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1. Introdução ............................................................................................................................. 3
5. Conclusão .............................................................................................................................. 8
1. Introdução
Caldeiras são equipamentos geradores de vapor que operam utilizando água que deve ser
tratada a fim de evitar que o aço carbono, material mais comumente utilizado, sofra corrosão
rapidamente.
Não trataremos sobre condicionamento de água de caldeiras por ser um assunto bastante
complexo, porém bem conhecido e aplicado.
O foco dessa apresentação é o comportamento do aço carbono sem elemento de liga com
relação à água e vapor de água. Apresentaremos os mecanismos de corrosão e os princípios de
proteção mais decorrentes.
Veremos que a água e o vapor de água podem efetivamente corroer o aço carbono através de
mecanismos totalmente diferentes, mas que levam à formação de óxidos de ferro mais ou
menos bem conhecidos.
O aço carbono reage em particular com o oxigênio do ar gerando um ou mais óxidos de ferro:
Fe + O2 óxido(s) de ferro
Como indicado no parágrafo 3.1, o produto inicial de corrosão do ferro por oxigênio dissolvido
em água é o hidróxido ferroso Fe(OH)2 ou óxido ferroso hidratado FeO.nH2O [2]. O hidróxido
se transforma progressivamente em hidróxido férrico Fe(OH)3 ou ainda em óxidos férricos
hidratados Fe2O3.nH2O, que compõe a grande parte da ferrugem chamada comum [2].
Estes óxidos férricos são: 2 óxidos anidros e 2 óxidos hidratados:
Os dois óxidos anidros existem essencialmente sob duas formas: α-Fe2O3 e γ- Fe2O3.
Os dois óxidos hidratados Fe2O3.H2O ou FeO.OH existem igualmente sob duas formas
que se escreve então como α-FeO.OH e γ-FeO.OH.
Todos estes óxidos ou hidróxidos cristalizam dentro de um sistema dado e são, portanto,
identificáveis especialmente pela técnica de difração de raio-x.
A corrosão pela água, fria ou quente, é uma corrosão úmida que obedece a um processo
eletroquímico com reações anódicas e catódicas.
Esse pH pode ser encontrado em caldeiras: nas linhas de retorno da água condensada rica
em CO2, no caso de tratamento ácido ou na ausência total de um tratamento básico. De
fato, o pH diminui quando a temperatura aumenta. Assim, um pH 13 medido à 20°C
corresponde a um pH de 9,8 à 200°C [4].
Da mesma forma que um pH ácido, um pH básico pode ser muito agressivo para o aço
carbono [2], como mostra a curva do anexo 3, traçada a uma temperatura de 310°C.
Concentrações elevadas de soda pode de fato provocar ataque ao aço carbono com
formação de ferrato de sódio.
Nessa faixa de pH, a água somente pode corroer o aço carbono de forma significativa na
presença de oxigênio dissolvido.
A reação catódica é a reação de redução do oxigênio dissolvido:
O produto inicial de corrosão que resulta das reações (1) e (3), é o hidróxido ferroso
Fe(OH)2:
Este hidróxido ferroso se oxida em seguida a hidróxido férrico Fe(OH)3 ou, como visto
anteriormente (parag. 2.2), em óxido férrico hidratado (ferrugem) segundo as reações:
Na verdade, a corrosão do aço ocorre por oxidação sucessiva das diferentes camadas
formadas. As reações que ilustram este fenômeno estão demonstradas a seguir [2-5]:
Assim, o hidróxido ferroso Fe(OH)2 de grau de oxidação 2, compõe a primeira camada barreira
na interface metal-solução através da qual o oxigênio deve difundir.
Uma ferrita hidratada Fe3O4.nH2O, forma frequentemente uma camada escura intermediária
entre o hidróxido ferroso e os diferentes óxidos Fe2O3, de nível de oxidação 3.
Como indicado no parágrafo 2.2, estes óxidos Fe2O3 pode ser anidro e/ou hidratado.
- Os dois óxidos hidratados Fe2O3.H2O ou FeO.OH existente igualmente sob duas formas:
α-FeO.OH e γ-FeO.OH. Eles são relativamente estáveis, a desidratação destes dois óxidos
hidratados leve aos óxidos anidros correspondentes Fe2O3. Isso ocorre entre 240 e 300°C para
a forma α, e à partir de 240°C para a forma γ.
A dissolução do aço (reação anódica) pode ser evitada bloqueando a reação catódica, isto é,
“destruindo” o oxigênio dissolvido.
Esta destruição é obtida em particular com a ajuda de sulfito de sódio (Na2SO3) ou da hidrazina
(N2H4) [6-7].
Na2SO3 + ½ O2 Na2SO4
N2H4 + O2 N2 + 2 H2O
Quando uma caldeira deva ficar parada durante um certo tempo, não se pode:
Caldeira vazia – a conservação dita seca consiste em colocá-la sob azoto (nitrogênio)
ou sob ar seco, através do uso de um dessecador tal como o cloreto de cálcio, da cal
viva ou de gel de silicone, ou ainda aquecendo o ar com a ajuda de um radiador
elétrico.
Caldeira mantida cheia – a conservação dita úmida consiste em utilizar uma água
ligeiramente alcalina com adição de sulfito de sódio e fazer um preenchimento total
(atenção aos pontos altos).
Abaixo de 570°C, o único óxido em equilíbrio com o ferro é o óxido Fe3O4 chamado magnetita.
Esta reação é acompanhada de uma liberação de hidrogênio:
A camada de magnetita Fe3O4, cuja formação completa demanda cerca de 50 horas, possui
propriedades particulares.
Os óxidos de ferro FeO e Fe2O3 são óxidos do tipo lacunar, e assim extremamente permeáveis
para meios gasosos em geral. O vapor de água pode difundir através desse óxido e provocar,
de acordo com a temperatura, uma corrosão importante no aço carbono (vários cm em alguns
dias), frequentemente na forma de pites [2].
Por outro lado, a magnetita Fe3O4 apresenta a particularidade de ser aderente, homogênea e
contínua, forma-se muito rapidamente a partir de 250°C, de acordo com uma lei parabólica,
ela retarda o ataque posterior do aço carbono a ponto de torná-lo desprezível.
A camada de magnetita assim que formada é uma camada protetora contra o vapor de água.
Porém, precauções devem ser tomadas a fim de evitar qualquer alteração da mesma (parag
4.3.2).
A temperatura mais baixa (por volta 100°C), as experiências mostram que o produto inicial de
corrosão do aço carbono é o hidróxido de ferroso Fe(OH)2:
O exame das reações (4) e (6) que permitem a obtenção da magnetita, mostram que o ferro
deve estar no grau zero de oxidação. Isto implica em uma decapagem prévia do aço carbono
(decapagem ácida) a fim de:
Eliminar a calamina e depósitos de todo tipo que pode perturbar a formação do óxido
protetor.
Obter uma superfície isenta de produtos de corrosão e em particular de óxido férrico
Fe2O3 (grau de oxidação 3), que não podem ser reduzidos a Fe3O4, pelo menos em
temperaturas inferiores a 400°C. Esses óxidos férricos, que não são protetores como
indicado anteriormente (parag. 4.2) podem resultar, por exemplo, num
armazenamento prolongado ao ar (umidade) ou água (teste hidráulico,...).
A camada de magnetita é submetida desde sua formação a fortes tensões internas que podem
provocar aparições de fissuras devido a um resfriamento mais ou menos brutal.
As fases de parada e de partida das instalações a vapor quente são, então, importantes do
ponto de vista dos riscos de corrosão.
De uma maneira geral, todo dano da camada de magnetita, em operação ou durante as fases
transitórias, é potencialmente perigoso para o aço carbono. Esta deterioração pode ser de
origem:
Térmica, por exemplo por uma subida de temperatura superior à 570°C com formação
de óxido de ferro FeO (não protetor).
Mecânica, devido ao fluxo violento, de ciclos térmicos etc.
Química, devido a concentrações locais elevadas de produtos ácidos ou básicos (anexo
3) ou na presença de traços de oxigênio. No que se trata do oxigênio, l’APAVE
recomenda uma concentração de [O2] < 20ppb e Rhodia [O2]<10ppb.
É então teoricamente possível, a partir da reação (4), relacionar o teor de hidrogênio no vapor
e a perda de metal.
Esta técnica é interessante na medida em que qualquer desvio em relação ao valor médio de
hidrogênio significa presença de corrosão no aço carbono. Ela pode ser utilizada, por exemplo,
para estimar a importância de um eventual desgaste após uma parada prolongada da caldeira
ou para testar a eficácia de novos tratamentos. Ela não permite por outro lado, nem de
conhecer a localização onde há o fenômeno de corrosão, nem sua importância no caso de um
ataque localizado.
5. Conclusão
Um bom conhecimento dos mecanismos de corrosão dos aços por água e vapor de água é
essencial para assegurar um bom funcionamento das caldeiras.
A aplicação destas regras deve permitir diminuir o número ou, ao menos, a gravidade das
paradas, que sempre conduzem a indisponibilidade traduzindo em custos diretos ou indiretos
elevados.
Tal conhecimento também se aplica às novas instalações, que devem ser iniciadas nas
melhores condições possíveis. Uma experiência recente efetivamente mostrou que a falta de
uma decapagem química preliminar foi a origem de furos observados depois de três meses de
vapor a 170°C.
LISTA DE ANEXOS
Figura 2: Corrosão do ferro por água a 310°C para diferentes valores de pH medidos a 25°C
(Partridge e Hall, à partir dos resultados de Berl e Van Taack)
Anexo 4: Princípio da corrosão por aeração diferencial