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RESUMO
Daniela Maria Cartoni
Faculdades de Valinhos O final do século XX marcou um novo contexto nas relações de
daniela_cartoni@yahoo.com.br trabalho, caracterizado pela adoção de políticas neoliberais, acir-
ramento da concorrência mundial e o agravamento do desempre-
go estrutural potencializado pelo desenvolvimento tecnológico e
Katiusca Lorenzetti novas técnicas de organização do trabalho. Tais fatores agravaram
Universidade Presbiteriana Mackenzie o problema social do desemprego e da heterogeneidade das rela-
ções trabalhistas no Brasil. Nesse contexto, a flexibilização da legis-
katiuscalorenzetti@ig.com.br
lação trabalhista passou a ser defendida como hipótese para ate-
nuar a precarização do mercado de trabalho. Tal acepção parte do
pressuposto de que a debilidade das relações empregatícias deve-
se à rigidez das leis trabalhistas que geraria custos extraordinários
às empresas, tanto na contratação como demissão de funcionários.
Este trabalho demonstra que a flexibilização indiscriminada das
regras laborais apenas potencializa a transferência, aos trabalha-
dores, de uma parte significativa dos riscos inerentes à atividade
empresarial, sem efetivar qualquer função social na redução das
taxas de desemprego ou do trabalho informal.
ABSTRACT
At the end of the 20th century, there was a new context in the la-
bor relationships, characterized by neoliberal politics, the techno-
logical development and new work organization techniques. By
setting those factors, it was worsened both social concerns: struc-
tural unemployment and heterogeneity of the labor relationships.
Therefore, references to labor laws flexibilization hypothesis be-
came defended by authors who believe that precarious labor rela-
tionship is due to the fact that sticky labor laws would generate
extra costs to the enterprises, be in the recruiting, and be in the
employees' dismissal. This article seeks to demonstrate that the
indiscriminate flexibilization of the works rules just transfer to the
laborers the responsibility of an expressive part of the inherent
Anhanguera Educacional S.A. risks of business activity. In this point of view, flexibilization does
Correspondência/Contato not bring any social function in the decrease of unemployment
Alameda Maria Tereza, 2000 rates, as well as of the informal work.
Valinhos, São Paulo
CEP. 13.278-181
rc.ipade@unianhanguera.edu.br Keywords: Labor rights, economical and social development, flexibiliza-
tion and deregulation
Coordenação
Instituto de Pesquisas Aplicadas e
Desenvolvimento Educacional - IPADE
Artigo Original
Recebido em: 22/04/2008
Avaliado em: 04/07/2008
Publicação: 11 de agosto de 2008
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74 A flexibilização no Direito do Trabalho e a globalização
1. INTRODUÇÃO
Para a doutrina liberal, o Estado se afasta por completo, dando margem à li-
berdade. A justificativa encontra-se na eficácia e competitividade do processo econô-
mico para preservação do lucro, próprio do regime capitalista. Aqui, o mercado encar-
rega-se de regular as relações entre empregado e empregador, mediante a abolição de
qualquer lei protecionista, por meio da desregulamentação.
devendo o Estado, apenas guiar a sociedade por um modelo de direito que se coloca
entre a direção central e sua auto-regulação pelo mercado.
Não se pode ignorar que a discussão traz em seu bojo particularidades. En-
quanto apóia-se a flexibilização das normas protetoras em função da negociação entre
as partes sobre as regras do contrato de trabalho, para o aprofundamento do debate
considera-se que não pode ser desconsiderada a finalidade do Direito de Trabalho, que
nas palavras de Martins (1998, p. 46):
[...] é assegurar melhores condições de trabalho, porém, não somente estas situa-
ções, mas também condições sociais ao trabalhador. Assim, o Direito do Trabalho
tem por fundamento melhorar as condições de trabalho dos obreiros e também
suas situações sociais, assegurando que o trabalhador possa prestar seus serviços
em um ambiente salubre, por meio de seu salário, ter um uma vida digna para
desempenhar assim seu papel na sociedade.
Art 7o, XII: “duração do trabalho normal não superior a oito horas diárias e
quarenta e quatro semanais, facultada a compensação de horários e a redução da jor-
nada, mediante acordo ou convenção coletiva de trabalho”;
Art 7o, XIV: “jornada de seis horas para o trabalho realizado em turnos initer-
ruptos de revezamento, salvo negociação coletiva”.
1 Note-se que diferenciamos “flexibilização do trabalho” e “flexibilização do direito do trabalho”. Consideramos que o
“trabalho flexível” é aquele que se apresenta sob a forma a flexibilidade de horário, local (trabalho remoto) ou a com-
binação dos dois (teletrabalho ou telecomunicação), proporcionado pelas novas tecnologias de informação e comunica-
ção. Para mais, ver Nassif (2003).
Dessa forma, as relações entre capital e trabalho estão longe de atingir o equi-
líbrio e tendem a reproduzir, com maior gravidade, a desigualdade e a injustiça sociais
no mundo do trabalho.
4. LIMITES À FLEXIBILIZAÇÃO
[...] cabe ao Direito do Trabalho conciliar o valor da igualdade com a nova expan-
são do valor da autorealização e autodeterminação, tendo em vista a tendência a
uma desarticulação da unidade de tratamento, sem prejuízo da existência de
compensações jurídicas e materiais por parte do Estado Social.
derrogar toda legislação trabalhista, ou seja, ao invés de uma flexibilização, uma des-
regulamentação completa.
Cabe observar se esse diálogo não será igual para os atores sociais, pois o di-
reito não é neutro; valoriza um ou outro discurso predominante. Daí a razão de o Esta-
do não poder se ausentar, pois, dada a pluralidade de discursos, deve garantir que o
diálogo não se torne um monólogo, no qual o vencedor já estará determinado.
7. GLOBALIZAÇÃO E EXCLUSÃO
Neste contexto, podemos afirmar que a liberdade sindical tem como pressu-
posto o reconhecimento da existência do conflito nas relações de trabalho, e como uma
de suas conseqüências mais virtuosas, o diálogo e a possibilidade de convergência en-
tre os atores sociais.
cia limitadora da autonomia do grupo por parte do Estado e dos empregadores, com
garantia do efetivo exercício da ação coletiva, transforma-se no centro de gravidade
mais evoluído do direito do trabalho, funcionando como ponto de partida da negocia-
ção coletiva – entendida em seu sentido mais moderno - e por conseguinte, de todo o
sistema de relações de trabalho.
9. CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
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