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Preso morre em cadeia do Rio e

família demora três dias para


conseguir liberar corpo

Ygor estava em um presídio com casos de sarampo Foto: Reprodução


Carolina Heringer e Rafael Soares
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A família de Ygor Nogueira do Nascimento, de 22 anos, que estava preso na


Cadeia Pública Paulo Roberto Rocha, no Complexo de Gericinó, na Zona Oeste
do Rio, demorou três dias para conseguir liberar o corpo do rapaz, morto na
última sexta-feira. Ygor não tinha suspeitas de contaminação pelo novo
coronavírus, mas ainda assim a família ficou em meio a um impasse causado
pela pandemia. Seus parentes só conseguiram liberar o corpo na manhã desta
terça-feira.

Segundo informações da Secretaria de Administração Penitenciária (Seap), Ygor


se sentiu mal na noite da última sexta-feira e foi atendido no Pronto Socorro
Geral Hamilton Agostinho, no Complexo de Gericinó. A pasta informou que
realizou o registro de ocorrência na 34ª DP (Bangu) no mesmo dia, onde,
conforme protocolo, seria feito pedido para remoção do corpo. Ygor não
apresentava sintomas de virose respiratória, segundo a Seap.

De acordo com fontes ouvidas pelo EXTRA, o impasse começou após o registro
feito na delegacia. Antes da pandemia causada pelo novo coronavírus, com o
pedido de remoção do corpo feito pela unidade policial, os bombeiros retiravam
o cadáver do hospital da Seap e o levavam para o Instituto Médico Legal (IML).
Lá, era feito o laudo cadavérico no qual seria atestada a causa da morte do
preso.
No sábado, a direção do IML avaliou que o procedimento deveria ser alterado, e
solicitou que os médicos da Seap realizassem o processo que antes era feito no
instituto. Como não havia qualquer regulamentação para a situação, criou-se o
impasse.

No domingo, a diretora do IML, Gabriela Graça, esteve no Complexo de Gericinó


e ela própria atestou a morte de Ygor. Nessa terça-feira, o corpo foi para o
instituto e a família conseguiu liberá-lo. O enterro do rapaz vai acontecer às
16h30 desta quarta-feira no cemitério do Murundu.

Irmã de Ygor,
Carolyne Nogueira do Nascimento afirma que a família até agora não sabe a causa da
morte do rapaz, que em seu atestado de óbito consta como indefinida. De acordo com a
jovem, o irmão foi preso há cerca de três semanas. Ele era mantido no presídio Ary
Franco, em Água Santa, Zona Norte do Rio, ondehá presos com sarampo. Na última
sexta-feira, horas antes de ser encaminhado para o hospital do sistema prisional, Ygor foi
transferido para a Cadeia Pública Paulo Roberto Rocha.
- Nós esperamos todos esses dias para conseguir liberar o corpo e continuamos
sem saber a causa da morte dele. É desolador. Meu irmão não tinha problemas
de saúde. A única coisa que sabemos é que onde ele estava (o presídio Ary
Franco) tinha surto de sarampo. Ninguém nos fala nada e a gente fica sem
saber o que fazer. O enterro terá que ser com caixão fechado e lacrado e não
sei o motivo - afirmou Carolyne ao EXTRA.

Segundo informações da Polícia Civil, uma nova resolução, criada em conjunto


com a Seap, será publicada nos próximos dias. A partir de então, os presos que
morrerem em cadeias no Rio de forma não violenta terão o atestado de óbito
feito por médicos da própria Seap. No IML, só passarão por perícia os corpos
daqueles que tenham morte violenta ou suspeita.

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