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1.

0 Introdução

O consumo de álcool durante a gestação vem sendo bastante

documentado, tendo em vista o grande impacto sobre o desenvolvimento infantil e as

dificuldades encontradas no período do pós-parto de mulheres que fizeram uso de

bebidas alcoólicas durante a gestação.

Santos e Santos (2009) afirmam que, aproximadamente 20% das

mulheres fazem uso de bebidas alcoólicas durante a gestação e este hábito tem

aumentado consideravelmente durante os últimos anos.

Ainda de acordo com Santos e Santos (2009), a dificuldade na obtenção

de informações que indiquem a ingestão de bebidas alcoólicas durante a gravidez, faz

com que a Síndrome Alcoólica Fetal (SAF) seja subdiagnosticada no Brasil, sendo,

por consequência, mais frequente do que se possa imaginar.

1.1 Problemática

Habilidades neuropsicológicas, linguísticas, de aprendizagem, sociais,

afetivas e o fenótipo avaliados através de escalas que estejam validadas e qualificadas

para a elaboração de uma hipótese diagnóstica referente à SAF a partir da revisão

bibliográfica dos estudos dispostos até então que concerne o referido tema.

1.2 Pergunta – Problema

Como e em que se estabelece o diagnóstico e a Avaliação

Neuropsicológica em crianças portadoras de SAF?

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1.3 Hipótese

Através da aplicação de instrumentos neuropsicológicos, que caracterizam

ou não as habilidades que estão associadas à Síndrome Alcoólica Fetal, torna-se

possível estabelecer uma hipótese diagnóstica fidedigna à Síndrome, visto que, o

fenótipo e os déficits característicos quando associados, permitem maior

confiabilidade do diagnóstico.

1.4 Levantamento Bibliográfico

Como fontes de pesquisa para revisão, foram encontrados cinco artigos

científicos sobre a Síndrome Alcoólica Fetal (SAF), dois artigos sobre Avaliação

Neuropsicológica em crianças e um livro que aborda os aspectos do Desenvolvimento

na Primeira Infância. As fontes que foram favorecidas para o desenvolvimento deste

projeto foram as bases de dados Scielo, Lilacs, BVS Psi, MedLine. A busca foi restrita

a artigos e periódicos em inglês e português. Foram utilizados ainda, os referidos

descritores: Avaliação, Desenvolvimento Infantil, Alcoolismo, Síndrome Alcoólica

Fetal (SAF).

Foi considerado como critérios para a inclusão das referências para o

desenvolvimento da revisão bibliográfica (1) o foco na correlação entre a ingestão de

bebida alcoólica durante a gestação e o desenvolvimento do feto; (2) os procedimentos

e aplicações em que se baseiam as avaliações neuropsicológicas; (3) os marcos do

desenvolvimento infantil, e (4) características da Síndrome Alcoólica Fetal. Foi

realizada a leitura e seleção do material encontrado diante dos critérios pré-

estabelecidos para a inclusão na pesquisa.

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De acordo com Santos e Santos (2009), a incidência de SAF varia

conforme a população estudada, sendo estimada em um a três nascidos vivos nos

Estados Unidos.

Ainda de acordo com Santos e Santos (2009), a National Center on Birth

Defects and Developmental Disabilities, do Centers for Disease Control and

Prevention, publicou em 2004, o Fetal Alcohol Syndrome: Guidelines for Referral and

Diagnosis em que se estabelece os critérios mínimos para o diagnóstico de SAF.

Dentre os critérios citados, pode-se citar o retardo do crescimento pré e/ou pós-natal,

dismorfismo facial e o acometimento do Sistema Nervoso Central caracterizado por

déficits intelectuais e alterações do comportamento.

1.5 Justificativa

A partir do levantamento bibliográfico realizado para a composição do

referido projeto, notou-se que há poucos estudos que investigam a fundo a Síndrome

Alcoólica Fetal e mais ainda quando correlacionada à Avaliação Neuropsicológica.

Há ainda, poucos estudos na área de Psicologia e Saúde, sendo os mais

evidentes e completos conteúdos presentes em estudos que estão relacionados com a

Medicina e configurações anátomoclínicas.

2. Marco Teórico e Conceitual

Este trabalho será norteado por uma discussão sobre o processo de

Avaliação Neuropsicológica em crianças diagnosticadas com a Síndrome Alcoólica

Fetal, salientando as alterações características dessa Síndrome estabelecendo os

possíveis métodos de avaliação para que se alcance uma intervenção apropriada e

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genuína. Deste modo, o presente objeto de estudo será desenvolvido conforme um

plano de consistência teórico conceitual que será disposto a seguir.

2.1. Síndrome Alcoólica Fetal (SAF)

O consumo de bebidas alcoólicas na sociedade brasileira é fortemente

enraizado, tanto por fatores culturais, como sociais e econômicos. Na maioria das

vezes, esse consumo se dá de maneira exagerada em múltiplos contextos, tanto por

homens quanto por mulheres.

A consumação de bebida alcoólica durante a gravidez está ligada a

inúmeros danos à saúde da mulher (alta incidência de câncer, depressão, distúrbios

neurológicos, doenças cardiovasculares) e do bebê, o que tem chamado atenção da

comunidade científica, tendo em vista o impacto causado principalmente na saúde do

feto. Quando se refere ao consumo de álcool efetuado pela mãe durante a gestação,

fundamenta-se o aumento significativo de intercorrências ligadas à saúde do feto,

desenvolvimento de malformações, aborto espontâneo, mortalidade perinatal,

prematuridade e a ocorrência do Espectro Alcoólico Fetal (EAF), apresentando

variados problemas físicos e mentais na sua condição mais severa, a Síndrome

Alcoólica Fetal (SAF). (SEGRE, 2012). Sua incidência varia de acordo com a

população estudada.

A SAF (Síndrome Alcoólica Fetal) refere-se a um conjunto de

malformações que podem estar presentes em crianças que consumiram grande

quantidade de bebida alcoólica durante a gestação. (BUCHER; MURAKI, 2013).

No que se refere aos efeitos do álcool encontrados no feto, Segre (2012)

afirma que os níveis de álcool no sangue fetal são praticamente os mesmos que são

encontrados no sangue da gestante. Ainda de acordo com Segre (2012), a ingestão de


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álcool pela gestante até a oitava semana, acarreta malformações estruturais que são

consideradas graves. Quando a ingestão de álcool se dá a partir da oitava semana até

quadragésima (período fetal), são constatadas alterações no Sistema Nervoso Central

(SNC), além da possibilidade de aumento do número da mortalidade fetal.

Segundo Tremblay et. al. (2012), a exposição pré-natal ao consumo

excessivo de álcool tem sido associada a uma série de adversidades tais como a

malformação facial, incluindo depressão vertical acima do lábio superior ausente ou

indeterminado, retardo de crescimento, dano ao sistema nervoso (como já citado

anteriormente) manifestado por retardo mental, retardo no desenvolvimento e

problemas cognitivos e/ou comportamentais.

Ainda de acordo com Tremblay et. al. (2012), quanto aos problemas

cognitivos e/ou comportamentais, identifica-se a presença de hiperatividade e déficits

de atenção, problemas de auto regulação, dificuldades na linguagem, problemas de

aprendizagem e memória que podem persistir na vida adulta caso não haja intervenção

de um profissional especializado.

2.2. Avaliação Neuropsicológica

Recomenda-se a Avaliação Neuropsicológica em qualquer caso onde se

suspeite que haja uma dificuldade cognitiva e/ou comportamental de origem

neurológica. A Avaliação Neuropsicológica auxilia ainda no diagnóstico e tratamento

de diversas enfermidades neurológicas, comprometimentos psiquiátricos e no

desenvolvimento infantil. (AZAMBUJA et. al., 2004).

De acordo com Azambuja et. al. (2004), a partir do conhecimento em

relação ao desenvolvimento e funcionamento normal cerebral, consegue-se, através da

avaliação, identificar as alterações cerebrais (disfunções cognitivas e


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comportamentais), que podem ser resultantes de lesões, desenvolvimento anormal do

cérebro, doenças e síndromes, como a SAF (Síndrome Alcoólica Fetal). Deste modo, a

neuropsicologia, que tem por objetivo primordial identificar precocemente variações

no desenvolvimento cognitivo e comportamental, ratificou a utilização de

instrumentos (testes psicológicos e neuropsicológicos) adequados para que se

conseguisse elaborar uma avaliação fidedigna.

Ainda de acordo com Azambuja et. al. (2004), os resultados obtidos na

Avaliação Neuropsicológica através da aplicação de testes e escalas referentes ao

desenvolvimento refletem os principais ganhos ao longo do desenvolvimento e tem

por objetivo, definir o nível evolutivo cognitivo e comportamental específico da

criança avaliada. Dessa maneira, a importância da aplicação desses instrumentos de

avaliação está ligada diretamente com a prevenção e detecção precoce de déficits do

desenvolvimento e aprendizagem, fazendo com que se identifique de forma detalhada

a qualidade e execução dos processos, tornando-se possível o mapeamento

quantitativo e qualitativo das áreas cerebrais (incluindo sistema funcional), visando

intervenções terapêuticas que façam a manutenção desses déficits, buscando atenuar,

na medida do possível, as consequências oriundas dos mesmos.

2.3. Avaliação Neuropsicológica em crianças portadoras da Síndrome Alcoólica

Fetal

Para que se elabore um diagnóstico correto de Síndrome Alcoólica Fetal

(SAF) faz-se necessária a elaboração cuidadosa de uma anamnese além de identificar

as adversidades sobre a história clínica e gestacional da mãe. Implica-se ainda em um

criterioso exame clínico (solicitado por um neuropediatra e/ou psiquiatra) da criança

para que possa reconhecer as características faciais e neurodesenvolvimentais que são


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particulares da Síndrome Alcoólica Fetal (SAF). Pinho et. al. (2006). Além do

processo de avaliação neuropsicológica dotado dos instrumentos psicológicos e

neuropsicológicos necessários e apropriados para um diagnóstico confiável.

De acordo com Pinho et. al. (2006), o processo de avaliação deve ainda

envolver outras questões:

[...] o prognóstico depende do grau de compromisso no desenvolvimento


neurológico e cognitivo, do “timing” em que é feito o diagnóstico e
também do suporte social e familiar de que a criança poderá beneficiar. O
suporte familiar revela-se como algo fundamental, considerando sempre
que o SFA não tem cura, sendo uma doença para toda a vida. (p. 276, grifos
do autor).

De acordo com Azambuja et. al. (2004), as escalas e testes psicológicos

utilizados para que possa obter uma avaliação infantil completa, nesse caso, dentro das

alterações características da Síndrome Alcoólica Fetal, incluem testes de inteligência,

memória, linguagem, lobos frontais (habilidades humanas mais complexas, como o

planejamento de ações sequenciais, a padronização de comportamentos sociais e

motores, parte do comportamento automático emocional e da memória) e lobos parieto

– occipitais (funções relacionadas às habilidades vísuo-espaciais, organização vísuo-

espacial - percepção e planejamento).

Dessa forma, através da avaliação realizada, analisam-se os itens em que a

criança obteve resultados abaixo dos padrões de normatividade estabelecidos pelos

testes e escalas, contribuindo para a prática de intervenções neuropsicológicas

posteriores.

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3.0 Objetivos

3.1 Objetivo Geral

Correlacionar e caracterizar a Avaliação Neuropsicológica e a Síndrome

Alcoólica Fetal – SAF em crianças, a fim de estabelecer uma hipótese diagnóstica

confiável.

3.2 Objetivos Específicos

 Analisar estudos sobre a relação entre a Síndrome Alcoólica Fetal –

SAF e Avaliação Neuropsicológica;

 Caracterizar a Avaliação Neuropsicológica a partir do diagnóstico de

Síndrome Alcoólica Fetal – SAF;

 Analisar os instrumentos neuropsicológicos que consigam identificar

fidedignamente a Síndrome Alcoólica Fetal – SAF

4.0 Método

O referente projeto é uma Pesquisa Bibliográfica, de caráter exploratório,

apresentando um delineamento qualitativo.

Foi realizado o levantamento de dez artigos e um livro que tratavam sobre

a Síndrome Alcoólica Fetal - SAF, Desenvolvimento Infantil e Avaliação

Neuropsicológica. Entre os artigos encontrados, foram selecionados cinco artigos

sobre Síndrome Alcoólica Fetal, dois sobre Avaliação Neuropsicológica e um livro

que tratava sobre Desenvolvimento Infantil.

No que se referem à base de dados, as buscas foram realizadas em quatro

bases, sendo elas: Scielo; Lilacs; BVSPsi e MedLine.

No que concerne ao limite de tempo estabelecido, foram selecionados

artigos publicados entre os anos de 2004 e 2012.


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Em relação aos idiomas, foram selecionados artigos escritos em português

e em inglês.

Optou-se ainda pela busca de termos mais específicos, com o uso de

vocabulário controlado (descritores). Com essa estratégia, houve uma recuperação

mais detalhada dos termos buscados, afunilando e catalogando os artigos que tratavam

do tema de maneira mais específica, fazendo com que a abordagem dos assuntos

trazidos e a correlação proposta inicialmente pelo projeto fossem mais fidedignas às

sugestões iniciais.

A partir da leitura dos capítulos do livro e dos artigos encontrados,

puderam-se estabelecer quais escalas podem ser utilizadas para o diagnóstico

neuropsicológico, bem como as particularidades que a Síndrome Alcoólica Fetal -

SAF possui, fazendo com que o diagnóstico seja cada vez mais preciso e que haja, a

depender da faixa etária em que o mesmo seja realizado, uma possível reabilitação

neuropsicológica e cognitiva contando com uma equipe multiprofissional, visto que o

diagnóstico e a intervenção precoce possui a capacidade de redução da ocorrência das

principais sequelas da síndrome.

Com base nos materiais bibliográficos, identificou-se o uso de alguns

instrumentos neuropsicológicos que não são utilizados diretamente para o diagnóstico

da SAF, mas que podem auxiliar na investigação da mesma. Dentre estes

instrumentos, podemos citar a (1) Escala de Inteligência para Crianças de Wechsler –

III (WISC-III; Wechsler, 1991); (2) Escala de Inteligência Pré-Escolar e Primária

(WPPSI-R; Wechsler, 1989); (3) o Child Behavior Checklist (CBCL; Achembach,

1991); (4) Questionário para Avaliação de Perturbação e de Hiperatividade e Déficit

de Atenção de Conners para Pais –CPRS (Conners, 1990) e o (5) Child Syptom

Inventory (Gadoy, 1998). Estes instrumentos têm como por objetivo, avaliar a
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inteligência, o comportamento agressivo, problemas sociais, queixas somáticas e

ansiedade/depressão.

Os fatores avaliados anteriormente ajustam-se nas principais

especificidades da Síndrome Alcoólica Fetal – SAF, com base no levantamento

bibliográfico realizado para a execução desta pesquisa.

Portanto, o diagnóstico da Síndrome Alcoólica Fetal – SAF a partir da

utilização de instrumentos neuropsicológicos pode ser realizada conjuntamente com a

utilização de exames específicos para identificar os prejuízos anátomoclínicos, bem

como o auxílio de uma equipe multiprofissional para promover a reabilitação de

crianças portadoras da síndrome.

5.0 Cronograma

Meses de 2017 Janeiro Fevereiro Março Abril Junho Julho

Coleta de
Dados X X
Bibliográficos

Análise dos
Dados X X X
Bibliográficos

Redação do
X
Trabalho Final
Defesa X

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Referências

AZAMBUJA, L S.; COSTA, D L.; PORTUGUEZ, M W.; COSTA, J C. Avaliação


Neuropsicológica da Criança. Jornal de Pediatria, Porto Alegre, v. 80, n. 02, 2004.

BUCHER, B; MURAKI, S M. P. Síndrome Alcoólica Fetal: Retrato Multifacetado da


Deficiência. Dourados, 2013.

CAPOVILLA, A. G. S.; ASSEF, E. C. D. S.; COZZA, H. F. P. Avaliação


neuropsicológica das funções executivas e relação com desatenção e
hiperatividade. Avaliação psicológica. V.6, n. 1, 2007.

PINHO, P J; PINTO, A L; MONTEIRO, V. Síndrome Fetal – Alcoólico: A


perspectiva do Psicólogo. Psicologia, Saúde & Doenças, Portugal, Oliveira de
Azeméis, v. 07, n. 02, 2006.

SANTOS, E S; SANTOS, A M G. Síndrome Alcoólica Fetal – Recorrência em duas


gerações de uma família. Scientia Medica, Porto Alegre, v. 19, n. 4, out./dez. 2009.

SEGRE, C A M. Síndrome Alcoólica Fetal. Pediatria Moderna, São Paulo, v.48, n.7,
jul, 2012.

TREMBLAY, R.E; BOIVIN, M; PETERS, R. Enciclopédia sobre o Desenvolvimento


na Primeira Infância. Síndrome Alcoólica Fetal. Montreal, Quebec: Centre of
Excellence for Early Childhood Development e Strategic Knowledge Cluster on Early
Child Development; 2012 (Ed. or. 2005). Disponível em: http://www.enciclopedia-
crianca.com/documents/sintese-sindrome_alcoolica_fetal.pdf. Consultado em: 09 de
maio de 2016.

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