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GENÉTICA MOLECULAR

UBA VII

CRB- UCP MIMD 2013/14


Este prefácio é dirigido a todos que lerem esta sebenta ou a tiverem nas mãos.

Esta sebenta não é uma sebenta qualquer. Não é um mero compêndio de apontamentos de um
único aluno com complexos de timidez que se lembrou de a passar para um outro, e daí passou
para toda a gente.

Não, muito pelo contrário.

Esta sebenta é o resultado do árduo trabalho de um conjunto de pessoas que não tinha a
obrigação de se juntar. Isto surge de um conjunto que é tudo menos homogéneo: altos e baixos,
louros e morenos, brancos e negros, tímidos e extrovertidos, tudo colocado num agregado uno.
Um conjunto em que os elementos se levantaram das secretárias solitárias e aclamaram aos
céus: “Eu preciso de ajuda. Dou o meu tempo e poder de trabalho a quem acorrer ao meu
pedido.”

E assim, após manhãs, tardes, noites largadas a queimar neurónios, surgiu isto. Esta panóplia de
magnificência, graça e conhecimento sob a forma de sebenta.

Que todos os que lerem esta sebenta não aprendam só como é que se processa a replicação do
DNA, ou o que é um frameshift ou um teste de diagnóstico pré-natal.

Que também aprendam que na vida, só com uniões fortes e coesas, onde se esteja disposto a
largar tudo pelo bem de todos e não da individualidade, é que se pode prosperar e evoluir.

E neste caso específico, que se mentalizem que a única maneira de fazer algo remotamente
comparável a esta obra de arte sozinho, é chegar a um esgotamento nervoso tal, a um consumo
de tal forma brutal de Red Bull’s e Monster’s que terá 80% de hipóteses de dar entrada no
hospital com um completo shutdown do Sistema Nervoso Central, que nem a consumir álcool
etílico aos penáltis seria possível chegar.

“Podes chegar ao topo sozinho, podes ficar no topo sozinho… mas não durante muito tempo.”

Blah blah blah. Resumidamente, o que o caro Pedro quis dizer foi:

CAROS PALANCHOS CALOIROS, SE NÃO PASSAREM COM ESTA SEBENTA NA FREQUÊNCIA É


PORQUE DEFECAM MATÉRIA ENCEFÁLICA E TÊM MATÉRIA FECAL NO CÉREBRO.

Ricardo Figueiredo, António Pimenta, Yulianna Danylyuk, Pedro Conceição, Mariana Pimenta,
Letícia Ferreira, Sancha Fonseca, Yasser Enzima, Francisco Ramos, Ana Barros, Inês Fonseca,
Mariana Santiago, Ana Margarida Rato, Nicol Gur, Francisca Dâmaso, Jorge Coelho. Com
contribuição especial de: Melissa Pinto, Filipa Monteiro, Rafael Esteves e Rafaela Guilherme

Bom estudo!

1
INDÍCE

CAPÍTULO 1 – ESTRUTURA E FUNÇÃO DO DNA ....................................................................... 7


REPLICAÇÃO DO DNA ........................................................................................................ 9
DNA POLIMERASE I ......................................................................................................... 10
DNA POLIMERASES ......................................................................................................... 11
VERIFICAÇÃO DE ERROS .................................................................................................. 11
CASO ESPECIAL DE REPLICAÇÃO: ..................................................................................... 15
REPLISSOMA EUCARIÓTICO ............................................................................................. 16
CROMATINA ................................................................................................................... 16
FUNÇÃO DO GENE ........................................................................................................... 17
EPIGENÉTICA ................................................................................................................... 18
IMPRINTING .................................................................................................................... 18
QUESTÕES ....................................................................................................................... 20
CAPÍTULO 2 – VARIAÇÕES GENÉTICAS .................................................................................. 21
TIPOS DE VARIANTES DA SEQUÊNCIA DE DNA.................................................................. 21
ALTERAÇÕES AO NÍVEL DOS NUCLEÓTIDOS ....................................................................... 1
EXON SKIPPING ................................................................................................................. 2
CAUSAS PARA MUTAÇÃO DE NUCLEÓTIDO ........................................................................ 2
REPARAÇÃO DE DNA ......................................................................................................... 3
MUDANÇAS GENÓMICAS .................................................................................................. 5
DUPLICAÇÃO DO GENE E EVOLUÇÃO ................................................................................. 6
POLIMORFISMO GENÉTICO ............................................................................................... 7
TIPOS DE POLIMORFISMO ................................................................................................. 7
SIGNIFICÂNCIA DO POLIMORFISMO GENÉTICO .................................................................. 8
QUESTÕES......................................................................................................................... 9
CAPÍTULO 3 – PADRÕES DE HEREDITARIEDADE .................................................................... 10
HEREDITARIEDADE MENDELIANA .................................................................................... 10
HEREDITARIEDADE AUTOSSÓMICA RECESSIVA ................................................................ 10
HEREDITARIEDADE AUTOSSÓMICA DOMINANTE ............................................................. 12
HEREDITARIEDADE LIGADA AO X ..................................................................................... 13
HEREDITARIEDADE LIGADA AO Y ..................................................................................... 14
HEREDITARIEDADE PSEUDODOMINANTE......................................................................... 14
2
HEREDITARIEDADE DIGÉNICA .......................................................................................... 15
PENETRÂNCIA E EXPRESSIVIDADE.................................................................................... 16
HETEROGENEIDADE GENÉTICA ........................................................................................ 17
MUTAÇÃO E MOSAICISMO .............................................................................................. 17
IMPRINTING GENÓMICO ................................................................................................. 18
DISTÚRBIOS DE REPETIÇÃO DE TRIPLETOS E ANTECIPAÇÃO ............................................. 19
HEREDITARIEDADE MITOCONDRIAL ................................................................................ 20
QUESTÕES ....................................................................................................................... 22
CAPÍTULO 4 - GENOMA HUMANO ........................................................................................ 24
ESTUDO DO GENOMA HUMANO E CLONAGEM ................................................................ 24
MAPPING OU MAPEAMENTO GENÉTICO E LINKAGE GENÉTICO ........................................ 25
ANÁLISES DE LINKAGE OU LIGAMENTO ........................................................................... 25
FREQUÊNCIA DE RECOMBINAÇÃO E ODDS RATIO ............................................................ 26
DE ODDS PARA LOD SCORE.............................................................................................. 27
LINKAGE E MARCADORES ................................................................................................ 27
COMO FOI EXECUTADO O PGH (PROJECTO GENOMA HUMANO)? .................................... 28
PSEUDOGENES ................................................................................................................ 30
REPETIÇÕES DERIVADAS DE TRANSPOSÕES ..................................................................... 30
NOVAS ÁREAS DE CONHECIMENTO IMPULSIONADAS PELO PGH ...................................... 31
QUESTÕES....................................................................................................................... 32
CAPÍTULO 5 – HEREDITARIEDADE MULTIFATORIAL............................................................... 33
INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 33
CONCEITO DE HERANÇA MULTIFATORIAL ........................................................................ 33
PROVAS DA EXISTÊNCIA DA HERANÇA MULTIFATORIAL ................................................... 33
COMPONENTES DA VARIAÇÃO FENOTÍPICA ..................................................................... 34
MODELOS DE HEREDITARIEDADE MULTIFATORIAL .......................................................... 35
ESTUDOS ASSOCIADOS À GENÉTICA ................................................................................ 36
QUESTÕES....................................................................................................................... 38
CAPÍTULO 6 – DIVISÃO CELULAR E OS CROMOSSOMAS ........................................................ 39
DIVISÃO CELULAR............................................................................................................ 39
CICLO CELULAR................................................................................................................ 39
MITOSE E MEIOSE ........................................................................................................... 40
CROMOSSOMAS.............................................................................................................. 41

3
ESTRUTURA DO CROMOSSOMA E ANÁLISE ...................................................................... 42
CITOGENÉTICA MOLECULAR ............................................................................................ 43
ANOMALIAS CROMOSSÓMICAS ...................................................................................... 44
ANORMALIDADES ESTRUTURAIS ..................................................................................... 45
IMPRINTING E ANORMALIDADES CROMOSSÓMICAS ....................................................... 46
QUESTÕES....................................................................................................................... 48
CAPÍTULO 7 – GENÉTICA DE POPULAÇÕES ............................................................................ 49
EQUILÍBRIO DE HARDY-WEINBERG .................................................................................. 49
DESVIOS DO EQUILÍBRIO DE HARDY-WEINBERG .............................................................. 51
POLIMORFISMO BALANCEADO ........................................................................................ 52
EFEITO DO FUNDADOR .................................................................................................... 53
CONCLUSÃO .................................................................................................................... 54
QUESTÕES....................................................................................................................... 55
CAPÍTULO 8 – BASES GENÉTICAS DO CANCRO ...................................................................... 57
CANCRO COMO PATOLOGIA GENÉTICA ........................................................................... 57
GENES SUPRESSORES DE TUMORES – RB ......................................................................... 59
ONCOGENES ................................................................................................................... 60
ESTUDO DE RETROVÍRUS ................................................................................................. 61
TRANSFEÇÃO DE DNA TUMORAL NO RATO PARA INDENTIFICAR GENES TRANSFORMADO62
MECANISMOS DE ATIVAÇÃO DE ONCOGENES .................................................................. 62
GENES SUPRESSORES DE TUMORES VS ONCOGENES ........................................................ 63
EPIGENÉTICA E ONCOGÉNESE .......................................................................................... 66
BASES MOLECULARES DO CANCRO .................................................................................. 67
NOVOS TRATAMENTOS ................................................................................................... 67
QUESTÕES....................................................................................................................... 69
CAPÍTULO 9 –TRANSLOCAÇÃO DE CROMOSSOMAS .............................................................. 70
PARTE 1 .......................................................................................................................... 70
PARTE 2 .......................................................................................................................... 71
PARTE 3 .......................................................................................................................... 71
PARTE 4 .......................................................................................................................... 72
PARTE 5 .......................................................................................................................... 73
PARTE 6 .......................................................................................................................... 73
CITOGENÉTICA CLÍNICA ................................................................................................... 73

4
QUESTÕES....................................................................................................................... 75
CAPÍTULO 10 – DIAGNÓSTICO MOLECULAR .......................................................................... 77
INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 77
PARTE 1 .......................................................................................................................... 77
PARTE 2 .......................................................................................................................... 77
PARTE 3 .......................................................................................................................... 78
PARTE 4 .......................................................................................................................... 79
PARTES 5, 6 E 7................................................................................................................ 79
DIAGNÓSTICO MOLECULAR DE ANOMALIAS GENÉTICAS .................................................. 79
QUESTÕES....................................................................................................................... 80
CAPÍTULO 11 – DIAGNÓSTICO NEONATAL / ERROS INATOS DO METABOLISMO .................... 82
ESPECTOMETRIA DE MASSA ............................................................................................ 82
FENILCETONÚRIA ............................................................................................................ 83
MATERNAL PKU .............................................................................................................. 84
DEFICIÊNCIA DA DESIDROGENASE DOS ÁCIDOS GORDOS DE CADEIA MÉDIA (MCADD) ..... 85
GENÉTICA........................................................................................................................ 85
IMPORTÂNCIA DO DIAGNÓSTICO MOLECULAR ................................................................ 86
INBORN ERRORS OF METABOLISM .................................................................................. 86
QUESTÕES....................................................................................................................... 89
CAPÍTULO 12 – GENÉTICA NO DESENVOLVIMENTO .............................................................. 90
SÍNDROME DE CHARGE ................................................................................................... 91
ERROS NO NASCIMENTO DO DESENVOLVIMENTO ........................................................... 92
GENE SONIC HEDGEHOG- SHH ......................................................................................... 93
QUESTÕES....................................................................................................................... 95
CAPÍTULO 13 - TESTE DO PORTADOR ................................................................................... 96
INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 96
TESTE DO PORTADOR ...................................................................................................... 97
QUESTÕES....................................................................................................................... 98
CAPÍTULO 14 – AVALIAÇÃO DO RISCO GENÉTICO ................................................................. 99
TRIAGEM GENÉTICA PARA RISCO DA DOENÇA: .............................................................. 100
RELAÇÃO DOS TESTES COM A SOCIEDADE ..................................................................... 100
QUESTÕES ..................................................................................................................... 101
CAPÍTULO 15 – TESTES GENÉTICOS PARA VERIFICAÇÃO DO RISCO DE CANCRO ................... 102

5
INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 102
PARTE I ......................................................................................................................... 102
PARTE II ........................................................................................................................ 102
PARTE III ....................................................................................................................... 103
PARTE IV ....................................................................................................................... 103
PARTE V ........................................................................................................................ 104
PARTE VI ....................................................................................................................... 105
PARTE VII ...................................................................................................................... 105
PARTE VIII ..................................................................................................................... 106
PARTE IX ....................................................................................................................... 106
PREDISPOSIÇÃO FAMILIAR PARA O CANCRO.................................................................. 106
QUESTÕES..................................................................................................................... 107
CAPÍTULO 16 – FARMACOGENÉTICA .................................................................................. 108
PARTE I ......................................................................................................................... 108
PARTE II ........................................................................................................................ 109
PARTE III ....................................................................................................................... 109
PARTE IV ....................................................................................................................... 109
PARTE V ........................................................................................................................ 110
PARTE VI ....................................................................................................................... 110
FARMACOGENÉTICA E FARMACOGENÓMICA ................................................................. 110
FARMACOGENÉTICA ...................................................................................................... 111
QUESTÕES..................................................................................................................... 112
CAPÍTULO 17 – TRATAMENTO DE DESORDENS GENÉTICAS ................................................. 113
ESCLEROSE TUBEROSA .................................................................................................. 113
ENSAIO CLÍNICO ............................................................................................................ 114
EFEITOS SECUNDÁRIOS.................................................................................................. 115
TERAPIA DAS DESORDENS GENÉTICAS ........................................................................... 115
QUESTÕES..................................................................................................................... 117

6
CAPÍTULO 1 – ESTRUTURA E FUNÇÃO DO DNA

• O DNA é composto por duas cadeias antiparalelas (uma


orientada de 5’ para 3’ e outra de 3’ para 5’), que formam uma
estrutura em dupla-hélice com uma “espinha dorsal”
(backbone), açúcar (desoxirribose)-fosfato;

• A replicação do DNA envolve o desenrolamento de locais


desta molécula e o início da cópia de cada uma das cadeias “parentais”.
A replicação é bidirecional, a partir de vários locais diferentes no genoma.

Key Words:

Hydrogen bonds – pontes de hidrogénio;

Parent strands – cadeias “parentais”;

Covalent bonds – ligações covalentes

Unwinding – desenrolamento

• O DNA é associado a proteínas para formar uma fibra compacta de


cromatina no núcleo.

• A informação presente no DNA é copiada para mRNA, num processo


altamente regulado que envolve a ativação e repressão de genes
individuais.

• A molécula de mRNA é processada no núcleo (incluindo a remoção dos


intrões e a junção (splicing) dos exões), antes de ser exportada para o
citoplasma, local onde vai ocorrer a tradução.

• A sequência do mRNA, ligada ao (s) ribossoma (s), é lida de acordo com


os tripletos (codões), direcionando a montagem dos aminoácidos em
proteínas.

• Alguns genes são permanentemente reprimidos/inibidos por marcas


epigenéticas, tais como, a metilação das bases citosina. Exemplo: um
dos cromossomas X presentes nas fêmeas está silenciado.

7
Aula 1 (27/02/2014)
Níveis de análise genética

Genética Clássica Genética Molecular Genética Populacional


(Genes características) (Genes / moléculas) (Populações)

A “espinha dorsal” (backbone) do DNA, é formada por açúcar-fosfato. O açúcar


é a desoxirribose (no caso do DNA) – ribose na qual está em falta um átomo de
oxigénio da posição 2’. As moléculas desoxirribose estão ligadas por ligações
fosfodiéster, entre a posição 5’ de uma desoxirribose e a posição 3’ da
desoxirribose seguinte.

O número de bases adenina (A), equivale sempre ao número de bases timina


(T). Este facto ocorre devido á ligação da base A de uma cadeia com a base T
da outra cadeia, por ligações não covalentes - pontes de hidrogénio. O mesmo
acontece com as bases guanina e citosina.
As ligações G – C formam três pontes de hidrogénio, sendo um pouco mais
estáveis termodinâmicamente, comparando com as ligações A – T que formam
duas pontes de hidrogénio.
Como as ligações entre as bases incluem sempre uma pirimidina (C ou T) e uma
purina (A ou G), a distância através da hélice permanece constante.
Sabe-se que a molécula de DNA sofre o processo de replicação ao contrário da
molécula de RNA, porque esta é originada a partir do DNA.

8
Propriedades do DNA:
• Replica-se;
• Expressa-se; (proteínas)
• Altera-se. (mutações)
A dimensão do genoma não é proporcional á complexidade do organismo, ou
seja, um genoma maior não corresponde a uma maior complexidade do
organismo.
Este facto é comprovado no gráfico seguinte:

Replicação do DNA
Chegou-se á conclusão que a replicação do DNA é semiconservativa, ou seja,
a seguir ao desenrolamento da dupla hélice num determinado local, cada cadeia
parental vai servir de molde para a formação de novas cadeias. A formação das
novas cadeias ocorre por complementaridade de bases.

A seguir ao desenrolamento da dupla hélice, pela enzima DNA helicase, as


bases complementares formam pontes de hidrogénio (posicionamento das
bases na nova cadeia). A enzima DNA polimerase intervém na formação de
ligações fosfodiéster (entre os 3 fosfatos e a pentose), em cada cadeia nova.
As novas dupla-hélice formadas são híbridas, pois contêm uma cadeia parental
(antiga) e uma cadeia nova.
Enquanto a RNA polimerase, iniciava em +1, a DNA polimerase necessita de um
segmento que pode ser de DNA ou RNA para reconhecer o local onde irá iniciar
a sua função.
9
Para além da função anteriormente referia da DNA polimerase, a DNA
polimerase I, por exemplo, tem a função de exonuclease, pois consegue
remover o último nucleótido adicionado se este estiver errado
estequiometricamente. Em seguida, aguarda que seja adicionado o nucleótido
correto. Esta função é muito importante como iremos perceber.

DNA polimerase I
Atividade 5’ 3’

Exonuclease

Polimerase

Atividade 3’ 5’

Exonuclease

10
DNA polimerases

E.coli Funções Eucariotas

DNA polimerase I Reparação de DNA DNA polimerase βζη

DNA polimerase II Reparação de DNA DNA polimerase βζη

DNA polimerase III Replicação semi-conservativa DNA polimerase αδε

DNA polimerase IV Replicação de DNA danificado

DNA polimerase V Replicação de DNA danificado

Replicação de DNA mitocondrial DNA polimerase γ

Verificação de erros

A DNA polimerase III possui subunidades β


que formam um anel. Este anel funciona como
elemento agregador da DNA polimerase á
cadeia de DNA. Podem intervir também, outros
tipos de subunidades.

11
A DNA ligase é a enzima que realiza a
última ligação fosfodiéster, para que a
cadeia fique completa. Une os fragmentos
de Okazaki, após a retirada dos primers.

A DNA primase é uma RNA polimerase que


tem como função, a adição de primers
(primeiros nucleótidos a serem adicionados).
Os primers (iniciadores) são pequenos
segmentos RNA (ribonucleótidos) resultantes
do DNA “molde”. Como iremos perceber mais
á frente, estes são importantes para que
ocorra o início da formação da nova cadeia.

A DNA helicase separa as cadeias


parentais, realizando assim o
desdobramento da dupla hélice. O
desenrolamento da zona irá
provocar o superenrolamento da
zona

12
A DNA topoisomerase,
impede/controla esse enrolamento, pois
produz “quebras” nas cadeias únicas de
DNA, mas volta a estabelecer as
ligações fosfodiéster, aliviando assim o
superenrolamento.

A SSB (Single-Strand DNA Binding protein), lineariza a cadeia de DNA, para


que ocorra a adição de nucleótidos.

Nota: Na replicação 5’ para 3’, é apenas necessária a adição de um primer inicial,


para que a DNA polimerase III exerça a sua função. Na replicação 3’ para 5’ é
necessário associar á cadeia parental um maior número de primers.

Porquê da designação 3’ e 5’: Na extremidade 5’ é exposto o fosfato no


carbono 5’ da ribose. Na extremidade 3’ é exposto o grupo hidroxilo no carbono
3’ da ribose.

13
Passos da replicação:
Passo 1: São adicionados os
segmentos iniciadores, primers,
pela DNA primase.
Passo 2: Ocorre a extensão dos
primers. A DNA primase
dissociase.
Passo 3: São adicionados os
nucleótidos a partir da extremidade
3’ dos primers. A DNA polimerase
III forma as ligações fosfodiéster
destes novos nucleótidos
adicionados.
Passo 4a: São removidos os
primers, pela ação de exonuclease
da DNA polimerase I.
Passo 4b: Ligação de novos
nucleótidos no local onde se
encontravam os primers, pela ação de polimerase da DNA polimerase I.
Passo 5: Formação das últimas ligações pela DNA ligase. A cadeia está completa.

A replicação de DNA está


sempre associada ao
crescimento de uma nova
cadeia a partir de uma
sequência primer.
No entanto, o número de
primers adicionados não é
igual: à cadeia Lagging, são
adicionados um maior
número de primers
enquanto que na Leading
apenas é adicionado um
primer inicial.
Entre os primers, são
formados segmentos de
nucleótidos designados
fragmentos Okazaki.

14
O genoma pode ser completamente replicado numa questão de horas, pois a
replicação de DNA é feita de forma bidirecional, ao mesmo tempo, em vários
locais. Formam-se assim, “bolhas de replicação”.

Caso especial de replicação:


Há remoção na lagging strand do primer terminal, pela DNA polimerase I. Isto
é resolvido pela telomerase, que usa um molde de RNA intrínseco para formar
uma cadeia, composta por uma sequencia tandem (GGGTTA), nos humanos.
Um telómero protege a região codificante da erosão por enzimas.
As telomerases atuam no início do nosso desenvolvimento, em contra partida
nas nossas células somáticas estas já desapareceram. O cromossoma vai sendo
encurtado a cada replicação até ocorrer a morte da célula (senescência) -
processo de envelhecimento das células, em que estas se param de dividir
quando os telómeros ficam muito encurtados.
A telomerase é uma transcriptase reversa que produz DNA telomérico a partir de
RNA intrínseco. As células tumorais possuem telomerases.

15
Replissoma eucariótico

Legenda:
- DNA POLIMERASE α (DNA PRIMASE)- iniciam os fragmentos de okazaki
- DNA POLIMERASE δ- síntese do DNA
- DNA PELIMERASE ε- replicação e reparação in vitro
- PCNA (PROLIFERATING CELL NUCLEAR ANTIGEN)- mola deslizante
- FATOR DE REPLICAÇÃO C- carrega a PCNA
- Ribonuclease h1 e fen-1- removem os primers

Cromatina
O DNA está compactado com proteínas ricas em
lisina e arginina chamadas histonas.
Duas moléculas de cada um dos 4 principais tipos
de histonas (h2a, h2b, h3, h4) associam se juntas
com 146 bases formando um nucleossoma.
A associação de nucleossomas é feita por ligações
entre as H1 e outras proteínas não histona.

16
Função do gene
O DNA tem o código para a transcrição, replicação e silenciamento.

Relembrar a TRANSCRIÇÃO:
- Região promotora TATA
- RNA POLIMERASE (I – para rRNA, II- para mRNA, III-para tRNA)
- As DNA BINDING PROTEINS - são
proteínas repressoras
- Fatores de transcrição
- Após ser transcrito, o mRNA, vai receber o
CAP de 7 metilguaninas em 5´ e a cadeia
PolyA em 3´. ambos com funções de
proteção, estabilizaçao etransporte
- O splicing é feito pelas ribonucleoproteinas
SnRNAs (que vem da polimeraseIII),
- As proteínas SR identificam o local de
splicing e nesta identificação intervêm os
splice enhancers (dentro dos exões)
- O splicing é um ponto de controlo da
expressão genética, devido ao splicing
diferencial, em diferentes células do
organismo, diferentes exões são
transcritos.
- RNA EDITING: enzimas cortam o mRNA e resulta numa proteína diferente.

Relembrar a TRADUÇÃO:
Iniciação - alongamento (gasto ATP) - finalização)
O ribossoma tem a subunidade 60s (que tem a 28s) e 40s (que tem a 18s) -
Depois há modificações pós tradução como a glicosilação.

17
Epigenética
Silenciamento genético - modificação química da estrutura do DNA sem ser na
sua sequencia de nucleótidos (isto ocorre por exemplo num dos X da mulher).
- Modificação nas histonas = maior compactação
Isto dá-se pela metilação (METILTRANSFERASE) de bases de citosina.
Ocorre em zonas próximas do gene promotor, que são as ilhas GPG (várias
citosinas + guaninas seguidas)
Os locais metilados ligam complexos proteicos que removem grupos acetil das
histonas, a consequência é a repressão da transcrição.

Exemplo: No homem, inativação de porções do X fazem a dosagem genética, e


na mulher, um dos X é inativado aleatoriamente.

Nota: pseudoautossomal region- zona homóloga entre os cromossomas X e Y que fica por desativar.

X INATIVATION CENTER- zona de um dos X que expressa um gene, esta é


ativada aleatoriamente nos primórdios da nossa vida em células, de modo
diferente, o RNA resultante liga-se em vários locais do cromossoma - há
metilação = inativação.

Imprinting
Ocorre quando, nas células germinativas as duas cópias maternas e
paternas de um gene são silenciadas devido a metilação.
18
O silenciamento pode ser ineficaz se este locus inativo ativar outro igual. Por
outro lado o silenciamento de um gene pode inativar outro.
O imprinting vai-se restabelecer nas células somáticas, ou seja, quando a célula
se divide, as células filhas irão ter o mesmo gene silenciado.

19
QUESTÕES
1. As duas bandas de DNA são separadas quando aquecidas e a temperatura à
qual a separação ocorre depende do conteúdo em termos de base do DNA.
DNA com uma maior quantidade de G-C tende a separar-se a temperaturas
mais elevadas que um com maior quantidade de A-T. Porquê?
A ligar G e C há 3 pontes de hidrogénio enquanto que entre a A e T há apenas 2,
tornando-os termodinâmicamente mais estáveis (os G-C).
2. Qual é o papel da transcrição na replicação do DNA?

A transcrição é requerida para sintetizar RNA primers curtos que servem


como ponto de iniciação para a síntese de DNA.
3. Considere a seguinte sequência de genes. Qual seria a sequência de mRNA
deste gene que seria transcrita e qual é a sequência de aminoácidos do péptido
que seria traduzida?
5’ – promotor – ATG GTT GAT AGT CGT TGC CGC GGG CTG TGA - 3’
3’ – promotor – TAC CAA CTA TCA GCA ACG GCG CCC GAC ACT – 5’
RNA: AUG GUU GAU AGU CGU UGC CGC GGG CUG UGA
Péptido: met-val-asp-ser-arg-cys-arg-gly-leu
4. Há mais proteínas do que genes. Quais são os mecanismos que são
responsáveis por esta discrepância?
(1) Promotores alternativos, que levam a múltiplas proteínas derivadas do
mesmo gene; (2) splicing alternativo, que leva às diferentes versões de uma
proteína com ou sem vários exões; (3) edição de RNA pode causar alterações na
sequencia de mNA depois da transcrição e (4) modificações pós-tanscripcionais.
5. Uma mulher é heterozigótica para uma doença ligada ao X que leva à expressão
de 2 diferentes formas de uma enzima. As duas formas são separadas em 2
bandas distintas quando a enzima é sujeita a electroforese. Se fosse testar
fibroblastos da pele cultivados e isolar as enzimas, o que esperava ver? Se
pudesse isolar certos fibroblastos e cultiva-los em colónias antes de extrair as
enzimas e depois sujeita-los à electroforese o que esperava de ver?
O teste dos fibroblastos de umamulher heterozigótica devia produzir 2 bandas,
mas se os clones das células a ser testados derivam apenas de uma célula, apenas
uma das 2 formas sera vista devido à inativação do outro cromossoma X.

20
CAPÍTULO 2 – VARIAÇÕES GENÉTICAS
As modificações genéticas poderão ter sentido, no fenótipo, se ocorrerem em
zonas que codificam RNA. A maioria destas modificações ou é reparada ou é
letal á célula.
A variação não é exceção. Não há um gene dito normal dentro de uma mesma
espécie.

Tipos de variantes da sequência de DNA


As mutações mais simples, correspondem a modificações num só nucleótido,
podem ser devidas a má incorporação ou a agentes mutagénicos.

 Deleções  Duplicações
 Inserções  Inversões

Existe uma escala para medir o tamanho de uma mutação, que vai de um
nucleótido até uma anomalia cromossómica.

21
Alterações ao nível dos nucleótidos
• Deleções
• Duplicações
• Inserções
• Modificação da base

- Mutação missence – mutação em que muda um aminoácido


- Mutação numa zona de controlo. Ex: Promotor

- Mutação num enhancer – provoca alteração no splicing. Resulta na alteração


da expressão tal como na mutação acima mencionada.
- Mutação silenciosa – o codão mutado origina o mesmo aminoácido do codão
não mutado.
- Mutação conservativa – o novo aminoácido tem propriedades químicas
semelhantes.
As single nucleotide polymorphisms, SNP’s, são responsáveis pelas diferenças
entre proteínas com a mesma função, mas em espécies diferentes – proteínas
ortólogas.
Péptido truncado – é originado por uma mutação que resulta num codão STOP
prematuro.
Mutação Frameshift – ocorre em exão, e envolve a inserção ou deleção de um
codão não completo, ou seja, 1 ou 2 bases. Consequência: altera todos os
codões até ao codão STOP, ou seja, a leitura a partir da mutação será toda
errada.
Pode também ocorrer mutação frameshift por splicing errado:

1
Exon skipping
É errado pensarmos que uma mutação num intrão não provoca qualquer
alteração, pois pode levar a splicing errado, resultando na perda de exão.
Locais onde ocorrem mutações associadas aos exões:
• No acetor de splicing
• No dador de splicing
• No enhancer

O aparecimento de um codão STOP devido a estas mutações, normalmente leva


à degradação do mRNA. Processo designado nonsence-mediated decay.
Isto acontece na passagem do mRNA para o citoplasma, que ainda leva
acopladas as proteínas de splicing (ribonucleoproteínas) a unir os exões.
O ribossoma passa e vai removendo essas proteínas.
Se estiver um STOP a + 50 nucleótidos de um destes complexos, o ribossoma
para e o mRNA é degradado.
Isto não acontece se o STOP estiver dentro dos 50 ou dentro do último exão,
desde que ele não tenha proteínas de junção no fim.

Causas para mutação de nucleótido


• Mutações espontâneas – durante a replicação do DNA existem
mecanismos que reparam estes erros, no entanto existem mutações que
escapam a este processo de reparação.
2
• Peculiaridades do DNA – Enquanto a helicase atua, pode ocorrer a
formação de um “gancho de cabelo” numa das cadeias devido á
complementaridade das bases presentes nessa cadeia.

• Agentes mutagénicos – alteram quimicamente o DNA e quebram a cadeia


de DNA. Consequências das mutações provocadas por agentes
mutagénicos:

- Desaminação – Ex: Citosina é convertida a Uracilo

- Alquilação – leva a cross-linking entre cadeias de DNA

- Produção de radicais livres no núcleo, devido a radiação ionizante ou


UV, levando à quebra da cadeia e mutações pontuais.

Efeito da radiação UV: dimerização de bases Timina, que pode levar a


deleção.

Os fatores biológicos também podem aumentar o risco de mutação:

• Quanto mais idade, maior o risco de não disjunção cromossómica. (Caso


de uma mãe)

• No homem, as divisões mitóticas para formar gâmetas, dão-se durante


toda a vida, ou seja, maior é a probabilidade de ocorrer erros.

Reparação de DNA
Existem três grandes sistemas para a reparação de danos no DNA:
• Nucleotide Excision Repair System - Remove bases que foram
alteradas por químicos ou radiação.

3
Uma endonuclease faz um corte a várias bases de distância, de cada lado do
nucleótido danificado, essa zona é retirada por uma helicase. A cadeia é de novo
preenchida pela DNA POLIMERASE que usa a cadeia intacta como molde.
• Base Excision Repair - Remove bases alteradas quimicamente, através
de uma glicosilase.

A glicose fosfato a que a base estava ligada é removida e substituída por um


nucleótido colocado no lugar certo.
 Mismarch Repair - Remove uma base mal colocada na replicação e que
não emparelha corretamente.

Remove-se o segmento recém-formado que depois é de novo copiado.

As quebras podem resultar por indução química ou de radiação.


A reparação dessas quebras:
- Numa cadeia: É feita a partir da cópia da cadeia intacta.

4
- Na dupla cadeia: É feita a partir de sistemas enzimáticos que
justapõem as duas extremidades e as ligam.

Mudanças genómicas
As mudanças de maior alcance são:
• Deleções;
• Duplicações;
• Inversões múltiplas num gene.
Podem ocorrer num gene ou em grandes segmentos com vários genes, levando
a anomalias cromossómicas.
A deleção pode levar à haploinsuficiência (perda integral do gene). Várias
deleções em vários genes seguidos produzem um fenótipo complexo -
consequência de várias haploinsuficiencias (vários loci).
A duplicação geralmente leva ao aumento do nível de expressão do gene.

As mutações genómicas podem ser classificadas em dois grupos:


- Recorrentes (o tamanho da alteração é igual de individuo para individuo);

- Únicas num indivíduo.


5
As recorrentes ocorrem muitas vezes nas LCRs (Low copy repeats) - definidas
como um conjunto de segmentos de ADN que variam em tamanho de 1 kb a
centenas de kb, com pelo menos 95% de homologia de sequência, repetida
várias vezes no genoma.
Estas recombinações vão resultar em duplicação ou deleção.
As inversões podem resultar de eventos de recombinação entre um LCR
localizado dentro de um gene e um LCR fora do gene. Este é o mecanismo
predominante na mutação do gene do Factor VIII, relacionado com Hemofilia A.
O mecanismo preciso da origem destes rearranjos não é conhecido, mas
pensase que surgem como uma consequência de eventos anormais durante a
síntese de ADN.

Um cruzamento entre duas LCR homólogas, gera um alelo de duplicação e


um alelo de deleção:

Uma recombinação (homóloga) entre uma LCR Nonallelic dentro de um


exão de um gene e uma LCR fora do gene resulta numa inversão e divisão
do gene, tornando-o inativo:

Duplicação do gene e evolução


Ao longo de muitas gerações após o evento de duplicação, as cópias do gene
podem sofrer mutação subsequente. A função dos respetivos produtos genéticos
é alterada. Isto pode resultar em famílias de genes, com diferentes membros,
tendo semelhantes funções.

6
Polimorfismo genético
Polimorfismo - É um locus (gene) que varia 1% quando comparado com o de
outro individuo.

Tipos de polimorfismo
• SNP (Single-nucleotide polymorphism) - mudança num único nucleótido.
Ocorre em qualquer lugar num gene e entre genes.

• Simple sequence repeats. PCR (polimerase chain reaction) – o número


exato de repetições (di- , tri- , ou tetra-nucleotídicas) pode variar de
indivíduo para indivíduo, e podem ser medidos por PCR.

• Short tandem repeats - são repetições de dezenas a centenas de bases,


com número exato de repetições.

7
PCR

• Cópia de um pedaço específico de genoma - varia de individuo para


individuo. Estima-se que estas repetições incluem até 12% do genoma.
Este tema será melhor explicado no Capítulo 6.

Significância do polimorfismo genético


O polimorfismo não implica diferente fenótipo:

• Os que aparecem em zonas não codificantes são silenciosos;

• Os que aparecem em zonas reguladoras e codificantes podem ou não


levar a doença.

8
QUESTÕES
1. Algumas mutações silenciosas têm vindo a ser encontradas associadas a
doenças. Sugira um possível mecanismo para o afirmado. Como testarias essa
hipótese?
Uma mutação silenciosa pode afetar o splicing ou por criação de um novas
sequências dadoras/receptoras de splice, ou por afectar um exonic splice
enhancer. Tais mutações podem resultar num splicing anormal. A hipótese podia
ser testada através da observação do RNA, onde podemos observar um mRNA
com um splicing anormal.
2. Que tipo de mutações são mais prováveis de estarem associadas a uma
haploinsuficiência?
Mutação stop; mutação frameshift e deleção do gene
3. Suponha que está a tentar encontrar mutações num gene e em vez de escolher
analisar o DNA, escolheu RNA. O raciocínio que o levou à decisão foi: ao
sequencializar RNA, não veras só as substituições mas também os efeitos das
mutações que alteram o splicing. No entanto, um colega teu afirma que
algumas mutações que acabem num codão de terminação podem escapar a
esta estratégia. Porquê?
O non-sense mediated decay pode causar degradação do RNA com mutações que
resultaram em codões stop deixando disponíveis apenas as moléculas
“selvagens” (wild type).
4. Tendo em conta a frequência das mutações espontâneas, e assumindo que a
mutação ocorre aleatoriamente no genoma, aproximadamente quantas
mutações podem ser esperadas numa célula germinativa comparativamente
com o indivíduo do qual derivou a célula germinativa?
Se a razão da mutação é 10-8 por nucleótido e há 3x109 nucleótidos por genoma
haploide, podemos esperar cerca de 30 mutações por cada célula germinativa
haploide.
5. Em que circunstâncias um polimorfismo pode estar associado a um fenótipo
patológico?
Um polimorfismo pode ter efeitos fenotípicos, incluindo efeitos associados a
problemas médicos. O termo “polimorfismo” carrega implicações apenas para a
frequência e não para os efeitos fisiológicos da alteração. Alguns variantes
comuns ocorrem dentro dos genes e afectam a a sua função resultando num
fenótipo patológico.

9
CAPÍTULO 3 – PADRÕES DE HEREDITARIEDADE
Hereditariedade Mendeliana
 Um organismo diploide contém duas cópias de cada gene (excetuando os
cromossomas sexuais)
 Uma cópia de cada gene é herdada de cada um dos pais
 As cópias individuais de cada gene são chamadas alelos
 Genótipo: constituição genética de uma célula, organismo ou indivíduo
 Fenótipo: características observáveis ou caracteres de um organismo ou
população
 O sexo é determinado pelos cromossomas X e Y (homem XY e mulher XX)
 Genes localizados num cromossoma sexual são denominados de genes ligados
ao sexo e os restantes genes são autossómicos

Hereditariedade autossómica recessiva


 As características descritas por Garrod mostram as propriedades da
hereditariedade recessiva de Mendel
 Estas características são expressas apenas em indivíduos com dois alelos
mutantes herdados de cada um dos pais
 Estes indivíduos são homozigóticos, uma vez que ambos os alelos são
mutantes
 Os pais, heterozigóticos, são os dois portadores de um alelo mutado e um não
mutado

 Os pais enfrentam 1 em 4 possibilidades de passar os alelos mutados; a


probabilidade de isto acontecer aumenta se houver consanguinidade
 Garrod usou a expressão ”inborn errors of metabolism” para descrever os
traços que ele caracterizou
 O albinismo e a alcaptonúria são distúrbios do metabolismo da tidasina e estas
doenças resultam de uma deficiência de enzimas específicas devido a uma
mutação nos genes que as codificam
 No albinismo há uma deficiência de melanina devido à falta de atividade da
enzima tirosinase
10
 O problema na alcaptonúria é a acumulação de uma substância tóxica devido
a uma deficiência enzimática
 Outro defeito no metabolismo da fenilalanina, a fenilcetonúria, é causado pela
deficiência da fenilalanina hidroxilase; a fenilalanina e os seus metabolitos
acumulam a níveis tóxicos
 As enzimas são proteínas que catalisam reações químicas; a enzima não é
consumida durante a reação, por isso apenas pequenas quantidades são
requeridas para a reação acontecer
 Num indivíduo homozigótico com uma mutação no gene que codifica uma enzima
específica, há muito pouca ou nenhuma atividade, por isso essa pessoa
manifesta um fenótipo anormal
 Um indivíduo heterozigótico expressa 50% do nível normal da atividade
enzimática; isto normalmente é suficiente para prevenir uma expressão fenotípica
anormal

 Nem todos os traços recessivos são causados por uma deficiência enzimática
 A fibrose quística, por exemplo, é uma doença recessiva em que há pouca
secreção, especialmente nos pulmões e em glândulas como o pâncreas; esta
doença é causada por uma mutação no gene que codifica um canal de cloreto
 Geralmente, traços recessivos estão associados a níveis reduzidos de
atividade de um produto genético em sistemas que têm função de reserva
suficiente, para que em indivíduos heterozigóticos não perturbem o sistema
 As mutações responsáveis por traços recessivos têm tendência a originar falhas
na expressão genética, falhas na produção de proteínas ou produção de
proteínas com função reduzida ou ausente

11
Hereditariedade autossómica dominante
 Os traços autossómicos dominantes são observados em heterozigotos e
homozigotos

 Pessoas com síndrome de Marfan têm articulações frouxas e válvulas cardíacas


fracas e estão propensas a dissecção da aorta
 Esta doença é causada pela deficiência na produção de fibrilina-1, que é um
componente do tecido conjuntivo
 Mutações que levam à redução de fibrilina-1 em 50% causam um
enfraquecimento do tecido conjuntivo e sinais da síndrome de Marfan; isto é
chamado de haploinsuficiência
 Algumas mutações da fibrilina-1 resultam na produção de quantidades normais
desta glicoproteína, no entanto esta interage anormalmente com outras proteínas
do tecido conjuntivo
 Este mecanismo é conhecido como efeito dominante negativo - a proteína
anormal afeta o sistema, causando uma forma mais grave da síndrome de Marfan
que ocorre com haploinsuficiência
 A osteogénese imperfeita é uma doença na qual a matriz óssea não é normal,
levando a ossos frágeis e fraturas frequentes
 A condição é devida a mutações no gene que codifica componentes do colagénio
tipo I - o colagénio é uma molécula de tripla hélice que consiste duas cadeias de
colagénio alfa1 e uma de colagénio alfa2
 Uma mutação num alelo que codifica a alfa 1 pode dar origem à ruptura de 75%
de hélices triplas de colagénio devido à natureza polimérica da molécula madura
- outro exemplo de uma efeito dominante negativo
 Um exemplo de um distúrbio dominante, devido a uma mutação de ganho de
função é acondroplasia
 Acondroplasia é uma forma de nanismo, devido a uma mutação no receptor do
fator de crescimento de fibroblastos tipo 3 - este é um receptor
transmembranar que, quando ativado por ligandos à superfície das células,
promove a diferenciação de cartilagem em osso
 Uma mutação específica no gene para o receptor ativa o sistema, causando uma
conversão prematuro da placa de crescimento em osso, impedindo severamente
o crescimento
 Mutações de ganho de função tendem a ser altamente seletivas pois requerem a
substituição de aminoácidos em locais estratégicos no uma proteína

12
Hereditariedade ligada ao X
 O terceiro principal padrão de transmissão genética envolve genes nos
cromossomas X e Y
 Uma mutação no cromossoma X será mais provavelmente expressa em homens,
que recebem um único X de suas mães e um Y de seus pais; os homens são
hemizigóticos para genes no cromossoma X
 As mulheres vão expressar a característica apenas se herdarem de ambos os
pais, o que irá ocorrer muito mais raramente
 Uma mulher portadora de uma característica recessiva ligada ao X enfrenta um
risco de 50 % de transmissão
 As mulheres que herdarem a característica serão portadoras, enquanto que os
homens que herdam a característica são afetados; os homens nunca transmitem
uma característica ligada ao X aos seus filhos
 Uma característica ligada ao X também pode ser transmitida como dominante;
neste caso, uma mulher afetada tem 50% de probabilidade de passar a
característica, enquanto os homens transmitem a característica a todas as suas
filhas, mas a nenhum de seus filhos

13
 A maioria dos alelos ligados ao X são expressos em um dos dois cromossomas
X em qualquer célula específica de uma mulher
 Uma mulher que é heterozigota para uma característica ligada ao cromossoma X
expressa o alelo mutante em aproximadamente metade suas células e o alelo
não mutante na outra metade; pode haver alguma expressão fenotípica da
característica
 Às vezes, há uma inativação não aleatória do X, isto é, um cromossoma X é
ativo em mais de 50 % das células; isso pode ocorrer por acaso, ou pode ocorrer
se houver uma anomalia estrutural de um cromossoma X que faz com que uma
célula que o expresse morra devido a um desequilíbrio genético grave
 Se a inativação não aleatória do X leva a uma preponderância de células que
expressam um gene mutante ligado ao X, então o indivíduo expressa o fenótipo
 Outra maneira de uma mulher poder expressar o fenótipo de uma condição
recessiva ligada ao X é se ela tiver apenas um cromossomo X - este é o caso
para as fêmeas fenotípicas com a síndrome de Turner (tem apenas 45
cromossomos e apenas um único cromossomo sexual)

Hereditariedade ligada ao Y
 As mutações de genes ligados ao Y manifestam-se primariamente como
infertilidade masculina e, portanto, geralmente não são transmitidas às gerações
futuras
 Poucos genes residem na região homóloga compartilhada pelas pontas dos
braços curtos e longos dos cromossomas X e Y – a região pseudoautossómica
– e estes genes escapam à inativação do cromossoma X
 Mutações heterozigotas no SHOX (gene localizado na região pseudoautossómica
dos cromossomas X e Y) causam a discondrosteose Leri-Weil, uma rara displasia
esquelética; as mutações homozigotas causam o nanismo mesomélico Langer
 Como estes genes estão presentes tanto nos cromossomas X como nos Y, então
as características expressas vão comportar-se como autossómicas

Hereditariedade pseudodominante
 Refere-se à observação de uma aparente transmissão pai para filho de uma
característica autossómica recessiva; ocorre quando uma condição é comum e é
compatível com a reprodução
 A transmissão vertical ocorre quando um pai é homozigoto e o outro é
heterozigoto

14
 Um exemplo é a hemocromatose, um distúrbio no qual há a absorção excessiva
de ferro; o ferro deposita-se nos tecidos, tais como do coração, fígado e pâncreas

Hereditariedade Digénica
 Foi primeiro notada em famílias com a doença ocular retinite pigmentosa (RP),
em crianças cujos pais tinham mutações em diferentes genes associados à RP -
ROM1 e periferina
 Ambos os pais tinham a visão normal, como seria de esperar, uma vez que ROM1
e periferina normalmente causam RP apenas quando um indivíduo é homozigoto
para alelos mutados
 Os descendentes que eram heterozigotos duplos, no entanto, desenvolveram RP

 Com a herança digénica, pais normais, um dos quais tem uma mutação A e o
outro uma mutação B, terão um risco de um em quatro de ter um filho que herda
tanto a mutação A como a B e vai expressar o fenótipo mutante
 Para a geração afetada, a herança pode parecer autossómica recessiva
(irmãos afetados, pais não afetados, e um em cada quatro risco de ocorrência)
 Uma criança afetada terá uma chance em quatro de transmitir ambos os alelos
(mutações A e B), mas a transmissão aparecerá como vertical (dominante)

15
Penetrância e Expressividade
 Nem todas as pessoas que têm o genótipo associado a um fenótipo específico,
expressam o fenótipo; nestes indivíduos, o fenótipo é dito ser não penetrante
 A não penetrância ocorre em muitas características genéticas e pode ser mais
facilmente deduzida quando um avô e o um filho têm uma doença que não parece
ser expressa na pai
 Algumas pessoas são muito ligeiramente afetadas, de modo que o fenótipo pode
escapar à deteção, a menos que um exame cuidadoso seja realizado

 Às vezes, a taxa de penetração é especificada para uma doença - esta taxa de


aplica-se a uma população, não a um indivíduo; por exemplo, se 60 % dos
indivíduos que têm um gene mutante expressam o fenótipo, a taxa de penetração
é de 60 %
 Alguns distúrbios apresentam uma penetrância dependente da idade; estes são
tipicamente distúrbios que se iniciam na idade adulta, em que a probabilidade de
um fenótipo na pessoa com a mutação aumenta com a idade
 Um exemplo é a doença de Huntington, uma doença neurodegenerativa de
herditariedade dominante, em que há uma demência progressiva
 Praticamente todos os portadores da mutação vão expressar o fenótipo se
viverem o suficiente, mas as crianças raramente são afetadas
 A avaliação clínica das crianças em situação de risco para as doenças que
apresentam uma penetrância dependente da idade não fornece uma indicação
fiável de que herdaram a doença

16
 A expressividade refere-se ao grau de expressão fenotípica de uma
característica genética
 Muitas características genéticas exibem uma vasta gama de expressividade,
o que significa que as características dos indivíduos afetados diferem de pessoa
para pessoa
 Isto é ilustrado pelo distúrbio autossómico dominante neurofibromatose tipo 1
(NF1) - os indivíduos afetados desenvolvem tumores ao longo dos nervos
periféricos, bem como spots café-au-lait; outras características incluem
deformidades ósseas, dificuldades de aprendizagem, e tumores cerebrais

Heterogeneidade Genética
 Heterogeneidade de locus: um único fenótipo é causado por uma mutação
em vários genes distintos (por exemplo, retinite pigmentosa e surdez)
 Muitas vezes, não é possível determinar qual o gene responsável por um fenótipo
exclusivamente pela análise do fenótipo; este é o caso da surdez - existem
dezenas de genes que podem causar surdez, e o fenótipo para a maioria deles é
o mesmo - falta de audição
 Há uma segunda forma de heterogeneidade genética, designada por
heterogeneidade alélica - um fenótipo específico pode resultar da mutação de
um gene específico, mas a mutação exata pode variar de um indivíduo para
outro
 Em alguns casos, mutações diferentes no mesmo gene podem dar condições
totalmente diferentes; por exemplo, mutações específicas do gene RET dão
origem à doença de Hirschsprung; outras mutações neste gene causam uma
forma de neoplasia endócrina múltipla 2
 A heterogeneidade alélica é muito comum em doenças genéticas: em doenças
autossómicas recessivas, os dois alelos mutantes podem ser diferentes um do
outro; isto é referido como heterozigose composta
 A heterogeneidade alélica contribui para a expressão variável de um fenótipo
específico

Mutação e Mosaicismo
 Há casos em que um indivíduo representa a primeira ocorrência de uma nova
mutação numa família; isto é especialmente evidente nas características
dominantes totalmente penetrantes, em que uma criança pode ser afetada, mas
nenhum dos pais exibe o fenótipo
 Presume-se que a mutação ocorreu no espermatozoide ou no óvulo que formou
a criança; há um ligeiro aumento do risco de nova mutação em função da idade
paterna avançada, mas não da materna
 Existem dois casos especiais de nova mutação que merecem destaque:
1. Mosaicismo da linhagem germinativa - a mutação ocorre durante o
desenvolvimento das células germinativas e pode envolver vários
espermatozoides ou óvulos; um indivíduo com mosaicismo da linha

17
germinativa corre o risco de ter mais de uma criança afetada, apesar de
ele mesmo não ser afetado pela característica
2. Mosaicismo somático – a mutação ocorre durante o início do
desenvolvimento embrionário, assim o indivíduo tem várias células
com ou sem a mutação; estes indivíduos podem expressar
manifestações brandas do fenótipo, ou pode expressar o fenótipo numa
região específica do corpo

Imprinting Genómico
 Alguns genes são expressos apenas a partir da cópia materna ou paterna
 Se um gene mutante é impresso, o fenótipo vai ser expresso apenas na
descendência que herda o gene do pai cuja cópia é expressa; esse pai, no
entanto, pode não ser afetado se tiver herdado a mutação do pai cuja cópia não
é expressa
 Por exemplo, os paragangliomas familiares são herdados como uma
característica autossómica dominante com um efeito de imprinting; a
característica tende a ser expressa apenas quando herdada do pai; o gene
responsável, SDHD, é inativado na linhagem germinativa feminina e, portanto, só
é expresso a partir da cópia paterna

 Outro exemplo de uma condição que é causada por um gene impresso é a


síndrome de Angelman - resulta da expressão deficiente do alelo do cromossoma
15, UBE3A, herdado da mãe
 Os indivíduos afetados geralmente têm deficiência intelectual fala limitada ou
ausente, marcha anormal e convulsões

18
 A mutação que causa a síndrome de Angelman é expressa apenas se for herdada
da mãe

Distúrbios de repetição de tripletos e antecipação


 Antecipação: fenómeno em que há um grupo de distúrbios genéticos nos quais
os sinais e sintomas tendem a ser mais graves e a manifestarem-se mais
cedo de geração a geração
 Um exemplo é a distrofia miotónica; os indivíduos afetados têm fraqueza
muscular e dificuldade de relaxamento muscular depois de um período contração
 A condição é transmitida como uma característica autossómica dominante e
tende a tornar-se mais grave à medida que é passada de geração em geração
 A explicação para a antecipação está associada a expansões repetidas de
tripletos numa variedade de genes
 Muitos genes incluem regiões de repetições simples de sequências -
dinucleotídeos, trinucleotídeos, etc
 O número exato de repetições num gene específico pode ser diferente de um
indivíduo para outro, geralmente sem nenhum impacto sobre a função do gene
 No entanto, existe um subconjunto destes genes, com repetições trinucleotídicas
no qual a expansão do número de repetições leva a uma função anormal do
gene
 Na distrofia miotónica, a repetição da expansão ocorre perto da extremidade 3'
do gene; a região com a repetição de tripleto codifica um segmento de RNA
mensageiro que se liga a uma proteína nuclear
 A expansão da repetição CTG (representada como CUG no RNA) nesta região
causa a ligação da proteína em excesso, que leva a uma disfunção deste produto
génico que codifica um canal iónico da membrana da célula muscular

19
 Todos os distúrbios relacionados com a expansão da repetição de tripletos afetam
o sistema nervoso
 O síndrome do X frágil é um tipo de deficiência intelectual ligada ao X, em que
há deficiência na produção de uma proteína, devido a uma expansão CGG perto
da região promotora que provoca uma hipermetilação e consequente
silenciamento do gene
 Quanto maior a repetição mais grave o distúrbio, mais cedo a idade de início
e mais instável é a própria repetição, expandindo-se mais facilmente à
medida que passa de geração em geração
 A imagem abaixo apresenta um gene genérico com três exões e dois intrões e a
localização de repetições de tripletos associados a distúrbios neurológicos

Hereditariedade Mitocondrial
 O DNA não está presente apenas no núcleo da células, mas também nas
mitocôndrias
 O DNA mitocondrial codifica 13 peptídeos que são subunidades de proteínas
necessárias para a fosforilação oxidativa; há também um conjunto completo de
22 RNA transportadores e 2 RNA ribossomais envolvidos na tradução de
proteínas codificadas mitocondrialmente

20
 Vários distúrbios clínicos identificados são devidos a mutações em genes
mitocondriais; estas características estão associadas à falta de produção de
energia mitocondrial
 A transmissão materna e a heteroplasmia são as duas diferenças críticas entre
o genoma nuclear e o genoma mitocondrial
 No caso da transmissão materna, a característica é transmitida de uma mãe
para todos os seus filhos, mas não é transmitida pelos homens; isto acontece
porque essencialmente todas as mitocôndrias são herdadas maternamente (na
fertilização, apenas o núcleo do espermatozóide entra no óvulo, descartando as
mitocôndrias paternas
 A heteroplasmia está relacionada com a variação da expressão de uma
característica causada por uma mutação mitocondrial herdada pela mãe
 Ao contrário do genoma nuclear, o qual é representado por uma cópia completa
por célula, existem centenas de moléculas de DNA mitocondrial em cada célula;
estas mitocôndrias separaram-se passivamente quando uma célula se divide, em
contraste com a separação ordenada de cromossomas no genoma nuclear
durante a divisão celular
 Se algumas das mitocôndrias contêm mutação e outras não, o resultado pode ser
uma distribuição desigual de mitocôndrias mutantes e não-mutantes para as
células-filhas – o que se traduz na descendência herdar a mutação em diferentes
graus

21
QUESTÕES
1. Pegas numa história familiar e obténs o seguinte pedigree. O que aconselharias
à família tendo em conta o pedigree?

O Bill e a Zoe não estão em isco de ter uma criança com MELAS, uma vez que
esta é uma doença mitocôndrias e o Bill não estaria em risco de a transmitir. A
Zoe tem um histórico de atraso no desenvolvimento, no entanto, é no bisneto
da tia do lado materno. Se isto for uma doença ligada ao X, há probabilidade de
a Zoe ser portadora e como tal há probabilidade de ter um filho afetado com
essa doença.

2. Qual é o modo mais provável de transmissão da hereditariedade representado


neste pedigree?

É possível que esta doença seja autossómica recessiva em que o alelo mutante
tem de ser relativamente comum. No entanto, uma autossómica dominante,
com ausência de penetrancia no pai ou com mosaicismo na linha germinativa, é
mais provável.

22
3. Os indivíduos II-3 e II-4 querem saber qual é o risco de terem uma criança com
uma doença autossómica dominante que afeta I-2, II-1 e II-3. A penetrancia da
doença é 75%.

1/*0.75=0.375

4. Como é que os
seguintes pedigrees podem ser explicados por imprinting genómico?

A doença só é expressa nos progenitores que herdam o gene dos seus pais.
Nenhum dos progenitores de uma mulher afetada é afetado. O gene é
provavelmente expresso apenas no alelo herdado do pai.
5. Qual é a base genética do fenómeno da antecipação?

A antecipação é vista devido à expansão repetida de tripletos. Quanto maior


a expansão, mais cedo começa e mais forte é a doença. As grandes expansões
também estão inclinadas a futuras expansões na próxima geração. Como
resultado, o tamanho da expansão aumenta de geração em geração, e a
severidade como tal também aumenta.

23
CAPÍTULO 4 - GENOMA HUMANO
Estudo do Genoma Humano e Clonagem
A tecnologia de Clonagem de Genes tem um único objetivo: isolar um segmento
específico de DNA para que este possa ser estudado em detalhe, incluindo a
determinação da sua sequência, em termos de bases azotadas.
A técnica utilizada consiste na construção de moléculas de DNA recombinante:
1. Uma enzima – endonuclease de restrição – vai efetuar cortes nas
sequências de DNA a ser estudado e, posteriormente, a mesma enzima
vai efetuar o corte no vetor.
2. A DNA ligase vai fazer com que as 2 porções de DNA (o que se quer
estudar e o vetor) se liguem, formando uma molécula híbrida.
3. Colocação do DNA recombinante numa bactéria ou levedura de modo a
ser replicado.

As 1ªs clonagens realizadas tiveram em conta genes que codificavam proteínas


de função conhecida. Nestes casos, o DNA a ser estudado foi obtido através de
mRNA com auxílio da transcriptase reversa, obtendo-se um cDNA, que foi
colocado num vector (neste casos os vector utilizados foram plasmídeos) e, por
fim, colocado num bactéria ou levedura.

24
Ilustração 1 – Exemplo de 1 das primeiras experiências executadas – Clone do DNA complementar das Tirocinase.

Mapping ou Mapeamento Genético e Linkage genético


Linkage genético – tendência que 2 alelos próximos no mesmo cromossoma têm
de serem transmitidos em conjunto, como uma unidade.
O mapeamento genético guia-se pelo princípio básico de que os genes estão
dispostos no cromossoma por uma dada ordem e que esta é igual entre
indivíduos da mesma espécie. Apesar de, durante a meiose, os cromossomas
homólogos se puderem juntar e fazer trocas de segmentos de DNA, isto não vai
alterar a posição na qual se dispõe no cromossoma, mas sim, efectuar trocas
entre alelos específicos que são apresentados numa parte particular do
cromossoma.

Haplótipo- conjunto de alelos específicos


que se encontram na mesma cadeia de
DNA, de um dado cromossoma.

Análises de Linkage ou Ligamento


A frequência com que a recombinação entre um par de genes se dá (crossing
over) depende da distância a que estes genes se encontram.

25
Quanto maior for a distância entre genes  Maior será
a frequência de ocorrer recombinação
Ao analisar pedigrees pode-se concluir que os genes
tendem a permanecer de forma igual, no seu haplótipo, ao
longo das gerações. Por outras palavras, raramente são
criadas novas recombinações por crossing over.
Assim, após a segregação independente dos cromossomas
para os gâmetas, pode haver descendência
parental (quando o genótipo dos pais é igual aos dos filhos)
ou genótipo recombinante (quando o genótipos dos pais e
filhos é diferente.)

Frequência de Recombinação e Odds Ratio


Supondo o caso de que 2 genes estão dispostos a uma dada distância que
possibilita a recombinação, imaginemos que esta ocorre 10% das vezes. Assim
10% das células sexuais serão recombinantes e 90% não. Como as famílias têm
uma prole relativamente pequena, desenvolveu-se uma fórmula estatística para
extrair a informação acerca do linkage/ligação entre genes.
Neste teste é calculado a probabilidade relativa (odds ratio) que uma porção da
família

θ =Frequência de recombinação
θ =0,5 com segregação independente – s/ linkage

θ =0 se não houver segregação


R – nº de recombinantes
n – não recombinantes
Odds ratio neste caso favorece o
linkage em relação ao naão linkage.
0,00729/0,0625=1,167

26
De odds para lod score
Para saber se um par de genes
está em linkage ou não na
população em geração, faz-se este
cálculo, que inclui várias famílias.
Este calculo consiste em:
1. Calcular o odds ratio para
cada família
2. Converter o valor para
logaritmo
3. Somar todos os
logaritmos

Caso o valor da soma seja superior


a 3, os genes estão em linkage.
Caso seja inferior a -2, não estão
em linkage.

Linkage e marcadores
Apesar do linkage ou ligamento entre genes ser a tendência que os genes que
estão próximos uns dos outros têm para ser herdados conjuntamente durante a
meiose, pode-se dizer que, mesmo que sejam separados durante este processo,
que continuam ligados. Este facto, permite a utilização de marcadores, para a
identificação de doenças, por exemplo.
O uso de marcadores no DNA forneceu uma forma de localizar qualquer tipo de
característica no genoma. Para tal, é necessário que o marcador tenha uma
propriedade fundamental: tem de ter pelo menos 2 alelos, e esses 2 alelos têm
de ser comuns o suficiente para que a heterozigotia seja considerada normal.

Na imagem encontram-se apresentados 2 locus adjacentes: 1 codifica um gene


onde existe mutação (preto), estando associado a um fenótipo com doença. O
27
outro é um locus polimórfico com diferentes alelos (representados pelas
diferentes cores).
Quando falamos em Linkage de Equilíbrio, vários alelos no locus podem localizar-
se no mesmo haplótipo com o gene da doença.
Quando falamos em Linkage de Desequilíbrio, só um ou um nº bastante baixo de
alelos é que são encontrados no mesmo haplótipo com o gene da doença

Na imagem acima, identifica-se o exemplo da utilização dos marcadores de


doença. Estes pedigrees apresentam a utilização de 9 marcadores em 2 famílias
distintas com uma doença autossómica recessiva.
O haplotipo que inclui a doença está apresentado a roxo. Através da análise de
ambas as famílias, conseguimos, na 1ª, através do crossing over no indivíduo x
que o gene mutado teria de ser identificado a partir dos marcadores 1 a 6.
Seguidamente, ao analisar a família da direita, com o individuo y, ficamos a
perceber que este gene não poderia ser localizados pelos 3 primeiros
marcadores, já que este sofreu crossing over nesta zona e continua a ser
afectado. Assim sendo, os marcadores 4, 5 e 6 identificam o gene mutado e sabe-
se, desta forma, que é esta zona a que provoca um fenótipo doente.

Como foi executado o PGH (Projecto Genoma Humano)?


Este projecto tinha como objectivo a sequenciação do genoma humano.

28
Qual a técnica usada?
1º - Fragmentos de
DNA são
introduzidos em grandes
motores de clonagem
(BACs ou YACs)
2º - Estes foram
montados como
sobreposição de "tiles" ou
contíguos, que cobriam
todo o genoma.
3º - Localização destes elementos contíguos através de um conjunto de
marcadores genéticos que tinha sido mapeada ao longo do genoma humano a
cada milhão pares de bases ou mais.
Entretanto, começou a ser utilizada outra abordagem: "shotgun de
sequenciação", em que se usaram fragmentos menores, com marcadores, para
depois serem sequenciados.

O que se verificou a partir da organização do genoma?


• Pensava-se que o nº total de genes era 100 000 e afinal são apenas 23
000.
• Só 1,5% do genoma é que codifica proteínas, ou seja, são exões.
• Existem sequências que codificam RNAs mas que não são traduzidos em
proteínas.
• Existem pseudogenes – genes semelhantes aos genes, mas sem função
(estão inactivos)
• Quase 50% são
sequências repetidas que
podem ser:
1. Repetições simples
(2,3ou4 pbs)
2. VNTRs (14-100pbs) –
(Números variáveis de
repetições tandem)
3. Repetições nos telómeros
e centrómeros
4. Duplicações de segmentos
(5% do genoma) Low Copy
Repeats (LCRs)
5. Duplicações derivadas de
transposões
Analisemos agora, em pormenor,
algumas das sequências
repetidas:

29
Pseudogenes
Como podem aparecer?
• Genes normais que foram inativados por mutação
• Ocorrer uma duplicação e uma das cópias ser inativada por mutação
• Obter-se um cDNA a partir do gene original e, inserir esse cDNA de
novo no genoma  Como o cDNA não tem zona promotora, este não
pode ser expresso.

Repetições derivadas de Transposões


Existem 4 tipos de sequências: LINE, SINE, LTR e DNA transposões

30
Novas áreas de conhecimento impulsionadas pelo PGH
 Genómica: Estudos de grandes conjuntos de genes podendo chegar a
todo o genoma.
 Bioinformática: Desenvolvimento das ferramentas para analisar a
produção massiva de dados.
 Biologia dos Sistemas: Estudo GLOBAL dos processos
(genes transcriptosproteínasmetabolitos)

31
QUESTÕES
1. Se o DNA de uma biblioteca genómica fosse inserido numa bactéria como parte
do vetor de expressão da lambda phage (uma bactéria viral), achas que seria
de esperado obter um produto funcional a partir desse gene?
Não. A bactéria não seria capaz de cortar os intrões para fora do transcrito para
produzir um mRNA funcional. Uma inserção derivada de cDNA, onde o splicing
já tenha ocorrido, iria produzi um produto funcional, caso a inserção seja longa
o suficiente.
2. Uma doença autossómica dominante com penetrancia completa esta ligada a
um marcador do gene A, com alelos 1 e 2. Qual dos seguintes progenitores é
recombinante? (figuras com preenchimento são indivíduos afetados)

A criança c é recombinante. O alelo 1 foi herdado do pai. A descendência que


herdou o alelo 1 do pai espera-se estar afetada e o que herdou o 2 não afetada.
O c herdou 1 do pai mas não é afetado. Assumindo penetrancia completa, este
é o único explicado pela recombinação.
3. Estas a fazer um estudo “linkage” com um marcador que pensas que pode
representar o gene para uma doença específica. At θ=0, o “lod score” é -∞. O
que isto diz te em relação à tua hipótese de o marcador do locus é o gene
responsável pela doença?
A “lod score” -∞ implica que tenha havido recombinação no θ=0. Isto implica que o
marcador não seja o gene responsável pela doença.
4. De que forma a sequencialização completa do gene pode facilitar o processo
de clonagem posicional?
No passado, apos ser estabelecida a “linkage” era necessário examinar o
cromossoma para encontrar uma sequência expressada que correspondesse a
um gene de interesse. Hoje, uma vez encontrada a “linkage”, os genes que se
sabe que residem dentro da região podem ser diretamente testados para uma
mutação nos indivíduos afetados.
5. Qual seria a consequência esperada se uma sequência LINE fosse inserida num
exão de um gene?
Causaria mutação do gene e provavelmente também uma deficiência do produto
do gene associada.
32
CAPÍTULO 5 – HEREDITARIEDADE MULTIFATORIAL
Introdução
A maior parte das características genéticas são determinadas por combinações
de genes múltiplos e a sua interação com fatores ambientais, sendo isto
considerado herança multifatorial.

Conceito de herança multifatorial


Na herança multifatorial existem características que têm tendência para se
“acumular” em famílias. No entanto, estas características não são
transmitidas de acordo com as leis mendelianas.
Exemplos de doenças:
• Anomalias congénitas (tal como espinha bífida/estenose pilórica)
• Hipertensão
• Diabetes mellitus

Provas da existência da herança multifatorial


Existem muitas evidências que suportam a contribuição dos genes para a
determinação de traços multifatoriais. As maiores abordagens usadas são a
análise a famílias. Estudos com gémeos, e para traços quantitativos, estudos de
heritabilidade.
• Variável λ = freq. familiares/freq. na população
• Para uma característica autossómica
dominante =(1/2)/x
• Para uma característica autossómica
recessiva λ =(1/4)/x
• Para uma característica multifatorial λ =1/√𝑥

Foram propostos vários modelos computacionais que consideram:


• O número de genes envolvidos;
• A hereditariedade dominante ou recessiva de cada gene;
• Penetrância;
• Interações com o ambiente;
Posteriormente estes dados são comparados com os dados das famílias
relativos às características em estudo. Esta análise complexa de segregação
tem sido usada para averiguar o número de genes que contribuem para uma
característica fenotípica comum. O modelo é ajustado a dados de famílias
reais.
Para gémeos monozigóticos seria de esperar uma total concordância nas
características determinadas inteiramente por genes. No entanto, isto só se
verifica para características monogénicas (de um só gene) totalmente penetrante

33
(exemplo: fibrose cística). Gémeos monozigóticos não são totalmente
concordantes relativamente às características multifatoriais. Isto porque existem
fatores que são extrínsecos à variante genética e, ainda assim, têm influência
sobre esta.
Genericamente, quanto maior a concordância entre gémeos idênticos e irmãos,
maior é a contribuição genética para a caraterística.
A heritabilidade aplica-se a traços quantitativos. Este termo foi atribuído por
geneticistas que mediam as contribuições genéticas e ambientais para traços
que se podem medir em plantas e animais. A heritabilidade é a porção da
variância fenotípica para a qual contribuem fatores genéticos, ou seja, quanto
maior for a contribuição genética para determinado fenótipo, maior é a
heritabilidade. A heritabilidade também pode aumentar quando fatores não
genéticos (exemplo: ambientais) contribuem menos para a tal variação
fenotípica. Tradicionalmente são consideradas duas formas de heritabilidade:
Heritabilidade no sentido lato – Foca-se apenas em fatores genéticos aditivos.
Heritabilidade no senso comum – Abrange fatores genéticos quer sejam
aditivos ou interativos.
A variância de uma característica é influenciada por fatores genéticos,
ambientais, covariância entre estes dois fatores mencionados, e medição da
variância.
Os fatores genéticos estão subdivididos em dois grupos
• Grupo que representa o efeito aditivo de genes múltiplos;
• As interações entre genes

A Variabilidade fenotípica é medida pela variância. A hipótese de fatores


múltiplos propõem que há características controladas por vários fatores no
ambiente e no genótipo.
R.A. Fisher
T=µ+g+e
µ representa a média da população

g representa o desvio da média devido a fatores genéticos e


representa o desvio da média devido a fatores ambientais

Componentes da variação fenotípica


VT = Vg + Ve
VT variação fenotípica total
Vg variância de origem genética
Ve variância de origem ambiental

34
Modelos de hereditariedade multifatorial
Modelo de Hereditariedae Poligénica - O Modelo mais simples de herança
multifatorial assume uma ação de genes múltiplos mas não de fatores
ambientais. A isto designa-se herança poligénica.
• H2=1
• Dois loci a contribuir para o traço.
• Ambos os loci com hereditariedade dominante
• Efeito aditivo em relação à altura. Ter alelo dominante implica + x cm.
Exemplo:
Considere um sistema genético hipotético em que dois locus separados estão
envolvidos em determinar a altura final de um adulto. Há 2 alelos em cada locus,
um dominante, que adiciona 2 cm à altura final, e outro recessivo que não
adiciona nada. Suponha que um individuo com um genótipo aabb terá 150 cm.
Alguém com todos os alelos dominantes AABB terá 158 cm. Uma pessoa com o
genótipo AaBb terá 154 cm, tal como uma pessoa com genótipo aaBB. O efeito
destes genes é então aditivo.

35
Modelo de threshold (modelo do “limiar”) – explica traços “tudo ou nada”.
O modelo threshold assume que diversos fatores (daí o termo multifatorial)
contribuem para determinado traço. Os efeitos de cada fator são pequenos,
mas estes efeitos acumulam-se. Quando os efeitos aditivos dos fatores
passarem um valor crítico (threshold), um indivíduo torna-se afetado com
o traço. Alguns indivíduos vão exceder o threshold porque têm demasiados
fatores genéticos de risco e pouco risco ambiental, enquanto outros, serão
os fatores ambientais que vão contribuir mais para atingir o threshold. Uma
vez atingido o threshold, o efeito é o mesmo.

Quanto às características multifatoriais, homens e mulheres apresentam


predisposições diferentes. No caso da estenose pilórica, os homens têm uma
maior tendência para manifestar a doença. Nos homens a área que representa
os indivíduos afetados (gráfico de Threshold) é maior relativamente à área de
afetados nas mulheres.

Estudos associados à genética

A maioria dos distúrbios mais comuns têm origem multifatorial, com a


contribuição de múltiplos genes, os quais interagem com o ambiente. Uma
abordagem para estudar os fatores genéticos em distúrbios comuns depende de
estudos em grandes populações, procurando variações genéticas que estão
associadas com um risco elevado de doença. Isto é feito usando estudos
casocontrolo.

36
Um grupo de indivíduos que apresentam o fenótipo a ser estudado (caso) são
comparados com um grupo que é semelhante ao primeiro, mas que não
apresentam o fenótipo (controlo). São feitos estudos genéticos para determinar
se existe uma diferença significante na frequência de um traço genético entre os
casos e os controlos.
A maior descoberta em análise genética de doenças surgiu com o GWAS
(genome-wide association studies), isto é, uma análise que permite o estudo de
variantes genéticas através do genoma, procurando algo que se destaque e
esteja associado à doença.
O maior obstáculo do GWAS foi o custo da cariotipagem. No entanto, nos últimos
anos este obstáculo foi ultrapassado devido à diminuição do custo e à
descoberta da constituição do genoma humano por blocos de DNA herdados de
forma conjunta.
Os “tag SNP´s” podem ser utilizados para encontrar blocos maiores de DNA,
sendo apenas necessário um reduzido número de SNP’s (single nucleotid
polymorhpism) para conseguir uma abordagem completa ao genoma.
No entanto, é importante ter a noção de que este tipo de associações genéticas
não indicam se um gene está etiologicamente envolvido numa doença/condição.
Apesar do sucesso da abordagem do GWAS apenas uma pequena parte da
contribuição genética para distúrbios comuns, tem sido contada como
associações de SNPs. Por exemplo, na diabetes tipo 2 tem sido estimado que
menos de 10% da heritabilidade é dada por SNPs, o que indica que está a faltar
uma grande porção de fatores genéticos que contribuem para a heritabilidade
nos estudos GWAS. A GWAS assume que variantes comuns presentes em 15%
da população contam com a contribuição genética para a doença. É possível que
esta suposição esteja incorreta e que maior parte da heritabilidade “perdida” seja
responsabilidade de variantes raras, o que dificulta a sua deteção. Além disso,
também é possível que as SNPs não sejam as únicas variantes associadas á
doença. Por fim, é possível que a heritabilidade seja sobrestimada por algumas
doenças, e os estudos GWAS forneçam avaliações precisas acerca da
contribuição genética para estas doenças.

37
QUESTÕES
1. Um par de gémeos idênticos é concordante para uma característica fenotípica.
Isto significa que a característica não é determinada geneticamente?
Isto significa que os genes não são suficientes em si para determinar a
característica. Pode haver uma contribuição genética, mas algo mais, talvez
factores ambientais ou acaso, também têm um papel. Existem também raros
exemplos em que gémeos idênticos não compartilhem a mesma mutação
genética, se a mutação surgiu somaticamente em apenas um gémeo.
2. Um casal tem um filho afetado por uma característica multifactorial que ocorre
mais frequentemente em mulheres do que em homens. Para seu primeiro filho,
é mais provável que um filho ou uma filha seja afetado?
Para esta característica é sempre mais provável que uma mulher seja afetada. O
facto de que o seu primeiro filho foi do sexo menos frequentemente afetado
significa que que o risco de recorrência é maior do que se a criança afetada fosse
feminina.
3. Um estudo de caso-controle mostra que um determinado alelo SNP está
associado a um aumento de 2,3 vezes o risco relativo de uma doença. O que
isto significa sobre a correlação de SNP com a doença?
O facto de que SNP está associado a doença pode ser interpretado de muitos
modos possíveis. Pode ser que o próprio SNP altere o funcionamento do gene de
tal modo que contribua para a doença. Alternativamente, o SNP pode estar em
desequilíbrio de ligação com outra variante que está verdadeiramente associado.
A associação também pode ser espúria, talvez devido a estratificação
populacional da amostra.
4. Por que o teste de desequilíbrio de transmissão não é vulnerável aos efeitos da
estratificação de população por etnicidade?
A estratificação populacional ocorre quando um determinado alelo é visto mais
comumente numa população específica, e onde esta população é contida dentro
de uma amostra usada num estudo de caso-controle. Para um teste de
desequilíbrio de transmissão não importa se o alelo é raro ou comum na
população, desde que a sua segregação para a prole ocorra de acordo com as leis
de Mendel e um desvio na segregação indique desequilíbrio de transmissão
5. Como o mapa de hapótipo facilita a análise do genoma inteiro para associação
de SNP com distúrbios comuns?
O mapa de haplótipo permitiria que “SNPs marcados” sejam usados como um
marcador para um bloco de haplótipo, que podem estar na faixa de 10kb de
tamanho. Isto irá reduzir o número de SNPs que podem ser genotipados por
ordem de magnitude.

38
CAPÍTULO 6 – DIVISÃO CELULAR E OS CROMOSSOMAS
Como se sabe o genoma humano está organizado em 23 pares de cromossomas
que se replicam e integram toda a informação genética de um indivíduo.

Divisão celular
A divisão celular é um processo muito importante no desenvolvimento dos
organismos. Nos eucariontes, a divisão das células somáticas envolve: divisão
do conteúdo nuclear (mitose) e divisão do citoplasma (citocinese).
Nas células da linha germinativa, ocorre um tipo especial de divisão: meiose.

Ciclo celular
As etapas do ciclo de divisão celular são:
• Fase G1 (logo a seguir ao final da mitose) – fase em que os genes são
transcritos e traduzidos.

• Fase S – fase em que ocorre replicação do DNA.

• Fase G2 – fase de preparação para a mitose.

São as ciclinas (proteínas) que ao interagirem e


consequentemente ativarem quinases dependentes da ciclina (CDK),
definem o timing de ocorrência das fases acima descritas.

Quando o DNA está danificado, as proteínas checkpoint assumem um


importante papel na inibição do ciclo celular para reparação do DNA.

39
Como acontece?

Todo este processo impede que o DNA seja replicado, antes de ser reparado.
Se o dano no DNA for muito grande, o gene p53 estimula a apoptose.

Mitose e meiose
A mitose acontece em 4 fases: prófase, metáfase, anáfase e telófase.

Da prófase até à metáfase


verifica-se a condensação
dos cromossomas e
a desagregação
da membrana
nuclear.
Durante a metáfase os
cromossomas ligados ao
fuso acromático
encontramse no plano
equatorial da célula.
Na anafase, os cromatídeos
separam-se e migram para
os pólos.
Na telófase formam-se dois núcleos. Termina a mitose.

40
A meiose ocorre em momentos diferentes no homem e na mulher.
Na mulher, a meiose ocorrer durante a fase fetal – nos oócitos.
No homem, a meiose ocorre a partir da puberdade – espermatogónios.

A primeira divisão é precedida por replicação do DNA. A segunda divisão não.


Como a meiose produz gâmetas com n cromossomas, aquando da fecundação
onde se verifica emparelhamento de cromossomas da mãe e do pai (n + n = 2n),
o número de cromossomas da espécie mantém-se (2n).

Cromossomas
Cariótipo humano:
- 22 Pares de cromossomas não sexuais (autossomas)
- 1 Par de cromossomas sexuais: No homem: XY
Na mulher: XX

41
Estrutura do cromossoma e análise
Os cromossomas durante o ciclo celular, sofrem uma
série de condensações e descondensações, que só são
possíveis devido a complexos de proteínas designadas
condensinas.
A observação dos cromossomas é ótima quando estes
atingem a sua máxima condensação, o que permite
fazer a análise destes para despistar algum tipo de
anomalia.

Exemplo de análise cromossómica:

A classificação dos cromossomas é feita pelo tamanho e posição do centrómero.


Ex de cariótipo:

42
O centrómero divide a maioria dos cromossomas num:
- Braço longo (braço q);
- Braço curto (braço p - petit).
Os cromossomas são classificados como:
• Metacêntricos (centrómero no centro).

• Submetacêntricos (centrómero deslocado para uma extremidade).

• Acrocêntricos (centrómero perto de uma extremidade do cromossoma).


Ex: 13, 14, 15, 21 e 22.

Os centrómeros encontram-se entre SINE – Sequências ricas em GC e


sequências repetidas, de DNA: com muitos genes codificantes.
Alfa – satélite DNA. LINE – Sequências maiores, ricas em
AT, mas com muitos genes não
codificantes.

Citogenética molecular
Fluorescence in situ hybridization (FISH) – permite detetar deleções ou
duplicações. É feita hibridação de uma cadeia fluorescente e da que queremos
estudar. Quando se ligam emitem fluorescência. Onde não é verificada
fluorescência, encontra-se o local onde não há ligação, devido a deleção ou
duplicação, para a qual já não há complementaridade.

43
Genomic Microarrays – Hibridiza-se sem fluorescência. Usa-se um grupo
cromóforo diferente para cada uma das cadeias hibridizadas. Faz-se cultura e
analisa-se a cor das proteínas produzidas.

Anomalias cromossómicas
Poliploidia – existem mais cromossomas que o normal (3n, 4n …)
Aneuploidia – aumento ou diminuição do número de cromossomas por falha na
anafase (segregações). Não disjunção na anafase.
Ex: Síndrome de Down  Trissomia  Cópia extra
Numa monossomia temos uma cópia em falta, incompatível com a vida.
Síndrome de Turner é a exceção.

44
Não disjunção na anafase:

Mulheres mais velhas, maior risco:

Anormalidades estruturais
O rearranjo dos cromossomas pode levar a deleções, duplicações ou inversões.
A maioria dá-se em zonas não codificantes, não se expressando. O crossingover
deficiente é a principal causa.
Se ocorrer a deleção de ambas as pontas de um cromossoma, pode surgir um
grave problema  Cromossoma em anel.
Isocromossoma – perda de um braço e substituição por uma cópia exata do outro
braço.
Translocação – troca de segmentos/rearranjos entre cromossomas não
homólogos.
Translocação Robertsoniana – dois cromossomas acrossómicos fundem-se. O
problema é se para a descendência forem transmitidos os cromossomas ligados
um ao outro  Trissomia.

45
Cromossomas invertidos, para fazerem crossing-over têm de criar um loop
(confusão que poderá levar a duplicações e deleções).

Imprinting e anormalidades cromossómicas


Imprinting refere-se ao silenciamento ou não de genes de acordo com as
caracte´risticas “doadas” pelos pais. Se a mãe tem o gene A silenciado e o
transmite ao filho, por imprinting, no filho o gene A será silenciado.

46
Dissomia uniparental – receber duas cópias de um cromossoma do pai (por
exemplo) e nenhuma do cromossoma da mãe.

Outras dissomias podem levar a trissomias, se for a fusão de um gâmeta diplonte com
um haplonte, por exemplo.

Indicação para análise cromossómica – Microarrays – melhor para


descobrir as mutações num paciente (Para anomalias numéricas e não
estruturais).
47
QUESTÕES
1. Qual esperaria que fosse o efeito de uma perda completa da função do p53?
A célula normalmente faria uma pausa antes de replicar o DNA para reparar o
dano do DNA, ou, se o dano fosse muito grave, sofrer apoptose. A perda de TP53
faz com que a célula continue a replicar o DNA a despeito da presença de
mutações, permitindo que a célula acumule mutações. Embora a maioria das
células possa não sobreviver, algumas irão tonarse cancerosas.
2. Em que ponto da meiose os centrômeros dos homólogos se separam? Todos os
segmentos homólogos separam-se neste momento?
Os centrômeros homólogos separam-se durante a 1ª divisão da meiose. Nem
todos os segmentos homólogos separam-se pois os que sofrem recombinação
genética não se irão separar até à 2ª prófase meiótica.
3. Uma criança com síndrome de Down tem o genótipo 1,2,3 para um polimorfismo
no cromossoma 21 que tem os alelos 1,2,3 e 4. A sua mãe é 1,2 e o seu pai 3,4.
Em que genitor ocorreu a não-disjunção, e ocorreu na 1ª ou 2ª divisão meiótica?
A não-disjunção ocorreu na sua mãe, pois ele recebeu 2 cromossomas com alelos
derivados da sua mãe. Os alelos são diferentes, entretanto, sugerindo que a não-
disjunção ocorreu na meiose I, de modo que ele recebeu ambos os cromossomas
homólogos com dois alelos diferentes.
4. As inversões pericentricas ou paracentricas estão mais provavelmente
associadas ao nascimento de uma criança com anomalias congênitas? Isto é mais
provável para um segmento invertido grande ou pequeno?
O nascimento de uma criança com anomalias congénitas é mais provavelmente
por uma inversão pericentricas com grande segmento invertido. O crossing-over
dentro da alça de inversão dá origem a produtos não-balanceados. Se a inversão
é paracentricas, entretanto, os produtos são dicentricos ou acêntricos , e
improvavelmente são incompatíveis com o desenvolvimento. Uma inversão
pericentricas resulta em duplicações e deficiências do cromossoma, mas os
cromossomas serão monocentricos e portanto estáveis. Se o segmento invertido
é grande haverá uma chance maior de crossing e o desequilíbrio será menos grave,
e portanto mais compatível com a sobrevida até ao nascimento.
5. A dissomia uniparental é uma causa mais comum de síndrome de Prader-
Willi que a síndrome de Angelman, muito embora ambas sejam devidas a
perda de genes imprintados na mesma região. Por que razão?
A dissomia uniparental (UPD) surge mais comumente de um evento de
“recuperação de trissomia”, que começa com um zigoto trissomico com a perda
seguinte de uma cópia do cromossoma 15 de um genitor que não contribui com
duas cópias do 15 para a nãodisjunção. A não-disjunção é mais comum na meiose
da mulher do que no homem, assim é mais comum haver UPD materna, que irá
produzir síndrome de Prader-Willi, que UDP paterna, que daria origem a síndrome
de Angelman. Esta ultima síndrome é mais comumente derivada da deleção ou
mutação de ponto num gene especifico implicado no distúrbio.

48
CAPÍTULO 7 – GENÉTICA DE POPULAÇÕES
Neste capítulo vai-se considerar as características genéticas de um ponto de
vista diferente do individual ou familiar – do ponto de vista populacional. Sabese
que a frequência de uma característica recessiva no portador não pode ser
determinada diretamente utilizando uma equação simples. A genética
populacional está na base da interseção com a saúde pública, através de
programas de rastreio (ver capítulo 13).
Pontos-chave
A relação entre a frequência de um alelo e a frequência de um gene é dada
pelo equilíbrio de Hardy-Weinberg. Por exemplo, num sistema de dois alelos,
se a frequência do alelo A é dada por p e a frequência do alelo a é dada por
q, então as frequências genotípicas são dadas por p2, 2pq e q2 para AA, Aa e
aa respetivamente. Estas frequências vão permanecer constantes de geração
em geração, isto se um conjunto de pressupostos forem cumpridos: ausência
de mutações, seleção ou migração e uma grande densidade populacional.
A redução da reprodução de indivíduos com determinados genótipos é um tipo
de seleção. Isto pode levar a uma redução da frequência de um determinado
alelo. Eventualmente, chegamos a uma dada altura onde se atinge o equilíbrio
pela perda desse alelo através da seleção e este é substituído por uma nova
mutação.
Num sistema de dois alelos, a seleção pode atuar contra os homozigóticos
para os dois alelos. Os heterozigóticos podem ser favorecidos, ficando os dois
alelos (recessivo e dominante) retidos na população. Isto constitui um
polimorfismo balanceado e pode resultar na persistência de um alelo recessivo
que provoca a doença.
Se uma população é pequena, podem existir variações significativas na
frequência dos alelos de geração em geração – chamado o Drift Genético.
Se a população pequena for sujeita a um efeito de “gargalo de garrafa” podem
existir grandes mudanças na frequência dos alelos, incluindo um aumento da
frequência de um alelo recessivo que vai provocar a doença.

Equilíbrio de Hardy-Weinberg
O equilíbrio de Hardy-Weinberg estabelece uma relação simples entre a
frequência dos alelos num locus genético e o genótipo resultante desses
alelos. Consideremos um locus de um gene com os alelos A e a. A frequência
de A é designada por p e a frequência de a é designada por q. Se todos os alelos
neste locus forem A ou a, então p+q=1.
Vamos assumir uma população heterogénea em que a frequência do
espermatozoide ou oócito conter o alelo A ou a seja p ou q, respetivamente, o
genótipo do zigoto é dado por:

• AA – p2;
• aa – q2;
• Aa – 2pq (porque estes indivíduos podem ser originados de duas
maneiras: espermatozoide-a e oócito-A ou espermatozoide-A e oócito-a).

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Para que o equilíbrio de Hardy-Weinberg se realize, a procriação tem que ser
aleatória (não pode haver seleção). Outro requisito para que se cumpra este
equilíbrio é a densidade populacional (o número de pessoas numa população
tem que ser muito elevado) para que não haja muita variação estatística. Se a
população for pequena, a regra do p2 e q2 não se vai aplicar.
Não podem haver ainda mutações que levem o alelo A a tornar-se em a e viceversa.
Como é que se calcula a frequência de uma doença recessiva?

Vamos considerar a fibrose cística. Neste caso o alelo A é o normal e o alelo a


é o alelo mutante. A frequência do alelo a é 1/2500 (q2 = 1/2500):

• logo q 1/50;
• p + q = 1;
• p = 1 – 1/50 = 49/50;

Então a frequência do portador, como é dada por 2pq (heterozigótico) é:

• 2pq = 2(49/50)(1/50) = 1/25 nesta população.


Ou seja, 1 em cada 25 indivíduos desta população é portador de um alelo
recessivo que leva à fibrose cística.

O equilíbrio de Hardy-Weinberg aplica-se a alelos ligados ao cromossoma X bem


como a alelos ligados aos autossomas. Para doenças recessivas ligadas ao X
os homens são sempre hemizigóticos (só têm um X logo qualquer que seja o
alelo – A ou a – este vai-se expressar). Já as mulheres podem ter um genótipo
AA, Aa ou aa.

50
Desvios do Equilíbrio de Hardy-Weinberg
Seleção
É de esperar que a frequência do genótipo AA, Aa e aa seja 25%, 50% e 25%
respetivamente.

Se os indivíduos aa não forem capazes de se reproduzir por qualquer motivo,


não vão contribuir para o “gene pool” (piscina de genes) da próxima geração. Em
genética, esta doença é chamada condição letal – “lethal trait”.

Ao longo do tempo há uma progressão rápida em que a frequência do alelo a vai


tender para 0. Numa população infinita o alelo nunca vai chegar realmente a 0,
no entanto, como não existem populações infinitas, pode chegar a altura em que
a frequência do alelo a é 0 e assim diz-se que este foi extinto e o alelo A foi
fixado.

Se um indivíduo homozigótico aa for capaz de se reproduzir mas com uma


eficiência menor diz-se que este tem um fitness reprodutivo reduzido. O
coeficiente de seleção (s) é a proporção pela qual o fitness reprodutivo é
reduzido por seleção. Ou seja, se s=0.3 diz-se que este indivíduo tem uma
redução de 30% na reprodução em comparação com a população em geral.
Portanto, os alelos recessivos podem
ser perdidos por seleção mas
também pode acontecer a introdução
desses alelos recessivos através de
mutações ->

51
Polimorfismo balanceado
Algumas doenças genéticas têm uma distribuição geográfica restrita.

Um exemplo de uma doença deste


género é a anemia falciforme que se
deve a uma mutação específica na
beta-globina. Ocorre uma substituição
da valina por glutamato no sexto
codão. Isto provoca uma alteração na
forma do eritrócito fazendo com que
este se pareça com uma foice (lua em
quarto crescente).

A distribuição desta doença não é uniforme globalmente. Esta doença é


encontrada principalmente nas populações de África. Foi descoberto que a
distribuição de doenças relacionadas com a globina é paralela à distribuição
geográfica da malária. Foi assim proposto que a malária podia constituir uma
força de seleção que poderia manter os alelos mutantes da globina na
população.

Na imagem acima vê-se a distribuição geográfica da talassémia (doença


relacionada com a globina) e a distribuição da malária, que têm a mesma
distribuição geográfica.

Foi assim proposto que a frequência das doenças da globina nas regiões
endémicas da malária era devida a um fenómeno chamado de polimorfismo
balanceado. Todas as doenças relacionadas com a globina deveriam ser letais
e assim o alelo mutante da globina era suposto estar extinto. No entanto, os
portadores de mutações na globina são relativamente mais resistentes à
malária. Já os homozigóticos “normais” são mais suscetíveis de contrair malária
e os homozigóticos recessivos para mutações na globina morreriam de anemia.
Isto deixa os heterozigóticos na posição de adaptação máxima na
população. Assim, a mutação da globina vai ser retida na população enquanto
este mecanismo de pressão de contra balanceamento se mantiver (polimorfismo
balanceado).
52
Conceito de polimorfismo balanceado: Ambos os homozigóticos “normais” e os
homozigóticos mutantes são sujeitos a seleção pela malária e anemia,
respetivamente. Os indivíduos Aa têm o maior fitness reprodutivo e atuam como
reservatórios do alelo a.

Resumindo: O fenómeno de polimorfismo balanceado traduz (e também é


chamado de) vantagem dos heterozigóticos.

Efeito do Fundador
A vantagem dos heterozigóticos pode explicar o porquê das mutações da globina
serem prevalentes nas regiões da malária mas não explica o porquê de existirem
outros tipos de mutações em regiões diferentes. Isto é explicado pelo efeito
fundador. O equilíbrio de Hardy-Weinberg implica que a população seja muito
vasta. Em populações muito pequenas há uma grande probabilidade de a
frequência do alelo recessivo diminuir, mesmo que não haja seleção. Isto é
chamado o “drift” genético.
Numa população grande onde
existem casais ao acaso não
existem grandes variações nas
frequências genéticas. Numa
população pequena a
frequência genética pode
mudar drasticamente de uma
geração para a próxima se, por
exemplo só se cruzarem
indivíduos com genótipo AA.

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Para ilustrar o efeito do fundador vamos dar um pequeno exemplo: A
frequência do alelo a é relativamente baixa na população inicial. Mas, devido a
um surto de malária (por exemplo) A população homozigótica dominante foi
dizimada. Desta população inicial restou apenas uma pequena porção de
indivíduos homozigóticos dominantes e heterozigóticos (fundadora). De geração
em geração, a frequência do alelo a, que na população inicial era relativamente
baixa, vai aumentar. Assim, devido ao efeito de gargalo de garrafa que
aconteceu com a dizimação da população, a população fundadora vai estar na
origem do aumento da frequência do alelo a na população futura.

Conclusão
Os fenómenos de vantagem dos heterozigóticos, efeito do fundador e a
heterogeneidade genética não atuam isoladamente mas sim em conjunto,
representando uma das maiores forças que moldam a frequência genética nas
populações. Estas variações genéticas constituem o mecanismo evolutivo,
determinando as diferenças na saúde humana e vulnerabilidade a doenças.

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QUESTÕES
1. As pessoas II-3 e II-4 querem saber o risco de ter um filho com distúrbio autossómico
recessivo que afeta o irmão II-3. A frequência populacional do distúrbio é de 1:40000.
Calcule o risco para este casal [Fig. 7.11].

II-3 tem um risco de 2/3 de ser um portador. O risco para II-4 é derivado da
equação de Hardy-Weinberg:
𝑞 = 1⁄200 ;2𝑝𝑞 ~ 2(1⁄200) = 1⁄100
Portanto o risco de ter um filho afetado é:
2⁄3 × 1⁄100 × 1⁄4 = 1⁄600

2. A hemocromatose é um distúrbio autossómico recessivo no qual o ferro acumula-se


no corpo devido a uma absorção anormal de ferro intestinal. A prevalência da
hemocromatose é de aproximadamente 1:400 indivíduos em algumas populações
caucasianas. Usando a equação de Hardy-Weinberg, qual é a frequência de
portadores? Qual o risco de hemocromatose para o filho nesta família [Fig. 7.12]?
(Suponha que ambos os progenitores sejam uma população na qual a frequência de
hemocromatose é a descrita acima.) Foi sugerido que os portadores de
hemocromatose têm um aumento de habilidade em absorver o ferro e portanto
manter estoques adequados de ferro durante as épocas de fome. Como isto pode
explicar a alta prevalência de hemocromatose?

A frequência de portadores é:
2 × 1⁄20 = 1⁄10 (mais exatamente, 2 × 1⁄20 × 19⁄20 = 19⁄200)
O risco de hemocromatose em prole é:

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1 × 1⁄10 × 1⁄2 = 1⁄20
O aumento da habilidade de absorver ferro nos heterozigóticos pode conferir uma vantagem,
mantendo este gene na população.
3. Você é solicitado a ver uma criança com tirosinemia hereditária, um distúrbio
autossómico recessivo do metabolismo de aminoácidos que causa insuficiência
hepática. Ambos os pais têm ancestrais franco canadenses, e vieram de uma região de
Quebec onde 1:1600 neonatos são afetados pela tirosinemia. Qual a frequência de
portadores de tirosinemia nesta região? Você aprendeu que 90% das mutações
responsáveis pela tirosinemia nesta população consistem na mesma mudança de
base. Esta mutação é muito menos comum noutras partes do mundo. O que mais
provável responde pela alta frequência desta mutação numa pequena região em
Quebec?
𝑞2 = 1⁄1600
Portanto 𝑞 = 1⁄40 e a frequência de portadores ≈ 2𝑞 = 1⁄20
Isto mais provavelmente representa um efeito do fundador, no qual uma mutação torna-
se prevalente numa população que é pequena na época em que a mutação foi
introduzida, e onde a população permaneceu relativamente endogâmica.

4. Uma súbita onda de migração trouxe um grande número de pessoas para uma
população. Para uma característica autossómica recessiva, quanto tempo demoraria
para que fosse atingido o equilíbrio de Hardy-Weinberg, supondo que ocorra
reprodução aleatória entre todos os membros da nova população, incluindo os recém-
chegados e os habitantes originais?
O equilíbrio é estabelecido na primeira geração após a migração, supondo que sejam
atendidas todas as condições de Hardy-Weinberg. Isto não seria verdade, para uma
característica ligada ao sexo.
5. Considere um locus com três alelos, a, b e c, com as frequências de 0.2, 0.3 e 0.5,
respetivamente. Qual a frequência dos heterozigóticos bc na população, supondo
equilíbrio de Hardy-Weinberg?
Se [𝑎] = 𝑝, [𝑏] = 𝑞, [𝑐] = 𝑟, então as frequências genotípicas podem ser calculadas:
(𝑝 + 𝑞 + 𝑟)2 = 𝑝2 + 𝑞2 + 𝑟2 + 2𝑝𝑞 + 2𝑝𝑟 + 2𝑞𝑟
Portanto: [𝑏𝑐] = 2𝑝𝑟 = 2(0.3)(0.5) = 0.3

56
CAPÍTULO 8 – BASES GENÉTICAS DO CANCRO
CANCRO COMO PATOLOGIA GENÉTICA
Quatro evidências convergiram para demonstrar que cancro é uma doença
genética:
1. Observação de anomalias cromossómicas em pessoas com cancro
2. Famílias em que cancro é transmitido como característica genética
3. O facto de os carcinogénicos (qualquer agente que esteja diretamente
envolvido na causa do cancro) também poderem ser mutagénicos
(qualquer agente que altera o material genético)
4. Indivíduos com alterações nos sistemas de reparação de DNA são
mais suscetíveis a cancro

1. Observação de anomalias cromossómicas em pessoas com cancro

Isocromossoma para o
braço curto do par
cromossómico 6

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2. Famílias em que o cancro é transmitido como característica genética

Muitas pessoas têm histórico familiar de cancro no entanto há umas que têm
uma frequência mais elevada que o comum. Exemplo: Síndrome de LiFraumeni
(MIM 151623) – doença autossómica dominante que aumenta a suscetibilidade
ao cancro. Está ligado a mutações na linha germinativa do supressor de tumores
TP53 (proto-oncogene) para p53 (oncogene). É uma mutação dominante
negativa – a proteína mutada pode inativar a proteína normal, ou seja, a proteína
mutada é dominante. A mutação de uma das duas cópias de p53 predispõe a
pessoa a um desenvolvimento de cancro (porque só quando os 2 estão mutados
é que se começa a desenvolver cancro; pessoa que não nasça com uma cópia
mutada tem muito, mas mesmo muito menos probabilidade de ter cancro).
Tal como se verifica na árvore, esta síndrome aumenta a probabilidade de
desenvolvimento de outros cancros.

3. O facto de os carcinogénicos (qualquer agente que esteja diretamente


envolvido na causa do cancro) também poderem ser mutagénicos
(qualquer agente que altera o material genético)
Os químicos e radiações são mutagénicos podem levar a cancro. Muitos
carcinogénicos são mutagénicos e muitos mutagénicos podem levar a cancro.

4. Indivíduos com alterações nos sistemas de reparação de ADN são mais


suscetíveis a cancro
Falha nos sistemas de reparação leva a um fenótipo distinto (normalmente com
elevado risco de cancro). Exemplo: Xeroderma pigmentosum – não se
conseguem reparar os danos causados pelos raios UV.

58
GENES SUPRESSORES DE TUMORES – Rb
Retinoblastoma – tumor maligno da retina
caracterizado pela palidez na parte de trás do olho e
estrabismo. Afeta as células ganglionares do olho
durante a infância. Patologia autossómica
dominante (com penetrancia de 90%) mas
comporta-se como recessiva a nível celular, ou
seja, são necessárias 2 cópias do mesmo gene
mutadas/inativadas para o desenvolvimento do
cancro. No entanto na família funciona como um
traço dominante: o que é transmitido de geração em
geração não é o tumor em sim mas o risco de tê-lo
(mutação de 1 gene quando são precisos de estar
inativados os 2). O gene envolvido é o RBT do
cromossoma 13.

Bilateral – nos 2 olhos; Unilateral – num olho apenas

Knudson propôs um modelo no


qual a formação de retinoblastoma
requer a ocorrência de 2 mutações
em separado na linhagem das
células de retina: Hipótese de 2-
Hits.

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Indivíduos com retinoblastoma herdada possuem uma cópia do RBI mutada em
todas as células da retina assim, só falta um mutação para haver
desenvolvimento de cancro. Nos indevidos com retinoblastoma esporádica
tiveram que ocorrer 2 mutações na mesma linhagem de células (o que é muito
mais raro).
Por vezes há perda de heterozigotia: deleção de uma cópia do gene no tumor.
A cópia perdida é a cópia do
parente não afetado.
A figura ao lado demonstra
uma análise do tamanho dos
alelos pela eletroforese,
demonstrando 2 alelos de
diferentes tamanhos: banda
superior e outra inferior. A
mãe é homozigótica para o
alelo superior enquanto o
pai e a filha são
heterozigóticos. No entanto
o DNA do retinoblastoma
mostra apenas o alelo
inferior indicando uma perda
do superior nas células tumorais.

ONCOGENES
Oncogene é a denominação dada aos genes relacionados com o surgimento de
tumores, sejam malignos ou benignos, bem como genes que quando deixam de
funcionar normalmente, transformam uma célula normal numa célula cancerosa.
As versões de função normal de oncogenes são os proto-oncogenes. A
expressão excessiva de um proto-oncogene devido à regulação do genoma viral
é uma das causas para a transformação deste num oncogene viral. Os
oncogenes são identificados por abreviações de 3 letras e normalmente estão
relacionadas com o tumor que causam (ex: erb-B codifica o oncogene que causa
eritroblastose).
A descoberta dos diferentes oncogenes foi feita por:
1. Estudo dos retrovírus
2. Transfeção de DNA tumoral no rato para a identificação de genes
transformantes

60
ESTUDO DE RETROVÍRUS
Quando um retrovírus infeta um animal, há um período de aproximadamente 2 a
3 semanas para o tumor se começar a desenvolver. No entanto, há retrovírus
com um período de latência bem maior (vírus HIV).

Retrovírus

Latência longa Latência curta

Não carregam
Carregam
oncogene mas sim
oncogene
um promotor viral

Latência curta:

RETROVÍRUS → infeta a CÉLULA → RNA viral → cDNA (transcriptase reversa)


→ é integrado no genoma da célula
Latência longa:

O vírus integrou-se perto de um


proto-oncogene submetendo
assim este gene normal à
influência de um promotor
retroviral que leva à sua
expressão exagerada.

61
TRANSFEÇÃO DE DNA TUMORAL NO RATO PARA INDENTIFICAR
GENES TRANSFORMADOS
Os oncogenes têm um efeito dominante – a expressão exagerada de uma cópia
transforma já algumas propriedades da
célula.
DNA foi isolado de células tumorais
cultivadas, partido em pedaços e
introduzido em células saudáveis. Na
presença de fosfato de cálcio, o DNA
isolado é levado pelas células
(transfeção). Algum do DNA é
incorporado no genoma da célula o que
leva a um crecimento indeterminado
mas de resto não apresenta uma
transformação fenotípica.
No entanto, o DNA isolado das células
tumorais humanas (e não das
cultivadas) que foi transfetado
conseguiu ser identificado nos fibroblastos por causa das sequencias repetidas
encontradas no genoma humano e não no das células do rato. Algumas destas
células apresentavam uma transformação fenotípica (aparencia anormal e não
necessitavam de superfícies sólidas para crescer). Foi descoberto que alguns
oncogenes correspondiam a uns já previamente conhecidos por estarem
envolvidos na oncogénese mediada por retrovírus. Resumidamente, foi
descoberto que oncogénes específicos estavam envolvidos em certos tipos de
tumores. O processo foi repetido várias vezes usando o DNA das células
tansformadas.

MECANISMOS DE ATIVAÇÃO DE ONCOGENES


A maioria dos mecanismos não se baseia em vírus.
Ativação de um proto-oncogene:
1. Amplificação de genes – blocos de
DNA (incluindo o oncogene) são
replicados milhares de vezes na
célula. Pode ocorrem por erros ao
acaso durante a replicação de DNA.
As células tumorais com aplificação
de genes contêm “double minute
chromatine bodies” (setas).
2. Rearranjos cromossómicos – demonstrado pela primeira vez no
linfoma de Burkitt, está associado a uma translocação entre os
cromossomas 8 e 14.

62
Muitas vezes a ativação de um proto-oncogene não está associado a uma
alteração visível na estrutura de um cromossoma (mutações pontuais).

GENES SUPRESSORES DE TUMORES Vs ONCOGENES


ONCOGENES
Proto-oncogenes estão distribuidos em 4 classes moleculares (todos envolvidos
no controlo da diferenciação e proliferação):
1. Fatores de crescimento – Exemplo: proto-oncogene c-sis que codifica a
cadeia beta do factor de crescimento derivado das plaquetas. Este tipo de
factores são capazes de estimular a proliferação em certos tipos de
células. A expressão de proteínas anormais ou a sua expressão
exagerada de proteínas normais leva à proliferação de células tumorais.
As células tumorais que produzem este tipo de factores de crescimento
autoestimulam-se, ou seja, os factores de crescimento produzidos atuam
nas proprias células levando à proliferação abusiva.

2. Recetores de factores de crescimento – mutações que tornam o receptor


permanentemente ativo (mesmo quando não há factores) ou que levem à
produção de receptores com o local de ligação ao factores de crescimento
anormal (permitindo que se liguem e estimulem quando não é preciso)
levam a uma proliferação descontrolada. Exemplo: proto oncogene c-erbB
(receptor do factor de crescimento epidermial) e o v-erb-B é o
correspondente oncogene que corresponde ao receptor com atividade
anormal: a ligação do factor de crescimento (1º mensageiro) leva à sua
dimerização e aticação dos domínios tirosina-cinase → fosforrilação dos
residuos de tirosina no receptor bem como nas outras proteínas
membranares → ativação de outras proteínas com atividade
63
tirosinacinase → transmissão de insal → transcrição do gene src (gene
que pode dar origem a sarcomas)

3. Proteínas que ligam GTP – Exemplo: proteína codificada pelo


protooncogene ras. O oncogene correspondente leva a uma expressão
exagerada da proteína na sua forma ativa ou pode levar à sua
desensibilização perante as proteínas que regulam a sua atividade.

4. Genes que controlam a transcrição no núcleo – Exemplo: myc, jun e fos. A


ativação direta destes fatores tem como consequências: proliferação
anormal e diferenciação na ausência de sinal.

Genes supressores de tumores – Os genes supressores tumorais


codificam proteínas que possuem importante papel na regulação do ciclo celular
e apoptose, inibindo a formação de tumores. As mutações chamadas de “perda
de função” ocorridas nesses genes contribuem para o desenvolvimento de
tumores através da inativação de sua função inibitória.Exemplos: gene Rb, gene
NF1, gene TP53 e gene APC (envolvido polipose adenomatosa familiar).
GENE Rb: prevenir o crescimento excessivo por inibição da progressão do ciclo
celular até célula estar pronta para dividir e recrutar remodeladores de cromatina
(metilases e acetilases)

64
GENE NF1: gene mutado em indivíduos com neurofibromatose do tipo 1 (NF1),
codifica uma GAP (proteína ativadora de GTPases) que regula a atividade da
ras. A perda desse gene pensa-se que leva a uma atividade imparável da ras.
GENE P53: este gene está mutado numa grande variedade de tumores e está
envolvido na síndrome de Li-Fraumeni (doença hereditária rara, autossómica
dominante, que se caracteriza pela ocorrência de vários tumores na mesma
pessoa. Está ligada a mutações do gene p53, que normalmente ajuda no
controlo do ciclo celular. Mutações podem ser herdadas ou podem advir 'de
novo', cedo na embriogénese ou nas células germinais dos pais). Tal como a
Rb, está envolvida na regulação do ciclo celular: leva à paragem da célula para
reparo do DNA (diminuindo a quantidade de alterações genéticas que podem
contribuir para a formação de tumores).

65
EPIGENÉTICA E ONCOGÉNESE
Actua no cancro de pelo menos 3 maneiras:
1. Hipometilação – os genomas cancerígenos tendem a ter um menor nº de
metilações que levam à instabilidade comossómica e à expressão de
genes que normalmente não são expressos (+ maligno –metilado)
2. Hipermetilação das regiões promotoras de alguns genes supressores de
tumores → menor expressividade dos mesmos → falha na regulação. Há
padrões de hipermetilação específicos de tumores envolvidos na
inativação dos genes RB, BRA e outros.
3. Expressividade anormal de microRNAs: ↑microRNA que interage com um
supressor de tumores → pode inativar o supressor , ↓microRNA que
normalmente regula um oncogene →expressão excessiva do mesmo.

66
BASES MOLECULARES DO CANCRO
Demonstração da passagem de uma célula normal a um carcinoma metastático
do cólon. Os indivíduos que não herdaram uma mutação têm que adquirir 2 na
mesma linhagem de células para o desenvolvimento tumoral.

MÉTODOS DE DIAGONÓSTICO
Microarrays – análise rápida de genes complementares expressos num tecido.
Dá-nos um perfil de expressão génica que pode ser específico para um
determinado tecido num determinado estado fisiológico. Também permite
encontrar padrões específicos de certos cancros de modo a facilitar a escolha da
terapia.
RNAseq – determina a presença e a quantidade de RNA num tecido num
determinado momento
Os testes genéticos não só servem para diagnosticar e monitorizar o cancro em
pessoas afetadas mas também serve para identificar pessoas em risco de o ter.

NOVOS TRATAMENTOS
São usados marcadores genéticos para distinguir tumores histologicamente
semelhantes mas que respondem de um modo diferente a diferentes terapias.
Exemplo: sarcoma de Ewing (translocação associada ao comossoma 11 e 12) e
neuroblastoma (deleção do cromossoma 1p)
Os avanços na terapia ainda são pucos. Os modos convencionais de tratamento
estao projetados para matar todas as células em divisão. Problemas: podem-se
matar células não tumorais e podem se não matar todas as células tumorais (as
células sobreviventes desenvolvem resistencia às drogas e podem se tornar
mais agressivas).

Objetivo dos investigadores:


Encontrar agentes mais específicos para células tumorais.

Recentemente os investigadores
focam-se no complexo sistema que
regula o crescimento celular (ao
mesmo tempo que este deixa a
célula mais vulnerável a alterações
genéticas também oferece vários
pontos de intervenção). Estão a ser
desenvolvidas drogas que
interagem diretamente com os
oncogenes ou então com as
proteínas que interagem com os
oncogenes. Exemplo de sucesso:
droga desenvolvida para tratar CML
(leucemia mielóide crónica). Modo

67
como atua representado na figura ao lado. Imatinib é a droga que se liga ao
local de ligação do ATP da proteína hibrida, impedindo a atividade cinase da
mesma. A imatinib tem sido usada com sucesso para outros tumores com
mutações de oncogenes com atividade cinase mas como não cura os tumores,
leva a um aumento gradual de resistência à droga no local de ligação ao ATP.

Têm sido investigadas também maneiras de terapêutica relacionadas com a


epigenética e microRNAs. Drogas que levam à demetilação do DNA ou drogas
inibidoras deacedilases das histonas são usadas em tratamentos de alguns
tipos de cancro. Problema: podem contribuir para a geral hipometilação tumoral

68
QUESTÕES
1. A síndrome de Goltz é caracterizada por um desenvolvimento de tumores das
células basais da pele, meduloblastoma do cerebelo e um número de
anomalias conjetinais. È transmitido de uma forma autossómica dominante. O
gene responsável pela doença esta ligado ao um locus no cromossoma 9. A
análise de um marcador polimórfico na região ligada e não ligada ao tumor de
uma amostra de um individuo afectado revelou a heterozigotia nas células
sanguíneas mas tambem revelou uma ausência de um alelo no tumor. O que é
que isto implica em relação ao mecanismo de ação do gene responsável pela
formação do tumor? Se a doença foi herdada do pai, seria de prever que o alelo
perdido no tumor teria sido herdado da mae ou do pai? Porque é que a terapia
com radiação seria uma escolha erada para os meduloblastomas cerebelares
em indivíduos com esta síndrome?
Provavelmente funciona como um gene supressor de tumores. O alelo perdido
seria então o tipo “selvagem” (o normal, bom) herdado da mãe. A radiação pode
estimula a perda da heterozigotia ou aquisição de outras alterações genéticas
que podem contribuir para a formação de tumores.
2. As mutações nos genes supressores de tumores são frequentemente vistos
como mutações constitucionais mas mutações oncogénicas ocorrem
normalmente esporadicamente. Que consequência na hereditariedade na
linha germinativa era de esperar da mutação de um oncogene ativador?
Tal mutação iria levar a uma formação de um tumor em todas as células.
Provavelmente seria letal.
3. Porque é que a predisposição familiar para cancro está associada com uma
idade mais precoce de início de tumores?
Tanto no cancro esporádico como no familiar, o mecanismo dos 2 “hits” iria
ocorrer no gene supressor de tumores. Leva algum tempo ate que este dois
“hits” (as duas mutações alélicas) se acumulem numa célula para produzir um
canco esporádico. Se um “hit” já estiver presente em todas as células, apenas
uma adição é necessária, o que leva menos tempo.
4. Como se chama o mecanismo pelo qual a translocação do cromossoma pode
ativar um proto-oncogene? É possível que a translação possa inativa um gene
supressor de tumores?
A translocação cromossómica pode ativar um proto-oncogene por justaposição
do gene com outra que esta a ser ativamente transcrito. É possível que a
translocação possa desligar um gene supressor de tumores como tal inativando-
o.
5. Qual é a significância da estabilidade “microsatellite” quando encontrada num
carcinoma do colon?
A instabilidade “microsatellite” indica a perda da função de um dos genes genes
de reparação. Pode ser um sinal do canco do colon hereditário, que é uma
doença familiar herdada dominantemente.
.

69
CAPÍTULO 9 –TRANSLOCAÇÃO DE CROMOSSOMAS
Parte 1
A análise de cromossomas surgiu nos anos 50 como o primeiro verdadeiro teste
genético, a partir do qual se começou a desenvolver e acabando por se tornar
um teste basilar da avaliação dos fetos com anomalias congénitas.
Entretanto, surgiram outros testes como a amniocentese, formando um conjunto
de testes citogenéticos que permitem o diagnóstico de doenças como a
síndroma de Down.
Cerca de 3% de todos os bebés nascem com uma anomalia congénita, se bem
que a maior parte é compatível com a vida e podem ser solucionados com os
tratamentos corretos. No entanto, nem sempre é assim, devido a infeções,
agentes teratogénicos (que afetam o feto) e fatores genéticos.
No caso estudado [no livro e aula], a anomalia congénita em causa era a
síndrome de Wolf-Hirschhorn. Os sintomas incluem uma aparência facial
distinta, malformações na irís e retina, e malformações cardíacas e cerebrais.
Este quadro clínico tem como causa uma anomalia cromossómica,
nomeadamente a deleção de material genético no braço pequeno do
cromossoma 4.
É possível fazer análise pré-natal, mas nem sempre tal teste se mostra
necessário. A partir dos 35 anos, é feita amniocentese em mulheres grávidas,
porque o risco de não disjunção é aumentado com a idade. Estão em
investigação outros fatores de risco. Também é possível fazer a biópsia às
vilosidades coriónicas.
Há mais testes para anomalias específicas, como a Trissomia 21. Um deles
envolve a análise da quantidade da alfa-fetoproteína, um soro produzido pelo
feto, no sangue da mãe. Quantidades baixas desta substância podem denunciar
a presença de Trissomia 21, enquanto que o excesso da mesma pode indiciar
malformações congénitas relacionadas com as barreiras corporais do feto.
Mais tarde, aliou-se a análise do estriol e da βhCG à alfa-fetoproteína para ter
resultados mais fidedignos. A adição de outra substância, a inibina-A, ainda
aumenta mais a sensibilidade do teste para a Trissomia 21.
Além destes testes bioquímicos, podem ser usados ultrassons para averiguar
características físicas congruentes com a Síndrome de Down, como úmeros ou
fémures curtos. É também possível apurar a eficácia deste teste ao aliá-lo com
a análise de outras substâncias, como a βhCG e a PAPP-A (pregancyassociated
plasma protein-A).
No entanto, o objetivo é descobrir um teste pré-natal para a Trissomia 21 barato
e sem riscos. As bases de tal teste podem passar pela análise do DNA fetal, que
“verte” da placenta para a corrente sanguínea, tal como a alfa-fetoproteína.

70
Parte 2
Voltando ao caso inicial, a Síndrome de Wolf-Hirschhorn foi descrito nos
primórdios da citogenética clínica, ainda antes da cariotipagem. Como foi já
suprarreferido, a deleção de material genético do cromossoma 4 resulta na perda
de inúmeros genes da região.
Contudo, métodos mais sensíveis de análise cromossómica mostraram que, por
vezes, o que parecem ser deleções são na verdade translocações entre 2
cromossomas. Podem ser visíveis por cariotipagem, mas normalmente é
requerido o uso de FISH (Fluorescent in situ hybridization), que é um teste que
usa “sondas” fluorescentes para detetar zonas específicas do genoma.
No caso estudado, a translocação envolve a perda de material genética no braço
pequeno do cromossoma 4 e o ganho no braço pequeno do cromossoma 8. No
entanto, é possível que nem todo o material genético perdido num cromossoma
seja reposto no outro, logo a translocação é não balanceada (non-balanced).

Parte 3
No caso estudado, a mãe da criança com Síndrome de Wolf-Hirschhorn tinha
uma translocação balanceada, logo, não sofreu sintomas.
Quando a translocação não é balanceada, podem resultar no aborto espontâneo
(e daí a avó da criança em estudo, com a mesma translocação da mãe, ter tido
3 abortos espontâneos). Isto é comum em embriões com mutações
cromossómicas, e podem até passar despercebidos por isso.

71
Só as translocações mais suaves é que permitem a sobrevivência do feto e o
desenvolvimento da gravidez, no entanto, as anomalias congénitas estarão
presentes.
O risco de produção de gâmetas não balanceados é difícil de prever, pois
depende de muitos fatores, como o tamanho do segmento translocado, o
progenitor portador da translocação, o historial familiar, etc.

Parte 4
Para fazer o diagnóstico pré-natal, é preciso obter tecido fetal, e o mesmo pode
ser obtido por uma de duas grandes vias:
o Uma biópsia às vilosidades coriónicas, entre as 10 e 12 semanas de
gestação, em que se obtém uma amostra da placenta fetal com o auxílio
de um cateter pelo colo do útero ou por via transabdominal e com o auxílio
de ultrassons. O DNA obtido pode depois ser isolado ou usado para
culturas;

o Uma amniocentese, entre as 16 e 18 semanas de gestação, em que se


obtêm células fetais “perdidas” no líquido amniótico. Podem ser feitas

crescer em cultura.
72
Sabendo se os progenitores têm ou não translocações cromossómicas, torna-se
muito mais fácil estudar o DNA das células obtidas, com o recurso à FISH.

Parte 5
Quando a não disjunção ocorre na mitose em vez da meiose, o resultado é o
mosaicismo cromossómico. As consequências fenotípicas são difíceis de prever.
Não só se não sabe se o feto terá anormalidades, mas também não se sabe se
as células anormais derivam do embrião. As células do citotrofoblasto são
particularmente predispostas à não disjunção mitótica, e por isso as
anormalidades do mosaicismo podem não ser apresentadas no feto.
Portanto, convém ter em conta o tipo de células onde se deteta o mosaicismo.
Se for no citotrofoblasto, é muito pouco provável que tenha importância clínica.
Pode acontecer que, em cultura, haja mosaicismo cromossomal, chamando-se
de pseudomosaicismo. Não tem importância clínica se não for detetado em
várias culturas, caso contrário, há mesmo mosaicismo presente. Neste caso, as
hipóteses de haver consequências no fenótipo são mais altas, mas difíceis de
prever.

Parte 6
A análise de cromossoma via microarray tornou-se o teste mais importante na
avaliação citogenética de crianças com atrasos no desenvolvimento, seja ele
físico ou mental, muito devido à melhor resolução nos microarrays agora
existente. Atualmente, é possível detetar pequenas deleções ou duplicações que
não são observadas na cariotipagem, além da melhor eficácia.
A análise por microarrays também permite detetar indivíduos com problemas
dentro do autismo, que têm deleções ou duplicações específicas.
No entanto, como os microarrays detetam áreas de ganho ou perda de material
genético, não detetam translocações balanceadas. Portanto, no caso de
pessoas com constantes abortos espontâneos, o melhor é fazer a cariotipagem.

CITOGENÉTICA CLÍNICA
A análise cromossómica foi o primeiro exame genético de rotina. Nos primórdios
da citogenética, foram diagnosticados diversas síndromes que envolviam
mutações cromossómicas numéricas. Também foram descritas grandes
deleções e outros rearranjos, mas só com a origem da cariotipagem é que foi
possível detetar tais anomalias de forma rotineira.
A precisão dos testes foi melhorando, até termos testes citogenéticos como o
FISH e os CHG arrays (explicados no capítulo 6), com grande resolução ao nível
dos nucleótidos.
Na análise cromossómica normal, os cromossomas são distendidos tanto quanto
possível, de modo a detetar pequenos rearranjos mais facilmente. É usada para

73
confirmar as suspeita de anomalias como a Síndrome de Down, a Trissomia 13,
a Síndrome de Turner, etc.
Por outro lado, análise de alta resolução pode revelar pequenos rearranjos, como
pequenas deleções, inserções ou duplicações.
Um dos exemplos é o diagnóstico pré-implantatório, em que se faz fertilização in
vitro, e só após analisar o DNA de uma das células do embrião é que é
implantado na progenitora.

74
QUESTÕES
1. Uma amniocentese é feita devido à idade materna avançada, e estudos FISH na
interfase são feitos procurando evidências de trissomia do 13, 18 e 21, bem
como aneuploidias de cromossomas sexuais. Três sinais são vistos como
representativos de trissomia 21, indicando que o feto terá síndrome de Down.
Por que ainda é importante fazer a análise cromossómica para informar o
casal?
A FISH interfasica pode diagnosticar com precisão a trissomia, mas não
distinguiria a trissomia livre do 21 da trissomia devida a uma translocação
robertsoniana. Esta ultima seria importante diagnosticar devido ao risco
aumentado de recorrência em gestações futuras se um dos genitores for
portador.
2. Um casal tem um filho com síndrome de Down após uma triagem bioquímica
prénatal que não indicou aumento de risco de síndrome de Down na gestação.
Eles perguntam como o diagnóstico não foi feito na triagem. O que você lhes
diria?
A triagem bioquímica não é um teste diagnóstico. Dependendo dos
componentes da triagem, a sensibilidade é entre 60% e 80%. Entretanto não é
100% sensível, e portanto algumas gestações em risco não darão teste positivo.
3. Uma análise cromossómica feita em células de vilosidades coriónicas indica
trissomia do 15, mas a amniocentese de acompanhamento mostra
cromossomas normais. Os pais devem ser assegurados de que o feto será
normal, e que o resultado inicial representa mosaicismo plancetário
confinado? Existem outros testes que devem ser feitos?
O feto estaria em risco de dissomia uniparental para o cromossoma 15, que
poderia resultar nas síndromes de Prader-Willi ou Angelman. O teste para UPD
seria indicado.
4. Uma criança com anomalias congénitas múltiplas tem aparentemente uma
translocação balanceada entre os cromossomas 2 e 11. É possível que a
translocação seja responsável pelos problemas da criança? O que você faria
para explorar mais esta possibilidade?
Embora uma translocação recíproca balanceada em geral não cause ganho ou
perda de material genético, pode haver exceções. Às vezes existem ganhos ou
perdas no local da translocação. Além disso, um gene pode ser perturbado pela
translocação, ou pode haver alteração da expressão de um gene devido a “efeito
de posição”. Um modo de explorar melhor o significado de translocação é fazer
a análise cromossómica de ambos os genitores. Se o rearranjo não estiver
presente em nenhum dos genitores há uma probabilidade maior de que seja
clinicamente significante, enquanto se um genitor tiver o mesmo rearranjo é
menos provável que seja a causa dos problemas da criança. O teste para dissomia
uniparental dos cromossomas envolvidos também pode ser útil.

75
5. Você está dando informações genéticas a um adulto com fenda palatina e uma
história de doença cardíaca congénita que for reparada quando criança. Ele
quer saber se há risco de transmissão de problemas similares para a aproxima
geração. Que tipo de teste citogenético seria apropriado nesta situação, e se o
resultado for positivo, como você o informaria?
Este individuo tem sinais que podem ser compatíveis com a síndrome
velocardiofacial (VCFS), associada a deleção submicrossópica do cromossoma 22.
Um estudo FISH deve ser feito. Se positivo, haverá um risco de 50% de
transmissão do cromossoma deletado para uma criança, que também
desenvolveria VCFS.

76
CAPÍTULO 10 – DIAGNÓSTICO MOLECULAR
Introdução
Durante muito tempo, o diagnóstico de anomalias genéticas implicava o uso de
vários testes, que eram caros e podiam requerer até internamento e cirurgias,
com resultados por vezes vagos.
Agora, o diagnóstico molecular elimina todos esses problemas, pois conhecendo
o gene que pode estar envolvido e sendo possível detetar as mutações, basta
obter DNA de um tecido (como sangue), e obtém-se um teste rápido, definitivo e
barato que pode inclusive ser feito com caráter pré-natal.
No entanto, pode ter implicações técnicas e éticas.
O capítulo irá abordar o diagnóstico da neurofibromatose tipo 1 (NF1).

Parte 1
A neurofibromatose tipo 1 é uma doença incluída no grupo de 3
neurofibromatoses. Neste caso, os pacientes têm máculas (espécies de
manchas) cor de leite, acumulações de células de Schwann desgovernadas
(neurofibromas), podendo depois originar tumores (característica comum a todos
as neurofibromatoses). Todos tipos os tipos de neurofibromatose têm um padrão
de hereditariedade autossómico dominante, cada um devido à mutação de um
gene distinto. No caso da NF1, a proteína codificada, a neurofibromina, ativa a
GTPase.

Parte 2
O diagnóstico da neurofibromatose é baseado em características físicas, sendo
que está convencionado que, no caso da NF1, pode ser diagnosticada se o
indivíduo satisfazer dois ou mais critérios:

77
Estes critérios incluem as máculas cor de café, neurofibromas, nódulos de Lisch
(“bronzeamento” da íris do olho, só visível em adultos), entre outros.
Uma criança com 6 ou mais máculas cor de café com pelo menos 5mm de
tamanho não vai necessariamente desenvolver NF1. A síndrome de Legius
também tem essas máculas entre as suas caraterísticas, mas não parece que o
desenvolvimento de tumores exista.
Ainda não há tratamento para a neurofibromatose tipo 1, portanto a solução
presente é a educação do paciente e família, bem como o tratamento das
complicações que se possam.
Atualmente, é possível identificar mutações no gene NF1 (nome do gene = nome
da abreviatura da doença) com um nível de precisão muito elevado, e só com
uma amostra de sangue. As vantagens deste teste incluem um diagnóstico
definitivo, no entanto não prediz a gravidade da NF1.

Parte 3
Como já foi referido, o gene NF1 codifica a proteína neurofibromina. Já foram
descobertas centenas de mutações neste gene, incluindo deleção do gene
inteiro, duplicações, etc.
Para ter uma análise da mutação correta, há que usar técnicas complementares.
Uma dela requer o isolamento de mRNA e a síntese de um cDNA por uma
transcriptase reversa.
Pode também ser usada a FISH, a análise por microarrays, e até há uma variante
da PCR que deteta deleções.
No entanto, a interpretação de mutações missense neste gene ainda é um
desafio.
É também de referir que a neurofibromatose tipo 1 pode ser herdada ou surgir
por uma mutação esporádica. Esta questão pode ser resolvida ao testar os
progenitores do paciente.

78
Parte 4
No caso estudado, como ambos os pais não tinham o gene NF1 mutado, provase
que o paciente (o seu filho) tem neurofibromatose tipo 1. Contudo, é difícil prever
quão grave será, pois tanto pode ser uma grande deleção como ser só a deleção
de um aminoácido.

Partes 5, 6 e 7
A frequência da NF1 é de 1:10000 por gâmeta por geração.
A penetrância da NF1 é 100%, ou seja, todos os que tiveram a mutação no gene
terão sinais da anomalia.

Diagnóstico molecular de anomalias genéticas


Os testes moleculares permitem que não se tenha de fazer uma biópsia invasiva
a um órgão, podendo analisar o DNA das vilosidades coriónicas ou do fluído
amniótico.
As primeiras aplicações do diagnóstico molecular envolveram não a análise de
mutações, mas sim o teste baseado no linkage. Ainda é usado em situações em
que o gene é desconhecido ou é possível haver várias mutações num gene
grande.
No entanto, o linkage tem um problema, e esse problema é a recombinação
genética, já que este teste não identifica estes casos e portanto um indivíduo
pode ter uma mutação e o teste prever o contrário.
Além disso, o teste baseado em linkage implica o estudo de uma família, e não
apenas de um indivíduo. Têm de participar parentes de duas ou mais gerações,
e os pais têm de ser os biológicos.
Outro problema reside no facto de não poder resultar em todas as famílias, uma
vez que o progenitor portador do gene mutante tem de ser heterozigótico para
os marcadores, e o outro progenitor tem de ter os alelos diferentes.
Por fim, o teste baseado em linkage parte do princípio que a família é portadora
de um gene mutante, quando pode haver outro alelo não mutante naquele locus
particular.
Os testes de diagnóstico molecular atuais são mais fidedignos e devem ser
aprovados pelas autoridades competentes.

79
QUESTÕES
1- No heredogama seguinte, uma mulher(seta) teve dois irmãos com distrofia
muscular de Duchenne, uma característica recessiva ligada ao X. Ela está
gravida, e o feto é masculino. É feito um estudo de ligação usando dois
marcadores flanqueadores do gene de distrofia muscular. O marcador 1 tem
dois alelos, “1” e “2”; e o marcador 2 tem dois alelos, “3” e “4”. Os seus pais e
irmãos já faleceram. Com base nos genótipos mostrados para a mãe (ela tem
genótipo “12” para o marcador 1 o genótipo “34” para o marcador 2) e seu feto
(alelo “1” para marcador 1 e alelo “3” para marcador 2), o que lhe diria quanto
ao risco de o feto tenha distrofia muscular de Duchenne?
O risco de o feto ter DMD seria de 25%. A mãe do feto tem um risco de 50%
de ser portadora, pois a sua mãe é uma portadora obrigatória (tem dois
filhos afetados). Nós não sabemos qual haplótipo está associado a DMD
nesta família. É necessário estudar cada família de indivíduos para aprender
que alelos estão em acoplamento com a doença nesta família em particular.

2- Um teste diagnóstico molecular revela uma única mudança de base num gene
num individuo afetado por um distúrbio autossômico dominante. A mudança
causa uma substituição de aminoácido na proteína. Como julgaria se e uma
mudança patogênica ou uma variante benigna?
Existem muitas coisas que podem ajudar a determinar se a mudança é
patogênica. A mudança foi vista antes em indivíduos afetados ou em controles?
Se o distúrbio está presente na família a mutação segue a doença; se o filho é o
primeiro afetado, a mutação está presente em ambos os genitores? O
aminoácido que está alterado é conservado na evolução? Qual o efeito previsto
de substituição de aminoácidos no funcionamento da proteína?
3- Alguns testes diagnósticos moleculares para grandes genes complexos com
múltiplos exões começam com o sequenciamento do cDNA preparado de
mRNA em vez de DNA genomico. Qual a vantagem deste enfoque?
O sequenciamento do cDNA revelará pulos de exões ou inserções de sequencias
intrões no mRNA indicativo de mutações de recomposição. Estas podem ser
devidas a mutações dentro de intrões que seriam difíceis de detectar com o
sequenciamento do DNA genomico, a menos que toda a sequencia genômica,
inclusive os intrões, fosse estudada.

80
4- Um homem de 40 anos com risco de herdar doença de Huntington tem 74
repetições CAG neste gene. Isto significa que ele desenvolverá a doença?
Este tamanho repetido está na faixa vista em indivíduos afetados com a doença
de Huntington. A HD apresenta uma penetrância dependente de idade, embora
não seja garantido que ela será sintomática antes que possa morrer por outras
causas.
5- Você está a informar uma família com síndrome de Noonan. Qual o modo de
transmissão genética? Qual o gene responsável? Há disponibilidade de um
teste de genética clinica?
Informações sobre esta síndrome podem ser obtidas em OMIM ou GeneReviews.
É uma característica autossômica dominante devida a mutação do gene PTPN11.
Está disponível um teste clinico molecular.

81
Capítulo 11 – Diagnóstico Neonatal / Erros inatos do
metabolismo

A introdução do diagnóstico neonatal (newborn screening) nos erros inatos do


metabolismo foi uma grande contribuição para a saúde pública. A deteção de
doenças como a fenilcetonúria (PKU) permite às crianças adotarem uma dieta
de PKU, antes de ocorrerem danos neurológicos irreversíveis. Doenças como
fibrose cística, endócrinas, hematológicas, imunológicas, neurológicas e
infeciosas, podem ser diagnosticadas no período neonatal, para além dos erros
inatos do metabolismo. Estes erros são consequências de mutações em genes
que codificam enzimas requeridas para o metabolismo ou catabolismo de
substâncias específicas.

Pontos Chave
Os recém nascidos podem ser rastreados para uma crescente
variedade de condições, em que o princípio da deteção precoce vai
levar à adoção de um tratamento que possa impedir danos graves e da
doença, posteriormente.
Crianças diagnosticadas com erros inatos do metabolismo necessitam
de cuidados ao longo da vida (caso PKU).
Existe uma grande variedade de mecanismos patofisiológicos
subjacentes a erros inatos do metabolismo  Defeitos em enzimas e
coenzimas, com consequências fisiológicas da deficiência do produto
e/ou acumulação de substrato,
Variedade de tratamento em uso ou em desenvolvimento  gestão de
dieta, suplementação de coenzima, remoção de substâncias tóxicas,
substituição enzimática e terapia génica.

Espectometria de massa
O método de diagnóstico neonatal utilizado nos dias de hoje é a espectometria
de massa, que permite detetar níveis anormais de metabolitos. O que acontece
neste tipo de diagnóstico é que os metabolitos nas amostras de sangue são
divididos em fragmentos, e, de seguida, estes são analisados por espectrometria
de massa. Espectometria de massa em tandem, com duas rodadas de análise
consecutivas, podem ser utilizadas para identificar e quantificar dezenas de
metabolitos numa única só análise. Algumas das doenças que podem ser
detetadas não cabem critérios padronizados para o diagnóstico neonatal, talvez
porque a história natural não está bem definida ou porque não existe tratamento
conhecido.

82
Fig. 11.1 - Espectometria de massa

Fenilcetonúria
Neste capítulo é retratado um caso de um recém-nascido ao qual lhe foi
diagnosticado fenilcetonúria. PKU é uma das mais comuns causas de desordens
intelectuais.
Enzima responsável: fenilalanina hidroxilase

Catalisa a hidroxilação da fenilalanina em tirosina

Uma mutação no gene que codifica esta enzima, pode levar ao não/deficiente
funcionamento desta Acumulação de elevados níveis de fenilalanina

Elevados níveis de fenilalanina e do seu principal metabólito, ácido fenilpirúvico,


tornam-se tóxicos para organismo, principalmente para o sistema nervoso.
Vai existir o défice de níveis de tirosina, percursor de neurotransmissores dopamina e
norepinefrina Causa do atraso no desenvolvimento cerebral
Crianças com esta doença apresentam ainda dificuldade na produção de
melanina.

Em alguns casos ocorrem mutações numa enzima diferente, dihidropteridina


reductasa (DHPR), ou na síntese de biopterina. DHPR está envolvida na redução
de H2 biopterina em H4 biopterina. Biopterina H4 é um cofactor necessário para
a hidroxilação de fenilalanina em tirosina. Também é necessário para a
hidroxilação de tirosina e triptofano, que são importantes na síntese de
neurotransmissores cerebrais vitais. Ausência de atividade da DHPR resulta na

83
deficiente hidroxilação da fenilalanina, na presença de enzima normal,
fenilalanina hidroxilase, e também no défice de produção neurotransmissores.

Fig. 11.2 - Hidroxilação da fenilalanina

Tratamento:
• Restrição de ingestão de fenilalanina;
• Preparação de aminoácidos individuais, excluindo fenilalanina e contendo
tirosina suplementar, bem como hidratos de carbono, gorduras e minerais;
• Alimentos que contêm baixos níveis de proteína são permitidos em doses
mediadas;
• Proibidos alimentos como carne, peixe e queijo (elevados níveis de
proteína).

Fig. 11.3 - Tratamento: dieta de fenilalanina

Maternal PKU
Quando uma mãe com PKU não adere a uma dieta pobre em fenilalanina,
haverão elevados níveis de fenilalanina no ambiente fetal e a atividade da
84
fenilalanina hidroxilase não será suficiente para lidar com elevadas
concentrações. Desse modo, vai causar toxicidade no feto, tendo consequências
gravíssimas para este. No desenvolvimento fetal os orgãos desenvolvem-se
muito rápido, sendo o cérebro o mais afetado, podendo-se desenvolver doença
cardíaca congénita e microcefalia.

Deficiência da desidrogenase dos ácidos gordos de cadeia média


(MCADD)
A deficiência da cadeia média de acil-CoA desidrogenase (MCADD) uma
doença autossómica recessiva e é um dos mais comuns distúrbios na oxidação
de ácidos gordos.
MCADD é responsável por 3% dos casos da Síndrome de Morte Súbita na
Infância (SIDS). Geralmente, estes pacientes são normais ao nascimento e
geralmente apresentam sintomas clínicos (hipoglicemia, encefalopatia aguda e
letargia) entre poucos dias a 24 meses de vida, em resposta tanto ao jejum
prolongado (por exemplo, o desmame da mamada noturna) quanto a infeções
comuns intercorrentes (por exemplo, viroses gastrointestinais ou infeções de
vias aéreas superiores).

A oxidação mitocondrial dos ácidos gordos é muito importante na produção de


energia, especialmente durante jejum. Os ácidos gordos fornecem 80% da
energia precisa através da síntese de corpo cetónico no fígado e oxidação direta
noutros tecidos. Os ácidos gordos de cadeia longa são as principais fontes de
combustível para o coração e para o músculo-esquelético. Os ácidos gordos
também fornecem energia para a gliconeogénese, e a sua oxidação poupa o
consumo de glucose.
• Pacientes com distúrbios de oxidação de ácidos gordos, geralmente,
apresentam longos períodos de jejum, que resultam num aumento da taxa
metabólica e exigências de energia.

• Pacientes com defeitos de cadeia longa pode se apresentar com sintomas


cardíacos e / ou hepáticas

• Pacientes com MCADD, geralmente, apresentam sintomas mais suaves.

Genética
A causa genética mais prevalente (95% dos casos) nas crianças diagnosticadas
com Deficiência de MCAD é a homozigose para a mutação missense A985G no
gene da Acil-CoA Desidrogenase da Cadeia Média, levando a substituição de
uma lisina por um ácido glutâmico.
85
Importância do diagnóstico molecular
O screening neonatal da é intensamente sugerido. O estudo da mutação A985G
apresenta vantagens técnicas, como agilidade na execução, efetividade e alto
valor preditivo. Um resultado molecular positivo viabiliza que medidas simples e
específicas, como ingestão regular de hidratos de carbono, ingestão reduzida de
gorduras, suplementação com carnitina e prevenção de períodos de jejum,
sejam tomadas antes que severas sequelas neurológicas ocorram,
principalmente em recém-nascidos.

Fig. 11.4 - MCADD

Inborn Errors of Metabolism


Os erros inatos do metabolismo (inborn errors of metabolism) podem surgir de
mutações em enzimas ou coenzimas, como no caso da PKU – fenilcetonúria; o
indivíduo não pode ingerir fenilalanina – o que pode levar à acumulação do
substrato ou deficiência do produto.

Podem haver terapias que não se limitam a restringir a dieta do indivíduo afetado.
A doença do armazenamento lisossomal é caracterizada pela falta de enzimas
no interior do lisossoma que são necessárias para o metabolismo de
componentes da membrana celular. Uma consequência desta doença é a perda
de funcionalidade celular.
O defeito destes erros de metabolismo podem não ocorrer no gene que contem
a informação para uma determinada enzima ou coenzima. Os defeitos genéticos
podem afetar sim os organelos celulares (onde se produzem as enzimas), o que
leva ao mau funcionamento metabólico.
86
Principal tratamento:

Redução do substrato tóxico ou aumento do produto que não consegue


ser produzido devido à deficiência enzimática.
 Isto pode ser feito por manipulação da dieta;
 Providenciar uma maneira alternativa de remover o substrato
tóxico;
 Em casos extremos, pode ser utilizada a diálise para remover o
substrato tóxico do soro sanguíneo (por exemplo, quando existe
acumulação de ureia).
 Transplantes de órgãos também já foram realizados, bem como
transplante de medula óssea.
Como a base dos erros inatos do metabolismo está na deficiência enzimática,
uma reposição de enzimas poderia parecer uma boa ideia. Mas a enzima
purificada não é eficaz por si só porque pode não ser detetada no seu alvo.
Infusões desta enzima modificada, produzida através de DNA recombinante
provou ser uma alternativa eficaz no tratamento desta patologia.
A tentativa mais recente de tratamento é tentar a substituição do gene
defeituoso por uma cópia intacta. Esta terapia poderia mesmo resolver
definitivamente a doença.
Esta terapia passa por colocar o gene intacto que codifica a enzima
corretamente num vírus, que posteriormente vai infetar as células e inserir a
porção correta no DNA. O maior desafio é que o vírus infete apenas as células
alvo para obter os níveis fisiológicos desejados, e também que o sistema
imunitário não destrua o vírus. Esta terapia ainda não é muito utilizada devido às
dificuldades da mesma.

87
Fig. 11.5 - Transporte de proteína para o lisossoma

Tratamento de erros inatos de metabolismo visa a redução do substrato tóxico


e/ou substituição do produto em falta. Isso pode ser feito, pela manipulação
dietética, mas existem outras abordagens bem. Um é proporcionar um sistema
alternativo para remover um substrato tóxico. Qualquer deficiência das enzimas
no ciclo da ureia, pode conduzir à formação de amoníaco (NH4+), que é
altamente tóxico. Este pode ser removido por diálise, mas o tratamento crónico
envolve a administração de fenilacetato de sódio e benzoato de sódio, o qual
complexa com amónia para formar compostos capazes de ser excretados na
urina de forma segura.

Fig. 11.6 - As principais etapas do ciclo da ureia. O amoníaco é convertido em fosfato de


carbamilo pela enzima sintetase carbamilfosfato, que reage com ornitina para entrar no ciclo da
ureia.

88
QUESTÕES
1. Porque as crianças com PKU não nascem com danos no sistema nervoso?
A fenilalanina é eliminada in útero pela placenta, e só começa a acumular-se na
criança após o nascimento. Mães de crianças com PKU são portadoras
heterogenias, mas seus níveis de fenilalanina hidroxilase são suficientes para
metabolizar a fenilalanina tanto da mãe quanto do feto.
2. Por que as crianças com distúrbios de armazenamento lisossómico geralmente
não são sintomáticas ao nascimento?
Os sintomas dos distúrbios de armazenamento de lisossomas ocorrem devido ao
acumulo gradual de material não digerido dentro do lisossoma. Isto requer tempo,
tipicamente meses a anos, para se acumular a ponto de ocorrerem sintomas.
3. A terapia de reposição enzimática para distúrbios de armazenamento lisossómico
envolve o tratamento com uma preparação enzimática com manose-6-fosfato
expostos. Por que esta modificação é necessária?
A manose-6-fosfato capacita a enzima a ligar recetores específicos na membrana
celular. Por endocitose mediada por recetor as vesículas endocíticas fundem-se aos
lisossomas, libertando a enzima no organelo.
4. Como a espectrometria de massa em tandem permite a triagem dos neonatos
para um grande número de distúrbios do que a antes usada nos ensaios
bacterianos?
Os ensaios tais como o teste de inibição bacteriana de Guthrie precisam ser
ajustados para cada determinado distúrbio metabólico a ser testado. A
espectrometria de massa em tandem fornece dados sobre uma ampla gama de
condições num único teste com base num espectro de massa para uma variedade
de metabólitos.
5. Quais são os enfoques gerais usados no tratamento dos erros inatos do
metabolismo?
( 1)Redução do substrato; (2) remoção dos metabólitos tóxicos; (3) reposição de
enzima; (4) transplante de órgão; (5) suplementação de coenzima; (6) aumento de
ação da enzima.

89
CAPÍTULO 12 – GENÉTICA NO DESENVOLVIMENTO
Atualmente é comum o oferecimento de uma examinação via ultrassom
como um componente de rotina de cuidados pré-natais, isto com o objetivo de
poderem-se identificar mal formações no feto. Muitos casais consideram que
terem este tipo de informações pode ajudá-los relativamente às medidas que
irão adotar relativamente à futura criança. A análise cromossómica é
normalmente feita quando este tipo de anomalias fetais são diagnosticadas. Por
exemplo, quando são detetadas mal formações cardíacas, usa-se como meio de
visualizar estas microdeleções o FISH ou MLPA.

A dismorfologia é um ramo da genética que estuda os padrões de


desenvolvimento anormal, através de práticas clínicas e laboratoriais para
estabelecer o diagnóstico subjacente a anomalias congénitas. Deste modo um
dismorfologista analisa anomalias procurando um padrão reconhecível.

Malformação é o resultado do desenvolvimento anormal de um tecido.

Deformação é a alteração do tecido sem destruição, através de uma


pressão extrínseca.

Disrupção é a destruição de um tecido (tende a ser assimétrica).

Existem vários padrões de mal formações. Alguns compreendem


síndromes como a Síndrome de Down, resultado de defeitos congénitos bem
definidos, neste caso uma cópia extra do cromossoma 21.

Um segundo padrão de mal formações é chamado de sequência, como


como consequência de um evento primário, como por exemplo o mau
desenvolvimento do maxilar inferior, ou efeitos secundários de uma mal
formação primária, como a fenda palatina devido ao incorreto desenvolvimento
do maxilar inferior.

Um terceiro padrão é referido com


uma associação, isto quando certas
anomalias tendem a ocorrer em conjunto.
Como por exemplo tem-se a associação
VACTERL, que envolve anomalias nas

90
vértebras, atresia anal, fistula-traqueia-esofágica, anomalias cardíacas,
anomalias renais e defeitos nos membros.

Síndrome de Charge
É autossómica dominante, normalmente esporádica, associada ao
gene CHD7 (isto em cerca de 60-70% dos pacientes com esta síndrome),
mutações neste gene têm como resultado a terminação prematura da tradução
de uma proteína, uma haploinsuficiência. Este gene referido anteriormente é
responsável pela família de proteínas envolvidas na remodelação da
cromatina e expressão dos genes durante o desenvolvimento precoce e
codifica uma proteína helicase que se liga ao DNA. A função deste gene é
importante para o controlo epigenético da expressão dos genes das células do
mesênquima derivadas da crista neural cefálica.

Apresenta como sintomas:

C - Coloboma do olho

H - Defeitos cardíacos (Heart defects)

A - Atresia das cóanas nasais

R - Retardo no crescimento e/ou


desenvolvimento

G - Anormalidades genitais e/ou urinárias


(Genital and/or urinary abnormalities)

E - Anormalidades da orelha e surdez (Ear abnormalities and deafness)

91
Um teste pré-natal (análise das vilosidades coriónicas ou amniocentese)
pode determinar se um futuro feto herdou uma mutação no gene CDH7, prever
como a criança será afetada não é possível devido à variabilidade clínica
associada com esta condição. Também é possível fazer testes pré-implantórios.

As manifestações clínicas e a severidade desta condição são diferentes


de individuo para individuo.

Erros no nascimento do desenvolvimento


Aproximadamente 3% das gravidezes dão origem a defeitos de
nascimento. Normalmente estes defeitos são esporádicos, como a fenda
palatina e o defeito do tubo neural. A maior parte destas malformações ocorre
esporadicamente e com uma etiologia multifactorial. Outras são determinadas
por genes únicos ou anomalias cromossómicas. Algumas crianças podem
nascer com múltiplas anomalias congénitas.

Um normal desenvolvimento implica replicação celular, migração e


diferenciação, controlado num espaço específico e uma sequência temporal.

Os genes envolvidos no desenvolvimento foram primeiramente estudados


através mosca da fruta, a Drosofhila. Esta mosca apresenta uma cabeça, tórax
e abdómen. Genes responsáveis por este tipo de segmentação se estiverem
mutados levam a uma desordem a nível da segmentação da mosca.

Temos assim a Homeobox (Hox) (dos genes homeobox) que contem


domínios de ligação ao DNA, formada por cerca de 60 aminoácidos. Também se
tem a paired box (Pax) (dos genes pax) que contém outros domínios de ligação
ao DNA, formada por cerca de 128 aminoácidos,

Estes genes referidos estão envolvidos na regulação do


desenvolvimento, na activação da transcrição de outros genes, servem
como interruptores. A Drosofhila tem cerca de 5 genes Pax, a maior parte
envolvidos na segmentação do corpo, expressos em segmentos específicos do
embrião desta mosca.

Existem vários grupos de genes Hox na Drosofila, que apresentam uma


sequência homóloga. Um dos grupos é referido como o HOM-C, que consiste
em 8 genes. O gene no final 3’ do complexo está envolvido na expressão da
cabeça enquanto que o final 5’ nos segmentos posteriores da mosca.

92
Existem cerca de 9 Pax genes nos humanos, em que 7 destes têm
incluído sequências Hox box.

Assim como na mosca, nos mamíferos qualquer mutação nestes genes


leva a anomalias congénitas no corpo, ou seja estes genes aqui também têm um
papel na morfogénese das regiões anterior-posterior do embrião.

Mutações no Pax 3 é o splotch. Mutações no Pax 6 é o smalleye.


Responsável pela Síndrome de Waadenburg, consiste na surdez, olhos
espaçados e pedaços de cabelo branco por cima da testa.

Gene sonic hedgehog- SHh


Este gene codifica uma das proteínas da sinalização hedgehog.
Desempenha um papel importante na regulação da organogénese nos
vertebrados, como o crescimento dos dedos nos membros e a organização do
cérebro.

Mutações neste gene são responsáveis pela síndrome do nevo de células


basais, é uma doença autossómica dominante. E pela síndrome Smith-
LemlIOptiz, que é autossómica recessiva e está envolvida com o bloqueio no
metabolismo do colesterol.

Mecanismo:

- O recetor da membrana PTCH1 inibe o SMO, que está localizado no cílio;


- Um ligando sonic hedgehog é activado pelo colesterol e então liga-se ao
PTCH1;
- Degradação do PTCH1 num lisossoma;
93
- Logo o SMO deixa de estar inibido;
- Estimulação da translocação do GL1 para o núcleo, que é um factor de
transcrição para os genes envolvidos na diferenciação celular.

94
QUESTÕES
1. Qual a diferença entre uma disrupção e uma deformação? Seriam uma
consequência de exposição in útero a um teratógeno?
Uma disrupção envolve a destruição do tecido durante o desenvolvimento,
enquanto a deformação envolve a alteração da forma sem a destruição do
tecido. Alguns teratógenos são responsáveis por disrupções, com base na
toxidade de tecido ou interferência na circulação sanguínea.
2. O útero e a trompa de Falópio estariam presentes numa pessoa com cariótipo
46,XY e uma mutação em SRY que interfere no desenvolvimento testicular?
Sim, a substancia inibidora mulleriana é produzida nos testículos.
3. Todas as mutações responsáveis pela acondroplasia ocorrem no mesmo sítio
do gene FGFR3. Por que a restrição no local das mutações?
A mutação ocorre num sítio específico onde leva a um ganho de função do
produto génico. As mutações noutros sítios do gene não teriam este efeito.
4. Uma alta proporção de síndromes de anomalias congénitas herdadas
dominantemente são devidas a novas mutações. Por que isto?
A maioria destes distúrbios leva a uma morte precoce ou um prejuízo físico ou
cognitivo significante, qualquer um dos quais interfere na habilidade de se
reproduzir. A transmissão de pai para filho de uma mutação será portanto rara,
exceto em casos de mosaicismo da linhagem germinativa. Como resultado, a
maoiria dos casos surge por mutações novas.
5. Qual a relação entre as orientações dos genes hox no cromossoma e seus
padrões de expressão?
Os genes Hox são dispostos em tandem no cromossoma. Os genes mais para 3’
são expressos mais nas regiões cefálicas, com uma progressão dos genes
situados numa direção 5’ sendo expressos mais caudalmente.

95
CAPÍTULO 13 - TESTE DO PORTADOR
Introdução
Algumas doenças genéticas aumentam a frequência em determinadas
populações. A importância deste teste genético é descobrir se o indivíduo é
portador de uma doença génica recessiva e assim, sabe-se que alguns casais
estão em risco de terem um filho que vai ser portador da doença.
O princípio deste teste é identificar esses casais para que estes possam ser
devidamente aconselhados sobre os riscos e as opções disponíveis para lidarem
com este risco.
Pontos-chave
O teste envolve descobrir se os indivíduos são heterozigóticos para genes que
poderiam potencialmente provocar doenças graves no estado homozigótico
(se o casal tivesse um filho). Este teste serve para que possa haver
aconselhamento para o casal.
Com base na família, um indivíduo pode estar mais suscetível a ser portador
de uma determinada característica genética. Muitos dos testes estão voltados
para estes grupos de risco.
Os casais em risco têm muitas opções: diagnóstico pré-natal, adoção, uso de
um oócito ou espermatozoide de um dador ou planeamento médico para a
criança afetada.
A implementação deste teste requer a avaliação dos benefícios e dos riscos.
Os resultados requerem uma interpretação cuidadosa e o aconselhamento do
casal.
A abordagem genómica está a começar a ser implementada, tornando possível
uma maior abrangência de testes ao dispor da população.

A doença de Tay-Sachs, por exemplo, é uma doença autossómica recessiva.


Pelo diagrama Mendeliano, temos:

Ou seja, se os pais tiverem um filho existe 25% de probabilidade de este ter


herdado a doença:
96
Teste do portador
Este teste oferece a oportunidade de identificar casais de risco (autossómicos
recessivos para uma determinada doença) antes que estes tenham
descendência. As opções do casal podem ser:
• Escolher não ter um filho;
• Inseminação artificial ou doação de um oócito;
• Diagnóstico pré-natal e interrupção de gravidez;
• Diagnóstico pré-natal e aconselhamento sobre como lidar com a doença
do filho;
• Podem optar por não fazer o teste.
Este teste é preferencialmente realizado em populações com frequência
crescente de incidências de uma determinada doença. Isto permite uma redução
do número de incidências (efeito gargalo de garrafa). Esta prática está a ser
generalizada pois o custo do exame por indivíduo é cada vez mais baixo e nem
sempre se sabe o historial clínico dos familiares. Ou seja, esta é uma medida
preventiva para reduzir a prevalência de doenças. Contudo, não é um método
com 100% de eficácia, já que existem fenótipos cuja mutação é desconhecida.
Finalmente, é uma questão que levanta muitos problemas éticos.

97
QUESTÕES
1. Um casal solícita uma triagem para distúrbios de globina. Um dos membros é
descendente de africanos e outro descendente do Mediterrâneo. Eles têm um
risco aumentado de ter um filho com um distúrbio de globina?
Sim. Tanto a anemia falciforme como a beta talessemia são vistas em indivíduos
descendentes de africanos, enquanto a beta talassemia é comum na região do
Mediterrâneo. Os heterozigotos compostos com uma mutação para beta
talassemia e uma mutação para a anemia falciforme têm um distúrbio
hematológico clinico (anemia falciforme-talassemia).
2. Por que algumas triagens de portadores são feitas usando testes bioquímicos
(p.ex, doença de Tay-Sachs) e outras por testes de DNA?
A triagem bioquímica é oferecida se o teste bioquímico for menos caro e
tiver mais sensibilidade, o que seria o caso se houver uma grande diversidade de
mutações que possam causar a doença. O teste de DNA é usado se o teste
bioquímico não distinguir corretamente o estado do portador ou se for difícil
fazer um teste bioquímico de um tecido prontamente disponível, tal como o
sangue.
3. Por que é importante considerar a ancestralidade na interpretação de uma
triagem de portador para um distúrbio com heterogeneidade alélica como a
fibrose cística?
A frequência de mutações específicas difere em indivíduos de diferentes
ancestralidades. O risco residual para um individuo que deu negativo na triagem
para a mutação depende da sensibilidade da triagem da mutação neste
indivíduo, que é muito dependente da ancestralidade.
4. Um dos aspetos negativos na triagem de portador para mutações especificas
no DNA é que um teste negativo não exclui a condição de portador, pois um
individuo ainda pode portar a mutação que não foi incluída no apinel de
triagem. Além do custo, por que o sequenciamento completo de um gene não
é uma solução ideal para este problema?
Embora o sequenciamento completo detete todas as mutações, também há
possibilidade de que seja encontrada uma variante não patogénica, ou pelo
menos cujo significado seja desconhecido. Os painéis de triagem de mutação são
geralmente restritos a testes de mutações de significado patológico conhecido.
5. Há alguma justificativa em oferecer a triagem de portador a um casal que não
vai terminar uma gestação afetada?
Existem muitos motivos para considerar a triagem de portadores além do
término de uma gestação afetada. Outras opções reprodutivas podem ser
consideradas, por exemplo, tal como o uso do doador de espermatozoides ou
oócito. Os casais também podem usar triagem para confirmação, ou para
planejar as necessidades médicas de uma criança afetada.

98
CAPÍTULO 14 – AVALIAÇÃO DO RISCO GENÉTICO
Neste capítulo são abordados toda uma panóplia de fatores que estão presentes ao
realizar um teste genético (sociais, éticos, legais e genéticos). A explicação destes fatores é
feito ao longo do capítulo dando o exemplo de um paciente que foi a diversas consultas.

Consulta:
O paciente tem dores no joelho direito há cerca de seis meses, que pioram gradativamente. Este
paciente trava a dor em casa com ibuprofeno, sacos de gelo e sacos de gelo, no entanto a dor
apenas suavizava. Na consulta que foi ele não disse que também tinha uma ligeira dor na região
da anca e no joelho esquerdo, pois a dor era mínima comparando com o outro joelho.
O paciente diz que na família não existem doenças hereditárias, apenas existem diabetes e a
médica decide fazer um teste físico que achou normal e pediu radiografias ao joelho.

A médica não tira grandes conclusões, no entanto, depois dos resultados dos exames ela
decide que o paciente deve seguir para um reumatologista, onde os resultados também não
foram conclusivos nesta área. Isto fez com que o médico reumatologista o reencaminhasse para
um gastroenterologista (estudo do estômago e intestino), onde lhe foi diagnosticado
hemocromatose (depósitos de ferro no organismo), uma doença hereditária autossómica
dominante que o paciente referiu não existirem.
O paciente começa a ter que retirar sangue, não podendo este ser doado uma vez que
existe uma regra baseada na necessidade de que a doação de sangue seja voluntária (problema
ético). Foi sugerido ao paciente que este fizesse um teste sanguíneo para saber a informação
genética da família, onde ele descobriu que uma irmã apresentava o mesmo genótipo que o
paciente, começando esta a ser seguida (diagnóstico precoce ajuda a evitar complicações da
doença) e que um dos seus filhos era homozigótico, seguindo este logo para clinica geral.
A médica começou a aperceber-se que o seu paciente teve imensa sorte em ser
diagnosticado muito cedo através de sintomas benignos e antes de desenvolver a doença de
modo irreversível. Isto fez a médica perceber que já lhe podiam ter passado imensos doentes
pelas mãos que tivessem esta doença, percebendo que deveria haver triagem para
hemocromatose (triagem pode ser baseada em testes genéticos, permitindo identificar outros
membros da família).

99
TRIAGEM GENÉTICA PARA RISCO DA DOENÇA:
Há dois tipos de testes, os pré-sintomáticos e os predisposicionais.

No caso dos testes pré-sintomáticos, aplicam-se a distúrbios que apresentam


dependência da idade mas com penetrância completa, ou seja, um individuo com teste positivo
eventualmente desenvolverá a doença se viver o suficiente. Este teste determina assim
essencialmente o risco da doença e no caso de distúrbios com características monogénicas,
geralmente dominantes, podem ser úteis para determinadas decisões reprodutivas.

Exemplo: Um individuo que está em risco de herdar a doença também está em risco de transmiti-
la e se o distúrbio apresentar uma penetrância dependente da idade, o individuo pode não saber
que herdou a mutação até depois da idade reprodutiva. Isto significa que a caraterística pode ser
transmitida sem que o individuo saiba que é afetado.

No caso dos predisposicionais, aplicam-se a distúrbios com penetrância completa, em que


o distúrbio está relacionado com fatores ambientais e/ou vários genes contribuem para doença.
Este teste determina o risco relativo da doença, mas não garante se o individuo a vai ou não
manifestar. A nível clinico este teste permite a possibilidade informar e acompanhar a família, ou
possibilitar estratégias para reduzir o risco ou instituir um tratamento.

Exemplo: Num caso em que é conhecida a mutação para o cancro na família, estes testes podem
ser bons no que está relacionado com a vigilância, visto que um paciente com um teste positivo
para o risco de expressar a doença necessita de muito mais vigilância que um teste negativo. O
risco da doença pode ainda ser prevenido com a modificação da dieta, hábitos como o fumo de
cigarros, entre outros.

RELAÇÃO DOS TESTES COM A SOCIEDADE

Na sociedade e no próprio individuo, o resultado destes testes pode ter imenso impacto
uma vez que um por exemplo, um teste positivo para a propensão da doença pode levar a que o
individuo sofra de estigmatização ou ansiedade, ou até mesmo possa perder o seguro ou o
emprego. No caso de um teste negativo pode levar a que sejam continuados ou retomados
hábitos e comportamentos autodestrutivos tais como fumar e pode fazer com que estes
pacientes comecem a falar a procedimentos rotineiros de triagem.
Finalmente, terão de existir salvaguardas para garantir que indivíduos testados não
sofram consequências sociais negativas e os recursos de informação e educação deverão ser
aumentados para estes indivíduos em especial.

100
QUESTÕES
1. Qual a logica para o diagnóstico pré-sintomático de hemocromatose? Qual a principal
limitação do uso de testes genéticos para as duas mutações comuns HFE como um teste
de triagem?
A lógica do diagnóstico pré-sintomático é que o tratamento com flebotomia é preventivo
de complicações, mas estas complicações não podem ser tratadas com sucesso quando
são estabelecidas. A principal limitação do teste genético é que a penetrância é
incompleta; logo, um individuo que é encontrado com uma mutação tem uma
possibilidade alta de nunca desenvolver sintomas.
2. Qual a diferença entre teste genético pré- sintomático e teste genético de
predisposição?
O teste genético pré-sintomático determina se um individuo em risco de herdar uma
mutação genética de facto a herdou, antes do início dos sinais ou sintomas da doença. O
teste predisposicional determina se um individuo tem risco aumentado de desenvolver a
doença em comparação com indivíduos na população em geral.
3. Qual a potencial utilidade do teste pré-sintomático no planeamento familiar?

Um individuo que esta em risco de ter herdado uma mutação génica pode querer saber
se a herdou de modo a ser informado sobre os riscos de transmitir a característica para a
prole. Para um distúrbio com penetrância dependente da idade, os sinais ou sintomas
podem não estar presentes na época em que a decisão reprodutiva deve ser tomada.
4. Um individuo tem um teste de predisposição que revela que tem um risco relativo de
2,5 para desenvolver a doença. O que significa isto?
O risco relativo compara a hipótese de desenvolver a doença com o da população em
geral. Este resultado indica que ele é 2,5 mais provável de desenvolver a doença que o
risco da população. Se a doença for rara, entretanto, permanece uma alta probabilidade
de que ele não desenvolva a doença.
5. Como um teste de predisposição pode tornar um individuo vulnerável a estigmatização
ou discriminação?
É possível que um individuo cujo teste fosse positivo não pudesse fazer um seguro de
vida, e/ou plano de saúde, ou lhe fosse recusado um emprego. Embora não afetado pelo
distúrbio, se os resultados do teste fossem conhecidos, o facto de existir um risco
aumentado poderia desencadear tais respostas. Há também uma preocupação de que o
individuo enfrente uma mudança de autoimagem, ou no modo de ser percebido pelos
outros.

101
CAPÍTULO 15 – TESTES GENÉTICOS PARA
VERIFICAÇÃO DO RISCO DE CANCRO
Introdução
 O cancro é fundamentalmente uma doença genética
 Quase todas as mudanças genéticas são adquiridas nas células somáticas e
alguns indivíduos herdam a predisposição
 Pode ser baseado numa mutação de uma cópia de um gene supressor tumoral
ou num defeito de reparação do DNA

Parte I
 O cancro da mama afeta cerca de uma em cada nove mulheres nos EUA e
muitas vezes o que chama a atenção é uma massa na mama, que muitas vezes
pode ser causada por outras doenças que não o cancro (por exemplo, a doença
fibrocística: cistos benignos com líquido)
 O uso do autoexame e da mamografia têm sido utilizados para um diagnóstico
precoce do cancro e melhorado o prognóstico

Parte II
 Os cancros da mama são derivados de células epiteliais, e são portanto
classificados como carcinomas
 A patologia mais comum é chamada de carcinoma ductal invasivo
 A mastectomia radical envolve a remoção dos músculos peitorais maior e menor
e dos gânglios linfáticos axilares; a mastectomia radical modificada deixa o
peitoral maior (mais comum hoje em dia)
 A cirurgia conservadora da mama, seguida de radioterapia na região envolvida
tem demonstrado uma eficácia semelhante à da mastectomia

102
 O estadiamento do cancro da mama é baseado no tamanho do tumor, o grau
de envolvimento dos gânglios linfáticos e a presença de metástases em sítios
mais distantes

Parte III
 O enfoque da terapia depende de um número de variáveis, incluindo o estádio
do tumor, seja a mulher pró ou pós-menopausa e os resultados dos estudos
genéticos nas células tumorais
 Os tumores que expressam recetores de estrogénio ou progesterona tendem a
responder ao tratamento com antagonistas de hormonas e estão associados a
uma taxa mais favorável de sobrevida a longo prazo
 O tamoxifeno é um antagonista de estrogénio que tem-se demonstrado efetivo
em impedir a recorrência de cancro da mama em mulheres cujos tumores são
positivos para recetor de estrogénio: a droga está associada a efeitos como
ressecamento vaginal e surtos de calor
 O HER-2/neu é um oncogene amplificado em alguns cancros da mama - codifica
um recetor de fator de crescimento tirosina cinase de membrana
 A hiperexpressão deste gene,
geralmente um resultado de
amplificação génica, está associada a
um mau prognóstico

Parte IV
 Os parentes em primeiro grau de
pessoas com cancro da mama correm
um risco duas a três vezes maior de
desenvolver a doença comparado com
a população geral

103
 Algumas famílias demonstram o cancro da mama de um modo autossómico
dominante; outros membros dessas famílias podem desenvolver cancro do
ovário ou cancro da mama em homens
 Os genes BRCA1 e BRCA2 estão associados a uma maior predisposição ao
cancro da mama

Parte V
 A presença de vários parentes afetados de primeiro ou segundo grau com
qualquer combinação de cancro da mama ou ovário em qualquer idade sugere
uma predisposição genética
 Se existe menos parentes afetados, com idade de inicio jovem (<45 anos) num
parente afetado, a presença de um parente masculino com cancro da mama, um
parente com múltiplos cancros primários (cancro da mama bilateral ou cancro do
ovário e mama) e a presença de cancro da mama e ovário em parentes de
primeiro ou segundo grau constituiria fatores de risco

104
Parte VI
 Tanto o gene BRCA1 como o BRCA2 são grandes e várias mutações foram
encontradas nas pessoas afetadas
 A deteção de todas as mutações possíveis é desafiadora e cara, necessitando a
análise do sequenciamento completo da região codificante e limites exãointrão;
é estimado que 15% das mutações são perdidas mesmo com o sequenciamento
completo
 Existem algumas mutações que são particularmente comuns em populações
específicas; na população de judeus asquenaze, por exemplo, duas mutações
BRCA1 (185delAG – deleção de duas bases na posição 185 – e 5382insC – uma
inserção de uma base no nucleótido 5382) e uma mutação no BRCA2
o (6174delT) são particularmente comuns
 Não existe nenhum tratamento simples que tenha provado ser efetivo na redução
do risco de cancro nos portadores de BRCA1 e BRCA2
 A opção mais extrema, a mastectomia profilática e ooforectomia, não provou ser
benéfica mas é um importante e traumático evento na vida
 A vigilância do cancro pelo exame físico, alternado com MRI, ultrassom
transvaginal e teste sérico para CA-125, um marcador do cancro ovariano,
pode permitir a deteção precoce do cancro
 A administração profilática de tamoxifeno, embora possa diminuir o risco de
cancro da mama, não se demonstra eficaz nos portadores do BRCA1 e BRCA2

Parte VII
 O risco de cancro para o portador da mutação BRCA1 ou BRCA2 é estimado
pela experiência prévia com os portadores de mutações semelhantes
 A avaliação é mais direta em portadores de mutações comuns como a
185delAG
 Um estudo baseado em populações estimou que o risco de cancro da mama aos
70 anos era de 56% e cancro do ovário era de 16% para judeus asquenazes
portadores das mutações comuns BRCA1 e BRCA2
 Estudos recentes demonstram que a cirurgia profilática pode reduzir
substancialmente o risco de cancro
 A mastectomia bilateral reduz o risco de cancro da mama, embora exista a
possibilidade do cancro se desenvolver a partir de uma pequena quantidade de

tecido mamário residual; a mastectomia não envolve o risco de cancro ovariano


 A salpingo-ooforectomia demonstrou reduzir o risco de cancro tanto de ovário
como de mama

105
Parte VIII
 Em alguns casos, testar uma pessoa, tal como uma criança, indiretamente revela
a condição da mutação em outra, tal como um genitor
 A condição de portadora é de grande importância para as mulheres na família;
os homens correm o risco de ter cancro da próstata e da mama para os
portadores do BRCA2
 O teste genético para crianças levanta questões éticas complexas e por isso, as
crianças em risco de herdar uma mutação de cancro da mama devem receber a
oferta da informação genética na idade apropriada

PARTE IX
Os genes BRCA1 e BRCA2 funcionam como supressores de tumores requerendo assim
uma mutação dos 2 alelos para o inicio de formação de tumores.

PREDISPOSIÇÃO FAMILIAR PARA O CANCRO


A predisposição familiar para o cancro leva a que este se desenvolva numa idade mais
precoce (comparativamente àqueles indivíduos cujo cancro resultou de uma mutação
esporádica) e que desenvolva múltiplos tumores primários independentes. Como vimos
no capítulo 8, a maioria das causas desta predisposição familiar para o cancro são as
mutações que envolvem os genes supressores de tumores. Nesta predisposição, um
individuo herda uma mutação alélica em todas as células da linha germinativa restando
apenas uma mutação para iniciar a formação de tumores.
É muito importante identificar os indivíduos em risco:

Nalguns casos, pode ser executado um tratamento.


Exemplo: indivíduos que herdam uma mutação no oncogene RET estão têm um risco
elevado de desenvolver carcinoma medular da tiroide mesmo na infância. A
tiroidectomia profilática pode ser usada para a deteção precoce e para o tratamento do
cancro. Outro exemplo: Os que estão em alto risco de terem cancro do cólon deveriam
fazer colonoscopia já numa idade jovem (mais jovem que o normal para a população
em geral).
Possuir um histórico familiar para o cancro também é muito importante para prevenir
agravamentos futuros.
Tentar o individuo da família afetado maximiza a probabilidade de encontrar uma
mutação (se houver) e permite fazer um teste para a tal específica mutação noutros
indivíduos da família que estão em risco. Como o individuo afetado nem sempre esta
disponível para o teste, um individuo não afetado testa-se um não afetado:
Teste positivo- pessoa em risco
Teste negativo – difícil de interpretar porque pode ter 3 soluções: individuo não herdou
a mutação, não pode ser detetada a mutação ou não há mutação sequer

106
QUESTÕES
1. Um homem de 50 anos apresenta-se com cancro da mama. Ele tem duas filhas
adolescentes. É indicado um teste para uma causa genética do cancro da
mama? Caso sim, que gene ou genes devem ser apropriadamente testados?
O cancro da mama é raro em homens, mas ocorre com aumento de
frequência na mutação BRCA2 de heterozigotos. Seria indicado testar estes
homens, pelo menos em parte devido a implicações para as suas filhas, bem
como outros membros da família.
2. Uma mulher de 30 anos pede uma consulta quanto ao risco de cancro da mama
e ovário. A sua mãe morreu de cancro do ovário e a sua tia atualmente tem
cancro da mama. Foi sugerido que a sua tia seja testada antes que o teste seja
feito nela. Qual a lógica desta recomendação?
O teste para as mutações BRCA1 ou BRCA2 não deteta todas as mutações
possíveis. Portanto, um teste negativo em mulheres com 30 anos pode significar
que ela não herdou uma mutação BRCA, ou que o teste de mutação não a
detetou. O teste da sua parenta afetada oferece uma confiabilidade maior. Se
sua tia é negativa, isto significa que o teste de mutação não pegaria a mutação,
ou que a mutação BRCA não é responsável pelo cancro na família. Se a sua tia
tiver a mutação, a mulher pode ter a oferta de um teste confiável para ver se ela
herdou a mutação.
3. Um homem de 40 anos tem cancro colorretal, que também afetou a sua mãe e
o irmão da sua mãe. A sua tia materna também teve cancro endometrial. Esta
história familial atende ao critério de Amsterdam para HNPCC?
Sim, existem três casos de cancro de cólon na família em duas gerações afetando
parentes em primeiro grau. Um indivíduo afetado tinha menis de 50 anos de
idade na época do diagnóstico.
4. Um homem com 35 anos de idade com uma história familial de cancro de cólon
é encontrado com múltiplos pólipos no cólon. Ele tem dois filhos, um com 5 e
outro com 7 anos. É encontrado o homem uma mutação do gene APC. Estas
crianças devem ser testadas?
A triagem para pólipos de cólon em indivíduos com FAP começa por volta dos 10
anos de idade. Se as crianças não forem portadoras do gene mutante,
entretanto, elas seriam poupadas da triagem de rotina. Os teste de crianças em
risco e portanto justificável, pois os resultados mudarão o seu tratamento.
5. Uma mulher foi descoberta com carcinoma medular da tiroide, que forma de
teste genético seria apropriada, e o que seria oferecido aos familiares com a
mutação? O carcinoma medular da tiroide pode estar associado á mutação do
oncogene RET. Os portadores do gene receberão a oferta de tiroidectomia para
evitar este cancro geralmente letal.

107
CAPÍTULO 16 – FARMACOGENÉTICA
Introdução – A absorção, metabolismo, distribuição e reação de um indivíduo
a agentes farmacológicos estão sob um determinado controlo genético. Existem
variações nas respostas aos medicamentos (polimorfismos).
Dado estas adversidades, é possível a realização de testes genéticos que vão
prever a reação de um determinado indivíduo a um medicamento:
• Permite a otimização da dosagem;
• Escolha personalizada do medicamento adequado às
necessidades de cada indivíduo.
Neste capítulo, a abordagem à Farmacogenética é feita, sobretudo,
considerando o caso específico de reações adversas a anestesias –
HIPERTERMIA MALIGNA.
- Como é que se explica esta condição por estudos genéticos?
- Como é que o teste genético pode ser útil para identificar membros da
família em risco de terem a mesma doença?
Pontos-chave
A reação a um fármaco pode ser influenciada por fatores genéticos que afetam
a absorção, biodistribuição, excreção e efeitos fisiológicos.
Testes genéticos para polimorfismos específicos envolvidos no metabolismo de
fármacos oferecem a possibilidade de evitar efeitos secundários e
personalização do tratamento de acordo com as necessidades fisiológicas de
cada indivíduo.
Os testes genéticos vão ser cada vez mais usados como uma componente de
rotina médica para a decisão dos fármacos a serem administrados.

Parte I
A hipertermia maligna ocorre em indivíduos que foram expostos a “trigger
agentes” (agentes gatilho/despoletadores). Caracteriza-se por aumento da
frequência cardíaca (taquicardia), aumento da temperatura corporal e níveis de
CO2 sanguíneos elevados. Por exemplo: um indivíduo vai para uma operação e
é-lhe administrado um “trigger agent”.
Daqui ele vai mostrar estes sintomas
típicos desta condição genética.
Podemos assim definir uma tabela de
agentes seguros e de agentes gatilho da
hipertermia maligna:
A hipertermia maligna começa com uma
libertação excessiva de Ca2+ do retículo

108
sarcoplasmático (RE dos músculos) o que leva a uma contração permanente.
O trabalho constante dos músculos leva a muita produção de CO2 elevada, o que
vai levar à acidose respiratória. Por outro lado, os músculos vão libertar muito
ácido lático, o que leva à acidose metabólica.
Para se tratar a hipertermia maligna é necessário substituir os “trigger agentes”
por agentes seguros.

Parte II
Foi descoberto que em famílias, muitos dos parentes dos indivíduos com
hipertermia maligna tinham valores elevados de fosfocinase da creatinina (CPK).
A CPK é uma enzima muscular que drena das células musculares danificadas.
A hipertermia maligna é uma doença autossómica dominante com
penetrância incompleta. Apesar de ser dominante só se expressa em
indivíduos que foram expostos a “trigger agentes”. Se não for exposto a estes
agentes, o indivíduo pode nunca expressar o fenótipo e não tem sintomas.
Mas nem todos os indivíduos tem estes sintomas quando em contacto com estes
agentes. Os sintomas podem ser mais moderados.
• Miopatia (mal diagnosticada porque pode-se pensar que não está
relacionada com a hipertermia maligna);
• Fraqueza muscular crónica;
• Ataques de febre súbitos.
Contudo, muitos podem ter uma função muscular normal.

Parte III
É necessário que o médico saiba o historial da família para saber se há casos
semelhantes ao indivíduo que sofreu a hipertermia maligna. Depois da
ocorrência desta doença, os níveis de CPK eram muito elevados.
Pode então concluir-se que um teste de confirmação para a hipertermia maligna
é a verificação dos níveis de CPK no soro sanguíneo.

Parte IV
Não são fáceis de realizar os testes para a hipertermia maligna.
Teste clássico - biópsia de um pedaço relativamente grande de tecido muscular.
Depois da biópsia, dentro de horas, este pedaço tem que ser testado com “trigger
agents” (halotano e cafeína).
Logo, existe o problema de ser um teste caro, difícil para o paciente e existem
poucos locais onde este exame possa ser realizado.
Um método mais simples é, no caso de dúvida, tratar o paciente com agentes
seguros, ou seja, sem “trigger agentes”.

109
Parte V
Teste genético – Foram descobertos 2 genes associados com a hipertermia
maligna:
• O mais comum é o RYR1, localizado no cromossoma 19 e codifica um
canal iónico na membrana celular do músculo;
• O outro gene é o CACAN1S, localizado no cromossoma 1 e codifica um
canal de L-cálcio dependente de voltagem, com uma subunidade 1S.
Uma mutação no RYR1 é responsável por 70-80% dos casos de hipertermia
maligna, enquanto que mutações no gene CACAN1S apenas são responsáveis
em 1% dos casos.
Estas mutações são responsáveis pela hipertermia maligna porque levam a que
grandes quantidades de Ca2+ sejam libertadas do retículo sarcoplasmático. Isto
acontece quando expostos a succinilcolina e halotano (“trigger agentes”). Estes
dois fármacos vão fazer com que o fenótipo seja expresso.

Parte VI
Não existe apenas 1 gene responsável por esta patologia.
O RYR1 codifica uma proteína com 5000 aminoácidos, portanto o diagnóstico de
uma mutação pode ser ambíguo pois existe uma variedade de indivíduos
afetados com diferentes tipos de mutações e há mutações silenciosas.
Devido a isto a análise de mutações não é utilizada como método de diagnóstico
primário.
Uma falha em encontrar mutações não iris dar o diagnóstico definitivo e poderia
dar origem a um FALSO POSITIVO. No entanto estes testes podem ser
utilizados para aconselhamento familiar.
Se for encontrado alguém com a doença, far-se-ia um teste genético para
procurar a mutação e procurar-se-ia na família possíveis portadores.

Farmacogenética e Farmacogenómica
A hipertermia maligna é um exemplo de uma condição Farmacogenética -> A
expressão do fenótipo requer a exposição a um agente farmacológico.
Os efeitos de um medicamento estão dependentes de variáveis múltiplas:
• Absorção do medicamento;
• Reações bioquímicas que ativam ou inativam o medicamento;
• Distribuição pela circulação;
• Interação do medicamento com o seu alvo.
Qualquer uma destas variáveis pode ser alvo de modificação por fatores
genéticos.

110
Exemplo de polimorfismo - Um exemplo de uma condição de metabolismo
farmacogenético envolve a tiopurina metiltransferase (TPMP), que se liga ao
DNA.
A metilação destes medicamentos pode impedir que se liguem ao DNA, e
consequentemente inativa o medicamento. Este polimorfismo bioquímico afeta
1/300 indivíduos.
Os “trigger agents” (succinilcolina e halotano) vão induzir hipertermia
maligna apenas em indivíduos com um genótipo de risco. Ou seja, a
variação genética vai influenciar como o medicamento vai interagir com o seu
alvo.

Farmacogenética
Uso da informação genómica para se desenvolverem novos medicamentos que
atuem em alvos novos.
O teste do polimorfismo do metabolismo dos medicamentos (diferentes
maneiras de metabolizar medicamentos) vai permitir:
• Uma melhor dosagem de medicamentos;
• Evitar efeitos secundários;
• Melhorar a eficácia.
Com o desenvolvimento da genética e da genómica vão haver cada vez mais
medicamentos específicos para cada paciente.

111
QUESTÕES
1. Por que é que o teste genético para a mutação RYR1 não é oferecido a todos
os indivíduos como um prelúdio para a cirurgia para evitar a hipertermia
maligna? O gene RYRI é grande e existem muitas mutações. O teste de DNA não
teria um bom custo-benefício, e há o risco de perder algumas mutações. O teste
do músculo requer uma biopsia invasiva e é difícil de fazer e caro.
2. Qual a utilidade clínica do teste TPMT em indivíduos que sofrem quimioterapia
com 6 – mercaptopurina?
Os que têm um polimorfismo que os torna metabolizantes lentos estão em risco
de acúmulo de níveis tóxicos da droga, o que pode causar insuficiência de
medula óssea, e pode ser letal. Em tais indivíduos a dosagem da droga seria
ajustada para evitar toxicidade.
3. Qual o valor do teste de CYP2D6 na prática clínica?

Muitas drogas são metabolizadas pela enzima CYP2D6. O conhecimento do


genótipo pode dar uma base para o ajuste da dosagem da droga de modo a
evitar efeitos colaterais tóxicos ou garantir níveis terapêuticos.
4. Qual o risco de exposição a droga associado a polimorfismos dos genes de
canais de sódio ou potássio?
Os indivíduos que possuem polimorfismos específicos de canais de sódio ou
potássio estão em risco de arritmia cardíaca por exposição a algumas drogas.
5. Qual o princípio subjacente a estratificação de doença pelo teste genético
como um prelúdio para a farmacoterapia?
A estratificação da doença envolve o discernimento das diferenças genéticas na
patogenia da doença que ocorre entre indivíduos com o que parece ser o mesmo
distúrbio. Isto permite o preciso ajuste dos tratamentos com as necessidades
específicas individuais

112
CAPÍTULO 17 – TRATAMENTO DE DESORDENS
GENÉTICAS
O conhecimento da base molecular das doenças genéticas oferece uma perspetiva
futurista para o diagnóstico, prevenção e tratamento das mesmas. O tratamento pode
ter por base a cirurgia, terapia farmacológica, ou em alguns casos reparar o defeito
genético ou inserir de novo um gene dito normal.

Esclerose Tuberosa
Este capítulo descreve o caso clinico de uma bebé, Anna, a que lhe é diagnosticada a
patologia esclerose tuberosa, apresentando uma mutação no gene TSC2.

O médico pede os seguintes exames: eletroencefalograma, ressonância magnética ao


cérebro, ultrassonografia renal, ecocardiograma e exame ocular.

A esclerose tuberosa é uma desordem de herança dominante, com penetrância


completa, mas com variabilidade no que toca à expressão. Resulta de mutações nos
genes TSC1 e TSC2, que codificam as proteínas hamartina e tuberina, respetivamente.
Estas proteínas formam um complexo que regula a atividade da proteína mTOR, que
tem como função o controlo do crescimento e proliferação celular.

A ligação de um ligando (fator de crescimento) ativa


a cinase PI3K que fosforila o PIP2 (fosfolípido da
membrana) em PIP3. O PIP3 ativa a proteína AKT,
que tem como função inibir o complexo TSC1-TSC2.
Assim, a Rheb será ativada, e esta ativação
determina a não estimulação da mTOR, e
consequentemente não ocorre crescimento e
proliferação celular.

O complexo ativado inativa a proteína Rheb, o que


leva à estimulação da proteína mTOR, que por sua
vez estimula o p70S6K e inibe o 4E-BPI, que resulta
no crescimento e proliferação celular. Uma mutação
nos genes TSC1 e TCS2, fará com que o complexo
esteja ativo, o que determina um aumento da
estimulação da enzima mTOR.

Cerca de 2/3 dos indivíduos com esta patologia


apresentam uma nova mutação, sem que os pais sejam afetados (penetrância
completa) - Mosaicismo na linha germinativa

Se a mutação não é conhecida, os pais são examinados pela pele, olhos, cérebro e rins,
pelos testes acima indicados.

113
Os indivíduos afetados, em bebés, como é o caso, experimentam várias convulsões, e
apresentam manchas de pele hipopigmentada. As convulsões, como podem afetar o
sistema nervoso, podem levar a um atraso no desenvolvimento.

O ecocardiograma mostra a presença de rabdomiomas cardíacos (tumores no


miocárido), que são assintomáticos e tendem a regredir com o tempo. A ressonância
releva várias lesões cerebrais, como desenvolvimento cortical anormal e existência de
nódulos nas regiões subependimárias. Lesões renais incluem quistos e tumores
denominados de angiomiolipomas. Também pode-se desenvolver angofibromas, placas
de colagénios e fibromas periungueais.

Pode existir lesões nas regiões subependimárias, que dão origem a Astrocitomas
subependimários de células gigantes (SEGAs), que podem causar obstrução nos
ventrículos e hidrocefalia. A Anna teve um crescimento destas células. Devido ao facto
de que as técnicas cirúrgicas são muito invasivas torna-se cada vez mais essencial
contornar estes procedimentos. A descoberta dos genes responsáveis por esta
patologia, e o que afetam, neste caso a enzima mTOR, foi de extrema importância, pois
mTOR pode ser suprimida pela rapamicina, que possui efeitos imunossupressores e
é utilizada para prevenir a rejeição dos transplantes de órgãos.

Uma vez que a rapamicina é utilizada para a não rejeição dos tecidos, pode também ser
utilizada como medicação para imunossupressão. Assim, pode-se proceder a um ensaio
clinico.

Ensaio Clínico
Um ensaio clinico é um estudo formal destinado a testar uma intervenção médica, como
o uso de alguma droga. Envolve o uso de um protocolo estipulado para assegurar que
os testes são feitos de forma rigorosa e consistente. O paciente em causa deve estar
devidamente informado e deve dar o consentimento, e os comités éticos devem
autorizar e monitorizar o ensaio.
Um ensaio clinico tem várias fases:

Fase 0:

Normalmente consiste na administração de um medicamente e a verificação se este é


absorvido pelo tecido que se deseja tratar. Permite explorar se o medicamento interage
com o tecido da maneira esperada.

Fase I:
Esta fase consiste em verificar a segurança do ensaio: se a dosagem de medicamento
é tolerada, os seus efeitos secundários, e maneira como é absorvido, metabolizado e
excretado. É feita num pequeno número de pacientes em que não há espectativa de um
benefício significante.

Fase II:
Tem o objetivo de medir a eficácia do medicamento. É realizada com um maior número
de pacientes, e o número dos mesmos depende da prevalência da doença, da
população, e dos resultados que se quer ter, de modo a que estes sejam significativos.

Fase III:

114
Nesta fase é feita a comparação entre o tratamento a ser testado e os tratamentos
convencionais. É realizado com um numero maior de pacientes. As intervenções que
são seguras e efetivas são aprovadas pela FDA (US food and drug administration).

Fase IV:
É quando os pacientes são vigiados continuamente de modo a verificar-se se
ocorre/monitorizar algum efeito secundário.
Após o uso deste medicamento pela Anna, a SEGA diminuiu assim como o
angiofibroma. Hoje em dia, está em estudo se este medicamento é eficaz tanto para a
redução dos angiofibromas, assim como no desenvolvimento cognitivo e controlo das
convulsões.

Efeitos secundários
Efeitos secundários do uso deste medicamento em pessoas com SEGAs progressivas,
em pacientes com esclerose tuberosa: Aparecimento de feridas na região bucal,
Supressão imunitária, aumento dos lípidos e colesterol e infeções nos rins e pulmões.

A monitorização é essencial para vigiar o aparecimento dos efeitos secundários, pois


por exemplo, se as lesões na zona bucal forem demasiado severas a dosagem terá de
ser diminuída.

A dosagem inicial é determinada pela área de superfície do corpo, e os níveis


sanguíneos indicam as mudanças das dosagens.

Terapia das Desordens Genéticas


O tratamento para desordens genéticas já é realizado sob diversas formas:
 Terapia diatética para erros inatos no metabolismo, por exemplo no caso da
fenilcetonúria.
 Administração de coenzimas, de modo a estimular a atividade enzimática para
erros inatos.
 Administração de drogas que modo a criar uma via alternativa para a excreção
de compostos tóxicos, ou redução na síntese de substratos que se podem
acumular como resultado de deficiências enzimáticas.
 Reposição de enzimas para desordens de armazenamento lisossomal. Através
de uma infusão intravenosa de enzimas que contém manos-6-fostato exposto,
permite o transporte das mesmas para os lisossomas.
 Transplante de órgãos, como a medula óssea ou do fígado, para reparo
enzimático.

A identificação dos genes responsáveis pelas desordens, tem ajudado a entender os


mecanismos celulares que são afetados quando ocorre uma mutação, que altere a
função de uma proteína/enzima essencial.

Os compostos terapêuticos podem ser identificados em estudos pré-clínicos, primeiro


usando culturas de células e depois usando animais. Contudo, há casos em que o
medicamento já é usado clinicamente para tratamento de outras condições, e assim
já se conhece os seus efeitos secundários, logo podem ser prescritos e usados em
estudos clínicos para se saber o seu efeito e serem, portanto, aprovados pela FDA.

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Também já se pensou no tratamento das desordens a nível molecular, mas por um
lado é difícil a introdução de um gene numa célula para que seja expresso corretamente
a nível fenotípico no sítio certo e no tempo certo, e por outro os efeitos secundários da
injeção de vetores virais também é um problema.

Existem outras duas terapias a nível genético que tem sido estudadas. Uma passa pela
restauração da função de proteínas ao nível do próprio gene. Como? Tem-se
tentado usar antibióticos aminoglicosidicos, que sabe-se que conseguem inserir um
amino acido no local de uma mutação sem sentido (introdução de um aminoácido stop,
que leva ao terminus prematuro da tradução e consequente proteína deficiente). A outra
passa pela reposição do gene usando células estaminais (indiferenciadas). Como?
Tem-se tentado converter fibroblastos a células estaminais pela transferência de
determinados genes para o fibroblasto que fazem com que este se reverta para uma
forma mais indiferenciada. Este tipo de células é designado de células estaminais
pleuripotentes induzidas (iPS), que depois são induzidas a diferenciarem-se no tecido
a ser corrigido, e posteriormente implantadas no paciente. A vantagem é o uso das
células da própria pessoa que evita o risco de rejeição.

116
QUESTÕES
1. Quais as vantagens potenciais para a terapia gênica em um distúrbio como
hemofilia A ou B, em que já existe tratamento para lidar coma s complicações
do distúrbio?
A terapia gênica oferece muitas vantagens potenciais em relação a infusão de
fator VIII ou IX. A infusão de fator é cara e envolve a exposição a produtos
sanguíneos, com um risco de infeção. Também é usada após o início de um
episódio de sangramento, em vez de impedir um episódio. Em princípio, a terapia
gênica seria uma cura permanente, evitando complicações de sangramento e
riscos de tratamento.
2. Qual a vantagem do vírus adeno-associado com vetor para o tratamento da
deficiência de fator IX, e por que ele é particularmente adequado para o
tratamento deste distúrbio?
O vírus adeno-associado oferece uma expressão estável, a longo prazo do fator
IX. Embora só possa incorporar um inserto relativamente pequeno, o tamanho
pequeno do gene de fator IX é acomodado.
3. Que enfoques são usados para inserir “DNA nu” nas células?

O “DNA nu” pode ser captado diretamente nas células, embora com baixa
eficiência. Oi aumento de eficiência da captação pode ser pela incorporação do
DNA em lipossomas, conjugado a polilisina, ou uma inserção forçada usando uma
“gene gun”.
4. Qual o principal risco associado ao uso de vetores retrovirais para terapia
gênica?
Os vetores retrovirais levam a uma inserção aleatória de genes no genoma. Há
um risco de que um gene seja inserido adjacente a um oncogene, levando a
ativação do oncogene e consequentemente ao cancro.
5. Por que os vetores adenovirais não são adequados para obter uma expressão
adequada, de longo prazo, de um gene inserido?
Os vetores adenoviarais não levam a inserção do gene no genoma, e portanto
não têm expressão estável do gene inserido.

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