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GESTÃO PESSOAL 44
Você está
O efeito do resolvendo
escândalo os problemas
Boris Groysberg, Eric Lin, George certos? Editores
ARTIGOS
GESTÃO DE MUDANÇA
A culpa não é da cultura
organizacional
Quando uma empresa está
em crise, em geral é
20
ENTREVISTA HBR
“Precisamos intensificar
o nosso senso de urgência”
Os problemas dos clientes
não se resolvem com
ECONOMIA
Lições da
neurociência
Como construir uma
cultura organizacional
GESTÃO PESSOAL
O efeito do escândalo
Quando as empresas
cometem delitos, os
executivos são prejudicados
porque o negócio está o tempo, mas sim com de resiliência. pelo mercado de trabalho
quebrado. correções. George S. Everly Jr., Ph.D. — mesmo que não tenham
Jay W. Lorsch e Meg Whitman, CEO da envolvimento no caso.
Emily McTague Hewlett Packard Enterprise.
Entrevistada por 38 Boris Groysberg, Eric Lin,
George Serafeim e
20 Adi Ignatius. Robin Abrahams
30 44
GESTÃO DE PESSOAS GESTÃO ORGANIZACIONAL TECNOLOGIA
O ecossistema de Você está resolvendo A verdade sobre
valor compartilhado os problemas certos? a Blockchain
É necessário que as Reformulá-los pode revelar Serão necessários anos para
empresas se associem soluções inesperadas. transformar os negócios.
com governos, ONGs e até Thomas Wedell-Wedellsborg A jornada começa agora.
mesmo com concorrentes Marco Iansiti e
para distribuir e colher os
benefícios econômicos do 64 Karim R. Lakhani
progresso social
Mark R. Kramer e Marc W. Pfitzer 72
JAMIE CHUNG
54
4 HARVARD BUSINESS REVIEW ABRIL 2017
ABRIL 2017
12 PEDIDO DE DEMISSÃO
RADAR Pegue esse trabalho e…
As empresas devem prestar
Novas ideias e pesquisas atenção ao modo como tratam
em andamento o funcionário demissionário.
16 DEFENDA SEU ESTUDO
“Consultar seu travesseiro”
não leva a decisões melhores
Novas descobertas surpreendentes
sobre como o sono pode afetar
os processos mentais.
90
83 GESTÃO PESSOAL
EXPERIÊNCIA
Administre seu
Como enfrentar suas
decisões mais difíceis
Cinco questões práticas podem
DECORPOEALMA
MIKE KRZYZEWSKI
crescimento profissional ajudar a tomar a decisão certa
quando as escolhas são dúbias.
Joseph L. Badaracco
6 Carta ao leitor
SEÇÕES 88 Resumo da edição
CHRISTOPHER DELORENZO, STREETER LECKA/GETTY IMAGES
OS EDITORES
Promoção válida para matrículas realizadas nos cursos Classic das unidades Alumni, até o dia 07/05/2017. Consulte condições no regulamento.
Apresenta
2¿RFRQGXWRU
GDLQRYDomR
Na revolução digital, novos modelos de negócios devem
se basear na segurança cibernética
Há temas corporativos que, com o tempo, recebem um tratamento As distrações, no caso, traduzem-se no enorme volume de
mais restrito. A segurança cibernética, por exemplo, é sempre tempo, recursos e valor de mercado que se perde ao cair
afng[Y\YhYjYYd]jlYj]ehj]kYkkgZj]jak[gk]kh][Õ[gk\] nas mãos de criminosos virtuais – cada vez mais organizados
fraudes, invasões e roubo de dados no mundo virtual. Até aí, ]kgÕkla[Y\gk&Gim]Yk]ehj]kYkZjYkad]ajYkle^]alg^j]fl]
nada de errado – muito pelo contrário. Ocorre que os tempos a essa realidade? “Pouco, ainda”, antecipa Carrión. No
atuais, de transformação digital, alçaram esse assunto a um Brasil, 39% dos executivos dizem que ao menos metade dos
orçamentos para segurança cibernética serão investidos em
patamar decisivo para a estratégia das empresas – e boa parte
ferramentas de monitoramento proativas, de acordo com
delas ainda não se deu conta. “Ninguém mais inova sem uma
o estudo Global Forensic Data Analytics Survey 2016, da EY.
postura proativa de segurança cibernética”, diz Demetrio
Globalmente, a porcentagem é de 63%.
Carrión, sócio de Cybersecurity da EY. “Ela faz a diferença
]flj]l]j^g[g$]Õ[af[aY]hjg\mlana\Y\]]Õ[Yj]fngdna\g Não é difícil conceber por que o resultado no Brasil é
com distrações o tempo todo.” insatisfatório. Quando modelos de negócios, além de processos
Ainda é pouco
Empresas em que ao menos metade dos recursos para
segurança cibernética serão investidos em ferramentas
de monitoramento proativas.
Radar
O REAL VALOR
DAS “CURTIDAS”
PEDIDO DE DEMISSÃO
As empresas devem prestar atenção ao
modo como tratam o funcionário demissionário
VAREJO
Como encontrar a política de devolução perfeita
DEFENDA SEU ESTUDO
“Consultar seu travesseiro” não leva a decisões melhores
DO ARQUIVO
“Se o Dow sobe ou cai, pouco importa para as empresas o que as ações representam.
PEDIDO DE DEMISSÃO
PEGUE ESTE TRABALHO E…
Idealmente, todo profissional que pretende deixar um emprego
avisaria o chefe durante um encontro franco e respeitoso —
seguido por várias semanas de trabalho até o dia da partida. Mas
não é o caso de metade das demissões, de acordo com entrevistas
com quase 450 trabalhadores e gestores dos EUA realizadas por
pesquisadores da Oregon State e da University of Oklahoma.
O maior determinante do estilo de pedido de demissão é a
opinião do trabalhador sobre o tratamento que recebeu. “Muitos
veem esse momento como a última chance de acertar as contas com
a organização ou com o gestor”, dizem os pesquisadores. Para as
empresas, a maneira como se dá a saída pode fornecer informações
úteis: se muitos trabalhadores fazem isso de forma negativa, é
provável que isso seja um sinal de insatisfação com o tratamento, o
que pode indicar problemas de gestão que devem ser abordados.
SETE ESTILOS DE PEDIDOS DE DEMISSÃO QUE FUNCIONÁRIOS DIZEM USAR E SUPERVISORES DIZEM OBSERVAR
SEGUINDO AS REGRAS.
Envolve reunião com o gestor, 31%
período de aviso prévio e
explicação do motivo da saída. 31%
MARKETING
GRATIDÃO.
A conversa gira em torno da apreciação 9
do empregado pelo trabalho/empresa,
11
o que contribui com a transição.
MARCAS QUE RECEBEM
A PAR DA SITUAÇÃO.
O funcionário diz ao chefe que 8 MUITAS “CURTIDAS” PODEM
pretende sair, eliminando o
elemento surpresa. 8 SER SUPERESTIMADAS
SUPERFICIAL.
É semelhante ao “Seguindo as regras”,
mas a discussão é mais curta e o
motivo é omitido ou pouco claro.
ESQUIVA.
17
29
P ara muitos da área de marketing, tornou-se
um símbolo de sucesso: quantas pessoas “cur-
tem” a página do Facebook da empresa? Com
o avanço desse tipo de métrica, muitas marcas co-
meçaram a gastar milhões de dólares para ten-
O empregado se demite por escrito e 9
avisa o RH ou a outros colegas e deixa tar aumentar os seguidores de mídia social — e os
que o assunto chegue ao gestor. 17
gestores tentam esclarecer algo que muitas vezes
é ilusório quando se trata de gastos com marketing:
IMPULSIVO.
O funcionário sai sem premeditação 4 qual é o retorno sobre o investimento?
ou aviso, deixando que a empresa se Ao longo dos últimos anos, acadêmicos utili-
vire para fazer a transição. 9
zaram vários métodos para quantificar o valor dos
“SAIR QUEIMADO”. seguidores de mídias sociais, sem resultados con-
O funcionário tenta prejudicar a 10
organização ou seus membros, muitas sistentes. Em um novo estudo, pesquisadores da
7
vezes com agressões verbais. Harvard Business School realizaram cinco experi-
mentos envolvendo milhares de temas para explorar
FONTE “SAYING GOODBYE: THE NATURE, CAUSES, AND CONSEQUENCES OF EMPLOYEE RESIGNATION STYLES”, duas perguntas: será que o fato de alguém curtir
POR ANTHONY C. KLOTZ E MARK C. BOLINO (JOURNAL OF APPLIED PSYCHOLOGY, 2016)
uma marca sugere que é mais propenso a comprá-la?
1 2 3 4 5
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RADAR
“CONSULTAR SEU
TRAVESSEIRO” NÃO LEVA
A DECISÕES MELHORES
PROFESSORA SPENCER,
DEFENDA SEU ESTUDO
SPENCER: Ficou bem claro que as pessoas os produtos nos levaria a crer que estariam tomada de decisão. Sabemos que quando
que tomaram a decisão no mesmo dia mais felizes com suas decisões, o que de dormimos, o cérebro está realizando
se sentiram melhor a respeito dela do fato não ocorreu. algum processamento que nos permite
que aquelas que tinham decidido após começar do zero. No nível neurológico,
uma noite de sono. Todavia, aquelas que Parabéns, sua pesquisa invalida o dito a informação começa a ser removida da
“consultaram o travesseiro” se lembravam popular sobre tomar grandes decisões. memória de curto prazo passando para
mais dos atributos das pastas. Isso nos Eu não diria isso. Não diria que o sono o espaço da memória de longo prazo.
surpreendeu. O fato de saberem mais sobre não tem nenhum valor em relação à Então o dito popular de que o sono nos
ILUSTRAÇÃO DE SODAVEKT
16 HARVARD BUSINESS REVIEW ABRIL 2017
proporciona um novo começo é verdade. prejudicial à memória e ao processamento com a falta de sono é ruim. Nesse estudo
O sono não só tem impacto na assimilação de informações, então aparentemente a combinação que analisamos era menos
de novas informações, mas também são elas que mais se beneficiariam. Nesse tóxica.
parece ter uma influência surpreendente estudo em particular, eliminamos pessoas
sobre informações passadas. no grupo da vigília que tinham tirado uma Algumas pessoas consideram a insônia
soneca, então não poderei ajudá-lo uma medalha de honra. Acho que
Como o sono influencia nessa questão. você diria que um bom sono é mais
informações passadas? importante.
Não é só que as pessoas Escolher uma pasta Sabemos muito sobre isso atualmente,
que tiveram uma boa
DESCOBERTA de laptop não é e não se pode negar a necessidade do
noite de sono se O ESTRESSE exatamente um sono. Virar a noite não ajuda. A tendência
lembraram de mais PREJUDICA O SONO. problema em que é aguentar o quanto puder e ficar se
informações. Quando E A PRIVAÇÃO DE muita coisa está vangloriando por isso, mas as pesquisas
controlamos o número em jogo. Quando demonstram que sua atenção aos detalhes
de atributos positivos e
SONO TRAZ TODOS OS falamos em “consultar será prejudicada e seu tempo de reação
negativos em um estudo EFEITOS NEGATIVOS o travesseiro”, será mais tardio. Sua resposta a estímulos
subsequente, constatamos POSSÍVEIS. geralmente estamos negativos também será mais emocional.
que os indivíduos que lutando com uma grande O sono o mantém estável, e quando
tinham desfrutado do sono escolha na vida, ou, não se dorme, as coisas degringolam
eram mais propensos a se digamos, uma decisão sobre rápido. Podemos observar isso em
lembrar das características positivas quem demitir. É possível que uma estudos de RMF (ressonância magnética
e menos inclinados a se lembrar das boa noite de sono seja melhor nessas funcional). Novas informações chegam
negativas. situações? ao hipocampo; se forem emocionais, a
É verdade que nossos sujeitos estavam amígdala é ativada também, e isso pode
O sono nos torna mais positivos? provavelmente um pouco em dúvida por desencadear uma reação exagerada.
Foi isso que tanto nos surpreendeu. não estarem de fato num ambiente de Mas o sono remove informações do
Muitos estudos demonstraram que compra, escolhendo pastas de laptop. hipocampo de modo que, quando você
lembramos mais coisas negativas depois O que desejamos fazer agora é colocar as acorda, começa zerado, e você está menos
de dormir. O que acontece é que muitos pessoas em situações reais — por exemplo, carregado para experimentar novos
daqueles estudos estavam comparando flagrá-las quando estão realmente fazendo desafios emocionais.
negativo com neutro, e não negativo com uma compra online de uma câmera
positivo. Assim, no contexto de tomada de —, em que há necessidades E tudo aquilo que se fala
decisão, talvez o sono faça com que nos concretas e informações da luz azul das telas? Ela
concentremos no lado bom. que podem afetar a está prejudicando nosso
qualidade da decisão. DESCOBERTA sono?
Por que as pessoas que se lembraram Mas o quadro é mais O SONO REMOVE Há um pouco de
mais das coisas boas estariam menos complicado quando INFORMAÇÕES DO exagero. Quando se
tratamos de decisões dorme, toda luz é
satisfeitas com suas escolhas?
Pode ser mais difícil tomar decisões mais relevantes, como
HIPOCAMPO, ASSIM ruim; só que a azul é
quando se compara coisas boas do demitir pessoas. Talvez ACORDAMOS um pouco pior. Mais
que quando se compara o bom com uma decisão ocorra após ZERADOS. importante é a ideia
o ruim. Suspeito que as pessoas se várias noites de sono. É de que a luz solar é boa.
sintam ambivalentes, pois após terem muito processamento e Quando você está sentado
decidido, pensam nas coisas boas que muita mudança para a memória numa sala de reunião sem
não escolheram. Pode ser — e isso é algo de longo prazo. Mas se é verdade janelas, está perdendo melatonina
a investigar — que quando perguntamos que a tendência é lembrar-se mais das ao poucos. Está esgotando seu estoque,
a elas, sentiam que tinham tomado uma coisas positivas depois do sono, pensemos de modo que, no fim do dia, ela não
má decisão, mas com o tempo poderiam na decisão de demitir alguém. Ela se torna estará lá e você não sentirá sono. Se você
chegar à conclusão de que era uma boa cada vez mais estressante, pois estamos trabalha num escritório, precisará se
decisão. comparando coisas positivas. Posso expor a mais luz solar durante o dia.
imaginar como isso pode levar a uma
Gostaria de achar um jeito de utilizar satisfação menor com a decisão. Não decidi ainda se vamos usar ou
sua pesquisa para instituir sonecas não esta entrevista. Acho que vou
compulsórias no expediente de E se for acrescentado um prazo para consultar meu travesseiro.
trabalho. tomar a decisão? Ótimo! Quando acordar, se lembrará de
Estudamos muito as sonecas. Tirar uma Bem, o estresse prejudica o sono. E a todas as partes boas.
soneca é benéfico para adultos, assim privação de sono traz todos os efeitos
como para crianças pequenas. A diferença negativos possíveis. A combinação do Entrevistado por Scott Berinato
é que, nas crianças, a vigília é mais estresse causado por prazos e decisões HBR Reprint F1704B–P
Artigos
DOUG
BAKER
CEO DA ECOLAB
RICHARD ANDERSON
EX-CEO DA DELTA
Por isso, uma parte essencial dessa integração rápi- na organização, de segunda ou terceira geração”, diz
da (considerando que Anderson havia definido clara- ele. “Não temos regras em relação ao nepotismo, por-
mente que a Delta estava no comando) foi construir re- que gosto que indivíduos da mesma família trabalhem
lações sólidas com os empregados. Assim, ele procurou aqui”. Sua filosofia é que ter parentes de funcionários
maneiras de satisfazê-los e motivá-los a estar a serviço na Delta tende a aumentar a fidelidade. As pessoas con-
da empresa e dos clientes. E decidiu se concentrar em tratadas já chegam com certa compreensão e visão po-
atender às necessidades deles, tanto profissionais co- sitiva de como a empresa opera.
mo pessoais. A Delta ofereceu excelente treinamento,
horários flexíveis, aeronaves bem equipadas e de pri-
meira linha e bons hotéis para a tripulação. Os custos
eram relativamente baixos, principalmente em compa- ALAN MULALLY
ração com o combustível — e valeram a pena: ajudaram Quando ele assumiu o comando da Ford, em 2006, a
a reforçar a lealdade e a confiança. empresa estava à beira da falência e tinha perdido qua-
Compensar bem os empregados fez muita diferen- se 25% de sua cota de mercado desde 1990. Mas a ex-
ça — motivou o desempenho. “Você quer que sejam periência de gerir a Boeing durante um duro período
produtivos, trabalhem bastante e façam as coisas da de declínio permitiu que aprendesse a tomar decisões
melhor forma”, diz Anderson. “Mas em troca você tem difíceis e agir decisivamente durante uma crise. Em sua
de oferecer um sistema de benefício e de remuneração primeira reunião financeira na Ford, ele percebeu que a
realmente suficiente”. A Delta destinava por ano 10% organização tinha apenas alguns meses até que ficasse
dos seus lucros (antes de impostos e da remuneração sem dinheiro. Mulally inverteu o curso da empresa: no
de administradores) para bonificação dos funcionários. momento em que saiu, em 2014, a Ford relatava lucros
Um ano após a fusão, a companhia aérea decidiu inves- por cinco anos seguidos e o preço das ações havia sal-
tir 15% do capital da empresa em um plano de ações tado significativamente.
(Esop, na sigla em inglês) para pilotos, tripulações de Contudo, o desafio que enfrentou não foi apenas fi-
voo e equipe de suporte e de solo. A compensação mais nanceiro. Para restabelecer a empresa, ele decidiu levar
elevada indicava que a gestão se preocupava com os a equipe de gestão a trabalhar de forma mais colabo-
empregados, o que alimentava ainda mais a cultura de rativa. Agressividade e crueldade eram notórias entre
confiança. os funcionários. Executivos de diferentes unidades es-
Ele também reconheceu que os funcionários têm condiam informações uns dos outros. Mulally afirma
necessidades específicas. Considere quem trabalha que, quando assumiu, a Ford era como um “grupo de
com equipamentos no segundo turno. “Está 10 graus empresas separadas”. As unidades produziam diferen-
abaixo de zero, e com nevasca, agora de manhã em Mi- tes carros, direcionados a mercados distintos, e ope-
neápolis, e eles têm de fazer seu trabalho”, diz Ander- ravam de forma independente — isso reforçava uma
son. “Precisam subir no carro de degelo, tirar a neve da mentalidade defensiva e gerava enorme desperdício.
aeronave e passar pelo portão”. Com base em sua experiência na Boeing, Mulally
A aposta de Anderson de atender às necessidades instituiu reuniões periódicas em que executivos de vá-
dos empregados parece ter transformado a preocupan- rios níveis se reuniam para compartilhar atualizações
te dinâmica “nós contra a gestão”. Dois anos depois que de suas unidades. Eles usaram um sistema de cores
assumiu o cargo de CEO, os trabalhadores votaram pela (verde para adequado, amarelo para cautela e verme-
dispensa dos sindicatos (exceto os pilotos, que ganham lho para problema) para avaliar o desempenho global da
influência do setor por fazer parte de um sindicato, o Ford em diversas iniciativas, de forma rápida e holística.
que os deixa em pé de igualdade com os seus pares em No auge das dificuldades da empresa, o grupo se
outras companhias aéreas). Hoje a Delta é a única gran- reunia diariamente. Mulally esperava que as reuniões
de empresa aérea fora do Oriente Médio que permanece pudessem ajudar a identificar problemas antes de se
pouquíssimo sindicalizada. tornarem irreversíveis e incentivar executivos a com-
Quanto mais felizes estão os funcionários, mais partilhar ideias e apoiar uns aos outros. Ele queria tam-
tempo querem ficar. A cultura de carreira ficou ain- bém promover a responsabilidade pessoal. Os gerentes
da mais forte, o que Anderson enxerga como algo po- tinham de explicar os contratempos que enfrentavam
sitivo. “Temos diversos empregados de 40 ou 45 anos e o progresso que faziam.
Desafio comercial:
recuperar um fabricante global
à beira da falência
Alavancas puxadas:
aumentou a transparência entre os chefes de
unidade e simplificou processos de negócios
Mudança cultural:
de unidades de negócio defensivas e
discrepantes para cooperativas e conectadas
DAN
VASELLA
EX-CEO DA NOVARTIS
DESAFIO COMERCIAL: GESTÃO DE PORTFÓLIO MAIS DIVERSIFICADO DE PRODUTOS E CLIENTES ALAVANCAS PUXADAS: FORMULOU
VISÃO, METAS E EXPECTATIVAS CLARAS E DESCENTRALIZOU A TOMADA DE DECISÃO MUDANÇA CULTURAL: DE FOCO LIMITADO E
BUROCRÁTICO PARA UMA ORGANIZAÇÃO CENTRADA NO CLIENTE, ENXUTA E VOLTADA PARA A EFICIÊNCIA
Whitman não era uma candidata óbvia para o Whitman conversou com o editor-chefe da HBR,
cargo. Ela havia sido CEO da eBay entre 1998 e 2007, Adi Ignatius, sobre liderança, gênero e os desafios de
época em que ganhou muitos elogios pela condu- reviver um ícone instável. Confira trechos da conversa.
ção bem-sucedida da empresa, que passou de uma
startup de 30 pessoas para uma potência de capital HBR: A divisão da HP envolveu grandes custos e mui-
aberto. Mas, então, ela migrou para a política, gas- tas demissões. Como saber que valeu a pena?
tando grande parte de sua fortuna numa infrutífera Whitman: A separação será considerada um sucesso
corrida para governadora da Califórnia. Ela também se as duas empresas prosperarem e se tornarem líde-
participou de alguns conselhos, incluindo o da HP. res no setor. Já posso ver diferença na forma de exe-
Quando Apotheker foi demitido após apenas 11 meses cução. Dion Weisler, CEO da HP Inc., está focado em
no cargo, em parte devido à sua desastrosa decisão de seu negócio; e eu no meu. Eu costumava subestimar
comprar a empresa britânica de software Autonomy os benefícios de manter o foco, porque não se pode
(o que resultou em uma perda de US$ 8,8 bilhões), colocá-lo em um modelo de fluxo de caixa. Mas che-
o conselho da HP pediu a intervenção de Whitman. guei à conclusão de que é um notável acelerador.
Em seus quatro anos e meio no cargo, Whitman
conseguiu recuperar a estabilidade. Mas a um alto Alguns investidores parecem céticos. O que não con-
preço. Ela presidiu as demissões de mais de 80 mil fun- seguem ver? Quando anunciamos a divisão, o preço
cionários. No fim de 2015, liderou a divisão da HP em das ações, na verdade, subiram, porque os investido-
duas novas sociedades de US$ 50 bilhões. Agora, ela é res entenderam que havia sido negociado com um
CEO da Hewlett Packard Enterprise, que se concentra desconto conglomerado. Mais recentemente, os valo-
em prestação de serviços e softwares, e presidente da res das ações ficaram sob pressão, como todos os ou-
HP Inc., que cuida dos computadores pessoais e dos tros. Mas não avalio o sucesso da separação de acordo
negócios de PC. com o preço atual das ações ou o valor da próxima
A era Whitman na HP
A Hewlett-Packard tem passado por grandes mudanças desde
que Meg Whitman assumiu o comando, há menos de cinco anos.
SET DE 2011: OUT DE 2011: ABR DE 2012: MAI DE 2012: FEV DE 2013: ABR DE 2013:
Whitman é Conclui a Introduz Divulga seu Lança a nova série Introduz o
nomeada compra da reciclagem primeiro centro HP Officejet Pro X, Moonshot,
CEO Autonomy por gratuita de de dados reconhecida pelo primeiro
US$11,1 bilhões eletrônicos na net-zero-energy Guinness World servidor
Staples para Records pelo definido por
todas as Anuncia os tempo mais rápido software
marcas planos de demitir de impressão do mundo
aproximadamente entre impressoras
27 mil desktop coloridas
funcionários de escritório
MAI DE 2014: JUN DE OUT DE 2014: ABR DE 2015: MAI DE 2015: SET DE OUT DE 2015: NOV DE 2015:
Lança o Helion, 2014: Revela a fusão entre Anuncia a Adquire a Aruba 2015: Faz a Faz a divisão
um portfólio Sprout e Multi Jet alienação Networks para a Anuncia desapropriação entre Hewlett PREÇO
Aumenta DAS AÇÕES
de produtos de a meta de como parte de seu da Snapfish rede de campus e a 30 mil da Tipping Packard DA HP INC.
computação em demissão novo “ecossistema (adquirida ConteXtream para novas Point Enterprise e A PARTIR DE
18 DE
nuvem de código para 50 mil de realidade em 2005) virtualização de demissões HP Inc. MARÇO:
aberto e serviços misturada” função de US$ 12,20
para empresas rede
HEWLETT
PACKARD
ENTERPRISE:
US$ 17,35
da empresa. Tínhamos algumas chances de fazer de 5%. Quando há declínio das receitas, precisamos
uma transformação. Então, partimos nessa jornada, gerenciar a estrutura de custos de maneira bem agres-
que, segundo minhas previsões, levaria cinco anos. siva para expandir as margens e economizar o neces-
Eu disse: “Quais os valores centrais da empresa? sário para investir e corrigir as falhas da empresa. Em
Devemos identificar o que fazemos de melhor e con- seguida, tivemos de reacender o motor da inovação.
tinuar fazendo — essa será a nossa âncora de trans- Estávamos para trás em algumas das tecnologias mais
formação. Daí em diante, vamos elaborar uma lista do recentes, porque pesquisa e desenvolvimento (P&D)
que precisa ser corrigido”. Então, nós nos voltamos vinha sendo cortado ano após ano. Nos últimos qua-
para nossos princípios fundamentais e fundadores e tro anos, embora tenhamos reduzido o número de
a empresa respondeu. pessoas e feito difíceis escolhas estratégicas, aumen-
tamos os gastos com P&D.
Você mencionou o papel do conselho. Mas um dos
maiores problemas foi a compra malfadada da Que inovações específicas a HP desenvolveu nos úl-
Autonomy, que os conselheiros tinham aprovado. timos anos? Nosso Gen9 é o servidor mais vendido
Até que ponto eles foram responsáveis pela mesma do mundo e tem significativamente mais funções e
situação que tentavam consertar? O conselho mu- funcionalidades do que o Gen8. Nosso armazena-
dou muito após a saída de Mark Hurd, em 2010. mento all-flash, o 3PAR, cresce a três dígitos. Além
Aproximadamente metade dos conselheiros atuais é disso, somos um reconhecido líder de inovação
nova. É verdade que estão a serviço da empresa, fa- em redes. A máquina é o maior projeto de pesquisa
zendo sua supervisão. Mas, se você não tiver o CEO do Laboratório da Hewlett Packard, que pretende
certo, não há nenhuma chance. Assim, o conselho reinventar a computação em termos de desempe-
sentiu que precisava substituir Léo depois de apenas nho, eficiência energética e segurança. E no lado da
11 meses. Foi muito difícil: metade dos diretores não HP Inc., recentemente a equipe introduziu a nossa
o havia escolhido, metade sim. visão para o futuro da computação e impressão 3-D
com o ecossistema de realidade misturada.
Como se explica o desastre com a Autonomy? Não
havia nenhum sinal de perigo? Foi uma deturpação fi- A HP recebeu crédito suficiente por ser inovadora?
nanceira. Trata-se de uma organização que havia sido Talvez não na imprensa generalista, mas olhe para
auditada por uma empresa muito respeitável. Um dos a Gartner e IDC. A Gartner produz o relatório Magic
benefícios de comprar uma empresa pública é saber
que as finanças foram auditadas. Mas, se os registros
são mal representados, fica muito difícil descobrir
isso, talvez até mesmo para um escritório de auditoria.
Quer dizer, qual é o seu “iPhone”? Sim, qual é o “A autêntica liderança” é uma expressão bastante
nosso iPhone? Qual é o nosso Amazon Web Services? utilizada. O que ela significa para você? Você deve
Inovações como essa são poucas e distantes entre si. ser exatamente quem você é, porque no fim das
Minha opinião é que temos de construir nossa repu- contas as pessoas vão perceber se sua liderança é ge-
tação a cada produto e serviço — temos de bloquear, nuína. Para mim, trata-se de comunicação muito sim-
combater e entrar no quadrante líder. Não há nenhum ples e direta. Nosso setor tende a usar muito jargão
big bang nem produto que vai gerar US$ 30 bilhões tecnológico, o que torna as coisas mais complicadas
em receitas em curto prazo, mas fizemos um enorme do que o necessário. Numa empresa deste tamanho,
progresso em cada um dos nossos negócios. é preciso falar claramente e explicar os objetivos de
modo que as equipes possam dizer o que acontece
Como você definiria os princípios fundamentais da HP, aos clientes e parceiros e uns aos outros.
pelo menos antes da divisão? É muito difícil destruir o
DNA fundador. E isso é uma coisa boa para a HP. Dave Você precisa ser você mesmo, claro, mas precisa
Packard e Bill Hewlett permaneceram na empresa por também desempenhar o papel de líder, não? Você
muitos anos. Houve muitas aquisições, mudanças. deve deixar claro que acredita que vai alcançar seu
Mas os valores fundamentais ainda se revelam pela objetivo. E eu realmente acreditava nisso. Às vezes
capacidade de fazer incrível inovação; paixão pelo era difícil. Mas você precisa transpirar confiança.
suporte e serviço ao cliente; pelo retorno para a comu- Você deve celebrar as vitórias ao longo do caminho.
nidade. Dave e Bill eram líderes de responsabilidade Aprendi isso na eBay, que criou valor em torno da
social e ambientalistas quando esses termos sequer transparência. Pierre Omidyar, seu fundador, disse
existiam. Podemos ter passado por alguns momentos que devemos operar no mercado de forma clara e que
difíceis, mas vamos reforçar esses valores. a cultura organizacional precisa ser a mesma, porque
os compradores e os vendedores percebem quando
O que ainda precisa ser mudado? Há coisas que que- operamos internamente de forma diferente.
remos melhorar. Precisamos intensificar o nosso
senso de urgência. A empresa perdeu parte de sua ou- A reviravolta na HP terminou? Parcialmente. A divi-
sadia, como se envolver com as dificuldades, atender são só foi possível por causa do sucesso da reviravolta
em 24 horas, resolver em 48. Então decidimos traba- na nossa jornada. E a decisão de separar tem o obje-
lhar muito duro para resgatar o senso de urgência e tivo de causar aceleração. Ficamos assim por quatro
agir com audácia. Nosso negócio não é nada fácil. Em anos e agora temos duas empresas. Há mais trabalho
geral, os problemas dos clientes não melhoram com a a fazer em ambas. A Hewlett Packard Enterprise vai
idade, mas sim quando decidimos corrigi-los. crescer em vários mercados este ano. A HP Inc. tem
alguns desafios porque os mercados de PC e impres-
LIDERANDO UMA REVIRAVOLTA sora são difíceis. Mas está ganhando participação. E
Você teve dificuldade para liderar e inspirar quando tudo que podemos pedir de uma empresa em um
presidia uma virada que incluiu a demissão de deze- mercado em declínio é ganhar quota.
nas de milhares de pessoas? A primeira coisa a fazer
era afirmar que isso era uma reviravolta. Eu disse UMA FILOSOFIA DE LIDERANÇA
qual era o problema e expliquei o que faríamos para Vamos falar mais sobre a sua experiência na eBay.
Você conduzia uma empresa relativamente peque- conduzem uma organização de US$ 110 bilhões. Tudo
na, ainda no começo, em crescimento. O que levar leva mais zeros, é mais complexo, há mais países en-
dessa experiência? Acredito muito na liderança de volvidos, mais jurisdições fiscais. Aprendi a enfrentar
acordo com a situação. No caso da HP, foi uma re- esta complexidade. Segundo: comunicação. Não sei
viravolta. E na eBay, uma história de crescimento. se teria sido bem-sucedida na Hewlett-Packard se ti-
O desafio na eBay foi descobrir uma forma de nos vesse vindo direto da eBay. Esses dois anos e meio em
manter com uma taxa de crescimento mensal com- que me envolvi com a candidatura para governadora
posta de 70%. Mas os princípios de liderança eram os fizeram uma grande diferença. Minhas habilidades
mesmos: estratégia clara, bem comunicada e calcu- de comunicação melhoraram muito. Quando você
lada. Celebrar as vitórias e manter as pessoas respon- tenta fazer uma reviravolta e liderar pessoas, não se
sáveis pelos resultados. Quando você é CEO de uma trata apenas de fatos e números. Tendemos a encarar
empresa com 30 pessoas que cresce para 15 mil, como o cenário com racionalidade: este é o mercado total
a eBay, precisa continuar a se reinventar durante a disponível, aqui está a nossa quota de mercado, este é
expansão. o retorno sobre o capital investido. Mas quando você
faz uma reviravolta numa empresa desta dimensão,
Soa como se você tivesse uma filosofia de liderança. trata-se das histórias que você conta. Aprendi isso na
De onde vem isso? A Harvard Business School pro- campanha eleitoral — talvez tarde demais, alguém
vocou um grande impacto em mim. Mas devo isso poderia dizer. Há sempre a possibilidade de ser can-
principalmente à experiência. Hoje, ainda continuo didata a governadora. Acho que não.
a fazer o que aprendi na Procter & Gamble há 30
anos. Trabalhei na Bain, Disney, Hasbro, FTD, Stride O que mais precisou aprender? Fiquei muito mais
Rite, eBay e Hewlett-Packard. Sou o produto de uma resistente, o que me ajudou bastante porque recebi
grande variedade de experiências, em diversos seto- muitas críticas quando fui nomeada CEO da HP. Você
res e em situações de negócio bem diferentes. passa por testes. Em comparação com a época em
que concorria a um cargo público, lidar com críticas
Cite algumas regras básicas que aprendeu ao longo na HP era fácil.
do caminho. Primeiro, é preciso entregar resultados.
Você deve cumprir promessas para ganhar credibili- Você costuma ler notícias a seu respeito? Tenho uma
dade dentro da organização, com clientes e parceiros. equipe que me diz se há algo que preciso saber. Se há
Segundo, você precisa das pessoas certas, nos lugares um tema recorrente, é preciso prestar atenção. Mas,
certos, na hora certa e com a atitude certa. Isso parece de fato, não tenho o hábito de ler isso. Quando con-
fácil, mas não é. Na eBay, alguém que era excelente corri para governadora, costumava acompanhar a im-
quando a empresa valia US$ 40 milhões não era tão prensa. Um erro, provavelmente.
bom quando ela cresceu para US$ 4 bilhões. E a ati-
tude faz uma diferença enorme: você quer ver aquele Do que um CEO realmente precisa para se concen-
entusiasmo que faz enxergar o copo meio cheio. trar? Primeiro, a estratégia certa. Uma execução não
Foram muitos anos para construir a dinâmica que eu tão perfeita, mas com a estratégia certa, provavel-
queria na equipe da Hewlett-Packard. mente vai funcionar. Uma excelente execução com
uma estratégia errada, não. O próximo passo é colo-
O que não compreendeu bem inicialmente? Já disse car as pessoas certas. E em grande escala, você não
isso muitas vezes, mas você sempre pode se mover tem escolha a não ser instrumentar o negócio. Era
mais rápido do que pensa para deixar a equipe no lu- diferente na eBay. Eu estava com 30 funcionários e
gar. Aprendi esta lição muitas vezes na minha carreira. por fim tive uma intuição — eu quase podia sentir o
Alguns CEOs podem querer uma dinâmica diferente que estava errado no negócio. Eu podia ter algumas
da minha, mas o ponto é acertar rápido. Costumamos conversas, analisar alguns números de alto nível
ficar hesitantes para nos mover com a agilidade ne- e, então, eu saberia. Mas na HP você precisa ter um
cessária. Eu gostaria de ter me movido com maior plano e mensurar. Você não consegue o que espera,
rapidez. mas o que verifica. Em expansão, você não pode sim-
plesmente sentir, necessita de métricas. Monitoramos
Que novas habilidades de liderança aprendeu na HP? tudo. Assim, quando algo sai do trilho, temos condi-
Primeiro, a empresa é enorme. Pouquíssimas pessoas ção de identificar com rapidez.
A CRIAÇÃO DA CULTURA
ORGANIZACIONAL DE RESILIÊNCIA
Dada a importância geralmente reconhecida de criar
culturas organizacionais de resiliência, a pergunta que
surge é como isso pode ser feito.
O IOM considerou a questão e afirmou que, entre
outras táticas, culturas organizacionais de resiliência
podem ser criadas por meio de práticas de liderança
(que fomentem a resiliência nos demais). O relatório maior, polegares opositores e esse impulso biológico
afirma que: por coesão social, isto é, o impulso por pertencer a um
1. “Líderes resilientes podem criar o ‘momento de- grupo (ser parte de algo maior que o indivíduo). A his-
cisivo’ que muda toda uma cultura”. tória nos ensina que há segurança, força e criatividade
2. “Desenvolver líderes resilientes aumentará a re- superior derivadas de grupos sinergéticos.
siliência da mão de obra que eles administram”. Nos seres humanos, o impulso por afiliação/co-
3. “Práticas de liderança resiliente servem como cata- nexão pode se manifestar em diferentes maneiras de
lisadores que inspiram os demais a demonstrar resistên- colaboração e confiança interpessoais, treinamentos,
cia e resiliência e a superar suas próprias expectativas”. realizações coletivas, e até mesmo brincadeiras. Esse
impulso é descrito por Henry e Stephens como o “ci-
FATORES QUE CRIAM UMA CULTURA mento da sociedade”. Eu o vejo como o cimento bioló-
ORGANIZACIONAL DE RESILIÊNCIA gico da organização.
O estudo da neurociência oferece insights acerca de Ao que parece, a resiliência dentro de uma empresa
como líderes/gestores podem promover a resiliência é primordialmente estimulada pela coesão organiza-
naqueles que fazem parte de sua organização. A neuro- cional. Coesão organizacional é o grau que demonstra
ciência nos dá insights que nos auxiliam não só a supe- quanto cada membro da organização está “ligado” a
rar as barreiras para atingir a resiliência, mas a fortale- ela como um todo. Afiguram-se sete elementos-chave
cer os laços de dedicação, confiança e lealdade, fatores de conexão que servem como uma “cola” para a coe-
que tipificam culturas organizacionais de resiliência. são organizacional.
1. A dificuldade de conseguir permissão pro-
move uma ideia de exclusividade. A dificuldade de
ÀMEDIDAQUEOSMERCADOS se tornar membro de uma organização faz com que as
pessoas se sintam especiais.
O
EFEITODO
ESCÂNDALO
Quando as empresas cometem delitos, os executivos
são prejudicados pelo mercado de trabalho —
mesmo que não tenham envolvimento no caso.
BORIS GROYSBERG, ERIC LIN,
GEORGE SERAFEIM E ROBIN ABRAHAMS
FREDRIK BRODEN
44 HARVARD BUSINESS REVIEW ABRIL 2017
ABRIL 2017 HARVARD BUSINESS REVIEW 45
O EFEITO DO ESCÂNDALO
EM
setembro de 2015 , houve uma denúncia de que,
intencionalmente, a Volkswagen havia colocado dispositivos
de controle em seus motores diesel para adulterar os níveis de
emissões. Cerca de 11 milhões de veículos no mundo tinham um
programa “subversivo” instalado. A descoberta levou a uma imediata queda
no preço das ações da Volkswagen, a investigações do governo na América do
Norte, Europa e Ásia, à renúncia do CEO e suspensão de outros executivos, uma
perda recorde em 2015 e uma conta estimada em US$ 19 bilhões para corrigir
o problema. O escândalo causou um dano incalculável à marca Volkswagen.
Suponha que você é engenheiro no México, executivo dez anos antes do início do problema. O cliente da
de RH nos Estados Unidos ou expert em logística na Po- headhunter, relutou durante algum tempo em mar-
lônia. Você trabalhou na Volkswagen de 2004 a 2008, car uma entrevista com o candidato. “É arriscado
antes de os novos controles de emissões serem instala- demais”, declarou finalmente. “Mesmo que o candida-
dos, e nunca trabalhou nas divisões que criaram o pro- to tenha ficado fora do banco por dez anos, não posso
grama fraudulento. Tempos depois, você começou a se incluí-lo nessa prospecção.”
sentir insatisfeito no emprego e pensou na possibilida- Uma porcentagem surpreendentemente alta de pro-
de de mudar. Sua associação de tanto tempo com a VW fissionais está vulnerável a esse tipo de viés. Em nossa
não seria um problema — certo? amostra de executivos que mudaram de emprego, 18%
Errado. Nossa pesquisa mostra que executivos em tinham trabalhado em empresas envolvidas em escân-
cujo currículo aparecem empresas contaminadas com dalos financeiros. Obviamente, se as empresas que não
um escândalo são prejudicados no mercado de traba- se envolveram em escândalos financeiros — questões
lho, mesmo que, claramente, não estejam envolvidos de segurança de produto, disputas trabalhistas, relacio-
no problema (ver quadro “Sobre a pesquisa”.) Em geral, namentos vergonhosos com clientes e assim por dian-
a remuneração desses executivos é aproximadamente te — fossem incluídas, a proporção seria ainda maior.
4% menor que a de seus colegas de mesmo nível. Con- Como o efeito do escândalo é duradouro, ele pode im-
siderando que a remuneração inicial num emprego in- pactar negativamente a mobilidade de emprego atual e
flui fortemente na remuneração futura, a diferença po- futura, mesmo que a pessoa esteja desligada da empre-
de se tornar muito significativa ao longo da carreira. sa há muito tempo. Esse risco não pode ser controlado,
Entrevistas com líderes seniores de empresas in- mas você pode e deve se preparar para ele.
ternacionais de colocação de executivos complemen- A imprensa especializada destaca vários escân-
taram nossa análise quantitativa e validaram nos- dalos que podem afetar a reputação de uma empre-
sos resultados. Uma empresa de headhunter euro- sa. Na lista da Fortune dos cinco maiores escândalos
peia relatou a dificuldade em recolocar um executivo de 2015, constam o da Volkswagen, a acusação da Fi-
que antes havia trabalhado num banco recentemen- fa pelo FBI, os problemas contábeis da Toshiba, o re-
te envolvido num escândalo, apesar de ele ter saído lacionamento secreto da Valeant com a empresa
tirar vantagem financeira da situação. Empresas estig- — uma espécie de culpado por associação. E, no caso
matizadas podem ser ridicularizadas na mídia, ter suas da pesquisa, os participantes se mostraram menos dis-
doações assistenciais rejeitadas, ver o moral dos fun- postos a aceitar um agasalho que pertenceu a um as-
cionários despencar e vivenciar um êxodo de talentos. sassino serial.
E o estigma organizacional é contagioso, não só para É difícil julgar os outros com precisão. O estigma or-
os funcionários, mas às vezes até para outras empre- ganizacional pode também afetar negativamente pes-
sas do mesmo setor corporativo que não cometeram soas inocentes porque é muito difícil avaliar com preci-
nenhum deslize. são alguém que você não conhece. Os recrutadores ge-
Por que o estigma é tão pegajoso — tão difícil de der- ralmente utilizam atalhos cognitivos, heurística e es-
rubar e tão fácil de disseminar entre pessoas e grupos? tereótipos — consciente ou inconscientemente — para
Eis alguns motivos. avaliar os candidatos. A informação negativa e os este-
reótipos exercem influência desproporcional.
Uma gestora de contratação pode utilizar o proces-
problemas de segurança dos alimentos havia anos, dessas referências diretamente. Além disso, eu certa-
muitos clientes permaneceram absolutamente fiéis ao mente recomendaria uma checagem do background
produto. Considerando que o desejo de evitar uma do- por terceiros, bem como um atestado padrão de ante-
ença é uma razão psicológica fundamental para a estig- cedentes criminais.”
matização, a fidelidade dos clientes da Blue Bell sugere Como eles entendem as preocupações de seus
que ainda temos muito a aprender sobre como as orga- clientes, recrutadores podem ajudar os candidatos
nizações se tornam estigmatizadas ou não. a montar uma história completa, clara e sucinta para
facilitar a contratação. Um headhunter que recrutou
A RECUPERAÇÃO o CFO de uma empresa associada a um escândalo pa-
Como sobreviver a um escândalo corporativo? Os ra outra instituição financeira descreveu o processo:
insights de nossa pesquisa de campo sugerem três “O candidato passou um tempo enorme me ajudando a
passos: entender e esclarecer que os escritórios sobre os quais
Honestidade. A verdade é a melhor amiga do ino- ele era responsável não estavam entre os que, em ou-
cente. A transparência e completa exposição dos fatos tros países, inflaram o balancete da empresa”.
são elementos-chave para sobreviver a um escândalo Reputação. De acordo com Goffman, o estigma
corporativo. Recrutadores afirmaram que os funcioná- funciona como uma espécie de falência da reputação,
rios de empresas envolvidas em escândalos são os que na qual o eu real não consegue cumprir as promessas
devem trazer a questão à tona. implícitas do eu virtual. O melhor caminho para um
Em geral, recrutadores fazem uma due diligence executivo estigmatizado pelo escândalo é se apropriar,
maior com candidatos de empresas envolvidas em por assim dizer, da reputação e legitimidade de outra
escândalo. “Além de fazer o processo padrão 360, é pessoa. Os executivos com grandes redes externas de
provável que conversemos também com outras pes- relacionamento, ou que atuam em campos que enfati-
soas”, comentou um recrutador. “Em média, num zam as reputações individuais, conseguem obter essa
processo regular, conversamos com cinco a oito refe- cobertura graças aos seus relacionamentos.
rências. Talvez precisemos consultar de oito a dez pa- Para muitos outros, a empresa de prospecção de exe-
ra ficarmos seguros em relação a profissionais ligados cutivos pode servir tanto como referência como de ga-
a uma empresa envolvida em escândalo. Se eu for rantia. Na verdade, a importância da pesquisa que essas
cliente, posso até querer conversar com algumas companhias fazem está não só em explorar informação,
os setores — portanto, só podem ser resolvidos por es- social. E podem ganhar muito quando novas oportu-
forços coordenados de empresas, agências governa- nidades econômicas surgem como resultado do pro-
mentais, organizações de caridade e populações afeta- gresso social.
das. Isso exige nada menos do que uma mudança na
forma como o sistema opera. Esforços de impacto co- OS ELEMENTOS DE IMPACTO COLETIVO
letivo mostram progressos significativos em diversas Para que um esforço de impacto coletivo alcance seu
questões, como educação, moradia, delinquência ju- objetivo de mudança social em grande escala, é pre-
venil, drogas, obesidade infantil, criação de emprego ciso que haja cinco elementos: agenda comum, siste-
e poluição. ma de medição partilhada, atividades que se reforçam
Antes de fazer parte de alguma iniciativa de impac- mutuamente, comunicação constante e suporte de ba-
to coletivo, cada participante já terá vivenciado, em se de uma ou mais organizações independentes. Exa-
sua esfera individual, algum problema referente às minemos cada um.
questões acima apontadas. Ao reunir todas as partes Agenda comum. Os participantes devem chegar
relevantes e assegurar que os dados sejam recolhidos a uma visão comum para a mudança e uma aborda-
com rigor e compartilhados com cuidado, as iniciati- gem conjunta para uma solução. Isso não só ajuda a
vas de impacto coletivo permitem uma compreensão alinhar os esforços, mas também a definir o compro-
comum dos problemas sociais — eis o primeiro passo misso de cada organização, além de determinar como
para resolvê-los. Se uma iniciativa é bem-sucedida, ca- os dados serão compartilhados dentro e fora do grupo.
da entidade deve ser representada por altos dirigentes A agenda deve considerar a perspectiva e os interesses
com autoridade para executar a mudança dentro de de cada participante. Não surpreendentemente, che-
sua organização. É necessário incluir todas as comu- gar a um acordo entre as diversas partes interessadas
nidades afetadas e lhes dar poder. Qualquer análise de pode ser extremamente desafiador e exigir seis, 12 me-
dados ou ações propostas devem levar em conta suas ses de intenso trabalho, ou até mais.
perspectivas. Assim como as empresas não devem liderar ou
As empresas colaboram, e muito, com os esforços controlar esforços de impacto coletivo, não devem
de impacto coletivo. Elas sabem como definir e atin- tampouco impor uma agenda. Mas podem iniciar o
gir determinados objetivos dentro de sua limitação processo para chegar a uma, usando as relações para
de tempo e orçamento. Entendem gestão de mudan- reunir participantes-chave. O Closed Loop Fund, por
ça e a arte da negociação. E o pragmatismo empresa- exemplo, surgiu de uma longa campanha — incluindo
rial, a prestação de contas e a tomada de decisão orien- um encontro inicial de 30 empresas de bens de con-
tada por dados podem ajudar a lidar com a burocra- sumo — para alinhar vários partidos em torno de um
cia e com os desacordos ideológicos entre governos e entendimento comum do problema e de sua solução.
ONGs que não raro emperram iniciativas desta natureza. A ideia de um fundo de impacto social com capital de
Além dessas vantagens consideráveis, as empre- empresas participantes surgiu no primeiro encontro.
sas com flexibilidade e crescimento limitados por pro- No entanto, o desenvolvimento do business case le-
blemas sociais têm um motivo poderoso para iniciar vou oito meses de trabalho. Doug McMillon, CEO da
a mudança social. O senso comum diz que os gover- Walmart, desempenhou papel fundamental no lan-
nos e as ONGs são os catalisadores mais fortes do pro- çamento do fundo. Ele pediu a parceiros de grandes
gresso social, mas isso nem sempre é verdade. Em ge- empresas, como Procter & Gamble, PepsiCo, Unilever,
ral, os governos respondem apenas aos interesses dos Johnson & Johnson, Keurig Green Mountain e Coca-
mais poderosos e frequentemente ficam paralisados
por divisões partidárias. Algumas ONGs têm recursos
e poder para comandar a atenção de governos e cor-
porações globais, cujo envolvimento é essencial. Mas EMPRESAS QUE RECORREM AO IMPACTO COLETIVO
isso não significa que as empresas devam tentar con-
duzir ou controlar um esforço, mas sim dar o pontapé
PODEM TANTO COLABORAR COM O PROGRESSO
inicial. O impacto coletivo mobiliza recursos de mui- SOCIAL COMO ENCONTRAR OPORTUNIDADES
tas entidades, por isso as organizações não têm de ar-
car sozinhas com os enormes custos de transformação ECONÔMICAS ATÉ PARA OS CONCORRENTES.
58 HARVARD BUSINESS REVIEW ABRIL 2017
Cola, que se comprometessem publicamente com a resultados serão medidos e relatados. Isso ajuda a
participação. Outros oito meses de trabalho definiram formalizar a agenda comum e a estabelecer uma base
o modelo — uma estrutura limitada de parceria com coesa de metas e estratégias.
uma equipe de gestão de fundos no comando da re- CocoaAction, um grupo semelhante ao SAGCOT,
visão e do aconselhamento das aplicações na cidade, reuniu nove empresas de chocolate e numerosas orga-
além de um comitê de investimento independente e nizações parceiras para aumentar a produtividade agrí-
responsável por decisões de financiamento. Em outu- cola e o apoio comunitário na Costa do Marfim e em
bro de 2014, 18 meses após o impulso inicial, o fundo Gana. Levou dois anos para a criação da agenda, das
fechou sua primeira rodada de financiamento e come- metas e das medições. Assim como para o SAGCOT, o
çou a emitir pedidos de propostas. primeiro passo era reconhecer os desafios sistêmicos
Sistema de medição compartilhado. Os par- enfrentados pelos agricultores que operavam em ní-
ticipantes devem concordar com uma única e pe- veis de subsistência — e eram incapazes de investir
quena lista de indicadores que determinem como os em inovações e em práticas de saúde comunitária e
educação em prol da referida produtividade agrícola. projetos realizados. Que vão desde a coleta seletiva su-
Uma vez que o grupo concordou com o imperativo de pervisionada por municípios à fabricação e processa-
abordar tanto a produtividade agrícola como os proble- mento de material por operadores privados. E em re-
mas comunitários, foi possível construir um consenso lação à CocoaAction, os governos nacionais aprovam
sobre as medidas de desempenho. Em maio de 2016, as e ajudam a financiar intervenções específicas. Mars,
nove empresas lançaram um guia de métricas de prá- Nestlé e outros fabricantes de chocolate se beneficiam
ticas agrícolas e de avaliação de fertilidade do solo rico de décadas de pesquisas sobre botânica e dissemina-
em informações sobre material de plantio. Nesse guia ção. Cargill, Olam, Barry Callebaut e outros processa-
consta o número de crianças na escola e de mulheres dores de cacau e exportadores investem na capacidade
que participam de atividades de geração de renda. das cooperativas. E a International Cocoa Initiative, a
Fortalecimento de atividades mútuas. É claro CARE e outras ONGs cuidam dos sistemas de monito-
que o impacto coletivo não exige que todos os partici- ramento de mão de obra infantil.
pantes façam as mesmas coisas. Os diversos interessa- Comunicação constante. A construção da con-
dos se envolvem em atividades inter-relacionadas. Ca- fiança entre ONGs, governos e empresas concorrentes
da empresa se concentra no que pode fazer melhor. não é fácil, mas é imprescindível para coordenar ob-
A experiência com cadeias de fornecimento e dis- jetivos comuns. Deve ter, como base a comunicação
tribuição contribui para um fecundo intercâmbio en- constante e a consistência nos compromissos. Ambas
tre empresas das mais diferentes áreas, o que permite possibilitam superar até mesmo desconfianças de lon-
uma excelente coordenação de numerosas atividades. ga data, além de consolidar a legitimidade, intensificar
No SAGCOT, a visão de longo prazo determinou a o poder de ação e estimular a aprendizagem.
sequência dos investimentos e das atividades, come- Empresas são especialistas em mandar mensa-
çando com amplas melhorias de infraestrutura. Me- gens de forma eficaz para diversos públicos e contam
lhores estradas e um porto mais eficiente precederam com sofisticadas equipes de comunicação interna. O
os investimentos em transporte refrigerado para au- SAGCOT, o Closed Loop Fund e a CocoaAction se be-
mentar a produtividade. O governo da Tanzânia dei- neficiaram de eventos de alto nível criados por gran-
xou de proibir a exportação, cortou impostos sobre des empresas.
equipamentos de irrigação, eliminou taxas de colheita, O SAGCOT, membro do World Economic Fo-
gerou novos planos de uso da terra e gastou US$ 211 mi- rum, ganhou exposição e compromisso na conferên-
lhões na modernização do porto. As agências de apoio cia anual do fórum em Davos, Suíça. A Walmart usou
financiaram a reparação de estradas e facilitaram a a posição privilegiada do CEO na Sustainable Pro-
abertura de cooperativas de agricultores. A Yara cen- duct Expo, de 2014, em Bentonville, Arkansas, pa-
trou seu investimento direto em infraestrutura portuá- ra recrutar fornecedores para o Closed Loop Fund. E
ria e redes de agronegócio — suas áreas de especialida- a CocoaAction usou a Barry Callebaut’s Annual
de. Para ajudar a coordenar a iniciativa, baseou-se em Chocovision para mobilizar parceiros e exercer pressão
sua experiência com os mercados agrícolas mundiais e para diversas iniciativas rumo às mudanças.
em seu trabalho na Tanzânia e em outros países africa- No nível operacional, cada grupo emite atualiza-
nos em conjunto com a UN Millennium Project’s Hun- ções regulares e agenda de reuniões com seus grupos
ger Task Force e a Tanzanian Agricultural Partnership. de trabalho e investidores. O SAGCOT promove um
Para o Closed Loop Fund, os problemas na cadeia fórum de parcerias anual e reuniões de grupos regio-
de valor da reciclagem das cidades determinaram os nais mais frequentes, enquanto o Closed Loop Fund e a
CocoaAction convocam esses tipos de encontro a cada
trimestre. A comunicação do fundo costuma utilizar
os conhecimentos técnicos das empresas. Por exem-
NOS ESFORÇOS DE IMPACTO COLETIVO, OS plo, na medida em que os investimentos possibilitam
SE CONCENTRA NO QUE PODE FAZER MELHOR. em cadeias de fornecimento de embalagem — o que re-
quer profunda compreensão não só das especificações
de qualidade e quantidade como também das barreiras Juntos, esses cinco elementos — simples de descre-
geográficas e das restrições de transporte. ver, mas imensamente desafiadores de implantar —,
Suporte de base. É preciso que uma equipe sepa- podem garantir que as centenas de organizações que
rada e financiada de forma independente e dedicada abrangem populações afetadas por determinada ques-
à iniciativa — o suporte de base — guie a visão e a es- tão social trabalhem em conjunto de forma construtiva,
tratégia, apoie atividades, estabeleça práticas de me- apesar de perspectivas, culturas e ideologias tão dife-
dição comuns, influencie a vontade pública, promova rentes. Para concretizar esse potencial, o impacto cole-
a política e mobilize recursos. Essas atividades podem tivo requer um novo tipo de liderança, às vezes chama-
ser geridas por uma única organização ou divididas en- do de liderança de sistema. Nunca há apenas um líder
tre várias com diferentes competências. A função do de sistema. Vários representantes de diferentes círcu-
suporte de base garante que todos os grupos de traba- los eleitorais lideram em conjunto.
lho permaneçam alinhados e informados. As empresas Os líderes de sistema devem delinear suas próprias
não podem ser o suporte de base — elas não são agen- intenções e avaliar a situação geral para motivar todos
tes neutros. os participantes e criar confiança entre eles. Mesmo que
Entretanto, podem financiar o lançamento, dar su- sejam responsáveis perante suas próprias organizações
porte tecnológico para a comunicação online e ofere- e mantenham suas prioridades em mente, devem ajudar
cer mentoring ou coaching e, em alguns casos, introdu- os outros no grupo a entender como a saúde de todo o
zir Six Sigma e outros processos de melhoria contínua. sistema beneficia cada uma das partes. Ser líder de sis-
Embora a Yara tenha iniciado o corredor agrícola da tema requer persistência e capacidade de ouvir, além de
Tanzânia, ela teve o cuidado de evitar tomar posse ou ver a realidade pelos olhos de outros stakeholdes.
se responsabilizar pelos esforços. O suporte de base é Ron Gonen e Rob Kaplan são os cofundadores do
um departamento independente (o Centro SAGCOT) Closed Loop Fund. Gonen liderou o programa de reci-
cujo primeiro CEO era um ex-chefe do National Busi- clagem da cidade de Nova York. Antes disso, lançou a
ness Council, da Tanzânia, e cujo vice-CEO era um di- Recyclebank, empresa que já promoveu a reciclagem em
retor associado do World Economic Forum. Também mais de 4 milhões de lares dos Estados Unidos. Kaplan
cuidado e organizado de forma independente era o liderou os esforços da Walmart para reduzir as emissões
Closed Loop Fund. Os especialistas de reciclagem ti- de gases do efeito estufa de sua cadeia de fornecimen-
nham profundo entendimento da economia e das tec- to. Foi responsável também pelas embalagens sustentá-
nologias relevantes. A CocoaAction permitiu que a veis. Juntos, os dois são experientes em todos os aspec-
World Cocoa Foundation desse o suporte de base — os tos da cadeia de reciclagem e fornecimento de produtos
membros também eram muito experientes no desen- (da coleta municipal à de varejo, além do conhecimen-
volvimento agrícola e na política. As empresas líderes to relativo a negócios, organizações sem fins lucrativos e
mantêm a supervisão estratégica através da associação política). Isso lhes dá credibilidade e discernimento pa-
ao conselho da fundação. ra envolver todas as partes. A experiência intersetorial é
essencial aos líderes de sistema, pois permite falar a lín- contínuas vantagens. Considere a Novo Nordisk, líder
gua de cada setor e apreciar suas motivações. mundial na fabricação de insulina para controlar o dia-
A escolha da empresa pelo líder de sistema é funda- betes. Na década de 1980, a doença praticamente não
mental, tanto para trazer a empresa para a ação quanto era diagnosticada na China, portanto não era tratada,
para manter os outros parceiros focados na agenda co- apesar de quase 10 milhões de indivíduos afetados. Em
mum. Por exemplo, Kaplan, antes de tudo, fez a Wal- 2002, a empresa criou a World Diabetes Foundation e
mart entender a relação entre suas emissões e as fa- trabalhou com o Chinese Ministry of Health, a Chine-
lhas mais amplas do sistema de reciclagem. Em segui- se Academy of Sciences e outras entidades para treinar
da, fez entre os compradores de produtos da empre- mais de 200 mil profissionais de saúde e levar informa-
sa um trabalho de conscientização para que percebes- ção a mais de 2 milhões de pacientes. Também finan-
sem a economia que podiam fazer utilizando material ciou a pesquisa médica e uma campanha mediática pa-
reciclado. Isso foi fundamental para ajudar McMillon, ra combater o estigma social associado ao diabetes. Os
o CEO, a assegurar compromissos públicos de CEOs e esforços ajudaram a reverter o cenário de aproximada-
presidentes de outras corporações. mente 500 mil “anos de vida de incapacidade”.
Sem sombra de dúvida, as ações da Novo Nordisk
POR QUE AS EMPRESAS PERDEM A OPORTUNIDADE melhoraram as condições para todo fornecedor de in-
Apesar dos poderosos incentivos e da capacidade úni- sulina na China. Além disso, ao iniciar a mudança e a
ca para apoiar a mudança social em grande escala, as construção de um relacionamento próximo com for-
organizações raramente aceleram. Nossa pesquisa in- necedores, distribuidores, governo e outros agentes,
dica três obstáculos. a empresa garantiu um mercado de US$ 1,3 bilhão pa-
Questões de legitimidade. A confiança é uma ra si e ganhou vantagem de comando até hoje não en-
condição prévia para uma colaboração bem-sucedida. fraquecida por quem chegou depois. Atualmente, sua
E, embora muitas empresas sejam respeitadas, a pro- participação de mercado na China é de 59%. Os maio-
babilidade maior é que despertem desconfiança. Afi- res concorrentes globais, Eli Lilly e Sanofi, têm apenas
nal, estão em busca de lucro. Assim, podem ser consi- 15% e 5%, respectivamente. Da mesma forma, embora
deradas ilegítimas para iniciar o progresso social. a participação da Yara no SAGCOT tenha melhorado as
No entanto, organizações que têm como uma das condições para qualquer empresa de fertilizantes que
metas compartilhar valores e se envolver nos esforços opere na Tanzânia, a organização viu a sua participa-
do impacto coletivo reconhecem que a rentabilidade ção de mercado crescer de 35% para 52%.
de longo prazo depende de uma sociedade saudável. Justificativa de investimento. A maioria das em-
As estratégias visam alcançar resultados sociais rela- presas relega questões sociais à filantropia, à cidadania
cionados com as prioridades públicas, como os Objeti- ou aos departamentos de responsabilidade social, per-
vos de Desenvolvimento Sustentável, da Organização petuando a separação dos problemas sociais do núcleo
das Nações Unidas (ONU). das operações e da estratégia. Raramente examinam
E, como já dissemos, não lideram em nenhum sen- mudanças nas condições do ecossistema pelas rigoro-
tido convencional. Os participantes determinam cole- sas lentes de negócios que revelariam o seu significa-
tivamente a agenda e as ações a tomar. do para as perspectivas financeiras da empresa. Criar
A carona na competitividade. Quando uma em- valor compartilhado é uma estratégia que requer ex-
presa aperfeiçoa o ecossistema de mercado, acaba periência com questões sociais e negócios. Os projetos
aperfeiçoando também as condições para os seus con- devem estar sujeitos à mesma análise como qualquer
correntes. A Nestlé passou 40 anos trabalhando para outro investimento de capital. Se as empresas não ava-
aumentar a produtividade dos produtores de leite em liam com precisão o business case para esses projetos,
Moga, na Índia — os esforços que têm como uma das podem perder a justificativa para investir o financia-
metas compartilhar valores produziram um conjunto mento necessário e ter a atenção da gestão, o que po-
de prósperos concorrentes locais. Muitas empresas re- de exceder em muito os projetos filantrópicos ou a res-
lutam, compreensivelmente, em arcar com os custos ponsabilidade social corporativa comuns. No entanto,
quando os concorrentes também colhem os benefícios. se os projetos de valores compartilhados são bem-su-
Apesar da oportunidade de carona, as empresas cedidos, os retornos das mudanças nos ecossistemas
que criam valor compartilhado costumam gozar de podem ultrapassar os de investimentos equivalentes
que as organizações não hesitariam em fazer em pes- empresas. O custo não deve ser um problema se o
quisa e desenvolvimento ou de marketing. business case é bem compreendido: em todos os exem-
O impacto coletivo também requer visão de longo plos mencionados aqui, a empresa que deu o ponta-
prazo e compromisso com os recursos isolados da revi- pé inicial teve retornos econômicos substanciais e ge-
são trimestral ou mesmo anual. Flutuações orçamen- rou benefícios significativos para a sociedade com in-
tais intercalares podem minar o progresso constante e vestimentos de capital relativamente modestos. Mas
a confiança necessária para os esforços de impacto co- muitos executivos não têm a coragem e a visão de per-
letivo. Embora os custos totais do projeto possam ser correr o setor social, envolver-se abertamente com a
grandes, são arcados por muitos participantes, assim sociedade civil, compreender o business case e buscar
geralmente não aparecem como um fator significati- uma estratégia de longo prazo em cooperação com em-
vo nas demonstrações financeiras de qualquer grande presas, governo, instituições e outros agentes.
empresa e não devem afetar o desempenho de curto Liderar a mudança social trazendo valor para os
prazo, pelo qual os acionistas rigidamente responsabi- acionistas é imensamente desafiador. Resolver esses
lizam as empresas. No entanto, estas devem adaptar problemas pode levar anos. E os resultados não vão
seus investimentos à natureza e ao calendário das mu- aparecer nas metas de desempenho trimestrais, o que
danças que buscam. Se procuram resultados de lon- os gestores geralmente visam. Governos e ONGs nem
go prazo, por exemplo, os fundos separados para fins sempre são receptivos à liderança corporativa. No en-
especiais (como o Fundo de Ecossistemas da Danone) tanto, as empresas são atores essenciais, capazes de
pode ser o canal mais adequado para o investimento. despertar possibilidades de mudança em questões
que, por muito tempo, têm sido impermeáveis à inter-
PROBLEMAS SIMPLES devem ser passíveis de soluções venção. Sem essa participação, não vamos atender às
simples. Parcerias binárias com outras empresas, agên- expectativas de crescimento dos acionistas nem reme-
cias governamentais ou ONGs, muitas vezes podem diar as falhas sociais mais urgentes do mundo.
superar um ou alguns obstáculos no ecossistema local. HBR Reprint R1704E–P Para pedidos, página 10
No entanto, as principais empresas começaram a per-
ceber que a resolução de problemas sociais complexos MARK R. KRAMER é cofundador e diretor administrativo da
na raiz de falhas de mercado é frequentemente a úni- FSG, empresa global de consultoria de impacto social.
Membro sênior da Harvard Kennedy School e professor
ca forma de alcançar estratégias de valor compartilha- visitante da Harvard Business School. MARC W. PFITZER é diretor
do ambiciosas. Nessas situações, a capacidade de com- da FSG e coautor de “Inovação para o valor compartilhado”
preender e catalisar o impacto coletivo é essencial. (HBRBR, setembro de 2013). Nina Reichert, Helge Mahne,
Flynn Lund e Lolita Castrique, da FSG, ajudaram a conduzir a
Os maiores obstáculos a essa promessa de pro- pesquisa para este artigo. Algumas empresas aqui menciona-
gresso social e econômico têm origem nas próprias das são clientes da FSG.
SUA
EMPRESA
RESOLVE
BEM OS
PROBLEMAS?
Provavelmente sim, se seus gestores são como os das Em parte porque tendemos a complicar os proces-
empresas que estudei. Acontece que eles estão sem- sos de diagnóstico além do necessário. Muitos sistemas
pre pelejando não para resolver os problemas, mas para existentes — TRIZ, Six Sigma, Scrum e outros — são
descobrir quais são. Numa pesquisa em 17 países com bastante abrangentes. Quando adequadamente aplica-
106 executivos do C-level que representavam 91 em- dos, costumam ser poderosos. Mas sua própria eficácia
presas do setor público e do setor privado, descobri que os torna complexos e extremamente demorados para
85% concordavam plenamente que sua empresa diag- ser processados num dia de trabalho. As pessoas pre-
nosticava mal os problemas, 87% concordavam plena- cisam ser exímios diagnosticadores de problemas, não
mente ou apenas concordavam que essa falha implica- no seminário anual de estratégia, mas nas reuniões di-
va custos significativos e menos de 10% afirmaram que árias — por isso necessitamos de ferramentas que não
sua empresa não era afetada por essa questão. O padrão paralisem toda a organização num programa de treina-
é claro: movidos por uma tendência para a ação, os ges- mento durante semanas.
tores tendem a mudar rapidamente para o modo solu- Porém, mesmo quando são aplicados mecanismos
ção, sem verificar se realmente entenderam o problema. mais simples de diagnóstico, as pessoas, não raro, per-
Já se passaram 40 anos desde que Mihaly cebem que estão se aprofundando exageradamente no
Csikszentmihalyi e Jacob Getzles demonstraram, empi- problema que tinham definido em vez de tentar obter
ricamente, o papel central da reformulação do proble- outra solução. Isso pode ser útil, mas as soluções cria-
ma na criatividade. De Albert Einstein a Peter Drucker, tivas quase sempre provêm de uma descrição alterna-
muitos sábios enfatizaram a importância de diagnosticar tiva do problema.
adequadamente os problemas. Então por que as organi- Em boa parte de minha pesquisa sobre inovação
zações ainda não conseguem fazer um bom diagnóstico? corporativa, que realizei com meu colega Paddy Miller,
criticadas por abandonarem cruelmente seus animais de dida como um rápido processo iterativo. Você deve
estimação como se eles fossem apenas uma mercadoria pensar nela como um contraponto cognitivo para uma
de consumo. Para evitar que os cães acabem nas mãos de prototipagem rápida.
“maus” donos, muitos abrigos, apesar da superpopula- As práticas aqui descritas podem ser usadas de uma
ção crônica, exigem que os potenciais adotantes passem de duas formas, dependendo de até que ponto você
por elaborados escrutínios de background. controla a situação. Uma delas é aplicar metodicamen-
A visão de Weise é um pouco diferente. “O abando- te as sete práticas ao problema. Isso pode ser feito em
no não é uma questão de ser mau dono”, ela ressalta, cerca de 30 minutos, e tem a vantagem de que todos se
“mas sim um problema de pobreza. Essas famílias ado- familiarizam com o processo.
ram seus cães tanto quanto nós, mas são extremamen- A outra forma pode ser aplicada quando você não
te pobres. Estamos falando de gente que não sabe se- tem o controle da situação e precisa dimensionar o pro-
quer como vai alimentar os filhos no fim do mês. Por is- cesso dependendo do tempo de que você dispõe. Um
so, quando um novo dono, de repente, exige um depó- membro da equipe pode interpelá-lo no corredor e você
sito para aceitar o animal, elas simplesmente não têm dispõe de apenas cinco minutos para ajudá-lo a repensar
como pagar. Em outros casos, o cão precisa de uma va- um problema. Se isso acontecer, simplesmente selecio-
cina contra raiva de US$ 10, mas a família não tem aces- ne uma ou duas práticas que pareçam mais adequadas.
so ao veterinário, ou pode ter medo de vir a enfrentar Cinco minutos pode parecer pouco tempo para des-
as autoridades. Deixar seu pet num abrigo geralmente crever o problema, e menos ainda para reformulá-lo. Des-
é a última opção que lhe resta”. cobri que, surpreendentemente, intervenções assim tão
Weise iniciou o programa em abril de 2013, colabo- curtas são suficientes para despertar uma nova ideia — e
rando com um abrigo na parte norte da cidade de Los de vez em quando podem até disparar um momento aha!
Angeles. A ideia é simples: sempre que uma família che- e mudar radicalmente sua visão do problema. A convi-
ga para entregar seu pet, um membro do staff pergunta, vência com seus próprios problemas pode ajudá-lo a se
sem outros questionamentos, se a família gostaria de perder em elucubrações, ruminando incansavelmente
continuar com o animal. Se a resposta for sim, o atenden- por que um colega, o cônjuge ou os filhos não o ouvem. Às
te tenta ajudar a resolver o problema recorrendo à sua re- vezes, você só precisa que alguém lhe diga “bem, quem
de social e recursos do sistema. sabe o problema não é você que não sabe ouvi-los?”.
No primeiro ano já foi notável o sucesso do programa. Obviamente, nem todos os problemas são tão simples.
Nos primeiros anos a organização de Weise gastou uma Muitas vezes são necessárias várias rodadas de reformula-
média de US$ 85 por pet que ajudou. O novo programa ção — intercaladas com observações, discussões e prototi-
reduzia esse custo para US$ 60 e ainda liberava mais es- pagem. E, em alguns casos, a reformulação não ajuda em
paço no abrigo para outros animais que necessitassem. E nada. Mas você não saberá quais problemas serão resolvi-
Weise comentou que esse foi apenas o impacto imedia- dos se não tentar reformulá-los. Quando você dominar a
to: “O mais importante foi o efeito abrangente sobre a co- versão dos cinco minutos, poderá aplicar a reformulação
munidade. O programa ensina as famílias a resolver pro- a praticamente qualquer problema que surgir.
blemas, explica seus direitos e responsabilidades e mos- Apresentamos a seguir as sete práticas.
tra à comunidade que a assistência está disponível. Ele 1. Crie legitimidade. É difícil usar a reformulação
mudou a percepção dos donos de pets: descobrimos que se você for a única pessoa que entende o método. Ou-
quando se oferece assistência, 75% gostariam de conti- tras pessoas, movidas pela vontade de encontrar solu-
nuar com seus animais de estimação”. ções, podem sentir que sua insistência em discutir o
Até o momento, o programa de problema é contraproducente. Se
Weise ajudou cerca de cinco mil pets no grupo há um desequilíbrio de
e famílias, e recebeu o apoio formal poder, como quando você enfren-
da ASPCA. Weise lançou um livro,
First home, forever home, que expli-
ca a outros grupos de resgate como
Você não saberá ta clientes ou colegas seniores, elas
podem muito bem calar sua boca
antes mesmo de você começar a fa-
montar um programa de interven-
ção. Graças à sua reformulação do
problema, abrigos superlotados po-
q i problemas
quais p bl s lar. E pode ser difícil, até para exe-
cutivos poderosos, utilizar o méto-
do quando as pessoas já estão acos-
derão algum dia ser coisa do passado.
Como você reformularia seu
problema com um insight similar?
serãoã resolvidos
l id s tumadas a ouvir de seus líderes res-
postas em vez de perguntas.
Sua primeira tarefa, portanto, é
em flip charts, depois analisamos em conjunto suas (A observação não veio do especialista em finanças da
reivindicações. O primeiro comentário do grupo foi o equipe, mas de um executivo de RH.)
mais impactante: “Praticamente nenhuma das descri- 5. Considere vários tipos. Como mostra a histó-
ções incluía a palavra ‘eu’”. Com apenas uma exceção, ria de Lori Weise, pode surgir uma mudança radical
os problemas foram consistentemente redigidos de for- quando se transforma a percepção das pessoas sobre
ma a diluir a responsabilidade individual, por exemplo: determinado problema. Uma forma de provocar essa
“Minha equipe ...”, “o mercado ...”, e em alguns pou- mudança de paradigma é solicitar que a pessoa identi-
cos casos “nós ...”. Bastou essa observação para mudar- fique especificamente o tipo de problema que ela acre-
mos o tom da reunião, forçando os participantes a se dita que o grupo está enfrentando. É um problema de
responsabilizar mais pelos desafios que enfrentavam. estímulo? De expectativa? Um problema de atitude?
Seria bom que essas descrições individuais dos pro- Tente sugerir outros tipos.
blemas fossem apresentadas antes da reunião por es- Jeremiah Zinn, um gestor meu conhecido, fez isso
crito, por isso, se for possível, peça que os participantes quando liderou a equipe de desenvolvimento de pro-
lhe enviem algumas linhas num email confidencial, e duto do popular canal de entretenimento infantil Ni-
insista para que escrevam na forma de texto corrido — ckelodeon. A equipe estava lançando um novo aplica-
questões itemizadas geralmente são resumidas demais. tivo promissor, que muitas crianças baixaram. Mas era
Depois transcreva todas as descrições que recebeu num meio difícil fazê-lo rodar porque exigia que o interes-
flip chart para que todos possam lê-las e discuti-las na sado se logasse no serviço de TV a cabo da casa para se
reunião. Não adicione nenhuma forma de identificação inscrever. Nesse ponto do processo de inscrição, quase
para garantir que os julgamentos sobre uma descrição todas as crianças desistiam.
não sejam afetados pela identidade ou status do autor. Percebendo a questão como um problema de usabi-
Essas descrições poderão sensibilizá-lo sobre as lidade, a equipe colocou sua expertise para funcionar e
perspectivas de outros stakeholders. Em princípio, rodou centenas de testes A/B em vários modelos de ins-
apreciamos que outros possam vivenciar um problema crição, tentando simplificar o processo. Nada ajudou.
de forma diferente (ou simplesmente não percebê-lo). A mudança só ocorreu quando Zinn percebeu que
Mas como foi demonstrado num estudo recente rea- os membros da equipe estavam pensando no proble-
lizado por Johannes Hattula, do Imperial College, de ma de forma muito bitolada. Eles tinham focado no
Londres, quando os gestores tentam imaginar a pers- comportamento das crianças, acompanhando cuida-
pectiva do cliente, normalmente formam uma ideia dosamente cada clique e cada comentário — mas não
equivocada. Para entender o que os stakeholders pen- analisaram como as crianças se sentiam durante o pro-
sam, é preciso ouvir o que eles têm a dizer. cesso de inscrição. Isso acabou se mostrando crítico.
4. Pergunte o que estiver faltando. Muitas ve- No momento em que a equipe começou a observar as
zes, ao se defrontar com a descrição de um problema, reações emocionais, percebeu que a solicitação da se-
as pessoas tendem a se aprofundar nos detalhes do que nha do provedor de TV a cabo deixava as crianças com
foi exposto, e prestam menos atenção no que a descri- medo de arrumar encrenca: para uma criança de 10
ção possa estar deixando de lado. Para evitar que isso anos, pedir senha sinaliza território proibido. Munido
ocorra, pergunte explicitamente o que não foi entendi- desse insight, a equipe de Zinn simplesmente adicio-
do ou mencionado. nou um vídeo curto explicando que não havia proble-
Trabalhei recentemente com uma equipe de executi- ma em pedir a senha aos pais — e imediatamente as ta-
vos seniores no Brasil que deveriam fornecer a seu CEO xas de adesão do aplicativo decuplicaram.
ideias para melhorar a percepção do mercado sobre o Ao mostrar explicitamente como o grupo pensa o
preço das ações da empresa. A equipe havia analisado problema — processo conhecido como metacognição,
habilmente os componentes que afetavam o valor das isto é, a tomada de consciência dos próprios processos
ações — a previsão da razão preço/ganho, a razão total de cognitivos —, você ajuda a reformulá-lo, mesmo que
débitos sobre o capital, lucros por ação, e assim por dian- não tenha outras formulações a sugerir. E é muito útil
te. É claro que nada disso era novidade para o CEO, como escolher entre descrições escritas se você conseguir
também não era exatamente fácil alterar esses fatores, o obtê-las antecipadamente.
que acabou provocando certo desânimo na equipe. A história de Zinn revela uma armadilha comum na
Mas quando instei os executivos a analisar a situa- solução de problemas, expressa pela primeira vez por
ção de forma mais genérica e pensar no que estava fal- Abraham Kaplan em sua famosa lei do instrumento: “Dê
tando na descrição do problema, surgiu algo novo. Ve- um martelo a um garoto, e ele descobrirá que tudo que
rificou-se que, quando os analistas financeiros exter- vê pela frente precisa ser martelado”. Na Nickelodeon,
nos pediam para falar com os executivos da empresa, a como os membros da equipe eram especialistas em usa-
tarefa de responder, normalmente, era delegada a líde- bilidade, logo imaginaram que o problema seria esse.
res menos experientes, sem nenhum treinamento pré- 6. Analise exceções positivas. Para chegar a ou-
vio sobre como dialogar com os analistas. Assim que tras reformulações do problema, procure situações
esse ponto foi levantado, o grupo percebeu que havia em que o problema não ocorreu e pergunte: “O que foi
descoberto uma potencial recomendação para o CEO. diferente nesse caso?”. Explorar exceções positivas,
C
ontratos, transações e seus registros são
algumas das estruturas básicas que formam
os sistemas econômicos, legais e políticos.
Elas protegem os ativos e estabelecem
fronteiras organizacionais; estabelecem e
verificam identidades; registram eventos;
governam as interações entre nações,
COMO A BLOCKCHAIN FUNCIONA minúscula fração do total de US$ 411 trilhões em paga-
mentos globais, mas a bitcoin está crescendo rapida-
Os cinco princípios fundamentais mente e é cada vez mais importante em pagamentos
da tecnologia. instantâneos e negociações de moedas estrangeiras e
ativos, que são contextos nos quais o atual sistema fi-
3 TRANSPARÊNCIA COM PSEUDÔNIMOS tura de blockchain, para fornecer tecnologia para pro-
Cada transação e seu valor associado cessar e validar transações financeiras. O Bank of Ame-
são visíveis para qualquer pessoa rica, o J. P. Morgan, a New York Stock Exchange, a Fide-
com acesso ao sistema. Cada ponto, lity Investments e a Standard Chartered estão testando
ou usuário, em uma blockchain tem um a tecnologia blockchain como substituta do processa-
endereço alfanumérico exclusivo de 30 mento de transações manuais e em papel em áreas co-
caracteres que o identifica. Os usuários mo financiamento de comércio internacional, câmbio,
podem optar por permanecer anônimos liquidação internacional e liquidação de títulos. O Ban-
ou fornecer prova de sua identidade para co do Canadá está testando uma moeda digital denomi-
outras pessoas. As transações ocorrem nada CAD-coin para transferências interbancárias. Pre-
entre endereços blockchain. vemos uma proliferação de blockchains privados que
servem a fins específicos de vários setores.
5 LÓGICA COMPUTACIONAL
A natureza digital do livro de
registro implica que as transações
blockchain podem ser ligadas à
lógica computacional e, em sua essência,
programadas. Assim, os usuários
podem configurar algoritmos e regras
vos e totalmente desenvolvidos que cresceram a partir
da tecnologia simples de pagamento com bitcoins. A
diferença crítica é que uma criptografia exige que to-
das as partes que fazem transações monetárias a ado-
tem, desafiando governos e instituições que há muito
tempo lidam com tais transações e as supervisionam.
R. Lakhani, HBRBR,
novembro de 2014.
para os sistemas de moeda digital. Em 2014, o MIT exemplo, sem apoio institucional. Será necessário um
Bitcoin Club forneceu a cada um dos 4.494 graduados tremendo grau de coordenação e clareza sobre como os
do do instituto US$ 100 em bitcoins. Curiosamente, contratos inteligentes são projetados, verificados, im-
30% dos alunos nem sequer se inscreveram para rece- plementados e cumpridos. Acreditamos que as institui-
ber o dinheiro gratuito, e em poucas semanas 20% dos ções responsáveis por essas assustadoras tarefas leva-
inscritos converteu a bitcoin em dinheiro. Até mesmo rão muito tempo para evoluir. E os desafios tecnológi-
aqueles com experiência em tecnologia tiveram difi- cos — especialmente de segurança — são assustadores.
culdade de entender como ou onde usar as bitcoins.
Uma das mais ambiciosas aplicações substitutas de
blockchain é a Stellar, organização não lucrativa que vi- COMO ABORDAR O INVESTIMENTO EM BLOCKCHAIN
sa prestar serviços financeiros a quem nunca teve aces- Como os executivos devem pensar a blockchain nas
so a eles, incluindo serviços bancários, micropagamen- empresas? Nossa metodologia pode ajudá-las a iden-
tos e remessas de valores. A Stellar oferece sua própria tificar as oportunidades certas.
moeda virtual, o lumens, e permite que os usuários Para a maioria, o lugar mais fácil de começar são as
guardem no seu sistema uma gama de ativos: outras aplicações de uso único, que minimizam o risco porque
moedas, minutos de telefone e créditos de dados, por não são novas e envolvem pouca coordenação com ter-
exemplo. A Stellar inicialmente focou a África, especial- ceiros. Uma estratégia é fazer da bitcoin um mecanis-
mente a Nigéria, a maior economia do continente. Ela mo de pagamento. A infraestrutura e o mercado para
foi adotada significativamente por sua população-alvo a bitcoin já estão bem desenvolvidos, e adotar a moe-
e provou sua efetividade de custo e benefício. Mas seu da virtual vai forçar uma ampla variedade de funções,
futuro não é, de forma alguma, seguro, pois as dificul- como TI, finanças, contabilidade, vendas e marketing a
dades de coordenação do ecossistema são altas. Embo- construir capacidades de blockchain. Outra abordagem
ra a adoção popular tenha demonstrado a viabilidade de baixo risco é usar a blockchain internamente como
da Stellar, para se tornar um padrão bancário ela preci- um banco de dados para gerenciar ativos físicos e di-
sará influenciar a política governamental e persuadir os gitais, registrar transações internas, verificar identida-
bancos centrais e grandes organizações a usá-la, o que des e outras aplicações. Essa pode ser uma solução es-
pode levar anos de trabalhosas negociações. pecialmente útil para as empresas que têm dificuldade
Transformação. No último quadrante, ficam apli- de conciliar múltiplos bancos de dados internos. Testar
cações completamente novas que, se bem-sucedidas, aplicações de uso único haverá de ajudá-las a desenvol-
podem mudar a própria natureza dos sistemas econô- ver as habilidades de que precisam para aplicações ain-
micos, sociais e políticos. Elas envolvem a coordenação da mais avançadas. E graças ao surgimento de serviços
da atividade de muitos atores e a obtenção de um acor- em blockchain na nuvem, tanto em start-ups quanto em
do institucional para padrões e processos. Sua adoção grandes plataformas como a Amazon e a Microsoft, a
exigirá grandes mudanças sociais, legais e políticas. experimentação está ficando cada vez mais fácil.
“Contratos inteligentes” talvez seja a aplicação As aplicações restritas são, naturalmente, o próximo
mais transformadora de blockchain no momento. Eles passo para as empresas. Neste momento, grandes in-
automatizam pagamentos e a transferência de moe- vestimentos são feitos em redes privadas de blockchain,
da ou outros ativos conforme as condições negociadas e os projetos envolvidos, aparentemente, estão prepa-
são atendidas. Por exemplo, um contrato inteligente rados para um impacto real de curto prazo. As empre-
pode enviar um pagamento a um fornecedor assim sas de serviços financeiros, por exemplo, descobriram
que uma remessa é entregue. Uma empresa pode si- que as redes privadas de blockchain que criaram com
nalizar via blockchain que um bem específico foi re- um número limitado de contrapartes confiáveis podem
cebido — ou o produto pode ter funcionalidade GPS, reduzir significativamente os custos de transação.
com registro automático de local atualizado que, por As empresas podem ter de enfrentar também pro-
sua vez, aciona o pagamento. Já vimos algumas expe- blemas específicos em transações transnacionais com
riências iniciais com tais contratos autoexecutáveis aplicações restritas. As que já usam a blockchain para
nas áreas de financiamento de risco, bancária e de ge- rastrear itens através de cadeias de suprimentos com-
renciamento de direitos digitais. plexas, por exemplo. Isso está acontecendo na indús-
As implicações são fascinantes. As empresas são tria de diamantes, onde gemas são rastreadas das mi-
construídas com base em contratos, seja na fundação, nas até os consumidores. A tecnologia para tais expe-
nas relações entre compradores e fornecedores, ou nas rimentos está agora disponível para compra.
relações com os funcionários. Se os contratos forem au- O desenvolvimento de aplicações alternativas re-
tomatizados, que dirá as estruturas, processos e inter- quer um planejamento cuidadoso, uma vez que pode
mediários como advogados e contadores? E os gesto- ser difícil remover as soluções existentes. Uma pos-
res? Seu papel mudaria radicalmente. Antes de ficar- sibilidade é focar em substituições que, embora não
mos muito animados, porém, é preciso lembrar que exijam dos usuários finais mudar muito seu modo de
estamos a décadas da adoção generalizada de contra- operar, são caras ou pouco atrativas. O ideal é que ofe-
tos inteligentes. Eles não podem ser efetivados, por reçam funcionalidade tão boa quanto uma solução
BLOCKCHAIN PARA
ça usando a blockchain para rastrear o fluxo de moe-
da entre as contas — sem depender de processadores
de pagamento externos. Esses novos cartões-presente
permitem até transferências de saldos e de capacidade
RASTREAR ITENS
de transação entre os comerciantes por meio do livro
de registro comum.
Aplicações transformadoras ainda são uma reali-
dade distante. Mas faz sentido avaliar suas possibili-
dades agora e investir no desenvolvimento de tecno-
logias que possam capacitá-las. Serão mais poderosas
quando ligadas a um novo modelo de negócio em que
a lógica da criação de valor e da captura se afaste das
ATRAVÉS DE CADEIAS
abordagens existentes. Embora seja difícil adotar mo-
delos de negócio desse tipo, eles poderão, futuramen-
te, destravar o crescimento das empresas.
COMPLEXAS DE
Imagine como escritórios de advocacia terão de mu-
dar para tornar viáveis os contratos inteligentes. Eles
precisarão desenvolver novos conhecimentos em pro-
gramação de software e blockchain. Precisarão também
repensar o modelo de pagamento por hora e conside-
FORNECIMENTO.
rar a ideia de cobrar taxas de transação ou de hospeda-
gem por contrato, só para citar duas abordagens possí-
veis. Seja ela qual for, os executivos devem ter certeza
de que entenderam e testaram as implicações do mode-
lo de negócio antes de efetuar qualquer mudança.
Aplicações transformativas se propagarão por últi-
descobrir onde devem começar a construir suas capacida-
mo, mas agregarão enorme valor. Poderiam ter um im-
des organizacionais para a blockchain. Certificar-se de que
pacto profundo, por exemplo, em duas áreas: sistemas
seus funcionários aprendam tudo o que puderem sobre a
públicos de identificação em larga escala para funções
blockchain, para desenvolver aplicações específicas para
como controle de passaportes; e tomada de decisão ba-
a empresa ao longo dos quadrantes que identificamos. E
seada em algoritmos na prevenção da lavagem de di-
investir em infraestrutura de blockchain.
nheiro e em transações financeiras complexas. Não
Contudo, considerando os horizontes temporais,
acreditamos que essas aplicações levem menos de uma
as barreiras à adoção e a alta complexidade envol-
década ou até mais para ser amplamente adotadas.
vida para chegar aos mesmos níveis de aceitação do
As aplicações transformativas darão origem a no-
TCP/IP, os executivos devem avaliar cuidadosamen-
vos atores no âmbito das plataformas que hão de co-
te os riscos envolvidos em fazer experiências com a
ordenar e governar os novos ecossistemas. Serão as
blockchain. Começar com algo pequeno é uma boa ma-
Googles e Facebooks da próxima geração. Será preciso
neira de desenvolver o know-how para crescer depois.
muita paciência para concretizar tais oportunidades.
Mas o nível de investimento depende do contexto da
Embora possa ser prematuro fazer investimentos sig-
empresa e do setor. Empresas de serviços financeiros
nificativos nelas agora, vale a pena desenvolver, desde
já avançaram rumo à adoção da blockchain. A manu-
já, as bases necessárias, como as ferramentas e os pa-
fatura ainda não.
drões a ser adotados.
Independentemente do contexto, há uma forte
possibilidade de que a blockchain venha a afetar sua
ALÉM DE FORNECER UM BOM MODELO para a adoção da
empresa. A grande questão é quando.
blockchain, o TCP/IP provavelmente preparou o terreno
HBR Reprint R1704G–P Para pedidos, página 10
para ele. O TCP/IP tornou-se onipresente e as aplicações
de blockchain estão sendo construídas sobre a infraes-
trutura de dados digital, comunicação e infraestrutura MARCO IANSITI é professor da cátedra David Sarnoff da
Harvard Business School. KARIM R. LAKHANI é professor de
computacional, o que reduz o custo da experimentação administração da Harvard Business School e o pesquisador
e permitirá o surgimento de novos exemplos de uso. principal do Laboratório de Inovação Coletiva do Harvard
Com a nossa metodologia, os executivos já podem Institute for Quantitative Social Science.
Experiência
COMO ENFRENTAR
SUAS DECISÕES
MAIS DIFÍCEIS
JOSEPH L. BADARACCO
T
84 HARVARD BUSINESS REVIEW ABRIL 2017
Todo gestor precisa fazer escolhas nada fá-
ceis — faz parte do trabalho. E as escolhas
mais difíceis dizem respeito a áreas nebu-
losas — situações em que, apesar de você e
sua equipe trabalharem duro para reunir os
fatos e fazer a melhor análise possível, nem
sempre dominam a situação. É fácil ficar
paralisado diante desses desafios. No en-
tanto, todo líder precisa tomar decisões e ir
em frente. Seu julgamento é essencial.
Não é simples fazer uma escolha. Envol-
ve uma fusão de pensamentos, sentimentos,
experiência, imaginação e caráter. Mas cin-
co questões práticas podem aumentar suas
chances de fazer julgamentos mais adequa-
dos, mesmo quando os dados são incomple-
tos ou pouco claros, as opiniões estão dividi-
das e as respostas estão longe de ser óbvias.
De onde vêm essas perguntas? Ao longo
de muitos séculos e muitas culturas, elas
surgiam à medida que homens e mulheres
com grandes responsabilidades lutavam pa-
ra lidar com problemas complexos. Elas ex-
pressam insights das mentes mais perspica-
zes e dos espíritos sensíveis da humanidade.
Tenho contado com elas há anos ao traba-
lhar com candidatos a MBAs e no coach com
executivos. E acredito que podem ajudar
você, sua equipe e sua organização a nave-
gar pelas áreas mais confusas e nebulosas.
Este artigo mostra as cinco perguntas e as
ilustra com um estudo de caso sobre uma ges-
tora que precisa decidir o que fazer com um
funcionário com persistente baixo desempe-
nho que não consegue responder a sugestões
de melhoria. Ele merece perder pontos na re-
visão, talvez até ser demitido, mas os superio-
res fazem vista grossa para suas falhas.
Como a gestora deve abordar a situa-
ção? Não se trata de seguir o instinto. Nem
Em um estudo de seis meses com funcionários de call center, aqueles com mesa ajustável, que permite
ao usuáro ficar em pé ou sentar da maneira que desejar, eram aproximadamente 46% mais produtivos
(como medido por chamadas completadas por hora) do que os que tinham mesa tradicional.
“CALL CENTER PRODUCTIVITY OVER 6 MONTHS FOLLOWING A STANDING DESK INTERVENTION,” POR GREGORY GARRETT ET AL.
O MUNDO COMO ELE É persistência, dedicação, criatividade, toma- disse uma vez: “Não iria em frente só por-
A terceira questão o leva a olhar para o pro- da de risco prudente e habilidade política à que o meu cérebro me disse que era a coisa
blema de uma forma clara e pragmática — tarefa. certa a fazer. Também preciso sentir. Se isso
ou seja, enxergar o mundo não como gos- não acontece, procuro deixar meu cérebro e
taria que fosse, mas como ele é. Em última QUEM SOMOS NÓS? minhas emoções em harmonia”.
análise, você precisa de um plano que fun- De acordo com um antigo ditado africa- Em última análise, você precisa esco-
cione — que pode tirar um indivíduo, uma no, “Eu sou porque nós somos”. Em outras lher, comprometer-se, agir. E viver com as
equipe, um departamento ou uma organi- palavras, nosso comportamento e nossa consequências de sua escolha. Por isso, o
zação inteira da zona nebulosa de forma identidade são influenciados pelos grupos que decidir deve refletir suas preocupações
responsável e a contento. com quem trabalhamos e convivemos. Co- genuínas, como gestor e como ser huma-
A frase “o mundo como ele é” aponta mo disse Aristóteles (e como um vasto cor- no. Depois de considerar resultados, fun-
para o pensamento de Nicolau Machiavel po de literatura científica desde então tem ções, aspectos práticos e valores, decida o
— uma perspectiva, talvez surpreendente, confirmado), “O homem é por natureza um que importa mais e o que importa menos.
num artigo sobre tomadas de decisão animal social”. Esta questão, portanto, o le- Esse sempre foi o desafio de assumir qual-
responsáveis. A opinião de Maquiavel é va a parar e pensar sobre suas decisões em quer grande responsabilidade no trabalho
importante, pois reconhece que não vive- termos de relações, valores e normas. O que e na vida.
mos em um ambiente calmo, previsível realmente importa para a sua equipe, em- Como você vai descobrir com o que
e cercado por pessoas virtuosas. O mundo presa, comunidade, cultura? Como você po- pode viver? Deixe as conversas de lado,
descrito por ele é imprevisível, difícil de agir de uma forma que reflita e expresse feche a porta, silencie os eletrônicos e pare
e moldado pelo interesse próprio. Bons esses sistemas de crenças? Se há conflito, o para refletir. Imagine a si mesmo explican-
planos podem acabar mal, assim como que deve prevalecer? do sua decisão a um amigo ou a um men-
projetos ruins podem funcionar. Muito do Para responder a estas perguntas, pense tor — alguém em quem confia e respeita
que acontece está simplesmente fora do nas histórias que definem determinado gru- profundamente. Você se sentiria confortá-
nosso controle. Os líderes raramente têm po — as decisões e os incidentes que todos vel? Como essa pessoa reagiria? Também
liberdade e recursos ilimitados, por isso, citam ao explicar os ideais com os quais vo- pode ser útil escrever a sua decisão e suas
muitas vezes, devem fazer escolhas dolo- cê está coletivamente comprometido, aqui- razões: isso favorece a clareza de pensa-
rosas. E muitos indivíduos e grupos segui- lo pelo qual você tem lutado e as consequ- mento e serve como uma forma de compro-
rão seus próprios planos, de forma hábil ências que tenta evitar. Imagine que você misso pessoal.
ou não, se não forem influenciados a fazer está escrevendo uma frase ou um capítulo
de outro modo. da história da sua empresa. De todos os ca- NA PRÁTICA
É por isso que, após considerar as con- minhos que pode escolher nesta área nebu- Agora vamos voltar para o nosso estudo de
sequências e os deveres, você precisa levar losa, o que melhor expressaria aquilo que caso. Becky Friedman era uma gestora de
em conta os aspectos práticos: dentre as sua organização representa? 27 anos de um grupo de tecnologia com 14
possíveis soluções para o problema, quais Ao contrário das três primeiras ques- pessoas responsáveis pelas vendas de rou-
têm maiores chances de funcionar? Qual é tões, que exigem uma perspectiva externa pas em uma loja online. Um dos membros
mais resistente? E quão resiliente e flexível à situação e o mais objetiva possível, esta o da equipe, Terry Fletcher, 15 anos mais ve-
você é? trata como um insider, com o risco de ado- lho que ela, com bastante tempo de casa,
Para responder a estas perguntas, ma- tar uma visão limitada e isolada na hora de não estava fazendo a sua parte. Apesar de
peie o campo de força em torno de você: considerar normas e valores, porque nossa o chefe anterior lhe atribuir continuamente
quem quer o quê; quão duro e quão frutife- inclinação natural é cuidar de nós mes- 3,5 numa escala de desempenho de 5 pon-
ramente cada um pode lutar por seus obje- mos. Por isso, procure contrabalançar essa tos, Friedman não acreditava que o traba-
tivos. Prepare-se para ser ágil e até mesmo tendência com o pensamento utilizado nas lho dele merecia tudo isso. E sempre que
oportunista — desviando de obstáculos questões anteriores. ela lhe dava a oportunidade de desenvolver
ou surpresas — e, quando a situação exigir, suas habilidades e aumentar suas contribui-
jogue duro, afirmando a sua autoridade e VIVENDO COM A SUA DECISÃO ções, Fletcher não ia adiante. Então, Fried-
lembrando aos demais quem é o chefe. Um bom julgamento se baseia em duas coi- man decidiu baixar a classificação dele para
É fácil interpretar mal a terceira questão sas: uma tem a ver com a melhor compre- 2,5 e colocá-lo em um plano de melhoria de
como uma “saída” — uma desculpa para ensão e análise possível da situação. A outra desempenho (PIP, na sigla em inglês) — o
fazer o que é seguro e conveniente em vez envolve os valores, os ideais, as vulnerabi- passo seguinte seria a demissão. No entanto,
da coisa certa. Mas trata-se, realmente, do lidades e as experiências de quem vai to- não demorou muito para que dois dos vice-
que vai dar certo se for possível infundir mar a decisão. Um executivo experiente me presidentes da empresa, bons amigos de
ARTIGOS
GESTÃO DE MUDANÇA ENTREVISTA HBR ECONOMIA GESTÃO PESSOAL GESTÃO DE PESSOAS
A CULPA NÃO “ PRECISAMOSINTENSIFICAR LIÇÕES DA O EFEITO DO O ECOSSISTEMA
É DA CULTURA O NOSSO SENSO DE NEUROCIÊNCIA ESCÂNDALO DE VALOR
ORGANIZACIONAL URGÊNCIA” George S. Everly Jr., Ph.D.
pág. 38
Boris Groysberg, Eric Lin,
George Serafeim e
COMPARTILHADO
Jay W. Lorsch e Meg Whitman, CEO da Robin Abrahams | pág. 44 Mark R. Kramer e
Emily McTague | pág. 20 Hewlett Packard Enterprise Marc W. Pfitzer | pág. 54
pág. 30