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Rev. do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, 15-16: 113-138, 2005-2006.

TERMINOLOGIAS E CLASSIFICAÇÕES USADAS PARA DESCREVER


SEPULTAMENTOS HUMANOS: EXEMPLOS E SUGESTÕES*

Sergio F.S. Monteiro da Silva**

SILVA, S.F.S.M. Terminologias e classificações usadas para descrever sepultamentos humanos:


exemplos e sugestões. Rev. do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, 15-16: 113-138,
2005-2006.

RESUMO: A tentativa de uniformização de termos e classificações para descrever


e observar contextos arqueológicos de remanescentes esqueletais humanos tem sido
uma preocupação recorrente dos arqueólogos e bioantropólogos. Trata-se de
estabelecer quais elementos descritivos são importantes ou essenciais para a análise,
reconstrução e interpretação de sepultamentos humanos inseridos em substratos e
condicionantes culturais diversos. Entre os exemplos de sugestões encontrados na
bibliografia consultada, verificou-se que existe sempre uma incidência de determinadas
variáveis dos dados mortuários e que, em determinadas análises, é muito expressiva a
correlação e a sinergia entre dados dos restos do corpo, dos acompanhamentos
funerários e da cova. Descrever e classificar sepultamentos humanos implica em
observar o todo dos vestígios funerários no contexto da deposição, incorporando
dados bioarqueológicos.

UNITERMOS: Metodologias – Arqueologia da Morte – Sepultamentos humanos –


Contexto arqueológico.

Introdução associados, forma e distribuição das covas e dos


aspectos tafonômicos envolvidos, concorrem de
A deposição do morto constitui um processo maneira significativa para enriquecer sua descrição,
cultural ou uma série de processos pelos quais um bem como para a reconstrução das etapas do
grupo humano trata os remanescentes físicos de provável processo da deposição do morto e das
seus mortos. Os remanescentes desses processos práticas funerárias do grupo em estudo.
são estudados a partir da sua observação no Entretanto, uma complexa variedade de
contexto arqueológico, durante a escavação. Um práticas de enterramento tem sido registrada por
registro preciso dessa categoria de vestígio arqueólogos entre populações extintas. Assim,
arqueológico – em especial o fotográfico –, da torna-se difícil elaborar critérios ou normas
disposição dos ossos do esqueleto, dos materiais padronizadas com uma classificação abrangente –
standard – dessas práticas, uma vez que somente
algumas de suas muitas variedades podem ser
encontradas em sítios arqueológicos.
(*) Artigo originado da Dissertação de Mestrado do autor.
(**) Doutor em Arqueologia pelo Museu de Arqueologia
A interpretação dos vestígios funerários relacio-
e Etnologia da Universidade de São Paulo. na-se à natureza de certos aspectos de cada tipo de
sergiomonteiroarq@yahoo.com.br ritual de sepultamento envolvido. Os itens encontrados
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podem indicar determinadas conformações culturais. Nesse caso, os acompanhamentos funerários


Assim, artefatos e outros vestígios inumados podem possuem funções possíveis, associadas as razões
representar a) itens usados como adornos pessoais, b) dos participantes do funeral para sua inclusão na
itens preparados especialmente para o ritual funerário cova. Os ossos raspados de animal podem indicar
e c) itens usados para fins utilitários, durante o tempo demonstração de tristeza; o adorno de pescoço
de vida do falecido e não necessariamente por ele uma demarcação de status familiar ou grupal ou a
(Breternitz et al. 1971:179). Uma reconstrução eliminação às vistas dos vivos dos bens dos mortos;
hipotética de um sepultamento pode conter eventos e as lascas e uma lâmina de machado como itens
evidências relacionados entre si (Tabela 1). para utilização na vida postmortem; o bloco lítico

TABELA 1
Reconstrução hipotética de um sepultamento*
Eventos Evidências ou Vestígios

1 - Morte do indivíduo 1 - Não observável; inferida pelos dados


osteológicos
2 - Produção de lâminas e um raspador a alguma 2 - Ausência de sinais de uso em lâminas
distância do local do sepultamento encontradas em estrutura anômala a alguma
distância do sepultamento. Ausência dessas
lâminas no interior da cova
3 - Coleta de hematita, limonita e blocos líticos 3 - Não observável
4 - Abertura da cova para o sepultamento 4 - Dado observado in situ
5 - Borrifamento de ocre no fundo da cova 5 - Dado observado in situ
6 - Transporte do cadáver para o local do 6 - Posição do corpo, da cabeça e disposição
sepultamento e deposição do mesmo em dos membros observáveis in situ
posição fletida e cabeça voltada para o norte
7 - Deposição de artefatos na cova como colar de 7 - Os artefatos achados in situ estavam
dente perfurado de animal, osso trabalhado e depositados junto do úmero esquerdo. Os
bloco lítico usado para moer ocre; uso de dentes perfurados de animal estavam alinhados
vestimenta para o corpo do falecido ou para ao redor das vértebras cervicais, sugerindo que
os participantes do funeral; realização de foram confeccionados para adornar o cadáver
banquete funerário para os participantes ou já eram adornos pessoais do falecido em
vida. Costelas de animais apresentavam sinais de
raspagem e estavam depositadas na cova, sobre
o corpo. Um bloco lítico encontrado apresenta
sinais de uso e intensa pigmentação por ocre
8 - Cobertura do cadáver ou partes do mesmo 8 - Dado observado in situ
com ocre
9 - Fogo aceso dentro ou perto da sepultura, 9 - Solo e ossos de animais carbonizados foram
ocasionando a queima parcial do cadáver ou encontrados no interior e sobre a cova,
de ossos de animais depositados sobre ele recobrindo artefatos fragmentados e o esqueleto
10 - Preenchimento da cova 10 - Dado observado in situ

*Os eventos não estão em ordem cronológica, podendo ter ocorrido simultaneamente.
Fonte: adaptado de Breternitz et al. (1971:179).

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usado como moedor para produção do material relações de proximidade do enterramento com
corante presente na sepultura; o ocre como as demais estruturas arqueológicas, como as
cosmético ou pigmento de caráter simbólico; líticos de habitação e os outros enterramentos. Os
com sinais de uso podem apresentar uma inclusão materiais contidos no interior, sobre, sob ou ao
inespecífica na cova mas, também, representar os redor da cova e do corpo indicam associações
bens que pertenciam ao falecido. Essas evidências referentes às práticas mortuárias – e parcelas
ou vestígios representam dados mortuários para a de eventos rituais – e que necessariamente
formulação de variáveis de contexto e de laborató- devem ser documentados e estudadas as suas
rio que possam ser analisadas e relacionadas relações mediante análises que considerem os
durante esse processo de interpretação de deposi- enterramentos inter e intragrupo, em macro e
ções funerárias. microgrupos. Essas variáveis são expressas
Um dos pré-requisitos para iniciar discussões pelas terminologias e classificações comumente
sobre um dado complexo cultural, um estudo utilizadas em arqueologia para os vestígios
comparativo ou de descrição sobre os vestígios funerários e que podem ser revistas anos
funerários é a existência de um sistema de classifi- depois da realização das etapas de campo, por
cação e uma nomenclatura próprios, mais ou menos meio da documentação produzida.
conhecidos entre os arqueólogos. Neste artigo,
b) Variáveis de laboratório – do material
procuramos definir e demarcar os termos usados na
ósseo humano –, como os dados sobre os
descrição das manifestações arqueológicas dos
graus de desgaste dentário, osteométricos e
enterramentos humanos a serem observados a
osteoscópicos, sobre sexo, idade, estatura,
posteriori, por meio da análise de documentos
análises físico-químicas e microscópicas em
visuais produzidos em antigas escavações.1 Esses
estudos avançados sobre DNA, isótopos
termos restringem-se a dois conjuntos de variáveis
estáveis de determinados elementos químicos
a saber:
presentes nos ossos e dentes indicadores de
a) Variáveis de campo – do contexto dietas características, patologias e lesões
arqueológico do sepultamento – formadas intencionais, acidentais ou de origem
pelos vestígios biológicos e culturais em fisiopatológica que dimensionam estudos sobre
inserção contextual, em suas relações espaciais paleodieta, paleogenética, paleopatologia e
e de situação. Registradas por meio de paleodemografia. Para Sharer e Ashmore
sistemas de documentação diversos, referem- (s.d), White (1992, 2000), Chamberlain
se aos dados de localização (sítio, setor, (1996), entre outros, a prática de laboratório
quadra, quadrícula, cota crânio), datas da sobre as coleções esqueletais é indispensável.
evidenciação e exumação, número do Essas variáveis estendem-se à caracterização
enterramento, tipo de deposição, número de tipológica dos acompanhamentos funerários,
indivíduos depositados na mesma cova, dada pela análise morfológica, morfométrica e
conexão anatômica do esqueleto, orientação quantitativa dos artefatos osteodontomalacológicos
do corpo (eixo crânio-bacia), da face e do e líticos, entre outros. Os acompanhamentos
crânio; posição do corpo, disposição pelo grau fornecem dados sobre seu uso como objeto
de flexão dos membros e posição de suas ritual funerário, de uso cotidiano ou adornos;
extremidades, dimensões, orientação e procedência, indicando as áreas de captação
conteúdo da cova, tipo e distribuição dos de matéria- prima; sobre a caracterização
materiais associados junto ao esqueleto e as tecnológica do grupo; sobre sua freqüência em
relação ao sexo, idade e posição social, bem
como inferem situações de contatos culturais e
possíveis formas de subsistência baseadas nas
(1) O uso dos documentos visuais produzidos nas
escavações realizadas em Tenório, Piaçaguera e Buracão,
atividades de caça, coleta, pesca e/ou horticultura.
sítios arqueológicos do litoral do estado de São Paulo, As unidades representadas pelas variáveis de
escavados por pesquisadores do IPH e MAE-USP entre
campo e de laboratório constituem as informações
as décadas de 1960 e 1970, prescindiu das formulações
estabelecidas neste artigo, compondo os objetos de sobre o contexto arqueológico dos vestígios
estudo do autor. funerários e suas características tipológicas,

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biológicas específicas. O potencial de análise e estudos dietários, em paleodemografia, paleopatologia


interpretação dos sepultamentos humanos é e alterações de origem cultural que deixaram suas
esquadrinhado pela relação entre os elementos da marcas no material ósseo, como as deformações
tríade componencial: corpo/cova/acompanhamentos cranianas, desgastes extramastigatórios das coroas
funerários. Os remanescentes biológicos e culturais dentárias, traços de tratamentos médicos e rituais,
associados com os sepultamentos e suas relações como as trepanações cranianas e a cremação.
espaciais podem sugerir hipóteses sobre a recons-
trução de eventos ocorridos desde a morte até a
finalização dos rituais funerários (Breternitz et al. 1971). Uma diversidade de sugestões e modelos:
Em estudos arqueológicos os dois conjuntos busca pela exclusividade
de variáveis tornam-se complementares. A correla-
ção entre os dados desses dois conjuntos de Foi de Sprague2 (1959; 1965; 1968) a
variáveis depende da forma de abordagem e dos proposta de um modelo classificatório amplo para
problemas formulados durante cada pesquisa. descrever os enterramentos humanos, procurando,
Assim, em estudos sobre a presença, forma e através de uma tabela, auxiliar na comunicação
localização de facetas articulares anômalas na tíbia sistemática das variabilidades das práticas funerári-
e tálus de esqueletos pré-históricos relacionam-se as e à caracterização dos seus vestígios no sítio
com as posturas e estas com as atividades, o sexo arqueológico. Evidentemente, esse autor não
e as idades dos indivíduos, a época do ano e descarta a possibilidade de posteriores acréscimos
periodicidade de eventos culturais, bem como com e alterações ao modelo sugerido, concordando que
as formas de subsistência e herança genética (Mello as formas de abordagem dos vestígios funerários
e Alvim e Uchôa, 1998). em contexto arqueológico possuem suas peculiari-
Procurando rever as terminologias e classifica- dades, dependendo do arqueólogo, instituição, da
ções para a descrição de sepultamentos humanos equipe envolvida e dos problemas a serem solucio-
por meio de seus registros visuais ou observação nados.
direta em contexto arqueológico, não poderíamos Esse autor publicou uma revisão sobre os
desconsiderar as sugestões emitidas por Sprague sistemas de descrição das formas de deposição do
(1968), Ubelaker (1996), Lothrop (1954), Tainter morto, apontando terminologias ambíguas e
(1975), Haglund (1976), Robinson e Sprague problemáticas. Resumiu essas informações de
(1965), Swedlund e Wade (1972), Blackwood e modo a uniformizar um esquema de modelo com 11
Simpson (1973), Barker (1977), Heizer (1950), itens para ser continuamente aplicado em campo e
Brothwell (1981), Joukowsky (1986), Heizer e complementado em laboratório.
Graham (1967), Griffin e Neumann (1942), Binford Em contexto arqueológico as categorias a
(1971), Saxe (1971) e Cheuiche (1984). Esses serem observadas e documentadas sobre os
trabalhos, embora apresentem algumas divergências enterramentos humanos, com a aplicação de
quanto aos sítios arqueológicos escavados e, em terminologias e classificações sugeridas por
conseqüência, quanto à forma de abordagem das Sprague(1968) constam na Tabela 2.
terminologias funerárias de contexto arqueológico, Em laboratório, as categorias sugeridas por
acordam sobre suas definições, representando uma Sprague (1968) referem-se a: a) demografia; b)
considerável contribuição para o entendimento e sexo e idade; c) antropometria; d) patologias e e)
utilização dos termos normalmente aplicados aos anomalias. Este esquema classificatório não
vestígios funerários. pretende esgotar as possibilidades descritivas de
Buikstra e Ubelaker (1994), White (1992), análise e interpretação dos vestígios funerários,
Bass (1987), Steele e Bramblett (1989), Brothwell
(1981) definiram os atributos básicos a serem
registrados sobre os esqueletos em laboratório,
buscando esquadrinhar os potenciais interpretativos (2) Professor de Antropologia na Universidade de
Washington, Roderick Sprague dedicou-se ao estudo
e analíticos das coleções esqueletais de procedência
cultural baseado na análise e descrição de centenas de
arqueológica quanto aos aspectos morfoscópicos e sepultamentos e dos acompanhamentos funerários de
morfométricos, patológicos, da diagnose sexual e grupos indígenas dos Estados Unidos, bem como em
cálculo etário, bem como princípios necessários aos arqueologia histórica.

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TABELA 2
Terminologias e classificações para sepultamentos humanos em contexto arqueológico

1 - Forma da deposição A – Deposição simples ( primária) a) Inumação primária; b) Deposição


aquática; c) Deposição superficial
B – Deposição composta a) Por processos redutivos:
(secundária) enterramento e subseqüente desenter-
ramento; exposição ao ar; exposição
aos animais; descarnamento mecâni-
co; cremação; decomposição
química; b) Deposição secundária:
inumação; aquática; superficial

2 - Localização da área da
deposição

3 - Preparação do corpo

4 - Veículo ou invólucro do
corpo para a deposição

5 - Individualidade (número A - Fragmentário ou parcial (restos


mínimo de indivíduos) esparsos); B - Simples; C - Duplo;
D - Triplo; E - Múltiplo (com
esqueletos articulados); F - Em
massa (com esqueletos desarticu-
lados)

6 - Articulação do esqueleto A - Articulado; B - Semiarticulado;


(ou por região) C - Rearticulado; D - Desarticu-
lado; E - Perturbado

7- Disposição dos membros A - Grau de flexão a) Estendido; b) Semi-fletido;


c) Fletido; d) Fortemente fletido
B - Disposição dos membros a) Estendidos ao longo do corpo;
superiores b) Cruzados sobre a pelve;
c) Dobrados sobre o tórax; d) Mãos
C - Rotação da cabeça sobre a face

8 - Posição do corpo A - Horizontal


B - Vertical a) Decúbito dorsal; b) Decúbito
ventral; c) Decúbito lateral direito;
d) Decúbito lateral esquerdo
a) Sentado

9 - Orientação A - Cova; B - Corpo; C -


Envoltório do corpo

10 - Materiais associados A - Tipo; B - Quantidade


(freqüência); C - Disposição
(localização)
Fonte: adaptado de Sprague (1968: 483).

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mas, antes, sugerir um conjunto de variáveis, deposição dos remanescentes em urnas,


voltadas predominantemente ao contexto de enterramento superficial, cremação ou queima
campo, comum nas pesquisas arqueológicas. parcial, sepulturas aérea e aquática. Entretanto,
Torna-se desejável analisar o contexto da deposi- suas proposições não são mutuamente exclusivas,
ção funerária, antes mesmo de analisar e esquadri- podendo ocorrer embalsamamentos seguidos de
nhar estatisticamente os ossos por eles mesmos. inumação, entre outras deposições simultâneas ou
Para a descrição dos enterramentos em sucessivas e que deixam sua marca no contexto
arqueologia, Ubelaker (1996) recorreu às termino- arqueológico.
logias e classificações sugeridas nos trabalhos de No início do século XX, Orr (1919) sugeriu a
Griffin e Neumann (1942), Bass (1962) e Sprague seguinte classificação das formas de enterramento:
(1968). Assim, referindo-se aos enterramentos cremação, embalsamamento ou mumificação,
primários, o autor procurou demonstrar a importân- enterramento em cova, enterramento superficial,
cia da observação e mensuração dos artefatos deposição em árvores e andaimes, deposição ou
associados ao esqueleto, das características, abandono do corpo na água, enterramento em
proporções e orientação da cova, da textura e urna, freqüentemente associado com cremação e
coloração dos sedimentos depositados no seu banquete funerário dos ossos do morto.
interior e especificamente sobre a exposição do Kroeber (1927), estudando a distribuição
esqueleto, seu registro fotográfico, descrição, geográfica, variabilidade e mudança cultural dos
localização, forma de deposição, posição, orienta- costumes de enterramento e cremação entre grupos
ção, profundidade, mensurações, coletas de étnicos na América e África, considerou os centros
amostras e outros procedimentos durante as de freqüência ou caracterização das várias formas
escavações, como, por exemplo, a observação e de práticas funerárias e suas mudanças decorrentes
registro prévio das condições patológicas dos de contatos e implementos culturais entre diferentes
ossos, presença de materiais perecíveis conserva- grupos populacionais. Outro caráter observado por
dos, manchas de solo e itens não culturais ou Kroeber (1927) para caracterizar as práticas
“inclusões naturais”. funerárias foi a longa duração temporal, com
Entre os primeiros estudos sobre as terminologias pequenas modificações das suas instâncias, como,
e classificações, aplicáveis aos sepultamentos humanos, por exemplo, no Egito pré-dinástico, o neolítico na
temos o trabalho de Barber (1877). Esse autor Europa e a Cultura Pueblo, na América. Os
sugeriu quatro métodos básicos de enterramentos métodos de deposição dos mortos seriam molda-
ou formas de deposição: inumação (subterrânea), dos e influenciados por intrusões de grupos
cremação (subterrânea), embalsamamento migrantes, dissociação do grande bloco de
(subterrâneo) e aéreo (acima do solo). atividade cultural da vida econômica e material, nos
Yarrow (1881) discriminou sete formas de seus aspectos de subsistência, pelos outros
enterramento: inumação,3 embalsamamento, costumes conectados com o morto como os tabus,
a destruição da sua propriedade e as cerimônias
posteriores ao sepultamento. Foram discriminadas,
na América do Sul, as seguintes formas de deposição
(3) O termo inumação (inhumation) pode ser definido
como a prática de enterramento do morto que difere da do morto: enterramento simples, enterramento
cremação e da exposição do corpo em andaimes ou secundário, sepultamento em urna, sepultamen-
árvores. Pode ocorrer em cova escavada, câmara natural to secundário em urna, enterramento primário
ou nicho. Outros termos usados comumente para ou secundário na área interna da habitação do
descrever as inumações ou enterramentos são: estendidos morto, mumificação, cremação, cremação
(com os ossos da coluna vertebral e das pernas dispostos
mais ou menos em uma linha reta), fletidos (com os ossos
secundária, “eating of ashes” (em cinzas de
o banquete funerário) e “scaffold exposure”
das pernas fletidos a menos que 90 ), agachados –
crouched – (com as articulações do quadril e do joelho (exposição em andaime funerário). O enterramento
fletidos em ângulo maior que 90 graus), estendido em simples de Kroeber (1927) deve ser entendido
supinação (de costas), de bruços (sobre o ventre) ou de como enterramento primário, não tendo relação
lado. O termo inumação (inhumation burial) refere-se,
com o número de indivíduos depositados na mesma
também, aos tipos de inumações em pequenos potes (jar
burial), comuns na Itália, que diferem dos enterramentos cova. Tanto a cremação, a mumificação, quanto o
em urnas (urn burial) e da cremação. enterramento em urna ou na habitação do

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morto sugeridos por Kroeber referem-se às XX, tanto por arqueólogos, quanto por antropólo-
variações de enterramentos primários. gos e paleontólogos. Segundo Comas (1957), os
Griffin e Newmann (1942) fizeram os primei- dados a serem registrados pelo antropólogo sobre
ros esforços para identificar e sugerir uma classifi- os enterramentos humanos in situ são: 1) número
cação e uma terminologia úteis aos estudos das do enterramento; 2) localização; 3) profundidade
práticas e descrição dos vestígios funerários. em relação à superfície do sítio; 4) profundidade
Criticados por Sprague (1968), esses autores não em relação às estruturas depositadas sobre o
apresentaram, assim como os anteriores, categorias enterramento (pisos de pedra, lápides etc.); 5)
mutuamente exclusivas. Aceitaram a inumação presença ou ausência de cova; 6) estado de
como uma categoria exclusiva, distinta da crema- conservação dos ossos (indicando quais as partes
ção. A cremação pode ser entendida como um que se conservaram e as que não); 7) idade
método de tratamento e redução do corpo para sua fisiológica e, se possível, o sexo; 8) classe ou tipo
posterior deposição. Assim, Sprague (1968) de enterramento: primário (completo ou incom-
sugeriu que qualquer esquema sobre a deposição pleto) que apresenta os ossos em conexão anatômica;
do morto deve utilizar dois termos distintos: secundário, onde não existe conexão anatômica e
deposição simples, cujos métodos estão orienta- os ossos podem ser de indivíduos com diferentes
dos por um princípio básico, em determinado idades fisiológicas; 9) posição (do corpo); 10)
momento específico no tempo, e deposição orientação; 11) descrição sumária dos objetos
composta, com implicação da existência de dois ou que possam achar-se em relação com o esquele-
mais estágios distintos de deposição, semelhantes to (materiais associados). Esses dados têm se
ao enterramento seguido do desenterramento, mostrado recorrentes e com pouca variação quanto
exposição e enterramento, exposição, cremação e ao seu uso na literatura arqueológica que utilizamos.
enterramento ou cremação e dispersão das cinzas. Para a ordenação e sistematização de conjun-
São procedimentos funerários que resultam, tos de informações bibliográficas e diretas (de
respectivamente, em enterramentos primários e campo) sobre os tipos de enterramentos em
secundários. estruturas monticulares e visando descrever o
O problema está em desenvolver um alfabetismo material ósseo humano exumado de quatro cerritos
visual suficiente para distinguir e documentar, durante as escavações da Comisión Rescate
mediante a análise dos dados observáveis expostos Arqueológico de la Cuenca de la Laguna Merín
no contexto arqueológico e das características dos entre os anos de 1986 e 1989 na região de San
vestígios funerários, a presença de uma primeiridade Miguel, Argentina, Femenías et al. (1990) propôs
ou secundidade da deposição funerária e da dez categorias a serem observadas durante a
intencionalidade na deposição dos materiais exposição, registro e remoção de vestígios
associados no enterramento. Uma das técnicas que funerários em contexto arqueológico (Tabela 3) que
auxiliam nesse processo é o da evidenciação complementam as de Sprague (1968), em especial
sistemática dos vestígios arqueológicos pela sobre as inumações.
decapagem e do total controle e/ou administração Heizer (1950) ao descrever os aspectos mais
das técnicas de documentação visual por parte do importantes da exposição, registro e remoção de
arqueólogo ou do bioarqueólogo. enterramentos em campo, sugeriu dois tipos de
Nesse sentido, voltado à utilização de métodos deposição funerária a serem registrados, o
e técnicas empregados pelo bioarqueólogo para enterramento e a cremação (Tabela 4).
obtenção de séries esqueletais durante sua atuação Mais tarde, Heizer e Grahan (1967) sugeriram
na pesquisa arqueológica, Comas (1957) descre- quatro tipos básicos de enterramentos: primários,
veu cinco momentos que devem ser considerados secundários, múltiplos e as cremações.
em campo e em laboratório: o da descoberta, do Nos enterramentos primários (primary
registro dos dados, exumação, identificação e interment) os ossos do esqueleto apresentam-se
caracterização dos enterramentos em tumbas e da articulados. O corpo teria sido depositado na cova
restauração do material ósseo humano (Romero, antes da decomposição, nas posições contraído ou
1939; Angel, 1943). Esse autor privilegiava os fletido, estendido ou sentado, de frente, lado ou de
estudos craniológicos e osteológicos, comuns costas. Mediante um estudo sistemático dos ossos,
desde fins do século XIX à segunda metade do após sua exposição, torna-se possível descrever e

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TABELA 3
Ordens de categorias, tipos e características das inumações

1- Modalidade de inumação a) Individual


b) Múltipla
2 - Tipo de inumação a) Primária – esqueleto fortemente fletido, levemente fletido ou
estendido
b) Secundária – em pacotes ou em urnas
c) Indeterminada – material ósseo isolado
3 - Grau de perturbação a) Não perturbada
b) Pouco perturbada
c) Muito perturbada
4 - Estado de conservação a) Bom
b) Regular
c) Mau
5 - Modificações a) Queimado
b) Presença de CaCO3
c) Fragmentado-fraturado
d) Outras
6 - Posição a) Decúbito dorsal
b) Decúbito lateral – direito, esquerdo
c) Decúbito ventral
7 – Orientação a) Crânio ou eixo crânio-bacia em relação aos pontos cardeais,
colaterais e subcolaterais
8 - Materiais associados a) Tipo (morfoscopia, morfometria, matéria-prima)
b) Localização junto ao esqueleto
9 – Sexo a) Feminino
b) Masculino
c) Indeterminado
10 - Idade (grupos etários ou em anos) a) Criança
b) Jovem (adolescente)
c) Adulto
d) Adulto maduro
e) Velho

Fonte: adaptado de Femenias et al. (1990).

precisar a posição do corpo na época em que foi intencional das partes moles por exposição,
depositado na cova. Corpos enterrados nessas decomposição por bactérias e que foram posterior-
circunstâncias podem sofrer, a posteriori, mumificação mente depositados em uma cova. Os ossos do
natural, como os escavados por Lythgoe (1965). esqueleto não estão em conexão anatômica normal.
O enterramento secundário (secondary Os enterramentos múltiplos (multiple interment),
interment) caracteriza-se, geralmente, pela tratados em especial por Ubelaker (1974 e 1981) e
presença de um pacote ou fardo (bundle), que Heizer e Graham (1967) ocorrem quando uma
resultou da coleta dos ossos após a remoção única cova contém remanescentes esqueletais de

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TABELA 4
Tipos de deposições funerárias
1 – Enterramento 2 – Cremação

a) Primário (remanescentes físicos de um corpo articulado): b) Secundário a) Primária b) Secundária


- Estendido (dorsal ou ventral)
- Semi estendido
- Semifletido
- Fletido (dorsal, ventral, lateral direito , lateral esquerdo)
- Sentado

Fonte: adaptado de Heizer (1950).

vários indivíduos (acima de três), enterrados retomada e desenvolvida por Ubelaker (1996).
simultaneamente. Esse tipo de enterramento indica Assim, um enterramento pode apresentar o esqueleto
a morte de muitas pessoas em decorrência de uma cremado, sendo primário ou secundário. A cremação
mesma causa, epidemias ou guerras. O termo é considerada como mais um tipo de enterramento.
“múltiplo”, referente ao número de indivíduos Brothwell (1981) reuniu os muitos tipos de
contidos em uma mesma cova, assim como enterramentos humanos em cinco grupos (Tabela 5).
“simples”, “duplo” e “triplo”, não é um tipo de Esses tipos foram classificados pelos critérios
deposição, como descreveu Sprague (1968). de articulação do esqueleto, invólucro do corpo
Portanto, não deve ser entendido como um dos três (urna etc.), posição do corpo e disposição dos
tipos básicos de enterramento, mas como uma membros, condições da deposição e tratamento do
outra distinção referente aos tipos de enterramentos corpo, como o descarnamento (caso 5). O tipo 1
primários e secundários, aplicando-se a ambos. de Brothwell (1981) refere-se aos enterramentos
A distinção entre os enterramentos (primários, secundários. Os tipos 2 a 5 constituem enterramentos
secundários e múltiplos) e cremações como tipos primários. Em Brothwell (1981) o termo
exclusivos, criticados por Sprague (1968) foi “enterramento” refere-se ao corpo.

TABELA 5
Tipos de enterramentos humanos
1 - Remanescentes 2 - Enterramento 3 - Enterramento 4 - Enterramento 5 - Outros tipos
fragmentados estendido fletido contorcido de enterramentos

Esparsos ou em A orientação (eixo Usualmente o É uma das numero- Referem-se a


urnas crânio-bacia) em corpo está sas posições outros tipos
um grupo de distintamente atípicas em que o incomuns de
enterramentos deitado de lado, corpo pode estar posições, relacio-
pode ou não ser com membros posicionado. A nadas à posição
similar. Podem superiores e postura anormal que o morto
ocorrer inferiores fletidos, denota costumava repetir
posicionamentos em posições enterramentos feitos em vida, e outras,
especiais dos geralmente não às pressas, ou de que só podem ser
membros superio- especiais ou vítimas de batalhas realizadas em corpo
res e da cabeça diferentes para e acidentes, já em já esqueletizado ou
cada membro rigidez ou decom- mumificado e
posição cadavérica amarrado

Fonte: adaptado de Brothwell (1981).

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Assim teremos, segundo Heizer (1950), Segundo Ubelaker (1996), os enterramentos


Heizer e Grahan (1967) e Ubelaker (1996) seis tipos humanos são classificados em três tipos básicos:
básicos de deposições funerárias: enterramento enterramentos primários, enterramentos
primário, enterramento secundário, enterramento secundários e cremações. Esse autor procurou
múltiplo primário, enterramento múltiplo demonstrar a importância da delimitação e obten-
secundário, cremação primária e cremação ção de dados sobre a cova durante o processo de
secundária. Os caracteres da presença ou exposição do esqueleto.
ausência predominante de conexão anatômica O termo “enterramento secundário” foi
(enterramentos primário e secundário), do número definido por Ubelaker (1996), Almagro (s.d),
de indivíduos enterrados na mesma cova Heizer (1950) e Heizer e Grahan (1967) e aplica-
(enterramento múltiplo) e do tipo de tratamento dos por Uchôa (1973) e Machado (1984).
recebido pelo cadáver (cremação) seriam Descrito por Sprague (1968) como deposição
determinantes nesta classificação. Esse número de secundária, uma das formas de deposição
tipos de deposição aumentaria se considerarmos composta, não deve ser confundido com os
os termos simples, duplo e triplo, empregados enterramentos simples, duplo, triplo ou múltiplo,
para distinguir o número de indivíduos enterrados, que são indicadores do número de indivíduos
bem como se considerarmos as outras formas de depositados na mesma cova e numa mesma
tratamento do corpo antes da sua deposição e a seqüência funerária. Assim, “también hay
articulação e desarticulação conjuntas num mesmo inhumaciones secundarias, es decir, que se
esqueleto. realizan tras una deposición del cadáver en
Uchoa (1973) distinguiu quanto aos tipos algún lugar, y cuando se há corrompido o se lo
enterramento primário e secundário se são han comido los animales, se realiza la inhumación
simples, duplos, triplos ou múltiplos, de acordo definitiva de los restos”. (Almagro, s.d.: 254).
com o número de indivíduos depositados na mesma Segundo Heizer e Grahan (1967) caracteriza-
cova. Um enterramento múltiplo, assim como a se o enterramento secundário como resultado da
cremação, não constituem tipos de enterramentos. coleta de ossos cujas partes moles foram removidas
O termo “múltiplo” refere-se ao número de intencionalmente, pela exposição, ação de bactérias
indivíduos depositados na cova, assim como e que foram depositados em uma cova. Esses
“cremação” é um processo redutivo de preparação ossos não apresentam conexão anatômica entre si.
do corpo empregado no caso de uma deposição Apresentam-se sob a forma de “bundle burials”.
composta (Sprague, 1968). Para a autora, os Ubelaker (1996) que pesquisou os
sepultamentos sempre equivalem ao próprio grandes ossuários do sítio Juhle em Mariland, entre
esqueleto. Assim, o número de sepultamentos em 1971 e 1972, e os conteúdos das urnas do
um sítio dado é exatamente o mesmo dos esquele- cemitério de Ayalan, na costa sul do Equador,
tos ou indivíduos exumados. definiu os enterramentos secundários e delimitou
Os vestígios funerários evidenciados em seus problemas . Para Ubelaker:
campo sob a forma de ossos cremados, podem
“Secondary inhumation consists of
constituir cremações primárias, em que os ossos
non-articulated collections of bones. They
do esqueleto foram queimados na cova, “verdes”
represent a complicated method of treatment
(com a medula óssea), em conexão anatômica (e
of the dead involving two or more stages.
possivelmente com as partes moles do corpo) ou
The first is removal of the flesh, which may
secundárias, caracterizadas por sucessivas etapas:
be accomplished with tools or by allowing
cremação dos ossos ou do corpo; posterior
decomposition to proceed naturally above
recolhimento; deposição dos restos em covas e
or below ground. The second stage is
urnas. A presença de partes queimadas ou crema-
collection or disinterment of the bones,
das do esqueleto podem indicar a presença de
which may be kept briefly or for many
estruturas de fogueira associadas ao enterramento,
years. The third stage is reburial individually
muito próximas, como elemento da prática funerária
or in a mass grave” (Ubelaker 1996:20).
do grupo ou como processo pós-deposicional de
origem natural ou antrópica contemporâneas ou não Nesse caso, a presença de partes articula-
à época do enterramento. das do esqueleto pode ser observada devido aos

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TABELA 6
Tipos de enterramentos humanos
1 - Enterramento primário 2 - Enterramento secundário

A - Estendido A - Pacote ou fardo de ossos , “bundle-burials” :


a) vertical, b) horizontal
B - Parcialmente desarticulado, rearticulado ou B - Ossos esparsos
anômalo
C – Fletido C - Cremado

Fonte: adaptado de Haglund (1976).

métodos de descarnamento e decomposição primário e do secundário. Em Sprague (1968), a


empregados. Estes podem resultar na permanência cremação é um dos processos de tratamento por
de facetas articulares e discos intervertebrais unindo redução do corpo, constituindo a forma de
alguns ossos. apresentação de vestígios humanos em deposições
Ainda, considerando a definição do compostas ou secundárias.
enterramento secundário, para Martín (1994): Os fardos de ossos ou bundle-burials,
dispostos na horizontal ou vertical, foram conside-
“Nas sociedades indígenas americanas,
rados por Haglund (1976) como uma das categori-
os rituais fúnebres foram variados e
as de enterramento secundário. Essa categoria é
complexos e os enterramentos primários
bastante significativa para a compreensão do
são equivalentes em número aos secundári-
enterramento secundário, classificação recorrente
os, nos quais realiza-se um segundo
na literatura arqueológica. Assim, a descrição dos
enterramento depois da perda das partes
bundle-burials oferecida pela autora pareceu-nos
brandas do corpo, ritualizando-se o esquele-
significativa:
to” (Martín 1994: 30).
“ The corpse had, in most cases, been
Tipos diferentes de enterramentos4 e de
dismantled completely, the bones rearranged
cerimônias funerárias implicam em diferentes
and then bound with some wrapping
formas de tratamento, disposição e deposição do
material, probably bark or skin, into a
corpo. Assim, segundo Haglund (1976), escavan-
compact bundle. In all examples, the
do um sítio cemitério aborígene em Broadbeach,
wrapping had disappeared but can be
Austrália, os enterramentos humanos foram
inferred from the shape of the burials (...)
classificados em dois tipos, como observamos na
The skull, usually upright, rested on top of,
Tabela 6.
or just within, the top part of a bundle of
Nesta perspectiva, os remanescentes crema-
postcanial bones (...) The mandible was just
dos são uma categoria de enterramento secundário.
below the skull but had been separated from
Para Ubelaker (1996), a cremação constitui um it(...) The long bones formed the vertical
tipo diferenciado de enterramento, ao lado do ‘walls’ of the bundle, but were often maned
in two groups at the front and back of the
skull, giving the bundle na oval cross
(4) Entenda-se enterramento como sinônimo de sepulta- section(...) The central core consisted of
mento e de inumação. O termo sepultamento parece mais ribs, vertebrae, scapulae, clavicules, bones
amplo, não incluindo somente a inumatio (tornar húmus), of hards and feet , and other smaller
mas quaisquer formas de deposição do corpo. Assim, bones(...) Sometimes two or more vertebrae
deposição é sinônimo de sepultamento bem como
were found in such a position that they must
enterramento é sinônimo de inumação. Todo enterramento
e toda inumação é uma deposição ou sepultamento, mas, have been held together by ligaments or
nem todo sepultamento ou deposição é um enterramento other incompletely decomposed soft
ou inumação. tissue(...)” (Haglund 1976 : 9)

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A categoria partly dismantled ou dismembred Kaiapó não devem ser confundidos com as
de enterramento primário definida por Haglund definições dos enterramentos secundários descritas
(1976) implica em remanescentes de esqueletos anteriormente. Para Banner (1961):
cujos membros e porções articuladas do tronco
“(...) os índios se servem de uma
foram dispostas parcialmente em conexão anatômica
sepultura velha para um segundo enterro.
normal. Trata-se de uma forma de vestígio resultan-
Quando restos do primeiro ocupante ainda
te de uma deposição composta, associada à
estão na esteira com que o jazigo foi
aplicação de processos redutivos do corpo, como
forrado, esta é retirada com cuidado.
o enterramento seguido de desenterramento,
Enquanto os homens cavam mais alguns
descarnamento ou decomposição química, propos-
centímetros para dar ao túmulo aspecto
tos por Sprague (1968). A presença da manipula-
novo, as mulheres vão remexer a cinza
ção dos ossos e partes desarticuladas do corpo,
humana, catando as contas e miçangas que
antes do enterramento definitivo, em que o corpo
sobreviveram à decomposição do dono!
não teria sido enterrado com os ossos normalmente
Depois do novo ocupante estar em posição,
articulados, caracterizaria, para outros autores
os restos do primeiro voltam novamente à
como Ubelaker (1996) e Heizer e Grahan (1967),
terra, despidos de todos os enfeites e
uma categoria de enterramento secundário.
deixados ao lado daquele que agora ocupa
A intencionalidade antrópica em relação à
o primeiro lugar (...) quando uma pessoa de
deposição e disposição do corpo já tratado,
destaque morre em viagem, e precisa ser
descarnado e desarticulado, pode ser confundida
enterrada num lugar onde não há outra
em contexto arqueológico com desmembramentos
sepultura, os parentes poderão voltar mais
do esqueleto originários dos processos mais
tarde, a fim de levar a ossada para fazer
avançados da decomposição cadavérica –
novo enterro onde terá a companhia de
esqueletonização, em especial aos corpos deposita-
qualquer outro morto”. (Banner 1961: 45-46)
dos verticalmente em relação ao plano do solo, que
podem sofrer desmantelamento parcial dos Esqueletos desarticulados de crianças,
membros, crânio e coluna vertebral. Os corpos pintados com ocre, depositados junto com
dispostos verticalmente podem apresentar, in situ, esqueletos de adultos podem ser resultado,
o aspecto estrelado, com queda dos membros segundo Banner (1961) de um tratamento dado
superiores sobre os inferiores. pela própria mãe que desenterra seu filho e o
Haglund (1976) distinguiu, ainda, outros guarda até conceber outra criança, quando volta a
elementos caracterizadores das práticas funerárias enterrá-lo, desta vez com um parente adulto. Trata-
dados pelos tipos de cova (de forma horizontal, se de um enterramento não coletivo como afirma
vertical, suas dimensões e orientação do eixo Montardo (1994), mas de um enterramento
principal) e os materiais associados. secundário simultaneamente a um primário, uma
Determinados procedimentos mortuários modalidade mista com procedimentos tanto das
resultam em vestígios ósseos não articulados ou inumações primárias quanto das secundárias.
partes isoladas – restos esparsos e articuladas do No caso dos enterramentos secundários, o que
esqueleto, indicando uma seqüência complexa de incluiria as cremações segundo Haglund (1976) ou
eventos ocorridos entre a deposição e a escavação as excluiria (Ubelaker 1996), dois critérios
do enterramento no contexto arqueológico. Seu classificatórios propostos por Sprague (1968) são
registro decorre de perfis longitudinais e transver- importantes: o da individualidade e da articula-
sais, assim como da planta baixa da área, com o ção. A individualidade relaciona-se à determinação
quadriculamento e a precisa identificação da do número mínimo de indivíduos envolvidos num
posição dos ossos desarticulados para a reconstituição mesmo recipiente (urna, tumba, esteira, estojo) e
da maneira e a seqüência da deposição e a cova. Seu grau varia em fragmentário (unidades
descrição das práticas funerárias e suas alterações ósseas e fragmentos), parcial (unidades ósseas
tafonômicas (Roksandic 2002). articuladas), simples (individual), duplo, triplo,
Os enterramentos perturbados por outro múltiplo e em massa.
enterramento exemplificados por Montardo (1994) Rohr (1960:19), ao escavar o sambaqui de
através dos estudos de Banner (1961) sobre os Praia Grande, Rio Vermelho, Santa Catarina, em

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1959, descreveu-nos o enterramento secundário coleta, possível tratamento e acondicionamento e


como sendo resultado de uma segunda inumação.5 deposição das cinzas e fragmentos calcinados em
Sobre o tratamento em campo desse tipo de pequenas covas.
enterramento, Romero (1939) já alertava sobre as Cremação é uma prática de queimar o morto,
seguintes observações: a) quando o enterramento é representada no contexto arqueológico por
secundário, assim como para o primário, a distri- aglomerados de ossos humanos queimados,
buição dos ossos in situ dita as regras para o parcialmente íntegros ou, comumente, estando
prosseguimento da escavação; b) como os fragmentados e desarticulados ou sob a forma de
enterramentos secundários quase sempre compre- cinzas que podem ter sido depositadas em urnas
endem várias camadas de ossos, o processo de cinerárias para posterior deposição (Bray e Trump
escavação se segue por níveis naturais ou artificiais; 1970). Trata-se de um dos métodos de redução do
c) o numero elevado de ossos pode indicar a corpo realizado durante ou para a sua deposição –
presença não de um enterramento secundário, mas inumação em cova, urna, entre outras. Portanto
de vários enterramentos primários, de indivíduos constitui uma categoria de enterramento secundário
com diferentes idades, que por motivos de ordem ou, excepcionalmente, primário. Almagro (s.d)
mecânica após a deposição, misturaram-se; d) definiu a cremação como mais um rito de inumação
convém registrar detalhadamente os ossos em ou modalidade de enterramento, distinguindo-a ao
croqui, identificando-os com precisão (unidade lado da primária e secundária: “Al lado de tan
anatômica, região do esqueleto, lado, direção das diversos ritos de inhumación hay otros en que el
epífises, posição dos fragmentos uns em relação cadáver es incinerado en un ushinium y luego las
aos outros); e) esses desenhos servem como guias cenizas se guardan de diversas maneras: en urnas
para a identificação do número de indivíduos cinerarias cerámicas o de piedra, en pozos, en
enterrados; f) enterramentos secundários de monumentos, o se pone simplesmente una estela en
grandes extensões devem ser subdivididos em el lugar de la pira ritual” (Almagro, s.d: 254). A
blocos separados durante a escavação, sendo cremação primária é aquela contida em seu
exumados e documentados separadamente, para substrato original, junto aos restos da pira cinerária;
posterior interpretação. a cremação secundária implica na coleta, possível
Heizer (1950), Heizer e Graham (1967) e tratamento – pulverização, quebra – acondiciona-
Ubelaker (1996) distinguem enterramentos primário mento e retirada do substrato original: os ossos
e secundário de cremação. Como o enterramento, queimados são depositados uma segunda vez,
a cremação pode ser primária, na qual o corpo foi encontrando-se incompletos, em covas restritas ou
queimado na cova e secundária, caracterizada pela em recipientes cerâmicos, sem quaisquer traços de
conexão anatômica.
Para Machado (1990), a cremação constitui
uma prática funerária que pode ser assim descrita e
(5) “(...) Segunda inumação, como usavam os homens de problematizada, em linhas gerais:
Cro Magnon e como está, ainda hoje, em uso entre os
indígenas do Amazonas e outros grupos. Esta ‘inumação “Cremações são conjuntos de ossos
dupla’ estêve em uso, há milênios na primitiva Irlanda, humanos que foram intencionalmente queima-
Creta, Alemanha, França, etc. Consistia em amarrar o dos. São considerados chamuscados,
moribundo ou o defunto, logo após a morte, de mãos e pés queimados, calcinados ou incinerados, de
encolhidos, à maneira do feto no ventre da mãe, e enterrá-lo
em terra úmida. Após um ano, decomposta a carne, o
acordo com a intensidade dos graus de
esqueleto era desenterrado, limpado de carnes, pintado de queima. Os restos cremados podem fornecer
vermelho e então ‘inumado’ segunda vez. À cerimônia da dados de valor comparativo e imediato
dupla inumação, ao que parece, procedia-se apenas por para o arqueólogo se forem estudados
ocasião da morte de um dos grandes chefes e, através de procedimentos disciplinados de
freqüentemente, era feita dentro de uma urna funerária (...),
certas tribos da Amazônia modernizaram a técnica desta
análise” (Machado 1990: 235).
dupla inumação. Em vez de enterrarem o cadáver durante A partir da identificação dos fragmentos
um ano, suspendem-no, durante uma noite, nas águas de
ósseos humanos quanto à unidade óssea a que
um rio, infestado de piranhas. Êstes peixinhos vorazes
encarregam-se de transformar o cadáver, em poucas horas, pertencem, do cálculo do número mínimo de
num esqueleto perfeitamente despido de carne”. indivíduos, a estimativa do período geral de

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idade biológica individual e a indicação de sexo, O trabalho de Shipnan, Walker e Bichell


bem como pela observação cromática dos (1985) procurou estabelecer, através da observa-
efeitos do calor e dos padrões de fraturas, ção das cores predominantes dos ossos queima-
podem ser formuladas as seguintes questões dos os intervalos das temperaturas às quais teriam
pertinentes às cremações evidenciadas em sítios sido submetidos. Kneip e Machado (1992),
arqueológicos: utilizando esses princípios, estudaram a cremação
como variabilidade nas práticas funerárias de
“ É possível dizer pela aparência dos
grupos pescadores-coletores-caçadores do litoral
ossos queimados se eles estavam ou não
do Rio de Janeiro.
descarnados quando expostos ao fogo?
A disposição do enterramento refere-se à
Pode haver indicações de desarticulação
configuração do corpo na cova. Este pode estar
intencional? Os sinais diferenciados de
disposto em decúbito dorsal, ventral, lateral direito
queima nos ossos podem indicar a posição
ou esquerdo, sentado ou estendido. A relação dos
dos restos durante a cremação e a intensi-
segmentos do corpo entre si determina a posição
dade do calor? De que modo as evidências
(Anderson, 1962:159) do esqueleto. Esta é descrita
do contexto arqueológico e o tipo de coleta
em relação a três componentes anatômicos: os
permitem esclarecer aspectos importantes
membros inferiores, os membros superiores e o
do rito funerário? Que problemas são
crânio. A posição do esqueleto é um dos critérios
enfrentados na identificação de ossos
classificatórios restritos aos enterramentos primários.
cremados e nas estimativas de idade e
O primeiro aspecto da posição do esqueleto é
sexo?” (Machado 1990: 238)
dado pelo grau de flexão, importando somente a
A estas questões, podemos incluir os próprios relação entre os membros inferiores e o tronco.
problemas enfrentados durante a utilização – Este grau, segundo Ubelaker (1996), dado pelo
observação da coloração que infere graus de ângulo formado entre o eixo da coluna vertebral
temperatura e de direcionamentos de fraturas que (do tronco, eixo crânio-bacia ou eixo forame-
indicam se a queima foi feita antes ou depois de um occipitale-sacrum) e os eixos longitudinais dos
processo de esqueletização e perda gradativa de fêmures pode ser descrito pelos termos “estendido”
matérias orgânicas do osso – e viabilidade do (Â aproximadamente 180º), “semi-fletido” (Â maior
emprego direto – sem experimentação de outros ou igual a 90º e menor que 180º), “fletido” (Â
métodos como os físico-químicos e de microscopia menor que 90º) e “fortemente fletido”6 (Â aproxi-
eletrônica – para o cálculo das temperaturas de madamente igual a 0º).
queima na própria coleção em análise e experimen- Para estabelecer limites mais precisos entre os
tações amostrais – de metodologias para a ângulos para descrever a disposição do corpo e dos
observação e descrição, análise e identificação das membros quanto à flexão, sugerimos: para estendido
temperaturas de queima dos ossos humanos como – Â maior que 135o e menor ou igual a 180o; semi-
as propostas por Shipman, Walker e Bichell fletido – Â maior ou igual a 90o e menor ou igual a
(1985), Baby (1950), Gejvall (1963), Van Vark 135o ; fletido – Â maior ou igual a 45o e menor que
(1970), Dokládal (1971) Binford (1963), Stewart 90o e fortemente fletido – Â maior ou igual a 0o e
(1979) e Ubelaker ( 1989), e empregadas em menor que 45o. Trata-se de uma regulagem angular
conjunto primeiramente por Machado (1990) . baseada nas propostas de Ubelaker (1996) e Saxe
Esse tipo de deposição, juntamente com os (1971). Este ângulo de 45o, elevado para delimitar as
enterramentos primários, secundários e “múltiplos” posições fortemente fletido e estendido para
(Heizer e Graham 1967) ou juntamente com os
enterramentos primários e secundários (Ubelaker
1996 e Heizer 1950) apresenta problemas na
observação e registro da identificação e posição (6) A classificação tightly flexed de Ubelaker (1996, p. 18,
o
dos ossos devido à intensa fragmentação, deforma- fig. 18) foi adotada para o ângulo de 10 , formado entre
ção, redução e cristalização dos mesmos, resultan- os eixos longitudinais do fêmur e da tíbia. Para os mesmos
o
eixos, um ângulo de 25 indica a categoria flexed. Para um
tes da ação do calor. O mesmo ocorre com a o
ângulo de 120 , formado entre os eixos da coluna
diagnose sexual, cálculo da idade e identificação vertebral e o fêmur, o esqueleto está semi-fletido
das patologias, anomalias e traumas. (semiflexed category).

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TABELA 7
Posição do esqueleto (attitude of burial)
Posição horizontal Posição vertical e/ou oblíqua

1 - Estendido (extended) 2 - Fletido (flexed) 3 - Sentado ou acocorado

a) Estendido em decúbito dorsal a) Fletido em decúbito dorsal a) sentado e fletido, com fêmures
(extended supine) (flexed supine) e tíbias verticalmente ao corpo
(flexed saquatting burial)
b) Estendido em decúbito ventral b) Fletido em decúbito ventral
(extended prone) (flexed prone)
c) Estendido em decúbito lateral c) Fletido em decúbito lateral
direito (extended on right) direito (flexed on right)
d) Estendido em decúbito lateral d) Fletido em decúbito lateral
esquerdo (extended on left) esquerdo (flexed on left)

Fonte: adaptado de Blackwood e Simpson (1973: 140).

Ubelaker (1996), deve ser reduzido para 15o . sempre identificadas em contexto, recebem as siglas
Assim, temos uma sugestão mais adequada: a) Sc (escápula), Cl (clavícula), P (pelve), U (úmero), R
estendido – Â maior que 165o e menor ou igual a (rádio), Ul (ulna), F (fêmur), T (tíbia), todos
180o; b) semi-fletido – Â maior ou igual a 90o e acompanhados de D ou E (direito ou esquerdo).
menor ou igual a 165o; c) fletido – Â maior ou igual Na seqüência da descrição de um enterramento
a 15o e menor que 90o; d) fortemente fletido – Â em contexto arqueológico, esses autores adotaram
maior ou igual a 0o e menor que 15o. termos específicos para o posicionamento do corpo
A posição fletida do esqueleto já havia sido (horizontal e vertical e/ou oblíqua) e dos membros
sugerida por Wilder (1905) e, juntamente com a semi- inferiores em relação a uma linha de orientação
fletida, pela “First Archaeological Conferense on the geral do tronco, bem como uma lista de posições
Woodland Pattern” de 1943. Os artigos de Wilder e gerais do esqueleto.7 Estes termos estão na Tabela 7.
Whipple (1917) apresentaram significativos avanços
sobre os pressupostos para o uso da “posição fletida”.
O termo compressed flexed body como uma (7) Os termos descritos por Blackwood e Simpson (1973)
variação do tipo de enterramento fletido (flexed para a descrição dos enterramentos quanto a sua fragmen-
burial) foi aplicado por Lothrop (1954). Sprague tação e/ou posição são: supine extended burial; unusual
(1968) propôs, antes de Ubelaker (1996), o termo kind; flexed burial lying on the left side; reclining supine
“fortemente fletido” (tightly flexed), útil quando burial (com fêmures e tíbias verticalmente ao corpo); fully
extended burial with the body in a straight line lying on
cuidadosamente definido durante sua aplicação. the right side; supine flexed burial with the head inclined
Blackwood e Simpson (1973) estabeleceram to the left; supine flexed burial; supine burial; fully
códigos para a identificação e posição das unidades extended supine burial; very fragmentary skeleton; very
ósseas do esqueleto que facilitam a leitura de fragmentary skeleton lying on the right side; fragmentary
croquis-desenhos esquemáticos dos enterramentos: prone burial; fragmentary flexed burial; fragmentary
extended supine burial; very fragmentary flexed skeleton;
na seqüência da descrição de um enterramento, os
very incomplete skeleton extending; fragmentary skeleton,
termos direito (D) e esquerdo (E) referem-se sempre apparently buried supine with the legs flexed upwards;
aos lados direito e esquerdo do esqueleto; os termos squatting burial; flexed burial with the body lying on the
superior e inferior, proximal e distal, medial e lateral right side; a prone extended burial; extended supine
são igualmente utilizáveis no senso anatômico; os burial; supine burial, apparently extended; flexed
termos por cima, em baixo, acima e abaixo, em squatting burial; fragmentary burial, apparently on the
right side; flexed prone burial; severely flexed burial lying
torno referem-se às posições das unidades ósseas on the right side, semi-prone; apparently an extended
do esqueleto na cova e em relação às demais supine burial and flexed supine burial in association with
estruturas e unidades ósseas; as unidades ósseas, other skeleton (s).

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Entretanto, segundo Ubelaker (1996), convém podendo apresentar torções em três regiões do
considerar a flexão dos membros inferiores pela corpo: na região da escápula e membros superiores
obtenção dos ângulos formados entre os eixos e da pelve (inclinados ou voltados posteriormente
longitudinais dos fêmures e das tíbias. Neste ou anteriormente) e região dos membros inferiores
procedimento são utilizados os mesmos termos (voltados à esquerda ou à direita da coluna
aplicados para os ângulos entre o eixo da coluna e vertebral) . As mãos podem estar dispostas na
os fêmures. região da cabeça ou tórax ou na região abdominal,
Saxe (1971) estabeleceu cinco códigos para pélvica e dos membros inferiores. Esses termos
descrever os graus formados pelos ângulos de para as posições aplicam-se a enterramentos
flexão entre o fêmur e a coluna vertebral, entre o primários simples, com um só indivíduo. O autor
fêmur e a tíbia, entre a coluna vertebral e os úmeros distingue outras posições para as mãos em
e entre os úmeros e as ulnas: 1 = ângulo aproxima- enterramentos duplos, acrescentando as informa-
do de 45º (médio), 2 = ângulo menor que 45º ções: mãos na região da cabeça ou coluna vertebral
(fechado), 3 = ângulo de 45º a 90º (moderado), 4 = do outro indivíduo. Entretanto, essas posições não
entre moderado e estendido (aberto), 5 = ângulo ocorrem exclusivamente para as mão direita e
de 180º (estendido). esquerda, podendo ocorrer distintas posições
A posição dos membros8 superiores (Mygoda simultaneamente, uma para cada mão.
1979: 188-189) pode ser dividida em quatro A terceira categoria de posições está relacio-
categorias: estendidos ao longo do corpo, cruzados nada com a rotação da cabeça, definida pelo
sobre a pelve, dobrados sobre o tórax ou voltados movimento da mesma em um plano lateral ao redor
para a cabeça . Esses termos, devido a sua não de um eixo central. Assim, a porção anterior do
exclusividade, podem ser aplicados individualmente crânio – face – pode estar voltada para a direita,
para cada membro superior. Em Tenório (Uchôa esquerda, anteriormente, para o tórax ou voltada
1973) os esqueletos não apresentaram, em sua para trás. No caso dos esqueletos de inumações
maioria,9 essas categorias nos dois membros primárias, a indeterminação do facing ou das
superiores: ocorriam duas posições diferentes para posições dos membros indica um estado de
cada membro superior simultaneamente. Os graus perturbação e desarticulação dos ossos ocasiona-
de flexão – associados à posição – são os mesmos das pelos processos formativos do depósito
que para os membros inferiores sugeridos por Saxe arqueológico.
(1971). Ele estabeleceu três posições básicas para A orientação do esqueleto é definida pela
o esqueleto (deitado ou em decúbito 1 – do lado direção da cabeça a partir da linha formada entre o
esquerdo, 2 – do lado direito, 3 – de costas),10 centro do crânio e o centro da pelve. Assim,
segundo Rose (1922): “(...) por orientação eu
entendo facing, a situação de maneira que a
face do cadáver está voltada em uma direção
(8) Esta posição é observada em relação à superfície em dada”(Rose 1922: 127).
que o membro se acha apoiado e em relação aos ângulos Na literatura arqueológica, termos semelhan-
formados pelos eixos longitudinais dos ossos articulados.
tes a “cabeça direcionada para” ou “crânio voltado
(9) O esqueleto do enterramento XIX de Tenório
apresentava os membros superiores com as mãos junto ao para” muitas vezes são usados para indicar
crânio. Em outros casos, como nos esqueletos dos orientação. Uchôa (1973) adotou a orientação em
enterramentos XX, XXVI e XXVIII, somente um dos relação à direção do eixo crânio-bacia, no sentido
membros superiores estava voltado para o crânio, da pelve para o crânio e da face – face voltada
enquanto o outro encontrava-se estendido, em direção ou para –, ambas em relação aos pontos cardeais.
sobre a pelve ou fletido sobre o ventre ou tórax.
(10) Decúbito dorsal – com o dorso voltado para baixo;
Dois ou mesmo três tipos de orientação podem ser
decúbito ventral – com o ventre voltado para baixo; obtidos (Sprague 1968), como a da cova, do
decúbito lateral direito – com o lado direito do corpo invólucro/recipiente e do corpo. A orientação da
voltado para baixo; decúbito lateral esquerdo – com o lado cova e do invólucro é determinada pelos seus eixos
esquerdo do corpo voltado para baixo; outras posições – longitudinais, sempre no sentido do crânio. A
sentado, em suspensão (quando preso a um suporte que
orientação do corpo quando posicionado horizon-
lhe impede o apoio total na superfície): todos esses termos
referem-se à posição do cadáver (esqueletizado ou não) em talmente refere-se à direção da posição da cabeça
relação à superfície em que foi depositado. em relação á linha formada entre os centros do

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crânio e da pelve (Heizer 1958). A orientação de Mensurações como o comprimento e largura


um enterramento vertical (sentado) refere-se à máximos do esqueleto e a posição de todos os
direção para a qual a face ventral do corpo está acompanhamentos funerários a partir de pelo
direcionada podendo, ainda, ser entendida em menos dois pontos de referência no esqueleto
termos de graus, através dos pontos cardeais e constituem o segundo grupo de informações
suas subdivisões. Outro ponto de orientação está proposto por Ubelaker (1996). Ademais não são
na direção do plano da face do crânio. raras as tomadas de medidas osteométricas durante
Blackwood e Simpson (1973) determinaram a a exposição de esqueletos em campo,12 em
orientação do esqueleto através de um alinhamento decorrência da iminente fragmentação e impossibili-
geral do corpo em direção ao crânio. Em dade da retirada de ossos com diáfises ou especial-
enterramentos estendidos – extended burials –, mente as epífises íntegras para posterior mensuração
essa linha ou eixo de orientação – orientation line em laboratório .
– geralmente coincide com a linha que conecta o Informações complementares às categorias
centro dos ossos dos pés com o centro do crânio. vistas até aqui como o tipo de enterramento,
Nos enterramentos com esqueletos fletidos, os posição, orientação e mensuração, também
flexed burials, está representada pela linha central exclusivas de campo, referem-se à observação das
e longitudinal do tronco, independentemente da condições patológicas e tafonômicas do esqueleto,
posição dos membros inferiores. Trata-se de uma que podem ser destruídas durante a exumação do
linha de orientação que não considera os eixos mesmo, devendo ser, na medida do possível,
formados pelos pontos centrais forame magno- registradas in situ.
sacro – da coluna vertebral – ou do crânio-pelve Excepcionalmente, em áreas com condições
especificamente. Embora impreciso para o cálculo de umidade, temperatura, pressão e pH favoráveis
da orientação em relação aos pontos cardeais, à preservação de materiais perecíveis como tecidos
colaterais e/ou subcolaterais,11 é uma das únicas orgânicos, vegetais, cabelo, entre outros, estes
possibilidades de se estabelecer uma orientação podem aparecer no contexto arqueológico do
possível para esqueletos desarticulados e sob a enterramento, devendo ser escavados e removidos
forma de bundle burials ou em enterramentos com técnicas adequadas. Amostras de solo
secundários múltiplos. Aí, a relação de conexão retiradas ao redor do esqueleto e analisadas quanto
anatômica necessária para a determinação de a sua composição química e física funcionam como
pontos e estabelecimentos de eixos ou linhas guias sobre a variação do grau de acidez ou
direcionais inexiste, tornando-se possível estabele- alcalinidade do solo e sua relação com o estado de
cer essa linha pelo eixo longitudinal mais longo do erosão e preservação dos ossos. Esses sedimentos
conjunto de ossos, cuja orientação é dada em do interior da cova podem conter microfragmentos
graus. de artefatos, ossos de fetos, restos de alimentação/
Duas outras categorias de informações oferendas, bem como grãos de pólen e outros. As
referentes ao enterramento estão representadas inclusões naturais como os raros fragmentos
pela mensuração da sua profundidade, isto é, da conservados de larvas de insetos necrófagos que
espessura da cova, seu nível estratigráfico em atuaram no processo de decomposição do cadáver
relação à superfície do sítio, a profundidade dos podem servir de indicadores dos intervalos anuais
ossos mais superficiais e aqueles situados mais em que os enterramentos foram realizados.
inferiormente na cova. Esse procedimento de obter Sprague (1968) sugere para o registro dos
os níveis superior, inferior e médio e mensurar os acompanhamentos funerários o critério da sua
esqueletos, seus materiais associados e a cova foi disposição em relação ao corpo e a cova. Os
amplamente utilizado por Uchôa (1970, 1973) nos
enterramentos dos sítios Piaçaguera, Tenório e Mar
Virado, no litoral de São Paulo.
(12) A antropóloga do Laboratório de Antropologia Física
do Musée de l’Homme de Paris, Dra Evelin Perry, realizou
diversas mensurações de esqueletos in situ, durante as
(11) Ver novos sistemas de localização e direcionamento escavações no sítio Justino, Piranhas, Sergipe, feitas pela
de eixos de ossos longos através do uso de GPS em equipe de arqueólogos da Universidade Federal de
mapeamentos sucessivos de inumações. Sergipe conveniada com a CHESF em 1992.

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ornamentos anexados ao corpo e vestimentas são, (1996) funciona como um dos indicativos da
possivelmente, traços do processo de preparação função desse material.
do corpo. Entretanto essa distinção pode não ser O ocre sob a forma de pigmento ferrífico
determinada em um contexto arqueológico. Esse pulverizado ou em blocos de hematita compacta,
material pode estar dentro, sob, sobre ou junto de limonitizada, constitui outro tipo de material
alguma região do corpo, bem como preenchendo a associado encontrado nos enterramentos, recobrindo
cova. As marcas, testemunhos da existência da partes ou totalmente os esqueletos e demais
cova, como blocos líticos, nichos e demais estrutu- acompanhamentos. Esse tipo de material foi
ras que a conformam podem ser consideradas descrito em Menghin (1931), Obermeier (1912) e
como uma classe especial de materiais associados: Tiburtius e Leprevost (1952). Referindo-se a
as estruturas funerárias, dispostas com evidente materiais corantes e esqueletos pintados de oito
intencionalidade durante a deposição do morto. sambaquis da região sul do Brasil, Tiburtius e
O material associado ao enterramento está Leprevost (1952:151) descrevem as análises
representado, como dado observável no contexto químicas procedidas em fragmentos de hematita
arqueológico, pelos itens não perecíveis, como as polida (utilizadas como adorno?), desbastadas por
valvas de moluscos, ossos e dentes de animais, atrito e/ou raspagem, para a obtenção do pigmento
exoesqueletos de equinodermas e crustáceos. Tem corante em pó. Nos sambaquis onde foram
sido considerados com a mesma significação os encontradas estas pedras corantes, ocorriam
termos “material associado” e “ acompanhamento esqueletos de adultos ou crianças, depositados
funerário”. Esta categoria funerária aparece como sobre camadas desse pigmento vermelho e
“oferendas presentes na cova”, “mobiliário funerá- recobertos – também seus acompanhamentos
rio” (mobiliere funeraire, grave furniture), funerários – de uma “fina película” do mesmo
“oferendas funerárias” (grave offerings), “mobiliá- pigmento. Sobre as observações de Menghin
rio mortuário” (mortuary furniture), “beigaben”, (1931) e Obermeier (1912) a respeito de esquele-
que são tidos como menos precisos por implicarem tos pintados encontrados nas grutas de Grimaldi,
função e intencionalidade precisas. Constituem os em Mentone e em outros sítios europeus, Tiburtius
grave goods ou as inclusions de Sprague (1968) e e Leprevost (1952) relataram que “(...) muitas
Hodson (1977), os clothes and ornaments, vezes os defuntos eram colocados em uma
ornaments, insignia and amulets e os offerings superfície plana revestida de uma camada de
for the dead, food and drink e companions, de óxido de ferro vermelho e pulverizados com êste
Alexander (1969) e os ajuar y elementos asociados pigmento. Tão logo a carne se decompunha, o
de Femenías et al. (1990). Ubelaker (1996) sugere óxido de ferro depositava-se nos ossos e
as “associações” – materiais associados –, dividi- adornos, que tomavam uma coloração forte-
das em artefatos e espécies (fauna). Essas mente avermelhada. Não se pode supor (...) que
“associações” podem corresponder aos materiais a carne fosse prèviamente retirada, coloridos os
perecíveis e aos itens não culturais. Heizer (1950) ossos e em seguida adicionada, para então
sugere “objetos associados”, divididos em artefatos sepultar, pois do contrário não se encontrariam
e ornamentos. Uchôa (1973) utilizou o termo os esqueletos tão bem conservados e em perfeita
“materiais associados” para designar os objetos disposição anatômica (...) além de esqueletos,
associados ao esqueleto, de deposição intencional também objetos vários foram encontrados
e relacionados ao processo de preparação do recobertos por vermelhão” (Tiburtius e Leprevost
corpo e de caráter funerário. Esses materiais 1952: 153-154).
associados comporiam três grupos: os representati- Diferentemente dos casos encontrados por
vos do padrão de enterramento, como os restos de Verneau nas grutas de Grimaldi e demais sítios
fogueiras, carvão, ocre, blocos líticos, sedimentos e europeus, os esqueletos pigmentados dos sambaquis
restos vegetais; um grupo de restos de fauna em do Paraná e Santa Catarina representam uma
valvas de moluscos, ossos e dentes, todos sem minoria de ocorrências, com ossos superficialmente
trabalho e o dos artefatos líticos, ósseos, conchíferos e homogeneamente coloridos de pigmento ocre.
e em dentes. A disposição desses materiais Entretanto, estudos referentes aos problemas de
associados junto ao corpo e na cova deve ser interpretação cultural do corante vermelho no
documentada precisamente, pois segundo Ubelaker interior das práticas funerárias, no contexto da

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evolução humana (Wreschner 1980) e mesmo terceiro grau, em que inexiste conexão anatômica
sobre suas características físico-químicas (Tiburtius completa ou parcial é o estado de desarticulação
e Leprevost 1952; Faria et al. 2002), forma de entre as unidades ósseas.
elaboração e de pigmentação do corpo do morto – Quando o corpo foi enterrado incompleto e
o pigmento é espargido, depositado em blocos que desarticulado, especialmente se não apresenta
se diluem e/ou como pigmentos misturados a pequenos ossos, um longo período, possivelmente
aglutinantes/fixadores que são aplicados sobre a meses, se não anos, separam o momento da morte
epiderme do cadáver ou na superfície de ossos já e o do enterramento final. Muitos tipos de armaze-
limpos? – por populações extintas são ainda raros, nagem ou enterramentos temporários podem ter
especialmente no Brasil. sido praticados nesse período, ocasionando a
Os procedimentos de preparação da área do perda de alguns ossos. O crânio, a mandíbula,
enterramento por meio da construção de mounds, determinados dentes e outros ossos longos
postes, fossos, rampas, cercados e plataformas de poderiam ter sido extraídos nesse mesmo período
pedra, turfa ou madeira resultam na variação de para fins rituais ou pela ação de animais que
textura e coloração do solo, bem como na visibilidade ocasionariam quebras, roeduras e extravios.13
do enterramento ou do conjunto de enterramentos Assim, um mesmo esqueleto pode apresentar ossos
no sítio arqueológico, em especial na Europa e nos três graus de articulação: completamente
norte da África. articulados, parcialmente desarticulados e
Outro critério, referente à articulação entre desarticulados. A observação das posições dos
os ossos ou conexão anatômica é observado pela ossos fornece informações para serem usadas na
sua graduação. Somente em enterramentos reconstituição de aspectos da prática funerária do
primários ou em corpos que sofreram processos grupo, assim como excluir ou incluir a ação de
moderados de redução é possível a evidenciação determinados processos após a deposição. O
de esqueletos articulados. A semiarticulação ou termo “rearticulação”, empregado por Haglund
articulação parcial refere-se à condição na qual (1976), implica em uma articulação artificial e
uma unidade óssea está na ordem da sua conexão intencional de origem antrópica, fazendo parte da
anatômica com outra, entretanto, encontra-se além etapa de tratamento e deposição do corpo na cova.
dos limites das cápsulas articulares. Um esqueleto Lothrop (1954), escavando enterramentos
rearticulado é aquele em que foi feita uma tentativa na praia de Venado, no Panamá, trabalhou com
de rearticulação intencional das unidades ósseas, esqueletos desarticulados e articulados de corpos
após um primeiro processo de desarticulação por que teriam sido enterrados ainda vivos, em rituais
destroncamento, desmembramento, espostejamento de suicídio, após morte involuntária sacrificial e
por traumas, decomposição intencional das com mutilação pela decapitação ou extração de
cápsulas sinoviais pelo processo lento ou rápido de caninos. A observação dessas formas de morte a
esqueletização por enterramento temporário, partir dos restos esqueletais decorre das posições
submersão para maceração ou exposição controla- dos ossos e as marcas de lesões que apresentam.
da do corpo a animais necrófagos. Os graus de Nos casos de corpos enterrados ainda vivos, os
articulação do esqueleto, segundo Ubelaker esqueletos estavam com mandíbulas abertas e os
(1996) e Brown (1971), podem ser: 1) completa, ossos dos dedos sugerindo movimentação das
em que todos os ossos do esqueleto estão na mãos. A morte involuntária, decorrente de rituais
posição e articulação corretas ou 2) parcial, em de sacrifício em Venado teriam deixado suas
que alguns ossos estão em conexão anatômica. A
articulação parcial entre as unidades ósseas do
esqueleto pode indicar um período de tempo entre (13) Modificações iniciais dos vestígios são condiciona-
a morte e a deposição e a estimativa desse período. das pela atividade dos agentes tanatófagos. Marcas e
Normalmente os ossos das mãos, pés, costelas e alterações deixadas pela ação de uma variável fauna
vértebras são encontrados parcialmente articulados cadavérica durante os estágios de decomposição do
devido a sua mobilidade por processos pós- corpo humano observadas como traços cronotanatológicos
indicadores da época da morte e da deposição constituem
deposicionais formativos do substrato arqueológico
dados normalmente estudados em Medicina Legal, mais
em que estão inseridos e ao próprio processo de especificamente pela Tanatologia Forense e, mais
esqueletização e reacomodação desses ossos. Um tardiamente, pela Arqueologia Forense.

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marcas in situ, na região posterior das vértebras a mobilização dos mesmos pela ação de quaisquer
lombares e nas cervicais, partidas em vida, processos formativos do sítio arqueológico.
identificável pela posição anormal, desarticulada As modificações post mortem do corpo foram
do crânio e torção brusca das cervicais por definidas por White (2000) como decorrentes da
destroncamento. Em outros casos, esqueletos de ação de animais necrófagos, das práticas funerárias,
adultos são encontrados sob a forma de bundle do canibalismo, decomposição química, da
burials em urnas ou articulados junto a urnas cremação e da fragmentação intencional dos ossos.
contendo esqueletos de crianças, também em Assim, não perfazem apenas a ação dos agentes
conexão anatômica. Para Lothrop (1954) os naturais, mas também resultam da intervenção
bundle burials consistem de ossos que foram antrópica, ocorrendo antes, durante ou após a
preservados após o descarnamento para serem deposição. Os aspectos tafonômicos, classificados
depositados em cova permanente. em biológicos, físicos e antrópicos, foram estuda-
Nas mutilações, partes do corpo são removi- dos sob uma perspectiva arqueológica por White
das em rituais e novamente depositadas junto do (2000), Haglund e Sorg (1997), Henderson (1987)
corpo. No caso dos crânios e dentes, estes podem e Bonnichsen e Sorg (1989).
ser removidos e não mais rearticulados, sendo Em Duday (1978) e Duday e Manet (1987) é
enterrados como “troféus”, com corpos não ressaltada a importância da comunicação constante
mutilados. As marcas de remoção dos crânios – entre o arqueólogo e o osteólogo durante as
cortes – podem estar nos côndilos da mandíbula e sucessivas fases de escavação dos remanescentes
no atlas de esqueletos articulados. esqueletais. A disposição do esqueleto informa
Segundo Lothrop (1954), os enterramentos sobre como o corpo teria sido depositado. As
de acordo com os problemas que encontrou no circunstâncias culturais e tafonômicas envolvidas
sítio da praia de Venado, apresentaram-se nos após a morte e o enterramento influenciam no
seguintes tipos: fletido (de costas, de frente, dos estado de conservação apresentado pelo esqueleto
lados direito ou esquerdo), estendido (de costas, e no direcionamento das estratégias de escavação,
de frente, dos lados direito e esquerdo), sitting descrição, registro, consolidação, transporte e
burials (sentado), infant burials, bundle restauro do material, bem como no estudo das
burials, urn burials, mouth open-alive e as coleções esqueletais constituídas.
mutilations, eventos exclusivos. Estes últimos As formas de enterramento podem ser
podem apresentar lesões somente no crânio, classificadas e sistematizadas considerando-se as
ausência deste, mandíbula ausente, membro terminologias vistas até então, de acordo com as
superior ausente, pé ausente, outros ossos variáveis de campo e de laboratório que se seguem:
ausentes, dente extraído, falanges de dedos a) tipo de deposição funerária (enterramento) e
amputadas, dedos sobre o crânio, esqueletos de tratamento dado ao corpo, por descarnamento
com marcas de espostejamento, decapitação, e desarticulação, pigmentação e/ou queima, entre
com lesão contusa das vértebras dorsais, outros; b) identificação das características das
lombares ou das cervicais. condições da deposição funerária, com a
Por outro lado, os fenômenos cadavéricos localização espacial em relação a outras estruturas
transformativos, conservativos e destrutivos arqueológicas e enterramentos; orientação, forma e
(Gonzales et al. 1954), podem ou não deixar suas dimensões da cova; c) tipo, número, localização e
impressões in situ. Assim, a ação dos animais dados morfoscópicos e morfométricos dos
necrófagos e grupos entomológicos podem intervir materiais associados ao corpo no enterramento e
no desaparecimento das partes moles do cadáver, d) estado de preservação dos esqueletos, número
esqueletizando-o, assim como sobre os materiais mínimo de indivíduos, sexo, idade biológica e
perecíveis associados ao corpo. O processo de patologias (Cheuiche Machado 1995).
esqueletonização, resultante da ação de uma fauna
entomológica relacionada ao processo de miasis
cadavérica foi estudado por Bertomeu (1975) e Conclusões e sugestões
Spitz e Fisher (1977), entre outros. A esqueletização
resulta no desaparecimento das cápsulas sinoviais e A partir dessa breve revisão das terminologias
dos ligamentos articulares entre os ossos, permitindo e classificações que pareceram mais significativas

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para podermos planejar uma discussão sobre como sentido proximal-distal nos fragmentos de
descrever e compreender os vestígios funerários no diáfises) deve ser registrado;14
contexto arqueológico, no âmbito de uma Arqueo-
b.2) o critério da posição: considerando
logia da Morte, foram escolhidas e adaptadas as
a presença de conexão anatômica generaliza-
variáveis funerárias observáveis tanto em campo
da entre as unidades esqueléticas, uma
quanto em documentações visuais já produzidas
classificação das disposições dos membros e
durante antigas escavações. O objetivo final desse
posição do corpo tem sido comumente
levantamento é instrumentalizar uma recognição
empregada. O primeiro tipo de posição do
visuográfica sistematizada de deposições funerári-
corpo refere-se à forma como este foi
as nos variados contextos arqueológicos e fazer um
depositado na cova: horizontalmente, em
bom uso dos seus registros fotográficos, com vistas
decúbito (lateral direito, esquerdo, ventral ou
à catalogação das coleções esqueletais e dos
dorsal), verticalmente, sentado (com eixo
materiais associados; contribuição com os métodos
crânio–bacia perpendicular ou inclinado para
e técnicas de escavação de deposições funerárias,
cima ou para baixo em relação ao plano da
em especial aquelas encontradas em todo o litoral
base da cova), entre outras variações; a
brasileiro e em sítios de interior, representando
flexão do corpo (estendido, semi-fletido,
parcelas do comportamento funerário e das
fletido, fortemente fletido) é dada pelo grau
características bioarqueológicas de populações
de flexão entre os eixos longitudinais dos
pescadoras-coletoras-caçadoras e horticultoras.
fêmures e o eixo crânio-bacia; a posição da
A proposição que sugerimos para esquematizar
cabeça refere-se sempre ao lado para o qual
a leitura dos sepultamentos humanos em contexto
a face está voltada (para a frente, para o lado
arqueológico, baseada em sugestões terminológicas
direito, lado esquerdo, para trás, para baixo
como as de Sprague (1967), Ubelaker (1996),
– com mento sobre o esterno –, para cima);
Brothwell (1981), Heizer e Grahn (1967) e Heizer
posição das mãos e dos pés (cruzados,
(1950), entre outros descritos anteriormente,
cruzados sobre o tórax, sobre a pelve, sobre
considera as seguintes características básicas:
a face, entre outras); a disposição dos mem-
a) as características da deposição: o bros (estendidos, semi-fletidos, fletidos,
aspecto da primeiridade ou secundidade de fortemente fletidos), com membros superiores15
uma deposição funerária é indicado, a priori, estendidos ao longo do corpo, voltados para
pela presença ou ausência de conexão frente, para trás, para a direita ou esquerda,
anatômica entre as unidades esqueléticas. para cima; as torções na região das cinturas
Nesse caso a interferência de fatores pós escapular e pélvica (voltadas para o lado
deposição, biológicos ou naturais pode direito, esquerdo, para baixo ou para cima,
dificultar a identificação da intencionalidade ou sempre em discordância com as posições
não intencionalidade antrópica desse aspecto, esperadas para o decúbito e as demais.
observável em contexto arqueológico. O Embora subjetivas, podem ser quantificadas
processo de redução do corpo pela queima pela mensuração dos ângulos formados entre
pode resultar em outro aspecto da deposição os eixos longitudinais dos ossos longos entre
funerária: a cremação (Ubelaker 1996). si e entre a coluna vertebral, sugeridos por
Temos por essas características o tipo de Saxe (1971) e Ubelaker (1996).
sepultamento (primário, secundário, terciário,
cremação, restos esparsos). A deposição
pode ser compreendida como contenedora
(14) Nesse caso, em esqueletos fragmentados, o
das características b), c) e d), descritas a direcionamento proximal-distal (P-D) das diáfises pode
seguir; ajudar na identificação de possíveis áreas em conexão
anatômica ou mesmo auxiliar na identificação de
b) as características do corpo: rearticulações ósseas intencionais ou de áreas semi-
b.1) o critério da articulação: conside- articuladas do esqueleto.
(15) Nos membros inferiores, os graus dos ângulos
rando a ausência de conexão anatômica formados entre os eixos longitudinais dos fêmures e o eixo
generalizada entre as unidades esqueléticas, a crânio-bacia têm sido empregados para mensurar a flexão
identificação e direcionamento das mesmas (o do esqueleto (do corpo ou do “enterramento”).

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b.3) o critério da orientação: refere-se à O processo de sedimentação e seus padrões


direção – em relação aos pontos cardeais, de orientação espacial sobre os vestígios e
acidentes geográficos entre outros escolhidos, suas relações com os danos causados aos
escolhidos pelo pesquisador como significati- ossos deve ser considerado (Gifford 1981);
vas – para a qual está voltada a face, o crânio
c) as características do material associa-
(região do bregma, vertex ou a partir do
centro do neurocrânio), o eixo crânio-bacia do no enterramento: referem-se a uma primeira
(ou eixo formado pelos pontos do centro do identificação em campo sobre a situação dos
forame occipital maior – centro do canal mesmos em relação às unidades esqueléticas
vertebral da primeira vértebra sacral, ou eixo (podem estar sob, sobre, junto à extremidade
da coluna vertebral) e o ventre (região anterior proximal, em volta, do lado direito, esquerdo,
do abdômen). Esse critério da orientação dentro). Neste caso, a localização de artefatos
merece discussões, considerando a total e ecofatos, bem como de estruturas constitutivas
ausência de informações sobre as preferências da cova são importantes para o estabelecimen-
quanto à orientação dos corpos entre as to das relações associativas intencionais e
populações extintas da costa brasileira, não-intencionais. Em campo temos o início
excetuando-se as informações etnográficas. da quantificação e qualificação desses materiais,
Trata-se de item inespecífico; aprimoradas com os implementos tecnológicos
e as análise e classificação (a exemplo de
b.4) o critério do número mínimo de Tixier 1980) em laboratório; os blocos líticos,
indivíduos presentes na mesma cova:16 são carvão (remanescentes de fogueiras ou
empregados os termos simples (para um único braseiros) e ocre constituem materiais associa-
indivíduo), duplo (para dois indivíduos), triplo
dos no enterramento que podem fazer parte da
(para três indivíduos), múltiplo (para mais de
preparação do corpo ou da cova, normalmen-
três indivíduos). São ainda encontrados termos
te associados à ritualização funerária, ao
como em massa e coletivo, designando
comportamento funerário. Referem-se aos
deposições funerárias com número elevado de
acompanhamentos funerários, às estruturas
indivíduos depositados em uma mesma cova;
funerárias associadas e às inclusões naturais;
b.5) outros critérios referem-se à identifi-
d) as características da cova: comumente
cação e cuidados durante a evidenciação e
retirada de fragmentos ou ossos completos, difíceis de observação em contexto arqueológico,
com as seguintes características: patológias, as dimensões e forma (comprimento, largura,
pseudopatologias, caracteres epigenéticos, profundidade mínimos e máximos; formas
caracteres para dimorfismo sexual ou cálculo circular, oval, quadrangular, retangular, superfici-
de idade da morte, traços de lesões causadas almente em forma de morrote, com estruturas
antemortem, perimortem ou postmortem visíveis ou não à época do enterramento),
(descarnamento), com sinais de queima ou orientação (do eixo longitudinal, no sentido
carbonização total. Os dentes articulados ou pelve-crânio) e conteúdo17 (tipos de sedimentos
não aos ossos alveolares requerem cuidados de preenchimento, estruturas de revestimento e
especiais, pois podem apresentar caracteres cobertura, intrusões), constituem características
como acúmulos de tártaro salivar, abcessos significativas no processo de registro. O recipien-
que resultaram em pouca sustentação óssea do te e o envoltório do corpo como as urnas e as
dente e superfícies de atrição dentária que esteiras funerárias constituem elementos sempre
podem sofrer perdas e deslocamentos complementares e que auxiliam na delimitação da
irreversíveis durante a escavação, assim como possível área da cova: são considerados em
amostras para análises bioquímicas e biofísicas. conjunto com a cova.

(16) Este número, embora possa ser dado em campo, é (17) Os blocos líticos podem constituir elementos de
também normalmente estabelecido após exames em proteção do corpo, portanto partes da estrutura da cova;
laboratório, em especial nos casos de esqueletos podem ser usados na própria confecção das paredes da cova
extremamente fragmentados e em deposições secundárias. e terem servido para acentuar a visibilidade da inumação.

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SILVA, S.F.S.M. Terminologias e classificações usadas para descrever sepultamentos humanos: exemplos e sugestões. Rev.
do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, 15-16: 113-138, 2005-2006.

As terminologias e classificações descritas exclusivos para um mesmo fenômeno. A subjetivi-


pelos autores, à exceção de Sprague (1969), dade da tipologia, privilegiando certos atributos
pareceram-nos recorrentes a trabalhos anteriores, funerários em detrimento de outros resulta na
sem a introdução de termos novos (Ubelaker criação de novos tipos (Haglund 1976; Ubelaker
1996). As raras tentativas de normalizar e clarear 1989 e Heizer 1950), que acabam compondo um
essas terminologias procuram reduzir e suprimir as léxico terminológico em constante remodelação,
sinonímias e ambigüidades, evitando termos enriquecendo as opções de descrição, análise e
referentes a morfologia técnica imprecisa, termino- interpretação dos enterramentos humanos por parte
logias não excludentes e procurando manter termos do arqueólogo.

SILVA, S.F.S.M. Terminologies and classifications used to describe human burials: examples and
suggestions. Rev. do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, 15-16: 113-138, 2005-2006.

ABSTRACT: The attempt at a standard of classifications and terms to describe


and observe archaeological contexts of human skeletal remains has been a recurring
concern of the archaeologists and bioanthropologists. The problem is to establish
which descriptive elements are important or essential for the analysis, reconstruction
and interpretation of human burials inserted in substrata and several cultural systems.
Among the examples of suggestions found in the consulted bibliography, it was verified
that there always exists an incidence of certain variables of the mortuary data and that,
in certain analyses, it is very expressive the correlation and the synergy among data of
the remains of the body, of the funerary accompaniment and of the grave. To describe
and classify human burials implies in the observation of the totality of funerary remains
in the context of the deposition, while incorporating bioarchaeological data.

UNITERMS: Methodologies – Archaeology of Death – Human burials –


Archaeological context.

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Recebido para publicação em 23 de setembro de 2006.

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