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CAPÍTULO IX - BARBÁRIE E CIVILIZAÇÃO

Após descrever o processo de dissolução das gens entre gregos, romanos e


germanos, Engels passa a caracterizar as condições gerais que constituíram a fase superior
da barbárie e a transição dessa para a civilização.
O autor faz uma rápida investigação histórica, iniciando pela fase inferior da
barbárie, onde a grandeza da gens e também sua limitação, como salienta Engels, está na
sua economia praticada de forma coletiva, em que não existia, em seu interior, servidão
ou dominação, nem divisão de classes ou direitos e deveres.
A partir disso, surge a primeira divisão trabalhista, encontrada,
principalmente, nas tribos pastoris, que aliadas ao descobrimento de novos modos de
produção, possibilitaram o tão citado por Karl Marx “excedente econômico”, onde “o
desenvolvimento de todos os ramos da produção [...] tornou a força de trabalho do homem
capaz de produzir mais do que o necessário para a sua manutenção”. (p.181)
Gradualmente, encontrou-se uma segunda divisão social do trabalho, onde o
artesanato separa-se da agricultura e resulta em uma nova divisão da sociedade em
classes, agora entre proprietários e não proprietários.
“Ao dividir-se a produção nos dois ramos principais [...] surgiu a produção
diretamente para troca, a produção mercantil, e com ela o comércio [...]” (p. 184)
Nesse contexto, auxiliada pela divisão das terras coletivas entre família
particulares, inicia-se a transição total e definitiva à propriedade privada, realizando-se
“paralelamente à passagem do matrimônio sindiásmico à monogamia”. (p. 184)
Chega-se, enfim, à civilização, onde a produção mercantil atinge o seu
pleno desenvolvimento e apogeu, tendo como suporte a propriedade privada dos meios
de produção, a família monogâmica e, conseqüentemente, o Estado. A civilização
“acrescenta uma terceira divisão do trabalho, [...] criando uma classe que se ocupa,
exclusivamente, da troca dos produtos: os comerciantes”. (p.186)
Baseada nisso, a civilização atingiu patamares jamais imaginados pela
arcaica sociedade gentílica. Contudo, realizou tudo isso sob um custo social
extremamente absurdo, onde, segundo Engels, foi determinada apenas pela vil ambição à
riqueza da sociedade, impondo a cada estágio, uma nova forma de exploração entre seres
humanos.
Engels complementa: Desde que a civilização se baseia na exploração de
uma classe por outra, todo o seu desenvolvimento se opera numa constante contradição.
Cada progresso na produção é ao mesmo tempo um retrocesso na condição de classe
oprimida, isto é, da imensa maioria. (p. 200)

Concluindo, o filósofo alemão cita o grande antropólogo Henry Lewis


Morgan, que pensa, positiva e acertadamente, que chegará uma hora em que a razão
humana, princípio tão defendido no decorrer da história, dominará a riqueza,
estabelecendo “uma relação justa e harmônica” entre os interesses individuais e os
interesses da sociedade, onde será tida como “uma revivescência da liberdade, igualdade
e fraternidade das antigas gens, mas sob uma forma superior” (Morgan, A Sociedade
Antiga, p. 552).

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