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Uma Copa do Mundo para quem?

Alex Minoru e Gabriel Pinho 4 de fevereiro de 2014

A Copa do Mundo deixou de ser um assunto exclusivo dos cadernos esportivos. Em outros
tempos, a preocupação central seria o desempenho da seleção, dos ídolos, as chances de levar a
taça. Entretanto, definitivamente, os tempos são outros.

A Copa do Mundo deixou de ser um assunto exclusivo dos cadernos esportivos. Em outros
tempos, a preocupação central seria o desempenho da seleção, dos ídolos, as chances de levar a
taça. Entretanto, definitivamente, os tempos são outros.

A competição mundial desse apaixonante esporte trouxe à tona uma série de contradições entre
os interesses públicos e privados, da burguesia e do proletariado.

Dinheiro público escorre das torneiras dos governos para a realização desse evento. No total,
estima-se que mais de R$ 30 bilhões saíram dos cofres públicos para obras da Copa!

O desperdício fica evidente em alguns casos. A Arena Amazônia, custou R$ 605 milhões (tudo
pago com dinheiro público). Um estádio que vai receber 4 jogos da Copa e depois cair em
desuso, já que o futebol não é o forte da região. O campeonato Amazonense teve uma média de
640 pessoas por jogo, o novo estádio tem capacidade para 44.310 torcedores, seu custo de
manutenção será de R$ 6 milhões por ano (sob responsabilidade do governo estadual). Para se
livrar desse “elefante branco”, cogitam transformá-lo em um presídio após a Copa. Talvez já
pensando em um local para abrigar os manifestantes que estão sendo reprimidos e
criminalizados.

O Maracanã, reformado pela terceira vez nos últimos 15 anos, consumiu R$ 1,19 bilhão dos
cofres públicos! Um valor maior do que de estádios que foram construídos do zero, como a
Arena Corinthians (o Itaquerão), em São Paulo, que deve sair por R$ 855 milhões. O mais
vergonhoso é que depois de reformado, o Maracanã, símbolo histórico do futebol, foi
privatizado, sendo levado por um consórcio formado pela Odebrecht (construtora brasileira),
IMX (de Eike Batista) e AEG (dos EUA). Esse consórcio pagará 7 milhões ao ano por 33 anos (a
concessão é de 35 anos, mas estão isentos de pagar nos 2 primeiros anos), isso dará um total de
231 milhões para o governo carioca, valor muito abaixo do gasto com a última reforma e o
equivalente a 18% do valor gasto com as 3 últimas reformas no Maracanã.

No mês de junho de 2013, durante as grandes mobilizações que tomaram o país, podíamos ler
cartazes que reivindicavam ironicamente hospitais com padrão FIFA, manifestantes cantando “da
Copa, eu abro mão, quero dinheiro pra saúde e educação”. Eles estavam absolutamente
corretos em apontar essas contradições, mais uma face da submissão do governo Dilma aos
interesses do capital.

Quem ganha com a Copa?

Os defensores da Copa dizem que haverá a injeção de bilhões na economia nacional, mas não
explicitam que a maior parte desse dinheiro vai para a burguesia, nacional e internacional.

A direção do PT, do PCdoB, e outros setores governistas, defendem que a Copa deve ser
realizada e que ela não deve ser considerada um empecilho para os investimentos em setores
sociais, como na saúde e educação, por exemplo, além de considerar que os movimentos
contrários à Copa são de direita e buscam apenas desestabilizar o governo federal. É uma análise
completamente estreita e superficial.

A realidade é que jovens e trabalhadores sentem a indignação de sofrerem cotidianamente em


transportes públicos lotados, caros e de má qualidade, em escolas decadentes, em filas de
hospitais sem estrutura, enquanto o governo está despejando bilhões para realizar um evento
que nem sequer poderão desfrutar.

Um ingresso para a abertura da Copa está entre R$ 160,00 e R$ 990,00, um ingresso para a final,
entre R$ 330,00 e R$ 1980,00. O ingresso mais barato, para um jogo na fase de grupos, no pior
local do estádio, sai por R$ 60,00. Quem quiser acompanhar a seleção brasileira, da abertura até
a final (caso chegue à final, é claro), no melhor setor dos estádios, pode comprar um pacote de
ingressos que sai por R$ 6700,00, além de ter que comprar as passagens aéreas para os locais
dos jogos, hospedagem, etc. A verdade é que, para a maioria dos trabalhadores, essa Copa,
como todas, será vista pela televisão.
O papel da FIFA

Segundo o secretário-geral da FIFA, Jerome Valcke, a FIFA ganhará US$ 3,5 bilhões com os
direitos de comercialização do Mundial do Brasil. Entretanto, gastará US$ 3,3 bilhões para
realizar o torneio. “No final, a Fifa terá um resultado positivo de US$ 200 milhões que vão para
nossas reservas”, disse Valcke. Tudo leva a crer que esse número está subestimado. Uma
empresa de auditoria, a BDO, estima que a arrecadação da FIFA com o mundial será, na
realidade, de US$ 5 bilhões, a maior parte com direitos de transmissão de TV, seguido pelo
marketing gerado em torno do evento.

O futebol profissional movimenta muito dinheiro e muitos interesses em todo o mundo. A FIFA é
a organização capitalista internacional que gerencia esse lucrativo negócio. Seu poder e
influência são imensos. É só ver as exigências impostas para a realização da Copa e a submissão
do governo brasileiro em acatá-las.

Estádios precisam ser construídos seguindo um padrão determinado, o padrão FIFA. Novas leis
são feitas para atender os organizadores, a meia-entrada deixou de ser um direito para os
estudantes, já que só vai valer para as piores áreas do estádio. Os dirigentes da FIFA, com sua
arrogância, tratam os governos como seus meros serviçais. Mas o pior é que o governo
brasileiro, aceita esse papel, servindo submisso a FIFA e todos os capitalistas.

Repressão e criminalização

Os governos estaduais e o federal estão incrementando o seu aparato repressivo. Já foi dado
início aos investimentos grotescos em armamentos e tecnologias para a repressão, além de
modificações na legislação, como a “lei antiterrorismo”, que visa classificar manifestações como
“ato-terrorista”. O governo federal cria uma tropa de choque formada por 10 mil policiais para
conter protestos durante a Copa do Mundo.

Além disso, tramita um PL, que conta com a vergonhosa coautoria do Senador Walter Pinheiro
do PT, e que pode condenar manifestantes que realizarem atos durante a Copa entre 15 e 30
anos de prisão. O projeto também limita o direito de greve durante o evento para os serviços
considerados de “interesse social”.

O Ministério da Defesa anuncia que manterá as tropas do exército aquarteladas durante a


competição. Prontas para entrar em ação contra os protestos, caso as policias militares
necessitem de reforços.

São extraordinários avanços na ofensiva de repressão e criminalização dos movimentos sociais.


Com o PT e o governo Dilma encabeçando. Obviamente, tudo isso não está sendo feito apenas
para garantir a realização da Copa, eles querem se preparar para a luta de classes, que vai muito
além da realização desse evento.

Manifestações contra a Copa

Todos os ataques contra a classe trabalhadora que estão ocorrendo por conta da realização da
Copa devem ser denunciados e combatidos: o desperdício de dinheiro público, a morte de
operários nas construções, as desapropriações de famílias para construir estádios,
estacionamentos, etc. A ofensiva de repressão e criminalização.

Mas tentar impedir a realização da Copa é uma batalha desproporcional contra o governo e as
forças repressivas. Conseguimos agregar as massas com essa bandeira? O que muda
fundamentalmente, agora, impedir a realização da Copa? Consideramos que a convocação de
manifestações “Não vai ter Copa” carecem de bandeiras concretas e métodos corretos. Os Black
Blocs, que formavam uma linha de frente na manifestação do dia 25 de janeiro em São Paulo,
com seu método de enfrentamentos e ataques a bancos e outros símbolos do capitalismo,
acabam, na realidade, afastando a população das manifestações e criando os pretextos para a
repressão.

É preciso mobilizar jovens e trabalhadores em defesa de investimentos reais em setores sociais e


a ruptura do governo com o capital, o que começa com o Não Pagamento da Dívida Pública, que
consumiu ao menos R$ 718 bilhões do orçamento federal em 2013. Por isso, os militantes da
Juventude Marxista impulsionam a campanha “Público, Gratuito e Para Todos: Transporte, Saúde
e Educação! Abaixo a repressão!”, criando comitês de luta em todo o país (Leia o manifesto em:
www.facebook.com/PublicoGratuitoParaTodos).
A luta de classes se desenvolve antes, durante e depois da Copa. O problema central é o sistema
que vivemos, o capitalismo. Organizar, elevar o nível de consciência da classe trabalhadora e da
juventude, é a tarefa central dos revolucionários em todo mundo para pôr abaixo esse sistema e
construir uma verdadeira saída, o socialismo.

A Copa do Mundo não é só futebol!

Chico Lessa 9 de março de 2012

Para aqueles que pensam que a Copa do Mundo é apenas um campeonato de futebol vai um
alerta: não é! Pode ser um ataque frontal ao direito dos trabalhadores que vendem sua mão de
obra na sua preparação.

Tem senador e deputado no ataque ao direito dos trabalhadores.

Pelas mãos do Senador da República e bispo da Igreja Universal Marcelo Crivella, do Partido
Republicado (PRB) do Rio de Janeiro e da denominada base aliada do Governo Dilma, encontra-
se no Senado Federal o Projeto de Lei n. 728/2011 que visa restringir o direito de greve nas
cidades-sede pelas categorias que desempenham serviços ou atividades de especial interesse
social, que vai desde o tratamento de água até os trabalhadores do Poder Judiciário, passando
pela construção civil, evidentemente.

Causa surpresa, porque ainda somos surpreendidos com coisas do tipo, que este projeto de lei
extravagante leva também a assinatura do Senador Walter Pinheiro, do Partido dos
Trabalhadores da Bahia, dirigente do Sindicato dos Trabalhadores em Telecomunicações daquele
estado da federação (SINTTEL Bahia).

Em seu artigo 43 este projeto de lei determina que havendo deliberação de greve em qualquer
das categorias envolvidas na preparação e no decorrer da Copa do Mundo de 2014, o que
envolve praticamente todos os trabalhadores brasileiros, os sindicatos devem avisar os patrões
sobre a deflagração do movimento grevista com antecedência mínima de 15 dias.
Convenhamos que em duas semanas a patronal terá, em tese, todas as condições para detonar
com a mobilização e as reivindicações dos trabalhadores, que pode ser desde as demissões e
contratação temporária até a prisão de trabalhadores e dirigentes sindicais.

Do bispo-senador Marcelo Crivella podemos esperar pérolas desta natureza, o que fica mais
difícil no que diz respeito a um dos representantes do PT no senado e dirigente sindical Walter
Pinheiro.

Seria razoável que Walter Pinheiro (pinheiro@senador.gov.br) recebesse do Brasil inteiro cartas e
moções para que publicamente retire sua assinatura deste projeto de lei, com cópia para a
Central Única dos Trabalhadores, na medida em que o Sinttel/Bahia é filiado à CUT.

Em outros artigos deste Projeto de Lei n. 728/2011, em tramitação no Senado Federal, que
também recebe a marca da senadora pelo Rio Grande do Sul Ana Amélia (PP), expressamente
prevê a contratação de trabalhadores para substituir grevistas do serviço público, e também que
Deverá o Ministério Público, de ofício, requisitar a abertura do competente inquérito e oferecer
denúncia quando houver prática de delito, criminalizando mais do que nunca o direito de greve.

O legislador constituinte de 1988 deixou gravado na Constituição da República, em seu artigo 9º,
a determinação categórica de que É assegurado o direito de greve, competindo aos
trabalhadores decidir sobre a oportunidade de exercê-lo e sobre os interesses que devam por
meio dele defender, norma que agora sofre ataque frontal diante da existência do projeto de lei
do Senado Federal.

Por isso é que a Copa do Mundo de 2014 não se trata apenas de um campeonato mundial de
futebol, porque a competição permite que leis fascistas sejam propostas contra o direito dos
trabalhadores no plano nacional, como se a disputa esportiva possa descaracterizar a vida
nacional daqueles que constroem o país.

Mas a aberração legal trazida pela Copa de Mundo de 2014 não pára por aí. O também senador
pelo estado de Rondônia, Valdir Raupp, apresentou no Senado Federal um projeto de lei que fixa
às autoridades municipais das cidades-sede dos jogos do certame a criação de chamadas zonas
limpas, espaço onde não poderão trabalhar os vendedores ambulantes ou mesmo ser veiculadas
quaisquer formas de publicidade não autorizada pela Federação Internacional de Futebol (FIFA).
O direito ao trabalho e a soberania do Estado nacional encontram-se pisoteados pela proposição
do senador rondonense, que tem como relatora a senadora pelo PT paulista Marta Suplicy.

A fúria legislativa fez ainda nascer o Projeto de Lei n. 2330/2011 (de autoria do Deputado Estado
Vicente Cândido (PT/SP), que dentre outras aberrações estipula que A União colaborará com
Estados, Distrito Federal e Municípios que sediarão os Eventos e com as demais autoridades
competentes para assegurar à FIFA e às pessoas por ela indicadas a autorização para, com
exclusividade, divulgar suas marcas, distribuir, vender, dar publicidade ou realizar propaganda de
produtos e serviços, bem como outras atividades promocionais ou de comércio de rua, nos
Locais Oficiais de Competição, nas suas imediações e principais vias de acesso, o que dá a
impressão que de 12 de junho a 13 de julho de 2014, período de realização da Copa, vai mandar
no país o todo poderoso Joseph Sepp Blatter, presidente da Fifa.

Cedo ou tarde os trabalhadores terão que fazer uma limpa geral nesse parlamento, elegendo de
fato um que tenha soberania.

A esquerda deve torcer pelo Brasil na Copa do Mundo?

Traduzindo na polêmica que se deu entre os que odiavam a ditadura em 1970: torcer era
questão de foro íntimo, indiferente para derrubar ou manter a ditadura. Traduzindo na micro
polêmica de hoje: torcer é indiferente para manter ou terminar o golpe

cbf esquerda deve torcer pelo Brasil na Copa do Mundo Rússia

Renato Janine Ribeiro, via Fecebook

Coisa antiga, essa de torcer ou não pelo Brasil na Copa. Que diferença política isso faz?
Nenhuma.

Quem quiser, torça, quem não, não.

Lembro Paulo: “O que come não julgue o que não come; e o que não come, não julgue o que
come”, no momento crucial em que faz passar o cristianismo de uma heresia dentro do judaísmo
a projeto de uma religião universal.

Com isso, Paulo (o apóstolo, o santo) distingue entre as coisas essenciais para a salvaçao e
aquelas que não o são, abrindo um espaço gigantesco para a autonomia do indivíduo: aquelas
coisas que são indiferentes para salvar a alma.

Traduzindo na polêmica que se deu entre os que odiavam a ditadura em 1970: torcer era
questão de foro íntimo, indiferente para derrubar ou manter a ditadura.

Traduzindo na micro polêmica de hoje: torcer é indiferente para manter ou terminar o golpe.

O erro, o crime enorme dos chamados totalitarsmos – que têm seu modelo na Inquisição – é
tornar significantes todas as ações, mínimas que sejam, do indivíduo: nada é indiferente, tudo
significa – positiva ou negativamente – para a salvação da alma ou a salvação do mundo.

(Óbvio que nao estou chamando de totalitário o mini debate sobre torcer ou nao na Copa, só
estou dizendo que é déplacé, fora do lugar).

Porque essa postura torna impossível a compreensão do mundo atual, quanto mais viver nele.

O que é clima de Copa?

13 Junho, 2018

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Por: Diogo Xavier, para o Lateral Esquerda

Já virou rotina as semanas que antecedem a Copa serem tomadas pelo dilema de se o povo está
motivado, ou não, para a Copa. O debate geralmente é chato, mas cabe uma reflexão: O que
significa a Copa do Mundo no Brasil e por que mudou tanto?

O povo brasileiro e o futebol


Em primeiro lugar, é importante destacar que a relação do povo brasileiro com o futebol vem de
meados do século 20, quando o esporte bretão se popularizou no país. Trazido por Charles
Miller em 1894, foi um divertimento da elite por muitos anos.

Dessa forma, a segregação social era mantida nos campos, além da proibição de negros
disputarem as partidas trazendo as chagas da escravidão recém abolida no país. Com o passar
dos anos, o caráter do esporte mudou e o futebol passou a ser o grande símbolo do povo
brasileiro.

Texto muito elucidativo sobre o tema escrito por Gilberto Freyre “Foot-ball mulato” é uma
exposição de como a prática do futebol simbolizava a miscigenação no Brasil com a visão de um
dos pensadores que moldou a forma de enxergar o país naquele momento.

Nelson Rodrigues cunhou a expressão “Pátria de chuteiras” para simbolizar a relação de um


povo que se vê representado na sua seleção. Essa sensação cabia perfeitamente na era de Ouro
do nosso futebol quando de 1958 até 1970 ganhamos tred Copas do Mundo e vimos uma
coleção de craques que desfilavam pelos estádios do nosso país. A sensação foi mudando,
menos títulos, menos craques e a maioria deles está lá fora. O futebol brasileiro do dia a dia fica
com a carne de terceira e manda o filé pro exterior. O futebol imitando a vida.

Mesmo com tanto desapego, o futebol ainda é a maior paixão nacional e a seleção move uma
massa de torcedores por onde passa, pois é ali onde o povo brasileiro pode ser um vencedor,
pelo menos ali nós somos melhores do que todo mundo e a fascinação que causa o esporte
passa uma mensagem de muita força pra um povo tão sofrido.

Como pintar ruas que não são nossas?

O processo de gentrificação das grandes cidades fez com que as ruas perdessem o seu caráter
comunitário. Rua é local de passagem e não de parada. Vizinho deixou de ser alguém próximo.
Associado a isso anos de uma ideologia individualista que coloca a coletividade como algo
danoso e que toma tempo fez com que os pequenos prazeres em grupo deixem aos poucos de
existir.

A Copa do Mundo acontece no Nordeste junto com o São João, deixaram de pintar ruas como
abandonaram os “Palhoção”, não tem mais fogueira construída pela vizinhança onde todo
mundo vai assar seu milho e trocar as comidas típicas. É uma fase de afastamento da
comunidade onde perdem-se os laços e com isso as práticas conjuntas vão se perdendo.
A solidariedade entre o povo mais pobre continua existindo, o povo brasileiro se constituiu e se
fortalece nesse sentimento que mantém a maioria do nosso povo de pé, mas as mudanças que o
capital impôs nos centros urbanos mudaram as formas de dividir o espaço urbano.

Não dá pra esperar que a população haja como quem não entende o processo de expulsão das
cidades e ocupação do espaço urbano. A resistência por moradia é ponto central das grandes
cidades. As ruas não são mais das crianças que pedem contribuição dos moradores pra pintar a
calçada ela agora pertence as grandes empreiteiras. A batalha nos grandes centros é justamente
pra inverter essa lógica mercadológica que segrega as pessoas.

Uma seleção que não é brasileira

Aliado a todos esses fatores ainda existe o grande distanciamento da seleção brasileira com o
povo brasileiro. Muitos desses atletas são oriundos de camadas populares, mas assumiram um
padrão de vida que os torna completamente alheios ao que se passa no país. A seleção viajou
para a Europa no meio de uma crise profunda por conta da greve dos caminhoneiros e nenhuma
palavra dos jogadores sobre este assunto. É um mundo paralelo onde as pessoas não se
enxergam.

Os atletas brasileiros atuam longe do país, dos 23 convocados por Tite apenas 3 jogam em solo
nacional, isso faz com que não exista mais um apego do clube que passa pra seleção, torcer pra o
jogador do seu time estar lá. Agora são os clubes europeus e e chineses que disputam pra saber
quem tem mais jogadores vestindo a amarelinha.

A Confederação Brasileira de Futebol (CBF), cujo histórico tenebroso é bem extenso e não será
abordado nesse texto, cumpre o papel de distanciar o torcedor ainda mais ao não permitir que a
seleção de prepare perto da sua gente. O Brasil foi a única seleção sulamericana que não fez
amistoso ou jogo-treino no seu país.

Nenhuma mísera apresentação pra que as pessoas pudssem ver de perto os craques que se
muito passam férias no país. É um disparate com os torcedores não poderem ver um treino pelo
menos. Até isso é deixado para os ingleses que receberam uma seleção que já se sente em casa
no solo Britânico.
O Mundial de 2018 será envolta de muitas crises e polêmicas. Quem deixou de amar a seleção
faz isso por não ser correspondido e é bastante compreensível. Aqueles que por puro amor
platônico (como este que vos escreve) ainda se apegam de 4 em 4 anos a torcer pelo Brasil
viverão as contradições com todas as coisas que só uma Copa do Mundo pode apresentar.

A Copa e o paternalismo tosco da esquerda arcaica

por José Antonio Lima — publicado 13/06/2014 10h50, última modificação 13/06/2014 11h58

Enquanto o morador da comunidade vibra pelo Brasil, o ativista, desconectado da realidade,


torce pela Croácia. Por José Antonio Lima

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Yasuyoshi Chiba / AFP

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rostos do argentino Lionel Messi e de Neymar

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Não é de hoje que parte da esquerda brasileira vive uma realidade completamente diversa
daquela experimentada pelo povo. A tentativa de lançar, contra a ditadura, uma revolução
campesina no momento em que o País se urbanizava de forma frenética, entrou para a história
como um erro grosseiro. Em 2014, ações deslocadas do mundo real persistem, e o alvo é a Copa
do Mundo.

Nesta sexta-feira 13, a Folha de S.Paulo traz uma reportagem simples e genial, assinada por
Patrícia Campos Mello. O texto mostra como, na favela do Moinho, no centro de São Paulo,
ativistas não moradores da comunidade foram até o local para torcer pela Croácia contra o
Brasil. Era uma concessão, revela a jornalista, uma vez que o plano inicial era ignorar a partida de
abertura da Copa. O ato dos ativistas contrastava, conta a reportagem, com o dos moradores,
que exigiram a transmissão do jogo nos locais públicos e torceram pelo Brasil.

De fato, abundam motivos para torcer contra a seleção. Essa é, no entanto, uma escolha
individual. Tentar impor a torcida contra, por outro lado, constitui uma violência psicológica, que
denota o paternalismo e o arcaísmo de parte da esquerda brasileira.

O paternalismo deriva da soberba. O ativista acredita que tem o monopólio da verdade,


enquanto o morador, alvo de sua ação social, é incapaz de tomar decisões sozinho. Como um
profeta, ele entra na comunidade para pregar que “a Copa está comprada” e que “a vitória da
seleção será a vitória de Dilma” (aqui, ironicamente, se unindo aos radicais do outro lado do
espectro político). No fim deste raciocínio limítrofe está, como um pote de ouro na ponta do
arco-íris, a ideia de que a derrota da seleção colocará fim às inúmeras mazelas brasileiras. É
como se a vitória da Argentina na final da Copa fosse capaz de instalar automaticamente rede de
esgoto na outra metade das residências brasileiras que não têm o serviço.

Ao mesmo tempo, a ação mostra a incapacidade deste setor da esquerda de se atualizar e


perceber que qualquer ativismo político só terá resultado se for baseado na vida real. Para tanto,
esse ativismo precisa arregimentar apoio, incluindo de quem vai ser apoiado. Assim, entrar em
uma comunidade para combater a "alienação do trabalhador" e dizer que o morador não tem
direito de ter determinado sentimento (no caso, a vontade de torcer para a seleção) é um acinte.
Mesmo reconhecendo os desmandos da CBF e os absurdos na organização da Copa, alguém
pode optar conscientemente por ignorá-los durante o mundial para desfrutar de algum tempo
de qualidade com sua família, amigos e comunidade. Isso, aliás, é o que milhões de brasileiros
fazem a cada quatro anos há algumas décadas. Ao ignorar a alegria que a Copa do Mundo traz e
negar tal felicidade, os ativistas mostram desconhecer a vida real e excluem quem deveriam
incluir.

É perfeitamente possível amar o futebol, torcer pela seleção brasileira e parar para ver a Copa do
Mundo sem que isso implique alienação ou apoio ao sistema e aos absurdos produzidos por ele.
Para os ativistas que foram à favela do Moinho, isso é uma contradição. Para os moradores da
comunidade, é a vida normal.

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