Você está na página 1de 8

31/03/2019 O antipetismo como herança do anticomunismo – IESP nas Eleições

Home » Outro » O antipetismo como herança do anticomunismo

O antipetismo como herança do


anticomunismo
Publicado outubro 15, 2018

Thiago Moreira da Silva¹ e Rodrigo Lentz²

Os objetos da política nem sempre se revestem de conteúdos programáticos, baseados em


ações informadas dos cidadãos. Muitas vezes, os fenômenos que tocam esse universo são
pautados por elementos simbólicos, presentes no imaginário social, que ajudam a moldar
formas de pensamento e são reproduzidos por várias gerações. O exercício de poder, em
verdade, não sobreviveria sem a criação de imagens que traduzem os valores presentes nas
disputas cotidianas. A esse conjunto de anseios, atitudes, linguagens e crenças
permanentes, fundamentais para conferir coesão e identidade a grupos sociais distintos,
damos o nome de cultura política.

iespnaseleicoes.com.br/o-antipetismo-como-heranca-do-anticomunismo/ 1/8
31/03/2019 O antipetismo como herança do anticomunismo – IESP nas Eleições

No Brasil, um exemplo marcante de cultura política é o anticomunismo. Como ressalta o


historiador Rodrigo Patto Sá Motta no livro “Em guarda contra o ‘perigo vermelho’: o
anticomunismo no Brasil (1919-1964)” (2002, Perspectiva/Fapesp), essa manifestação surge
no país logo após a Revolução Russa de 1917 e tem sua primeira grande onda após a
Intentona Comunista (1935), depois que Luiz Carlos Prestes declarou sua adesão ao
pensamento marxista. À época, em resposta ao fato, houve aumento considerável de
publicações com caráter anticomunista. Perdurando nos anos seguintes, a manifestação
alcançou sua segunda grande onda a partir de 1961, durante a campanha da legalidade, e
resultando no golpe civil-militar de 1964.

Passados mais de 50 anos dos acontecimentos de então, e mesmo após a queda do Muro
de Berlim e o fim da Guerra Fria, esse imaginário volta à pauta do dia, associado a uma
manifestação relativamente nova no contexto político nacional: o antipetismo. Não raro,
portanto, o partido do ex-presidente Lula aparece sobreposto ao ideário em questão. A
despeito, claro, da atuação moderada da legenda em temas econômicos — quase sempre
colocando liberais na condução das políticas do Banco Central e do Ministério da Fazenda
— e sociais. Exemplos disso são os discursos parlamentares que favoreciam o impeachment
de Dilma Rousse pautados por uma possível ameaça comunista, slogans como “a nossa
bandeira jamais será vermelha” e um suposto plano de integração de países sul-
americanos com regimes à esquerda, a Ursal, realizado pelo Foro de São Paulo.

Neste artigo analisamos a relação entre os “antis”, já apontada em 2016 por Motta, de
maneira empírica, com base nos dados do Barômetro das Américas (LAPOP) de 2017,
organizado pela Universidade de Vanderbilt.* No banco, temos perguntas referentes ao
“desgosto” dos respondentes com petistas e comunistas. A figura 1 expõe essas tendências:

iespnaseleicoes.com.br/o-antipetismo-como-heranca-do-anticomunismo/ 2/8
31/03/2019 O antipetismo como herança do anticomunismo – IESP nas Eleições

Como notamos, cerca de 50% dos entrevistados afirmam um “desgostar” de petistas, ao


passo que 57% rejeitam os comunistas, embora estes não sejam parte efetiva da política
brasileira há algumas boas décadas, se pensarmos nos programas dos partidos à esquerda
do espectro político. Dito isso, vale a pena considerar até que ponto existe sobreposição
entre antipetismo e anticomunismo na cabeça dos brasileiros. Para tanto, testamos a
associação das duas variáveis no gráfico 2, controlando por alguns elementos
sociodemográficos como renda, idade, sexo, escolaridade, região e raça:

iespnaseleicoes.com.br/o-antipetismo-como-heranca-do-anticomunismo/ 3/8
31/03/2019 O antipetismo como herança do anticomunismo – IESP nas Eleições

Em termos substantivos, o anticomunismo é o fator mais associado ao antipetismo dentre


as variáveis consideradas. A rejeição aos comunistas aumenta em 30% a reprovação dos
petistas. De resto, indivíduos com renda mais alta tendem a ter impressões negativas em
relação aos partidários da legenda e, quando comparados aos mais jovens, eleitores com
idade entre 45 e 64 anos costumam ser mais indiferentes ao grupamento.

Nem só de conteúdos programáticos vive o eleitorado. As imagens sedimentadas durante


anos a fio podem reforçar estereótipos e guiar o comportamento político dos cidadãos.
Vimos, portanto, que uma imagem criada no início do século passado segue viva nas
percepções da maioria dos cidadãos brasileiros, influenciando os discursos políticos e a
aprovação do partido mais (im)popular do Brasil. É muito provável, portanto, que
estejamos no tubo de uma terceira grande onda anticomunista brasileira, associada ao
antipetismo, iniciada nas eleições de 1989 e atingindo, nas eleições de 2018, seu cume.
iespnaseleicoes.com.br/o-antipetismo-como-heranca-do-anticomunismo/ 4/8
31/03/2019 O antipetismo como herança do anticomunismo – IESP nas Eleições

*As perguntas originais do LAPOP contam com escalas de dez pontos. Dessas,
selecionamos os pontos 8 a 10 e convertemos as variáveis em configurações binárias.

[1] Thiago Moreira da Silva é pós-doutorando em ciência política no Iesp-Uerj.


[2] Rodrigo Lentz é doutorando em ciência política na Universidade de Brasília.

O IESP nas Eleições publica às sextas-feiras análises sobre as Eleições Legislativas em uma
parceria com o NEXO Jornal, tendo sido este texto publicado no dia 11/10:
https://www.nexojornal.com.br/ensaio/2018/O-antipetismo-como-heran%C3%A7a-do-
anticomunismo

anticomunismo antipetismo

VOCÊ TAMBÉM PODE GOSTAR...

 

Deixe um comentário
iespnaseleicoes.com.br/o-antipetismo-como-heranca-do-anticomunismo/ 5/8
31/03/2019 O antipetismo como herança do anticomunismo – IESP nas Eleições

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados
com *

COMENTÁRIO

*NOME

*E-MAIL

SITE

PUBLICAR COMENTÁRIO

POSTS POPULARES

História do Voto no Brasil (1822-2018)

O papel das mídias sociais nas eleições de 2018

[Vídeo] Sistema Eleitoral Brasileiro – Fabiano Santos

O papel do Brasil na balança de poder internacional e a eleição de 2018

Convenções eleitorais confirmam aliança PT-MDB em diversos estados

iespnaseleicoes.com.br/o-antipetismo-como-heranca-do-anticomunismo/ 6/8
31/03/2019 O antipetismo como herança do anticomunismo – IESP nas Eleições

PA L AV R AS - C HAV E

Venezuela Comunicação política pesquisa de opinião imigrantes representação Redes sociais ficha limpa economia Horário
Gratuito de Propaganda Eleitoral reforma política Facebook democracia propaganda eleitoral Monitoramento
política externa segurança pública Legislativo eleição presidencial política externa brasileira fact-checking eleições 2018

notícias falsas mídia judicialização TSE justiça eleitoral Whatsapp partidos políticos eleições fake news

C U R TA E S I GA

LINKS

DOXA

LEMEP

NECON

LABMUNDO

NEAAPE

OPSA

 UM BALANÇO DO HORÁ…  B O L E T I M D O W H AT S A P P … 

iespnaseleicoes.com.br/o-antipetismo-como-heranca-do-anticomunismo/ 7/8
31/03/2019 O antipetismo como herança do anticomunismo – IESP nas Eleições

Contato

Instituto de Estudos Sociais e Políticos

Rua da Matriz 82, Botafogo Rio de Janeiro , RJ 22260-100 Brasil


Tel: +55 (21) 2266-8300

Newsletter

Name

Email

ASSINAR

iespnaseleicoes.com.br/o-antipetismo-como-heranca-do-anticomunismo/ 8/8

Você também pode gostar