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O BARROCO NA LITERATURA E NA ARTE


Publicada em 17/05/2008

O momento de Renascimento europeu ocorreu no final do


século XVI, em meio a crises religiosas e movimentos que
buscavam a restauração da fé cristã. É neste contexto, na
transição do século XVI para o século XVII que surge o
Barroco, como expressão de contradições e conflitos
espirituais do homem da época.

O homem barroco tem uma índole renascentista, marcada pelo materialismo, paganismo e realismo,
mas também é influenciado pela Contra-Reforma, reação ao protestantismo que, intentando resgatar a
fé cristã, o induz à religiosidade. O produto deste contraste é uma atitude divisionista e marcada pela
instabilidade, que, por quebrar certos princípios renascentistas, contribui para a visão do barroco
como uma arte indisciplinada.

No Brasil, o Barroco surge junto com o nascimento da própria literatura nacional, enquadrando-se, no
entanto, inicialmente em um período de literatura portuguesa de transposição, onde os modelos ainda
são portugueses e os autores são ora portugueses, ora brasileiros. A obra precursora no Brasil, surgida
em 1601, é “Prosopopéia” de Bento Teixeira, que traz forte influência camoniana.

O conteúdo dessa experiência dualista se apresenta sob a forma de duas linhas temáticas: uma
humano-racionalista e outra religiosa. Na primeira, o homem reconhece a vida como boa e digna de
ser vivida, mas é acometido pela consciência dramática da sua efemeridade. Isso induz o homem ao
hedonismo, busca pelo prazer, cuja fruição traduz a idéia do “carpe diem”. A linha religiosa traduz-se
pelo confessionalismo de um homem frágil, pecador e indigno, que se arrepende dos erros e pecados
cometidos e busca a reconciliação com o divino.

RECURSOS EXPRESSIVOS:

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Os recursos expressionais de destaque são:


a) Vocabulário erudito e exótico, que pode ser associado ao seu público originalmente aristocrático;
b) Uso de hipérboles (exageros na linguagem expressa), que manifesta a quebra do senso de
proporção;
c) O gosto pelos jogos verbais como trocadilhos, homonímias e paronímias;
d) A linguagem associativa expressa por meio de metáforas, comparações e alegorias;
e) Expressão do conflito por meio de antíteses e paradoxos;
f) Sintaxe tensa em razão do uso de inversões na ordem direta dos termos ou hipérbatos.

CARACTERÍSTICAS:
As principais características são: a presença do fusionismo, expresso na tentativa de reconciliação de
elementos conflitantes, como corpo e alma, pecado e pureza, prazer e penitência; a valorização do
misticismo; a transitoriedade tanto do sentimento quanto da própria vida; o cultismo, expresso na
linguagem formal enriquecida pelo jogo de palavras, principalmente da poesia, e o conceptismo
constituído pelo jogo sutil de idéias, principalmente na prosa.

PRINCIPAIS AUTORES:
Destacaram-se na poesia Gregório de Matos, Botelho de Oliveira, Frei Itaparica e Bento Teixeira.
Gregório de Matos, baiano de Salvador, é o maior poeta barroco brasileiro e um dos fundadores da
poesia lírica satírica nacional. Produziu ainda variadas espécies líricas como a lira filosófica, em que
refletiu sobre os desconcertos do mundo, o hedonismo e o carpe diem; a lira amorosa, marcada pela
exaltação da mulher e pelo fusionismo de elementos como o amor carnal e platônico; a lira religiosa
mesclada de medievalismo (como a religiosidade contrita e submissa) e renascimento (como a
religiosidade racional e questionadora) e a lira laudatória, marcada pelo louvor a amigos e mulheres.

A lira satírica de Gregório de Matos, em razão da qual foi apelidado de “Boca do Inferno” ou
“Notabilíssimo Canalha”, é que constitui a parte mais original e irreverente da obra do poeta.
Marcada por feitios jocosos, moralizantes e muitas vezes chulos e indecorosos, a sua sátira era
multidirecional, atingindo aos mais variados segmentos da sociedade com a mesma violência. Alguns
autores a classificam inclusive como poesia realista brasileira em razão da sua percepção crítica da
exploração colonialista dos portugueses no Brasil.

Na prosa, os principais autores foram Padre Antônio Vieira, Sebastião da Rocha Pita e Nuno Marques
Pereira. Dentre eles, o de maior destaque foi o Padre Antônio Vieira, que integra tanto o Barroco
português quanto o brasileiro. Sua obra, composta por sermões, cartas e profecias, trata com muita
clareza e objetividade de temas sacros, políticos e sociais, inclusive em defesa dos índios. Na prosa
conceptista, revela sua grande força argumentativa e riqueza vocabular. Foi o maior expoente do
Barroco português e da prosa barroca do Brasil.

“Fazer pouco fruto a palavra de Deus no Mundo, pode proceder de um de três princípios: ou da
parte do pregador, ou da parte do ouvinte, ou da parte de Deus. Para uma alma se converter por meio de
um sermão, há-de haver três concursos: há-de concorrer o pregador com a doutrina, persuadindo; há-de
concorrer o ouvinte com o entendimento, percebendo; há-de concorrer Deus com a graça, alumiando.
(...)” (Sermão da Sexagésima, Padre Antônio Vieira, pregado na Capela Real, no ano de 1655)

A ARTE BARROCA:
Todos os conflitos que integram a alma do homem do século XVII também resvalam na pintura, na
escultura e na arquitetura da época. Aliás, o movimento, antes de revelar-se pela literatura,
manifestou-se nestas outras produções artísticas.

Os temas preferidos são os que expressam o estado de tensão da alma humana. As pinturas revelam
um forte apelo emocional, além de teatralidade e dinamismo. Busca-se a verossimilhança das obras
com o real, no sentido de provocar o observador. Para tanto também são utilizados violentos
contrastes, com complexos efeitos de luz e sombra.

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Igreja de São Francisco, em Salvador, uma das construções mais suntuosas do século XVIII..

Fortemente influenciada pela religiosidade, a arte barroca expressou-se no Brasil com requintes de
exuberância, espalhando-se pelas fachadas e frontões das igrejas do Rio de Janeiro, Bahia e
Pernambuco em meados do século XVII. Em Minas Gerais, onde se deu uma grande produção
artística barroca, a consagração do estilo nos séculos XVII e XVIII foi propiciada pela descoberta das
minas de ouro. O período final do barroco brasileiro, século XVIII, é chamado de rococó, em que,
mesmo preservando a essência barroca, a arte se revela com algumas peculiaridades. Na Bahia, o
barroco destacou-se na decoração das igrejas em Salvador como, por exemplo, de São Francisco de
Assis (foto acima) e a da Ordem Terceira de São Francisco.

O principal representante do Barroco mineiro foi o escultor e arquiteto Antônio Francisco de Lisboa,
conhecido como Aleijadinho, cujas obras tinham forte caráter religioso. Destacam-se ainda o pintor
mineiro Manuel da Costa Ataíde e o escultor carioca Mestre Valentim.

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