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"Quando o mundo estiver unido na busca do conhecimento, e não mais lutando


por dinheiro e poder, então nossa sociedade poderá enfim evoluir a um novo
nível."
Economia
numa única
lição
HENRY HAZLITT

Economia numa
única lição

Edição re vista e atualizada da tradução de


LEÔNIDAS GONTIJO DE CARVALHO

Ve rsão digital produzida e re visada por


MONICA MAGALHÃES E ELISA LUCENA MARTINS

ORDEMLIVRE.ORG
e m parce ria com
INSTITUTO LIBERAL

Título do original e m inglê s ECONOMICS IN ONE LESSON

Copyright © 1962 and 1979 by Henry Hazlitt Copyright © 1946 by


Harper & Brothers Publishe d by arrange me nt with Arlington House ,
Inc.

Dire itos de re publicação da ve rsão digital re se rvados para a língua


portugue sa no mundo todo: Orde mLivre .org, marca da Atlas
Economic Re se arch Foundation.

ISBN 85-03-00081-4 Edição original ISBN 0-87000-427-1


SUMÁRIO

INDICAÇÕES
BIOBIBLIOGRÁFICAS viii
SOBRE O AUTOR
PREFÁCIO DA
EDIÇÃO DE 1979 ix
(H.H.)
PREFÁCIO DA
PRIMEIRA EDIÇÃO x
(H.H.)
ECONOMIA
NUMA ÚNICA
LIÇÃO

PRIMEIRA PARTE
A LIÇÃO
Cap.
A Lição 2
I
SEGUNDA PARTE
A LIÇÃO APLICADA
Cap. A vitrina
6
II quebrada
Cap. As bênçãos da
6
III destruição
Obras públicas
Cap.
significam 10
IV
impostos
Os impostos
Cap.
desencorajam a 14
V
produção
O crédito
Cap.
desvia a 15
VI
produção
Cap. A maldição da
VII maquinaria 19
Esquemas de
Cap.
difusão do 26
VIII
trabalho
A dispersão de
Cap.
tropas e 29
IX
burocratas
Cap. O fetiche do
30
X pleno emprego
Quem é
Cap.
"protegido" 32
XI
pelas tarifas?
A
Cap.
determinação 38
XII
de exportar
Cap. A "paridade" de 40
XIII preços
Cap. A salvação da
45
XIV indústria X
Como funciona
Cap.
o sistema de 48
XV
preços
A
Cap. "estabilização"
51
XVI das
mercadorias
Tabelamento
Cap.
de preços pelo 55
XVII
governo
Cap. O que faz o
XVIII controle de 60
aluguéis
Cap. Leis do salário
64
XIX mínimo
Os sindicatos
Cap. elevam
67
XX realmente os
salários?
"O suficiente
Cap.
para adquirir o 74
XXI
produto"
Cap. A função dos
78
XXII lucros
Cap. A miragem da
80
XXIII inflação
Cap. O assalto à
87
XXIV poupança
Cap. Repete-se a
95
XXV lição

TERCEIRA PARTE
A LIÇÃO TRINTA ANOS
DEPOIS
Cap. A lição trinta
101
XXVI anos depois
APÊNDICE
UMA NOTA SOBRE
107
LIVROS
Educar é desensinar como propósito
de superar preconceitos e
intolerância.

FRANK H. KNIGHT

Quando se trata de liberdade, o


conservador deveria ou calar ou
encontrar algo de útil para dizer. Eu
penso que há algo de útil a ser dito, e
é o que está aqui.

GEORGE J. STIGLER
Henry Hazlitt nasceu em28 de novembro de 1894. Pretendia estudar
Filosofia e Psicologia, mas foi obrigado a abandonar os estudos para ganhar
a vida.

Ao decidir ser jornalista, empregou-se no Wall Stre e t Journal como


taquígrafo, semnenhumconhecimento de Economia. Entretanto,
rapidamente se inteirou do assunto.

Em1946, escreveu uma critica popular sobre a intervenção do governo


na vida econômica das pessoas. Tornou-se editor literário do Ne w York
Sun, em1925, de The Nation, em1930, e editor de The Ame rican
Me rcury, em1933. Entre 1934 e 1946, escreveu a maioria dos editoriais
econômicos para The Ne w York Time s e, a seguir, entre 1946 e 1966,
passou a assinar a coluna "Business Ties" do Newsweek, passando mais tarde
para o Los Ange le s Time s Syndicate , como colunista.

Hazlitt é autor de 18 livros. Economia numa única lição já foi


traduzido em10 países, comcerca de ummilhão de exemplares vendidos. A
primeira edição foi publicada em1946 e a edição revista em1979, até hoje,
é uma das leituras mais sucintas sobre Economia.

Umoutro livro do mesmo autor, intitulado Will Dollars Save the


World?, editado em1947, foi condensado emjaneiro de 1948 pelo
Re ade r's Dige st e publicado emvários países.

Algumas de suas obras analisamas falácias keynesianas e outras


enfocamo assunto inflação.
Prefácio da edição de 1979

A primeira edição deste livro foi publicada em1946. Foramfeitas oito


edições e surgiramvárias outras embrochura. Na de 1961, foi introduzido
umnovo capítulo sobre controle de aluguéis, que não havia sido
especificamente estudado, na primeira edição, separadamente do
tabelamento de preços pelo governo emgeral. Foramatualizadas algumas
referências sobre dados estatísticos e ilustrações.

De outra forma não houve modificações até agora. A principal razão


disto é que não foramconsideradas necessárias. Meu livro foi escrito para
dar ênfase aos princípios econômicos gerais e às penalidades por ignorá-los,
não aos danos causados por umdeterminado artigo de lei. Embora meus
exemplos sejambaseados, principalmente, na experiência americana, o tipo
de intervenções governamentais, que eu abomino, tem-se tornado tão
internacionalizado, que, para muitos leitores estrangeiros, me parece estar
particularmente descrevendo as políticas econômicas de seu próprio país.

Não obstante, penso que, agora, após trinta anos, esteja exigindo uma
extensa revisão. Alémde atualizar todos os exemplos e dados estatísticos,
introduzi umcapitulo inteiramente novo sobre controle de aluguéis. Acho
que o estudo de 1961 agora está inadequado. E acrescentei umnovo
capítulo final, "A lição trinta anos depois", para mostrar por que hoje esta
lição ê mais desesperadamente necessária que nunca.

Wilton, Conn. H.H. Junho de 1978


Prefácio da primeira edição

Este livro é uma análise das falácias da economia, hoje tão correntes que
se tornaramquase uma nova ortodoxia. A única coisa que impediu que isto
ocorresse foramsuas próprias contradições, que dispersaramos que aceitam
as mesmas premissas e criaramuma centena de diferentes "escolas", pela
simples razão de ser impossível, emassuntos referentes à vida prática, ser
coerente como erro. Mas a diferença entre uma nova escola e outra está,
simplesmente, no fato de umgrupo despertar mais cedo que outro ante os
absurdos a que suas falsas premissas o estão conduzindo e, nesse momento,
tornar-se inconsequente, quer abandonando-as involuntariamente, quer
aceitando conclusões delas decorrentes menos inquietantes ou menos
fantásticas que as que a lógica exigiria.

Não há no mundo, porém, neste momento, umgoverno sensato cuja


política econômica não seja influenciada pela aceitação de algumas dessas
falácias, quando não for inteiramente dirigido por elas. O meio mais curto e
mais seguro para compreender a economia talvez seja mediante uma
dissecação de tais erros e, especialmente, do erro fundamental do qual elas se
originam. É esta a pretensão desse livro e de seu titulo umtanto ambicioso e
belicoso.

Esta obra contém, por isso, emprimeiro lugar uma exposição. Não tema
pretensão de ser original no tocante a quaisquer das principais idéias que
expõe. Pelo contrário, seus esforços objetivammostrar que muitas das idéias,
que agora passampor brilhantes inovações e progressos, são, na realidade,
mera revivificaçã o de antigos erros e mais uma prova do ditado, segundo o
qual todo aquele que ignora o passado está condenado a repeti-lo.

O presente ensaio é, suponho, impudentemente "clássico", "tradicional"


e "ortodoxo": pelo menos sã o esses os epítetos comos quais as pessoas, cujos
sofismas são aqui analisados, procurarão, indubitavelmente, tentar rejeitar
essa análise. Mas o estudante, cujo objetivo é, na medida do possível,
alcançar a verdade, não se atemorizará comtais adjetivos. Não estará
procurando uma permanente revolução, uma "nova arrancada" no
pensamento econômico. Seu espírito acolherá, naturalmente, tanto as novas,
como as velhas idéias, mas terá prazer emafastar a inquietação ou o
exibicionismo dos que andamà cata de novidade e originalidade. Como
observou Morris R. Cohen: "A idéia de que podemos abandonar as
opiniões de todos os pensadores que nos precederamnão deixa, por certo,
qualquer base para a esperança de que nosso trabalho prove ter algumvalor

para outrem."1

Tratando-se de uma obra expositiva, manifestei-me livremente e sem


entrar emdetalhes quanto à contribuição de idéias alheias (salvo raras notas
de rodapé e citações). Isto é inevitável quando penetramos numcampo em
que trabalharamarduamente muitos dos mais belos espíritos do mundo.
Minha dúvida, porém, para comtrês autores, pelo menos, é de natureza tão
especifica que não posso deixar de mencioná-la. Minha dívida maior,
relacionada à espécie de enquadramento elucidativo, na qual se apó ia o
presente argumento, é para como ensaio de Frédéric Bastiat, Ce qu'on voit
e t ce qu'on ne voit pas, que data de quase umséculo. Este meu trabalho
poderá, realmente, ser considerado como a modernização, ampliação e
generalização de idéias encontradas no opúsculo de Bastiat. Minha
segunda dívida é para comPhilip Wicksteed: especialmente os capítulos
relativos aos salários e ao resumo final devemmuito a seu trabalho Common
Se nse of Political Economy. Minha terceira divida é para comLudwig
von Mises. Omitindo tudo quanto esse tratado elementar possa dever às suas
obras, minha dívida mais específica refere-se à exposição sobre a maneira
pela qual o processo de inflação monetária se difunde.
Ao analisar as falácias, julguei mais aconselhável reconhecer méritos que
citar nomes, individualmente. Se fosse citá-los, deveria render justiça especial
a cada autor criticado, comtranscrições exatas, e considerar a ênfase
peculiar que dá a umou a outro ponto, às qualificações que faz,
ambigüidades pessoais, incoerências etc. Espero, portanto, que ninguém
fique desapontado coma ausência, nessas páginas, de nomes tais como Karl
Marx, Thorstein Veblen, Major Douglas, Lord Keynes, Prof. Alvin Hansen e
outros. Não é propósito deste livro expor erros peculiares a determinados
autores, e simerros econômicos mais freqüentes, generalizados ou influentes.
Quando atingema fase popular, as falácias tornam-se praticamente anônimas.
Eliminamos sutilezas ou obscurantismos encontrados nos autores mais
responsáveis por sua propagação. Uma doutrina é simplificada; o sofisma de
que tenha permanecido enterrada numa rede de qualificações, ambigüidades
ou equações matemáticas torna-se patente. Espero, portanto, não ser
acusado de praticar injustiça, sob a alegação de que uma doutrina emvoga
pela forma por mimapresentada não é precisamente a que Lord Keynes ou
algumoutro autor formularam. Estamos aqui interessados nas crenças que
grupos politicamente influentes aceitam, e comas quais agemos governos, e
não nas suas origens históricas.

Espero, finalmente, que me relevarão o fato de raramente fazer


referência a estatísticas, nas páginas seguintes. Procurasse eu apresentar
confirmação estatística ao referir-me aos efeitos de tarifas, fixação de preços,
inflação e controle sobre mercadorias tais como carvão, borracha e algodão,
e teria aumentado as dimensões desse livro muito alémdas previstas. Além
disso, como jornalista militante, sei perfeitamente quão depressa as estatísticas
se tornamantiquadas e superadas por cifras mais recentes. Aconselho a quem
estiver interessado emproblemas econômicos específicos a ler exposições
"realistas" correntes, comdocumentação estatística; não encontrará
dificuldade eminterpretá-las corretamente à luz dos princípios básicos que
aprendeu.

Procurei escrever este livro comsimplicidade e semdetalhes técnicos,


embora compatível comrazoável exatidão, de sorte a poder ser
compreendido perfeitamente por umleitor que não tenha tido prévio
conhecimento de economia.

Quando o livro estava sendo composto, três capítulos apareceramcomo


artigos independentes, e desejo agradecer a The Ne w York Time s, The
Ame rican Scholar e The Ne w Le ade r por haverempermitido a
reimpressão da matéria anteriormente publicada emsuas páginas. Sou grato
ao Prof. von Mises por ter lido o manuscrito e apresentado úteis sugestões.
Claro que é inteiramente minha a responsabilidade pelas opiniões aqui
expressas.

H. H.

Nova York,
25 de março de 1946.

1 Re ason and Nature (1931) p. x


Economia
numa única
lição
PRIMEIRA PARTE
A lição
CAPÍTULO I
A lição

A ECONOMIA é mais asse diada por falácias que qualque r


outro e studo conhe cido pe lo home m. Tal fato não é acide ntal. As
dificuldade s ine re nte s ao assunto se riam, e m todo o caso,
bastante grande s; são, e ntre tanto, mil ve ze s multiplicadas por um
fator insignificante na física, mate mática ou me dicina: ale gaçõe s
e spe ciais de inte re sse e goístico. Conquanto qualque r grupo te nha
inte re sse s e conômicos idê nticos aos de todos os de mais, cada um
te m també m, conforme ve re mos, inte re sse s opostos aos de
todos os outros grupos. Enquanto ce rta política gove rname ntal
procuraria be ne ficiar todo mundo a longo prazo, outra política
be ne ficiaria ape nas um grupo, à custa dos de mais. O grupo que
se be ne ficiasse com e sta política, te ndo ne la inte re sse dire to,
achá-la-ia plausíve l e pe rtine nte . Contrataria os me lhore s
cé re bros que pude sse conse guir, para de dicare m todo o te mpo
na de fe sa de se u ponto de vista. E acabaria conve nce ndo o
público de que o caso é justo ou o confundiria de tal modo, que
se tornaria quase impossíve l formar, sobre e le , um juízo claro.

Alé m de sse s infindáve is argume ntos re lacionados ao inte re sse


próprio, há um se gundo fator principal que todos os dias se me ia
novas falácias. É a pe rsiste nte te ndê ncia de os home ns ve re m
some nte os e fe itos ime diatos de de te rminada política ou se us
e fe itos ape nas num grupo e spe cial, de ixando de ave riguar quais
os e fe itos de ssa política a longo prazo, não só sobre e sse
de te rminado grupo, como sobre todos os de mais. É a falácia de
me nospre zar conse quê ncias se cundárias.

Nisso talve z e ste ja toda a dife re nça e ntre a boa e a má


e conomia. O mau e conomista vê some nte o que e stá diante de
se us olhos; o bom e conomista olha també m ao se u re dor. O mau
pe rce be some nte as conse qüê ncias dire tas do programa
proposto; o bom olha, també m, as conse qüê ncias indire tas e
mais distante s. O mau e conomista vê some nte quais foram ou
quais se rão os e fe itos de de te rminada política sobre de te rminado
grupo; o bom inve stiga, alé m disso, quais os e fe itos de ssa política
sobre todos os grupos.

Pare ce óbvia a dife re nça. A pre caução de ave riguar todas as


conse qüê ncias de uma ce rta política sobre todos talve z pare ça
e le me ntar. Não sabe todo mundo, e m sua vida privada, que há
toda sorte de complacê ncias que , na ocasião, são agradáve is e
que , no fim, se tornam de sastrosas? Não sabe toda criança que
se come r muito doce pode rá ficar doe nte ? Não sabe o indivíduo
que se e mbriaga que , na manhã se guinte , de spe rtará com o
e stômago ruim e com horríve l dor de cabe ça? Não sabe o
dipsomaníaco que e stá arruinando o fígado e abre viando a vida?
Não sabe o Dom Juan que se e stá e ntre gando a toda sorte de
riscos, da chantage m à doe nça? Finalme nte , para voltarmos ao
re ino da e conomia, se be m que ainda pe ssoal, não sabe m o
ocioso e o e sbanjador, me smo e m me io a gloriosas e xpe riê ncias,
que e stão caminhando para um futuro de dívidas e pobre za?

Todavia, quando e ntramos no campo da e conomia pública,


ignoramos e ssas ve rdade s e le me ntare s. Há home ns, hoje
conside rados brilhante s e conomistas, que conde nam a poupança
e re come ndam o e sbanjame nto e m e scala nacional como me io
de salvação e conômica; e quando algué m assinala quais se rão,
por fim, a longo prazo, as conse quê ncias de ssa política,
re sponde m, pe tulante me nte , tal como um filho pródigo ao pai
que o e stive sse pre ve nindo: "A longo prazo e stare mos todos
mortos." Essas pilhé rias vazias passam por e pigramas
de vastadore s e sabe doria amadure cida.

Mas a tragé dia é que , ao contrário, já e stamos sofre ndo as


conse quê ncias a longo prazo da política do passado re moto ou
re ce nte . O dia de hoje já é o amanhã que os maus e conomistas,
onte m, nos aconse lharam a ignorar. As conse quê ncias a longo
prazo de ce rta política e conômica pode rão tornar-se e vide nte s
de ntro de poucos me se s. Outras, talve z não se e vide ncie m
durante vários anos. Outras, ainda, talve z não o se jam durante
dé cadas. Mas, e m qualque r caso, e ssas conse qüê ncias a longo
prazo e stão contidas na política e conômica, com a me sma
ce rte za com que a galinha e stava no ovo, a flor na se me nte .

Partindo, portanto, de sse aspe cto, pode -se re sumir toda a


e conomia e m uma única lição, e pode -se re duzir e ssa lição a uma
única proposição. A arte da economia está emconsiderar não só os efeitos
imediatos de qualquer ato ou política, mas, também, os mais remotos; está em
descobrir as conseqüências dessa política, não somente para umúnico
grupo, mas para todos eles.

Nove dé cimos das falácias sobre e conomia, que e stão


causando um te rríve l mal ao mundo, re sultam da ignorância
de ssa lição. Originam-se todas e las de uma das duas falácias
fundame ntais, ou de ambas: conside rar some nte as
conse quê ncias ime diatas de um ato, ou proposta, e ape nas as
suas conse quê ncias, para um de te rminado grupo, e sque ce ndo os
de mais.

É ve rdade , naturalme nte , que é possíve l o e rro oposto. Ao


conside rarmos uma política, não de ve mos conce ntrar-nos somente
e m re sultados a longo prazo para a comunidade como um todo.
É o e rro muitas ve ze s come tido pe los e conomistas clássicos. O
re sultado foi ce rta indife re nça com o de stino de grupos
ime diatame nte fe ridos pe la política ou pe los de se nvolvime ntos que
provaram se r be né ficos no cômputo ge ral e a longo prazo.

São, poré m, re lativame nte poucas as pe ssoas que , hoje ,


come te m e sse e rro; e e stas pe ssoas são, principalme nte , os
e conomistas profissionais. A mais fre que nte falácia, hoje e m dia,
a que surge re pe tidas ve ze s e m quase toda conve rsação que
aborda assuntos e conômicos, o e rro e m mil discursos políticos, o
sofisma pre dominante da "nova" e conomia, e stá e m conce ntrar-
se nos e fe itos a curto prazo da política sobre de te rminados
grupos e e m ignorar, ou me nospre zar, os e fe itos a longo prazo
sobre a comunidade como um todo. Os "novos" e conomistas
ilude m-se ao pe nsar que isso constitui um grande , quase um
re volucionário avanço e m re lação aos mé todos dos e conomistas
"clássicos" ou "ortodoxos", porque le vam e m conside ração os
e fe itos a curto prazo que e ste s últimos, muitas ve ze s, ignoravam.
Mas, ignorando ou me nospre zando os e fe itos a longo prazo,
e stão come te ndo o mais grave dos e rros. Esque ce m-se da
flore sta, ao e xaminare m, pre cisa e minuciosame nte ,
de te rminadas árvore s. Se us mé todos e conclusõe s são, quase
se mpre , profundame nte re acionários. Às ve ze s, ficam
surpre e ndidos ao pe rce be re m que concordam com o
me rcantilismo do sé culo XVII.* Incorre m, na re alidade , (ou
incorre riam se não fosse m tão contraditórios e m todos os antigos
e rros que os e conomistas clássicos,** como e spe rávamos, se
haviam libe rtado de uma ve z por todas.

Obse rva-se com triste za, muitas ve ze s, que os maus


e conomistas apre se ntam se us e rros ao público muito me lhor, do
que os bons e conomistas apre se ntam suas ve rdade s. Existe ,
fre qüe nte me nte , a que ixa de que os de magogos, e m suas
plataformas, são mais razoáve is ao e xpore m tolice s sobre
e conomia, do que os home ns since ros, que procuram mostrar o
que e stá e rrado na e conomia. A razão básica para isso,
e ntre tanto, não e nce rra misté rio algum. Está e m que os
de magogos e os maus e conomistas apre se ntam me ias-ve rdade s.
Falam some nte sobre o e fe ito ime diato da política que propõe m
ou sobre se u e fe ito num único grupo. No tocante a isso, talve z
e ste jam algumas ve ze s com a razão. Ne sse s casos a re sposta
e stá e m mostrar que a política proposta te ria, també m, e fe itos
mais de morados e me nos de se jáve is ou que e la pode ria
be ne ficiar some nte ce rto grupo, a e xpe nsas dos de mais. A
re sposta e stá e m comple tar e corrigir cada me ia-ve rdade com a
outra me tade . Mas conside rar todos os principais e fe itos de uma
me dida proposta sobre todos re que r, muitas ve ze s, longa,
complicada e fastidiosa sé rie de raciocínios. A maioria dos
ouvinte s acha difícil acompanhar o e ncade ame nto das idé ias e ,
logo, torna-se e nfarada e de sate nta. Os maus e conomistas
justificam e ssa de bilidade e e ssa pre guiça inte le ctual, asse gurando
aos ouvinte s que não pre cisam se guir o raciocínio ou julgá-lo
se gundo se u mé rito, porque se trata, ape nas, de "classicismo", do
laissez-faire, de "de sculpa de capitalistas" ou de qualque r outro
te rmo injurioso que lhe s possa ocorre r como e ficaz.

Enunciamos a nature za da lição e das falácias que se


inte rpõe m no caminho, e m te rmos abstratos. Mas a lição não
se rá conclude nte e as falácias continuarão a não se r
re conhe cidas, a me nos que ambas se jam ilustradas com
e xe mplos. Utilizando-os, pode re mos passar dos proble mas
e conômicos mais e le me ntare s, aos mais comple xos e difíce is. Por
me io de le s pode re mos apre nde r a de te ctar e e vitar, e m prime iro
lugar, as falácias mais cruas e mais palpáve is e , finalme nte ,
algumas das mais sofisticadas e sutis. É de ssa tare fa que , agora,
vamos tratar.

* Mercantilismo: siste ma político e conômico que e volui com o e stado


mode rno e que procura asse gurar a sobe rania e conômica e
política de uma nação e m sua rivalidade com outras. De acordo
com e sse siste ma, o dinhe iro é conside rado um de pósito de
rique za; o obje tivo de um e stado é o acúmulo de me tais pre ciosos
obtidos atravé s da e xportação da maior quantidade possíve l de
se us produtos e a importação do mínimo possíve l, assim
e stabe le ce ndo uma balança come rcial favoráve l. (N. do T.)
** Economistas clássicos: Adam Smith, Je re my Be ntham, Thomas
Malthus, David Ricardo, e outros, de se nvolve ram um siste ma de
pe nsame nto e conômico que de fe nde um mínimo de inte rve nção
do gove rno, a livre iniciativa e o livre comé rcio, e que conside ra o
trabalho a fonte de rique za. (N. do T.)
SEGUNDA PARTE
A lição aplicada
CAPÍTULO II
A vitrina que brada

Come ce mos com o e xe mplo mais simple s possíve l:


e scolhe mos, imitando Bastiat, uma vitrina que brada.

Suponhamos que um mole cote atire um tijolo numa vitrina de


padaria. O pade iro sai corre ndo furioso, mas o mole que já
de sapare ce u. Junta-se ge nte , e todos passam a olhar com muda
satisfação o rombo na vitrina e os e stilhaços de vidro sobre pãe s
e tortas. Após um mome nto, a multidão julga ne ce ssário faze r
re fle xõe s filosóficas. É quase ce rto que dive rsos de se us
compone nte s le mbre m, uns aos outros e ao pade iro, que , afinal
de contas, aque la de sve ntura te m se u lado prove itoso:
proporcionará ne gócio para algum vidrace iro. Come çando a
pe nsar no caso, passam a e ste nde r-se e m suas idé ias. Quanto
custará uma vitrina nova? Duze ntos e cinqüe nta dólare s? Se rá
uma quantia re spe itáve l. Afinal de contas, se vitrinas não fosse m
que bradas, que aconte ce ria ao ne gócio de vidros? O proble ma,
naturalme nte , pare ce e ntão não te r fim. O vidrace iro te rá mais
US$250 para gastar com outros ne gociante s e e ste s, por sua ve z,
te rão mais US$250 para de spe nde r com outros come rciante s e ,
assim, ad infinitum. A vitrina que brada passará a proporcionar
dinhe iro e e mpre go a áre as cada ve z maiore s. A conclusão lógica
de tudo isso, se a multidão assim pe nsasse , se ria que o
mole cote , que atirara o tijolo, e m lugar de tornar-se uma
ame aça pública, se ria um be nfe itor.

Encare mos agora a que stão sob outro ângulo. A multidão te m


razão, pe lo me nos, e m sua prime ira conclusão. O pe que no ato
de vandalismo, e m prime ira instância, significará mais ne gócio
para algum vidrace iro. Este não se se ntirá mais infe liz, ao sabe r
do ocorrido, que um dono de fune rária ao te r conhe cime nto de
uma morte . Mas o pade iro ficará se m US$250, quantia que
pre te ndia gastar na compra de um novo te rno. Pre cisando
substituir a vitrina, re nunciará à compra do novo te rno (ou de algo
se me lhante , ne ce ssário ou de se jáve l). Em ve z de possuir uma
vitrina e US$250, te rá, agora, simple sme nte , uma vitrina. Ora,
como plane java comprar o te rno naque la me sma tarde , e m ve z
de te r uma vitrina e um te rno, de ve rá conte ntar-se com a vitrina
e ne nhum te rno. Se o conside rarmos como parte da
comunidade , e sta pe rde u um novo te rno que possuiria, se não
surgisse aque la ocorrê ncia, fato que a torna mais pobre .

Em suma, o que o vidrace iro ganhou ne sse ne gócio


re pre se nta, some nte , o que o alfaiate pe rde u. Ne nhum
"e mpre go" novo surgiu. As pe ssoas, naque la multidão, e stavam
ape nas pe nsando e m dois e le me ntos da transação: o pade iro e o
vidrace iro. Esque ce ram a te rce ira pe ssoa e m pote ncial e nvolvida:
o alfaiate . Esque ce ram-se de le porque não tinha e ntrado e m
ce na. Ve rão, daí a um ou dois dias, a nova vitrina. Nunca ve rão o
te rno e xtra, e xatame nte porque nunca se rá confe ccionado. Vê e m
ape nas o que e stá ime diatame nte diante dos se us olhos.
CAPÍTULO III
As bê nçãos da de struição

Te rminamos assim com a vitrina que brada. Uma falácia


e le me ntar. Pode ríamos supor que qualque r pe ssoa se ria capaz
de e vitá-la, após alguns mome ntos de re fle xão. Contudo, sob uma
ce nte na de disfarce s, a falácia da vitrina que brada é a mais
pe rsiste nte na história da e conomia. É mais ge ne ralizada agora,
do que foi no passado, e m qualque r te mpo. É sole ne me nte
re afirmada todos os dias por grande s capitãe s de indústria, pe las
câmaras de comé rcio, pe los líde re s de sindicatos trabalhistas,
pe los re datore s, pe los colunistas de jornais, pe los come ntadore s
radiofônicos, por e statísticos cultos que usam as mais re quintadas
té cnicas, por profe ssore s de e conomia e m nossas me lhore s
unive rsidade s. Sob as mais variadas formas, todos e le s discorre m
longame nte sobre as vantage ns da de struição.

Embora alguns de le s não che gue m a dize r que há lucros


líquidos e m pe que nos atos de de struição, ve e m be ne fícios, quase
inte rmináve is, nas de struiçõe s de grande porte . Afirmam quanto
e stamos, e conomicame nte , me lhor na gue rra, que na paz. Vê e m
"milagre s de produção", que para ocorre re m e xige m uma gue rra.
E vê e m, e ntão, o mundo tornar-se próspe ro, graças a uma
e norme de manda "acumulada" ou "insatisfe ita". Na Europa,
de pois da II Gue rra Mundial contam ale gre me nte as casas
de struídas, cidade s inte iras arrasadas, e que "de ve rão se r
re construídas". Nos Estados Unidos, contam as casas que não
pude ram se r construídas durante a gue rra, me ias de náilon que
não pude ram se r ofe re cidas, automóve is e pne umáticos
e stragados pe lo uso, apare lhos de rádio e re frige radore s
obsole tos. Juntos, constitue m um formidáve l total.

É, nada mais nada me nos, a nossa ve lha amiga, a falácia da


vitrina que brada com novas roupage ns e que , de tão gorda, se
tornou irre conhe cíve l. E, de sta ve z, apoiada por todo um grupo de
falácias afins. Confunde m necessidade com demanda. Quanto mais a
gue rra de strói, tanto mais e mpobre ce , e , indubitave lme nte , tanto
maiore s se tornam as ne ce ssidade s do pós-gue rra. Ne ce ssidade ,
poré m, não é de manda. A de manda e conômica e fe tiva re que r,
não ape nas ne ce ssidade s mas, també m, o corre sponde nte pode r
aquisitivo. Hoje , as ne ce ssidade s da Índia são,
incomparave lme nte , maiore s que as dos Estados Unidos. Mas se u
pode r aquisitivo, não obstante os "novos ne gócios" que possa
e stimular, é incomparave lme nte me nor.

Se conse guirmos ir alé m de sse ponto, te re mos oportunidade


de e ncontrar uma outra falácia, a que os ade ptos da te se da
vitrina que brada ge ralme nte se agarram. Pe nsam no "pode r
aquisitivo" some nte e m te rmos de moe da. Hoje o dinhe iro é
fabricado pe la tipografia. No mome nto e m que e stamos
e scre ve ndo, a e missão de moe da se ria, de fato, a maior indústria
do mundo, se o produto fosse me dido e m te rmos mone tários.
Todavia, quanto maior quantidade de moe da for e mitida, mais se
re duzirá o valor de uma de te rminada unidade mone tária. Esta
que da de valor pode se r me dida pe lo aume nto dos pre ços das
me rcadorias. Como, poré m, a maioria das pe ssoas te m o
arraigado hábito de pe nsar e m sua rique za e re ndime nto e m
te rmos de moe da, conside ram-se e las e m me lhor situação à
me dida que tais somas mone tárias aume ntam, a de spe ito de
que , e m te rmos de be ns, passam a possuir me nos e , també m, a
comprar me nos. A maioria dos "be né ficos" re sultados e conômicos
que o povo atribui à gue rra são, na re alidade , de vidos à inflação
dos te mpos da II Gue rra Mundial. Pode riam se r, da me sma
forma, produzidos por igual inflação e m te mpos de paz.
Voltare mos, mais adiante , a tratar de ssa ilusão mone tária.

Ora, e xiste me ia-ve rdade na falácia da de manda "insatisfe ita",


do me smo modo como ocorria na da vitrina que brada. A vitrina
que brada proporcionou mais e mpre go para o vidrace iro. A
de struição da gue rra proporcionou mais ne gócio para os
produtore s de ce rtos artigos. A de struição de casas e cidade s
ince ntivou as atividade s das companhias construtoras e fábricas
de mate rial de construção. A impossibilidade de produzir
automóve is, apare lhos de rádio e re frige radore s, durante a
gue rra, criou, no pós-gue rra, uma demanda acumulada desses últimos
produtos.

Isto pare ce rá, à maioria das pe ssoas, um aume nto na


de manda total, assim como foi, e m parte , emtermos de dólares de
menor poder aquisitivo. Mas o que re alme nte aconte ce é um de svio
da de manda de outras me rcadorias para e ssas. Os povos da
Europa construíram maior núme ro de casas novas, e m lugar de
fabricar outras coisas porque , na re alidade , de las ne ce ssitavam.
Quando, poré m, construíam mais casas, dispunham de muito
me nor quantidade de mão-de -obra e de capacidade produtiva
para tudo o mais. Quando compraram casas, dispunham de
muito me nor pode r aquisitivo para comprar outras coisas.
Se mpre que os ne gócios são aume ntados numa só dire ção,
re duze m-se , forçosame nte , e m outra (e xce to quando as e ne rgias
produtivas pude re m se r, e m ge ral, e stimuladas pe lo se ntido de
ne ce ssidade e urgê ncia).Em sínte se , a gue rra modificou a direção
dos e sforços do pós-gue rra; modificou o e quilíbrio das indústrias;
modificou a e strutura da indústria.

De sde o té rmino da II Gue rra Mundial na Europa, te m havido


rápido e me smo e spe tacular "cre scime nto e conômico", tanto nos
paíse s que foram de vastados pe la gue rra, como naque le s que
não o foram. Alguns dos paíse s onde houve maior de struição,
como a Ale manha, progre diram mais rapidame nte que outros,
como a França, onde a de struição foi muito me nor. Em parte isto
se de u porque a Ale manha Ocide ntal se guiu uma política
e conômica mais e ficie nte . Em parte , porque a ne ce ssidade
de se spe rada de re cupe rar a habitação e outras condiçõe s de vida
normais e stimulou maiore s e sforços. Mas isto não significa que a
de struição de proprie dade s é uma vantage m para a pe ssoa cuja
proprie dade foi de struída. Ningué m que ima sua própria casa
pe nsando que a ne ce ssidade de re construí-la e stimulará suas
e ne rgias.

Após uma gue rra, normalme nte , há um e stímulo de e ne rgia


por algum te mpo. No início do famoso Cap. III da History of
England, Macaulay obse rvava que :

Ne nhum simple s infortúnio, ne nhum simple s mau gove rno


contribuirá tanto para tornar uma nação pobre , quanto o
progre sso constante do conhe cime nto físico e o e sforço
constante de cada pe ssoa para progre dir na vida contribuirão
para tornar uma nação próspe ra. Fre que nte me nte , te m-se
obse rvado que o gasto e xage rado, imposto pe sado, re strição
come rcial absurda, tribunais corruptos, gue rras de sastrosas,
incitaçõe s, pe rse guiçõe s, conflagraçõe s, inundaçõe s, não são
capaze s de de struir be ns tão rapidame nte quanto os e sforços
de cidadãos particulare s são capaze s de criá-los.

Ne nhum home m gosta de te r sua proprie dade de struída, se ja


na gue rra ou na paz. Aquilo que é pre judicial ou de sastroso para
uma pe ssoa de ve se r també m igualme nte pre judicial ou
de sastroso para o grupo de pe ssoas que formam a nação.

Muitas das mais fre que nte s falácias no raciocínio e conômico


provê m da te ndê ncia, e spe cialme nte ace ntuada hoje , de pe nsar
e m te rmos de abstração — a cole tividade , a "nação" — e
e sque ce r ou ignorar as pe ssoas que a criam e lhe dão se ntido.
Ningué m que pe nsou prime iro nas pe ssoas cuja proprie dade foi
de struída pe la gue rra pode ria imaginar que a de struição da
gue rra fosse uma vantage m e conômica.

Aque le s que pe nsam que a de struição da gue rra aume nta a


"de manda" total e sque ce m que de manda e ofe rta são,
simple sme nte , duas face s de uma só moe da. São a me sma coisa
vista de dife re nte s dire çõe s. Ofe rta cria de manda porque , no
fundo, é de manda.

A ofe rta das coisas que um povo fabrica é , de fato, tudo o


que e le te m para ofe re ce r e m troca dos artigos que de se ja.
Ne sse se ntido, a ofe rta de trigo pe los faze nde iros constitui sua
de manda de automóve is e outros be ns. Tudo isso é ine re nte à
mode rna divisão do trabalho e a uma e conomia de inte rcâmbio.

Esse fato fundame ntal torna-se , na ve rdade , incompre e nsíve l


para muitas pe ssoas (inclusive para ce rtos e conomistas
re putadame nte brilhante s), te ndo e m vista complicaçõe s, tais
como o pagame nto de salários e a forma indire ta pe la qual,
praticame nte , todo inte rcâmbio mode rno é fe ito por inte rmé dio
do dinhe iro. John Stuart Mill e outros autore s clássicos, e mbora
muitas ve ze s falhasse m quando não le vavam suficie nte me nte e m
conta as conse qüê ncias comple xas re sultante s do uso do dinhe iro,
viram, pe lo me nos, atravé s do "vé u mone tário", as re alidade s
subjace nte s. Até e sse ponto e stive ram à fre nte dos críticos de se u
te mpo, mais confundidos que instruídos pe lo dinhe iro. Me ra
inflação — isto é , me ra e missão de mais dinhe iro com a
conse qüe nte e le vação de salários e pre ços — pode pare ce r
criação de maior de manda. Em te rmos, poré m, de ve rdade ira
produção e troca de coisas, não é .

É e vide nte que o pode r aquisitivo re al é e xtinguido na me sma


proporção que é e xtinguido o pode r de produção. Não nos
de ve mos de ixar iludir ou confundir ne sta que stão pe los e fe itos da
inflação mone tária no aume nto de pre ços ou "re nda nacional" e m
te rmos mone tários.

Diz-se , às ve ze s, que , no pós-gue rra os ale mãe s ou os


japone se s le varam vantage m sobre os ame ricanos porque as
fábricas ve lhas, te ndo sido totalme nte de struídas pe las bombas
durante a gue rra, pude ram se r substituídas por fábricas e
e quipame ntos mais mode rnos e , de sta forma, produzir mais
e ficie nte me nte e a pre ços mais baixos que os ame ricanos com
suas fábricas e e quipame ntos mais ve lhos e me io obsole tos. Mas,
se isto fosse re alme nte uma vantage m e vide nte , os ame ricanos
pode riam facilme nte compe nsá-la, pondo abaixo ime diatame nte
as fábricas ve lhas e jogando fora todos os e quipame ntos ve lhos.
De fato, todos os fabricante s e m todos os paíse s pode riam
de struir todas as fábricas e e quipame ntos ve lhos todos os anos e
le vantar novas fábricas, instalando novos e quipame ntos.

A pura ve rdade é que há uma taxa ótima de substituição,


uma é poca oportuna para substituição. Se ria uma vantage m para
um fabricante te r sua fábrica e e quipame ntos de struídos por
bombas, mas ape nas se isto aconte ce sse quando sua fábrica e
e quipame ntos, pe la de struição ou de suso, já tive sse m atingido um
valor nulo ou ne gativo e as bombas caísse m be m na hora que e le
tive sse chamado uma e quipe de de molição ou, de outra forma,
comprado novos e quipame ntos.

É be m ve rdade que a de svalorização pré via e de suso, se não


e stive re m apropriadame nte re gistrados nos livros, pode m tornar
a de struição de sua proprie dade um de sastre , no saldo líquido,
maior do que pare ce . É també m ve rdade que a e xistê ncia de
fábricas e e quipame ntos novos ace le ra o de suso de fábricas e
e quipame ntos mais ve lhos. Se os proprie tários de ssas fábricas e
e quipame ntos mais ve lhos te ntasse m mantê -los e m uso por um
pe ríodo de te mpo mais longo, de modo a tirar maior prove ito
de le s, e ntão, os fabricante s cujas fábricas e e quipame ntos
fosse m de struídos (se supuse rmos que tive sse m vontade e capital
para substituí-los por fábricas e e quipame ntos novos) iriam obte r
uma vantage m comparativa ou, para se r mais pre ciso, re duziriam
sua pe rda comparativa.

Em re sumo, somos le vados a concluir que nunca é vantage m


te r as fábricas de struídas por granadas ou bombas, a me nos que
e stas fábricas já te nham se tornado se m valor ou adquirido um
valor ne gativo por de svalorização e de suso.

Alé m do mais, e m toda e sta argume ntação até agora


omitimos uma razão ce ntral. Fábricas e e quipame ntos não
pode m se r substituídos por uma pe ssoa (ou um gove rno
socialista), a me nos que e la ou e le adquira ou possa adquirir a
e conomia, a acumulação de capital, para faze r a substituição.
Mas a gue rra de strói capital acumulado.

É ve rdade que pode have r fatore s de compe nsação.


De scobe rtas e progre ssos te cnológicos durante a gue rra, por
e xe mplo, pode m aume ntar a produtividade nacional ou individual,
num ou noutro ponto, e , conse qüe nte me nte , pode have r uma
e le vação de lucro na produtividade total. A de manda de pós-
gue rra nunca re produzirá o mode lo e xato da de manda de ante s
da gue rra. Mas e stas complicaçõe s não de ve m impe dir-nos de
re conhe ce r que a ve rdade básica é que a de struição de vastadora
de qualque r coisa de re al valor é se mpre uma pe rda irre paráve l,
um infortúnio ou um de sastre e , quaisque r que se jam as
conside raçõe s de compe nsação, jamais se rá, no balanço final,
uma vantage m ou be ne fício.
CAPÍTULO IV
Obras públicas significam impostos

Não e xiste cre nça mais pe rsiste nte e mais influe nte , hoje e m
dia, que a cre nça nos gastos gove rname ntais. Em toda parte são
e le s apre se ntados como panacé ia para todos os nossos male s
e conômicos. Está a indústria privada parcialme nte e stagnada?
Pode mos re gularizá-la por me io de gastos gove rname ntais. Há
de se mpre go? Isso, obviame nte , é causado pe lo "insuficie nte pode r
aquisitivo particular". O re mé dio é , també m, óbvio. Tudo o que é
ne ce ssário é o gove rno de spe nde r o suficie nte para compe nsar a
"de ficiê ncia".

Conside ráve l lite ratura base ia-se ne sta falácia e , como muitas
ve ze s aconte ce com doutrinas de ssa e spé cie , tornou-se parte de
uma comple xa re de de falácias que se suste ntam mutuame nte .
Não pode mos, a e sta altura, inve stigar toda e ssa re de ;
voltare mos mais tarde a tratar de outros ramos de la. Mas
pode mos, aqui, e xaminar a falácia-mãe que de u nascime nto a
e ssa progê nie , a principal fonte da re de .

Tudo o que obte mos fora das dádivas livre s da nature za te m,


de ce rto modo, que se r pago. O mundo e stá re ple to de pse udo-
e conomistas que , por sua ve z, e stão che ios de planos para obte r
alguma coisa por nada. Dize m-nos que o gove rno pode gastar e
gastar se m absolutame nte tributar; que pode continuar a
acumular dívidas se m jamais as liquidar, já que "de ve mos a nós
me smos". Tratare mos de ssas e xtraordinárias te orias mais
adiante . Re ce io que , nisso, te nhamos de se r dogmáticos e
assinalar que sonhos tão agradáve is assim foram se mpre
de struídos pe la insolvê ncia nacional ou por uma inflação
galopante . De ve mos aqui dize r, simple sme nte , que todos os
gastos gove rname ntais te rão, praticame nte , que se r pagos com o
produto líquido da tributação. A própria inflação não passa
me rame nte de uma forma, uma forma particularme nte anormal,
de tributação.

Te ndo posto de lado, para poste riore s conside raçõe s, a re de


de falácias que se apóiam e m e mpré stimos crônicos do gove rno e
na inflação, admitire mos e m todo e ste capítulo que cada dólar
gasto pe lo gove rno de ve rá se r arre cadado ime diata ou
poste riorme nte por me io de imposto. Uma ve z que conside re mos
a que stão ne sse se ntido, os supostos milagre s dos gastos
gove rname ntais apare ce rão sob outro aspe cto.

Um ce rto montante de de spe sas públicas é ne ce ssário para


que o gove rno de se mpe nhe suas funçõe s e sse nciais. Uma ce rta
quantidade de obras públicas — ruas, e stradas, ponte s, túne is,
arse nais, e stale iros, e difícios para as asse mblé ias le gislativas,
de partame ntos de polícia e bombe iros — é ne ce ssária para
ate nde r aos se rviços públicos e sse nciais. Em tais obras públicas,
ne ce ssárias pe lo que re pre se ntam, e de fe ndidas some nte ne ssa
base , não e stou inte re ssado. Que ro aqui tratar das obras
públicas conside radas como me ios de "dar e mpre go" ou
aume ntar a rique za da comunidade , se m as quais isso não te ria
sido possíve l.

Constrói-se uma ponte . Se é construída para ate nde r a uma


de manda pública insiste nte , se soluciona um proble ma de tráfe go
ou de transporte , insolúve is sob outra forma, se , e m suma, é
mais ne ce ssária aos contribuinte s cole tivame nte que coisas com
as quais individualme nte gastariam se u dinhe iro, se e ste não lhe s
houve sse sido tirado atravé s dos tributos, não pode rá have r
obje ção. Mas uma ponte , construída principalme nte para "dar
e mpre go", é uma dife re nte e spé cie de ponte . Quando ofe re ce r
e mpre go constitui um fim, a ne ce ssidade torna-se uma
conside ração subordinada. Te m-se que inventar "proje tos". Em ve z
de pe nsare m ape nas nos locais e m que de ve m se r construídas as
ponte s, os re sponsáve is pe lo dinhe iro público come çam a indagar
a si me smos onde pode m construí-las. Pode m inve ntar razõe s
plausíve is pe las quais de ve uma nova ponte ligar Easton a We ston?
Bre ve isso se torna absolutame nte e sse ncial. Os que duvidam
de ssa ne ce ssidade são tachados de obstrucionistas e
re acionários.

Apre se ntam-se dois argume ntos para a ponte : um, o que se


ouve principalme nte ante s de se r construída; outro, o que
fre qüe nte me nte se ouve de pois de te rminada. O prime iro
argume nto é que a construção proporcionará e mpre go.
Proporcionará, digamos, 500 e mpre gos durante um ano. A
implicação disso é que e sse s e mpre gos, de outra forma, não
te riam surgido.

Isso é o que se vê de ime diato. Se e stamos, poré m, tre inados


para pode r ve r mais alé m, ve r as conse qüê ncias se cundárias,
alé m daque le s que são dire tame nte be ne ficiados por um proje to
gove rname ntal, ve r outros, os que passam a se r indire tame nte
afe tados, o quadro que se apre se nta é dife re nte . É ve rdade que
de te rminado grupo de construtore s re ce be mais ocupação, o que
não ocorre ria, não fosse a ponte . Esta, poré m, de ve se r paga
com os impostos, pois todo dinhe iro gasto te m que se r tirado dos
contribuinte s. Se a ponte custa de z milhõe s de dólare s, os
contribuinte s pe rde rão de z milhõe s. Se r-lhe s-á tirada a me sma
importância que , não fosse a construção, se ria de spe ndida e m
coisas de que ne ce ssitavam mais.

Portanto, para cada e mpre go público, criado pe lo proje to da


ponte , fica de struído, e m algum lugar, um e mpre go particular.
Pode mos obse rvar os ope rários e mpre gados na construção da
ponte . Pode mos obse rvá-los no trabalho. O argume nto por parte
do gove rno, de proporcionar e mpre go, torna-se vívido e ,
provave lme nte , convince nte para a maioria das pe ssoas. Há,
e ntre tanto, outras coisas que não ve mos porque , infe lizme nte ,
não se pe rmitiu que surgisse m. São os e mpre gos de struídos pe los
de z milhõe s de dólare s tirados dos contribuinte s. Quando muito,
tudo o que aconte ce u foi uma transferência de e mpre gos por causa
de um proje to. Mais ope rários para a construção da ponte ;
me nos ope rários para a indústria automobilística, me nos té cnicos
de rádio, me nos e mpre gados para fábricas de artigos de
ve stuário e para as faze ndas.

Che gamos, e ntão, ao se gundo argume nto. A ponte e xiste . É,


suponhamos, uma ponte re alme nte bonita. Surgiu graças à magia
dos gastos gove rname ntais. Que te ria aconte cido se os
obstrucionistas e os re acionários tive sse m imposto sua vontade ?
Não te ria havido a ponte . O país se te ria tornado mais pobre .

Nisso, os re sponsáve is pe lo dinhe iro público, outra ve z, le vam


a me lhor na discussão com todos aque le s que não sabe m ve r,
alé m do alcance ime diato de se us olhos. Pode m ve r a ponte . Mas,
se tive re m apre ndido a pe rce be r as conse qüê ncias indire tas da
me sma mane ira que as dire tas, pode m, mais uma ve z, ve r, com
os olhos da imaginação, possibilidade s que nunca che garão a
e xistir. Pode m ve r casas não construídas, automóve is, rádios,
ve stidos e pale tós não fabricados, e talve z alime ntos não
cultivados ne m ve ndidos. Ve r e sse s e le me ntos que não foram
criados re que r ce rta imaginação, que ne m todo mundo possui.
Pode mos, talve z, imaginar ime diatame nte e sse s obje tos não-
e xiste nte s, mas não pode mos mantê -los diante de nosso e spírito,
do me smo modo com que pode mos mante r a ponte que
atrave ssamos todos os dias, quando vamos para o trabalho.
Aconte ce u que , simple sme nte , foi criada uma coisa e m ve z de
outras.

O me smo raciocínio aplica-se , naturalme nte , a qualque r


outra e spé cie de obras públicas. Aplica-se també m, por e xe mplo,
à construção, com fundos públicos, de habitaçõe s para pe ssoas
de baixa re nda. O que aconte ce é que o dinhe iro é arrancado,
por me io de impostos, de famílias de re nda mais e le vada (e ,
talve z, até de famílias de re nda me nor), para forçá-las a financiar
famílias se le cionadas, de re nda infe rior, capacitando-as a vive re m
e m me lhore s moradias, pe lo me smo alugue l ante rior ou por
alugue l ainda mais baixo.

Não pre te ndo e smiuçar aqui todos os prós e contras na


construção de moradias com dinhe iros públicos. Inte re ssa-me
ape nas assinalar o e rro de dois dos argume ntos mais
fre qüe nte me nte apre se ntados a favor de sse tipo de construção.
Um, é o de que e la "cria e mpre gos"; o outro, que e la cria
rique zas, que , se m isso, não te riam sido produzidas. Ambos os
argume ntos são falsos, uma ve z que não le vam e m conside ração
o que se pe rde pe la tributação. A tributação para construção de
moradias, com fundos públicos, de strói tantos e mpre gos e m
outras atividade s, quanto cria na de construção. Re sulta e m não
se construíre m casas particulare s, e m não se fabricare m
máquinas de lavar roupa e re frige radore s e na falta de
inume ráve is outras me rcadorias e se rviços.

E nada disso é re spondido pe la e spé cie de re sposta que


assinala, por e xe mplo, o fato de a construção de moradias com
dinhe iros públicos não pre cisar se r financiada por uma quantia a
se r paga de uma só ve z, mas ape nas por me io de subsídios
anuais. Significa isso, simple sme nte , que o custo passa a se r
distribuído por muitos anos, e m ve z de conce ntrar-se num só.
Significa, també m, que o que se tira dos contribuinte s é
distribuído por muitos anos, e m ve z de conce ntrar-se num só.
Tais de talhe s té cnicos são irre le vante s para o ponto principal.

A grande vantage m psicológica a favor da construção de


moradias com dinhe iros públicos e stá e m ve re m-se home ns
trabalhando, e nquanto e stão se ndo construídas as casas, e que
e stas são vistas de pois de te rminadas. Passam a se r habitadas e
os moradore s, orgulhosame nte , mostram as de pe ndê ncias aos
amigos. Não se vê e m os e mpre gos de struídos pe los impostos
de stinados às moradias, ne m os be ns e se rviços que de ixaram de
se r fe itos. Exige um e sforço conce ntrado do pe nsame nto, e um
novo e sforço cada ve z que se vê e m as casas e se us fe lize s
moradore s, imaginar a rique za que e m ve z disso não foi criada. É
de surpre e nde r que os de fe nsore s da construção de moradias
com dinhe iros públicos não tive sse m conside rado e sse ponto, que
se lhe s é le vada ao conhe cime nto, tacham-no de pura
imaginação, de simple s obje çõe s te óricas, ao me smo te mpo e m
que re alçam as moradias públicas e xiste nte s. Isso faz le mbrar
um pe rsonage m de Saint Joan, de Be rnard Shaw, que , ao lhe
falare m sobre a te oria de Pitágoras, se gundo a qual a te rra é
re donda e gira e m torno do sol, re sponde u: "Que consumado
idiota! Não podia ve r isso com os próprios olhos?"

De ve mos aplicar o me smo raciocínio, mais uma ve z, aos


grande s proje tos, como o de Tennessee Valley Authority. Ali,
simple sme nte pe lo tamanho, o pe rigo da ilusão de ótica é maior
que nunca. Ali e stá uma gigante sca re pre sa, um formidáve l arco
de aço e concre to "maior que qualque r outro e mpre e ndime nto
que o capital privado pude sse te r construído", o fe tiche dos
fotógrafos, o paraíso dos socialistas, o símbolo mais
fre qüe nte me nte usado dos milagre s da construção, proprie dade
e ope ração públicas. Ali e stão gigante scos ge radore s e usinas de
força. Ali e stá toda uma re gião, diz-se , e le vada para o mais alto
níve l e conômico, atraindo fábricas e indústrias que , de outro
modo, não te riam e xistido. E tudo é apre se ntado, nos pane gíricos
de se us partidários, como ganho e conômico líquido, se m
contrapartidas.

Não pre cisamos, aqui, e ntrar no mé rito do TVA ne m no de


proje tos públicos se me lhante s. De sta ve z, e ntre tanto,
ne ce ssitamos de e spe cial e sforço de imaginação, de que poucas
pe ssoas são capaze s, para ve r o lado de ve dor da razão. Se os
impostos, arre cadados de pe ssoas e companhias, são aplicados
e m de te rminada re gião do país, por que motivo causaria
surpre sa, por que de ve ria se r conside rado milagre que e ssa
re gião se te nha tornado re lativame nte mais rica? Outras re giõe s
do país, de ve ríamos le mbrar-nos, se e ncontram, e ntão,
re lativame nte mais pobre s. Aque le e mpre e ndime nto tão grande
que "o capital privado não te ria podido re alizar", foi, na ve rdade ,
re alizado pe lo capital privado — pe lo capital e xpropriado
me diante imposto (ou, se o dinhe iro foi tomado como
e mpré stimo, acabará se ndo e xpropriado també m com impostos).
Pre cisare mos, novame nte , faze r um e sforço de imaginação para
ve rmos as usinas de força e as habitaçõe s particulare s, as
máquinas de e scre ve r e os apare lhos de te le visão, que não se
pe rmitiu vie sse m a surgir, porque o dinhe iro que se arrancara do
povo, e m todo o país, fora e mpre gado na construção da
fotogê nica Re pre sa de Norris.

Escolhi, propositadame nte , os mais favoráve is e xe mplos de


proje tos de dispê ndios públicos — isto é , os que são mais
fre qüe nte e arde nte me nte aconse lhados pe los age nte s
gove rname ntais e mais altame nte conside rados pe lo público. Não
fale i das ce nte nas de proje tos frívolos que , invariave lme nte ,
apare ce m logo que o obje tivo principal é "dar e mpre gos" e "pôr
ge nte a trabalhar". Isso porque , conforme vimos, a utilidade do
próprio proje to torna-se , ine vitave lme nte , conside ração
se cundária. Alé m disso, quanto mais e xtravagante a obra, quanto
mais dispe ndioso o trabalho, quanto maior o custo da mão-de -
obra, tanto me lhor para o obje tivo de proporcionar mais
e mpre gos. Sob tais circunstâncias, é altame nte improváve l que os
proje tos inve ntados pe los burocratas proporcione m o me smo
aume nto líquido à rique za e ao be m-e star, por dólar gasto, como
te ria sido proporcionado pe los próprios contribuinte s se ,
individualme nte , lhe s tive sse m pe rmitido comprar ou faze r o que
e le s me smos de se jasse m e m ve z de se re m forçados a e ntre gar
parte das suas poupanças ao Estado.
CAPÍTULO V
Os impostos de se ncorajam a produção

Existe , ainda, outro fator que torna improváve l que a rique za


criada pe los dispê ndios gove rname ntais se ja comple tame nte
compe nsada pe la rique za de struída pe los impostos lançados para
pagar tais dispê ndios. Não é , como tantas ve ze s se supõe , simple s
que stão de tirar algo do bolso dire ito da nação para colocá-lo no
e sque rdo. Os órgãos gove rname ntais dize m-nos, por e xe mplo,
que , se o re ndime nto nacional é de US$1,500 bilhõe s, os
impostos do gove rno, e ntão, de US$360 bilhõe s por ano, some nte
24% da re nda nacional e stavam se ndo transfe ridos de fins
particulare s para fins públicos. Isso é falar como se o país fosse
uma e ntidade da me sma e spé cie de uma grande companhia com
re cursos e m comum, e como se tudo que e stive sse e nvolvido
fosse simple s transação contábil. Os órgãos gove rname ntais
e sque ce m-se de que e stão tirando dinhe iro de A a fim de o
pagare m a B. Ou, e ntão, sabe m disso pe rfe itame nte , mas, ao
me smo te mpo e m que discorre m largame nte sobre todos os
be ne fícios do proce sso para B, e sobre todas as coisas
maravilhosas que e le te rá e que não te ria, se o dinhe iro não lhe
houve sse sido transfe rido, e sque ce m-se dos e fe itos da transação
sobre A. B é olhado e A e sque cido.

Em nossa socie dade mode rna, a porce ntage m do imposto


sobre a re nda arre cadado nunca é igual para todo mundo. A
grande carga de sse imposto re cai sobre pe que na porce ntage m do
re ndime nto da nação; e e ste imposto de ve se r suple me ntado por
outros de outra e spé cie . Esse s impostos, ine vitave lme nte , afe tam
a ação e os ince ntivos daque le s dos quais são cobrados. Quando
uma grande e mpre sa pe rde 100 ce ntavos de cada dólar, e le
pe rde , e some nte lhe pe rmite m conse rvar 60 ce ntavos de cada
dólar que ganha, e quando não pode compe nsar os anos de
pre juízos com os anos de lucros, ou não pode fazê -lo
ade quadame nte , sua política fica afe tada. A companhia não
e xpande as ope raçõe s ou e xpande some nte aque las que pode m
se r ate ndidas com um mínimo de risco. As pe ssoas que
re conhe ce m e ssa situação vê e m-se impe didas de iniciar novos
e mpre e ndime ntos. Assim, antigos e mpre gadore s não mais
e mpre gam ou não e mpre gam tantos quantos talve z
e mpre gasse m; e outros re solve m não mais se r e mpre gadore s.
Maquinaria ape rfe içoada e fábricas mais be m e quipadas passam
a surgir muito mais le ntame nte , dada e ssa situação. O re sultado,
a longo prazo, afinal, é ve re m-se os consumidore s impe didos de
conse guir produtos me lhore s e mais baratos, e não have r
me lhoria nos salários.

Há e fe ito se me lhante , quando os re ndime ntos pe ssoais são


tributados e m 50, 60 e 70% . As pe ssoas come çam a pe rguntar-
se por que de ve m trabalhar se is, oito ou nove me se s do ano todo
para o gove rno e some nte se is, quatro ou trê s me se s para si e
suas famílias. Se pe rde m o dólar inte iro, quando pe rde m, e
some nte pode m conse rvar ape nas uma fração de le quando
ganham, acham tolice assumir riscos com se u capital. Alé m disso,
o capital disponíve l para os riscos diminui conside rave lme nte .

Vai se ndo arre batado pe los tributos ante s que possa


acumular-se . Em sínte se , o capital para prove r novos e mpre gos
particulare s fica e m prime iro lugar impe dido de surgir, e a parte
que re alme nte surge não e ncontra e stímulo para criação de
novos e mpre e ndime ntos. Os órgãos do gove rno criam o proble ma
do de se mpre go que afirmam solucionar. Ce rta soma de impostos
é , na ve rdade , indispe nsáve l para o de se mpe nho de funçõe s
gove rname ntais e sse nciais. Impostos razoáve is para e sse obje tivo
não pre judicam muito a produção. A e spé cie de se rviços
gove rname ntais pre stados, e ntão, e m re tribuição — e que , e ntre
outras coisas, prote ge a própria produção — é mais que uma
compe nsação para isso. Mas quanto maior a porce ntage m da
re nda do povo arrancada, por me io de impostos, tanto maiore s
os e mpe cilhos à produção e aos e mpre gos de e ntidade s
particulare s. Quando o gravame do imposto vai alé m de uma
importância suportáve l, torna-se insolúve l o proble ma de criar
impostos que não de se ncoraje m e de sorganize m a produção.
CAPÍTULO VI
O cré dito de svia a produção

Tanto o "e ncorajame nto" do gove rno aos ne gócios, quanto sua
hostilidade de ve , às ve ze s, se r te mido. Este suposto
e ncorajame nto quase se mpre assume a forma de conce ssão
dire ta de cré ditos gove rname ntais ou de garantia de e mpré stimos
particulare s.

A que stão do cré dito gove rname ntal pode , às ve ze s, se r


complicada, porque e nvolve a possibilidade de inflação.
De ixare mos para um capítulo poste rior a análise dos e fe itos dos
vários tipos de inflação. Aqui, a be m da simplicidade , vamos
admitir que o cré dito, sobre o qual e stamos de bate ndo, se ja não-
inflacionário. A inflação, conforme ve re mos mais tarde ,
conquanto complique a análise , no fundo não muda as
conse qüê ncias das normas discutidas.

A proposta mais fre que nte de ssa e spé cie , no Congre sso
norte -ame ricano, é a de conce ssão de mais cré dito para os
faze nde iros. Se gundo o ponto de vista da maioria dos me mbros
do Congre sso, os faze nde iros não e stão, re alme nte , conse guindo
suficie nte cré dito. O cré dito, forne cido por companhias
hipote cárias particulare s, companhias de se guro ou bancos
rurais, nunca é "ade quado". O Congre sso e stá se mpre
e ncontrando novas falhas, que não são pre e nchidas pe las
instituiçõe s cre ditícias e xiste nte s, não importando quantas de las já
te nham sido criadas. Os faze nde iros pode m te r suficie nte cré dito
a longo ou a curto prazo, mas e m compe nsação não tê m
suficie nte cré dito "inte rme diário" — ora as taxas de juros são
de masiado altas, ora se que ixam de que os e mpré stimos privados
são conce didos some nte a faze nde iros ricos e be m apare lhados.
O Le gislativo vai, e ntão, criando suce ssivame nte novas instituiçõe s
de financiame nto e novos tipos de e mpré stimos agrícolas.
A fé e m toda e ssa política, vamos ve r adiante , advé m de dois
atos de impre visão. Um, é e ncarar a que stão ape nas do ponto de
vista dos faze nde iros, que tomam dinhe iro e mpre stado. O outro,
e stá e m pe nsar some nte na prime ira parte da transação.

Ora, aos olhos de pe ssoas hone stas todos os e mpré stimos


tê m, afinal, que se r pagos. Todo cré dito é dívida. As propostas
para aume nto do volume do cré dito, portanto, re pre se ntam
simple sme nte outro nome para propostas do aume nto da carga
das dívidas. Iriam pare ce r me nos atrae nte s se a e las,
habitualme nte , se re fe risse pe lo se gundo nome e m ve z de pe lo
prime iro.

Não pre cisamos discutir aqui os e mpré stimos normais que


são fe itos aos faze nde iros, por inte rmé dio de fonte s privadas.
Consiste m e le s e m hipote cas, e m cré ditos para pagame nto a
pre staçõe s, de stinados à aquisição de automóve is, re frige radore s,
apare lhos de TV, tratore s e outras máquinas agrícolas, e e m
e mpré stimos bancários, com os quais o faze nde iro possa ir
vive ndo até faze r a colhe ita, colocar a produção no me rcado e
pagá-los. É inte nção nossa ocupar-nos aqui só com os
e mpré stimos a faze nde iros, que r fe itos dire tame nte por algum
órgão gove rname ntal, que r por e ste garantidos.

Tais e mpré stimos são de dois principais tipos. Um é o


de stinado a capacitar o faze nde iro a conse rvar sua produção fora
do me rcado. É o tipo de e mpré stimo e spe cialme nte danoso*;
se rá, poré m, mais conve nie nte conside rá-lo mais adiante , quando
che garmos à que stão do controle de me rcadorias por parte do
gove rno. O outro é o e mpre gado para proporcionar capital para
o faze nde iro, muitas ve ze s, pode r e stabe le ce r-se
come rcialme nte , capacitando-o a comprar a própria faze nda,
uma mula ou um trator, ou todos os trê s.

À prime ira vista, as ale gaçõe s para e sse tipo de e mpré stimo
pode m pare ce r muito forte s. Conside re -se uma família pobre , ou
se ja, se m qualque r me io de subsistê ncia. Se rá crue ldade e
de spe rdício de ixá-la sob assistê ncia e conômica do gove rno.
Adquira-se e ntão uma faze nda para e la; arranje -se para que se
e stabe le ça come rcialme nte e que se us me mbros torne m-se
cidadãos produtivos e re spe itáve is; faça-se com que possam
contribuir para o aume nto da produção nacional e pagar o
e mpré stimo, após have re m produzido. Ou, e ntão, conside re mos
um faze nde iro que e ste ja moure jando com mé todos primitivos de
produção, por não dispor de capital para adquirir um trator.
Empre ste -se -lhe dinhe iro para comprar um. Pe rmitindo-se ,
assim, que aume nte sua produtividade , e le pode rá re sgatar o
e mpré stimo com o acré scimo do re ndime nto de suas colhe itas.
De sse modo, não só o e nrique ce re mos e o re e rgue re mos, como
e nrique ce re mos també m toda a comunidade , com o aume nto da
produção. E o e mpré stimo — conclui o argume nto — custará
me nos ao gove rno e aos contribuinte s, porque se rá
"autoliquidáve l".

Ora, e is, na re alidade , o que aconte ce todos os dias e m uma


instituição de cré dito privado. Se um home m de se ja comprar uma
faze nda e te m, digamos, ape nas me tade ou uma te rça parte do
dinhe iro corre sponde nte ao custo, um vizinho ou um banco
e mpre sta-lhe o dinhe iro re stante , me diante hipote ca da faze nda.

Se de se ja comprar um trator, o próprio fabricante ou uma


e mpre sa financiadora lhe pe rmitirá adquiri-lo, me diante
pagame nto da te rça parte do pre ço de compra, de ve ndo o
re stante se r pago e m pre staçõe s obtidas com a poupança, que o
próprio trator ajudou a conse guir.

Há, e ntre tanto, de cisiva dife re nça e ntre os e mpré stimos


forne cidos por particulare s e os forne cidos por um órgão
gove rname ntal. Todo e mpre stador particular arrisca se us
próprios fundos. (É ve rdade que o banque iro arrisca fundos de
outros que lhe foram confiados; mas, se pe rde r o dinhe iro, te rá
de compe nsar a pe rda com se us próprios fundos ou, e ntão, se rá
obrigado a abandonar o ne gócio.) Quando algué m põe e m risco
se us próprios re cursos, comume nte é cuidadoso e m suas
inve stigaçõe s, para de te rminar a ade quação do ativo e mpe nhado,
a pe rspicácia come rcial e hone stidade do tomador do
e mpré stimo.

Se o gove rno ope rasse com e ste me smo rigor, não have ria de
fato bom argume nto para sua e ntrada ne sse campo. Por que
faze r pre cisame nte o que os órgãos particulare s costumam
faze r? O gove rno, e ntre tanto, quase invariave lme nte , ope ra
obse rvando normas dife re nte s. Todo o argume nto para e ntrar
ne sse ne gócio de conce de r cré dito pre nde -se , re alme nte , ao fato
de que fará e mpré stimos a pe ssoas que não pode riam conse gui-
los de e ntidade s particulare s. Isso é , simple sme nte , outra
mane ira de dize r que os órgãos gove rname ntais assumirão riscos
com o dinhe iro de outras pe ssoas (os contribuinte s?); riscos que
os e mpre stadore s particulare s não assumiriam com se u próprio
dinhe iro. De fe nsore s de ssa política re conhe ce m, às ve ze s, que a
porce ntage m de pe rdas é mais alta nos e mpré stimos
gove rname ntais, que nos e fe tuados por particulare s. Afirmam,
poré m, que isso se rá compe nsado pe lo aume nto da produção,
trazido pe los tomadore s de e mpré stimos, que os re sgatam, e ,
me smo, pe la maioria dos que de ixam de re sgatá-los.

Esse argume nto pare ce rá plausíve l some nte e nquanto


conce ntrarmos a ate nção e m de te rminados tomadore s de
e mpré stimos, aos quais o gove rno forne ce os fundos, e
e sque ce rmos as pe ssoas, às quais se u plano priva de dinhe iro. O
que , na re alidade , e stá se ndo e mpre stado não é dinhe iro, que é
ape nas me io de inte rcâmbio, mas capital. (Já anuncie i ao le itor
que de ixare mos para tratar, mais adiante , das complicaçõe s que
uma e xpansão inflacionária de cré dito traz consigo.) O que
re alme nte e stá se ndo e mpre stado — digamos — é a faze nda ou
o próprio trator. Ora, o núme ro de faze ndas e xiste nte s é
limitado, assim como a produção de tratore s (admitindo-se ,
e spe cialme nte , que um e xce de nte e conômico de tratore s não
se ja produzido simple sme nte , à custa de outras me rcadorias). A
faze nda ou o trator, que e stão se ndo e mpre stados a A, não
pode m se r e mpre stados a B. A ve rdade ira que stão pre nde -se ,
portanto, ao se guinte : se é A ou B que m obte rá a faze nda.

Isto nos le va a comparar os mé ritos de A e B e a sabe r com


quanto cada um de le s contribui, ou quanto é capaz de contribuir
para a produção.

Digamos que A fosse o home m que obte ria a faze nda, se o


gove rno não inte rvie sse . O banque iro local ou se us vizinhos
conhe ce m-no, be m como a se us ante ce de nte s. De se jam
e ncontrar um e mpre go para se us fundos. Sabe m que é bom
faze nde iro e home m hone sto, que cumpre se mpre a palavra
dada. Conside ram-no bom risco. Talve z e le já te nha, por me io de
sua ope rosidade , frugalidade e pre visão, acumulado dinhe iro
suficie nte para pagar a quarta parte do pre ço da faze nda.
Empre stam-lhe as trê s quartas parte s re stante s e e le adquire a
faze nda.

Corre uma idé ia e stranha, mantida por todo financista


e xtravagante , que cré dito é algo que o banque iro dá a um
home m. Cré dito, no e ntanto, é algo que o home m já possui.
Te m-no, talve z, porque já possui um ativo ne gociáve l de valor
mone tário, maior que o e mpré stimo que e stá solicitando. Ou o
te m, porque se u caráte r e se us ante ce de nte s o conquistaram.
Le va-o consigo ao banco. Essa é a razão porque o banque iro lhe
faz o e mpré stimo. Este não lhe e stá dando algo por coisa alguma.
Está se guro de que se rá pago. Está simple sme nte trocando uma
forma mais líquida de ativo ou cré dito por uma forma me nos
líquida. Às ve ze s, come te um e rro, e , ne sse caso, não é só o
banque iro que m sofre , mas toda a comunidade , pois os valore s
que se supunha se riam produzidos pe lo tomador do e mpré stimo
não foram produzidos e , com isso, de spe rdiçaram-se os
re cursos.

Agora, digamos que o banque iro conce da o e mpré stimo de A,


que te m cré dito. O gove rno, poré m, e ntra no me rcado finance iro
com caridosa disposição de e spírito porque , conforme vimos, e stá
pre ocupado com B. B não pode conse guir uma hipote ca ou outro
e mpré stimo junto a capitalistas privados, porque não te m cré dito
com e le s. Não dispõe de poupanças, não consta de se u re gistro
te r sido bom faze nde iro e talve z e ste ja na ocasião, sob assistê ncia
gove rname ntal. Por que , indagam os de fe nsore s dos cré ditos
gove rname ntais, não o transformar num me mbro da socie dade ,
útil e produtivo, conce de ndo-Ihe cré dito suficie nte para adquirir
um sítio e uma mula, ou um trator, e e stabe le ce r-se
come rcialme nte ?

Talve z, e m de te rminados casos individuais, e ssa me dida dê


ce rto. Mas é óbvio que , e m ge ral, as pe ssoas e scolhidas, se gundo
e sse s padrõe s gove rname ntais ofe re ce rão riscos muito maiore s
que as e scolhidas, se gundo os padrõe s de e ntidade s privadas.
Pe rde r-se -á mais dinhe iro ao conce de r tais e mpré stimos. Have rá,
e ntre e las, maior porce ntage m de falê ncias, me nor e ficiê ncia,
maior de spe rdício de re cursos. Alé m disso, pe ssoas que re ce be m
cré dito gove rname ntal obte rão suas faze ndas e tratore s à custa
de outras, que te riam sido be ne ficiadas pe lo cré dito privado.
Como B conse gue uma faze nda, A ficará privado de te r uma. A
talve z se ja forçado a de sistir de uma, ou porque as taxas de juros
subiram, como re sultado das ope raçõe s do gove rno, ou porque ,
e m virtude de ssas ope raçõe s, os pre ços das faze ndas subiram,
ou porque não e xiste outra faze nda nas vizinhanças. Em todo
caso, o re sultado líquido das ope raçõe s de cré dito do gove rno não
foi aume ntar a importância da rique za produzida pe la
comunidade , mas re duzi-la, pois o e fe tivo capital disponíve l (que
na ve rdade é constituído de faze ndas, tratore s e tc.) foi colocado
e m mãos de de ve dore s me nos e ficie nte s, e m ve z de se r colocado
e m mãos de pe ssoas mais e ficie nte s e dignas de confiança.

O caso torna-se ainda mais claro se passarmos das faze ndas


para outras formas de ne gócio. Propõe -se , fre que nte me nte , que
o gove rno assuma os riscos "de masiado grande s para a indústria
privada".** Significa isso que se de ve pe rmitir aos burocratas
assumire m riscos com o dinhe iro dos contribuinte s; riscos que
ningué m e stá disposto a assumir com o se u.

Tal política acarre taria male s de muitas e spé cie s. Acarre taria
o favoritismo: pe la conce ssão de e mpré stimos a amigos, ou e m
paga de subornos. Le varia, ine vitave lme nte , a e scândalos.
Provocaria re criminaçõe s, se mpre que o dinhe iro dos
contribuinte s fosse de spe ndido com e mpre sas que falisse m.
Aume ntaria a e xigê ncia de uma política socialista: pois, pe rguntar-
se -ia muito justame nte , se o gove rno vai arcar com os riscos, por
que não re ce be r també m os lucros? Que justificativa pode have r,
de fato, para solicitar aos contribuinte s que assumam os riscos,
ao me smo te mpo e m que se pe rmite aos capitalistas particulare s
que conse rve m os lucros? (Isto, no e ntanto, é pre cisame nte o que
já faze mos, no caso de e mpré stimos do gove rno a faze nde iros
"se m re cursos", conforme ve re mos mais adiante .)

De ixe mos de lado, poré m, por e nquanto, todos e sse s male s,


e conce ntre mo-nos e m ape nas uma das conse qüê ncias dos
e mpré stimos de sse tipo. A conse qüê ncia e stá e m que e le s
de spe rdiçarão capital e re duzirão a produção. Lançarão o capital
disponíve l e m proje tos ruins ou, pe lo me nos, duvidosos. Lançá-lo-
ão e m mãos de pe ssoas me nos compe te nte s ou me nos dignas de
confiança que aque las que , de outro modo, pode riam tê -lo
obtido, pois a quantidade de capital e fe tivo e m qualque r
mome nto (que se distingue dos símbolos mone tários saídos de
uma impre ssora) é limitada. O que colocamos nas mãos de B não
pode se r colocado nas mãos de A.

Há pe ssoas que de se jam e mpre gar capital próprio. São,


poré m, caute losas. De se jam re ce bê -lo de volta. A maioria dos
conce ssore s de cré dito, portanto, inve stiga me ticulosame nte
qualque r proposta, ante s de ne la arriscar se u próprio dinhe iro.
Pe sam as pe rspe ctivas de lucro, contra as possibilidade s de
pe rda. Pode m, às ve ze s, e rrar. Mas, por dive rsas razõe s,
provave lme nte come te rão me nor núme ro de e rros que as
instituiçõe s gove rname ntais de cré dito. Em prime iro lugar, o
dinhe iro é de las ou foi-lhe s confiado voluntariame nte . No caso de
e mpré stimos fe itos pe lo gove rno, o dinhe iro é de outras pe ssoas
e foi-lhe s tirado, inde pe nde nte me nte do de se jo pe ssoal, por me io
de impostos. O capital privado se rá inve stido some nte onde se
e spe ra, com ce rte za, se ja amortizado e se jam pagos os juros.
Isso é sinal de que se e spe ra que as pe ssoas, às quais o dinhe iro
foi e mpre stado, produzirão, para o me rcado, me rcadorias que o
público re alme nte de se ja. O dinhe iro do gove rno, por outro lado,
provave lme nte se rá e mpre stado para algum propósito vago e
ge ral, como "criar e mpre go"; e quanto mais ine ficie nte for a obra
— isto é , quanto maior o volume de e mpre gos que e la re que r e m
re lação ao valor do produto — tanto mais prováve l se rá que o
inve stime nto se ja altame nte conside rado.

Os capitalistas particulare s, alé m disso, são se le cionados por


uma prova crue l do me rcado. Se come te re m e rros grave s,
pe rde rão se u dinhe iro e não te rão mais capital para e mpre star.
Some nte se fore m coroados de ê xito no passado, te rão mais
capital para e mpre star no futuro. Assim, os capitalistas
particulare s (salvo proporção re lativame nte pe que na dos que
te nham obtido fundos por me io de he rança) são rigidame nte
se le cionados por um proce sso de sobre vivê ncia dos mais aptos.
Os cre dore s gove rname ntais, por outro lado, ou são os que
foram aprovados nos concursos para o e xe rcício de cargos
públicos, e sabe m como re sponde r a pe rguntas hipoté ticas, ou
são os que pode m ofe re ce r as mais plausíve is razõe s para
conce de r e mpré stimos e as mais plausíve is e xplicaçõe s de que
não lhe s coube culpa, se houve malogro nos e mpré stimos que
conce de ram. Pe rmane ce , e ntre tanto, o re sultado líquido: nos
e mpré stimos de particulare s, utilizam-se re cursos e capitais
e xiste nte s muito me lhor que nos e mpré stimos do gove rno. Os
e mpré stimos gove rname ntais de spe rdiçarão muito mais capital e
re cursos que os de particulare s. Em suma: os e mpré stimos
gove rname ntais, comparados aos privados, re duzirão a produção,
não a aume ntarão.

A proposta de e mpré stimos gove rname ntais a indivíduos ou


proje tos particulare s, e m sínte se , vê B e se e sque ce de A. Vê as
pe ssoas e m cujas mãos é colocado o capital, ignora as que , de
outro modo, o te riam re ce bido. Vê o proje to para o qual se
conce de o capital e não conside ra os proje tos para os quais não
e xistiu capital. Vê o lucro ime diato de um grupo, omite as pe rdas
de outros grupos e a pe rda líquida da comunidade como um
todo.

É mais um e xe mplo da falácia de ve r ape nas um de te rminado


inte re sse a curto prazo, e e sque ce r o inte re sse ge ral, a longo
prazo.

Obse rvamos, no início de ste capítulo, que se de ve te me r a


"ajuda" gove rname ntal aos ne gócios tanto quanto sua hostilidade .
Aplica-se isso tanto aos subsídios, quanto aos e mpré stimos. O
gove rno jamais e mpre sta ou conce de algo às e mpre sas que de las
não re tire . Ouve m-se muitas ve ze s "ne w de ale rs", e outros
partidários do e statismo, vangloriare m-se da mane ira pe la qual o
gove rno ame ricano "amparou os negócios", e m 1932, e de pois, com
a Reconstruction Finance Corporation, a Home Owners Loan Corporation
e outros órgãos gove rname ntais, e m 1932 e mais tarde .
Aconte ce , poré m, que o gove rno não pode conce de r auxílio
finance iro a e mpre sas se m que , ante s ou de pois, o tire . Todos os
fundos do gove rno advê m de impostos. Me smo o muito alarde ado
"cré dito do gove rno" apóia-se na suposição de que os
e mpré stimos se rão finalme nte liquidados com o produto líquido
dos impostos. Quando o gove rno conce de e mpré stimos ou
subsídios às e mpre sas, o que e le faz é tributar as e mpre sas
privadas be m-suce didas, a fim de amparar as mal suce didas. Sob
ce rtas circunstâncias de e me rgê ncia, pode rá have r para isso
argume ntos plausíve is, cujos mé ritos não pre cisamos discutir aqui.
Mas, a longo prazo, isso não se afigura como proposição
compe nsadora, e ncarada do ponto de vista do país como um
todo. E a e xpe riê ncia te m de monstrado que não é .

* A tradução da frase foi alte rada. (Nota de re visão).

** A tradução da frase foi alte rada. (Nota de re visão).


CAPÍTULO VII
A maldição da maquinaria

Entre as mais viáve is de todas as ilusõe s e conômicas e stá a


cre nça de que a máquina, na re alidade , cria de se mpre go.
De struída mil ve ze s, te m re ssurgido se mpre das próprias cinzas
com a me sma firme za e o me smo vigor. Se mpre que há
prolongado de se mpre go e m massa, é a máquina que ,
novame nte , le va a culpa. Essa falácia é ainda a base de muitas
manife staçõe s de sindicatos. O público tole ra tais manife staçõe s
porque acre dita que , no fundo, e le s tê m razão, ou se nte -se
de masiado confuso para ve r com juste za por que e stão e rrados.

A cre nça de que as máquinas causam de se mpre go, quando


mantida com alguma consistê ncia lógica, conduz a ridículas
conclusõe s. De ve mos e star causando tanto de se mpre go com o
ape rfe içoame nto te cnológico de hoje e m dia, quanto o home m
primitivo de ve te r come çado a causar com os prime iros e sforços
fe itos no se ntido de poupar, para si, trabalho e suor inúte is.

Para não irmos muito longe , conside re mos The Wealth of


Nations, de Adam Smith, livro publicado e m 1776. O prime iro
capítulo de ssa notáve l obra intitula-se "Da divisão do trabalho", e
na se gunda página de sse prime iro capítulo o autor conta que um
ope rário, não familiarizado com o uso da máquina utilizada numa
fábrica de alfine te s, "dificilme nte faria um alfine te por dia e ,
ce rtame nte , não pode ria faze r vinte ", mas pode ria, com o uso
de ssa máquina, faze r 4.800 por dia. Assim, já ao te mpo de Adam
Smith — que lástima! — a máquina havia posto fora de trabalho
240 a 4.800 ope rários fabricante s de alfine te s para cada um que
pe rmane ce sse trabalhando. Na indústria de alfine te s já havia, se
por causa das máquinas os home ns ficasse m se m trabalho,
99,98% de de se mpre go. Pode ria have r situação mais ne gra que
e sta?
A situação podia tornar-se mais ne gra, pois a Re volução
Industrial e stava ape nas na infância. Conside re mos alguns dos
incide nte s e aspe ctos de ssa re volução. Ve jamos, por e xe mplo, o
que aconte ce u na indústria de me ias. Ao se re m introduzidas
novas máquinas de me ias, foram e las de struídas pe los ope rários
manufature iros (mais de 1.000 numa única de sorde m),
ince ndiaram-se casas, os inve ntore s foram ame açados de morte
e obrigados a fugir, e a orde m some nte foi re stabe le cida de pois
de chamados os militare s e pre sos ou e nforcados os cabe ças das
de sorde ns.

Ora, é importante te r e m me nte que , e nquanto os


de sorde iros e stavam pe nsando e m se u futuro ime diato ou,
me smo, e m se u futuro mais re moto, sua oposição à máquina e ra
racional, pois William Fe lkin, e m History of the Machine — Wrought
Hosiery Manufactures (1867), conta-nos (e mbora sua de claração não
pare ça plausíve l) que a maior parte dos 50.000 te ce lõe s de me ias
ingle sas e suas famílias não ficaram totalme nte livre s da fome e
da misé ria, causadas pe la introdução da máquina, durante os
quare nta anos se guinte s. Mas quanto à cre nça dos de sorde iros,
cuja maioria e stava indubitave lme nte imbuída de que a máquina
e stava substituindo pe rmane nte me nte os home ns, e ra e rrada,
pois ante s do fim do sé culo XIX a indústria de me ias e stava
e mpre gando pe lo me nos ce m home ns para cada um dos que
e mpre gara e m come ços daque le sé culo.

Arkwright inve ntou, e m 1760, sua máquina de te ce r algodão.


Calculava-se have r na Inglate rra, a e sse te mpo, 5.200 fiande iros
usando rocas de fiar e 2.700 te ce lõe s, ao todo, 7.900 pe ssoas
e mpre gadas na produção de te cidos de algodão. Houve oposição
à inve nção de Arkwright, sob a ale gação de que e la ame açava a
subsistê ncia dos ope rários, e e ssa oposição te ve que se r
dominada pe la força. Entre tanto, e m 1787 — vinte e se te anos
de pois do apare cime nto da inve nção — uma inve stigação
parlame ntar mostrou que o núme ro de pe ssoas que e stava
trabalhando e m fiação e te ce lage m de algodão havia subido de
7.900 para 320.000: um aume nto de 4.400% .

Se o le itor consultar Recent Economic Changes, livro de David A.


We lls, publicado e m 1889, e ncontrará passage ns que , e xce tuadas
as datas e as cifras absolutas apre se ntadas, pode riam te r sido
e scritas por nossos te cnófobos de hoje . Pe rmita-me o le itor citar
algumas:

Durante o de cê nio de 1870 a 1880, inclusive , a marinha


me rcante britânica aume ntou se u movime nto para ce rca de
22.000.000 de tone ladas, só e m maté ria de carre game ntos
para o e xte rior e de scargas; (...) e ntre tanto, o núme ro de
home ns e mpre gados na re alização de sse grande movime nto
diminuiu e m 1880, comparado ao de 1870, para ce rca de
3.000 (2.990, e xatame nte ). Que motivou tal diminuição? A
introdução de máquinas de içar a vapor e e le vadore s de grãos
e ce re ais nos cais e nas docas, o e mpre go de força a vapor
e tc.(...)

Em 1873, o aço de Be sse me r, na Inglate rra, cujo pre ço


não fora aume ntado pe las tarifas prote cionistas, e ra de
US$80 a tone lada; e m 1866 e ra fabricado com lucro e
ve ndido na me sma re gião, por me nos de US$20 a tone lada.
Ao me smo te mpo, a capacidade de produção anual de um
conve rsor Be sse me r aume ntara quatro ve ze s se m que se
aume ntasse o pre ço da mão-de -obra utilizada; e sta, pe lo
contrário, diminuiu (...)

A potê ncia, que já e stava se ndo produzida pe las máquinas


a vapor e xiste nte s no mundo, e e m ope ração no ano de
1887, foi calculada pe lo De partame nto de Estatística, e m
Be rlim, como e quivale nte à de 200.000.000 de cavalos,
re pre se ntando aproximadame nte a de 1.000.000.000 de
home ns; ou, pe lo me nos, trê s ve ze s a população obre ira da
te rra. (...)

Pe nsar-se -ia que a última cifra citada obrigasse Mr. We lls a


faze r uma pausa e me ditar por que ainda re stava algum e mpre go
no mundo e m 1889; e le , poré m, concluiu simple sme nte , com
discre to pe ssimismo, que : "sob tais circunstâncias, a
supe rprodução industrial (...) pode rá tornar-se crônica".

Na de pre ssão de 1932, come çou-se novame nte a lançar à


máquina a culpa pe lo de se mpre go. A te oria de um grupo que se
intitulava os Te cnocratas e spalhou-se , e m poucos me se s, pe lo
país, como um incê ndio numa flore sta. Não vou e nfastiar o le itor
com um re cital de cifras fantásticas, apre se ntadas por e sse
grupo, ou corrigi-las, para mostrar que fatos e ram os
ve rdade iros. Basta dize r que os Te cnocratas re tornaram ao e rro,
e m toda a sua pure za, de que a máquina substituía
pe rmane nte me nte o home m — e xce to que , e m sua ignorância,
apre se ntaram e sse e rro como de scobe rta nova e re volucionária.
Era, nada mais nada me nos, outra ilustração do aforismo de
Santayana, se gundo o qual os que não se le mbram do passado
e stão conde nados a re pe ti-lo.

O ridículo finalme nte liquidou os Te cnocratas, mas sua


doutrina, que os pre ce de ra, pe rmane ce . Re fle te -se e m ce nte nas
de re gulame ntos de sindicatos e na prática de "obrigar a dar
e mpre go"; e e sse s re gulame ntos e normas são tole rados e ,
me smo, aprovados e m virtude da confusão que , a e sse re spe ito,
paira sobre o e spírito do público.

Pre stando de claraçõe s e m nome do De partame nto de Justiça


dos Estados Unidos pe rante a Temporary National Economic Commitee
(mais conhe cida como TNEC) e m março de 1941, Corwin Edwards
citou inúme ros e xe mplos de tais práticas. O sindicato dos
e le tricistas, da cidade de Nova York, foi acusado de re cusar-se a
instalar e quipame nto e lé trico fabricado fora do Estado de Nova
York, a me nos que o e quipame nto fosse de smontado e
novame nte montado no local e m que de ve ria se r instalado. Em
Houston, Te xas, me stre s-e ncanadore s e o sindicato dos
e ncanadore s concordaram e m que canos pré -fabricados para
instalação se riam instalados pe los me mbros do sindicato some nte
se a rosca de uma das e xtre midade s do cano fosse cortada, para
que se pude sse acre sce ntar uma nova, no local da instalação.
Vários ramos do sindicato dos pintore s impuse ram re striçõe s ao
uso de re vólve re s-pulve rizadore s, re striçõe s, e m muitos casos,
ape nas para "obrigar a dar e mpre go", ao e xigire m a aplicação da
tinta com pince l, proce sso mais vagaroso. Um ramo do sindicato
dos condutore s de ve ículos e xigia que todo caminhão, que
e ntrasse na áre a me tropolitana de Nova York, tive sse um
motorista local, ao lado do motorista já e mpre gado. Em várias
cidade s, o sindicato dos e le tricistas e xigia que , se qualque r luz ou
força te mporária tive sse que se r usada numa construção, de via
se r mantida na obra um e le tricista com te mpo inte gral, ao qual
não se ria pe rmitido re alizar qualque r trabalho de e le tricidade .
Esse re gulame nto, se gundo Mr. Edwards: "implica, muitas ve ze s,
contratar um home m que passa o dia le ndo ou jogando paciê ncia,
não faze ndo coisa alguma a não se r manobrar a chave no
come ço e no fim do dia".

Pode r-se -ia prosse guir citando tais práticas de obrigar a dar
e mpre go e m muitos outros se tore s. Na indústria fe rroviária, os
sindicatos insiste m e m que se e mpre gue m foguistas e m tipos de
locomotivas, que de le s não ne ce ssitam. Nos te atros, sindicatos
insiste m no e mpre go de trocadore s de ce nários, me smo
tratando-se de pe ças nas quais não se usam ce nários. O sindicato
dos músicos e xige que se e mpre gue m músicos ou orque stras
inte iras e m muitos casos e m que some nte são ne ce ssários discos
e vitrolas.

Em 1961 não havia sinal de que a falácia houve sse


de sapare cido. Não ape nas os líde re s sindicais, mas funcionários
do gove rno, falavam sole ne me nte da "automação" como a
principal causa do de se mpre go. A automação foi de batida como
se fosse alguma coisa inte irame nte nova no mundo. Na ve rdade ,
foi ape nas um novo nome para o progre sso te cnológico contínuo e
outros avanços e m e quipame ntos de e conomia de trabalho.

Mas, me smo hoje , a oposição a me canismos de e conomia de


trabalho não fica ape nas e ntre le igos e m e conomia. Por volta de
1970, apare ce u um livro de um autor que até re ce be u o Prê mio
Nobe l e m e conomia. Se u livro opunha-se à introdução de
máquinas que e conomizam mão-de -obra nos paíse s
subde se nvolvidos, te ndo e m vista que e las "re duze m a de manda
de mão-de -obra"!1 A conclusão lógica disso se ria que o me io de
ge rar o maior núme ro de e mpre gos é tornar todo trabalho tão
ine ficie nte e improdutivo quanto possíve l. Isto significa que os
re voltosos ingle se s de Luddite , que no início do sé culo XIX
de struíram máquinas de te ce r me ias, te are s de máquina a vapor
e máquinas de tosque ar, ape sar de tudo, e stavam faze ndo a
coisa ce rta.

Cifras e cifras pode riam se r acumuladas para mostrare m


quão e rrados e stavam os te cnófobos do passado. De nada,
poré m, adiantaria, a me nos que compre e ndê sse mos por que
e stavam e rrados, pois e statísticas e histórias são inúte is e m
e conomia, salvo se vê m acompanhadas de compre e nsão dedutiva
básica dos fatos — o que , ne ste caso, significa compre e nsão da
razão por que tiveram que ocorre r as conse quê ncias do passado
com a introdução da máquina e de outros e le me ntos na
e conomia de mão-de -obra.

Por outro lado, afirmarão os te cnófobos (como de fato


afirmam quando se lhe s assinala que as profe cias de se us
pre de ce ssore s se mostraram absurdas): "Tudo isso pode ria muito
be m se r ce rto no passado; mas as condiçõe s atuais são
fundame ntalme nte dife re nte s; não pode mos de forma alguma,
agora, admitir o de se nvolvime nto de qualque r outra máquina que
ve nha poupar mão-de -obra." A Sra. Ele anor Roose ve lt, aliás,
e scre ve u numa coluna de jornal sindicalizado, e m 19 de se te mbro
de 1945: "Che gamos, hoje , a um ponto e m que os proce ssos
para e conomizar mão-de -obra só são bons quando não de ixam o
ope rário se m se u e mpre go."

Se , de fato, fosse ve rdade que a introdução da máquina que


poupa mão-de -obra é uma pe rmane nte causa do cre sce nte
de se mpre go e da misé ria, as conclusõe s lógicas que se tirariam
se riam re volucionárias, não só no campo té cnico, mas també m
no nosso conce ito de civilização. Não só te ríamos que conside rar
calamidade todo progre sso té cnico, como te ríamos que
conside rar com igual horror todo progre sso té cnico passado.
Todos os dias, cada um de nós, se gundo sua própria capacidade ,
e mpe nha-se e m re duzir o e sforço e xigido para conse cução de
de te rminado re sultado. Cada um de nós procura e conomizar se u
trabalho, e conomizar os me ios ne ce ssários para atingir se us fins.
Todo e mpre gador, pe que no ou grande , procura, constante me nte ,
conse guir se us re sultados de mane ira mais e conômica e mais
e ficie nte , isto é , poupando trabalho. Todo trabalhador inte lige nte
procura re duzir o e sforço ne ce ssário à re alização da tare fa que
lhe é atribuída. Os mais ambiciosos procuram, incansave lme nte ,
aume ntar os re sultados que pode m conse guir num de te rminado
núme ro de horas. Os te cnófobos, se fosse m lógicos e coe re nte s,
te riam que de ixar de lado todo e sse progre sso e e nge nho, não só
como inúte is, mas també m como pre judiciais. Por que de ve m se r
transportadas me rcadorias por e stradas de fe rro, de Nova York
a Chicago, se pode ríamos e mpre gar um núme ro
conside rave lme nte maior de home ns que carre gasse m todas e las
nos ombros?

Te orias falsas como e ssa não tê m consistê ncia lógica; mas


pre judicam bastante , só pe lo fato de se re m suste ntadas.
Procure mos, por e xe mplo, ve r e xatame nte o que aconte ce ,
quando se introduze m ape rfe içoame ntos té cnicos e máquinas que
e conomizam mão-de -obra. Os de talhe s variarão e m cada caso,
de pe nde ndo das condiçõe s particulare s que pre vale ce m e m cada
indústria ou pe ríodo. Admitamos, poré m, um e xe mplo que
e nvolve as principais possibilidade s.

Suponhamos que um fabricante de roupas ve nha a sabe r da


e xistê ncia de uma máquina capaz de faze r sobre tudos para
home ns e mulhe re s, pe la me tade da força trabalho que ante s
e mpre gava. Instala a máquina e de spe de me tade de se u
ope rariado.

Isso, à prime ira vista, pare ce e vide nte pe rda de e mpre go.
Mas a própria máquina e xigiu trabalho para se r construída; de
sorte que , e m compe nsação, foram criados e mpre gos que , de
outro modo, não e xistiriam. O fabricante , poré m, some nte
adotará a máquina se e la fize r me lhore s roupas com me tade da
mão-de -obra, ou a me sma e spé cie de roupas por me nor custo.
Se admitirmos e sse se gundo ponto, não pode re mos admitir que a
quantidade de mão-de -obra para construção da máquina se ja tão
grande , e m te rmos de folha de pagame nto, quanto a quantidade
de mão-de -obra que o fabricante de roupas e spe ra, afinal,
e conomizar, adotando a máquina; de outro modo não have ria
e conomia e o fabricante de roupas não a te ria adotado.

Te m-se ainda, portanto, que le var e m conta, uma pe rda


líquida de e mpre go. Mas de ve mos, pe lo me nos, le mbrar a re al
possibilidade de que o primeiro e fe ito da introdução da maquinaria
poupadora de trabalho pode se r, e m última instância, o de
aume ntar o e mpre go, porque , ge ralme nte , é só a longo prazo que
o fabricante de roupas e spe ra e conomizar dinhe iro ao adotar a
máquina; pode rá le var vários anos até que a máquina "se ja paga
por si me sma".
De pois que a máquina tive r produzido e conomia suficie nte
para compe nsar se u custo, o fabricante de roupas te rá mais
lucro que ante s. (Admitire mos que e le ape nas ve nda suas roupas
pe lo me smo pre ço dos concorre nte s e não faça e sforço algum
para ve nde r mais barato que e le s.) A e ssa altura, pode pare ce r
que a mão-de -obra te nha sofrido pe rda líquida de e mpre go, ao
passo que some nte o fabricante , o capitalista, é que m te nha
ganho. Mas é pre cisame nte de sse lucro e xtra que de ve m vir os
subse qüe nte s ganhos sociais. O fabricante e stará usando e sse
lucro e xtra, e m pe lo me nos, um de ste s trê s caminhos e ,
possive lme nte , usará parte de le e m todos trê s: 1) usará o lucro
e xtra na e xpansão de suas ope raçõe s, comprando outras
máquinas para confe ccionar maior núme ro de casacos; ou 2)
inve stirá o lucro e xtra e m alguma outra indústria; ou 3)
de spe nde rá o lucro e xtra aume ntando se u próprio consumo. Em
qualque r uma das trê s dire çõe s e stará aume ntando o e mpre go.

Em outras palavras: o fabricante , como re sultado de sua


e conomia, te m lucros que ante s não tinha. Todo dólar, que
e conomizou e m salários dire tos com os antigos ope rários, te m
agora que pagar, e m salários indire tos, ou aos que fabricam a
nova máquina ou a ope rários de outra indústria ou aos
construtore s de uma nova casa ou pe lo automóve l que comprar
para si ou pe las jóias e casacos de pe le que adquirir para a
e sposa. Em qualque r caso (a me nos que se ja um simple s
ame alhador), proporcionará, indire tame nte , tantos e mpre gos
quantos os que de ixou de proporcionar dire tame nte .

A que stão, e ntre tanto, não te rmina aqui. Se e sse fabricante


e mpre e nde dor, comparado com se us compe tidore s, faz grande s
e conomias, come çará a e xpandir suas ope raçõe s, a e xpe nsas
de le s, ou e le s també m come çarão a comprar máquinas.
Novame nte , mais trabalho se rá dado aos fabricante s de stas. Mas
a concorrê ncia e a produção come çarão, e ntão, a forçar a baixa
do pre ço dos sobre tudos. De ntro e m bre ve não mais have rá
lucros tão grande s para aque le s que adotam as novas máquinas.
A taxa de lucro dos fabricante s que as e mpre gam come ça a cair,
ao me smo te mpo e m que os fabricante s, que ainda não as
adotaram, talve z não obte nham lucro algum. As poupanças, e m
outras palavras, come çarão a passar para os compradore s de
sobre tudo — os consumidores.

Como, poré m, os sobre tudos são agora mais baratos, maior


núme ro de pe ssoas passa a comprá-los. Significa isso que ,
e mbora se ja me nor o núme ro de pe ssoas ne ce ssárias para a
fabricação da me sma quantidade ante rior de sobre tudos, maior
núme ro de ste s é fe ito agora. Se a de manda de sobre tudos for o
que os e conomistas de nominam "e lástica" — isto é , se uma que da
no pre ço faz com que maior quantidade de dinhe iro se ja agora
de spe ndida e m sobre tudos — e ntão, maior núme ro de ope rários
pode se r e mpre gado na fabricação de sobre tudos que ante s da
introdução das novas máquinas. Já vimos como isso na ve rdade
aconte ce u, historicame nte , com as me ias e com outros te cidos.

Mas o novo e mpre go não de pe nde da e lasticidade da


de manda de de te rminada me rcadoria. Suponhamos que , e mbora
o pre ço dos sobre tudos sofra um corte de quase 50% — um
pre ço antigo de , digamos, US$150 cai para US$100 —, não se
ve nda um único sobre tudo adicional. O re sultado se ria que ,
e nquanto os consumidore s e stive sse m be m providos de novos
sobre tudos, tanto quanto ante s, cada comprador te ria agora
US$50 de ixados de lado, o que ante s não se ve rificava.
De spe nde rá, portanto, e sse s US$50 e m outra coisa,
proporcionando, assim, aume nto de e mpre gos e m outros ramos.

Em sínte se : be m pe sado tudo, as máquinas, os


ape rfe içoame ntos te cnológicos, a automação, as e conomias e a
e ficiê ncia não de ixam os home ns se m trabalho.

3
É claro que ne m todas as inve nçõe s e de scobe rtas são
máquinas para "e conomizar mão-de -obra". Algumas de las, como
os instrume ntos de pre cisão, o náilon, a lucite , a made ira
compe nsada e plásticos de toda e spé cie , simple sme nte me lhoram
a qualidade dos produtos. Outras, como o te le fone ou o avião,
re alizam ope raçõe s que a mão-de -obra dire ta não pode ria
re alizar. Outras, ainda, dão orige m a obje tos e se rviços tais como
o raio X, os rádios, apare lhos de TV, de ar-re frige rado e
computadore s que , de outro modo, ne m se que r e xistiriam. No
e xe mplo pre ce de nte , e ntre tanto, conside ramos pre cisame nte a
e spé cie de máquina que te m sido obje to e spe cial da te cnofobia
mode rna.

É possíve l, naturalme nte , ir mais longe com o argume nto de


que as máquinas não de ixam os home ns de se mpre gados. Ale ga-
se , às ve ze s, que e las criam, por e xe mplo, mais e mpre gos que ,
de outra forma, não te riam e xistido. Em ce rtas condiçõe s isso
talve z se ja ve rdade . Em determinados ramos de negócios e las pode rão
criar um núme ro conside rave lme nte maior de e mpre go. As cifras
do sé culo XVIII, re lativas às indústrias tê xte is, ofe re ce m típico
e xe mplo. Se us corre latos mode rnos não se apre se ntam me nos
surpre e nde nte s. Em 1910, 140.000 pe ssoas e stavam
e mpre gadas, nos Estados Unidos, na indústria automobilística
re ce nte me nte criada. Em 1920, com o ape rfe içoame nto e com a
re dução do custo do produto, a indústria e mpre gava 250.000
pe ssoas. Em 1930, continuando o ape rfe içoame nto e a re dução
do custo, o núme ro de e mpre gados na indústria e ra de 380.000.
Em 1973 subiu para 941.000. Por volta de 1973, 514.000 pe ssoas
e stavam e mpre gadas na fabricação de ae ronave s e pe ças de
ae ronave s e outras 393.000 na indústria de compone nte s
e le trônicos. E o me smo ocorre u e m cada uma das novas
indústrias que , suce ssivame nte , se criaram, à me dida que se
ape rfe içoavam as inve nçõe s, e se re duzia o custo dos produtos.

Pode -se també m dize r, com absoluto bom se nso, que as


máquinas aume ntaram conside rave lme nte o núme ro de
e mpre gos. A população do mundo, hoje e m dia, é quatro ve ze s
maior que a de me ados do sé culo XVIII, ante s de a Re volução
Industrial e star e m ple na marcha. Pode -se dize r que a máquina
de u orige m a e sse aume nto da população, pois se m as máquinas
o mundo não te ria podido suste ntá-la. Pode -se dize r, portanto,
que trê s e m quatro pe ssoas de ve m à máquina não só o e mpre go,
como també m, a própria vida.

Entre tanto, é pre conce ito pe nsar que a função ou o re sultado


da máquina se ja basicame nte criar empregos. Se u ve rdade iro
obje tivo é aume ntar a produção, e le var o padrão de vida e o be m-
e star e conômico. Não é fácil e mpre gar todo mundo, me smo (ou
e spe cialme nte ) na mais primitiva e conomia. Ple no e mpre go —
e mpre go inte gral, de morado e que re que r e sforço — é uma
caracte rística, pre cisame nte , das naçõe s industrialme nte mais
atrasadas. Onde ainda e xistir ple no e mpre go, novas máquinas,
inve nçõe s e de scobe rtas não pode m — até have r te mpo para
aume nto da população — proporcionar mais e mpre gos.
Provave lme nte trarão mais de se mpre go (de sta ve z e stou falando
de de se mpre go voluntário e não involuntário), já que as pe ssoas
pode m agora trabalhar me nor núme ro de horas, e nquanto as
crianças e as pe ssoas de idade avançada não mais trabalharão.

O que as máquinas faze m, re pe tindo, é causar aume nto da


produção e me lhoria do padrão de vida. Pode m fazê -lo de duas
mane iras, qualque r que se ja: tornando as me rcadorias mais
baratas para os consumidore s (como e m nosso e xe mplo dos
sobre tudos) ou proporcionando aume nto de salários e m razão do
aume nto da produtividade dos ope rários. Em outras palavras: ou
aume ntam os salários ou, re duzindo os pre ços, aume ntam os
be ns e se rviços que e sse s me smos salários pode rão comprar. Às
ve ze s faze m as duas coisas. O que de fato aconte ce de pe nde , e m
grande parte , da política mone tária se guida no país. Mas, se ja
como for, as máquinas, inve nçõe s e de scobe rtas aume ntam o
salário real.

É ne ce ssário uma adve rtê ncia ante s de passarmos a outro


assunto. O grande mé rito dos e conomistas clássicos foi,
pre cisame nte , procurare m conse qüê ncias se cundárias,
pre ocupare m-se com os e fe itos de de te rminada política
e conômica ou o de se nvolvime nto a longo prazo e com a
comunidade como um todo. Mas també m tive ram se us de fe itos,
quando, raciocinando a longo prazo e e m te rmos amplos, muitas
ve ze s se e sque ce ram de conside rar os fatos a curto prazo e e m
âmbito e stre ito. Estavam, quase se mpre , inclinados a minimizar
ou e sque ce r comple tame nte os e fe itos ime diatos do
de se nvolvime nto e m grupos particulare s. Vimos, por e xe mplo,
que muitos dos ope rários ingle se s das fábricas de me ias
sofre ram ve rdade ira tragé dia com a introdução de novas
máquinas de te ce r, uma das prime iras inve nçõe s da Re volução
Industrial.

Mas tais fatos e sua contrapartida mode rna tê m le vado alguns


autore s ao e xtre mo oposto, ao conside rare m some nte os e fe itos
ime diatos sobre ce rtos grupos. Joe Smith pe rde o e mpre go e m
razão da introdução de alguma nova máquina. "Fique m de olho
e m Joe Smith" — insiste m e sse s autore s. "Não o pe rcam de
vista." Mas o que e ntão se come ça a faze r é ficar de olho somente
e m Joe Smith, e e sque ce r Tom Jone s, que acabara de obte r um
novo e mpre go, na fabricação da nova máquina, e de Te d Brown,
que arranjou e mpre go como se u ope rador, assim como de Daisy
Mille r, que pode agora comprar um casaco pe la me tade do pre ço
que costumava pagar. E, por pe nsar-se some nte e m Joe Smith,
te rmina-se de fe nde ndo uma política re acionária e se m se ntido.

Sim, de ve mos mante r Joe Smith sob nossas vistas. Pe rde u o


e mpre go por causa da nova máquina. Talve z possa conse guir logo
outro, até me lhor. Mas talve z te nha de dicado muitos anos de sua
vida para obte r o ape rfe içoame nto de uma habilidade
e spe cializada para a qual o me rcado não e ncontra mais qualque r
utilidade . Pe rde u o inve stime nto e m si me smo, e m sua antiga
habilidade , do me smo modo que se u antigo patrão talve z te nha
pe rdido seu inve stime nto e m máquinas antigas ou e m proce ssos
que , subitame nte , se tornaram obsole tos. Era um ope rário
e spe cializado, e se u salário e ra o salário pago a ope rários
e spe cializados. Tornou-se agora, da noite para o dia, novame nte ,
um ope rário não e spe cializado e , no mome nto, só pode e spe rar
salário de trabalhador comum, pois sua capacidade e spe cial não
mais é ne ce ssária. Não pode mos e não de ve mos e sque ce r-nos de
Joe Smith. A tragé dia de le é uma das tragé dias pe ssoais que ,
conforme ve re mos, pode m ocorre r e m quase todo progre sso
industrial e e conômico.

Pe rguntar pre cisame nte qual a atitude a tomar e m re lação a


Joe Smith — se de ve mos de ixar que e le faça sua própria
adaptação, se de ve mos inde nizá-lo, compe nsá-lo pe lo
de se mpre go ou ampará-lo ou tre iná-lo, a e xpe nsas do gove rno,
para conse guir novo e mpre go — se ria le var-nos para alé m do
ponto que , aqui, e stamos procurando e xe mplificar. A lição
fundame ntal e stá e m que de ve mos te ntar ve r todas as principais
conse qüê ncias de qualque r política ou de se nvolvime nto e conômico
— os e fe itos ime diatos e m grupos e spe ciais e , també m, os e fe itos
a longo prazo e m todos os grupos.

Se de dicamos conside ráve l e spaço a e sse proble ma é porque


nossas conclusõe s a re spe ito de novas máquinas, inve nçõe s e
de scobe rtas sobre o de se mpre go, produção e be m-e star são
cruciais. Se e stamos e rrados no tocante a e sse s proble mas,
outras coisas há, na e conomia, sobre as quais provave lme nte
e stamos ce rtos.
1 Gunnar Myrdal, The Challenge of World Poverty (Ne w York:

Panthe on Books, 1970), pp. 400-01 e passim.


CAPÍTULO VIII
Esque mas de difusão do trabalho

Re fe ri-me a várias práticas de sindicatos ope rários para


obrigare m a dar e "amole ce r" o trabalho. Tais práticas, e a
tole rância do público para com e las, originam-se da me sma
falácia fundame ntal que é o te mor pe las máquinas. É a cre nça de
que um proce sso mais e ficie nte de produção de strói e mpre gos, e
e m se u corolário natural de que um proce sso me nos e ficie nte os
cria.

Aliada a e ssa falácia e stá a cre nça de que e xiste ape nas uma
quantidade fixa de trabalho a se r fe ito no mundo e que , se não
pode mos aume ntá-lo, inve ntando proce ssos mais e mbaraçosos
para a produção, pode mos, pe lo me nos, pe nsar nos me ios de
difundi-lo pe lo maior núme ro possíve l de pe ssoas.

Esse e rro e stá subjace nte às pe que nas subdivisõe s da mão-


de -obra nas quais os sindicatos ope rários insiste m. No se tor de
construçõe s, nas grande s cidade s, a subdivisão é notória. Não se
pe rmite que asse ntadore s de tijolos use m pe dras numa chaminé :
isso é trabalho e spe cial de pe dre iros. Um e le tricista não pode
arrancar uma tábua para faze r uma ligação e lé trica e colocá-la
novame nte no lugar: é tare fa e spe cial de carpinte iros, me smo
que se ja trabalho muito simple s. Um e ncanador não tira ne m
re põe no lugar um ladrilho, ao conse rtar um vazame nto num
chuve iro: é tare fa de um ladrilhe iro.

Furiosas gre ve s de "jurisdição" são travadas e ntre sindicatos,


pe lo dire ito e xclusivo de e xe rce r ce rtas tare fas limítrofe s e ntre
profissõe s. Num re latório re ce nte me nte pre parado, para a
Comissão da Procuradoria Ge ral sobre a Conduta Administrativa,
pe las fe rrovias ame ricanas, e stas apre se ntaram inúme ros
e xe mplos sobre os quais o Conse lho de Ajustame nto das
Fe rrovias Nacionais havia de cidido que cada ope ração distinta, na
e strada de fe rro, por me nor que se ja, tal como falar ao te le fone
ou pre gar ou de spre gar um cravo, é função e xclusiva de
de te rminada classe de e mpre gados, de tal modo que , se o
e mpre gado de outra classe , no de curso de suas obrigaçõe s
re gulare s, e xe cutar tais ope raçõe s, não só lhe de ve rá se r pago o
salário e xtra de um dia por fazê -las, mas també m aos me mbros
da classe , não convocados ou de se mpre gados, de ve rão se r pagos
os salários de um dia por não te re m sido chamados para
e xe cutá-las.

É ve rdade que algumas pe ssoas se be ne ficiam, a e xpe nsas


das de mais, com e ssa pe que nina e arbitrária subdivisão da mão-
de -obra, contanto que isso aconte ça ape nas no caso de las. Mas
aque le s que a apoiam como prática ge ral não pe rce be m que isso
e le va se mpre o custo da produção e te m como re sultado, no final
das contas, me nos trabalho e fe tuado e me nor produção de be ns.
O dono da casa, forçado a e mpre gar dois home ns para faze re m
o trabalho de um, na ve rdade e stá e mpre gando mais um
home m. Com isso, poré m, ficou com me nos dinhe iro para gastar
com alguma coisa que pe rmitiria e mpre gar mais algué m. Como
se u banhe iro foi re parado pe lo dobro do pre ço que te ria custado
o se rviço, re solve não comprar o novo sué te r que de se java. A
"mão-de -obra" não se e ncontra, assim, e m me lhor situação,
porque o e mpre go de um dia de um ladrilhe iro de sne ce ssário
significa o de se mpre go de um dia de um te ce lão ou de um
ope rador de máquina. O dono de casa, e ntre tanto, e ncontra-se
e m pior situação. Em ve z de te r um chuve iro conse rtado e um
sué te r, te m o chuve iro e ne nhum sué te r. E se contarmos o
sué te r como parte da rique za nacional, ficará o país com falta de
um sué te r. Isso simboliza o re sultado líquido do e sforço de faze r
trabalho e xtra, atravé s de arbitrária subdivisão da mão-de -obra.

Há, e ntre tanto, outros e sque mas para "difundir o trabalho",


quase se mpre apre se ntados pe los porta-voze s de sindicatos e
le gisladore s. O mais fre que nte é a proposta para abre viar a
se mana de trabalho, ge ralme nte por me io de le i. A cre nça de
que isso "difundiria o trabalho" e "daria mais e mpre gos" foi uma
das principais razõe s subjace nte s à inclusão do dispositivo da Le i
Fe de ral sobre Salário-Hora, que instituiu pe nalidade por horas
e xtras. A le gislação ante rior dos Estados Unidos, que proibiu o
e mpre go de mulhe re s ou me nore s por mais, digamos, de
quare nta e oito horas se manais, base ava-se na convicção de que
maior núme ro de horas pre judicava a saúde e a moral. Parte
de ssa le i base ava-se na cre nça de que maior núme ro de horas de
trabalho pre judicava a e ficiê ncia. Mas o dispositivo da le i fe de ral,
se gundo o qual um e mpre gador de ve pagar ao ope rário 50% de
prê mio acima de se u salário re gular, por todas as horas que
trabalhou acima de quare nta e m qualque r se mana, não se
base ava, primariame nte , na cre nça de que quare nta e cinco
horas por se mana, digamos, e ra pre judicial que r à saúde , que r à
e ficiê ncia. Foi incluído, e m parte , na e spe rança de e le var o
re ndime nto se manal do ope rário e , e m parte , na e spe rança de
que , de se ncorajando o patrão de e mpre gar algué m re gularme nte
por mais de quare nta horas por se mana, a le i o forçaria, assim,
a e mpre gar mais ope rários. Ao te mpo e m que e scre vo e ste livro,
e xiste m muitos e sque mas para "e vitar de se mpre go", de cre tando
uma se mana de trinta horas de trabalho ou uma se mana de
quatro dias.

Qual o ve rdade iro e fe ito de tais planos, se le vados a cabo por


sindicatos ou pe la le gislação? O proble ma se rá e sclare cido, se
conside rarmos dois casos. O prime iro, re duzir a se mana de
trabalho-padrão de quare nta horas para trinta, se m qualque r
mudança do salário-hora. O se gundo, re duzir a se mana de
trabalho de quare nta para trinta horas, mas com suficie nte
aume nto do pagame nto do salário-hora, a fim de mante r o
me smo salário se manal para os ope rários já e mpre gados.

Conside re mos o prime iro caso. Admitamos que a se mana de


trabalho se ja re duzida de quare nta horas para trinta, se m
modificação no salário-hora. Se houve r substancial de se mpre go,
quando e sse plano for posto e m e xe cução, o plano
proporcionará, se m dúvida, e mpre gos adicionais. Não pode mos
supor que proporcione suficie nte núme ro de e mpre gos adicionais,
e mbora mante nha a me sma folha de pagame nto e o me smo
núme ro de home ns-hora, como ante riorme nte , a me nos que
façamos suposiçõe s improváve is de que , e m cada indústria, haja
e xatame nte a me sma porce ntage m de de se mpre go e que os
novos home ns e mulhe re s e mpre gados não são, e m mé dia,
me nos e ficie nte s e m suas tare fas e spe ciais, que os que já
e stavam e mpre gados. Mas admitamos tais suposiçõe s. Admitamos
que haja o núme ro ce rto de ope rários adicionais de cada ofício e
que os novos e mpre gados não e le vam o custo da produção. Qual
se rá o re sultado de re duzir a se mana de trabalho de quare nta
horas para trinta (se m qualque r aume nto no pagame nto do
salário-hora)?

Embora maior núme ro de ope rários se jam e mpre gados, cada


um e stará trabalhando me nor núme ro de horas e não have rá,
portanto, ne nhum aume nto líquido e m home ns-hora. Não é
prováve l que haja significativo aume nto na produção. A folha de
pagame nto total e "o pode r aquisitivo" não se rão maiore s. Tudo o
que te rá aconte cido, me smo sob as mais favoráve is hipóte se s
(que dificilme nte se concre tizariam) é que os ope rários
ante riorme nte e mpre gados subsidiarão, com e fe ito, os que
e stavam ante riorme nte de se mpre gados. Pois, a fim de que novos
e mpre gados re ce bam, individualme nte , trê s quartas parte s de
tantos dólare s por se mana, tanto quanto os antigos costumavam
re ce be r, e ste s últimos agora re ce be rão, individualme nte , ape nas
trê s quartos do salário se manal que ante riorme nte re ce biam. É
ve rdade que os antigos ope rários trabalharão, e ntão, me nor
núme ro de horas; mas e ssa compra de mais laze r, a alto pre ço,
pre sumive lme nte não se rá uma de cisão que tive sse m tomado e m
be ne fício próprio: é sacrifício que fize ram para proporcionar
e mpre gos a outre m.
Os líde re s dos sindicatos trabalhistas, que e xige m se manas
mais curtas, a fim de "difundir o trabalho", ge ralme nte
re conhe ce m e sse ponto, mas, ape sar disso, apre se ntam a
proposta sob uma forma e m que é suposto que todos te nham o
dire ito de come r se u pe daço do bolo. Re duza-se a se mana de
trabalho de quare nta horas para trinta, dize m-nos, a fim de
proporcionar mais e mpre gos, mas compe nse -se a se mana mais
curta aumentando de 33,33% o salário-hora. Os ope rários
e mpre gados, dize m, e stavam ante riorme nte ganhando a mé dia
de US$226 por se mana de quare nta horas; a fim de que possam
ainda ganhar US$226, trabalhando ape nas trinta horas por
se mana, de ve -se aume ntar o salário-hora para uma mé dia de
mais de US$7.53.*

Quais se riam as conse quê ncias de tal plano? A prime ira e


mais óbvia se ria e le var o custo da produção. Se admitirmos que
os trabalhadore s, quando ante riorme nte trabalhavam 40 horas,
e stavam ganhando me nos do que o níve l dos custos de produção,
tornando possíve is os pre ços e os lucros, pode riam e ntão te r um
aume nto do salário-hora, sem re dução da jornada de trabalho.
Por outras palavras, pode riam te r trabalhado o me smo núme ro
de horas e re ce bido se u re ndime nto se manal total aumentado de
umterço, e m ve z de re ce be r, ape nas, como aconte ce sob a nova
se mana de trinta horas, o me smo re ndime nto se manal ante rior.
Se , poré m, pe la se mana de quare nta horas, os ope rários já
e stavam re ce be ndo um salário tão e le vado quanto o níve l dos
custos de produção e pre ços tornavam possíve l (e o próprio
de se mpre go, que e stão procurando e liminar, talve z se ja sinal de
que já e stavam re ce be ndo ainda mais que isso), e ntão o aume nto
no custo de produção, como re sultado do aume nto de 33,33% do
salário-hora, se rá muito maior que a atual situação de pre ços,
produção e custo pode suportar.

O re sultado de sse índice mais alto de salário se rá, portanto,


muito maior de se mpre go do que ante s. As firmas me nos
e ficie nte s se rão e liminadas e os ope rários me nos e ficie nte s
pe rde rão o e mpre go. A produção ficará re duzida e m todos os
se tore s. Custo de produção mais e le vado e ofe rtas mais e scassas
te nde rão a e le var os pre ços, de sorte que os ope rários
comprarão me nos com os me smos salários; por outro lado, o
aume nto do de se mpre go diminuirá a de manda e , com isso,
te nde rá a baixar os pre ços. O que finalme nte aconte ce r aos
pre ços das me rcadorias de pe nde rá da política mone tária e ntão
se guida. Poré m, se for posta e m prática uma política de inflação
mone tária que possibilite a e le vação dos pre ços, a fim de que se
possa pagar maior salário-hora, se rá isso ape nas um me io
disfarçado de re duzir o salário real, e assim voltar, e m te rmos da
quantidade de me rcadorias que possam se r compradas, ao
me smo salário re al ante rior. O re sultado se ria, e ntão, o me smo,
como se a se mana de trabalho houve sse sido re duzida, sem
aume nto do salário-hora. E os re sultados disso já foram
discutidos.

Os e sque mas de "difusão do trabalho", e m re sumo, apóiam-


se na me sma e spé cie de ilusão por nós já conside rada. As
pe ssoas que os de fe nde m pe nsam ape nas no e mpre go que e le s
proporcionariam a de te rminadas pe ssoas ou grupos; não che gam
a conside rar qual se ria o e fe ito comple to sobre todo mundo.

Os e sque mas de "difusão do trabalho" apóiam-se , també m,


conforme come çamos a assinalar, na falsa idé ia de que há uma
quantidade fixa de trabalho a se r fe ito. Não pode ria have r maior
falácia que e ssa. Não há limite à quantidade de trabalho a se r
fe ito, e nquanto qualque r ne ce ssidade ou de se jo humanos, que o
trabalho possa pre e nche r, pe rmane ce re m insatisfe itos. Numa
e conomia mode rna de inte rcâmbio, maior quantidade de
trabalho se rá re alizada quando pre ços, custos e salários
guardare m e ntre si me lhore s re laçõe s. Conside rare mos, mais
adiante , que re laçõe s são e ssas.
* A tradução da frase foi alte rada. (Nota de re visão).
CAPÍTULO IX
A dispe rsão de tropas e burocratas

Quando, de pois de cada grande gue rra, é fe ita a


de smobilização das forças armadas, e xiste se mpre o grande
re ce io de que não haja núme ro suficie nte de e mpre gos para os
compone nte s de ssas forças que , e m conse qüê ncia, ficarão
de se mpre gados. É ve rdade que , quando milhõe s de home ns são
de smobilizados subitame nte , talve z de mande te mpo para que a
indústria privada os re absorva, se be m que , no passado, te nha
sido re alme nte e xtraordinária a rapide z com que isso se re alizou.
O re ce io do de se mpre go surge porque as pe ssoas e ncaram o
proce sso some nte sob um único aspe cto.

Vê e m soldados de smobilizados e ntrare m no me rcado da


mão-de -obra. Onde e stá o "pode r aquisitivo" para e mpre gá-los?
Se admitirmos que o orçame nto público e stá se ndo e quilibrado, a
re sposta se rá simple s. O gove rno ce ssará de suste ntar os
soldados. Mas aos contribuinte s se rá pe rmitido re te r os fundos
que ante riorme nte lhe s e ram tomados para mante r os soldados.
E os contribuinte s te rão, assim, fundos adicionais para comprar
be ns adicionais. Em outras palavras, a de manda dos civis
aume ntará e dará e mpre go à nova força de trabalho
re pre se ntada pe los soldados.

Se os soldados foram suste ntados por um orçame nto não-


e quilibrado — isto é , por e mpré stimos fe itos pe lo gove rno e
outras formas de financiame nto do dé ficit —, o caso é um tanto
dife re nte . Isso, poré m, suscita que stão dife re nte :
conside rare mos os e fe itos de financiar o dé ficit num capítulo
poste rior. Basta re conhe ce r que financiar o dé ficit é irre le vante
para o caso que foi assinalado, pois, se admitirmos que há
vantage m num dé ficit orçame ntário, e ntão pre cisame nte e sse
me smo dé ficit orçame ntário pode ria se r mantido, como ante s,
re duzindo-se simple sme nte os impostos da importância
ante riorme nte de spe ndida na manute nção do e xe rcício de te mpo
de gue rra.

A de smobilização, e ntre tanto, não nos de ixará


e conomicame nte onde e stávamos ante s da mobilização. Os
soldados, ante riorme nte suste ntados pe los civis, não se tornarão
simple sme nte civis, suste ntados por outros civis. Tornar-se -ão
civis, que se suste ntarão a si me smos. Se admitirmos, por outro
lado, que os home ns, que tive sse m ficado re tidos nas forças
armadas, não mais se riam ne ce ssários para a de fe sa, e ntão sua
re te nção te ria sido me ro de spe rdício. Te riam ficado improdutivos.
Os contribuinte s nada te riam re ce bido por suste ntá-los. Mas,
agora, e ntre gam-lhe s e ssa parte de se us fundos como
concidadãos civis, e m paga de be ns ou se rviços e quivale nte s. A
produção nacional total, a rique za de todos, torna-se maior.

O me smo raciocínio aplica-se aos funcionários civis do


gove rno, se mpre que são mantidos e m núme ro e xce ssivo e não
e xe cutam, razoave lme nte , se rviços para a comunidade
e quivale nte s à re mune ração que pe rce be m. No e ntanto, se mpre
que se faz qualque r e sforço para re duzir o núme ro de
funcionários de sne ce ssários, é ce rta a grita que se le vanta,
afirmando que e sse ato é "de flacionário". Gostaria você de
e liminar o "pode r aquisitivo" de sse s funcionários? De se jaria
pre judicar os proprie tários e ne gociante s que de pe nde m de sse
pode r aquisitivo? Você e staria simple sme nte mutilando o
"re ndime nto nacional" e auxiliando a causar ou inte nsificar uma
de pre ssão.

Mais uma ve z a falácia re sulta do fato de se re m e ncarados os


e fe itos de ste ato some nte sobre os funcionários de mitidos e
sobre de te rminados ne gociante s que de le s de pe nde m. Mais uma
ve z nos e sque ce mos de que , se e sse s burocratas não fore m
mantidos nos cargos, se rá pe rmitido aos contribuinte s conse rvar
o dinhe iro que , ante riorme nte , lhe s fora tirado para suste ntar os
funcionários. Novame nte nos e sque ce mos de que o re ndime nto e
o pode r aquisitivo dos contribuinte s se e le vam da me sma forma
que os dos antigos funcionários de cae m. Se de te rminados
ne gociante s, que antigame nte ve ndiam a e sse s burocratas,
pe rde m o ne gócio, outros ne gociante s, e m outra parte , che garão
a ganhar pe lo me nos o me smo. Washington se rá me nos próspe ra
e pode , talve z, suste ntar poucas lojas; outras cidade s, poré m,
pode m suste ntar maior núme ro de las.

Mais uma ve z, poré m, a que stão não te rmina aí. O país não
só se se ntirá me lhor se m os funcionários supé rfluos, do que se
os tive sse mantido, como ficará e m me lhore s condiçõe s, pois os
funcionários pre cisarão procurar e mpre gos particulare s ou
e stabe le ce r-se por conta própria. E o pode r aquisitivo dos
contribuinte s, assim acre scido, conforme notamos no caso dos
soldados, e ncorajará isto. Mas os funcionários só pode rão
trabalhar e m e mpre gos privados, se ofe re ce re m se rviços
e quivale nte s a que m os e mpre gar — ou, me lhor, aos fre gue se s
dos e mpre gadore s que lhe s de re m e mpre go. Em ve z de se re m
parasitas, tornam-se home ns e mulhe re s produtivos.

De vo insistir novame nte que , e m tudo isso, não me e stou


re fe rindo aos funcionários públicos cujos se rviços são re alme nte
ne ce ssários. Policiais, bombe iros, lixe iros, funcionários do se rviço
sanitário, juíze s, le gisladore s e dire tore s de re partiçõe s e xe cutam
se rviços produtivos tão importante s, quanto os de qualque r
pe ssoa na indústria privada. Tornam possíve l à indústria privada
funcionar numa atmosfe ra de le i, orde m, libe rdade e paz. Sua
justificação e stá, poré m, na utilidade dos re spe ctivos se rviços. Não
e stá no "pode r aquisitivo" que possue m, pe lo fato de constare m
das folhas de pagame nto dos se rviços públicos.

Esse argume nto do "pode r aquisitivo" é , quando se riame nte


conside rado, fantástico. Pode també m aplicar-se a um
e xtorsionário ou a um ladrão que o assalte . De pois que lhe tira o
dinhe iro, fica com maior pode r aquisitivo. Com e le suste nta
bare s, re staurante s, boate s, alfaiate s, e , talve z, ope rários da
indústria automobilística. Para cada e mpre gado, poré m, que e le
suste nta, com suas de spe sas, você , ao gastar me nos, suste ntará
me nor núme ro de trabalhadore s, porque te rá me nos dinhe iro
para gastar. Dá-se o me smo com os contribuinte s: e le s tornam
possíve l um e mpre go a me nos para cada e mpre go mantido pe lo
dispê ndio dos funcionários públicos. Quando se u dinhe iro é
tomado por um ladrão, você nada re ce be e m troca. Quando se u
dinhe iro é tomado por me io de impostos para suste ntar
burocratas de sne ce ssários, e xiste , pre cisame nte , a me sma
situação. Te mos sorte , re alme nte , se os burocratas
de sne ce ssários fore m simple s mandriõe s indole nte s. Hoje e m dia
é mais prováve l que se jam re formadore s e né rgicos atare fados
e m de se ncorajar e de sorganizar a produção.

Quando não pode mos e ncontrar um argume nto me lhor para


a manute nção de qualque r grupo de funcionários, que o de
mante r o pode r aquisitivo de le s, é sinal de que che gou o
mome nto de nos de se mbaraçarmos de le s.
CAPÍTULO X
O fe tiche do ple no e mpre go

O obje tivo e conômico de qualque r nação, como de qualque r


indivíduo, é obte r os me lhore s re sultados com um mínimo de
e sforço. Todo progre sso e conômico da humanidade consiste e m
obte r maior produção com o me smo trabalho. É por e ssa razão
que os home ns come çaram a colocar cargas no lombo das mulas,
e m ve z de colocá-las nas próprias costas; que inve ntaram a roda
e o vagão, a e strada de fe rro e o caminhão. É por e ssa razão
que usaram se u e nge nho para de se nvolve r ce rca de ce m mil
inve nçõe s para poupar trabalho.

Tudo isso é tão e le me ntar que se ntiríamos ve rgonha e m dizê -


lo, se não fosse fre qüe nte me nte e sque cido por aque le s que e stão
fabricando e faze ndo circular novos slogans. Traduzido e m te rmos
nacionais, e sse prime iro princípio significa que nosso ve rdade iro
obje tivo é maximizar a produção. Faze ndo isto, o ple no e mpre go
— isto é , a ausê ncia de ociosidade involuntária — torna-se
subproduto ne ce ssário. Mas a produção é o fim e o e mpre go,
me rame nte o me io. Não pode mos, continuame nte , te r a mais
comple ta produção se m ple no e mpre go. Mas pode mos, muito
facilme nte , te r ple no e mpre go se m ple na produção.

As tribos primitivas vive m nuas, mise rave lme nte alime ntadas e
abrigadas, mas não sofre m o de se mpre go. A China e a Índia são
incomparave lme nte mais pobre s que nós, mas o principal mal de
que sofre m são os mé todos primitivos de produção (ambos, causa
e conse qüê ncia da falta de capital), não o de se mpre go. Nada
mais fácil que conse guir o ple no e mpre go, de sde que e ste ja
divorciado do obje tivo de produção ple na e conside rado, e m si,
como um fim. Hitle r proporcionou ple no e mpre go, graças a um
gigante sco programa armame ntista. A gue rra proporcionou ple no
e mpre go a todas as naçõe s ne la e nvolvidas. O trabalho e scravo,
na Ale manha, te ve ple no e mpre go. Prisõe s e le vas de forçados,
acorre ntados uns aos outros, tê m ple no e mpre go. A coe rção
pode proporcionar, se mpre , ple no e mpre go.

Nossos le gisladore s, no e ntanto, não apre se ntam no


Congre sso proje tos de le is para Produção Ple na e sim para Ple no
Empre go. As próprias comissõe s de home ns de ne gócios
re come ndam "uma Comissão Pre side ncial para Ple no Empre go",
não para Produção Ple na, ou me smo para Empre go e Produção
Ple nos. Em toda parte constrói-se o me io para o fim, e o próprio
fim é e sque cido.

Discute m-se salários e e mpre go, como se e le s não tive sse m


re lação alguma com a produtividade e a produção. Na suposição
de que haja uma só quantidade fixa de trabalho a se r fe ito, a
conclusão a que se che ga é que uma se mana de trinta horas
proporcionará mais e mpre gos e , portanto, se rá pre fe ríve l a uma
se mana de quare nta horas. Tole ra-se , confusame nte , uma
ce nte na de proce ssos de sindicatos trabalhistas que visam obrigar
a dar trabalho. Quando um Pe trillo ame aça pôr fora de atividade
uma e stação radiofônica, a me nos que e mpre gue o dobro de
músicos de que ne ce ssita, é apoiado por parte do público,
porque , afinal de contas, e stá ape nas procurando criar
e mpre gos. Quando havia a WPA*, conside rava-se sinal de gê nio
dos administradore s pe nsar e m proje tos que e mpre gasse m o
maior núme ro de home ns e m re lação ao valor do trabalho
re alizado — e m outras palavras, nos quais a mão-de -obra fosse
me nos e ficie nte .

Se ria muito me lhor, se e ssa fosse a alte rnativa — o que não


é : te r o máximo de produção, com parte da população
suste ntada na ociosidade atravé s de franca assistê ncia, e m ve z de
proporcionar "ple no e mpre go", atravé s de tantas formas de
de se mpre go disfarçado, que a produção fica de sorganizada. O
progre sso da civilização te m significado re dução de e mpre go, não
se u aume nto. É porque os Estados Unidos se tornaram cada ve z
mais ricos como nação, que pude ram praticame nte e liminar o
trabalho de crianças, e liminar a ne ce ssidade de trabalho para a
maioria das pe ssoas de idade e tornar de sne ce ssário que milhõe s
de mulhe re s procurasse m e mpre gos. Uma proporção da
população dos Estados Unidos muito me nor que , digamos, a da
China ou da Rússia é que pre cisa trabalhar. A ve rdade ira que stão
não é se have rá muitos milhõe s de e mpre gos nos Estados Unidos
daqui a de z anos, poré m quanto de ve re mos produzir e qual se rá,
e m conse quê ncia, nosso padrão de vida. O proble ma de
distribuição, com o qual toda a e ne rgia é de spe ndida hoje , se rá,
afinal de contas, mais facilme nte re solvido, quanto maior
produção tive rmos para distribuir.

Pode mos e sclare ce r nosso pe nsame nto se colocarmos nossa


principal ê nfase no lugar e m que de ve e star — na política que
maximizará a produção.

* Works Progre ss Administration (Administração do Progre sso de


Trabalho), (N. do T.)
CAPÍTULO XI
Que m é "prote gido" pe las tarifas?

Uma simple s e xposição da política e conômica dos gove rnos,


e m todo o mundo, é de causar de se spe ro a qualque r pe ssoa que
e studa se riame nte e conomia. Que pode adiantar, pe rgunta,
talve z, discutir aprimorame ntos e progre ssos da te oria
e conômica, quando o pe nsame nto do povo e as políticas e fe tivas
dos gove rnos, e m tudo que se ligue às re laçõe s inte rnacionais,
por ce rto ainda não alcançaram Adam Smith? Pois as tarifas e a
política come rcial, de hoje e m dia, não só são tão más, quanto as
dos sé culos XVII e XVIII, como incomparave lme nte piore s. As
razõe s, que r ve rdade iras, que r ale gadas para e ssas tarifas e
outras barre iras come rciais, são as me smas.

De sde que apare ce u, há um sé culo e trê s quartos, The Wealth


of Nations, o livre cambismo te m sido discutido milhare s de ve ze s,
mas talve z nunca com mais dire ta simplicidade e força do que
naque la obra. Em ge ral, Smith apoiava sua te se numa proposição
fundame ntal: "Em todo país, se mpre é e de ve se r do inte re sse da
grande massa do povo comprar tudo que de se ja daque le s que
ve ndam mais barato." "Esta afirmação é tão e vide nte " —
continuou Smith — "que pare ce ridículo dar-se ao trabalho de
prová-la; ne m se ria jamais suscitada não houve sse o sofisma de
ne gociante s e fabricante s inte re ssados, que confunde m o se nso
comum da humanidade ."

Sob outro ponto de vista, conside rava-se o livre cambismo um


aspe cto da e spe cialização da mão-de -obra:

É máxima de todo che fe de família prude nte jamais


te ntar fabricar e m casa o que lhe custará mais fabricar do
que comprar. O alfaiate não procura fabricar se us sapatos;
adquire -os do sapate iro. Este não procura faze r sua roupa;
e mpre ga, para isso, o alfaiate . O faze nde iro não procura
faze r ne m uma ne m outra coisa; e mpre ga ambos os artífice s.
Todos e le s julgam de se u inte re sse e mpre gar toda
ope rosidade , de modo a te re m ce rta vantage m sobre os
vizinhos, comprando com parte de sua produção, ou, o que é
o me smo, com o pre ço de parte de la, tudo o mais de que
te nham ne ce ssidade . O que é prudê ncia na conduta de toda
família particular, dificilme nte , pode rá se r loucura na de um
grande re ino.

Mas o que le vou pe ssoas a supore m que o que e ra prudê ncia


na conduta de toda família particular poderia se r loucura na de
um grande re ino? Foi toda uma re de de falácias, da qual a
humanidade ainda não pôde de sve ncilhar-se . E a principal de las é
a falácia fundame ntal de que trata e ste livro. Era conside rar
some nte os e fe itos ime diatos de uma tarifa sobre de te rminados
grupos, e e sque ce r se us e fe itos a longo prazo sobre toda a
comunidade .

Um ame ricano, fabricante de sué te re s de lã, vai ao


Congre sso ou ao De partame nto de Estado e diz à comissão ou
aos funcionários inte re ssados que se ria um de sastre nacional,
para e le s, e liminar ou re duzir as tarifas sobre os sué te re s
ingle se s. Ve nde agora os se us a US$30 cada um, mas os
fabricante s ingle se s pode riam ve nde r os de le s, da me sma
qualidade , a US$25. É ne ce ssário, portanto, um dire ito aduane iro
de US$5 para que possa continuar produzindo. Não e stá
pe nsando e m si, é claro, mas nos 1.000 home ns e mulhe re s que
e mpre ga e nas pe ssoas para que m se us gastos, por sua ve z,
re pre se ntam o e mpre go. Se e le s pe rde re m o trabalho, have rá
de se mpre go e que da do pode r aquisitivo, que se e spalharão e m
círculos cada ve z maiore s. Pode ndo provar que , re alme nte , se rá
forçado a abandonar o me rcado, se a tarifa for e liminada ou
re duzida, se us argume ntos se rão conside rados conclusivos pe lo
Congre sso.

Mas a falácia e stá e m conside rar ape nas e sse fabricante e


se us e mpre gados, ou ape nas a indústria ame ricana de sué te re s.
Está e m obse rvare m-se ape nas os re sultados ime diatame nte
vistos e de scuidar aque le s que não são vistos, porque e stão
impe didos de surgir.

Os lobbyists de tarifas prote cionistas e stão constante me nte


apre se ntando argume ntos que , factualme nte , não são corre tos.
Mas admitamos que os fatos, ne sse caso, se jam pre cisame nte
como o fabricante de sué te re s os apre se ntou. Admitamos que
uma tarifa de US$5 lhe se ja ne ce ssária, para pe rmane ce r no
me rcado e proporcionar e mpre go a se us ope rários na fabricação
de sué te re s.

Escolhe mos de libe radame nte o e xe mplo mais de sfavoráve l de


todos para a e liminação de uma tarifa. Não usamos um
argume nto para imposição de uma nova tarifa, a fim de faze r
surgir uma nova indústria, mas um argume nto para mante r uma
tarifa que já fizera surgir uma indústria e que não pode se r re vogada
se m fe rir algué m.

Re voga-se a tarifa: o fabricante abandona o me rcado, mil


ope rários são dispe nsados, os come rciante s a que m forne ciam
ficam pre judicados. É e sse o re sultado ime diato que se vê . Mas
há, també m, re sultados que , conquanto mais difíce is de
pe rce be r, não são me nos ime diatos ne m me nos re ais, pois agora
os sué te re s, que antigame nte custavam US$30 cada, pode m se r
comprados por US$25. Os consumidore s pode m, agora, adquirir
a me sma qualidade de sué te re s por me nos dinhe iro ou, me lhor
ainda, pe lo me smo dinhe iro. Se compram a me sma qualidade de
sué te r, não só obtê m o sué te r como ainda lhe s sobram US$5,
que não te riam, sob as condiçõe s ante riore s, para adquirir
alguma coisa mais. Com os US$25 que pagam pe lo sué te r
importado, ajudam o e mpre go de ope rários — conforme o
fabricante ame ricano, se m dúvida, pre disse — da indústria de
sué te re s da Inglate rra. Com os US$5 que sobraram auxiliam o
e mpre go e m algumas outras indústrias dos Estados Unidos.

Mas os re sultados não te rminam aí. Ao comprare m sué te re s


ingle se s, os consumidore s e stão forne ce ndo, aos ingle se s, dólare s
para adquirire m me rcadorias norte -ame ricanas. É e ste , na
re alidade , o único me io pe lo qual os ingle se s pode m,
praticame nte , utilizar-se de sse s dólare s (se me é pe rmitido, aqui,
não conside rar ce rtas complicaçõe s como trocas multilate rais,
e mpré stimos, cré ditos e tc). Pe lo fato de te rmos pe rmitido aos
ingle se s ve nde r mais para nós, pode m e le s agora comprar mais
de nós*. São, no fim, re alme nte forçados a comprar mais, se não
quise re m que se us saldos e m dólare s se conse rve m
pe rmane nte me nte se m uso. Assim, como re sultado de maior
e ntrada de me rcadorias ingle sas, o país passa a e xportar mais
me rcadorias ame ricanas. E, e mbora me nor núme ro de pe ssoas
e ste ja e mpre gada na indústria ame ricana de sué te re s, maior
núme ro de pe ssoas e stá e mpre gada — e muito mais
e ficie nte me nte — e m, digamos, fabricação de automóve is ou
máquinas de lavar roupa. Tudo conside rado, o fato é que o
e mpre go nos Estados Unidos não se re duziu, e Estados Unidos e
Inglate rra aume ntaram sua produção. A mão-de -obra, e m cada
um de sse s paíse s, e stá mais ple name nte e mpre gada, faze ndo
e xatame nte o me lhor, e m ve z de se r obrigada a faze r o que
talve z fize sse ine ficie nte me nte ou mal. Consumidore s de ambos
os paíse s ficam e m me lhor situação. Estão aptos a adquirir o que
que re m, onde pode m fazê -lo mais barato. Os consumidore s
ame ricanos ficam mais be m providos de sué te re s, e os ingle se s,
de automóve is e máquinas de lavar roupa.

Conside re mos agora a que stão sob o aspe cto contrário e


ve jamos o e fe ito de impor, e m prime iro lugar, uma tarifa.
Suponhamos que não houve sse tarifa alguma sobre me rcadorias
e strange iras de malha, que os ame ricanos e stive sse m
acostumados a comprar sué te re s e strange iros, livre s de dire itos
aduane iros, e que se usasse o argume nto de que pode ríamos
criar uma indústria de suéteres, impondo uma tarifa de US$5 por
sué te r importado.

É lógico que não have ria nada de e rrado ne sse argume nto, ao
se r assim apre se ntado. Como re sultado disso, se pode ria forçar
de tal modo a alta do custo dos sué te re s ingle se s para o
consumidor ame ricano, que os fabricante s ame ricanos achariam
vantajoso e ntrar no me rcado de sué te re s. Os consumidore s
ame ricanos, no e ntanto, se riam forçados a subsidiar e ssa
indústria. Em cada sué te r ame ricano que comprasse m, se riam
re alme nte obrigados a pagar um tributo de US$5, que lhe s se ria
cobrado pe lo pre ço mais alto da nova indústria de sué te re s.

Ame ricanos se riam e mpre gados ne ssa indústria, o que não


ocorria ante riorme nte . Tudo isso é ve rdade . Mas não have ria
aume nto líquido de indústrias e de e mpre go no país, porque o
consumidor ame ricano te ria que pagar US$5 a mais pe la me sma
qualidade de sué te r, importância que lhe te ria sobrado para
comprar outra coisa. Te ria que cortar, e m se us gastos, a
importância de US$5. A fim de que uma indústria pude sse
de se nvolve r-se ou e xistir, ce nte nas de outras te riam que re trair-
se . A fim de que 50 mil pe ssoas pude sse m se r e mpre gadas numa
indústria de sué te re s, 50 mil pe ssoas a me nos se riam
e mpre gadas e m outra indústria qualque r.

Mas a nova indústria se ria visível. Pode r-se -ia, facilme nte ,
contar o núme ro de se us e mpre gados, o capital inve stido, a
cotação e m dólare s de se us produtos no me rcado. Os vizinhos
pode riam ve r, todos os dias, a e ntrada e a saída dos ope rários
da fábrica. Os re sultados se riam palpáve is e dire tos. Mas o
re traime nto de uma ce nte na de outras indústrias e a pe rda de
50 mil outros e mpre gos e m outros se tore s não se riam tão
facilme nte obse rvados. Se ria impossíve l, me smo para o mais hábil
e statístico, conhe ce r com pre cisão qual te ria sido a incidê ncia da
pe rda de outros e mpre gos, de que mane ira muitos home ns e
mulhe re s haviam sido dispe nsados de cada indústria particular,
ou quantos ne gócios cada uma de ssas indústrias havia pe rdido —
porque os consumidore s tive ram que pagar mais por se us
sué te re s. E uma pe rda, e spalhada por todas as outras atividade s
produtivas do país, se ria re lativame nte diminuta para cada uma
de las. Impossíve l para qualque r pe ssoa sabe r pre cisame nte como
cada consumidor te ria de spe ndido se us US$5 e xtras, se lhe
tive sse sido pe rmitido conse rvá-los. A e smagadora maioria do
povo, portanto, sofre ria provave lme nte da ilusão de ótica de que
a nova indústria nada havia custado ao país.

É importante obse rvar que a nova tarifa sobre os sué te re s


não e le varia os salários do ope rariado norte -ame ricano. Claro
que possibilitaria aos ame ricanos trabalhare m na indústria de
suéteres, aproximadame nte pe lo me smo níve l mé dio dos salários
ame ricanos (para ope rários de sta e spe cialização), e m ve z de
te re m que concorre r com o níve l dos salários ingle se s ne ssa
indústria. Mas não have ria aume nto nos salários ame ricanos em
geral, como re sultado da tarifa, pois, conforme vimos, não have ria
qualque r aume nto líquido no núme ro de e mpre gos, ne nhum
aume nto líquido na de manda de me rcadorias e ne nhum aume nto
na produtividade do trabalho. Esta produtividade e staria, de fato,
reduzida como re sultado da tarifa.

E isto nos traz às ve rdade iras conse quê ncias de uma barre ira
tarifária. Não é que simple sme nte todos os se us ganhos visíve is
se jam anulados por pe rdas me nos óbvias, poré m não me nos
re ais. Re sulta, de fato, e m pe rda líquida para o país, pois,
contrariame nte à se cular propaganda inte re ssada e à confusão
de sinte re ssada, a tarifa reduz o níve l ame ricano de salários.

Obse rve mos mais clarame nte como isso aconte ce . Vimos que
o acré scimo no pre ço pago pe los consumidore s por um artigo
prote gido por uma tarifa os priva de re cursos, na me sma
me dida**, para aquisição de todos os outros artigos. Não há,
portanto, um acré scimo líquido na indústria como um todo.
Poré m, como re sultado da barre ira artificial imposta às
me rcadorias e strange iras, o trabalho, o capital e a te rra nos
Estados Unidos são de sviados daquilo que pode se r fe ito com
maior e ficiê ncia, para o que é fe ito com me nos e ficiê ncia.
Portanto, como re sultado da barre ira tarifária, a produtividade
mé dia do trabalho e do capital fica re duzida.

Se e ncararmos agora a que stão do ponto de vista do


consumidor, ve re mos que e le pode comprar me nos com se u
dinhe iro. Te ndo que pagar mais pe los sué te re s e outros artigos
prote gidos por tarifas, compra me nos de tudo o mais. O pode r
aquisitivo ge ral de se u re ndime nto ficou, portanto, re duzido. Se o
e fe ito líquido da tarifa for o de baixar os salários nominais ou
e le var os pre ços, tais alte rnativas de pe nde rão da política
mone tária posta e m prática. Mas é e vide nte que a tarifa —
e mbora possa aume ntar os salários acima do que te riam sido nas
indústrias protegidas —, na ve rdade , quando todas as ocupaçõe s são
conside radas, reduz o salário real.

Some nte e spíritos corrompidos por constante s propagandas


de snorte adoras é que pode m conside rar paradoxal e ssa
conclusão. Que outro re sultado pode ríamos e spe rar de uma
prática de usar de libe radame nte nossos re cursos de capital e de
força de trabalho me nos e ficie nte me nte , quando sabíamos como
usá-los com maior e ficiê ncia? Que outro re sultado pode ríamos
e spe rar e rgue ndo, de libe radame nte , obstáculos artificiais ao
comé rcio e transporte s?

Pois a criação de barre iras alfande gárias te m o me smo e fe ito


da criação de barre iras re ais. É significativo que os prote cionistas
utilize m, habitualme nte , a linguage m de gue rra. Falam e m
"re pe lir uma invasão" de produtos e strange iros. E os me ios que
suge re m, no campo fiscal, se asse me lham aos do campo de
batalha. As barre iras alfande gárias e rguidas para re pe lir a
invasão são como armadilhas contra tanque s, trinche iras e
e maranhados de arame farpado, para re pe lir ou dificultar a
te ntativa de invasão de um e xé rcito e strange iro.

E assim como o e xé rcito e strange iro é obrigado a e mpre gar


me ios mais dispe ndiosos, para ve nce r e sse s obstáculos —
maiore s tanque s, de te ctore s de minas, corpos de e nge nhe iros
para cortar arame , atrave ssar corre nte s a vau e construir ponte s
—, de se nvolve m-se me ios de transporte mais e ficie nte s e mais
dispe ndiosos, para ve nce r os obstáculos alfande gários. Por um
lado, procuramos re duzir o custo dos transporte s e ntre a
Inglate rra e os Estados Unidos, ou e ntre o Canadá e os Estados
Unidos, construindo aviõe s e navios mais rápidos e mais
e ficie nte s, me lhore s e stradas e ponte s, me lhore s locomotivas e
caminhõe s. Por outro lado, ne utralizamos e sse inve stime nto e m
transporte e ficie nte com uma tarifa, que torna come rcialme nte
ainda mais difícil, do que ante s, transportar me rcadorias.
Barate amos de um dólar o transporte marítimo dos sué te re s, e ,
de pois, aume ntamos de dois dólare s a tarifa, para impe dir que
os sué te re s se jam de spachados por navio. Re duzindo a carga, que
pode se r transportada com lucro, re duzimos o valor do
inve stime nto na e ficiê ncia do transporte .

A tarifa foi apre se ntada como um me io de be ne ficiar o


produtor, a e xpe nsas do consumidor. Em ce rto se ntido e stá
ce rto. Os que são a favor de la pe nsam ape nas nos inte re sse s dos
produtore s, ime diatame nte be ne ficiados pe las tarifas e spe ciais.
Esque ce m-se dos inte re sse s dos consumidore s, que ficam
ime diatame nte pre judicados, por se re m forçados a pagar e ste s
dire itos. É e rrado, poré m, pe nsar na imposição de tarifas como
se e la re pre se ntasse um conflito e ntre os inte re sse s da totalidade
dos produtore s e do conjunto de consumidore s. É ve rdade que as
tarifas pre judicam como tal todos os consumidore s. Não é
ve rdade que be ne ficie como tal todos os produtore s. Pe lo
contrário, e las auxiliam, conforme acabamos de ve r, os
produtore s prote gidos, a e xpe nsas de todos os de mais
produtore s norte -ame ricanos e especialmente os que têmummercado
de exportação potencial relativamente grande.

Pode mos, talve z, tornar e sse último ponto mais claro atravé s
de um e xe mplo e xage rado. Suponhamos que e le ve mos de tal
modo as barre iras alfande gárias, que se torne comple tame nte
proibitivo importar me rcadorias do e xte rior. Suponhamos, como
re sultado disso, que o pre ço dos sué te re s no país, suba ape nas
US$5. Então, os consumidore s, te ndo que pagar US$5 a mais por
um sué te r, gastarão, e m mé dia, me nos cinco ce ntavos e m cada
uma de ce m outras indústrias norte -ame ricanas. (Essas cifras
foram e scolhidas só para ilustrar um princípio: não have rá,
naturalme nte , tal distribuição simé trica da pe rda; alé m disso, a
própria indústria de sué te re s se rá ainda pre judicada por causa
da prote ção dispe nsada a outras indústrias. Mas pode mos de ixar
de lado, no mome nto, e ssas complicaçõe s.)

Ora, como indústrias e strange iras e ncontrarão totalme nte


cortado se u me rcado nos Estados Unidos, não conse guirão dólar
cambial e conse qüe nte me nte não poderão comprar ne nhuma
me rcadoria norte -ame ricana. Como re sultado disso, as indústrias
ame ricanas sofre rão, e m proporção dire ta à porce ntage m de
suas ve ndas ante riorme nte fe itas ao e xte rior. Em prime ira
instância, as mais pre judicadas se rão as indústrias de algodão e m
rama, produtore s de cobre , fabricante s de máquinas de costura,
máquinas agrícolas, máquinas de e scre ve r, companhias de
aviação e outros.

Uma barre ira tarifária mais alta que não se ja, poré m,
proibitiva, produzirá a me sma e spé cie de re sultados, mas ape nas
e m me nor e scala.

O e fe ito de uma tarifa, portanto, é modificar a estrutura da


produção. Modifica o núme ro e a e spé cie de ocupaçõe s e o
tamanho re lativo de uma indústria e m comparação a outra.
Aume nta as indústrias que são comparativame nte ine ficie nte s, e
re duz aque las que são comparativame nte e ficie nte s. Se u e fe ito
líquido, por conse guinte , é a re dução da e ficiê ncia no país, be m
como nos de mais paíse s com os quais se te ria ne gociado com
maior amplitude , não fosse a instituição da tarifa.

A longo prazo, não obstante o se m-núme ro de argume ntos


pró e contra, a tarifa é irre le vante na que stão re lacionada aos
e mpre gos. (É ve rdade que súbitas mudanças nas tarifas, que r
e le vando-as, que r baixando-as, pode m criar de se mpre go
te mporário, assim como forçam corre sponde nte s mudanças na
e strutura da produção. Tais mudanças súbitas pode m, me smo,
causar de pre ssão.) A tarifa, e ntre tanto, não é irre le vante na
que stão dos salários. A longo prazo acaba se mpre re duzindo o
salário re al, uma ve z que re duz a e ficiê ncia, a produção e a
rique za.

Assim, todas as principais falácias sobre tarifas originam-se


da falácia fundame ntal de que trata e ste livro. Re sultam e las de
se re m e ncarados some nte os e fe itos de uma única taxa tarifária
sobre de te rminado grupo de produtore s e e sque cidos os e fe itos a
longo prazo sobre os consumidore s, como um todo, e sobre
todos os outros produtore s.
(Ouço algum le itor pe rguntar: "Por que não solucionar isso
dando prote ção tarifária a todos os produtore s?" Mas aqui a
falácia e stá e m que tal me dida não pode ajudar uniforme me nte
os produtore s, e tampouco todos os produtore s do país que já
"ve ndam por me lhor pre ço" que os produtore s e strange iros:
e sse s produtore s e ficie nte s sofre rão, forçosame nte , com o de svio
do pode r aquisitivo, provocado pe las tarifas.)

Na que stão das tarifas de ve mos te r e m me nte uma


pre caução final. É a me sma pre caução que achamos ne ce ssária
ao e xaminarmos os e fe itos da maquinaria. É inútil ne gar que uma
tarifa be ne ficia re alme nte — ou, pe lo me nos, pode be ne ficiar —
interesses particulares. A ve rdade é que e la os be ne ficia, a expensas de
todos os demais. Be ne ficia-os re alme nte . Se ape nas uma indústria
pude sse obte r prote ção alfande gária, ao me smo te mpo e m que
se us donos e ope rários de sfrutasse m os be ne fícios do comé rcio
livre , e m tudo o mais que comprasse m, e ssa indústria e staria
se ndo, afinal, be ne ficiada. Como te ntamos, poré m, estender as
bê nçãos da tarifa me smo às pe ssoas das indústrias prote gidas,
tanto produtore s como consumidore s, com o prote cionismo
outras pe ssoas come çam a sofre r, e , finalme nte , acabam ficando
e m situação pior do que quando e las e outras não tinham tal
prote ção.

Não ne garíamos, poré m, como os e ntusiastas do livre


cambismo fre que nte me nte fize ram, a possibilidade de que e ssas
tarifas be ne ficie m grupos e spe ciais. Não ousaríamos dize r, por
e xe mplo, que uma re dução das tarifas auxiliasse todo mundo e a
ningué m pre judicasse . É ve rdade que e sta re dução, no balanço
final, auxiliaria o país. Mas alguém ficaria pre judicado, assim como
grupos que ante riorme nte gozasse m de e le vada prote ção. Essa é ,
na re alidade , uma razão pe la qual não convé m dar prioridade à
prote ção de tais inte re sse s. Mas a clare za e a since ridade do
pe nsame nto obrigam-nos a ve r e re conhe ce r que algumas
indústrias tê m razão quando dize m que a re vogação da tarifa
sobre se u produto os e liminaria do me rcado e ocasionaria o
de se mpre go de se us ope rários (pe lo me nos te mporariame nte ). E
se se us trabalhadore s tive sse m de se nvolvido aptidõe s e spe ciais,
pode riam me smo sofre r pe rmane nte me nte , ou até que tive sse m,
a longo te rmo, adquirido novas aptidõe s. Ao e xaminar os e fe itos
das tarifas, assim como os e fe itos da maquinaria, de ve mos
e sforçar-nos para ve r todas as principais conse qüê ncias, tanto a
curto como a longo prazo, sobre todos os grupos.

Como pós-e scrito de ste capítulo, acre sce ntaria que se us


argume ntos não se voltam contra todas as tarifas, inclusive os
dire itos cobrados principalme nte para re nda ou para mante r
indústrias ne ce ssárias à gue rra; ne m são contrários a todos os
argume ntos a favor das tarifas. Visam, some nte , combate r a
falácia de que a tarifa, afinal, "proporciona e mpre go", "e le va os
salários" ou "prote ge o padrão de vida dos norte -ame ricanos".
Nada te m a ve r com tudo isso, e , no que diz re spe ito aos salários
e ao padrão de vida, faz justame nte o contrário. Mas um e xame
dos dire itos alfande gários impostos para outros fins ultrapassa a
pre se nte maté ria.

Ne m pre cisamos e xaminar, aqui, o e fe ito das cotas de


importação, os controle s do câmbio, o bilate ralismo e outros
proce ssos para re duzir, de sviar ou dificultar o comé rcio
inte rnacional. Tais proce ssos, e m ge ral, causam os me smos
e fe itos das tarifas e le vadas ou proibitivas e muitas ve ze s e fe itos
ainda piore s. Apre se ntam proble mas mais complicados, mas se us
re sultados líquidos pode m se r de te rminados atravé s da me sma
e spé cie de raciocínio que acabamos de aplicar às barre iras
tarifárias.
* A tradução da frase foi alte rada. (Nota de re visão).

** A tradução da frase foi alte rada. (Nota de re visão).


CAPÍTULO XII
A de te rminação de e xportar

Some nte o me do patológico de importar, que afe ta todas as


naçõe s, e xce de o de se jo arde nte e patológico de e xportar.
Logicame nte , é ve rdade , nada podia se r mais inconsiste nte . A
longo prazo, a importação e a e xportação de ve m igualar-se
(conside rando-se ambas no se ntido lato, que inclui ite ns
"invisíve is", como gastos de turistas, taxas de fre te oce ânico e
todos os outros ite ns na "balança de pagame ntos"). É a
e xportação que paga a importação, e vice -ve rsa. Quanto maior a
e xportação, tanto maior de ve rá se r a importação, se e spe ramos
se mpre se r pagos. Quanto me nor a importação, tanto me nor
se rá a e xportação. Se m importar, não se pode e xportar, pois os
e strange iros não te rão fundos com os quais possam comprar
nossas me rcadorias. Quando de cidimos re duzir a importação,
e stamos, na ve rdade , de cidindo re duzir també m a e xportação.
Quando de cidimos aume ntar a e xportação, e stamos na re alidade
de cidindo, també m, aume ntar a importação.

A razão disso é e le me ntar. Um e xportador ame ricano ve nde


suas me rcadorias a um importador inglê s e é pago e m libras
e ste rlinas, não pode , e ntre tanto, com e ssas libras e ste rlinas
pagar os salários de se us ope rários, comprar os ve stidos da
e sposa ou e ntradas de te atros. Para todos e sse s fins, ne ce ssita
de dólare s ame ricanos. Suas libras ingle sas, portanto, de nada
lhe se rve m, a me nos que de las se utilize , para adquirir
me rcadorias ingle sas, ou as ve nda a algum importador ame ricano
que que ira comprar me rcadorias da Grã-Bre tanha. Se ja como
for, a transação some nte e stará te rminada, quando a e xportação
tive r sido paga com importância e quivale nte de importaçõe s.

A me sma situação e xistiria se a transação tive sse sido


re alizada e m te rmos de dólare s ame ricanos, e m ve z de libras
e ste rlinas. O importador inglê s não pode ria pagar o e xportador
ame ricano e m dólare s, a me nos que algum ante rior e xportador
inglê s tive sse um cré dito e m dólare s nos Estados Unidos, como
re sultado de alguma ve nda ante rior. O câmbio e strange iro é , e m
suma, uma transação de compe nsação na qual, nos Estados
Unidos, as dívidas e m dólare s dos e strange iros são cance ladas
ante se us cré ditos e m dólare s. Na Inglate rra, as dívidas e m libras
e ste rlinas são cance ladas ante cré ditos e m e ste rlinos.

Não há razão para e ntrar e m de talhe s té cnicos a re spe ito de


tudo isso, os quais pode rão se r e ncontrados e m qualque r bom
livro didático sobre comé rcio e xte rior. De ve -se , poré m, assinalar
que nada há de miste rioso no tocante a e ssa que stão (a de spe ito
do misté rio com que , quase se mpre , a e nvolve m), que não dife re ,
na e ssê ncia, do que aconte ce no comé rcio inte rno. Cada um de
nós pre cisa, també m, ve nde r alguma coisa, me smo que , para a
maioria, se trate da ve nda de nossos se rviços, e m ve z de
me rcadorias, a fim de obte r pode r aquisitivo para comprar. O
comé rcio inte rno ope ra també m, e m ge ral, por me io da e missão
de che que s e títulos contra uns e outros, atravé s da câmara de
compe nsação.

É ve rdade que , na vigê ncia do padrão-ouro inte rnacional, os


de se quilíbrios do balanço de importaçõe s e e xportaçõe s são, às
ve ze s, e liminados por re me ssas de ouro. Mas també m pode rão
se r e liminados por me io de e mbarque s de algodão, aço, uísque ,
pe rfume s ou qualque r outra me rcadoria. A principal dife re nça é
que quando há o padrão-ouro, a de manda de ouro é quase
infinitame nte dilatáve l (e m parte porque é e le conside rado e
ace ito como "moe da" inte rnacional re sidual, e m ve z de ape nas
outra me rcadoria) e as naçõe s não criam obstáculos artificiais
para re ce bê -lo, como o faze m para re ce be r qualque r outra
coisa. (Por outro lado, nos últimos anos de ram para criar
maiore s obstáculos à exportação do ouro, que à e xportação de
qualque r outra coisa; isso, poré m, é outra história.)
Aconte ce que as me smas pe ssoas que pode m se r se re nas e
se nsatas, quando a que stão é de comé rcio inte rno, pode m
tornar-se incrive lme nte e mocionais e te imosas, quando a que stão
passa a se r de comé rcio e xte rior. Ne ste último campo, pode m
de fe nde r ou ace itar, se riame nte , princípios que julgariam insanos
se aplicados no comé rcio inte rno. Exe mplo típico é a cre nça de
que o gove rno de ve faze r gigante scos e mpré stimos a paíse s
e strange iros, para aume ntar a e xportação, inde pe nde nte me nte
de sabe r se e sse s e mpré stimos se rão ou não re sgatados.

É claro que se de ve pe rmitir que os cidadãos norte -


ame ricanos conce dam e mpré stimos e xte rnos de se us capitais,
por sua própria conta e risco. O gove rno não de ve colocar
barre iras arbitrárias contra e mpré stimos privados a paíse s com
os quais e stá e m paz. De ve m se r conce didos ge ne rosame nte ,
some nte por motivos humanos, a povos que se e ncontre m e m
situação crítica ou e m pe rigo de morre re m de fome . Mas de ve -se
sabe r clarame nte , se mpre , o que se e stá faze ndo. Não é
prude nte faze r caridade a povos e strange iros, sob a impre ssão
de que se e stá faze ndo hábil transação come rcial com fins
purame nte e goístas. Isso pode ria provocar de se nte ndime ntos e
más re laçõe s mais tarde .

Contudo, e ntre os argume ntos apre se ntados a favor de


vultosos e mpré stimos ao e strange iro, é se mpre ce rto uma falácia
ocupar lugar pre e mine nte . É mais ou me nos e sta: me smo que
me tade dos e mpré stimos (ou todos e le s) que faze mos aos paíse s
e strange iros provoque irritaçõe s e não se ja re sgatada, tais paíse s
ainda assim e starão e m me lhor situação por have re m sido fe itos
os e mpré stimos, porque e ste s darão e norme impulso a nossas
e xportaçõe s.

De ime diato, é óbvio que se os e mpré stimos, que fize rmos a


paíse s e strange iros, lhe s pe rmitire m comprar nossas
me rcadorias, se m re sgatar as dívidas contraídas, e stare mos
e ntre gando de graça a nossa produção. Uma nação não pode
e nrique ce r de sta forma. Pode , some nte , e mpobre ce r.

Ningué m duvida de ssa afirmação quando aplicada ao se tor


privado. Se uma companhia de automóve is e mpre sta a um
home m US$5,000 para comprar um carro por e ssa quantia, e o
e mpré stimo não é re sgatado, a companhia não se e ncontra e m
me lhor situação por te r "ve ndido" o automóve l. Pe rde u,
simple sme nte , o dinhe iro que a fabricação do carro custou. Se
e ste custou US$4,000 para se r fabricado e some nte me tade do
e mpré stimo foi pago, e ntão a companhia pe rde u US$4,000
me nos US$2,500, ou a importância líquida de US$1,500. Não
compe nsou como ne gócio o que pe rde u num mau e mpré stimo.

Se e ssa proposição é tão simple s, quando aplicada a uma


companhia particular, por que , apare nte me nte , pe ssoas
inte lige nte s ficam confusas, a re spe ito, quando aplicada a uma
nação? A razão e stá e m que se de va, e ntão, e xaminar
me ntalme nte a transação atravé s de outras fase s mais. Um
grupo pode rá se m dúvida obte r vantage ns, ao passo que o
re stante de nós arcará com as pe rdas.

É ve rdade , por e xe mplo, que pe ssoas e mpe nhadas, e xclusiva


ou principalme nte , e m ne gócios de e xportação possam, afinal,
lucrar com o re sultado de maus e mpré stimos fe itos ao e xte rior.
A pe rda nacional na transação se ria ce rta, mas distribuída de tal
modo que se ria difícil acompanhá-la. Os capitalistas particulare s
te riam suas pe rdas dire tame nte . As pe rdas do e mpré stimo
gove rname ntal se riam pagas, afinal, com o aume nto de impostos
lançados sobre todo mundo. Mas have ria, també m, muitos
pre juízos indire tos, causados pe los e fe itos dos pre juízos dire tos
sobre a e conomia.

A longo prazo, as atividade s e conômicas e o e mpre go, nos


Estados Unidos, ficariam pre judicados, não auxiliados, pe los
e mpré stimos ao e xte rior que não fosse m re sgatados. Em cada
dólar e xtra, que os compradore s e strange iros tive sse m para a
compra de me rcadorias ame ricanas, os compradore s inte rnos
te riam, no fim, um dólar a me nos. Ne gócios que de pe nde sse m
do comé rcio a longo prazo ficariam pre judicados, quanto mais se
auxiliasse a e xportação. Alé m disso, muitos e stabe le cime ntos que
fize sse m ne gócios de e xportação ficariam, no final das contas
pre judicados. As companhias ame ricanas de automóve is, por
e xe mplo, ve nde ram ce rca de 15% de sua produção no me rcado
e strange iro, e m 1975. Não te riam lucrado, ve nde ndo 20% no
e xte rior, como re sultado de maus e mpré stimos ao e strange iro,
se com isso pe rde sse m, digamos, 10% de suas ve ndas nos
Estados Unidos, como re sultado de impostos adicionais
arre cadados dos compradore s norte -ame ricanos, para
compe nsar os e mpré stimos e xte rnos que não foram re sgatados.

Nada disso significa, re pito, que é imprude nte faze r


e mpré stimos ao e strange iro; significa, simple sme nte , que não
pode mos e nrique ce r, conce de ndo maus e mpré stimos.

Pe las me smas razõe s que é tolice dar falso e stímulo às


e xportaçõe s, faze ndo maus e mpré stimos ou doaçõe s dire tas a
paíse s e strange iros, é tolice e stimular e xportaçõe s por me io de
subsídios. O subsídio à e xportação é , nitidame nte , o caso de dar
ao e strange iro alguma coisa por nada, ve nde ndo-lhe me rcadorias
abaixo do se u custo. É um outro caso de procurar e nrique ce r-se ,
dando me rcadorias de graça.

Diante de tudo isso, o gove rno dos Estados Unidos ve m


de se nvolve ndo, durante anos, um programa de "ajuda e conômica
ao e strange iro", cuja maior parte consiste e m doaçõe s dire tas, de
gove rno a gove rno, de muitos bilhõe s de dólare s. Aqui e stamos
inte re ssados e m ape nas um aspe cto de sse programa: a
inge nuidade de muitos dos se us re sponsáve is que acre ditam se r
e sse um mé todo inte lige nte ou, me smo, ne ce ssário para
"aume ntar nossas e xportaçõe s", e , de sta forma, proporcionar
prospe ridade e e mpre go. É, ainda, uma outra forma da ilusão de
que uma nação pode e nrique ce r dando coisas de graça. O que
e sconde a ve rdade de muitos patrocinadore s do programa é que
o que é dado dire tame nte não são as e xportaçõe s propriame nte
ditas, mas o dinhe iro com que comprá-las. É possíve l, por
conse guinte , para e xportadore s individuais, te r lucro no saldo
líquido da pe rda nacional, se se u lucro individual com as
e xportaçõe s for maior que sua quota de impostos para financiar
o programa.

Aqui te mos ape nas mais um e xe mplo do e rro de conte mplar


some nte o e fe ito ime diato de uma política sobre um grupo
e spe cial e de não te r paciê ncia, ou inte ligê ncia, para e xaminar os
e fe itos, a longo prazo, de ssa política sobre todos.

Se nós e xaminarmos os e fe itos, a longo prazo, sobre todos,


che gare mos a uma conclusão adicional — o ve rdade iro oposto da
doutrina que te m dominado o pe nsame nto da maioria dos
re pre se ntante s dos gove rnos durante sé culos. Isto é , como John
Stuart Mill mostrou, tão clarame nte , o lucro re al do comé rcio
e xte rno com qualque r país não e stá nas e xportaçõe s, mas nas
importaçõe s. Se us compradore s pode m conse guir produtos
e strange iros a pre ços infe riore s aos que conse guiriam no país, ou
produtos que absolutame nte não conse guiriam de produtore s
nacionais. Nos Estados Unidos, os e xe mplos mais marcante s são
o café e o chá. Conside rando de um modo ge ral, a ve rdade ira
razão de um país pre cisar de e xportaçõe s é para pagar suas
importaçõe s.
CAPÍTULO XIII
A "paridade " de pre ços

O inte re sse de de te rminados grupos, como a história das


tarifas nos le mbra, faz com que e ste s use m os mais e nge nhosos
argume ntos que de ve m se r obje to de nossa e spe cial solicitude .
Se us porta-voze s apre se ntam um plano a favor de le s, e pare ce a
princípio tão absurdo, que autore s de sinte re ssados não se dão ao
trabalho de re ve lá-lo. Mas os grupos inte re ssados continuam a
insistir no plano. Sua de cre tação faria tanta dife re nça a se u
próprio be m-e star ime diato, que e le s che gam a contratar
e conomistas e xpe rime ntados e pe ritos e m re laçõe s públicas, para
propagá-lo a se u favor. O público ouve tantas ve ze s re pe tir-se o
argume nto, acompanhado de uma tal rique za de impre ssionante s
e statísticas, mapas, curvas, atrae nte s ilustraçõe s, que acaba
se ndo ludibriado. Quando, finalme nte , autore s de sinte re ssados
re conhe ce m se r re al o pe rigo da de cre tação do plano, é , e m
ge ral, muito tarde . Não pode m, e m poucas se manas,
familiarizar-se com o assunto com a me sma e xatidão dos
cé re bros contratados, que de dicaram a e le todo o te mpo,
durante anos; os autore s de sinte re ssados são acusados de e star
mal informados e te r o ar de pe ssoas que pre te nde m conte star
axiomas.

Essa história ge ral se rve como história da idé ia da "paridade "


de pre ços para produtos agrícolas. Esque ci-me do dia e m que e la
surgiu num proje to do le gislativo ame ricano; poré m, com o
adve nto do Ne w De al e m 1933, tornou-se de finitivame nte um
princípio ace ito, transformada e m le i, e , à me dida que se
suce diam os anos, e que se us absurdos corolários se tornavam
manife stos, foram e ste s també m de cre tados.

O argume nto e m favor da "paridade " de pre ços é , mais ou


me nos, o se guinte : a agricultura é básica e a mais importante de
todas as indústrias. De ve se r pre se rvada a todo custo. Alé m disso,
a prospe ridade de todos de pe nde da prospe ridade do faze nde iro.
Se e le não tive r pode r aquisitivo para comprar os produtos da
indústria, e sta de finhará. Foi e ssa a causa da crise de 1929 ou,
pe lo me nos, de nossa falha ao não se te r re fe ito de la, pois os
pre ços dos produtos agrícolas caíram viole ntame nte , ao passo
que os dos produtos industriais sofre ram ape nas pe que na que da.
O re sultado foi o faze nde iro não pode r comprar produtos
industriais; os trabalhadore s da cidade foram dispe nsados e não
pude ram comprar produtos agrícolas; e a de pre ssão e spalhou-se
e m danosos círculos cada ve z maiore s. Havia ape nas um re mé dio
e e ra simple s. Faze r re tornar os pre ços dos produtos agrícolas a
uma paridade com os dos artigos que os faze nde iros compravam.
Essa paridade e xistiu no pe ríodo de 1909 a 1914, quando os
faze nde iros e ram próspe ros. De via-se re staurar e pre se rvar
e te rname nte e ssa re lação de pre ços.

Exigiria muito te mpo, o que nos afastaria bastante de nosso


ponto principal, e xaminar todos os absurdos de ssa plausíve l
asse rção. Não há razão sólida para adotar e ssa re lação e spe cial
de pre ços que pre vale ce ra e m de te rminado ano ou pe ríodo, e
conside rá-la sacrossanta ou, me smo forçosame nte , mais
"normal" que a de qualque r outro pe ríodo. Me smo que fosse
"normal" na ocasião, que razão e xiste para supor que e ssa
me sma re lação de ve sse se r pre se rvada mais de se sse nta anos
de pois, a de spe ito das e norme s mudanças nas condiçõe s da
produção e da de manda que , e ntre me nte s, ocorre ram? O
pe ríodo de 1909 a 1914, como base da paridade , não foi
e scolhido ao acaso. Em te rmos de pre ços re lativos, foi um dos
pe ríodos mais favoráve is para a agricultura, e m toda a história
dos Estados Unidos.

Houve sse qualque r since ridade ou lógica na idé ia, e la te ria


sido e spalhada unive rsalme nte . Se a re lação de pre ços e ntre
produtos agrícolas e industriais, que pre vale ce ram no pe ríodo de
agosto de 1909 e julho de 1914, de ve sse se r pre se rvada
pe rpe tuame nte , por que não pre se rvar pe rpe tuame nte a re lação
de pre ços de todo produto ne ssa ocasião para com todos os
de mais?

Quando a prime ira e dição de ste livro apare ce u e m 1946, use i


os se guinte s e xe mplos dos absurdos a que isso le vou:

Um carro de turismo Che vrole t de se is cilindros custava


US$2.150 e m 1912; um se dã Che vrole t de se is cilindros,
incomparave lme nte ape rfe içoado, custava US$907 e m 1942;
ajustado à "paridade " na me sma base dos produtos agrícolas,
de ve ria, poré m, custar US$3.270 e m 1942. Uma libra de
alumínio, no pe ríodo de 1909 a 1913, inclusive , custava e m
mé dia 22,5 ce ntavos; se u pre ço, e m princípios de 1946 e ra
de 14 ce ntavos; mas com a "paridade " te ria, e ntão, custado
41 ce ntavos.

Se ria tanto difícil como discutíve l te ntar citar até hoje e ssas
duas comparaçõe s e spe cíficas, ajustando não ape nas pe la sé ria
inflação (pre ços do consumidor ultrapassaram o triplo), e ntre
1946 e 1978, mas també m pe las dife re nças de qualidade dos
automóve is nos dois pe ríodos. Mas e ssa dificuldade ape nas dá
ê nfase à impraticabilidade da proposta.

Após faze r, na e dição de 1946, a comparação citada,


prosse gui para mostrar que o me smo tipo de aume nto na
produtividade tinha, e m parte , també m, le vado aos pre ços mais
baixos dos produtos agrícolas.

No pe ríodo de cinco anos, 1955 a 1959, cultivou-se nos


Estados Unidos, por acre , a mé dia de 428 libras de algodão,
que se compara com a mé dia de 260 libras no pe ríodo de
cinco anos, 1959 a 1943, e a mé dia de ape nas 188 libras no
pe ríodo "base " de cinco anos, 1909 a 1913.

Quando e stas comparaçõe s são e xaminadas hoje , e las


mostram que o aume nto na produtividade agrícola continuou,
e mbora numa taxa re duzida. No pe ríodo de cinco anos, 1968 a
1972, cultivou-se , por acre , a mé dia de 467 libras de algodão.
Similarme nte , no pe ríodo de cinco anos, 1968 a 1972, cultivou-se ,
por acre , a mé dia de 84 alque ire s de milho comparada com a
mé dia de ape nas 26,1 alque ire s do pe ríodo de 1935 a 1939, e
cultivou-se , por acre , a mé dia de 31,3 alque ire s de trigo
comparada com a mé dia de ape nas 13,2 alque ire s no pe ríodo
ante rior.

Os custos de produção baixaram substancialme nte para os


produtos agrícolas com me lhor aplicação de fe rtilizante s químicos,
me lhore s qualidade s de se me nte e cre sce nte me canização. Na
e dição de 1946, fiz a se guinte citação:

Em algumas grande s faze ndas que foram comple tame nte


me canizadas e que e stão ope rando na base de produção e m
massa, re que r-se ape nas uma te rça a uma quinta parte da
mão-de -obra, para que se ja conse guida a me sma produção,
obtida alguns anos atrás. 1

No e ntanto, tudo isso é ignorado pe los apóstolos da


"paridade " de pre ços.

A re cusa e m unive rsalizar o princípio e vide ncia não se tratar


some nte de um plano e conômico de e spírito público, mas,
simple sme nte , um proce sso para subsidiar inte re sse s
particulare s.

Outra e vidê ncia e stá e m que , quando os pre ços agrícolas


sobe m acima da paridade ou são forçados a pe rmane ce r ne sse
patamar por uma política gove rname ntal, não há e xigê ncia do
bloco dos faze nde iros no Congre sso, para que tais pre ços fique m
abaixo do níve l da paridade ou que , e ntão, se jam re stituídos os
subsídios. É re gra que ope ra num só se ntido.
2

De ixando de lado todas e ssas conside raçõe s, volte mos à


falácia fundame ntal que aqui nos inte re ssa e spe cialme nte . É o
argume nto de que , se obtive r pre ços mais altos para se us
produtos, o faze nde iro pode rá comprar mais me rcadorias da
indústria e , assim, torná-la próspe ra e proporcionar ple no
e mpre go. Não importa ne sse argume nto, é claro, se o faze nde iro
obté m ou não, e spe cificame nte , a de nominada paridade de
pre ços.

Tudo, poré m, de pe nde de como e ste s pre ços se e le vam. Se


isso de corre de re novação ge ral, se re sulta de maior
prospe ridade nos ne gócios, de maior produção industrial ou de
maior pode r aquisitivo dos trabalhadore s das cidade s (não
re sultante da inflação), pode , e ntão, significar re alme nte aume nto
de prospe ridade e produção, não só para os faze nde iros, como
para todos os de mais. Mas o que e stamos discutindo é a alta nos
pre ços agrícolas, oriunda de inte rve nção gove rname ntal. Isso
pode rá se r fe ito atravé s de vários proce ssos. Pode r-se -á forçar a
alta por simple s de cre to, o mé todo me nos e xe quíve l. Pode
re sultar de de cisão do gove rno de adquirir todos os produtos
agrícolas que lhe são ofe re cidos a pre ço de paridade . Pode
re sultar de e mpré stimos gove rname ntais aos faze nde iros, o
suficie nte para capacitá-los a mante re m sua produção fora do
me rcado, até concre tizar-se a paridade ou um pre ço mais
e le vado. Pode originar-se de re striçõe s impostas pe lo gove rno ao
volume das colhe itas. Pode re sultar, como quase se mpre
aconte ce na prática, da combinação de sse s mé todos. No
mome nto, admitire mos simple sme nte que , e m qualque r caso, se
origine de qualque r mé todo.

Qual o re sultado? Os faze nde iros obtê m pre ços mais e le vados
para sua produção. A de spe ito da produção re duzida, digamos,
se u "pode r aquisitivo" é aume ntado afinal. Tornam-se , no
mome nto, mais próspe ros e compram maior volume de produtos
da indústria. Tudo isso é o que ve e m as pe ssoas, que olham
ape nas as conse quê ncias ime diatas para os grupos dire tame nte
e nvolvidos ne ssa política.

Há, poré m, outra conse quê ncia não me nos ine vitáve l.
Suponhamos, não fosse e ssa política, que o trigo, que se ria
ve ndido a US$2.50 o bushel, te nha e ntão o pre ço e le vado para
US$3.50. O faze nde iro obté m US$ 1 a mais por bushel de trigo.
Mas o trabalhador da cidade paga, pre cisame nte , por causa de ssa
me sma mudança, US$ 1 a mais por um bushe l de trigo no pre ço
aume ntado do pão. Aplica-se o me smo a qualque r outro produto
agrícola. Se o faze nde iro te m, e ntão, pode r aquisitivo de US$1 a
mais para comprar produtos industriais, o trabalhador da cidade
fica com pode r aquisitivo de US$1 a me nos para comprar tais
produtos. No final, a indústria e m ge ral nada lucrou. Pe rde , e m
ve ndas na cidade , pre cisame nte o que ganha nas ve ndas rurais.

Há, naturalme nte , uma mudança na incidê ncia de ssas ve ndas.


Os fabricante s de instrume ntos agrícolas e as casas de re e mbolso
postal faze m, se m dúvida, me lhore s ne gócios. Mas os ne gócios
das lojas da cidade diminue m.

A que stão não te rmina aí, poré m. O re sultado de ssa política


não proporciona lucro líquido, mas pe rda líquida, pois não
significa me ra transfe rê ncia do pode r aquisitivo para os
faze nde iros, por parte dos consumidore s da cidade ou dos
contribuinte s e m ge ral, ou de ambos. Significa, també m, corte
forçado na produção de produtos agrícolas, a fim de e le var o
pre ço. Isto significa a de struição da rique za. Significa have r me nor
quantidade de alime nto para se r consumida. A mane ira pe la qual
e ssa de struição da rique za se rá causada de pe nde rá do mé todo
e spe cial adotado para a e le vação dos pre ços. Pode rá implicar
de struição física daquilo que foi produzido, como a que ima do
café , no Brasil. Pode rá implicar uma re strição forçada de áre a,
como no plano AAA, posto e m prática, nos Estados Unidos.
Examinare mos os e fe itos de alguns de sse s mé todos, quando
passarmos a abordar, mais amplame nte , o controle
gove rname ntal das me rcadorias.

Aqui, poré m, pode -se assinalar que , quando o faze nde iro
re duz a produção do trigo para obte r paridade , pode rá
re alme nte obte r pre ço mais alto para cada bushel, mas e stará
produzindo e ve nde ndo me nor núme ro de bushels. O re sultado é
que se u re ndime nto não sobe proporcionalme nte aos pre ços. Até
alguns de fe nsore s da paridade de pre ços re conhe ce m e sse ponto
e se rve m-se de le como argume nto para continuare m a insistir na
paridade de rendimento para os faze nde iros. Isso, poré m, só
pode rá se r conse guido por me io de subsídio, a e xpe nsas dire tas
dos contribuinte s. Em outras palavras, auxiliar os faze nde iros
ape nas re duz mais ainda o pode r aquisitivo dos trabalhadore s da
cidade e de outros grupos.

Há, para a paridade de pre ços, um argume nto que de ve se r


tratado, ante s de de ixarmos e sta que stão. É apre se ntado por
alguns de se us mais re quintados de fe nsore s. "Sim" — admite m
e le s francame nte — "os argume ntos e m prol da paridade de
pre ços não são sólidos. Tais pre ços constitue m privilé gio e spe cial.
São imposição sobre o consumidor. Mas não é a tarifa uma
imposição sobre o faze nde iro? Não te m e le , e m razão da tarifa,
que pagar pre ços mais e le vados pe los produtos industriais? Não
se ria conve nie nte aos Estados Unidos instituíre m uma tarifa
compe nsatória sobre os produtos agrícolas, já que o país é
e xportador de tais produtos. Ora, o siste ma de paridade de
pre ços e quivale à tarifa para o faze nde iro. É o único me io justo
de e quilibrar a situação."

Os faze nde iros que pe diam a paridade de pre ços tinham


le gítima razão de que ixa. A tarifa prote cionista pre judicava-os
mais do que pe rce biam. Ao re duzire m, os Estados Unidos, a
importação de produtos industriais, re duziu-se també m a
e xportação de produtos agrícolas, porque isso impe dia às naçõe s
e strange iras obte re m o dólar de que ne ce ssitavam para importá-
los. E isto provocava tarifas re taliativas e m outros paíse s. Me smo
assim, o e xe mplo que acabamos de citar não re siste a um
e xame . É e rrône o, me smo na e nunciação dos fatos que implica.
Não há tarifa geral sobre todos os produtos "industriais" ou sobre
todos os produtos não-agrícolas. Há, no país, inúme ras indústrias
domé sticas ou produtos de e xportação não amparados por
tarifas prote cionistas. Se o trabalhador da cidade de ve pagar
pre ços mais altos pe los cobe rtore s ou casacos de lá por causa de
uma tarifa e le é "compe nsado" pe lo fato de pagar pre ço també m
mais alto pe la roupa de algodão e pe los alime ntos? Ou e stá,
simple sme nte , se ndo roubado duas ve ze s?

Equilibre mos tudo, dize m alguns, conce de ndo igual "prote ção"
a todo mundo. Isso, poré m, é insolúve l e impossíve l. Me smo que
admitamos que se pode ria solucionar te cnicame nte o proble ma
— uma tarifa para A, um industrial suje ito à concorrê ncia
e strange ira; um subsídio para B, um industrial que e xporta se us
produtos —, se ria impossíve l prote ge r ou subsidiar todo mundo
de ntro de um "e spírito de justiça" ou igualdade . Te ríamos que
proporcionar a cada um a me sma porce ntage m (ou se ria a
me sma quantia e m dólare s?) de prote ção tarifária ou de
subsídios, e jamais te ríamos ce rte za de e starmos ou não
duplicando pagame ntos a alguns ou de ixando de fazê -lo a outros.

Suponhamos, e ntre tanto, que se ja possíve l solucionar e sse


fantástico proble ma. Qual a vantage m? Que m ganha, quando todo
mundo subsidia todos os de mais? Qual o lucro, quando todos
pe rde m, com o acré scimo dos tributos, aquilo que ganham com o
subsídio ou a prote ção? Te ríamos, ape nas, adicionado, para le var
a e fe ito o programa, um e xé rcito de sne ce ssário de burocratas,
todos e le s pe rdidos para a produção.

Por outro lado, pode ríamos solucionar a que stão de mane ira
simple s, te rminando com o siste ma de paridade de pre ços e o de
tarifas prote cionistas. Entre me nte s, ambos, combinados, não
solucionam coisa alguma. Juntos, significam simple sme nte que o
faze nde iro A e o industrial B se be ne ficiam, a e xpe nsas de C, o
Home m Esque cido.

Os ale gados be ne fícios de mais um e sque ma e vaporam-se ,


portanto, ao e xaminarmos não só se us e fe itos ime diatos sobre
um grupo particular, como, també m, os e fe itos a longo prazo
sobre todos.

1 NewYork Times, 2 de jane iro, 1946. Naturalme nte os próprios

planos de re strição de te rra ajudaram a obte r o aume nto de


safras por acre — prime iro, porque os acre s de te rra que os
faze nde iros cultivavam e ram naturalme nte os me nos produtivos;
se gundo, porque o alto pre ço do financiame nto a tornava lucrativa
para aume ntar a dosage m de fe rtilizante por acre . De sta forma,
os planos de re strição de te rras do gove rno e ram altame nte
autode strutivos.
CAPÍTULO XIV
A salvação da indústria X

Os saguõe s do Congre sso dos Estados Unidos e stão re ple tos


de re pre se ntante s da indústria X. A indústria X e stá e nfe rma.
Está morre ndo. Pre cisa se r salva. Some nte pode rá salvar-se por
uma tarifa, atravé s de pre ços mais altos ou me diante um
subsídio. Se conse ntirmos e m sua morte , trabalhadore s se rão
jogados nas ruas. Os proprie tários de suas casas, os me rce e iros,
os açougue iros, as lojas e os cine mas locais pe rde rão ne gócios e
a de pre ssão se e spalhará e m círculos cada ve z maiore s. Mas se a
indústria X for salva, por uma ação ime diata do Congre sso — aí
sim! Comprará e quipame ntos de outras indústrias, mais home ns
se rão e mpre gados, proporcionando maior volume de ne gócios
aos açougue iros, pade iros e fabricante s de anúncios luminosos;
sua prospe ridade , e ntão, se e xpandirá e m círculos cada ve z
maiore s.

É óbvio que isso nada mais é que simple s forma ge ne ralizada


do que acabamos de conside rar. Ne la, a indústria X e ra a
agricultura. Há, e ntre tanto, um núme ro infindáve l de indústrias X.
Dois dos mais notáve is e xe mplos, nos últimos anos, foram as
indústrias do carvão e da prata. Para "salvar a prata", o
Congre sso causou ime nsos danos. Um dos argume ntos para o
plano de salvação e stava e m que e le salvaria "o le ste dos Estados
Unidos". Um dos re sultados re ais foi causar de flação na China,
cuja moe da e ra do padrão-prata, e forçá-la a abandonar e sse
padrão. O Te souro dos Estados Unidos foi obrigado a adquirir, a
pre ços ridículos, acima do níve l do me rcado, e stoque s
de sne ce ssários de prata, e armaze ná-los. Os obje tivos políticos
e sse nciais dos "argê nte o-se nadore s" pode riam te r sido muito be m
atingidos, por uma fração dos danos causados e do custo,
conce de ndo-se , francame nte , um subsídio aos proprie tários de
minas e a se us ope rários; mas o Congre sso e o país jamais
te riam aprovado ope ração de ssa nature za, que não fosse
acompanhada das fantasias ide ológicas a re spe ito "do pape l
e sse ncial da prata na moe da nacional".

Para salvar a indústria do carvão, o Congre sso aprovou a Le i


Guffe y, pe la qual não só se pe rmitia, como se obrigava os
proprie tários de minas de carvão a associare m-se , para não
ve nde re m o produto abaixo de ce rtos pre ços mínimos fixados
pe lo gove rno.

Embora o Congre sso tive sse come çado a fixar "o" pre ço do
carvão, viu-se afinal o gove rno (e m virtude das dife re nte s
dime nsõe s, de milhare s de minas, e e mbarque s para milhare s de
dife re nte s pontos de de stino, por tre m, caminhõe s, navios e
balsas) obrigado a fixar 350.000 pre ços dife re nte s para o carvão!1
Um dos e fe itos de ssa te ntativa, para mante r os pre ços do carvão
acima do níve l do me rcado compe titivo, foi ace le rar a te ndê ncia
dos consumidore s, pe la substituição por outras fonte s de e ne rgia
ou calor, tais como o pe tróle o, o gás natural e a e ne rgia
hidroe lé trica. Hoje ve mos o gove rno te ntando forçar a inve rsão do
consumo de pe tróle o para o carvão de novo.

Nosso obje tivo, não é e xaminar aqui todos os re sultados, que


se se guiram, historicame nte , aos e sforços para salvar
de te rminadas indústrias, mas de te rminar alguns dos principais
re sultados que , ne ce ssariame nte , de corre ram dos e sforços para
a salvação de uma indústria.

Pode -se argume ntar que ce rta indústria de va se r criada ou


pre se rvada por motivos militare s. Pode -se argume ntar que
de te rminada indústria e stá se ndo arruinada pe los impostos ou
pe las taxas de salário de sproporcionais aos de outras indústrias;
ou que , tratando-se de e mpre sa de utilidade pública, e stá se ndo
forçada a ope rar, com taxas de tarifas que não lhe pe rmite m
ade quada marge m de lucro. Tais argume ntos, e m de te rminados
casos, talve z possam se r justificados. Mas não nos inte re ssam
aqui. Estamos some nte inte re ssados num único argume nto para
salvar a indústria X: se lhe for pe rmitido diminuir e m tamanho ou
pe re ce r, e m virtude das forças da livre concorrê ncia (se mpre
de nominada, e m tais casos, pe los porta-voze s da indústria,
concorrê ncia do laissez-faire, anárquica, implacáve l, fe roz,
se lvage m), arrastará consigo, e m sua que da, a e conomia
nacional, e se lhe for pe rmitido vive r artificialme nte , isso auxiliará
todo mundo.

O que e stamos e xpondo nada mais é que um caso


ge ne ralizado do argume nto apre se ntado para a "paridade " de
pre ços para os produtos agrícolas ou para as tarifas
prote cionistas e m prol de qualque r núme ro de indústrias X. O
argume nto, contrário à artificialidade dos pre ços mais altos,
aplica-se , naturalme nte , não só aos produtos agrícolas, como a
qualque r outro produto, do me smo modo que as razõe s, que
e ncontramos para nos opormos às tarifas prote cionistas para
de te rminada indústria, se aplicam, també m, a qualque r outra.

Mas e xiste m se mpre inúme ros e sque mas para salvar


indústrias X. Há dois tipos principais de tais propostas, alé m das
que já conside ramos, e vamos e xaminá-las de re lance . Uma, é
afirmar que a indústria X já e stá "supe rlotada", e procurar
impe dir que outras firmas ou outros trabalhadore s ne la
ingre sse m. Outra, é o argume nto de que a indústria X pre cisa se r
amparada, dire tame nte , por me io de subsídio gove rname ntal.

Ora, se a indústria X, comparada às outras, e stá re alme nte


"supe rlotada", não ne ce ssitará de le gislação coe rcitiva, para
impe dir que novos capitais ou novos ope rários ne la ingre sse m.
Novos capitais não costumam pre cipitar-se para indústrias que
e ste jam, obviame nte , de finhando. Os inve stidore s não procuram,
ansiosame nte , indústrias que apre se nte m grande s riscos de
pe rdas, combinados com baixos divide ndos. Ne m os ope rários,
quando e ncontram alguma alte rnativa me lhor, procuram
indústrias, cujos salários são mais baixos e as pe rspe ctivas de
e mpre go e stáve l me nos promissoras.

Se novos capitais e nova mão-de -obra são, portanto, mantidos


à força, fora da indústria X, não só por me io de monopólios,
carté is, união sindicalista ou le gislação, isso priva os capitais e a
mão-de -obra da livre e scolha. Força os inve stidore s a colocare m
se u dinhe iro onde os divide ndos lhe s pare çam me nos
promissore s, que na indústria X. Força os trabalhadore s a
ingre ssare m e m indústrias cujos salários e pe rspe ctivas são
infe riore s aos que pode riam e ncontrar na indústria X, que se
ale gava e nfe rma. Isso significa, e m sínte se , que tanto o capital
como o trabalho se riam me nos e ficie nte me nte e mpre gados, do
que se riam se lhe s fosse pe rmitido faze r, livre me nte , sua
e scolha. Significa, portanto, re dução da produção, que de ve rá
re fle tir-se num padrão de vida mais baixo.

Esse padrão de vida mais baixo se rá causado pe la mé dia de


salários mais baixos, do que e ra de pre ve r, ou pe la mé dia mais
e le vada do custo de vida, ou, ainda, pe la combinação de ambos.
(O re sultado e xato de pe nde ria da política mone tária que fosse
aplicada.) Por e ssa política re stritiva, salários e divide ndos dos
capitais pode riam se r mantidos e m níve l mais e le vado na própria
indústria X; mas e m outras indústrias se riam forçados a cair. A
indústria X se be ne ficiaria some nte à custa das indústrias A, B e
C.

Idê nticos re sultados se se guiriam a qualque r te ntativa para


salvar a indústria X atravé s de subsídio dire to, tirado do e rário
público. Isso nada mais se ria que uma transfe rê ncia da rique za
ou da re nda para a indústria X. Os contribuinte s pe rde riam,
pre cisame nte , tanto quanto o pe ssoal da indústria X ganharia. A
grande vantage m de um subsídio, pois, do ponto de vista do
público é que e le — o subsídio — de ixa e sse fato e m e vidê ncia.
Have rá muito me nor oportunidade para o obscure cime nto
inte le ctual que acompanha os argume ntos e m favor das tarifas,
da fixação de pre ços mínimos ou da e xclusão atravé s de
monopólios.

É óbvio, no caso do subsídio, que os contribuinte s pe rde m


pre cisame nte tanto quanto ganha a indústria X. É igualme nte
claro que , conse que nte me nte , outras indústrias pe rde rão o que
e la ganhar. Te rão que pagar parte dos impostos e mpre gados no
amparo à indústria X. E para os consumidore s, pe lo fato de
se re m tributados para se r amparada a indústria X, sobrará
muito me nor re nda para a compra de outros artigos. O re sultado
é que outras indústrias de ve rão, e m mé dia, se r me nore s do que
pode riam se r, a fim de que a indústria X se ja maior.

Mas o re sultado de ste subsídio não é , ape nas, o fato de que


haja transfe rê ncia de rique za ou re nda, ou que outras indústrias
se contraiam no conjunto, ao me smo te mpo que a indústria X se
e xpande . O re sultado é que , també m (e é daí que ve m a pe rda
líquida para a nação conside rada como unidade ), o capital e o
trabalho da mão-de -obra são re chaçados de indústrias, nas quais
e stão mais e ficie nte me nte e mpre gados, para se re m de sviados
para uma indústria na qual se rão me nos e ficie nte me nte
e mpre gados. Cria-se me nos rique za. O padrão de vida mé dio
torna-se mais baixo, comparado com o que te ria sido.

Tais re sultados são, de fato, virtualme nte ine re nte s aos


próprios argume ntos apre se ntados para conce ssão de subsídio à
indústria X. Esta e stá de finhando ou morre ndo por causa da
conte nção dos amigos. Por que , pode -se pe rguntar, mantê -la viva
atravé s de re spiração artificial? A idé ia de que uma e conomia e m
e xpansão indique de ve re m e xpandir-se todas as indústrias,
simultane ame nte , constitui profundo e rro. A fim de que novas
indústrias possam cre sce r com suficie nte rapide z é ne ce ssário
pe rmitir-se que algumas ve lhas indústrias se contraiam ou
pe re çam. De ve -se faze r isso para libe rtar o capital e a mão-de -
obra ne ce ssários às novas indústrias. Se tivé sse mos procurado
mante r vivo o comé rcio de carruage m a tração animal, te ríamos
diminuído o ritmo de cre scime nto da indústria automobilística e
de todos os ne gócios de la de pe nde nte s. Te ríamos diminuído a
produção da rique za e re tardado o progre sso e conômico e
cie ntífico.

Faze mos a me sma coisa, poré m, quando procuramos


impe dir que qualque r indústria pe re ça, a fim de prote ge r a mão-
de -obra já tre inada ou o capital ne la já e mpre gados. Por mais
paradoxal que isso possa pare ce r a alguns, é tão ne ce ssário para
a saúde de uma e conomia dinâmica pe rmitir-se que pe re çam
indústrias de cade nte s, quanto se de se nvolvam as que e stão
prospe rando. O prime iro proce sso é e sse ncial ao se gundo. É
tolice procurar pre se rvar indústrias obsole tas tanto quanto
procurar pre se rvar mé todos obsole tos de produção: isso, de fato,
é muitas ve ze s, nada mais nada me nos, que duas mane iras de
de scre ve r a me sma coisa. Mé todos me lhorados de produção
de ve m suplantar, constante me nte , mé todos obsole tos, caso
ne ce ssidade s antigas de vam se r pre e nchidas por me lhore s
produtos e me lhore s me ios.

1 De poime nto de Dan H. Whe e le r, dire tor da Divisão de Carvão


Be tuminoso. Inqué rito sobre a e xte nsão da Le i sobre o Carvão
Be tuminoso, e m 1937.
CAPÍTULO XV
Como funciona o siste ma de pre ços

Toda a argume ntação de ste livro pode se r re sumida na


de claração de que , ao se re m e studados os e fe itos de qualque r
propositura e conômica, de ve mos e xaminar não só os re sultados
ime diatos, mas també m os re sultados a longo prazo, não só as
conse quê ncias primárias, mas també m as se cundárias; e não só
os e fe itos sobre um de te rminado grupo, mas os e fe itos sobre
todos. Se gue -se que é tolice e de snorte ante conce ntrar a ate nção
simple sme nte nalgum ponto e spe cial — e xaminar, por e xe mplo,
ape nas o que aconte ce numa indústria, se m conside rar o que
aconte ce e m todas e las. Mas é pre cisame nte de sse hábito
pe rsiste nte e ocioso de pe nsar ape nas e m alguma de te rminada
indústria ou proce sso isolado que se originam as grande s falácias
da e conomia. Tais falácias dominam, não só os argume ntos dos
porta-voze s contratados por inte re sse e spe ciais, como, até , de
alguns e conomistas que se passam por profundos e studiosos.

No fundo, é na falácia do isolame nto que se base ia a e scola


da "produção-para-o-uso-e -não-para-o-lucro", com se u ataque ao
ale gado "siste ma de pre ços" distorcido. O proble ma da produção,
dize m os ade ptos de ssa e scola, e stá solucionado. (Esse e rro
flagrante , conforme ve re mos, é també m o ponto de partida dos
muitos fantasistas e charlatãe s e m que stõe s e conômicas.) Os
cie ntistas, os e ficie nte s pe ritos, os e nge nhe iros e os té cnicos
re solve ram-no. Pode m produzir quase tudo o que se de se ja, e m
quantidade s gigante scas e praticame nte ilimitadas. Mas
infe lizme nte o mundo não é gove rnado por e nge nhe iros, que só
pe nsam na produção, mas por home ns de ne gócios que só
pe nsam nos lucros. Os home ns de ne gócios dão orde ns aos
e nge nhe iros, e não o inve rso. Esse s home ns de ne gócios
produzirão qualque r artigo, e nquanto pude re m aufe rir lucro, mas
no mome nto e m que não houve r mais lucro na fabricação, e sse s
home ns pe rve rsos ce ssarão de fabricá-lo, e mbora os de se jos de
muitas pe ssoas não se jam satisfe itos, e o mundo clame por mais
me rcadorias.

Há tantas falácias a e sse re spe ito que não é possíve l


de se maranhá-las a todas ao me smo te mpo. Mas o e rro
fundame ntal, conforme te ntamos mostrar, advé m de olhar-se
ape nas para uma indústria ou, me smo, várias indústrias, cada
uma por se u turno, como se fosse m isoladas umas das outras.
Na re alidade , todas se inte r-re lacionam, e toda de cisão
importante tomada e m uma de las afe ta e é afe tada pe las
de cisõe s tomadas e m todas as de mais.

Compre e nde re mos isso me lhor, se e nte nde rmos o proble ma


básico que as e mpre sas tê m que re solve r cole tivame nte . Para
simplificar e sse ponto tanto quanto possíve l, conside re mos o
proble ma que um Robinson Crusoé e nfre nta e m sua ilha de se rta.
Suas ne ce ssidade s pare ce m, a princípio, infindáve is. Está
e ncharcado pe la chuva, tre me de frio, sofre fome e se de . Pre cisa
de tudo: água para be be r, alime ntos, te to onde se abrigar,
prote ção contra os animais, fogo, um lugar tranquilo para
de scansar. É-lhe impossíve l satisfaze r a todas e ssas ne ce ssidade s
ao me smo te mpo; não dispõe de te mpo, e ne rgia ou re cursos.
De ve ate nde r ime diatame nte à ne ce ssidade mais pre me nte .
Sofre mais, digamos, de se de . Cava, na are ia, um lugar para
re colhe r água da chuva ou constrói algum re ce ptáculo grosse iro.
Quando tive r provide nciado um pe que no suprime nto de água, te rá
que procurar alime nto, ante s de pe nsar e m me lhorá-lo. Pode
pe scar, mas para fazê -lo ne ce ssita de anzol e linha ou de uma
re de e de ve come çar a pre parar e sse s ape tre chos. Mas tudo que
faz adia ou o impe de de faze r outras coisas mais, se be m que
me nos urge nte s. De fronta-se , constante me nte , com o proble ma
de aplicaçõe s alte rnativas de se u te mpo e trabalho.

Uma família suíça de Robinsons talve z ache para e sse


proble ma solução mais fácil. Te m mais bocas para alime ntar mas
te m, també m, maior núme ro de mãos para trabalhar. Pode
e stabe le ce r a divisão e a e spe cialização do trabalho. O pai caça, a
mãe pre para o alime nto, as crianças apanham le nha. A própria
família, e ntre tanto, não pode pe rmitir que um de se us me mbros
faça inde finidame nte a me sma coisa, não obstante a re lativa
urgê ncia das ne ce ssidade s comuns a que e le ate nde e a urgê ncia
de outras ne ce ssidade s ainda por pre e nche r. Quando as crianças
apanhare m ce rta quantidade de le nha, não de ve rão ficar
e mpe nhadas some nte e m aume ntar e ssa quantidade . Logo se rá
te mpo de mandar uma de las, por e xe mplo, ir buscar mais água.
De fronta-se a família, també m, com o constante proble ma de
e scolhe r e ntre as aplicaçõe s alternativas de trabalho que se lhe
ofe re ce m, e , se te ve bastante sorte de have r adquirido armas,
mate rial de pe sca, barco, machados, se rras e tc, de e scolhe r
e ntre as alte rnativas de aplicação do trabalho e do capital. Se ria,
ine gave lme nte , conside rado tolice que ixar-se o me mbro da
família, que apanhava le nha, de que pode ria apanhar maior
quantidade , se o irmão o auxiliasse todo o dia, e m lugar de ir
pe scar o pe ixe de que ne ce ssitavam para o jantar. Re conhe ce -se
clarame nte , tanto no caso de um indivíduo isolado, como, no de
uma família, que uma ocupação pode e xpandir-se somente a
expensas de todas as outras ocupações.

Exe mplos e le me ntare s como e ste são, às ve ze s,


ridicularizados como se ndo "e conomia de Crusoé ". Infe lizme nte ,
são principalme nte ridicularizados por aque le s que de la mais
ne ce ssitam, que de ixam de compre e nde r o princípio particular,
me smo que e xe mplificado de ssa forma simple s, ou que pe rde m,
comple tame nte , a noção de sse princípio, quando passam a
e xaminar as de snorte ante s complicaçõe s da e conomia de uma
grande e mode rna socie dade .

Volte mos agora à tal socie dade . Como de ve rá se r solucionado


o proble ma da alte rnativa de aplicaçõe s de trabalho e capital, a
fim de ate nde r a milhare s de ne ce ssidade s dife re nte s e de
urgê ncias també m dife re nte s de ssa socie dade ? De ve rá,
pre cisame nte , se r solucionado pe lo siste ma de pre ços. Soluciona-
se atravé s das constante s modificaçõe s nas inte r-re laçõe s de
custo de produção, pre ços e lucros.

Fixam-se os pre ços me diante a re lação e ntre a ofe rta e a


de manda, os quais, por sua ve z, as afe tam. Quando as pe ssoas
de se jam maior quantidade de um artigo, ofe re ce m mais por e le .
O pre ço sobe . Isto aume nta os lucros daque le que fabrica o
artigo. Have ndo agora maior lucro na fabricação de sse , que na de
outros artigos, as pe ssoas, que já se e ncontram ne sta atividade ,
e xpande m sua produção e outras pe ssoas são atraídas para e ste
se tor. Esse aume nto da ofe rta re duz e ntão o pre ço e a marge m
de lucro, até que e sta marge m de lucro alcance o níve l ge ral de
lucros das outras indústrias (conside rados os riscos re lativos). Ou,
e ntão, a de manda do artigo pode cair; ou sua ofe rta aume nta a
tal ponto, que o pre ço cai a um níve l no qual have rá me nos lucro
e m fabricá-lo, que e m fabricar outros artigos; ou, talve z, haja, na
ve rdade , pre juízo e m fabricá-lo. Ne sse caso, os produtore s
"marginais", isto é , os me nos e ficie nte s ou aque le s cujo custo de
produção é mais e le vado, se rão e xcluídos do me rcado. O produto
se rá, e ntão, fabricado ape nas pe los produtore s mais e ficie nte s,
que ope ram a custos mais baixos. A ofe rta do artigo cairá
també m ou, pe lo me nos, de ixará de e xpandir-se .

Esse proce sso te m orige m na cre nça de que os pre ços são
de te rminados pe lo custo da produção. A doutrina, e xposta de ssa
forma, não é ve rdade ira. Os pre ços são de te rminados pe la
ofe rta e pe la procura, e a procura é de te rminada pe la
inte nsidade das ne ce ssidade s do povo, e pe lo que e ste te m para
ofe re ce r e m troca. É ve rdade que a ofe rta é , e m parte ,
de te rminada pe lo custo de produção. O que um artigo custou no
passado, para se r produzido, não pode de te rminar-lhe o valor.
De pe nde rá e ste da atual re lação e ntre a ofe rta e a procura. Mas
as e xpe ctativas dos home ns de ne gócios, no tocante ao que um
artigo irá custar, e m sua fabricação futura, e qual se rá se u futuro
pre ço, de te rminarão quanto de le se rá fabricado. Isso afe tará a
ofe rta futura. Há, portanto, uma te ndê ncia constante para o
pre ço de um artigo e se u custo marginal de produção igualarem-se,
mas não porque e sse custo marginal de produção de te rmine
dire tame nte o pre ço.

O siste ma da iniciativa privada pode ria, e ntão, se r comparado


a milhare s de máquinas, cada uma dirigida por se u próprio
re gulador quase automático, mas com todas e las e se us
re guladore s inte rligados e influe nciando umas às outras de modo
a ope rare m, re alme nte , como uma só grande máquina. Muitos
de nós já obse rvamos o "re gulador" automático de uma máquina
a vapor. É, e m ge ral, composto de duas bolas ou dois pe sos que
ope ram por me io de força ce ntrífuga. À me dida que a ve locidade
da máquina aume nta, e ssas bolas afastam-se da haste a que
e stão ligadas e assim e stre itam ou fe cham, automaticame nte ,
uma válvula de controle que re gula a e ntrada do vapor,
re duzindo, de ssa forma, a ve locidade da máquina. Se , por outro
lado, a máquina marcha muito vagarosame nte , as bolas cae m,
alargam a válvula de controle e aume ntam a ve locidade . De sse
modo, cada de svio da ve locidade de se jada põe e m movime nto,
por si, as forças que te nde m a corrigi-la.

É pre cisame nte de sse modo que a ofe rta re lativa de milhare s
de artigos dife re nte s é re gulada pe lo siste ma da concorrê ncia
e ntre e mpre sas privadas. Quando as pe ssoas de se jam mais e
mais um artigo, se us pe didos compe titivos e le vam o pre ço. Isto
aume nta os lucros dos fabricante s do artigo. Estimula-os a
aume ntare m a produção. Faz com que outros ce sse m de fabricar
alguns dos produtos que ante riorme nte fabricavam e passe m a
fabricar o produto que lhe s ofe re ce me lhor re torno. Isto, poré m,
aume nta a ofe rta de sse artigo, ao me smo te mpo que re duz a
ofe rta dos outros. O pre ço de sse produto cai, portanto, e m
re lação ao pre ço dos outros produtos e de sapare ce o e stímulo a
um aume nto re lativo da produção.

Igualme nte , se cai a procura de algum produto, se u pre ço e o


lucro de sua fabricação diminue m, e sua produção de clina.

É e ste último de se nvolvime nto que e scandaliza os que não


compre e nde m o "siste ma de pre ços" que e le s de nunciam.
Acusam-no de criar a e scasse z. Por que — pe rguntam indignados
— de ve m os fabricante s diminuir a produção de sapatos até o
ponto de não mais have r lucro e m produzi-los? Por que de ve m
se r guiados some nte por se us próprios lucros? Por que de ve riam
se r guiados pe lo me rcado? Por que não produze m sapatos até a
"ple na capacidade dos proce ssos té cnicos mode rnos"? O siste ma
de pre ços e a iniciativa privada, conclue m os filósofos da
"produção-para-o-uso", é simple sme nte uma forma de "e conomia
de e scasse z".

Essas pe rguntas e conclusõe s originam-se do e rro de olhar


ape nas para uma indústria isoladame nte , de olhar para a árvore
e ignorar a flore sta. É, até ce rto ponto, ne ce ssário produzir
sapatos. Mas é també m ne ce ssário produzir pale tós, camisas,
calças, casas, arados, pás, le ite e pão, e construir fábricas e
ponte s. Se ria idiotice acumular montanhas de sapatos e m
e xce sso, simple sme nte porque pode ríamos fabricá-los, de ixando
de satisfaze r a ce nte nas de outras ne ce ssidade s mais urge nte s.

Ora, numa e conomia e m e quilíbrio, de te rminada indústria


pode rá e xpandir-se somente a expensas de outras, pois a qualque r
mome nto os fatore s de produção são limitados. Uma indústria
some nte pode e xpandir-se desviando para si mão-de -obra,
te rre no e capital, que pode riam se r e mpre gados e m outras
indústrias. E quando uma dada indústria se contrai ou de ixa de
e xpandir sua produção, isso não significa ne ce ssariame nte que
te nha havido de clínio líquido na produção agre gada. A contração,
ne sse ponto, talve z pode te r simple sme nte liberado o trabalho e o
capital, a fim de permitir a expansão de outras indústrias. É e rrône o
concluir, portanto, que uma diminuição na produção de
de te rminado se tor signifique diminuição da produção total.

Tudo, e m suma, se produz a e xpe nsas de outra coisa mais


que te nha pre ce dê ncia. Pode r-se -ia re alme nte de finir o próprio
custo de produção como coisas a que se re nunciou (laze re s e
praze re s, maté ria-prima com usos alte rnativos pote nciais), para
criar a coisa que se e stá fabricando.

Se gue -se que , para a saúde de uma e conomia dinâmica, é


tão e sse ncial de ixar que pe re çam as indústrias moribundas, como
de ixar que cre sçam as indústrias próspe ras, pois as indústrias
agonizante s absorve m mão-de -obra e capital, que de viam se r
libe rados para as indústrias e m de se nvolvime nto. É só o muito
vilipe ndiado siste ma de pre ços que soluciona o proble ma bastante
complicado de de cidir pre cisame nte o quanto de de ze nas de
milhare s de dife re nte s artigos de ve m se r produzidos e m re lação
uns aos outros. Essas e quaçõe s, aliás de snorte ante s, são
solucionadas quase automaticame nte pe lo siste ma de pre ços,
lucros e custo. São solucionadas por e sse siste ma
incomparave lme nte me lhor, do que pode ria faze r qualque r grupo
de burocratas, pois são re solvidas por um siste ma, sob o qual
cada consumidor re aliza sua de manda e lança um voto novo ou
uma dúzia de votos novos todos os dias; ao passo que os
burocratas te ntariam solucionar a que stão, mandando faze r para
os consumidore s não o que e ste s de se jam, mas o que e le s,
burocratas, julgasse m conve nie nte .

Embora os burocratas não compre e ndam o siste ma quase


automático do me rcado, mostram-se se mpre , no e ntanto,
pre ocupados com e le . Estão se mpre te ntando me lhorá-lo ou
corrigi-lo, ge ralme nte no inte re sse de algum grupo de pre ssão
que se lame nte . Examinare mos, nos capítulos se guinte s, alguns
re sultados de tal inte rve nção.
CAPÍTULO XVI
A "e stabilização" das me rcadorias

Te ntativas para e le vação pe rmane nte dos pre ços de


de te rminadas me rcadorias acima dos níve is do se u me rcado
natural tê m fracassado tantas ve ze s, de modo tão de sastroso e
tão notório, que grupos re quintados de pre ssão, e os burocratas
sobre os quais e le s atuam, rarame nte confe ssam com franque za
e sse obje tivo. As finalidade s que anunciam, quando e m prime iro
lugar propõe m ao gove rno que inte rve nha, são, ge ralme nte , mais
mode stas e mais plausíve is.

Não tê m de se jo algum, de claram, de e le var


pe rmane nte me nte o pre ço do artigo X acima de se u níve l natural.
Isso, admite m, se ria injusto para os consumidore s. Mas dize m
que o produto e stá, naquele momento, se ndo ve ndido por pre ço
muito abaixo do níve l natural. Os produtore s não pode m subsistir
com tal pre ço. A me nos que se aja prontame nte , se rão e xpulsos
do me rcado. Have rá, e ntão, ve rdade ira e scasse z e os
consumidore s te rão que pagar pe lo artigo pre ços e xorbitante s. O
bom ne gócio que os consumidore s pare ce m e star faze ndo ne sse
mome nto vai custar-lhe s caro no fim, pois o pre ço "te mporário"
atual não pode durar. Mas não te mos me ios para e spe rar que as
de nominadas forças naturais do me rcado ou a "ce ga" le i da
ofe rta e da procura corrijam a situação, pois, a e ssa altura, os
produtore s e starão arruinados e grande e scasse z vai pairar sobre
o país. O gove rno pre cisa agir. Tudo que re alme nte de se jamos
faze r é corrigir e ssas viole ntas e loucas flutuações do pre ço. Não
e stamos procurando e le vá-lo; e stamos procurando ape nas
estabilizá-lo.

Há vários mé todos que comume nte são propostos. Um dos


mais fre que nte s é o e mpré stimo gove rname ntal aos faze nde iros,
a fim de que e le s possam conse rvar suas colhe itas fora do
me rcado. Insiste -se ne sse s e mpré stimos junto ao Congre sso,
ale gando-se razõe s que pare ce m muito plausíve is à maioria dos
ouvinte s. Diz-se que toda produção dos faze nde iros é lançada no
me rcado ao me smo te mpo por ocasião da colhe ita; que é e sse ,
pre cisame nte , o te mpo e m que os pre ços são os mais baixos e
que os e spe culadore s se aprove itam para comprar a produção e
conse rvá-la, a fim de conse guire m pre ços mais e le vados quando
os alime ntos se tornare m mais raros. Afirma-se , e ntão, que os
faze nde iros sofre m com tal situação e que , mais que os
e spe culadore s, de viam tirar prove ito de pre ços mé dios mais
e le vados.

Esse argume nto não é suste ntado, que r pe la te oria, que r


pe la e xpe riê ncia. Os muito vilipe ndiados e spe culadore s não são
inimigos dos faze nde iros; são e sse nciais a se u be m-e star. Os
riscos da flutuação dos pre ços agrícolas de ve m se r suste ntados
por algué m; tê m sido suste ntados nos te mpos mode rnos, na
ve rdade , principalme nte pe los e spe culadore s profissionais. Em
ge ral, quanto mais compe te nte for a situação de ste s e m se u
próprio inte re sse , tanto maior se rá o auxílio que pre starão ao
faze nde iro, pois se rve m a se us próprios inte re sse s pre cisame nte
na me sma proporção de sua habilidade para pre ve r os pre ços
futuros. Mas, quanto mais e xata for a sua pre visão, tanto me nos
viole ntas e e xtre madas se rão as flutuaçõe s de pre ços.

Me smo que os faze nde iros tive sse m que lançar toda a
produção de trigo no me rcado num único mê s do ano, o pre ço
ne sse mê s não se ria ne ce ssariame nte infe rior ao de qualque r
outro mê s (salvo ce rta marge m para cobrir o custo do
armaze name nto), pois os e spe culadore s, na e spe rança de
obte re m lucro, fariam a maior parte de suas compras ne ssa
ocasião. Continuariam comprando, até que o pre ço subisse a um
ponto, e m que não visse m mais oportunidade de lucro futuro.
Ve nde riam, se mpre que julgasse m have r pe rspe ctiva de pe rda
futura. O re sultado se ria e stabilizare m-se os pre ços dos produtos
agrícolas durante todo o ano.

É pre cisame nte por e xistir uma classe profissional de


e spe culadore s para assumir e sse s riscos que faze nde iros e
mole iros não tê m ne ce ssidade de assumi-los. Pode rão prote ge r-
se atravé s dos me rcados. Em condiçõe s normais, portanto,
quando os e spe culadore s e stão de se mpe nhando be m sua tare fa,
os lucros dos faze nde iros e mole iros de pe nde rão, principalme nte ,
de sua habilidade e atividade nas faze ndas e nos moinhos e não
nas flutuaçõe s do me rcado.

A e xpe riê ncia re al mostra que , e m mé dia, o pre ço do trigo e


de outros produtos não pe re cíve is pe rmane ce o me smo o ano
todo, e xce to pe la marge m de stinada ao armaze name nto e às
taxas de se guro. De fato, algumas inve stigaçõe s cuidadosas
de monstraram que a alta me nsal mé dia, após a é poca da
colhe ita, não che gou a se r suficie nte para pagar as de spe sas de
armaze name nto; de sorte que foram os e spe culadore s que , na
re alidade , acabaram subsidiando os faze nde iros. Não e ra e ssa,
naturalme nte , sua inte nção; foi simple sme nte o re sultado de uma
pe rsiste nte te ndê ncia para e xce sso de otimismo de sua parte .
(Essa te ndê ncia pare ce afe tar os "e mpre sários" e m muitas
atividade s concorre nte s: como classe , e stão se mpre ,
contrariame nte a suas inte nçõe s, subsidiando os consumidore s.
Isso, de modo e spe cial, é ve rdade , se mpre que e xiste m
pe rspe ctivas de grande s ganhos na e spe culação. Assim como os
que jogam na lote ria, conside rados como uma unidade , pe rde m
dinhe iro, porque cada um se acha injustificadame nte e spe rançoso
de ganhar um dos poucos prê mios e spe taculare s, també m se
calculou que o total do trabalho e capital e mpre gados na
prospe cção do ouro ou do pe tróle o e xce de u o valor total de sua
re spe ctiva e xtração.)

O caso é dife re nte , poré m, quando o Estado inte rvé m, e , ou


compra e le me smo a produção dos faze nde iros ou e mpre sta-lhe s
o dinhe iro para armaze nar as colhe itas. Isso, às ve ze s, é fe ito e m
nome do que , plausive lme nte , se de nomina "ce le iro se mpre
normal". Contudo, a história dos pre ços e a produção, que se
transfe re de um ano para outro, mostram que e ssa função,
conforme vimos, e stá se ndo be m e xe cutada por organizaçõe s
particulare s nos me rcados livre s. Quando o gove rno inte rvé m, o
ce le iro se mpre normal torna-se , de fato, um ce le iro se mpre
político. Encoraja-se o faze nde iro, com o dinhe iro dos
contribuinte s, a re te r e xce ssivame nte sua produção. Como
de se jam asse gurar-se do voto dos faze nde iros, os políticos que
iniciam e ssa política, ou os burocratas que a e xe cutam, se mpre
colocam o de nominado pre ço justo para o produto do faze nde iro
acima do pre ço, que as condiçõe s da ofe rta e da procura
justificam na ocasião. Isso re duz o núme ro de compradore s. O
ce le iro se mpre normal te nde , portanto, a tornar-se um ce le iro
se mpre anormal. Estoque s e xce ssivos ficam afastados do
me rcado. O e fe ito é asse gurar, te mporariame nte , um pre ço
mais alto do que pode ria e xistir de outro modo, mas fazê -lo se rá
provocar mais tarde um pre ço muito mais baixo, pois a falta
artificial que se cria ne sse ano, ao re tirar-se do me rcado parte
de uma colhe ita, implica um e xce sso artificial para o ano
se guinte .

Se ria de sviar-nos bastante da me ta, se fôsse mos de scre ve r o


que re alme nte aconte ce u, quando, por e xe mplo, se aplicou e sse
programa ao algodão ame ricano. 1 Empilhou-se nos armazé ns
toda a colhe ita de um ano. De struiu-se o me rcado e xte rior para
o nosso algodão. Estimulou-se de masiadame nte o cultivo do
algodão e m outros paíse s. Embora tais re sultados tive sse m sido
pre vistos pe los que se opunham à política de re strição e de
e mpré stimos, quando isso re alme nte aconte ce u, os burocratas
re sponsáve is por e sse s re sultados re sponde ram simple sme nte
que te ria aconte cido de qualque r mane ira.

A política de e mpré stimos é , normalme nte , acompanhada de


uma política de re strição à produção, ou, ine vitave lme nte , a e la
conduz — isto é , a uma política de e scasse z. Em quase todos os
e sforços para "e stabilizar" o pre ço de um produto, colocaram-se
e m prime iro lugar os inte re sse s dos produtore s. O ve rdade iro
obje tivo é a e le vação ime diata dos pre ços. Para tornar isso
possíve l, impõe -se a cada produtor, suje ito a controle , uma
re strição proporcional à produção. Isso te m vários e fe itos maus e
ime diatos. Admitindo que se possa impor o controle e m e scala
inte rnacional, tal me dida significa uma que da da produção total
do mundo. Os consumidore s inte rnacionais de sfrutam me nos do
produto do que te ria sido possíve l se m as re striçõe s. O mundo
fica, assim, muito mais pobre . Como os consumidore s são,
portanto, forçados a pagar pre ços mais e le vados por e sse
produto, ficam com muito me nos dinhe iro para de spe nde r e m
outros artigos.

Os partidários da política de re striçõe s ge ralme nte


re sponde m que e ssa que da na produção é o que , de um modo
ou outro, aconte ce e m uma e conomia de me rcado. Há,
e ntre tanto, conforme vimos no capítulo pre ce de nte , uma
dife re nça fundame ntal. Numa e conomia de me rcado compe titivo,
os produtore s de custos e le vados, os ineficientes, é que são postos
à marge m pe la que da dos pre ços. No caso de um produto
agrícola, é o me nos compe te nte dos faze nde iros ou aque le s que
possue m os e quipame ntos mais de ficie nte s ou que trabalham nas
te rras mais pobre s que são e xpulsos do me rcado. Os mais
capaze s, os que trabalham nas me lhore s te rras, não tê m que
re stringir a produção. Pe lo contrário, se a que da no pre ço foi
sintoma de mais baixo custo mé dio de produção, re fle tido no
aume nto da ofe rta, e ntão o afastame nto dos faze nde iros
marginais e m te rras marginais capacita os bons faze nde iros, nas
te rras boas, a expandirem sua produção. Talve z não ve nha a
ocorre r, afinal, a longo prazo, alguma re dução na produção
daque la me rcadoria. E, e ntão, a me rcadoria se rá produzida e
ve ndida a um pre ço permanentemente mais baixo.

Se o re sultado for e sse , os consumidore s da me rcadoria


ficarão tão be m ate ndidos quanto e ram ante riorme nte . Mas,
como re sultado do pre ço mais baixo, te rão sobra de dinhe iro,
que ante s não tinham, para de spe nde r e m outras coisas. É
e vide nte , portanto, que os consumidore s e starão e m me lhore s
condiçõe s. O aume nto de se us gastos e m outras dire çõe s
proporcionará aume nto de e mpre gos e m outros ramos de
ne gócio, que absorve rão assim os antigos faze nde iros marginais
e m ocupaçõe s nas quais se us e sforços se rão mais lucrativos e
e ficie nte s.

Uma re strição uniforme e proporcional (para voltarmos ao


nosso e sque ma de inte rve nção gove rname ntal) significa, por um
lado, que aos produtore s e ficie nte s, que ope ram a baixo custo,
não é pe rmitido e ntre gar toda produção a baixo pre ço. Significa,
por outro lado, que os produtore s ine ficie nte s, que ope ram a
custo e le vado, são mantidos artificialme nte no me rcado. Isso
aume nta o custo mé dio da produção da me rcadoria. Esta e stá
se ndo produzida com me nor e ficiê ncia, do que no caso contrário.
O ine ficie nte produtor marginal, mantido assim artificialme nte
ne ssa linha de produção, continua a amarrar te rras, mão-de -
obra e capital que pode riam se r e mpre gados, com mais e ficiê ncia
e lucratividade , e m outras atividade s.

Não há se ntido e m argume ntar que , como re sultado do


e sque ma de re striçõe s, o pre ço dos produtos agrícolas foi, pe lo
me nos, aume ntado e "os faze nde iros adquiriram maior pode r
aquisitivo". Conse guiram-no some nte pe lo fato de have re m tirado
do comprador da cidade um maior pode r aquisitivo. (Já
de bate mos e ssa que stão, ante s, na análise que fize mos da
"paridade " de pre ços.) Forne ce r aos faze nde iros dinhe iro, para
limitar a produção, ou dar-lhe s a me sma quantia para uma
produção artificialme nte limitada, não é dife re nte de forçar os
consumidore s ou contribuinte s a pagare m a pe ssoas, para não
faze re m coisa alguma. Em cada caso, os be ne ficiários de tal
política adquire m "pode r aquisitivo". Mas e m cada caso algué m
pe rde uma importância e xatame nte e quivale nte . A pe rda líquida,
para a comunidade , é a pe rda da produção, porque algumas
pe ssoas e stão se ndo suste ntadas para não produzir. Como há
me nor quantidade de produto para todo mundo, porque há
me nor quantidade para se r movime ntada, os salários e os
re ndime ntos re ais de clinarão, que r pe la que da de sua
importância mone tária, que r atravé s de um custo de vida mais
alto.

Se , poré m, é fe ita uma te ntativa para mante r a alta do pre ço


de um produto agrícola, e não é imposta qualque r re strição
artificial à produção, o e xce sso não ve ndido do produto suje ito à
política de valorização continuará a acumular-se , até que , no
me rcado, a que da de pre ço ve nha a se r muito maior que a que
se pode ria e spe rar, se m o e stabe le cime nto do programa de
controle . Ou, e ntão, os produtore s que se e ncontram fora de sse
programa de re striçõe s, e stimulados pe la alta artificial do pre ço,
e xpande m conside rave lme nte sua própria produção. Foi o que
aconte ce u com as re striçõe s que os ingle se s impuse ram à
produção da borracha, e com os programas ame ricanos de
re striçõe s ao cultivo do algodão. Em qualque r um dos casos, a
que da dos pre ços atinge , finalme nte , proporçõe s catastróficas
que não ocorre riam se m o e sque ma de re striçõe s. O plano, pe lo
qual se come çou, tão corajosame nte , a "e stabilizar" pre ços e
condiçõe s, traz instabilidade incomparave lme nte maior do que
ocorre ria se atuasse m as forças livre s do me rcado.

Agora novo controle inte rnacional de me rcadorias e stá


constante me nte se ndo proposto. Dessa vez, dize m-nos, e stão
que re ndo e vitar todos e sse s ve lhos e rros. De ssa ve z, os pre ços a
se re m fixados se rão "justos" não só para os produtore s, como
para os consumidore s. As naçõe s produtoras e consumidoras vão
concordar com o que é justo ne sse s pre ços, pois ningué m se
mostrará de sarrazoado. Os pre ços fixados e nvolve rão,
ne ce ssariame nte , quinhõe s "justos" e de limitação da áre a de
produção e consumo e ntre naçõe s, e some nte os cínicos
vaticinam qualque r disputa inconve nie nte a re spe ito. Finalme nte ,
graças ao maior milagre de todos, e ste mundo de controle e
coaçõe s supe rinte rnacionais vai se r, també m, um mundo de
comé rcio inte rnacional "livre "!

O que a re spe ito disso os plane jadore s gove rname ntais


que re m dize r e xatame nte , ao falare m e m comé rcio livre , não
e stou muito ce rto, mas pode mos te r ce rte za de algumas coisas
que se u plano não visa. Não significa libe rdade para pe ssoas
comuns comprare m e ve nde re m, e mpre stare m e tomare m
e mpre stado, por qualque r pre ço ou taxa que que iram, e onde
que r que ache m mais lucrativo fazê -lo. Não significa libe rdade
para o simple s cidadão cultivar tanto quanto que ira de
de te rminado produto, movime ntar-se à vontade , e stabe le ce r-se
onde lhe aprouve r, le var consigo se u capital e outros pe rte nce s.
Significa, de sconfio, libe rdade para os burocratas solucionare m
e ssas que stõe s para o cidadão. Dize m-lhe que , se obe de ce r
docilme nte , se rá re compe nsado por maior padrão de vida. Se ,
poré m, os plane jadore s conse guire m ligar a idé ia de coope ração
inte rnacional à idé ia de maior domínio e maior controle do
Estado sobre a vida e conômica, os controle s inte rnacionais do
futuro, ao que pare ce , e starão se guindo as normas do passado
e , ne sse caso, o padrão de vida do home m simple s de cairá
juntame nte com sua libe rdade .

1 O programa do algodão, e ntre tanto, te m sido um programa


e spe cialme nte instrutivo. Como o de 1 de agosto de 1956, o
e xce de nte de algodão subiu à cifra re corde de 14.529.000 fardos,
mais do que uma produção ou consumo normal de um ano
inte iro. Para compe tir com isto, o gove rno mudou se u programa.
De cidiu comprar a maior parte da colhe ita dos produtore s, para
ime diatame nte a re ve nde r com de sconto. A fim de ve nde r o
algodão ame ricano novame nte no me rcado mundial, criou um
pagame nto de subsídio nas e xportaçõe s de algodão, prime iro de
6 ce ntavos por libra, e , e m 1961, de 8,5 ce ntavos por libra. Esta
política te ve suce sso na re dução do e xce de nte do algodão cru.
Mas alé m das pe rdas impostas aos contribuinte s, colocou os
tê xte is ame ricanos numa sé ria de svantage m compe titiva com os
tê xte is e strange iros, tanto no me rcado nacional como no
e strange iro. O gove rno ame ricano e stava subsidiando a indústria
e strange ira à custa da indústria nacional. É típico dos e sque mas
de tabe lame nto de pre ços pe lo gove rno e scapar de uma
conse qüê ncia de sastrosa, lançando-se numa outra, normalme nte
pior.
CAPÍTULO XVII
Tabe lame nto de pre ços pe lo gove rno

Vimos quais são alguns dos e fe itos dos e sforços


gove rname ntais no se ntido de se re m fixados os pre ços de
produtos acima dos níve is a que , se m isso, os conduziriam os
me rcados livre s. Examine mos, agora, alguns dos re sultados das
te ntativas do gove rno para mante r os pre ços dos produtos abaixo
de se us níve is naturais no me rcado.

Tal te ntativa é fe ita, e m nossos dias, por quase todos os


gove rnos e m te mpo de gue rra. Não vamos e xaminar a sabe doria
do tabe lame nto e m te mpo de gue rra. Toda a e conomia, na
gue rra total, é ne ce ssariame nte dominada pe lo Estado, e as
complicaçõe s, que de ve riam se r conside radas, le var-nos-iam
muito alé m da que stão principal de que trata e ste livro. 1 Mas o
tabe lame nto de pre ços e m te mpo de gue rra — prude nte ou não
— continua a pe rsistir e m quase todos os paíse s, pe lo me nos
durante longo pe ríodo, de pois do té rmino da gue rra, quando a
justificativa originária, para que fosse implantado, já de sapare ce u.

É a inflação do te mpo de gue rra a causa principal da pre ssão


para o tabe lame nto de pre ços. Hoje e m dia, quando
praticame nte todos os paíse s se e ncontram inflacionários,
e mbora a maioria de le s e ste ja e m paz, os controle s de pre ços
são se mpre suge ridos, me smo quando não são impostos. Embora
se jam se mpre , e conomicame nte , nocivos, se não de strutivos, tê m
pe lo me nos uma vantage m política do ponto de vista dos
de te ntore s do pode r que , implicitame nte , põe m a culpa da alta
dos pre ços na avide z e ganância dos come rciante s, e m ve z de e m
suas próprias políticas mone tárias.

Ve jamos, e m prime iro lugar, o que aconte ce quando o


gove rno procura mante r o pre ço de uma única me rcadoria, ou de
um pe que no grupo de las, abaixo do pre ço que se ria e stabe le cido
num me rcado livre e compe titivo.

Quando o gove rno procura fixar pre ços máximos para,


ape nas, uns poucos produtos, e scolhe ge ralme nte alguns
basicame nte ne ce ssários, sob o fundame nto de que é e sse ncial
que o pobre possa obtê -lo, a custo "razoáve l". Imagine mos que os
produtos e scolhidos se jam o pão, o le ite e a carne .

O argume nto para tabe lame nto do pre ço de sse s produtos


se rá, mais ou me nos, o se guinte : se de ixarmos a carne —
digamos — à me rcê do me rcado livre , a alta se rá forçada pe los
lanços da concorrê ncia, de sorte que some nte os ricos pode rão
adquiri-la. As pe ssoas, não obte rão a carne na proporção de suas
ne ce ssidade s, mas ape nas na proporção de se u pode r aquisitivo.
Se mantive rmos baixo o pre ço, todos obte rão se u justo quinhão.

A prime ira coisa a obse rvar ne sse argume nto é que , se te m


validade , a política adotada é inconsiste nte e tímida. Se é o pode r
aquisitivo e não a ne ce ssidade o que de te rmina a distribuição da
carne ao pre ço de me rcado de US$2.25 a libra, de te rminaria e le
també m, se be m que , talve z, e m grau lige irame nte me nor, o
e stabe le cime nto de um pre ço "te to" le gal de US$1.50 a libra. O
argume nto do pode r aquisitivo, e m ve z da ne ce ssidade ,
pe rmane ce , re alme nte , de pé , e nquanto one ramos a carne .
Some nte de ixaria de subsistir, se a carne fosse dada de graça.

Mas os e sque mas para fixação de pre ços máximos come çam,
ge ralme nte , como e sforços para "impe dir que suba o custo de
vida". Assim, se us de fe nsore s admite m, inconscie nte me nte , e xistir
algo pe culiarme nte "normal" ou sagrado ace rca do pre ço do
me rcado, no mome nto e m que se inicia se u controle . Esse pre ço
inicial é conside rado "razoáve l", e qualque r pre ço acima de le é
tido como "de sarrazoado", inde pe nde nte me nte de mudanças nas
condiçõe s de produção ou procura, de sde que se e stabe le ce u o
pre ço inicial.
2

Ao discutir e ste assunto, não ve mos motivo para admitir um


controle de pre ços, que os fixasse e xatame nte no ponto, e m que
um me rcado livre os colocaria e m qualque r caso. Se ria o me smo
que não have r controle algum. De ve mos admitir que o pode r
aquisitivo nas mãos do público é maior que a ofe rta de
me rcadorias e xiste nte s, e que os pre ços e stão se ndo mantidos,
pe lo gove rno, abaixo dos níve is e m que os colocaria um me rcado
livre .

Ora, não pode mos mante r o pre ço de qualque r me rcadoria


abaixo do níve l do me rcado, se m que isso traga, com o te mpo,
duas conse qüê ncias. A prime ira é aume ntar a procura da
me rcadoria. Se ndo e sta mais barata, as pe ssoas se nte m-se
te ntadas a comprar mais e pode m fazê -lo. A se gunda
conse qüê ncia é re duzir a ofe rta da me rcadoria. Como as pe ssoas
compram maior quantidade , o que se acumulou nas prate le iras
dos ne gociante s e svazia-se rapidame nte . Alé m disso, de se ncoraja-
se a produção da me rcadoria. A marge m de lucro fica re duzida
ou e liminada. Os produtore s marginais são obrigados a
abandonar o me rcado. Talve z, me smo, se e xija que os mais
e ficie nte s e ntre gue m se us produtos com pre juízo. Isso aconte ce u
durante a II Gue rra Mundial, quando o De partame nto de
Administração de Pre ços e xigiu dos frigoríficos que fize sse m o
abate e industrializasse m a carne por um custo me nor, que o do
gado e m pé e da mão-de -obra ne ce ssária para matá-lo e
industrializá-lo.

Se não fizé sse mos mais nada, a fixação de uma pre ço


máximo para de te rminada me rcadoria te ria como conse qüê ncia
provocar sua falta. Isso, poré m, é pre cisame nte o contrário do
que os controladore s gove rname ntais a princípio pre te ndiam
faze r, pois é das próprias me rcadorias, se le cionadas para o
tabe lame nto, que os controladore s mais de se jam mante r
abundante ofe rta. Mas quando limitam os salários e os lucros dos
que produze m tais me rcadorias, se m limitar os salários e os
lucros daque le s que fabricam artigos de luxo ou se miluxo,
de se ncorajam a produção dos artigos ne ce ssários, de pre ços
controlados, e nquanto e stimulam, re lativame nte , a produção de
me rcadorias me nos e sse nciais.

Com o te mpo, algumas de ssas conse qüê ncias tornam-se


e vide nte s para os controladore s, que , e ntão, adotam outros
proce ssos e controle s numa te ntativa para afastá-las. Entre e sse s
proce ssos figuram o racioname nto, o controle do custo, os
subsídios e o tabe lame nto unive rsal. Examine mos um de cada ve z.

Quando se e vide ncia o de se nvolvime nto da falta de uma


me rcadoria como re sultado do pre ço fixado abaixo do níve l do
me rcado, os consumidore s ricos são acusados de adquirire m
"mais do que , por justiça, lhe s cabe "; ou, tratando-se de maté ria-
prima que e ntra na fabricação, firmas individuais são acusadas de
"armaze ná-la". O gove rno, e ntão, adota uma sé rie de
providê ncias a re spe ito de que m de ve rá te r prioridade para
comprá-la, ou a que m de ve se r distribuída, e qual a quantidade ,
ou como de ve rá se r racionada. Se é adotado o siste ma de
racioname nto, isso significa que cada consumidor só pode rá te r
ce rto suprime nto máximo, se m que se indague quanto e ste ja
disposto a pagar para re ce be r mais.

Em sínte se , se é adotado o siste ma de racioname nto, isso


significa que o gove rno adota um siste ma de pre ços duplos ou um
siste ma de dualidade de moe da, no qual o consumidor de ve rá
possuir ce rto núme ro de cupons ou "pontos", alé m de ce rta
importância e m dinhe iro. Em outras palavras, o gove rno procura
faze r, atravé s do racioname nto, parte da tare fa que um me rcado
livre te ria fe ito, atravé s dos pre ços. Ape nas parte da tare fa —
digo —, porque o racioname nto limita ape nas a procura, se m
e stimular, també m, a ofe rta, como te ria fe ito um pre ço mais
alto.

O gove rno talve z procure garantir o abaste cime nto


e ste nde ndo, para tanto, se u controle sobre o custo de produção
de de te rminada me rcadoria. A fim de impe dir a e le vação do
pre ço da carne no vare jo, por e xe mplo, pode fixar se u pre ço no
atacado, o pre ço nos frigoríficos, do gado e m pé , das raçõe s e os
salários dos que trabalham nas faze ndas. Para impe dir a
e le vação do pre ço do le ite na e ntre ga, procura fixar os salários
dos motoristas de caminhõe s que transportam le ite , o pre ço do
pe cuarista, o pre ço das forrage ns. Para fixar o pre ço do pão,
pode fixar os salários nas padarias, o pre ço da farinha, o lucro
dos mole iros, o pre ço do trigo e tc.

Mas o gove rno, ao e ste nde r para trás o tabe lame nto de
pre ços, e ste nde ao me smo te mpo as conse qüê ncias que , a
princípio, o impe liram à me dida. Admitindo-se que e le te nha
corage m para tabe lar e sse s custos e se ja capaz de e xe cutar suas
de cisõe s, isso, e ntão, simple sme nte , por sua ve z, cria e scasse z de
vários fatore s — mão-de -obra, forrage ns, trigo e tc. — que
e ntram na produção da me rcadoria acabada. Assim, o gove rno é
impe lido a controle s e m círculos cada ve z maiore s, e as
conse qüê ncias finais se rão as me smas que as do tabe lame nto
unive rsal.

O gove rno pode te ntar e nfre ntar e ssa dificuldade atravé s de


subsídios. Re conhe ce , por e xe mplo, que , quando manté m o pre ço
do le ite ou da mante iga abaixo do níve l do me rcado ou abaixo do
níve l re lativo, no qual fixa outros pre ços, a conse qüê ncia é uma
carê ncia, por causa dos salários ou marge ns de lucro mais baixas
para a produção de le ite ou mante iga, e m comparação com
outros produtos. Procura, pois, uma compe nsação, pagando um
subsídio aos produtore s de le ite e mante iga. De ixando de lado as
dificuldade s administrativas nisso e nvolvidas, e admitindo que o
subsídio é suficie nte me nte justo para asse gurar ce rta produção
de le ite e mante iga e ntão de se jada, é claro que , e mbora o
subsídio se ja pago aos produtore s, são os consumidore s os
ve rdade irame nte subsidiados, pois os produtore s, afinal de
contas, não e starão re ce be ndo, pe lo le ite e pe la mante iga, mais
do que lhe s te ria sido pe rmitido cobrar no me rcado livre ; os
consumidore s, e ntre tanto, re ce be rão le ite e mante iga a pre ços
muito infe riore s ao do me rcado livre . Estarão se ndo subsidiados
na importância corre sponde nte à dife re nça, isto é , a quantia do
subsídio paga oste nsivame nte aos produtore s.

Ora, a me nos que a me rcadoria subsidiada se ja també m


racionada, são os indivíduos de maior pode r aquisitivo que
pode rão comprar maior quantidade de la. Significa isso que e stão
se ndo subsidiados e m quantia maior, que os de me nor pode r
aquisitivo.

Que m subsidia os consumidore s de pe nde rá da incidê ncia da


tributação. Mas os home ns, na posição de contribuinte s, e starão,
subsidiando a si me smos como consumidore s. Torna-se um pouco
difícil ave riguar, ne sse labirinto, e xatame nte que m e stá
subsidiando que m. O que se e sque ce é que os subsídios são
pagos por algué m, e que não se de scobriu qualque r mé todo pe lo
qual a comunidade consiga alguma coisa por nada.

O tabe lame nto de pre ços pode rá pare ce r, durante bre ve


pe ríodo, te r sido coroado de ê xito. Pode rá pare ce r que funcione
be m durante ce rto te mpo — e spe cialme nte no de curso de uma
gue rra, quando é apoiado pe lo patriotismo e por uma se nsação
de crise . Entre tanto, quanto mais te mpo e stive r e m vigor, tanto
mais aume ntarão suas dificuldade s. Quando os pre ços são
arbitrariame nte contidos por imposição gove rname ntal, a procura
sobre puja cronicamente a ofe rta. Vimos que , se o gove rno procura
impe dir a falta de uma me rcadoria, re duzindo també m os pre ços
de mão-de -obra, de maté ria-prima e de outros fatore s que
participam do custo da produção, cria, por sua ve z, e scasse z de
todos e sse s e le me ntos. Mas, ao prosse guir ne ssa dire triz, não só
achará ne ce ssário e ste nde r o controle de pre ço, cada ve z mais
para baixo ou "ve rticalme nte ", mas també m, achará não me nos
ne ce ssário e xpandi-lo "horizontalme nte ". Se racionarmos um
produto e o público não conse guir quantidade suficie nte de le ,
e mbora te nha ainda pode r aquisitivo de sobra, re corre rá a algum
suce dâne o. Em outras palavras, o racioname nto de cada produto,
tornando-se e le e scasso, e xe rce pre ssão cada ve z maior sobre os
produtos não-racionados e xiste nte s. Se admitirmos que o gove rno
foi be m-suce dido e m se us e sforços para impe dir a formação do
me rcado ne gro (ou, pe lo me nos, impe dir que se de se nvolva numa
e scala suficie nte para anular os pre ços le gais), um contínuo
controle de pre ços vai le vá-lo a racionar um núme ro cada ve z
maior de produtos. Esse racioname nto não pode rá parar para os
consumidore s. Na II Gue rra Mundial, não parou para os
consumidore s. De fato, aplicou-se ante s de tudo à distribuição de
maté ria-prima aos produtore s.

A conse qüê ncia natural de um controle ge ral, visando


pe rpe tuar de te rminado níve l histórico de pre ços, se rá, e m última
análise , uma e conomia inte irame nte arre gime ntada. Os salários
te riam que se r contidos tão rigidame nte quanto os pre ços. A
mão-de -obra te ria que se r racionada tão implacave lme nte quanto
a maté ria-prima. O re sultado final se ria o gove rno dize r a cada
consumidor, não só de quanto de cada produto pode ria dispor,
mas també m a cada fabricante qual a quantidade pre cisa de
cada maté ria-prima que pode ria te r e qual a quantidade de mão-
de -obra. Não se pode riam tole rar os lanços compe titivos para
trabalhadore s, da me sma mane ira que os lanços compe titivos
para a maté ria-prima. O re sultado se ria uma e conomia
totalitária pe trificada, com todas as firmas come rciais e todos os
trabalhadore s à me rcê do gove rno e o abandono final de todas as
libe rdade s tradicionais que conhe ce mos, pois, conforme
Ale xande r Hamilton assinalou há um sé culo e me io, nos Federalist
Papers: "O domínio da subsistê ncia do home m implica o domínio
de sua vontade ."

Essas, as conse quê ncias do que se pode ria de scre ve r como


controle de pre ços "pe rfe ito", prolongado e "não-político".
Conforme ficou amplame nte de monstrado num país após outro
— e spe cialme nte na Europa, durante e após a II Gue rra Mundial
— alguns dos mais fantásticos e rros dos burocratas foram
mitigados pe lo me rcado ne gro. Foi um aconte cime nto fre que nte
e m muitos paíse s e urope us o fato de o povo ainda e star vivo
unicame nte graças ao me rcado ne gro. Em alguns paíse s, o
me rcado ne gro prosse guiu e m se u de se nvolvime nto, a e xpe nsas
do me rcado de pre ços tabe lados, le galme nte re conhe cidos, até
que , na re alidade , se transformou e m o me rcado. Mante ndo
nominalme nte o te to dos pre ços, os políticos no pode r
procuraram mostrar que se us coraçõe s — quando não se us
pe lotõe s de policiame nto — e stavam no lugar ce rto.

Como o me rcado ne gro suplantou, finalme nte , o me rcado


le gal de pre ços-te to, não se de ve supor que não te nha causado
mal algum. O mal foi e conômico e moral. Durante o pe ríodo de
transição, as grande s firmas, há muito e stabe le cidas, com grande
inve rsão de capital e grande de pe ndê ncia de sua re putação junto
ao público, foram forçadas a re stringir ou tornar de scontínua a
produção. Se u lugar é tomado por firmas finance irame nte
irre sponsáve is, com pe que no capital e pouca e xpe riê ncia
acumulada no tocante à produção. Essas novas firmas,
comparadas com as que substitue m, são ine ficie nte s; produze m
me rcadorias infe riore s e de sone stas, a custo muito mais alto, do
que os antigos e stabe le cime ntos re que riam para produzir as
suas. A de sone stidade é e stimulada. As novas firmas de ve m sua
e xistê ncia ou cre scime nto ao fato de e stare m dispostas a violar a
le i; se us fre gue se s conspiram com e las; e , como conse qüê ncia
natural, a de smoralização e spalha-se por todas as atividade s
come rciais.

Alé m disso, é raro qualque r e sforço hone sto se r fe ito pe las


autoridade s que tabe lam os pre ços, ape nas para pre se rvar o
níve l dos pre ços e xiste nte s, quando iniciam suas atividade s.
De claram que sua inte nção é "mante r-se na linha". Logo, poré m,
sob a ale gação de "corrigir iniquidade s" ou "injustiças sociais",
come çam a tabe lar discriminadame nte , dando o máximo para os
grupos politicame nte pode rosos e o mínimo para os outros
grupos.

Como a força política, hoje e m dia, é mais comume nte


me dida pe los votos, os grupos que as autoridade s quase se mpre
procuram favore ce r são os ope rários e os faze nde iros. Afirma-se ,
a princípio, que salários e custos de vida não tê m ligação uns com
os outros; que salários pode m se r facilme nte aume ntados, se m
que isso implique aume ntos de pre ços. Quando se e vide ncia que
os salários pode m se r aume ntados some nte a e xpe nsas dos
lucros, os burocratas come çam a ale gar que os lucros já e ram
de masiados altos e que o aume nto de salários e a conte nção dos
pre ços ainda pe rmitirão "lucro razoáve l". Como não e xiste uma
taxa uniforme de lucro, já que os lucros dife re m de atividade para
atividade , o re sultado de ssa política é faze r com que as atividade s
come rciais e os ne gócios se jam me nos lucrativos e de se ncorajar
ou ce ssar a produção de ce rtos artigos. Disso de corre o
de se mpre go, a diminuição da produção e o de clínio dos padrõe s
de vida.

O que e stá na base de todos os e sforços para fixação de


pre ços máximos? Há, ante s de tudo, um mal-e nte ndido a
propósito do que ve m causando a alta dos pre ços. A ve rdade ira
causa é a e scasse z de me rcadorias ou o e xce sso de dinhe iro.
Pre ços-te to le gais não constitue m, tampouco, re mé dio para a
situação. De fato, conforme acabamos de ve r, e le s ape nas
ide ntificam a e scasse z de me rcadorias. O que faze r com o
e xce sso de dinhe iro se rá discutido num capítulo poste rior. Um
dos e rros, poré m, subjace nte s à campanha e m prol do
tabe lame nto de pre ços, é o principal assunto de ste livro. Do
me smo modo que os infindáve is planos para aume ntar pre ços de
me rcadorias favore cidas são o re sultado de pe nsar-se some nte
nos inte re sse s dos produtore s, ime diatame nte e nvolvidos,
e sque ce ndo-se dos inte re sse s dos consumidore s, assim são os
planos para conte r os pre ços, por me io de de cre tos, são o
re sultado de pe nsar-se some nte nos inte re sse s das pe ssoas como
consumidore s, e sque ce ndo-se de se us inte re sse s como
produtore s.* E o apoio político para tais normas de corre de
idê ntica confusão no e spírito do público. O público não de se ja
pagar mais por le ite , mante iga, sapatos, móve is, alugué is,
e ntradas de te atros ou diamante s. Se mpre que qualque r de sse s
ite ns se e le va acima do níve l ante rior, o consumidor fica
e nfure cido e julga que e stá se ndo roubado.

A única e xce ção é o artigo por e le me smo fabricado: aqui, o


consumidor compre e nde e apre cia a razão dada para o
aume nto. Mas é se mpre prováve l que conside re se u ne gócio uma
e xce ção. "Ora, me u próprio ne gócio" — dirá — "é pe culiar e o
público não o compre e nde . O custo da mão-de -obra subiu; os
pre ços da maté ria-prima també m; e sta ou aque la maté ria-prima
não e stá se ndo mais importada, e de ve se r fe ita no país a custo
mais e le vado. Alé m disso, aume ntou a procura do produto, e ,
portanto, de ve -se pe rmitir que a firma de te rmine os pre ços
ne ce ssários a e stimular a e xpansão da sua ofe rta, para ate nde r
a procura." E assim por diante . Todo mundo, como consumidor,
compra uma ce nte na de dife re nte s produtos; como produtor,
fabrica, ge ralme nte , ape nas um. Ele pode pe rce be r a iniquidade
da conte nção do pre ço deste. Da me sma forma que cada
fabricante de se ja um pre ço mais alto para se u produto, assim
també m cada trabalhador de se ja um orde nado ou salário mais
e le vado.

Cada um pode ve r, tanto quanto o produtor, que o controle


do pre ço e stá re stringindo a produção e m se u ramo. Mas quase
todos se re cusam a ge ne ralizar e ssa obse rvação, já que a
ge ne ralização significa que tê m que pagar mais pe lo produto de
outros. Cada um de nós, e m sínte se , possui múltipla
pe rsonalidade e conômica. Cada um de nós é produtor,
contribuinte e consumidor. As normas, que cada um advoga,
de pe nde m do aspe cto particular sob o qual se conside ra a si
me smo na ocasião, pois às ve ze s é um Dr. Je kyll, às ve ze s um
Mr. Hyde . Como produtor, de se ja a inflação (pe nsando
principalme nte e m se us próprios se rviços ou produtos); como
consumidor, de se ja pre ços-te to (pe nsando principalme nte no que
de ve pagar pe los produtos de outros). Como consumidor, pode
de fe nde r os subsídios ou concordar com e le s; como contribuinte ,
re pugna-lhe pagá-los. Cada pe ssoa pe nsa, talve z, pode r
manobrar as forças políticas, de modo a be ne ficiar-se mais com
o subsídio, do que pe rde com o imposto, ou be ne ficiar-se com
um aume nto para se u produto (e nquanto o custo da maté ria-
prima que usa e stá contido le galme nte ) e , ao me smo te mpo,
be ne ficiar-se com o controle dos pre ços, como consumidor. A
e smagadora maioria, e ntre tanto, e stará ludibriando-se a si
me sma, pois não só de ve have r, pe lo me nos, pe rda e ganho
idê nticos ne ssa manobra política de pre ços, como pode have r mais
pe rda que ganho, porque o tabe lame nto de se ncoraja e
de sorganiza o e mpre go e a produção.
1 Minha própria conclusão, e ntre tanto, é que , e nquanto algumas
prioridade s gove rname ntais, distribuiçõe s ou racioname ntos
fore m ine vitáve is, o tabe lame nto de pre ços pe lo gove rno
provave lme nte se rá especialmente pre judicial na gue rra total.
Enquanto que o tabe lame nto de pre ços máximos e xige
racioname nto para fazê -lo funcionar, me smo te mporariame nte ,
o inve rso não é ve rdade iro.

* A tradução da frase foi alte rada. (Nota de re visão).


CAPÍTULO XVIII
O que faz o controle de alugué is

O controle de alugué is de casas e apartame ntos pe lo gove rno


é uma forma e spe cial de controle de pre ços. Muitas das suas
conse qüê ncias são, substancialme nte , iguais às do controle de
pre ços e m ge ral, poré m, algumas e xige m conside ração e spe cial.

Os controle s de alugué is são, às ve ze s, impostos como uma


parte dos controle s de pre ços e m ge ral, mas, na maioria das
ve ze s, são de cre tados por uma le i e spe cial. A ocasião mais
fre que nte é no come ço de uma gue rra. Um quarte l do e xé rcito é
instalado e m uma pe que na cidade ; as hospe darias aume ntam os
alugué is dos quartos, os proprie tários de apartame ntos e casas
aume ntam se us alugué is. Isto le va à indignação do povo. Ou,
e ntão, casas e m algumas cidade s pode m se r ve rdade irame nte
de struídas por bombas, e a ne ce ssidade de armame ntos ou
outros suprime ntos de svia os mate riais e mão-de -obra das
indústrias de construção.

O controle dos alugué is é imposto, inicialme nte , sob a


ale gação de que o suprime nto de casas não é "e lástico", isto é , a
crise de moradia não pode se r solucionada ime diatame nte , e
pouco importa os altos pre ços que os alugué is possam atingir. Em
conse quê ncia disto, o gove rno, proibindo os aume ntos de
alugué is, prote je os inquilinos da e xtorsão e e xploração, se m
causar ne nhum dano re al aos proprie tários e se m de se ncorajar
novas construçõe s.

Este argume nto é falho me smo na hipóte se que o controle


dos alugué is não pe rmane ce rá e fe tivame nte por muito te mpo.
Ne glige ncia uma conse quê ncia ime diata. Se os proprie tários
pude re m aume ntar os alugué is para re fle tir uma inflação
mone tária e as condiçõe s ve rdade iras da ofe rta e de manda, os
inquilinos particulare s e conomizarão, ocupando me nos e spaço.
Isto pe rmitirá que outros re partam as acomodaçõe s que e stão
com suprime nto de ficie nte . A me sma quantidade de moradias
abrigará mais pe ssoas, até que de sapare ça a de ficiê ncia.

O controle de alugué is, todavia, e ncoraja o uso do e spaço


de spe rdiçado. Discrimina e m favor daque le s que já ocupam casas
ou apartame ntos numa de te rminada cidade ou re gião, à custa
daque le s que se e ncontram do lado de fora. Pe rmitindo que os
alugué is aume nte m de pre ços, aos níve is de me rcado livre ,
pe rmitirá a todos os inquilinos ou futuros inquilinos oportunidade
igual na ofe rta de e spaço. Nas condiçõe s de inflação mone tária
ou crise re al de moradia, os alugué is aume ntarão se m dúvida, se
os proprie tários não pude re m e stabe le ce r um pre ço convidativo,
mas se lhe s for pe rmitido ape nas ace itar as ofe rtas mais
compe titivas dos inquilinos.

Os e fe itos do controle de alugué is tornam-se piore s, quanto


mais te mpo continuar e ste controle . Novas moradias não são
construídas porque não há ince ntivos para construí-las. Com o
aume nto dos custos das construçõe s (comume nte como re sultado
de inflação), o níve l antigo dos alugué is não dará lucro. Se , como
fre que nte me nte aconte ce , o gove rno finalme nte re conhe ce r isto e
ise ntar as novas moradias do controle de alugué is, não have rá,
ainda, um ince ntivo para tantas construçõe s novas, se as mais
ve lhas e stive ram, també m, livre s do controle de alugué is.
De pe nde ndo da e xte nsão da de svalorização do dinhe iro, visto que
os alugué is antigos foram le galme nte conge lados, os alugué is para
as novas moradias pode m se r de z ou vinte ve ze s mais altos que o
alugue l, e m e spaço e quivale nte , da antiga. (Isto re alme nte
aconte ce u na França de pois da II Gue rra Mundial, por e xe mplo.)
Ne stas condiçõe s, inquilinos das antigas moradias re lutam e m
mudar, se m que importe o cre scime nto de suas famílias ou a
de te rioração das acomodaçõe s e xiste nte s.

Por causa dos alugué is com tabe lame nto baixo nos e difícios
ve lhos, os locatários já morando ne le s, e le galme nte prote gidos
contra os aume ntos de alugué is, são e ncorajados a usar e spaço
de spe rdiçadame nte , que r suas famílias se torne m me nore s, ou
não. Isto conce ntra a pre ssão ime diata de nova de manda nas
re lativame nte poucas moradias novas. A te ndê ncia é e le var se us
alugué is, no come ço, a um níve l mais alto do que atingiriam num
me rcado inte irame nte livre .

Todavia, isto não e ncorajará, corre sponde nte me nte , a


construção de novas moradias. Construtore s ou proprie tários de
pré dios de apartame ntos pre e xiste nte s, e ncontrando-se com
lucros re stritos, ou talve z me smo com pre juízo, com os se us
apartame ntos antigos, te rão pouco ou ne nhum capital para
e mpre gar e m novas construçõe s. Alé m disso, uns e outros, com
capital de outras fonte s, tê m me do de que o gove rno possa, a
qualque r mome nto, e ncontrar uma de sculpa para impor controle
de alugué is, me smo para os pré dios novos. E, fre que nte me nte ,
impõe .

A situação da moradia de te riorará de outras mane iras. O


mais importante , a me nos que se jam pe rmitidos os aume ntos de
alugué is apropriados: os proprie tários não se inte re ssarão e m
re formar os apartame ntos ou faze r outras me lhorias. De fato,
onde o controle de alugué is e stive r, particularme nte , fora da
re alidade ou for opre ssivo, os proprie tários ne m me smo
mante rão as casas ou apartame ntos alugados e m condiçõe s de
conse rvação tole ráve is. Ne m me smo te rão ince ntivos e conômicos
para faze r isto; pode m ne m me smo te r re cursos. As le is de
controle de alugué is, e ntre outros e fe itos, criam um mal-e star
e ntre os proprie tários que são forçados a te r lucros mínimos, ou
me smo pre juízos, e os inquilinos que se re sse nte m com as falhas
dos proprie tários e m faze r os re paros ade quados.

Um próximo passo comum das le gislaçõe s, que age m


me rame nte sob pre ssõe s políticas ou idé ias e conômicas confusas,
é re tirar do controle de alugué is os apartame ntos de "luxo",
e nquanto mantê m sob controle aque le s de baixo ou mé dio níve l.
Argume ntam que os inquilinos ricos pode m pagar alugué is mais
caros e os pobre s não.

Os e fe itos, a longo prazo, de ste artifício discriminatório,


todavia, é e xatame nte o oposto do que se us advogados
pre te ndiam. Os construtore s e proprie tários de apartame ntos de
luxo são ince ntivados e pre miados; os construtore s e
proprie tários de apartame ntos das mais ne ce ssitadas moradias
de baixa re nda são de se ncorajados e punidos. Os prime iros e stão
livre s para te r lucros tão grande s quanto as condiçõe s de ofe rta e
de manda lhe s pe rmitam, os últimos são de ixados se m ince ntivos
(ou me smo capital) para construir mais moradias de baixa re nda.

O re sultado é um e ncorajame nto comparativo para o re paro


e a re mode lação de apartame ntos de luxo, e uma te ndê ncia de
novos e difícios privativos para transformare m-se e m
apartame ntos de luxo. Mas, não há ince ntivos para construção de
novas moradias de baixa re nda, ou me smo para conse rvar as
e xiste nte s e m boas condiçõe s. As acomodaçõe s para os grupos de
baixa re nda, portanto, irão de te riorar-se e m qualidade e não
have rá aume nto e m quantidade . Onde a população e stive r
aume ntando, a de te rioração e a crise de moradias de baixa
re nda agravar-se -ão cada ve z mais. Pode rá alcançar tal ponto,
que muitos proprie tários não só de ixarão de te r qualque r lucro,
mas també m e starão e nfre ntando pe rdas e le vadas e
compulsórias. Concluirão que ne m me smo pode rão dar suas
proprie dade s. Pode rão re alme nte abandonar suas proprie dade s
e de sapare ce r e , assim, não e starão suje itos a impostos. Quando
os proprie tários de ixare m de forne ce r aque cime nto e outros
se rviços básicos, os inquilinos se rão obrigados a abandonar se us
apartame ntos. Cada ve z mais, áre as circunvizinhas são re duzidas
a fave las. Nos últimos anos, na cidade de Nova York, é comum
ve re m-se quarte irõe s inte iros de apartame ntos abandonados,
com jane las que bradas, ou com tábuas pre gadas para e vitar
futuras de vastaçõe s por vândalos. Incê ndios criminosos tornam-se
mais fre que nte s e os proprie tários são os suspe itos.

Um e fe ito adicional é a e rosão dos re ndime ntos públicos das


cidade s porque a base do valor imobiliário para os impostos
continua a e ncolhe r. Cidade s irão à bancarrota, ou não pode rão
continuar a forne ce r se rviços básicos.

Quando e stas conse quê ncias e stive re m tão claras que se


torne m pate nte s, não have rá, naturalme nte , re conhe cime nto da
parte dos que impõe m o controle de alugué is de que fize ram
uma tolice . Em ve z disso, de nunciarão o siste ma capitalista.
Constatam que a e mpre sa privada "falhou" outra ve z, e que a
"e mpre sa privada não pode rá faze r o se rviço". Portanto,
argume ntam, o Estado de ve agir e por si me smo construir as
moradias de baixa re nda.

Este foi o re sultado quase unive rsal e m todos os paíse s que


e stive ram e nvolvidos na II Gue rra Mundial ou impuse ram o
controle de alugué is num e sforço para ve nce r a inflação
mone tária.

Assim, o gove rno lança um gigante sco programa de moradia


— à custa dos contribuinte s. As casas são alugadas a uma taxa
que não dá para pagar os custos da construção e ope ração. Um
arranjo típico é o gove rno pagar subsídios anuais, dire tame nte
aos inquilinos com alugué is mais baixos, ou aos construtore s ou
e mpre ite iros do programa de moradia do Estado. Qualque r que
se ja o arranjo nominal, os inquilinos nos e difícios e stão se ndo
subsidiados pe lo re sto da população. Estão te ndo parte de se us
alugué is pagos. Estão se ndo se le cionados para um tratame nto
favore cido. As possibilidade s políticas de ste favoritismo são tão
claras, que não ne ce ssitam se r ace ntuadas. Um grupo de pre ssão
e m cre scime nto acre dita que o pagame nto de ste s subsídios pe los
contribuinte s é maté ria de dire ito. Um outro passo, quase
irre ve rsíve l, é dado no se ntido de um total Be m-Estar Social.

A ironia final do controle de alugué is é que quanto mais


irre alista, draconiana e injusta se ja, com mais ardê ncia os
políticos lutam pe la sua continuação. Se os alugué is le galme nte
fixados são e m mé dia de 95% tão altos quanto se riam no
me rcado livre , é ape nas uma pe que na injustiça que e stá se ndo
fe ita aos proprie tários, e não há uma forte obje ção política para
e liminar o controle de alugué is, porque os inquilinos te rão que
pagar, some nte , aume ntos e m uma porce ntage m de ce rca de 5
% . Mas se a inflação da moe da foi muito alta, ou as le is de
controle de alugué is tão re pre ssivas e irre alistas que os alugué is
le galme nte fixados se jam, ape nas, 10% de que se riam no
me rcado livre de alugué is, e tre me nda injustiça e ste ja se ndo fe ita
aos proprie tários e locadore s, have rá uma grande grita ace rca
dos te rríve is male s de abolir os controle s e forçar os inquilinos a
pagare m um alugue l e conômico. O argume nto apre se ntado é que
se ria ine xprimive lme nte crue l e e xorbitante pe dir aos inquilinos
que pague m tão de re pe nte um aume nto muito grande . Me smo
os opone nte s das le is de controle e stão dispostos a concordar
que a e xtinção dos controle s de ve se r um proce sso muito
caute loso, gradual e prolongado. Poucos dos opone nte s do
controle de alugué is, de fato, tê m a corage m política e a visão
e conômica de ssas circunstâncias para pe dir me smo a abolição de
controle gradual. Em suma, quanto mais re alista e injusto for o
controle de alugué is, se rá, politicame nte , mais difícil afastar-se
de le . Em país após país, um controle de alugué is ruinoso te m sido
mantido anos de pois de outras formas de controle de pre ços
te re m sido abandonadas.

As de sculpas políticas ofe re cidas para a continuação do


controle de alugué is ultrapassam a cre dibilidade . A le i diz,
algumas ve ze s, que os controle s pode m se r suspe nsos quando a
"taxa de moradias vagas" e stive r acima de ce rto núme ro. O
gove rno, mante ndo o controle de alugué is, insiste e m dize r
triunfante me nte que a taxa de moradias vagas ainda não
alcançou aque le núme ro. Claro que não. O fato re al é que
mante r os alugué is le gais tão abaixo do me rcado de alugué is
aume nta artificialme nte a de manda de e spaço de alugue l,
de se ncorajando, ao me smo te mpo, qualque r aume nto na ofe rta.
De modo que quanto mais e xage radame nte baixos fore m os te tos
dos alugué is, mais ce rto se rá que a "e scasse z" de casas e
apartame ntos de alugue l continuará.

A injustiça imposta aos proprie tários é flagrante . Re pe tindo,


e le s continuam forçados a subsidiar os alugué is pagos por se us
inquilinos, fre que nte me nte , à custa de grande s pe rdas líquidas.
Os inquilinos subsidiados pode m se r mais ricos do que os
proprie tários forçados a assumir parte do que , de outro modo,
se ria se u alugue l de me rcado. Os políticos ignoram isto. Home ns
de outros ne gócios, que apóiam a imposição ou manute nção do
controle de alugué is, porque se us coraçõe s sofre m pe los
inquilinos, não vão tão longe , suge rindo que e le s próprios se jam
convidados a assumir parte do subsídio dos inquilinos atravé s de
taxação. O pe so total cai no simple s pe que no grupo de pe ssoas
iníquas bastante por te re m construído ou possuíre m moradia
para alugar.

Poucas palavras carre gam um significado ultrajante mais forte


do que proprietário de favela. E o que significa um proprie tário de
fave la? Ele não é um home m que possui proprie dade s caras e m
bairros e le gante s, mas algué m que possui some nte barracos nas
fave las, cujos alugué is são os mais baixos e cujo pagame nto é o
mais atrasado, irre gular e inse guro. Não é fácil imaginar por que
(e xce to por pe rve rsidade natural) um home m que pode ria te r
uma casa de alugue l de ce nte de cide -se a tornar-se um
proprie tário e m fave la.

Quando os controle s de pre ços irracionais são aplicados e m


artigos de consumo ime diato, como pão por e xe mplo, os pade iros
pode m simple sme nte se re cusar a continuar faze r o pão e ve ndê -
lo. Obviame nte , uma crise se instala de ime diato e os políticos
são compe lidos a aume ntar os pre ços ou re pe li-los. Mas, a
moradia é muito duráve l. Pode le var muitos anos ante s de os
inquilinos come çare m a se ntir os re sultados do de se ncorajame nto
para novas construçõe s e para manute nção e re paros normais.
Pode le var me smo muito te mpo ante s que e le s compre e ndam
que a e scasse z e de te rioração da moradia e stão dire tame nte
ligadas ao controle de alugué is. Entre me nte s, e nquanto os
proprie tários e stão obte ndo algum lucro líquido, se ja qual for,
acima dos impostos e juros hipote cários, e le s tê m a impre ssão de
que não há outra alte rnativa, a não se r continuar mante ndo e
alugando suas proprie dade s. Os políticos — le mbrando que os
inquilinos dão mais votos do que os proprie tários — cinicame nte
continuam com o controle de alugué is muito te mpo, após te re m
sido forçados a de sistir dos controle s ge rais de pre ços.

Assim, voltamos à nossa lição básica. A pre ssão para o


controle de alugué is ve m daque le s que conside ram ape nas os
be ne fícios imaginados a curto prazo, para um grupo da
população. Mas quando conside ramos se us e fe itos, a longo prazo,
sobre todos, incluindo os próprios inquilinos, re conhe ce mos que o
controle de alugué is não é some nte altame nte fútil, mas
altame nte de strutivo, quanto mais rigoroso for e quanto mais
te mpo pe rmane ce r como prática.
CAPÍTULO XIX
Le is do salário mínimo

Já vimos alguns dos re sultados pre judiciais dos e sforços


arbitrários do gove rno para e le var o pre ço de me rcadorias
favore cidas. A me sma e spé cie de re sultados ocorre com os
e sforços para e le vação dos salários atravé s de le is que fixam
salários mínimos. Isso não de via se r uma surpre sa, pois o salário
é , de fato, um pre ço. É lame ntáve l que , para a clare za do
pe nsame nto e conômico, o pre ço dos se rviços do trabalho tive sse
re ce bido nome inte irame nte dife re nte de outros pre ços. Isso te m
impe dido que a maioria das pe ssoas re conhe ça que o me smo
princípio gove rna a ambos.

O pe nsame nto te m-se tornado tão e mocional e ,


politicame nte , tão parcial na que stão salarial que , na maioria dos
de bate s sobre a que stão, se ignoram os mais simple s princípios.
Pe ssoas que e stariam e ntre as prime iras a ne gar que se pude sse
criar prospe ridade , e le vando-se artificialme nte os pre ços, pe ssoas
que figurariam e ntre as prime iras a assinalare m que as le is que
fixam salários mínimos são pre judiciais às próprias indústrias que
e las pre te nde m auxiliar, de fe nde m, não obstante , e ssas le is e
de nunciam, se m re ce io, se us opositore s.

De via, e ntre tanto, se r claro que uma le i que fixa salário


mínimo é , na me nor das hipóte se s, uma arma limitada ao
combate do mal dos salários baixos, e que o possíve l be m, a se r
conse guido com e sta le i, e stará sobre posto ao possíve l mal,
some nte na proporção de se us mode stos obje tivos. Quanto mais
ambiciosa for e ssa le i, tanto maior o núme ro de trabalhadore s
que procura amparar; e quanto mais se te ntar e le var-lhe s os
salários, mais se us e fe itos danosos pode m, ce rtame nte ,
ultrapassar se us bons e fe itos.

A prime ira coisa que aconte ce , por e xe mplo, ao se r


de cre tada uma le i que e stabe le ce que ningué m re ce be rá me nos
de US$106 por se mana de quare nta horas, é que , para um
patrão, ningué m que não valha US$106 por se mana se rá
e mpre gado por e le . Não se pode faze r com que um home m
me re ça re ce be r de te rminada importância, tornando ile gal o
ofe re cime nto de importância me nor.

Ele e stá simple sme nte se ndo privado do dire ito de ganhar a
importância que suas aptidõe s e situação pe rmitiriam ganhar, ao
me smo te mpo e m que a comunidade e stá se ndo privada até dos
mode stos se rviços que e le possa pre star. É, e m suma, substituir
o salário baixo pe lo de se mpre go. Todos e stão se ndo
pre judicados, se m qualque r compe nsação.

Uma única e xce ção ocorre quando um grupo de


trabalhadore s e stá re ce be ndo salários nitidame nte abaixo do
re spe ctivo valor no me rcado de trabalho. Isso aconte ce ,
provave lme nte , só e m circunstâncias e spe ciais ou e m localidade s
nas quais as forças concorre nciais não ope ram livre ou
ade quadame nte ; mas todos e sse s casos pode riam se r
re me diados, e ficazme nte , com maior fle xibilidade e danos
pote nciais muito me nore s, pe la sindicalização.

Pode -se pe nsar que se a le i força o pagame nto de salários


mais e le vados e m de te rminada indústria, e sta, e m conse quê ncia,
pode cobrar pre ços mais altos para se u produto, de sorte que a
carga de salários mais e le vados passa, simple sme nte , para os
consumidore s. Essa passage m, poré m, não se faz facilme nte ,
ne m també m se e scapa facilme nte às conse quê ncias da e le vação
artificial dos salários. Um pre ço mais alto para o produto pode
não se r possíve l: pode ape nas faze r com que os consumidore s
procure m produtos e quivale nte s importados ou algum suce dâne o.
Ou, se os consumidore s continuam a comprar o produto da
indústria cujos salários foram aume ntados, o pre ço mais alto os
obrigará a comprar me nos. Enquanto alguns trabalhadore s da
indústria se be ne ficiam com um salário mais alto, outros,
praticame nte , pe rde rão o e mpre go. Por outro lado, se não se
e le var o pre ço do produto, produtore s marginais na indústria
se rão e xpulsos do me rcado. Assim e ssa re dução da produção e o
conse que nte de se mpre go se rão simple sme nte o re sultado de tal
situação.

Ao se re m assinaladas e ssas conse quê ncias, há um grupo de


pe ssoas que re plica: "Muito be m; se é ve rdade que a indústria X
não pode subsistir a me nos que pague salários de fome , é e ntão
aconse lháve l que o salário mínimo a e limine por comple to." Esse
bravo pronunciame nto omite , poré m, a re alidade . Não vê , ante s
de mais nada, que os consumidore s sofre rão a pe rda do
produto. Ignora, e m se gundo lugar, que e stá simple sme nte ,
conde nando ao de se mpre go as pe ssoas que trabalham ne sta
indústria. E, finalme nte , ignora que , e mbora o salário pago na
indústria X não fosse bom, e ra, e ntre tanto, a me lhor e ntre todas
as alte rnativas que se ofe re ciam aos trabalhadore s de ssa
indústria; se assim não fosse , te riam ido para outra. Se ,
portanto, a indústria X é e liminada e m virtude de uma le i de
salários mínimos, e ntão aque le s que ne la trabalhavam, ante s,
se rão forçados a voltar-se para outras alte rnativas que lhe s
pare ciam me nos atrae nte s. A concorrê ncia na busca de trabalho
afe tará os salários ofe re cidos até ne ssas ocupaçõe s alte rnativas.
Não se pode fugir à conclusão de que o salário mínimo
aume ntará o de se mpre go.

Alé m disso, surgirá proble ma de licado com o programa do


auxílio de stinado a cuidar do de se mpre go, por causa da le i de
salários mínimos. Com o salário mínimo de , digamos, US$2.65 a
hora, proibimos quaisque r pe ssoas de trabalhar quare nta horas
numa se mana por me nos de US$106. Suponhamos, agora, que
ofe re çam ape nas US$70 por se mana como auxílio. Significa isso
que proibimos um home m de se r utilme nte e mpre gado a,
digamos, US$90 se manais, a fim de pode rmos suste ntá-lo na
ociosidade , a US$70 por se mana. Privamos a socie dade do valor
de se us se rviços. Privamos o home m da inde pe ndê ncia e do
re spe ito próprio, que advé m da sua auto-suficiê ncia, me smo e m
baixo níve l, e de e xe cutar o trabalho que de se ja, ao me smo
te mpo que re duzimos o que pode ria re ce be r com se u próprio
e sforço.

Tais conse quê ncias surge m quando o pagame nto do auxílio


for pe lo me nos um ce ntavo abaixo de US$106. Quanto mais alto
for o pagame nto do auxílio, pior a situação sob outros aspe ctos.
Se ofe re ce mos US$106 de auxílio, e stamos e ntão ofe re ce ndo a
muitos home ns, para não trabalhare m, a me sma importância
que ofe re ce mos para trabalhare m. Alé m disso, qualque r que se ja
a importância ofe re cida como auxílio, e stamos criando uma
situação e m que todo mundo e stará trabalhando só pe la diferença
e ntre se u salário e o valor do auxílio. Por e xe mplo, se o auxílio
aos trabalhadore s é de US$106 se manais, e a e le s é ofe re cido o
salário de US$2.75 a hora ou US$110 por se mana, e stamos, na
re alidade , pe dindo que trabalhe m por ape nas US$4 por se mana,
pois pode m obte r o re stante se m faze r coisa alguma.

Talve z pe nse m que pode mos e scapar de ssas conse quê ncias,
ofe re ce ndo "auxílio de se mpre go", e m ve z de "auxílio no lar"; com
isso, no e ntanto, e stamos simple sme nte mudando a nature za das
conse quê ncias. "Auxílio de se mpre go" significa que e stamos
pagando aos be ne ficiários mais do que o me rcado livre lhe s
pagaria por se us e sforços. Some nte uma parte do se u salário de
auxílio é , portanto, a paga de se us e sforços (e m trabalho, muitas
ve ze s, de utilidade duvidosa), ao passo que o re stante é e smola
disfarçada.

Re sta a se r de monstrado que a criação de e mpre go pe lo


gove rno é ine vitave lme nte ine ficie nte e de utilidade que stionáve l. O
gove rno te m que inve ntar proje tos que e mpre gue m os me nos
qualificados. Não pode come çar e nsinando às pe ssoas ofícios de
carpinte iro, pe dre iro e similare s, re ce ando compe tir com
qualificaçõe s e stabe le cidas e criar oposiçõe s aos sindicatos
e xiste nte s. Não e stou re come ndando-o, mas, provave lme nte , o
me nos nocivo se ria se o gove rno, e m prime iro lugar, subsidiasse
livre me nte os salários dos trabalhadore s submarginais nos
trabalhos que e le s já faze m. Todavia, isto lhe criaria suas
próprias dore s de cabe ça políticas.

Não pre cisamos mais pe rsistir ne ste ponto, visto que nos
le varia a proble mas não re le vante s de ime diato. Mas de ve mos te r
e m me nte as dificuldade s e conse quê ncias do auxílio, quando
conside ramos a adoção de le is de salários mínimo ou um
aume nto nos mínimos já fixados. 1

Ante s de concluirmos o tópico, de vo, talve z, me ncionar um


outro argume nto às ve ze s apre se ntado para fixar um índice de
salário mínimo por le i. Por e xe mplo, numa indústria e m que uma
grande companhia te m um monopólio, e la não pre cisa te me r a
compe tição e pode ofe re ce r salários abaixo do me rcado. Esta é
uma situação altame nte improváve l. Essa companhia de
"monopólio" de ve ofe re ce r altos salários quando e stá e m
formação, a fim de atrair a mão-de -obra de outras indústrias.
De pois disso, pode , te oricame nte , de ixar de aume ntar os índice s
salariais tanto quanto as outras indústrias e , assim, pagar
salários "abaixo do padrão" para aque la particular qualificação
e spe cializada. Mas isto provave lme nte aconte ce ria ape nas se
aque la indústria (ou companhia) e stive sse e m de cadê ncia ou e m
re tração; se e stive sse próspe ra ou e m e xpansão, te ria de
continuar a ofe re ce r altos salários para aume ntar sua força de
trabalho.

Sabe mos, por e xpe riê ncia, que são as grande s companhias —
aque las fre que nte me nte acusadas de se re m monopólios — que
pagam os mais altos salários e ofe re ce m as mais atrativas
condiçõe s de trabalho. Normalme nte , são as pe que nas firmas
marginais, talve z por sofre re m compe tiçõe s e xce ssivas, que
ofe re ce m os me nore s salários. Mas todos os e mpre gadore s
de ve m pagar o suficie nte para se gurar os e mpre gados ou para
atraí-los de outras indústrias.

Não é nossa inte nção ale gar que não haja me io de e le var os
salários. Que re mos, simple sme nte , assinalar que o mé todo
apare nte me nte simple s de e le vá-los atravé s de de cre to
gove rname ntal é e rrado, e o pior de todos.

Este ponto é talve z tão bom, quanto qualque r outro, para


assinalar que o que distingue muitos re formadore s, dos que não
ace itam suas propostas, não é sua maior filantropia, mas sua
maior impaciê ncia. A que stão não e stá e m ve r todo mundo tão
be m quanto possíve l. Entre home ns de be m, pode -se conside rar
natural e sse obje tivo. O ve rdade iro proble ma diz re spe ito aos
me ios ade quados para atingi-lo. E ao procurarmos dar re sposta a
e sse ponto, jamais de ve mos pe rde r de vista alguns poucos
truísmos e le me ntare s. Não pode mos distribuir mais rique za que
a e xiste nte . Não pode mos, a longo prazo, pagar pe lo trabalho
como um todo mais do que e le produz.

A me lhor mane ira de e le var salários, portanto, é aume ntar a


produtividade do trabalho. Pode -se fazê -lo atravé s de inúme ros
mé todos: aume nto na acumulação de capital, isto é , aume nto das
máquinas que auxiliam os ope rários, novas inve nçõe s e novos
ape rfe içoame ntos, administração mais e ficie nte por parte dos
e mpre gadore s, maior ope rosidade e e ficiê ncia da parte dos
trabalhadore s, me lhor e ducação e tre iname nto. Quanto mais o
trabalhador produz, tanto mais aume nta a rique za de toda a
comunidade . Quanto mais produz, tanto mais se us se rviços tê m
valor para os consumidore s e , portanto, para os e mpre gadore s.
E quanto mais o ope rário vale r para o e mpre gador, tanto maior
se rá o salário que ganhará. O salário re al ve m da produção, não
de de cre tos gove rname ntais.

Assim se ndo, a política gove rname ntal de ve ria se r dirigida não


no se ntido de impor mais e xigê ncias one rosas ao e mpre gador,
mas ao contrário, no de e ncorajar políticas que ge rasse m lucros,
que le vasse m o e mpre gador a e xpandir, a inve stir e m máquinas
me lhore s e mais mode rnas, possibilitando o aume nto da
produtividade dos trabalhadore s — e m re sumo, e ncorajar o
acúmulo de capital, ao invé s de de se ncorajá-lo — aume ntando
tanto o níve l de e mpre go como o de salários.

1 Em 1938, quando o salário-hora mé dio pago e m todas as


indústrias nos Estados Unidos e ra ce rca de 63 ce ntavos por hora,
o Congre sso e stabe le ce u um mínimo le gal de ape nas 25 ce ntavos.
Em 1945, quando o salário mé dio de fábrica tinha subido para
US$ 1,02 por hora, o Congre sso e le vou o mínimo le gal para 40
ce ntavos. Em 1949, quando o salário mé dio de fábrica tinha
e le vado para US$ 1,40 por hora, o Congre sso e le vou, novame nte ,
o mínimo para 75 ce ntavos. Em 1955, quando o mé dio foi e le vado
para US$ 1,88, o Congre sso subiu o mínimo para US$ 1 dólar.
Em 1961, com o salário mé dio de fábrica a ce rca de US$ 2,30
por hora, o mínimo foi e le vado para US$ 1,15 e m 1961 e para
US$ 1,25 e m 1963. Para re sumir o histórico, o salário mínimo foi
e le vado para US$ 1,40 e m 1967, para US$ 1,60 e m 1968, para
US$ 2 e m 1974, para US$ 2,10 e m 1975 e para US$ 2,30 e m
1976 (quando o salário mé dio e m todo trabalho não agrícola
particular e ra de US$ 4,87. De pois, e m 1977, quando o salário
mé dio re al por hora e m trabalho não agrícola e ra de US$ 5,26, o
salário mínimo foi e le vado para US$ 2,65 por hora, com cláusulas
pre vistas para ajustar, ainda mais, e m cada um dos trê s anos
se guinte s. De sta forma, quando o salário-hora pre dominante
sobe , os de fe nsore s do salário mínimo de cide m que o mínimo
le gal de ve se r e le vado pe lo me nos corre sponde nte me nte . Embora
a le gislação siga a e le vação do índice salarial do me rcado
pre vale ce nte , o mito que é a le gislação do salário mínimo que
e le va o salário de me rcado continua a se r fortale cido.
CAPÍTULO XX
Os sindicatos e le vam re alme nte os salários?

A cre nça de que os sindicatos pode m e le var substancialme nte


os salários de toda a população que trabalha é uma das grande s
ilusõe s da é poca pre se nte . Essa ilusão re sulta, principalme nte , da
falha e m não se re conhe ce r que os salários são, basicame nte ,
de te rminados pe la produtividade do trabalho. É e ssa a razão pe la
qual, por e xe mplo, os salários, nos Estados Unidos, e ram
incomparave lme nte mais altos que na Inglate rra e Ale manha, no
curso de todas as dé cadas e m que o "movime nto ope rário", nos
dois últimos paíse s citados, e ste ve muito mais adiantado.

A de spe ito da e smagadora e vidê ncia de que a produtividade


do trabalho é a de te rminante fundame ntal dos salários, e ssa
conclusão é ge ralme nte e sque cida ou ridicularizada pe los líde re s
sindicais e por um grande núme ro de e conomistas que procuram
adquirir a re putação de "libe rais" re pe tindo o que aque le s dize m.
Tal conclusão não se apóia, e ntre tanto, na hipóte se , como e le s
imaginam, de que os e mpre gadore s são, uniforme me nte ,
home ns amáve is e ge ne rosos, ansiosos por faze r o que é justo.
Apóia-se na hipóte se muito dife re nte de que o e mpre gador e stá
ansioso para aume ntar ao máximo se us lucros. Se as pe ssoas
e stão dispostas a trabalhar por me nos do que re alme nte vale m,
por que não have ria o e mpre gador de tirar o máximo prove ito
de ssa disposição? Por que não de ve ria, por e xe mplo, lucrar um
dólar por se mana com um ope rário, e m ve z de ve r algum outro
e mpre gador lucrar dois dólare s por se mana com e le ? Enquanto
e ssa situação e xistir, have rá, para os e mpre gadore s, a te ndê ncia
de licitar trabalhadore s até o máximo de se u valor e conômico.

Tudo isso não significa que os sindicatos não possam


de se mpe nhar funçõe s úte is ou le gítimas. A função primordial
de le s é garantir que todos os se us me mbros re ce bam, pe los
se rviços que pre stam, o ve rdade iro valor de me rcado dos se us
se rviços.

A concorrê ncia de trabalhadore s e m busca de e mpre gos, e


de e mpre gadore s e m busca de trabalhadore s, não funciona
pe rfe itame nte . Individualme nte , ope rários e e mpre gadore s talve z
não e ste jam comple tame nte informados das condiçõe s do
me rcado de trabalho. Um trabalhador individual talve z
de sconhe ça o ve rdade iro valor de me rcado de se us se rviços para
um e mpre gador. Individualme nte , e le ocupa uma posição muito
fraca no re gate io. Os e rros de julgame nto são mais pre judiciais a
e le que a um e mpre gador. Se um e mpre gador se re cusa, por
e ngano, a contratar um ope rário cujos se rviços talve z lhe
trouxe sse m lucros, pe rde ape nas o lucro líquido, que pode ria te r
conse guido, se tive sse e mpre gado o ope rário; e pode rá e mpre gar
ce m ou mil outros ope rários. Mas se um ope rário, por e ngano,
re cusa um e mpre go na cre nça de que pode rá conse guir
facilme nte outro cujo e mpre gador lhe pagará mais, o e rro talve z
lhe ve nha a custar caro. Estão e m jogo todo os se us me ios de
subsistê ncia. Não só pode de ixar de e ncontrar ime diatame nte
outro e mpre gador que lhe pague mais, mas també m pode não
e ncontrar, durante ce rto te mpo, outro e mpre gador que lhe
ofe re ça o me smo salário. E o te mpo pode se r a e ssê ncia de se u
proble ma, porque e le e a família pre cisam come r. Pode ,
portanto, se ntir-se te ntado a ace itar um salário que sabe e star
abaixo de se u "valor re al", para não e nfre ntar e sse s riscos.
Quando os ope rários de um e mpre gador tratam com e ste , como
um organismo, e e stabe le ce m um "salário-padrão", conhe cido
para cada classe de trabalho, pode m e star ajudando o
nive lame nto do pode r de re gate ar e os riscos que os e rros
e nvolve m.

É fácil, poré m, para os sindicatos, conforme provou a


e xpe riê ncia — e spe cialme nte com o auxílio de uma le gislação
trabalhista unilate ral, que impõe obrigaçõe s ape nas para os
e mpre gadore s —, ir alé m de suas le gítimas funçõe s, agir
irre sponsave lme nte e abraçar uma política de curta visão e anti-
social. Faze m-no, por e xe mplo, se mpre que procuram fixar os
salários de se us me mbros acima do valor re al de me rcado. Tal
te ntativa se mpre acarre ta de se mpre go. Esse arranjo, na
re alidade , só pode se r firmado, atravé s de alguma forma de
intimidação ou coe rção.

Um dos proce ssos é re stringir o núme ro de associados do


sindicato, base ando-se e m qualque r outro e le me nto que não o da
compe tê ncia ou habilidade comprovadas. Essa re strição pode
assumir inúme ras formas: pode consistir na cobrança aos novos
trabalhadore s de jóia de admissão e xce ssivame nte alta; e m
qualificaçõe s arbitrárias dos me mbros; e m discriminação, franca
ou oculta, base ada e m re ligião, raça ou se xo; e m ce rta limitação
absoluta para o núme ro de me mbros, ou na e xclusão, pe la força
se ne ce ssário, não só dos produtos do trabalho não-sindicalizado,
mas també m dos produtos me smo de sindicatos filiados e m
outros e stados ou cidade s.

O caso mais óbvio do e mpre go de intimidação e força para


e xigir ou conse rvar os salários dos me mbros de um de te rminado
sindicato, acima do valor re al do me rcado de trabalho, é a gre ve .
É possíve l uma gre ve pacífica. Até o ponto e m que assim se
mante nha, é a arma le gítima do ope rariado, muito e mbora de va
se r e mpre gada rarame nte e como último re curso. Se os
ope rários, como um organismo, se ne gam a trabalhar, pode m
faze r com que o patrão infle xíve l, que os ve m pagando mal, volte
à razão. Talve z, e le de scubra que não pode rá substituir e sse s
ope rários por outros igualme nte bons, dispostos a ace itar os
salários que os prime iros tinham re je itado. Mas no mome nto e m
que os ope rários tê m que e mpre gar a intimidação ou a violê ncia,
para faze r vale r suas e xigê ncias — no mome nto e m que se
utilizam de pique te s, para impe dir que qualque r dos antigos
trabalhadore s continue a trabalhar, ou para impe dir que o
e mpre gador contrate novos ope rários pe rmane nte s para
substituí-los — o caso torna-se discutíve l, pois os pique te s e stão,
na re alidade , se ndo usados, não só contra o patrão, mas contra
outros ope rários. Esse s outros e stão dispostos a ace itar os
e mpre gos que os antigos e mpre gados de ixaram vagos, e pe los
salários que os antigos e stavam re je itando. Esse fato prova que as
outras alte rnativas abe rtas para os novos ope rários não são tão
boas, quanto as que os antigos haviam re cusado. Se , portanto, os
antigos ope rários conse gue m pe la força impe dir que novos
trabalhadore s os substituam, e stão impe dindo que e ste s
e scolham a me lhor alte rnativa que se abre para e le s, e forçando-
os a ace itar coisa pior. Os gre vistas, portanto, e stão insistindo
numa posição privile giada e e mpre gando a força para mante r sua
posição privile giada contra outros ope rários.

Se a análise citada for corre ta, não se justifica o ódio


indiscriminado contra os furadore s de gre ve . Se e ste s são,
some nte , e le me ntos profissionais que també m ame açam com a
violê ncia ou que , de fato, não pode m faze r o trabalho, ou, e ntão,
se e stão re ce be ndo te mporariame nte salários mais altos, com o
propósito de simular que o trabalho e stá prosse guindo, até que
os antigos ope rários, assustados, re torne m às suas funçõe s com
os antigos salários, é natural o ódio. Mas se são ape nas home ns
e mulhe re s à procura de e mpre gos pe rmane nte s, dispostos a
ace itá-los na base dos salários antigos, são, e ntão, trabalhadore s
que se riam lançados e m e mpre gos piore s que aque le s, a fim de
capacitare m os ope rários gre vistas a de sfrutar me lhore s
posiçõe s. E tais posiçõe s, para os antigos e mpre gados, some nte
pode riam, na re alidade , se r mantidas pe la se mpre pre se nte
ame aça de força.

A e conomia e mocional te m dado orige m a te orias que um


e xame se re no não pode justificar. Uma de las é a idé ia de que o
ope rário e stá se ndo geralmente "mal pago". Se ria isso análogo à
noção de que , num me rcado livre , os pre ços são, e m ge ral e
cronicame nte , muito baixos. Outra noção curiosa, mas
pe rsiste nte , é que os inte re sse s dos trabalhadore s de uma nação
são idê nticos e ntre si, e que o aume nto de salários para um
sindicato be ne ficia, de forma um tanto obscura, todos os de mais
trabalhadore s. Não há ne nhuma ve rdade ne sta idé ia; a ve rdade é
que , se de te rminado sindicato conse gue , pe la força, impor para
se us me mbros um salário substancialme nte acima do ve rdade iro
valor no me rcado para se us se rviços, pre judicará todos os outros
trabalhadore s, assim como os outros me mbros da comunidade .

Para pe rce be rmos mais clarame nte como isso ocorre ,


imagine mos uma comunidade na qual os fatos são
conside rave lme nte simplificados aritme ticame nte . Suponhamos
que a comunidade compre e nde ape nas me ia dúzia de grupos de
trabalhadore s e que tais grupos fosse m, originariame nte , iguais
e ntre si quanto aos salários totais e quanto ao valor de se u
produto no me rcado.

Digamos que e sse s se is grupos de trabalhadore s abrange m:


1) pe õe s de faze ndas, 2) e mpre gados de lojas vare jistas, 3)
e mpre gados no comé rcio de roupas, 4) e mpre gados e m minas de
carvão, 5) trabalhadore s e m construçõe s civis e 6) fe rroviários.
Se us salários-base , de te rminados se m qualque r e le me nto de
coação, não são ne ce ssariame nte iguais; se ja como for, poré m,
atribuamos a cada um dos grupos um núme ro índice de base
igual a 100. Suponhamos, agora, que cada grupo forme um
sindicato nacional e possa impor suas e xigê ncias, não só e m
proporção à sua produtividade , mas també m à sua força política
e posição e straté gica. Suponhamos que , como re sultado disso, os
pe õe s não se jam capaze s de aume ntar se us salários, que os
e mpre gados das lojas vare jistas consigam um aume nto de 10% ,
que os do comé rcio de roupas, 20% , os mine iros, 30% , os
trabalhadore s e m construçõe s, 40% e os fe rroviários, 50% .
Se gundo as suposiçõe s que e ntão fize mos, houve um aume nto
médio de 25% nos salários. Agora, suponhamos novame nte , para
simplificação aritmé tica, que o pre ço do produto de cada grupo
de trabalhadore s suba na me sma porce ntage m de aume nto dos
salários do grupo. (Por dive rsas razõe s, incluindo o fato de que o
custo da mão-de -obra não re pre se nta todos os custos, o pre ço
não subirá e xatame nte assim — não, ce rtame nte , a curto prazo.
As cifras, e ntre tanto, se rvirão para ilustrar o princípio básico
e nvolvido.)

Te re mos, e ntão, uma situação e m que o custo de vida subiu,


e m mé dia, 25% . Os pe õe s de faze ndas, e mbora não tive sse m
tido re dução nos salários, e starão e m situação conside rave lme nte
pior, e m te rmos do que pode rão comprar. Os e mpre gados de
lojas vare jistas, e mbora tive sse m conse guido um aume nto de 10%
nos orde nados, e starão e m situação pior que a ante rior ao
come ço da corrida aume ntista. Me smo os e mpre gados no
comé rcio de roupas, com um aume nto de 20% , e starão e m
de svantage m, comparada sua situação atual com a que tinham
ante riorme nte . Os trabalhadore s e m minas de carvão, com o
aume nto de 30% , te rão me lhorado ape nas le ve me nte se u pode r
aquisitivo. Os e mpre gados e m construçõe s e os fe rroviários te rão
tido, naturalme nte , algum ganho, mas um ganho muito me nor na
re alidade , que na aparê ncia.

Me smo e sse s cálculos, poré m, apóiam-se na suposição de


que o aume nto forçado de salários não te nha causado
de se mpre go. Isso provave lme nte ocorre ria, se o aume nto de
salários fosse acompanhado de e quivale nte aume nto do dinhe iro
e do cré dito bancário; mas me smo assim, é improváve l que tais
distorçõe s nas taxas de salário possam surgir se m criar áre as de
de se mpre gos, e spe cialme nte nos ne gócios nos quais os salários
mais te nham subido. Se não ocorre r uma inflação mone tária
corre sponde nte , os aume ntos forçados de salários provocarão
de se mpre go ge ne ralizado.
O de se mpre go não pre cisa, ne ce ssariame nte , se r maior, e m
te rmos de porce ntage m, e ntre os sindicatos que te nham
conse guido maior aume nto de salário, pois o de se mpre go se
de slocará e se distribuirá e m re lação à e lasticidade re lativa da
procura de dife re nte s e spé cie s de trabalho e e m re lação à
nature za da procura "conjunta" de muitas e spé cie s de trabalho.
Ape sar de todas e stas re ssalvas, me smo os grupos, cujos salários
tive ram maior aume nto, provave lme nte se e ncontrarão e m
situação pior que a ante rior, quando calcularmos a mé dia e ntre
os que ficaram de se mpre gados e os que pe rmane ce ram no
e mpre go. E, e m te rmos de bem-estar é claro que a pe rda sofrida
se rá muito maior que a pe rda, e m te rmos me rame nte
aritmé ticos, porque os pre juízos psicológicos dos que e stão
de se mpre gados supe rarão bastante os ganhos psicológicos dos de
re nda le ve me nte maior, e m te rmos de pode r aquisitivo.

Não se pode ne m me smo corrigir a situação, proporcionando


auxílio aos de se mpre gados. Em prime iro lugar, tal auxílio é pago,
e m grande parte , dire ta ou indire tame nte , com parte dos
salários dos que e stão trabalhando. Re duz, portanto, e sse s
salários. Alé m disso, pagame nto de auxílios "ade quados",
conforme já vimos, cria de se mpre go. Cria de vários modos.
Quando, no passado, pode rosos sindicatos trabalhistas chamaram
a si a tare fa de ate nde r a se us me mbros de se mpre gados,
pe nsaram duas ve ze s ante s de e xigir um salário que vie sse a
causar grande de se mpre go. Onde , poré m, houve r um siste ma de
auxílio, graças ao qual o contribuinte ge ral é forçado a forne ce r
re cursos para pagar o de se mpre go causado pe las e xce ssivas
taxas de salário, e ssa caute la dos sindicatos e m re lação a
e xigê ncias e xce ssivas é abandonada. Mais ainda, o auxílio
"ade quado", conforme já notamos, fará com que alguns home ns
não procure m trabalho ne nhum, e que outros conside re m que
não e stão se ndo, na re alidade , solicitados a trabalhar pe lo salário
ofe re cido, mas ape nas pe la diferença e ntre e sse salário e o valor
do auxílio pago. E o de se mpre go ge ne ralizado significa que quanto
me nor a quantidade de me rcadorias produzida, mais a nação
e mpobre ce , e há me nos para todos.

Os apóstolos da salvação pe lo sindicalismo procuram, às


ve ze s, outra re sposta para o proble ma que acabe i de apre se ntar.
Talve z se ja ve rdade , admite m, que os me mbros dos sindicatos
pode rosos e xploram, e ntre outros, os trabalhadore s não
sindicalizados, mas o re mé dio é simple s: sindicalize m-se todos. O
re mé dio, e ntre tanto, não é assim tão simple s. Em prime iro lugar,
a de spe ito dos grande s e stímulos políticos (dir-se -ia, e m alguns
casos, compulsão) à sindicalização, sob a le i Wagne r-Taft-Hartle y
e outras, não é por acide nte que e stá sindicalizada ape nas ce rca
de quarta parte dos e mpre gados que pe rce be m salários.
Condiçõe s propícias à sindicalização são muito mais e spe ciais do
que ge ralme nte se supõe . Me smo, poré m, que se pude sse
conse guir a sindicalização ge ral, os sindicatos não pode riam te r a
me sma igualdade de força, e mais do que tê m hoje . Alguns
grupos de trabalhadore s e ncontram-se e m muito me lhor posição
e straté gica que outros, não só por causa do maior núme ro de
me mbros, mas també m pe la nature za mais e sse ncial do produto
que fabricam, ou pe lo fato de que outras indústrias de pe nde m
de le s ou porque possue m maior habilidade no e mpre go de
mé todos coe rcitivos. Suponhamos, poré m, que não fosse assim.
Suponhamos que , a de spe ito da própria contradição da
suposição, todos os trabalhadore s pude sse m aume ntar os
salários, com igual porce ntage m, por me io de mé todos
coe rcitivos. Ningué m, afinal, pode ria e star e m me lhore s
condiçõe s, do que se os salários não tive sse m de forma alguma
aume ntado.

Le va-nos isso ao âmago da que stão. Pre sume -se , ge ralme nte ,
que o aume nto de salários é ganho à custa dos lucros dos
e mpre gados. Isso, naturalme nte , pode ocorre r durante pe ríodos
curtos ou e m circunstâncias e spe ciais. Se se forçar o aume nto de
salários e m de te rminada firma que , concorre ndo com outras,
não pode aume ntar se us pre ços, o aume nto dos salários sairá
dos lucros. Isso, poré m, é muito me nos prováve l de aconte ce r, se
a e le vação de salários ocorre r e m toda uma indústria. Na maioria
dos casos, a indústria aume ntará se us pre ços e a carga da
e le vação dos salários passará para os consumidore s. Como,
provave lme nte , e ste s são na maioria trabalhadore s, te rão os
salários re ais re duzidos, por se re m obrigados a pagar mais por
de te rminado produto. É ve rdade que , como re sultado dos pre ços
aume ntados, as ve ndas dos produtos da indústria ve nham a cair,
re duzindo, com isso, o volume de se us lucros, mas talve z o
núme ro de e mpre gados e a folha de pagame ntos salariais
ve nham a sofre r re dução corre sponde nte .

É possíve l, se m dúvida, conce be r um caso e m que os lucros,


e m toda uma indústria, se jam re duzidos se m que isso implique
re dução corre sponde nte no núme ro de e mpre gos; um caso, e m
outras palavras, no qual um aume nto das taxas de salário
implique um aume nto corre sponde nte na folha de pagame ntos e
no qual todo o custo de sse aume nto saia dos lucros da indústria,
se m que se e limine do me rcado qualque r firma. Tal re sultado
não é prováve l, mas é conce bíve l.

Suponhamos uma indústria como a fe rroviária, por e xe mplo,


que não pode passar para o público a carga dos aume ntos
salariais na forma de tarifas mais e le vadas, porque os
re gulame ntos gove rname ntais não o pe rmite m.

É pe lo me nos possíve l aos sindicatos te re m se us ganhos, a


curto prazo, a e xpe nsas de e mpre gados e inve stidore s. Os
inve stidore s, há te mpos, tinham fundos líquidos. Inve stiram-nos,
digamos, no ne gócio de e stradas de fe rro. Transformaram-nos
e m trilhos e le itos fe rroviários, e m vagõe s de carga e locomotivas.
Em outras ocasiõe s pode riam tê -los transformado e m qualque r
das mil outras formas e xiste nte s, mas, nos dias de hoje , se u
capital e ncontra-se , por assim dize r, preso numa armadilha, numa
única e de te rminada forma. Os sindicatos fe rroviários pode m
forçá-los a ace itar me nore s divide ndos para e sse capital já
inve stido. Compe nsará aos inve stidore s continuar a dirigir a
e strada, uma ve z que pode m ganhar alguma coisa acima das
de spe sas da ope ração, me smo que se ja ape nas um dé cimo de
um por ce nto sobre o inve stime nto.

Há, e ntre tanto, um corolário ine vitáve l disso. Se o dinhe iro


que e le s inve stiram nas e stradas de fe rro re nde , agora, me nos
que o dinhe iro que pode m inve stir e m outro ramo de ne gócio,
não colocarão e le s mais um ce ntavo se que r nas e stradas de
fe rro. Pode m substituir os mate riais que se de sgastaram
prime iro, a fim de prote ge re m o pe que no re ndime nto do capital
re mane sce nte , mas a longo prazo, não mais se importarão e m
substituir o mate rial que se tornar obsole to ou gasto. Se o capital
inve stido no país for me nos compe nsador, que o inve stime nto no
e xte rior, farão inve stime ntos noutros paíse s. Se não pude re m
e ncontrar suficie nte re torno, que lhe s compe nse os riscos,
de ixarão, comple tame nte , de inve stir.

Assim, a e xploração do capital pe lo trabalho pode rá, quando


muito, se r ape nas te mporária. Logo che gará a um fim. Che gará,
na ve rdade , a um fim, não tanto pe la mane ira indicada e m nosso
e xe mplo hipoté tico, mas forçando as firmas marginais a
abandonare m inte irame nte o me rcado, provocando o
cre scime nto do de se mpre go e o re ajustame nto de salários e
lucros até o ponto e m que lucros normais (ou anormais)
conduzam à re tomada do e mpre go e da produção. Entre me nte s,
como re sultado da e xploração, o de se mpre go e a que da da
produção tornarão todo mundo mais pobre . Me smo que o
trabalho consiga, por ce rto te mpo, uma participação relativamente
maior na re nda nacional, e sta, na re alidade , cairá, de sorte que
os ganhos re lativos do trabalho, ne sse s curtos pe ríodos, talve z
signifique m uma vitória de Pirro: pode m significar que o trabalho
també m e stá obte ndo importância total mais baixa, e m te rmos
do pode r aquisitivo re al.

Somos, assim, le vados a concluir que os sindicatos, e mbora


possam conse guir por algum te mpo um aume nto no salário
nominal para se us me mbros, e m parte à custa dos e mpre gados
e mais ainda à custa dos trabalhadore s não sindicalizados, na
re alidade não conseguem, a longo prazo e para todo o conjunto de
trabalhadores, umaumento dos salários reais.

A cre nça de que o faze m apóia-se numa sé rie de ilusõe s.


Uma de las é a falácia do post hoc, ergo propter hoc, que vê o
e norme aume nto de salários, na se gunda me tade do sé culo,
como de corrê ncia, principalme nte , do cre scime nto do
inve stime nto de capitais e do progre sso cie ntífico e te cnológico, e
o atribui aos sindicatos, porque e ste s també m cre sce ram durante
o me smo pe ríodo. Mas o e rro mais re sponsáve l por e ssa ilusão é
conside rar ape nas o que um aume nto de salários, causado pe las
e xigê ncias dos sindicatos, significa a curto prazo para
de te rminados trabalhadore s, que se mantê m e m se us e mpre gos,
de ixando de e xaminar os e fe itos de sse aume nto sobre o
e mpre go, a produção e o custo de vida de todos os
trabalhadore s, inclusive os que forçaram o aume nto.

Pode -se ir mais alé m ne sta conclusão e le vantar a que stão


sobre se os sindicatos não tê m, a longo prazo e para todo o
conjunto de trabalhadore s, impe dido ve rdade irame nte que os
salários re ais te nham subido até o ponto e m que , e m outras
circunstâncias, te riam subido. Os sindicatos tê m sido,
ce rtame nte , uma força que trabalha para mante r ou re duzir os
salários, e os e fe itos disso, afinal, tê m sido re duzir a
produtividade do trabalho; pode mos pe rguntar se não te m sido
assim.

Em re lação à produtividade há algo a dize r a favor da política


dos sindicatos que , na ve rdade , os nobilita. Em alguns ramos da
atividade e conômica, tê m insistido e m padrõe s para aume ntar o
níve l de habilidade e compe tê ncia. E, na história de se us
prime iros te mpos, muito fize ram para prote ge r a saúde de se us
me mbros. Onde o trabalho e ra abundante , alguns
e mpre gadore s, muitas ve ze s, que riam lucros a curto prazo,
faze ndo os ope rários ace le rare m o ritmo e trabalhare m longas
horas, a de spe ito dos e fe itos pe rniciosos que lhe s advinham para
a saúde , porque podiam, facilme nte , substituí-los por outros. E às
ve ze s e mpre gadore s ignorante s e de curta visão che gavam a
re duzir os próprios lucros, com o trabalho e xtra dos e mpre gados.
Em todos e sse s casos, os sindicatos, ao e xigire m padrõe s
de ce nte s, muitas ve ze s me lhoravam a saúde e o be m-e star de
se us me mbros, ao me smo te mpo e m que lhe s conse guia
aume nto dos salários re ais.

Nos últimos anos, poré m, como sua força te m cre scido, e


como a simpatia do público mal orie ntado te m sido conduzida a
uma tole rância ou a uma aprovação de práticas anti-sociais, os
sindicatos tê m ido alé m de se us le gítimos obje tivos. Foi um ganho,
não só para a saúde e o be m-e star, mas para a produção,
me smo a longo prazo, re duzir uma se mana de se te nta horas
para uma se mana de se sse nta. Foi um ganho para a saúde e
laze re s re duzir uma se mana de se sse nta horas para uma
se mana de quare nta e oito. Foi um ganho para os laze re s,
e mbora não ne ce ssariame nte para a produção e o re ndime nto,
re duzir a se mana de quare nta e oito horas para uma se mana de
quare nta e quatro. O valor para a saúde e para os laze re s, com
a re dução da se mana de trabalho para quare nta horas, é muito
me nor, a re dução da produção e do re ndime nto mais pe rce ptíve l.
Mas os sindicatos falam agora — impondo muitas ve ze s — e m
se manas de trinta e cinco e trinta e quatro horas e ne gam que
e las possam ou ve nham a re duzir a produção e o re ndime nto.

Mas não é só na re dução das horas de trabalho programadas


que a política dos sindicatos te m trabalhado contra a
produtividade . Esse é , de fato, um dos proce ssos me nos
pre judiciais da ação de tal política, pois o ganho compe nsador
te m, pe lo me nos, sido claro. Muitos sindicatos, no e ntanto, tê m
insistido e m rígidas subdivisõe s do trabalho, o que te m e le vado o
custo da produção e provocado dispe ndiosas e ridículas disputas
"jurídicas". Tê m-se oposto ao pagame nto na base da produção ou
da e ficiê ncia, e insistido nas me smas taxas de salário-hora para
todos os se us me mbros, inde pe nde nte me nte de dife re nças de
produtividade . Tê m insistido na promoção por antiguidade no
cargo, e m ve z do crité rio do mé rito. Tê m iniciado,
de libe radame nte , o re tardame nto da produção sob o pre te xto de
combate re m a "ace le ração". Tê m de nunciado e insistido na
de missão de ope rários, às ve ze s e spancados crue lme nte , que
trabalham mais que os companhe iros. Tê m-se oposto à
introdução ou ao me lhorame nto da maquinaria. Tê m insistido e m
que , se alguns de se us me mbros fore m afastados do trabalho
por causa da instalação de máquinas mais e ficie nte s e
e conômicas, e sse s de se mpre gados re ce be m se guros-de se mpre go
inde finidame nte . Tê m insistido e m re gras para "dar trabalho" que
re que re m mais pe ssoas ou mais te mpo para a re alização de
de te rminadas tare fas. Tê m insistido, até com a ame aça de
arruinar os e mpre gadore s, na contratação de ope rários dos
quais não se te nha ne ce ssidade .

Muitas de ssas práticas foram se guidas, sob a pre sunção de


que há ape nas uma quantidade fixa de trabalho a se r e xe cutado,
um "fundo de trabalho" de finido a se r distribuído por tantas
pe ssoas e horas quanto possíve l, para não se r logo consumido.
Tal pre sunção é inte irame nte falsa. Não há, na re alidade , limite à
quantidade de trabalho a se r e xe cutado. Trabalho cria trabalho.
O que A produz constitui a de manda para o que B produz.

Mas como e xiste e ssa falsa pre sunção e como ne la se base ia


a política dos sindicatos, se u e fe ito líquido te m sido re duzir a
produtividade abaixo do que te ria sido se não fosse e ssa política.
Se u e fe ito líquido, portanto, a longo prazo e para todos os grupos
de ope rários, te m sido reduzir os salários re ais — isto é , os
salários e m te rmos dos be ns que pode rão adquirir — abaixo do
níve l ao qual de outra forma te riam subido. A ve rdade ira causa
do tre me ndo aume nto de salários re ais, na última me tade do
sé culo, te m sido, re pe timos, a acumulação de capitais e o
conside ráve l progre sso te cnológico que e sse s capitais tornaram
possíve l.

Mas e sse proce sso não é automático. Na ve rdade , na última


dé cada, e sse aume nto foi re duzido à me tade como conse quê ncia
não ape nas do mau sindicato, mas també m das más políticas
gove rname ntais. Se olharmos, ape nas, a mé dia da re ce ita bruta
se manal de trabalhadore s particulare s não agricultore s, e m
te rmos de dólare s e m pape l, é ve rdade que os salários subiram
de US$107,3 e m 1968 para US$189,36 e m agosto de 1977. Mas
quando o De partame nto de Estatística dos Trabalhadore s le va e m
conta a inflação, quando conve rte e ssa re ce ita e m dólare s de
1967, para conside rar a e le vação nos pre ços do consumidor,
obse rva que a re ce ita se manal re al, na ve rdade , caiu de
US$103,39 e m 1968 para US$103,36 e m agosto de 1977.

A re dução do índice de aume nto nos salários re ais não te m


sido uma conse quê ncia ine re nte à nature za dos sindicatos. Te m
sido o re sultado de uma política míope do gove rno e dos
sindicatos. Há, ainda, te mpo para modificá-la.
CAPÍTULO XXI
"O suficie nte para adquirir o produto"

Autore s amadore s sobre assuntos e conômicos e stão se mpre


pe dindo pre ços e salários "justos". Essas ne bulosas conce pçõe s de
justiça e conômica vê m-nos dos te mpos me die vais. Os e conomistas
clássicos e laboraram, ao contrário, conce ito dife re nte : o conce ito
de pre ços funcionais e salários funcionais. Pre ços funcionais são os
que e stimulam o maior volume de produção e ve ndas. Salários
funcionais são os que te nde m a criar o mais alto volume de
e mpre gos e as mais e le vadas folhas de pagame nto de salários.

O conce ito de salários funcionais foi adotado, de forma


de turpada, pe los marxistas e se us inconscie nte s discípulos, os da
e scola do pode r aquisitivo. Ambos os grupos de ixam a e spíritos
mais acanhados a que stão sobre se os salários e xiste nte s são
"justos". A ve rdade ira que stão, insiste m, é sobre se dão
re sultado. E os únicos salários que dão re sultado, dize m-nos, os
únicos salários que pode rão impe dir uma imine nte de rrocada
e conômica, são os que possibilitam ao trabalho "adquirir o
produto que e le cria". As e scolas marxista e do pode r aquisitivo
atribue m toda crise do passado à circunstância de não te re m
sido, ante s, pagos tais salários. E, não importa o mome nto sobre
o qual falam, e stão ce rtos de que os salários ainda não são
suficie nte me nte altos para que se ja adquirido o produto
fabricado.

Essa doutrina de monstrou-se e spe cialme nte e ficaz nas mãos


dos líde re s sindicais. De se spe rançados de pode re m de spe rtar o
inte re sse altruísta do público ou pe rsuadir os e mpre gadore s
(de finidos como pe rve rsos) a se re m "justos", se apossaram de um
argume nto calculado para atrair motivos e goístas do público e ,
assustando-o, fazê -lo forçar os e mpre gadore s a satisfaze re m
suas e xigê ncias.
Como, poré m, sabe rmos pre cisame nte , quando a mão-de -
obra te m "o suficie nte para adquirir o produto que cria"? Ou
quando te m e la mais que o suficie nte ? Como pode mos
de te rminar a soma justa? Como os de fe nsore s da doutrina não
pare ce m te r fe ito qualque r e sforço claro para re sponde r a tais
pe rguntas, somos obrigados, nós me smos, a te ntar e ncontrar as
re spostas.

Alguns de fe nsore s de ssa te oria pare ce m dar a e nte nde r que


os trabalhadore s de ve m re ce be r, e m cada indústria, o suficie nte
para comprar de te rminado produto que e le s fabricam. Mas não
que re m, se gurame nte , dar a e nte nde r que os ope rários que
faze m roupas baratas de vam te r o suficie nte para comprar e ssas
roupas baratas, e os ope rários que faze m casacos de mlnk, o
suficie nte para comprar casacos de mink; ou que os ope rários da
fábrica Ford de vam re ce be r o suficie nte para comprar
automóve is Ford e os ope rários da fábrica Cadillac o suficie nte
para comprar automóve is Cadillac.

É instrutivo, e ntre tanto, le mbrar que os sindicatos da


indústria automobilística, nos anos 40, numa ocasião e m que a
maioria de se us me mbros já figurava e m te rce iro lugar e ntre os
que re ce biam maior re ndime nto nacional, e quando se us salários
se manais, se gundo cifras gove rname ntais, e ram já 20 por ce nto
mais e le vados que a mé dia dos salários pagos e m fábricas, e
quase o dobro do que e m mé dia se pagava no comé rcio vare jista,
e stavam e xigindo 50% de aume nto, a fim de pode re m, se gundo
se u porta-voz "suste ntar nossa capacidade , que e stá diminuindo
rapidame nte , para absorve r as me rcadorias que pode mos
produzir".

Que dize r, e ntão, do trabalhador comum de uma fábrica e do


e mpre gado comum de uma loja vare jista? Se , e m tais
circunstâncias, os trabalhadore s da indústria automobilística
ne ce ssitavam de 30% de aume nto, para impe dir que a e conomia
sofre sse um colapso, só 30% te riam sido suficie nte s para os
outros? Ou te riam e le s ne ce ssidade de aume nto de 55 a 160%
para pode re m te r tanto pode r aquisitivo per capita quanto os
trabalhadore s da indústria automobilística? Pois, re corde mos que
no passado como no pre se nte e xiste m e norme s dife re nças e ntre
os níve is de salários mé dios de dife re nte s indústrias. Em 1976,
trabalhadore s do comé rcio vare jista conse guiam, e m mé dia,
se manalme nte , lucros de ape nas US$113,96, e nquanto
trabalhadore s de todas as indústrias re ce biam, e m mé dia,
US$207,60, e aque le s de construção por e mpre itada, US$284,93.

(Pode mos e star ce rtos, se a história das ne gociaçõe s de


salários se rve de guia, mesmo que individualmente, nos sindicatos, de
que os trabalhadore s da indústria automobilística, caso e ssa
última proposta tive sse sido fe ita, te riam insistido na manute nção
das dife re nças e xiste nte s, pois o de se jo de igualdade e conômica,
tanto e ntre me mbros de sindicatos, como e ntre os re stante s de
nós, é , com e xce ção de alguns raros filantropos e santos, um
de se jo de re ce be r tanto quanto já re ce be m os que e stão acima
de nós na e scala e conômica, e m lugar de dar aos que e stão
abaixo de nós tanto quanto já e stamos re ce be ndo. É, poré m,
mais na lógica e a se nsate z de de te rminada te oria e conômica, do
que ne ssas triste s fraque zas da nature za humana que e stamos,
pre se nte me nte , inte re ssados.)

O argume nto de que o trabalho de ve re ce be r o suficie nte ,


para comprar o produto que cria, é me ra forma e spe cial do
argume nto do "pode r aquisitivo" ge ral. Os salários dos
trabalhadore s, afirma-se com bastante se gurança são o pode r
aquisitivo de le s. Mas é també m ve rdade que o re ndime nto de
todo mundo — do me rce e iro, do proprie tário de imóve is, do
e mpre gador — é se u pode r aquisitivo para comprar o que outros
tê m para ve nde r. E uma das coisas mais importante s, para as
quais ou outros tê m de e ncontrar compradore s, são os frutos do
se u trabalho.

Há, poré m, e m tudo isso, o re ve rso da me dalha. N uma


economia de trocas, o rendimento de cada umé o custo de alguémmais.
Todo aume nto de salário-hora, a me nos, ou até que se ja
compe nsado por igual aume nto da produtividade horária, constitui
aume nto do custo de produção. Um aume nto do custo de
produção, quando o gove rno controla os pre ços e proíbe o se u
aume nto, tira o lucro dos produtore s marginais, força-os a
abandonar o me rcado, provoca que da da produção e aume nto do
de se mpre go. Me smo onde um aume nto de pre ço se ja possíve l, o
pre ço mais alto de se ncoraja os compradore s, provoca re tração
no me rcado e , també m, conduz ao de se mpre go. Se um aume nto
de 30% nos salários-hora, e m todos os círculos, força um
aume nto de 30% nos pre ços, o ope rariado não pode comprar,
do produto, maior quantidade do que podia comprar ante s do
aume nto; e tudo volta novame nte ao ponto de partida.

Muitos, se m dúvida, e starão inclinados a conte star a


afirmação de que 30% de aume nto nos salários possam forçar
tão grande porce ntage m de aume nto nos pre ços. É ve rdade que
e sse re sultado some nte pode ocorre r a longo prazo, e se a
política mone tária e de cré dito o pe rmitir. Se e sta política for tão
ine lástica, que moe da e cré dito não possam aume ntar, quando
os salários se e le vare m (e se admitirmos que a e le vação de
salários não te ve por e fe ito a produtividade do trabalho e xiste nte
e m te rmos de dólare s), o principal e fe ito e ntão, de forçar uma
alta das taxas de salário, se rá o de aume ntar o de se mpre go.

É prováve l, ne sse caso, que as folhas de pagame nto totais,


e m dólare s e e m pode r aquisitivo re al, se rão mais baixas que
ante s, pois uma que da do e mpre go (causada pe la política
sindicalista e não como re sultado transitório do progre sso
te cnológico) significa, ne ce ssariame nte , que me nor quantidade de
me rcadorias e stá se ndo produzida para todo mundo. E é
improváve l que o trabalho se ja compe nsado pe la que da absoluta
da produção com o re ce bime nto de um quinhão re lativame nte
maior da produção re mane sce nte . Paul H. Douglas, nos Estados
Unidos, e A. C. Pigou, na Inglate rra — prime iro, numa análise de
grande massa de e statísticas, o se gundo, atravé s de mé todos
purame nte de dutivos —che garam inde pe nde nte me nte à conclusão
de que a e lasticidade da procura de trabalho fica, mais ou
me nos, e ntre 3 e 4. Significa isso, e m linguage m me nos té cnica,
que "a cada um por ce nto de re dução da taxa re al de salários, a
procura agre gada de trabalho se e xpande , pe lo me nos, 3%. 1 Ou,
por outras palavras, "Se for forçado o aume nto dos salários
acima do ponto da produtividade marginal, a diminuição de
e mpre gos se rá, normalme nte , trê s a quatro ve ze s maior que o
aume nto das taxas salariais horárias"2, e de sta forma, o
re ndime nto total dos trabalhadore s ficará re duzido na me sma
proporção.

Ainda que tais cifras se jam conside radas ape nas para
re pre se ntar a e lasticidade da procura de trabalho, re ve lada e m
dado pe ríodo do passado, e não, ne ce ssariame nte , para pre dize r
a do futuro, me smo assim me re ce m se r se riame nte
conside radas.

Mas suponhamos, agora, que o aume nto das taxas de salário


se ja acompanhado de um aume nto de moe da e de cré dito para
que tal me dida se ja tomada, se m criar sé rio de se mpre go. Se
admitirmos que a re lação ante rior e ntre salários e pre ços e ra,
e m si, normal, e ntão é muito prováve l que um aume nto forçado
de , digamos, 30% nos índice s salariais conduza, afinal, a um
aume nto nos pre ços de , aproximadame nte , a me sma
porce ntage m.
A cre nça de que o aume nto dos pre ços se ria
substancialme nte me nor apóia-se e m duas falácias principais. A
prime ira é a de e ncarar-se ape nas o custo dire to do trabalho de
de te rminada firma ou indústria, e supor que e sse custo
re pre se nta todos os de mais custos e nvolvidos. Trata-se , poré m,
do e rro e le me ntar de tomar a parte pe lo todo. Cada "indústria"
re pre se nta não só uma se cção do proce sso de produção
conside rado "horizontalme nte ", mas també m uma se cção de sse
proce sso conside rado "ve rticalme nte ". Em conse quê ncia, o custo
da mão-de -obra direta na fabricação de automóve is nas próprias
fábricas automobilísticas pode rá se r me nos de um te rço,
digamos, do custo total e isso pode rá le var uma pe ssoa não
caute losa a concluir que um aume nto de 30% dos salários
conduziria ape nas a 10% de aume nto, ou me nos, nos pre ços dos
automóve is. Isso, e ntre tanto, se ria e sque ce r o custo dos salários
indire tos na maté ria-prima e ace ssórios comprados, tarifas de
transporte , fe rrame ntas de novas fábricas ou de novas máquinas,
ou alta dos pre ços pe los ne gociante s.

As e stimativas gove rname ntais mostram que num pe ríodo de


quinze anos, de 1929 a 1943, inclusive , salários e prove ntos, nos
Estados Unidos, pe rfaziam a mé dia de 69% da re nda nacional.
No pe ríodo de cinco anos, 1956-1960, a mé dia e ra també m de
69% da re nda nacional. No pe ríodo de cinco anos, 1972-1976,
prove ntos e salários atingiram a mé dia de 66% da re nda
nacional, e quando e ram acre sce ntadas comple me ntaçõe s, a
compe nsação total da mé dia de e mpre gos e ra de 76% da re nda
nacional. Esse s salários e prove ntos tinham, naturalme nte , que
se r pagos pe lo produto nacional. Conquanto de duçõe s e
acré scimos te nham que se r fe itos a partir de ssas cifras, para
pe rmitir uma e stimativa razoáve l do re ndime nto do "trabalho",
pode mos supor que , ne ssa base , o custo do trabalho não se ja
me nor que dois te rços do custo da produção total e que , talve z,
possa passar de trê s quartas parte s (de pe nde ndo da de finição de
trabalho). Se tomarmos a mais baixa de ssas duas e stimativas e
supuse rmos, també m, que as marge ns de lucro e m dólare s
pe rmane ce rão inalte radas, é claro que um aume nto de 30% no
custo dos salários, e m todas as áre as, significaria um aume nto de
quase 20% nos pre ços. Mas tal mudança significaria que a
marge m de lucro e m dólare s, que re pre se nta o re ndime nto dos
inve stidore s, dos ge re nte s e dos e mpre gados autônomos, te ria,
digamos, ape nas 84% do pode r aquisitivo ante rior. O e fe ito disso,
a longo prazo, se ria causar diminuição de inve stime nto e de novas
e mpre sas, comparado ao que pode ria te r sido, e conse que nte s
transfe rê ncias de home ns de posiçõe s infe riore s para as file iras
dos mais altos assalariados, até que se tive sse re staurado,
aproximadame nte , a re lação ante rior. Isto, no e ntanto, é ape nas
outro me io de dize r que um aume nto de 30% , sob as condiçõe s
supostas, significaria, praticame nte , um aume nto de 30% nos
pre ços.

Não se se gue , forçosame nte , que os assalariados não te riam


ganhos re lativos. Te riam ganho re lativo, e outros e le me ntos da
população sofre riam uma pe rda re lativa durante o período de
transição. É, poré m, improváve l que e sse ganho re lativo significasse
ganho absoluto, pois a e spé cie de mudança na re lação e ntre
custo e pre ços, aqui e xaminada, dificilme nte ocorre ria se m
causar de se mpre go e de se quilíbrio, inte rrupção ou re dução da
produção. De modo que , e mbora o trabalho pude sse re ce be r
uma fatia mais larga de uma torta me nor, durante e ste pe ríodo
de transição e ajustame nto a um novo e quilíbrio, se ria duvidoso
que fosse maior, e m te rmos absolutos, que a fatia ante rior mais
fina de uma torta maior (e talve z fosse , com e fe ito, me nor).

Isto nos conduz ao se ntido ge ral e aos e fe itos ge rais do


equilíbrio e conômico. Salários e pre ços e quilibrados são os que
re sultam da igualdade e ntre ofe rta e procura. Se , atravé s da
coação gove rname ntal ou particular, se faz uma te ntativa para
e le var os pre ços acima de se u níve l de e quilíbrio, re duz-se a
procura e , portanto, fica també m re duzida a produção. Se se faz
uma te ntativa para lançar os pre ços abaixo de se u níve l de
e quilíbrio, a conse que nte re dução ou e liminação dos lucros
significará uma que da na ofe rta ou e m nova produção. Forçar os
pre ços, portanto, que r para cima que r para baixo de se us níve is
de e quilíbrio (níve is para os quais um me rcado livre te nde ,
constante me nte , a le vá-los), te rá como re sultado a re dução do
volume de e mpre gos e produção, abaixo daque le e m que te ria
ficado, se a situação fosse outra.

Re torne mos, e ntão, à te oria de que o trabalho de ve re ce be r


o "suficie nte para comprar o produto que cria". É óbvio que o
produto nacional não é criado ne m comprado ape nas pe lo
trabalho que o fabrica. É comprado por todo mundo — por
e mpre gados de e scritório, home ns de profissõe s libe rais,
faze nde iros, grande s e pe que nos e mpre gadore s, capitalistas,
me rce e iros, açougue iros, donos de pe que nas lojas e de postos de
gasolina — e m suma, por todos que contribue m para a
fabricação do produto.

Quanto aos pre ços, salários e lucros que de ve m de te rminar a


distribuição de sse produto, os me lhore s pre ços não são os mais
e le vados, mas os que e stimulam o maior volume de produção e o
maior volume de ve ndas. As me lhore s taxas de salário não são as
mais e le vadas, mas as que pe rmite m ple na produção, ple no
e mpre go e maior folha de pagame nto constante . Os me lhore s
lucros, do ponto de vista não só da indústria como do trabalho,
não são os mais baixos, mas os que e ncorajam a maior parte das
pe ssoas a tornare m-se e mpre gadore s ou a proporcionare m
maior núme ro de e mpre go que ante s.

Se procurarmos dirigir a e conomia e m be ne fício de um único


grupo ou classe , pre judicare mos ou de struire mos todos os
grupos, inclusive os me mbros da própria classe e m be ne fício da
qual e stive mos te ntando dirigi-la. De ve mos dirigir a e conomia para
todos.

1 Pigou, A. C. The Theory of Unemployment. (1933), p. 96.

2 Douglas, Paul H. The Theory of Wages. (1934), p. 501.


CAPÍTULO XXII
A função dos lucros

A indignação que muita ge nte , hoje e m dia, mostra à simple s


me nção da palavra "lucros" indica quão pe que na é a
compre e nsão que se te m da função vital que e le s e xe rce m e m
nossa e conomia. Para aume ntar nossa compre e nsão, vamos
novame nte tocar num assunto já de batido no Capítulo XIV, sobre
siste mas de pre ços, mas analisando-o sob um ângulo dife re nte .

Os lucros re alme nte não constitue m a base de nossa


e conomia total. A re nda líquida de companhias e m quinze anos,
de 1929 a 1943, para tomarmos uma cifra ilustrativa, foi, e m
mé dia, me nos de 5% do total da re nda nacional. Os lucros
incorporados de pois dos impostos no pe ríodo de cinco anos, 1956
a 1960, foram, e m mé dia, me nos de 6% da re nda nacional. Os
lucros incorporados de pois dos impostos no pe ríodo de cinco
anos, 1971 a 1975, foram, també m, e m mé dia, me nos de 6% da
re nda nacional (e mbora, como conse quê ncia de ajuste de
orçame nto insuficie nte para a inflação, fosse m provave lme nte
e xage rados). Contudo, "lucros" são a forma de re ndime nto contra
a qual há muita hostilidade . É significativo que , e nquanto há uma
palavra, aproveitador, para e stigmatizar os que aufe re m lucros que
se ale ga se re m e xce ssivos, não e xiste m palavras tais como
"aprove itador do trabalho" ou "aprove itador do pre juízo"†. No
e ntanto, os lucros do proprie tário de uma barbe aria pode rão,
e m mé dia, se r não só muito me nore s que o salário de uma
e stre la de cine ma ou do dire tor de uma companhia side rúrgica,
mas també m muito me nore s ainda que o salário mé dio dos
ope rários e spe cializados.

O assunto é obscure cido por toda sorte de inte rpre taçõe s


factuais. Os lucros totais da Ge ne ral Motors, a maior companhia
industrial do mundo, são tomados como se fosse m típicos, e m ve z
de e xce pcionais. Poucas pe ssoas acham-se familiarizadas com as
taxas de mortalidade das e mpre sas. Não sabe m (para citarmos
e studos da TNEC) que : "pre vale ce sse m as condiçõe s de ne gócios
que pe rfaziam a mé dia das e xpe riê ncias dos últimos cinque nta
anos, ce rca de se te me rce arias e m de z, que hoje se abre m nos
Estados Unidos, ultrapassarão o se gundo ano de e xistê ncia;
some nte quatro das de z pode rão e spe rar ce le brar se u quarto
anive rsário." Muita, ge nte não sabe que de 1930 a 1938, nas
e statísticas do imposto sobre a re nda dos Estados Unidos, e m
cada ano, o núme ro de companhias que mostraram pre juízos
e xce de u o das que apre se ntaram lucros.

Em quanto, e m mé dia, importaram os lucros?

Esta pe rgunta é normalme nte re spondida com a re fe rê ncia à


e spé cie de cifras que apre se nte i no início de ste capítulo — que os
lucros incorporados são, e m mé dia, me nos de 6% da re nda
nacional — ou mostrando que os lucros, e m mé dia, após o
de sconto do imposto de re nda de todas as companhias de
manufatura, são me nos de cinco ce ntavos por dólar de ve nda.
(Durante cinco anos, de 1971 a 1975, por e xe mplo, a cifra foi,
ape nas, de 4,6 ce ntavos.) Mas e stas cifras oficiais, e mbora
e ste jam acima da compre e nsão popular sobre o tamanho dos
lucros, aplicam-se , ape nas, aos re sultados da companhia,
calculados pe los mé todos conve ncionais de contabilidade .

Não se fe z qualque r e stimativa fide digna que le vasse e m


conside ração toda e spé cie de atividade s, que r de companhias,
que r de casas de comé rcio, e um núme ro suficie nte de anos bons
e maus. Mas alguns e mine nte s e conomistas acre ditam que ,
de ntro de um longo pe ríodo de anos, conside rando-se todas as
pe rdas, para um juro mínimo "se m riscos" sobre o capital
inve stido e para um valor salarial conside rado "razoáve l" dos
se rviços das pe ssoas que dirige m se u próprio ne gócio, talve z não
sobre lucro líquido algum; pode rá, me smo, have r pe rda líquida.
Isto, absolutame nte , não se dá pe lo fato de os "e mpre sários"
(pe ssoas que e ntram no comé rcio por conta própria) se re m
filantropos inte rnacionais, mas porque se u otimismo e a
confiança que tê m e m si os conduze m, muitas ve ze s, as ave nturas
que não são ou não pode m se r coroadas de ê xito. 1

É claro, e m todo caso, que qualque r indivíduo, ao aplicar se u


capital de giro, corre não só o risco de não ganhar coisa alguma,
como també m o de pe rde r todo e le . No passado, foi a se dução
dos altos lucros, e m firmas ou indústrias e spe ciais que le vou
muita ge nte a assumir e sse grande risco. Mas se os lucros se
limitam ao máximo de , digamos, 10% ou cifra se me lhante ,
conquanto o risco de pe rde r todo o capital ainda e xista, qual
se rá, provave lme nte , o e fe ito sobre o ince ntivo dos lucros e ,
portanto, sobre o e mpre go e a produção? O imposto sobre lucros
e xtraordinários nos Estados Unidos, durante a II Gue rra Mundial,
já mostrou o que tal limite pode faze r, me smo num curto
pe ríodo, ao pre judicar a e ficiê ncia.

No e ntanto, atualme nte , a política gove rname ntal e m quase


toda parte te nde a supor que a produção prosse guirá
automaticame nte , ape sar do que é fe ito para de se ncorajá-la. Um
dos maiore s pe rigos, hoje e m dia, ve m da política gove rname ntal
de tabe lame nto de pre ços. Tal política não só põe um artigo após
outro fora da produção, por não de ixar ince ntivo algum para sua
fabricação, mas també m se u e fe ito a longo prazo é impe dir um
e quilíbrio da produção, de conformidade com a ve rdade ira
procura dos consumidore s. Quando a e conomia é livre , a procura
atua de tal forma, que alguns ramos da produção faze m o que
funcionários do gove rno conside ram, indubitave lme nte , lucros
"e xce ssivos" ou me smo "obsce nos". Mas e sse fato não só faz com
que toda firma de de te rminado ramo e xpanda sua produção ao
máximo, como també m torne a inve stir se us lucros e m nova
maquinaria e e m mais e mpre go; atrai, ainda, novos inve stidore s e
produtore s de toda parte , até que a produção, ne sse ramo, se ja
suficie nte me nte grande para ate nde r à procura e os lucros
novame nte caiam ao níve l ge ral mé dio (ou abaixo de le ).

Numa e conomia livre , na qual salários, custo e pre ços são


de ixados à livre ação do me rcado compe titivo, a pe rspe ctiva de
lucros de cide que artigos se rão fabricados, e m que quantidade , e
que artigos não se rão. Se não há lucro na fabricação de
de te rminado artigo, é sinal de que o trabalho e o capital de dicado
à sua produção e stão mal dirigidos; o valor dos re cursos
consumidos na fabricação do artigo é maior que o valor do
próprio artigo.

Em sínte se , uma das funçõe s dos lucros é guiar e canalizar os


fatore s da produção, de modo a se re m distribuídos se us milhare s
de artigos dife re nte s, de conformidade com a procura. Ne nhum
burocrata, por mais brilhante que se ja, pode rá, arbitrariame nte ,
solucionar e sse proble ma. A libe rdade de pre ços e de lucros
e le vará a produção ao máximo e aliviará as faltas, mais de pre ssa
que qualque r outro siste ma. Pre ços tabe lados e lucros limitados
arbitrariame nte só pode rão prolongar o dé ficit e re duzir a
produção e o núme ro de e mpre gos.

Finalme nte , é função dos lucros faze r constante pre ssão


sobre o dire tor de todo ne gócio compe titivo, para que introduza
novas e conomias e e ficiê ncia, inde pe nde nte me nte da fase que
e stas já te nham alcançado. Nos bons te mpos, e sse dire tor faz
isso para aume ntar mais ainda os lucros; e m te mpos normais,
para mante r-se à fre nte dos concorre nte s. Nos maus te mpos,
talve z te nha que fazê -lo para sobre vive r, pois os lucros não só
pode m ir a ze ro, como pode m transformar-se , rapidame nte , e m
pre juízos, e um home m de spe nde rá mais e sforços para salvar-se
da ruína, do que para, simple sme nte , me lhorar sua posição.

Em suma, os lucros, que re sultam da re lação e ntre o custo e


os pre ços, não só nos dize m qual a me rcadoria mais e conômica
para se produzir, mas també m quais os me ios mais e conômicos
para produzi-la. Essas que stõe s de ve m se r re spondidas não
me nos por um siste ma socialista do que por um siste ma
capitalista; de ve m se r re spondidas por qualque r siste ma
e conômico conce bíve l.* E, para o e smagador volume de
me rcadorias e se rviços que se produz, as re spostas ofe re cidas
pe los lucros e pe rdas, sob a iniciativa livre e compe titiva, são
incomparave lme nte supe riore s às que possam se r obtidas por
qualque r outro mé todo.

Ve nho dando ê nfase à te ndê ncia de re duzir custos de


produção, porque e sta é a função de lucro e pe rda que pare ce
se r me nos apre ciada. O maior lucro, naturalme nte , vai para
aque le que pre para uma melhor armadilha que se u vizinho, be m
como, para aque le que a faz com maior e ficiê ncia. Mas a função
do lucro e m re compe nsar e e stimular a qualidade supe rior e a
inovação te m sido se mpre re conhe cida**.

† Em inglê s wageer ou losseer. (N. do T)

1 Risk, Uncertainty and Profit de Frank H. Knight (1921). Em

qualque r pe ríodo e m que houve acumulação de capital líquido,


e ntre tanto, é forte a suposição que de ve , també m, te r havido
lucros líquidos totais de inve stime nto ante rior.

* A tradução da frase foi alte rada. (Nota de re visão).

** A tradução da frase foi alte rada. (Nota de re visão).


CAPÍTULO XXIII
A mirage m da inflação

Ache i ne ce ssário pre ve nir o le itor, de ve z e m quando, de que


ce rto re sultado se ria se guido, forçosame nte , de de te rminada
política "contanto que não houve sse inflação". Nos capítulos sobre
obras públicas e cré dito, de clare i que , de pois, se ria fe ito o e studo
das complicaçõe s introduzidas pe la inflação. Mas o dinhe iro e a
política mone tária faze m parte tão íntima e , às ve ze s, tão
ine xtrincáve l de todo proce sso e conômico que sua se paração,
me smo para fins de e lucidação, se tornava muito difícil; e nos
capítulos que tratavam do e fe ito das várias políticas de salários,
do gove rno ou dos sindicatos, sobre o e mpre go, os lucros e
produção, alguns dos e fe itos da prote lação da política mone tária
tinham que se r conside rados ime diatame nte .

Ante s de analisarmos as conse quê ncias da inflação e m casos


e spe cíficos, e studare mos suas conse quê ncias ge rais. Me smo
ante s disso, pare ce de se jáve l pe rguntar por que se te m,
constante me nte , re corrido à inflação, por que te m e la
ime moráve l atração popular, e por que se u canto de se re ia te m
te ntado uma nação, após outra, a e nve re dar pe lo caminho que
conduz ao de sastre e conômico.

O e rro que mais se e vide ncia e , també m, o mais antigo e


pe rsiste nte , sobre o qual re pousa a atração da inflação, e stá e m
confundir "dinhe iro" com rique za. "Conside rar a rique za como
dinhe iro, ouro ou prata", e scre ve u Adam Smith há quase dois
sé culos: "é uma noção popular que de riva, naturalme nte , da
dupla função da moe da, como instrume nto de trocas e me didas
do valor (...) Para e nrique ce r é pre ciso te r moe da, e na linguage m
comum, e m re sumo, rique za e moe da são conside radas, sob
ce rto aspe cto, sinônimos."

Mas a rique za e fe tiva é formada daquilo que se produz e se


consome : o alime nto que come mos, as roupas que usamos, as
casas e m que vive mos, as e stradas de fe rro e de rodage m e
automóve is, navios, aviõe s e fábricas, e scolas, igre jas, te atros,
pianos, pinturas e livros. É tão pode rosa a ambiguidade ve rbal
que confunde dinhe iro com rique za, no e ntanto, que me smo os
que , às ve ze s, re conhe ce m a confusão, ne la re svalam no curso de
se u raciocínio. Todo home m pe rce be que se , pe ssoalme nte ,
tive sse mais dinhe iro, pode ria comprar maior quantidade de be ns
que outros home ns. Se tive sse o dobro do dinhe iro que te m,
pode ria comprar o dobro de be ns; se tive sse o triplo, sua
"rique za" se ria, també m, trê s ve ze s maior. E a muitos pare ce
óbvia a conclusão de que , se o gove rno simple sme nte e mitisse
maior quantidade de dinhe iro e o distribuísse a todo mundo,
todos, e ntão, se riam mais ricos.

Esse s são os mais ingê nuos inflacionistas. Há um se gundo


grupo, me nos ingê nuo, que imagina que , se tudo fosse assim tão
simple s, pode ria o gove rno solucionar todos os nossos proble mas
imprimindo dinhe iro. Pe rce be m que , e m algum outro ponto, de ve
have r um truque e , e ntão, limitam de ce rto modo a importância
do dinhe iro, que de se jariam fosse impre sso pe lo gove rno.
Que riam a impre ssão, e xatame nte , do suficie nte para compe nsar
a ale gada "de ficiê ncia" ou "hiato".

O pode r aquisitivo é cronicame nte de ficie nte , pe nsam e le s,


porque a indústria, de um modo ou outro, não distribui dinhe iro
suficie nte aos produtore s, para possibilitá-los a adquirire m de
volta, como consumidore s, o produto que fabrica. Há, e m algum
ponto, um "vazame nto". Um grupo "prova" isto por e quaçõe s.
Num dos me mbros de suas e quaçõe s, contam um ite m some nte
uma ve z; no outro, se m que o pe rce bam, contam várias ve ze s o
me smo ite m. Isto produz uma falha alarmante e ntre o que
chamam "pagame ntos A" e o que de nominam "pagame ntos A +
B". Fundam e ntão um movime nto, e nve rgam uniforme s ve rde s e
insiste m com o gove rno para que e mita dinhe iro ou conce da
"cré ditos", para compe nsação dos pagame ntos B que faltam.

Os apóstolos mais rude s do "cré dito social" talve z pare çam


ridículos, mas há, um núme ro infinito de e scolas inflacionistas,
ape nas lige irame nte mais sofisticadas, que tê m planos "cie ntíficos"
para e missão suficie nte de dinhe iro adicional ou para conce ssão
de cré ditos, a fim de pre e nche re m alguma suposta "de ficiê ncia"
ou "hiato" crônico ou pe riódico, que e las calculam de algum outro
modo.

Os inflacionistas de maior re nome re conhe ce m que qualque r


aume nto substancial da quantidade de moe da re duzirá o pode r
aquisitivo de cada unidade mone tária — o que , e m outras
palavras, conduzirá a um aume nto dos pre ços das me rcadorias.
Isso, poré m, não os pe rturba. Pe lo contrário, é e ssa
pre cisame nte a razão por que de se jam a inflação. Alguns de le s
ale gam que e sse re sultado torna me lhor a posição dos de ve dore s
pobre s, comparados aos cre dore s ricos. Outros são de opinião
que a inflação e stimula as e xportaçõe s e de se ncoraja as
importaçõe s. Outros, ainda, e nte nde m que é re mé dio e sse ncial
para a cura de uma de pre ssão, "para facilitar a de colage m da
indústria" e para proporcionar "ple no e mpre go". 1

Há inúme ras te orias sobre a mane ira pe la qual o aume nto da


quantidade de dinhe iro (inclusive cré dito bancário) afe ta os
pre ços. De um lado, conforme acabamos de ve r, e stão os que
imaginam que a quantidade de dinhe iro pode ria se r aume ntada,
quantas ve ze s se quise sse , se m que isso afe tasse os pre ços.
Ve e m, ape nas, no dinhe iro aume ntado, o me io de aume ntar o
"pode r aquisitivo" de todo mundo, no se ntido de possibilitar a
todos a compra de maior quantidade de me rcadorias que ante s.
Nunca che gam a le mbrar-se de que as pe ssoas, cole tivame nte ,
não pode m comprar o dobro das me rcadorias que compravam
ante s, a me nos que també m se produza o dobro das
me rcadorias, ou imaginam que a única coisa que impe de o
aume nto da produção não é a falta de e ne rgia, de horas de
trabalho ou de capacidade produtiva, mas simple sme nte uma
e scasse z de procura de moe da: se as pe ssoas de se jam as
me rcadorias, supõe m, e tê m dinhe iro para pagá-las, que as
me rcadorias se rão automaticame nte produzidas.

Do outro lado e stá o grupo — e ne le se inclue m alguns


e mine nte s e conomistas — que suste nta uma rígida te oria
me cânica re lativa ao e fe ito da ofe rta da moe da sobre os pre ços
das me rcadorias. Toda a moe da de uma nação, se gundo
imaginam a que stão e sse s te óricos, se rá ofe re cida contra todas
as me rcadorias. Portanto, o valor da quantidade total da moe da,
multiplicado por sua "ve locidade de circulação", de ve se r se mpre
igual ao valor da quantidade total de me rcadorias compradas.
Mais ainda (supondo que não haja mudança na ve locidade de
circulação), o valor da unidade mone tária variará, e xatame nte , de
mane ira inve rsa à quantidade posta e m circulação. Duplique -se a
quantidade de dinhe iro e de cré dito bancário e se rá duplicado,
com e xatidão, o "níve l de pre ços"; triplique -se , e se rá triplicado o
"níve l de pre ços". Em suma, multiplique -se n ve ze s a quantidade
de dinhe iro, que se rão multiplicados n ve ze s os pre ços das
me rcadorias.

Não há, aqui, e spaço para e xplicar todas as falácias de sse


quadro plausíve l. 2 Em ve z disso, procurare mos ve r justame nte
por que e como um aume nto na quantidade de dinhe iro aume nta
os pre ços.

Um aume nto quantitativo de dinhe iro surge de modo


e spe cífico. Digamos que surge porque o gove rno faz maiore s
gastos, do que pode ou de se ja, com o produto dos impostos (ou
com a ve nda de apólice s que o povo paga com suas e conomias
e fe tivas). Suponhamos, por e xe mplo, que o gove rno imprima
dinhe iro para pagar forne ce dore s e m te mpo de gue rra. Os
prime iros e fe itos de sse s gastos se rão, e ntão, a e le vação dos
pre ços dos forne cime ntos, usados na gue rra, e a colocação do
dinhe iro adicional e m mãos dos forne ce dore s e se us
e mpre gados. (Assim como, e m nosso capítulo sobre tabe lame nto
de pre ços, de ixamos de tratar, visando à simplicidade , de
algumas complicaçõe s de corre nte s da inflação, pode mos agora
de ixar de lado, ao tratarmos da inflação, as complicaçõe s
de corre nte s da te ntativa de tabe lame nto de pre ços por parte do
gove rno. Quando e sse s fore m conside rados, ve re mos que não
alte ram a e ssê ncia da análise . Conduze m, some nte , a uma
e spé cie de inflação "re primida" que re duz ou oculta algumas das
prime iras conse quê ncias, a e xpe nsas de agravar, mais tarde ,
outras.)

Os forne ce dore s do te mpo de gue rra e se us e mpre gados


te rão, e ntão, maiore s re ndime ntos mone tários. Vão gastá-los e m
de te rminadas me rcadorias e e m de te rminados se rviços que
de se jam. Os ve nde dore s de sse s se rviços e me rcadorias pode rão
e le var os re spe ctivos pre ços, por causa do aume nto da de manda.
Os que tê m a re nda aume ntada e starão dispostos a pagar pre ços
mais e le vados, e m ve z de ficare m se m as me rcadorias, pois tê m
mais dinhe iro, e um dólar te rá me nor valor subje tivo aos olhos de
cada um de le s.

Chame mos grupo A aos forne ce dore s e se us e mpre gados, e


grupo B, aos que compram dire tame nte se us acré scimos de
me rcadorias e se rviços. O grupo B, por causa das ve ndas a
pre ços mais altos, comprará, por sua ve z, maior quantidade de
me rcadorias e se rviços de outro grupo, o grupo C.

Este , por sua ve z, pode rá aume ntar os pre ços e te rá maior


re ndime nto para gastar com o grupo D, e assim por diante , até
que o aume nto dos pre ços e do re ndime nto e m dinhe iro atinja,
praticame nte , todo o país. Comple tado e sse proce sso, quase
todo mundo te rá re ndime nto mais alto me dido e m te rmos de
dinhe iro. Mas (supondo-se que a produção de me rcadorias e
se rviços não te nha aume ntado) se us preços te rão aume ntado na
me sma proporção. O país não e stará mais rico que ante s. Não
significa isso, poré m, que a rique za e o re ndime nto re lativos ou
absolutos de cada um pe rmane çam os me smos. Pe lo contrário, o
proce sso de inflação afe ta, se gurame nte , a fortuna de um grupo
dife re nte me nte da fortuna de outros. Os prime iros grupos a
re ce be re m o dinhe iro adicional se rão os mais be ne ficiados. O
re ndime nto mone tário do grupo A, por e xe mplo, te rá aume ntado
ante s do aume nto dos pre ços, de sorte que pode rá comprar
me rcadorias com um aume nto quase proporcional. A re nda e m
dinhe iro do grupo B se rá aume ntada de pois, quando os pre ços já
tive ram algum aume nto, mas e stará, també m, e m me lhor
situação, e m te rmos de me rcadorias. Entre me nte s, poré m, os
grupos, que não te nham tido qualque r aume nto no re ndime nto
mone tário, se rão compe lidos a pagar pre ços mais e le vados pe los
be ns que compram, o que significa se re m obrigados a passar
para um padrão de vida mais baixo que o ante rior.

Pode mos e sclare ce r, ainda mais, o proce sso por me io de um


hipoté tico jogo de cifras. Suponhamos a comunidade dividida,
arbitrariame nte , e m quatro grupos de produtore s principais, A,
B, C e D, que obtê m ne ssa orde m, com a inflação, o be ne fício do
aume nto do re ndime nto e m dinhe iro. Quando o re ndime nto
mone tário do grupo A já e stive r aume ntado e m 30% , os pre ços
das me rcadorias que compra ainda não e starão aume ntados.
Quando a re nda do grupo B tive r sido aume ntada e m 20% , os
pre ços te rão aume ntado, e m mé dia, ape nas 10% . Quando a
re nda do grupo C tive r aume ntado some nte 10% , os pre ços, no
e ntanto, te rão subido 15% . E, quando a re nda do grupo D ainda
e stive r se m aume nto, a mé dia dos pre ços, que te rá de pagar
pe las me rcadorias de que pre cisar, te rá subido 20% . Em outras
palavras: os ganhos dos prime iros grupos de produtore s a
be ne ficiare m-se com os pre ços ou salários mais altos, oriundos
da inflação, se rão forçosame nte conse guidos, a e xpe nsas das
pe rdas sofridas (como consumidore s) pe los últimos grupos de
produtore s que pude ram aume ntar se us pre ços e salários.

Pode se r que , se a inflação for de tida alguns anos de pois, o


re sultado final ve nha a se r, digamos, um aume nto mé dio de 25%
no re ndime nto mone tário, e um aume nto mé dio de igual
porce ntage m nos pre ços, ambos razoave lme nte distribuídos por
todos os grupos. Isso, poré m, não e liminará os ganhos e pe rdas
do pe ríodo de transição. O grupo D, por e xe mplo, me smo que
se us re ndime ntos e pre ços te nham, finalme nte , aume ntado 25% ,
pode rá comprar some nte a me sma quantidade de be ns e
se rviços, que comprava ante s do início da inflação. Não te rá
compe nsação pe las pe rdas durante o pe ríodo e m que se us
re ndime ntos e pre ços não subiram, e mbora tive sse que pagar
30% a mais pe los be ns e se rviços que comprou dos outros grupos
produtore s da comunidade , A, B e C.

Assim, a inflação é simple sme nte outro e xe mplo de nossa


lição fundame ntal. Pode rá na ve rdade traze r, a grupos
favore cidos e durante curto pe ríodo, ce rtos be ne fícios, mas
some nte à custa de outros. E, a longo prazo, a inflação origina
de sastrosas conse quê ncias para toda a comunidade . Me smo uma
inflação re lativame nte suave distorce a e strutura da produção.
Conduz a conside ráve l e xpansão de algumas indústrias, à custa de
outras. Isso implica má aplicação e de spe rdício de capital.
Quando a inflação se de smorona ou é contida, a inve rsão mal
dirigida do capital — que r e m maquinaria, fábricas, que r e m
e difícios para e scritórios — não pode rá ocasionar divide ndos
ade quados e pe rde grande parte de se u valor.

Não é possíve l de te r suave me nte a inflação e , assim, afastar


a subse que nte de pre ssão. Ne m me smo é possíve l de tê -la, uma
ve z e nvolvidos ne la, e m ce rto ponto já pre e stabe le cido, ou quando
os pre ços tive re m atingido um níve l pre viame nte ace rtado, pois
tanto as forças políticas, como as forças e conômicas, e starão,
e ntão, de sgove rnadas. Não se pode argume ntar e m favor de um
aume nto de 25% nos pre ços e m inflação, se m que algué m
afirme que o argume nto é igualme nte bom para um aume nto de
50% , e algué m mais acre sce nte que é igualme nte bom para um
aume nto de 100% . Os grupos políticos de pre ssão, que se
be ne ficiaram com a inflação, insistirão para que e la prossiga.

É impossíve l, alé m disso, controlar o valor do dinhe iro sob a


inflação, pois, conforme vimos, a causalidade não é simple sme nte
me cânica. Não se pode , por e xe mplo, dize r ante cipadame nte que
100% de aume nto na quantidade do dinhe iro significará uma
que da de 50% no valor da unidade mone tária. O valor do
dinhe iro, conforme se ve rificou, de pe nde das avaliaçõe s subje tivas
das pe ssoas que o possue m. E e ssas avaliaçõe s não de pe nde m
some nte da quantidade de dinhe iro que cada pe ssoa possua.
De pe nde m, també m, da qualidade do dinhe iro. Em te mpo de
gue rra, o valor da unidade mone tária de um país, que não se gue
o padrão-ouro, se e le vará no e xte rior com a vitória e cairá com a
de rrota, inde pe nde nte me nte de mudanças na quantidade . A
pre se nte avaliação de pe nde rá, muitas ve ze s, daquilo que as
pe ssoas e spe ram se ja a futura quantidade do dinhe iro. E, assim
como com as me rcadorias suje itas à e spe culação, o valor que
cada pe ssoa atribui ao se u dinhe iro, fica afe tado não só pe lo que
julga se r se u valor, mas també m pe lo que julga se rá a avaliação
do dinhe iro por todas as demais pessoas.

Tudo isso e xplica por que , uma ve z iniciada uma


supe rinflação, o valor da unidade mone tária cai e m ritmo muito
mais rápido que o do aume nto de dinhe iro. Quando se alcança
e ssa fase , o de sastre é quase comple to e o e sque ma se arruína.
4

No e ntanto, o e ntusiasmo pe la inflação jamais morre . Pare ce


que quase ne nhum país é capaz de aprove itar a e xpe riê ncia dos
outros, e ne nhuma ge ração apre nde com os sofrime ntos das que
a ante ce de ram. Cada ge ração e cada país se gue m a me sma
mirage m. Cada um agarra o me smo fruto do Mar Morto que se
de sfaz, na boca, e m pó e cinzas, pois é da nature za da inflação
criar mil e uma ilusõe s.

O argume nto que mais pe rsiste nte me nte se apre se nta e m


favor da inflação, e m nossos dias, é que e la "movime ntará as
rodas da indústria", nos salvará das pe rdas irre cupe ráve is da
e stagnação e da ociosidade e trará "ple no e mpre go". Tal
argume nto, e m sua forma mais crua, apoia-se na ime moráve l
confusão e ntre a conce pção de dinhe iro e de rique za re al. Supõe -
se que e stá surgindo novo "pode r aquisitivo", e que os e fe itos
de ste se multiplicam e m círculos cada ve z maiore s, como os
círculos causados por uma pe dra atirada num poço. O ve rdade iro
pode r aquisitivo de me rcadorias, e ntre tanto, conforme vimos,
e stá e m outras me rcadorias. Não se pode aume ntá-lo
miraculosame nte com a simple s impre ssão de mais pe daços de
pape l chamados dólare s. O que aconte ce fundame ntalme nte
numa e conomia de inte rcâmbio é que os be ns que A produz são
trocados pe los be ns produzidos por B. 3

O que a inflação re alme nte faz é mudar a re lação e ntre


pre ços e custos. A mudança mais importante , de stinada a criar, é
e le var os pre ços das me rcadorias e m re lação aos índice s salariais
e re staurar os lucros come rciais, be m como e ncorajar o re início
da produção nos pontos e m que os re cursos e ste jam inativos,
re stabe le ce ndo uma re lação e xe quíve l e ntre pre ços e custo de
produção.

De via se r pe rfe itame nte claro que se pode ria conse guir isso
mais dire ta e hone stame nte por me io da re dução dos índice s
salariais. Mas os mais re quintados propone nte s da inflação
acre ditam que isso não se ja, agora, politicame nte possíve l. Às
ve ze s, vão mais longe , afirmando que toda proposta, sob
quaisque r circunstâncias, de re dução dire ta de de te rminadas
taxas de salário a fim de re duzir o de se mpre go, é
"antitrabalhista". Mas o que e le s me smos e stão propondo,
e nunciado e m te rmos crus, é enganar os trabalhadore s re duzindo
os índice s re ais dos salários (isto é , os índice s salariais e m te rmos
de pode r aquisitivo), atravé s de aume nto nos pre ços.

O que e le s e sque ce m é que o próprio trabalhador se tornou


sofisticado, que os grande s sindicatos e mpre gam e conomistas que
conhe ce m os núme ros índice s e que os trabalhadore s não se
de ixam ludribriar. Nas atuais circunstâncias, portanto, a política
pare ce incapaz de atingir não só suas finalidade s e conômicas,
mas també m as políticas. É pre cisame nte por e sta razão que os
mais pode rosos sindicatos, cujas taxas salariais mais
ne ce ssitariam se r corrigidas, insiste m e m que as me smas de ve m
se r e le vadas, pe lo me nos, na proporção do aume nto dos índice s
do custo de vida. As inope rante s re laçõe s e ntre pre ços e índice s
salariais-chave continuarão, se pre vale ce r a insistê ncia dos
pode rosos sindicatos. A e strutura dos índice s salariais pode rá
re alme nte tornar-se ainda mais de formada, pois a grande massa
de trabalhadore s não-organizados, cujos salários, ante s da
inflação, não e ram irre gulare s (e que , talve z, tive sse m e stado
inde vidame nte pre judicados, por causa da política de e xclusão dos
sindicatos), se rá pre judicada mais ainda, durante a transição,
pe la e le vação dos pre ços.

Os mais sofisticados de fe nsore s da inflação, e m suma, são


insince ros. Não e nunciam a que stão com comple ta since ridade e
te rminam e nganando a si próprios. Come çam a falar e m pape l-
moe da como os mais ingê nuos inflacionistas, como se fosse uma
forma de rique za que pude sse se r criada à vontade com a
máquina impre ssora. Disse rtam, até sole ne me nte , a re spe ito de
um "multiplicador", pe lo qual todo dólar impre sso e gasto pe lo
gove rno se torna, magicame nte , o e quivale nte a vários dólare s
acre sce ntados à rique za do país.

Afastam, e m suma, sua própria ate nção e a do público das


ve rdade iras causas de qualque r de pre ssão e xiste nte , pois e stas,
na maioria das ve ze s, são de sajustame ntos na e strutura pre ço-
custo-salário: de sajustame ntos e ntre salário e pre ços, e ntre
pre ços de maté ria-prima e pre ços de me rcadorias acabadas,
e ntre um pre ço e outro ou e ntre um salário e outro. Esse s
de sajustame ntos tê m e liminado, de ce rto modo, o ince ntivo para
produzir, ou tê m tornado re alme nte impossíve l o prosse guime nto
da produção e , atravé s da inte rde pe ndê ncia orgânica de nossa
e conomia de trocas, e spalha-se a de pre ssão. Some nte de pois de
corrigidos e sse s de sajustame ntos é que pode m re come çar a
ple na produção e o ofe re cime nto de e mpre gos.

É ve rdade que a inflação pode corrigir os de sajustame ntos,


mas é um mé todo viole nto e pe rigoso. Faz as corre çõe s, não
abe rta e hone stame nte , mas atravé s da ilusão. A inflação, se m
dúvida, cobre todo o proce sso e conômico com um vé u de ilusão.
Confunde e e ngana quase todos, inclusive os que sofre m com e la.
Estamos acostumados a me dir nosso re ndime nto e nossa
rique za, e m te rmos mone tários. Tal hábito me ntal é tão forte
que até e conomistas e e statísticos profissionais não pode m
rompê -lo e ficazme nte . Não é fácil pe rce be r as re laçõe s se mpre
e m te rmos de be ns re ais e de be m-e star re al. Que m, e ntre nós,
não se se nte mais rico e mais orgulhoso, quando se diz que a
re nda nacional duplicou (e m te rmos de dinhe iro, é claro),
comparada com algum pe ríodo pré -inflacionário? O próprio
funcionário, que costumava re ce be r US$75 por se mana e agora
re ce be US$120, julga e star, de ce rto modo, e m me lhor situação,
e mbora vive r lhe custe o dobro do que ao te mpo e m que ganhava
US$75. É claro que não e stá ce go ao aume nto do custo de vida.
Mas não e stá també m ple name nte cônscio de sua ve rdade ira
posição como te ria e stado, se o custo de vida não houve sse
mudado e se se u salário e m dinhe iro tive sse sido re duzido, para
dar-lhe o me smo re duzido pode r aquisitivo que te m agora, a
de spe ito do salário aume ntado, por causa dos pre ços mais altos.
A inflação é a auto-suge stão, o hipnotismo, o ane sté sico que o
de ixou inse nsíve l à dor da ope ração. A inflação é o ópio do povo.

Essa é , pre cisame nte , sua função política. É pe lo fato de a


inflação confundir tudo, que a e la re corre m, pe rsiste nte me nte ,
nossos mode rnos gove rnos de "e conomia plane jada". Vimos, no
Capítulo IV, re corre ndo a ape nas um e xe mplo, que a cre nça de
que as obras políticas criam, forçosame nte , novos e mpre gos é
falsa. Vimos que se o dinhe iro fosse le vantado por me io da
tributação, para cada dólar que e ntão o gove rno de spe nde sse ,
e m obras públicas, um dólar se ria gasto a me nos, pe los
contribuinte s, na satisfação de suas ne ce ssidade s, e , para cada
e mpre go público criado, de struía-se um e mpre go particular.

Suponhamos, poré m, que as obras públicas não se jam pagas


com o produto líquido da tributação. Suponhamos que se jam
pagas pe lo financiame nto de dé ficits, isto é , com o produto líquido
dos e mpré stimos do gove rno ou de e missõe s. Ne ssas condiçõe s,
os re sultados ante s de scritos pare ce m não ocorre r. As obras
públicas pare ce m te r sido criadas a partir de "novo" pode r
aquisitivo. Não se pode dize r que o pode r aquisitivo te nha sido
arre batado dos contribuinte s, pois, ne sse mome nto, pare ce que
a nação obte ve alguma coisa se m de spe nde r coisa alguma.

Mas, de acordo com nossa lição, e ncare mos agora as


conse quê ncias a longo prazo. O e mpré stimo de ve se r algum dia
re sgatado. O gove rno não pode continuar inde finidame nte a
acumular dívidas, pois se te ntar fazê -lo, um dia acabará falindo.
Como Adam Smith obse rvou e m 1776:

Quando as dívidas nacionais che garam a acumular-se até


ce rto grau, cre io quase que não houve um só caso de te re m
sido pagas de modo razoáve l e comple to. A libe ração da
re ce ita pública, se che gou a se r fe ita, foi se mpre le vada a
cabo por uma falê ncia; às ve ze s por uma falê ncia de clarada,
mas se mpre por uma falê ncia re al, e mbora fre que nte me nte
por me io de pre te nso pagame nto.

Contudo, quando o gove rno passa a pagar a dívida que


acumulou para ate nde r a obras públicas, te m, forçosame nte , que
tributar mais pe sadame nte do que de spe nde . Ne sse último
e stágio, portanto, de strói, forçosame nte , mais e mpre gos do que
os cria. A tributação pe sada, e xtraordinária, e ntão ne ce ssária,
não só arre bata o pode r aquisitivo como, també m, diminui ou
de strói os ince ntivos à produção e , assim, re duz a rique za e a
re nda totais do país.

A única saída para e ssa conclusão consiste e m admitir (como


de fato os apóstolos dos gastos públicos se mpre faze m) que os
políticos no pode r só vão gastar dinhe iro naquilo que , de outro
modo, te ria dado orige m a pe ríodos de de pre ssão ou
"de flacionários" e prontame nte pagarão a dívida daquilo que , de
outra forma, te ria dado orige m a pe ríodos de e xpansão ou
"inflacionários". Esta é uma ficção e nganadora, poré m,
infortunadame nte , os políticos no pode r nunca age m de ste modo.
A pre visão e conômica, alé m disso, é tão pre cária, e as pre ssõe s
políticas de tal nature za que os gove rnos nunca pode m agir assim.
As de spe sas de ficitárias, uma ve z iniciadas, criam tão pode rosos
inte re sse s, que sua continuação é e xigida, se ja de que modo for.

Se ne nhuma te ntativa hone sta for fe ita para liquidar as


dívidas acumuladas e , ao contrário, re corre r-se à inflação para
ate ndê -las, o re sultado se rá o que acima de scre ve mos, pois o
país, como um todo, não pode obte r algo se m pagar por isso. A
inflação é e m si uma forma de tributação. É talve z a pior das
formas, porque normalme nte grava mais os que me nos pode m
pagar. A hipóte se de que afe te igualme nte a todos e a tudo (o
que , como vimos, nunca é ve rdade iro) nos conduziria ao absurdo
de supor um imposto sobre as ve ndas com uma única alíquota
incidindo sobre todas as me rcadorias, tão alta para o pão e o
le ite , quanto para os diamante s e as pe le s. Pode ríamos pe nsar
na inflação como um e quivale nte a um imposto de alíquota única,
se m ne nhuma e xce ção, sobre o re ndime nto de todas as pe ssoas.
É um imposto que não some nte re cai sobre todas as de spe sas
pe ssoais, mas també m sobre as poupanças e os se guros de vida.
É, de fato, um odioso le vantame nto ge ne ralizado de capital que
obriga o pobre a pagar na me sma porce ntage m do rico.

A situação, poré m, é ainda pior porque , conforme vimos, a


inflação não atinge a todos da me sma forma. Uns sofre m mais
que outros. O pobre é mais pe sadame nte tributado, e m te rmos
pe rce ntuais, que o rico, pois não te m os me smos me ios de se
prote ge r atravé s de e spe culaçõe s na compra de açõe s. Inflação é
uma e spé cie de imposto que e scapa ao controle das autoridade s
fiscais. Causa danos e stouvadame nte e m todas as dire çõe s. A
alíquota de imposto e xigida pe la inflação não é fixada: não pode
se r de te rminada ante cipadame nte . Sabe mos o que é hoje , mas
não o que se rá amanhã, e amanhã não sabe re mos o que se rá
no dia se guinte .

Como qualque r outro imposto, a inflação age para


de te rminar a política individual e come rcial que somos obrigados
a se guir. De se ncoraja toda prudê ncia e parcimônia. Encoraja o
e sbanjame nto, o jogo e toda e spé cie de de spe rdício inconscie nte .
Torna, muitas ve ze s, mais lucrativo e spe cular que produzir.
De strói a e strutura das re laçõe s e conômicas e stáve is. Suas
ine scusáve is injustiças le vam os home ns a re corre re m a re mé dios
de se spe rados. Lança as se me nte s do fascismo e do comunismo.
Le va os home ns a e xigire m controle s totalitários. Invariave lme nte
te rmina e m amarga de silusão e colapso.

1 De sdobrada e m suas parte s e sse nciais, e sta é a te oria dos


ke yne sianos. Em The Failure of the "NewEconomics" (Ne w Roche lle ,
N. Y.: Arlington House , 1959.) Analiso e sta te oria de talhadame nte .

2 O le itor inte re ssado e m tais análise s de ve consultar The Value of

Money (1917, nova e dição, 1936), de Ande rson, B. M.; The Theory
of Money and Credit (e diçõe s ame ricanas, 1935, 1953), de Mise s,
Ludwig von; ou Inflation Crisis, and Howto Resolve it (Ne w Roche lle ,
N.Y.: Arlington House , 1978), do pre se nte autor.

3 Cf. John Stuart Mill, Principles of Political Economy, Livro 3,

Capítulo 14, par. 2; Alfre do Marshall, Principles of Economics,Livro


IV, Capítulo XII, se cção 10; e Be njamin M. Ande rson, "A
Re futation of Ke yne s' Attack on the Doctrine that Aggre gate
Supply Cre ate s Aggre gate De mand", in Financing American
Prosperity, por um simpósio de e conomistas. Cf. també m o
simpósio e ditado pe lo pre se nte autor: The Critics of Keynesian
Economics, Ne w Roche lle , N.Y., Arlington House , 1960.
CAPÍTULO XXIV
O assalto à poupança

De sde te mpos ime moriais, a sabe doria prove rbial te m


e nsinado as virtude s da poupança e pre ve nido contra as
conse quê ncias da prodigalidade e do de spe rdício. Essa sabe doria
prove rbial te m re fle tido a é tica comum, be m como os
julgame ntos me rame nte prude nte s da e spé cie humana. Mas
houve se mpre e sbanjadore s e , ao que pare ce , houve se mpre
te óricos para justificar-lhe s os e sbanjame ntos.

Os e conomistas clássicos, re futando as falácias de se us


próprios dias, mostraram que a política de e conomizar, que
visava be m o me lhor inte re sse individual, visava, també m, os
me lhore s inte re sse s da nação. Mostraram que o poupador
nacional, ao faze r provisão para se u próprio futuro, não e stava
pre judicando, mas auxiliando toda a comunidade . Atualme nte ,
poré m, a antiga virtude da poupança e sua de fe sa pe los
e conomistas clássicos mais uma ve z e stão se ndo atacadas, por
outras supostas razõe s, ao passo que a te oria oposta, a de
gastar, e stá e m voga.

A fim de tornar a que stão fundame ntal tão clara quanto


possíve l, nada pode mos faze r de me lhor se não come çar com o
e xe mplo clássico usado por Bastiat. Suponhamos, pois, que dois
irmãos, um, pe rdulário, e o outro, prude nte , te nham, cada um,
he rdado uma soma que proporciona a cada um a re nda de
US$50.000 anuais. Vamos de ixar de conside rar o imposto sobre
a re nda, e a que stão sobre se ambos de viam trabalhar para
vive r, pois tais porme nore s são irre le vante s para nosso fim.

Alvin, o prime iro irmão, é um gastador libe ral. Gasta não só


por te mpe rame nto, mas també m por princípio. É um discípulo
(para não irmos mais longe ) de Rodbe rtus que de clarou, e m
me ados do sé culo XIX, que os capitalistas "de ve m gastar os
re ndime ntos até ao último ce itil e m conforto e lucro", pois, "se
de cide m e conomizar (...) os be ns se e nte souram e parte dos
ope rários não te rá trabalho"1. Alvin é se mpre visto nas boate s, é
pródigo nas gorje tas, manté m pre te nsiosa re sidê ncia com
inúme ros se rviçais, te m dois motoristas e não se limita aos
automóve is que possui, te m um haras de cavalos de corrida,
dirige um iate , viaja, cumula a mulhe r de brace le te s de brilhante s
e casacos de pe le , dá pre se nte s caros e inúte is aos amigos.

Para faze r tudo isso, te m que lançar mão do capital. Mas que
importância te m isso, poré m? Se e conomizar com avare za é
pe cado, não poupar de ve se r uma virtude ; e e m todo caso, e stá
simple sme nte compe nsando o mal que e stá se ndo fe ito com a
e conomia de se u irmão usurário, Be njamin.

Não é ne ce ssário dize r que Alvin é grande favorito das moças


que tomam conta do ve stiário, dos garçons, dos donos de
re staurante s, dos ne gociante s de pe le s e dos luxuosos
e stabe le cime ntos de toda e spé cie . Conside ram-no be nfe itor
público. Ce rtame nte , é claro, para todos, que e le e stá
proporcionando e mpre go e e spalhando dinhe iro ao se u re dor.

Comparado com o irmão, Be njamin é muito me nos popular.


Rarame nte é visto e m joalhe iros, lojas de pe le s ou boate s e não
pe rmite intimidade s a um maître d'hôtel. Enquanto Alvin, não só
gasta toda a re nda anual de US$50 mil, mas també m saca contra
o capital, Be njamin vive muito mais mode stame nte e gasta ape nas
ce rca de US$25 mil por ano. Obviame nte , julgam as pe ssoas, que
só e nxe rgam o que se lhe s de para diante dos olhos, que e le e stá
proporcionando me nos da me tade dos e mpre gos que Alvin
proporciona, e que os outros US$25 mil são tão inúte is, como se
não e xistisse m.

Mas ve jamos agora o que Be njamin faz com os outros US$25


mil. Não os de ixa acumulados e m sua carte ira, na gave ta da
e scrivaninha ou no cofre . De posita-os num banco ou e mpre ga-os.
Se os coloca num banco come rcial ou de inve stime nto, e ste
e mpre sta-os a firmas come rciais a curto prazo, para capital de
giro, ou e mpre ga-os na compra de açõe s. Em outras palavras:
Be njamin inve ste se u dinhe iro dire ta ou indire tame nte . Quando,
poré m, inve ste , o dinhe iro é e mpre gado na compra de be ns de
capital — casas ou e difícios de e scritórios, fábricas, navios,
caminhõe s ou máquinas. Qualque r de sse s proje tos põe e m
circulação tanto dinhe iro, e proporciona tanto e mpre go, quanto a
me sma quantia de spe ndida, dire tame nte , e m be ns de consumo.

Emsíntese, no mundo moderno, "poupança" é apenas outra forma de


gastar. A dife re nça comum e stá e m que se e ntre ga o dinhe iro a
outre m, que o de spe nde a fim de aume ntar a produção. No que
diz re spe ito a proporcionar e mpre gos, a poupança e as de spe sas
de Be njamin somadas re pre se ntam tanto quanto gastou Alvin e
colocam muito maior quantidade de moe da e m circulação. A
principal dife re nça e stá e m que os e mpre gos proporcionados
pe los gastos de Alvin pode m se r vistos a olho nu por qualque r
pe ssoa; mas é ne ce ssário olhar um pouco mais cuidadosame nte
e pe nsar um mome nto, para re conhe ce r que cada dólar que
Be njamin poupa proporciona muito mais e mpre go que cada dólar
que Alvin e sbanja.

Passam-se doze anos. Alvin e stá arruinado. Não mais é visto


nas boate s e nas lojas da moda, e aque le s a que m antigame nte
patrocinava, quando se re fe re m a e le , chamam-no de tolo. Alvin
e scre ve cartas a Be njamin pe dindo dinhe iro. E Be njamin, que
continua a mante r a me sma proporção nos gastos para poupar,
não só dá e nse jo a mais e mpre gos que nunca, mas també m a
me lhore s salários e maior produtividade no trabalho, porque sua
re nda cre sce u atravé s dos inve stime ntos fe itos. Se u capital e sua
re nda també m são maiore s. Em suma, e le acre sce ntou
capacidade produtiva à nação. Alvin nada fe z.
2

Surgiram, nos últimos anos, tantas falácias sobre e conomia


que ne m todas pode m se r re spondidas com o nosso e xe mplo dos
dois irmãos. É ne ce ssário a e ssas falácias de dicar mais algum
e spaço. Muitas ilusõe s surge m de confusõe s tão e le me ntare s que
pare ce m inacre ditáve is, e spe cialme nte quando e ncontradas e m
e conomistas de grande nome ada. A palavra poupança, por
e xe mplo, é às ve ze s usada para indicar simple s entesouramento de
dinhe iro e , outras ve ze s, para significar investimento, se m qualque r
distinção pre cisa e ntre as duas ace pçõe s.

O simple s e nte sourame nto de dinhe iro, se re alizado


irracionalme nte , se m uma causa e e m larga e scala, é , e m muitas
situaçõe s e conômicas, pre judicial. Essa e spé cie de
e nte sourame nto, contudo, é e xtre mame nte rara. Algo
se me lhante a isso, mas que se de ve distinguir como cuidado,
ocorre muitas ve ze s depois de uma que da nos ne gócios. Ambos,
de spe sas de consumo e inve stime ntos são, e ntão, contraídos. Os
consumidore s re duze m as compras. Faze m-no, na re alidade , e m
parte , porque te me m pe rde r os e mpre gos e , por isso, de se jam
conse rvar se us re cursos: re duze m as compras não porque
de se jam consumir me nos, mas porque de se jam te r ce rte za de
que se u pode r de consumir se e ste nde rá por um pe ríodo mais
longo, se pe rde re m o e mpre go.

Mas os consumidore s re duze m as compras també m por


outra razão. Provave lme nte , os pre ços das me rcadorias caíram e
te me m uma nova baixa. Prote lam os gastos, pois acre ditam que
pode rão obte r mais com se u dinhe iro. Não de se jam te r se us
re cursos e m me rcadorias cujo valor e stá caindo, mas e m dinhe iro
que e spe ram suba (re lativame nte ) de valor.

A me sma e xpe ctativa impe de -os de faze r inve stime ntos.


Pe rde ram a confiança na possibilidade de obte r lucros nos
ne gócios ou, pe lo me nos, acre ditam que , se e spe rare m alguns
me se s, pode rão comprar açõe s ou apólice s mais baratas.
Pode mos imaginá-los, ora re cusando conse rvar e m suas mãos
me rcadorias que possam cair de pre ço, ora conse rvando dinhe iro
à e spe ra de uma alta.

É improprie dade te rminológica chamar "poupança" e ssa


re cusa te mporária de comprar, pois não de corre dos me smos
motivos da poupança normal. E é e rro ainda mais sé rio dize r que
e ssa e spé cie de "poupança" é causa de de pre ssõe s. É, pe lo
contrário, consequência de de pre ssõe s.

É ve rdade que a re cusa de comprar pode inte nsificar-se e


prolongar uma de pre ssão já e m curso. Não cria, poré m, a
de pre ssão. Às ve ze s, quando o gove rno inte rvé m nos ne gócios e
os ne gociante s não sabe m o que o gove rno vai faze r e m se guida,
cria-se uma situação de ince rte za. Os lucros não são re inve stidos.
Firmas e pe ssoas físicas de ixam saldos e m dinhe iro acumulare m-
se nos bancos. Conse rvam maiore s re se rvas para faze re m face a
contingê ncias. Esse e nte sourame nto de dinhe iro pode rá pare ce r
a causa de subse que nte diminuição no ritmo das atividade s
come rciais. A ve rdade ira causa, e ntre tanto, é a ince rte za criada
pe la política gove rname ntal. Os maiore s saldos e m dinhe iro, de
firma ou pe ssoas físicas, são simple s e los da cade ia de
conse quê ncias de ssa ince rte za. Culpar a "poupança e xce ssiva"
pe lo de clínio nos ne gócios se ria o me smo que lançar a culpa da
que da do pre ço das maçãs não a uma grande colhe ita, mas às
pe ssoas que se re cusam a pagar mais por e las.

Quando, poré m, algué m se de cide a ridicularizar uma prática


ou uma instituição, qualque r argume nto contra, por mais ilógico
que se ja, é conside rado bom. Diz-se que as dive rsas indústrias de
me rcadorias para consumo são criadas sob e xpe ctativa de ce rta
procura e que , se as pe ssoas se inclinam a e conomizar,
contrariam aque la e xpe ctativa e dão orige m à de pre ssão. Tais
asse rçõe s apóiam-se primacialme nte no e rro que já e xaminamos:
o e sque cime nto de que aquilo que é e conomizado e m be ns de
consumo é de spe ndido e m be ns de capital, e que e ssa
"poupança" não significa se que r, ne ce ssariame nte , a re tração de
um dólar no gasto total. O único e le me nto ve rdade iro nisso é que
qualquer mudança súbita pode rá se r pe rturbadora. Se ria també m
pe rturbador se os consumidore s de ixasse m de procurar um be m
de consumo para inte re ssar-se por outro. Se ria ainda mais
pe rturbador se os antigos "poupadore s" de ixasse m de inte re ssar-
se pe los be ns de capital e passasse m a inte re ssar-se pe los de
consumo.

Faz-se , ainda, outra obje ção à "poupança": diz-se que é


comple ta tolice . Ridiculariza-se o sé culo XIX, supondo-se que
inculcou a doutrina de que a humanidade , graças à poupança,
e stá faze ndo para si um bolo cada ve z maior que jamais come rá.
Esse quadro do proce sso é , e m si, ingê nuo e infantil. Pode -se
dispor me lhor de le , talve z, colocando-nos diante de um quadro
um tanto mais re alista, a propósito do que re alme nte aconte ce .

Imagine mos, e ntão, um povo que , cole tivame nte , poupe cada
ano ce rca de 20% de toda sua produção anual. A cifra é
e xage rada e m re lação à e conomia líquida que te m havido,
historicame nte , nos Estados Unidos2, mas é uma cifra
aproximada que se pode mane jar facilme nte e pe rmite
e sclare ce r toda dúvida dos que acre ditam que nós te nhamos
"poupado e xage radame nte ".

Agora, como re sultado de ssa e conomia e de sse inve stime nto


anuais, a produção anual total do país aume ntará cada ano.
(Para isolar o proble ma, e stamos de ixando de conside rar, no
mome nto, as altas e baixas re pe ntinas dos pre ços e outras
flutuaçõe s.) Digamos que e sse aume nto anual da produção se ja
de 2,5% . (Conside ra-se a porce ntage m simple s ao invé s de uma
porce ntage m composta, ape nas para simplificar o cálculo). O
quadro obtido para um pe ríodo de , digamos, onze anos,
apre se ntar-se -ia, mais ou me nos assim, e m te rmos de núme ros
índice s:

Produção
Ano
Total
Primeiro 100
Segundo 102,5
Terceiro 105
Quarto 107,5
Quinto 110
Sexto 112,5
Sétimo 115
Oitavo 117,5
Nono 120
Décimo 122,5
Undécimo 125
* Isso, naturalme nte , supõe que o proce sso de poupança e
inve stime nto prossiga no me smo ritmo.

A prime ira coisa que se obse rva ne sse quadro é que a


produção total aume nta cada ano, por causa da poupança, e não
te ria aume ntado se m e la. (É possíve l, se m dúvida, imaginar que
me lhorame ntos e novas inve nçõe s na maquinaria substituída e
outros be ns de capital, de valor não maior que os antigos,
aume ntariam a produtividade nacional, mas e sse aume nto
importaria e m muito pouco e o argume nto, e m todo caso, supõe
suficie nte inve stime nto anterior para que se tornasse possíve l criar
a maquinaria e xiste nte .) Fe z-se o inve stime nto ano após ano para
aume ntar a quantidade ou para me lhorar a qualidade da
maquinaria e xiste nte e , portanto, a produção nacional de
me rcadorias. Há, é ve rdade (se isso, por alguma razão e stranha,
for conside rado obje ção), um "bolo" cada ve z maior cada ano.
Cada ano, é ce rto, ne m tudo do "bolo" produzido é consumido.
Mas não há re strição irracional ou cumulativa para os
consumidore s, pois cada ano se consome , de fato, um bolo cada
ve z maior até que ao fim de onze anos (e m nossa ilustração) só o
bolo de consumo anual é igual aos bolos combinados de
consumidore s e produtore s do prime iro ano. Alé m disso, o
e quipame nto de capital, a capacidade de produzir be ns, é , e m si,
25% maior que no prime iro ano.

Obse rve mos alguns outros pontos. O fato de 20% do


re ndime nto nacional de stinar-se anualme nte à poupança não
pe rturba, absolutame nte , os be ns de consumo das indústrias. Se
e las ve nde sse m ape nas as 80 unidade s produzidas no prime iro
ano (e não houve sse aume nto de pre ços causado por uma
procura insatisfe ita), não se riam, ce rtame nte , muito tolas a ponto
de formare m planos de produção na suposição de que ve nde riam
100 unidade s no se gundo ano. As indústrias de be ns de consumo,
e m outras palavras, e stariam já engrenadas na hipóte se de que a
situação passada, e m re lação às poupanças continuaria. Some nte
umsúbito e substancial aumento das poupanças as pe rturbaria e as
de ixaria com me rcadorias não ve ndidas.

Essa me sma pe rturbação, poré m, conforme já vimos, se ria


causada nas indústrias de be ns de capital por uma súbita e
substancial diminuição de poupanças. Se o dinhe iro que
ante riorme nte e ra e mpre gado e m poupanças fosse e mpre gado
na compra de be ns de consumo, isso não aume ntaria os
e mpre gos, mas conduziria, simple sme nte , a um aume nto do
pre ço dos be ns de consumo e a uma diminuição do pre ço dos
be ns de capital. Se u prime iro e fe ito, afinal, se ria forçar
mudanças e m e mpre gos e , te mporariame nte , diminuir o núme ro
de e mpre gos, por se us e fe itos sobre as indústrias de be ns de
capital. E se us e fe itos, a longo prazo, se riam re duzir a produção
abaixo do níve l que , não fosse isso, te ria atingido.

Os inimigos da poupança não te rminam aí. Come çam a faze r


distinção, bastante ade quada, e ntre "poupança" e "inve stime nto".
Mas de pois come çam a falar como se os dois fosse m variáve is
inde pe nde nte s e como se um simple s acide nte igualasse um ou
outro. Esse s autore s pintam um quadro prodigioso. De um lado,
e stão os poupadore s, que continuam a poupar automática,
irrazoáve l e e stupidame nte ; de outro lado, e stão as
"oportunidade s de inve stime nto" limitadas, que não pode m
absorve r e sta poupança. O re sultado, infe lizme nte , é a
e stagnação. A única solução, de claram, e stá e m o gove rno
e xpropriar todas e ssas poupanças pre judiciais, e inve ntar proje tos
próprios, me smo que e ste s se jam ape nas fossos ou pirâmide s
inúte is, a fim de usar o dinhe iro e proporcionar e mpre gos.

Há ne sse quadro e ne ssa "solução" tanta coisa falsa, que


vamos aqui assinalar ape nas algumas das principais falácias.
Poupanças pode m ultrapassar inve stime ntos some nte pe las
importâncias que e stive re m re alme nte acumuladas emcaixa.3 Poucas
pe ssoas atualme nte , numa comunidade industrial mode rna,
acumulam moe das e notas, e m me ias ou sob colchõe s. Até o
pe que no grau e m que isso possa ocorre r, já se re fle te nos planos
come rciais de produção e no níve l dos pre ços. Não é , se que r,
ordinariame nte cumulativo: o de se nte sourame nto, quando os
e xcê ntricos e rmitõe s morre m e são de scobe rtos e gastos se us
te souros, e liminará, provave lme nte , novo e nte sourame nto. De
fato, toda importância e nvolvida é provave lme nte insignificante e m
se us e fe itos sobre as atividade s come rciais.

Se o dinhe iro é guardado e m bancos de inve stime nto ou


come rciais, e ste s, conforme já vimos, mostram-se ansiosos por
e mpre stá-lo e inve sti-lo. Não pode m pe rmitir-se a manute nção de
fundos inativos. A única coisa que , e m ge ral, faz as pe ssoas
aume ntare m se us de pósitos e m dinhe iro, ou que faz os bancos
mante re m fundos inativos com pe rda de juros, é , conforme
vimos, o re ce io de que os pre ços das me rcadorias caiam ou o
re ce io de que os bancos assumam riscos de masiado grande s com
o principal. lsso, poré m, significa que já apare ce ram sinais de
de pre ssão e que tais sinais causaram o e nte sourame nto, não que
o e nte sourame nto te nha iniciado a de pre ssão.

À parte o insignificante e nte sourame nto de dinhe iro (e me smo


e ssa e xce ção pode se r julgada, e m si, como "inve stime nto" dire to),
poupança e inve stime nto e quilibram-se , e ntão, um e m re lação ao
outro, da me sma mane ira que a ofe rta e a procura de qualque r
me rcadoria. Pode mos de finir poupança e inve stime nto, pois,
como constituindo, re spe ctivame nte , a ofe rta e a procura de
novos capitais. E do me smo modo que a ofe rta e a procura de
qualque r outra me rcadoria se igualam atravé s do pre ço, a ofe rta
e a procura de capitais igualam-se atravé s das taxas de juros.
Taxa de juros é , simple sme nte , o nome e spe cial para o pre ço do
capital e mpre stado. É um pre ço como qualque r outro.

Todo e sse assunto te m sido confundido de forma tão te rríve l,


nos últimos anos, por sofismas tão complicados e tão de sastrosa
política gove rname ntal ne le base ados, que há um quase
de se spe ro de que não volte a re inar o bom se nso e a sanidade
no tocante a tal assunto. Há um te mor psicopático pe las taxas de
juros "e xce ssivas". Argume nta-se que , se as taxas de juros fore m
muito altas, não se rá lucrativo para a indústria tomar dinhe iro
e mpre stado e inve sti-lo e m novas fábricas e máquinas. Esse
argume nto te m sido tão e ficaz que , e m toda parte , os gove rnos
tê m se guido, nas últimas dé cadas, uma política artificial de
"dinhe iro barato". Mas o argume nto, e m sua pre ocupação com o
aume nto da procura de capitais, e sque ce o e fe ito de ssa política
na ofe rta de sse s me smos capitais. Isto é mais um e xe mplo da
falácia de olhar os e fe itos de uma política some nte sobre um
grupo, e sque ce ndo se us e fe itos sobre outros grupos.

Se as taxas de juros se mantive re m de masiado baixas e m


re lação aos riscos, have rá uma re dução não só de poupança,
mas també m de e mpré stimo. Os que propõe m a política de
dinhe iro barato acre ditam que o e nte sourame nto continua
automaticame nte , inde pe nde nte me nte da taxa de juros, porque
os ricos saciados nada mais te rão o que faze r com se u dinhe iro.
Não se dignam dize r-nos pre cisame nte e m que níve l de re nda
pe ssoal um home m e conomiza uma importância mínima fixa,
inde pe nde nte me nte da taxa de juros ou dos riscos, para pode r
e mpre stá-la.

O fato é que , e mbora o volume de poupança do muito rico


se ja indubitave lme nte muito me nos afe tado e m proporção ao dos
mode radame nte abastados, pe la mudança nas taxas de juros, a
e conomia de todos fica, praticame nte , afe tada e m ce rto grau.
Argume ntar, na base de um e xe mplo e xtre mado, que o volume
da poupança re al não ficaria re duzido por uma substancial
re dução na taxa de juros, é o me smo que argume ntar que a
produção total do açúcar não ficaria re duzida, com uma que da
substancial de se u pre ço, porque os produtore s e ficie nte s e com
produção a baixo custo ainda e le variam o pre ço a se u valor
ante rior. Esse argume nto e sque ce o poupador marginal e , na
ve rdade , a grande maioria dos poupadore s.

O e fe ito da manute nção de taxas de juros artificialme nte


baixas, na re alidade , é , praticame nte , o me smo que o de mante r
qualque r outro pre ço abaixo do pre ço do me rcado natural. Isso
aume nta a procura e re duz a ofe rta. Aume nta a procura de
capitais e re duz a ofe rta de capitais re ais. Cria distorçõe s
e conômicas. É ve rdade , ine gave lme nte , que uma re dução artificial
nas taxas de juros e ncoraja o aume nto na tomada de
e mpré stimos. Te nde , de fato, a e ncorajar e mpre e ndime ntos
altame nte e spe culativos, que não pode riam continuar, e xce to sob
as condiçõe s artificiais que lhe s de ram orige m. No tocante à
ofe rta, a re dução artificial das taxas de juros de se ncoraja a
poupança normal, e o inve stime nto. Re duz a acumulação de
capital. Faz baixar o cre scime nto da produtividade , o cre scime nto
e conômico", que os "progre ssistas" pre te nde m promove r tão
calorosame nte .

Os juros do dinhe iro pode m, se m dúvida, se r mantidos


artificialme nte baixos, some nte atravé s de novas e contínuas
inje çõe s de moe da e de cré dito bancário, e m lugar de e conomia
re al. Isso pode criar a ilusão de maior quantidade de capitais, da
me sma mane ira que a adição de água ao le ite pode criar a ilusão
de maior quantidade de le ite . Mas é uma política de contínua
inflação. É, obviame nte , um proce sso que e nvolve um pe rigo
cumulativo. Os juros do dinhe iro subirão e uma crise se
de se nvolve rá se a inflação for re ve rtida ou, simple sme nte , de tida
ou, ainda, se continuar e m ritmo le nto.
Ainda pre cisa se r de monstrado que , e nquanto novas inje çõe s
de moe da corre nte ou cré dito bancário pode m, no início e
te mporariame nte , provocar a baixa das taxas de juros, a
pe rsistê ncia de sse artifício de ve , possive lme nte , elevar e stas taxas.
Os financiadore s, e ntão, pe rce be ram que o dinhe iro e mpre stado
hoje compra me nos daqui a um ano, isto é , quando o re ce be m
de volta. Portanto, à taxa de juros normais acre sce ntaram um
prê mio para compe nsá-los pe la pe rda pre vista do pode r aquisitivo
de se u dinhe iro. Este prê mio pode se r alto, de pe nde ndo da
e xte nsão da inflação pre vista. De sta forma, a taxa de juro anual
sobre os títulos do te souro britânico subiu 14% e m 1976; bônus
do gove rno italiano atingiram 16% e m 1977; e a taxa de de sconto
do Banco Ce ntral do Chile subiu a 75% e m 1974. Em re sumo, a
política de dinhe iro barato, conse que nte me nte , cria oscilaçõe s
muito mais viole ntas nos ne gócios que aque le s que se propõe a
re me diar ou e vitar.

Se ne nhum e sforço é fe ito para alte rar os juros do dinhe iro,


atravé s da política inflacionária do gove rno, o aume nto das
poupanças criará sua própria procura pe la re dução das taxas de
juros de mane ira natural. A maior ofe rta de poupanças e m busca
de inve stime ntos força os poupadore s a ace itar juros mais baixos.
Taxas de juros mais baixas, e ntre tanto, significam també m que
maior núme ro de e mpre sas e stá e m condiçõe s de tomar
e mpré stimos, porque se us lucros e m pe rspe ctiva, com as novas
máquinas ou imple me ntos, comprados, pare ce m provave lme nte
e xce de r o que tê m que pagar pe los fundos tomados de
e mpré stimo.

Che gamos agora à última falácia ace rca da poupança, da qual


pre te ndo tratar. Supõe -se , fre que nte me nte , que há um limite
fixo para o montante do novo capital que se pode absorve r, ou
me smo, que o limite de e xpansão do capital já foi alcançado. É
incríve l que tal te oria possa pre vale ce r me smo e ntre os
ignorante s e , ainda mais, que possa se r adotada por e conomistas
e xpe rie nte s. Quase toda a rique za do mundo mode rno, quase
tudo que o distingue do mundo pré -industrial do sé culo XVII,
consiste nos se us capitais acumulados.

Esse s capitais são, e m parte , formados de muitos e le me ntos


que pode riam se r chamados be ns duráve is de consumo:
automóve is, re frige radore s, mobília, e scolas, colé gios, igre jas,
bibliote cas, hospitais e , acima de tudo, casas particulare s.
Jamais, na história do mundo, houve suficie nte núme ro de casas
particulare s. Me smo que houve sse núme ro suficie nte de casas, do
ponto de vista purame nte numé rico, são possíve is e de se jáve is
me lhorame ntos qualitativos, se m limite de finido, e m quase todas
as me lhore s casas.

A se gunda parte do capital é o que pode re mos chamar de


capital propriame nte dito. Compre e nde as fe rrame ntas da
produção, incluindo tudo, de sde o mais grosse iro machado, faca
ou arado, até a mais re quintada fe rrame nta ou máquina,
grande s ge radore s de e le tricidade ou cíclotrons, ou a fábrica mais
maravilhosame nte e quipada. Aí també m, quantitativame nte e ,
e spe cialme nte , qualitativame nte , não há limite para a e xpansão
que é possíve l e de se jáve l. Não have rá um "e xce sso" de capital,
até que o país mais atrasado e ste ja tão be m e quipado
te cnologicame nte , quanto o mais adiantado, até que a fábrica
mais ine ficie nte do país se coloque à altura da fábrica com
e quipame nto mais mode rno e aprimorado, e até que os mais
mode rnos instrume ntos de produção te nham atingido o ponto,
e m que o e nge nho humano che gue a um impasse e não mais
possa ape rfe içoá-los. Enquanto qualque r de ssas condiçõe s não
e stive r pre e nchida, have rá e spaço infinito para maior quantidade
de capital.

Como, poré m, pode rá se r "absorvido" o capital adicional?


Como pode rá se r "pago"? Se for posto de lado e poupado, se rá
absorvido e pago por si me smo, pois os produtore s inve ste m
dinhe iro e m novos be ns de capital — isto é , adquire m novas,
me lhore s e mais e nge nhosas fe rrame ntas — porque as
fe rrame ntas reduzemo custo da produção. Criam be ns que uma
mão-de -obra, comple tame nte se m se u auxílio, não pode ria criar
(e isto, agora, inclui a maioria dos be ns que nos ce rcam — livros,
máquinas de e scre ve r, automóve is, locomotivas, ponte s
suspe nsas).

Aume ntam, e norme me nte , as quantidade s e m que tais be ns


pode m se r produzidos ou (e isto é e nunciar a que stão de mane ira
dife re nte ) re duze m o custo unitário da produção. Como não há
limite ce rto para o grau e m que se pode re duzir o custo unitário
da produção — até que tudo possa se r produzido se m custo
algum — não há limite ce rto para a importância do novo capital
que se pode absorve r.

A constante re dução do custo unitário da produção, pe la


adição de novo capital, faz qualque r uma de stas duas coisas ou
ambas. Re duz o custo dos be ns para os consumidore s e aume nta
os salários da mão-de -obra, que usa as máquinas, porque
aume nta a força produtiva de ssa mão-de -obra. Assim, uma nova
máquina be ne ficia tanto as pe ssoas que ne la trabalham
dire tame nte , como a grande classe dos consumidore s. No caso
de ste s últimos, pode mos dize r que e la lhe s forne ce mais e
me lhore s me rcadorias com o me smo dinhe iro ou, o que é a
me sma coisa, aume nta sua re nda re al. No caso dos
trabalhadore s, que e mpre gam a nova máquina, e sta aume nta
se us salários re ais e , alé m disso, aume nta se u salário nominal.
Exe mplo típico é a indústria de automóve is. A indústria
automobilística nos Estados Unidos, paga os salários mais
e le vados do mundo e me smo dos mais altos dos Estados Unidos.
Contudo, os fabricante s ame ricanos de automóve is pode m ve nde r
por pre ços infe riore s aos dos de mais fabricante s do mundo,
porque se u custo unitário é mais baixo. E o se gre do e stá e m que
o capital e mpre gado na fabricação de automóve is ame ricanos é
maior, por trabalhador e por automóve l que e m qualque r outro
lugar.

Há pe ssoas, no e ntanto, que pe nsam que alcançamos, nos


EUA o fim do proce sso 4, e outras, ainda, pe nsam que , me smo
que não o te nhamos alcançado, o mundo é tolo pe lo fato de
continuar poupando e aume ntando se u volume de capitais.

Não se ria difícil dize r, de pois de nossa análise , de que m é , na


ve rdade , a tolice .

(É ve rdade que os EUA vê m pe rde ndo lide rança e conômica no


mundo, por causa de nossa própria política gove rname ntal
anticapitalista, não por causa da "maturidade e conômica".)

1 Rodbe rtus Karl. Overproduction and Crises (1850). p. 51.

2 Historicame nte , 20% re pre se ntaria, aproximadame nte , a


importância bruta da produção nacional de dicada, cada ano, à
formação de capitais (e xcluindo-se o e quipame nto de
consumidore s). Quando é fe ito o de sconto para o consumo de
capital, a e conomia anual liquidate m e stado próxima, e ntre tanto,
de 12% . Cf. Ge orge Te rborgh, The Bogey of Economic Maturity,
1945. Para 1977, o inve stime nto inte rno privado bruto foi
oficialme nte e stimado e m 16% do produto nacional bruto.

3 Muitas dife re nças e ntre e conomistas, nas dive rsas te orias ora
e xpre ssas sobre e sse assunto, re sultam, simple sme nte , de
dife re nças de de finição. Poupança e investimento pode m se r
de finidos de sorte a pare ce re m idê nticos, e , portanto,
forçosame nte , iguais. Estou procurando de finir, aqui, poupança
e m te rmos de dinhe iro, e inve stime nto, e m te rmos de be ns. Isso
corre sponde , aproximadame nte , ao e mpre go comum das
palavras que , ne m se mpre , no e ntanto, é corre nte .

4 Para uma re futação e statística de sta falácia, consulte Ge orge


Te rborgh, The Bogey of Economic Maturity (1945). Os
"e stagnacionistas" que foram re futados pe lo Dr. Te rborgh, foram
suce didos pe los galbraithianos com te oria se me lhante .
CAPÍTULO XXV
Re pe te -se a lição

A e conomia, conforme vimos re pe tidas ve ze s, é a ciê ncia que


re conhe ce conse quê ncias secundárias. É també m a ciê ncia que vê
as conse quê ncias gerais. É a ciê ncia que e xamina os e fe itos de
alguma política proposta ou e xiste nte , não ape nas e m re lação a
algum inte re sse e spe cial, a curto prazo, mas també m e m re lação
ao inte re sse geral, a longo prazo.

Essa a lição sobre a qual, e spe cialme nte , ve rsou e ste livro.
Enunciamo-la e m forma de e sque le to e , de pois, ne la colocamos
carne e pe le no de corre r de mais de uma de ze na de aplicaçõe s
práticas.

Mas, no curso de ilustraçõe s e spe cíficas, e ncontramos


suge stõe s de outras liçõe s ge rais, e se ria conve nie nte
e nunciarmos tais liçõe s mais clarame nte a nós me smos.

Ve ndo que a e conomia é a ciê ncia que e xamina


conse quê ncias, nos tornamos cônscios de que , à fe ição da lógica
e da mate mática, é a ciê ncia que re conhe ce implicações ine vitáve is.

Pode mos ilustrar e sse ponto atravé s de uma e le me ntar


e quação algé brica. Suponhamos que , se x é igual a 5, x + y = 12.
A "solução" de ssa e quação é que y é igual a 7. Não se faz e ssa
asse rção dire tame nte , mas, ine vitave lme nte , implica isso.

O que é ve rdade iro ne ssa e quação e le me ntar é ve rdade iro


nas mais complicadas e abstrusas e quaçõe s que se e ncontram na
mate mática. A resposta encontra-se na própria enunciação do problema.
De ve , é ve rdade , se r "calculada". O re sultado, na ve rdade , pode
às ve ze s che gar ao home m, que re solve a e quação como
formidáve l surpre sa. Pode se r ainda que e le te nha a se nsação de
e star de scobrindo alguma coisa inte irame nte nova, se nsação
se me lhante a de "algum obse rvador dos cé us quando um novo
plane ta lhe surge à vista". Sua se nsação de de scobe rta talve z se ja
justificada pe las conse quê ncias te óricas ou práticas da solução.
Contudo, sua solução já se continha na formulação do proble ma.
Ape nas não fora re conhe cida ime diatame nte , pois a mate mática
nos le mbra que implicaçõe s ine vitáve is não são, ne ce ssariame nte ,
implicaçõe s óbvias.

Tudo isso é igualme nte ve rdade iro no tocante à e conomia. A


e sse re spe ito, se pode ria també m comparar a e conomia à
e nge nharia. Quando um e nge nhe iro te m um proble ma, de ve e m
prime iro lugar de te rminar todos os fatos que com e le se
re lacionam. Se de se nha uma ponte , para ligar dois pontos, de ve
prime iro conhe ce r a distância e xata e ntre s e sse s dois pontos e
sua pre cisa nature za topográfica, a carga máxima que a ponte
e stará de stinada a suportar, a força de te nsão e compre ssão do
aço com que a ponte se rá construída e as vibraçõe s e te nsõe s a
que se rá subme tida. Boa parte de ssas pe squisas factuais já
foram fe itas por outros. Se us pre de ce ssore s també m já
re solve ram e quaçõe s mate máticas complicadas pe las quais,
conhe ce ndo a re sistê ncia dos mate riais e a te nsão a que e ste s
e stão suje itos, pude ram de te rminar diâme tro, forma, núme ro e
e strutura das torre s, cabos e vigas da ponte .

Igualme nte o e conomista, a que m se propôs um proble ma


prático, de ve conhe ce r os fatos e sse nciais de sse proble ma e as
de duçõe s válidas a se re m tiradas de sse s fatos. O aspe cto
de dutivo da e conomia não é me nos importante que o factual.
Pode -se , sobre e le , dize r o que Santayana disse da lógica (e que
se pode ria, igualme nte , dize r da mate mática), que "Ela inve stiga a
radiação da ve rdade ", de sorte que "quando se sabe que um
te rmo de um siste ma lógico de scre ve um fato, todo o siste ma
ligado a e sse te rmo torna-se , por assim dize r, incande sce nte ". 1

Ora, poucas são as pe ssoas que re conhe ce m as ne ce ssárias


implicaçõe s das de claraçõe s sobre e conomia que constante me nte
e stão faze ndo. Quando dize m que o proce sso de salvação
e conômica é aume ntar o cré dito, é como se disse sse m que o
proce sso de salvação e conômica é aume ntar as dívidas: são
palavras dife re nte s para a me sma coisa, vista de lados opostos.
Quando dize m que o me io para che gar à prospe ridade e stá e m
aume ntar os pre ços dos produtos agrícolas, é como se disse sse m
que o me io para che gar à prospe ridade e stá e m tornar o
alime nto mais caro para o trabalhador da cidade . Quando dize m
que o me io para criar a rique za nacional é o gove rno distribuir
subsídios, é o me smo que dize re m que o me io de criar a rique za
nacional é aume ntar os impostos. Quando tê m como principal
obje tivo aume ntar a e xportação, muitos não compre e nde m que ,
afinal, forçosame nte tornam se u obje tivo principal aume ntar as
importaçõe s. Quando dize m, sob quase todas as condiçõe s, que a
solução para a re cupe ração é aume ntar os salários, e stão
ape nas e ncontrando outro me io para dize re m que a solução para
a re cupe ração e stá e m aume ntar o custo da produção.

Não se se gue forçosame nte — porque cada uma de ssas


proposiçõe s, como uma moe da, te m se u re ve rso, ou porque a
proposição e quivale nte , ou outro nome para o re mé dio, soa com
muito me nore s atrativos — que a prime ira proposta se ja
irracional sob qualque r condição. Pode have r ocasiõe s e m que um
aume nto de dívidas se ja uma insignificante conside ração,
comparada com os ganhos conse guidos atravé s de fundos
tomados por e mpré stimo: quando um subsídio gove rname ntal é
ine vitáve l para atingir ce rto fim, quando de te rminada indústria
pode pe rmitir-se um aume nto no custo da produção e tc. Mas
de ve mos asse gurar-nos de que , e m cada caso, ambas as face s da
moe da te nham sido conside radas e que todas as implicaçõe s de
uma proposta te nham sido e studadas. E isso rarame nte se faz.

2
A análise dos nossos e xe mplos e nsinou-nos, incide ntalme nte ,
outra lição: quando e studamos os e fe itos de várias propostas,
não ape nas sobre de te rminados grupos, e a curto prazo, mas
sobre todos os grupos, e a longo prazo, as conclusõe s, a que
ge ralme nte che gamos, corre sponde m às do se nso comum. Não
ocorre ria a pe ssoa alguma, não familiarizada com o pre vale ce nte
se mi-analfabe tismo e conômico, fosse bom te r vitrinas que bradas
e cidade s de struídas, que não passa de de spe rdício criar proje tos
públicos inúte is, que é pe rigoso de ixar hordas de home ns ociosos
re tornare m ao trabalho, que as máquinas, que aume ntam a
produção da rique za e e conomizam o e sforço humano, de ve m
se r te midas, que as obstruçõe s à livre produção e ao livre
consumo aume nte m a rique za, que a nação se torna mais rica,
forçando outros paíse s a comprare m suas me rcadorias a pre ços
abaixo do custo da produção; que a poupança é tola ou
pre judicial e que a dissipação traz prospe ridade .

"O que é prudê ncia na conduta de toda família particular" —


disse o de cidido bom se nso de Adam Smith e m re sposta aos
sofistas de se u te mpo — "dificilme nte pode se r loucura na de um
grande re ino." Home ns me nore s, e ntre tanto, pe rde m-se e m
complicaçõe s. Não re e xaminam se us raciocínios me smo quando
e me rge m com conclusõe s que se e vide nciam absurdas.
De pe nde ndo de suas próprias cre nças, o le itor pode ou não
ace itar o aforismo de Bacon, se gundo o qual "uma pe que na
filosofia inclina o e spírito do home m para o ate ísmo, ao passo
que a profundidade na filosofia conduz se u e spírito para a
re ligião". É ve rdade , no e ntanto, que uma pe que na noção de
e conomia pode , facilme nte , conduzir às conclusõe s paradoxais e
ridículas que acabamos de e xpor, ao passo que a profundidade
ne ssa noção fará com que o home m re torne ao bom se nso. A
profundidade , na e conomia, e stá e m procurar todas as
conse quê ncias de uma política, e m ve z de , ape nas dirigir o olhar
para as que são ime diatame nte visíve is.
3

No de curso de nosso e studo re de scobrimos també m um ve lho


amigo. É o HomemEsquecido de William Graham Summe r. O le itor
se le mbrará o que no e nsaio de Summe r, que apare ce u e m
1883, le mos:

Assim que A obse rva alguma coisa que lhe pare ce e rrada,
da qual X e stá sofre ndo, conve rsa a re spe ito com B e , e ntão,
A e B propõe m a promulgação de uma le i que re me de ie o
mal e auxilie X. Tal le i obje tiva, se mpre , de te rminar o que C
de va faze r para X ou, na me lhor das hipóte se s, o que A, B e
C, de vam faze r para X. (...) O que e u que ro faze r é olhar C.
(...) Chamo-o o Home m Esque cido. (...) É o Home m e m que m
nunca pe nsamos. (...) É a vítima do re formador, do
e spe culador social e do filantropo, e e spe ro mostrar-vos,
ante s de te rminar, que e le me re ce vossa ate nção, dado se u
caráte r e os muitos e ncargos que sobre e le pe sam.

É uma histórica ironia que , quando e sta frase , o Home m


Esque cido, re vive u na dé cada dos trinta, foi aplicada não a C,
poré m a X; e C, a que m se pe dia que suste ntasse mais outros X,
ficou ainda mais comple tame nte e sque cido que nunca. É e ste C,
o Home m Esque cido, que é se mpre chamado para e stancar o
sangue do coração fe rido dos políticos, pagando por sua pie dosa
ge ne rosidade .

O e studo de nossa lição não e staria comple to se , ante s de


nos de spe dirmos, e sque cê sse mos de obse rvar que a falácia
fundame ntal, de que vie mos tratando, não surge acide ntalme nte
e sim siste maticame nte . É, na re alidade , um re sultado quase
ine vitáve l da divisão do trabalho.

Numa comunidade primitiva, ou e ntre pione iros, ante s de te r


surgido a divisão do trabalho, o home m trabalhava some nte para
si ou para sua família. O que consumia ide ntificava-se com o que
produzia. Havia, se mpre , re lação dire ta e ime diata e ntre sua
produção e satisfação de suas ne ce ssidade s.

Quando, poré m, se e stabe le ce uma divisão de trabalho


aprimorada e minuciosa, ce ssa de e xistir e ssa re lação dire ta e
ime diata. De ixo de produzir todas as coisas que consumo, me nos
uma parte de las. Com a re nda que obte nho ao faze r uma única
coisa, ou pe la pre stação de um único se rviço, adquiro todo o
re sto. De se jo que o pre ço de tudo que compro se ja baixo, mas é
de me u inte re sse que o pre ço da me rcadoria, ou dos se rviços
que te nho para ve nde r, se ja alto. Portanto, e mbora e u de se je ve r
abundância e m tudo o mais, é de me u inte re sse que e xista
e scasse z da me rcadoria que a mim cabe ofe re ce r. Quanto maior
a e scasse z, comparada com tudo o mais, da me rcadoria que
ofe re ço, tanto mais alta se rá a re compe nsa que pode re i obte r
pe los me us e sforços.

Isso não significa, ne ce ssariame nte , que re strinja me us


e sforços ou minha produção. De fato, se sou ape nas um, e ntre
apre ciáve l núme ro de pe ssoas que ofe re ce m a me rcadoria, ou
que pre stam de te rminado se rviço, e se e xiste livre concorrê ncia
e m me u ramo, a re strição individual não me compe nsará. Pe lo
contrário, se sou cultivador de trigo, digamos, de se jo que minha
colhe ita particular se ja tão grande quanto possíve l. Mas se e stou
pre ocupado some nte com me u próprio be m-e star mate rial e não
te nho e scrúpulos humanitários, de se jo que a produção de todos
os outros cultivadore s de trigo se ja a menor possíve l, pois de se jo a
e scasse z do trigo (e de qualque r outro produto alime ntício que o
substitua), de modo que , com minha colhe ita particular, possa
impor o pre ço mais alto possíve l.

Comume nte , tais se ntime ntos e goístas não te riam e fe ito


sobre a produção total do trigo. Se mpre e xiste , na re alidade , a
concorrê ncia, e cada produtor é obrigado a de spe nde r o máximo
e sforço para aume ntar, tanto quanto possíve l, a produção de
suas te rras. Assim, as forças do e goísmo (que , be m ou mal, são
mais pe rsiste nte me nte pode rosas que as do altruísmo) são
utilizadas no se ntido da produção máxima.

Mas se é possíve l aos cultivadore s de trigo ou a qualque r


outro grupo de produtore s se associare m, para e liminar a
concorrê ncia, e se o gove rno pe rmitir ou e ncorajar tal me dida, a
situação se modificará. Os cultivadore s de trigo talve z pe rsuadam
o gove rno nacional — ou, me lhor, uma organização mundial — a
forçá-los a re duzir pro rata a áre a de plantação de trigo. De ssa
mane ira, provocarão a e scasse z e aume ntarão o pre ço do trigo,
e se o aume nto do pre ço por bushel for proporcionalme nte maior
que a re dução da produção, como pode rá muito be m ocorre r,
e ntão os cultivadore s de trigo, como um todo, ficarão e m me lhor
situação. Conse guirão maior quantidade de dinhe iro e pode rão
comprar maior quantidade de be ns e de tudo o mais. É ve rdade
que todos os outros ficarão e m situação pior, pois, conside rando-
se iguais os outros e le me ntos, todos os de mais te rão que dar
mais do que produze m e obte rão me nos do que os cultivadore s
de trigo produze m. De modo que o país, como um todo, e stará
sob e sse aspe cto mais pobre . Estará mais pobre pe la quantidade
de trigo que não produziu. Mas os que conside ram ape nas os
cultivadore s de trigo ve rão o ganho e não pe rce be rão a pe rda.

Aplica-se isso a todas as de mais atividade s. Se , por causa de


condiçõe s incomuns do te mpo, há súbito aume nto na colhe ita de
laranjas, todos os consumidore s se rão be ne ficiados. O mundo
e stará mais rico, e m virtude de ssa maior quantidade de laranjas.
Estas se rão mais baratas. Mas e sse fato, justame nte , pode rá
tornar mais pobre s, do que ante s, os cultivadore s de laranjas,
como um grupo, a me nos que a maior ofe rta de laranjas
compe nse o pre ço baixo. Ce rtame nte , se sob tais condiçõe s
minha colhe ita particular de laranjas não é tão grande como de
costume , e stare i, e ntão, ce rto de pe rde r com o pre ço baixo
causado pe la abundância ge ral.

O que se aplica às mudanças na ofe rta aplica-se , també m, às


mudanças na procura, que r causadas por novas inve nçõe s e
de scobe rtas, que r por mudanças nas pre fe rê ncias. Uma nova
máquina de colhe r algodão, conquanto possa re duzir o custo de
roupas e camisas de algodão, para todo mundo, e aume ntar a
rique za ge ral, de ixará se m trabalho milhare s de apanhadore s de
algodão. Uma nova máquina tê xtil, te ce ndo me lhor uma faze nda
e m ritmo mais rápido, tornará obsole tas milhare s de máquinas
antigas e e liminará parte do valor do capital ne las inve stido,
tornando, assim, mais pobre s os proprie tários de ssas máquinas.
O de se nvolvime nto da e ne rgia atômica, conquanto possa conce de r
bê nçãos se m conta à humanidade , é te mido pe los proprie tários
de minas de carvão e de poços de pe tróle o.

Do me smo modo que não há ape rfe içoame nto té cnico que
não pre judique algué m, não há mudança nas pre fe rê ncias do
público ou na moral, me smo para me lhor, que não ve nha
pre judicar outra pe ssoa. Um de clínio no jogo de azar forçará
crupiê s e e mpre gados de hipódromos a procurare m ocupaçõe s
mais produtivas. Um aume nto da castidade do home m arruinaria
a mais antiga profissão do mundo.

Não só aque le s que , de libe radame nte , se rve m de


instrume nto aos vícios humanos, e ntre tanto, ficariam
pre judicados com uma súbita me lhoria da moral pública. Entre os
mais pre judicados e stariam, pre cisame nte , aque le s cuja função é
me lhorar a moral. Os sace rdote s te riam me nos motivo para
que ixas, os re formadore s pe rde riam o obje to de suas causas, a
procura dos se rviços de le s e as contribuiçõe s para mantê -los
de clinariam. Se não houve sse criminosos, pre cisaríamos de
poucos advogados, juíze s e bombe iros, e de ne nhum carce re iro,
ne nhum se rralhe iro e (salvo para se rviços tais como e liminar
complicaçõe s do trânsito) ne m me smo policiais.

Sob um siste ma de divisão do trabalho, e m suma, é difícil


imaginar maior ate ndime nto de qualque r ne ce ssidade humana
que , pe lo me nos te mporariame nte , não pre judique algumas das
pe ssoas que te nham fe ito inve stime ntos ou, pe nosame nte ,
adquirido habilitação para satisfaze r a e ssa me sma ne ce ssidade .
Se o progre sso fosse absolutame nte igual e m tudo que nos ce rca,
e sse antagonismo e ntre os inte re sse s de toda uma comunidade e
o de grupos e spe cializados não apre se ntaria, se de fato fosse
notado, qualque r proble ma sé rio. Se no me smo ano e m que a
colhe ita mundial de trigo aume ntasse , minha produção
aume ntasse na me sma proporção; se a colhe ita de laranjas e de
todos os de mais produtos agrícolas també m aume ntasse na
me sma proporção; e se a produção de todos os be ns industriais
aume ntasse també m, e o custo unitário da produção caísse
proporcionalme nte , e u, e ntão, como cultivador de trigo, nada
sofre ria pe lo fato de have r aume ntado a produção de sse ce re al.
O pre ço que e u obte ria por um bushel de me u trigo pode ria
diminuir. O valor total que e u obte ria com minha produção
aume ntada pode ria diminuir. Mas se e u també m pude sse , por
causa do aume nto de ofe rtas, comprar por pre ço mais baixo a
produção de todos os de mais, não te ria, e ntão, motivo para
que ixar-me . Se o pre ço de tudo o mais caísse e xatame nte na
me sma proporção da que da do pre ço de me u trigo, e u e staria
e m me lhor situação e e xatame nte na proporção do aume nto de
minha colhe ita total. Todos os de mais se be ne ficiariam, també m,
proporcionalme nte ao aume nto das ofe rtas de todos os be ns e
se rviços.

Mas o progre sso e conômico nunca se re alizou e ,


provave lme nte , jamais se re alizará de ssa mane ira absolutame nte
uniforme . Ocorre , ora num ramo de produção, ora noutro. E, se
há súbito aume nto na ofe rta do produto que cultivo ou se alguma
nova inve nção ou de scobe rta faz com que não se ja mais
ne ce ssário o que produzo, e ntão o ganho para o mundo se rá
uma tragé dia para mim e para o grupo produtor de que faço
parte .

Ora, não é se mpre o ganho ge ne ralizado com o aume nto da


ofe rta, ou com nova de scobe rta que , forçosame nte , impre ssiona
me smo o obse rvador mais de sinte re ssado, mas a pe rda
conce ntrada. Have r mais café , e cada ve z mais barato para todo
mundo, é fato que e scapa à ate nção; o que se vê é que alguns
plantadore s de café não pode m subsistir com o pre ço baixo. O
aume nto da produção de sapatos, a baixo custo, re sultante do
e mpre go de nova máquina, é e sque cido; o que se vê é que um
grupo de home ns e mulhe re s pe rde se us e mpre gos. É
pe rfe itame nte natural — e , na re alidade , e sse ncial para a ple na
compre e nsão do proble ma — que se re conhe ça a difícil situação
de sse s grupos, que se jam e le s tratados com simpatia e que
procure mos ve rificar se alguns dos ganhos do progre sso
e spe cializado pode m se r usados e m auxílio às vítimas no se ntido
de e ncontrare m, e m outro lugar, uma função produtiva.

A solução, poré m, não e stará e m re duzir arbitrariame nte as


ofe rtas, e m impe dir novas inve nçõe s ou de scobe rtas, ou e m
suste ntar as pe ssoas para que continue m e xe cutando um se rviço
que não te m mais valor. Tais me didas, todavia, são as que o
mundo te m, constante me nte , procurado adotar atravé s de tarifas
prote cionistas, de struição de máquinas, que ima de café e
milhare s de outros e sque mas de re strição. É a doutrina insana
da rique za me diante a e scasse z.

É uma doutrina que , particularme nte , pode rá se r se mpre


ve rdade ira, o que é lastimáve l, para qualque r grupo e spe cial de
produtore s conside rados isoladame nte , se se us compone nte s
pude re m tornar e scasso o único produto que te nham para
ve nde r, ao me smo te mpo que se mantê m e m abundância todos
os artigos que te nham de comprar. Trata-se , e ntre tanto, de
doutrina inte irame nte falsa. Não se pode aplicar a tudo que nos
ce rca, pois sua aplicação significaria suicídio e conômico.

É e sta nossa lição e m sua forma mais ge ne ralizada, pois vê -se


que muitas coisas que pare ce m ve rdade iras, quando nos
conce ntramos num único grupo, são ilusõe s, quando se
conside ram os inte re sse s de todos, tanto dos consumidore s como
dos produtore s.

Ve r o proble ma como um todo e não e m fragme ntos: e ste , o


obje to da ciê ncia e conômica.

1 Ge orge Santayana, The Realmof Truth (1938), p. 16.


TERCEIRA PARTE
A lição trinta anos de pois
CAPÍTULO XXVI
A lição trinta anos de pois

A prime ira e dição de ste livro apare ce u e m 1946. Agora,


quando e scre vo e sta, são de corridos trinta e dois anos. Quanto
da lição e xposta nas páginas ante riore s foi apre ndido ne ste
pe ríodo?

Se e stive rmos nos re fe rindo aos e stadistas — a todos aque le s


re sponsáve is pe la formulação e imposição das políticas
gove rname ntais — praticame nte nada foi apre ndido da lição. Pe lo
contrário, as políticas analisadas nos capítulos pre ce de nte s
e ncontram-se muito mais profundame nte e stabe le cidas e
difundidas, não ape nas nos Estados Unidos, mas, també m, e m
praticame nte todos os paíse s do mundo, do que se e ncontravam,
quando e ste livro foi publicado pe la prime ira ve z.

Pode mos tomar, como e xe mplo pre ponde rante , a inflação.


Esta não é ape nas uma política imposta por si me sma, mas um
re sultado ine vitáve l da maioria das outras políticas
inte rve ncionistas. Pe rmane ce , hoje , como o símbolo unive rsal da
inte rve nção gove rname ntal e m toda parte .

A e dição de 1946 e xplica as conse quê ncias da inflação, mas a


inflação, e ntão, e ra comparativame nte mode rada. A ve rdade é
que , e m 1926, e mbora as de spe sas do gove rno fe de ral te nham
sido infe riore s a US$3 bilhõe s e te nha havido um e xce de nte , no
ano fiscal de 1946, as de spe sas subiram a US$55 bilhõe s e havia
um dé ficit de US$16 bilhõe s. Contudo, no ano fiscal de 1947, com
o fim da gue rra, as de spe sas caíram para US$35 bilhõe s.
Entre tanto, no ano fiscal de 1978, as de spe sas e le varam-se para
US$451 bilhõe s e o dé ficit para US$49 bilhõe s.

Tudo isso foi se guido de um e norme aume nto no e stoque de


dinhe iro — de US$113 bilhõe s adicionais de de pósitos de
de manda de dinhe iro e m circulação fora dos bancos e m 1947,
para US$357 bilhõe s e m agosto de 1978. Em outras palavras, o
e stoque de dinhe iro ativo ultrapassava o triplo no pe ríodo.

O e fe ito de sse aume nto e m dinhe iro foi um aume nto


dramático nos pre ços. Em 1946, o índice de custo de vida para o
consumidor e ra de 58,5. Em se te mbro de 1978, foi de 199,3. Em
re sumo, os pre ços e xce de ram o triplo.

A política de inflação, conforme disse , é parcialme nte imposta


por si me sma. Passados mais de quare nta anos após a
publicação de General Theory por John Maynard Ke yne s, e mais
de vinte anos após e sse livro te r sido inte irame nte de sacre ditado
pe la análise e e xpe riê ncia, um grande núme ro de nossos políticos
e stá, ainda, ince ssante me nte re come ndando mais dé ficit, a fim
de me lhorar ou re duzir o de se mpre go e xiste nte . Uma e spantosa
ironia é que e le s e ste jam faze ndo e stas re come ndaçõe s, quando
o gove rno fe de ral já ve m rolando um dé ficit de quare nta e um
sobre os últimos quare nta e oito anos e quando e ste dé ficit
alcançava dime nsõe s de US$50 bilhõe s ao ano.

Uma ironia ainda maior é que , não satisfe itos e m se guir e stas
políticas de sastrosas no país, nossos re pre se ntante s tê m criticado
outros paíse s, principalme nte Ale manha e Japão, por não
se guire m e ssas políticas "e xpansionistas". Isto nos faz le mbrar,
nada me nos, da raposa de Esopo, que , quando pe rde u sua
cauda, pe rsuadiu todas as raposas suas companhe iras a,
també m, cortare m as suas.

Um dos piore s re sultados da re te nção dos mitos ke yne sianos


é que , não ape nas fome nta uma inflação cada ve z maior, como
també m, siste maticame nte , de svia a ate nção das causas re ais de
nosso de se mpre go, tais como índice s de aume nto salarial
e xce ssivos fixados pe los sindicatos, le is de salário mínimo, se guro
de se mpre go e xce ssivo prolongado e pagame ntos de se guro social
supe rge ne rosos.
Mas a inflação, e mbora e m parte fre que nte me nte discutida,
é hoje , principalme nte , a conse quê ncia de outras inte rve nçõe s
e conômicas gove rname ntais. Em re sumo, é a conse quê ncia do
Estado de Re distribuição — de todas as políticas de
de sapropriação do dinhe iro de Pe dro a fim de dá-lo,
ge ne rosame nte , a Paulo.

Este proce sso se ria mais fácil de re conhe ce r e se us e fe itos


pe rniciosos mais fáce is de se re m e xpostos, se fosse m todos
e fe tuados se gundo um único padrão — como a re nda anual
garantida, proposta agora e se riame nte conside rada pe los
comitê s do Congre sso no início da dé cada de 1970. Esta foi uma
proposta para taxar, ainda mais implacave lme nte , todas as
re ndas acima da mé dia e transfe rir o lucro para todos aque le s
que vive m abaixo de um de nominado níve l mínimo de pobre za, a
fim de lhe s asse gurar uma re nda, que r e ste jam inclinados a
trabalhar ou não "para dar-lhe s condiçõe s de vive r com
dignidade ". Se ria difícil imaginar um plano mais clarame nte
calculado para de se ncorajar trabalho e produção e ,
conse que nte me nte , e mpobre ce r todo o mundo.

Mas, e m ve z de de cre tar uma única me dida como e ssa, e


pre cipitar a ruína num único golpe , nosso gove rno te m pre fe rido
aprovar uma ce nte na de le is que re alizam tal re distribuição numa
base parcial e se le tiva. Estas me didas pode m não atingir
inte irame nte alguns grupos muito ne ce ssitados; mas, por outro
lado, pode m de scarre gar sobre outros grupos uma dúzia de
dife re nte s e spé cie s de be ne fícios, subsídios e outras vantage ns.
Estas inclue m, para dar uma lista ao acaso: se guro social, se rviço
de assistê ncia mé dica, ate ndime nto mé dico, se guro-de se mpre go,
subsídios para alime ntos, be ne fícios para ve te rano, subsídios
agrícolas, moradia subsidiada, subsídios para alugue l, me re nda
e scolar, e mpre go público por contrato de tare fa, auxílio a famílias
com filhos de pe nde nte s, e assistê ncia social dire ta de todas as
e spé cie s, inclusive auxílio aos idosos, ce gos e inválidos. O gove rno
fe de ral calculou que , ne stas últimas cate gorias, te m distribuído
be ne fícios de auxílio fe de ral para mais de quatro milhõe s de
pe ssoas, se m contar o que os e stados e cidade s vê m faze ndo.

Re ce nte me nte , um autor contou e e xaminou nada me nos que


quare nta e quatro programas de be ne ficê ncia. Em 1976, as
de spe sas do gove rno com e ste s programas atingiam 187 bilhõe s
de dólare s. O cre scime nto mé dio combinado de ste s programas,
e ntre 1971 e 1976, foi de 25% ao ano — 2,5 ve ze s a taxa de
cre scime nto do produto nacional bruto e stimado para o me smo
pe ríodo. De spe sas proje tadas para 1979 ultrapassam US$250
bilhõe s. O e xtraordinário cre scime nto de ssas de spe sas com o
be m-e star social te m coincidido com o de se nvolvime nto de uma
"indústria de be ne ficê ncia nacional", agora composta de cinco
milhõe s de trabalhadore s públicos e particulare s, distribuindo
pagame ntos e se rviços para 50 milhõe s de be ne ficiários. 1

Quase a me tade dos paíse s ocide ntais ve m aplicando uma


se le ção similar de programas de auxílio, e mbora, às ve ze s, e m
conjunto mais inte grado e me nos ale atório. E a fim de faze r isto,
e le s tê m lançado mão de impostos cada ve z mais draconianos.

Pre cisamos ape nas citar a Grã-Bre tanha como um e xe mplo.


Se u gove rno ve m taxando a re nda pe ssoal de trabalho (re nda
"ganha") até 83% , e re nda pe ssoal de inve stime nto (re nda "não
ganha") até 98% . Se ria surpre e nde nte que te nha de se ncorajado
trabalho e inve stime nto e , tão profundame nte , de se ncorajado
produção e e mpre go? Não há forma mais ce rta de re duzir
e mpre go do que mole star e pre judicar os patrõe s. Não há forma
mais ce rta de mante r salários baixos do que de struir todos os
ince ntivos para inve stime nto e m máquinas e e quipame ntos novos
e mais e ficie nte s. Mas, isto e stá se tornando, cada ve z mais, a
política de gove rnos e m toda parte .

Contudo, e ste imposto draconiano não te m trazido prove ntos


para acompanhar os gastos gove rname ntais, se mpre mais
de scuidados, e os e sque mas de re distribuição de rique za. O
re sultado te m sido tornar os dé ficits orçame ntários do gove rno
crônicos e cre sce nte s e , conse que nte me nte , uma inflação crônica
e e le vada, e m quase todos os paíse s do mundo.

Nos últimos trinta anos aproximadame nte , o Citybank of Ne w


York ve m mante ndo um re gistro de ssa inflação e m pe ríodos de
de z anos. Se us cálculos base iam-se nas e stimativas de custo de
vida publicadas pe los próprios gove rnos individualme nte . Na sua
carta de e conomia de outubro de 1977, publicou uma pe squisa
de inflação e m cinque nta paíse s. Esse s núme ros mostram que
e m 1976, por e xe mplo, o marco da Ale manha Ocide ntal, com a
me lhor cotação, pe rde u 35% de se u pode r aquisitivo e m re lação
aos de z anos ante riore s; que o franco suíço pe rde u 40% ; o dólar
ame ricano, 43% ; o franco francê s, 50% ; o ie ne japonê s, 57% ; a
coroa sue ca, 47% ; a lira italiana, 50% e a libra ingle sa, 61% .
Quando passamos à Amé rica Latina, o cruze iro brasile iro pe rde u
89% de se u valor, e os pe sos uruguaio, chile no e arge ntino, mais
de 99% .

Embora, quando comparado com a cotação de um ou dois


anos ante riore s, o índice total de de svalorização das moe das
corre nte s mundiais foi mais mode rado; e m 1977, o dólar
ame ricano foi de svalorizado numa taxa anual de 6% , o franco
francê s de 8,6% , o ie ne japonê s de 9,1% , a coroa sue ca de
9,3% , a libra ingle sa de 14,5% , a lira italiana de 17,5% . Quanto
à e xpe riê ncia da Amé rica Latina, a unidade mone tária brasile ira,
e m 1977, te ve uma taxa de de pre ciação anual de 30,8% , a
uruguaia de 35,5, a chile na de 33,9 e a arge ntina de 65,7% .

De ixo aqui para o le itor imaginar o caos que e stas taxas de


de svalorização do dinhe iro causaram nas e conomias de sse s
paíse s e o sofrime nto das vidas de milhõe s de se us habitante s.

Conforme já me ncione i, e ssas inflaçõe s, a causa, e m si


me smas, de tanta misé ria humana, foram, por sua ve z, e m
grande parte , a conse quê ncia de outras políticas de inte rve nção
e conômica gove rname ntal. Praticame nte , todas e ssas
inte rve nçõe s ilustram e dão ê nfase , de spre te nsiosame nte , à lição
básica de ste livro. Todas se de se nvolve ram na suposição de que
ofe re ciam algum be ne fício ime diato a algum grupo e spe cial.
Todos os que as aprovaram, e sque ce ram-se de le var e m conta as
conse quê ncias se cundárias, e sque ce ram-se de conside rar qual
se ria se u e fe ito, a longo prazo, e m todos os grupos.

Em re sumo, no que conce rne aos políticos, a lição que e ste


livro te ntou introduzir, há mais de trinta anos atrás, não pare ce
te r sido apre ndida e m parte alguma.

Se e xaminarmos os capítulos de ste livro, um após outro, não


de scobrire mos, praticame nte , forma alguma de inte rve nção
gove rname ntal de saprovada na prime ira e dição que não e ste ja
ainda se ndo adotada, normalme nte , com obstinação re forçada.
Em todas as parte s, os gove rnos e stão ainda te ntando re me diar,
com construçõe s públicas, o de se mpre go causado por suas
próprias políticas. Estão taxando impostos mais pe sados e mais
e xpropriadore s que nunca. Re come ndam, ainda, e xpansão de
cré dito. A maioria de le s ainda conside ra "e mpre go inte gral" sua
me ta de gove rno. Continuam a impor quotas de importação e
tarifas de prote ção. Te ntam aume ntar as e xportaçõe s
de svalorizando, ainda mais, sua moe da. Agricultore s e stão ainda
"faze ndo gre ve " por "pre ços de paridade ". Gove rnos ainda
forne ce m ince ntivos e spe ciais para indústrias se m re ntabilidade .
Ainda se e sforçam para "e stabilizar" pre ços de produtos
e spe ciais.

Gove rnos, forçando a alta de pre ços dos produtos,


inflacionando sua moe da, continuam a re sponsabilizar os
produtore s, come rciante s e "aprove itadore s" particulare s pe los
pre ços mais altos. Impõe m pre ços máximos para o óle o e gás
natural, a fim de de se stimular nova e xploração, e xatame nte
quando e la mais ne ce ssita se r ince ntivada, ou re corre m ao
tabe lame nto ou "controle " dos pre ços e salários e m ge ral.
Pe rsiste m no controle de alugue l ape sar da e vide nte de vastação
que e le causa*. Não ape nas mantê m as le is do salário mínimo,
mas continuam aume ntando se us níve is, e m vista do crônico
de se mpre go que tão e vide nte me nte provocam. Continuam
de cre tando le is que conce de m privilé gios e spe ciais e imunidade s
aos sindicatos de trabalhadore s; para obrigar os trabalhadore s a
tornare m-se associados, para tole rar os pique te s de gre vistas e
outras formas de coe rção; e para compe lir os patrõe s a
"ne gociare m cole tivame nte e m boa fé " com e sse s sindicatos, isto,
é , faze r pe lo me nos algumas conce ssõe s a suas e xigê ncias. A
inte nção de todas e stas me didas é "ajudar o trabalhador". Mas o
re sultado, uma ve z mais, é criar e prolongar o de se mpre go, e
baixar os pagame ntos de salário no total, comparados com o que
podiam te r sido.

Muitos políticos continuam a ignorar a ne ce ssidade de lucros,


para supe re stimar o montante líquido total ou mé dio, para
de nunciar lucros não comuns e m alguma parte , para tributá-los
e xce ssivame nte e , às ve ze s, me smo para lame ntar a ve rdade ira
e xistê ncia de lucros.

A me ntalidade anticapitalista pare ce mais profundame nte


impre gnada do que nunca. Se mpre que há qualque r de mora no
ne gócio, agora os políticos vê e m como causa principal o "gasto
insuficie nte do consumidor". Ao me smo te mpo que e ncorajam
maior gasto pe lo consumidor, aume ntam cada ve z mais as
dificuldade s e pe nalidade s, a fim de e conomizar e inve stir. Hoje , o
principal mé todo de faze r isto, conforme já vimos, é aplicar na
inflação, ou ace le rá-la. O re sultado é que , hoje , pe la prime ira ve z
na história, ne nhuma nação te m um padrão-me tal, e
praticame nte todas as naçõe s e stão iludindo se u próprio povo,
com e missõe s de pape l-moe da cronicame nte de pre ciado.
Para acre sce ntar mais um ite m aos me ncionados, vamos
e xaminar a re ce nte te ndê ncia, não ape nas nos Estados Unidos,
mas també m no e xte rior, de que quase todo programa “social”,
uma ve z lançado, pe rde comple tame nte se u controle . Já vimos,
por alto, o quadro ge ral, mas vamos agora e xaminar com mais
ate nção um e xe mplo importante : se guro social nos Estados
Unidos.

O Social Security Act fe de ral original foi aprovado e m 1935. Na


sua te oria a maior parte dos proble mas de assistê ncia social e ra
que as pe ssoas não e conomizavam nos anos de trabalho; de sta
forma, quando ficavam muito ve lhas para trabalhar,
e ncontravam-se se m re cursos. Pe nsou-se que e ste proble ma
pode ria se r re solvido, se fosse m obrigadas a asse gurar-se , com
os patrõe s també m forçados a contribuir com a me tade do
prê mio de se guro ne ce ssário, de forma que tive sse m uma pe nsão
suficie nte para apose ntar-se com 65 anos ou mais. O Se guro
Social de via se r inte gralme nte um plano de se guro autofinanciado
com base e m princípios e stritame nte atuariais. De via se r
le vantado um fundo de re se rva suficie nte para ate nde r às futuras
re ivindicaçõe s e pagame ntos, quando os prazos fosse m ve ncidos.

Nunca funcionou de sta forma. O fundo de re se rva e xistia


ape nas no pape l. O gove rno gastava as re ce itas dos impostos do
Se guro Social, quando e ntravam, que r para ate nde r a suas
de spe sas normais, que r para pagar be ne fícios. De sde 1975,
pagame ntos de be ne fícios vige nte s e xce diam as re ce itas dos
impostos do siste ma.

Ve rificou-se , també m, que , e m praticame nte todas as


se ssõe s, o Congre sso e ncontrava me ios de aume ntar os
be ne fícios pagos, ampliar a cobe rtura e acre sce ntar novas formas
de "se guro social". Como um come ntarista chamou a ate nção, e m
1965, algumas se manas após o se guro de Assistê ncia Mé dica te r
sido acre sce ntado: "Os e namorados do Se guro Social
aume ntaram e m cada um dos últimos se te anos de e le ição
ge ral."

À me dida que a inflação de se nvolvia e progre dia, os be ne fícios


do Se guro Social foram aume ntados não ape nas e m proporção,
mas muito mais. O jogo político típico e ra aume ntar os be ne fícios
no pre se nte e e mpurrar os custos para o futuro. Contudo, e sse
futuro se mpre che gava; e , e m cada um de sse s poucos anos
adiante , o Congre sso te ria novame nte de aume ntar as taxas das
folhas de pagame nto arre cadadas de ambos, trabalhadore s e
patrõe s.

Não ape nas os índice s dos tributos e ram continuame nte


aume ntados, mas també m havia uma constante e le vação no total
do salário taxado. No proje to de le i original de 1935, o salário
tributado e ra ape nas de trê s mil dólare s. As taxas de impostos
mais antigas e ram muito baixas. Mas e ntre 1965 e 1977, por
e xe mplo, o imposto de Se guro Social saltou de 4,4% nos
prime iros US$ 6.600 de re nda ganha (arre cadada igualme nte do
e mpre gado e patrão) para um combinado de 11,7% nos
prime iros US$ 16.500. (Entre 1960 e 1977, o imposto total anua!
aume ntou de 572% , ou ce rca de 12% por ano comple to. É
pre visto subir muito mais.)

No início de 1977, as obrigaçõe s se m fundo do siste ma de


Se guro Social e stavam oficialme nte e stimadas e m US$4,1 trilhões.

Hoje , ningué m pode dize r se o Se guro Social é re alme nte um


programa de se guro, ou ape nas um siste ma de assistê ncia social
complicado e assimé trico. Quase todos os que re ce be m be ne fícios
atuais e stão se ndo conve ncidos de que "ganharam" e "pagaram"
se us be ne fícios. Contudo, ne nhuma companhia de se guro
particular pode ria te r arcado com os pagame ntos das e scalas de
be ne fícios e xiste nte s fora dos "prê mios" re alme nte re ce bidos. No
início de 1978, quando os trabalhadore s de salários baixos se
apose ntavam, se us be ne fícios me nsais ge ralme nte re pre se ntavam
ce rca de 60% do que re ce biam no trabalho. Trabalhadore s de
re nda mé dia re ce biam ce rca de 45% . Àque le s com salários
e xce pcionalme nte altos, a porce ntage m pode cair até 5 ou 10% .
Entre tanto, se o Se guro Social é conside rado como um siste ma
de assistê ncia social, é muito e stranho, pois aque le s que já
conse guiram os salários mais altos re ce be m os pagame ntos de
be ne fícios mais altos.

Contudo, o Se guro Social é ainda hoje sacrossanto. É


conside rado suicídio político para qualque r congre ssista suge rir
re duzir ou cortar não ape nas os be ne fícios atuais, mas os
prome tidos para o futuro. O siste ma American Social Security de ve
pe rmane ce r hoje como um símbolo assustador da te ndê ncia
quase ine vitáve l de qualque r e sque ma nacional de assistê ncia
social, re distribuição, ou "se guro", uma ve z e stabe le cido, e scapar
comple tame nte de controle .

Em re sumo, o principal proble ma que e nfre ntamos hoje não


é e conômico, mas político. Bons e conomistas e stão inte irame nte
de acordo a re spe ito do que de ve se r fe ito. Praticame nte todas
as te ntativas gove rname ntais para re distribuir rique za e re nda
te nde m a re primir os ince ntivos de produção e a le var ao
e mpobre cime nto ge ral. Cabe à própria e sfe ra de gove rno criar e
faze r cumprir uma e strutura de le i que proíba força e fraude .
Mas de ve abste r-se de faze r inte rve nçõe s e conômicas e spe cíficas.
A principal função do gove rno é e stimular e pre se rvar o me rcado
livre . Quando Ale xandre , o Grande visitou o filósofo Dióge ne s e
pe rguntou-lhe se podia faze r alguma coisa por e le , diz-se que
Dióge ne s re sponde u: "Sim, fique um pouco me nos e ntre mim e o
sol." É o que todo cidadão te m o dire ito de pe dir ao se u gove rno.

A pe rspe ctiva é sombria, mas não é inte irame nte se m


e spe rança. Aqui e ali pode -se obse rvar uma abe rtura e ntre as
nuve ns.
Cada ve z mais as pe ssoas e stão compre e nde ndo que o
gove rno nada te m para dar-lhe s, se m prime iro tirar, o que lhe s
vai dar, de algué m, ou de las próprias. Vantage ns aume ntadas
para grupos se le cionados significam ape nas impostos
aume ntados, ou dé ficits aume ntados e inflação aume ntada. E
inflação, finalme nte , atrapalha e de sorganiza a produção. Me smo
alguns políticos e stão come çando a re conhe ce r isso, e alguns
de le s e stão me smo dize ndo isso clarame nte .

Alé m disso, há ace ntuados sinais de uma mudança nos ve ntos


inte le ctuais da doutrina. Ke yne sianos e Ne w De ale rs pare ce m
e star numa le nta re tirada. Conse rvadore s, partidários da
doutrina do livre arbítrio e outros de fe nsore s da iniciativa livre
e stão tornando-se mais francos e mais articulados. E há muito
mais de le s. Entre os jove ns, há um rápido cre scime nto de uma
e scola disciplinada de e conomistas "austríacos".

Há uma prome ssa re al de que a política pública pode se r


inve rtida, ante s que os danos prove nie nte s de me didas e
te ndê ncias e xiste nte s se torne m irre paráve is.

1 The Welfare Industry (Washington, D.C.: He ritage Foundation,

1978), de Hobbs, C.D.

* A tradução da frase foi alte rada. (Nota de re visão).


Apê ndice
Uma nota sobre livros

Aque le s que de se jam aprofundar-se e m e conomia de ve m le r


a se guir algum trabalho inte rme diário e m e xte nsão e dificuldade .
Atualme nte não há um único, e m um só volume , que ate nda a
e sse obje tivo, mas há vários que , re unidos, o faze m. Há um
e xce le nte livro curto (126 páginas) de Faustino Ballvé , Essentials of
Economics (Irvington-on-Hudson, N.Y.: Foundation for Economic
Education), que apre se nta re sumidame nte princípios e políticas.
Um livro que e xpõe de forma mais e xte nsa (327 páginas) é
Understanding the Dollar Crisis de Pe rcy L. Gre ave s (Be lmont, Mas.:
We ste rn Islands, 1973). Be ttina Bie n Gre ave s re uniu dois volume s
de le ituras sobre Free Market Economics (Foundation for Economic
Education).

O le itor, que alme ja uma pe rfe ita compre e nsão e se nte -se
pre parado para adquiri-la, de ve le r a se guir Human Action de
Ludwig von Mise s (Chicago: Conte mporary Books, 1949, 1966, de
907 páginas). Ne sse livro, a unidade e pre cisão lógicas de
e conomia ultrapassam a e xposição de todos os trabalhos
ante riore s. Tre ze anos de pois de Human Action, um aluno de
Mise s, Murray N. Rothbard, e scre ve u um trabalho e m dois
volume s: Man, Economy, and State (Mission, Kan.: She e d, Andre ws
and Mc Me e l, 1962, de 987 páginas). Esse trabalho conté m muito
mate rial original e pe ne trante , sua e xposição é admirave lme nte
lúcida, e sua organização torna-o, e m alguns aspe ctos, mais
apropriado para uso como livro de te xto do que o grande
trabalho de Mise s.

Livros curtos que tratam de assuntos e conômicos numa


forma simple s são Planning for Freedom de Ludwig von Mise s (South
Holland, III.: Libe rtarian Pre ss, 1952) e Capitalismand Freedom, de
Milton Frie dman (Chicago: Unive rsity of Chicago Pre ss, 1962). Há
um e xce le nte panfle to de Murray N. Rothbard, What Has
Government Done to Our Money? (Santa Ana, Calif.: Rampart
Colle ge , 1964, 1974, de 62 páginas). Sobre o assunto urge nte da
inflação, foi re ce nte me nte publicado um livro pe lo autor pre se nte ,
The Inflation Crisis, and Howdo Resolve it (New Roche lle , N. Y.:
Arlington House , 1978).

Entre os trabalhos novos que tratam de ide ologias e


de se nvolvime ntos atuais, do ponto de vista similar ao de ste
volume , e stão The Failure of the "NewEconomics": An Analysis of the
Keynesian Fallacies (Arlington House , 1959), do autor pre se nte ; F.

A. Haye k, The Road to Serfdom1 (1945) e o monume ntal Constitution

of Liberty2 (Chicago: Unive rsity of Chicago Pre ss, 1960). Socialism:


An Economic and Sociological Analysis (Londre s: Jonathan Cape ,
1936, 1969), de Ludwig von Mise s, é a crítica mas comple ta e
de vastadora da doutrina cole tivista já e scrita.

O le itor não de ve e sque ce r-se , naturalme nte , do Economic


Sophisms, (ca. 1844) de Fré dé ric Bastiat, e principalme nte se us
e nsaios sobre "What is Se e n and What Is Not Se e n."

Aque le s que e stive re m inte re ssados e m e xaminar os clássicos


e m e conomia pode m obte r me lhor re sultado se guindo o inve rso
de sua orde m histórica. Apre se ntados ne ssa orde m, com as
re spe ctivas datas das prime iras e diçõe s, e ncontram-se os
trabalhos principais a se re m consultados: Philip Wickste e d, The
Common Sense of Political Economy, 1911; John Bate s Clark, The
Distribution of Wealth, 1899; Euge n von Böhm-Bawe rk, The Positive
Theory of Capital, 1888; Karl Me nge r, Principles of Economics, 1871;
W. Stanle y Je vons, The Theory of Political Economy, 1871; John
Stuart Mill, Principles of Political Economy, 1948; David Ricardo,
Principles of Political Economy and Taxation, 1817; e Adam Smith, The
Wealth of Nations, 1776.

A e conomia de sdobra-se numa ce nte na de dire çõe s.


Bibliote cas inte iras foram e scritas some nte e m campos
e spe cializados, tais como dinhe iro e ope raçõe s bancárias,
comé rcio e xte rno e câmbio e xte rior, impostos e fundos públicos,
controle gove rname ntal, capitalismo e socialismo, re lação e ntre
salários e trabalho, juros e capital, e conomia agrícola, alugue l,
pre ços, lucros, me rcados, compe tição e monopólio, valor e
me rcadoria, e statística, ciclos de ne gócio, rique za e pobre za,
se guro social, moradia, se rviços de utilidade pública, e conomia
mate mática, e studos de indústrias e spe ciais e de histórico
e conômico. Mas jamais algué m conse guirá compre e nde r
corre tame nte quaisque r de ste s campos e spe cializados, se m que
ante s adquira um sólido conhe cime nto dos princípios e conômicos
básicos e o comple xo inte rre lacioname nto de todos os fatore s e
forças e conômicas. Quando tive r conse guido isso, pe la le itura
sobre e conomia e m ge ral, se rá capaz de e ncontrar os livros
ce rtos no se u campo e spe cífico de inte re sse .

1 O caminho da servidão (Instituto Libe ral/Expe d, Rio de Jane iro,

1985).

2 Os fundamentos da liberdade (Visão/ Editora da Unive rsidade de

Brasília, São Paulo/Brasília, 1983).

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