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Luxo, lixo; guri, gari. E daí?

Luiz de Aquino

Meu __________? Onde ______________? Se tenho mãe ou pai? Ora, o


importante é que eu ______________. Ou vocês querem que, para existir, a
_______________ tenha que recitar nome, ______________, nome de pai e
mãe? Isso é coisa de ______________, não de pessoa. Olhem para mim: existo,
sou ______________, estou crescendo e os _____________ costumam dizer que
sou o futuro do Brasil.
Existo, e pronto! Ocupo ____________ no _________ e quem disse isso foi um
____________, um sábio que viveu há muitos anos; acho até que antes de Jesus.
E incomodo. Ando descalço, _______________ velhas. Eu gosto de andar lá no
centro, na Avenida Goiás, na Rua 7, na Rua 4. Gosto de ver aquelas
_____________ bacanas se encolhendo pra não esbarrar em mim, ____________
de sujar a ___________ fina. Gosto de correr pelos _______________ da Goiás,
eu e meus colegas — os _________________, os apanhadores de papel, os
pivetes.
É bom, sabe? É bom a gente ter uns amigos assim. Eu tenho muitos e gosto
deles. Eles também gostam de mim. Do nosso jeito: a gente gosta de se enrolar.
Se o _________________ pega um, os outros se mandam. É que se a gente
quiser bancar o valente vai também. Nossa ____________ é assim, ninguém
exige nada de ninguém; cada um se vira como pode. Acaba sendo melhor, porque
a gente é mais livre. Não tem desses negócios de fazer _______________,
marcar _______________. Hoje eu fico com os engraxates, amanhã com os
entregadores de feira, depois com os ______________ de papel. Outras vezes a
gente faz uma cara de triste e vai batalhar freguês de ____________. No Café
Central, onde o povo come em pé e com pressa, é batata: é só fazer uma cara de
______________ e faturar os caras. Outro dia um freguês lá mandou eu escolher
e eu pedi um ______________ daqueles bacanas, com carne, ovo e ___________.
Vai ser bom, siô! Tem uns caras legais, ainda. Uns caras que cooperam, né?
Mas o bom mesmo é lavar ____________. Eu ainda sou meio pequeno, os
caras não confiam muito. Aí eu encostei num negão que faz ponto na viela do
Popular. Fiquei na de ajudante dele. Faturamos bem. Os caras deixam o carro
aberto pra gente lavar por dentro, aí a gente liga o __________, senta no carrão e
fica pensando até que é o Fittipaldi.
Futuro do ___________, eu! Ouvi no rádio, a __________ lá do grupo também
falou assim uma vez. Sabe que eu tenho ___________ do grupo? Fiz só até o
segundo ano, mas tive de sair porque a diretora falou que num tinha carteira pra
todo mundo. Também, precisava trabalhar, eu já tava crescendo, tinha oito anos.
Precisava ajudar, né? Aí eu comecei a pegar carona no ____________ das seis e
meia. Porque no das sete horas o cobrador era mau. Um dia eu fui passar debaixo
da ____________ e ele meteu o pé na minha cara. Machuquei o ____________,
mas menti pros amigos que foi ______________. Foi até bom, porque eu inventei
uma história de valentia e fiquei respeitado.
Quando dava fome, no começo era duro. Até que aprendi uns macetes. Fiz
amizade com a _____________ do restaurante do Armando, ela passava comida
pra mim pela ______________________, escondido. Aí um menino que tinha
brigado comigo contou pros caras lá e eu perdi a boca. A gente fica na rua até
tarde, mas de noite tem que esconder do ____________. Tem dia que a gente tá
tão cansado de bater perna que nem vai pra casa. Fica por aí, dorme nas vielas,
debaixo das marquises. Tem uma ______________ ali na Paranaíba que o
guarda-noite me topa. De vez em quando eu durmo lá. Ele deixa eu dormir dentro
de algum carro. Eu fico com dó de sujar os carros e durmo no ___________. Me
cabe bem, porque eu já tenho onze anos mas sou meio pequeno. E é tão
quentinho.
Eu devia ter ficado lá no Centro hoje. Tá um _________ danado, não sei o que
vim fazer no Bairro Feliz.
Feliz é o bairro, com essa gente toda em casa, quentinho. ___________
colorida. Quando eu crescer quero ser _____________. Que nem o Doutor Vítor.
Ficar rico. Ter carro, casa bacana. Mas pra ser doutor eu preciso estudar e pra
estudar tenho que mudar de _____________. Precisava deixar de ser pobre.
Oba, uma caixona de __________!.. Vou deitar aí dentro. Vai ficar quentinho. É
só o pessoal da __________ não me catar pensando que sou lixo".

1) Complete adequadamente o texto, usando as palavras disponíveis no Banco de


Palavras.

Banco de Palavras

vida endereço frio cientista lugar papelão


doutor nome professora Televisão
canteiros Brasil sanduíche limpeza medo roupas
carro cozinheira amizade garagem briga nariz
ônibus juizado alface fome compromissos
engraxates janela adultos lanchonete existo espaço chão
juizado saudade mulato gente catadores rádio roleta moro
madames documento roupa visitinhas
2) Como o menino se descreve, no 1º parágrafo do texto?

3) Observe a frase: "Ou vocês querem que, para existir, a gente


tenha que recitar nome, endereço, nome de pai e mãe?" (1º
parágrafo). Reescreva a frase, substituindo o termo destacado
por um sinônimo.

4) O que é coisa de documento, segundo o menino?

5) Por que o menino diz que "as madamas se encolhem"?

6) Quem são os colegas do menino?

7) Quem, na opinião do menino, são "os caras legais" e por que


ele acha isso?

8) O que o menino faz para sobreviver?

9) Que idade tem o garoto atualmente? E que idade ele tinha


quando parou de estudar? Até que série ele estudou e por que
ele parou de estudar?

10) De que forma, aparece no texto, no 3º parágrafo, a palavra


"senhor"? E de que forma aparece a palavra "não", no 5º
parágrafo?

11) Observe a frase: "Tem uns caras legais, ainda. Uns caras
que cooperam, né?" (3º parágrafo). O que significa a palavra
destacada? Cite um antônimo para a palavra destacada.

12) De que forma o menino ganha dinheiro?

13) Por que, na sua opinião, o nome do menino não é citado no


texto?

14) Por que o menino começou a pegar o ônibus as 6h30min?


15) Observe a frase: "Quando dava fome, no começo era duro.
Até que aprendi uns macetes." (6º parágrafo).
a) Explique, com as suas palavras, o que quer dizer a
expressão "era duro".
b) Procure o significado da palavra "macete" e reescreva a frase,
substituindo-a por um sinônimo.
c) Que macetes o menino aprendeu?

16) Observe a frase: "Fica por aí, dorme nas vielas, debaixo das
marquises." (6º parágrafo). Procure no dicionário o que
significam as palavras destacadas e responda: onde o menino
dorme?

17) O que o menino quer ser quando crescer? E o que, segundo


ele mesmo, é preciso fazer para que isso aconteça?

18) Transcreva, do texto, as palavras que, obrigatoriamente,


precisam ser escritas com letra maiúscula. Explique por que
elas devem ser escritas assim.

19) Separe as sílabas das palavras abaixo, classificando-as em


oxítonas, paroxítonas ou proparoxítonas.
a) importante:
b) mãe:
c) Goiás:
d) carro:
e) ônibus:
f) cooperar:
g) chão:
h) televisão:
i) cozinheira:
j) sanduíche:

20) No último parágrafo, há dois substantivos no aumentativo.


Que substantivos são esses?

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