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UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO- UFOP

INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS- ICHS

DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA- DEHIS

Felipe Petri Correa da Silva 16.2 3750

Pedro H. de Castro Falci. 19.1 3972

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A Era Vargas é permeada pela presença de diversas características que a fazem presente no
recorte dos governos populistas e fascistas da década de 30 do século XX e que também a colocam
como grande divisora de águas na politica do Brasil. Nela, a fomentação de uma cultura política por
parte do estado varguista, além de uma grande artimanha utilizada para legitimar um governo que
chega ao poder por meio de um golpe, é um ponto que delineia e caracteriza a relação politica do
brasileiro com o estado.

Seguindo esse raciocínio, por cultura politica podemos entender uma prática do estado
brasileiro pós-30 que se derrama em várias áreas de produção da sociedade, seja teatro, cinema,
literatura, rádio, ensino, música, criando e enraizando por meio da criação cultural uma condição em
que o povo visse, entendesse e projetasse o estado como fornecedor e provedor da ordem, uma
espécie de pai, centralizado na imagem do presidente, o líder daquela gente, sendo o povo um ente
necessitado de cuidado e gestão, mas também sendo a alma da nação.

A área do pensar não poderia ficar de fora, passando também por uma transformação: nas
palavras de Machado de Assis pensando o final do século XIX, a academia de letras e os pensadores
brasileiros habitavam uma espécie de torre de marfim, onde comentavam e refletiam sobre a
sociedade, mas não participavam efetivamente dela, em Getúlio isso vem a mudar, ingressando na
academia de letras, promove um intelectualismo que dialogue diretamente e possa configurar a
sociedade por meio de seu poderio, sendo ele mesmo um expoente disso.

Dessa maneira, os intelectuais da Era Vargas, personificados pela elite da sociedade,


cumpriam o papel de direcionar o povo, uma vez que esse último foi desculpado por qualquer
desordem no país pela epistemologia varguista, cabendo ao estado comandar e gerir a nação.
Forma-se ai uma concepção que vai perpassar a produção intelectual brasileira nas décadas
vindouras, mesmo com o fim do período varguistas, em que o povo brasileiro carece, ai explicado por
processos históricos herdados e sofridos, de um tino democrático, de um direcionamento pleno para
uma gestão democrática, projetando no estado um salvacionismo, uma direção, um líder. O povo
brasileiro seria a alma da nação, mas o estado seria a mente e o corpo.

Esse posicionamento intelectual se entranha nas interpretações da sociedade brasileira,


inclusive no período que antecede a década de 30, demonstrado já pela nomenclatura dada
“República Velha”, indicando algo ainda rústico, não totalmente funcional e pleno. O olhar então
dado a esses anos, enviesado pelos ecos da cultura politica, enxerga, ou melhor, não enxerga uma
efervescência de movimentos sociais que existiam e borbulhavam na sociedade brasileira. O formato
político pautado seja no inconsciente seja nos olhos dos que pensaram o Brasil, viam apenas um
Brasil dominado por oligarquias que se revezavam entre si, com um eleitorado muito limitado e uma
participação mínima do povo na governança.

O governo Vargas tem uma concepção de democracia relacionada à prover cidadania, sendo
o principal meio o trabalho. Em relação à República velha, a elite varguista se considerava
democrática, uma vez que tem um compromisso com o desenvolvimento do país através da
industrialização e direitos trabalhistas, não relacionando o termo democracia ao poder de voto e
livre manifestações de ideias. O Estado como tutor da população age de forma democrática e ao
mesmo tempo se desvincula do republicanismo, negando o federalismo da Primeira República,
invocando um patriarcalismo aos moldes do império.

Destilado no pensar, propagado sutilmente pela historiografia, esse prisma acaba


inviabilizando que ocorra de maneira mais contundente uma maior amplitude de análises do Brasil,
assim não diagnosticando a fundo várias querelas que teriam sua causa na relação entre povo e
estado. O estudo sobre o Brasil, a partindo dessa concepção, acaba promovendo, podendo-se dizer
que sem saber, uma descrença numa participação efetiva e incisiva da população na direção do país,
alocando essa responsabilidade em um governo destacado da malha social, até mesmo distante,
levando o brasileiro a projetar uma tutela, sentir uma necessidade de direção, consequentemente de
um líder da nação, que os represente e os guie.

Por isso uma produção intelectual que se distanciasse dessa imagética concebida não
entraria com um olhar já formatado pela conjectura sócio-política quando se virasse ao povo
brasileiro, alargando o horizonte politico, inviabilizando, por exemplo, discussões como “debater
politica não leva a nada”, pois, o protagonismo da população ocuparia um outro espaço.
Isso se torna coerente de se pensar, pois até mesmo o intelectualismo, que na Era Vargas foi
incumbido aos provedores de direcionamento, leia-se elite, poderia habitar outros locais, uma vez
que o poderio de transformação da população teria um outro teor, abrindo portas para diversos
artifícios. Enxerga-se então um profundo protagonismo da Era Vargas na politica nacional,
concretizando as palavras de Getúlio quando diz “sair da vida para entrar para a história”, entrando
também para o inconsciente politico do brasileiro, constelando um complexo de uma experiência
vivida, para recorrer a psicologia, quando se pensa sua relação com o estado nacional.

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