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Exu

Imagem erroneamente sincretizada de Exu


com o Diabo
Imagem idealizada de Exu
nos cultos africanos

Muita confusão existe a respeito de Exu. Muito mais confusão quanto a forma que
ele trabalha que é a Quimbanda. A Umbanda não existe sem a Quimbanda, elas formão
um TODO. Uma é o inverso da outra, pois, tudo que está em cima é igual ao que está em
baixo.
Anos e anos de incompreensão, seja pela omissão de um babalorixá na
transmissão de conhecimentos a seus filhos, seja em virtude de elementos
inescrupulosos que a usam em benefício próprio para satisfazer o seu ego.
Tudo isso, aliado a um sincretismo mal feito com a doutrina católica e segmentos
das religiões protestantes, originou uma visão deturpada, ainda hoje mantida por muitas
pessoas em relação a Exu e Pomba-gira, conhecidos como Elebaras.
Entretanto, os Elebaras são bem diferentes do diabo cristão. É importante
distinguir a verdade de todas as infâmias e mentiras que dizem do Elebara, pois essa
entidade do panteão africano tem fundamental importância, interligando e dinamizando
os diversos planos em que se divide a criação do universo.
A Quimbanda é o complemento da Umbanda, o pólo oposto no dualismo de forças
e energias, e o conceito de bem ou mal, na Umbanda, bem como em todas as vertentes
de matriz africana, entra em uma relatividade.
Mas os Elebaras não fazem nada por conta própria. São sempre mandados e
normalmente são os agentes da lei, os cumpridores do carma. Como na Umbanda, a
Quimbanda é formada por legiões que se agrupam em planos e subplanos, formando
agrupamentos e subagrupamentos, num serviço de atuação terra-a-terra.
Os espíritos que nela trabalham tem certas funções cármicas.
A incompreensão a respeito dessas entidades teve muito a ver com os pregadores
de outras religiões, tanto na África como no Brasil, bem como com a capacidade limitada
de certos estudiosos e os relatos cheios de preconceitos e temor dos senhores
coloniais; em suas cabeças, nunca passara que a resposta dos negros em forma de
magia ao estado de escravidão era um grito de liberdade na direção do direito humano.
Ora, se suas liberdades físicas podiam ser privadas pelos senhores, eles teriam então o
direito de tirar destes mesmos senhores a sua liberdade da alma!
Nessa guerra, o medo dos senhores era justificado, pois existia o mistério no culto
que cercava a figura de Exu e Pomba-gira, portadores da força que interpenetra todos os
aspectos da existência. Uma força em que a ética é relativa, pois tanto beneficia o
homem como pode prejudicá-lo, sendo veiculo do castigo dos Orixás.
O Elebara é portador das forças do vermelho e do negro e por isso seu culto
mostra-se rico, nas umbandas de grau consciencional afetas a esses ritos mais
africanizados, nos sacrifícios de animais, com o envolvimento do sangue misturado ao
misticismo das trevas que dominam as forças desconhecidas, tornando possível a
manifestação da potência em ato, fazendo do Elebara o senhor dos limites, sendo que
seu momento mais próprio é a fronteira entre o dia e a noite, ou seja, a meia-noite.
Os Exus e Pomba-giras chamados a trabalhar no descarrego das quizilas
(proibição ritual determinada pelo orixá) dos médiuns são entidades intermediárias,
como seres elementares no terceiro ciclo, que corresponde ao da libertação ou isenção
da função cármica, e cabeças de legião, funcionando como verdadeira polícia de choque
do baixo astral. Os ciclos inferiores, ou seja, o segundo e o primeiro, são constituídos
por quiumbas (espíritos atrasados, obsessores), larvas, etc., que são verdadeiros
marginais do astral inferior e por isso são controlados pelos Elebaras de linha.
Para a Quimbanda, o mundo dinâmico é uma interligação e equilíbrio de forças,
onde as existências reais não são o aspecto exterior das coisas. Da mesma forma, não
existe uma fronteira rígida do bem e do mal.
Em virtude da formação elementar, os Elebaras operam por afinidade astral ligados
às salamandras, silfos, ondinas e gnomos, que são respectivamente os elementais do
fogo, do ar, da água e da terra, e de onde eles tiram e formam energias que alimentam e
mantém pelo próprio poder vibratório. E, como manuseiam os elementos formando
misturas químicas espirituais, são controlados pelo éter químico, que é Ogum.
Para suas ligações terra-a-terra, utilizam as emanações fluidificas do sangue, do
álcool, do dendê, da farofa, da carne, da pipoca, da pimenta e de outros elementos que
empregam com a seguinte finalidade: o sangue, para que não seja derramado pelo
mediunista; o álcool, para evitar qualquer tendência ao vício do mediunista; o dendê,
para evitar que o mediunista tenha agitações de ordem psíquica; a farofa, para evitar que
o mediunista passe fome; a carne, para evitar que o mediunista mate; a pipoca, para que
o Elebara atrele para si possíveis doenças cármicas dirigidas ao mediunista; a pimenta,
para frear os instintos do mediunista.
Se o Elebara transmite e liga, também possui o poder inverso, de separar e
confundir. É por isso que se torna patrono das trevas e da magia negra. Constitui sempre
elemento essencial a toda e qualquer manifestação do mundo dos orixás: é portador da
voz de Ifá (orixá que preside a adivinhação com os búzios), porteiro de Ossãe, dando
acesso ou não às ervas sagradas, controla eguns (almas dos mortos ancestrais que vêm
em certas cerimônias) e é o mensageiro, servo e cobrador das coisas dos Orixás.
Na Quimbanda, a encruzilhada é a interseção de dois caminhos, representando
uma parada, uma alternativa, uma opção e também uma dúvida. A necessidade maior de
se dar passagem para a esquerda reside em que, ao permitir a atuação desses seres,
tidos como sendo do mundo das trevas, o mediunista joga para fora de si uma carga
energética negativa. Esse processo canaliza os aspectos animalescos do mediunista na
direção da humanização e da espiritualização. Sem o descarrego das vibrações negativas
periodicamente, o mediunista é levado ao desânimo, preguiça, menosprezo, doenças,
etc., fatos que o conduzem ao desequilíbrio e, fatalmente, ao centro da encruzilhada.
Dessa forma se faz necessário que o médium saiba que os seus fundamentos
nunca são iguais aos de outro mediunista, porque os seus assentamentos, obrigações e
conhecimentos são dados por suas entidades e, assim, constituem um segredo do mais
alto grau para esse mediunista, pois é ai que estão a sua defesa e proteção. Quanto
menos pessoas souberem, mais seguro ele estará.
O maior fundamento do mediunista para realizar qualquer trabalho é ser honesto
consigo mesmo em tudo aquilo que faz. Além disso, ele deve estar sempre consciente de
que o segredo é o fator mais importante para o sucesso.
Sempre que o médium for dar passagem para uma entidade é necessário que ele
faca uma preparação básica que sustente o nível da força a ser movimentada, para poder
garantir a volta ao estado anterior. Isso significa que o mediunista deve estar bem
preparado, seguro do que vai fazer, e confiar em suas entidades sem constrangimentos
ou preceitos de ordem material tais como vergonha, desconfiança, medo, etc., pois de
nada adiantará a incorporação, já que ele não conseguirá os efeitos e propósitos
almejados.
A conscientização do que a Quimbanda representa como força e como religião é
fator indispensável no manuseio destas energias. É necessário conhecer os espíritos
que trabalham na Quimbanda e como eles se manifestam no dia-a-dia do ser humano.
Existem características nas atitudes do ser humano que identificam a atuação de
espíritos inferiores com base no plano físico. São elas: vícios de qualquer espécie,
incompreensão, agressividade, falsidade, egoísmo, vaidade, maldade, prepotência,
impaciência, irresponsabilidade, imprudência, mentira, tendência para roubos e crimes,
ciúme doentio, vingança, desonestidade, injustiça, preguiça, falta de asseio, falta de
respeito para com o próximo, ódio, apego excessivo ás coisas materiais, falta de
confiança em si mesmo, inveja, etc.
Entretanto, nem sempre que uma pessoa apresenta alguma dessas características
significa tratar-se de atuação de vibrações de esquerda, como erradamente se pode
pensar. Muitas vezes trata-se de tendências cármicas da pessoa e que, se persistirem
sem nenhum tratamento, fatalmente levarão essa pessoa ao plano inferior após o seu
desencarne. As características acima citadas representam o instinto animal que existe
dentro de cada um de nós, com maior ou menor intensidade, dependendo do carma e do
arbítrio de cada um.
Os mediunistas, por terem escolhido a vida espiritual espontaneamente,
conscientes de que abraçaram urna vida de sacrifícios e renúncias, têm direito de pagar
seus carmas ou parte deles com os sacrifícios naturais que ponteiam a vida do
mediunista. Assim sendo, podem fazer uso de certos espíritos ligados ao plano inferior
para descarregarem o carma, desde que esses espíritos também concordem,
voluntariamente, em ser os cobradores de seus carmas, de forma ritualística e ordenada,
para que a cobrança seja justa. Todo aquele que escolhe o mediunismo como veiculo
para pagar parte de seu carma precisa ter consciência de que o trabalho de mediunismo
não é um trabalho para ser executado apenas por obrigação ou pela vaidade de usar
paramentos bonitos a fim de ressaltar o seu ego; se não houver a intenção
despretensiosa de pagar sem pensar em critérios ou medidas, de nada valerá o trabalho
feito, pois não haverá descarrego.
O mediunista deve ter em mente que, ao dar passagem para seu Elebara, este o
está conscientizando dos seus instintos animais, evitando assim que esses instintos
sejam desenvolvidos no mediunista, que o Elebara está retirando influencias negativas
externas impregnadas no canal mediunistico, que na incorporação ele está utilizando a
matéria do mediunista para trabalhos de cobertura, segurança, etc., além do
desenvolvimento espiritual para ambos, que o Elebara está dando cobertura espiritual ao
desenvolvimento material do mediunista, como também desenvolvendo os valores
místicos do mesmo, e, por fim, mantendo em perfeito equilíbrio com o cosmos os seus
chacras inferiores.
Esses espíritos em evolução, habitantes do plano inferior por diversas razões,
entre as quais se pode citar o apego excessivo as coisas materiais, quando atingem
determinado ponto de evolução são chamados para trabalhos de proteção e limpeza de
mediunistas, sendo que muitas vezes, ao executarem essa missão de proteção, chegam
até mesmo a assumirem parte do carma do mediunista para que este possa continuar o
seu trabalho de mediunismo sem interrupção. Pode-se então dizer que eles são amigos
de fato, sendo que só querem ser respeitados e obedecidos quando seus serviços são
solicitados. Eles não toleram a traição, chegando a ser vingativos e a tudo fazer para
derrubar quem os traiu, mesmo se for o seu mediunista.
A Quimbanda é o conjunto de leis que ordena os preceitos e fundamentos de
atuação dos espíritos do baixo astral no que diz respeito ao nosso plano. Isso porque
seus habitantes, sendo espíritos, para poderem atuar no plano físico, necessitam de leis
que protejam o arbítrio e os preceitos dos seres humanos.
Como já foi visto, uma religião mediunista é aquela que utiliza, na prática de seus
rituais, a comunicação entre espíritos e o plano material, através de mediunistas.
Conseqüentemente, pode-se dizer que a Quimbanda: "É uma ciência religiosa e filosófica
que coordena o fenômeno das comunicações entre o plano físico e o astral inferior."
Os espíritos que nela trabalham, chamados Elebaras, como todos os seres
possuem um nome, uma identificação. E por isso que muitas vezes ouvimos falar, nos
meios dessa religião, em Exu 7 Porteiras, Exu Galo Preto, Exu Vira Mundo, Exu Zé
Pelintra, Exu João Caveira, Exu Veludo, Exu do Lodo, Exu Zé das Covas, Pomba-Gira
Maria Molambo, Pomba-Gira Maria Quitéria, Pomba-Gira Diana, Pomba-Gira Maria
Padilha, Pomba-Gira Cigana, Pomba- Gira Rainha e tantos outros nomes de Elebaras.
Estas são maneiras de se identificar os Elebaras dentro de seus preceitos e
independente da linha. Cada um carrega o nome que melhor lhe aprouver ou que melhor
identifique a sua personalidade.
As linhas de atuação dos Elebaras são fundamentos da lei da Quimbanda.
É comum ouvir falar de Marabô, Tranca-Ruas, Sete Encruzilhadas, Lalu, Tiriri, Gira-
Mundo, Pinga-Fogo, etc. Cada Linha trabalha num determinado campo de vibração, os
mesmos considerados para a umbanda, só que em planos diferentes. Portanto, os
Elebaras trabalham na calunga grande (areia seca), calunga pequena (cemitério),
encruzilhada, beira de estrada, macaia (mata), etc. Cumprem a função de cobradores de
carma, isto é, se o mediunista tem que pagar, o Elebara bota para fora, fazendo com que
os carmas se manifestem, assumindo, entretanto, a parte que lhe compete e deixando
para o mediunista apenas a parte da qual ele, mediunista, não está isento. Tais carmas se
manifestam em forma de sofrimento material, como doenças, desemprego, desavenças,
desastres, misérias, vícios, taras, suicídio, loucura, etc.
Não raro as pessoas acusam os Elebaras de serem os causadores desses males,
esquecendo-se de que eles são apenas os cobradores das dívidas que ternos pendentes
desde outras encarnações. O que estes acusadores ignoram é que, muitas vezes, por
exemplo, um desastre faria o médium sofrer terrivelmente e, pela interferência do seu
Elebara, recebe apenas pequenos ferimentos ou simples danos materiais.
Os fundamentos de um Elebara, dentro da Lei de Quimbanda, são determinados
pelo seu grau de evolução, sendo por isso inacessíveis, no seu todo, aos mediunistas; o
Elebara transmite somente alguns destes fundamentos para que sirvam de segurança ao
mediunista. Muitas vezes estes fundamentos são perceptíveis na maneira do Elebara
trabalhar, no seu ponto riscado e, ás vezes, até no seu próprio nome. Porém, fundamento
de Elebara é algo que se aprende e se cala porque a nossa vida material pode depender
disso.

Referencias Bibliográficas

FREITAS, A. B. Os mensageiros do baixo astral, pags. 43 a 46, Revista Planeta ,n. 149-C, 1ª
Edição, São Paulo: Editora Três,1984.

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