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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO
1 TERCEIRIZAÇÃO, p. 11
1.1 Conceito
1.2 Aspectos Históricos da Terceirização
1.2.1 A Terceirização no Brasil
1.3 Aspectos relevantes da Terceirização
2 RESPONSABILIDADE NOS CONTRATOS DE TRABALHO
1.1 Contratos de Trabalho passíveis de Terceirização
1.2 Tipos de atividades desenvolvidas pelas empresas
1.2.1 Atividades Meio
1.2.2 Atividades Fim
1.3 Tipos de Responsabilidade
1.4.1Responsabilidade Solidária
1.4.2 Responsabilidade Subsidiária
3 A TERCEIRIZAÇÃO E A RESPONSABILIDADE SUBSIDIÁRIA DA
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA NAS CONDENAÇÕES TRABALHISTAS
1.1 A Terceirização e a Constituição Federal Brasileira de 1988
1.2 A Lei de Licitações – Lei n.º 8.666/91
1.3 A Súmula 331 do TST
1.4 Culpa in Eligendo e Culpa in Vigiliando
1.5 Posicionamento do STF no Julgamento da ADC n.º 16
1.6 A Nova Lei da Terceirização – Lei nº 13.429/2017
1.6 Direito de Regresso da Administração Pública
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem como objetivo o estudo da terceirização no


âmbito da administração pública brasileira e suas implicações nas sentenças
condenatórias da Especializada Trabalhista.
Veremos o que vem a ser a terceirização, conceituando-a de forma
clara e objetiva, seus aspectos históricos e seu surgimento no cenário
brasileiro.
Outro aspecto importante a ser discutido diz respeito aos pontos
negativos e positivos da terceirização, sem, contudo, ter a pretensão de
apontar qual é o melhor posicionamento.
À frente, falaremos sobre os contratos de trabalho em que são
possíveis a utilização de mão de obra terceirizada, diferenciando atividade-
meio de atividade-fim.
Serão abordados os tipos de responsabilidade oriundas dos contratos
de terceirização, em destaque, os firmados entre empresas privadas e entes
públicos.
Traçaremos um breve comentário sobre as limitações impostas pela
Constituição Federal Brasileira de 1988, concernentes aos tipos de trabalhos
de em que pode ser utilizado tal instituto.
Analisaremos de maneira geral as alterações nas demais legislações
pátrias concernente ao tema proposto, em especial, relacionada à
responsabilização da administração pública pelos créditos eventualmente
inadimplidos pelas empresas tomadoras de serviço.
Para tanto, abordaremos a Lei de Licitações, a Súmula 331 do TST, a
Lei 13.429/2017 – Diploma alterador da Lei 6.019/1974, no que tange ao tema
proposto, bem como o posicionamento adotado pelo STF no recente
Julgamento da ADC n.º 16.
Por fim, abordaremos de maneira sucinta o direito de a administração
pública cobrar, em ação de regresso, eventuais créditos pagos em decorrência
de condenações na esfera trabalhista, nas quais tenha sido imputada
responsabilidade subsidiária à mesma.
1 TERCEIRIZAÇÃO

Subcontratação, terciarização, desverticalização, parceria, focalização,


reconcentração, filialização, exteriorização do emprego, terceirização, são
alguns dos mais variados vocábulos utilizados para designar a contratação de
terceiros por uma empresa para prestação de serviços ligados a sua atividade-
meio.
Por ser o mais comum, utilizaremos o termo terceirização em nosso
estudo.

1.1 Conceito

De acordo com o dicionário Aurélio da Língua Portuguesa1,


terceirização pode ser definida como “ato ou efeito de terceirizar”.
Tal definição diz muito pouco ou quase nada, ficando para a segunda
definição, uma explicação mais profunda do que seria tal instituto, em especial,
no que diz respeito ao tema aqui desenvolvido. Vejamos:

“forma de organização estrutural que permite a uma empresa


transferir a outra suas atividades-meio, proporcionando maior
disponibilidade de recursos para sua atividade-fim, reduzindo a
estrutura operacional, diminuindo os custos, economizando
recursos e desburocratizando a administração”.

Segundo Sérgio Pinto Martins (MARTINS, 2011, p. 192), “o uso da


denominação terceirização poderia ser justificado como decorrente da palavra
latina tertius, que seria o estranho a uma relação entre duas pessoas”,
conceituando o instituto da seguinte forma:

Consiste a terceirização na possibilidade de contratar terceiro


para a realização de atividades que não constituem o objeto
principal da empresa. Essa contratação pode compreender
tanto a produção de bens, como de serviços, como ocorre na

1
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Aurélio Século XXI: o dicionário da língua
portuguesa. 3 ed. totalmente revisada e ampliada. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999.
necessidade de contratação de empresa de limpeza, de
vigilância ou até para serviços temporários.

Desta forma, entendemos que a terceirização nada mais é que a


contratação de mão de obra de uma determinada empresa para desenvolver
atividades que não sejam a especialidade da empresa contratante, ou melhor
dizendo, que não seja sua atividade-fim.
Como exemplo, podemos citar os serviços de vigilância, que são
realizados por profissionais contratados por outra empresa para prestar
serviços nos bancos, não sendo considerados, no entanto, bancários, nem
empregados da instituição financeira para a qual prestam serviço.
Podemos ainda, citar os serviços de limpeza executados no âmbito do
prédio onde funciona a sede administrativa de dado município, estado, câmara
legislativa etc.
É bem verdade, que existe a possibilidade, em casos específicos, de
também ser contratada empresa para realizar atividades-fim, como ocorre na
indústria automobilística e na construção civil. Mas, como são temas
polêmicos, serão melhor desenvolvidos nos tópicos seguintes.

1.2 Aspectos Históricos da Terceirização

Para entendermos a terceirização, precisamos situar o momento


histórico em que ela surge no cenário trabalhista e, por consequência, no
ordenamento jurídico.
Primeiramente nos remontamos à Revolução Industrial do século XVIII,
momento em que o trabalho deixou de ser artesanal e passou a ser industrial
desenvolvido em etapas, visando a produtividade e, evidentemente, o lucro,
surgindo o capitalismo.
Desta forma, hoje não podemos falar de trabalho, sem falar em
capitalismo, sendo o primeiro, produto do segundo, na lição de Maurício
Godinho Delgado (2002; p.50):
“O direito do trabalho é produto do capitalismo, atado à
evolução histórica desse sistema, retificando-lhe distorções
econômico-sociais e civilizando a importante relação de poder
que sua dinâmica econômica cria no âmbito da sociedade civil,
em especial no estabelecimento e na empresa”.

Com o passar dos anos, novas formas de tornar o trabalho mais


produtivo, menos oneroso e mais lucrativo foram surgindo, substituindo aquelas
que não mais satisfaziam as expectativas e necessidades do mercado
capitalista.
A mecanização do setor de produção, a divisão em tarefas, os turnos
de revezamentos, entre outros, trouxeram nova roupagem à produção
industrial, acelerando a produção de maneira assustadora, trazendo mais
eficiência e obviamente mais problemas também, com o grande número de
acidentes, enfermidades adquiridas em decorrência das péssimas qualidades
de trabalho, o qual era desenvolvido em locais insalubres, com excessos de
jornadas, ausência de períodos de descanso etc.
Mas no setor de serviços, não havia grandes mudanças, por conta de
suas peculiaridades. A terceirização surge, então, como grande diferencial,
trazendo a possibilidade das empresas concentrarem seus esforços mais em
suas atividades-fim.
O marco histórico do surgimento da terceirização no mundo remonta ao
período da Segunda Guerra Mundial, quando a produção da indústria norte-
americana estava voltada para a fabricação de armas.
A demanda era tão grande que as fábricas não conseguiam abastecer
o mercado, pois além da exigência de maior produção em termos quantitativos,
surgiu a necessidade de aprimoramento dos produtos fabricados, tendo em
conta o objetivo da produção: combater o nazismo, que tinha como aliado o
Japão, já conhecido como forte concorrente na fabricação de armas bélicas,
em especial seus famosos submarinos.
Segundo Rubens Ferreira de Castro2, anteriormente a este período já se
verificava a existência de trabalhos prestados por terceiros, mas que não
podiam ser considerados serviços terceirizados:

2
CASTRO, de Rubens Ferreira. A terceirização no Direito do Trabalho. São Paulo,
Malheiros, 2000, p.75.
Antes da II Guerra Mundial existiam atividades prestadas por
terceiros, porém não poderíamos conceituá-las como
terceirização, pois somente a partir deste marco histórico é que
temos a terceirização interferindo na sociedade e na economia,
autorizando seu estudo pelo Direito Social, valendo lembrar
que mesmo este também sofre grande aprimoramento a partir
de então.

Percebe-se, assim, que a necessidade de produção em grande escala,


com maior perfeição técnica dos produtos bélicos, fez com que as indústrias
concentrassem seus esforços em sua atividade principal, fabricação de
armamentos, e delegasse as atividades secundárias, de suporte, a terceiros,
gerando mudanças profundas na esfera trabalhista.

1.2.1 A Terceirização no Brasil

No Brasil, um dos últimos países a adotar este modelo de prestação de


serviços, a terceirização chega por volta de 1950, com as grandes
multinacionais estrangeiras, em sua maioria do setor automobilístico.
Este instituto foi gradativamente implantado, chegando, atualmente, a
ser responsável por mais de 90% (noventa por cento) das atividades
desenvolvidas por determinadas empresas.
Embora seu marco inicial no Brasil tenha sido nos idos dos anos 50,
como dito acima, a partir dos anos 90, nota-se uma intensificação da utilização
da mão de obra terceirizada, primeiramente no setor bancário, nas atividades
de vigilância.
É comum vermos em uma agência bancária, em qualquer cidade
brasileira, profissionais da área de segurança, que não possuem vínculo
empregatício com a respectiva instituição financeira, desempenhando suas
atividades laborativas.
Disciplinada pela Lei 7.102/833, a atividade de vigilância e transporte
de valores, impõe aos empregadores certas diretrizes a serem seguidas.
Vejamos:

Art. 3º A vigilância ostensiva e o transporte de valores serão


executados: (Redação dada pela Lei nº 9.017, de 1995)
I - por empresa especializada contratada; ou (Redação dada pela Lei
nº 9.017, de 1995)
II - pelo próprio estabelecimento financeiro, desde que organizado e
preparado para tal fim, com pessoal próprio, aprovado em curso de
formação de vigilante autorizado pelo Ministério da Justiça e cujo
sistema de segurança tenha parecer favorável à sua aprovação
emitido pelo Ministério da Justiça. (Redação dada pela Lei nº 9.017,
de 1995)

Naturalmente, como o objetivo principal da terceirização é diminuir os


custos, a utilização de empresas especializadas em segurança, traz menor
custo à instituição financeira, pois esta não precisa se preocupar com a
capacitação de pessoas para a referida atividade, podendo concentrar suas
preocupações com sua atividade principal.
Sendo um modelo que deu certo, logo a terceirização da mão de obra
no cenário pátrio, ganhou espaço, chegando a ser responsável por grande
parte das contratações com carteira assinada nos últimos anos e este número
continua crescendo.
Segundo pesquisa realizada pela empresa de consultoria Gartner
Group4, a terceirização movimentou em 2015 cerca de US$ 4,8 milhões no
território brasileiro.
No entanto, se comparado com países mais desenvolvidos
economicamente, o Brasil está bem abaixo da média. Apenas 10% (dez por
cento) das empresas brasileiras praticam a terceirização, enquanto que na
Europa este número chega aos 50% (cinquenta por cento) e nos Estados
Unidos aos 70% (setenta por cento). Isso mostra a demanda existente e o
quanto o Brasil ainda pode crescer.

3
Dispõe sobre segurança para estabelecimentos financeiros, estabelece normas para constituição e
funcionamento das empresas particulares que exploram serviços de vigilância e de transporte de valores, e
dá outras providências.
4
Gartner é uma empresa de consultoria fundada em 1979, por Gideon Gartner, com sede nos
EUA.
1.3 ASPECTOS RELEVANTES DA TERCEIRIZAÇÃO

Como quase tudo tem dois lados, a Terceirização não é diferente. Na


verdade, é um dos Institutos mais discutidos, que mais tem defensores
entusiasmados, como críticos ferrenhos.
Sem ter a pretensão de tomar partido nestes posicionamentos,
elencamos abaixo os principais prós e contras deste tipo de contratação,
deixando para o leitor escolher o lado que mais lhe convier.
Na economia globalizada dos dias atuais, a capacidade de competir,
trazendo melhores resultados, com menores custos tem sido um dos gigantes
desafios enfrentados tanto por grandes empresários, como por pequenos
empreendedores.
Sem dúvidas, o mercado de trabalho, em especial os essencialmente
capitalistas, como é o brasileiro, a tendência a buscar sempre novas soluções
para estes desafios é crescente.
Desta forma, a Terceirização surge como forma alternativa, podendo
ser enumerados os seguintes principais pontos positivos:

I - Redução de custos em relação aos trabalhadores, uma vez que os encargos


trabalhistas e previdenciários ficarão a cargo da empresa contratada;
II – Aumento na qualidade dos serviços (maior qualificação profissional), tendo
em conta que tais trabalhadores se especializam naquela determinada função,
naquela determinada atividade. Além é claro, de ser interesse da contratada
desenvolver serviço de alta qualidade, pois se o serviço não for bem prestado,
a mesma poderá ser dispensada, perder sua reputação e, com isto, até mesmo
perder contratos futuros;
III – Maior segurança na obrigação contratual, pois a responsabilidade de um
prestador de serviços, pessoa jurídica, é maior do que um empregado da
empresa;
IV – Desnecessidade de seleção de pessoal, evitando desgastes e perda de
tempo, em especial com as atividades-meio;
V – Criação de mais vagas de emprego.
Obviamente, que em determinada atividade os benefícios elencados
serão mais facilmente verificados que em outras.
Até agora somente foi visto os prós da Terceirização, mas como “nem
tudo são flores,” faz-se necessário apresentar os pontos negativos, sendo o rol,
da mesma forma, apenas exemplificativo:

I - A possibilidade de demissões neste setor é maior, ocorrendo uma


rotatividade de empregados. Além, de ocorrer o que se verificou recentemente
com as demissões no setor petrolífero com a crise da Petrobrás, em que os
grandes prejudicados/desempregados foram os de empresas terceirizadas.
Assim, quando a economia esfria a tendência das empresas tomadoras de
serviço, é preservar seu pessoal, consequentemente, os que forem contratados
por empresas terceirizadas acabam perdendo seus empregos;
II – Os salários dos profissionais de prestadoras de serviço são em média 20%
inferiores se comparados aos demais trabalhadores, trazendo uma
diferenciação entre trabalhadores que desempenham as mesmas funções;
III – No segmento terceirizado é onde mais ocorrem acidentes de trabalho e
afastamentos por doenças ocupacionais;
IV – Há uma precarização das condições de trabalho, deixando de lado muitas
conquistas dos trabalhadores ao longo da história humana e do próprio Direito
do Trabalho.
Como pudemos observar, as questões apontadas são relevantes e
devem ser pesadas no caso concreto, não devendo, por outro lado, a
terceirização ser reputada como tábua salvadora da atual situação econômica
em que o país se encontra, tampouco deva ser rejeitada com o fundamento de
que tal atividade esteja beirando a escravidão.

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