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Historia Das Teorias Da Comunicacao Matt
Historia Das Teorias Da Comunicacao Matt
Armand Mattelart
Entre os membros da Escola de Chicago, uma figura se destaca, a de Robert Ezra Park.
Autor de uma tese de doutorado sobre ‘a massa e o público’, seguidor de Simmel que
interroga a cidade como ‘laboratório social’ com os seus signos de desorganização, de
marginalidade, de assimilação consagradas à questão da imigração na sociedade norte-
americana. É a partir dessas comunidades étnicas que Park se interroga sobre a função
assimiladora dos jornais e sobre a natureza da informação.
E assim Park concebe a idéia de ‘ecologia humana’ que é uma tentativa de entender as
comunidades humanas através de um esquema teórico vegetal e animal. Park realiza
uma divisão para entender as sociedades, num nível da sociedade caracterizado pelo
espaço de luta e de competição, ou o nível biótico da organização humana. E num
segundo nível há uma superestrutura que se impõe como instrumento de controle e de
direção, ou seja, o nível cultural. E neste nível que a comunicação e o consenso (ordem
moral) tem a função de regular a competição, permitindo aos indivíduos compartilhar
uma experiência de sociedade.
2.1.1_Diversidade e Homogeneidade
4.1.2_Apocalípticos e Integrados
4.2_O Estruturalismo
Os três cursos de lingüística que Ferdinand Saussure (1857-1913) ministra entre 1906 e
1911 na Universidade de Genebra são reconhecidos como fundadores dos métodos
dessa teoria. Para o lingüista suíço, a língua é uma instituição social, enquanto a palavra
é um ato individual. Enquanto instituição social, a língua é um sistema organizado de
signos que exprimem idéias; representa o aspecto codificado da linguagem. A lingüística
tem por tarefa estudar as regras desse sistema organizado por meio dos quais ele produz
sentido. A linguagem pode ser segmentada, logo, analisada; trata-se de descobrir as
oposições, as diferenças que permitem a uma língua funcionar.
Saussure sonhou com uma ciência geral de todas as linguagens, de todos os signos
sociais. ‘Podemos conceber’, escrevia em seu Curso de lingüística geral, ‘uma ciência
que estude a vida dos signos no interior da vida social... nós a chamaremos de
semiologia (do grego semeion, signo). Depois caberá a Roland Barthes (1915-1980)
aceitar o desafio. Em um artigo-manifesto que fixa as grandes linhas desse projeto,
intitulado ‘Elementos de semiologia’ publicado na revista Communications (1964), ele
dá esta definição: A semiologia tem por objeto todo sistema de signos, qualquer que seja
sua substância, quaisquer que sejam seus limites: as imagens, os gestos, os sons
melódicos, os objetos e os complexos dessas substâncias que encontramos em ritos,
protocolos ou espetáculos constituem, se não ‘linguagem’, ao menos sistemas de
significação.
Barhes ordena os elementos fundamentais desse projeto, válidos para a lingüística e
para as ciências que nela se inspiram, sob quatro rubricas: 1. Língua e palavra, 2.
Significante e significado, 3. Sistema e sintagma, 4. Denotação e conotação.
E para o estudo do discurso da mídia, dois desses binômios revelam-se particularmente
importantes: significante-significado e denotação e conotação. Cada signo apresenta um
duplo aspecto: um perceptível, audível (o significante), outro, contido no precedente,
trazido por ele (o significado). Entre estes dois elementos passa a relação de
significação.
Quanto à distinção entre denotação-conotação, é retomada em termos prático-mítico
pelo lingüista de origem lituana Algirdas-Julien Greimas (1917-1992), e se impõe
quando a análise estrutural se esforça por englobar e sistematizar todos os fatos que vão
além da linguagem primeira ou básica (Greimas, 1966). Toda forma de ideologia passa
por essa linguagem segunda da conotação, descolada em relação àquela, primeira, da
denotação.
E Roman Jakobson, de origem russa, foi o primeiro lingüista a utilizar o termo
‘estrutura’, no congresso dos filólogos eslavos, realizado em Praga em 1929. A língua é
um sistema que só reconhece sua própria ordem. O esquema de toda a comunicação
apresenta seis elementos constitutivos e responde a seis funções. O emissor determina a
função expressiva; o destinatário, a função conativa; a mensagem, a função poética (que
engloba as grandes figuras da retórica); o contexto determina a função referencial; o
contato, a função fática, que tende a verificar se a escuta do destinatário efetivamente se
estabeleceu; o código, a função metalingüística, que incide sobre a linguagem tomada
como objeto. O modelo de comunicação formulado por Jakobson articula-se sobre a
teoria matemática da informação.
Em 1957, Barthes em seu livro, Mitologias, enfatiza a importância do ‘desenvolvimento
da publicidade, da imprensa que tornam mais urgente do que nunca a constituição de
uma ciência semiológica.
Em 1960, é criado o Centro de Estudos de Comunicações de Massa (CECMAS) no
interior da Escola Prática de Altos Estudos. Fundado por iniciativa do sociólogo
Georges Friedmann, esse centro representa a primeira tentativa de constituir na França
um círculo e uma problemática de pesquisa em comunicação. Seu programa consiste na
análise das relações entre a sociedade global e as comunicações de massa, que se
integram funcionalmente a ela. Seu objetivo é remediar a atraso da pesquisa francesa em
uma área em grande parte dominada pela análise funcional americana e a carência de
uma perspectiva transdisciplinar.
Neste projeto unem-se Edgar Morin e Roland Barthes. Cada um deles representa
campos e orientações de pesquisas próprios. Barthes é o único a se situar no campo do
estruturalismo. Ele conduz um grupo de pesquisa sobre o estatuto simbólico dos
fenômenos culturais, enquanto Friedmann se dedica aos problemas da civilização
tecnicista, e Morin foi um dos primeiros a trabalhar com o conceito de indústria cultural
na França. As pesquisas no CECMAS definem-se como uma sociologia do presente. Em
torno desse centro gravitam personalidades tão diversas quanto Julia Kristeva, Abraham
Moles, Christian Metz, Eliseo Veron, A. J. Greimas.
Publicado em 1967, La société du spetacle, de Guy Debord (1931-1994), marca o ponto
extremo da crítica da sociedade de abudância. A obra basei-se nas idéias de que o
espetáculo não é um conjunto de imagens, mas uma relação social entre pessoas,
midiatizada por imagens. Além disso, considera que o espetáculo não pode ser
compreendido como abuso de um mundo da visão, produto das técnicas de difuão
massiva das imagens. Debord acredita também que a sociedade portadora do
espetáculo não domina as regiões subdesenvolvidas apenas por sua hegemonia
econômica. Ela as domina como sociedade do espetáculo.
Seguindo na linha de crítica a cultura ocidental na modernidade. Publicado em 1975,
Vigiar e Punir de Foucault renova radicalmente a análise dos modos de controle social:
a ‘disciplina-bloco’, feita de proibições, bloqueios, clausuras, de hierarquia e ruptura de
comunicação, e a ‘disciplina-mecanismo’, feita de mecanismos de vigilância múltiplas e
entrecruzadas, de procedimentos flexíveis, funcionais de controle mediante a
interiorização pelo indivíduo de sua exposição constante ao olho de controle.
As teses de Foucault permitem identificar os dispositivos da comunicação-poder em sua
forma organizacional propriamente dita.
4.3_Cultural Studies
A cultura do pobre
5_Economia Política
A nova visão do espaço mundial leva a uma renovação do estudo das relações
internacionais em matéria de cultura e comunicação. Suscita inúmeras pesquisas que
exemplificam a troca desigual dos diversos produtos culturais. A questão da
dependência cultural alimenta a reflexão de um pesquisador como Herbert Schiller. Sua
primeira obra, Mass Communications and American Empire, publicada em 1969,
inaugura uma longa série de pesquisas que, a partir da análise da imbricação entre o
complexo militar-industrial e a indústria da comunicação, resultam numa vasta denúncia
da crescente privatização do espaço público nos Estados Unidos. No mesmo ano,
Thomas Guback, professor da Universidade de Illinois, publica The International Film
Industry, que se tornou um clássico da análise das estratégias de penetração das grandes
firmas cinematográficas americanas nos mercados europeus desde 1945. Um conceito
que trouxe contribuição a pesquisa de economia política foi o de ‘imperialismo
cultural’, considerado como o conjunto de processos pelos quais a sociedade é
introduzida no sistema moderno mundial, e a maneira pela qual sua camada dirigente é
levada a moldar as instituições sociais para que correspondam aos valores e estruturas
do centro dominante do sistema.
A América Latina aparece na vanguarda nesse gênero de estudos é porque ali se
desencadeiam processos de transformação que abalam as velhas concepções e também
porque o desenvolvimento da mídia é atuante do que nas outras regiões do Terceiro
Mundo. E na América Latina em que se produzem uma crítica radical das teorias da
modernização aplicadas à difusão de informação.
Os anos de 1980 com a publicação da obra, Family Television. Cultural Power and
Domestic Leisure de David Morley. Neste livro, Morley explora as interações no
interior da telinha, no contexto natural de recepção da televisão que é o universo
doméstico. Morley dedica-se, especialmente, à questão das relações de poder entre os
sexos, evidenciado pelo uso da televisão e pela recepção dos programas.
Morley vai ao encontro de uma já estabelecida corrente de estudos feministas em que se
encontram autoras como a norte-americana Janice Radaway e seu trabalho sobre
literatura sentimental e mulheres, da britânica Laura Mulvey e do seu artigo Visual
Pleasure and Narrative Cinema que mostra que o cinema de Hollywood identifica o
prazer à perspectiva masculina e questiona o fato das espectadoras serem levadas a
partilhá-lo, de maneira masoquista.
A sociologia funcionalista também se abriu, nos anos de 1970, aos estudos etnográficos
sobre audiência e recepção mediante a corrente chamada Uses and Gratifications, que
se interessa pela satisfação dos usuários, a partir da questão: o que as pessoas fazem da
mídia? (Blumler e Kantz, 1975). A corrente dos usos e gratificações aprofundou nos
anos de 1980, sua própria noção de leitura negociada: o sentido e os efeitos nascem da
interação entre os textos e os papéis assumidos pelas audiências. E explica que a
influência da mídia é limitada (seletividade do receptor), não pode ser direta (existem
intermediários), não pode ser imediata (o processo de influência requer tempo)
(Kantz,1990).
A Figura da Rede
As ciências cognitivas formaram-se nos Estados Unidos nos anos de 1940, com o
movimento cibernético contemporâneo do advento da teoria da informação. Esta
corrente funda a hipótese segundo a qual a inteligência (incluindo a humana) de tal
modo se assemelha a um computador, que a cognição pode ser definida pela
computação de representações simbólicas. No centro da hipótese cognitivista está a
maneira de compreender o funcionamento do cérebro como dispositivo de tratamento de
informação, que reage de maneira seletiva ao meio, à informação proveniente do mundo
exterior. A Inteligência Artificial pensa a organização como um sistema aberto em
constante interação com esse meio.
Dois biólogos chilenos, Humberto Maturana e Francisco Varela, refutam essa concepção
de sistema aberto, desenvolvendo a idéia de autopoiesis e de sistema autopoiético (do
grego autos, si mesmo, e poiein, produzir). Um sistema autopoiético organiza-se como
uma rede de processos de produção cujos componentes: a) regeneram continuamente
por suas transformações e interações a rede que os produziu e b) constituem o sistema
como unidade concreta no espaço em que ele existe, especificando o domínio
topológico no qual se realiza como rede (Maturana e Varela, 1980). A organização
autopoiética implica a autonomia, a circulação, a auto-referência.