenas ao foco de sua
atividade, ou seja, à sua atividade-im, delegando a terceiros suas outras atividades (MARTINS, 2001. p. 20).
Nesse segmento, as atividades-meio, embora também possam ser atividades essenciais aos objetivos da
empresa, "são aquelas que não estão ligadas ao im para a qual se destina a empresa contratante" (SILVA,
2005. p. 83-84). De modo que a atividade-meio pode ser entendida como a atividade desempenhada pela
empresa que não coincide com seus ins principais (MARTINS, 2001. p. 122).
Portanto, a atividade-im de uma empresa é "aquela para a qual a empresa foi criada, é o objeto social da
empresa, é a inalidade precípua desta, isto é, a ação inal, somente com cuja realização se obterá o lucro
almejado, em todo o empreendimento empresarial" (SILVA, 2005 p. 83-84). A atividade-im é a atividade
central e direta da empresa, seu objeto social e atividade preponderante (MARTINS, 2001. p. 122),
portanto, a atividade-im está relacionada à atividade em que a empresa concentra seu mister, isto é, na qual
é especializada, o objetivo para a qual foi criada.
As áreas terceirizadas podem ainda ser classiicadas como: a) atividades acessórias, dentre as quais cita-se:
limpeza, alimentação, transporte de funcionários, vigilância, manutenção predial; b) atividades-meio como
departamento de pessoal, assistência jurídica e contábil, assistência médica, recursos humanos, treinamento
de funcionários, manutenção de máquinas; c) atividades-im a exemplo da produção, venda e transporte de
produtos (MARTINS, 2001. p. 46).
A Lei n. 6.019/1974 ainda prevê em caso de falência da empresa de trabalho temporário, a responsabilidade
solidária da empresa tomadora de serviços, pelas verbas de contribuição previdenciária, remuneração e
indenização.
Por isso, nos termos do inciso IV, o inadimplemento das obrigações trabalhistas, por parte do empregador,
implica a responsabilidade subsidiária do tomador dos serviços quanto às obrigações trabalhistas,
responsabilidade esta que abrange todas as verbas decorrentes da condenação referentes ao período da
prestação laboral (inciso VI), almejando assim tutelar direitos trabalhistas usurpados pelo desvirtuamento da
terceirização e consequente relação direta de emprego.
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De modo que, em caso de conirmação do entendimento contrário, ora esposado, pois a citada lei não foi
clara ao referir-se à terceirização na atividade-im, teríamos claro retrocesso às conquistas trabalhistas, pois
as empresas não teriam mais qualquer objetivo principal, sendo apenas agenciadoras de mão de obra.
Ademais, a terceirização na atividade-im poderá gerar quarteirização, quinteirização etc., o que diicultaria o
controle, iscalização e julgamento por parte dos Poderes Executivo e Judiciário, pois nem mesmo os
próprios trabalhadores conseguirão identiicar quem são seus efetivos empregadores, perpetrando assim a
injustiça e impunidade aos violadores de direitos trabalhistas e sociais.
Assim, as atividades a serem terceirizadas pela empresa deveriam ser apenas as subsidiárias, as atividades-
meio, sendo difícil a admissibilidade da terceirização da atividade-im do empreendimento, pois nessas
ocasiões a empresa não estaria prestando serviços, mas fazendo arrendamento do próprio negócio
(MARTINS, 2001. p. 46-47), o que se mostra inadmissível inclusive aos padrões de honestidade no
mercado.
Portanto, a atividade terceirizada deve sofrer limitações, não podendo ser estendida às atividades-ins, para
que as tomadoras não se eximam de suas responsabilidades quando houver a pessoalidade e subordinação.
No âmbito do Direito do Trabalho, lexibilização é "um conjunto de regras que tem por objetivo instituir
mecanismos tendentes a compatibilizar as mudanças de ordem econômica, tecnológica ou social existente
na relação entre capital e o trabalho" (MARTINS, 2001. p. 37), com grande utilização no acréscimo e
alteração das jornadas de trabalho; compensação e banco de horas a depender da necessidade da empresa e
possibilidade do empregado; e redução salarial e de jornadas, objetivando a manutenção da relação
empregatícia.
Para Sérgio Pinto Martins, a lexibilização do trabalho pode ser subdividida em:
(a) quantitativa externa que trata da contratação do trabalhador e da facilidade com que pode ser despedido,
de acordo com as necessidades da empresa; (b) lexibilização quantitativa interna, que engloba a utilização
do tempo do empregado, como o horário de trabalho, o trabalho em tempo reduzido; (c) lexibilização
funcional, que diz respeito aos métodos ou técnicas de gestão de mão de obra, em decorrência das
exigências da produção (MARTINS, 2001. p. 38).
Assim, a lexibilização das normas de Direito do Trabalho visa "assegurar um conjunto de regras mínimas ao
trabalhador e, em contrapartida, a sobrevivência da empresa, por meio de modiicação de comandos legais",
procurando
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conceder aos trabalhadores direitos mínimos e ao empregador a possibilidade de adaptação do seu negócio,
primordialmente em épocas de crise econômica, objetivando a continuidade da manutenção do emprego ao
trabalhador e a sobrevivência da empresa, "assegurando um lucro razoável à última e certas garantias
mínimas ao trabalhador" (MARTINS, 2001, p. 38-39).
Portanto, a lexibilização deve ser utilizada em prol do benefício de ambas as partes na relação de trabalho e
não como vantagem a uma delas, em contrapartida à depreciação da outra, como vem ocorrendo com o
trabalhador prejudicado em vários aspectos nas relações trabalhistas.
A lexibilização das relações laborais por meio da terceirização tem sido empregada, muitas vezes, para
precarizar. A terceirização, inicialmente, surge como forma de compatibilizar a eicácia econômica com
novos métodos de gestão de mão de obra e também com inovações tecnológicas e nessa acepção veriica-se
que a contratação de terceiro para prestar serviços à empresa é uma forma de lexibilização dos direitos
trabalhistas (MARTINS, 2001. p. 39), objetivando a redução dos custos empresariais por meio das
transferências de algumas atividades a outro empreendimento.
Precarização advém da palavra "precário" derivada do latim "precarius, do verbo precari (suplicar, rogar,
obter suplicando); que originalmente signiica a qualidade do que é obtido por súplica ou concedido por
mercê", não possuindo irmeza, nem vínculo permanente ou efetividade, ou seja, sem estabilidade (SILVA,
2014. p. 1.077-1.078).
Desta forma, a precariedade é característica do que é inseguro, temporário, que está em más condições
(GUIMARÃES, 2006. p. 449) e, portanto, prejudicial em qualquer relação.
Nessa hipótese, tem-se a simulação no processo de terceirização quando se pretende ocultar os pressupostos
do vínculo empregatício que se fazem presentes na relação contratual entre o tomador e o prestador de
serviço, em que há evidentemente vínculo empregatício, mediante interposição de entidades como empresa
prestadora de serviços, cooperativa de trabalho ou de mão de obra etc. De modo que a simulação, no
processo de terceirização, normalmente visa burlar a lei com o objetivo de reduzir encargos tributários
incidentes na relação empregatícia, notadamente encargos devidos à seguridade social, assim como
encargos trabalhistas, dentre os quais citam-se: 13º salário, férias, descanso semanal remunerado e FGTS
(POLONIO, 2000. p. 107-108).
Por isso, a terceirização, apesar de ser usada no mundo globalizado, não pode ser assimilada à precarização
dos direitos trabalhistas, os quais devem ser priorizados, pois haveria ofensas a direitos da personalidade, os
quais transcendem o âmbito do Direito do Trabalho.
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O ordenamento jurídico vigente, com ênfase na Constituição, art. 170, IV, garante a livre iniciativa,
demonstrando, desta forma, a possibilidade de contratação do serviço terceirizado. Contudo, o referido
dispositivo não pode ser objeto de leitura sem a devida associação aos arts. 1º, III e 5º da Constituição
Federal de 1988, os quais garantem respectivamente a proteção à dignidade da pessoa humana como
fundamento do Estado Democrático de Direito e direitos básicos como a inviolabilidade do direito à vida,
liberdade, igualdade, segurança, os quais nitidamente devem ser estendidos ao ambiente de trabalho.
Estando ainda presente a proteção aos direitos da personalidade no Código Civil, nos arts. 11 e 12.
Por isso, a terceirização quando de acordo com os preceitos da Súmula n. 331 do TST, está mais próxima de
cumprir a sua função social e mercantil, no entanto, quando há desvio de suas inalidades, com consequente
subordinação do empregado a empresa contratante, ou simples interposição de empresa intermediadora para
a supressão de garantias trabalhistas, tem-se a precarização no ambiente de trabalho.
O anseio das empresas terceirizadas em reduzir encargos trabalhistas e previdenciários, com a utilização da
terceirização, fomenta o subemprego e o desemprego, pois ao pagarem menores salários, ao empregado,
promovem a diminuição de seu poder aquisitivo e desaquecem o mercado de consumo.
Para Adriano de Cupis, os direitos da personalidade são aqueles "reconhecidos à pessoa humana tomada em
si mesma e em suas projeções na sociedade, previstos no ordenamento jurídico exatamente para a defesa de
valores inatos ao homem" (CUPIS, 2008. p. 1), e por sua essencialidade no meio social, os direitos da
personalidade são inerentes à existência humana.
Pontes de Miranda entende que os principais direitos da personalidade são: a) o direito à vida; b) o direito à
integri-dade física e psíquica; c) o direito à liberdade; d) o direito à igualdade; e) direito à verdade; f) o
direito de ter o nome e o direito ao nome; g) o direito à honra e h) direito autoral (MIRANDA, 2000. p. 32).
Carlos Alberto Bittar prescreve que os direitos da personalidade possuem as seguintes características:
Não há dúvidas quanto à imprescindibilidade da proteção aos direitos da personalidade à pessoa humana,
especialmente em sua relação com o meio ambiente de trabalho, o qual cada vez mais vem se apresentando
como local de rotineiras ofensas, assédio moral, assédio sexual, exploração de mão de obra etc., que não
respeitam o trabalhador.
Comumente, a terceirização vem sendo utilizada como meio de desonerar o empregador das obrigações
trabalhistas advindas da relação empregatícia, promovendo crescente exploração de grande contingente de
trabalhadores vulneráveis em prol do lucro desmedido.
Casos de terceirização abusiva são, frequentemente, relatados por meio de reportagens e demonstram o
completo descaso com o empregado, consoante expressamente assinalado na notícia do site Repórter Brasil,
em que nitidamente a terceirização se apresenta como potencializadora da capacidade de exploração do
trabalho e reduz a probabilidade de atuação dos agentes que poderiam impor limites (FILGUEIRAS, 2014).
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Outro exemplo explanado pelo site supramencionado relata os casos em que empresas renomadas como
Hering e Riachuelo estariam transferindo parte de sua produção para áreas atingidas pela seca, e
trabalhadores estariam recebendo salários abaixo do mínimo e laborando jornadas excessivas sem a devida
remuneração (CAMPOS, 2015).
Desta forma, baseando-se na análise de casos concretos, resta clara a usual ocorrência de abusos e
descumprimentos legais e éticos no meio ambiente de trabalho terceirizado, quando do desvirtuamento de
sua real função.
Por isso, quando da terceirização deve ser previamente analisado se há vínculo direto com o tomador de
serviços, para que não haja fraudes nos direitos dos que são hipossuicientes na relação estabelecida.
Igualmente, a terceirização na atividade-im não pode ser permitida, pois se cria uma empresa que nada
produz diretamente, obtendo seu lucro por meio da exploração da mão de obra alheia.
Nesse contexto, imprescindível buscar soluções para a terceirização abusiva, objetivando o cumprimento da
real inalidade do trabalho terceirizado e proteção aos direitos da personalidade do trabalhador no meio
ambiente laboral, o que será exposto na sequência.
Apesar do papel importante exercido pela terceirização, a mesma deve possuir regulamentações condizentes
que não perpetrem a injustiça no ambiente de trabalho, o que claramente foi o objetivo da Súmula 331 TST
em que há a responsabilidade subsidiária do tomador de serviços quanto aos débitos trabalhistas,
objetivando assim que empresas contratantes investiguem as empresas intermediárias antes de contratá-las,
analisando se as mesmas são ou não cumpridoras das leis, principalmente trabalhistas, pois caso não sejam,
as tomadoras também arcarão com os custos.
Ademais, um dos princípios primordiais do Direito do Trabalho que não pode ser olvidado no fenômeno da
lexibilização é o principio protetor, somado aos Princípios da Razoabilidade e da Proporcionalidade, com o
intuito de incentivar o sindicato a atuar como representante dos empregados, zelando pela classe operária
(PEREIRA, 2013. p. 91), reiterando ainda a indisponibilidade dos direitos trabalhistas.
Assim, como meio de solucionar ou ao menos amenizar as reiteradas práticas de terceirização precárias ao
ambiente de trabalho, indispensável a conscientização da população, para tais formas de trabalho, pois
muitos consumidores deixariam de adquirir produtos, os quais têm conhecimento ser fruto do sofrimento e
trabalho escravo.
A participação nos lucros e resultados das empresas também pode ser utilizada objetivando melhor
desempenho do empregado, sem a necessidade de exploração do trabalho, pois se apresenta como incentivo
ao proissional, que trabalha mais motivado, produzindo mais e com melhor qualidade.
Essencial que quaisquer normativas que visem a precarizar as relações terceirizadas, terceirizando a
atividade-im das empresas, não sejam aprovadas, pois a recente Lei n. 13.429/17, como já foi dito, não o
faz. Ademais, a atividade-meio nos termos apresentados pela Súmula n. 331, TST é suiciente para cumprir a
eicácia e produtividade almejadas na atividade terceirizada. A terceirização na atividade-im cria a igura da
empresa que nada produz e não possui qualquer inalidade. A chamada empresa "oca".
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Assim, as empresas terceirizadoras de serviços quando da ocorrência de fraudes devem sofrer penalidades
severas, mediante multas pecuniárias condizentes aos danos perpetrados baseando-se nos Princípios da
Razoabilidade e Proporcionalidade, pois a impunidade ainda é a grande fomentadora de transgressões.
A atuação sindical também é substancial na proteção aos direitos dos empregados que icam intimidados em
ingressar com ações, temendo retaliações, considerando ainda a nobreza presente na função das entidades
sindicais em proteger uma categoria (SANCHEZ, 2009. p. 104).
Para SOUTO MAIOR, MENDES, SEVERO, devemos adotar a solidariedade, justiça, valorização do
trabalho e da dignidade humana como parâmetros do ordenamento jurídico brasileiro, com o intuito de que
as regras processuais sejam examinadas sob a ótica da coletividade e não percam de vista o ser humano
(2014. p. 150).
Conclusões
A globalização tem acirrado a concorrência no mercado, e, por conseguinte, vem fomentando a
terceirização na atividade-im ou meio, sem o devido respeito aos direitos da personalidade dos empregados
das prestadoras de serviço. Isso ocorre porque a produção a baixo custo e com qualidade, no ponto de vista
de alguns gananciosos empregadores, somente torna-se possível com a redução dos direitos trabalhistas e,
consequentemente com a exploração da mão de obra de terceiro.
Terceirização, nessa acepção, encontra-se intimamente relacionada à precarização das relações de trabalho,
com a justiicativa de que a mesma é necessária aos grupos econômicos, e, portanto, geradora de empregos e
promotora do crescimento econômico.
Porém, claramente, a terceirização na atividade-im empresarial será ainda mais prejudicial ao trabalhador,
pois a empresa passará a não ter qualquer objetivo principal, mas tão somente a exploração da mão de obra
alheia, potencializando a precarização no ambiente de trabalho.
O acirramento das violações aos direitos do trabalhador também é decorrente da recessão econômica
vivenciada atualmente, que vêm reduzindo os campos de emprego e fazendo com que trabalhadores aceitem
qualquer forma de trabalho, para não serem acrescidos ao assombroso quadro de desemprego no Brasil. E
este desemprego impossibilita ainda o sustento próprio e familiar do trabalhador, aumentando a
marginalização e violência no meio social.
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Como propostas para a prevenção de abusos no ambiente de trabalho terceirizado cita-se a conscientização
social, maior iscalização e aplicação de penalidades por órgãos como Ministério Público, atuação efetiva
dos sindicatos na proteção aos trabalhadores, atuação do Poder Judiciário na aplicabilidade de sanções
condizentes, objetivando assim evitar a perpetração da injustiça e manutenção da paz social.
Conclui-se, portanto, que é preciso recolocar o homem em seu ponto central no meio social, especialmente,
no meio ambiente de trabalho, concedendo a ele a devida importância como ser único, em contrapartida à
obtenção do lucro desmedido, inclusive às custas do desrespeito aos direitos da personalidade.
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