Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
52
Terceirização II
Artigos
53
Terceirização II
Artigos
54
Terceirização II
Artigos
55
Terceirização II
Artigos
56
Terceirização II
Artigos
57
Terceirização II
Artigos
que a locação de serviços pode ser realizada subordinação. De modo percuciente examinam
entre empresas, e a temporalidade demonstra os ministros Augusto César Leite de Carvalho e
a excepcionalidade com a qual a legislação Lelio Bentes Corrêa:
brasileira trata as atividades permanentes e
os serviços especializados que precisam ser Em 1993, o TST consentiu a terceirização
executados para o funcionamento de uma em hipótese não prevista em lei, a
empresa. Do ponto de vista clássico, a nosso ver pretexto de que se justificaria, de lege
de legalidade estrita, a bilateralidade intrínseca ferenda, mas em atenção a uma insistente
à relação de emprego não deixa espaço para demanda de racionalidade empresarial, a
se admitir nenhuma terceirização externa ou contratação de empresas especializadas
interna à empresa, seja ela de atividade fim que, não realizando serviços diretamente
ou meio, diante do caráter não eventual das voltados à atividade econômica para a
atividades rotineiras e habituais (cf. artigos qual se constituiu a empresa tomadora,
2º, 3º e 442 da CLT). Do ponto de vista da a liberariam para que se dedicasse a
conformação legal, a única triangulação em essa sua atividade essencial, ou core
atividade-fim possível é aquela que se realiza business. Para diferenciar a atividade-
de modo temporário, limitado e sob o controle fim e atividade-meio, admitindo que
estatal indireto, nos termos da Lei nº 6.019, de somente a atividade-meio fosse objeto
1974.10 de subcontratação. (2014, p. 43).
No início dos anos 1990, a Súmula Não se olvide que a Súmula nº 331
nº 331 admitiu como conforme ao direito a representa um momento de flexibilização
exteriorização de atividade- meio realizada do Direito do Trabalho (SILVA, 2008) e de
na empresa, desde que sem pessoalidade ou reconstrução de concepções contratuais
(ARTUR, 2007), pois a rigor a legislação só
admite sua ocorrência nas hipóteses descritas
10 Os precedentes da Súmula 256 foram muito na antiga Súmula 256 do TST, a saber: nas
bem trabalhados por Noêmia Porto (2013, p.38-53),
que sublinha a relevância da proteção ao examinar atividades temporárias previstas na Lei nº
as fragmentações na gramática judiciária. Segundo a 6.079, de 1974, na vigilância especializada
autora, o Tribunal “reforçou a temática do princípio
da legalidade estrita, porquanto o contrato celebrado instituída na Lei nº 7.132/84, e acrescento
com o empregado não poderia subsistir à falta de para a Administração Pública, nos termos em
lei dispondo diretamente sobre tal possibilidade. No
mesmo contexto dos princípios, e invocando o contrato que havia sido previsto no § 7º do artigo 10 do
realidade, o vínculo de emprego deveria se estabelecer
de forma direta com a tomadora de serviços, a fim de
Decreto-Lei 200 de 1967. Contudo, atualmente
que não restasse comprometida a liberdade do trabalho, sua aplicação representa uma contenção às
o equilíbrio da ordem econômica instituída e a integração
do trabalhador na vida da empresa (que são garantias demandas empresariais pela terceirização
constitucionais), bem como para que não fossem nas atividades-fim e uma garantia para a
frustradas as conquistas da legislação do trabalho. A
intermediação, sem reconhecimento de vínculo direto
com a tomadora, representaria, assim, uma afronta à
Constituição e aos termos do art. 9º da CLT.” (2013, p.52)
58
Terceirização II
Artigos
59
Terceirização II
Artigos
60
Terceirização II
Artigos
61
Terceirização II
Artigos
SBDI-1 do TST nos julgamentos dos processos contemporâneos da interpretação. Não foi esta
E-ED-RR-586341- 05.1999.5.18.5555, Redator a exegese adotada pela SBDI-1 do TST que trilhou
designado Ministro Vieira de Mello Filho; E-RR- uma opção histórico-sistemática, consagrando
134640-23.2008.5.03. 0010, Relatora Ministra o entendimento no sentido de que as regras são
Maria de Assis Calsing, e TST-E- RR-586341- omissas quanto à matéria trabalhista e, portanto,
58.1999.5.18.0001, dentre outros).14 não imunizam as empresas concessionárias
das responsabilidades diretas com os obreiros.
Somente a interpretação gramatical das Trata-se de uma opção hermenêutica situada
Leis nº 8.897/95 e nº 9.472/97 possibilitaria em um patamar superior, pois situa a norma em
concluir que as prestadoras de serviço poderiam seu contexto, fixando, no tempo histórico das
exercer suas atividades econômicas por meio privatizações e da regulação das concessões de
de bens e pessoas que lhe são estranhas. Vale serviços públicos, as pretensões da regulação
destacar que entre os métodos hermenêuticos voltada para as relações entre as agências
que se voltam à textualidade na norma, a reguladoras e dos consumidores (CARVALHO,
interpretação gramatical é a mais primária de CORREA, 2014, p. 45)15
todas, pois parte de uma dimensão textual No segmento de serviços, a delegação
e de sintaxe incompatíveis com os desafios de atividades a terceiros com a proliferação de
call centers alheios às empresas prestadoras
agride potencialmente os direitos dos
62
Terceirização II
Artigos
63
Terceirização II
Artigos
com mão de obra não beneficiada pelo regime produtivas gera no Brasil e que se distanciam
legal e convencional dos empregados bancários. dos sentidos de justiça e do ideário presente na
Contudo, a jurisprudência corretamente vem Constituição de 1988, há que se refletir sobre a
observando que sempre que há a terceirização prevalência dos valores do trabalho e o papel
em atividade preponderante do tomador normativo do direito sobre a ordem econômica.
de serviços, o vínculo de emprego se forma
diretamente com este real empregador, sem a Os fundamentos da jurisprudência
necessidade de se examinar a pessoalidade ou trabalhista que admite, ainda que de modo
a subordinação direta.19 limitado, a terceirização em atividades-meio do
Como então dizer que ao vetar a tomador em serviços especializados denotam
terceirização da atividade-fim, ao impedir a que o Direito do Trabalho segue sendo um
expulsão do trabalho da ordem econômica pela sistema jurídico ambivalente. À contradição
admissão irrestrita do outsourcing, ao aplicar inerente ao ramo juslaboral acresce-se um
a correspondência obrigatória do contrato de processo de juridificação do trabalho, que
trabalho para todos os casos em que a realidade dialeticamente se refaz com novos equilíbrios.
demonstra haver verdadeira relação de Com os olhos de hoje sobre o passado, a
emprego e intermediação fraudulenta de mão Súmula nº 331 do TST pode ser vista como
de obra (cf. artigos 2º, 3º, 9º e 442 da CLT), a uma “tentativa – insuficiente, mas necessária
jurisprudência do Tribunal Superior do Trabalho – de circunscrever os efeitos da terceirização
estaria violando a legalidade e a livre iniciativa? para evitar a universalização dessa prática,
Somente por um olhar que vê o homem como ainda que, ao tempo de sua edição, ela tenha,
mero fator de produção e o Direito do Trabalho paradoxalmente, ampliado as hipóteses de
como técnica instrumental de consolidação terceirização, se comparada ao Enunciado nº
dos poderes da empresa pela subordinação do 256”, como afirmam Cristiano Paixão e Ricardo
trabalho às decisões e preferências do poder Lourenço Filho. Para os pesquisadores, o que
econômico. não poderia ser previsto à época “era o risco de
uma verdadeira universalização da terceirização
04. Reflexões Finais sob o manto da liberdade de contratar” (PAIXÃO,
LOURENÇO FILHO, 2014, p. 73). De toda sorte,
Observando as graves repercussões nosso artigo destaca o esforço da jurisprudência
sociais, econômicas, culturais e políticas majoritária do Tribunal Superior do Trabalho,
que a crescente terceirização das atividades que exerce sua atividade infraconstitucional de
controle das fraudes à relação de emprego e,
por consequência lógica, rechaça a terceirização
em atividades empresariais finalísticas, ainda
19 Cf. TST, 7ª Turma, AIRR 541-27.2010.5.01.0035,
Rel. Ministro Luiz Philippe Vieira de Mello Filho; TST, 2ª quando realizada nos setores de energia,
Turma, AIRR 974-95.2011.5.09.0965, Rel. Ministro José
prestadores de serviços, telecomunicações, call
Roberto Freire Pimenta.
64
Terceirização II
Artigos
65
Terceirização II
Artigos
nº 331. Diário Oficial da União. Disponível em: Superior do Trabalho vol. 80, nº 3, jul/set 2014,
<http://www.tst.jus.br/sumulas >. Acesso em: p.239-256.
24 de novembro de 2013.
CARVALHO, Augusto César Leite de; CORRÊA,
BRASIL, Supremo Tribunal Federal. Acórdão Lelio Bentes. Terceirização no âmbito da em-
ADI 319 – QO. Diário da Justiça. [Brasília, presa privada. In: Revista do Tribunal Superior
DF], 30 abr. 1993. Disponível em: <http:// do Trabalho vol. 80, nº 3, jul/set 2014, p.36-57.
www.stf.jus.br/portal/geral/verPdfPaginado.
COSTA, Lorena Garcia da. Organização do Traba-
asp?id=918&tipo=AC&descricao=Inteiro%20
lho, sofrimento psíquico e doença mental: uma
Teor%20ADI%20/%20319%20-%20QO.> Acesso
estreita relação nos ambientes produtivos no
em 02. Ago.2014.
moderno capitalismo. In: HORN, Carlos Henri-
BRASIL, Supremo Tribunal Federal. Repercussão que; COTANDA, Fernando Coutinho (orgs.). Re-
Geral 725. Disponível em: <http://www.stf.jus. lações de trabalho no mundo contemporâneo:
br/portal/jurisprudenciaRepercussao/verAnda- ensaios multidisciplinares. Porto Alegre: UFR-
mentoProcesso.asp?incidente=4304602&nu- GS/Escola Judicial TRT-4.ª Região, 2011.
meroProcesso=713211&classeProcesso=A-
DELGADO, Gabriela Neves; AMORIM, Helder
RE&numeroTema=725> Acesso em 02.
Santos. Os limites constitucionais da terceiriza-
Ago.2014.
ção. São Paulo: LTr, 2014.
CARELLI, Rodrigo de Lacerda. Terceirização e
DELGADO, Mauricio Godinho. Constituição da
Intermediação de Mão de Obra: Ruptura do
República, Estado Democrático de Direito e Di-
Sistema Trabalhista, Precarização do Trabalho e
reito do Trabalho. In: DELGADO, Mauricio Godi-
Exclusão Social. Rio de Janeiro: Renovar, 2003.
nho; DELGADO, Gabriela Neves. Constituição da
CARELLI, Rodrigo de Lacerda. Terceirização e República e Direitos Fundamentais. Dignidade
Direitos Trabalhistas no Brasil. In: Graça Druck; da Pessoa Humana, Justiça Social e Direito do
Tânia Franco. (Org.). A perda da razão social do Trabalho. São Paulo: LTr, 2012.
trabalho: terceirização e precarização. São Pau-
DRUCK, Graça. A precarização social do trabalho
lo: Boitempo, 2007, p. 59-68.
no Brasil. In: ANTUNES, Ricardo. (Org.). Riqueza
CARELLI, Rodrigo de Lacerda. A Terceirização no e Miséria do Trabalho no Brasil, volume II.
Século XXI. In: Revista do Tribunal Superior do Boitempo. São Paulo, 2013.
Trabalho. Brasília, v. 79, out.-dez., 2013, p. 232-
GARCIA, Sandro Ruduit. Terceirização. In:
244.
CATTANI, Antonio David; HOLZMANN, Lorena
CARELLI, Rodrigo de Lacerda. O Ativismo Judi- (Orgs). Dicionário de Trabalho e Tecnologia.
cial do Supremo Tribunal Federal e o Debate Porto Alegre: UFRGS, 2006, p. 311-314.
sobre a Terceirização. In: Revista do Tribunal
66
Terceirização II
Artigos
GRAU, Eros Roberto. A ordem econômica na e seus efeitos no mercado de trabalho no Brasil.
Constituição de 1988: interpretação e crítica. 8ª In: Revista do Tribunal Superior do Trabalho vol.
ed. São Paulo: Malheiros, 2003. 80, nº 3, jul/set 2014, p.215-227.
GORZ, André. Metamorfoses do trabalho: crítica PORTO, Noêmia. O trabalho como categoria
da razão econômica. São Paulo: Annablume, constitucional de inclusão. São Paulo: LTr, 2013.
2003.
REDINHA, Maria Regina. A relação laboral
HALIS, Denis de Castro. Por que conhecer o fragmentada: estudo sobre o trabalho
Judiciário e os perfis dos Juízes? O pragmatismo temporário. Coimbra: Coimbra Ed., 1995.
de Oliver Holmes e a formação das decisões
ROSENFIELD, Cinara Lerrer. Construção da
judiciais. Curitiba: Juruá, 2010.
identidade no trabalho em call centers: a
HARVEY, David. A condição pós-moderna. 9ª identidade provisória. Anais do XIII Congresso
ed., São Paulo: Loyola, 2000. Brasileiro de Sociologia. GT21: Sindicato,
Trabalho e Ações Coletivas, 2007.
________. O enigma do capital: e as crises do
capitalismo. São Paulo: Boitempo, 2011. SCHIER, Paulo Ricardo. Filtragem constitucional.
Construindo uma nova dogmática jurídica.
JEAMMAUD, Antoine et al. Trabalho, cidadania
Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris, 1999.
e magistratura. Rio de Janeiro: Edições
Trabalhistas, 2000. SENNETT, Richard. A corrosão do caráter: as
consequências pessoais do trabalho no novo
MELLO FILHO, Luiz Phillipe Vieira de; DUTRA,
capitalismo. Rio de Janeiro: Record, 1999.
Renata Queiroz. A Terceirização de atividade-
fim: caminhos e descaminhos para a cidadania SILVA, Sayonara Grillo Coutinho Leonardo da;
no trabalho. In: Revista do Tribunal Superior do Horn, Carlos Henrique. O princípio da proteção
Trabalho vol. 80, nº 3, jul/set 2014, p. 187-214. e a regulação não mercantil do mercado e das
relações de trabalho. Revista de Direito do
PAIXÃO, Cristiano; LOURENÇO FILHO, Ricardo.
Trabalho. vol. 132. p. 184-205. São Paulo: Ed.
Impactos da terceirização no mundo do
RT, out.-dez. 2008.
trabalho: tempo, espaço e subjetividade. In:
Revista do Tribunal Superior do Trabalho vol. ______; CAVALLAZZI, Rosangela. Vulnerabilidade
80, nº 3, jul/set 2014, p. 58-74. e Direitos: Lei e jurisprudência sobre consumo e
trabalho na sociedade contemporânea. Revista
POCHMANN, Márcio. Nova classe média? O
de Direito do Consumidor. São Paulo: RT, 2013.
trabalho na base da pirâmide social brasileira.
São Paulo: Boitempo, 2012. SILVA, Sayonara Grillo Coutinho Leonardo da;
PALMISCIANO, Ana Luisa de Sousa Correa de
POCHMANN, Márcio. Terceirização desregulada
Melo. A Terceirização sob o prisma do trabalho
67
Terceirização II
Artigos
68
Terceirização II