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Realismo Fenomenalismo

Uma distinção epistemológica fundamental, que aparece frequentemente em


controvérsias científicas, é aquela entre “realismo” e “fenomenalismo”.

Realismo defende que a ciência pode fazer afirmações sobre entidades ou leis
inobserváveis.

Fenomenalismo defende que a ciência só deve se ater ao que é observável ou


mensurável.

Esta discussão é às vezes chamada da questão do estatuto cognitivo das teorias


científicas.

o significado do termo “realismo” é lembrar que se trata de um “realismo de


inobserváveis”: a tese de que a ciência pode se referir a coisas que se considera que
nunca serão observadas.

Vários nomes são associados à negação do realismo, como “instrumentalismo” e


“positivismo”. Aos poucos iremos definindo melhor esses conceitos, e esclarecendo
porque usamos o termo “fenomenalismo” como sinônimo de antirrealismo (englobando
assim os outros termos como casos particulares).

O realismo filosófico

É uma corrente da filosofia que enfatiza a completa independência ontológica da


realidade em relação a nossos esquemas conceptuais, crenças e pontos de vista. Os
adeptos do realismo filosófico tipicamente (mas não necessariamente) defendem que a
verdade é uma questão de correspondência entre as nossas crenças e a realidade. O
realismo filosófico pode ser adoptado em relação a sectores específicos da realidade,
como, por exemplo, à existência de outras mentes, à existência do passado ou do futuro,
dos universais, das entidades matemáticas (tais como os números naturais), das
categorias morais, dos objectos macroscópicos da experiência quotidiana ou das
entidades teóricas das ciências (como os quarks e os buracos negros).

Sustenta o princípio da transcendência do objecto em relação ao sujeito para afirmar,


deste modo, a total e completa independência entre a realidade e a consciência. Trata-se,
pois, de uma atitude epistemológica segundo a qual há coisas reais, independentes da
consciência.

O realismo subdivide-se em duas modalidades: realismo crítico e ingénuo, constituindo,


este último, a atitude específica do senso comum enquanto a primeira forma resulta de
uma atitude que assenta em considerações de natureza crítica do conhecimento.

Tradicionalmente, a posição realista em epistemologia opõe-se à posição idealista – isto


é, à doutrina de que os objectos físicos e os eventos do mundo exterior são de alguma
forma construções do espírito humano. Contemporaneamente, o realismo se opõe ao
anti-realismo, especialmente na filosofia da ciência.

O Realismo

É a tese de que uma teoria bem confirmada deve ser considerada literalmente
verdadeira ou falsa, no mesmo sentido em que um enunciado particular é considerado
verdadeiro ou falso.

Assim, as entidades postuladas pela teoria teriam realidade, no mesmo sentido em que
objetos cotidianos são reais, mesmo que elas não sejam observáveis como quarks cordas
ou partículas virtuais, as leis teóricas e princípios gerais seriam verdadeiros ou falsos,
exprimindo a estrutura da realidade.

Porém, como as teorias científicas geralmente envolvem aproximações ou


simplificações, deve-se entender a verdade através da noção de verdade aproximada ou
do conceito de verossemelhança.

Realismo de entidade

Enfatiza a realidade de entidades inobserváveis que podem ser fundamentadas na


prática experimental, ou seja, é possível construir instrumentos que detectam
directamente ou indirectamente a presença da entidade. Isso apenas implica que que
certas entidades postuladas por teorias científicas realmente existem.

Realismo estrutural

É a visão de que devemos ser realistas, não em conexão com as descrições das
naturezas de objetos como entidades e processos inobserváveis) encontrados em
nossas melhores teorias, mas sim no que diz respeito à sua estrutura. Ainda não
convergiram sobre o que seria

Pensamentos contra o Realismo

Qualquer posição que desacorde com o realismo é considerada antirrealista. Para isso,
basta opor-se a um dos compromissos realistas (metafísico, semântico,
epistemológico). Tradicionalmente, o instrumentalismo acredita que as entidades
inobserváveis não existem e só podem ser utilizadas como ferramentas.

O idealismo ao contrário do realismo científico, acredita que o mundo é dependente


de nossas mentes, ou seja, a realidade é essencialmente mental. A maioria das teorias
científicas que são ditas falsas, como a mecânica newtoniana ainda seguem o
pensamento realista, isso porque para baixas velocidades ou para corpos
macroscópicos as leis de Newton ainda são válidas, então nesse caso a teoria é
aproximadamente verdade, e isso é tolerado pelos realistas. Antes do século 19,
acreditava-se que a luz era uma partícula sólida, porém no começo do mesmo século,
constatou-se que a luz tinha propriedades de ondas, como a polarização e a
interferência. Na época, as ondas precisavam de um meio para se propagar, no caso da
radiação electromagnética propuseram que esse meio era o éter. Esta teoria foi
refutada pois descobriram que as ondas eletromagnéticas são explicadas em termos
de um campo eletromagnético oscilante, e esses campos podem existir no vácuo.
Nesse caso, os realistas não podem afirmar que a teoria era aproximadamente
verdade ou não era bem-sucedida. Eles afirmam que o que Augustin Fresnel chamou
de éter, Albert Einstein chamou de campos eletromagnéticos, se Einstein tivesse
referindo-se a eles como éter, nós provavelmente acharíamos que o éter realmente
existe, e a teoria do éter seria aproximadamente verdadeira.

Tipos de Realismo

Existem dois (2) tipos de realismo:

 O Realismo Ingénuo: corresponde à atitude natural do espírito humano que


é a de aceitar como existente aquilo que o rodeia e de aceitar que conhece tal
como é.
 O Realismo Crítico: é já uma posição filosófica que pressupõe a dúvida em
relação ao que conhecemos e admite a possibilidade de a realidade não ser
tal e qual como nos aparece em virtude de elementos do sujeito que
interferem no conhecimento.

“ O conhecimento não é uma cópia do real, um mero registo passivo, mas uma
interpretação, uma construção.” Ao sustentara tese de que o objecto existe
independentemente do sujeito, o realismo crítico usa, de acordo com J. Hessen, três
argumentos para a provar:

 A percepção é comum a vários indivíduos, o que só é possível se existirem


os objectos;
 As percepções não dependem da nossa vontade, mas sim dos objectos;
 Os objectos da nossa percepção são diferentes da percepção propriamente
dita, continuando a existir mesmo que os não estejamos a percepcionar.

O Fenomenalismo

É a tese de que uma teoria científica refere-se apenas àquilo que é observável, ou seja,
ao fenômeno. Em oposição ao “númeno” ou “coisa-em-si”, que estaria para além do
alcance da razão pura (como colocava o filósofo Immanuel Kant).

Em outras palavras, para o fenomenalismo não faz sentido afirmar que um termo não-
observacional (como quark, etc.) corresponda a uma entidade real.
«O fenomenalismo (de phaenomenon= fenómeno, aparência) é a teoria segundo a qual
não conhecemos as coisas como são em si, mas como se nos apresentam. Para o
fenomenalismo, há coisas reais mas não podemos conhecer a sua essência. Só podemos
saber «que» as coisas são, mas não «o que» são. O fenomenalismo coincide com o
realismo quando admite coisas reais; mas coincide com o idealismo quando limita o
conhecimento à consciência, ao mundo da aparência, do que resulta imediatamente a
impossibilidade de conhecer as coisas em si».

A definição de fenomenalismo dada acima viola o princípio da não contradição, não se


pode ser realista e idealista em simultâneo no mesmo aspecto: para Hessen, no
fenomenalismo, a matéria é real, as coisas são reais (isto é exterior à mente; realismo) e
o conhecimento é limitado à consciência (e isto, diz ele, é idealismo). Mas esta última
posição não é idealismo, ao contrário do que afirma Hessen. É realismo crítico, porque a
matéria está lá, existe de facto, embora oculta por um «vidro fosco».

E quanto a Kant, este nunca afirmou que a matéria é real, ao contrário do que pensava
Hessen e do que pensam os catedráticos de filosofia actuais. Kant escreveu:

«Devíamo-nos, contudo, lembrar de que os corpos não são objectos em si, que nos
estejam presentes, mas uma simples manifestação fenoménica, sabe-se lá de que objecto
desconhecido; de que o movimento não é efeito de uma causa desconhecida, mas
unicamente a manifestação fenoménica da sua influência sobre os nossos sentidos; de
que, por consequência, estas duas coisas não são algo fora de nós, mas apenas
representações em nós; de que, portanto, não é o movimento da matéria que produz em
nós representações, mas que ele próprio (e portanto também a matéria que se torna,
assim, cognoscível) é mera representação.»

A Hessen passou despercebido o carácter idealista da doutrina de Kant quando


escreveu:

«Desta maneira, não temos já perante nós a coisa em si, mas a coisa como se nos
apresenta, ou seja o fenómeno.»

«Isto é, em breves palavras, a teoria do fenomenalismo, na forma como foi desenvolvida


por Kant. O seu conteúdo essencial pode resumir-se a três proposições:

1. A coisa em si é incognoscível.

2. O nosso conhecimento permanece limitado ao mundo fenoménico.

3. Este surge na nossa consciência porque ordenamos e elaboramos o material sensível


em relação às formas a priori da intuição e do entendimento.»

Neste texto acima, não há nem uma palavra sobre a natureza da matéria física, se é real
ou irreal, que é aquilo que distingue realismo de idealismo.
Fenomenalismo não é uma posição ontológica, como realismo e idealismo. É uma
posição gnosiológica. Não é, portanto, um intermédio de realismo e idealismo mas uma
corrente ou qualidade colateral adicionável a qualquer uma delas. Em termos
metafóricos: se idealismo e realismo produzem juízos sobre a existência da cadeira «que
está ali», fenomenalismo é a cortina que oculta ou desvela a cadeira. Há o ser (realismo,
idealismo) e o ver (fenomenalismo/ naturalismo). Há um fenomenalismo realista - o
realismo crítico de Descartes, por exemplo, a matéria é exterior mas não tem peso, nem
cor, nem grau de dureza, nem cheiro. E um fenomenalismo idealista - o idealismo
transcendental de Kant, a matéria é ilusão dentro da sensibilidade, os númenos não são
matéria. Há ainda um fenomenalismo céptico - a fenomenologia de Heidegger que,
apesar de formular os conceitos de ser e ser-aí e de mundo, não se decide sobre a
realidade da matéria.

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