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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS

CENTRO DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS


DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA

Psicologia Analítica

&

Zen Budismo
Simone Miyahira

Monografia realizada como parte das


exigências para obtenção do Grau de
Bacharel no Curso de Graduação em
Psicologia da UFSCar, sob a orientação da
Profª Drª Débora Cristina Morato Pinto

São Carlos
2005
Agradecimentos

Agradeço à orientadora Profª Drª


Débora Cristina Morato Pinto pela
dedicação, assistência e confiança.
Meus agradecimentos também à
minha terapeuta Denise Teixeira, à
minha família e aos meus amigos.
ÍNDICE

Parte I – A Religiosidade.......................................................................................... 04
Contraposição entre o mundo sagrado e o mundo profano..................................... 04
Os rituais.................................................................................................................. 06
A religiosidade do ponto de vista Oriental e Ocidental........................................... 08
Parte II – O Zen-budismo......................................................................................... 12
Parte III – A Psicologia Analítica............................................................................. 16
O Consciente e o Inconsciente............................................................................... 17
Manifestações do Inconsciente Coletivo................................................................ 21
A Prática da Psicologia Analítica........................................................................... 25
A Individuação....................................................................................................... 26
O Self...................................................................................................................... 27
A Persona................................................................................................................ 28
A Sombra................................................................................................................ 31
Anima e Animus..................................................................................................... 32
Parte IV – Psicologia Analítica e Zen-budismo...................................................... 33
Coletividade............................................................................................................ 33
O Satori, a Individuação e o Eu.............................................................................. 35
Referências Bibliográficas........................................................................................ 37
Parte I – A Religiosidade

Contraposição entre o mundo sagrado e o mundo profano

O religioso enxerga o mundo de maneira heterogênea e o organiza em duas fases:


sua parte Profana e sua parte Sagrada, isto é, o Caos e o Cosmos. Dentro dessa concepção,
o mundo surge e se constrói a partir de um ponto de referência, originariamente sagrado.
Somente depois de estabelecida essa origem, o mundo poderá se desenvolver ao longo do
tempo. O centro é tratado como o criador e o pilar de tudo aquilo que evolui no plano do
sagrado. Assim, toda a dimensão do sagrado tem sua existência originada pelos deuses.
(Eliade, M., 1995, p.135). Delineia-se, então, um limite para o que é considerado extensão
do divino e, portanto, sagrado, e para todo o restante a que não se atribui tal origem, ou
seja, a parcela profana. “O mundo apenas existe porque existiram deuses que o criaram”,
pensa o homem das sociedades arcaicas. Portanto ele entende que a existência do mundo já
é, por si só, uma evidência de suas características sacras. Visto que o cosmos tem vida e foi
criado pelos deuses, não importa o quanto se reflita, se descubra ou se manipule sobre o
mundo; a sua essência é originariamente divina.
Assim também pensa o oriental budista, por estar longe da Filosofia Crítica
Ocidental, afastando-se da Psicologia Moderna e adequando-se ao terreno metafísico na
Religião. Partindo da visão desse religioso, o mundo somente nasce a partir da criação
divina. Assim tudo que realmente existe é cosmos e detém não apenas uma porcentagem
qualquer do mundo, mas sua parte essencial e sagrada. Assim só é tratado como existente
aquilo que é considerado sagrado, embora na concepção budista exista a possibilidade de
imaginarmos certas observações como pertencentes ao real, mas que, na verdade não se
enquadram nesse plano, porque não são criações de Deus, mas produto de um estado de
ilusão do homem.
Segundo Eliade (1995, p.135), é por entender que o mundo em que nos
encontramos é criado pelos deuses que, em algumas culturas, o indivíduo se sente um
microcosmos. Assim como o cosmos, ele também é criação dos deuses e sente sua
existência santificada, ou melhor, se inclui como parte do macrocosmo. Para aquele que
vive essa idéia, sua vida transcende a observação objetiva que habitualmente realizamos.
Não se trata apenas de viver uma existência humana baseada em convenções racionais, mas
de viver uma experiência que além de humana é cósmica. Um olhar sagrado sobre a
experiência da vida a torna muito diferente da sua concepção profana. Conforme diz Eliade,
(1995, p.137), no âmbito do sagrado, o homem não necessita se desfazer de um olhar
concreto sobre os fatos, a estes simplesmente é acrescentado um novo valor que os torna
supremos.
Podemos facilmente observar como os fatos e objetos do mundo são interpretados
de maneira totalmente diversa pelo olhar do religioso e pelo olhar do não-religioso. O
primeiro é capaz de atribuir a um simples fato um valor simbólico extremamente profundo.
Para ele, qualquer coisa é passível de ser santificado; mesmo uma pedra poderia representar
o sagrado. Isso não se observa no mundo profano. Este é um mundo configurado sob o
terreno da objetividade, onde os fenômenos são unicamente vistos como fatos em sua
realidade imediata. O homem profano não só se faz distante da preocupação com
atribuições de significados espirituais, mas também, principalmente, evita bravamente essas
representações. O pensamento do homem a-religioso se restringe à dimensão concreta,
esforçando-se para explicar o universo em que vive de maneira totalmente objetiva e
impessoal.
No Ocidente, parece bem evidente a transformação dos valores em relação aos
métodos de investigação da natureza. Ainda na Idade Média, o homem estava envolto por
uma atmosfera sobre-humana, constantemente remetida à extensão do sagrado. As
explicações físicas, biológicas e psicológicas se faziam por meio da religião e todos as
outras tentativas eram violentamente extintas. Com o surgimento do Iluminismo, essa
tradição se desfez aos poucos tomando o rumo do extremo oposto: a convicção de que a
descrição da verdade da natureza era propriedade exclusiva da ciência. A era científico-
industrial, levando o homem ao ambiente urbano, mostra-se como um incentivo à
diminuição da sensibilidade religiosa antes presente no cristão. Até mesmo este, ao longo
dos tempos, parece se fechar para uma experiência com o cosmos, absorto no
direcionamento do mundo objetivo. A experiência do sagrado passa a ser um grande
empecilho para o homem moderno quando se refere à observação da realidade e qualquer
modo subjetivo de interpretação torna-se inadmissível ao determinismo científico.
Embora reformulações da física quântica tenham impulsionado para uma nova visão
da ciência, o indivíduo a-religioso ainda se mostra influenciado pela crença no absolutismo
da observação imediata dos fatos. Assim conforme pensa Eliade (1995, p.146), o homem
moderno se desvinculou da idéia de um mundo criado a partir de um deus e pensa assumir a
posição de autor frente às modificações do ambiente em que vive ao longo dos tempos.
Em contrapartida, a mesma idéia de responsabilidade da ação humana diante do
universo pode ser encontrada no indivíduo religioso, porém sustentada por razões e
sentimentos bastante diferentes. Para ele, o mundo objetivo em que se constrói aquilo que
observamos e vivemos, seria apenas um esboço, uma máscara de uma realidade suprema, o
Sagrado em si. Na concepção religiosa, como a vida humana é santificada, suas realizações
tomam proporções divinas e o homem por ser santificado tem suas ações também
santificadas; portanto, o homem tem papel ativo na construção da história e assume grande
responsabilidade diante dela tão grande quanto divina.
Provavelmente, para o homem religioso arcaico, qualquer ato é humano e trans-
humano ao mesmo tempo, isso porque órgãos, experiências fisiológicas e gestos, foram
fundados pelos deuses. Por isso ações que são encaradas pelo homem moderno como
insignificantes, são dignas de conteúdo religioso para o arcaico. Assim uma interessante
afirmação é feita por Eliade (1954, p.269, 395) ao estudar o comportamento do iogue:
“pelos mesmos atos que fazem arder no Inferno certos homens durante milhões de anos, o
iogue obtém sua salvação eterna”. “Aquele que sabe isso, seja qual for o pecado que pareça
cometer, é puro, limpo, sem velhice, imortal” (Brhadâranyaka Upanishad, V, 14, 8, apud
Eliade, 1995, p. 40).

Os rituais

Como dito anteriormente, o religioso valoriza o significado simbólico de muitos


acontecimentos e um exemplo disso são os ritos de passagem. Estes representam a
transição de uma condição de vida para outra e muitas vezes eles são a única via pela qual
essa transição se dá, ou seja, é a efetivação do rito que permitirá, por exemplo, considerar
realmente morto um indivíduo cujas atividades biológicas cessaram. Outro exemplo disso
são os simples rituais de oração ou meditação, que teriam a função de promover uma
“abertura” da mente humana para entrar em contato com o cosmos, passando para uma
nova condição espiritual.
Os rituais iniciáticos parecem estar sempre associados a um movimento entre morte
e renascimento. A morte, nesses padrões, é bastante citada como uma passagem para que o
renascer de uma situação mais adequada possa se desenvolver. Mas uma característica do
ritual também muito importante é o que se dá entre a primeira situação e a outra. É
interessante notar a necessidade de atravessar uma condição em que há uma espécie de
turbulência e desajuste daquilo que antes, aparentemente, permanecia sob controle e em
paz. Muitas vezes os rituais iniciáticos religiosos são representados pelo regresso à situação
embrionária, pelo regresso ao Caos para só então morrer para a existência profana e
renascer em uma nova perspectiva, a sacralizada, o que segundo Eliade (1995, p.160) são
acontecimentos constantes e dinâmicos. Esssa experiência de desajuste é expressa, do ponto
de vista religioso, pela descrição de uma passagem muito dolorosa e aterrorizadora.
Nesse sentido, parte do pensamento ocidental, representado pela Psicanálise, ainda
mostra-se de maneira semelhante ao processo ritualístico observado nas tradições arcaicas,
assim como sugere Eliade (1995, p. 169). Podemos, então, fazer uma aproximação entre a
transição que ocorre no ritual iniciático e um dos momentos do processo terapêutico.
Quanto a este, é comum dizer que, muitas vezes, o paciente chega ao fim da sessão
apresentando um estado emocional bem pior do que aquele apresentado no início da
sessão.O reconhecimento e confronto com os conteúdos do inconsciente podem trazer
incômodos e dores terríveis ao analisado; o psíquico parece sofrer uma desestruturação
quase insuportável para ele. Entretanto, nota-se que essa é, normalmente, uma condição
necessária para que se configure um novo arranjo da psique e sua conseqüente
transformação. O mesmo ocorre, na psicologia analítica, durante o processo de
individuação, cujo caminho é muitas vezes árduo.
O profano não vê suas transições como fenômenos ritualísticos assim como o
homem religioso, mas como concretos, não havendo outro significado senão as ações em si.
Além disso, muitas pessoas dizem ou pensam manter rituais supostamente religiosos e que,
na realidade, apenas são manifestações religiosas enquanto forma, desprovidas de um
significado realmente sagrado para o sujeito. Contudo, apesar de toda evolução centífico-
tenológica, o homem moderno ainda sustenta comportamentos rituais, resgatados de uma
história religiosa arcaica, idéia observada por Eliade (1995, p.169) ao analisar o processo
psicanalítico e que talvez poderia ser uma das diversas manifestações coletivas tratadas por
Jung.

A religiosidade do ponto de vista Oriental e Ocidental

A ciência nos ensinou a observar os fatos de uma maneira neutra e concreta e crer
nessas observações, as necessidades capitalistas nos trouxeram a velocidade das
informações e novos valores. Em geral, o homem tem constantemente voltado sua atenção
para situações exteriores a ele. Sua mente está na maior parte do tempo preenchida com
pensamentos sobre um mundo que está sempre em movimento. Mesmo quando se auto-
descreve, o empenho do ocidental, muitas vezes, recai sobre a realização desta tarefa de
forma mais impessoal possível. Aparentemente, houve uma espécie de profanização de um
mundo que, anteriormente, encararia seus elementos com maior profundidade sagrada. Ao
longo dos tempos, o desenvolvimento intelectual e industrial no Ocidente parece ter
afastado o homem moderno desse contato com o sagrado.
Embora o Oriente também sofra tais influências, sua história ainda permite uma
percepção diferenciada a respeito do sagrado. Nesse momento, uma comparação entre o
pensamento ocidental e oriental pode ser feita levando em consideração suas diferentes
concepções no que se refere à questão religiosa, sagrada e os conceitos que ela envolve.
No mundo ocidental o conceito de espírito, por conta do desenvolvimento científico
após a Idade Média, deixou de desenvolver um aspecto metafísico para se restringir aos
processos psíquicos. (Jung 1982, p. 1)
Entretanto, para o Oriente fora da influência ocidental, a idéia de espírito permanece
no terreno metafísico. Espírito seria "um princípio cósmico" (Jung, 1982, p. 5). Isso porque
no Oriente o conflito entre ciência e religião não foi consolidado, como ocorreu no
Ocidente. Essas duas fontes de conhecimento não se atritam, mas se sobrepõem e se
complementam.
A psicologia ocidental trata o conceito de "espírito" como uma função psíquica,
como aquilo que está contido no indivíduo, sua mente. Nesta encontraríamos funções como
percepções, emoções, pensamentos, ou seja, o espírito não possui mais seu sentido
cosmológico, passando a se restringir à consciência reflexa. Assim, não seria possível, para
o ocidental, conceber a idéia de espírito sem relacioná-lo à existência de um ego, ou
melhor, apenas por meio deste se define o espírito.
Diferentemente, o oriental encontra no conceito de "espírito" algo além dessa
definição. Para o Oriente, o pensamento ocidental ainda considera nossa parte não-matéria,
a mente, como sendo determinada por fatores materiais, orgânicos e, portanto, essa função
psíquica está longe de compreender o verdadeiro sentido de espírito. Este, na concepção
oriental, apesar de se comunicar com um eu, é completamente independente e não de define
de forma alguma por meio dele. O eu não faz parte da natureza do espírito. O espírito em si
desconhece os desejos do eu. A consciência reflexa engloba o eu, logo, é pertencente a um
estado inferior, em que o indivíduo se encontra tomado pela ilusão. Segundo Jung (1982,
p11), o despertar dessa ilusão, a iluminação, é que corresponde a uma consciência reflexa
"superior", para nós, o inconsciente coletivo.
A seguir, passagem em que Coomaraswamy descreve uma proposição que
representa um dos ensinamentos de Buda para atingir a libertação:

“...E enfim ele lhes ensinou a doutrina da libertação que resulta de uma compreensão
perfeita da experiência vivida desta proposição: de cada uma de todas as partes componentes desta
individualidade psico-física sempre mutável que os homens chamam seu Eu, seu Ego, é preciso
dizer ‘Isto não é meu Eu’ (na me so attã)” (Coomaraswamy, s/ d., p. 21)

Para o budismo é necessário que se aniquile o eu e se encontre o verdadeiro Eu. Mas


o que significaria isso? Para nosso pensamento ocidental, parece incompreensível e
contraditória a existência de dois tipos de eu. No entanto, o budismo faz a seguinte
distinção:
A intenção do iogue (meditador oriental praticante da ioga) é entrar em contato com
esse espírito e isso ocorre quando se desconecta de seu eu, ou melhor, quando passa a
contemplá-lo e verificar que ele não é e nem está contido no espírito: “Seu meio de
'sublimação' consiste em retirar o centro de gravidade psíquico da consciência do eu, que
ocupa uma posição intermédia entre o corpo e os processos ideais da psique" (Jung, 1982,
p.11). Seus desejos não são negados nem reprimidos, são simplesmente observados e
aceitos quando se conhece a realidade espiritual. "As camadas psíquicas inferiores são
ajustadas e configuradas pela prática paciente da hatha-ioga, até chegarem ao ponto de não
perturbarem mais o desenvolvimento da consciência superior" (id ibidem).
Por meio dessa concepção diferenciada de “espírito” para o Ocidente e para o
Oriente, podemos verificar como a questão do meio interno e externo do indivíduo é tratada
pelos dois pontos de vista.
No contexto ocidental, o conceito de espírito adotado indica a existência da
individualidade das pessoas por conta da formação de suas estruturas egóicas. Assim, pode-
se dizer que há um meio interno e um meio externo ao indivíduo. Então, ainda nessa
concepção, o Ocidente considera que, embora a filosofia oriental não resuma o espírito ao
sujeito psíquico, se preocupa com questões tipicamente internas ao indivíduo. (Jung, 1982,
p.8). Porém, no “espírito” oriental não cabe a idéia de interioridade ou exterioridade, já que
não se considera o ego como algo real. Se o ego é inexistente, não existem fronteiras entre
indivíduos, coisas ou situações, assim, não há sentido em conceber exterior ou interior.
Tudo é um único Cosmos. Um dos fatores que colaboram para essa distinção é a noção de
"eu", que delimita os sujeitos. Enquanto as pessoas se perceberem como seres individuais
permanecerão em ignorância, segundo o budismo.
A extroversão, cultuada principalmente no Ocidente, é vista como um empecilho à
busca da verdade. O homem é o único responsável pela sua redenção, não há salvação no
mundo exterior a ele, mesmo porque, na realidade, não há distinções entre interioridade e
exterioridade do sujeito. "O espírito oriental não sente dificuldade em conceber uma
consciência sem o eu" (Jung, 1982, p.11). A existência transcende o eu e a consciência
reflexa seria um estado inferior, de ilusão. Segundo Jung (1982 p. 11), o "inconsciente
coletivo estaria mais próximo de se eqüivaler ao buddhi, espírito iluminado”.
O processo de iluminação descarta o egocentrismo e o homem toma consciência de
que é parte do cosmos, de que é Deus, de que tudo é Deus. O budista sente seu espírito não
apenas vinculado ao Cosmos, mas homogêneo a ele. Portanto, sente-se responsável diante
das ações que comete, de como encara os fatos que ocorrem em sua vida e até mesmo das
razões desses acontecimentos.
Não há nada que torne a vida humana distinguível da esfera do sagrado, portanto
nada impede o homem de promover sua “auto-redenção”. Na visão oriental, o homem tem
o poder para isso, já que em sua natureza ele é sagrado. No Oriente, o religioso não procura
algo externo superior a ele que possa absolvê-lo de seus pecados. Na verdade, dentro dessa
visão não se considera a existência do pecado. Este é apenas uma produção imaginária da
mente daquele que permanece no estado de ignorância. A natureza divina do ser humano
não permite a este ser cometer pecados. Logo não é proeminente no iluminado o sentimento
de culpa, pois todos os seus comportamentos são santificados e se um dia eles não foram é
porque esse religioso ainda se apegava à ilusão profana.
Percebe-se que a “auto-redenção”, no contexto do processo de iluminação, não é um
ato egocêntrico, ela descarta qualquer relação com um “eu”. Não é o homem profano que
possui a capacidade de se redimir, mas o homem sagrado que se vê livre de pecados, pois
nunca os comete.
Entretanto essa “auto-redenção” pode ser entendida pelo Ocidente como heresia ou
pelo menos como algo que é interno ao indivíduo, no sentido egocêntrico. Essa idéia é
sustentada pelo pensamento cristão ocidental de que o homem se distingue de Deus e, para
obter sua redenção, depende inteiramente da graça fornecida por essa entidade externa a
ele. O Ocidente constantemente coloca a vida do homem sob controle de uma graça
distante dele, proveniente de uma outra fonte. Segundo Jung, tal atitude não se insere
apenas no âmbito da religião, mas também da Psicologia. Isso explica a existência dos
complexos de inferioridade da alma humana. (Jung, 1971, trad. 1982, p. 8). A idéia de que
o homem é um ser distinto de Deus e submetido ao controle das leis divinas, externas a ele,
o coloca numa posição de inferioridade.
Parte II – O Zen-budismo

Diante da grande diversidade religiosa Oriental, exploraremos aqui o modo de


pensar, agir e sentir do budismo, em especial, do zen-budismo.
Mais conhecida como Zen, derivado da tradução chinesa (cha’nna;zenna, em
japonês), a “Doutrina do coração do Buda” (Buddahahridaya) se desenvolveu
principalmente na China e no Japão. Trata-se de uma escola da forma budista Maaiana, que
se desenvolveu a partir do budismo original e primitivo, distinguindo-se deste pela idéia de
que o ensinamento é apreendido quando ele é realmente vivido e não quando apenas é
compreendido intelectualmente.
O objetivo último do zen-budista é a conquista do Satori, ou seja, o estado de
iluminação. O alcance desse estado representaria uma mudança psicológica interna, em que
valores anteriores a ela são encarados sob um novo e diferente ponto de vista. Para que o
Satori aconteça, a compreensão racional de seu sentido ou conceito torna-se insignificante.
Na verdade, nossas constantes tentativas de definir intelectualmente tudo que nos rodeia
somente atrapalham o despertar do satori. O seguinte trecho mostra a relação entre a
iluminação e sua análise intelectual:

“Acaso poderíamos explicar o Zen, se disséssemos que nenhum mestre pode levar seus
discípulos à iluminação? Será o satori algo que não possa ser captado ela análise intelectual? Sim. É
uma experiência que nenhuma série de explicações ou argumentos poderá transmitir a não ser que a
tenhamos anteriormente...Quando o satori se torna um conceito cessa de ser ele mesmo, e não mais
experiência Zen.” (Suzuki, 1961, p.96)

Habituados desde tenra idade a fazer uso da linguagem, atribuir significados e


definir o mundo que nos cerca, vivemos delimitados pelos dualismos e raciocínios lógicos,
chegando a acreditar que a vida humana se estrutura em um grande conjunto de
representações. Não é isso que o zen-budismo vem propor e sim justamente o contrário.
Para ele, a iluminação somente é obtida por meio da experiência pessoal direta. O
conhecimento espiritual profundo não é capaz de ser transmitido por nossos métodos
habituais e nada pode ser apreendido se não partir do próprio indivíduo. Essa experiência
ultrapassa nosso conteúdo de significações, devendo ser captada intuitivamente. Portanto, a
utilização de sutras sagrados e outras formas de chegar a uma intelectualização do zen não
possui importância intrínseca para cumprir sua finalidade. Por isso diz-se que o zen nada
ensina ou doutrina, já que o aprendizado provém unicamente da mente individual. O zen
apenas mostra que há um caminho para uma vida que é puramente sentida e não pensada ou
elaborada. A partir do momento em que se dá nome ao sentimento, o zen se dissolve e
deixa de existir. (Suzuki, 1961, p.41).A vida deveria se basear em percepções e não se
preocupar com explicações.
Além disso, algo que caracteriza o zen diante de outras seitas orientais é o fato de se
desfazer de qualquer tipo de concentração focalizada quando praticada a meditação. Esta,
mesmo direcionada para o sentimento de unicidade com o Cosmos, não é vista como um
método que auxilia o florescer do satori. O zen entende que o homem, por ser
essencialmente puro e bondoso, deve viver livremente, e por isso não faz parte de sua
natureza sofrer qualquer tipo de pressão externa ou interna, mesmo sendo algo com intuito
de beneficiá-lo. Segundo Suzuki (1961, p.39), “tudo que for direcionado ou violentamente
arrancado injuria a totalidade do espírito” e o homem deixa de ser fiel a sua natureza
divina.
O homem, no zen-budismo, é o homem-deus, ele próprio é Deus e assim não seria
necessário sua devoção a alguma doutrina ou utilização de artificialidades para se tornar
iluminado. Se o homem direciona sua mente para qualquer sentido que seja, isso contraria a
afirmação zen de que a luz é intrínseca ao ser humano. Para o zen, a busca pela iluminação
não é dada por meios externos ao homem ou forçada via devoções ou mentalizações, deve
ser livre até que, aparentemente, de súbito, aconteça.
Dessa forma, imagens de símbolos divinos por si só não possuem significado maior
do que qualquer outro objeto do mundo material. Não há uma preocupação do zen em
adorá-las. Por outro lado, qualquer coisa pode ser cultuada quando vista por olhos que nela
depositam um valor sagrado.
Pode-se, então, dizer que o zen não se prende a um culto a Deus, assim como em
outras religiões. Isso, porém, não nega a existência D´ele. Segundo Suzuki (1961, p.39), a
afirmação ou a negação da existência de Deus são indiferentes para o zen, porque “quando
algo é negado, a própria negativa envolve algo que não é negado”. (Suzuki, 1961, p.39). A
percepção do zen está para além da nossa lógica, em um lugar sem dualidades.
Assim, podemos dizer que, por não cultuar um Deus, o zen não é cultuado como
uma religião comum. E ao mesmo tempo não seria tratado como uma filosofia, de modo
que pretende ultrapassar a lógica.
O zen não ignora a importância do raciocínio lógico-verbal. Eles são muito úteis até
certo ponto. Há um momento, porém, que são insuficientes, e os fatos devem ser tomados
como puros, sem se associarem a idéias preconcebidas ou deformadas. Para o zen, as
palavras são meras convenções e não possuem significado real. Para entendermos o zen,
devemos antes entender que, por exemplo, A é A e, simultaneamente, A também é não A.
O que pode nos soar incoerente é, para o zen, uma das mais freqüentes lições de seus
mestres e um caminho a percorrer. Por meio de frases enigmáticas, aparentemente sem
nexo, como por exemplo: “observai a pá em minhas mãos vazias” (Suzuki, 1961, p 62), os
discípulos são auxiliados em seu despertar. Porém, apesar de aceitar a afirmação de um fato
e também sua negação, a verdade zen é uma verdade suprema caracterizada essencialmente
por uma afirmação. O verdadeiro Bem do zen-budismo é aquele que não sofre a dualidade
com o mal, porque está além da antítese bem versus mal. Trata-se de um Bem único não
porque seja superior ou mais forte se sobreponha à existência de um mal, mas porque o
último realmente não existe. Ou seja, não há dois caminhos que pode ser um melhor do
que o outro, mas há apenas um único caminho a seguir e que é visto naturalmente pelo zen,
o Bem.
Suzuki (1961, p.66) nos lembra que “vivemos psicologicamente e biologicamente,
nunca logicamente”. A lógica acaba se tornando uma prisão quando não respeitamos seus
limites. Ao se auto-observar criticamente, a vida perde seu sentido real e fica submetida ao
comando de circunstâncias. Para ser zen, a vida deve se desprender de tudo, deixar de focar
sua atenção em algo, mesmo que o objeto de atenção seja ela mesma. Para o zen, a vida é
livre e deve se mover por si só, longe do controle de condicionamentos.
Esse se torna o caminho para o satori, cuja abertura marca a condição para o início
de uma vida zen (Suzuki, 1961, p.93). Os mestres nada mais podem fazer além de sugerir
uma direção por meio de seus diálogos quase intelectualmente incompreensíveis, porém
carregados com a profundidade de um conhecimento zen.
Isso se explica ao se observar que a experiência toma forma quando vivida
individualmente. Enquanto se vive de maneira livre, chega um momento em que a mente
está madura o suficiente para propiciar o satori. Então, qualquer situação, em geral, trivial,
pode causar um “estalo” na mente e despertar o indivíduo para um novo modo de enxergar
o mundo e a si mesmo.
Parte III – A Psicologia Analítica

Se disséssemos a um intelectual de direcionamento ocidental que a anulação do ego


é meio primordial para se atingir o satori, ficaria no mínimo duvidoso. Para o Ocidente, em
uma visão psicodinâmica, seria praticamente impossível conceber a idéia de sujeito sem
associá-lo a sua estrutura egóica, salvo certos casos patológicos, que, por exemplo, podem
desenvolver uma fragmentação do ego. Porém, mesmo que a patologia expresse um
funcionamento psíquico diversificado, ela ainda se define a partir da consideração da
existência de um ego, a tomando como referência. A Psicanálise trata o eu como
constituição essencial, inerente ao ser humano.
Assim, a proposta do zen-budismo poderia ser vista, segundo algumas teorias
ocidentais, como um “suicídio” do ego. Porém, essa proposta parece ser um pouco mais
complexa. Tratar-se-ia não de dissolver o eu que Psicologia Ocidental conhece, mas de
mantê-lo em segundo plano quanto ao domínio de um Eu superior que é sagrado e se
encontra além do eu que ainda pertence ao nível da dualidade Ocidental. O Eu é sagrado no
sentido em que se encontra anteriormente ao eu dual. Na concepção Oriental, o espírito
humano se define por constituir, além do eu, um elemento ao qual é atribuído valor
santificado e universal. O Eu, portanto, seria ocupado por esse elemento que o torna
iluminado, livre de sentimentos negativos, pecados, doenças e morte.
A busca pelo satori é a busca pelo encontro com o Eu sagrado e pelo aprimoramento
e educação do eu dual. O zen não prega a repressão ou sublimação dos desejos do eu, mas a
observação desses desejos, sua contemplação.
Poderíamos dizer que enquanto o Eu do espírito oriental estaria na esfera do
sagrado, o eu seria uma estrutura profana. Se assim pensássemos, ainda estaríamos
dominados pela inércia de nossa visão dualista, em que atuam os opostos. Quando se
compreendem as razões e o sentimento budistas, compreende-se que a dualidade pode
existir, mas ao atingir esse novo plano, ela não possui mais sentido, visto que o todo mais
supremo e homogêneo é indistinguível.
Talvez seja a Psicologia Analítica a teoria ocidental que mais se aproxima da
explicação oriental do homem, embora o próprio Jung (1982, p.9) julgue praticamente
impossível um ocidental tentar colocar-se no lugar de um oriental e conseguir analisar os
fatos à mesma maneira, visto a diversidade cultural em que cada sujeito psicológico foi
construído. Além disso, freqüentemente observamos nas palavras de Jung que a intenção de
sua obra não é tratar de assuntos filosóficos, mas de discutir e elaborar idéias com base em
metodologias empíricas.

O Consciente e o Inconsciente

Para Jung (1985, p.5), consciência envolve o resultado do conjunto de percepções e


orientações obtidas pelo sujeito quando se relaciona com o mundo externo. Por isso sua
ação será restrita ao que temos a capacidade de apreender tanto do mundo externo quanto
do interno. A idéia de que a consciência era produto dos sentidos foi tão predominante que,
nos séculos XVII e XVIII, considerava-se que tais sentidos eram seus exclusivos
construtores.
Porém não parece ser esta a opinião de Jung. Embora as teorias contemporâneas a
ele, como a psicanálise, muitas vezes não atribuam a origem da consciência apenas por
meio de dados sensoriais, nesse caso, concebe o inconsciente como produto de assimilação
consciente. Jung imagina que essa ordem ocorra de maneira inversa: conteúdos conscientes
seriam desenvolvidos a partir do inconsciente (1985, p. 6).
Considera-se, então, a consciência como fator secundário frente ao domínio
inconsciente. Seria como se fosse apenas a superfície mais visível que envolve um processo
muito mais profundo. Entretanto, sabemos que qualquer teoria do inconsciente não poderia
ser produzida por meio de uma investigação direta, configurando-se um teoria constituída
com base em hipóteses, visto que o inconsciente seria inacessível senão por intermédio do
consciente. Segundo Silveira (2003, p. 63), “na área do consciente desenrolam-se as
relações entre conteúdos psíquicos e o ego, que é o centro do consciente. Para que qualquer
conteúdo psíquico torne-se consciente terá necessariamente de relacionar-se com o ego.”
O inconsciente é definido por Jung como tudo aquilo que ignoramos, ou seja, que
não se relaciona diretamente com o eu, centro dos processos da consciência. No campo do
desconhecido há duas categorias classificadas por Jung. Desconhecemos as coisas externas
a nós, porém possíveis de serem captadas por meio dos sentidos, classe denominada
"desconhecido do mundo exterior", e os dados provenientes do nosso interior, denominados
"desconhecido do mundo interior". Jung concentra seu trabalho neste último aspecto do
desconhecido, atribuindo-lhe a definição de inconsciente.
Em sua primeira conferência nos "Fundamentos da Psicologia Analítica" Jung
evidencia fatos que poderiam corroborar a hipótese de que o inconsciente é anterior ao
consciente, ou ainda, elemento inicial da psique. Um dos exemplos utilizados se refere à
nossa tendência a retornar ao inconsciente. Quando trabalhamos, nossa psique permanece
por longos períodos no nível do consciente, grande quantidade de energia seria, então,
despendida para tal processo e, enfim, chegamos às vezes a exaustão. Tamanho esforço
seria considerado até mesmo antinatural. Além disso, as nossas principais funções
instintivas são pertencentes ao campo do inconsciente, isto é, este se relaciona àquilo que
mais nos parece primitivo e inicial. Assim, Jung até mesmo arrisca a hipótese de que o
estado consciente seria formado a partir desse desconhecido.
De acordo com a Psicologia Analítica, os produtos inconscientes que podem vir a
atingir o consciente se distinguem em dois tipos: o inconsciente pessoal e o inconsciente
coletivo.
O primeiro atua essencialmente no nível pessoal. Nesse plano do inconsciente
incluem-se todos aqueles conteúdos que sofreram processo de repressão, ou seja, que em
algum momento fizeram parte do domínio do consciente e foram reprimidos a ponto de se
tornarem inconscientes (Jung, C.G., 2002, p.53). Assim, o inconsciente pessoal, além de ser
construído via histórico de experiências pessoais, possui elementos para formação da
personalidade humana. Os conteúdos do inconsciente pessoal se restringem ao espaço e ao
tempo, na medida em que sua configuração é delineada pelas experiências vividas pelo
indivíduo, sejam elas concretas ou imaginárias. Segundo Jung, qualquer conteúdo
inconsciente adquirido dessa forma é passível de se tornar consciente, logo, se todos os
conteúdos pessoais fossem investigados e submergissem à consciência, o inconsciente se
esvaziaria, por isso Jung acredita que o inconsciente não se resume a dados unicamente
pessoais.
Esse autor utiliza-se de outro conceito de inconsciente que vai além daquele referido
por Freud, o inconsciente coletivo, que não se trata de uma aquisição do âmbito pessoal ou
mesmo cultural. Por meio de suas observações empíricas, Jung encontra conteúdos
inconscientes que não são adquiridos pelo indivíduo, mas são dados pré concebidos
universalmente, sobre os quais se depositam os conteúdos pessoais. Sua origem é
desconhecida, porém seus conteúdos podem ser verificados ao longo de toda a história
humana.

"Os conteúdos inconscientes são em parte pessoais quando se referem a materiais de


natureza pessoal que já foram relativamente conscientes, sendo depois reprimidos. Quando
conscientizados, sua validade geral não é reconhecida. Tais conteúdos são em parte impessoais
quando se trata de materiais reconhecidamente impessoais, cuja validade é universal, não podendo
ser provado o fato de terem sido antes nem mesmo relativamente conscientes." (Jung, C.G., 2003, p.
152)

O inconsciente coletivo ou supra pessoal foi um conceito proposto por Jung que
surgiu a partir da análise dos sonhos de seus pacientes e de seus próprios. Jung observou
que as figuras oníricas estudadas eram expressões muito diferentes daquilo que, em
consciência, aquele que as sonhava concebia como figura de Deus. Daí conclui-se que não
se tratava de imagens que o indivíduo um dia viu e não se recorda (criptomnésia), pois
foram descritos diversos casos em que diferentes sonhadores produziam em seus sonhos
figuras parecidas. Dentre os pacientes, até mesmo aqueles que não teriam a menor
possibilidade de ter visto semelhante imagem alguma vez a expressava em seus sonhos.
Contudo, mesmo considerando que tais casos fossem controlados por criptomnésia, Jung
ainda questiona o que poderia ser tão significativo que influenciaria na tendência de
despertar conteúdos aos quais o indivíduo não dá importância consciente. Baseado nessas
constatações, Jung desconsidera a idéia de que esses conteúdos manifestados em sonhos
tenham origem pessoal, devendo ser, então, conteúdos partilhados universalmente,
independentemente de variáveis geográfico-culturais. Tais conteúdos são chamados de
arquétipos por Jung e, embora encontre dificuldade em apresentar a natureza do arquétipo,
Jung traça a seguinte definição:

“trata-se de uma imagem histórica que se propagou universalmente e irrompe de novo na


existência através de uma função psíquica natural” (Jung, 2003, p.13)
Os arquétipos assumem um valor instintivamente adaptativo na visão de Jung.
Como em um exemplo dado por ele, em uma situação de pânico, os conteúdos coletivos
intervêm na ação do indivíduo de forma a adaptá-lo à situação desconfortável. Assim,
mostra a importância do aspecto primitivo e instintivo do inconsciente coletivo, que chega a
ser vital, útil para a própria sobrevivência do homem.
Jung descreve os conteúdos inconscientes como se houvesse uma ordem; então, a
camada primordial e mais extensa seria a do inconsciente coletivo e sobre ela estaria aquela
referente ao inconsciente pessoal. Todavia, há entre elas uma relação e seus conteúdos,
apesar de terem origem diversa, parecem se manifestar de maneira interdependente.
Segundo Jung (2002, p. 13), os conteúdos arquetípicos se modificam conforme sua
conscientização e percepção, assumindo diversas matizes de acordo com as diversidades da
consciência pessoal em que são manifestados. Unindo-se arquétipos e instintos forma-se o
inconsciente coletivo.
Embora Jung insista na idéia de que o arquétipo seja mais uma questão empírica do
que filosófica, teóricos como Levy Brühl, Hubert, Mauss e Adolf Bastian já haviam
abordado o tema dos conteúdos do inconsciente coletivo, porém utilizando-se de outras
denominações.
Segundo Jung (2002, p. 53), os arquétipos são modelos hipotéticos abstratos que
nunca passaram pela consciência e, portanto, não devem ter natureza individual, sendo
hereditários. Na realidade os arquétipos são predisposições que podem se manifestar por
meio dos símbolos arquetípicos. Apenas por meio destes é que se poderia experienciar, de
forma indireta, os arquétipos. O arquétipo seria uma espécie de tendência universal que nos
leva a formar imagens dele representantes, que, portanto, têm natureza coletiva. Diversos
tipos de imagens podem apontar para um único arquétipo, por exemplo.
Quando Jung diz que um conteúdo inconsciente representado pelo arquétipo pode
assumir matizes que variam conforme a consciência individual na qual se manifesta,
provavelmente quer dizer que a história de vida pessoal atribui ao arquétipo muito das
características das imagens que dele surgem. A história pessoal e a atribuição de valores
aos fatos realizada pelo sujeito darão certo direcionamento ao arquétipo que irá tomar
forma conforme tais experiências psicológicas individuais. Por isso a diversidade de
símbolos em diferentes culturas, que, no entanto, manifestam um mesmo arquétipo.
Embora os conteúdos coletivos pertençam a toda espécie humana, alguns tipos
culturais parecem aceitar um maior contato com suas propriedades e desenvolvê-las de
maneira bastante interessante. Em culturas arcaicas os conteúdos do inconsciente coletivo
parecem estar bastante visíveis, assim como em filosofias religiosas orientais. Ambos
teriam como objetivo a busca por um sentimento de unidade cosmológica e talvez por esse
motivo a visualização de conteúdos coletivos fique mais clara . O zen-budismo também se
enquadraria nessa idéia, sendo que nele está presente um esforço para experienciar a
completude espiritual interna.
O despertar do Satori poderia ser visto como o último estágio dessa, momento em
que o indivíduo passa a ser indiferenciado do cosmos, integrado a ele, em uma forma
completa e auto-suficiente. Nesse sentido, parece haver algo de coletivo na intenção do
Satori. Este representaria uma espécie de passagem para um outro estado psicológico, em
que não se considera mais a linha separadora dos sujeitos traçada pelo ego. Tratar-se-ia de
observar aquilo que todo o universo tem em comum, transcendendo todas as diferenças.

Manifestações do Inconsciente Coletivo

Conforme a história e estrutura psicológica individual, o homem pode manifestar


diversas características provenientes do inconsciente coletivo. Tais características,
aparentemente pessoais, não são totalmente estáveis, variam segundo o desenrolar das
situações vividas pelo indivíduo. Seria interessante apontar algumas formas de
manifestações do inconsciente coletivo que Jung observou em seus pacientes . (Jung, C.G.,
2003)
Com base no processo terapêutico de diversos analisados, Jung encontra
freqüentemente dois tipos de atitudes opostas. Em uma delas, o paciente se enxergava como
detentor de todo o saber, muitas vezes imponente em sua autoconfiança exagerada. Por
outro lado, havia pacientes que se expressavam da forma inversa: sentiam-se inferiorizados
e impotentes, abandonando sua responsabilidade sobre a própria vida quando se deparavam
com o inconsciente mesmo durante o processo analítico e experimentando o imprevisível
domínio deste diante do qual estariam totalmente indefesos.
Num primeiro momento, tanto um tipo quanto o outro se acentuam conforme o
analisado prossegue na terapia, conforme aprofunda seu conhecimento sobre o
inconsciente. Transformam esse conhecimento em uma ferramenta para a construção de
uma atitude neurótica. Jung sugere que nesse momento não há diferenciação entre imago
(imagens primordiais parentais) e objeto. Quando as outras pessoas são colocadas como
objetos, os analisados podem se sentir tão superiores que se encontrarão na posição de
algum missionário com a função de iluminar o mundo. Porém, caso não se sintam sujeitos
das mais nobres ações, mas objetos em relação aos outros, poderiam apresentar sintomas de
depressão.(Jung, 2003)
O inconsciente coletivo se presentifica em ambos os tipos de atitude. Estaria
representado naquele possuidor de autoconfiança exagerada quando o indivíduo constrói a
idéia de que conhece o que se passa a todos os outros e julga estar sob seu poder a
possibilidade de modificação mundo. O coletivo também aparece no paciente passivo. Ele
se vê a mercê de uma ampla esfera de acontecimentos externos a ele, podendo-se encontrá-
lo submisso ao coletivo.
Para demonstrar a dinâmica de uma das formações neuróticas, Jung adapta uma
expressão utilizada por Adler, "semelhança à Deus", para representar um sentimento de
superioridade por parte do sujeito que atravessa um determinado período da análise.
Conforme Jung (2003), nessa fase, após ter entrado em contato com seus conteúdos
coletivos que englobam tanto o bem quanto o mal (ou seja, a constatação dos opostos) e
possivelmente ter encontrado algumas resistências decorrentes dessa descoberta, o
indivíduo apresenta uma aparente aceitação daquilo que julga ser bom e mau. Seria uma
tentativa de compreensão de seus conflitos e superação dos mesmos. Nesse contexto, o
indivíduo percebe os conteúdos opostos, antes separados, em união nesse momento,
apresentando aparentemente a superação de seus conflitos morais. Daí o sentimento de
superioridade proveniente dessa sensação de completude.
Também aqueles que ao passarem por esse período vivem sentimentos de
inferioridade frente aos outros percorrem processo semelhante. Porém, manifestam
resultado supostamente contrário; sentem-se objeto do "destino". Nesse sentido, Jung
compara tal atitude à crucificação, talvez à posição de mártir, podendo estar aí presente a
"semelhança à Deus" mencionada, dessa vez no que se refere ao sofrimento pelo qual o
sujeito passa ao se pôr indefeso diante das situações que fogem a seu controle.
O analisado pensa estar consciente de seus conteúdos considerados contrários e de
seus conflitos. Quando essa percepção ocorre, por ter descoberto algo que antes lhe era
inconsciente, imagina ter solucionado todas essas questões. Parece experimentar uma
plenitude, podendo-se dizer divina, tão intensa que necessita transmitir àqueles, que, para o
sujeito, não correspondem a seu nível de sabedoria.
Assim, o propósito que sustenta essa atitude muitas vezes é um propósito solidário,
porém é também freqüente que o indivíduo se mostre possuidor de todo o conhecimento
chegando a ser até arrogante e inflexível, convencido de sua sabedoria iluminada. Ele
acredita que está acima do nível espiritual dos outros homens e que estes deveriam seguir
seus passos para que, da mesma forma, atinjam a "pseudoiluminação". Entretanto, segundo
Jung (2003, p.14), essa certeza de estar no auge da completude humana esconde, ainda
inconsciente, um desamparo intenso numa tentativa de compensar esse sentimento, porém
de forma ineficaz. Quanto maior a demonstração de superioridade e segurança, maior seria
a intensidade de sentimentos de inferioridade encobertos por uma aparência que pode
"enganar" o próprio sujeito. Investigando mais profundamente esses sentimentos, Jung
observa por trás da fachada de autoconfiança desses clientes terríveis dúvidas sobre si
mesmo que se esforçam a sanar tentando convencer o outro, na esperança de que a crença
deste possa reafirmar aquilo de que ele mesmo duvida. Ele necessita da aprovação de
outros para se sentir menos inseguro e, conforme isso acontece, aparentemente aumenta sua
confiança. No entanto, o sujeito estaria sob controle de ocorrências exteriores a ele
isentando-se da responsabilidade sobre si mesmo e atribuindo-lhe ao outro. Talvez isso
aumente cada vez mais o abismo de seus sentimentos de insegurança.
Conforme diz Jung (2003, p.17), o orgulho está muito próximo da humildade
extrema. Dessa forma, no inconsciente daquele que rebaixa suas capacidades, encontram-se
intensos desejos de poder que crescem quanto mais se renega e se ausenta de seu meio. Na
realidade, esse indivíduo não se percebe como inferior, mas tem uma grande convicção de
que não está sendo reconhecido como mereceria. Se, diante de um mínimo desacordo,
inflama-se, mostrando-se injustiçado e inferiorizado é porque no fundo mostra-se orgulhoso
e arrogante em sua inflexível certeza de ter os mais corretos pensamentos. Portanto, aí
também se encontra a "semelhança à Deus", atitude que vai além dos limites humanos. Em
ambos os casos, inferioridade e superioridade são exacerbados havendo uma espécie de
compensação dos opostos: tanto mais aumenta um dos dois sentimentos, mais cresce o
outro em sentido contrário, sem se desvincular um do outro. Jung descreve esse exagero
dos dois sentimentos como estando fora dos limites da normalidade do ser humano,
atribuindo-lhe a expressão "semelhança à Deus" que depois substitui pelo termo "inflação
psíquica". Jung identifica esse estado como o preenchimento de um espaço que não
pertence à pessoa, mas ao outro, a todos ou a ninguém. Essa pessoa passa a atribuir a si
características pertinentes a outros, a uma cultura ou mesmo ao inconsciente coletivo de
toda a humanidade. Jung também mostra que isso não ocorre apenas durante o processo
terapêutico, mas nos deparamos freqüentemente com tais manifestações em nosso
cotidiano, como, por exemplo, quando uma pessoa se enxerga como possuidor das
características que fazem parte da função profissional que exerce e se identifica com essa
profissão, admitindo tais qualidades como pessoais, sem se dar conta de que não são suas,
mas do cargo que ocupa. O indivíduo acreditaria serem suas características que seriam, na
realidade, decorrentes de uma criação social. Partindo da idéia de que um cargo é um fator
construído e aprovado por uma sociedade, quando se identifica com ele o indivíduo passa a
se comportar de acordo com o que ele representa, sentindo-se, assim, também aprovado
pela sociedade. Dessa maneira, o sujeito não se mostra por meio de seus atributos pessoais,
mas utiliza-se de conteúdos que são coletivos.
Quando os conteúdos impessoais se desenvolvem espontaneamente e o indivíduo
não consegue controlá-los ou se defender de sua ação, Jung dirá que esta seria uma
manifestação patológica do inconsciente. Por outro lado, quando é possível abstrair tais
conteúdos de maneira que eles se tornem conscientes e comunicáveis universalmente, há,
nesse processo, uma produção pessoal que nos permite não os tratar mais como uma
inadaptada inflação psíquica. Como Jung afirma:

"O valor pessoal reside na realização filosófica e na visão primária. O filósofo citado
também teve essa visão, como incremento, procedente do patrimônio geral da humanidade do qual,
em princípio, todos nós partilhamos. As maçãs de ouro caem da mesma árvore, quer sejam colhidas
pelo insano aprendiz de serralheiro ou por Schoppenhauer" (Jung, C.G, 2003, p.19)
A Prática da Psicologia Analítica

Podemos assim, manifestar os conteúdos inconscientes coletivos de diversas formas


em suas diferentes intensidades que se expressam desde a sensação de inferioridade
extrema até a de superioridade divina. Estas são conseqüências que ocorrem depois de uma
certa conscientização de qualidades básicas e impessoais da humanidade, mas que, na
realidade, não levam a uma individuação. Elas são algumas possíveis fases pelas quais o
individuo poderia atravessar fora do contexto terapêutico ou mesmo por conta dele. Embora
possam fazer parte do processo terapêutico, tais manifestações do inconsciente não são
desejáveis como finalidade de seu processo. Assim como vimos, o contato com conteúdos
coletivos não conduz necessariamente ou diretamente ao objetivo terapêutico de individuar-
se. Muitas vezes, esse contato é realizado de forma que elementos essencialmente coletivos
são considerados de domínio pessoal, ou melhor, entendem-se como fatores pertencentes ao
individual características que, na verdade, não passa de uma expressão universal. Devemos
observar que não é a manifestação de conteúdos coletivos que é combatida pela terapia,
mas o que devemos evitar é tomar como pessoal o que é encontrado em todos seres.
Na terapia junguiana, um dos passos imprescindíveis é a distinção entre os fatores
pessoais e os coletivos que fazem parte da psique. A análise dos diversos conteúdos
presentes nos indivíduos nos faz perceber que muito daquilo que aparentemente era pessoal
tem origem coletiva. Então, segundo Jung, dessa maneira, é a partir daí que o indivíduo
cede todo seu lugar ao coletivo. Porém, não seria esse o objetivo puro da terapia, pois o
inconsciente coletivo pode influenciar no ego e este pode não suportar tal influência, de
forma a surgir, por exemplo, o que Jung denomina “inflação psíquica”. Por outro lado, é no
próprio coletivo onde se encontram as sementes de potencialidades que conduzem à
individuação e que estão presentes em todos os humanos. Assim, por se tratar de uma
propriedade coletiva, o processo de individuar-se seria intrínseco ao ser, sendo
potencialmente conduzido de maneira natural.
A Individuação

O caminho que a Psicologia Analítica sugere para o desenvolvimento de uma


terapia talvez mais adequada seria aquele que tem como meta a individuação, que, nas
palavras de Jung, significa:

“tornar-se um ser único, na medida em que por ‘individualidade’ entendermos nossa singularidade
mais intima, ultima e incomparável, significando também que nos tornamos o nosso próprio si-
mesmo.” (Jung, C.G., 2003, p.49)

Faz-se uma importante observação com a finalidade de não causar confusões ao


interpretar individuação como sinônimo de individualismo. Enquanto este se concentra
naquilo que parece ser diferente, peculiar ao individuo, em detrimento do que lhe é
coletivo, a individuação visa principalmente o aperfeiçoamento de realizações que são
universais encontradas nas peculiaridades individuais. (Jung, C.G., 2003, p. 49). O
individualismo parece estar associado àquilo que diferencia e define cada pessoa. Por outro
lado, o processo de individuação está mais próximo de um trabalho com elementos que têm
origem impessoal. Aparentemente, é contraditório dizer que individuação significa tornar-
se um ser único e, ao mesmo tempo, que isso envolve conteúdos impessoais. Entretanto,
quando Jung aborda tais conteúdos como principal fonte para a efetuação da individuação,
não está negligenciando as características individuais. Pelo contrário, ressalta que essas
qualidades devem ser valorizadas, porém consideradas de forma adequada, ou seja, não
devem ser observadas como propriedades que são diferentes por natureza, mas como
combinações únicas em cada indivíduo que passaram por diferenciações graduais, mas que
têm origem universal.
Na seguinte passagem, Nise da Silveira explica como o trabalho direcionado à
individuação estaria relacionado a uma melhor interação entre indivíduo e coletividade:

“Nesse trabalho ele aprende por experiência própria que a estrutura básica da vida psíquica
é a mesma estrutura básica da psique de todos os seres humanos. Um conhecimento dessa ordem
não fomenta sentimentos de orgulhosos privilégios individualistas. Acontece é que as relações
interpessoais mudam no decurso do desenvolvimento da personalidade. Liquidam-se projeções. As
relações de estreita dependência, de quase fusão com outros seres gradualmente se modificam para
dar lugar a uma posição de ‘respeito pelo segredo que é cada vida humana’”. (Nise da Silveira,
2003, p. 78)

A individuação é descrita por Moacanin (1999, p. 49) como uma continuidade


progressiva de desenvolvimento, um processo de integração da personalidade que tem
como fim o equilíbrio entre os conteúdos conscientes e inconscientes, a auto-realização e
busca de sentido. Enfim, ela tem como meta a descoberta do Self, conceito que será melhor
explicitado adiante.
Contudo, um alerta é feito por Nise da Silveira (2003, p. 78) com a finalidade de
não se confundir a individuação como sinônimo de atingir a perfeição. Segundo essa
autora, individuação se propõe a completude no sentido em que o indivíduo integre a
totalidade de suas características à consciência. Isso significa aceitar todas essas qualidades
tenham elas valor positivo ou negativo para o indivíduo, englobando-se na consciência
simultaneamente os opostos presentes em sua natureza.
O caminho da individuação é marcado por etapas com a finalidade de se atingir o
Self ou Si-mesmo inerente ao indivíduo. Essas etapas seguem-se encabeçadas pelo
desnudamento da persona, em que a máscara que utilizamos diante à sociedade é retirada; a
seguir se dá contato com algumas de nossas características que são por nós rejeitadas e
permanecem na sombra; posteriormente, entra-se em contato com a anima ou animus,
reduzida porção de características femininas e masculinas presentes nos sexos opostos e
que, em geral, permanecem inferiorizadas; e finalmente, dá-se o encontro do Self com o
consciente.

O Self

De acordo com Maocanin, entende-se por Self ou Si-mesmo:


“...a quintessência dos arquétipos...Ele é princípio organizador, guia e unificador que dá direção à
personalidade e sentido à vida. Ele é o começo, a fonte da personalidade e seu objetivo final, o
ápice do crescimento pessoal, isto é, a auto-realização. O Self é o homu totus, o homem eterno, que
não só expressa sua individualidade e plenitude únicas, mas é também o símbolo da divindade do
homem, quando este toca o cosmo, seu microcosmo que reflete o macrocosmo.” (Moacanin, 1999,
p. 48)

Enquanto, na visão freudiana, no inconsciente se concentram pulsões em total


desordem, para Jung, o inconsciente coletivo é organizado e possui o Self, que funciona
como centro organizador e é dotado de grande quantidade de energia. A definição de Self ,
segundo Jung (apud Moacanin, 1999, p. 48), apenas trata-se de um conceito psicológico
para que possamos estudá-los como estrutura e que tem a função de expressar uma essência
ainda desconhecida para nós.
Como o Self está mais próximo do inconsciente do que do consciente, abrangendo
todos os arquétipos, então parece que está associado aos primórdios da construção da
psique. Além disso, o Self também se coloca como o objetivo que deve ser alcançado por
meio de um processo em que repercute o surgimento de uma personalidade superior. Isso
porque o Self simboliza a completude, a união entre os opostos e talvez até mesmo uma
imagem divina, dado que Jung também o denomina “Deus dentro de nós”.
Imaginemos que o início da construção de uma psique esteja estruturada em um
elemento como o Self, em que se tem primeiramente todos os conteúdos englobados, então
seria como se nossa psique fosse completa e formasse um microcosmo. Se, de alguma
forma, essa completude parece não ser desfeita, mas superficialmente ou aparentemente
desfeita, tendemos constantemente retornar ao estado inicial, ou seja, inconscientemente,
buscamos reestruturar novamente essa unicidade.
Dessa maneira, naturalmente, nossos processos psíquicos caminham na tentativa de
atingir o estado de um microcosmo, caminhando de encontro ao Self.

A Persona

Originalmente persona significa máscara utilizada por um ator que irá interpretar
seu papel. Na Psicologia Analítica, a persona exerce função similar: expor aquilo que o
indivíduo permite ou deseja que os outros vejam. Porém a persona não é constituída apenas
de características pessoais, mas grande parte dela provém do coletivo.
Embora tenha aparência individual, a persona trata-se de uma máscara da psique
coletiva. "No fundo nada tem de real; ela representa um compromisso entre o indivíduo e a
sociedade, acerca daquilo que alguém parece ser: nome, título, ocupação, isto ou aquilo."
(Jung, C.G., 2003, p.32). Jung não nega que essas características representam algo da
individualidade, no entanto, não estão na formação da essência da pessoa, são secundárias.
Muitas vezes a consciência pode estar totalmente identificada com os conteúdos da
persona, dando-nos a impressão de que esta seria nossa verdadeira individualidade. Porém,
não estamos livres da ação do inconsciente coletivo, onde está contido o si-mesmo, ou
melhor, a verdadeira individualidade. Esta reivindica seu lugar e, de alguma maneira, o
inconsciente coletivo se mostra de forma indireta, mesmo quando há qualquer tentativa de
reprimi-lo.
Seria como se a persona fosse uma casca de aparência de origem coletiva, com
aspectos tanto conscientes como inconscientes, em que se mostram as qualidades desejadas
ao mundo. Como, de acordo com Jung, a consciência do ego pode se identificar
exclusivamente com a persona em alguns casos. Muitas vezes nem mesmo há, por parte do
paciente, a idéia de que apenas vive sua persona, ou seja, sua aparência que se mostra como
se fosse aquilo o que esse indivíduo é. Seu eu se identifica com a persona de tal forma que
se comporta mais em função da sociedade do que de acordo com suas próprias
características. Porém, sempre há algo por trás dessa casca que tenta, insistentemente,
rompê-la: o si-mesmo, verdadeira individualidade.

“Como seu nome revela, ela é uma simples máscara que aparenta uma individualidade,
procurando convencer aos outros e a si mesma que é individual, quando na realidade não passa de
um papel ou desempenho através do qual fala a psique coletiva.” (Jung, 1984, p.134)

Embora a persona esconda aquilo o que realmente o indivíduo é, não podemos


descartar sua importância frente ao desempenho pessoal e social. Segundo Jung (1984,
p.68), a sociedade deve exigir que o indivíduo atue da melhora maneira possível e, para que
isso ocorra, ele deveria optar por uma ou outra característica de seu ser, ou seja, em uma
sociedade moderna, nem todos os conteúdos que estão presentes naturalmente no homem
são desejáveis de serem apresentados. Assim, necessitamos da faceta da persona como uma
instância adaptativa e ao ambiente onde nos inserimos. O problema surge quando a persona
acaba sendo confundida como sendo o próprio eu e a pessoa se percebe como se fosse
aquilo que aparenta ser.
Na terapia proposta por Jung, primeiramente, o inconsciente pessoal é trabalhado
por meio de sua análise, podendo disponibilizar a consciência a receber o material coletivo
(Jung, C.G., 2003, p.33) e assim se processar a individuação.
Tendo em vista que a persona esconde a verdadeira individualidade onde se
encontra no Self, o primeiro passo da terapia seria reconhecer a existência dessa persona e
conhece-la. Em seguida, no decorrer do tratamento, ela começa a se desfazer.
Na medida em que isso ocorre, o inconsciente coletivo, que já possui uma força de
atração para emergir à consciência, vai se tornando mais presente até que se mostra
predominante frente à consciência e toma o controle sem que isso seja percebido pela
conscientemente.
Em muitos casos de neurose o problema apenas se passa no nível exterior, ou seja,
quando algum fato exterior ao indivíduo lhe perturba e há um problema momentâneo de
adaptação ao meio externo a ele. Nesses casos Jung sugere que a remoção dessas
dificuldades seria o bastante, o que seria, provavelmente, um método menos difícil de
realizar-se do que aquele em que o processo visa à adaptação interna do indivíduo.
Quando a análise visa a reestruturação interna do indivíduo, o processo de
desnudamento da persona e conscientização de conteúdos coletivos se faz necessário.
Jung observou repetidas vezes elementos do inconsciente coletivo emergindo após a
eliminação das repressões dos desejos pessoais. Tais conteúdos, ainda não trabalhados,
aparentemente, surgem de forma desordenada, como se o psíquico estivesse desequilibrado,
em estado psicótico.
Segundo Jung, a energia antes presente no consciente é transferida ao inconsciente.
Quando essa transferência ocorre de maneira completa daí, então, se dá o caos da psique.
Entretanto, o inconsciente coletivo se auto-regula, de forma que retorna ao equilíbrio
inicial.A terapia, muitas vezes, funciona como um catalisador para o desequilíbrio do
psíquico, que precede sua renovação, função do próprio inconsciente. Dessa forma, nem
sempre a desordem é vista negativamente, mas como um estágio momentaneamente
necessário para que se estabeleça uma nova estruturação da psique. No entanto, essa
reestruturação apenas se dá quando a consciência é capaz de suportar os investimentos do
inconsciente. Quando a consciência abstrai tais investimentos, atribuindo-lhes significado
de forma que possam se organizar, daí, então se dá o encaminhamento esperado. Porém, se
isso não ocorre, poderá prevalecer um estado psicótico em função do domínio dos
conteúdos inconscientes em detrimento do direcionamento dado pelo consciente.

A Sombra

Jung denominou sombra a reunião daqueles materiais que são por nós excluídos do
predomínio consciente. São conteúdos que não gostaríamos que fossem expostos, que não
são adequados à sociedade e, assim, são aparentemente sobrepostos pela persona. A sombra
representaria os conteúdos do inconsciente pessoal descrito por Freud; seria os desejos,
atitudes, memórias que reprimimos e ficam escondidos do consciente e com que não
entramos em contato. Entretanto, isso não significa que se tratam de características de
valores negativos, desnecessários ou indesejáveis em geral, mas que são repudiados pelo
indivíduo. Dessa maneira, tais conteúdos tornariam-se inferiores, no sentido de não serem
estimulados como poderiam em direção ao desenvolvimento da psique.
Nise da Silveira (2003, p. 81) define sombra como “uma espessa massa de
componentes diversos, aglomerando desde pequenas fraquezas, aspectos imaturos ou
inferiores, complexos reprimidos, até forças verdadeiramente maléficas, negrumes
assustadores. Mas também na sombra poderão ser discernidos traços positivos: qualidades
valiosas que não se desenvolveram devido a condições externas desfavoráveis ou porque o
indivíduo não dispôs de energia suficiente para levá-las adiante, quando isso exigisse
ultrapassar convenções vulgares”.
Segundo Jung (1984, p. 127), tanto a idéia de mal quanto a de bem são constituições
da estrutura coletiva da psique. Por estarem ainda no início de um processo de
diferenciação pessoal e terem a função mental predominantemente coletiva, as civilizações
primitivas consideram verdadeira a atuação de ambos simultaneamente sem passar por
contradições e sem caráter pessoal.
“A contradição só aparece quando começa o desenvolvimento pessoal da psique e
quando a razão descobre a natureza irreconciliável dos opostos. A conseqüência desta
descoberta é o conflito da repressão. Queremos ser bons e portanto devemos reprimir o
mal; e, com isto, o paraíso da psique coletiva chega ao fim.” (Jung, 1984, p.127)
A repressão da psique coletiva foi uma condição necessária para o desenvolvimento
da personalidade. Tal desenvolvimento parece ter início a partir do momento em que se
instaura o prestígio mágico, em que um dos membros da tribo se destaca frente aos demais.
O indivíduo que ocupa lugar de destaque possui, em geral, o poder do conhecimento sobre
rituais e, dessa forma, se diferencia, sendo afastado da psique coletiva aparente e formando
a persona. Embora exista esse afastamento, Jung observa que a diferenciação tem princípio
na própria coletividade: aquele que se destaca se destaca porque existe um coletivo que o
coloca nesse lugar, oferecendo-lhe o poder de guiá-lo. Assim, o poder não se trataria de um
atributo unicamente pessoal, mas inicia-se a partir de um acordo coletivo. O prestígio
mostra-se mais como uma conseqüência da escolha coletiva do que como desejo de poder
ou característica individual. No entanto, se priorizar a psicologia coletiva, o indivíduo
poderá esmagar e desvalorizar a personalidade. Isso sufocaria a autoconfiança ou
intensificaria a importância do ego, levando-o eventualmente a uma patológica vontade de
poder (Jung, 1984, p.23)

Anima e Animus

Jung denominou Anima e Animus as representações psíquicas de genes feminino


presentes nos homens e masculinos presentes na mulher, respectivamente. Tratam-se de
características coletivas que na maioria das vezes permanecem inconscientes,
indiferenciados e inferiores.
Quanto ao homem, essas características podem ser geradoras de despropositadas
mudanças de humor e caprichos. Por outro lado, o animus manifesta-se nos atos da mulher
como, por exemplo, uma intelectualidade mal diferenciada e simplista como opiniões
fortemente defendidas mas que não têm fundamento lógico algum. (Nise da Silveira, 2003,
p.82, p.85). No entanto, anima e animus, quando são atentamente cuidados e integrados
pelo consciente, desempenham importantes funções para a evolução tanto do homem e
quanto da mulher.
Parte IV – Psicologia Analítica e Zen-budismo

A maior parte da dificuldade de uma comparação entre o modo de pensar oriental e


ocidental talvez esteja na verificação das peculiaridades da origem cultural de cada um
deles. Tal obstáculo se estende para a contraposição entre a Psicologia Analítica e o Zen-
budismo, visto a profundidade das diferenças em suas naturezas. Seria quase impossível
para um indivíduo que se construiu culturalmente no Ocidente experienciar uma vivência
oriental na íntegra, igualmente como sente aquele que teve toda sua existência incorporada
a uma forma de viver oriental. O mesmo ocorre em caso contrário. Entretanto, poderíamos
observar semelhanças entre as questões trazidas pela Psicologia Analítica e pelo Zen-
budismo. Dessa maneira, uma contraposição entre os dois pontos de vista dentro dessas
questões poderia ser realizada como tentativa de contribuir para uma melhor compreensão
de alguns de seus conceitos. O seguinte trecho pode reforçar essa idéia. Nele, Jung critica a
descuidada incorporação de métodos orientais pelo indivíduo ocidental e propõe uma
aproximação entre a natureza referente ao Ocidente e ao Oriente. Essa atitude mostra o
respeito pelas diferenças culturais entre os dois referenciais, sem descaracterizar nenhum
deles, mas tentando observar algo que, inconscientemente, está presente em ambos. Isso
nos leva a pensar sobre conteúdos, talvez coletivos, que não são totalmente percebidos
devido às diversidades. Assim, talvez seja mais interessante e produtivo para o
desenvolvimento do homem estudo dessas semelhanças universais do que incorporações
forçadas e superficiais de atitudes que não são realmente naturais. Nas palavras de Jung:

“Em vez de aprender de cor as técnicas espirituais do Oriente e querer imitá-las, numa
atitude forçada, de maneira cristã – imitatio Christi – , muito mais importante seria procurar ver se
não existe no inconsciente uma tendência introvertida que se assemelhe ao princípio espiritual
básico do Oriente”. (Jung, 1982, p.9)

Coletividade

Conceito essencial para a Psicologia Analítica e para a filosofia oriental, a


coletividade representa para ambos não apenas a união dos opostos, mas a observação da
integridade primordial do cosmos. Quando falamos sobre união de opostos tanto em Jung
quanto no Zen-budismo, a impressão que se tem é de que eles estão ou estavam de alguma
forma separados. Na verdade, segundo Jung, quanto mais atuante está o aspecto coletivo da
psique, mais se tende a aceitar a atuação dos opostos sobre o ser com naturalidade e sem
contradições. Isso aparece evidente nas tribos primitivas em que se pode observar o
processo de diferenciação pessoal em estado inicial. Nessas sociedades, estaria
predominante o coletivo e, assim, a maior parte da psique estaria sob domínio do
inconsciente, sendo que os opostos estariam presentes simultaneamente. Aparentemente,
quando se dá a diferenciação pessoal também entram em choque conteúdos considerados
pelo indivíduo como excludentes entre si, daí surgem os conflitos. Estes atuam nesse
momento do desenvolvimento da psique devido a uma questão moral em que os opostos
mostram-se irreconciliáveis e a psique acaba por escolher um desses lados. Ou seja, quando
o indivíduo opta por evidenciar o bem dentre o par de opostos bem e mal e esse par mostra-
se a ele como irreconciliável, daí surge o conflito que desencadeia a repressão. Nesse caso,
reprime-se o mal. De acordo com Jung, a repressão tem papel essencial no
desenvolvimento da personalidade. Dessa forma, a diferenciação entre os opostos e a
percepção de suas naturezas irreconciliáveis pelo indivíduo mostram-se também parte
fundamental desse mesmo processo. O que poderia causar uma dissolução da personalidade
em seus pares antagônicos (como, por exemplo, a mania de grandeza ou o sentimento de
inferioridade citados anteriormente) seria a assimilação errônea de um conteúdo do
inconsciente coletivo como algo pertencente ao âmbito do pessoal. (Jung, 1989, p.24) A
possibilidade de individuação, como foi bastante destacado na psicologia analítica, está
presente no âmbito do coletivo, ou seja, está inscrita em todos os seres a potencialidade do
individuar-se. Tal processo se realizaria naturalmente, entretanto, parece existir aí uma
condição para sua efetivação: o modo como o ego assimila os conteúdos do inconsciente
coletivo e como ele os classifica (se são coletivos ou pessoais). Evidencia-se aí a
importância do papel do ego na psicologia de Jung, fato que vincula esta às características
da cultura ocidental, se considerarmos seu empenho em sustentar a dualidade e
diferenciação, embora sejam essenciais os conceitos coletivos e indiferenciados nessa
teoria.
Por sua vez, na concepção zen-budista, os opostos parecem coexistir em um sentido
diferente. Eles se mostram simultâneos porque não são definidos diferencialmente em um
nível religioso superior. Quando o indivíduo atinge o satori, desfaz-se a dualidade que um
dia poderia ter definido de um lado o bem e de outro o mal. A linha divisória entre as coisas
não existiria e assim, não se falaria sobre opostos e, conseqüentemente, também não se
falaria sobre sua união, visto que se consideraria um todo homogêneo. Aparentemente, o
satori apresenta-se como um retorno ao inconsciente coletivo, semelhante àquela situação
predominante nas tribos primitivas, em que os opostos compartilham o mesmo lugar,
menos diferenciados entre si. Talvez essa atitude seja traduzida pelos ocidentais como um
traço patológico semelhante à psicose, porém não seria com qualquer classificação
psicológica ou com qualquer conhecimento intelectual que esse oriental está preocupado.
Refere-se a algo diferente a isso, que envolve outro critério de observação, porém não se
descarta o ego sobre o qual estamos acostumados a falar, mas pode acrescentar a ele um
olhar sagrado.
Apesar de todas as diferenças observadas, ambos, Zen-budismo e Psicologia
Analítica coincidem-se quanto à inclusão do referencial coletivo em suas teorias.

O Satori, a Individuação e o Eu

Uma das semelhanças dos objetivos do zen e da psicologia analítica pode estar no
objetivo primordial do satori e da individuação: a harmonização do ser junto à coletividade.
Além disso, o fato de a possibilidade de atingir o satori estar potencialmente
presente em qualquer pessoa, como sugere o zen-budismo, aproxima-se da idéia de que há,
na herança psicológica universal, os elementos que levam à individuação. Entretanto, a
psicologia analítica necessita da mediação do eu para chegar à individuação, caso contrário,
diz-se que a personalidade fica sob domínio dos elementos inconscientes e toma
características patológicas. Jung fala de uma integração desses conteúdos em que o eu
aparece como uma instância necessária para organizá-los.
No caso do zen, fica claro em seu discurso que o eu se exclui totalmente da
manifestação do satori. Entretanto, a impressão que se tem é que a função e a descrição do
ego tratadas pelo zen budismo se mostram bastante diferenciadas dos conceitos da
psicologia analítica, o que torna complicada qualquer comparação. O próprio Suzuki (1961,
p.43) tenta esclarecer que seria uma interpretação equivocada dizer que o zen busca um
estado de inconsciência para atingir seu objetivo final. Segundo esse autor, algumas críticas
desenvolvem uma idéia de zen em que a consciência do mundo objetivo não estaria mais
presente no sujeito, que teria se perdido em um imenso vazio. O zen estaria além desse
vazio, estaria além da inconsciência também. Deixam-se os conceitos para entrar em uma
dimensão onde não existem conflitos entre eles. Quando o zen diz que o eu deve ser
anulado, talvez antes esteja implicada a morte de qualquer coisa que se possa nomear ou
delinear, numa tentativa de estar livre para a experiência direta, longe de qualquer coisa
que, para o zen, signifique imposição. Talvez o que seja interessante destacar nesse
momento seria uma condição metafísica do zen, uma condição sagrada da morte para o
renascimento. O zen se encontra não apenas na morte de nossos dualismos, mas no
renascimento do sujeito dentro do domínio do sagrado, o que não nos desvincula do mundo
objetivo, mas nos transforma em observadores que atribuem a esse mundo um olhar
sagrado. Haveria a morte do eu presente na esfera do profano e o nascimento de um Eu
sagrado,este afastado do conceito de morte. Uma passagem de Susuki ilustraria isso:

“...para compreender o Zen temos que dar um salto. Um ‘imenso vazio’ tem de ser
atravessado. O indivíduo tem de despertar do estado de inconsciência, caso ele não deseje ser
sepultado vivo. O Zen é atingido quando a ‘auto-intoxicação’ é abandonada e o ébrio é realmente
despertado em seu eu mais profundo. Se, todavia, temos de assassinar, a mente deixa o trabalho nas
mãos do Zen. Será o Zen que restituirá ao assassinado um estado de vida eterna.” Susuki (1961,
p.43)
Salvo todas as diferenças existentes entre a teoria e prática da psicologia analítica e
a atitude zen, percebemos na fala anterior alguma semelhança entre as duas no que diz
respeito à importância do despertar de um estado totalmente inconsciente. De certa forma, a
pretensão zen de despertar um “eu mais profundo”, desprendendo-se da “auto-intoxicação”
talvez proveniente do estado de inconsciência desestruturada, parece estar próxima da
importância dada pela psicologia ocidental à conscientização de conteúdos que estariam
inconscientes. Assemelha-se também à Psicologia Analítica quando esta atribui ao ego a
medição e discernimento de conteúdos inconscientes coletivos e pessoais. Isso nos leva a
imaginar que o satori poderia ser, então, comparado à individuação também em termos de
conscientização, aceitação e distinção de alguns conteúdos inconscientes, sempre
lembrando da dimensão sagrada dada pelo zen.
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