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PERTURBAÇÕES DISSOCIATIVAS:
PERTURBAÇÃO DISSOCIATIVA DA IDENTIDADE E PERTURBAÇÃO DE
DESPERSONALIZAÇÃO/DESREALIZAÇÃO
Docente
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M.Sc. Mónica Justino Faria
PERTURBAÇÕES DISSOCIATIVAS:
PERTURBAÇÃO DISSOCIATIVA DA IDENTIDADE E PERTURBAÇÃO DE
DESPERSONALIZAÇÃO/DESREALIZAÇÃO
Discentes:
20170917 - Ana Araújo
20170158 - Leila Moreira (coord)
20170824 - Mariana Almeida
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Luanda / Angola / 2019
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ÍNDICE GERAL
I Parte
1. INTRODUÇÃO........................................................................................................1
1.1. Caso histórico: “As Três Faces de Eva”.................................................................5
II Parte
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA..........................................................................7
2.1 Perturbação Dissociativa da Identidade.................................................................7
2.1.1. Critérios de Diagnóstico.........................................................................................8
2.1.2. Características de Diagnóstico...............................................................................9
2.1.3. Características Associadas Que Suportam o Diagnóstico....................................11
2.1.4. Prevalência...........................................................................................................11
2.1.5. Desenvolvimento e Curso....................................................................................12
2.1.6. Factores de Risco e de Prognóstico......................................................................12
2.1.7. Aspectos de Diagnóstico Relacionados com a Cultura........................................13
2.1.8. Risco de Suicídio..................................................................................................13
2.1.9. Consequências Funcionais da Perturbação Dissociativa da Identidade...............14
2.1.10. Diagnóstico Diferencial................................................................................14
2.1.11. Comorbidades...............................................................................................17
2.2. Perturbação de Despersonalização/Desrealização................................................18
2.2.1. Critérios de Diagnóstico.......................................................................................21
2.2.2. Características de Diagnóstico.............................................................................22
2.2.3. Características Associadas Que Suportam o Diagnóstico....................................23
2.2.4. Prevalência...........................................................................................................23
2.2.5. Desenvolvimento e Curso....................................................................................24
2.2.6. Factores de Risco e de Prognóstico......................................................................24
2.2.7. Aspectos de Diagnóstico Relacionados com a Cultura........................................25
2.2.8. Consequências Funcionais da Perturbação de Despersonalização/Desrealização25
2.2.9. Diagnóstico Diferencial........................................................................................26
2.2.10. Comorbidades...............................................................................................28
III Parte
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................29
4. EXPERIÊNCIAS PESSOAIS...............................................................................31
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................................32
1. INTRODUÇÃO
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contexto de seu uso. Não existe definição única, simples e coerente capaz de obter o
consenso dos pesquisadores da área.
Pizer (1998, cit. por Howell, 2005) destaca, que a dissociação interrompe a
continuidade do ser, o funcionamento harmonioso da multiplicidade interna, ao “expor” a
ilusão de unidade do Eu. Ilusão essa que se torna inviável de ser mantida, uma vez que a
ligação anteriormente estabelecida entre as múltiplas partes do Eu (e respetivos afectos,
memórias, valores e capacidades) é catastroficamente descontinuada (Bromberg, 1993;
Pizer, 2001). O que sucede devido ao risco do Eu ser “completamente dominado” por
experiências traumáticas intoleráveis que não consegue simbolicamente processar, nem
integrar num Eu unitário, o que por sua vez conduz a um estado de conflito com o qual não
consegue igualmente lidar (Bromberg, 1993).
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1.1. Caso histórico: “As Três Faces de Eva”
(Um caso real de diagnóstico de Perturbação Dissociativa da identidade)
Eva White, cujo nome verdadeiro mais tarde soube-se ser Chris Costner
Sizemore, foi considerado o caso clínico mais famoso de perturbação dissociativa da
identidade que se transformou em livro e mais tarde em filme. Em 1952, Eva foi
encaminhada a Thigpen e Cleckley (psiquiatras), queixando-se de fortes dores de cabeça e
ocasionalmente perda de consciência.
Eva era uma pacata mulher que havia sofrido um aborto espontâneo há 4 meses e
lutava para criar sua filha de 4 anos e meio e manter a paz no seu casamento tipicamente
em declínio. Com o passar do tempo, Eva experiencia dores de cabeça excêntricas, lapsos
de memória, e o que parece ser uma mudança em sua personalidade, decidindo assim,
procurar um terapeuta. Após consultas com o terapeuta, notou a melhora de ausências e
diminuição da frequência de dores de cabeça, a princípio as dores de cabeça é como se
fossem a passagem de uma personalidade para outra, mais aconteceram coisas diferentes
até completar um ano com o terapeuta. Comprou muitos vestidos e sapatos caros e
“ousados”, e quando o marido chegou ela não lembrava que tinha os comprado. Eva White
relata que, em várias ocasiões, ouve uma voz. A princípio ela reconhece mais não consegue
identificar, mas no decorrer da terapia ela reconhece que a voz é a dela. Descobre-se
durante uma hipnose uma outra personalidade de Eva, apresentando-se como Eva Black.
Trata-se de uma face com temperamento forte, gostos extravagantes e paciência escassa
para a família. Canta num clube noturno, por isso os vestidos caros comprados. Leva uma
vida completamente desvirtuosa, sai com outros homens, bebe, fuma, nega o casamento
com o marido e nega ter uma filha, é sedutora, ousada, vulgar, provocativa e sensual. Eva
Black se aproveita de momentos frágeis de Eva White para vir a tona com seu
comportamento transgressor e irreverente, totalmente diferentes dos da Eva original.
Esse seu comportamento abala todo mundo ao seu redor, que não conseguem
entender como uma mulher tão calma e simples, pode também ser tão exagerada e atraente.
Mas aí é que está: sempre que Eva White é acometida das dores de cabeça, e dos lapsos de
memória-abrindo espaço pra Eva Black, sua segunda persona (Eva Black), está ciente do
sofrimento que causa à White com suas escapadas e transgressões, e até faz piada com o
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que pode acontecer com ela quando esta voltar a consciência. Em tratamento para sufocar
as aparições de Eva Black, o médico de Eva descobre uma terceira face de sua múltipla
personalidade. Uma que parece ser de uma rapariga simples, requintada, educada e
confusa. Ela apresentou-se como Jane, apenas. Jane, ao contrário das outras Evas, não
conhece nada sobre si. Alguns aspectos que são revelados nas sessões de Eva com seu
psiquiatra, mostram como ela chegou à externar (mesmo que inconscientemente) essas
personalidades tão divergentes da que ela estava habituada a mostrar.
As características das três faces de Eva: Eva White: formal, reservada, tímida,
reprimida, compulsiva. Não sabia da existência de Eva Black e nem de Jane. Eva Black:
instável, áspera, irresponsável, frívola e histérica. Sabia da existência de Eva White, mas
não tinha consciência de Jane. Jane: audaciosa, madura, capaz, interessante, habilidosa,
compassiva. Quando despertou, ela sabia da existência das suas Evas. Após várias terapias,
descobre-se que quando tinha 6 anos, a mãe obrigou- a se despedir da avó que estava
dentro do caixão com um beijo na boca. Os terapeutas sendo capazes de trabalhar com as
três personalidades por vários meses chegaram a conclusão de que se Jane conseguisse
apoderar-se das duas outras personalidades, era possível que a paciente recuperasse a sua
saúde plena e encontrasse o seu caminho para uma vida feliz. Jane aprende as tarefas de
Eva White em casa e mostra compaixão para com a sua filha. Torna-se a face definitiva de
Eva e se recorda de tudo, desde a sua infância. Dois anos depois do tratamento, Jane manda
uma carta para o psiquiatra relatando que não há vestígios das outras então extintas
identidades.
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2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
7
não ser de imediato evidentes para os outros ou ser encobertas por tentativas de esconder a
disfunção.
E. Os sintomas não são atribuíveis aos efeitos fisiológicos de uma substância (por
exemplo, black-out ou comportamento caótico durante uma intoxicação
8
alcoólica) ou outra condição médica (por exemplo, crises convulsivas parciais
complexas).
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Os indivíduos podem relatar que sentem o seu corpo diferente (por, exemplo, como
uma criança, como alguém do sexo oposto, enorme e musculado). As alterações no sentido
do Eu e a perda de agência pessoal podem ser acompanhadas por um sentimento de que
estas atitudes, emoções, comportamentos e até o próprio corpo, “não são meus” e/ou “não
estão sob meu controlo”. Embora a maioria dos sintomas do Critério A sejam subjectivos,
muitas destas descontinuidades repentinas no discurso, afecto e comportamento podem ser
testemunhadas por família, amigos ou pelo clínico. As convulsões não epiléticas e outros
sintomas conversivos são proeminentes nalgumas apresentações da perturbação
dissociativa da identidade, especialmente em contextos não ocidentais.
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As identidades na forma de possessão da perturbação dissociativa da identidade
manifestam-se tipicamente como comportamentos em que um “espírito”, um ser
sobrenatural ou uma pessoa externa parece ter tomado o controlo, de tal forma que o
indivíduo começa a falar e a agir de forma distintamente diferente. Por exemplo, um
comportamento do individuo pode dar a aparência de que a sua identidade foi substituída
por um “fantasma” de um rapariga que cometeu suicídio na mesma comunidade anos
antes, falando e agindo como se ela estivesse viva. Ou um indivíduo pode ter sido
“possuído” por um demónio ou divindade, resultando num profundo comprometimento
exigindo que o indivíduo ou familiar seja punido por um acto passado, seguindo-se
períodos de alteração de identidade mais subtis.
2.1.4. Prevalência
11
2.1.5. Desenvolvimento e Curso
12
Ambientais. O abuso físico e sexual interpessoal encontra-se associado a um risco
aumentado de perturbação dissociativa da identidade. Outras formas de experiências
traumatizantes incluindo procedimentos médicos e cirúrgicos na infância, guerra,
prostituição infantil e terrorismo, formam reportados.
O DMS-5 (2014) aponta que mais de 70% dos doentes de ambulatório com
perturbação dissociativa da identidade tentaram o suicídio; múltiplas tentativas são comuns
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e os comportamentos autolesivos, frequentes. A avaliação do risco do suicídio pode ser
complicada quando existe amnésia para comportamentos suicidários passados ou quando a
identidade apresentada não se sente suicida e não tem consciência de que outras
identidades dissociadas o sentem.
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distinguida da perturbação dissociativa da identidade pela presença de sintomas
dissociativos crónicos ou recorrentes mistos que não cumprem o Critério A de perturbação
dissociativa da identidade ou que não são acompanhados por amnésia recorrente.
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uma manifestação de PTSD: 1) amnésia para muitos eventos do dia-a-dia (isto é, não
traumáticos), 2) flashbacks dissociativos que podem ser seguidos de amnésia para o
conteúdo do flashback, 3) intrusões disruptivas (não relacionadas com o material
traumático) por estados de identidade dissociados no sentido do Eu e de agência do
indivíduo, e 4) mudanças abruptas, infrequentes, entre diferentes estados de identidades.
2.1.11. Comorbidades
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sintomático de um doente com Despersonalização ou Desrealização. À medida que a
capacidade de se compreender a si próprio diminui, aumenta o sentimento de estranheza e
a falta de confiança para com o meio ambiente.
Infância perturbada por abuso emocional e eventos traumáticos pode ser um factor
predisponente e relevante no mecanismo patogénico da despersonalização. O seu trajecto
normalmente inicia-se por episódios esporádicos que evoluem em persistência e severidade
até cumprirem os requisitos da perturbação de despersonalização/ desrealização. O seu
diagnóstico é difícil, demorado e usualmente oficializado com recurso a Escalas de Auto-
avaliação, como a CDS (Cambridge Depersonalization Scale). Esta normalmente associa-
se a Perturbações da Ansiedade, Esquizofrenia, Depressão, Perturbações da Personalidade
e abuso de substâncias psicotrópicas. A co-existência destas entidades não se
correlacionam diretamente com a severidade do quadro clínico.
É uma área ainda pouco explorada, com muito ainda por se entender,
nomeadamente os mecanismos neurobiológicos e a sua relação ou comorbilidade com
Perturbações da Ansiedade (Seguí et al., 2000), Esquizofrenia (Maggini et al., 2002; Sierra,
Gomez, et al., 2006; Bergé, 2009), Depressão (Sedman, 1966; Baker et al., 2003; Simeon,
Knutelska, et al., 2003) e abuso de substâncias como ecstasy (Mcguire et al., 1994).
(Trueman, 1984; Spiegel et al., 2011; Nestler et al., 2015).
Sentir-se estranho, afastado ou desconectado de si mesmo. Sentir-se como se
estivesse dentro de um filme, ou como se você e tudo ao redor não fossem reais. Ver-se
fora do próprio corpo ou ver-se a si mesmo duplicado (fenómenos autoscópicos). Sentir-se
como um autômato, acompanhando o fluxo dos acontecimentos, mas sem ser capaz de
perceber plenamente sob o controlo de seu corpo ou pensamentos. Olhar sua imagem num
espelho e não se reconhecer, ou ver sua imagem esquisitamente distorcida ou diferenciada.
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Sentir-se emocionalmente “sedado”, “anestesiado”, como se as coisas e as pessoas
tivessem perdido o sentido ou se tornado mecânicas. Sentir que as pessoas e os objectos à
sua volta já não soam familiares, parecendo mudados ou estranhos.
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E. A perturbação não é mais bem explicada por outra perturbação mental como
esquizofrenia, perturbação de pânico, perturbação depressiva major, perturbação aguda
de stress, perturbação de stress pós-traumático ou outra perturbação dissociativa.
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A desrealização é em regra acompanhada por distorções visuais subjectivas como
manchas, acuidade aumentada, alargamento ou estreitamento dos campos visuais, visão
bidimensional ou aplanada, tridimensionalidade exagerada, distância ou tamanho dos
objectos (por exemplo, macropsia ou micropsia). As distorções auditivas podem também
ocorrer, as vozes e sons apresentam um volume diminuído dou aumentado.
Adicionalmente, o Critério C requer a presença mal-estar clinicamente significativo ou
incapacidade no funcionamento social, ocupacional ou noutras áreas do funcionamento e
os Critérios D e E descrevem diagnósticos de exclusão (DSM-5, 2014).
2.2.4. Prevalência
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completamente os critérios para perturbação despersonalização/desrealização é muito
menos comum que os sintomas transitórios. A prevalência ao longo da vida nos EUA e
países que não os EUA é de cerca de 2% (variando dos 0,8% aos 2,8%). O rácio por sexo
da perturbação é de 1:1. (DSM-5, 2014).
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Com base no DSM-5 (2014), os factores de risco e prognóstico são:
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2.2.8. Consequências Funcionais da Perturbação de Despersonalização /
Desrealização
De acordo com o DSM-5 (2014), o diferencial pauta-se pelo despiste das seguintes
perturbações:
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Outras perturbações dissociativas. De forma a diagnosticar perturbação de
despersonalização/desrealização, os sintomas não podem ocorrer no contexto de outra
perturbação dissociativa, como perturbação dissociativa da identidade. A diferenciação de
amnésia dissociativa e de perturbação conversiva (perturbação de sintomas neurológicos
funcionais) é mais simples, já que os sintomas destas perturbações não se sobrepõem aos
de perturbação de despersonalização/desrealização.
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Em cerca de 15% de todos os casos de perturbação de
despersonalização/desrealização, os sintomas são precipitados pela ingestão de tais
substâncias. Se os sintomas persistirem por algum tempo na ausência de uso adiccional de
substâncias ou medicamentos, o diagnóstico de perturbação de
despersonalização/desrealização aplica-se. Este diagnóstico é em regra fácil de estabelecer,
já que a vasta maioria dos indivíduos com esta apresentação se torna altamente fóbica e
aversiva à substância desencadeante e não a volta a usar.
2.2.10. Comorbidades
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3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
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contexto pessoal, laboral ou social, entre outros factores, e encontra-se intimamente
relacionada com a ansiedade. O diagnóstico se baseia nos sintomas depois que outras
causas possíveis forem descartadas, porque, o mesmo pode ser um sintoma de outras
desordens como perturbação bipolar, perturbação de personalidade borderline, depressão,
esquizofrenia, stress pós-traumático e ataques de pânico. A despersonalização pode ainda
surgir com o consumo de drogas.
Conclui-se que cada uma destas perturbações é de difícil diagnóstico por estes
fazerem parte de outras perturbações mentais que possuem os mesmos sintomas. Vários
factores desencadeantes que ocorrem na infância podem estar na base do seu surgimento,
este por sua vez, ocorre geralmente na adolescência. Tendo em referência as nossas
pesquisas, as perturbações dissociativas, apesar de difícil diagnóstico, parecem ser muito
mais frequente e comuns do que imagina.
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4. EXPERIÊNCIAS PESSOAIS
Com unanimidade, consideramos que o presente trabalho foi bastante desafiante, pela
falta de bibliografia actualizada e diversificada que abordassem o tema das perturbações
dissociativas e, também, por ter sido para nós um tema sensivelmente novo, aspecto este
que dificultou-nos literalmente quanto à elaboração do trabalho, bem como, na questão do
discernimento de que precisávamos para a selecção da informação, atendendo ao facto de
que a mesma deve ser a mais pertinente possível, a fim de garantir um trabalho com
relactiva qualidade teórica e de fácil compreensão.
Por outro lado, pelo facto de ter sido um trabalho desafiante, promoveu maior
engajamento e aproximação entre os membros do grupo e, de igual modo maior
comunicação e dinâmica de grupo, afecto e parceria nos momentos mais frustrantes e
desoladores, o que de certa forma contribuiu para o fortalecimento dos membros enquanto
grupo e individualmente.
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5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Collin, C., Benson, N., Ginsburg, J.,et al. (2014).O Livro da Psicologia. Lisboa: Marcador.
Feldman, R., S. (2007). Introdução à Psicologia. (6ª ed.). São Paulo: McGraw-Hill.
Endereços da Internet
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Artigo retirado no dia 02 de Maio, 14h30, do site:
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517-
55452014000100007.
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