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Resenha do poema A máquina do mundo, de Carlos Drummond de Andrade

ANDRADE, Carlos Drummond. Publicado originalmente no livro Claro Enigma, após


foi incluído em Nova Reunião. Rio de Janeiro, José Olympio Editora. 1985, pág. 300.

Gabriela Luisa Mocelin dos Santos

Este texto propõe realizar uma análise do poema A máquina do mundo, do


poeta Carlos Drummond de Andrade. A análise será realizada do ponto de vista do
eu-lírico e sua busca incessante pelo seu autoconhecimento, seguindo como
embasamento teórico a autora Thereza da C. A. Domingues, em seu artigo intitulado:
O palimpsesto drummondiano.
O poema a ser analisado insere-se na obra Claro Enigma, de Drummond, onde
o próprio título do livro é um oxímoro, ou seja, Drummond utiliza de uma figura de
linguagem colocando duas palavras com significados opostos lado a lado, pois
quando refletimos sobre a palavra claro vem em nossa imaginação algo cercado por
luz, algo de fácil entendimento, já quando pensamos sobre a palavra enigma
imaginamos algo de difícil compreensão. Podemos colocar que a escolha de
Drummond por um título ambíguo em seu significado, condiz muito com o momento
no qual o autor estava vivenciando, uma era Moderna, tanto na sua poesia, quanto no
contexto histórico-social.
Como pode-se perceber, a composição do poema é realizada da seguinte
forma: por noventa e seis versos decassílabos, divididos em trinta e duas estrofes de
três versos, ou tercetos. Tendo como tema uma máquina do mundo, o poeta traz
referências e intertextualidades de outras obras aclamadas que continham a mesma
temática, esse fato desencadeia várias pesquisas no ramo literário com a perspectiva
de comparação entre a obra de Drummond e as obras de Camões e Dante. Ao nos
depararmos com a crítica intertextual, pode-se dizer que o poeta Drummond não
escreveu com o mesmo significado e sentido que os outros escritores sobre a máquina
do mundo,a autora Domingues aponta: “É a visão do homem moderno para a máquina
que, na verdade não tem mais segredos para ele” (DOMINGUES, 2010, p. 7).
Partiremos agora para uma análise do poema, tendo em vista, uma perspectiva
na qual o eu-lírico busca sua identidade e compreensão do seu próprio eu. Logo no
início do poema, o eu-lírico está caminhando vagarosamente pela estrada, e os sons
das aves, dos sinos e de seu próprio sapato começou a diluir-se, pois algo estava se
aproximando através dos montes e de seu próprio ser desenganado, nós podemos
perceber que o eu-lírico estava caminhando numa direção sem saber onde iria chegar,
estava atento as particularidades da natureza e os sons do nosso dia-a-dia, em que
muitas vezes o homem moderno com seus vários afazeres não presta atenção, até o
fato de algo estar se aproximando, mas essa aproximação ocorre de duas maneiras:
a primeira vinda da natureza, e a segunda vinda de seu próprio ser, próprio eu
desiludido, ou seja, o eu-lírico está esperando algo do fundo de seu ser, está em uma
busca inconsciente de si mesmo.
Mas então a máquina do mundo apresenta-se para o eu-lírico, grande e
majestosa, para um ser que antes já a recusou (aqui notamos que Drummond
apresenta a máquina do mundo, e não deixa ela como um enigma feita em outras
obras literárias), mostrando como também convidando o eu-lírico a fazer uma busca
por coisa não compreendidas por outros seres humanos, através da grandiosidade e
misticidade que a máquina do mundo representa. Pode-se perceber aqui, que ao
deparar-se com essa calma pura, e clara visão de toda uma ciência e humanidade, o
eu-lírico sentiu-se agradecido, pois, era a oportunidade que ele tinha de se auto
conhecer, como também conhecer os demais humanos habitantes desta terra.
Em contrapartida, o eu-lírico, não aceita a proposta da máquina do mundo,
apesar de querer, o eu-lírico coloca que os outros seres que também vivem nele,
relutam a não querer conhecer mais sobre essa máquina do mundo, e então a
máquina do mundo fecha-se e vai embora, tornando a estrada de Minas novamente
pedregosa, e o eu-lírico segue seu com seu caminho, de mãos vazias. Aqui é
observável que ao ser apresentado gratuitamente tudo aquilo que ele queria
compreender em toda uma vida, uma compreensão de si próprio e do outro, continua
importante, mas ele já está tão cansado de pensar e tão desiludido, que as outras
vozes de seu inconsciente influenciam o eu-lírico a recusar o convite da máquina do
mundo, a autora Domingues comenta: “É como se o poeta dissesse: “prefiro minha
dor e meu não saber a um Saber que eliminaria minha dor e minha própria realidade
– nada de Epifania” (DOMINGUES, 2010, 10).
Afim, de uma conclusão, e um reflexão final, podemos citar as duas teorias que
a autora Domingues utilizou em seu artigo, que seria do Jung self pessoal e do autor
Carlos Byington que propôs o self cultural, nessas duas teorias podemos colocar em
nossa análise que a busca por si mesmo do eu-lírico, ou seja o self pessoal, estava
tão cansado de sua caminhada (no sentido metafórico da palavra), que não queria
passar novamente por indagações, sendo assim, recusou o convite da máquina do
mundo, porém, o instinto de conhecer melhor o outro, as ciências que envolvem toda
a humanidade queria aceitar o convite, mas, não foi forte o suficiente para conseguir.
Cabe aqui, uma reflexão final da autora Domingues:

O eu-lírico quer assumir a dor, a dúvida, a desvalia, como qualquer ser


humano, aos
quais conclamou a andarem de “mãos dadas” (ver acima). Seus primeiros
versos, onde se afirmava “gauche”, solitário, não foram achados literários,
foram, sim, o programa poético desse Carlos Drummond de Andrade que
sempre cantou, ora com ternura, ora com humor, a fragilidade da condição
humana, mas dela fez matéria de poesia. Podemos ouvir, atravessando toda
a sua obra, o olhar atento à humanidade do homem. (DOMINGUES, 2010, p.
11).

Referência bibliográfica:

ANDRADE, Carlos Drummond. Publicado originalmente no livro Claro Enigma, após


foi incluído em Nova Reunião. Rio de Janeiro, José Olympio Editora. 1985, pág. 300.

DOMINGUES, Thereza da C. A. O palimpsesto drummondiano. Juiz de fora:


Universidade Federal de Juiz de Fora, 2010. Disponível em:
http://www.ufjf.br/darandina/files/2010/01/Thereza-da-C.-A.-Domingues.pdf.
Acessado em: 02 de outubro de 2019.

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