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HOLGONSI SOARES
Prof. Ass. Depto. de Sociologia e Política UFSM
Publicado no Jornal "A Razão" em 29.04.99
"A principal questão inquietante de hoje: estar vivo num mundo que decreta nossa falência cotidianamente através da obsolescência de
tudo".
(Nélida Piñon)
Vivemos hoje a confluência de "três diferentes padrões de tempo" (Takahashi), os quais trazem problemáticas específicas e complexas
transformações históricas que desafiam nossos conceitos, e formas de interpretação tradicionais. Quero aproveitar aqui a idéia das
"dimensões temporais" de Takahashi (milenar, secular e póssegunda guerra), para refletir sobre nossa condição em um mundo onde o vira
ser é seu estado permanente.
A cada final de milênio, acentuamse os problemas de cunho existenciais. O homem questionase sobre sua origem, seus objetivos e seu
destino. Nesta dimensão milenar , os problemas da relação HomemNatureza evidenciamse fortemente. Com relação a isto, temos neste
final de milênio, o que Giddens chama de "riscos de grande conseqüência"; o império da racionalidade técnica com ameaças aos
ecossistemas mundiais, com o alargamento da escala da pobreza, e com as armas de destruição maciça, traznos "conseqüências
desconhecidas".
Na dimensão secular, a questão que se salienta é a da política dos poderes nacionais; o final deste século traz o grande problema da
administração das independências, e com ele conflitos que colocam o mundo em estado de alerta, e nos quais interligamse fatores políticos,
econômicos, militares, étnicos e ecológicos.
Já a terceira dimensão (póssegunda guerra) diz respeito as políticas internas, principalmente no que tange ao papel do Estado. Nela o
fordismokeynesianismo teve seu auge e declínio como modo de acumulação, e o regime da flexibilidade teve seu início, encontrandose hoje
no auge. O final desta dimensão traz a problemática das políticas sociais, da economia estratégica e da participação política.
Estas três dimensões temporais encontramse em confluência, portanto suas problemáticas específicas afloram simultaneamente, e
caracterizam a quinta fase da globalização, chamada por Robertson, de "fase da incerteza". Neste mundo de instabilidades crescentes, os
questionamentos do Homem, advindos de cada dimensão, são perpassados por sentimentos de angústia e medo do desconhecido. Os desafios
são colocados pela natureza, pelos Estados querendo a expansão de seu poder, e pela necessidade de autodeterminação dos indivíduos.
As possibilidades para o entendimento deste mundo, e a busca de soluções, implicam em mudanças em nossos instrumentos conceituais, ou
seja, do paradigma da simplicidade (mecânico, reducionista e linear), para o paradigma da complexidade (dinâmico, aberto e
interdisciplinar), o que traz profundas exigências para as instituições educacionais (formais e informais). Já os limites são colocados por uma
cultura de consumo generalizada, a qual faz com que os indivíduos, mesmo angustiados, perplexos e inseguros, estejam mais interessados em
"escolher entre um Citröen e um Renault, ou entre os produtos de Estée Lauder e os de Helena Rubinstein"(Castoriadis), do que com sua
condição de Ser e Estarnomundo.
A confluência das três dimensões temporais decreta cotidianamente a obsolescência total (valores, pessoas, idéias e coisas), acentuando a
única certeza que hoje podemos ter: tudo é incerto (paz, segurança, relações sociais e humanas, trabalho,etc.); e com esta certeza, o maior
desafio: "estar vivo" (no sentido mais amplo desta expressão).
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