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Estudo Dirigido

Questão 01

O texto de autoria de André Prous e Maria J. Rodet inicia trazendo-nos uma


suposta justificativa para as diversas modalidades de enterros e rituais fúnebres dados
aos mortos na Pré-história. Diante do fato de que muitas das populações indígenas do
território onde hoje está localizada a América do Sul tinham um tratamento especial
para com seus mortos, haja vista preocuparem-se em que estes mortos os perseguissem
após sua morte ou algo similar. Em consequência às várias crenças ligadas aos mortos,
foram criados costumes funerários específicos a cada grupo populacional das áreas onde
estes habitavam, o que poderia variar desde o acompanhamento do defunto com vasos
contendo alimentos, até armas ou instrumentos que o individuo utilizara em vida.

Em algumas tribos pode-se notar que havia o costume ritualístico de ingestão


dos restos mortais dos defuntos, seja na forma de cinzas que eram misturadas a bebidas
que, geralmente, eram consumidas pelos parentes e amigos mais próximos do defunto.
Similar à prática descrita anteriormente, era vista até meados dos anos 70 na tribo dos
Wari de Rondônia, a ingestão da carne do morto, também apenas pelos parentes e
amigos próximos, acreditando-se garantir a desumanização do defunto, pondo-o numa
categoria de quase “presa”, opondo-o assim à categoria dos vivos.

Dando continuidade à analise das formas de sepultamento identificadas no Brasil


ainda no início do período Holoceno, é possível identificar um grande bloco que se
desprendera, na Serra do Cipó em Minas Gerais, onde há cerca de 11.000 anos caíra
uma parte do patamar superior, formando uma espécie de mesa natural, que fora
gradativamente enterrada pelos sedimentos no solo da região. Aproximadamente 1000
anos após o desprendimento da grande peça de rocha, os habitantes da região
começaram a sepultar seus mortos no local próximo à grande mesa de pedra,
transformando o local em um verdadeiro cemitério.

Os moradores da localidade onde hoje é o estado de Minas Gerais tinham outros


hábitos fúnebres singulares, como por exemplo, trazer os corpos ao abrigo da mesa de
pedra antes que suas carnes fossem decompostas, e escavavam fossas que eram abertas
no sedimento pedregoso da região, depositando seus mortos em posição fetal,
simbolizando, de forma ritualística, a volta ao ventre da mão Terra. Porém, presume-se
que a escolha na utilização da posição fetal para agrupar seus mortos nas covas que
eram abertas, fora para que em um menor espaço pudessem ser sepultados mais corpos.
Supõe-se ainda que restos vegetais de plantas de diversas espécies eram colocados junto
aos corpos, embrulhadas em formato de rede sobre o corpo do defunto. Podem ser
encontrados nos locais de sepultamento adornos e centenas de contas de colar feitas a
partir de minúsculas sementes vegetais.

Outro detalhe que é possível ser identificado no interior das covas é a grande
quantidade de pigmento que era posto acompanhado de crianças, notadamente bem mais
que a quantidade que era posta aos adultos que foram encontrados sepultados. Após ser
posto o corpo do defunto, era preenchida a cova com a reposição do sedimento fina que
fora retirado durante a escavação. Outro fato que nos chama bastante a atenção, é a
forma com a qual era feita a demarcação das sepulturas, onde eram colocados grandes
blocos tampando as covas e demarcando o local, para que no futuro outras populações
identificassem ali uma área de sepultamento.

Identifica-se em poucos casos, um certo tratamento diferenciado dado aos corpos


durante os sepultamentos, porém, isso não chega a sugerir uma divisão social de forma
hierarquizada na sociedade. Pode-se notar, por exemplo, em um esqueleto de uma
jovem encontrada nesta região, pequenas lajes de quartzito e uma espessa camada de
pigmento vermelho em sua cova. Outro corpo que fora encontrado na região da Serra do
Cipó, apresenta sinais de artrose e anquilose (problemas nas articulações e tecidos
esqueléticos do corpo), tendo sido sepultada em uma área mais afastada da mesa de
pedra, identificando certa diferenciação dos demais, onde não se sabe ao certo sua
motivação.

Outro fato que chamou a atenção dos arqueólogos que estavam realizando
escavações na região Santana do Riacho, fora um dos sepultamentos em particular, que
comportava apenas ossos longos, que haviam sido depositados em feixe, podendo
representar uma espécie de enterro secundário dos ossos de um morto cuja cova teria
sido perturbada por um enterro posterior, demonstrando com isso um cuidado especial
com os restos mortais de seus antepassados. Porém, foram encontrados em escavações
mais recentes na Lapa do Santo, município de Lagoa Santa-MG, sepultamentos
similares ao encontrado em Santana do Riacho, sugerindo tratar-se apenas de um ritual
diferenciado, aplicado a pessoas mortas durante expedições e cujos ossos teriam sido
trazidos ao cemitério próximo ao seu povo.

Posterior ao período do Holoceno inicial são identificadas novas características


nas técnicas de sepultamento do Holoceno médio. Na região próxima à margem
esquerda do rio São Francisco, no município de Buritizeiro, foram encontrados diversos
sepultamentos pré-históricos, notando-se certa homogeneidade nas estruturas funerárias.
Os mortos foram sepultados em posição de decúbito lateral fletido. Pode-se perceber
ainda a presença marcante de ossos trabalhados, em sua maioria de mamíferos, tais
como cervídeos, antas e porcos do mato. São identificados, também, restos daquilo que
fora flechas guardadas em uma aljava. Vale salientar que todos estes objetos deviam
estar acondicionados em bolsas ou cabaças, pois foram encontradas em espações
comprimidos nas covas.

Também podem ser identificados objetos trabalhados em formato de mó e


bigornas feitas com blocos de arcóseo, podendo ter servido como marco, similar às
nossas lápides, facilitando a localização das fossas, contudo, com o passar do tempo
estes blocos acabaram caindo e cobrindo parcialmente os corpos no interior das
sepulturas primitivas. Outra forma com a qual homem do período do Holoceno médio
sepultava seus mortos, nos sambaquis – estruturas que foram inicialmente consideradas
como sendo formadas essencialmente por restos de alimentos (ossos de animais,
vegetais e mariscos), onde também eram encontradas estruturas habitacionais e de
sepultamento. Os sambaquis mais altos serviriam como marcos na paisagem, e ao
mesmo tempo, cemitérios edificados para proclamar a posse do território. Nestes
sambaquis que eram utilizados como cemitérios, podiam ser sepultados tanto adultos de
ambos os sexos, quanto crianças de todas as idades.

Os cemitérios encontrados nos sambaquis caracterizavam-se por conter camadas


de terra escura, rica em restos orgânicos e carvões. Nelas eram escavadas fossas
estreitas e bem rasas, onde o corpo era depositado, fletido e articulado, com seus
adornos, instrumentos perfurantes de ossos e demais itens pessoais. Os sepultamentos
dos sambaquis meridionais demonstram uma sociedade igualitária, onde suas estruturas
funerárias apresentam características semelhantes, independente do sexo e da idade do
individuo. No entanto, em alguns sepultamentos é possível notar o surgimento de um
modelo de aristocracia, podendo até ser considerados como indivíduos excepcionais –
fundadores, chefes ou xamãs - sem que isso implique uma hierarquização entre a
sociedade.

Outros dois importantes sítios estudados são os localizados no cânion do rio


Peruaçu. Dois dos sítios que estão servindo de fonte de escavações foram utilizados para
sepultar os mortos pouco antes da chegada dos colonizadores europeus – as Lapas do
Boquete e do Malhador. Em ambos os locais de escavação, são identificados
enterramentos primários em covas, onde os corpos fletidos foram instalados serem
cobertos de pigmentos minerais em pó. Na mesma região podem ser identificadas outras
formas de sepultamentos, que se assemelham a uma forma de mumificação parcial,
principalmente em partes do rosto do cadáver, ou até mesmo a colocação do individuo
morto no interior de grandes depósitos de argila ou barro em formatos cilíndricos,
lembrando vasos. Estes vasos eram colocados em covas profundas, forrados com palha
de coqueiro, eram postos grãos de pigmento na base, representando mais da diversidade
ritualística encontrada entre os povos pré-históricos da América do Sul, durante os
sepultamentos.

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