Após descrever o processo de dissolução das gens entre gregos, romanos e
germanos, Engels passa a caracterizar as condições gerais que constituíram a fase superior da barbárie e a transição dessa para a civilização. O autor faz uma rápida investigação histórica, iniciando pela fase inferior da barbárie, onde a grandeza da gens e também sua limitação, como salienta Engels, está na sua economia praticada de forma coletiva, em que não existia, em seu interior, servidão ou dominação, nem divisão de classes ou direitos e deveres. A partir disso, surge a primeira divisão trabalhista, encontrada, principalmente, nas tribos pastoris, que aliadas ao descobrimento de novos modos de produção, possibilitaram o tão citado por Karl Marx “excedente econômico”, onde “o desenvolvimento de todos os ramos da produção [...] tornou a força de trabalho do homem capaz de produzir mais do que o necessário para a sua manutenção”. (p.181) Gradualmente, encontrou-se uma segunda divisão social do trabalho, onde o artesanato separa-se da agricultura e resulta em uma nova divisão da sociedade em classes, agora entre proprietários e não proprietários. “Ao dividir-se a produção nos dois ramos principais [...] surgiu a produção diretamente para troca, a produção mercantil, e com ela o comércio [...]” (p. 184) Nesse contexto, auxiliada pela divisão das terras coletivas entre família particulares, inicia-se a transição total e definitiva à propriedade privada, realizando-se “paralelamente à passagem do matrimônio sindiásmico à monogamia”. (p. 184) Chega-se, enfim, à civilização, onde a produção mercantil atinge o seu pleno desenvolvimento e apogeu, tendo como suporte a propriedade privada dos meios de produção, a família monogâmica e, conseqüentemente, o Estado. A civilização “acrescenta uma terceira divisão do trabalho, [...] criando uma classe que se ocupa, exclusivamente, da troca dos produtos: os comerciantes”. (p.186) Baseada nisso, a civilização atingiu patamares jamais imaginados pela arcaica sociedade gentílica. Contudo, realizou tudo isso sob um custo social extremamente absurdo, onde, segundo Engels, foi determinada apenas pela vil ambição à riqueza da sociedade, impondo a cada estágio, uma nova forma de exploração entre seres humanos. Engels complementa: Desde que a civilização se baseia na exploração de uma classe por outra, todo o seu desenvolvimento se opera numa constante contradição. Cada progresso na produção é ao mesmo tempo um retrocesso na condição de classe oprimida, isto é, da imensa maioria. (p. 200)
Concluindo, o filósofo alemão cita o grande antropólogo Henry Lewis
Morgan, que pensa, positiva e acertadamente, que chegará uma hora em que a razão humana, princípio tão defendido no decorrer da história, dominará a riqueza, estabelecendo “uma relação justa e harmônica” entre os interesses individuais e os interesses da sociedade, onde será tida como “uma revivescência da liberdade, igualdade e fraternidade das antigas gens, mas sob uma forma superior” (Morgan, A Sociedade Antiga, p. 552).