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Caderno de Biofísica e

Fisiologia
(Centésima Primeira Turma de Medicina da Universidade Federal do Maranhão)

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SUMÁRIO

1) MEMBRANA CELULAR, RECEPTORES DE MEMBRANA,


BIOEXCITABILIDADE ATRAVÉS DA MEMBRANA..................... 03
2) POTENCIAL DE AÇÃO.................................................................. 11
3) SINAPSE 16
........................................................................................ 23
4) CONTRAÇÃO
MUSCULAR............................................................

FISIOLOGIA

1) METABOLISMO DO FERRO, DA VITAMINA B12 E DO


FOLATO.......................................................................................... 29
2) HEMOSTASIA E COAGULAÇÃO.................................................. 32
3) TIPAGEM 40
SANGUÍNEA.................................................................. 43
4) CIRCULAÇÃOE HEMODINÂMICA................................................ 52
5) ELETROFISIOLOGIA DO CORAÇÃO.......................................... 58
6) ELETROCARDIOGRAFIA.............................................................. 60
7) PRESSÃO 64
ARTERIAL.................................................................... 67
8) CICLO CARDÍACO E CONTROLE DA CONTRATILIDADE......... 70
9) REGULAÇÃO DA PRESSÃO ARTERIAL.....................................
10)PRESSÃO ARTERIAL NO
HOMEM...............................................

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1) MEMBRANA CELULAR E RECEPTORES DE
MEMBRANA
Pedro Ivo Sousa

Dr. Fabio De Souza Monteiro

Componentes:

a) Fosfolipídios formando uma bicamada.

b) Colesterol movimentando-se entre aos fosfolipídios e confere


maleabilidade à membrana.

c) Proteínas periféricas (que não atravessam a membrana).

d) Proteínas integrais (que atravessam a membrana) e criam canais


por onde ocorre a passagem de soluto.

e) Glicoproteínas e Glicolipídeos na superfície formando o glicocálix.

Propriedades da membrana celular

a) Permeabilidade seletiva: Capacidade que a membrana


possui de selecionar as substâncias que entram e que saem da
célula.

b) Baixa tensão superficial: Devido à grande maleabilidade da


membrana

c) Alta resistência elétrica: Devido à presença dos fosfolípides


que são péssimos condutores de eletricidade.

d) Alta resistência mecânica: Devido a sua grande


plasticidade.

e) Regeneração: Até certos limites a membrana consegue se


reconstituir.

f) Elasticidade: As moléculas de fosfolipídios e colesterol


presentes na membrana tornam a estrutura maleável.

Transporte através da membrana

a) Passivo (Sem gasto de energia)

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▪ Não ocorre gasto de energia (ATP) pela célula.

▪ Apenas moléculas muito pequenas conseguem atravessar a membrana.

▪ Existem três tipos de transporte passivo: difusão simples, difusão


facilitada e osmose.

Difusão Simples (+ 🡪 -)

▪ Passagem de soluto (partículas moleculares) do meio onde sua


concentração é maior para um outro meio onde sua concentração é
menor.
▪ Passagem de solutos do meio hipertônico (mais concentrado) para o meio
hipotônico (pouco concentrado).

▪ Para ocorrer difusão simples:

- A membrana deve ser permeável ao soluto;

- Deve haver diferença na concentração do soluto dentro e fora da célula.

Difusão Facilitada (+ 🡪 -)

● Passagem de soluto através das proteínas integrais (permeases), já que


não conseguem atravessar a membrana celular.
● As proteínas facilitam a entrada e a saída de solutos.

Tipos de proteínas integrais

Canais iônicos: permite a passagem de íons e somente abrem após estímulo.

Proteínas carreadoras (permeases) transportam aminoácidos, glicose,


monossacarídeos, etc.

Osmose (- 🡪 +)

Passagem de água (solvente) através da membrana de uma região hipotônica


(pouco concentrada) para outra região hipertônica (muito concentrada).

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b) Ativo (Há gasto de energia)

Ocorre contra um gradiente de concentração e, por isso, a célula gastará


energia para transportar a substância desejada. ( - 🡪 +)

Bomba de Sódio e Potássio

● [K+] é maior dentro da célula. – [Na+] é maior fora da célula.


● Poderíamos esperar que por difusão, as concentrações se
igualassem.
● Isso não ocorre porque a célula gasta energia para bombear sódio
e potássio em sentido contrário ao da difusão.

3 Na+ são enviados para fora da célula

2 K+ são enviados para dentro da célula

O interior da célula torna-se negativo devido ao


déficit de cargas positivas no interior da célula

Endocitose

▪ Pinocitose: É o englobamento de partículas líquidas as quais tocam a


membrana e provocam sua invaginação, formando bolsas que contém
o material englobado denominado pinossomo.

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Exocitose (clasmocitose)

● Eliminação de substâncias a partir de bolsas citoplasmáticas.

● As bolsas contendo o material a ser eliminado aproximam-se da


membrana e fundem-se a ela, expelindo seu conteúdo.

● As células por exocitose podem eliminar restos metabólicos ou


secretar produtos úteis ao organismo.

RECEPTORES CELULARES

O receptor pode ser definido como qualquer macromolécula presente


nas membranas celulares, que sob ação das substâncias modificam a
permeabilidade das membranas, desencadeando efeitos farmacológicos /
fisiológicos na célula alvo, como: diferença do potencial de membrana, efeitos
eletrônicos ou ativação de enzimas.

Conforme suas características estruturais e funcionais, os receptores


podem ser divididos em duas categorias: metabotrópicos e ionotrópicos

Os metabotrópicos não formam um canal iônico - são conectados


indiretamente a canais iônicos pelo plasma celular, através de mecanismos de
transdução (geralmente proteínas G).

Ambos os tipos de receptores são ativados por neurotransmissores


específicos. Quando um receptor ionotrópico é ativado, abre-se um canal que

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permite a entrada, na célula, dos ions Na+, K+, ou Cl-. Quando um receptor
metabotrópico é ativado, desencadeia-se uma série de eventos intracelulares,
que também resultam na abertura de canais iônicos, mas a partir do comando
de um segundo mensageiro.

Como a maioria dos neurotransmissores é hidrossolúvel, não há


possibilidade de transposição direta da membrana fosfolipídica de uma
célula-alvo. Os neurotransmissores ligam-se, então, a receptores específicos
de superfície.

Os hormônios tireoideano e os esteróides são exceção, pois são


hidrofóbicos e atuam ligando-se a receptores específicos no citoplasma celular.

A ativação dos receptores inicia respostas intracelulares que mudam a


função celular, desde a modulação da excitabilidade até a regulação da
expressão do genoma. Os receptores fazem o acoplamento a um ligante
(domínio de ligação) e propagação da mensagem (domínio efetor).

As ações reguladoras de um receptor podem se dar na proteína efetora


ou ser transmitidas a alvos celulares por moléculas (transdutores). A proteína
efetora pode não ser o componente celular final afetado, mas pode sintetizar ou
liberar outra molécula, o segundo mensageiro.

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Adaptado de: Molecular Cellular and Development Biology - University of Colorado

RECEPTORES LIGADOS A CANAIS IÔNICOS (IONOTRÓPICOS):

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Regulados por ligantes, alteram o potencial de ação ou a composição
iônica da membrana da célula.

São proteínas pentaméricas, estruturadas de forma cilíndrica,


conectando exterior e interior do neurônio, formando um complexo
receptor/canal. São cinco subunidades (α1, α2, β, γ e δ). Cada subunidade
contém quatro hélices hidrófobas (M1, M2, M3, M4), que ocupam a extensão
transversal da membrana, com domínio externo de ligação (NH3+) e interno
(carboxílico- COO-) de fosforilação. O poro é formado por duas sub-unidades
M2 das unidades alfa. Cada complexo apresenta diferente cinética e afinidade.
Esses receptores têm, em geral, quatro supostos domínios transmembranosos,
constituídos de 20 a 25 aminoácidos hidrofóbicos.

O receptor contém um canal de cátion integral, que é aberto ou


fechado, em resposta ao acoplamento de um mensageiro químico. Deste
modo, há o controle da entrada de sódio, potássio, cálcio ou cloro.

Estes receptores controlam os eventos mais rápidos do Sist. Nervoso.


Localizados nas sinapses, convertem o sinal químico liberado pelo
neurotransmissor na pré-sinapse direta e rapidamente para a pós-sinapse, em
sinal elétrico. São operados por neurotransmissores ou voltagem-dependentes
e contém locais para fosforilação reversível através de proteínas cinases,
fosfoproteínas fosfatases e para controle de voltagem. Quando ativados, geram
oscilações rápidas no potencial de membrana, sob forma de despolarização
(PPSE) ou hiperpolarização (PPSI).

Estes receptores são diferentes dos canais voltagem-dependentes (que


se abrem ou fecham conforme o potencial de menbrana) e dos canais iônicos
que se abrem ou fecham em resposta a uma deformação da membrana celular
(stretch-activated ion channels).

RECEPTORES ACOPLADOS À PROTEÍNA G (METABOTRÓPICOS):

Os Receptores acoplados às proteínas G (GPCRs) são uma grande


família proteica de receptores transmembranares que captam sinais
extracelulares e ativam vias de transdução de sinal no interior da célula.
Entre estes receptores, incluem-se: receptor metabotrópico de
glutamato, receptores muscarínicos de acetilcolina, receptores GABAb, a
maioria dos receptores de serotonina, assim como os receptores de
norepinefrina, epinefrina, histamina, dopamina, neuropeptídeos e
endocanabinoides.

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Os ligantes que se fixam e ativam estes receptores, incluem compostos
sensíveis à luz, odores, feromônios, hormônios e neurotransmissores e variam
em tamanho, desde pequenas moléculas até peptídeos, podendo mesmo ser
grandes proteínas. Estes receptores estão envolvidos em uma variedade de
doenças, mas também são o alvo de cerca de metade das drogas medicinais
humanas.
São classificados em mais de 100 subfamílias, de acordo com a
homologia de seqüência, a estrutura dos ligantes e a função do receptor.

Esses receptores atravessam a membrana em sete segmentos


transmembranosos hidrofóbicos, alfa-helicoidais. O local de ligação pode ser
um bolsão do feixe de hélices que atravessa a membrana, mas há um domínio
extracelular extenso, para a ligação de neurotransmissores com carga
negativa, como o Glutamato ou de hormônios peptídicos.

Domínios transmembranosos dos receptores ptn G

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A intensidade do sinal de um receptor metabotrópico depende de:
a) A vida do complexo receptor-ligante. Se o acoplamento da molécula
indutora do receptor é estável, o tempo para a dissociação da mesma é
mais longo e o receptor ativará mais proteínas efetoras;
b) A concentração e vida do complexo receptor-efetor. Depende da
quantidade de proteínas efetoras presentes e da ligação/desligamento
das mesmas ao receptor, após sua ativação;
c) Desativação do receptor. Um receptor que participa do complexo
hormônio-receptor pode ser desativado por modificação covalente (p. ex:
fosforilação) ou por internalização;
d) Desativação de efetores pela atividade enzimática. É possível ao
receptor a ativação de outras proteínas, em lugar das que foram inibidas
pela atividade enzimática.

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2) BIOELETROGÊNESE E POTENCIAL DE AÇÃO
Ciro Bezerra

Dr. Fabio De Souza Monteiro

Circuito equivalente a membrana

Resistor = canais hidrófilos


(Receptores)

Capacitor = bicamada
lipídica/dielétrico lipídico

E = diferença elétrica entre os lados


da membrana

i=
corrente iônica (passagem de íons
pela membrana)

Obs: Permeabilidade = Quantidade de canais iônicos

Potencial de Repouso (Potencial estável) ou Potencial de Equilíbrio

− A diferença de potencial que existe através da membrana das células


em repouso

● Esse potencial é gerado pela alta permeabilidade que a membrana


plasmática possui ao íon potássio e baixa permeabilidade ao íon sódio.
Existem mais canais de vazamento de potássio do que de sódio.

− Quem gera essa DDP na célula é a quantidade de canais de vazamento


e, quando há um desequilíbrio, a “bomba de Na+/k+” funciona para
regular a DDP.

Obs: Os canais de Na+ estão na membrana, mas a maioria deles está com os
portões fechados. O potencial de ação ocorrerá pela ligação de moléculas

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sinalizadoras nos canais, o que descompensa a DDP e despolariza a
membrana.

− Quanto mais próximo de -70mV o Potencial de Repouso de um íon,


maior sua influência no potencial da célula.

Potencial Graduado

− É a despolarização da célula, tornado a voltagem no interior da célula


mais positiva, porém sem atingir o limiar de excitação da célula. Por
esse motivo, após ser iniciado, pode retornar rapidamente a DDP da
célula ao seu potencial inicial, sendo por isso caracterizado como
decremental.

Período Refratário

− Período em que não é possível promover outro potencial de ação na


célula, mesmo ela estando sob estimulação de impulsos.

Absoluto: A célula não gera outro potencial de ação, pois os canais estão
saturados com o transporte de íons, impedindo que um novo potencial seja
gerado nesse período. Nessa situação, um novo potencial de ação só será
gerado com o término do potencial de ação anterior.

Relativo: A célula possui seus canais realizando o transporte de íons, e nesse


momento um novo potencial de ação não pode ser gerado. Porém, se o
estímulo que promove a despolarização for alto, pode gerar outro potencial de
ação antes do término do anterior.

Potencial de Ação

Esse potencial, a partir da despolarização da membrana, interfere na


sinalização intracelular e causa mudanças no interior da célula com o fim de
promover comunicação intercelular e gerar alguma ação/efeito. Esse potencial
segue uma sequência na célula: percepção, execução, sensação.

*Obs: Nem toda despolarização (Potencial Graduado) gera um potencial de


ação, que está em torno de uma DDP de -55mV. Isso funciona como uma
barreira de proteção para a célula, impedindo que ela se esgote por toda e
qualquer variação de DDP, por mínima que seja.

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* O Potencial de Ação é não decremental, pois uma vez iniciado, só terá fim
quando todos os canais de Na+ encerrarem a entrada desse íon na célula.

● O potencial de ação é sempre Unidirecional.

Como ocorre o Potencial de Ação:

Os canais de sódio presentes na membrana plasmática se abrem por


ligantes (ex: moléculas odoríferas, hormônios, fármacos), permitindo que o Na+
que entra na célula torne a DDP mais positiva, gerando assim um Potencial
Graduado. Esse Potencial Graduado, por sua vez, pode atingir o limiar de
excitação da célula e gerar um Potencial de Ação.

Conforme a célula se despolariza no Potencial de Ação, a DDP torna-se


cada vez mais positiva, até atingir um ápice com aproximadamente 40mV.
Nesse ponto, os canais de Na+ fecham-se e ocorre a abertura dos canais de
K+, promovendo a saída de potássio da célula e consequente diminuição
(tornar-se mais negativa) a DDP. Conforme a DDP aproxima-se novamente do
limiar de excitação, os canais de K+ começam a se fechar lentamente, a ponto
de a celular chegar novamente ao Potencial de Repouso. No entanto, esse
fechamento lento dos canais de potássio permite quando a célula atinja o
Potencial de Repouso, ainda existam íon K+ saindo da célula, o que torna sua
DDP mais negativa que o Potencial de Repouso, numa situação de
hiperpolarização. Nesse ponto inicia-se a atividade da bomba de Na+/K+, que
irá promover a retirada do excesso de Na+ no interior da célula e o retorno do
K+ em excesso no exterior da célula. Esse processo permite a regulação da
DDP celular e o retorno seguro ao Potencial de Repouso. A célula permanece
nesse Potencial até o momento em que é novamente estimulada e dá início a
um novo Potencial de Ação.

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A imagem abaixo ilustra esse processo de forma didática e de fácil
compreensão.

Gráfico que ilustra o Potencial de Ação. No ponto (1) está ocorrendo


a estimulação para que a célula saia do Potencial de Repouso, com ativação
dos canais de Na+ ativados por ligante. Em (2) o limiar de excitação é atingido
e inicia-se o Potencial de Ação. Em (3), o Potencial de Ação promove
despolarização da célula, com “disparo da Zona de Gatilho”. Em (4), ocorre a
repolarização da célula, mas ainda fazendo parte do Potencial de Ação. Em (5)
o Potencial de Ação teve fim e os canais de K+ ainda não se fecharam
completamente, ocasionando hiperpolarização da célula. Em (6) a célula
retorna ao Potencial de Repouso com auxílio da bomba de Na+/K+.

Conceitos importantes:

Zona de Gatilho: Quando os canais de Na+ está ativado por ligante (aberto),
promovem entrada de sódio na célula e consequente despolarização. No
momento que essa despolarização atinge o limiar de excitação da célula, a
DDP alterada ativa os canais de Na+ ativados por voltagem, pois necessitam
de uma DDP ideal para serem ativados, a qual só é conseguida com anterior
despolarização da célula pela entrada de sódio nos canais ativados por ligante.

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Esses canais de sódio ativados por voltagem encontram-se em uma região da
célula denominada zona de gatilho. Quando essa zona é “disparada”, a
entrada excessiva de Na+ para a célula gera o potencial de ação.

Decremental: O evento ocorre, mas a qualquer momento pode voltar à sua


condição inicial. No potencial graduado, por exemplo, a despolarização inicia,
mas em um dado momento, se o íon Na+ parar de entrar na célula, a DDP
retorna rapidamente ao Potencial de Repouso.

Não decremental: O evento ocorre e só tem fim quando percorre várias etapas
de seu progresso, não retornado à sua condição inicial a qualquer momento
como no decremental. Exemplo disso é o Potencial de Ação, que inicia quando
a DDP atinge o limiar de excitação, mas só tem fim quando o fechamento dos
canais de Na+ e abertura dos canais de K+ retorna a DDP ao limiar de
excitação.

Hiperpolarização: Entrada excessiva de íons K+ na célula que promove


diminuição (negatividade) na DDP celular. Isso inibe o potencial de ação e
também é utilizado para retornar a DDP da célula ao Potencial de Repouso.

Lei do Tudo ou Nada: Segundo essa lei, a DDP precisa atingir um limiar de
excitação (aproximadamente -55mV) para poder dar origem a um Potencial de
Ação, que é quando ocorre a abertura dos canais de sódio ativados por
voltagem na Zona de Gatilho. Portanto, se a DDP alcançar esse limiar, ocorre o
Potencial de Ação (“tudo”), se não alcançar, o potencial é decremental e a DDP
retorna ao Potencial de Repouso (“nada”).

Repolarização: Fechamento dos canais de Na+ e abertura dos canais de K+,


retornando a DDP na membrana para a voltagem inicial. Ocorre com auxílio da
bomba de Na+/K+ no fim da despolarização.

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3) SINAPSE
Amanda Laryssa Pinheiro Santos

Dr. Fabio De Souza Monteiro

As células excitáveis apresentam estados de repouso e atividade.


Quando os eletrodos estão do lado de fora. Não há diferença de potencial
elétrico (ddp=0mV)

Quando o eletrodo de registro (vermelho) atravessa a membrana, o


voltímetro acusa a existência de uma DDP de 60mV sendo que a face interna
da membrana citoplasmática é negativa em relação à externa

Se o neurônio for estimulado (com corrente elétrica), o voltímetro


registrará respostas de alteração transitória do potencial de membrana,
conforme a intensidade do estimulo, na forma de ondas de despolarização de
baixa amplitude ou na forma de um potencial de ação.

● Equação de Nernst

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o Fornece a diferença de potencial elétrico para um único íon no
equilíbrio. Pose ser obtida da seguinte forma:
o ∆μ = Wq + We (J/mol) = RTlnCi/Ce + zF(Vi-Ve)
o R = Constante dos gases (8,31J.K-1.mol-1)
o T = Temperatura absoluta (25°C = 298K)

● Equação de Goldman-Hodgkin-Katz
Utilizada para calcular o potencial de membrana em repouso que
resulta da contribuição do todos os íons que podem atravessar a membrana. A
equação de GHK inclui os valores de permeabilidade da membrana, pois a
permeabilidade de um íon influencia a sua contribuição para o potencial de
membrana. Se a membrana não é permeável a um íon, esse íon não afeta o
potencial de membrana. (SILVERTON, 2010)

Para as células de mamíferos, assumimos que o Na+, o K+ e o Cl- são


os três íons que influenciam o potencial de membrana nas células em repouso.
A contribuição de cada íon para o potencial de membrana é proporcional à sua
habilidade de cruzar a membrana. (SILVERTON, 2010)

Vm = -58.log CNai.PNa + CKi.PK + CCle.PCl

CNae.PNa + CKe.PK + CCli.PCl

o Permeabilidades relativas para o axônio gigante da lula a 25 ºC,


PNa = 0,04; PK = 2 e PCl = 0,45

• Perturbações na membrana (potenciais graduais)

▫ Etapas
▫ Despolarização: Abertura dos canais de Na+, com influxo desse
íon suficiente para anular a diferença do potencial
transmembranal
▫ 2 Polarização invertida: Continua a entrada de Na+, e com um
pouco mais desses íons, a parte interna da célula fica positiva
▫ 3 Repolarização: fecham-se os canais de Na+, e o íon K+ sai da
célula, repolarizando-a.
▫ A bomba de sódio/potássio expulsa o pequeno excesso de íons
Na+ que estava no interior da célula e coloca o K+ para dentro,
voltando ao estado inicial.

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O potencial de membrana em repouso de células vivas é determinado
primariamente pelo gradiente de concentração de K+ e pela permeabilidade da
célula em repouso ao Na+, ao K+ e ao Cl-. Uma mudança tanto no gradiente de
concentração do K+ quanto nas permeabilidade iônicas altera o potencial de
membrana. Por exemplo: em repouso, a membrana celular de um neurônio é
bem pouco permeável ao Na+. Entretanto, se a membrana subitamente
aumenta sua permeabilidade ao Na+, este entra na célula, a favor do seu
gradiente eletroquímico. A adição do Na+ positivo ao líquido intracelular
despolariza a membrana celular e gera um sinal elétrico (SILVERTON, 2010).

O movimento de íons através da membrana também pode


hiperpolarizar uma célula. Se a membrana celular subitamente se torna mais
permeável ao K, sua carga positiva é perdida de dentro da célula e esta se
torna mais negativa (hiperpolarizada). Uma célula também pode hiperpolarizar
se íons com carga negativa, como o Cl-, entrarem na célula a partir do líquido
extracelular. (SILVERTON, 2010).

COMUNICAÇÃO CÉLULA-CÉLULA NO SISTEMA NERVOSO

Dado que os neurônios formam uma rede de atividades elétricas, eles


de algum modo têm que estar interconectados. Quando um sinal nervoso, ou
impulso, alcança o fim de seu axônio, ele viajou como um potencial de ação ou
pulso de eletricidade. Entretanto, não há continuidade celular entre um
neurônio e o seguinte; existe um espaço chamado sinapse. As membranas
das células emissoras e receptoras estão separadas entre si pelo espaço
sináptico, preenchido por um fluido. O sinal não pode ultrapassar eletricamente
esse espaço. Assim, substâncias químicas especias, chamadas
neurotransmissores, desempenham esse papel. Elas são liberadas pela
membrana emissora pré-sináptica e se dinfundem através do espaço para os
receptores da membrana do neurônio receptor pós-sináptico. A ligação dos
neurotransmissores para esses receptores tem como efeito permitir que íons
(partículas carregadas) fluam para dentro e para fora da célula receptora,
conforme visto no artigo sobre condução nervosa. A direção normal do fluxo de
informação é do axônio terminal para o neurônio alvo, assim o axônio terminal
é chamado de pré-sináptico (conduz a informação para a sinapse) e o neurônio
alvo é chamado de pós-sináptico (conduz a informação a partir da sinapse).

Tipos de sinapses

A sinapse típica, e a mais frequente, é aquela na qual o axônio de um


neurônio se conecta ao segundo neurônio através do establecimento de
contatos normalmente de um de seus dendritos ou com o corpo celular.

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Existem duas maneiras pelas quais isso pode acontecer: as sinapses
elétricas e as sinapses químicas.

A Sinapse elétrica

A maioria das sinapses dos mamíferos são sinapses químicas, mas


existe uma forma simples de sinapse elétrica que permite a transferência direta
da corrente iônica de uma célula para a célula seguinte. As sinapses elétricas
ocorrem em locais especializados chamados junções. Elas formam canais que
permitem que os ions passem diretamente do citoplasma de uma célula para o
citoplasma da outra. A transmissão nas sinapses elétricas é muito rápida;
assim, um potencial de ação no neurônio pré-sináptico, pode produzir quase
que instantaneamente um potencial de ação no neurônio pós-sináptico.
Sinapses elétricas no sistema nervoso central de mamíferos, são encontradas
principalmente em locais especiais onde funções normais exigem que a
atividade dos neurônios vizinhos seja altamente sincronizada. Embora as
junções sejam relativamente raras entre os neurônios de mamíferos adultos,
eles são muito comuns em uma grande variedade de células não neurais,
inclusive as células do músculo liso cardíaco, células epiteliais, algumas células
glandulares, glia, etc. Elas também são comuns em vários invertebrados.

A sinapse química

Nesse tipo de sinapse, o sinal de entrada é transmitido quando um


neurônio libera um neurotransmissor na fenda sináptica, o qual é detectado
pelo segundo neurônio através da ativação de receptores situados do lado
oposto ao sítio de liberação. Os neurotransmissores são substâncias químicas
produzidas pelos neurônios e utilizadas por eles para transmitir sinais para
outros neurônios ou para células não-neuronais (por exemplo, células do
músculo esquelético, miocárdio, células da glândula pineal) que eles inervam.

A ligação química do neurotransmissor aos receptores causa uma série


de mudanças fisiológicas no segundo neurônio que constituem o sinal.
Normalmente a liberação do primeiro neurônio (chamado pré-sináptico) é
causado por uma série de eventos intracelulares evocados por uma
despolarização de sua membrana, e quase que invariavelmente quando um
potencial de ação é gerado.

Sinapse: Quando um impulso elétrico ao viajar para a "cauda" da


célula, chamado axônio", chega a seu término, ele dispara vesículas que
contêm um neurotransmissor as quais movem-se em direção a membrana
terminal. As vesículas se fundem com a membrana terminal para liberar seus
conteúdos. Uma vez na fenda sináptica (o espaço entre dois neurônios) o

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neurotransmissor pode ligar-se aos receptores (proteínas específicas ) na
membrana de um neurônio vizinho.

Diagrama e micrografia de uma sinapse de uma junção neuromuscular da


mosca da fruta.

1- Vesículas sinápticas;

2- Neurônio pré-sináptico (axônio terminal);

3- Fenda sináptica;

4- Neurônio pós-sináptico.

O que dispara a liberação de um neurotransmissor?

Algum mecanismo deve existir através do qual o potencial de ação


causa a liberação do transmissor armazenado nas vesículas sinápticas para a
fenda sináptica.

O potencial de ação estimula a entrada de Ca2+, que causa a adesão


das vesículas sinápticas aos locais de liberação, sua fusão com a membrana
plasmática e a descarga de seu suprimento de transmissor. O transmissor se
difunde para a célula alvo, onde se liga à uma proteína receptora na superfície
externa da membrana celular. Após um breve período o transmissor se dissocia
do receptor e a resposta é terminada. Para impedir que o transmissor
associe-se novamente a um receptor e recomece o ciclo, o tranmissor, ou é
destruído pela ação catabólica de uma enzima, ou é absorvido, normalmente
na terminação pré-sináptica. Cada neurônio pode produzir somente um tipo de
transmissor.

Categorias de sinapses químicas

Existem dois tipos de sinapses químicas, de acordo com o efeito que


causam no elemento pós-sináptico:

Sinapses excitatórias

Sinapses excitatórias causam uma mudança elétrica excitatória no


potencial pós-sináptico (EPSP). Isso acontece quando o efeito líquido da

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liberação do transmissor é para despolarizar a membrana, levando-o a um
valor mais próximo do limiar elétrico para disparar um potencial de ação. Esse
efeito é tipicamente mediado pela abertura dos canais da membrana (tipos de
poros que atravessam as membranas celulares para os íons cálcio e potássio.

Sinapses inibitórias

As sinapses inibitórias causam um potencial pós-sináptico inibitório


(IPSP), porque o efeito líquido da liberação do transmissor é para hiperpolarizar
a membrana, tornando mais difícil alcançar o potencial de limiar elétrico. Esse
tipo de sinapse inibitória funciona graças à abertura de diferentes canais de
ions na membranas: tipicamente os canais cloreto (Cl-) ou potássio (K+).

Neurotransmissores: Mensageiros do Cérebro

Quimicamente, os neurotransmissores são moléculas relativamente


pequenas e simples. Diferentes tipos de células secretam diferentes
neurotransmisores. Cada substância química cerebral funciona em áreas
bastante espalhadas mas muito específicas do cérebro e podem ter efeitos
diferentes dependendo do local de ativação. Cerca de 60 neurotransmissores
foram identificados e podem ser classificados, em geral em uma das quatro
categorias.

1) colinas: das quais a acetilcolina é a mais importante;

2) aminas biogênicas: a serotonina, a histamina, e as catecolaminas - a


dopamina e a norepinefrina

3) aminoácidos: o glutamato e o aspartato são os transmissores excitatórios


bem conhecidos, enquanto que o ácido gama-aminobutírico (GABA), a glicina
e a taurine são neurotransmissores inibidores.

4) neuropeptídeos: esses são formados por cadeias mais longas de


aminoácidos (como uma pequena molécula de proteína). Sabe-se que mais de
50 deles ocorrem no cérebro e muitos deles têm sido implicados na modulação
ou na transmissão de informação neural.

Neurotransmissores importantes e suas funções

Dopamina: Controla níveis de estimulação e controle motor em muitas partes


do cérebro. Quando os níveis estão extremamente baixos na doença de
Parkinson, os pacientes são incapazes de se mover volutáriamente.

22
Presume-se que o LSD e outras drogas alucinógenas ajam no sistema da
dopamina.

Serotonina: Esse é um neurotransmissor que é incrementado por muitos


antidepressivos tais com o Prozac, e assim tornou-se conhecido como o
'neurotransmissor do 'bem-estar'. ' Ela tem um profundo efeito no humor, na
ansiedade e na agressão.

Acetilcolina (ACh): A acetilcolina controla a atividade de áreas cerebrais


relaciondas à atenção, aprendizagem e memória. Pessoas que sofrem da
doença de Alzheimer apresentam tipicamente baixos níveis de ACTH no córtex
cerebral, e as drogas que aumentam sua ação podem melhorar a memória em
tais pacientes.

Noradrenalina: Principalmente uma substância química que induz a excitação


física e mental e bom humor. A produção é centrada na área do cérebro
chamada de locus coreuleus, que é um dos muitos candidatos ao chamado
centro de "prazer" do cérebro. A medicina comprovou que a norepinefrina é
uma mediadora dos batimentos cardíacos, pressão sanguínea, a taxa de
conversão de glicogênio (glucose) para energia, assim como outros benefícios
físicos.

Glutamato: O principal neurotransmissor excitante do cérebro, vital para


estabelecer os vínculos entre os neurônios que são a base da aprendizagem e
da memória a longo prazo.

Encefalinas e Endorfinas: Essas substâncias são opiáceos que, como as


drogas heroína e morfina, modulam a dor, reduzem o estresse, etc. Elas podem
estar envolvidas nos mecanismos de dependência física.

23
4) CONTRAÇÃO MUSCULAR
Amanda Laryssa

Dr Fabio De Souza Monteiro

Todo músculo é formado por um feixe de fibras.

Nomenclatura muscular
TERMO GERAL EQUIVALENTE NO MÚSCULO
Célula muscular Fibra Muscular
Membrana celular Sarcolema
Citoplasma Sarcoplasma
Retículo Endoplasmático modificado Retículo sarcoplasmático

De maneira geral, existem dois tipos de fibras musculares: Fibras Lisas


e Fibras Estriadas, devido sua estrutura anatómica.

As Fibras Lisas contraem mais lentamente, a contratura pode demorar


muito tempo. São encontradas nos intestinos, no útero, na traqueia e nas
artérias. Essas fibras possuem algumas particularidades em seus tecidos.

Há músculos conhecidos como músculos pálidos e outros são


conhecidos como músculos tônicos.

O intestino, por exemplo, necessita de contrações pois dentre suas


funções encontra-se a “mistura” e a formação do quimo. Dessa forma, a
contração auxilia no peristaltismo. Essas contrações são ditas fáceis porque
tem um pico de contração e depois de relaxamento. Isso em intervalos de
menos de milissegundos. Já o útero, tem um tipo de contração que dura um
pouco mais de tempo e depois ocorre um relaxamento brusco devido as
propriedades uterinas que devem favorecer, por exemplo, o trabalho do parto.
Com relação ao sistema respiratório e o sistema arterial, eles possuem
músculo liso mas suas contratura é tônica, ou seja, uma contração basal que
deve perdurar para favorecer os diâmetros adequados para passagem de ar e
para o fluxo sanguíneo, respectivamente.

No caso da asma, há uma diminuição do diâmetro dos brônquios


devido a um aumento da contração basal. No caso dos vasos sanguíneos, o
aumento da contração desfavorece a passagem do sangue e culmina com o
aumento da pressão arterial.

24
PA = DC X RVP
PA: Pressão arterial DC: Débito cardíaco RVP: Resistência vascular periférica

Há um jogo de agentes relaxantes e contraturantes que serão liberados


pelo endotélio vascular para regular esse processo. Portanto, o tônus basal
modificará de acordo com a necessidade fisiológica de cada pessoa.

As Fibras Estriadas contraem mais rapidamente e a contratura não


demora muito. Exemplo: músculos esqueléticos (voluntário) e miocárdio. As
contrações nos músculos esqueléticos demoradas resultam em dor.

Em termos histológicos, a diferença dessas células está relacionada a


presença de vários núcleos e a presença ou ausência de estrias.

● Músculo esquelético: Há presença de estrias


● Músculo cardíaco: Além das estrias, encontram-se os discos
intercalares (importantes para a transmissão do potencial de ação
e da força de contração de célula a célula).
● Músculo liso: Ausência de estrias.

MÚSCULO ESQUELÉTICO

A contração do músculo esquelético é dependente do cálcio estocado no


retículo sarcoplasmático.

- ESTRUTURA DO MÚSCULO ESQUELÉTICO:

25
- CONSTITUINTES DA FIBRA MUSCULAR
▪ Sarcolema – membrana que envolve as miofibrilas
▪ Sarcoplasma – Citoplasma de fibra muscular;
▪ Núcleo – fibras musculares são multinucleadas;
– Mamíferos – localizado na periferia
– Peixes – parte central da fibra
▪ Miofibrila – Unidade estrutural da fibra muscular;
▪ Miofilamentos – formados por actina (finos) e miosina (grossos)

As miofibrilas circundadas pelo túbulos T-retículo sarcoplasmático. Os túbulos


T são muito pequenos e correm transversalmente às miofibrilas. Eles começam
na membrana celular e penetram toda a fibra muscular. Também os túbulos T
se abrem para o exterior, no ponto de origem, como uma invaginação da
membrana celular. Desta forma, eles se comunicam com o líquido extracelular
circundante da fibra muscular, tendo eles próprios líquidos extracelulares em
seus lumens. Em outras palavras, os túbulos T são de fato extensões internas
da membrana celular. Portanto, quando um potencial de ação se propaga pela
membrana da fibra muscular, uma alteração do potencial também se propaga
ao longo dos túbulos T para o interior da fibra muscular. As correntes elétricas
que circundam esses túbulos T então provocam a contração muscular.
(GUYTON)

MÚSCULO CARDÍACO

26
No músculo cardíaco, um potencial de ação se origina
espontaneamente nas células mascapasso do coração e se propaga para as
células contráteis pelas junções comunicantes. (Os neutrotransmissores
modulam a frequência do marcapasso). Outros aspectos do acoplamente do
E-C cardíaco repetem os processos que você encontrou na contração do
músculo liso e do músculo esquelético. (SILVERTON, 2010)

A figura 14-11 ilustra o acoplamento E-C e o relaxamento do músculo


cardíaco. Um potencial de ação que entra em uma célula contrátil se move pelo
sarcolema e entra nos túbulos T (1), onde abre os canais de Ca2+ controlados
por voltagem tpo L na membrana das células (2). O Ca2+ entra nas células e
abre os canais liberadores de Ca2+ receptores de rianodina (RyR) no retículo
sarcoplasmático (3). (SILVERTON, 2010)

Quando os canais RyR se abrem, o Ca2+ armazenado flui para fora do


retículo sarcoplasmático e para dentro do citosol (4) criado um pulso (“faísca”)
de Ca2+, que pode ser visto usando métodos bioquímicos especiais. Muitíplas
faíscas de diferentes canais de RyR se somam para criar um sinal de Ca2+ (5).
Este processo de acoplamento E-E no músculo cardíaco é também chamado
de liberação de Ca2+ induzida por Ca2+, porque os canais de RyR do miocárdio
se abrem em resposta à ligação de Ca2+. (SILVERTON, 2010)

A liberação de cálcio do retículo sarcoplasmático fornece


aproximadamente, 90% do Ca2+ necessário para a contração muscular, sendo
que os restantes 10% entram na célula a partir do líquido extracelular. O cálcio
se difunde pelo citosol para os elementos contráteis, onde se liga à troponina e
inica o ciclo de formação de pontes cruzadas e o movimento (6). A contração

27
ocorre pelo mesmo tipo de movimento de deslizamento de filamentos que
ocorre no músculo esquelético. (SILVERTON, 2010)

O relaxamento no músculo cardíaco geralmente é similar ao do


músculo esquelético. Quando as concentrações citoplasmáticas de Ca2+
diminuem, o Ca2+ desliga-se da troponina, a miosina libera a actina e os
filamentos contráteis deslizam de volta para sua posição de relaxamento (7).
Como no músculo esquelético, o Ca2+ é transportado de volta para o retículo
sarcoplasmático com a ajuda de Ca2+-ATPase (8). Contudo, no músculo
cardíaco, o Ca2+ também é removido da célula na troca por Na2+ via o trocador
de antiporte Na2+-Ca2+ (NCX) (9). Cada Ca2+ as da célula contra o seu gradiente
eletroquímico em troa por 3 Na2+ que entram na célula a favor do seu gradiente
eletroquímico. O sódio que entra na célula durante essa transferência é
removido pela Na2+ -K+-ATPase (10). (SILVERTON, 2010).

MÚSCULO LISO

Principal músculo dos órgãos e tubos internos, como o estômago, a


bexiga urinária e os vasos sanguíneos. Sua principal função é determinar o
movimento dos materiais dentro do corpo e para dentro e para fora do corpo.
(SILVERTON, 2010)

28
O músculo liso recebe esse nome pela aparência homogênea do seu
citoplasma quando visto ao microscópio. As fibras contráteis não estão
organizadas em sarcômeros, razão pela qual o músculo liso não tem um
padrão de bandas distintas como o músculo estriado. Ao invés disso, a actina e
a miosina estão organizadas em feixos longos que se estendem diagonalmente
por toda a periferia da célula, formando uma treliça ao redor do núcleo central.
(Fig. 12-27a). O arranjo oblíquo dos elementos contráteis abaixo da membrana
celular faz com que as fibras musculares lisas se tornem globulares quando se
contraem (Fig 12-27b), ao invés de simplesmente encurtar, como ocorre no
músculo esquelético. (SILVERTON, 2010)

Os longos filamentos de actina do músculo liso prendem-se a corpos


densos proteicos no citoplasma e terminam em placas de fixação proteicas na
membrana celular. (Fig. 12-27 a,c). Os filamentos de miosina, menos
numerosos dispõem-se entre os longos filamentos de actina e estão arranjados
de tal modo que toda sua superfície fica coberta por cabeças de miosina. (Fig
12-27d). (Lembre-se de que, no sarcômero do músculo esquelético, a porção
central do filamento de miosina não possui cabeças de miosina). (SILVERTON,
2010)

A linha contínua de cabeças de miosina permite que a actina deslize ao


longo da miosina por distância maiores. Esta organização singular permite que
o músculo liso seja mais estirado enquanto; ainda mantém sobreposição
suficiente para criar uma tensão ideal. Está é uma propriedade importante para
os órgãos internos, como a bexiga urinária, cujo volume varia ao encher e
esvaziar, alternadamente. (SILVERTON, 2010)

29
FISIOLOGIA

1) METABOLISMO DO FERRO
Emily Garcia

Dr Dario Itapary Nicolau

Introdução
O ferro é essencial para o transporte de oxigênio, para a síntese de
DNA e metabolismo energético. É ainda um importante cofator para enzimas
da cadeia respiratória mitocondrial. Sua deficiência acarretará consequências
para todo o organismo, sendo a anemia a manifestação mais relevante. Por
outro lado, o acúmulo ou excesso de ferro é extremamente nocivo para os
tecidos. Logo, o equilíbrio do metabolismo do ferro, a homeostase, é
fundamental. O ferro utilizado pelo organismo é obtido de duas fontes
principais: da dieta e da reciclagem de hemácias senescentes.

Absorção intestinal
São absorvidos de 1 mg a 2 mg de ferro por dia pelo epitélio duodenal.
Essa quantidade absorvida é regulada pela necessidade do organismo.
Quando há uma maior demanda, ocorre maior expressão das proteínas
envolvidas nesse processo, como a proteína transportadora de metal divalente
(DMT-1) e a ferroportina (FPT).

Reciclagem pelos macrófagos


Como a maior parte do ferro no organismo está associada à molécula
de Hb, a fagocitose e degradação de hemácias senescentes representam uma
fonte importante de ferro. Essa quantidade de ferro reciclado é suficiente para
manter a necessidade diária de ferro para a eritropoiese.

Transporte e captação
O ferro é transportado no plasma pela transferrina (Tf), uma
glicoproteína sintetizada e secretada pelo fígado, que possui dois sítios
homólogos com alta afinidade pelo Fe3+. Além de solubilizar o ferro, a Tf atenua
sua reatividade e facilita a sua liberação para as células. A internalização é
iniciada pela ligação desse complexo a um receptor específico (TfR) presente
na superfície da maioria das células. Com isso, inicia-se o mecanismo de
captação pela célula.

30
Na mitocôndria, após o ferro ser transportado através da membrana
mitocondrial, a frataxina, proteína localizada na membrana interna e na matriz
mitocondrial, regula a utilização do ferro mitocondrial, destinando-o à síntese
do heme ou à gênese dos clusters Fe-S.

Estoque do ferro no organismo


O ferro poderá ser estocado na forma de ferritina e hemossiderina, no
retículo endoplasmático de células do fígado, baço e medula óssea. A ferritina
contém e mantém os átomos de ferro que poderiam formar agregados de
precipitados tóxicos. A hemossiderina corresponde à forma degradada da
ferritina, em que a concha protéica foi parcialmente desintegrada, permitindo
que o ferro forme agregado.

Excreção
O mecanismo onde ocorre excreção de ferro se dá através da descamação dos
enterócitos do duodeno e de células do trato urogenital feminino.

Regulação intracelular
Para evitar excesso de ferro livre ou falta dele dentro da célula,
proteínas reguladoras do ferro (IRP1 e IRP2) controlam a expressão
pós-transcricional dos genes moduladores da captação e estoque do ferro. Em
condições de baixa quantidade de ferro intracelular, essas proteínas vão se
ligar a estruturas em forma de alças presentes nas regiões não codificadoras
do mRNA conhecidas como elementos responsivos ao ferro (IRE).

Regulação sistêmica
Normalmente o ferro é eliminado do organismo pelas secreções
corpóreas, descamação das células intestinais e epidermais ou sangramento
menstrual. O organismo não possui um mecanismo específico para eliminar o
excesso de ferro absorvido ou acumulado após a reciclagem do ferro pelos
macrófagos. Assim, o controle do equilíbrio do ferro requer uma comunicação
entre os locais de absorção, utilização e estoque. Essa comunicação é feita
pela hepcidina.

31
Metabolismo da vitamina B12 e do ácido fólico
A vitamina B12 ou cobalamina está presente em alimentos de origem
animal. A necessidade diária é de 1-2µg/dia, quase sempre inferior a
quantidade presente em uma dieta normal.

As células parietais do estômago secretam o fator intrínseco ( FI). A


vitamina B12 necessita deste para ser absorvida, formando um complexo F.I. +
vit. B12 que será absorvido na mucosa ileal, onde há receptores para este
complexo. A cobalamina é liberada e penetra na mucosa unida a uma proteína
celular que permite sua interiorização. Dessa forma, é cedida ao plasma. No
plasma é transportada por sua proteína carreadora- Transcobalamina II.

A cobalamina é essencial para a produção normal das células do


sangue e a função do tecido nervoso. Atua ainda como co-enzima na via
metabólica que converte a homocisteína em metionina, que é a única via de
síntese do radical metil (-CH3) no homem (recebendo este radical metila do
metiltetraidrofolato).

Folato
O metabolismo da vit. B12 está intimamente relacionado ao do ácido
fólico. A forma natural do ácido fólico bio-ativa tem o nome de folato e pode ser
utilizada no corpo em diferentes variações químicas Deficiência de cobalamina
gera acúmulo de radicais metila do metiltetraidrofolato não formando o
tetraidrofolato. A não formação do tetraidrofolato resulta em redução da síntese
do DNA.

Uma vez que a forma metilada não pode ser convertida diretamente em
outras formas de tetra-hidrofolato, o folato é capturado na forma de
N5-metil-tetrahidrofolato, que se acumula. A absorção das várias formas do
folato se dá na metade superior do intestino delgado. A vit. B12 ainda interfere
nessa absorção pelas células medulares sendo assim, quando ocorre
deficiência de vit B12 há também deficiente utilização de folato para
eritropoiese.

Os folatos tem importantes funções, pois tuam como coenzimas em


eventos importantes das células, como doadores de radical metila para a
formação da metilcobalamina e o tetraidrofolato (resultante da perda do radical
metila) serve como substrato para a síntese de purina e pirimidina, essenciais
na síntese dos ácidos nucléicos. Dessa forma, o equilíbrio do metabolismo da
B12 e do folato é indispensável para o organismo.

32
2) HEMOSTASIA E COAGULAÇÃO
Leonardo Gonçalves Santos

Dr Dario Itapary Nicolau

Hemostasia é o processo fisiológico encarregado de “parar o


sangramento” e iniciar o processo de reparo tecidual. Diariamente, o ser
humano é submetido a traumas imperceptíveis que podem levar à rotura de
pequenos vasos teciduais da pele e das mucosas. Além disso, pode ser
surpreendido a qualquer momento por um trauma (ou uma grande cirurgia),
com rompimento de vasos maiores, o que poderia levar a grandes perdas
sanguíneas ameaçadoras à vida, se não fosse a eficácia do sistema
hemostático.
A hemostasia possui dois componentes: (1) hemostasia primária —
aquele que “estanca o sangramento”, pela formação do tampo ou trombo
plaquetário e a (2) hemostasia secundária – aquele que evita o ressangra
mento, pela formação de uma rede de fibrina (coágulo) encarregada de
estabilizar o trombo. Vejamos agora os diversos passos do processo
hemostático.

COMPONENTES DA HEMOSTASIA
A hemostasia se inicia a partir do instante em que
ocorre lesão vascular, com exposição de determinadas
camadas histológicas dos vasos. Portanto, devemos
previamente conhecer a histologia vascular; em
seguida, descreveremos os principais componentes que
participam do fenômeno de hemostasia.
Os vasos, sob o ponto de vista histológico, são
constituídos por três camadas: túnica íntima, média e
externa. Na camada íntima, encontramos o
subendotélio (colágeno, depósito de fator de Von
Willebrand) e as células epiteliais; já a túnica média é
formada, predominantemente, por células musculares
lisas e fibroblastos; por fim, a túnica externa que, por
sua vez, é formada por tecido conjuntivo e vasa
vasorum, que são arteríolas que irrigam o próprio vaso.

CÉLULAS ENDOTELIAIS
O endotélio se encontra na superfície interna do vaso, impedindo a
formação de trombos vasculares no estado fisiológico normal do indivíduo,
portanto, garantem uma superfície antitrombótica para o fluxo sanguíneo. Este

33
fenômeno antitrombótico proporcionado pelas células endoteliais ocorre em
decorrência da produção de substâncias (vasodilatadores e vasoconstrictores),
que regulam os tônus vascular.
● Vasodilatadores: As células endoteliais produzem uma vasta
população de substâncias vasodilatadoras, que se destacam o Oxido nítrico e
as prostaciclinas. O óxido nítrico é produzido a partir da estimulação pela
trombina e bradicinina, atuando de modo a impedir a desço, ativação e
agregação plaquetária. As prostaciclinas são secretadas pelas células
endoteliais, bem como pelas células musculares lisas, sob estímulo da
trombina, histamina e bradicinina.
● Vasoconstrictores: Dois vasoconstrictores são liberados pelas
células endoteliais: endotelina e fator ativador das plaquetas (PAF). A
endotelina proporciona aumento do influxo de cálcio para o interior das células
musculares lisas, favorecendo o aumento dos tônus vasculares. O PAF
promove a vasoconstricão e ativação plaquetária.

PLAQUETAS
As plaquetas são caracterizadas como fragmentos dos megacariócitos,
com vida média de 9 - 10 dias. Depois disso, são sequestradas e destruídas no
leito esplénico. Conhecidamente, as plaquetas são a grande vedete da
hemostasia, com as seguintes funções:
● Manutenção da hemostasia: A manutenção da hemostasia é
proporcionada pela adesão plaquetária ao endotélio.
● Adesão a superfície endotelial danificada
● Ativação com secreção de substâncias pró-coagulantes, que
são importantes por ativarem outras plaquetas.
● Agregação plaquetária

MEMBRANA CITOPLASMÁTICA
As plaquetas possuem morfologia ovoide, com membrana plasmática
constituída por dupla camada lipídica e glicoproteínas (que são os receptores
de membrana das plaquetas). Portanto, as glicoproteínas (GP) imersas na
membrana plasmática apresentam os seguintes receptores plaquetários:
● Complexo GP IIb/IIIa: receptor para fibrinogénio, fator de Von
Willebrand, fibronectina e vitronectina.
● GP Ia/IIa: receptor para colágeno
● GP Ic/IIa: receptor para fibronectina
● GP Ib/IX/V: receptor para fator de Von Willebrand (fvW)

CITOESQUELETO
O citoesqueleto da plaqueta é formado por um sistema circunferencial de
microtúbulos de actina e miosina, que deslizam um sobre o outro, favorecendo
a expressão plaquetária, bem como a secreção de substâncias.

Citoplasma.
O citoplasma plaquetário é composto pelas mitocôndrias (especializada

34
na produção de energia), lisossomos, corpúsculos densos e grânulos alfa.
✔ Corpúsculos densos: são ricos em ADP (substância
pré-coagulante), ATP, serotonina, histamina e cálcio.
✔ Grânulos alfa: possuem uma quantidade elevada de fibrinogênio,
fator V e XI, vitronectina, fibronectina e fvW.

OBSERVAÇÃO: O sistema canalicular aberto promove intercâmbio


entre o meio interno e externo; já o sistema tubular denso sequestra o cálcio.

HEMOSTASIA PRIMÁRIA
A hemostasia primária é ativada na vigência de uma lesão vascular.
Diante da lesão, o endotélio, por sua vez, também é comprometido, expondo a
região subendotelial, que é rica em colágeno e fator de vW. A hemostasia
primária ocorre em três etapas cronológicas, sob a seguinte ordem:
1. Adesão: início da hemostasia primária, ocorrendo no instante em
que ocorre a lesão endotelial, com exposição da matriz colágena e proteínas
subendoteliais.
2. Ativação
3. Agregação

ADESÃO PLAQUETÁRIA
Imaginando-se que um vaso
sanguíneo previamente íntegro,
com espaço subendotelial mantido,
sofreu uma lesão. Diante disto, há
uma ruptura da continuidade e/ou
integridade do espaço subendotelial
(que é rico em colágeno e fator de
vW), expondo-os, mas ainda na sua
forma inativa. A ativação da matriz
colágena, bem como do fator de
vW, que são macromoléculas,
ocorre pela ação de proteases,
transformando-as em
micromoléculas, que são
funcionantes. Logo em seguida, as
plaquetas circulantes aderem ao
fator de vW (ligação fvW- GP Ib/X) e ao colágeno, caracterizando-se uma
ligação frágil, dissociável, que pode ser facilmente desfeita com o fluxo
sanguíneo.
Portanto, diante deste empecilho, se faz necessário uma ligação mais
duradoura, forte, que é obtida através da ativação e agregação plaquetária.
Outro fator importante é o fato que o fluxo sanguíneo se altera com a lesão do
vaso. Torna-se lento próximo a parede do vaso em comparação a região
central, gerando fluxo em camadas. Essa alteração do fluxo sanguíneo
proporciona maior atrito entre as plaquetas, permitindo que permaneçam
aderidas.

35
ATIVAÇÃO PLAQUETÁRIA
Depois de
aderidas ao
endotélio
comprometido, as
plaquetas devem
ser ativadas. Para
isto, é necessário a
liberação de
substâncias
agonistas
plaquetárias:
colágeno, ADP,
tromboxano-A2,
trombina,
epinefrina,
serotonina, vasopressina e fator da ativação plaquetária. As substâncias
agonistas são as que se ligam ao receptor da proteína G das plaquetas,
ativando, consequentemente, as fosfolipases. Dentre as quais, a fosfolipase C
é ativada, induzindo à hidrólise do fosfatidil- inositol, em dois mensageiros:
trifosfato inositol (IP3) e diacilglicerol (DGI).

● O IP3 se liga aos receptores de membrana do sistema tubular


denso, onde se armazena cálcio, mobilizando tais íons, bem como ativando o
sistema contrátil actina-miosina, para que ocorra uma mudança de sua forma,
estimulando a liberação de outras plaquetas. O cálcio liberado também ativa a
fosfolipase A2, que dá início a liberação do ácido araquidônico da membrana
fosfolipídica. O ácido araquidônico sofre efeito da COX, transformando-se em
endoperóxidos, que se convertem em tromboxano A2, que é um importante
agonista da ativação plaquetária.
● O ácido araquidônico sofre efeito da
ciclooxigenase, transformando-se em endoperóxidos, que se convertem em
tromboxane A2, que é um importante agonista da ativação plaquetária.

AGREGAÇÃO PLAQUETÁRIA
● O DGI ativa a proteína-quinase C que leva a alteração da
conformação GP IIb/IIIa para que ocorra a ligação do fibrinogênio formado no
processo de hemostasia secundária.

HEMOSTASIA SECUNDÁRIA
Em um indivíduo normal, a coagulação iniciada dentro de 20 segundos
após o surgimento da lesão no vaso sanguíneo. Durante a hemostasia
primária, as plaquetas formam imediatamente, um tampão plaquetário no local
da lesão. A hemostasia secundária acontece quando os componentes do
plasma, chamados de fatores de coagulação, respondem (em uma completa
cascata de reação) para formar fios de fibrina, que fortalecem o tampão
plaquetário.

36
Portanto, a hemostasia secundária é a segunda parte da hemostasia, que
é quando os fatores de coagulação (que são proteínas plasmáticas),
geralmente inativos, passam a serem ativados para estabilizar o trombo
plaquetário que foi desenvolvido na vigência da hemostasia primária.
Obviamente, os mecanismos que regem a hemostasia secundária são
regulados de maneira simultânea, para que não ocorra a formação de trombos
intravasculares exagerados.
Em 1964, Macfarlane e Davie & Ratnoff propuseram a hipótese “cascata
da coagulação” para explicar a fisiologia da coagulação sanguínea. Neste
modelo, a coagulação ocorre por meio de ativação proteolítica sequencial de
zimógenos por proteases plasmáticas.
Essas proteínas são chamadas de zimógenos e são proenzimas (enzimas
inativas) que quando são ativadas catalisam a ativação de proenzima que dá
origem a enzima que ativa outra pró-enzima, criando uma reação em cascata.
No final das contas, cursam com a produção de fibrina. Os fatores de
coagulação que participam desse processo são: íons de cálcio e 11 proteínas
diferentes, também denominadas de fatores de coagulação (na sua maioria,
produzidas pelo fígado). Algumas delas dependem da vitamina K (fatores II,
VII, IX, X).
Existem 13 fatores de coagulação conhecidos, alguns conhecidos pelos
números, outros pelos nomes. Os fatores VIII e IX são os mais conhecidos, por
conta de sua deficiência na hemofilia A e B, respectivamente.

∙Fator I: fibrinogênio
∙Fator II: pro trombina
∙Fator III: tromboplastina
∙Fator IV: cálcio
∙Fator V: proacelerina
∙Fator VII: proconvertina
∙Fator VIII: fator anti-hemof†lico
∙Fator IX: fator Christmas
∙Fator X: fator Stuart
∙Fator XI: antecedente tromboplast†nico do plasma
∙Fator XII: fator Hageman
∙Fator XIII: fator de von Willebrand

Os mesmos autores também dividiram a hemostasia secundária em duas


vias: extrínseca e intrínseca. Na via extrínseca, participam as substâncias do
sangue (proteínas plasmáticas), bem como as que pertencem ao extravascular.
Na via intrínseca, somente participam proteínas plasmáticas, ou seja,
substâncias do sangue. Portanto, a via intrínseca n‚o ƒ ativada por substâncias
que estejam no meio extravascular, mas somente pelo
contato molécula-‘-molécula (proteína-proteína).
A tradição de se dividir o sistema de coagulação do sangue em intrínseco
e extrínseco, é atualmente entendida como inadequada para entendimento da
fisiologia da coagulação, tendo em vista que a divisão (em intrínseco e
extrínseco) n‚o ocorre in vivo. No homem, as duas vias são ativadas

37
concomitantemente. Atualmente, se aceita que mecanismos hemostáticos
estejam associados com trŽs complexos enzimáticos pré-coagulantes.

∙Via Intrínseca: A via intrínseca ƒ inicializada pelo contato do sangue com


superfícies de carga negativa expostas em decorrência da lesão vascular.
Nestas superfícies, o cininogênio de alto peso molecular (CAPM) começa a
ativar o fator XII (fator de Hageman). O fator XII ativado (XIIa) converte a
precalicreína (PK) em calicreína (K) que, por sua vez, acelera a ativação do
próprio fator XII - um mecanismo de retroalimentação positiva. O fator Xlla ƒ
capaz de converter o fator XI em fator Xla. Este último, a partir do fator IX (fator
anti-hemofílico B ou fator de Christmas), forma o fator IXa. Na superfície das
plaquetas, utilizando o seu componente fosfolipídico (fator 3 plaquetário), o
fator IXa ativa o fator X (fator de Stuart), na presença de cálcio ionizado e de
um cofator - o fator VIIIa (fator anti-hemofílico A). O produto desta reação ƒ o
fator Xa (protrombinase). O fator VIII ƒ ativado pela trombina.
∙Via Extrínseca: Avia extrínseca é inicializada por uma lipoproteína
presente nas células do tecido subendotelial - o chamado Fator Tecidual (TF),
ou "tromboplastina tecidual" liberado a partir da injúria tecidual. Na membrana
celular, o fator VII (pré-convertina) se liga ao TF, na presença de cálcio
ionizado, convertendo-se em fator VIla. Na superfície plaquetária, o
complexo TF-fator VIla ativa o fator X (fator de Stuart), produzindo o fator Xa
(protrombinase). O fosfolipídio plaquetário e o cálcio ionizado também
participam do processo.

38
∙Via Comum: o fator Xa (protrombinase) é a interseção entre as vias
intrínseca e extrínseca da coagulação. Daqui em diante, o processo é
denominado via comum. O fator Xa liga-se ao fosfolipídio plaquetário para
converter o fator II (protrombina) em trombina (fator IIa), na presença de cálcio
ionizado e de um cofator- o fator Va. Uma grande quantidade de trombina é
formada neste momento, devido ao mecanismo de amplificação da cascata da
coagulação. A trombina agora transforma o fibrinogênio plasmático (fator I) em
monômeros de fibrina, que logo se combinam para formar polímeros (rede de
fibrina ou coágulo). A trombina também ativa os fatores V (pró-acelerina), VIII e
XIII, além de ser um potente ativador plaquetário. As ligações fibrina-fibrina são
estabilizadas (tornam-se covalentes) e mais rígidas pelo fator XlIIa (fator
estabilizador de fibrina). A rede de fibrina reveste e estabiliza o tampão (plug)
plaquetário, finalizando o processo hemostático.

ATIVAÇÃO DOS FATORES DE COAGULAÇÃO NA MEMBRANA


PLAQUETÁRIA

A hemostasia secundária ocorre na superfície das plaquetas do endotélio


vascular. O início da coagulação ocorre mediante a ligação do fator VIIa ao
fator tecidual (FT), com consequente ativação do fator IX. O FT ƒ uma

39
glicoproteína de membrana que funciona como receptor para o fator VII da
coagulação. O fator tecidual ƒ o responsável pelo desencadeamento do
processo de coagulação após a injúria vascular ou alterações bioquímicas
(liberação de citocinas).
✔Após a lesão tecidual, há um depósito do fator tecidual
(tromboplastina), induzindo a ativação do fator VII (antigamente denominada de
via intrínseca). Uma vez ativado, o fator VII proporciona a ativação do fator X,
em pequena proporção, e ao mesmo tempo do complexo IXa/VIIIa (complexo
tenase intrínseco). Este complexo ativa os fatores VIII e IX ao mesmo tempo,
que ativam o fator X de modo mais intenso. O fator X, ativado, estimula o
complexo protrombinase, que transforma protrombina em trombina e
fibrinogênio em fibrina. Por fim, o fator XIII estabiliza o coagulo. O fator XII ativa
o fator XI, que ativa o complexo tenase intrínseco (VIIIa + cálcio + IXa) e fator II
plaquetário (que ainda ativa o complexo protrombinase (Xa + Va + cálcio),
também transformando protrombina em trombina e fibrinogênio em fibrina.
✔Após lesão vascular, ocorre exposição do colágeno, inibindo o fvW,
havendo adesão, agregação e plaquetária. Ao mesmo tempo, ocorre a
liberação do FT (fator III), que estimula a via intrínseca. O fator XII, ativando o
complexo tensa extrínseca (VII + III + cálcio), pode ativar fator X (em menor
proporção), mas ele vai ativar o complexo tenase intrínseco
(VIIIa+cálcio+IXa+fator III plaquetário) que ir„ ativar o complexo trombinase
transformando protrombina em trombina e fibrinogênio em fibrina.

INIBIDORES DA COAGULAÇÃO

Três substâncias mantêm a cascata da coagulação em equilíbrio. Defeitos


quantitativos e qualitativos destas substâncias podem aumentar a tendência
a trombose.
● Proteína C: Age degradando os fators Va e VIIIa. É ativado pela trombina
em presença da trombomodulina e da coenzima proteína S.
● Antitrombina: Age degradando as serino proteases (trombina, FXa, FXIIa e
FIXa)
● Inibidor do Fator Tissular: Inibe o FVIIa relacionado com a ativação do FIX e
FX.
Exemplos de anticoagulantes farmacológicos:
● Heparina
● Varfarina

Coagulação e fibrinólise – Dentro dos vasos sanguíneos o nosso sangue é


líquido e flui livremente. Quando ocorre algum corte e o sangue começa a sair
do vaso imediatamente é ativado um sistema que solidifica o sangue e impede
que ocorra uma hemorragia grave, este é o chamado sistema de coagulação.
Para que o coagulo não fique muito grande, resultando em um trombo, que
impede a circulação do sangue, ocorre a ativação do sistema fibrinolítico, que

40
dissolve a fibrina (fibrinólise) e desfaz o coagulo. Durante todo o tempo os dois
sistemas ficam ativados e desativados deixando o sangue líquido.

3) TIPAGEM SANGUÍNEA
Ciro Bezerra

Dr Dario Itapary Nicolau

Sistema ABO

Os eritrócitos possuem em sua superfície proteínas que atuam como


antígenos. Esses antígenos são transmitidos de forma hereditária e variam
para cada indivíduo. No interior do organismo, são reconhecidos pelo sistema
imunitário próprio ou alheio como naturais ou invasores. Os antígenos
eritrocitários de maior importância são dois, A e B, e compõe o chamado
sistema ABO. Esse sistema define, de acordo com a presença ou ausência dos
antígenos, tipos sanguíneos, que podem ser de quatro tipos: A, B, AB e O.

O tipo sanguíneo A recebe essa nomenclatura, pois seus eritrócitos


possuem proteínas antigênicas “A”. O tipo sanguíneo B, semelhante ao A,
também recebe essa nomenclatura, pois seus eritrócitos apresentam em sua
membrana proteínas antigênicas “B”. O tipo sanguíneo AB apresenta proteínas
antigênicas dos dois tipos citados anteriormente: “A” e “B”. O tipo sanguíneo O,
no entanto, possui uma particularidade, pois a membrana de seus eritrócitos
não possui nenhuma das proteínas antigênicas apresentadas, mas sua
membrana configura-se “lisa” para as proteínas desse tipo sanguíneo.

Os antígenos também podem ser denominados de aglutinogênio. Nos


organismos, cada antígeno eritrocitário possui anticorpos naturais
(aglutininas). Desse modo, o antígeno A possui como anticorpo corresponde o
anti-A, e o antígeno B possui como anticorpo correspondente o anti-B. Esses
anticorpos combatem os antígenos e causam como resposta a aglutinação de
hemácias, gerando obstrução de vasos sanguíneos e sérios efeitos adversos
ao organismo.

Cada indivíduo classificado segundo o sistema ABO possui


características que relacionam os antígenos com os anticorpos. O indivíduo
tipo A, possui antígeno A e anticorpo anti-B. O indivíduo tipo B, possui antígeno
B e anticorpo anti-A. O indivíduo tipo AB, possui os dois tipos de antígeno em
suas hemácias, e por isso não apresenta anticorpos contra seus próprios
antígenos. O indivíduo O, por sua vez, não apresenta antígenos do Sistema

41
ABO em suas membranas eritrocitárias, mas possui os dois tipos de
anticorpos: anti-A e anti-B. (Figura 1)

. Figura 1. Tipos sanguíneos

Vista a relação entre os antígenos e os anticorpos, é importante


compreender de que modo essa relação interfere nas transfusões sanguíneas.
Nesses procedimentos, não pode haver encontro de um antígeno com seu
anticorpo correspondente. Desse modo, indivíduos do tipo A podem receber
sangue de indivíduos do mesmo tipo (tipo A), ou do tipo O, pois este não
possui antígenos do Sistema ABO e, consequentemente, não ocasionará
resposta de aglutinação. Indivíduos do tipo B podem receber sangue de
indivíduos do mesmo tipo (tipo B), ou de indivíduos do tipo O. Indivíduos do tipo
AB, por sua vez, podem receber sangue de indivíduos do mesmo tipo (tipo AB),
mas também de todos os outros tipos sanguíneos, tipo A, tipo B e tipo O. Por
essa característica, o sangue AB é considerado receptor universal. Indivíduos
do tipo O, no entanto, só podem receber transfusão sanguínea de indivíduos do
mesmo tipo (tipo O), pois este possui anticorpos contra os dois antígenos do
Sistema ABO (A e B), mas pode realizar a doação para indivíduos de todos os
tipos sanguíneos, classificando-o como doador universal.(Figura 2)

Figura 2. Transfusões sangíneas

42
A classificação dos indivíduos nesses tipos sanguíneos ocorre mediante
teste de aglutinação feito pelo contato do sangue correspondente com os dois
tipos de anticorpos do sistema ABO. Se o sangue do indivíduo aglutinar
mediante um dos anticorpos, ele possui os antígenos combatidos por esse
mesmo anticorpo. Se o sangue aglutinar mediante o contato com os dois
anticorpos, o indivíduo é imediatamente classificado como tipo AB, pois possui
antígenos dos dois tipos. Por último, se a amostra sanguínea do indivíduo não
aglutinar mediante contato com os dois anticorpos, ele é imediatamente
classificado como tipo O, pois não possui nenhum dos dois antígenos do
Sistema ABO.

Sistema Rhesus

O Sistema Rhesus, ou simplesmente Sistema Rh, é um grupo de


antígenos eritrocitários que depende de complexos genes para se desenvolver.
Esse sistema, classifica os tipos sanguíneos do Sistema ABO em positivo ou
negativo. Essa classificação acontece de acordo com a resposta, favorável ou
negativa, dos tipos sanguíneos ao Fator Rh.

Se, mediante a presença do Fator Rh, o individuo não apresentar


nenhuma resposta, ele é classificado com Rh-negativo. No entanto, se
mediante exposição ao Fator Rh o indivíduo apresentar resposta, ele é
classificado com Rh-positivo. Essa classificação é importante nos
procedimentos de transfusão sanguínea, pois identifica mais semelhanças para
que a transfusão não gere efeitos adversos indesejados. A importância desse
sistema se apresenta principalmente em casos de eritroblastose fetal, também
chamada de doença hemolítica do recém-nascido. Nessa doença, a mãe
Rh-negativa que gera um filho de pai Rh-negativo, possui o risco de expor-se
aos anticorpos do filho e, em uma próxima gestação, apresentá-los ao filho,
que sofrerá sérios riscos.

43
4) CIRCULAÇÃO E HEMODINÂMICA

Amanda Pereira Carvalho


Dr Fabio De Souza Monteiro

A função da circulação é de suprir as necessidades dos tecidos corporais-


transportar nutrientes, metabólitos e hormônio para todas as partes do corpo, e
assim manter o ambiente adequado em todos os líquidos teciduais do
organismo.

Na maioria dos tecidos, a intensidade de fluxo é controlada em resposta às


suas necessidades metabólicas, porém em alguns órgãos a circulação também
desempenha outras funções. Por exemplo, o fluxo sanguíneo para os rins está
relacionando tanto à sua atividade metabólica quanto à sua função excretora, o
que demanda que um grande volume de sangue seja filtrado a cada minuto.
Coração e vasos são controlados de forma a gerar o débito cardíaco e pressão
arterial necessários para o estabelecimento fluxo sanguíneo tecidual
adequado.

Características da Circulação:

O sistema circulatório é compreende as seguintes estruturas: coração, artérias,


arteríolas, capilares, vênulas, veias e vasos linfáticos. A circulação se divide em
circulação pulmonar ( pequena circulação) e circulação sistêmica (grande
circulação ou circulação periférica).
Cerca de 84% do volume de sangue se encontra na circulação sistêmica (64%
nas veias, 13% nas artérias e 7% nas arteríolas e capilares), 7% no coração e
9% nos pulmões.

Partes funcionais da circulação:

44
-Artérias: transportam sangue sobalta pressão e velocidade aos tecidos,
possuem forte parede vascular.

-Arteríolas: ramos finais do sistema arterial, são condutos de controle


anteriores aos capilares. Sua forte parede muscular pode ocluir completamente
a luz do vaso impedindo o fluxo ou dilatar o vaso, aumentando o fluxo.

-Capilares: responsáveis pelas trocas com o tecido, possuem paredes finas e


diversos poros capilares.

-Vênulas: coletam o sangue dos capilares, formam veias progressivamente


maiores.

-Veias: levam o sangue das vênulas de volta ao coração e atuam como


reservatório de sangue. Tem finas paredes musculares.

● Área de Secção Transversal e Velocidade de Fluxo Sanguíneo:

Vaso Área de Secção Transversal (cm2)

Aorta 2,5

Pequenas artérias 20

Arteríolas 40

Capilares 2.500

Vênulas 250

Pequenas Veias 80

Veias cavas 8

Para cálculo da secção transversal, devemos considerar como se todos os


vasos de cada tipo fossem colocados lado a lado. Desta forma, tem-se que a
área aumenta progressivamente da aorta até os capilares e diminui dos
capilares até as veias cavas.

Com o mesmo fluxo de volume de sangue, a velocidade deve diminuir a


medida que a área de secção transversal aumenta. Assim a velocidade do

45
sangue nos capilares é a menor em todo o sistema, possibilitando as trocas
com os tecidos.

VELOCIDADE=FLUXO/ÁREA

Princípios da Função Circulatória:

* A intensidade do fluxo sanguíneo é controlada de acordo com as


necessidades teciduais:

Quando os tecidos estão ativos, precisam de mais nutrientes e assim, de maior


fluxo sanguíneo. Dessa forma, os microvasos em cada tecidos monitoram as
necessidades teciduais, e assim agem sobre os vasos sanguíneos locais,
dilatando-os ou contraindo-os, além disso, o sistema nervoso central e os
hormônios também agem conjuntamente para regulação do fluxo tecidual.

*O débito cardíaco é controlado principalmente pela soma de todos os fluxos


teciduais locais:

Depois de fluir pelos tecidos, o coração recebe o sangue e responde às


variações de volume que retornam às suas câmaras, bombeando-o
imediatamente de volta para as artérias.

* A regulação da pressão arterial geralmente não depende do fluxo sanguíneo


local e nem do débito cardíaco:

Tal controle depende de um conjunto de reflexos nervosos. Por exemplo, se a


pressão decair muito, para normalizá-la os sinais nervosos aumentarão a força
de contração do coração, causarão contração dos reservatórios de sangue
(levando mais sangue ao coração) e provocarão contração das arteríolas de
modo a acumular sangue nas grandes artérias, aumentando assim a pressão
arterial.

Fluxo, pressão e resistência:

46
● Fluxo: quantidade de sangue que passa por um determinado ponto da
circulação durante determinado intervalo de tempo. O fluxo sanguíneo
total médio em um adulto em repouso é de cerca de 5L/min (débito
cardíaco).

A intensidade do fluxo em um vaso (F) é determinada pela diferença de


pressão entre as extremidades do vaso (∆P) e pela resistência do vaso ao fluxo
(R).

F= ∆P/R

Fluxo Laminar do Sangue no Vaso:

Ocorre quando o sangue o sangue flui de forma estável pelo vaso, de forma
uniforme, organizado em linhas de corrente, nesse sistema a porção mais
central do sangue permanece no centro do vaso. Quando o sangue corre em
todas as direções e se mistura continuamente no interior do vaso, dizemos que
o fluxo é turbulento.

Fluxo Turbulento:

Causado por intensidade de fluxo muito elevada, obstruções no vaso,


passagem do sangue por ângulos estreitos ou superfícies ásperas. É um fluxo
desordenado, que aumenta muito a resistência do vaso ao fluxo.

● Pressão:

É a força exercida pelo sangue contra a parede do vaso.

● Resistência:

É o impedimento ao fluxo de sangue pelo vaso. Se a diferença de pressão


entre dois pontos for de 1mmHg e o fluxo for de 1mL por s, a resistência é
designada como uma unidade de resistência periférica, abreviada como URP.

A resistência vascular periférica total:

47
A intensidade do fluxo sanguíneo em todo sistema circulatório e igual à do
sangue bombeado pelo coração (débito cardíaco), que equivale, no adulto, a
aproximadamente 100mL por s.

A diferença entre as artérias e veias sistêmicas é de cerca de 100mmHg, dessa


forma a resistência de toda circulação, chamada de resistência periférica total,
é de cerca de 100 por 100, ou 1 unidade de resistência periférica (URP). A
resistência vascular periférica é igual a soma das resistências das artérias,
arteríolas, capilares e veias.

Condutância e resistência:

É a medida do fluxo sanguíneo por um vaso sob uma dada diferença de


pressão.

Condutância= 1/Resistência

Pequenas variações no diâmetro do vaso podem causar grande variação na


condutância (na ordem da 4ª potência). Ex: um aumento de 4 vezes no
diâmetro do vaso aumenta o fluxo em 256 vezes. Tal fato demonstra a grande
importância das variações no diâmetro das arteríolas para a regulação do fluxo
sanguíneo.

Viscosidade, fluxo e resistência:

A viscosidade do sangue afeta diretamente seu fluxo pelos vasos,


normalmente, o sangue normal é cerca de três vezes mais viscoso que a água.
O número de eritrócitos em suspensão e a força que eles exercem sobre as
paredes dos vasos representam os fatores que afetam diretamente a
viscosidade.

Quando a porção de eritrócitos no sangue ( hematócrito) aumenta, a


viscosidade do sangue pode chegar a ser 10 vezes maior que a da água,
nesse caso o fluxo fica muito reduzido. Outros fatores que afetam a
viscosidade são a concentração e os tipos de proteínas no plasma, porém não

48
representam considerações significativas na maioria dos estudos
hemodinâmicos.

Durante o trajeto do sangue para o coração e em seguida para o todos os


sistemas do corpo, a pressão cai nos capilares, tendo uma queda acentuada
nas veias e em seguida nos átrios, sendo que, a velocidade é máxima nos
capilares e mínima nas veias. O sangue flui pelos vasos devido a uma
diferença de pressão.

► Pressão sistólica: é a pressão arterial mais alta que pode ser medida
durante um ciclo cardíaco. É a pressão na artéria após o sangue ter sido
ejetado pelo ventrículo esquerdo.

► Pressão diastólica: é a mais baixa pressão arterial que pode ser medida
durante um ciclo cardíaco. É a pressão na artéria durante o relaxamento.

► Pressão de pulso: é a diferença entre as pressões sistólicas e


diastólicas. Pode ser usada com indicador do débito sistólico.

CORAÇÃO

O coração é um órgão muscular oco, composto de uma base (parte superior) e


ápice ( inferior), o qual está envolto por uma camada chamada de pericárdio.
Sua função é bombear o sangue rico em oxigênio (arterial) proveniente dos
pulmões para todo o corpo e direcionar o sangue pobre em oxigênio , (venoso),
que retornou ao coração, até os pulmões, onde deve ser enriquecido com
oxigênio novamente.

É dividido em quatro câmaras: dois átrios (câmaras superiores) e dois


ventrículos (câmaras inferiores). A divisão horizontal é feita por válvulas
atrioventriculares: mitral divide o lado esquerdo em dois; a tricúspide, o lado
direito. Além disso, o coração tem válvulas que se encontram na saída de cada
ventrículo ( semilunares): a válvula aórtica, ligando o órgão à aorta e a válvula
do tronco pulmonar, permitindo o fluxo de sangue até os pulmões, as portas de
entrada do sangue no coração são conhecidas como veia cava (superior e
inferior).

49
● Sistema de Condução Elétrica

A condução elétrica no coração é realizada por células excitáveis( Nodo


sinoatrial) e células contráteis (miocárdio).

Células excitáveis

-Potencial de membrana instável ( -60mV);

-Despolarização lenta ocasionada pela entrada de Na+ e Ca2+ (canais lentos de


sódio e cálcio);

-Repolarização rápida ocasionada pelo efluxo de k+.

Células Contráteis:

50
-Potencial de membrana estável(-90mV);

Despolarização rápida ocasionada pela abertura de canais rápidos de Ca2+ e


Na+;

- Fase de platô: aumento da permeabilidade ao Ca2+ e início da saída de K+;

-Repolarização lenta ocasionada pelo efluxo de k+.

● Contração do Miocárdio

A despolarização inicia nodo sino atrial, propagando-se rapidamente por fibras


autoexcitáveis e chaga ao nodo átrio ventricular, em seguida é transmitida para
os ventrículos por meio das fibras de Purkinje, células que transmitem sinais
elétricos a partir do fascículo atrioventricular (feixe de Hiss). Percorrido um
curto caminho, o fascículo se divide em ramo esquerdo e direito em direção ao
ápice do coração, onde se divide e ramos que se espalham lateralmente entre
as células contráteis.

Ciclo Cardíaco

O coração apresenta um ciclo rítmico de contracções (sístoles) e de


relaxamentos (diástoles) do miocárdio. Esta sequência de movimentos
designa-se por ciclo cardíaco.

51
No ciclo cardíaco, com duração de cerca de 0,8 segundos, podem distinguir-se
três fases:

● Durante a diástole geral, o miocárdio está relaxado. O sangue entra na


aurícula direita e na aurícula esquerda, vindo, respectivamente, das
veias cavas (superior e inferior) e das veias pulmonares. Nesta fase, as
válvulas tricúspide e bicúspide encontram-se abertas, permitindo, assim,
a entrada passiva de sangue das aurículas para os ventrículos. As
válvulas semilunares encontram-se fechadas, o que impede a saída de
sangue do coração.

● Durante a sístole auricular, as duas aurículas contraem-se e o sangue é


forçado a passar totalmente para o interior dos ventrículos. As válvulas
semilunares encontram-se fechadas. No final desta fase, as válvulas
aurículo-ventriculares fecham-se, impedindo que o sangue retroceda.

● Durante a sístole ventricular, as paredes dos ventrículos contraem-se e,


devido à pressão do sangue, as válvulas semilunares abrem. Então, o
sangue do ventrículo esquerdo sai pela artéria aorta, sendo distribuído a
todo o corpo, enquanto o sangue do ventrículo direito sai pela artéria
pulmonar dirigindo-se aos pulmões. As válvulas aurículo-ventriculares
continuam fechadas. Nesta altura, o coração volta à situação de diástole
e o ciclo cardíaco recomeça.

52
5) ELETROFISIOLOGIA DO CORAÇÃO

Ingrid Albuquerque
Profª Ms. Lilaleia Gonçalves França

O evento de contração da musculatura cardíaca, essencial para que o


coração desempenhe sua função de bomba, é dependente da despolarização
ordenada das células musculares cardíacas. Para que a fibra muscular
cardíaca se contraia, é necessária a despolarização desta mesma fibra.
A ativação elétrica ordenada do coração se dá pela propagação, em
sequência, de potenciais de ação despolarizantes através das estruturas
anatômicas deste órgão.
O batimento cardíaco tem início no nodo sinoatrial (SA), com um
potencial de ação gerado de maneira espontânea. Esse potencial de ação se
dissemina por todo o miocárdio atrial direito, e chega ao miocárdio atrial
esquerdo, levando à contração do miocárdio atrial. Em seguida, essa onda de
ativação converge para a única conexão elétrica existente entre o miocárdio
atrial e o ventricular: o nodo atrioventricular (AV). Após passar pelo nodo AV, a
onda de ativação atinge o feixe de His, e passa por ele até chegar às fibras de
Purkinge, que são arborizações do feixe de His no miocárdio ventricular. Deste
modo, a onda de despolarização – o impulso cardíaco - é distribuída a todo o
miocárdio dos ventrículos direito e esquerdo, determinando a contração
ventricular

Geração de um estado polarizado


As células cardíacas são capazes de gerar uma diferença no potencial
elétrico da célula. A bomba de sódio-potássio ATPase (Na/K ATPase) leva três
íons sódio (Na) para o exterior da célula em troca de dois íons potássio (K).
Isso provoca:
∙ Maior concentração de íons Na no meio extracelular do que no meio
intracelular; com isso, é criado um gradiente químico (os íons tendem a

53
passar do meio mais concentrado para o menos concentrado), e a
tendência do Na é entrar na célula. Essa entrada é impedida pela
membrana plasmática.
∙ Maior concentração dos íons K no meio intracelular do que no meio
extracelular. É criado um gradiente químico do K, e sua tendência é sair da
célula. De fato, o K sai da célula através de canais de K não controlados por
voltagem.
A membrana da célula, devido à presença destes canais de K não
controlados por voltagem, possui uma permeabilidade seletiva ao K. Estes
canais ficam permanentemente abertos, produzindo um efluxo (saída)
constante de íons K. Isto causa a diminuição do número de íons positivos do
lado interno da membrana, em relação ao lado externo (tanto o íon Na quanto o
íon K são positivamente carregados - cátions). Em dado momento, a força que
atrai o K para fora da célula (gradiente químico) se equipara à força que retém
o K dentro da célula (ele é um íon positivo, e a face interna da membrana,
positivamente carregada, tende a retê-lo – este é o gradiente elétrico).
O potencial de repouso da membrana é alcançado quando ocorre o
equilíbrio entre o gradiente químico e elétrico do K. Esse potencial varia entre
-60mV e -90mV, dependendo do tipo de célula cardíaca. A membrana
plasmática fica, portanto, num estado polarizado.
Quando a célula está em repouso, sua membrana encontra-se polarizada,
isto é, há mais íons positivos do lado externo da membrana que do lado
interno. Carga positiva (íon Na e cálcio, por exemplo) pode ser adicionada à
célula, se canais específicos fortem abertos. Se carga positiva for adicionada
ao lado interno da célula, ela irá se tornar menos polarizada ou despolarizada.
Se carga positiva for removida da célula, ela se tornará mais polarizada, ou
hiperpolarizada. Se a célula for despolarizada, e a carga positiva adicionada for
removida em seguida, ela sofrerá repolarização.

Potenciais de ação cardíacos: células de resposta rápida e células de


resposta lenta
Existem basicamente dois tipos de células cardíacas:
∙ Células de resposta lenta: São as células marcapasso do nodo SA e as
células do nodo AV. Elas têm a capacidade de despolarização espontânea e

54
por isso são responsáveis (principalmente nodo SA) pelo início da onda de
despolarização cardíaca.
∙ Células de resposta rápida: São as células do sistema His-Purkinge e as
células do miocárdio atrial e ventricular. Elas conduzem a onda
despolarizante pelo coração (sistema His-Purkinge) e realizam a contração
do miocárdio em si (células miocárdicas).

Células de resposta lenta


O potencial de ação nas células cardíacas de resposta lenta (nodo SA e AV):

Despolarização
Após a gradual despolarização da célula até atingir-se o limiar (-40 mV)
para o disparo do potencial de, ocorre a abertura de canais de cálcio (Ca)
dependentes de voltagem do tipo L. A abertura destes canais causa um influxo
(entrada) de íons cálcio (em maior quantidade no meio extracelular) para o
interior da célula. Essa entrada de cargas positivas faz com que a membrana
se despolarize, atingindo sua face interna voltagem positiva (+ 20mV).
Essas cargas positivas passam a outras células através de junções
comunicantes, localizadas nos discos intercalares. A entrada de cargas
positivas nas células vizinhas faz com que haja elevação da voltagem na face
interna da membrana. Caso o limiar de excitação dessa outra célula seja
atingido, ocorrerá o disparo de um potencial de ação por esta outra célula (que
pode ser outra célula de resposta lenta ou uma célula de resposta rápida), e
assim subsequentemente.

Repolarização
Após a despolarização determinada pela abertura de canais de cálcio do
tipo L, ocorre a abertura de canais de K dependentes de voltagem, também
chamados de canais de K “tardios”. Esses canais são ativados pela
despolarização da membrana, mas só se abrem tardiamente, após o atingido
pico do potencial de ação. Deste modo, esses canais só se abrem após o
influxo maciço de íons cálcio através dos canais do tipo L.
Esses canais de K “tardios” permitem a saída dos íons K da célula (K
está presente em maior quantidade no meio intracelular), determinando um

55
efluxo de cargas positivas e, consequentemente, repolarização da célula
(atingindo, estas células, sua voltagem mais negativa, -65mV).

Geração espontânea de potenciais de ação


A geração espontânea de potenciais de ação nestas células
(propriedade que dá ao nodo SA a função de marcapasso) se dá através da
abertura de canais de Na, quando o potencial de membrana está negativo
(-65mV).
A abertura de canais de Na em um momento em que o potencial de
membrana é negativo permite o influxo de íons sódio, o que gera um aporte de
cargas positivas. Isto leva a uma gradual despolarização da célula até que ela
atinja o limiar (-40mV) para a abertura dos canais de cálcio do tipo L, ocorrendo
o disparo do PA. O potencial de repouso nestas células é levemente,
gradualmente, despolarizante.
Também contribuem para a despolarização gradual espontânea:
∙ A abertura de canais de cálcio do tipo T, que se abrem quando o
potencial de membrana é negativo, provocando um influxo de Ca e
consequente aproximação do limiar de disparo do potencial de ação;
∙ Diminuição do efluxo de K pelos canais de K “tardios”, retendo este íon
no interior da célula, contribuindo para a despolarização.

Células de resposta rápida


O potencial de ação nas células cardíacas de resposta rápida (miocárdio atrial
e ventricular e sistema His-Purkinge)
Despolarização
Após a entrada de íons positivamente carregados vindos de uma célula
vizinha despolarizada, através das junções comunicantes, o limiar de disparo
do potencial de ação é atingido nas células de resposta rápida.
São, então, ativados canais de Na, que se abrem promovendo a entrada
de íons sódio (mais abundantes no meio extracelular) no interior da célula.
Esse influxo de cargas positivas despolariza a célula, que alcança potencial de
membrana positivo (+30mV).
Estes canais permanecem abertos por um curto período de tempo, e
logo são inativados. Eles ficam nesse estado inativado, impedidos de serem

56
reabertos, até que o potencial de membrana adjacente ao canal volte ao seu
valor de repouso (repolarização). Enquanto o potencial de membrana
permanecer despolarizado, nenhum estímulo irá induzir à abertura do canal:
ele e a célula ficam absolutamente refratários.
Como a célula cardíaca não se repolariza até que o evento contrátil
tenha cessado, nenhum outro evento contrátil terá lugar até que a célula
cardáca tenha atingido relaxamento quase completo.
Canais de K não controlados por voltagem são fechados neste momento
de despolarização. Isso evita um efluxo de íons K, já que este íon é atraído
para o exterior da célula por sua menor concentração extracelular (gradiente
químico) e retido no interior da célula porque o lado interno da membrana é
negativo e o íon K possui carga positiva (gradiente elétrico); se o lado interno
está se tornando positivo por causa da entrada de íons Na, o gradiente elétrico
é diminuído e aumenta a tendência de saída do K. O fechamento deste tipo de
canal de K evita este efeito indesejado, que impediria a despolarização da
célula.

Repolarização
Após este evento, são abertos canais de K “tardios”. Ocorre saída de
íons K, o que leva a célula a iniciar o processo de repolarização. Esse
fenômeno é chamado de repolarização precoce.
Neste momento, no entanto, são abertos canais de cálcio, originando um
influxo de íons cálcio para o interior da célula. Esse influxo de íons cálcio vai
impedir, temporariamente, a repolarização da célula, sendo responsável pelo
“platô” observado no gráfico do potencial de ação das células de resposta
rápida. A entrada do cálcio “compensa” a saída do potássio, retardando a
repolarização completa da célula.
A entrada de cálcio também é fundamental para o fenômeno de
contração das células miocárdicas. Estas células não contam com um depósito
de cálcio intracelular como o retículo sarcoplasmático das fibras musculares
esqueléticas, sendo sua contração dependente da entrada do cálcio
extracelular nesta fase do potencial de ação.
Após a diminuição do influxo de cálcio (que, assim como toda corrente
de entrada e sáida de íons, se encerra quando é alcançado um equilíbrio

57
eletroquímico entre a concentração do íon no lado externo da membrana e a
concentração deste memso íon no lado interno da membrana), prevalece a
saída de íons K pelos canais de K “tardios” e também pelos canais de K não
controlados por voltagem.
Isto levará a célula a um potencial de membrana de -90mV, o potencial
de repouso destas células.

Redistribuição dos íons


Após a repolarização, é realizada a redistribuição dos cátions para seus
valores habituais, ou seja, são reconstituídas suas concentrações inicias de
cada lado da membrana.
O íon Na, que durante a despolarização entrou na célula, é devolvido para o
meio extracelular pela bomba Na/K ATPase. Ao mesmo tempo o íon K, que
durante a repolarização saiu da célula, é internalizado por esta bomba.
O íon cálcio, participante dos processos de despolarização e da fase de
“platô” (dependendo do tipo celular), é devolvido para o espaço extracelular
numa troca com o íon Na: este entra na célula, enquanto o cálcio sai da célula.
Este processo não envolve nenhum gasto de ATP diretamente, mas se utiliza
do gradiente de concentração favorável à entrada do íon Na criado pela bomba
Na/K ATPase.

58
6) ELETROCARDIOGRAFIA

Ingrid Albuquerque
Profª Ms. Lilaleia Gonçalves França

Sístole e Diástole
O ciclo cardíaco consiste de um período de relaxamento, onde o
coração se enche de sangue, período este denominado de diástole, seguido de
um período de contração, denominado sístole.
Eventos do ciclo cardíaco:
1. Início da diástole, abertura das válvulas tricúspide e mitral e enchimento
ventricular;
2. Fechamento das válvulas de entrada, final da diástole;
3. Contração ventricular, abertura das válvulas pulmonar e aórtica - sístole
ventricular;
4. Final da sístole ventricular, fechamento das válvulas pulmonar e aórtica;
5. Reinício da diástole atrial e ventricular.

A relação entre o eletrocardiograma e o ciclo cardíaco

59
O eletrocardiograma, demonstrado esquematicamente na figura acima,
mostra as ondas P, Q, R, S e T. Elas evidenciam as voltagens elétricas geradas
pelo coração, e registradas pelo eletrocardiógrafo na superfície do corpo.
A onda P é causada pela dispersão da despolarização através dos
átrios, seguida da contração atrial, que provoca uma pequena elevação da
curva de pressão atrial, imediatamente após a onda P. Cerca de 0,16 s após a
onda P, ocorre a onda QRS, que evidencia a despolarização e o início da
contração dos ventrículos, desencadeando o aumento da pressão ventricular.
Sendo assim, o complexo QRS começa um pouco antes da sístole ventricular.
Fechando o ciclo, a onda T representa a fase de repolarização dos
ventrículos, quando as fibras ventriculares começam a relaxar. Desta forma, a
onda T acontece pouco antes do término da contração ventricular.

60
7) REGULAÇÃO DA PRESSÃO ARTERIAL

Ingrid Albuquerque
Profª Ms. Lilaleia Gonçalves França

É a força exercida pelo sangue sobre as paredes do vaso, sofrendo


mudanças contínuas durante todo o tempo, dependendo da atividade exercida
pelo indivíduo.

PA = DC x RPT DC = FC x VS

→ Mecanismos de regulação:
1. Neurais
2. Humorais
3. Mecanismos locais (apenas ajuste do fluxo sanguíneo)

Mecanismos neurais de ajuste da PA


Agentes Vasoconstritores:
• NOR – ADR ( α1 ) → estimulação nervosa simpática
• Angiotensina
• Vasopressina (ADH) Endotelina
Agentes Vasodilatadores:
• ADR ( β2 ) → estimulação nervosa simpática
• Bradicinina (dilatação arteriolar - ↑ permeabilidade capilar – inflamação)
• Histamina (dilatação arteriolar -↑ permeabilidade capilar – Edema - alergia)
• Serotonina
• Prostaglandinas

Reflexo barorreceptor (pressorreceptor)

• Determinado pelos barroreceptores que são terminações nervosas sensíveis


a pressão

61
• Regula a pressão arterial
• Barroreceptores enviam impulsos aferentes ao sistema nervoso central e de
forma reflexa altera o débito cardíaco e a resistência vascular
• Localizados nas paredes das artérias carótidas (seios carotídeos) e do arco
aórtico
• Função “TAMPÃO” durante as alterações da postura
• Tem pequena importância para a regulação a LONGO PRAZO da PA ⇒ sofre
“ADAPTAÇÃO “
• A redução da pressão arterial diminui atividade dos baroceptores.
• Se diminui tônus parassimpático para o coração:
→ Aumenta frequência cardíaca.
→ Aumenta débito cardíaco e pressão arterial.
• Se há aumento do tônus simpático para o coração:
→ Aumento da frequência cardíaca e contratilidade, aumenta volume
sistólico.
→ Aumenta débito cardíaco e pressão arterial.

62
Quimiorreceptores

• Localização: corpúsculo carotídeo e aorta


• Detectam variações de pO2, pCO2 e pH sanguíneo.
• Hipóxia e hipercapnia induz taquipnéia e resposta pressora.
• Hiperóxia induziz queda transitória da PA.

Mecanismos humorais de ajuste da PA

Sistema Renina-Angiotensina-Aldosterona

O angiotensinogênio é produzido pelo fígado e está presente no sangue.


Essa substancia é precursora da angiotensina I. Essa conversão é catalisada
pela renina, enzima liberada pelos rins quando o sangue apresenta baixa
concentração de sódio ou baixa pressão arterial. A angiotensina I, que não
apresenta ação vascular satisfatória por si só, é então convertida em
angiotensina II numa reação catalisada pela enzima conversora de
angiotensina (ECA). A ECA é liberada pelo endotélio capilar dos pulmões. A
angiotensina II, então, se liga e ativa receptores específicos (AT1 e AT2),
promovendo a vasoconstrição e estimulando a liberação de aldosterona pelo
córtex da glândula adrenal. O hormônio aldosterona promove a secreção de K+
e consequentemente a reabsorção de Na+. A vasoconstrição e a reabsorção de
sódio resultam, finalmente, no aumento da pressão arterial.

63
1. Mecanismos locais

Auto-regulação:
• Capacidade dos vasos de regularem seu próprio fluxo sangüíneo.
• Vasos sanguíneos modificam sua resistência para compensar alterações
moderadas na pressão de perfusão.
Fatores locais:
• Prostaciclina (céls. Endoteliais) – VASODILATAÇÃO
• NO (endotélio) – VASODILATAÇÃO
• Tromboxano A2 (plaquetas) – VASOCONSTRIÇÃO
• Endotelinas (endotélio) - VASOCONSTRIÇÃO

64
8) CICLO CARDIACO E CONTROLE DA
CONTRATILIDADE
Larissa Lopes Alves
Profª Ms. Lilaleia Gonçalves França

O coração pode ser considerado como um conjunto formado por duas bombas
distintas: uma que tem como função o bombeamento do sangue para o
pulmão, atividade desempenhada pelo lado direito do coração, e a outra
envolvida no bombeamento do sangue para a circulação sistêmica, função
desempenhada pelo lado esquerdo do coração.

Os eventos cardíacos que ocorrem no início de cada batimento, até o início do


próximo batimento, são chamados de ciclo cardíaco. Cada ciclo tem início
quando é gerado um potencial de ação espontâneo no nodo sinusal, localizado
na parede superior do átrio direito. Este potencial de ação se propaga pelo átrio
direito, atinge o feixe AV (atrioventricular), no entanto essa passagem gera um
retardo na propagação do potencial de ação, pois o potencial nesse nodo está
entre -70 e -80, e em seguida chega ao feixe de His (fascículo atrioventricular)
localizado no septo entre os ventrículos. Posteriormente a onda de
despolarização chega ao ápice do coração onde se divide em vários ramos
menores denominados de células de Purkinje espalhando-se pelas células do
ventrículo.

O ciclo possui duas fases: diástole, período no qual o músculo cardíaco relaxa,
e sístole, período de contração. Os átrios e os ventrículos não se contraem
simultaneamente.

1. Coração em repouso: diástole atrial e ventricular

Breve momento no qual os átrios e ventrículos estão relaxados. Os átrios estão


se enchendo com sangue vindo das veias, ventrículos acaba de terminar sua
contração. A medida que os ventrículos relaxam as valvas atrioventriculares
abrem e o sangue flui do átrio para o ventrículo.

2. Termino do enchimento ventricular: a sístole atrial

A maior parte do sangue que entra nos ventrículos ocorre antes da contração
atrial, apenas 20% da passagem do sangue do átrio para o ventrículo é
advindo da sístole atrial.

3. Contração ventricular inicial e primeiro som cardíaco

Concomitantemente com a contração dos átrios a onda despolarizante se move


para o nodo AV e posteriormente segue para as células de Purkinje até o ápice
do coração. O fechamento da valva AV cria o primeiro som cardíaco. Nesse

65
momento inicia a sístole ventricular. O sangue é empurrado contra a porção
inferior das valvas semilunares, as valvas não abrem inicialmente, porém o
coração continua a contração, esse fenômeno é denominada de contração
isovolumétrica pois a pressão é insuficiente para abrir as valvas semilunares
gerando um volume ventricular constante.

4. Coração bombeia: ejeção ventricular

Com a contração nos ventrículos de maneira acentuada é gerado uma pressão


ventricular acentuada provocando a abertura das valvas semilunares e ejeção
do sangue para as artérias. Durante essa fase as valvas AV permanecem
fechadas e os átrios continuam se enchendo.

5. Relaxamento ventricular e o segundo som cardíaco

Após a ejeção ventricular o ventrículo começa a repolarizar e relaxar


decorrente da diminuição da pressão ventricular. Ocorre também o fechamento
das valvas semilunares tal fato gera o segundo som cardíaco.

CONTROLE DA CONTRATILIDADE

O coração, num adulto jovem saudável e em repouso ejeta, a cada minuto,


aproximadamente 5 litros de sangue através de cada câmara ventricular.

Ao se praticar alguma atividade física mais intensa, com a dilatação acentuada


de diversos vasos sanguíneos na musculatura esquelética, uma quantidade
bem maior de sangue passa a retornar ao coração. O coração então, nessas
ocasiões, passa também a ejetar a mesma quantidade através de seus
ventrículos e evitando assim a ocorrência de uma estase sanguínea. Em
determinados momentos, com atividade física intensa, o volume de sangue que
retorna ao coração chega até a aproximadamente 25 litros por minuto e, ainda
assim, muitas vezes o coração é capaz de bombear todo este volume.

Segundo a Lei de Frank-Starling, o coração, dentro de limites fisiológicos, é


capaz de ejetar todo o volume de sangue que recebe proveniente do retorno
venoso, conclui-se que o coração pode regular sua atividade a cada momento,
seja aumentando o débito cardíaco, seja reduzindo-o, de acordo com a
necessidade.O controle da atividade cardíaca se faz tanto de forma intrínseca
como também de forma extrínseca.

Controle Intrínseco:

Ao receber maior volume de sangue proveniente do retorno venoso, as fibras


musculares cardíacas se tornam mais distendidas devido ao maior enchimento
de suas câmaras. Isso faz com que, ao se contraírem durante a sístole, o

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fazem com uma maior força. Uma maior força de contração,
consequentemente, aumenta o volume de sangue ejetado a cada sístole
(Volume Sistólico). Aumentando o volume sistólico aumenta também, como
consequência, o Débito Cardíaco (DC = VS x FC).

Outra forma de controle intrínseco:

Ao receber maior volume de sangue proveniente do retorno venoso, as fibras


musculares cardíacas se tornam mais distendidas devido ao maior enchimento
de suas câmaras, inclusive as fibras de Purkinje. As fibras de Purkinje, mais
distendidas, tornam-se mais excitáveis. A maior excitabilidade das mesmas
acaba acarretando uma maior frequência de descarga rítmica na
despolarização espontânea de tais fibras. Como consequência, um aumento na
Frequência Cardíaca se verifica. O aumento na Frequência Cardíaca faz com
que ocorra também um aumento no Débito Cardíaco (DC = VS X FC).

Controle extrínseco:

Além do controle intrínseco o coração também pode aumentar ou reduzir sua


atividade dependendo do grau de atividade do Sistema Nervoso
Autônomo (SNA).

O Sistema Nervoso Autônomo, de forma automática e independendo de nossa


vontade consciente, exerce influência no funcionamento de diversos tecidos do
nosso corpo através dos mediadores químicos liberados pelas terminações de
seus 2 tipos de fibras: Simpáticas e Parassimpáticas.

As fibras simpáticas, na sua quase totalidade, liberam noradrenalina. Ao


mesmo tempo, fazendo também parte do Sistema Nervoso Autônomo
Simpático, a medula das glândulas Supra Renais liberam uma considerável
quantidade de adrenalina na circulação.

Já as fibras parassimpática, todas, liberam outro mediador químico em suas


terminações: acetilcolina.

Um predomínio da atividade simpática do SNA provoca, no coração, um


significativo aumento tanto na frequência cardíaca como também na força de
contração. Como consequência ocorre um considerável aumento no débito
cardíaco.

Já um predomínio da atividade parassimpática do SNA, com a liberação de


acetilcolina pelas suas terminações nervosas, provoca um efeito oposto no
coração: redução na frequência cardíaca e redução na força de contração.
Como consequência, redução considerável no débito cardíaco.

67
9) REGULAÇÃO DA PRESSÃO ARTERIAL
Larissa Lopes Alves
Profª Ms. Lilaleia Gonçalves França

A manutenção dos níveis pressóricos dentro de uma faixa de normalidade


depende de variações ou do débito cardíaco ou da resistência periférica ou de
ambos. Diferentes mecanismos de controle estão envolvidos não só na
manutenção como na variação momento a momento da pressão arterial,
regulando o calibre e a reatividade vascular, a distribuição de fluido dentro e
fora dos vasos e o débito cardíaco. O estudo dos mecanismos de controle da
pressão arterial tem indicado grande número de substâncias e sistemas
fisiológicos que interagem de maneira complexa e com redundância para
garantir a pressão arterial (PA) em níveis adequados nas mais diversas
situações. Admite-se, portanto, que alterações da PA, como as encontradas na
hipertensão ou em outras patologias, resultariam da disfunção dos sistemas de
controle de pressão arterial. Com esse enfoque, os mecanismos
neuro-humorais de ajuste instantâneo que definem as alterações apropriadas
do débito cardíaco, da resistência periférica e do retorno venoso adaptadas ao
ponto de operação (ou a pressão arterial do indivíduo, seja ele hiper, hipo ou
normotenso) dependem da modulação do sistema cardiovascular, feita pela
interação de mecanismos complexos. Entre eles, destacam-se o sistema
nervoso autônomo e as diferentes alças hormonais por informações codificadas
pelos diferentes sensores periféricos. Essa complexa interação dos sistemas
fisiológicos depende de fatores genéticos e ambientais como, por exemplo, a
atividade física ou a variação de dieta, havendo grande dificuldade em
determinar se as alterações fisiológicas são a causa ou a consequência da
variação da pressão arterial.

Mecanismos de regulação da pressão arterial

A manutenção da pressão arterial é regulada por dois sistemas principais. O


primeiro, mediado neuralmente, é o reflexo barorreceptor; o segundo, mediado
hormonalmente, é o sistema renina-angiotensina-aldosterona.

Mecanismos neurais

O principal objetivo do centro de controle cardiovascular, localizado no tronco


encefálico, é manter o fluxo sanguíneo adequado ao encéfalo e ao coração. As
informações sensitivas que chegam a este centro integrador vêm de receptores
sensitivos periféricos. Os principais receptores envolvidos na regulação da
pressão arterial são os mecarreceptores sensíveis ao estiramento, conhecidos
como barorreceptores, localizados na parede da artéria carótida e no arco da
aorta, onde monitoram a pressão do sangue que vai ao encéfalo e ao corpo.

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Estes receptores estão tonicamente ativos e disparam potenciais de ação
continuamente nas pressões arteriais normais. Quando a pressão arterial
elevada nas artérias estira a membrana dos barorreceptores a sua taxa de
disparo aumenta, ao contrário, se a pressão diminui.

Os potenciais de ação dos barorreceptores viajam até o centro de controle


cardiovascular localizado no bulbo via neurônios sensitivos. O centro interpreta
as informações recebidas e programa uma resposta. A resposta é muito rápida,
uma vez que se utiliza de vias neurais, provocando alterações no débito
cardíaco e na resistência periférica total para normalizar a pressão arterial.

A resposta eferente é carreada via neurônios do sistema nervoso autônomo


simpático e parassimpático. A atividade simpática é aumentada em resposta a
uma baixa pressão arterial e desencadeia uma elevação na frequência
cardíaca no nodo sinoatrial, uma diminuição no tempo de condução do impulso
no nodo atrioventricular, um aumento da contratibilidade cardíaca, aumentando
assim o débito cardíaco; além disso, a atividade simpática atua sob arteríolas e
veias gerando aumento da resistência periférica total e do retorno venoso.

A atividade parassimpática é aumentada em resposta à diminuição da pressão


arterial e torna a frequência cardíaca mais lenta, ao atuar sob o nodo sinuatrial

Outros receptores periféricos, além dos barorreceptores, podem modular a


pressão arterial. Os quimiorreceptores arteriais, por exemplo, são ativados em
baixos níveis de oxigênio, aumentando o DC. Se os tecidos precisam de mais
O2 os sistemas CV e respiratório agem em conjunto.

A regulação da pressão arterial está sujeita também à modulação do


hipotálamo e córtex cerebral. O hipotálamo é responsável pelas respostas
vasculares que incluem a regulação da temperatura e respostas de luta ou
fuga. As respostas aprendidas e emocionais podem ter origem no córtex
cerebral e ser expressas por respostas CV como rubor e desmaio.

A regulação da PA está intimamente ligada à regulação do equilíbrio de


líquidos corporais pelos rins, mas esta é uma resposta humoral bem mais lenta
às alterações da pressão arterial.

Mecanismos humorais

O sistema renina-angiotensina-aldosterona é responsável pela regulação a


longo prazo da pressão arterial.

69
Diminui atividade simpática em resposta a uma baixa pressão arterial, e produz
uma série de respostas que tentam restaurar a pressão arterial de volta ao
normal. Este mecanismo pode ser resumido nas seguintes etapas: (1) A
diminuição da pressão causa uma diminuição na perfusão sanguínea renal,
que é percebida pelos mecanorreceptores das arteríolas aferentes renais. As
células justaglomerulares das arteríolas renais respondem à pressão arteriolar
baixa secretando renina. Além disso, quando a pressão arterial diminui,
neurônios simpáticos, ativados pelo centro de controle CV, que possuem
terminações nervosas nas células justaglomerulares (JG) estimulam a
secreção de renina. Ainda, diante do baixo fluxo de fluído tubular, a mácula
densa do túbulo distal libera substâncias parácrinas às células JG, estimulando
a secreção de renina.Fatores que estimulam a secreção de renina:

(I) A renina é uma enzima. Quando liberada no plasma catalisa a conversão de


angiotensinogênio, produzido constantemente pelo fígado, em angiotensina I.

(II) A angiotensina I tem pouca atividade biológica, mas, qndo liberada na


circulação, encontra a ECA no endotélio dos vasos sang, que catalisa a
conversão em angiotensina I.

(III) A angiotensina I atua: - no córtex na adrenal, estimulando a secreção de


aldosterona diretamente na camada muscular das arteríolas, causando
vasocontrição, com consequente aumento da resistência vascular periférica
(RPT) e da PA; diretamente sobre os rins, estimulando a troca Na+/H+ no
túbulo proximal, aumentando a reabsorção de Na+ e HCO3+.

(IV) A aldosterona secretada pelo córtex da adrenal atua nas células principais
do TD e DColetor do rim, aumentando a reabsorção de Na+, portanto,
aumentando o volume de LEC e de sangue. Aumentando o volume de sangue,
aumenta o RV, o DC e a PA.

Além do sistema Renina Angina Angiotensina, outros dois hormônios modulam


a regulação da PA: O ADH e o PNA.

O ADH é liberado pela hipófise posterior diante do aumento da osmolaridade


sanguínea ou diminuição da PA. Ele vai atuar nas arteríolas, onde causa
vasocontrição, aumenta resistência periferia total (RPT) e aumenta PA; e
também nas células principais do Ducto Coletor, onde promove a reabsorção
de água, aumentando a água corpórea, o volume de sangue e a PA.

O PNA, ao contrário dos hormônios do sistema RAA e do ADH, é secretado


pelos átrios em resposta a um aumento da PA e do VLEC. O PNA tem efeitos

70
diversos, mas sua ação mais importante é o relaxamento da musculatura lisa
vascular, diminuindo a RPT. No rim, a vasodilatação causa aumento da
secreção de Na+ e água, diminuindo o VLEC, de sangue e a PA.

10) PRESSÃO ARTERIAL NO HOMEM


Leonardo Gonçalves Santos
Profª Ms. Lilaleia Gonçalves França

A pressão arterial é resultado de um produto:

Em outras palavras, quando houver um aumento no volume de sangue a


ser ejetado, por exemplo quando os rins não funcionam normalmente ou
quando o coração contrai de modo insuficiente, ou quando a frequência
cardíaca aumenta, isto é, o coração bate mais vezes por minuto para ejetar um
determinado volume de sangue, ou quando a resistência oferecida pelas
artérias para a passagem do sangue estiver aumentada, ocorre aumento da
pressão arterial.
Outra possibilidade é as artérias de maior calibre perderem sua
flexibilidade normal (aterosclerose) e tornarem-se rígidas, de modo que elas
não conseguem expandir para permitir a passagem do sangue bombeado pelo
coração. Assim, o sangue ejetado em cada batimento cardíaco é forçado
através de um espaço menor que o normal e a pressão arterial aumentam.
A marca registrada da pressão alta é, em última análise, o aumento da
resistência vascular. Isto pode acontecer, por exemplo, quando artérias muito
finas (arteríolas) se contraem temporariamente devido à estimulação nervosa
ou por hormônios presentes no sangue.

Algumas definições importantes:

1. Pressão Arterial Sistólica: Pressão Arterial máxima do ciclo cardíaco,


ocorrendo durante a sístole ventricular.
2. Pressão Arterial Diastólica: Pressão Arterial mínima do ciclo cardíaco,
equivalendo a pressão no fim da diástole ventricular.
3. Pressão Arterial média: Média das pressões instantâneas de todo um
ciclo cardíaco. Costuma ser deduzida das pressões diastólica e
sistólica, com margens de erro variáveis, conforme a fórmula utilizada.

71
Poder-se-ia pensar que seria realmente a média mas não é:
aproxima-se mais da pressão diastólica.
4. Pressão Arteriolar: Pressão nas arteríolas do organismo.
5. Pressão Pré-capilar. Pressão na arteríola imediatamente antes de se
iniciar um capilar.
6. Pressão Capilar: pressão média no capilar. Fundamental para as
trocas de líquidos entre o sangue e o espaço extracelular, conforme
a Lei de Starling.
7. Pressão Pós-capilar ou Venular: Pressão no início das vênulas. A este
nível passa a ser pressão venosa e não arterial.
Na pequena circulação existem todos os equivalentes acima, seguidos do
termo "Pulmonar", como em "Pressão Arterial Pulmonar"

COMO SE MEDE?

A pressão arterial é a pressão que o sangue exerce na parede das


artérias. Ela é medida em milímetros de mercúrio. Com esta medida, são
determinadas duas pressões:

● Máxima: Quando o coração se contrai, temos uma pressão máxima


(sistólica)
● Mínima: Quando ele se dilata, temos uma pressão mínima (diastólica)

A pressão arterial é transcrita com o valor da pressão sistólica seguido


por uma barra e o valor da pressão diastólica. Por exemplo: 120/80mmHg
(milímetros de mercúrio) – Lê-se: cento e vinte por oitenta.

● Valor ótimo de pressão arterial: <120 x 80 mmHg (12 por 8)


● Valor normal de pressão arterial: < 130/85 mmHg
● Valor ideal de pressão arterial para pessoas com risco de diabetes e
doença renal: <130 x 80 mmHg

QUANDO UMA PESSOA É CONSIDERADA HIPERTENSA?


Para a maioria da população, a pressão arterial deve estar abaixo de 140
e/ou 90mmHg, exceto para os diabéticos (<130/85 mmHg) e renais crônicos
(indo até < 120/75 mmHg).

QUAIS SÃO AS CAUSAS?


Na maioria das vezes não conseguimos saber com precisão a causa da
hipertensão arterial, mas sabemos que muitos fatores podem ser responsáveis.

Fatores externos:

72
● Hereditariedade: Recebemos a pré-disposição, que pode
apresentar-se em vários membros da família.
● Idade: O envelhecimento aumenta o risco em ambos os sexos.
● Raça: Pessoas da raça negra são mais propensas a pressão alta.
● Peso: A obesidade é um fator de risco!

Fatores Internos:

● Falta de exercício: A vida sedentária contribui para o excesso de


peso.
● Má alimentação: pouco consumo de frutas e verduras e aumento
do consumo de comida rápida
● Sal em excesso: pode facilitar e agravar a hipertensão arterial.
● Álcool: O consumo exagerado de compromete a pressão arterial.
● Tabagismo: é um fator de risco das doenças cardiovasculares
● Estresse: excesso de trabalho, angústia, preocupações e
ansiedade podem ser responsáveis pela elevação da pressão.

E os sintomas:
Na maioria dos indivíduos a hipertensão arterial não causa sintomas,
apesar da coincidência do surgimento de determinados sintomas que muitos,
de maneira equivocada, consideram associados à doença, como por exemplo,
dores de cabeça, sangramento pelo nariz, tontura, rubor facial e cansaço.
Quando um indivíduo apresenta uma hipertensão arterial grave ou
prolongada e não tratada, apresenta dores de cabeça, vômito, dispnéia ou falta
de ar, agitação e visão borrada decorrência de lesões que afetam o cérebro, os
olhos, o coração e os rins.

QUAIS SÃO AS CONSEQÜÊNCIAS?

Se não tratada, a pressão alta pode ocasionar derrames cerebrais,


doenças do coração, como infarto, insuficiência cardíaca (aumento do coração)
e angina (dor no peito), insuficiência renal ou paralisação dos rins e alterações
na visão que podem levar à cegueira.

COMO FAÇO O DIAGNÓSTICO?

A pressão arterial deve ser aferida com o paciente na posição sentada,


respeitando um período de repouso de 5 minutos. Medidas com valores iguais
ou superiores a 140/90 mmHg são consideradas altas, mas não é possível
basear o diagnóstico apenas em uma leitura.
Muitas vezes são necessárias várias leituras para estabelecer o
diagnóstico. Se a leitura inicial apresentar um valor alto, deve-se então, medi-la
novamente, em seguida, mais duas vezes e, em pelo menos mais dois outros

73
dias, para assegurar o diagnóstico de hipertensão arterial. As leituras não
apenas revelam a presença da hipertensão arterial, mas também auxiliam na
classificação de sua gravidade.

Observações:

● “Hipertensão do jaleco branco”: O estresse decorrente da consulta a um


médico faz com que seja diagnosticado como hipertensão em alguém
que, fora do ambiente hospitalar apresentaria uma pressão arterial
normal.

“Hipertensão mascarada”: Hipertensão arterial mascarada é a situação
na qual a média da pressão arterial determinada através de
monitorização ambulatorial de pressão arterial (MAPA) ou monitorização
residencial de pressão arterial (MRPA) está elevada e a medida de
pressão arterial em consulta médica está normal.

COMO É O TRATAMENTO?

A hipertensão arterial essencial não tem cura, mas deve ser tratada para
impedir complicações.
A menos que haja uma necessidade evidente para uso de medicamentos
imediato, como no caso de pacientes com níveis de pressão arterial acima de
180/110 mmHg, a maioria dos pacientes deve ter a oportunidade de reduzir sua
pressão arterial através de tratamento não farmacológico, por meio de medidas
gerais de reeducação, também conhecidas como modificações no estilo de
vida. A seguir algumas indicações:

● Meça sua pressão arterial regularmente


● Tenha uma alimentação saudável. Evite: açúcares e doces, frutas,
derivados de leite na forma integral, com gorduras, carnes vermelhas
com gorduras aparente e vísceras, temperos prontos, alimentos
industrializados que vêm em latas ou vidros, alimentos processados e
industrializados como embutidos, conservas, enlatados, defumados,
charque.
● Prefira: alimentos cozidos, assados, grelhados ou refogados, temperos
naturais como limão, ervas, alho, cebola, salsa e cebolinha, frutas,
verduras e legumes, produtos lácteos desnatados.
● Pratique atividade física pelo menos 5 dias por semana. Faça
caminhadas, suba escadas ao invés de usar o elevador, ande de
bicicleta, nade, dance.
● Diminua a quantidade de sal na comida. Use no máximo 1 colher de chá
para toda a alimentação diária. Não utilize saleiro à mesa e não
acrescente sal no alimento depois de pronto.
● Diminua o consumo de bebidas alcoólicas.
● Não fume! Depois da hipertensão, o fumo é o principal fator de risco de
doenças cardiovasculares

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● Controle o estresse (nervosismo). Tente administrar seus problemas de
uma maneira mais tranquila. A “arte de viver bem” é enfrentar os
problemas do dia – a – dia com sabedoria e tranquilidade.
● Siga as orientações do seu médico, elas contribuirão para o controle da
pressão arterial e para a diminuição dos riscos de doenças
cardiovasculares: Se utilizar medicamentos:
● Tome as medicações conforme a orientação médica
● Se tiver qualquer dúvida sobre o medicamento, converse com seu
médico
● Compareça às consultas regularmente
● Não abandone o tratamento

E OS TRATAMENTOS MEDICAMENTOSOS?

O objetivo do tratamento medicamentoso é reduzir a resistência vascular


periférica, promovendo vasodilatação. Os diferentes agentes anti-hipertensivo o
fazem por diferentes mecanismos. Entre os agentes de primeira linha
recomenda-se a utilização de:

DIURÉTICO TIAZÍDICO Inicialmente promovem diminuição da


quantidade de sal e água do
organismo, e posteriormente
promovem dilatação das artérias,
diminuindo desta forma a resistência
vascular e a pressão arterial
ANTAGONISTAS DOS CANAIS DE Produzem dilatação dos vasos
CÁLCIO sanguíneos através de um
mecanismo diferente. Especialmente
indicado para os indivíduos de raça
negra, idosos
BETABLOQUEADORES Bloqueiam os efeitos do sistema
nervoso simpático, sistema que pode
responder rapidamente ao estresse,
elevando a pressão arterial
INIBIDORES DA ECA (Enzima Reduzem a pressão arterial através
conversora da angiotensina) da dilatação das artérias
BLOQUEADORES DO RECEPTOR Reduzem a pressão arterial através
DA ANGIOTENSINA II de um mecanismo similar ao
mecanismo dos inibidores da enzima
conversora da angiotensina – porém
de forma mais direta e com menos
efeitos colaterais

Além desses, outras classes usadas em associação são:


● Simpatolítico de ação central: atualmente tem o uso mais indicado em
gávidas.

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● Vasodilatadores diretos – dilatam os vasos sanguíneos com outro
mecanismo.

● Diazóxido / nitroprussionato, nitroglicerina / labetalol (via intravenosa) –


utilizado em emergências hipertensivas – como a hipertensão arterial
maligna – exigem redução rápida da pressão arterial.

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