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Domingas Juma

Edilson Rodolfo Popinsky

Fatima Namatira Momade

Fernanda Antonio Anibal

Ivan Benjamim Miguel

Liliana Daniel Amisse

Racho Pinto Machirica

Transformismo e Neolamarckismo.
Licenciatura em Psicologia

Universidade Rovuma

Nampula

2019
Domingas Juma

Edilson Rodolfo Popinsky

Fatima Namatira Momade

Fernanda Antonio Anibal

Ivan Benjamim Miguel

Liliana Daniel Amisse

Racho Pinto Machirica

Transformismo e Neolamarckismo

Licenciatura em Psicologia

1o Ano

Trabalho de Pesquisa realizado no âmbito da


cadeira de Psicofisiologia, a ser entregue no
Departamento de Ciências de Educação e
Psicologia. Leccionado pelo MSc. António
Suleman, de carácter avaliativo.

Universidade Rovuma

Nampula

2019
Índice

1. Introdução ......................................................................................................................................... 3

1.1. Metodologia do Trabalho ........................................................................................................... 3

2. Transformismo e Neolamarckismo ................................................................................................... 4

2.1. Transformismo ........................................................................................................................... 4

2.1.1. A Construção da Teoria Transformista de Lamarck ........................................................... 4

2.1.2. A Zoologia Transformista ................................................................................................... 6

2.2. Neo-lamarckismo ....................................................................................................................... 7

2.2.1. O Neolamarckismo de Cope, Packard e Hyatt .................................................................... 8

2.2.2. O Adaptacionismo no Neolamarckismo de Cope................................................................ 9

Considerações Finais .......................................................................................................................... 11

Referências Bibliográficas .................................................................................................................. 12


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1. Introdução

O presente trabalho da cadeira de Psicofisiologia tem como tema o Transformismo e


Neolamarkismo. Muitas vezes esses termos são utilizados de uma forma ampla e bastante vaga,
sendo aplicados para caracterizar teorias completamente diferentes. Portanto, o Transformismo é
uma teoria científica por excelência, elaborada para explicar os factos adquiridos pela observação e
pela experiência, a teoria transformista dirige a investigação, ao mesmo tempo que se modifica em
consequência dos próprios progressos que determina. Sob os seus aspectos sucessivos conserva,
imutável, a sua tese essencial: o mundo vivo resulta de transformações múltiplas e diversas, que se
efectuam em direcções variadas. A diversidade é um facto de observação corrente; a variabilidade
não dá motivo a discussões; diversidade e variabilidade encadeiam-se pela transformação: a hipótese
apresenta-se por si mesma.

Relativamente ao Lamarckismo, Peter Bowler considera esta abarca um grupo de teorias que tinha
em comum a aceitação de que as variações, modificações ou características adquiridas durante a vida
do indivíduo devido ao uso e desuso ou outro estimulo funcional de órgãos e partes, podiam ser
transmitidas a seus descendentes (BOWLER, 1983, p. 58)

O objectivo deste trabalho é discutir o chamado transformismo e neo-lamarckismo de um modo


geral, descrevendo mais particularmente as ideias evolutivas de vários teóricos.

1.1. Metodologia do Trabalho

No que concerne a estrutura do trabalho em consonância com os propósitos metodológicos, o


trabalho encontra-se estruturado da seguinte maneira: Introdução, metodologia, desenvolvimento do
tema proposto, considerações finais e por fim as referências bibliográficas. Para a concretização do
mesmo, só foi possível graças há alguns manuais que retratam sobre o tema proposto, e também o
uso da biblioteca virtual (internet).
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2. Transformismo e Neolamarckismo

2.1. Transformismo

A palavra transformismo não era usado por Lamarck, nem a palavra evolução. O termo evolução, no
sentido de transformação das espécies biológicas ao longo do tempo, foi usado pela primeira vez por
Julien-Joseph Virey, em 1816, no verbete Animal da segunda edição do Nouveau dictionnaire
d'histoire naturelle. Ao fenómeno geral das transformações sofridas pelas espécies biológicas.

2.1.1. A Construção da Teoria Transformista de Lamarck

Jean Baptiste Antoine de Monet de Lamarck (1744-1829) desenvolveu a sua teoria transformista em
diversas obras ao longo do tempo, entre as quais: Recherches sur l’organisation des corps vivants
(1800); Philosophie zoologique (1809); Histoire naturelle des animaux sans vertèbres (1815), além
de palestras e discursos, tais como: Discours d’overture: An VIII (1800), An IX (1801), An X (1802)
e An XI (1803) (MARTINS, 1997). A sua teoria foi desenvolvida numa das épocas mais
revolucionárias da história da humanidade, tanto em termos políticos quanto intelectuais: a época da
Revolução Francesa. Esse contexto muito provavelmente contribuiu para a ousadia de suas
conjecturas.

Embora o objectivo central de Lamarck não fosse a evolução orgânica e nem tampouco a origem das
espécies, a sua teoria é considerada, pelos historiadores da Biologia, como a primeira explicação
sistemática da evolução dos seres vivos. Ele pode ser considerado o fundador do transformismo. O
seu objectivo teórico principal era a compatibilização entre a sua crença deísta e a extinção dos seres
vivos, constatada pela paleontologia. Embora existam controvérsias a respeito das suas teorias
centrais, para resolver o dilema teórico-teológico, Lamarck erigiu, o que pode ser considerado como
o “núcleo firme” do seu programa, formado por duas teorias sobre o mecanismo da transformação
dos seres vivos: a organização progressivamente complexa dos seres vivos e a sua capacidade de
reacção às mudanças ambientais. (ALMEIDA, 2007, pp. 649-665,).

A primeira premissa teórica proposta por Lamarck pressupunha um potencial inato da vida, uma lei
da natureza, que dispensava maiores explicações. A segunda era necessária para explicar todos os
tipos de adaptações dos seres vivos no transcurso do tempo. Portanto, o ambiente produzia
necessidades e actividades no organismo, e estas, por sua vez, operavam variações adaptativas.
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A crença na possibilidade e necessidade de “transformação” dos seres vivos já era compartilhada por
alguns naturalistas, como Buffon, por exemplo. Entretanto, Lamarck desenvolveu a noção de que os
seres vivos não se extinguiram, pois tal extinção não seria compatível com o poder e a bondade do
Criador, mas se transformavam.

Segundo MAYR (1998), Lamarck incorporou, como “leis”, as noções de que os órgãos ou partes do
organismo eram modificados pelo uso e desuso, e de que estas modificações poderiam ser herdadas
desde que fossem comuns a ambos os sexos. Vale salientar que tais teorias eram compartilhadas pela
comunidade dos naturalistas da época. Pela primeira vez, a Biologia foi designada e constituída
como uma nova ciência na sua obra Recherches sur l’organisation des corps vivants.

Lamarck baseou a sua teoria em duas suposições: 1) Lei do uso e desuso – de acordo com tal lei,
quanto mais uma parte ou órgão do corpo é usado, mais se desenvolve, e, contrariamente, as partes
não usadas se enfraquecem, atrofiam-se, chegando a desaparecerem; 2) Lei da herança dos
caracteres adquiridos - segundo Lamarck, qualquer animal poderia transmitir, aos seus descendentes,
atrofias físicas decorrentes do desuso ou hipertrofias decorrentes de uso; portanto, ele acreditaria,
conforme apresentado em tais livros didácticos, que as novas espécies apareciam por evolução
devido à perda ou aquisição de caracteres.

Segundo MARTINS (1998), a ideia da “progressão” das espécies começou a aparecer nas diferentes
obras de Lamarck, a partir de 1800. De acordo com essa ideia, para que ocorresse a variação das
espécies, haveria a necessidade de mudanças nas circunstâncias a que os animais estavam expostos
durante um período de tempo considerável. Todo esse processo seria regido pelas quatro leis: 1) A
tendência para o aumento da complexidade: A vida, pelas suas próprias forças, tende continuamente
a aumentar o volume de todo o corpo que a possui, e a estender as dimensões de suas partes, até um
limite que lhe é próprio. Esta lei indica que existe um aumento progressivo da complexidade e
aperfeiçoamento. Lamarck acreditava na existência de um poder inerente à vida, dotado de uma
tendência para o aumento da complexidade. Ele procurou fundamentar esta lei com dois tipos de
fatos: um observável e outro não. O fato observável era uma comparação feita entre o estado de um
animal em sua origem com o que se encontrava no fim da sua vida, e o não observável, era uma
relação existente entre o aumento da complexidade na escala animal, dos invertebrados mais simples
ao homem, e o aumento das faculdades dos corpos vivos na evolução histórica das espécies; 2) O
surgimento de órgãos em função de necessidades que se fazem sentir e que se mantêm: a produção
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de um novo órgão em um corpo animal resulta de uma nova necessidade que surgiu e que continua a
se fazer sentir e de um novo movimento que essa necessidade faz nascer e mantém. 3) O
desenvolvimento ou atrofia de órgãos como função do seu emprego: o desenvolvimento dos órgãos e
sua força de acção estão em relação directa com o emprego desses órgãos. Esta seria a famosa “lei
do uso e desuso”, que teve a sua formulação mais completa no seu Discours d´ouverture de 1806.
Para exemplificar esta lei, entre outros exemplos, Lamarck citou o famoso exemplo do alongamento
do pescoço das girafas, dando origem à má interpretação e descrições equivocadas da sua teoria; 4)
A herança do adquirido: Tudo o que foi adquirido, traçado ou mudado na organização dos
indivíduos, no decorrer de sua vida, é conservado pela geração e transmitido aos novos indivíduos
que provêm daqueles que experimentaram essas mudanças. Desde que essas mudanças adquiridas
sejam comuns aos dois sexos, ou àqueles que produziram esses novos indivíduos.

2.1.2. A Zoologia Transformista

A concepção do processo evolutivo, segundo Lamarck, combina vários elementos comuns ao


pensamento do século XVII sobre a origem e o desenvolvimento da vida. Encontra-se em sua
formulação teórica a crença, normalmente tida como materialista, de que a vida pode gerar-se
espontaneamente de matéria não viva. No caso de Lamarck é uma crença menos radical que em
outros, pois esta possibilidade estaria restrita aos animais e plantas mais simples.

Há também a ideia de uma escala de organização progressiva entre os seres vivos, que se relaciona à
cadeia do ser em uma versão temporalizada e não estritamente linear.

A pergunta sobre qual era a concepção de Lamarck sobre o processo de transformação das espécies
não se pode dar uma só resposta, uma vez que o autor descreve dois processos paralelos em seus
trabalhos teóricos. O primeiro deles, ligado à geração espontânea, desenrola-se como um processo
auto-organizador em que a circulação de fluidos energéticos por determinados tipos de matéria faria
com que uma sequencia de estruturas crescentemente complexas se sobrepusessem, originando seres
vivos cada vez mais sensíveis e activos em relação ao meio. Este processo resultaria em uma escala
de seres perfeitamente ordenada e contínua, seguindo do mais simples até o mais complexo. O
segundo processo seria circunstancial e se daria através de adaptações de cada tipo de organismo às
cambiantes condições do meio (BURKHARDT, 1977).

Entretanto, cada uma dessas adaptações representaria um pequeno desvio em relação ao plano da
natureza e, ao acumular-se desfiguraria a linearidade e continuidade da escala dos seres. Embora
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fosse circunstancial, este segundo processo seria absolutamente necessário à preservação dos seres
vivos.

A adesão de Lamarck a este modo de pensar evidencia-se no facto de que ele não se refere de modo
presumível ao primeiro processo, mantendo-o como uma tendência real e constante de ordenação do
processo evolutivo:

O estado em que nós agora vemos todos os animais é, por um lado, o produto
da crescente composição de organização, a qual tende a formar uma gradação
regular, e, por outro lado, produto das influências de uma grande quantidade
de circunstâncias muito diversas que tendem continuamente a destruir a
regularidade da crescente composição de organização (LAMARCK, 1809, P.
221).

Quando Lamarck escrevia sobre a origem da diversidade biológica e sobre a verdadeira ordem
natural de classificação das espécies, seus objectivos eram amplos e não podiam excluir, por uma
questão de princípios filosóficos, a asserção dos pontos mais difíceis e menos observáveis, dos quais
o mais importante era a origem da vida.

2.2. Neo-lamarckismo

O termo ‟neo-lamarckismo”, ao que tudo indica, foi marcado por Alpheus Packard em 1885, sendo
mencionado na introdução de sua obra Standard natural history. Para Packard, o termo
corresponderia a uma forma do Lamarckismo e designava uma série de factores da evolução
orgânica. Esses factores envolveriam tanto a acção directa como acção indirecta do meio, a
necessidade e mudança de hábitos resultando na atrofia ou desenvolvimento dos órgãos através do
uso e desuso e a transmissão hereditária dos caracteres adquiridos durante a vida do indivíduo
(PACKARD, 1894, pp. 367-368).

Bowler e E. Mayr concordam que o neo-lamarckismo (final do século XIX) é constituído por um
grupo de teorias bastante heterogéneas que tinha em comum a aceitação da herança de caracteres
adquiridos, podendo também admitir alguns aspectos da teoria original proposta por Lamarck. Alem
disso, Mayr considera esse movimento como uma oposição ao Darwinismo.

Segundo Mayr e Bowler, apontam Edward Drinker Cope como uma figura representativa deste
movimento. Mayr assim expressou:

‟[...] Entretanto, o neo-Lamarckismo partilhava dois conceitos importantes


com Lamarck: a evolução é ‟vertical”, consistindo em uma melhoria da
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adaptação (negligenciando ou desconsiderando a origem da diversidade), e


segundo, que os caracteres adquiridos de um indivíduo podem ser herdados
(soft inheritance). O neo-Lamarckismo, pode assim ser considerado mais
uma teoria de herança do que uma teoria de evolução (MAYR, 1982, p.
526)”.
2.2.1. O Neolamarckismo de Cope, Packard e Hyatt

Entretanto, como um homem voltado para a ciência de seu século, Cope teria dificuldades em
sustentar tal explicação sobrenatural, o cumprimento de um plano do “criador” e, em pouco tempo
começou a procurar alternativas mais naturalizadas para explicar o processo evolutivo. A partir de
então, passou a defender outra ideia utilizada por Lamarck, a da herança de caracteres adquiridos por
meio do uso ou desuso de estruturas orgânicas, mas com algumas diferenças. Esse seria o
mecanismo evolutivo que, inclusive, poderia se integrar à explicação da adição de estágios ao
desenvolvimento embriológico. Cope se colocou como o formulador do modus operandi da lei que
ele “caracterizava” como uso e desuso (law of use and effort), e que se tornaria uma das bases da
teoria do neolamarckismo (COPE, 1871a, p.246-247, 262, 1884, p.971, 1887, p.423).

Apesar de a teoria neolamarckista já estar sendo delineada antes mesmo de 1884, seria no ano
seguinte que o termo seria utilizado por ALPHEUS PACKARD (1839-1905), naturalista
estadunidense que afirmou que, em seu país:

Diversos naturalistas têm defendido o que deve ser chamado de visões


neolamarckistas da evolução, especialmente a concepção de que em alguns
casos uma rápida evolução deve ocorrer. O presente escritor [Packard],
contrário aos puros darwinianos, acredita que muitas espécies, especialmente
categorias de géneros e famílias, têm sido produzidas por mudanças no
ambiente, actuando frequentemente com mais ou menos rapidez sobre o
organismo, resultando por vezes, em um novo género, ou mesmo em uma
categoria de família. A selecção natural, actuando por meio de milhares, e às
vezes milhões, de gerações de animais e plantas, frequentemente opera muito
lentamente (PACKARD, 1885, p.LIII-LIV).
Packard não se queixava apenas de a selecção natural não poder explicar um processo evolutivo
mais célere, o qual ele defendia ocorrer frequentemente de acordo com a análise do registo
fossilífero. Queixava-se também da ausência de explicação na teoria darwiniana, da forma do
surgimento dos novos traços, ou seja, a variação.

A selecção natural tinha como resultado a “sobrevivência do mais apto”, mas restava saber “de que
maneira”, como Cope perguntaria mais tarde, “o mais apto era originado” (COPE, 1887;
PACKARD, 1901, p.383). Na busca dessa resposta, Packard defendia que factores ambientais físico-
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químicos, tais como luz, calor etc., eram determinantes com relação às circunstâncias externas com
as quais os organismos têm de lidar em sua luta pela sobrevivência. E desse modo eles também
deveriam influenciar intensamente a produção de variações das formas com as quais a selecção
natural podia operar. Essa era uma ideia que Packard atribuía directamente a Lamarck, e,
diferentemente de Cope, ele afirmava ter lido o naturalista francês (PACKARD, 1901, p.385;
COCKERELL, 1920, p.183).

Entretanto, essa ideia ainda carecia de uma explicação do processo interno aos organismos de como
as circunstâncias externas produziam variações em suas formas.

Cope lançou mão das ideias de uso e desuso e de herança de caracteres, inclusive para explicar como
as variações poderiam ser originadas. Na defesa dessas ideias ele formulou leis e propôs diversos
mecanismos e processos evolutivos que sempre envolviam a noção de que a adaptação ao entorno e
a busca de aptidão para o enfrentamento da luta pela sobrevivência deveriam gerar as variações, as
quais se fixavam nas espécies por meio da herança de caracteres adquiridos.

As condições físicas do ambiente, o impulso animal, a acção motora e outros factores, algumas vezes
combinados entre si, induziam de maneiras diferentes uma força geradora de variações que ele
chamou de “força do desenvolvimento” (growth force).

Essas ideias de Cope aproximavam-se epistemologicamente das ideias de Alpheus Packard e


Alpheus Hyatt, formando um corpo teórico conhecido como neolamarckismo, que recebeu grande
aceitação, principalmente nos EUA, durante o período em que o mecanismo evolutivo proposto por
Darwin recebia críticas e não atingia a aceitação consensual por parte da comunidade científica da
época.

Outro naturalista que viria a defender essa nova proposta teórica seria Alpheus Hyatt (1838-1902),
que, de acordo com Darwin, já havia utilizado a lei de aceleração e retardação do desenvolvimento
antes mesmo de Cope, em um artigo versando “sobre o paralelismo existente entre os diferentes
estágios de vida no indivíduo e aqueles no grupo inteiro dos moluscos Tetrabranchiata” (HYATT,
1866, p.193-209; DARWIN, 1903, p.338-339).

2.2.2. O Adaptacionismo no Neolamarckismo de Cope

O mecanismo evolutivo proposto por Cope operava com o acréscimo ou o decréscimo de estágios
desenvolvimentais que resultavam no aumento da capacidade adaptativa dos traços gerados por
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aqueles decréscimos ou acréscimos. Tais traços, por sua vez, eram integrados à espécie submetida ao
processo evolutivo, por meio do uso e desuso e a subsequente herança desses caracteres pelas
progênies dos indivíduos daquela espécie. Com o decorrer do tempo, haveria um acúmulo no porte
de novos traços, capaz de caracterizar os indivíduos portadores como uma nova espécie. Ele
argumentava que, desse modo, a lei da “aceleração e retardação” seria a “controladora da aptidão”, e
consequentemente da evolução, “porque todas as estruturas adaptativas são produzidas de acordo
com ela e não de outra maneira” (COPE, 1871a, p.263).

Até então, Packard havia concluído que cada etapa de desenvolvimento correspondia ao traço que
adaptava o insecto ao estilo de vida que ele executava num dado momento de sua sobrevivência e
que isso poderia ser extrapolado para outros grupos de animais. Diferentes ambientes requeriam
diferentes adaptações, e os estágios do desenvolvimento poderiam ser acrescentados ou diminuídos,
conforme a capacidade adaptativa que tal alteração produzia. Era um processo que tinha como base a
capacidade adaptativa do animal ao ambiente, o qual, por sua vez, se tornava determinante. Lamarck
atribuíra muita influência ao entorno no processo de transformação das espécies.
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Considerações Finais

Lamarck erigiu, o que pode ser considerado como o “núcleo firme” do seu programa, formado por
duas teorias sobre o mecanismo da transformação dos seres vivos: a organização progressivamente
complexa dos seres vivos e a sua capacidade de reacção às mudanças ambientais. (ALMEIDA, 2007,
pp. 649-665,). A primeira premissa teórica proposta por Lamarck pressupunha um potencial inato da
vida, uma lei da natureza, que dispensava maiores explicações. A segunda era necessária para
explicar todos os tipos de adaptações dos seres vivos no transcurso do tempo. Portanto, o ambiente
produzia necessidades e actividades no organismo, e estas, por sua vez, operavam variações
adaptativas.

Para Lamarck o processo da “progressão” das espécies era regido por 4 leis, e não apenas duas,
como abordado nos livros de Biologia. Entretanto, Lamarck desenvolveu a noção de que os seres
vivos não se extinguiram, pois tal extinção não seria compatível com o poder e a bondade do
Criador, mas se transformavam.

O neolamarckismo surge no sentido de refutar as ideias de Lamarck sobre a sua teoria de uso e
desuso. Para Packard, o termo corresponderia a uma forma do Lamarckismo e designava uma série
de factores da evolução orgânica. Esses factores envolveriam tanto a acção directa como acção
indirecta do meio, a necessidade e mudança de hábitos resultando na atrofia ou desenvolvimento dos
órgãos através do uso e desuso e a transmissão hereditária dos caracteres adquiridos durante a vida
do indivíduo.

Cope lançou mão das ideias de uso e desuso e de herança de caracteres, inclusive para explicar como
as variações poderiam ser originadas. Na defesa dessas ideias ele formulou leis e propôs diversos
mecanismos e processos evolutivos que sempre envolviam a noção de que a adaptação ao entorno e
a busca de aptidão para o enfrentamento da luta pela sobrevivência deveriam gerar as variações, as
quais se fixavam nas espécies por meio da herança de caracteres adquiridos. As condições físicas do
ambiente, o impulso animal, a acção motora e outros factores, algumas vezes combinados entre si,
induziam de maneiras diferentes uma força geradora de variações que ele chamou de “força do
desenvolvimento” (growth force).

Essas ideias de Cope aproximavam-se epistemologicamente das ideias de Alpheus Packard e


Alpheus Hyatt, formando um corpo teórico conhecido como neolamarckismo, que recebeu grande
aceitação, principalmente nos EUA.
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Referências Bibliográficas

ALMEIDA, A.V.; FALCÃO, J.T.R. As teorias de Lamarck e Darwin nos livros didácticos de
biologia no Brasil. Ciência & Educação. 2010.

BOYLER, R. The works of the honourable Robert Boyle. 2nd ed.6 vols., Ed de Thomas Birch.
Hildesheim: Georg Olms, 1965.

COPE, Edward. Primary factors of organic evolution. Chicago: Open Court. 1896.

COPE, Edward. The energy of evolution. The American Naturalist, v.28, n.327, p.205-219. 1894.

COPE, Edward. On the inheritance in evolution. The American Naturalist, v.23, n.276, p.1058-1071.
1889.

DARWIN, Charles. The origin of species by means of natural selection. London: John Murray.
1872.

HYATT, Alpheus. Cycle in the life of the individual (ontogeny) and in the evolution of its own
group (phylogeny). Science, v.5, n.109, p.161-71. 1897.

LAMARCK. J.-B. "Botanique'' in Encyclopédie Méthodique. Paris: Panckoucke. Vols 1-2. 1783-
1786.

MAYR, E. Lamarck revisited, in Evolution and the diversity of life. Cambridge, Mass.: Harvard
University Press, 1976.

MAYR, E. O desenvolvimento do pensamento biológico. Brasília: Editora Universidade de Brasília,


1982.

PACKARD, Alpheus; PUTNAM, Frederic. The Mammoth cave and its inhabitants. Salem:
Naturalist’s Agency. 1872.

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