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O Amor e a Sua Santa Alegria

Texto Bíblico: 1Co 13.1-6; Lucas 7.36-50

Jeff Bezos é, atualmente, o homem mais rico do mundo. A Forbes


avalia a sua fortuna em 137 bilhões de dólares. Sua empresa, a Amazon,
em 2019 se tornou a empresa mais valiosa em Wall Street (811 bilhões de
dólares). Mas a grande notícia sobre a vida de Bezos este ano não tem a
ver diretamente com o sucesso de seus negócios. No último mês de
janeiro foi anunciado o seu divórcio. Sua agora ex-esposa, Mackenzie
Bezos (com quem ele havia se casado há 25 anos e tinha quatro filhos),
descobriu um caso de traição de Jeff com uma amiga do casal.
Na troca de mensagens entre Jeff e sua amante, o CEO da Amazon
afirma: “Eu estou completamente apaixonado por você, o meu coração cresce
para que eu tenha espaço para você. Lauren, eu te amo. Profundamente. Eu sei
que soa estranho, mas sei que até coisas pequenas como a sua sugestão de mais
exercícios faz o meu amor por você crescer”. Uma amostra consistente do
espírito de nossa época: “Consideramos justa toda forma de amor”.
Contudo, nossa reflexão nos últimos dias tem por objetivo pensar
sobre o amor nos termos em que Jesus nos ensina em Sua Palavra.
Enquanto a sociedade apregoa a mensagem de que tudo o que é feito em
nome do amor não precisa ser justificado, as Escrituras ensinam que “o
amor não se alegra com a injustiça, mas regozija-se com a verdade”. Na
igreja em Corinto estava convivendo com problemas em sua membresia:
o capítulo 5 menciona um caso de imoralidade entre um homem e a sua
madrasta e a conduta dos irmãos não foi de disciplina, mas de
complacência. Os coríntios tinham orgulho de sua tolerância, o que os
levou não apenas a desprezar os valores bíblicos, mas a estabelecer os
costumes dos ímpios. A pretensa tolerância dos irmãos é registrada pelo
apóstolo como soberba (cf. 1Co 5.1,2). O amor não aplaude o pecado. O
amor não cruza os braços diante do pecado. O amor não se alinha com
aquilo que ofende a Deus.

I. DOIS TIPOS DE ALEGRIA


Para uma compreensão adequada do texto, precisamos identificar os
verbos que aqui aparecem. Há dois tipos de alegria mencionados: alegria
com a injustiça e alegria com a verdade. Injustiça e verdade são termos
tão amplos que podem tornar nossa compreensão do texto mais
complicada, o que acontece por que não entendemos o que é a verdade
no contexto em que Paulo está falando.

Geralmente concebemos a verdade como um conceito baseado na


seguinte afirmação: “verdade é tudo aquilo que condiz com a realidade”.
Pensamos que a verdade tem a ver com aquilo que sabemos. O contrário
de verdade, assim, seria a falsidade. Contudo, no entendimento bíblico, a
verdade tem a ver com aquilo que fazemos. As Escrituras contrapõem
frequentemente a verdade e as más ações. Alguns exemplos deixam isto
bastante claro:

“Se dissermos que mantemos comunhão com Ele [Deus] e andamos nas
trevas, mentimos e não praticamos a verdade” (1Jo 1.6)
“Pois fiquei de sobremodo alegre pela vinda de irmãos e pelo testemunho
da tua verdade, como tu andas na verdade” (3 Jo 3)

Verdade, portanto, é tudo o que é bom e certo, na fé e na prática. A


verdade cujo amor nela se alegra é a prática do que é justo e aceito por
Deus. A verdade se opõe à toda forma de imoralidade, injustiça e todo
outro tipo de má ação.
Isto nos faz perguntar: Por que alguém iria se alegrar com a injustiça (más
ações)? A resposta óbvia seria: quem comete más ações ama as más ações
que comete! O pecador festeja é o próprio pecado em si mesmo: o
fofoqueiro adora contar um segredo; um ladrão gosta de tomar o que é
alheio; uma pessoa violenta tem prazer em ferir os outros. No entanto, a
redação do texto fala de algo diferente. O amor não se alegra com a
injustiça. O pecado está em algum lugar fora da pessoa que está se
alegrando.

Em alguns casos, as pessoas festejam o pecado alheio porque isto lhes dá


liberdade para cometer os mesmos pecados. Lembremos que Paulo está
falando com crentes em Corinto, a pessoas que iam à igreja. Somos
tentados a buscar prazer exatamente nas coisas que Deus abomina; e
mais: somos tentados a ficar felizes quando alguém que discorda de nós
acaba falhando. Qual de nós nunca sentiu uma espécie de alegria ao saber
que um líder de outra denominação foi pego em uma situação
comprometedora? Ou quando alguém com quem não temos tanta
afinidade é flagrado em um ato imoral? Esta vanglória é pecaminosa!
Sentimo-nos moralmente superiores e amor que Jesus ama não tem este
tipo de vaidade.

Henry Drummond faz a seguinte paráfrase do texto: “O amor não tem


prazer em expor a fraqueza dos outros”. Pelo contrário: o amor tem
prazer na Lei de Deus, em andar no testemunho do Senhor e em
fidelidade à sua Palavra. Aqui está a santa alegria que o amor pode
proporcionar. O amor não nos permite estar feliz com as más ações: ele
nos faz sentir prazer na vida santa que o Evangelho pode nos
proporcionar.
II. SIMÃO E A MULHER PECADORA
Um texto que ilustra muito bem este aspecto do amor na vida de Cristo é
Lc 7.36-50. O que está acontecendo é um jantar, na casa de um fariseu
chamado Simão. Jesus está na lista dos convidados. O v. 36 mostra-nos
Jesus aceitando o convite e tomando lugar à mesa. Este era um tipo de
evento comum para Jesus (leia os evangelhos e perceba que por várias
vezes vemos o Senhor participando de jantares). O que é incomum é Jesus
participar de um jantar com um fariseu. Jesus foi chamado de amigo de
pecadores justamente por se alimentar com cobradores de impostos e
outras pessoas de má fama.

Neste tipo de festa, os convidados ficavam reclinados sobre os leitos, com


a cabeça na direção da mesa. Ficavam apoiados com o cotovelo esquerdo,
usando a mão direita para pegar comida. A refeição era realizada em uma
espécie de pátio aberto, ao ar livre. Então, o v. 37 nos traz o choque entre
dois mundos: uma mulher pecadora (uma prostituta) coloca-se aos pés de
Jesus e começa a ungir seus pés com um perfume marcante. Esta mulher
deve ter ouvido Jesus pregar em algum momento e certamente recebeu a
notícia de que poderia vê-Lo na casa de Simão durante o jantar. Ela não
perde a oportunidade! Ela busca o bem mais caro que possuía, um vaso
com um caro perfume, e o dedica a Jesus. Tomada por tão grande amor,
ela se comove ao ponto de verter lágrimas. São tantas lágrimas que ela
vê-se obrigada a secar os pés de Jesus. Não somente isto, mas também a
beijar os pés de Jesus repetidamente. Aqui, valem dois dados da cultura
da época que sinalizam a humildade e a natureza pessoal deste ato:
cuidar dos pés de alguém era uma atividade servil, relegada aos escravos;
uma mulher de respeito jamais soltava seus cabelos em público (era algo
que a mulher fazia somente na intimidade de seu quarto, junto ao seu
amado marido). Aquela mulher pecadora ofereceu mais do que perfume
para Jesus: ofereceu suas lágrimas, seus lábios, seu serviço – era tudo para
Ele.

No v. 39 vemos o que motivou Simão a convidar Jesus para um jantar: ele


queria saber se estava diante de um verdadeiro profeta ou não. Simão
ficou escandalizado. Ele era cortes o suficiente para não dizer tais
palavras em público, mas em seu coração ficou realmente incomodado e
constrangido com a situação. Podemos pecar de mil maneiras mesmo
quando estamos apenas falando em nosso próprio coração.

Simão está falando consigo mesmo sobre Jesus (que não seria um profeta,
por dedução lógica), mas também sobre a mulher. Ela era uma pecadora.
No v. 47, Jesus fala que ela tinha muitos pecados. Simão estava errado em
sua perspectiva sobre Jesus, mas correto em sua opinião quanto à mulher.
Mas a afirmação do coração de Simão também falava muito sobre ele: ao
chamar a mulher de pecadora, ele próprio se colocava em outra categoria.
Sua virtude religiosa o colocaria em um patamar diferente. Notemos:
“quem é e qual é a mulher que lhe tocou” – uma outra maneira de dizer
“não é uma pessoa tão justa como eu”.

O amor não se alegra com a injustiça, mas regozija-se com a verdade.


Simão está feliz ao ver o pecado da mulher. Ele não se sente tentado a
participar de seu pecado; ele está feliz ao ver que, aparentemente, ele
possuía alguns pontos a mais em sua justiça pessoal. Pensava ele:
enquanto existir alguém pior do que eu, vou ficar feliz, pois sou bom o
suficiente perante Deus.
Toda esta capa de aparente indignação escondia em Simão um pecado
pior do que a prostituição: o pecado do orgulho. Em seu entendimento,
algumas pessoas não eram boas o suficiente para merecer o perdão.

III. O FARISEU SEM AMOR


A mensagem do Evangelho fala da graça de Deus para todos os
pecadores. O objetivo de Jesus em seu ensino foi o de mostra como a
graça de Deus pode transformar a vida das pessoas. O amor de Jesus à
chamada mulher pecadora é evidente, mas também precisamos nos deter
em perceber o amor de Jesus revelado a Simão. Os vv. 40-42 nos mostram
que tipo de abordagem foi utilizada pelo Senhor.

Com uma história simples, Jesus deu uma aula de economia espiritual:
quanto mais perdão, mais amor. Após a hesitante resposta de Simão (v.
43), como um bom pregador, Jesus aplicou sua mensagem diretamente na
vida de Simão (vv. 44-46. “Vês esta mulher?” – Simão não havia tirado
seus olhos dela por nem um momento! Simão não havia cumprido o
mínimo que os requisitos da hospitalidade requeriam, mas a “mulher
pecadora” foi além deles. Vejam o contraste! Qual a diferença? O amor! O
que provocou a diferença? O perdão! O v. 47 mostra este contraste de
modo gritante.

Aquele que pouco ama é Simão. Seu coração está totalmente exposto. Ele
tinha boa teologia e boa moralidade, mas não sabia amar. Ele não recebeu
Jesus como deveria recebê-lo. Em sua mente, Simão pensava não havia
feito coisas tão más quanto àquela mulher e que, portanto, era melhor do
que ela. Redondamente enganado!
Nosso coração também tem formas bem específicas de demonstrar nossa
forma de amor. Na última semana, quantas vezes nós nos colocamos
diante de outras pessoas “pecadoras” e nos mostramos superiores a elas?
Os pecados alheios nos incomodam tanto, que nos fazem desistir do que
Deus pode fazer na vida dos outros! Qual será nosso pensamento diante
dos pobres e necessitados: será que pensamos em nosso íntimo que a vida
deles é tão somente a consequência justa por seus atos? Não é este o amar
como Jesus ama, pois o amor não se alegra com as más ações.

Com base nisto, surge uma pergunta: Como amar como Jesus ama? De
onde nasce este amor? Irmãos, este amor começa quando entendemos
quem, de fato, somos. Somos pecadores, que carecem da graça de Deus.
Entendendo isto, somos comovidos pelo Senhor ao serviço, à piedade e à
entrega de tudo o que somos na presença dEle.

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